Formação de Professores No Município de São Paulo
Formação de Professores No Município de São Paulo
Formação de Professores No Município de São Paulo
(2013-2016)
SÃO PAULO
2018
Marcos Ahlers Nascimento
São Paulo
2018
Ficha Catalográfica
181 f.:il
FORMAÇÃO DE PROFESSORES
NO MUNICÍPIO DE SÃO PAULO
(2013-2016)
Aprovada em
__________________________________________________________
Profa. Dra. Maria Aparecida Perez
FLACSO Brasil/FPA
__________________________________________________________
Profa. Dra. Dalva de Souza Franco
Centro Universitário São Camilo
________________________________________________________
Prof. Dr. Ivan Russeff
Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo
__________________________________________________________
Prof. Dra. Salete Sirlei Valesan Camba
FLACSO Brasil
À Claudete Vieira,
educadora comprometida
com um país mais justo.
Exemplo vívido da teoria
expressa numa prática
cotidiana de educação
emancipatória.
AGRADECIMENTOS
The research seeks to investigate public policy education for teacher training
in the municipality of São Paulo between 2013 and 2016, during the
administration of Mayor Fernando Haddad, elected by the Partido dos
Trabalhadores (PT). We present orientation institutional documents produced
by the Municipal Department of Education, publications that indicate ways for
teams of Regional Directorates of Education, pedagogical coordinators,
teachers and subsidize the debate on educational politics in the area. We
elaborate a brief history with the curricular emphases adopted in the municipal
governments from 1988 to 2016. We made interviews with six educational
managers and a survey of 352 teachers on the influence of training in their
practice. Throughout the chapters we include the memories of the public
managers gathered in the interviews. After the analysis of the interviews,
forms answered by the teachers and institutional orientations, we conclude
that: the permanent formation impacts the teaching practice; the documents
have dialogical character; there was a process of collective construction of
documents, without the pretension of imposing methodologies or a didactic,
the creation of indicators is necessary, there is a dispute for the curriculum in
the municipality, having as central axis the social quality of education.
INTRODUÇÃO
1 Atuei como Assistente Técnico Educacional I na Divisão Pedagógica (DIPED) de 03/2013 a 03/2015
e, depois, no Gabinete da Diretora Regional até 12/2016.
2 Grifo nosso. Objetivos do Mestrado Profissional da Fundação Perseu Abramo e Faculdade Latino-
discurso-da-presidenta-da-republica-dilma-rousseff-durante-cerimonia-de-posse-do-novo-ministro-da-
educacao-renato-janine-ribeiro-brasilia-df acesso em 17/01/2018.
18
Estou convencida de que será como uma Pátria Educadora que o Brasil
dará o salto imprescindível para se tornar finalmente um país desenvolvido,
uma nação desenvolvida e, ao mesmo tempo, justa com seu povo. Nosso
desafio é agir para que a onda de universalização do acesso ao ensino, que
terá continuidade, se agregue, se junte à onda da educação de qualidade
para todos. Nós estamos propondo um esforço nacional de qualificação do
ensino básico, para mudar a maneira de ensinar e aprender no Brasil.
(ROUSSEFF, 2016)
6 Disponível em https://www.cartacapital.com.br/educacao/os-problemas-da-educacao-no-brasil-
657.html acesso em 17/01/2018.
7 Disnonível em http://educador.brasilescola.uol.com.br/trabalho-docente/a-qualidade-educacao-
brasileira.htm acesso em 17/01/2018.
8 Disponível em https://educacao.uol.com.br/noticias/2016/05/19/professor-pode-saber-conteudo-
mas-nao-aprende-a-ensinar-diz-educadora.htm?cmpid=copiaecola acesso em 17/01/2018.
20
9 Utilizaremos a nomenclatura instituída pelo Decreto 56.793 do DOC de 05/02/2016 que alterou a
denominação de diversos departamentos. Por exemplo, a Coordenadoria Pedagógica (COPED) era
denominada DOT (Diretoria de Orientação Técnica).
10 Núcleo Técnico de Avaliação – NTA; Núcleo Técnico de Currículo – NTC; Núcleo Técnico do
Como recorte para esse histórico adotamos o ano de 1989, início da primeira
gestão petista na cidade de São Paulo. A gestão da prefeita Luiza Erundina é muito
citada como marco na Rede Municipal de Ensino (RME) devido à politica
educacional implementada em sua gestão. Esse retorno temporal equivale a uma
carreira docente, pois quem ingressou de 1989 a 1992 está se aposentando, ou
próximo de, se considerarmos carreiras de 25 a 30 anos. Além disso, esse recorte
temporal é significativo, pois foi o adotado pela gestão Haddad em documentos,
como Diálogos Interdisciplinares a Caminho da Autoria (2016).
Luiza Erundina foi a primeira mulher eleita para governar o município de São
Paulo e teve como secretários de Educação Paulo Freire e Mario Sérgio Cortella.
Segundo AMERICANO (2011):
Pereira, 2016)
Nos governos de José Serra e Gilberto Kassab foi instituído o Programa Ler e
Escrever – prioridade na Escola Municipal. Foram elaborados materiais formativos
para os professores e didáticos para os estudantes, com base em consulta a um
grupo referência com representantes de docentes, por componente curricular e com
participação de assessoria externa (Diálogos Interdisciplinares a Caminho da
Autoria, 2016). Na opinião de ANTONIO (2016) o período é caracterizado pela
ênfase na formação dos coordenadores pedagógicos, nos professores dos anos
iniciais e pelo registro do desempenho dos estudantes.
Não é possível ampliar vagas sem construir prédios ou efetuar convênios. Mesmo a
estratégia de ampliar o número de estudantes por sala ou ocupar salas destinadas a
outras atividades terá impactos financeiros, seja na contratação de profissionais ou
em custos operacionais.
Alguns desses objetivos – como a ressignificação da avaliação, estratégias de
alfabetização, gestão democrática, concepções sobre integração, qualidade social
da educação, valorização dos Projetos Político Pedagógicos – não podem ser
alcançados apenas com investimentos diretos de capital, nem pela edição de
decretos que determinem mudanças nas práticas pedagógicas. A formação é
essencialmente dialógica e necessita de convencimento para frutificar nas unidades
educacionais. O aumento salarial dos trabalhadores e a construção de escolas
podem ser requisitos necessários para a melhoria da qualidade na educação, mas
não necessariamente terão relação direta com a melhoria da gestão democrática. Se
o gestor que receber o aumento ou ocupar uma nova escola não for comprometido
com os princípios da gestão democrática apenas os investimentos não serão
suficientes para alterar sua prática. Assim como a adesão formal do município ao
PNAIC não alteraria as estratégias de alfabetização utilizadas cotidianamente pelos
professores sem que esses participassem de formações orientadas para
compreensão do Pacto.
Portanto, para alcançar as finalidades expressas no Programa Mais Educação
São Paulo (artigo 3º) é necessária uma política pública para formação de
professores que propicie o diálogo, pois passam essencialmente pelas concepções
de cada educador e por suas formas de vivenciar a educação. Entendemos que as
mudanças nas práticas pedagógicas passam pelo convencimento dos sujeitos e
pelas reflexões sobre os conceitos defendidos durante a formação. Conforme Paulo
Freire:
15 Destaque para o próprio Fernando José de Almeida com quatro artigos publicados. O que
evidencia sua forte intervenção na elaboração dos documentos orientadores.
16 Advertimos sobre a pretensa permanência num site governamental. Numa tentativa de acesso em
05/02/17 a página indicada não estava disponível. Entretanto, foi possível acessar as edições da
revista em http://portal.sme.prefeitura.sp.gov.br/Revista-Magisterio-1
37
diversos países (China, EUA, Suécia, Angola), contou com artigos de Fernando José
de Almeida e de Luiz Carlos de Menezes, além dos relatos de educadores e alunos.
A edição se encerra com 17 páginas dedicadas à reedição do documento
Considerações sobre o currículo e os direitos de aprendizagem e desenvolvimento
dos alunos na rede municipal de São Paulo: contexto e perspectivas, de 17 de abril
de 2013 e a proposta de criar um canal de diálogo com a equipe pedagógica da
SME na internet, através do site http://forum.sme.prefeitura.sp.gov.br. Ao longo do
texto são apresentadas 23 questões divididas em 9 blocos e a afirmação de que no
número seguinte sempre haverá uma sessão na qual tais questões serão debatidas
ou respondidas (MAGISTÉRIO, nº 1, 2014).
Apesar dessa intencionalidade as outras edições não trouxeram sessões
dedicadas a esse diálogo. O que é compreensível, pois no início de 2017 ainda é
possível acessar o fórum17 e verificar a participação dos educadores. Com 11
tópicos, um para cada bloco de perguntas, um sobre a Aula e outro sobre Aulas-
cenas, apenas 10 pessoas participaram contribuindo com 14 respostas. Sendo que
não houve uma resposta sequer a nenhum dos 9 tópicos referentes às questões
apresentadas na revista. Ainda em 24 de março de 2014, data da última atualização,
houve uma tentativa, sem sucesso, de redirecionar as perguntas para estimular o
debate: iremos sugerir uma questão de cada Bloco das 'Questões Convite à
reflexão'. Isto não impede que outros tópicos sejam abertos e novas questões
abordadas. Uma participação inexpressiva se lembrarmos que a versão impressa foi
distribuída para dezenas de milhares de docentes em atividade nas unidades
educacionais.
Magistério 2 apresenta artigos de Fernando José de Almeida e Katia
Gonçalves Mori, uma entrevista com Terezinha Rios a Alfredo Nastari e depoimentos
de educadores a Daniel Amadei. Em “A expansão da aula essencial”, Almeida define
a aula no ambiente escolar como:
[...]um ritual dinâmico de ensino-aprendizagem [coletivo e individual] em que
o professor/mestre planeja, organiza, autora e conduz a interação entre
pessoas, mobilizadas de forma intencional e em direção à construção de um
saber, alicerçado num currículo – social e historicamente construído – com
bases disciplinares”. (MAGISTÈRIO, nº 2, 2014, p. 16)
aluno como sujeito do conhecimento. Importante notar que Paulo Feire, citado
quatro vezes no artigo, será presença constante na bibliografia dos artigos da revista
e de outras publicações da SME.
O artigo de Mori, como estratégia de formação de professores, tem a
intencionalidade de instrumentalizar os leitores para a elaboração do Trabalho
Colaborativo de Autoria (TCA), instituído para os alunos do ciclo Autoral (7º ao 9º
ano do Ensino Fundamental) pelo Programa Mais Educação São Paulo. O ano de
2014 estava se encerrando e pela primeira vez os estudantes deveriam apresentar
seus TCAs com propostas de intervenção social. O artigo foi sugerido como leitura
nas formações de coordenadores pedagógicos ministradas pelas DREs.
Com o tema “O Aluno”, Magistério 3 se inicia com selfies e depoimentos de
estudantes, tem uma reportagem de Daniel Amadei sobre o uso de novas
tecnologias, a transcrição de uma mesa redonda com José Cerchi Fusari e Elba de
Sá Barreto, além de um documento do Siteal (Sistema de Informacion de Tendencias
Educativas de America Latina) que mostra o perfil do aluno latino-americano. Possui
artigos de: Maria da Graça Moreira, A voz do aluno, em alto e bom som; Natália
andreoli Monteiro, O aluno e a Internet: retratos e tendências; Suely Amaral Melo,
Os bebês como sujeitos no cuidado e na educação na escola infantil; Fernando José
de Almeida, Próxima questão: avaliação.
Em setembro de 2014, sem edição impressa, foi disponibilizada pela internet
uma edição especial da revista Magistério, Direitos à alfabetização na idade certa:
Reflexões, práticas e trocas de experiências com os países ibero-americanos
aprofundam a implementação do Pnaic na cidade de São Paulo. Voltada
exclusivamente para debater o Pacto Nacional de Alfabetização na Idade Certa
(PNAIC) contém artigos de Lucia Couto, Fátima Aparecida Antônio18, Conceição
Letícia Pizzo Santos, Nilza Isaac de Macedo, Artur Gomes de Morais e uma
entrevista com o Secretário de Educação, Cesar Callegari.
A primeira publicação da revista em 2015 ocorreu sob a gestão do novo
Secretário de Educação, Gabriel Chalita, e abordou o tema da Avaliação. Magistério
4, apresenta um resumo da palestra Currículo e Avaliação: diálogo necessário, de
Francisco José Soares ao Grupo de Implantação Permanente do Programa Mais
Educação São Paulo. Traz artigos de Alípio Casali, Fernando José Almeida, Érica
18 Posterior Secretária Adjunta da Educação, Fátima Aparecida Antonio era diretora Diretora da
Divisão – DOT Ensino Fundamental e Médio da SME em setembro de 2014.
39
alguns documentos.
É nesse sentido que a formação docente prioriza a composição de um
currículo integrador para a Educação Básica, que leve em conta as culturas
existentes na cidade e no meio escolar, além de um olhar para os
documentos curriculares produzidos na Rede, tanto historicamente, quanto
os que estão em produção. É fundamental concentrar as reflexões na
constituição do currículo, pois todas as ações desencadeadas desdobram-
se no cotidiano da escola e ganham corpo na prática educativa em todas as
modalidades de ensino. O propósito é fomentar e embasar uma construção
curricular qualificada sobre as temáticas importantes e que marcam a
Educação Básica.
[...]
Sem o objetivo de esgotar todas as possibilidades do fazer educativo, nem
de prescrever práticas docentes, este texto se constitui por meio de
indagações, reflexões e memória, a partir de escolhas que reafirmam o
direito à educação pública com qualidade social para todas as crianças e
jovens. É pela consciência da pluralidade de concepções que permeiam o
fazer educativo que a opção deste documento é pelo encontro, pelo debate
e pelo coletivo. (Diálogos Interdisciplinares a Caminho da Autoria,2016, p. 7,
9)
25 Disponível em http://portal.sme.prefeitura.sp.gov.br/Main/Noticia/Visualizar/PortalSMESP/SME-
lanca-versao-preliminar-dos-Indicadores-da-Qualidade-na-Educacao-Infantil-Paulistana acesso em
24/01/2018.
50
Essa ênfase nos professores como agentes que podem propor novas práticas
é abordada ao longo do documento, assim como a necessidade de estudos e
pesquisas nos momentos coletivos para essa prática se efetivar. A Orientação
Normativa 01/2013 é citada como referência para que essas ações, que englobam o
uso de tecnologias, seja integrada ao Projeto Político Pedagógico.
Segundo os documentos citados (relacionados no quadro 4) houve um
intenso processo de debate com as unidades educacionais desde o segundo
semestre de 2013. Culminando com as diversas publicações, em 2015, que
nortearam o trabalho na etapa final do governo Haddad. Considerando os desafios
para implementação de políticas públicas destacamos o tempo necessário para um
governo fomentar esse debate. Ao se iniciar o mandato há muita expectativa com os
primeiros cem dias e com o primeiro ano, entretanto, as políticas de formação
demoraram um maior tempo para serem sistematizadas e debatidas com a Rede
Municipal de Ensino.
52
um direito de aprendizagem.
[...]
No final de 2012 o apelo nacional foi tão grande que não teve como São
Paulo não aderir. Quando chegamos em 2013 tivemos que colocar esse
avião para funcionar em todas as regiões. O material do PNAIC do ponto de
vista da concepção de alfabetização foi um pouco difícil de trabalhar em São
Paulo que vinha com a concepção do Ler e Escrever. Houve momentos
muito tensos, como a consciência fonológica e como se trabalharia com os
alunos criou muitos debates na cidade. Mas isso depois foi superado.
(Fátima Aparecida Antonio, 2016)
28 Disponível em http://portal.sme.prefeitura.sp.gov.br/Main/Page/PortalSMESP/Nossos-Objetivos,
acesso em 19/01/2018.
61
Quadro 6: cursos de formação oferecidos pela DRE São Mateus entre 08/2013 e 08/2016.
Curso Área Promotora DOC Vagas Aprovados
Iniciais
Século XX: uma perspectiva interdisciplinar DIPED DRE SM 22/08/13 90 43
A leitura e o letramento aliado ao ensino de DIPED DRE SM 30/08/13 30 15
matemática
Um olhar para o aluno em processo de DIPED DRE SM 15/08/13 90 64
alfabetização
Seminário. EJA como direito social: desafios para DIPED DRE SM 07/11/13 400 71
inclusão e promoção das aprendizagens
Cineclube DRE SM: Gênero e Diversidade DIPED DRE 25/10/13 120 118
SM/PE
Deficiência intelectual: a interlocução como CEFAI/DIPED 03/09/13 110 76
facilitadora na construção de uma proposta de DRE SM
adequação curricular
pedagógica e avaliação
A formação lúdica do educador: o lugar do DIPED DRE SM 16/09/15 120 125
brincar no currículo de educação infantil
Currículo integrador das infâncias paulistanas DIPED DRE SM 09/12/15 80 105
Aprendizagem da leitura e escrita: além do NAAPA/DRE SM 26/09/15 88 79
diagnóstico de dislexia
Problemas na/da escolarização – uma leitura a NAAPA/DRE SM 22/09/15 44 37
partir da saúde mental infanto-juvenil
Formação continuada EJA – princípios e práticas DIPED/Supervis 23/07/15 50 50
pedagógicas ão DRE SM
Avaliação como direito à aprendizagem DIPED DRE 08/12/15 50 38
SM/SME
Pacto Nacional pela alfabetização na Idade DIPED DRE SM 23/12/15 80 53
Certa: PNAIC para coordenadores pedagógicos
Recuperação paralela: refletindo possibilidades DIPED DRE SM 23/12/15 80 43
de aprendizagem
Construindo o currículo crítico emancipatório DIPED DRE SM 23/01/15 106 69
pelo diálogo
Análise da conjuntura como instrumento de DIPED DRE SM 22/12/15 100 73
compreensão e reflexão sobre a realidade:
possibilidades de intervenção socias
Relações raciais, educação e representação da DIPED DRE 06/11/15 60 35
população negra: tencionando e descolonizando SM/SME
o currículo
Violências da ditadura militar brasileira contra as DIPED DRE 09/12/15 300 268
populações negra, indígena e LGBT SM/Núcleo de
DH
Gestão de políticas públicas em Educação CEFAI DRE 14/02/15 80 49
Especial SM/SME
Libras – módulo básico CEFAI DRE 09/03/15 40 22
SM/SME
Diálogos sobre a construção do processo CEFAI DRE 11/03/15 500 215
educacional inclusivo SM/SME
Formação continuada da EJA: princípios e DIPED/Supervis 01/12/15 30 30
práticas pedagógicas ão DRE SM
Cuidar e educar: noções básicas de cuidados CEFAI DRE 08/03/15 40 20
para os alunos com deficiência e transtornos SM/SME
globais do desenvolvimento
O cinema como instrumento de formação cultural DIPED DRE 25/11/15 80 28
e cidadã SM/SME
Cineclube infâncias DIPED DRE 01/12/15 180 117
SM/SME
Direitos humanos através de audiovisuais DIPED/Supervis 29/08/15 450 326
ão DRE SM
PNAIC: integrando saberes DIPED DRE 20/02/15 400 306
SM/SME
Educação para as relações étnico-raciais: DIPED DRE 06/03/15 50 48
introdução aos conceitos e reflexões sobre a SM/Núcleo
prática étnico-racial
65
cursos oferecidos no território não constam, como o PNAIC em 2013, que, embora
contasse com a participação da DIPED na organização e na seleção de orientadores
de estudos foi certificado pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCAR), além
de receber materiais e bolsas de estudos do governo federal.
Observamos o intervalo de 8 meses do início da gestão para o oferecimento
do primeiro curso pela DRE SM e o crescente aumento das ofertas nos anos
seguintes. Em 2013 foram 13 cursos com 915 certificações, em 2014 os 29 cursos
certificaram 2510 docentes, em 2015 os 41 cursos certificaram 5457 docentes e em
2016 foram 15 cursos com 2376 certificados (até agosto, outros cursos estavam em
andamento). No total temos 16278 vagas oferecidas e 11258 aprovados. A evolução
ao longo dos anos demonstra um crescimento na oferta de formação docente
relacionada com sistematização da política educacional da SME.
Entretanto, seria um erro acreditar que os servidores públicos se submetem
automaticamente às orientações da equipe dirigente, que apenas a publicação de
documentos pela SME teria o poder de impactar a prática pedagógica dos docentes.
Para COSTA (2014):
Em resumo: a formulação de políticas é feita, de fato, nos vários níveis da
organização, sem poder se considerar que haja um “ponto denso”,
formulador de políticas e de níveis hierarquicamente inferiores onde ela é
implementada. Uma Prefeitura Municipal é um espaço de múltiplos
governos que não se consolidam ou se “submetem” tranquilamente a equipe
dirigente – ao governo do momento – que se renova a cada quatro anos.
(COSTA, 2014, p. 32)
3.1 Entrevistas
imediata, uma pessoa não muda se não passar por um processo de convencimento
pessoal e coletivo. Isso é um processo de convencimento pedagógico que envolve
valores e concepções de mundo. […] No chão da escola com meu grupo preciso ter
momentos que minha concepção de vida, minha concepção de sociedade, precisam
ser colocadas em choque PEREIRA (2016). Enquanto gestora, continua, deve
expressar sua intencionalidade formativa, mesmo que não seja algo que os outros
desejem escutar, entretanto, a expressão deve ser cuidadosa e nunca desmerecer o
outro. Fala sobre a necessidade da formação não ser apenas cognitiva, mas
trabalhar o corpo todo, com os sentidos. Menciona cursos com a temática étnico-
racial onde confeccionaram bonecas Abaoyomis: Isso permanece na memória
afetiva dos professores e como prática pedagógica mais do que se ficássemos só na
parte dos slides PEREIRA (2016). Afirmação confirmada num dos questionários que
apresentamos no capítulo 3.2.2 (quadro 10, resposta 12).
O horário coletivo é exaltado por CANGUSSÚ (2016) que, entretanto, faz um
alerta sobre a prioridade nesses momentos. Ela lembra que enquanto coordenadora
pedagógica de uma EMEF muitas vezes a discussão era tomada pelo tema da
indisciplina e atendimentos familiares. Não que julgue esses temas menos
importantes ou dissociados dos estudantes, mas a urgência prejudicava o
planejamento e a reflexão sobre a prática.
Na sequência apresentamos as respostas das gestoras com grifos nossos em
trechos que consideramos significativos em nossa interpretação:
No chão da escola com meu grupo preciso ter momentos que minha
concepção de vida, minha concepção de sociedade, precisam ser colocadas
em choque. Se penso que minha concepção está correta e não olhar para
outras formas de pensar o mundo não tenho como mudar. Só a formação
propicia isso.
Assumir um projeto de formação enquanto gestora é ter uma
intencionalidade que tem que ser dita mesmo que as pessoas não
concordem com você. Agora a forma de dizer é importante. Depois de uma
trajetória de 4 anos as pessoas dizem que na DRE SM fizemos pensar
diferente de uma forma muito respeitosa. Em nenhum momento
desqualificamos o outro. As pessoas pensam segundo sua trajetória de vida
e valores. Tenho esse retorno enquanto gestora porque as pessoas vêm
dizer isso.
A formação tem que ser de corpo inteiro e trabalhar todos os sentidos das
pessoas. Não só o cognitivo. Se dizemos para respeitar a questão do corpo,
da musicalidade, da oralidade, dos valores e colocamos as pessoas para
sentar e só ficamos falando não bate. Não é só colocar um projetor e dizer o
que a gente pensa. Por exemplo, quando discutimos o tema étnico-racial na
formação de todas as turmas. Além da discussão teórica fizeram oficinas de
confecção de bonecas Abayomis. Isso é formação. Muitos levaram isso para
as escolas e fizeram com os pais. Não foi uma oficina solta, mas tinha uma
intencionalidade de resgatar a história do que representa essa boneca e
porque é importante a escola falar dessa memória africana. Isso permanece
na memória afetiva dos professores e como prática pedagógica mais do que
se ficássemos só na parte dos slides.
Conseguimos construir uma identidade na formação de CPs. Um avanço é
que quebramos a hierarquia dos segmentos porque diziam que a Educação
Infantil se sentia inferior ao ensino Fundamental. Parecia que tinham pouco
a dizer para os especialistas do Ensino Fundamental. Na formação por
territórios ao colocarmos os CPs de CEI, EMEI e EMEF juntos eles
perceberam que tem muito a dizer. O quanto a Educação Infantil tem a
dizer.
A questão do território foi muito interessante. Ao olhar para o mesmo espaço
perceberam que tinham os mesmos problemas e como vizinhos podiam
pensar soluções. (Maria Efigênia Ribeiro Pereira, 2016)
disse que podia”. Respondi que há três anos talvez pensasse daquela
maneira e não analisei a prática sobre outras perspectivas. Três anos
depois já sou outra pessoa. Sempre temos que nos reinventar. O que eu
achava que podia ser uma prática significativa, boa para as crianças há três
anos, hoje estou revendo, o grupo pode rever e se questionar junto comigo.
Não está sobre meu poder dizer que sim ou que não, sempre essa condição
de fazer o outro pensar. Será esse um bom caminho? Essa prática tem a
ver com o que estamos discutindo? Essa prática tem a ver com nosso
projeto político pedagógico?
O papel da formação é esse de questionar o tempo todo, inquietar o tempo
todo, tirar da zona de conforto. (Simony de Lena Dotto, 2016)
33 Grifos nosso.
76
pares elas se fortalecem. Dizem: não sou só eu que penso assim, olha ela
está fazendo um trabalho legal na escola dela. Não só contar o que é
maravilhoso, mas também para dizer o que não deu certo. Esse espaço de
poder se expor sem ser cobrado mostra que estamos todos no processo e
uns aprendem com os outros.
Acredito que por mais que seja difícil você não sai ileso de um processo de
formação. Professores, coordenadores e diretores que passaram pelo
processo de formação nessa gestão de uma forma ou de outra vão
repercutir na escola. A formação cria o movimento na escola. (Maria
Efigênia Ribeiro Pereira, 2016)
Esses relatos nos lembram FREIRE (1996) e pudemos perceber que o autor
fundamenta os discursos:
As considerações ou reflexões até agora feitas vêm sendo desdobramentos
de um primeiro saber à formação docente, numa perspectiva progressista.
Saber que ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as
possibilidades para sua própria produção ou sua construção.
[…]
Como professor num curso de formação docente não posso esgotar minha
prática discursando sobre a Teoria da não extensão do conhecimento.
(FREIRE, 1996, p. 47)
Tem sim. Discutia no Mestrado que uma das formações que não
conseguimos ver o impacto na prática é a étnico-racial. Existe uma
resistência, até inconsciente, de trazer esse assunto para a sala de aula e
tratar do preconceito.
No PNAIC conseguimos ver o impacto na sala de aula. Porém, daquele
professor que está disposto, daquele que foi afetado. Esse é um dos
grandes desafios da formação. Como afetar o professor para que ele tenha
clareza da necessidade de sempre estar renovando a prática dele ou pelo
menos reavaliando. Porque se não conseguimos afetar esse professor ele
“endurece” e podemos falar o que for, mas ele não dará ouvidos.
Há diferença na formação dos professores do Ciclo de Alfabetização para o
Ciclo Interdisciplinar. Tenho que ter uma abordagem diferenciada, foco
diferenciado e uma forma que consiga afetá-los. O CP sempre tem que ter
o olhar atento e a escuta acessível.
Uma formação não é matriz para vários grupos. Cada grupo é um grupo.
Tenho que conhecer as especificidades, trajetórias, perguntar para o
professor o que ele acha e não desprezar a bagagem que ele traz. (Milena
Marques Micossi, 2016)
professor para sair do “quadrado” dele. Tem que dialogar. (Milena Marques
Micossi, 2016)
35 Grifo nosso.
36 Idem.
83
37 Grifo nosso.
84
Não sei. Em 2013 e 2014 estava na escola e lemos o Mais Educação São
Paulo na JEIF. Não sei. Agora que tenho dimensão, apesar de estar num
outro espaço, que tudo que fizemos está no Mais Educação.
São documentos muito bons. Temos elogios de gestores dizendo que
ajudou a organizar o cotidiano da escola com a docência compartilhada e
com os projetos. Parecia que os projetos eram penduricalhos que a escola
carregava. O Mais Educação consegue organizar tudo isso
pedagogicamente. Não sei se os professores que tem acesso a esses
documentos... Volto a questão da JEIF, nesse momento esses
documentos teriam que ser lidos. Temos escolas que levaram isso
muito a sério e outras não.
O que acompanhamos mais de perto foi o documento Diálogos
Interdisciplinares dos ciclos Inter e Autoral. Na formação de 2016 os CPs e
os professores tinham que nos momentos coletivos fazer a discussão do
documento preliminar. Houve discussão.
Na Educação Infantil o movimento foi mais consistente. Se pegar os
Indicadores de Qualidade e o Currículo Integrador foi muito mais
intensa a discussão e incorporação. Vemos pelas práticas e relatos da
Educação Infantil que essa proposta está incorporada. (Maria Efigênia
Ribeiro Pereira, 2016)
Efigênia Pereira (2016) até fica na dúvida sobre o acesso dos professores aos
materiais produzidos. Afirma que acompanhou de perto a discussão do documento
Diálogos Interdisciplinares, que a discussão foi mais consistente e está consolidada
na Educação Infantil. MICOSSI (2016) cita diversos documentos debatidos em sua
escola, o que demonstra a permanência dos documentos durante a formação e
também ressalta o papel do coordenador pedagógico como mediador. CANGUSSÚ
(2016) dá destaque ao fato dos documentos estarem alinhados com suas
convicções e servirem para endossar sua fala.
Mesmo quando ainda não estava publicado, mas estava disponível no
Portal da SME avisávamos que tinha coisa nova para despertar a
curiosidade e colocávamos na bibliografia do PEA. Eu e a Ana Cláudia
temos horário de estudo, isso não é regra, em outra escola estudava em
casa se quisesse fazer esse movimento de reflexão sobre o documento. Por
exemplo, o Currículo Integrador estudamos na íntegra no começo do ano.
Mas não foi suficiente e tive que pegar a Normativa 01 da Educação Infantil.
Não entendiam alguns conceitos e para mostrar que antes de chegar no
Ciclo de alfabetização houve um documento que normatizou a Educação
Infantil.
Alguns documentos foram discutidos com maior intensidade e outros
nem tanto. Sobre os documentos do étnico-racial falamos: Rita [Professora
da Sala de Leitura] dá conta, porque nós não vamos dar conta. Quando falei
que os grupos tinham olhares diferenciados estava falando sobre os
documentos. No Ciclo de Alfabetização não trabalhei os Diálogos
Interdisciplinares, trabalhei o PNAIC, Curriculo Integrador e a Normativa 01.
Já no PEA do Ciclo Interdisciplinar foram os documentos do Diálogos
Interdisciplinares e Currículo Integrador. Já com a Ana Cláudia foram os
Trabalhos Colaborativos de Autoria (TCA), Plano de Navegação e os
documentos. Tivemos essa harmonia. (Milena Marques Micossi, 2016)
38 Grifo nosso.
86
ele esteve em atos para falar com educadores foram verdadeiras aulas
magnas. Fez uma grande diferença termos um prefeito que é educador.
(Fátima Aparecida Antonio, 2016)
muito. Me lembro dessa época disso. Era uma boa formação, na época as
Orientações Curriculares (Ocs). Foi importante porque não conhecia quase
nada de educação infantil, minha trajetória era de ensino fundamental. Não
havia um currículo e quando entraram as Orientações Curriculares o CEI
ganhou um currículo. Como tinha uma trajetória de assistência social não
havia um currículo, as práticas eram do cuidar, o foco era no cuidar, não
havia um currículo educacional.
A formação dos gestores não era conjunta, o diretor não tinha uma
formação muito pedagógica. Isso é uma diferença para o governo atual
que olhou para a questão da equipe gestora. Fizemos muita formação
juntas, eu e a diretora. Era importante que estivéssemos afinadas e
formadas juntas. Surgiu o cargo de assistente de diretor nesse governo,
muito importante. Aparentemente parece que o CEI é uma unidade pequena
se comparada a EMEF, mas não dá para comparar. Não dava para vir
diretora e CP na formação juntas, com o assistente de direção podíamos
participar da formação. Ela também teve o espaço de formação dela e
também participamos juntas de cursos optativos de formação. Aprendemos
juntas e levamos a discussão para a unidade juntas, para não parecer que é
coisa só da cabeça da CP. (Simony de Lena Dotto, 2016)
Já Lilian Cangussú (2016) afirma que desde que entrou na RME lembra de
participar de cursos (inclusive uma pós-graduação em Educação Especial) e que foi
novidade ingressar numa rede onde a formação também era considerada para a
evolução funcional.
Enquanto professora desde que entrei na Rede entrei fazendo curso.
Falavam que tinha curso e eu podia me inscrever, não sabia como
funcionava porque vinha de outra Rede, de Mauá. Lá tinha os sábados
pedagógicos e participava quem queria, mas a certificação não servia para
pontuação. Era para a formação profissional e pessoal. Quando entrei aqui
vi que os cursos servem para sua atuação profissional e, também,
serve para a evolução na carreira. Isso foi uma grande novidade. Tinha
um aluno surdo e já em 2003 foi oferecido um curso de Libras com um
profissional surdo. Desde que entrei os cursos são oferecidos. (Lilian
Cristina Pereira Cangussú, 2016)
Cite cursos de formação (pela SME e/ou outras instituições) que influenciaram sua prática.
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Agradecemos a colaboração!
Fonte: elaborado pelo autor.
As análises das respostas foram divididas em dois eixos: respostas objetivas
e respostas abertas. As primeiras procuram traçar um perfil dos participantes do
curso com indicadores sobre sua experiência profissional e percepção sobre
participação em cursos formativos. Das cinco perguntas abertas, três são voltadas
para uma autoavaliação sobre a influência da formação na prática, uma para
comentários sobre o curso e uma sobre desafios para construir a qualidade social da
educação, conceito presente em diversos documentos.
Apresentaremos a seguir a tabulação das respostas, os gráficos compostos
pelos dados obtidos, as intencionalidades das perguntas e nossas observações
sobre respostas. Adotamos a quantificação dos dados na expectativa de apresentar
indicadores sociais conforme define JANUZZI (2001):
A definição do conceito de Indicadores Sociais, que é uma medida em geral
quantitativa dotada de significado social substantivo, usado para substituir,
quantificar ou operacionalizar um conceito social abstrato, de interesse
teórico (para pesquisa acadêmica) ou programático (para formulação de
políticas). É um recurso metodológico, empiricamente referido, que informa
algo sobre um aspecto da realidade social ou sobre mudanças que estão se
processando na mesma. Os Indicadores Sociais são usados para subsidiar
a formulação de políticas sociais e o planejamento público, pois possibilitam
o monitoramento das condições de vida e bem-estar da população.
(JANUZZI, 2001,p. 15)
4% 2% 8%
17% 0,1 a 3
38% 4 a 11
12 a 19
20 a 25
26 ou mais
Não respondeu
31%
Fonte: Elaborado pelo autor com dados dos formulários respondidos pelos docentes.
2% 1% 4%
23%
20%
0,1 a 3
4 a 11
12 a 19
20 a 25
26 ou mais
Não respondeu
50%
Fonte: Elaborado pelo autor com dados dos formulários respondidos pelos docentes.
2%
25%
73%
Fonte: Elaborado pelo autor com dados dos formulários respondidos pelos docentes.
tabela 4 observamos que dos 352 participantes da pesquisa, 224 professores (64%)
declararam acumular cargos, 124 (35%) não acumulam e apenas 4 (1%) não
responderam. Praticamente dois entre três docentes tem uma jornada que influencia
sua formação fora do horário de trabalho. Esse é um dado que deve ser levado em
consideração quando discutimos a formação permanente em serviço ou cursos
opcionais oferecidos pela RME num horário diverso da jornada de trabalho.
1%
35%
Sim
Não
Não respondeu
64%
Fonte: Elaborado pelo autor com dados dos formulários respondidos pelos docentes.
Dos 224 docentes que declararam acumular 64, (29%) acumulam cargos na
própria RME (tabela 05). A maioria, 153 docentes (68%) acumulam com outras
redes. Do que podemos concluir que, praticamente, 7 em cada 10 docentes dividem
seu cotidiano com práticas pedagógicas em instituições distintas. As especificidades
de cada instituição se manifestam nas orientações curriculares, concepções
95
3%
29%
68%
Fonte: Elaborado pelo autor com dados dos formulários respondidos pelos docentes.
40 No município de São Paulo o Ensino Fundamental é ofertado tanto pela RME como pela Rede
Estadual.
96
Não 95 27%
Não resp. 4 1%
Fonte: Elaborado pelo autor com dados dos formulários respondidos pelos docentes.
97
1%
27%
Sim
Não
Não respondeu
72%
Fonte: Elaborado pelo autor com dados dos formulários respondidos pelos docentes
Entre maio e dezembro de 2015 a DRE São Mateus havia oferecido o curso
Diálogos Interdisciplinares a Caminho da Autoria 41 para todos os docentes dos ciclos
Interdisciplinar e Autoral, com 5 encontros presenciais de 4 horas, totalizando 20
horas de carga horária em horário de trabalho. Com a intenção de provocar
reflexões sobre:
[…] o papel dos docentes como produtores de currículo, o uso consciente
do tempo escolar para implementação do currículo crítico emancipatório; o
educar para intervenção social por meio da interdisciplinaridade e a
assunção do professor quanto a sua intelectualidade e autoria. Pretende-se
ainda uma reflexão qualificada do corpo docente sobre a garantia dos
Direitos de Aprendizagem dos educandos (as) dos Ciclos Interdisciplinar e
Autoral a partir da gestão escolar democrática, bem como da necessidade
de inserir nos conteúdos e práticas de toda a comunidade educativa os
direitos humanos, as diversidades étnico-raciais e de gênero, bem como a
valorização das culturas populares, infantis e escolares. Outro debate
fundamental a ser colocado na formação recai sobre os Ciclos de
Aprendizagem e a Avaliação Escolar com a finalidade de implementar
definitivamente a avaliação para aprendizagem na lógica dos ciclos,
diagnóstica, processual, formativa e não-excludente visando sempre ao
sucesso dos (as) alunos(as) em sua escolarização. (DOC de 15 de
setembro de 2015, p. 34)
Apesar dos cursos (em 2015 e 2016) possuírem o mesmo nome eles
2%
27%
Participou
Não participou
Não respondeu
71%
Fonte: Elaborado pelo autor com dados dos formulários respondidos pelos docentes.
7% 1%
Sim
Não
Não respondeu
92%
Fonte: Elaborado pelo autor com dados dos formulários respondidos pelos docentes.
currículo. currículo/propostas
pedagógicas
12 Independente da temática toda formação sempre - Reflexões sobre a
favorece a reflexão. Acredito que refletindo, prática/troca de experiências
reavaliamos e aprimoramos nossa prática - Mudança/sugestões na
continuamente. Em diversas propostas prática
precisamos reavaliar e reconsiderar durante o
percurso, muitas vezes, influenciados por
discussões e conclusões realizadas na formação.
13 Pude observar que em sala de aula houve de - Mudança/sugestões na
minha parte a aquisição de uma postura mais prática
reflexiva nas práticas do cotidiano. Ex: zelar para - Maior aproximação/
que o aluno seja realmente o protagonista. compreensão com
estudantes/ comunidade
14 Me possibilitou refletir sobre a minha prática e - Mudança/sugestões na
como consequência melhorar a minha didática e prática
a forma como enxergo os meus alunos. - Maior aproximação/
compreensão com
estudantes/ comunidade
15 A noção de currículo discutida no curso ajudou - Reflexões sobre o
na minha reflexão sobre o currículo na minha currículo/propostas
escola e como negligenciei sua importância como pedagógicas
um todo.
16 A formação sobre o ciclo interdisciplinar foi - Elaboração/ aplicação de
bastante produtiva porque estimulou a pensar em projetos
projetos e ações pedagógicas integradas e em
comum, junto aos professores de outras
disciplinas.
17 Reflexões que vão além dos muros da escola. - Reflexões sobre a
Poder refletir entre os meus pares de disciplina prática/troca de experiências
de outras UEs é muito importante.
18 Por meio das reflexões e trocas de experiências - Reflexões sobre a
os professores puderam repensar suas práticas. prática/troca de experiências
Estou usando e adaptando ideias de atividades - Mudança/sugestões na
dos colegas com minhas turmas. prática
19 Ainda não houve mudanças na minha prática. Não influenciou, pouco
influenciou
20 Tanto no curso, quanto no PEA, nada do que eu Não influenciou, pouco
vi foi novidade. Tudo isso, os direitos e influenciou
concepções já procuro contemplar em minha
prática.
Fonte: Elaborado pelo autor com dados dos formulários respondidos pelos docentes.
avaliam o impacto das formações nas suas próprias práticas. Uma questão de
autoavaliação que fez referência à carreira e não apenas ao curso Diálogos
Interdisciplinares. As respostas indicaram que, segundo os docentes, a maior
influência ocorreu na reflexão sobre sua prática e na reflexão fruto da troca de
experiências (46% das respostas, tabela 09). Se olharmos para o total de
professores identificamos que 207 docentes (59%) consideram a reflexão uma ação
prática ao longo de sua carreira, isto é, não fazem uma separação entre o que seria
puramente reflexão da ação pedagógica. Conforme Freire (1996) isso possibilita a
construção de uma curiosidade crítica e é o momento fundamental da formação:
O de que se precisa é possibilitar, que, voltando-se sobre a prática, a
curiosidade ingênua, percebendo-se como tal, se vá tornando crítica.
Por isso é que, na formação permanente dos professores, o momento
fundamental é o da reflexão crítica sobre a prática. É pensando criticamente
a prática de hoje ou de ontem que se pode melhorar a prática. (FREIRE,
1996, p. 39)
46% 10%
3%
22%
6% 1%
2%
3%
3%
5%
38%
8%
8%
12%
14%
Discussões/diálogos/reflexões
Elaboração/revisão de projetos
Elaboração de aulas/replanejamento
Atividades/reflexões Interdisciplinares
Interação com estudantes/comunidade escolar
Reflexões sobre o currículo
União/parceria docente
Projeto Político Pedagógico
Gestão democrática
Não identificou ações/pouca influência
Não respondeu
Fonte: Elaborado pelo autor com dados dos formulários respondidos pelos docentes.
resposta 29 docentes.
Tabela 11: quantidade de cursos que influenciaram a prática docente
Respostas Quantidade %
1 curso citado 101 29%
2 cursos citados 84 24%
3 cursos citados 58 16%
4 ou mais cursos citados 58 16%
Não respondeu com citação 22 7%
Não respondeu, questão em branco 29 8%
Fonte: Elaborado pelo autor com dados dos formulários respondidos pelos docentes.
8%
7%
29%
1 curso citado
16% 2 cursos citados
3 cursos citados
4 ou mais cursos citados
Não respondeu com
citação
Não respondeu, questão
em branco
24% 16%
Fonte: Elaborado pelo autor com dados dos formulários respondidos pelos docentes.
4%
3% 1%
1%
2% 7%
44%
17%
4% 17%
Avaliação positiva
Avaliação negativa
Troca de experiências/discussões
Elaboração/construção do documento/currículo
Influência/reflexões sobre a prática
Interdisciplinaridade
Importância de ser no horário de trabalho
Pouco tempo de curso
Espaço inadequado
Fonte: Elaborado pelo autor com dados dos formulários respondidos pelos docentes.
116
14).
Tabela 14: desafios para a qualidade social da educação
Respostas Quantidade %50 %51
Infraestrutura, verbas e materiais pedagógicos 75 15% 21%
Currículo/aulas atrativas 55 11% 16%
Ausência e/ou dificuldades da família 52 11% 15%
Formação dos docentes 52 11% 15%
Excesso de estudantes por sala 40 8% 11%
Política/governos 39 8% 11%
Problemas sociais, econômicos ou culturais 33 7% 9%
Motivação, valorização e salários 32 7% 9%
Interação com a comunidade 26 5% 7%
Resistência da equipe escolar ou burocracia 22 4% 6%
Ausência de união entre a equipe 21 4% 6%
Trabalho intersecretarial ou parcerias 13 3% 4%
Agressividade/indisciplina 9 2% 3%
Não respondeu 22 4% 6%
Fonte: Elaborado pelo autor com dados dos formulários respondidos pelos docentes.
Quadro 13: transcrições de respostas sobre os desafios e/ou obstáculos para a qualidade
social da educação
Nº Transcrição da resposta Classificação na pesquisa
01 Investimentos. Respeito e valorização - Infraestrutura, verbas e materiais
de órgãos públicos pela profissão dos pedagógicos
educadores. Apoio, parceria e interesse - Motivação, valorização e salários
das família nas escolas no processo de - Ausência e/ou dificuldades da
ensino aprendizagem de seus filhos. família
Cursos de aperfeiçoamento e formação - Formação dos docentes
contínua para docentes.
02 Continuidade nas ações, enquanto a - Política/governos
Educação estiver atrelada a partidos
políticos veremos esses problemas
crônicos que interferem sobremaneira
na qualidade da educação.
03 A escola precisa ter apoio e integração - Trabalho intersecretarial ou
com outros setores como a Secretaria parcerias
de Saúde.
04 Não existe qualidade sem formação do - Formação dos docentes
professor. A SME precisa proporcionar a
todos os educadores a formação nas
50 Porcentagem referente ao total de citações nos formulários.
51 Porcentagem referente ao total de 352 educadores que responderam o formulário.
120
4 – CONSIDERAÇÕES FINAIS
Observamos uma disputa pelo currículo em São Paulo ao longo dos últimos
20 anos tendo como eixo central o conceito de qualidade social da educação, seus
desdobramentos na prática e as administrações petistas. A centralidade do Partido
dos Trabalhadores (PT) é expressa nas sucessivas tentativas de reorientação
curricular ao retornar ao governo municipal.
Apesar de identificarmos essa tentativa quando realizamos uma análise
posterior, a organização institucional no governo Haddad demorou a apresentar sua
intencionalidade e viabilizar sua implementação, o que podemos chamar de “tempo
de governo”. Verificamos que a SME levou cerca de um ano para estruturar os eixos
da política pública educacional e começar a apresentar os documentos. Explicações
possíveis, fruto da pesquisa e de nossas vivências, são: o tempo necessário para
compor as equipes nos diversos órgãos da SME e das DREs, o período de diálogo
com a rede e as expectativas do Secretário de Educação, César Callegari em 2013.
A maioria dos cargos é destinada aos servidores públicos concursados
efetivos da rede. Isso proporciona a possibilidade da maioria dos
implementadores/formuladores de políticas públicas educacionais terem
experiências em outros cargos da própria rede e, como observamos nas três
entrevistadas (Secretária Adjunta, Diretora Regional e Diretora da DIPED), já terem
atuado em governos anteriores elaborando/implementando as políticas públicas.
Essa experiência prévia influenciou nos discursos e expectativas das equipes para
um novo governo do PT. Vivência não compartilhada pelo Secretário de Educação
César Callegari que ainda não tinha atuado nos governos anteriores do município e
estava vindo de uma participação no Ministério da Educação como Secretário de
Educação Básica. Entretanto, estava envolvido com a implementação PNAIC no
país, o que é um indício do porquê o Pacto foi, em nossa análise, a prioridade
formativa em 2013.
O método de elaboração dos documentos, construídos a muitas mãos,
também pode explicar o espaço de tempo entre o início do governo e as
publicações. Não julgamos negativamente esse período, apenas constatamos que
entre o início do governo e a apresentação consistente das intencionalidades da
124
práticas docentes e como tal deve ser objeto de atenção dos governos.
Observamos que houve uma preocupação em reafirmar nos diversos
documentos o caráter dialógico e o processo de construção coletiva dos mesmos,
sem a pretensão de impor metodologias ou uma didática, como traço revelador do
discurso adotado e da prática que a gestão buscou consolidar como processo
formativo da RME. Consideramos esse caráter dialógico fundamental para construir
uma educação emancipatória com qualidade social. O respeito ao conhecimento
acumulado pelos educadores em sua prática profissional é expresso nessa não
imposição, não prescrição de metodologias que obrigatoriamente deveriam ser
adotadas.
Outro aspecto que ficou evidente foi a necessidade de indicadores para
avaliar a política pública de formação dos professores. Uma experiência exitosa a
ser saudada são Os Indicadores de Qualidade da Educação Infantil Paulistana. Com
uma metodologia simples, documentos explicativos e seminários regionais
movimentou a rede. Pudemos verificar nos relatos das gestoras educacionais que a
construção desses indicadores, com a participação da comunidade escolar, foi
incorporado pelas unidades educacionais. Entretanto, não encontramos a
sistematização dos resultados disponíveis ao público e desconhecemos um estudo
realizado com os dados obtidos. Essa experiência com os indicadores na Educação
Infantil pode balizar a construção de outros indicadores necessários a RME para
alicerçar o planejamento de políticas públicas.
Retornando aos objetivos apresentados na introdução deste trabalho
esperamos ter contribuído com a análise do impacto da formação permanente no
discurso sobre a prática do professor e da intencionalidade dos gestores de políticas
públicas educacionais. Intencionalidades identificadas nas entrevistas: ênfase na
formação permanente (por meio de cursos optativos ou no horário de trabalho) dos
docentes e gestores das unidades educacionais, construção coletiva dos
documentos, formações baseadas nas orientações institucionais, escuta da RME
(consultas públicas, seminários ou diálogo) e eixos temáticos que contribuam para a
construção de uma educação pública com qualidade social.
Se não atingimos nossos objetivos esperamos ao menos ter contribuído com
a memória da Rede Municipal de Ensino ao disponibilizar os dados coletados, sua
sistematização e as entrevistas para que, porventura, possam ser usados como um
registro desse período histórico.
126
REFERÊNCIAS TEÓRICAS
______. Lei Federal n.º 8.069, de 13/07/1990 –Dispõe sobre o Estatuto da Criança
e do Adolescente e dá outras providências. Artigos 53 a 59 e 136 a 137.
______. Lei Federal n.º 10.639, de 09/01/2003 – Altera a Lei n.º 9.394/96, que
127
______. Lei Federal n.º 11.645, de 10/03/2008 – Altera a Lei n.º 9.394/96,
modificada pela Lei n.º 10.639/03, que estabelece as Diretrizes e Bases da
Educação Nacional, para incluir no currículo oficial da rede de ensino a
obrigatoriedade da temática “História e Cultura Afro-Brasileira e Indígena”.
______. Lei Federal n.º 12.796, de 04 de abril de 2013 – Altera a Lei n.º 9.394/96,
que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, para dispor sobre a
formação dos profissionais da educação e dar outras providências.
FREIRE, Paulo. Educação e Mudança. 36ª ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2014.
______. Educação como prática da liberdade. 25ª ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra,
2001.
______. Pedagogia do oprimido. 57ª ed. São Paulo: Paz e Terra, 2014.
MEIHY, José Carlos Sebe Bom; HOLANDA, Fabíola. História oral: como fazer,
como pensar. São Paulo: Contexto, 2007.
VARELLA, Tiago. Professor pode saber conteúdo, mas não aprende a ensinar, diz
educadora. UOL Educação. Campinas, 19 de maio de 2016. Disponível em:
https://educacao.uol.com.br/noticias/2016/05/19/professor-pode-saber-conteudo-ma
134
s-nao-aprende-a-ensinar-diz-educadora.htm?cmpid=copiaecola Acesso em
17/01/2018.
regiões da cidade isso foi feito com divisões em micro-regiões para que fossem
realizados encontros com a participação do professor, CP, diretor e do supervisor. É
dessa época o grupo de acompanhamento pedagógico. As regiões montaram
grupos. A equipe pedagógica junto com a supervisão assumiam uma micro-região e
acompanhavam a formação. Tínhamos o acompanhamento da Universidade nos 2
primeiros anos. Isso era uma maneira de chegar na ponta, tinha as diretrizes da
SME e o acompanhamento. Era uma estratégia e foi a grande marca.
Já no período de 2005 a 2012 o que fica bastante evidente foi a formação do
CP. A ideia era que ele fosse o grande articulador lá na escola das ações formativas
na JEIF buscando resultados. De 2005 a 2012 foi vivemos um momento muito
preocupado com resultados. Se combina isso com as avaliações nacionais, com a
Prova São Paulo e a Prova da Cidade. Ficou muito focado no resultado, no
acompanhamento do desempenho das crianças. No frigir dos ovos era melhorar o
resultado com foco no IDEB.
Toda a formação de 2005 a 2012 tinha esse foco e nós na escola cansamos
de preencher planilhas sobre o aprendizado dos alunos, hipóteses alfabéticas e
hipóteses de escrita. Sempre fui contrária a isso porque no nosso trabalho
acreditamos que o aprendizado se dê de uma forma diferente e num
acompanhamento também diferente e não simplesmente medir o conhecimento.
A ênfase foi nos coordenadores pedagógicos e o fundamental II foi esquecido.
Pode ser que alguma região tenha feito alguma coisa, mas o foco foi muito nos
professores do primeiro ano, segundo e quarto ano do Ensino Fundamental. Esses
professores tiveram um acompanhamento maior. Toda formação para esse pessoal
era baseada no material produzido naquela gestão, as Orientações Curriculares,
expectativas de aprendizagens e Cadernos de Apoio aos Alunos.
Agora chegando na SME constituímos uma Reorganização Curricular
especialmente no Ensino fundamental. Essa Reorientação foi discutida com grande
parte da rede, com Universidades e Instituições. A partir de 2014 a gente constrói
uma política de formação focada na implantação desse programa, que seriam os 3
ciclos no Ensino Fundamental, uma formação focada na integração
entre Educação Infantil e ensino Fundamental com base num currículo crítico
emancipatório e que depois avançou para um currículo descolonizado. A gente foi
avançando nisso. Tivemos um grande avanço de 2013 a 2016 porque focamos
novamente, inspirados na experiência de 89 a 92, retomamos o princípio de que a
138
formação tem que ser para todos. Então a gente priorizou a formação para os
professores do fundamental I e II, tinha o PNAIC mais a formação que colocamos a
partir do 4º ano devido a implantação dos 3 ciclos, por conta da discussão do
currículo como um todo, educadores da EJA e Ensino Médio. Todos tiveram. Quando
a gente faz essa escolha política pedagógica ouvimos a supervisão, os diretores e
CPs se queixar um pouco disso, dizendo que não estavam sendo chamados. Foi
uma escolha intencional guiada pelo fato de que acreditamos que os professores
devem ser os primeiros a ter essa continuidade de formação. Nossa escolha foi
essa.
Tivemos cursos optativos, mas o que é grande diferencial nesse momento é
ter conseguido cursos no horário de trabalho, formação em serviço. Grande parcela
da rede pode participar dessa formação discutindo temas fundamentais para a
implantação dos ciclos. A questão do currículo foi o carro chefe. De que currículo
estamos falando? De que currículo estamos falando quando pensamos integrar o
Ensino Fundamental a educação Infantil?
Grande parte pode fazer cursos no horário de trabalho e isso é um legado
importante que a gente deixa nesse momento. Professores que podem ter um
horário de formação no horário de trabalho, seja organizado pelas DREs ou pela
SME. Lembrando que todas as ações de formação foram pensadas, organizadas e
colocadas em conjunto pelas DREs e pela SME. Houve pelas DREs um alargamento
das temáticas que foram importantes nesse momento.
com o Programa Ler e Escrever. Enquanto o Ler e Escrever acontece em São Paulo
no em alguns estados tivemos uma experiência muito exitosa com alfabetização e
os anos iniciais com o Pró-Letramento. Inspirados nas experiências do Ceará,
Pernambuco e Minas Gerais se constitui um projeto para o país e por isso um pacto.
Não só a formação, mas uma corresponsabilização dos entes federados,
estados e municípios. Entra a questão da formação, que mesmo sendo optativa,
oferecia uma bolsa e o acompanhamento nas DREs. Outro dado fundamental foi a
possibilidade de colocar coordenadores, supervisores, diretores e professores da
própria rede como Orientadores de Estudo. A pessoa que está lá na escola, que tem
uma contribuição importante no chão da escola ser o formador dos professores.
Outro aspecto importante era ser baseado na prática, no cotidiano da sala de
aula e nas dificuldades que aconteciam para serem discutidas na formação. A
grande questão do PNAIC para São Paulo, que viveu 8 anos do Programa Ler e
Escrever e com expectativas de aprendizagens, era a questão dos direitos de
aprendizagem. Tivemos um debate grande sobre o que representa ter uma
expectativa de aprendizagem e o que representa um direito de aprendizagem. Outro
debate grande para São Paulo, que não participou desse debate nacional... No final
de 2012 o apelo nacional foi tão grande que não teve como São Paulo não aderir.
Quando chegamos em 2013 tivemos que colocar esse avião para funcionar
em todas as regiões. O material do PNAIC do ponto de vista da concepção de
alfabetização foi um pouco difícil de trabalhar em são Paulo que vinha com a
concepção do Ler e Escrever. Houve momentos muitos tensos, como a consciência
fonológica e como se trabalharia com os alunos criou muitos debates na cidade. Mas
isso depois foi superado.
2013 e 2014 praticamente não existe mais porque houve um investimento forte nas
rodas de conversa.
Entendo que seria importante e necessário esse acompanhamento, até
porque somos uma instituição pública e temos que dar respostas para a sociedade,
mas não queria descartar esses registros e impressões. Porque são importantes no
retorno que temos tido da rede: adesão a formação, adesão a escrita dos
documentos e a preocupação com a continuidade. Por que dizemos que pode
continuar esse debate em torno de um currículo crítico-emancipatório? Porque
fizemos o debate com a rede. Isso não foi determinado por nós, obviamente
tínhamos uma diretriz, mas que foi alargada com as contribuições que vieram da
rede?
Em 2013 quem falava em currículo descolonizado? Qual dos nossos
documentos falava sobre isso? Isso surge de pessoas da rede que estavam nesse
debate nas Universidades ou nos coletivos nas regiões. O grande destaque dessa
gestão também se dá no investimento profundo na formação de nossos educadores
na questão étnico-racial. Falar em descolonização do currículo se deve em grande
parte a discussão sobre as questões étnico-raciais que aconteceu na rede.
Considerações finais?
É importante quando as pessoas se dispõem a estudar sobre a formação.
Temos um longo caminho a ser trilhado.
A formação precisa fazer sentido com o que se vivencia no cotidiano. Para isso é
importante estar perto do professor para captar o que de fato esse professor precisa.
Temos autocrítica aqui. Uma das coisas é que fizemos um programa de reorientação
curricular, nós definimos. No início precisaria ter sido feita uma escuta sobre a
demanda real de formação. Depois nós fizemos. Precisamos fazer essa escuta.
Precisamos escutar mais. Se continuássemos, não sei se seria acatada minha
sugestão, no governo diríamos: Fizemos tudo isso, currículo e discutimos todas
essas temáticas que consideramos tão importantes para a política curricular e
conseguimos fazer formação em serviço. Agora vamos ouvir sobre o que está
fazendo sentido. Estamos caminhando para A e o professor está precisando de B.
Como junto A com B?
Apoio profundamente no acompanhamento pedagógico e as pessoas da SME
144
deveriam ir mais para as DREs dar apoio. E por fim digo que erramos quando não
investimos nos supervisores escolares como articuladores da formação apesar de
grande parte dos supervisores não se verem nesse papel.
e formação que vim a entender que tudo aquilo era criminoso. Primeiro a gente
pedia um monte de coisas para as crianças para vender para eles mesmos. Era uma
festa onde trouxeram tudo aquilo. Segundo, pedíamos as prendas relâmpagos como
leite condensado para crianças que não tinham condições de comprar. Muitos nem
conheciam algumas coisas daquelas e a gente pedia para trazerem. Depois íamos
premiar e muitos nem poderiam ir naqueles passeios. Era uma sequência de
equívocos que cometi. Claro que não era por maldade, mas era por
desconhecimento. No dia a dia nessas discussões que amadurecemos, lemos e
refletimos. Praticamente 70% de minha formação política ocorreu na escola, nas
discussões.
Sempre tive muita sorte de ter grupos ricos na formação. Quando comecei
como CP no grupo havia um ex-padre, mestres, que me “devoravam” teoricamente e
foram muito generosos comigo. Tinha dois caminhos na minha vida. Dava aula num
colégio particular caríssimo no Belém com muito desperdício e à tarde e noite ia
para a EMEF Plínio viver uma exclusão total. Falei sobre mim para explicar a
importância da formação. Minha vida inteira foi com a formação.
Em grande medida a formação muda a prática, um exemplo é a alfabetização.
Quando comecei era cartilha e “Caminho Suave”. Hoje quase não vemos mais a
alfabetização naquele formato e isso é devido a formação. Não sabíamos o que era
pré-silábico, o aluno escrever sem saber escrever ou ler sem saber ler. Não existia
isso naquele tempo. É penoso trabalhar com professoras que vem com aquela
formação concreta do ba-be-bi-bo-bu e mostrar que é por outra via, elas resistem.
No ciclo de alfabetização, ciclo I, a formação em serviço foi muito mais eficaz que no
ciclo II. Nesse ciclo os professores, no meu olhar de CP, houve mudança, mas não
foi num grau como no ciclo I. O que me faz pensar assim? Durante trinta anos
falamos sobre avaliação do aluno. Uma vez no CEU durante um ano lemos Jussara
Hoffman e vários autores, achei que estava saturado o tema, mas não mudou nada
na prática da maioria dos professores do Ciclo II que faziam PEA. Diferente do Ciclo
I, sei que estou “puxando sardinha”, mas acho que o próprio formato da
escolarização, sem aulas de só 45 minutos, favorecem o Ciclo I. É por isso que a
EJA Modular e o CIEJA dão muito mais certo. Não tenho dúvida que o formato
hora/aula poderia ser modificado.
Inicialmente tentamos sair do eixo dos 8 anos de gestão Serra/Kassab que foi
o Programa Ler e Escrever. Era só isso em todas as áreas. Essa gestão (2013-2016)
veio para mostrar que o motivo da escola é trabalhar com a função social da leitura e
da escrita, não apenas ler e escrever, mas trabalhar com a questão emancipatória
da educação. Abordamos alguns eixos como a questão de gênero, a questão étnico-
racial, o currículo da Educação Infantil e a integração com o Ensino Fundamental, o
currículo integrador vem nessa perspectiva, o resgate da educação EJA encarando o
os adultos e jovens como sujeitos da aprendizagem, não encaramos a EJA como
uma educação condensada e em menos tempo. O diferencial do que se propôs
nesses 4 anos foi entender o sujeito da aprendizagem como um sujeito social e a
educação enquanto instrumento de emancipação. A formação para professores e
gestores vieram nesse e não mais se prendendo apenas ao ler e escrever.
Em todas as áreas houve uma preocupação no sentido de apontar para uma
cidade que inclui, entende a diversidade e pluralidade. O próprio MOVA foi
reconsiderado e as visitas qualificadas. Sem visitas para apenas contar as
“cabeças”, pois o Pedro com toda sua qualificação e olhar humanizado fez um
trabalho conhecendo cado aluno e pensando na ampliação.
Em todas as áreas, seja Educação Infantil, Educação Fundamental ou EJA,
para gestores, professores ou território, que foi uma formação importante, houve a
preocupação de redimensionar e requalificar a discussão olhando para o social e
para a cidadania. Formação valorizando as pessoas.
Um passo importante do Mais Educação foram os 3 ciclos. O antigo ciclo II que
agora está entre o Ciclo Inter e Ciclo Autoral teve o TCA (Trabalho Colaborativo de
Autoria) e a questão da autoria. Foi uma política de formação muito importante que
trouxemos. Lembro da primeira formação para coordenadores sobre o TCA quando
a Maria Bento levou para casa um monte de livros e fez uma baita apresentação no
Power Point. Quem sabia o que era TCA? Ninguém sabia o que era TCA. É uma
inovação na rede de São Paulo e nessa semana temos a terceira Mostra de TCAs
onde estão dando show. No começo cada escola fez de um jeito. Tinha escola que
tinha TCC e achou que era TCA. Então teve todo um trabalho de formação.
porque não tinham tantos professores para estar substituindo. E passado esse
alvoroço do começo olhamos para as escolas, como a EMEF Vladmir de Toledo Piza
que está com diversos projetos de Educação Integral toda pautada na formação. Os
TCAs que estão em todas as EMEFs e temos ações na educação infantil.
eve impacto e mudanças, os estudantes são provam disso. Os Grêmios estão
de volta em muitas escolas. Os CRECEs são outro exemplo grande do impacto da
formação nas Unidades, nessa semana mesmo estamos tendo o encerramento e
estão discutindo coisas do cotidiano da escola. Pais e estudantes estão discutindo
coisas que nem chegavam para eles, isso pode ser natural para uma escola, mas
não para outra.
O impacto dessa formação entre os alunos são os projetos do Mais
Educação. As escolas de Educação Integral, os projetos de Educação Integral, a
atuação do CEFAI e a devolutiva das escolas na questão da educação inclusiva. A
diferença de concepção. Entendiam que o CEFAI deveria prestar um atendimento
como uma ambulância, socorre e volta. Hoje essa concepção mudou totalmente, o
próprio NAAPA vem nesse sentido, são setores de formação que chegam no
educador trabalhar com os estudantes. Desde 2004 demorou 12 anos para as
pessoas entenderem, mas parece que agora compreenderam esse trabalho de
formação.
dificuldade e um desafio.
A própria criação das vagas nas Creches, tônica da gestão a partir de 2015, já
deveria ter sido uma prioridade desde 2013. Vemos a diferença de criação de vagas
depois de 2015, foi uma diferença de prioridades entre os Secretário Callegari e
Chalita. O primeiro Secretário trouxe o Mais Educação São Paulo, essa foi a linha
dele, mas mesmo assim demorou um pouco.
A DIPED da DRE São Mateus sabe o desafio que é trabalhar a formação num
território tão amplo como esse, por isso foi um golaço a formação por território.
Apenas no último ano, mas uma política muito bem recebida também pelas CPs,
todas elogiaram. A formação se deu por territórios onde se encontravam as CPs de
CEI, EMEI e EMEF.
as três gestões.
Na gestão Maluf/Pitta não havia formação. O tema era Qualidade Total e não
havia formação. Serra/Kassab teve pouca formação, principalmente para gestor,
principalmente para CP e na área do ler e escrever.
As três gestões petistas tem a abordagem em gênero e sexualidade, na
questão étnico-racial.
Como diferença a gestão da Marta teve muito dinheiro, podíamos contratar
mais. O CRECE, por exemplo, passava 1 dia no SESC fazendo formação e uma
empresa oferecia um almoço para os pais. Fizeram os CEUs, vieram os uniformes.
Essa gestão comparada com a da Marta foi muito precária nos recursos.
Na época da Erundina me lembro da formação e dos materiais. Vinham no formato
do Diário Oficial, muito material ficou no final da gestão Erundina, ficaram anos e
anos guardados e depois foram jogados fora. Os professores não incorporaram esse
material e era coisa muito rica. As pessoas tinham tudo para incorporar esses
materiais, tivemos muitos ganhos nessa gestão, veio o nosso Estatuto, os
Regimentos, Jornadas de Trabalho, ampliou o salário. Puxa, tivemos Paulo Freire e
Cortella como Secretários de Educação.
Quero acrescentar que a Secretária Cida Perez ouvia muito a gente e vinha
muito nos lugares. O Chalita também era assim. Agora, a Cida Perez era do PT e
isso fez diferença.
Considerações finais?
Acredito na formação em serviço. Alguns gestores vão mudar a prática, mas
alguns não. Algumas coisas são princípios e temos que fazer o contraponto na
discussão. Se existe um diretor complicado temos que estar junto com os
professores nessa disputa na escola.
É importante viver outras experiências e a rede possibilita isso.
Mais do que nunca temos disputas a fazer no campo ideológico. Fico
assustada com algumas coisas e se não estivermos na escola discutindo algumas
coisas, cada vez mais vão achar que tem que matar os meninos. As próprias mães!
Algumas me diziam: professora prefiro que se pegar mate meu filho mesmo, assim
acaba esse sofrimento. São muitas disputas no campo ideológico.
resistência muito grande. Não é o que sinto hoje. Atualmente em todas as UEs tem
um grupo de professores que faz essa discussão e faz trabalhos. Houve uma
apropriação.
Me legitimo nesse espaço que estou porque sou professora. O que defendo
como professora defendo nesse espaço que estou. É importante o investimento em
formação, mas não é só isso que garante qualidade. A gestão desse recurso e como
é organizado na escola.
Oferecemos muita formação, mas a formação não é um negócio que a
pessoa faz um curso e na semana que vem ela fala: “Opa! Mudei, já estou
repensando”. Isso é um processo de convencimento pedagógico que envolve
valores e concepções de mundo. Por isso a formação é importante. No chão da
escola com meu grupo preciso ter momentos que minha concepção de vida, minha
concepção e sociedade, precisam ser colocadas em choque. Se penso que minha
concepção está correta e não olhar para outras formas de pensar o mundo não
tenho como mudar. Só a formação propicia isso.
Assumir um projeto de formação enquanto gestora é ter uma intencionalidade
que tem que ser dita mesmo que as pessoas não concordem com você. Agora a
forma de dizer é importante. Depois de uma trajetória de 4 anos as pessoas dizem
que na DRE SM fizemos pensar diferente de uma forma muito respeitosa. Em
nenhum momento desqualificamos o outro. As pessoas pensam segundo sua
trajetória de vida e valores. Tenho esse retorno enquanto gestora porque as pessoas
vêm dizer isso.
A formação tem que ser de corpo inteiro e trabalhar todos os sentidos das
pessoas. Não só o cognitivo. Se dizemos para respeitar a questão do corpo, da
musicalidade, da oralidade, dos valores e colocamos as pessoas para sentar e só
ficamos falando não bate. Não é só colocar um projetor e dizer o que a gente pensa.
Por exemplo, quando discutimos o tema étnico-racial na formação todas as turmas
além da discussão teórica fizeram oficinas de confecção de bonecas Abayomis. Isso
é formação. Muitos levaram isso para as escolas e fizeram com os pais. Não foi uma
oficina solta, mas tinha uma intencionalidade de resgatar a história do que
representa essa boneca e porque é importante a escola falar dessa memória
africana. Isso permanece na memória afetiva dos professores e como prática
pedagógica mais do que se ficássemos só na parte dos slides.
Conseguimos construir uma identidade na formação de CPs. Um avanço é
153
que quebramos a hierarquia dos segmentos porque diziam que a Educação Infantil
se sentia inferior ao ensino Fundamental. Parecia que tinham pouco a dizer para os
especialistas do Ensino Fundamental. Na formação por territórios ao colocarmos os
CPs de CEI, EMEI e EMEF juntos eles perceberam que tem muito a dizer. O quanto
a Educação Infantil tem a dizer.
A questão do território foi muito interessante. Ao olhar para o mesmo espaço
perceberam que tinham os mesmos problemas e como vizinhos podiam pensar
soluções.
que está ouvindo sabe que os formadores estão falando sobre a realidade que
vivenciam como professores e CPs na escola.
educacional não é tão tranquilo assim. Trouxemos alguém que pensa o território
politicamente e com a perspectiva emancipatória como direito à cidade. Assim o CP
pode olhar para o território na perspectiva das possibilidades. Num encontro
abordamos Milton Santos e no momento do fazer sugerimos aos CPs que
mapeassem o que havia no entorno de suas escolas.
A formação na DRE SM se deu em 4 polos. Os CPs dos distritos São Mateus
e Iguatemi no CEU São Mateus, Distrito São Rafael no CEU São Rafael e
Sapopemba, como tem muitas escolas, em Sapopemba 1 no CEU Sapopemba e o
Sapopemba 2 no CEU Rosa da China. Os temas traziam além da questão teórica os
desafios do cotidiano, como a questão do território, a questão da Rede de Proteção
Social onde trouxemos pessoas que discutiram a infância, falamos sobre identidade,
sobre o Projeto Político Pedagógico. Um CP poder olhar o PPP do outro e perceber
que não precisa ser tão engessado, alguns mais sucintos. O empoderamento se dá
ao colocar todos como parceiros e sempre trazer quem pode nos ajudar a pensar.
Como afirma Milton Santos: a cidadania acontece no território. Algumas
palavras vão sendo usadas, sofrem um desgaste e quando você usa as pessoas
não sabem exatamente o que você quer dizer.
são meros burocratas. Não é aquela coisa de multiplicadores que você dá uma
oficina e tal. É um processo o tempo todo dialogado, que você chama as pessoas
para montar a pauta coletivamente e essa proposta é mais trabalhosa porque não é
prescritiva.
No meu caso outro desafio é estar numa instância que eu não previa.
Dizemos para as pessoas que é um processo, que o processo é o mais importante e
estar num grupo de pessoas com diferentes concepções é difícil, tem coisas que nos
afinam. O desafio primeiro é olhar para o grupo de DIPED e dos CPs e identificar o
que nos afinam, pois tem muitas coisas que nos desafinam. A autonomia do grupo é
importante e deu para construir nesses anos, não sou centralizadora. As pessoas
tem toda competência e liberdade de caminhar dentro das diretrizes da gestão. Na
formação de polo, por exemplo, cada encontro tinha um grupo que fazia formação,
num momento foi NAAPA, no outro NAAPA e DIPED, em outro CEFAI. Muito bom
perceber que as pessoas tem o que dizer e deixar elas dizerem.
Houve parcerias?
Tivemos vários momentos que conseguimos que professores universitários
participassem de uma formação dialogada. Por exemplo, o Núcleo Étnico-racial da
SME foi um grande parceiro nosso e das escolas, muitas vezes eles iam direto na
escola para uma oficina ou curso. EJA teve muitas parcerias com círculos de cultura,
quando o escritor Sérgio Vaz vem é porque ele acredita na força da resistência da
periferia. Muitos saraus como parte da formação e as escolas estão fazendo seus
saraus.
Considerações finais?
Essa é uma rede que me fez crescer muito como profissional. Depois de me
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formar levei 20 anos para voltar para a Academia, mas o que aprendi em Educação
foi nessa rede. Claro que por ser desse território, ter participação política e nos
movimentos sociais me faz abrir os olhos para essas questões e buscar formação
para melhoria da escola pública. Há investimento público em formação de professor
e as escolas municipais tem recursos e grande autonomia.
Percebi nesse processo de formação como tem gente boa nessa rede. Gente
comprometida com a educação pública e com formação em Mestrado, Doutorado,
especializações.
Nome: Milena Marques Micossi
Data: 23/11/2016
Qual sua formação?
Primeiro fiz Magistério e depois Pedagogia na UNICID, sou pedagoga. Pós-
graduação em Gestão, porque passei como CP e não me sentia preparada. Estou
cursando uma pós na UFSCAR e o Mestrado na PUC sobre Formação de
Formadores. É revelador, pois consegue teorizar algumas suposições que você tem
na prática, dá a nomenclatura e mostra o que vem de cada autor, de cada corrente.
sempre estar renovando a prática dele ou pelo menos reavaliando. Porque se não
conseguimos afetar esse professor ele “endurece” e podemos falar o que for, mas
ele não dará ouvidos.
Há diferença na formação dos professores do Ciclo de Alfabetização para o
Ciclo Interdisciplinar. Tenho que ter uma abordagem diferenciada, foco diferenciado
e uma forma que consiga afetá-los. O CP sempre tem que ter o olhar atento e a
escuta acessível.
Uma formação não é matriz para vários grupos. Cada grupo é um grupo.
Tenho que conhecer as especificidades, trajetórias, perguntar para o professor o que
ele acha e não desprezar a bagagem que ele trás.
sei, mas eu tinha que entregar. Muitos CPs tiveram essa vivência como obrigação,
como papelada, por isso acho que temos o que temos hoje. Quando chegou essa
gestão: “Vocês vão construir juntos. Não é o CP que vai impor, é o grupo que vai
discutir um instrumento de avaliação próprio, estratégias próprias.” Eu impactei. Meu
Deus do Céu! Cada um vai fazer o que quiser e isso vai virar um pandemônio. Mas
começamos a perceber que precisamos ter essa autonomia senão não é gestão
democrática. Tem que ser uma gestão democrática consciente do meu papel e
muitos colegas não tem a clareza da função do que é um CP dentro da escola. Não
é alguém que tem que agir na urgência e na incerteza, apagar incêndio, abrir portão.
Brinco dizendo que isso não é pastelaria. Tem horário para atender os pais e se ele
estiver trabalhando já peço o telefone e converso com ele.
Considerações finais?
166
optativo aos sábados sobre a docência dos bebês. Houve um elo entre os dois
cursos, uma contava sobre o que tinha visto no sábado, a outra sobre o currículo
integrador.
Houve alguma vez que você foi apresentar e alguma professora tivesse se
apropriado desse material?
Não.
Não dava para vir diretora e CP na formação juntas, com o assistente de direção
podíamos participar da formação. Ela também teve o espaço de formação dela e
também participamos juntas de cursos optativos de formação. Aprendemos juntas e
levamos a discussão para a unidade juntas, para não parecer que é coisa só da
cabeça da CP.
Considerações finais?
Tenho muito orgulho de fazer parte da educação pública, era um desejo, um
sonho meu como profissional da educação. Antes atuava numa instituição privada e
chegou um momento que não me sentia realizada. Vejo uma qualidade muito grande
na educação pública e no CEI onde atuo. Falo com muito orgulho.
Precisa ter uma valorização maior da professora de educação infantil. Ainda
tem essa preocupação dos governos com o índice, com a avaliação externa e isso
você não vai enxergar na educação infantil. Há muito processo, mas resultado em si,
em números não, é um resultado qualitativo.
Não tenho respostas absolutas. É bom quando o formador tem clareza do que
se quer como projeto na unidade. Essa clareza nos dá segurança em momentos de
transição. Porque senão é assim: agora para com tudo, currículo integrador não vale
mais e vai valer esse.
consegui pouca coisa. Recentemente vemos o Currículo Integrador que traz de novo
essa proposta à tona, de integração entre as diferentes idades, em ciclos de
aprendizagem. Mais ou menos o que a Cida Perez trouxe na proposta do CEU.
colocava ela no centro da escola, no centro da atenção. Tudo que é feito é feito para
essa criança. Qual o principal ator da escola? A criança. A formação da DRE nesse
ano foi voltada para se pensar quem é essa criança, quem é esse sujeito que está
dentro da escola e quais seus direitos. Foi ao encontro do que discutíamos desde o
ano passado, tempos e espaços, tempos ociosos, espaços que não eram pensados
para o brincar. Só veio a acrescentar.
Está aquém porque deveria ser em todos os dias a escuta? Que escuta é
essa? Quando a criança está brincando? Quando monta a rotina? Ou é escuta
quando eu entendo que aquela criança que não fala está se expressando com o
corpo? São vários tipos de escuta. Deveria acontecer diariamente, mas foi um
pontapé inicial que incomodou essa professora. Incomodou quando? Lá na
formação.
Esses dias elas estavam arrumando os armários e não tinham ainda se
desapegado do stencil. Uma coisa pequena que faz a diferença. Disseram: “Tantos
anos que não uso e depois da formação não consigo mais.” Você vê que realmente
muda essa prática. Na limpeza dos armários jogaram fora.
Os trabalhos das exposições mudaram muito, não tem nada igual. É
valorizado aquilo que a criança faz. Discutimos isso muito. Como vou valorizar uma
criança se na hora de expor o trabalho dela dou meu toque final? Que exposição é
essa? Que olhar? Que belo é esse? Que obras são essas que ensino as crianças a
apreciar se eu não aprecio o que eles produzem? Nossas discussões foram muito
voltadas para as práticas, de olhar para essa criança e valorizar o que ela produz.
Vamos ampliar? Sim, vamos oferecer uma gama maior de ofertas de cultura, de
educação, para essa criança que talvez não tenha acesso com a família. Mas vamos
valorizar e priorizar aquilo que ele tem.
Sei que a unidade trabalha com a temática dos Direitos Humanos. Gostaria de
falar sobre isso ou alguma outra temática que ficou marcada?
O trabalho com Direitos Humanos se iniciou no ano passado, no começo
desse ano ampliamos e demos uma modificada no projeto. O que tínhamos como
temática era olhar para essa criança como um sujeito de direitos. Que direitos são
esses? Quando pensamos um trabalho nessa perspectiva dos direitos humanos
consideramos essa criança, esse ser integral.
Algo que incomodava muito era que nem a comunidade, nem as crianças,
reconheciam essa escola. Agregamos ao trabalho que tínhamos sobre dez direitos
das crianças, cada sala expunha um direito, fazíamos a exposição e discussão com
essas crianças. Resolvemos atrelar ao Manoel. Quem foi Manoel Fiel Filho? As
crianças reconheciam essa pessoa? Para ressignificar o nome da escola atrelamos
aos direitos humanos. Estudamos quem foi o Manoel junto com as crianças.
Fizemos o trabalho que você veio colaborar, junto aos pais, com a parte teórica e
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histórica sobre o que aconteceu na Ditadura. Esse trabalho chegou nas casas,
porque tivemos retorno de mães que ligavam aqui falando: “Olha, meu filho está
falando que foi uma pessoa e que morreu. O que vocês estão falando aí na escola?”
Achamos importante conversar com essas famílias porque não chamavam a escola
de EMEI Manoel Fiel Filho, chamavam a escola de prezinho, a escolinha do lado do
posto. O retorno foi muito gostoso, começaram a falar que conheciam o Manoel, que
tinha tal profissão: “Olha meu pai também é”. Levamos para as crianças uma
linguagem mais tranquila, não abordamos uma questão histórica muito forte com
elas, mas trouxemos o aporte histórico. Mães vieram falar:” Meu filho lá do
Fundamental não sabe isso que aconteceu na Ditadura e o meu pequeno sabe.”
criança escolhe o horário que vai comer. Se ela está com fome pode descer, se quer
terminar a atividade pode terminar.
Acabamos estabelecendo que pelo tamanho do refeitório podíamos receber
cinco crianças de cada sala. Mudou a estrutura. Os professores sentavam em roda
de conversa com as crianças e todo dia é passado o prato, a merendeira subia com
o prato montado e informava qual a refeição do dia. Após os cinco primeiros não tem
mais controle. Montamos crachás de cores por sala, cada sala tem uma cor e cinco
crachás. Essa roda de conversa era para estabelecer os combinados. Falar que: “a
atividade que a professora está dando vai continuar até o horário de ir embora, o
almoço vai até tal hora, você podem descer e almoçar ou então terminar a atividade.
Ou parar a atividade, sua brincadeira ou o que estiver sendo desenvolvido e ir lá
almoçar para depois voltar e terminar.” Essa conversa era feita com as crianças e
informando também da importância da alimentação, do que há ali para sua nutrição.
Uma coisa devia ser atrelada a outra, senão iam optar sempre por brincar. Temos o
sistema self service, os cinco primeiros se serviam e ao terminar de almoçar não tem
mais aquele tempo de espera que em salas fechadas tinha. Vinte minutos para
almoçar... quem comeu bem, quem não comeu sobe mesmo assim. Ou quem comeu
em cinco minutos espera aquele que demora vinte, sentado e em silêncio. Isso
acabou. A criança termina de comer e pega sua sobremesa. A criança que só quer a
sobremesa tem a mesma disponibilidade. Há a escolha, com essa mudança na
refeição a gente tinha criança que descia e comia o arroz, e depois o feijão, depois a
mistura e depois a sobremesa. Entendemos que de fato conseguimos escutar essa
criança, ela parou de ter esse tempo de espera e a refeição ficou agradável,
tranquila, silenciosa. As crianças descem, se alimentam e sobem sozinhas.
O que era oferecido continua sendo oferecido. Se era horário de parque,
continua. Ela sabe que pode ir comer e depois terminar a brincadeira. Algumas
crianças iam almoçar com fantasia da brinquedoteca e depois voltavam.
Considerações finais?
Gostaria de enfatizar essa questão da formação. Não deveríamos abrir mão
de um profissional em jornada integral. Não 40h dentro de uma sala de aula, o
professor precisa de um aporte teórico. A reflexão sobre a prática aprimora o dia a
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dia e o percurso desse profissional na Rede. As autoridades têm que pensar nesse
período de dedicação integral desse profissional. A teoria tem que ser ligada a
prática e tem que ser para todos.