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Dossiê de Tombamento - Rua Dos Goitacazes, 76

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Dossiê de Tombamento

Rua dos Goitacazes, 76

Equipe técnica:
Bárbara Rabelo Bechelane / Arquiteta e Urbanista
Bruno Leite Cortina / Sociólogo

JUNHO - 2015
Dossiê de Tombamento – Rua dos Goitacazes, 76

ÍNDICE

ÍNDICE ................................................................................................................................................. 2
1 - Considerações Iniciais ........................................................................................................................ 3

2 – A Política de Patrimônio Histórico Cultural ......................................................................................... 4

3 - O Conjunto Urbano Rua da Bahia e Adjacências................................................................................ 9

4 – O entorno do bem cultural ................................................................................................................ 25

5 – Análise histórica ............................................................................................................................... 32

6 – O Art Déco em Belo Horizonte ......................................................................................................... 41

Conjunto Urbano Rua da Bahia e Adjacências


7 - Descrição arquitetônica ..................................................................................................................... 46

8 - A justificativa da proteção por tombamento ...................................................................................... 57

9 - Diretrizes de Intervenção .................................................................................................................. 58

10 – Referências .................................................................................................................................... 59

FUNDAÇÃO MUNICIPAL DE CULTURA  CONSELHO DELIBERATIVO DO PATRIMÔNIO CULTURAL DE BELO HORIZONTE  DIRETORIA DE PATRIMÔNIO CULTURAL  JUN 2015
Dossiê de Tombamento – Rua dos Goitacazes, 76

1 - Considerações Iniciais
O Conselho Deliberativo do Patrimônio Cultural do Município de Belo Horizonte/CDPCM-BH, em
reunião realizada em 01 de dezembro de 1998 deliberou, com base no reestudo do Conjunto Urbano
Avenida Afonso Pena e Adjacências, tombado pelo referido Conselho em 10 de novembro de 1994,
desmembrar o mencionado Conjunto Urbano, passando a denominá-lo Conjunto Urbano Rua da Bahia e
Adjacências, e aprovar a alteração do perímetro de tombamento, bem como suas diretrizes gerais de
proteção (Deliberação nº 03/94). Nesta ocasião, o CDPCM-BH aprovou também a manutenção dos
tombamentos específicos e dos Registros Documentais já realizados dentro daquele Conjunto Urbano.
Nesse sentido, o imóvel situado na Rua dos Goitacazes, nº 76 (lote 006, quarteirão 024, da 3ª seção
urbana), manteve a indicação inicial de Registro Documental, conforme reestudo do Conjunto Urbano Rua
da Bahia e Adjacências. Devido às diversas alterações sofridas pelo referido imóvel ao longo do tempo,
em função dos diversos tipos de ocupação ali estabelecidos, não foi possível identificar na época do
estudo do Conjunto características suficientemente relevantes para indicar uma proteção por tombamento.

Conjunto Urbano Rua da Bahia e Adjacências


Naquela época, toda a fachada do imóvel era coberta por um revestimento que descaracterizava seus
elementos construtivos originais, rompendo o diálogo da edificação com seu entorno de tal forma que a
proteção para sua manutenção não contribuiria para destacar a identidade característica do Conjunto
Urbano e seu processo histórico.
Em novembro de 2010, foi encaminhado a esta Diretoria um projeto de reforma do imóvel em análise,
com protocolo 804/2010, que apresentava levantamento da situação na época e detalhava as
intervenções propostas. Foi feita análise do material pela Diretoria e consequente resposta com
considerações, mas no meio do processo a edificação foi leiloada e arrematada por M. Costa
Empreendimentos Ltda. O novo proprietário retomou o projeto de reforma e o executou conforme
sugestões apontadas por esta Diretoria. Diante da recuperação do desenho original e dos seus
respectivos elementos construtivos, o proprietário solicitou à Diretoria o tombamento do imóvel, conforme
protocolo 21/2013.
Conforme vistoria realizada ao término da obra, a Diretoria entende que a reforma implementada
requalificou a edificação e a reinseriu na paisagem e ambiência urbana específica deste pedaço. A
proteção do bem cultural, objeto deste Dossiê, contribui assim para reforçar as características presentes
no conjunto arquitetônico da quadra formado por edificações de tipologia original com processos de
tombamento já abertos e algumas já protegidas pelo CDPCM-BH1.
Diante do exposto, este dossiê de tombamento, referente ao processo administrativo de nº
01.043249.09.20, tem por objetivo constatar o valor cultural do imóvel em questão para subsidiar a
proteção por meio de tombamento, conforme estabelecido pela Lei nº 3.802 de 06 de julho de 1984 que
organiza a Proteção do Patrimônio Cultural do Município de Belo Horizonte e estabelecer diretrizes
fundamentais para o bem cultural.

1
Rua dos Goitacazes, 26; Rua dos Goitacazes, 48; Rua dos Goitacazes, 96. 3

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2 – A Política de Patrimônio Histórico Cultural

A visão da preservação abrangendo conjuntos e centros urbanos e não apenas o objeto arquitetônico
isolado começou a ser considerada em todo o mundo a partir das grandes reformas urbanas no século
XIX. A origem dos conceitos atuais de "patrimônio urbano" liga-se ao arquiteto e urbanista italiano Gustavo
Giovannonni, que em 1931, na obra Vecchie Città ed Edilizia Nuova2, reconhece o valor estético e
histórico das partes antigas das cidades e a relação de complementaridade que têm com as partes novas.
As recomendações contidas na “Carta de Atenas” de 1931 sobre a proteção de monumentos e sítios
urbanos, baseadas nos conceitos de Giovannonni, serviram, dos anos 1930 até os anos 1970, como
suporte para as ações de proteção. No Brasil, em 1937, o Decreto-lei nº 25 organiza a proteção do
Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. Na época, prevaleciam as ações de preservação de áreas
urbanas bastante homogêneas, de estilo colonial, sendo frequentes, inclusive, os “retoques” para a
eliminação de detalhes arquitetônicos pertencentes a tendências estilísticas ecléticas, estranhas ao padrão

Conjunto Urbano Rua da Bahia e Adjacências


colonial.3 A valorização das raízes nacionais e as consequentes ações de proteção do patrimônio cultural
harmonizavam-se com os interesses do poder político central, representado inicialmente pelo Estado Novo
e depois, nos anos 1970, pelos governos militares, os quais usaram a ideia de preservação para a
promoção da integração nacional e do turismo regional.
Nos anos 1970 promove-se uma nova e abrangente visão de patrimônio, reconhecendo-se o valor dos
bens intangíveis. Recuperava-se, portanto, a ideia original de Mário de Andrade que, mesmo antes do
Decreto-lei nº 25, considerava como bens a serem preservados as chamadas manifestações intangíveis,
como a maneira de preparar uma comida, costumes, manifestações folclóricas, etc.
A consolidação dos conceitos ligados à memória e ao patrimônio é resultado da formulação de ideias e
apresentação das experiências dos países participantes dos vários encontros internacionais sobre a
proteção ao Patrimônio Mundial, promovidos pela UNESCO. Em tais encontros produziram-se documentos
referenciais, entre os quais se cita a Carta de Veneza, de 1964; a Declaração de Amsterdã, de 1975; a
Recomendação de Nairobi, de 1976; a Declaração do Conselho da Europa, de 1978; a Carta de Toledo,
de 1987 e a Conferência de Helsinki, em 1996.
A partir dos anos 1980, baseando-se nos conceitos da Carta de Amsterdã de 1975, há uma revisão
conceitual propondo-se uma leitura acurada da diversidade arquitetônica existente nos lugares e das
marcas que os processos históricos deixam no espaço, questionando-se a ideia vigente da valorização
prioritária da homogeneidade estilística e o antagonismo entre “velho” e “antigo”. Assim, o espaço urbano

2 GIOVANNONNI, Gustavo. L' urbanisme face aux villes anciennes. Paris: Éditions du Seuil, 1998, com introdução de Françoise Choay.
3 Ressalte-se que no Brasil houve uma forte vinculação entre as idéias de preservação e o movimento moderno brasileiro e, assim como em
outros países da América Latina, a arquitetura moderna é influenciada pelos códigos formais oriundos da arquitetura colonial. Os modernistas,
também pioneiros das idéias de preservação no Brasil e que condenavam a presença de elementos ecléticos no tecido colonial, admitiam, no
entanto, a inserção de obras modernas neste mesmo tecido, como é o caso do Grande Hotel de Ouro Preto e de Diamantina, de Oscar
Niemeyer, demonstrando o grau de flexibilidade com que no Brasil se entendeu a idéia de homogeneidade estilística dos conjuntos urbanos,
preconizada Giovannonni. 4

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é considerado como referencial simbólico e, em termos arquitetônicos, considera-se que não somente o
patrimônio colonial, mas todas as intervenções estilísticas e períodos históricos têm interesse para a
preservação, sempre que reforcem uma ambiência e contribuam para a coesão e manutenção dos valores
identificados em um conjunto urbano. Neste sentido, considera-se que o que deve ser lembrado ou
esquecido, preservado ou desaparecido não se liga necessariamente a acontecimentos e pessoas
consideradas notáveis, mas a todas as manifestações sociais. Segundo Maria Beatriz Silva:
[...] tanto o exercício da memória, quanto a formação da identidade são, a nível individual,
capacidades humanas, como andar, comer, dormir; porém, quando tomadas coletivamente,
passam à categoria de direitos a conquistar, aos quais o maior obstáculo parece ser o interesse
individual ou corporativo.
De fato, afirma Márcia Santianna:

Esse novo conceito de cidade-documento justificou, assim, ao longo de toda a década de 80,
a proteção de áreas urbanas sem grande interesse artístico ou estético, portadoras de conjuntos
arquitetônicos heterogêneos e já bastante fracionados, mas que tinham muito a dizer sobre a
história urbana do país. Os critérios de intervenção praticados anteriormente sofrem duras

Conjunto Urbano Rua da Bahia e Adjacências


críticas nesse período, em favor de uma abordagem mais histórica e menos estética do
patrimônio urbano.4
Em Belo Horizonte, desde 1994, a concepção de bem cultural da Carta de Amsterdã vem
fundamentando as políticas de proteção do patrimônio, que se baseiam em conceitos de conjunto urbano
e ambiência. Os conjuntos urbanos são agrupamentos de construções e espaços dentro da cidade onde
se reconhece um grau expressivo de coesão e valores estéticos, arquitetônicos, socioculturais e
históricos.5 Os conjuntos urbanos, como manchas, têm sua abrangência espacial definida por
estabelecimentos, edificações referenciais, espaços polarizadores ou ambiências características,
entendendo-se por ambiência o quadro natural ou construído que influi na percepção estática ou dinâmica
desses conjuntos, ou a eles vincula-se de maneira imediata no espaço, ou por laços sociais, econômicos
ou culturais6. De fato:
(...) É importante ressaltar que essa ambiência pode incluir bens culturais dos mais variados
usos, como residências, casas comerciais, instituições públicas, áreas verdes e de lazer. Essa
pluralidade também se expressa nas opções construtivas que podem abranger desde ricos
projetos arquitetônicos, como também edificações mais modestas, erigidas a partir do desejo de
seus respectivos proprietários. Considera-se que em ambos os casos estão expressas visões de
mundo, experiências de vida, enfim, história rica em informações culturais que criam laços de
pertinência e identidade do homem e sua cidade.”7
Na definição da proteção dos conjuntos urbanos a perspectiva de múltiplos olhares sobre a cidade
ultrapassa o levantamento casa por casa, lote por lote, e registra o conjunto de seu cenário urbano, que se
4 SANTIANNA, Márcia, Critérios de intervenção em sítios urbanos históricos: uma análise crítica - em http://www.archi.fr/SIRCHAL/ em 27 de
março de 2004.
5 A Recomendação relativa à salvaguarda dos conjuntos históricos e sua função na vida contemporânea, 19ª Sessão UNESCO - Organização

das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura, realizada em Nairobi em 26 de novembro de 1976, considera: “conjunto histórico
ou tradicional todo agrupamento de construções e de espaços, inclusive os sítios arqueológicos e palenteológicos, que constituam um
assentamento humano, tanto no meio urbano quanto no rural e cuja coesão e valor são reconhecidos do ponto-de-vista arqueológico,
arquitetônico, pré-histórico, histórico, estético ou sócio-cultural”.
6 Definição contida na Recomendação de Nairobi op.cit.
7 Cartilha elaborada pela Gerência de Patrimônio Histórico Urbano da Prefeitura Municipal de Belo Horizonte, 2002. 5

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configura por suas especificidades internas e ao mesmo tempo como referência externa, quando alguém
atravessa uma determinada parte da cidade. Os usos e apropriações do espaço são estudados segundo
os conceitos de mancha urbana, pedaço, trajeto, pórtico e circuito, desenvolvidos pelo Núcleo de
Antropologia Urbana NAU/USP, coordenado pelo professor doutor José Guilherme Cantor Magnani, assim
definidos:
A categoria pedaço é formada por dois elementos básicos: um de ordem espacial, físico que
configura um território claramente demarcado. (...) O segundo elemento - a rede de relações -
instaura um código capaz de separar, ordenar, classificar. É no horizonte da vida do dia-a-dia
que o pedaço se inscreve, possibilitando o ingresso e participação naquelas práticas de forma
coletiva e ritualizada. 8
(...) O termo na realidade designa aquele espaço intermediário entre o privado (a casa) e o
público, onde se desenvolve uma sociabilidade básica, mais ampla que a fundada nos laços
familiares, porém mais densa, significativa e estável que as relações formais e individualizadas
impostas pela sociedade.9
(...) A mancha, ao contrário - sempre aglutinada em torno de um ou mais estabelecimentos,
apresenta uma implantação mais estável, tanto na paisagem como no imaginário. (...) Uma área
contígua do espaço urbano dotada de equipamentos que marcam seus limites e viabilizam -

Conjunto Urbano Rua da Bahia e Adjacências


cada qual com sua especificidade, competindo ou complementando - uma atividade ou prática
predominante. 10
(...) uma mancha é recortada por trajetos e pode também abrigar vários pedaços. (...) as
marcas dessas duas formas de apropriação e uso do espaço - pedaço e mancha - na paisagem
mais ampla da cidade, são diferentes. No primeiro caso, onde o determinante é o componente
simbólico, o espaço enquanto ponto de referência é restrito, interessando mais a seus habitues.
Com facilidade muda-se de ponto, quando então leva-se junto o pedaço. (...) A mancha, ao
contrário, sempre aglutinada em torno de um ou mais estabelecimentos, apresenta uma
implantação mais estável, tanto na paisagem como no imaginário. As atividades que oferece e
as práticas que propicia são o resultado de uma multiplicidade de relações entre seus
equipamentos, edificações e vias de acesso, o que garante uma maior continuidade,
transformando-a, assim, em ponto de referência físico, visível e público para um número mais
amplo de usuários.11
(...) O trajeto aplica-se a fluxos no espaço mais abrangente da cidade e no interior das
manchas urbanas. Na paisagem mais ampla e diversificada da cidade, trajetos ligam pontos e
manchas, complementares ou alternativos. (...) No interior das manchas os trajetos são de curta
extensão, na escala do andar.12
(...) O termo trajeto surgiu da necessidade de categorizar uma forma de uso do espaço que
se diferencia, em primeiro lugar, daquele descrito pela categoria pedaço. Enquanto esta última,
como foi visto, remete a um território que funciona como ponto de referência – e, no caso da vida
no bairro, evoca a permanência de laços de família, de vizinhança, origem e outros – trajeto
aplica-se a fluxos no espaço mais abrangente da cidade e no interior das manchas urbanas. Não
que não se possa reconhecer sua ocorrência no bairro, mas é justamente para pensar a abertura
do particularismo do pedaço que essa categoria foi elaborada. É a extensão e principalmente a
diversidade do espaço urbano para além do bairro que colocam a necessidade de
deslocamentos por regiões distantes e não contíguas: esta é uma primeira aplicação da
categoria. Na paisagem mais ampla e diversificada da cidade, trajetos ligam pontos e manchas,
complementares ou alternativos: casa /trabalho /casa; casa /cinema /restaurante /bar; casa

8 MAGNANI, José Guilherme Cantor. Da periferia ao centro: pedaços & trajetos. In: Revista de Antropologia. São Paulo: USP, 1992.
9 MAGNANI, José Guilherme Cantor in: Festa no Pedaço: Cultura Popular e Lazer na Cidade. São Paulo, Hucietec, 1998.
10 MAGNANI, José Guilherme Cantor. Revista de Antropologia. 1992. Op cit.
11 http://www.aguaforte.com/antropologia/Rua1.html - 2003.
12 MAGNANI, José Guilherme Cantor. Revista de Antropologia. 1992. Op cit. 6

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/posto de saúde /hospital /curandeiro - eis alguns exemplos, dos mais corriqueiros, de trajetos
possíveis.
(...) os trajetos levam de um ponto a outro através dos pórticos. Trata-se de espaços, marcos
e vazios na paisagem urbana que configuram passagens. Lugares que já não pertencem ao
pedaço ou mancha de lá, mas ainda não se situam nos de cá; escapam aos sistemas de
classificação de um e outra e como tal apresentam a "maldição dos vazios fronteiriços". Terra de
ninguém, lugar do perigo, preferido por figuras liminares e para a realização de rituais mágicos,
muitas vezes lugares sombrios que é preciso cruzar rapidamente, sem olhar para os lados.13
Há, por fim, a noção de circuito. Trata-se de uma categoria que descreve o exercício de uma
prática ou a oferta de determinado serviço por meio de estabelecimentos, equipamentos e
espaços que não mantêm entre si uma relação de contigüidade espacial, sendo reconhecido em
seu conjunto pelos usuários habituais: por exemplo, o circuito gay, o circuito dos cinemas de
arte, o circuito neo-esotérico, dos salões de dança e shows black, do povo-de-santo, dos
antiquários, dos clubbers e tantos outros.
A noção de circuito também designa um uso do espaço e de equipamentos urbanos –
possibilitando, por conseguinte, o exercício da sociabilidade por meio de encontros,
comunicação, manejo de códigos –, porém de forma mais independente com relação ao espaço,
sem se ater à contigüidade, como ocorre na mancha ou no pedaço. Mas tem, igualmente,
existência objetiva e observável: pode ser levantado, descrito e localizado.
Em princípio, faz parte do circuito a totalidade dos equipamentos que concorrem para a

Conjunto Urbano Rua da Bahia e Adjacências


oferta de tal ou qual bem ou serviço, ou para o exercício de determinada prática, mas alguns
deles acabam sendo reconhecidos como ponto de referência e de sustentação à atividade. Mais
do que um conjunto fechado, o circuito pode ser considerado um princípio de classificação.
Nesse sentido, é possível distinguir um circuito principal que engloba outros, mais específicos: o
circuito dos acupunturistas ou o dos astrólogos, por exemplo, fazem parte do circuito principal
neo-esotérico e com ele mantém contatos, vínculos e troca. 14

13 http://www.aguaforte.com/antropologia/Rua1.html
- 2003
14MAGNANI, José Guilherme Cantor, DE PERTO E DE DENTRO: notas para uma etnografia urbana, Revista Brasileira de Ciências Sociais,
Vol. 17, nº 49 p. 24 , São Paulo, junho de 2002. 7

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Conjunto Urbano Rua da Bahia e Adjacências

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3 - O Conjunto Urbano Rua da Bahia e Adjacências

O Conjunto Urbano Rua da Bahia é constituído por um importante eixo cultural da cidade. Trata-se de
uma via que se destaca na malha traçada no projeto do engenheiro Aarão Reis, tanto por ser, juntamente
com a Rua Espírito Santo, a que apresenta maior extensão dentre aquelas que cruzam diametralmente a
Avenida do Contorno, quanto por conectar direta ou indiretamente alguns dos principais pontos de
preservação cultural da cidade, tais como: a Praça da Estação, a Praça Sete, o Parque Municipal, a
Avenida Afonso Pena e a Praça da Liberdade. Além disso, se caracteriza originariamente como um dos
principais eixos de expansão urbana e nele estão localizados importantes bens culturais representativos
da história e da memória da cidade que, junto aos demais espaços que o conformam, congrega um
espaço fundamental de referência para as expressões artísticas, políticas e boêmias de Belo Horizonte.

Conjunto Urbano Rua da Bahia e Adjacências

Planta original da Comissão Construtora da cidade de Belo Horizonte. Em destaque de vermelho o perímetro da Rua da Bahia

Sempre marcado pela diversidade de seus usos – residencial, comercial, institucional, cultural, de
serviços e até mesmo industrial – e estilos arquitetônicos, a Rua da Bahia oferece um testemunho das
várias fases de ocupação de Belo Horizonte. Ainda que algumas das edificações originais tenham sido
demolidas, as mudanças ao longo da rua e ao longo do tempo não implicaram, no entanto, na substituição
significativa dos usos. A substituição por edifícios de maior altimetria deram uma nova face a Rua da Bahia
9

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a partir de meados do século XX, numa época em que a industrialização alçava vôos e o ideal de
modernidade ditava novos padrões de ocupação nas cidades. Atualmente, estilos arquitetônicos diferentes
convivem lado a lado, num mosaico que retrata a própria história da cidade e que confere singularidade à
Rua da Bahia. A história de uma cidade que encerrou as perspectivas de um ideal de modernidade
mineira. História de novos símbolos que emergiram da jovem e idealizada República Brasileira. A alegoria
de “algo novo [que] se enraizou materialmente.”15

A Rua da Bahia pode ser analisada levando-se em conta duas épocas diferentes: a antiga, com
destaque para o espaço público, e a nova, onde predomina o espaço privado em detrimento ao público.
Como já foi dito, essas duas épocas podem ser vistas ainda hoje em construções remanescentes da
primeira metade do século XX e que resistiram à era dos arranha-céus. Salomão de Vasconcellos em suas
“Memórias de uma República de Estudantes” ilumina uma Belo Horizonte de poucas opções para a vida
social no início do século XX: “Casa de diversão, só havia o Socasseaux, na esquina de Bahia com Afonso
Pena (...). Barracão improvisado, inestético, desenquadrinhado, feito ainda de tábuas e coberto de zinco.
Era o teatro”16. Emblemática e cosmopolita desde a infância da nova capital, a rua atraía mineiros vindo do

Conjunto Urbano Rua da Bahia e Adjacências


interior como Cyro dos Anjos em 1923, para quem
tudo parecia trepidação, formigamento, em contraste com o paradeiro que Santana me
deixara na retina. Já me imaginava nos bares, aturdido pelo corre-corre dos garçons, já
subia a Rua da Bahia com os companheiros, já me incorporava ao footing da Praça da
Liberdade, onde em noites de retreta Priscilas outras haviam de surgir aos punhados.
Depois do footing, meu pensamento tomava o bonde, apeava na porta do Odeon, entrava
na sala de projeções, mirava, guloso, a esplendente platéia17.

Rua da Bahia no cruzamento com a Av. Afonso Pena. Data: 1910. Fonte: APCBH.

15 Magalhães, Beatriz de Almeida. Belo Horizonte: Um espaço para a República / por Beatriz de Almeida Magalhães e Rodrigo Ferreira
Andrade. - Belo Horizonte: UFMG, 1989, pág.129
16 Idem. Pág. 90
17Idem. Pág. 112 10

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Nesses tempos, a Rua da Bahia exibia seus largos espaços públicos e já possuía os principais
artefatos urbanos de Belo Horizonte. Hotéis e pensões naquele início de século como
o Grande Hotel ainda com um só andar,(...) onde se hospedavam os congressistas e o do
Guilherme Leite, logo abaixo, na mesma rua (...) O Café Maciel, na esquina da Bahia com
Goitacazes, ponto predileto dos estudantes e dos políticos, não só pela simpatia
comunicante do Carlos Maciel, ótima pessoa, muito amável, como pela verve e o arguto
espírito com que suvelava alguns políticos da época18.

Situado do outro lado da rua, este hotel foi inaugurado em 1897, com 52 quartos, nos quais se
hospedaram políticos, autoridades e celebridades em visita à cidade, mas em maio de 1908 acontece um
incêndio de grandes proporções que destrói totalmente a edificação. Já no ano seguinte tem-se notícia de
que o Grande Hotel é inteiramente reconstruído. Posteriormente, em 1923, é adquirido pelo Sr. Archanjo
Malleta que promove modificações no prédio. Em 1956 o Grande Hotel é vendido à Cia. de
Empreendimentos Gerais que o demole e ali constrói o Ed. Archanjo Malleta, inaugurado em 1961.19

Conjunto Urbano Rua da Bahia e Adjacências

Vista do Grande Hotel, situado na Rua da Bahia com Av. Augusto de Lima. Inaugurado em 1897, o Hotel foi demolido para
construção do Ed. Ângelo Maleta. Data: entre 1897 e 1910. Fonte: MhAB

A vida pública da Capital tinha o seu centro na Bahia. Os seus largos espaços convidavam à vida civil,
à cumplicidade de seus cidadãos, que mesmo inconscientemente já construíam a nova ordem republicana.
João do Rio dá o seu testemunho sobre a cidade numa época em que a luz invadia os espaços públicos.
18Idem. Pág.92
19 BARRETO, Abílio. Belo Horizonte:memória histórica e descritiva- história média. Belo Horizonte: Fundação João Pinheiro, Centro de
Estudos Históricos e Culturais, 1995, pág. 405. 11

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Belo Horizonte, única e talvez derradeira poesia da República, cidade do azul, terra do
firmamento, miradouro dos céus, abre-sol védico dos desejos espirituais...Eu tenho a
certeza que os passeantes das ruas e mesmo a maioria dos homens vulgares podem
sentir essa inundação de azul, pensando em coisas práticas. Nem outra coisa faziam em
Atenas os habitantes do Cerâmico.20.

A Rua da Bahia conheceu muitas histórias. A ela coube, desde os primeiros anos da Capital, um papel
central no desenvolvimento da cidade, pois cumpria a importante função de interligar a Estação Ferroviária
ao centro civil do Estado. Assim, a ocupação dessa via obedeceu o próprio movimento de crescimento e
desenvolvimento de Belo Horizonte, desde 1897.

A Praça Rui Barbosa ou da Estação, como também é conhecida, localiza-se nos primeiros quarteirões
da Rua da Bahia e sempre foi uma referência de Belo Horizonte. Na planta original da Capital, essa tinha
lugar de destaque na região central e era passagem obrigatória para quem entrasse ou saísse de Belo
Horizonte, na primeira metade do século XX. Sua construção iniciou-se em 1904, sendo inaugurada em
1914 com o nome de Cristiano Otoni. Com a intensa utilização do ramal férreo para transporte de material

Conjunto Urbano Rua da Bahia e Adjacências


utilizado na construção da cidade, a região adjacente à praça foi sendo ocupada por galpões destinados à
manutenção das locomotivas (como a oficina do Conde de Santa Maria) e para o armazenamento de
mercadorias. Á esses empreendimentos somaram-se outros de serviços o que conferia à essa porção da
cidade um aspecto dinâmico e de vitalidade.

Próximo a Praça, o galpão da antiga indústria têxtil, denominada Companhia Industrial de Belo
Horizonte, é uma importante referência simbólica e histórica da cidade. Instalada em 30 de julho de 1906,
ela iniciou suas atividades na década de 1910, com cerca de 500 empregados, em sua maioria mulheres,
o que causava rebuliço na hora de entrada e saída do expediente. Eram tempos nos quais a praça servia
como ponto de encontro após o horário de trabalho e nos fins de semana abrigava retretas prestigiadas
pela população. Com a transferência da área industrial para Contagem, nos anos de 1940, a região do
entorno, que antes abrigava dezenas de indústrias, entrou em decadência e o galpão daquela Companhia
foi posteriormente ocupado por estabelecimentos comerciais do setor têxtil. Testemunho da história da
cidade, esse edifício faz parte do conjunto eclético da Praça da Estação, assim como o Instituto de
Química da UFMG, o Pavilhão Mário Werneck e o Centro Cultural da UFMG21.

Na década de 1920, foi realizada uma renovação urbanística e arquitetônica na Praça, que passou a
chamar-se Praça Rui Barbosa. O antigo prédio da estação ferroviária já não suportava o trânsito de
mercadorias e de pessoas que crescia de modo significativo, impulsionado por iniciativas como a
expansão da rede viária estadual, com a construção, em 1917, de uma outra linha férrea, de bitola larga,
que alcançava o município pelo oeste ou também a inauguração, em 1920, do ramal Divinópolis-Belo
Horizonte, que interligava a cidade a regiões de intenso desenvolvimento econômico (sul, triângulo
mineiro, campo das vertentes e alto Paranaíba)22. Assim, o antigo prédio da estação foi demolido para dar

20 Idem. Págs. 102-104


21 Projeto Rua da Bahia. Prefeitura Municipal de Belo Horizonte. Secretaria Municipal de Cultura. Julho de 1993, pág. 06.
22 Belo Horizonte & o Comércio: 100 anos de História. Fund. João Pinheiro. Centro de Estudos Históricos e Culturais. Belo Horizonte, 1997, pág. 76. 12

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lugar à atual edificação, projetada por Luiz Olivieri e inaugurada em novembro de 1922, ao mesmo tempo
em que os jardins da praça também foram reformados, recebendo estátuas e um tratamento paisagístico.

Conjunto Urbano Rua da Bahia e Adjacências


Antigo Edifício da Estação da Estrada de Ferro, situada na Praça da Estação. Data: entre 1906 e 1910. Fonte: MhAB.

A praça Rui Barbosa e seus jardins e fontes. Em segundo plano o Edifício da Estação Ferroviária Central do Brasil,
inaugurado em 1922, ainda segundo os padrões da arquitetura eclética francesa com predominância de elementos
neoclássicos. Data: entre 1922 e 1930. Fonte: MhAB.

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Analisando o planejamento e a distribuição dos artefatos urbanos do projeto original de Araão Reis,
Beatriz Magalhães observa que a Afonso Pena foi idealizada também como uma espécie de marco
divisório de dois ambientes da cidade e não apenas como principal via de ligação Norte-Sul da Capital:
"(...) de um lado, o mais próximo do ribeirão ficam os serviços comuns, como estação ferroviária,
comércio, eletricidade, secretaria de Estado e exposição permanente; do outro, os mais nobres, como os
três poderes, a municipalidade, o teatro, as escolas, o hotel, o hospital, etc"23.

Todo esse trecho que vai da Praça da Estação à Avenida Afonso Pena tinha uma agitação muito
peculiar se comparado ao resto da rua. Operários, estudantes, visitantes e moradores que circulavam
"apressados e atarefados durante o dia, mas que à noite [passeavam] calmamente pela Bahia e pela
Praça da Estação, com seus lindos jardins"24.

Ainda durante as primeiras décadas de vida de Belo Horizonte, atravessando a Avenida Afonso Pena
chegava-se ao trecho da Rua da Bahia que foi, por muitos anos, considerado o centro da Capital.
Compreendido pelos quatro quarteirões que se estendiam da Afonso Pena à Avenida Álvares Cabral, essa

Conjunto Urbano Rua da Bahia e Adjacências


era sua porção identificada com os intelectuais, funcionários públicos e estudantes, que se reuniam nos
bares, cafés, cinemas, livrarias e teatros que existiram nesses quarteirões e que fizeram desse pedaço da
Bahia a área mais sofisticada de Belo Horizonte, identificada como um espaço privilegiado de cultura e de
sociabilidade. Ali, "se concentraram os primeiros estabelecimentos comerciais, de lazer e de encontro, que
passaram a fazer parte do imaginário da cidade ou, melhor dizendo, das representações elitizadas que
dela se faziam nas suas primeiras décadas"25.

Av. Afonso Pena próximo ao Cine Avenida. Vê-se ainda a sapataria Bristol. Data: entre 1920 e 1930. Fonte: MhAB.

23 Magalhães, Beatriz de Almeida. Belo Horizonte: Um espaço para a República / por Beatriz de Almeida Magalhães e Rodrigo Ferreira Andrade. - Belo Horizonte: UFMG, 1989, pág.125.
24 Idem, pág. 07.
25 Idem. Pág. 54. 14

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Além de confeitarias, bares e lojas de moda, neste trecho da rua da Bahia encontravam-se, também,
joalharias, comércio de bebidas finas, frutas nacionais e estrangeiras, flores e as novidades comerciais
que aqui se estabeleciam.

Na mesma rua da Bahia estabeleceu-se, em 1901, a primeira distribuidora de jornais e


revistas do Rio de Janeiro e São Paulo, a Casa Giacomo, também uma casa lotérica. Foi
ainda nesse "umbigo urbano" - como se referia o escritor Pedro Nava à rua da Bahia - que
se instalaram os primeiros estabelecimentos para a venda de automóveis, novidade
trazida em 190726.

Na Bahia com Afonso Pena ficava o ponto da Agência de Bondes "Viação Elétrica" (onde é hoje o
mercado de flores) com a sua fachada projetada por Francisco Izidro Monteiro, em 1909. Era o principal
entroncamento das linhas de bondes da cidade. Essa área também foi palco de manifestações públicas
das mais diversas, como os desfiles de carros alegóricos dos Blocos Carnavalescos, como o dos "Fogos
Adrianinos", na década de 1920, ou ainda em 1932, quando a população tomou o cruzamento das duas

Conjunto Urbano Rua da Bahia e Adjacências


vias, juntamente com a Legião de Outubro, no ardor da Revolução Constitucionalista de 1932.

Vale destacar neste trecho o histórico Bar do Ponto. Como já foi dito, na esquina da Bahia com Afonso
Pena havia a estação de Bondes, cujo nome se estendeu ao estabelecimento comercial que ficava na
esquina onde existe, hoje, o Othon Palace Hotel. Essa designação passou então a referir-se a todo o
entorno onde também
ficava a confeitaria do suíço Carlos Norder, a residência das Alevatto, a do Sr. Avelino
Fernandes, a da D. Lulu Fonseca, o Parc Royal, a Casa Decat, o Clube Belo Horizonte, o
cinema Odeon, a Joalheria Diamantina, a Delegacia Fiscal, os Correios e Telégrafos. Era
o centro da cidade. Seu trecho obrigatório e todo mundo parava, passava, conversava,
atravessava, esperava, desesperava, amava, demorava, vivia no Bar do Ponto27.

26 Belo Horizonte & o Comércio: 100 anos de História. Fund. João Pinheiro. Centro de Estudos Históricos e Culturais. Belo Horizonte, 1997,
pág. 56.
27 Nava, Pedro. In.: Rua da Bahia. Organização: Luiz Henrique Horta Silva e Nísia Maria Duarte Werneck. Belo Horizonte: UFMG, 1990, pág.

8. 15

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Nos anos de 1920, um pouco acima do Bar do ponto, funcionava o luxuoso Parc Royal em um edifício
construído em estilo eclético remanescente da época. Era uma das principais lojas representantes da
moda francesa em Belo Horizonte, filial de loja carioca de roupas que, em 1921, se estabeleceu na rua da
Bahia, tendo como proprietários e construtores José Vasco Ramalho Ortigão e Theotonio Caldeira e
arquitetos projetistas Luiz Morais Júnior e Antônio da Costa Christino. “Lá foi exposto o ousado "porta-
seios", bem como outras novidades que tornavam o vestuário feminino mais audacioso” 28.

Conjunto Urbano Rua da Bahia e Adjacências


Rua da Bahia esquina com avenida Afonso Pena em 1930, vendo-se o edifício Park Royal, terceira
edificação à direita da rua da Bahia. Fonte: APCBH-Coleção José Goes

No prédio de número 1060, desde 1910 funcionava a livraria Francisco Alves, cuja planta havia sido
aprovada em outubro de 1909, pelo Conselho Deliberativo. Juntamente com o Bar do Ponto e o Café
Estrela, que ficava instalado logo abaixo da Francisco Alves, esta livraria era o ponto de aglutinação da
intelectualidade nos primeiros anos da capital dando à este trecho da rua o status de reduto da boemia
inteligente. "É a geração dos Modernistas que [trazia] como referência nomes como o de Pedro Nava,
Cyro dos Anjos, Emílio Moura e Carlos Drummond de Andrade"29. Essa Livraria funcionou na rua da Bahia
até a década de 1990.

Este trecho da Bahia também seria conhecido pelos sucessivos e importantes estabelecimentos de
espetáculo e entretenimento que ali se implantaram. Inicialmente, no período de 1899 a 1906, o Teatro
Soucasaux, a primeira casa desse gênero da cidade. Posteriormente, o Teatro Municipal, cuja

28Idem, pág. 55.


29Trilhas Urbanas: histórias da Rua da Bahia e da Cantina do Lucas. / Brenda Silveira e Luiz Otávio Horta. - Belo Horizonte: Realizar Cine,
Teatro, Vídeo e Idéias Ltda, 2002, pág. 63. 16

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inauguração se deu em 1921 e, finalmente, o Cine Metrópole que, inaugurado em 1942, funcionou até
outubro de 1983, quando, sob protestos populares, foi demolido para ceder lugar a uma agência bancária.

Prédio do antigo Teatro Municipal, inaugurado em 1908. Data: Interior do Teatro Metrópole. Fonte, posteriormente
1920. Fonte: MhAB. demolido. Fonte: APCBH – Coleção José Góes.

Conjunto Urbano Rua da Bahia e Adjacências

Cine Metrópole e o cartaz do último filme ali exibido. Data: 1983.

Na esquina de Bahia com Avenida Augusto de Lima, ainda pode-se ver a edificação original em estilo
eclético que abriga o Colégio Minas Gerais. O prédio, que atualmente pertence á Academia Brasileira de
Letras, foi inaugurado em 1918 abrigando uma das primeiras escolas técnicas de comércio e datilografia
de Belo Horizonte e que na década de 1960, atendendo as novas demandas de mercado, incorporou os
cursos de magistério, de contabilidade, de processamento de dados, de suplência e técnico em transações
imobiliárias.
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Construído para ser a sede do Conselho Deliberativo da Capital, o edifício em estilo néo-gótico
localizado no número 1149, também na esquina de Augusto de Lima, abrigou numerosos eventos artístico-
culturais, além de instituições como a Biblioteca Municipal, a Câmara Municipal, o Museu dos
Expedicionários e o Museu de Mineralogia Djalma Guimarães. Tombado em 1975, como patrimônio
histórico e cultural da cidade, hoje nesse edifício funciona o Centro de Cultura de Belo Horizonte, unidade
da Fundação Municipal de Cultura.

Com projeto do Arquiteto Francisco Monteiro aprovado em junho de


1911, o edifício de suma importância histórica também teve em
seus porões a sede da primeira estação de rádio de Belo Horizonte,
a Rádio Mineira, que foi a primeira estação no país a apresentar um
programa de rádio-teatro e que funcionou ali entre 1931-44.

No quarteirão em frente ao Conselho Deliberativo, acima de


onde localizava-se o Grande Hotel, na esquina de Avenida Álvares

Conjunto Urbano Rua da Bahia e Adjacências


Cabral, situava-se o prédio do antigo Club Belo Horizonte. Com
obras iniciadas em novembro de 1926 e tendo como engenheiro-
arquiteto Luiz Signorelli, o espaço era um dos locais preferidos dos
"elegantes", com a sua extensa programação de bailes e eventos
culturais. "Os recitais no clube eram mais do que concorridos e
seus bailes de carnaval deixaram saudades na cidade"30. Entre
1945 e 1980, no prédio também funcionou o Cinema Guarani. Hoje,
suas dependências totalmente restauradas abrigam o Museu Inimá
de Paula.

Em suas primeiras décadas de história, a porção da Bahia, a partir da Avenida Álvares Cabral até o
final da rua, na avenida do Contorno, diferenciava-se das até então apresentadas, em razão de uma feição
predominantemente residencial.

Entre as residências, na sua maioria de funcionários públicos, é possível, vez por outra,
encontrar algumas construções de uso institucional, como é o caso do Juízo Seccional e
do Colégio Dom Viçoso, fundado em 1903, e um ou outro estabelecimento ou escritório,
como a fábrica de charutos Flor de Minas. Ocupando o terreno da esquina de Bahia com
Cristóvão Colombo (onde, hoje, funciona a biblioteca pública), está a filial do Instituto
Oswaldo Cruz em Belo Horizonte. Suas instalações ocupavam todo o terreno e ainda
poderão ser vistas na década de 40, porém já transformadas no "Centro de Saúde da
Capital". Daí para frente as construções tornam-se raras e o que predomina na paisagem
é o verde dos lotes vagos, isso sem contar todo o terreno que na planta original da cidade
estava destinado ao zoológico e que só na década de 30 será ocupado pelo Minas Tênis
Clube31.

30 Projeto Rua da Bahia. Prefeitura Municipal de Belo Horizonte. Secretaria Municipal de Cultura. Julho de 1993, p. 14-16.
31 Idem, pág. 11. 18

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Como crescimento da cidade, outras edificações institucionais importantes se somariam àquelas tais
como a basílica de Nossa Senhora de Lourdes com sua arquitetura de inspiração gótica, a Academia
Mineira de Letras, antiga residência do médico Amílcar Martins, o Colégio Imaculada Conceição e o
edifício do Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais-BDMG e o Instituto Isabela Hendrix.

Nas proximidades de Avenida Bias Fortes, um conjunto de edifícios modernos enunciam outra fase de
ocupação da rua. De inspiração modernista, são elas, o Instituto Cultural Brasil Estados Unidos – ICBEU;
a Biblioteca Pública Luiz de Bessa, a capela do Instituto Isabela Hendrix e o Palácio dos Despachos32.

A Rua da Bahia neste trecho próximo ao bairro Santo Antônio tinha uma importante função de viabilizar
o trânsito de pessoas. No governo Melo Viana, em 1926, o bonde passou a integrar o bairro ao itinerário
que chegava até o centro, como nos relata o antigo morador Jorge Lasmar: "O bonde saía da Praça Sete
e subia a Rua da Bahia toda, a Rua Carangola e aqui na Congonhas, o bonde virava à direita e parava.
Era o ponto final."33

Conjunto Urbano Rua da Bahia e Adjacências


Nos últimos quarteirões da Rua da Bahia, a dinamização do processo de ocupação se deu a partir da
década de 1930 de forma concomitante com o desenvolvimento do comércio da região. Data desta década
também a compra, pelo Colégio Izabella Hendrix, do quarteirão com face para a Rua da Bahia e Avenida
Bias Fortes, para onde a escola foi posteriormente transferida. A instalação do Minas Tênis Clube, em
1937, em uma área originalmente destinada ao jardim zoológico da cidade, representou um impulso em
seu processo de ocupação. Nas imediações do imóvel em epígrafe, seriam ainda implantadas duas outras
instituições: em 1942, a Paróquia de Santo Antônio, na Avenida do Contorno com rua Espírito Santo e, em
1954, a Escola Estadual Governador Milton Campos, o Estadual Central em terreno onde funcionou, por
muitos anos, o Batalhão de Cavalaria da Polícia Militar.

Com o crescimento vertiginoso da cidade34, há uma modificação das referências espaciais e o "centro"
deixa de ser a rua da Bahia e o Bar do Ponto, deslocando-se para a Praça Sete de Setembro e a Avenida
Afonso Pena. Vera Chachan demonstra que, na década de 1930, a rua da Bahia já aparece como
referência à antiga cidade, afirmando uma nova época aos olhos de seus habitantes, expressa,
principalmente, nas crônicas sobre Belo Horizonte. Construções da cidade que possuíam pouco mais de
30 anos são vistos como "velhos", e as demolições se sucedem, tendo o progresso como perspectiva 35.
"Nos anos 40, o prefeito Juscelino Kubitschek estabelece um programa de remodelação urbana sob a
ótica da modernidade, caracterizado, dentre outras coisas, pelas demolições e pela expansão do processo
de verticalização também da moradia, com os apartamentos substituindo as residências unifamiliares" 36.
Esta ênfase ao caráter moderno faz parte do imaginário urbano dos anos 20 até a década de 40 do século
XX, quando a cidade planejada busca cristalizar, espacial e economicamente, a sua modernidade. Cita-se

32 Idem.
33 Dossiê do Conjunto Urbano Bairro Santo Antonio, GEPH. Pág. 20.
34 A população de Belo Horizonte era estimada, em 1920, em cerca de 55,5 mil habitantes. Em 1940, contava com 214 mil habitantes.
35 Chachan, Vera. A memória dos lugares em um tempo de demolição. A rua da Bahia e o Bar do Ponto na Belo Horizonte das décadas de 30

e 40. Belo Horizonte, 1994. Dissertação (Mestrado) FAFICH, UFMG , pág. 93.
36 Belo Horizonte & o Comércio: 100 anos de História. Fund. João Pinheiro. Centro de Estudos Históricos e Culturais. Belo Horizonte, 1997,

pág. 84. 19

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como exemplo a inauguração do viaduto de Santa Tereza, na passagem dos anos 20 para a década de
30, em que a tecnologia do concreto armado é introduzida encorajando a realizações de obras de maior
envergadura na área central de Belo Horizonte37.

Conjunto Urbano Rua da Bahia e Adjacências


Vista geral dos bairros de Lourdes e Santo Antônio, ao fundo, com destaque para o eixo da rua da Bahia e os equipamentos
próximos à ela. Data: 1940/1950. Fonte: APCBH – Coleção José Góes

Na arquitetura, "o crescimento do número de construções, em função da expansão das cidades, gerou
um volume tal de obras que não se podia prescindir da racionalização, facilitando e agilizando os
acabamentos externos, que vão ajudar na transformação da linguagem arquitetônica e, em contrapartida,
na perda de uma mão-de-obra altamente qualificada, cujo artesanal perde lugar para o industrializado" 38.
Observa-se a preferência por acabamentos rápidos e pouco trabalhados das fachadas em contraposição
aos ornamentos e brasões da república preferidos nas construções do início da cidade.

37 Noronha, Carlos Roberto. Área Central de Belo Horizonte: Arqueologia do Edifício Vertical, pág. 105.
38 Idem, pág. 114. 20

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Na Rua da Bahia, o processo de verticalização urbana fez-se sentir mais intensamente nas décadas de
1940, 1950 e 1960, notadamente, no trecho da Praça Rui Barbosa ao cruzamento com a Avenida. Afonso
Pena. Na década de 1940, com projetos do arquiteto Raphaelo Berti, o Hotel Itatiaia com sua volumetria
exuberante substitui o antigo e obsoleto Hotel Internacional. São também dessa época o Edifício
Mantiqueira, o Edifício São Lucas e o Edifício Sulacap.

Atravessando a Avenida Afonso Pena, a verticalização da década de 1940 inclui o edifício Andrade
Campos, em frente ao Colégio Minas Gerais, e na esquina com Rua Guajajaras o Edifício Capri. Nas duas
décadas subsequentes, a Rua da Bahia ganha a sua configuração atual, em termos gerais, na arquitetura.
São construídos os edifícios Othon Palace, Irmãos Guimarães, Mercantil, Bom Destino, Fátima, Ipê, Santa
Maria, San Remo, Rotary, Uniauto, Trianon, Argélia e finalmente o Condomínio Edifício Arcângelo Maleta.

Diferentemente da "era dos escritores" como Carlos Drummond, Pedro Nava e Humberto Werneck,
para citar alguns exemplos, que nas primeiras décadas de existência da cidade, transitavam pelas várias
redações de jornais e revistas, localizadas entre as Avenidas Afonso Pena e Augusto de Lima, e se

Conjunto Urbano Rua da Bahia e Adjacências


encontravam nos cafés, botequins ou nas próprias redações39 ou na própria rua que ainda não fora
"invadida" pelo pesado trânsito viário. Agora, estabelecimentos fechados e com grande concentração de
lojas, bares e restaurantes são o ponto de encontro e de socialização dos habitantes da capital mineira.

A transformação quanto ao tipo de ocupação e uso da Rua da Bahia se deu também devido ao trânsito
de veículos na cidade. Por ser a única via de ligação diametral, além da Rua Espírito Santo e dentro do
perímetro da Avenida do Contorno, tornou-se com o passar do tempo um grande corredor de tráfego,
enfatizando ainda mais seu caráter – original – de ligação entre setores fundamentais da cidade. Um
aspecto que se modificou foi que, até os anos de 1950 e 1960, esse “corredor” era visto além de eixo de
passagem; era percebido também como percurso, o que justifica a existência no local e até aquela época,
de vários pontos de atração para os habitantes da cidade. Como resultado de um processo de
adensamento e de especulação imobiliária, um outro fenômeno também passaria fazer parte da história
dessa região que, a partir dos anos de 1970 – particularmente no bairro de Lourdes - progressivamente,
inicia um processo de substituição das antigas edificações, num brutal processo de verticalização. Essa
nova configuração espacial dotou a Rua da Bahia de maior proeminência, pois além de um importante
corredor de acesso a vários bairros, também passou a ser um eixo divisor entre a Savassi e o bairro de
Lourdes. A edificação da Rua da Bahia, 2696, localiza-se na porção de Lourdes.

* * *

Como exposto acima, desde a sua implantação até os dias de hoje, a Rua da Bahia nunca se
apresentou como um conjunto homogêneo. Ao contrário, sua principal característica sempre foi a
diversidade tanto em termos de sua situação topográfica quanto da paisagem construída de sua
arquitetura, dos diversos usos que ao longo dela se instalaram bem como da apropriação de seus espaços
por diferentes grupos sociais. Contudo, podem ser identificados ao longo de seu percurso trechos bastante

39 Como a redação do jornal Folha de Minas na Bahia; O Diário na Goitacazes e o Estado de Minas na Goiás. 21

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distintos, caracterizados a partir de uma ambiência urbana que lhes confere identidade. Estes “pedaços”
sempre tiveram também importância histórica diferenciada e foram, ao longo da evolução da cidade,
assumindo feições particulares segundo o deslocamento das atividades econômicas no espaço urbano e a
dinâmica do mercado imobiliário condicionada por parâmetros urbanísticos ditados pela legislação vigente.

São os seguintes os pedaços notáveis da Rua da Bahia, identificados pelos trechos que os compõem e
suas principais características: Praça da Estação - Viaduto de Santa Tereza, Pedaço Afonso Pena /
Augusto de Lima, Pedaço Augusto de Lima / Timbiras, Pedaço Timbiras / Gonçalves Dias, Pedaço Praça
da Liberdade e Pedaço Santo Antônio.

1. Praça da Estação - Viaduto de Santa Tereza:

Constitui-se na realidade de dois trechos. O primeiro estende-se da Avenida do Contorno até a Avenida
Amazonas e corresponde ao entorno imediato da Escola de Engenharia da UFMG e da própria Praça da
Estação. Predominam ali edifícios de caráter histórico e institucional, à exceção do Hotel Itatiaia que tem,

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ao nível do passeio, atividades de comércio popular típicas dos quarteirões seguintes. A marca principal
deste trecho é a amplitude de espaço conferida pela presença da própria Praça da Estação e pela
volumetria predominantemente horizontal que caracteriza seu conjunto arquitetônico.

O trecho seguinte que vai até o viaduto de Santa Tereza é marcado pela predominância de uso misto
(comércio no térreo e residência nos demais pavimentos) em edifícios com mais de dez andares,
compondo um conjunto arquitetônico já bastante verticalizado. Resultantes do processo de verticalização
da área central de Belo Horizonte que teve início entre os anos trinta e quarenta destacam-se, entre
outros, edifícios que passaram a constituir marcos referenciais daquela região. Dentre estes podem ser
citados o edifício Alcazar com requintados trabalhos de tijolos nas fachadas, o São Lucas que fica em
frente, o conjunto Sulacap-Sulamérica com sua brilhante solução de implantação e belo agenciamento de
volumes, o edifício Aurora de Minas e o Mantiqueira, este último apresentando características modernistas
na composição dos vãos de suas fachadas. Ao nível do passeio concentram-se estabelecimentos
comerciais de caráter popular, atraídos também pelo grande número de pontos de ônibus e transeuntes
que circulam naqueles quarteirões.

Edifícios residenciais de grande porte construídos nas décadas de 50 e 60 vieram consolidar esta
imagem de verticalização maciça que se tem hoje, principalmente neste trecho da rua. São desta época os
edifícios Duque de Caxias e Lisboa, localizados próximos ao viaduto Santa Tereza, os edifícios Rio
Tapajós e Marena na esquina com a Avenida Amazonas. Desde então se concentra ali o maior número de
unidades residenciais de toda a Rua da Bahia.

2. Pedaço Afonso Pena / Augusto de Lima

Este pedaço corresponde à maior concentração de atividades de comércio e serviços de toda a rua,
com destaque para os estabelecimentos financeiros. Trata-se de um trecho também bastante
verticalizado, sendo que a maior parte dos edifícios, construídos nas décadas de 50 e 60, veio substituir
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sobrados comerciais ecléticos que compunham a tradicional imagem destes quarteirões. Dentre esses
destacam-se o Othon Palace, os edifícios Trianon, Irmãos Guimarães e Ipê, além dos condomínios
residenciais Fátima e Santa Maria. Marcam ainda a paisagem deste trecho a presença de alguns edifícios
remanescentes de outras épocas mais remotas da história da cidade como o Parc Royal, o Hotel
Metrópole e os sobrados comerciais localizados na esquina com a Avenida Augusto de Lima, todos
protegidos por tombamento municipal.

3. Pedaço Augusto de Lima / Timbiras

Este pedaço também conta com um grande número de edifícios de uso misto (comércio, serviços e
residências) alguns de grande porte como os Condomínio Maleta, San Remo e Bom Destino, outros
menores, constituindo-se na segunda maior concentração de unidades residenciais em toda a rua.
Prevalece, entretanto, neste trecho uma marca histórica que lhe é conferida pelo conjunto arquitetônico
formado pelo edifício do antigo Congresso Municipal, atual Centro Cultural de Belo Horizonte, pelo
sobrado comercial eclético localizado no nº 1161 e pelo Clube Belo Horizonte, na esquina com a Avenida

Conjunto Urbano Rua da Bahia e Adjacências


Álvares Cabral. Caracteriza também a ambiência deste pedaço uma certa atmosfera boêmia que
transborda dos bares localizados no edifício Maleta, na avenida Augusto de Lima e da Rua dos Guajajaras
à noite e principalmente nos finais de semana.

Até esta altura, a Rua da Bahia apresenta também como característica marcante precárias condições
ambientais causadas principalmente pelo intenso fluxo de ônibus e automóveis e reforçada pela
arborização deficiente e péssimo estado de conservação das calçadas.

4. Pedaço Timbiras / Gonçalves Dias

Este trecho apresenta-se como uma transição entre o centro da cidade e a região da Praça da
Liberdade. Sua principal característica é a convivência de edificações residenciais de várias épocas,
remanescentes do tradicional bairro de Lourdes, com um grande número de estabelecimentos de caráter
institucional. Dentre estes destacam-se também como importantes referenciais o Colégio Imaculada, a
Igreja de Lourdes e o edifício sede do Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais. Como edificações
mais antigas devem ser citadas também os sobrados ecléticos remanescentes da primeira fase de
ocupação da rua, onde funcionam atualmente o Núcleo de Estudos Federais e o Colégio Estadual Ordem
e Progesso, além da residência Borges da Costa, atual sede da Academia Mineira de Letras, que tem em
seu anexo um belo exemplo de intervenção contemporânea em perfeita harmonia com o patrimônio
cultural representado pelo edifício tombado.

Impulsionados pela forte valorização imobiliária, são raros os casos em que a concepção volumétrica e
o tratamento das fachadas dos edifícios implantados neste trecho, cuja construção é motivada apenas por
interesses mercadológicos, revelando pouca preocupação com o entorno ou com o espaço público ao
nível do passeio. Consequentemente, esta verticalização tem causado impacto extremamente negativo à
ambiência da rua seja pela ausência de diálogo com o patrimônio cultural existente, seja pela brusca

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alteração de volumetria e escala que representam, ou ainda pelo excessivo sombreamento e


emparedamento da paisagem.

Observa-se que a concentração de estabelecimentos de ensino e instituições neste trecho conferem-


lhe perfil próprio à animação e ao desenvolvimento de atividades de cunho coletivo. A localização dos
cinemas Belas Artes no antigo edifício do Diretório Central de Estudantes - DCE da UFMG - na Rua
Gonçalves Dias já atribuiu às proximidades caráter de ponto de encontro.

5. Pedaço Praça da Liberdade

Este trecho que vai da Rua Gonçalves Dias até a Rua Antônio de Albuquerque é marcado por uma
relação íntima com a Praça da Liberdade. A continuidade da ambiência da praça percebida neste pedaço
deve-se principalmente à predominância do uso institucional com a presença de sedes de órgãos públicos,
da Biblioteca Pública Estadual, do Instituto Metodista Izabela Hendrix e do Minas Tênis Clube. Estes
estabelecimentos, além de funcionarem como âncoras pelo caráter coletivo das atividades que abrigam,

Conjunto Urbano Rua da Bahia e Adjacências


são importantes referenciais também pelo porte e pela arquitetura diferenciada de suas edificações. A
volumetria predominantemente horizontal que caracteriza este trecho foi rompida pelo edifício de vinte e
quatro andares construído na esquina com a Avenida Bias Fortes. Ainda neste trecho observa-se a
presença de unidades unifamiliares e multifamiliares com até três pavimentos, fazendo conjuntos bastante
significativos do ponto de vista cultural de modos de morar e construir representativos das décadas de
1930, 1940 e 1950.

6. Pedaço Santo Antônio.

O trecho final da Rua da Bahia que se estende da rua Antônio de Albuquerque até a Avenida do
Contorno é bastante diversificado em termos de uso do solo. A volumetria ainda é predominantemente
baixa, sendo que a verticalização permitida pela Lei de Uso e Ocupação do Solo interfere de maneira
negativa na paisagem até mesmo quando observada a partir da Praça da Liberdade. A área é
caracterizada como Zona Residencial, zoneamento que privilegia o uso residencial em torres e restringe
as atividades de comércio e serviços às construções horizontais remanescentes. Dentre estas últimas
encontram-se exemplares muito representativos de tipologias residenciais unifamiliares de épocas
anteriores que, também por formarem conjuntos, devem ser objeto de proteção como patrimônio cultural
da municipalidade.

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4 – O entorno do bem cultural


O bem cultural da Rua dos Goitacazes, nº 76 compõe o Pedaço Afonso Pena / Augusto de Lima dentro
do Conjunto Urbano Rua da Bahia e Adjacências.

O edifício localizado à Rua dos Goitacazes, nº 76, pertence ao Conjunto Urbano Rua da Bahia e
Adjacências sobreposto ao Conjunto Urbano Avenida Afonso Pena e Adjacências.

O edifício em análise situa-se na quadra 3893, cercada pelas ruas dos Goitacazes, onde está sua
fachada principal e acesso, Rua Espírito Santo, Rua dos Tupis e Rua da Bahia.

Conjunto Urbano Rua da Bahia e Adjacências

Quadra da edificação da Rua dos Goitacazes, nº 76, em destaque.


Fonte: Google Earth, editado por DIPC/FMC.

A Rua dos Goitacazes possui um aclive a partir da Rua da Bahia em direção à Rua Espírito Santo. A
via é local e o fluxo de automóveis é em direção à Rua da Bahia. Possui pavimentação de asfalto sobre
paralelepípedo e as calçadas em ambos os lados são revestidas com pedra portuguesa, piso cimentado e
linha guia com piso podotátil. Há muitas árvores favorecendo uma ambiência agradável e ampliando o
sombreamento já causado pelos edifícios de grande altimetria.

Das edificações existentes na quadra, onze possuem altimetria superior a 6 pavimentos, sendo uma
delas no centro da quadra, e restam duas de até quatro pavimentos, incluindo a edificação em estudo,
além da Igreja Metodista. No outros quarteirões adjacentes a altimetria é mais elevada, com edifícios entre
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12 e 20 pavimentos, intercalados em alguns pontos por edifícios de altimetrias inferiores. A maioria das
edificações do local é comercial e de serviços, com alguns prédios residenciais e pontuais.

Conjunto Urbano Rua da Bahia e Adjacências


Trecho da Rua dos Goitacazes, em direção à Rua Espírito Trecho da Rua dos Goitacazes, em direção à Rua da Bahia.
Santo.

Calçada em frente ao imóvel com pedra portuguesa, piso Vista do edifício em estudo e dos prédios vizinhos. Pode-se
podotátil e piso cimentado. perceber um escalonamento de marquises devido à declividade da
via.

A verticalização do entorno imediato ao edifício trouxe carência de iluminação e ventilação natural.

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Conjunto Urbano Rua da Bahia e Adjacências


Mapa da quadra em estudo e do edifício em análise.
Fonte: DIPC/FMC.

Na quadra onde está inserido o edifício há três edificações tombadas, sendo estas: Rua dos
Goitacazes, nº 96, Rua da Bahia, nº 902 e a Igreja Metodista na Rua dos Tupis. Há ainda quatro
edificações em 2º grau de proteção – registro documental solicitado, sendo estas: Hotel Othon Palace,
edificação mais alta do quarteirão e com testada voltada para a Avenida Afonso Pena, e as edificações da
Rua da Bahia, nº 932, e Rua Espírito Santo, nºs 825 e 871. Há também muitas edificações tombadas nas
quadras do entorno, principalmente naquelas voltadas para a Av. Afonso Pena.

Segue abaixo o levantamento fotográfico realizado pela Diretoria de Patrimônio Cultural nas edificações
da quadra em análise e do entorno da edificação em questão.

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Vista da Rua dos Goitacazes, esquina com Rua da Bahia. Vista da Rua dos Goitacazes, no cruzamento com a Rua
Espírito Santo.

Conjunto Urbano Rua da Bahia e Adjacências

Edifício da Rua dos Goitacazes, nº 76, motivo deste dossiê. Rua dos Goitacazes, n°52 – processo de tombamento aberto.

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Conjunto Urbano Rua da Bahia e Adjacências


Rua dos Goitacazes, n°96 – tombado pelo CDPCM-BH. Rua da Bahia, nº 952 – processo de tombamento aberto.

Rua da Bahia, nº 932 – registro documental solicitado. O edifício da Rua da Bahia, nº 932, possui outra fachada e
acesso pela Rua dos Goitacazes, nº 42.

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Rua da Bahia, nº 902 – tombado pelo CDPCM-BH. Othon Palace – registro documental solicitado.

Rua dos Tupis, Igreja Metodista – tombada pelo CDPCM/BH. Rua Espírito Santo, nº 825 – registro documental solicitado.

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Rua Espírito Santo, nº 871 – registro documental solicitado.

O primeiro trecho da Rua dos Goitacazes está bem próximo à Rua Goiás, onde se localiza a sede
administrativa do município, assim como a sede dos Correios e a Receita Federal, sendo todos
patrimônios tombados e com testada para a Avenida Afonso Pena, em frente ao Parque Municipal Renné
Gianetti, também tombado e uma forte referência urbana. Ainda próximo à quadra em estudo está a
Paróquia São José, bem cultural em processo de tombamento e marco da história da capital.

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5 – Análise histórica

O imóvel da Rua dos Goitacazes, nº 76, foi edificado nos lote 005 e 006, do quarteirão 024, na 3ª seção
urbana da Capital. De acordo com o levantamento documental, o projeto da edificação foi realizado pelo
arquiteto Luiz Signorelli e teve como construtor Alfredo C. Santiago. Conforme atesta a ficha de obra nº
45708 do imóvel, após o início das obras o construtor pediu desistência e foi substituído por Sabino José
Ferreira em outubro de 1937. A construção teve início em 28 de julho de 1936 e término em 9 de setembro
de 1938.

Conjunto Urbano Rua da Bahia e Adjacências


Ficha de Obra do imóvel situado na Rua dos Goitacazes, 76.
Fonte: APCBH.

Responsável pelo projeto, Luiz Signorelli (1896 – 1964) foi um reconhecido arquiteto e pintor, que
projetou emblemáticas edificações em Belo Horizonte40. Diplomado pela Escola Nacional de Belas Artes no
Rio de Janeiro em 1925, recebeu Medalha de Ouro na conclusão de curso. Participou do Salão Nacional
de Belas Artes, conquistando Menção Honrosa (1923) e Medalha de Bronze (1926). Além de fundador da
Escola de Arquitetura da UFMG, foi seu primeiro diretor. Seus trabalhos como pintor incluem participações
em exposições em Belo Horizonte, como a realizada em abril de 1932 (Aquarela e Arquitetura Moderna),
com Rafaello Berti.41

40 Entre alguns de seus trabalhos em Belo Horizonte, podemos destacar: Abrigo de Bondes, em 1926; Clube Belo Horizonte, 1926/1930; sede
do Automóvel Clube, 1927/1929; Hotel Sul Americano, 1928; residência da família Falci, 1929; residência de Israel Pinheiro, 1930; casa
paroquial da Igreja Nossa Senhora da Boa Viagem, 1931; residência da família Borges da Costa, atual Academia Mineira de Letras.
41 Dicionário Biográfico de Construtores de Belo Horizonte – 1894/1940. Instituto Estadual de Patrimônio Histórico e Artístico: Belo Horizonte,

1997. 32

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Inicialmente foi projetado para possuir dois pavimentos ao longo do terreno e outros dois apenas na
área frontal do lote.

Conjunto Urbano Rua da Bahia e Adjacências

Planta do pavimento térreo do projeto original de Luiz Signorelli, de Planta do 1º pavimento do projeto original de Luiz Signorelli, de
1936. Fonte: APCBH. 1936. Fonte: APCBH.

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Conjunto Urbano Rua da Bahia e Adjacências


Planta do 3º pavimento do projeto original de Luiz Signorelli, de
1936. Fonte: APCBH.

Planta do 2º pavimento e parte do telhado do projeto original de Luiz


Signorelli, de 1936. Fonte: APCBH.

Planta de cobertura do projeto original de Luiz Signorelli, de 1936.


Fonte: APCBH.

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Conjunto Urbano Rua da Bahia e Adjacências


Corte AB do projeto original de Luiz Signorelli, de 1936. Corte CD do projeto original de Luiz Signorelli, de 1936.
Fonte: APCBH. Fonte: APCBH.

Corte longitudinal do projeto original de Luiz Signorelli, de 1936.


Fonte: APCBH.
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Logo ao final da construção do bem cultural em análise, foi apresentada uma ficha de obra pra
acréscimo no terceiro pavimento. Esta alteração do projeto original foi elaborada por Caetano de Franco 42
e, ao que indica no levantamento documental, a construção ficou a cargo do mesmo construtor, Sabino
José Ferreira.

Conjunto Urbano Rua da Bahia e Adjacências


Ficha de obra do projeto de modificação subsequente ao término do primeiro projeto aprovado.
Fonte: APCBH.

O projeto de Caetano de Franco amplia os dois últimos pavimentos, que se estendem até a fachada de
fundos do pavimento inferior. Foram realizadas também algumas modificações na fachada do projeto
original a partir de 1938 com o projeto de Caetano de Franco, evidenciando o jornal “O Diário” com letras
encaixadas em um elemento de baixo-relevo do coroamento. Também foram realizadas alterações no
pavimento térreo, dando a este uma configuração mais comercial com os três vãos acrescidos de portas
de enrolar.

42Entre os projetos de Caetano de Franco edificados em Belo Horizonte, podemos citar: antiga residência de Francisco de Campos (1936);
residência de Fábio Couri (1938) e antiga residência de Antônio Agostinho Paiva (1938). 36

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Conjunto Urbano Rua da Bahia e Adjacências


Planta do 2º e 3º pav. do projeto de Caetano Planta de cobertura do projeto de Caetano Corte AB do projeto de Caetano de Franco,
de Franco, de 1938. Fonte: APCBH. de Franco, 1938. Fonte: APCBH. 1938. Fonte: APCBH.

Corte longitudinal do projeto de modificação de Caetano de Franco, de 1938. Fonte: APCBH.

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Projeto original de Luiz Signorelli, de 1936. Projeto de Caetano de Franco, com modificação e acréscimo, de
Fonte: APCBH. 1938. Fonte: APCBH.

Construído para funcionar como sede do jornal “O Diário – Boa Imprensa S.A.”, de propriedade da
Arquidiocese de Belo Horizonte, o imóvel foi inaugurado em 9 de setembro de 1938, com a presença de
várias personalidades e jornalistas. Dom Antônio dos Santos Cabral, então Arcebispo de Belo Horizonte,
fez bênção da edificação. O jornal “O Diário” existiu até a década de 1970 e durante sua existência teve
grande difusão em Belo Horizonte. Porta voz de uma corrente hegemônica no pensamento católico
mineiro, “O Diário” teve um relevante papel na imprensa belo-horizontina como articulador e formulador de
ideias políticas. A primeira edição do jornal entrou em circulação em 6 de fevereiro de 1935, concretizando
a intenção de diversos militantes ligados ao catolicismo mineiro em estabelecer um veículo editorial para
divulgar seus ideais.43 “O Diário” possuiu um número significativo de anunciantes e, com uma estrutura
tipicamente empresarial, teve também uma sucursal no Rio de Janeiro.

43
OLIVEIRA, Ramiro Barbosa de. O conservadorismo católico na imprensa de Belo Horizonte nas décadas de 1920
e 1930 – Os jornais O Horizonte e O Diário (1923 – 1937). Dissertação de Mestrado em História na Universidade
Federal de São João Del Rey. 2010. 38

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Conjunto Urbano Rua da Bahia e Adjacências


Bem cultural da Rua dos Goitacazes, 76, quando abrigava o jornal O Diário. Data: 1947. Fonte: MhAB.

No período de inauguração de “O Diário”, o trecho da Rua dos Goitacazes com a Rua da Bahia onde
foi edificado o bem cultural, estava inserido em uma região de grande efervescência. Localizado próximo
ao Teatro Municipal – que seria demolido para dar lugar, em 1942, ao Cine Metrópole –, aos principais
cafés, à requintadas lojas e aos hotéis de maior prestígio na cidade, esse perímetro da Rua da Bahia que
se estendia no cruzamento com a Avenida Afonso Pena até a Avenida Augusto de Lima era o centro da
convivência, das atividades culturais e de negócios da Capital. Frequentado principalmente pela elite belo-
horizontina, esse espaço caracterizou-se até meados dos anos de 1970 como polo irradiador do processo
modernizante, apresentando-se como palco das transformações dos hábitos e valores da sociedade, tanto
pela própria forma de ocupação do lugar quanto pelos elementos construtivos ali implementados. Ao
mesmo tempo reflexo e resultado da proeminência dessa região, o desenho arquitetônico e a ocupação da
edificação da Rua dos Goitacazes, 76, nos oferece um testemunho dos ideais, projetos e esforços que
marcaram as transformações da sociedade e do próprio espaço urbano de Belo Horizonte.

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Rua da Bahia, esquina com Rua dos Goitacazes. À esquerda o Hotel Vista da Rua dos Goitacazes para a Rua da Bahia. À esquerda o
Metrópole e, mais acima, o antigo Conselho Deliberativo, atual Centro de Cine Metrópole e fundos da Prefeitura. Data: 1947. Fonte: MhAB.
Cultura Belo Horizonte. Data: 1940. Fonte: MhAB.

Conjunto Urbano Rua da Bahia e Adjacências


Após o fechamento de “O Diário”, o bem cultural em análise passou por uma reforma em 1977,
abrigando a Caixa Econômica Estadual, conhecida como Minas Caixa. Com o fechamento da Caixa
Estadual, o prédio passou a ser sede da Secretaria do Estado da Agricultura Pecuária e Abastecimento
por curto período de tempo, quando foi ocupada pela Subsecretaria de Assuntos Municipais – SUBSEAM,
ligada à Secretaria de Governo do Estado – SEGOV.44 Em 2013, o imóvel vai a leilão, quando é adquirido
pela M. Costa Empreendimentos Ltda. Após a compra, os proprietários decidem realizar uma ampla
reforma que recupera a fachada e a cobertura à época da ocupação do “O Diário” no imóvel. Ainda que
modificações internas tenham sido feitas no bem cultural, tais alterações não o descaracterizaram e
combinado com o tratamento implementado na parte externa, essa reforma reinseriu a edificação no
contexto característico do Conjunto Urbano da Rua da Bahia.

44NORONHA, Carlos Alberto. Área central de Belo Horizonte: arqueologia do edifício vertical e espaço urbano construído. Dissertação de
Mestrado em arquitetura da UFMG. Belo Horizonte, 1999. 40

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6 – O Art Déco em Belo Horizonte

O art déco, como um conjunto de preceitos e arranjos estéticos se tornou muito comum no Brasil dos
anos 1930, convivendo, na arquitetura desse período, com outras tendências estilísticas, como o
neocolonial e o ecletismo, incorporando, muitas vezes, elementos dessas outras tendências. Nesse
sentido, principalmente na arquitetura residencial popular e não monumental é comum essa mescla,
inclusive adaptando-se nas edificações ecléticas já existentes soluções déco.

O art déco é, por vezes, considerado um estilo precursor do modernismo. Para Segawa (1995, p.15), a
diferença entre o que é denominado racionalismo clássico e art déco seria apenas de caráter estético. Ou
seja, essas denominações, incluindo o protoracionalismo, protomoderno, racionalismo Perret, clássico
racionalizado, monumental moderno, atenderiam basicamente a convenções explicativas. Alguns teóricos
consideram o art déco como elo de ligação entre o ecletismo e o racional-funcionalista. Para outros, trata-
se de “tendências modernas, por vezes concorrentes do Movimento Moderno, conformando uma reação

Conjunto Urbano Rua da Bahia e Adjacências


e/ou alternativa mais conservadora que emergiu após os primeiros manifestos modernistas.” (BLANCO;
MALTA, 2003).

Pode-se dizer que o que genericamente denomina-se de art déco constitui uma manifestação de
"modernidade" que ocorre paralelamente à afirmação do modernismo na arquitetura. A partir de suas
especificidades, tais manifestações incorporam as novas tecnologias da época (concreto armado,
padronização, industrialização, verticalização) às técnicas tradicionais e artesanais e reúnem, ainda, a
tradição clássico-acadêmica aos debates teóricos ligados aos movimentos de vanguarda (Le Corbusier,
Bauhaus, neoplasticismo holandês e construtivismo soviético).

A tendência art déco originou-se em 1925 na Europa a partir da Exposição Internacional de Artes
Decorativas e Industriais Modernas, realizada em Paris. Sua vocação era a de tornar-se o estilo da era
industrial. Victor Dubugras, radicado em São Paulo no final do século XIX, é tido como precursor da
racionalidade na arquitetura brasileira, apesar de depois ter adotado o neocolonial e outras tendências
ecléticas em seus projetos. É de sua autoria a estação ferroviária de Mairinque, no interior de São Paulo,
de 1906, considerada a primeira obra racionalista do país. Para Nestor Goulart dos Reis, Victor Dubugras
foi:
[...] precursor do movimento moderno na América Latina, em 1906, com a estação de
Mairinque, quando Auguste Perret estava começando a fazer os primeiros projetos modernos em
Paris. Ele fez coisas em concreto armado aqui na região de São Paulo, entre 1906 e 1912.
(GOULART, 2004).

O art déco caracteriza-se pelo emprego de volumes quase sempre simétricos e pelo uso, em contextos
diferentes do original, do repertório de formas pertencentes aos estilos históricos e vernaculares,
modificadas em versão estilizada e geometrizada. Apresenta, ainda, ligação com os movimentos futuristas
e expressionistas.

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Edifício Chagas Dória construído por Alfredo Carneiro Santiago, entre Edifício Teodoro, projeto de Raffaello Berti de 1939, em estilo
1932 e 1934. Nota-se a típica caracterização dos edifícios art déco em cubista.
embasamento, corpo e coroamento. Destacam-se, ainda, os elementos
volumétricos no corpo da construção, tais como os robustos consoles
para as saliências verticais, as quais se elevam até o coroamento e dão
um caráter futurista ao edifício.

O racionalismo clássico, uma manifestação vinculada ao art déco, é marcado pela monumentalidade e
pela adoção dos princípios clássicos de simetria e proporção, sem a utilização dos elementos construtivos
e decorativos clássicos. Em uma nova dinâmica espacial, as plantas apresentam simetria axial com
acesso centralizado ou eventualmente valorizando as esquinas.

As fachadas são divididas em três partes: base, corpo e coroamento, este último quase sempre com
artifícios que configuram um escalonamento. A composição é feita com linhas e planos verticais e
horizontais fortemente definidos e contrastados por meio de articulações e escalonamentos. Adotam
poucos ornamentos decorativos em forma estilizada, quase sempre em alto e baixo-relevo. As janelas
frequentemente reforçam os motivos geometrizados por meio do uso de basculantes de ferro e vidro, ou
ainda com o modelo conhecido como janela ‘copacabana’.

O tratamento volumétrico caracteriza-se pela predominância de cheios sobre vazios e pela


geometrização e simplificação dos volumes, resultando geralmente em varandas semi-embutidas e
superfícies com formas ‘aerodinâmicas’, a exemplo da volumetria do edifício do Cine Brasil, no centro de
Belo Horizonte.
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O edifício Cine Brasil, projetado pelo escritório de Emílio Henrique Baungart,


em 1930, e modificado em 1932 pelo arquiteto João de Almeida Ferber,
apresenta a característica aerodinâmica do art déco.

Conjunto Urbano Rua da Bahia e Adjacências


Nos anos 1930, o art déco destaca-se como estilo adotado nas pequenas residências, mas nos anos
seguintes caracterizará os edifícios maiores de Belo Horizonte. A estética do déco e do racionalismo
clássico permitiu uma articulação entre arquitetura, interiores e design para a confecção de artefatos,
móveis e utensílios. Portanto, é significativo que as plantas apresentem maior complexidade, com
definição de acesso por hall, circulação ou galeria e compartimentos de uso múltiplo. Em razão disto, o
racionalismo clássico e o art déco viabilizaram os grandes edifícios comerciais e de escritórios, tornando-
se estilos adotados nas primeiras edificações com programas complexos, a exemplo de hospitais,
cinemas, colégios e edifícios verticalizados.

Nos anos 1930, o estilo é chamado pó-de-pedra, em virtude dos revestimentos adotados nas fachadas
com reboco pó-de-pedra, feito com o adicionamento de pó de mica na argamassa. ‘Caixa de fósforos’ ou
também estilo “cúbico ou cubista” eram outras das denominações utilizadas para referir-se à tendência art
déco. Tais denominações decorriam da volumetria formada pela justaposição e projeção de volumes
prismáticos, dispostos assimetricamente e com marquises planas, conformando o que Sylvio de
Vasconcellos definia cubos arrumados e “cubos entrosados” (VASCONCELOS, 1947, p. 78-91). As
superfícies das fachadas não apresentam variação cromática e frequentemente recebiam a aplicação de
motivos estilizados ou geométricos.

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Edifício na rua Pouso Alegre, 331, de linhas singelas Centro de Chauffeurs, rua Acre, 107, projeto de Ângelo Murgel, 1937. Possui

Conjunto Urbano Rua da Bahia e Adjacências


e volume principal aerodinâmico, no qual se volumes aerodinâmicos entremeados por elemento prismático em vidro. À
encaixam os ‘cubos’ das varandas. esquerda:. Notar as tímidas janelas tipo ‘escotilha’ que caracterizam as
edificações art déco de inspiração náutica.

Maior representante do racionalismo clássico na arquitetura de Belo Horizonte, o arquiteto e pintor


italiano Raffaello Berti, formado em 1921 pela Real Academia de Belas-Artes de Carrara, Itália, chegou à
cidade a convite do também arquiteto Luiz Signorelli. Aqui, estabelece-se definitivamente em 1929,
passando a trabalhar como sócio de Signorelli. São de sua autoria mais de 500 projetos, que incluem
várias edificações de grande porte, referências marcantes na paisagem de Belo Horizonte. O hotel Itatiaia,
projeto de Berti de 1951, na rua da Bahia, é um típico exemplar do racionalismo clássico.

Racionalismo clássico - Hotel Itatiaia Raffaello Berti, 1950.

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A edificação principal da Santa Casa de Misericórdia, de 1941, também de Berti, foi o primeiro hospital
de porte do país, cuja implantação, orientação, circulações e espaços internos foram objetos de cuidadoso
estudo. A fachada caracteriza-se pela composição com base corpo e coroamento. Os feixes em ressalto
no coroamento dão um caráter futurista ao prédio. As superfícies das fachadas são separadas por “feixes”
de elementos verticais em ressalto, os quais são comuns a muitos prédios do arquiteto e representariam o
“fascio” fascista, vinculado às ideologias em voga na época.

Conjunto Urbano Rua da Bahia e Adjacências


Vista geral Santa Casa de Misericórdia Raffaello Berti, de 1941.

Linhas de força marcando o coroamento da fachada principal. Santa Casa de Misericórdia


Raffaello Berti, de 1941.

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7 - Descrição arquitetônica

O edifício da Rua dos Goitacazes, nº 76 é bastante característico do estilo art déco desde seu projeto
original. A edificação configura-se tripartida em base, corpo e uma estreita torre com coroamento, em
planos diferenciados marcando faixas verticalizadas e jogo de volumes. A base é demarcada por uma
marquise escalonada devido à inclinação da via. O corpo é composto por mais três pavimentos e possui
um ressalto do bloco composto por suas esquadrias e peitoris. Elementos decorativos geometrizados em
alto e baixo-relevo concentram-se no coroamento da torre principal.

A Rua dos Goitacazes neste primeiro quarteirão possui mão de direção apenas para a Rua da Bahia, o
que não permite o acesso pela Av. Afonso Pena. O principal acesso é feito pela Av. Augusto de Lima e
Rua Espírito Santo. A calçada é composta por pedra portuguesa, piso cimentado e linha guia de piso tátil
para a acessibilidade de pessoas com deficiência visual.

Conjunto Urbano Rua da Bahia e Adjacências


O edifício está implantado no alinhamento da rua e ocupa toda a testada do lote. Possui um pavimento
térreo e três pavimentos superiores. Atualmente abriga uma farmácia no pavimento térreo e um curso
preparatório para vestibular e concursos nos demais pavimentos.

Na fachada frontal, o acesso é feito no mesmo nível da rua, mas com um pequeno degrau, abaixo do
volume da torre em destaque, através de um portão de ferro e vidro com gradil de formas geométricas.
Além do portão de acesso principal, há três vãos com fechamento em portas metálicas de enrolar, todas
para acesso à farmácia. Acima da marquise, alinhadas com cada um desses vãos, há aberturas lineares
horizontais com fechamento em ferro e vidro fixo. Acima do pavimento térreo, o primeiro volume recuado à
esquerda abriga a caixa do elevador e a caixa d’água, sendo finalizado com um friso horizontal em alto
relevo. Possui um nicho vertical com três seteiras e cor de fundo diferenciada, além de um óculo no topo
com gradil ornamental. O segundo volume é o de maior destaque por ser o plano mais avançado em
relação aos demais e possuir um coroamento. Possui dois nichos verticais de janelas e também possui cor
de fundo diferenciada. O coroamento desta torre apresenta ornamentação elaborada, com frisos
horizontais nos cantos e um recorte vertical escalonado em baixo relevo, características típicas do estilo
art déco. Tais recuos são da mesma cor diferenciada dos nichos de janelas. O terceiro ocupa mais da
metade da fachada do edifício e é marcado por um volume mesclado de cheios e vazios, ressaltados em
relação ao pano de fundo da fachada e composto pelos peitoris em alvenaria e pelas janelas em fita, com
friso em alto relevo nas extremidades inferior e superior.

O sistema construtivo é de concreto e alvenaria. Toda a edificação está em ótimo estado de


conservação por ter sido restaurada recentemente. A base possui revestimento em granito preto e pintura,
e os demais pavimentos são revestidos integralmente por pintura e esquadrias de ferro e vidro.

Possui planta de partido simples e retangular, com um pequeno subsolo nos fundos do pavimento
térreo conformado pelo leve declive do terreno. Há um estreito afastamento em toda a extensão da
fachada de fundos e afastamentos em parte das fachadas laterais. 46

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Na entrada do edifício há um pequeno hall com piso em granito preto e detalhe em mármore, com um
balcão para controle de acesso. A circulação vertical é feita por uma escada em estrutura metálica e pelo
elevador.

No primeiro pavimento há a recepção, a administração do curso, salas de apoio aos alunos, salas de
aula, banheiros e uma copa. Há uma escada que anteriormente acessava o segundo pavimento, mas hoje
está inutilizada e funciona como um pequeno depósito. Há também um acesso, junto ao estúdio, a uma
área de serviço externa no afastamento lateral e de fundos, onde localizam-se os ventiladores dos
aparelhos de ar condicionado. No segundo pavimento há algumas salas administrativas, salas de aula e
uma cantina. O terceiro pavimento é composto por salas de aula e banheiros.

Toda a parte interna do edifício tem o piso revestido com cerâmica 40x40cm na cor branca e as
paredes são de alvenaria e divisórias em drywall, ambas com pintura na cor branca. O forro possui placas
de poliestireno expandido e possíveis fechamentos em gesso.

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A cobertura possui cerca de nove águas de caimento, composta por estrutura de madeira com telhas
cerâmicas tipo francesa.

Segue abaixo o levantamento fotográfico interno e externo do imóvel realizado pela Diretoria de
Patrimônio Cultural.

Fachada frontal do edifício em análise. A edificação está inserida entre duas outras com
altimetria superior.

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Calçada em pedra portuguesa com desenhos O primeiro pavimento está ocupado atualmente por uma farmácia.
geométricos, piso tátil e piso cimentado.

Torre principal com coroamento ornamentado. Coroamento da torre principal destacada da fachada frontal.

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Portão principal de acesso ao edifício. Pavimento térreo revestido com granito preto e acesso principal do
edifício.

Detalhe da paginação do piso do hall. Balcão da recepção.

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Hall de acesso e entrada do elevador. Escada em estrutura metálica com piso
emborrachado.

Primeiro pavimento

Recepção do curso. Sala administrativa. Ao fundo há parte da janela em fita


que compõe a fachada frontal.

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Sala administrativa. Estas janelas compõem a torre Sala de aula com pilares e vigas aparentes.
principal na fachada frontal.

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Vista de parte da copa. Entrada dos banheiros já existentes, tendo sido


apenas reformados.

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Vista do corredor para as portas que fecham a escada Escada desativada que acessava o segundo
desativada. pavimento. Atualmente é um pequeno depósito.

Vista do estúdio. Vista parcial da fachada lateral direita do imóvel a


partir da área de serviço acessada pelo estúdio

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Área de serviço no afastamento lateral. Ventiladores dos aparelhos de ar condicionado no
afastamento de fundos da edificação.

Segundo pavimento

Escada de acesso ao segundo pavimento, também Sala administrativa.


metálica e com piso emborrachado.

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Sala de aula. Corredor de acesso à cantina.

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À esquerda, há um nicho onde terminava a escada Vista da cantina.
desativada. Ao fundo há a cantina.

Terceiro pavimento

Escada de acesso ao quarto pavimento. Vista interna do elevador.


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Vista parcial de uma das salas de aula com forro Vista de um dos banheiros. Ao fundo são as janelas
mesclado. que compõem a torre da fachada frontal.

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Subsolo

Escada de acesso ao subsolo a partir da Vista do subsolo.


farmácia do pav. térreo.

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Cobertura

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Cobertura do edifício com telhas coloniais tipo Cobertura do edifício cercado por edificações mais
francesas. altas. Ao fundo pode ser vista a igreja metodista.

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8 - A justificativa da proteção por tombamento

A edificação da Rua dos Goitacazes, 76, situa-se no Pedaço “Afonso Pena / Augusto de Lima”,
identificado no âmbito do estudo que subsidiou o tombamento do Conjunto Urbano Rua da Bahia e
Adjacências. Os imóveis protegidos neste pedaço são, de modo geral, edificações que concentram
atividades de comércio, serviços e estabelecimentos financeiros. Trata-se de um trecho verticalizado, com
muitas edificações posteriores às décadas de 1930 e 1940, quando substituíram ou adaptaram imóveis de
características ecléticas que compunham a ocupação original deste trecho. Esta edificação, assim como
todas as demais neste trecho da rua, estão implantadas no alinhamento do lote, formando uma
homogeneidade volumétrica pela ausência de afastamento entre as edificações. O edifício está entre dois
outros que formam em sequência uma harmonia de estilos por serem todos da mesma época e
apresentarem características do estilo art déco.
Como diretriz de proteção do Conjunto Urbano Rua da Bahia e Adjacências, o CDPCM/BH já deliberou

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o tombamento de alguns imóveis e indicou para tombamento outros de forte significação neste núcleo
arquitetônico do Pedaço “Afonso Pena / Augusto de Lima”. Portanto, a sua preservação por tombamento,
além de propiciar o registro histórico e arquitetônico de ocupação desta parte da cidade, contribui para
manter a ambiência ainda preservada dessa região, especialmente no trecho onde se localiza.
A edificação em análise situa-se em uma quadra de especial valor no Conjunto onde, a confluência da
Rua dos Goitacazes com a Rua da Bahia, assume uma forte representação no desenvolvimento da
ocupação urbana em Belo Horizonte, com destaque para as relações de sociabilidade historicamente ali
estabelecidas. A proximidade do bem cultural em análise com uma tradicional rede de comércio e
serviços, além de estabelecimentos culturais como o antigo Cine Metrópole e o Automóvel Clube, insere-o
em um trecho que retrata um modelo de ocupação e desenvolvimento de modernização da cidade,
possuindo, portanto, características que forte relevância para a preservação do patrimônio cultural.
Por fim, o bem cultural em questão é forma cultural de expressão arquitetônica e artística, portador de
valores e referência à identidade local e dos seus grupos sociais, sendo também considerado um lugar de
memória, evocador de um tempo passado e ao mesmo tempo elemento participante da dinâmica social e
cultural da atualidade. Desta forma, reafirmamos seu valor para ser reconhecido como patrimônio, não
somente por determinada parcela dos moradores/usuários do pedaço em que se encontra, mas também
pelos demais moradores da cidade.

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9 - Diretrizes de Intervenção

1. Fica proibida a construção de elementos que impeçam ou reduzam a visibilidade do bem


tombado, conforme previsto no art. 17 da Lei Municipal n.º 3.802 de 06 de julho de 1984;

2. A fachada deverá manter a composição original da forma como está, sem alterações nos volumes
e ornamentos que a compõem;

3. A cobertura deverá ser mantida em telha cerâmica tipo francesa, conforme composição original;

4. Internamente, no caso de nova modificação de grande interferência, deverá ser priorizado o


agenciamento interno original e a recomposição de revestimentos originais;

5. O tombamento incide integralmente no volume da edificação, seja externa ou internamente;

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6. Eventuais engenhos de publicidade a serem instalados no imóvel deverão estar em conformidade
com as diretrizes definidas pelo CDPCM/BH, devendo ser aprovados pelo órgão municipal de
gestão do patrimônio cultural e de licenciamento de atividades econômicas da PBH;

7. Outros aspectos referentes à restauração do imóvel serão definidos a partir de vistoria prévia, com
supervisão da equipe técnica do órgão municipal de gestão do patrimônio cultural.

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10 – Referências

BARRETO, Abílio. Belo Horizonte: memória histórica e descritiva - história antiga e história média.
Belo Horizonte: Fundação João Pinheiro, Centro de Estudos Históricos e Culturais, 1995.

BRANDÃO, Carlos Antônio Leite: Da etimologia ao sentido do patrimônio, Trabalho apresentado no


Encontro realizado em Mariana/MG, em abril de 1999, parte de pesquisa desenvolvida junto ao CNPq,
intitulada "Hermenêutica e Arquitetura".

BRUAND, Yves: Arquitetura Contemporânea no Brasil, São Paulo, Perspectiva, 1981.

DIEGOLI, Leila Regina. Política Municipal da Preservação do Patrimônio Histórico. In: Anais do I
Congresso Latino Americano sobre a Cultura Arquitetônica e Urbanística – perspectivas para sua
preservação – Porto Alegre, 10 a 14 de junho de 1991.

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GIOVANNONNI, Gustavo. L' urbanisme face aux villes anciennes. Paris: Éditions du Seuil, 1998

GONÇALVES, José Reginaldo. Ressonância, Materialidade e Subjetividade: as culturas como


patrimônio. In.: Horizontes Antropológicos, Porto Alegre, ano 11, n. 23, p. 15-36, jan/jun 2005.

HALBWACHS, Maurice. A memória coletiva. São Paulo: Vértice, 1994.

MAGNANI, José Guilherme Cantor: Festa no Pedaço: Cultura Popular e Lazer na Cidade. São Paulo,
Hucietec, 1998.

MAGNANI, José Guilherme Cantor, De perto e de dentro: notas para uma etnografia urbana, Revista
Brasileira de Ciências Sociais, Vol. 17, nº 49, São Paulo, junho de 2002.

MAGNANI, José Guilherme Cantor. Da periferia ao centro: pedaços e trajetos. Revista de Antropologia.
São Paulo: USP,1992.

SANTIANNA, Márcia. Critérios de intervenção em sítios urbanos históricos: uma análise crítica.
http://www.archi.fr/SIRCHAL/ em 27 de março de 2004.

SEGRE, Roberto: América Latina, fim de milênio: raízes e perspectivas de sua arquitetura. São
Paulo: Nobel, 1991.

WARCHAVCHIK, Gregori. Terra Roxa e Outras Terras. São Paulo, 1926.

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