RESENHA Código Civil e Cidadania
RESENHA Código Civil e Cidadania
RESENHA Código Civil e Cidadania
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Resenha
BACHARELADO EM DIREITO
Semestre: 1º Semestre Noturno Data: 31/10/2024
Disciplina: História do Direito Valor:
Docente: Lucas Campos Nota:
Aluno (a): Samuel Victor Silva Amorim, Daniel Cerqueira de Castro, Ariele Conceição
dos Santos, Rose Silva, Maria Eduarda da Silva Santos.
“Correndo o risco de nascer velho” p.7. Essa é a frase que Keila Ginbreg destaca ao
relembrar sobre o Código Civil brasileiro de janeiro de 2002. É notório que um Código Civil
leva as vezes décadas para ser desenvolvido, entretanto, tempo de preparo não significa que o
código possui precisão e conformidade com as demandas da sociedade, muito menos que
atinja a todos igualmente. Ao decorrer desta obra, é questionado qual parcela da sociedade o
Código Civil da segunda metade do século XXI desejava atingir. Ele foi feito para atingir a
todos ou somente a quem interessava os mais poderosos da época? Quem podia ser incluído
entre os possuidores dos direitos de cidadania brasileira no início do século XX?. Esses são
questionamentos que Keila aborda em sua obra e que de fato retrata o embate de ideias do
primeiro Código Civil no que condiz a teoria em relação a prática.
Após a primeira menção sobre a necessidade da elaboração de um código em 1823,
diversos Advogados e políticos se responsabilizaram em elaborar esse plano de maneira
concreta. Entretendo, a elaboração do Código Civil foi influenciada por interesses políticos,
ligações e até mesmo casos envolvendo “ciúmes” políticos. Fatos como esses, citado pela
autora, demonstram como a origem das vertentes que hoje são consideradas os pilares da
sociedade brasileira, já nasceram com o poder de serem questionadas, por serem influenciadas
por ideias alheias e não somente pelas necessidades do cidadão brasileiro.
Nota-se que o Código Civil tem como principal e mais importante função a segurança
jurídica, pois proporciona previsibilidade nas interações sociais, fundamental para a
estabilidade das relações comerciais e pessoais No entanto a autora faz críticas a rigidez desse
código que podem tornar-se obsoleto frente a tantas mudanças sociais e culturais, ela reforça
que acredita que os códigos precisam de flexibilidade para conseguir se adaptar as novas
realidades e demandas da sociedade. Além disso Grinberg ressalta que a eficácia dos códigos
depende em grande parte da interpretação realizada por juízes e advogados. A aplicação
desses códigos deve considerar contexto social, assegurando que os direitos dos cidadãos
sejam efetivamente respeitados.
A autora destaca que, embora os códigos legais sejam fundamentais para o direito, sua
relevância depende de um diálogo contínuo com a sociedade, adaptando-se às necessidades de
um mundo em mudança. No capítulo Código dos Sonhos, Keila Grinberg define cidadania
como uma vivência prática de direitos e deveres, essencial para a realização de sonhos
individuais e coletivos. Ela explora como o Código Civil regula relações sociais —
propriedade, contratos, família — e deve servir como instrumento para concretizar aspirações
humanas. No entanto, obstáculos como desigualdades sociais e dificuldades de acesso à
justiça podem frustrar esses objetivos, reforçando a necessidade de um sistema jurídico
acessível e justo.
Durante o período imperial no Brasil, não havia registros civis para nascimentos e
casamentos fora da Igreja Católica, evidenciando as tradições portuguesas onde a igreja
católica tinha o dever de organizar e legislar a vida de todos os habitantes do país, legislando
sobre as propriedades e heranças, legalidade ou ilegalidade de um ato civil, podendo também
decidir como os bens seriam divididos. Fato esse que afetava diretamente protestantes e
judeus, cujas uniões não eram reconhecidas, colocando em “cheque” os direitos civis e a
partilha de bens.
Esse poder opressor, causava impressão de que a população brasileira seria composta
somente por católicos e a situação se complicou ainda mais em casamentos entre católicos e
“não-católicos”, pois a Igreja considerava essas uniões “perigosas”. Em 1848 começou às
primeiras ideias de conceder permissões para a realização de casamentos entre os católicos e
os que não compartilhavam dessa fé, devido aos altos índices de estrangeiros no país. Em
1855, Nabuco de Araújo propôs uma lei que permitiria o casamento entre não católicos, mas
exigiu e que as crianças fossem criadas e educadas com os costumes católicos, deixando claro
que a Igreja iria possuir poder sob os casamentos mistos. Mas a Igreja resistiu a esta proposta
pois viam no casamento civil uma tremenda imoralidade pública.
Em 1861, uma lei foi promulgada e regulamentada em 1863 para permitir casamentos
entre não-católicos, desde que respeitassem os costumes religiosos do Império. No entanto,
sua aplicação foi problemática: faltavam líderes religiosos para oficializar esses casamentos, e
a ausência de regulamentação dificultava o registro legal. Joaquim Nabuco defendeu a
separação entre Igreja e Estado, acreditando que essa medida resolveria os conflitos
relacionados à diversidade religiosa, que restringiam os direitos públicos das religiões não
católicas. Esse debate se estendeu até o fim do Império, destacando a urgência de uma
separação para assegurar igualdade de direitos para todos.
Após proclamação da Républica, as regulamentações de implementação do sistema
civil de registros foram aos poucos sendo implementadas, mesmo com participação marcante
da Igreja Católica, com nascimentos seguidos de batismos e casamentos com validade
somente na presença de padres. Uma questão importante continuava a aguardar
regulamentação: as disposições sobre as propriedades advindas do casamento e envolviam,
principalmente, as questões jurídicas das mulheres.
Até então considerados parceiros, transações importantes não podiam ser feitas sem
consentimento da mulher, regras essas mais flexíveis que muitos países que conferiam ao
esposo o poder absoluto sobre as propriedades. Mas, a igualdade jurídica estaria ainda muito
longe de ser alcançada, o projeto desenvolvido por Beviláquia propôs inovações a época: que
homens e mulheres eram iguais, mas desempenhavam papéis distintos, porém ao mesmo
tempo, rogava a necessidade da representação jurídica das mulheres perante a lei
As mulheres continuavam incapazes, tal qual doentes mentais, mendingos, menores.
Além disso, para sacramentar a iniquidade entre homens e mulheres elas precisavam provar
serem honestas, tendo como punição casamentos alunados e diversas negações de direitos.
Tem-se como exemplo, um estupro praticado no Recôncavo da Bahia, mais especificamente
na cidade de Castro Alves – BA onde, após o crime, o acusado, além de morosidade de ser
julgado, alegou que a vítima já era “desonrada” para sair impune do seu crime. É importante
salientar, que filhos “ilegítimos” também tiveram dificuldade de valer seus direitos civis,
principalmente os de propriedade.