História Das Ideias Psicológicas 2019 - 2 - Uni 01

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História das

Ideias Psicológicas
HISTÓRIA DAS IDEIAS
PSICOLÓGICAS
Autoria
Joyce Hilario Maranhão
Expediente
Reitor: Ficha Técnica
Prof. Cláudio Ferreira Bastos Supervisão de produção NEAD:
Francisco Cleuson do Nascimento Alves
Pró-reitor administrativo financeiro:
Autoria:
Prof. Rafael Rabelo Bastos
Joyce Hilario Maranhão
Pró-reitor de relações institucionais:
Design instrucional:
Prof. Cláudio Rabelo Bastos
João Paulo S. Correia
Diretor de operações Projeto gráfico e diagramação:
Prof. José Pereira de Oliveira Francisco Erbínio Alves Rodrigues
Coordenação pedagógica: Capa e tratamento de imagens:
Profa. Maria Alice Duarte G. Soares Francisco Erbínio Alves Rodrigues
Coordenação NEAD: Revisão textual:
Profa. Luciana R. Ramos Duarte Karen Bomfim Hyppolito

Ficha Catalográfica
Catalogação na Publicação
Biblioteca Centro Universitário Ateneu

MARANHÃO, Joyce Hilario. História das ideias psicológicas. / Joyce Hilario Maranhão.–
Fortaleza: Centro Universitário Ateneu, 2019.

90 p.

ISBN:

1. Raiz filosófica da psicologia. 2. Raiz científica. 3. Processos mentais. 4. Escolas


Psicológicas. I. Centro Universitário Ateneu. II. Título.

Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação pode ser reproduzida, total ou
parcialmente, por quaisquer métodos ou processos, sejam eles eletrônicos, mecânicos, de cópia
fotostática ou outros, sem a autorização escrita do possuidor da propriedade literária. Os pedi-
dos para tal autorização, especificando a extensão do que se deseja reproduzir e o seu objetivo,
deverão ser dirigidos à Reitoria.
SEJA BEM-VINDO!

Prezado(a) estudante, é com imensa satisfação que apresen-


to o material didático de extensão direcionado aos estudantes de
nível superior. Ao ler e estudar por este material, você fará uma
imersão na história das ideias da Psicologia, ampliando sua com-
preensão sobre o contexto histórico e social da origem dessa pro-
fissão e sua fundamentação filosófica e científica.

O material está dividido em quatro capítulos que apresentam


como questões sobre a visão de homem e de mundo na história
da humanidade influenciou na constituição da Psicologia enquanto
ciência do comportamento. Estes capítulos se subdividem em te-
máticas que facilitarão na compreensão da teoria, metodologia e
prática da Psicologia e das escolas psicológicas e suas aplicações.

Sabemos da impossibilidade de findar todo o assunto nesta


produção. Desse modo, você deverá pesquisar em outras fontes
para que possa aprofundar seu conhecimento e estar sempre atua-
lizado(a) sobre os temas estudados aqui.

A partir da leitura dos conteúdos e da realização dos exercí-


cios, você estará apto(a) a se submeter à avaliação do curso.

Bons estudos!
SUMÁRIO
RAIZ FILOSÓFICA DA PSICOLOGIA

01
1. Preâmbulo............................................................................8
2. O legado grego............................................................... 10
3. Período Teocêntrico.................................................... 23

RAIZ CIENTÍFICA DA PSICOLOGIA

02
1. Preâmbulo.........................................................................30
2. Correntes filosóficas modernas................................31
3. Nascimento da Psicologia......................................... 38

ESTUDO DOS PROCESSOS


MENTAIS SUPERIORES
1. Cognição............................................................................ 48

03
2. Atenção .............................................................................49
3. Percepção...........................................................................51
4. Memória.............................................................................. 54
5. Emoção............................................................................... 58
6. Inteligência........................................................................60

ESCOLAS PSICOLÓGICAS
1. Estruturalismo ................................................................ 68

04
2. Funcionalismo ................................................................ 70
3. Behaviorismo....................................................................72
4. Gestalt .................................................................................77
5. Psicanálise.........................................................................80
Referências............................................................................ 88
Joyce Hilario Maranhão

Unidade

01 Raiz Filosófica da Psicologia

Apresentação

Nesta unidade, você será capaz de compreender, de


forma clara e concisa, os conceitos acerca da história das
ideias da psicologia. Estará apto a conhecer etapa do plane-
jamento, incluindo cuidados para uma abordagem inicial de
forma adequada, desenvolvendo suas competências, papéis
e responsabilidades com respeito à ética e adquirindo habili-
dades em gerais.
O objetivo geral desta unidade curricular é prepará-lo
para lidar com diversas situações que requeiram um trabalho
mais especializado de análise e revisões de práticas em histó-
ria das ideias da psicologia.
Sendo assim, você verá conceitos, históricos da psico-
logia; conhecerá os diferentes subsistemas de recursos hu-
manos e a importância da ética para os profissionais da área.
Bons estudos.
• Compreender as contribuições da
Cosmologia para a psicologia;

Objetivo de • Discutir as contribuições do pensamento


Aprendizagem Antropocêntrico grego para a psicologia;

• Explicar a relação entre o antropocentrismo


e a psicologia

1. Preâmbulo
A psicologia é uma ciência independente que estuda a subje-
tividade e o comportamento humano, a partir de um conjunto de
teorias e métodos de pesquisa e práticas de intervenção que visam
criar processos de conhecimento e modificação do homem.

A história da humanidade está marcada pela busca da ori-


gem do homem e do mundo tanto pelo viés biológico quanto
filosófica que nos ajudam a compreender como nos tornamos
seres racionais e construímos nossas culturas, crenças e valores
e nos organizamos em sociedade.

A teoria da evolução da espécie humana de Darwin modifi-


cou o modo como a ciência percebe a origem, desenvolvimento
e organização social do homem. Antes da Idade Moderna os ho-
mens acreditavam na teoria criacionista, isto é, de que um deus
criou o universo. O pensamento criacionista era a explicação so-
berana sobre a gênese da humanidade desde a Antiguidade até
a Idade Média, assim, a preocupação com aspectos subjetivos
era desvalorizada e escassa.
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Figura 1 – A evolução biológica é parte integral da compreensão
moderna sobre a humanidade

Fonte: https://bit.ly/2qViV60

Charles Robert Darwin (1809-1882) foi um natu-


ralista inglês que se dedicou ao estudo da origem das
espécies. No livro “A origem das espécies por meio da
seleção natural, ou a preservação das raças favorecidas Curiosidade

na luta pela vida” Darwin defende a ideia de em todas


as espécies a evolução ocorre a partir de um ancestral
comum, embora os indivíduos do mesmo grupo possu-
am variações entre si. Diante da escassez dos recursos
naturais há uma seleção natural daqueles indivíduos
mais adaptados ao ambiente.

Nos últimos séculos, no entanto, um significativo conjunto


de amplos eventos e mudanças contribuiu para que esse quadro
mudasse. O advento de uma nova forma de organização social
na Idade Moderna, ocasionado pelo enfraquecimento político e
posterior decaída dos reis; a perda do prestígio e influência da
Igreja Católica sob o modo de vida do homem; a crescente as-
censão da burguesia com seus princípios de individualidade e
HISTÓRIA DAS IDEIAS PSICOLÓGICAS | 9
livre troca de bens de consumos... todos esses processos modi-
ficaram os valores e crenças em relação ao ser no mundo e as
relações interpessoais entre os homens.

Essa modificação de perspectiva sobre a natureza do ho-


mem e suas relações com o ambiente que o circunda permitiu a
elevação da ciência como meio de conhecer e dominar o próprio
homem e a natureza. O forjar de uma visão de homem com pen-
samentos, sentimentos e crenças individuais e não mais subme-
tido aos valores grupais, o que permitiu o resgate da preocupa-
ção grega com a subjetividade humana.

2. O legado grego
Os gregos são a referência do mundo ocidental para a fi-
losofia e as ciências em geral. Na Grécia antiga viveram filósofos
que pensavam sobre questões relacionadas à origem do universo,
natureza, psique humana, saúde, matemática, política e cidadania,
dentre outros questionamentos sobre a organização da vida huma-
na e assim produziram várias teorias que explicavam a gênese do
homem e do mundo. Essas ideias foram tão importantes que conti-
nuam válidas e influentes na contemporaneidade.

Para melhor compreensão pedagógica, dividimos a história


da filosofia grega em dois períodos: Cosmológico e Antropocên-
trico, de acordo com as ideias elaboradas por filósofos como Tales
de Mileto, Pitágoras, Sócrates, Platão e Aristóteles.

Lembre que antes da filosofia, os gregos explicavam a


existência da humanidade e das outras coisas do mundo atra-
vés dos mitos sobre os grandes feitos dos homens sob a pro-
teção dos deuses, como por exemplo: o domínio do fogo, as
doenças e suas respectivas curas, as conquistas das guerras,
dentre outros. O pensamento filosófico transformou o modo de
observar e explicar desde as coisas mais cotidianas da organi-
zação política dos cidadãos gregos até questões mais comple-
xas como a existência de outros planetas.
10 | HISTÓRIA DAS IDEIAS PSICOLÓGICAS
A história grega sobre a origem dos deuses
conta que existia o titã Cronos, representante do
tempo, filho mais novo dos titãs Urano e Gaia símbo-
los do céu e terra respectivamente. Urano foi destitu- Curiosidade
ído do poder por Cronos que assumiu o poder. Com
medo de ser destituído do poder, Cronos assassinava
seus filhos deuses, Zeus foi quem destituiu o pai tor-
nando-se o líder dos Olímpo. Assim como os titãs,
cada deus representava algum elemento da natureza
(sol, lua, chuva, oceano, dentre outros) ou caracterís-
tica humana (sabedoria, bondade, etc.)

Figura 2 – Cronos e seu filho

Fonte: https://bit.ly/2sHklSg

2.1. Período Cosmológico


Os filósofos adeptos da Cosmologia buscavam compreender
e explicar o cosmo, saber que tipo de matéria constituía os astros
e os seres da Terra, a origem e as leis que regiam o universo sem
recorrer à mitologia. Assim, formularam algumas teorias, a partir de
estudos e reflexões sobre a origem do mundo e do homem.
HISTÓRIA DAS IDEIAS PSICOLÓGICAS | 11
Para alguns filósofos existiria uma unidade simples que com-
põe tudo o que há no universo e na terra, por isso teoria é conheci-
da como Elementarista, pois há um elemento que é a base para a
existência de outros objetos.

Outra teoria é o Atomismo, representado pelo filósofo De-


mócrito, em que se acredita na pré-existência da matéria. Para
os filósofos existiriam átomos materiais indivisíveis, distintos em
tamanho, forma, ordem e posição que ao se combinarem podem
formar inúmeros e diferentes objetos, por exemplo: estrelas, pla-
netas, animais, homens, etc.

As teorias da Cosmologia se complementavam, pois ao con-


siderar a existência de uma matéria pré-existente, que este único
elemento é base de todos os objetos do universo e a combinação
de várias unidades desse elemento forma objetos variados, os fi-
lósofos chegaram à conclusão de que tanto o corpo como a alma
eram feitos da mesma matéria e formavam uma única unidade,
criando uma concepção Monista sobre o homem.

Você deve estar se perguntando como esses conhecimentos


filosóficos de um tempo tão distante ajudaram o homem a enten-
der sua origem e como somos capazes de criar culturas, valores
e crenças para viver em sociedade. Você terá a oportunidade de
estudar um pouco da filosofia grega e fazer a interlocução com o
saber produzido pela psicologia.

Na psicologia há várias palavras oriundas


do conhecimento grego, por exemplo: arquétipo,
eros, tanato, dentre outras. Essas palavras ganham
Curiosidade novo sentido dentro do arcabouço teórico de cada
abordagem psicológica. A própria psicologia é a
junção de duas palavras gregas, psyché e logos, que
significam estudo da alma.

12 | HISTÓRIA DAS IDEIAS PSICOLÓGICAS


Foi o estudo do cosmos pelos filósofos gregos que propor-
cionou uma série de conhecimentos que nos fez evoluir em nosso
conhecimento filosófico e científico. Você vai conhecer algumas
contribuições dos filósofos gregos para a história da sociedade oci-
dental e como suas teorias influenciaram a Psicologia.

• Tales de Mileto
Figura 3 - Tales de Mileto

Fonte: https://bit.ly/2KnSxco

Tales viveu por volta do século VI a.C. na cidade-estado gre-


ga chamada Mileto, sendo apontado como a primeira pessoa que
tentou explicar os eventos naturais em função de outros eventos
naturais. Por exemplo: explicar com se formam os ventos, de acor-
do com o esfriamento ou aquecimento do ar, umidade e altitude
dentre outros fatores. Antes desse pensamento filosófico, os ven-
tos e as mudanças climáticas eram explicados por meio de uma
força divina diante da ira ou da benevolência dos deuses.

Para este filósofo a água era o elemento natural que formava


todos os outros elementos do mundo, considerando-a uma unidade
simples e passível de observar sua transformação para o estado lí-
quido, sólido e gasoso. A partir dos estudos sobre a água e sua ca-
pacidade de se transformar sem perder suas propriedades que Tales
de Mileto preocupou-se com o estudo do movimento e transforma-
ção dos objetos de um elemento simples para outro mais complexo.
HISTÓRIA DAS IDEIAS PSICOLÓGICAS | 13
O salto qualitativo do pensamento de Tales de Mileto pro-
porcionou o abandono da mitologia grega como principal expli-
cação para os eventos da natureza e da própria vida humana e a
adoção de uma ideia filosófica que serve de apoio para a ciência
nos dias atuais: os eventos naturais devem ser explicados por meio
de outros eventos naturais.

Da mesma forma que Tales de Mileto, outros filósofos gregos


explicaram a origem da matéria a partir de um único elemento, al-
guns apontavam que essa unidade era o fogo, enquanto outros que
defendiam que era o ar e alguns afirmavam que essa unidade era
uma partícula indefinida denominada átomo.

• Heráclito de Éfeso
Figura 4 – Heráclito de Éfeso

Fonte: https://bit.ly/2ZLUXaf

O filósofo Heráclito de Éfeso viveu por volta de 535.a.C a


475 a.C., preocupava-se com o estudo do processo e dinâmica dos
objetos. Ele se dedicou ao estudo do fogo por acreditar que este
elemento constituía tudo do mundo que nos circunda. Heráclito
considerava o fogo como um agente de mudança, assim, já que o
fogo estava na origem de outros elementos, ele chegou à conclu-
são de que tudo flui como o fogo.
14 | HISTÓRIA DAS IDEIAS PSICOLÓGICAS
Esse filósofo é conhecido como pai da dialética devido à cé-
lebre frase: “Não se pode banhar-se duas vezes no mesmo rio”, há
varias versões dessa mesma frase, mas o importante é que você sai-
ba que o objetivo de Heráclito era explicar que tudo sempre muda/
flui, assim, nós e a natureza ao nosso redor não estamos inertes.

Na dialética há uma oposição entre os conceitos e ao mesmo


tempo há uma harmonia entre os opostos, isto é, há uma interde-
pendência entre os contrários (um não existe sem o outro) e a per-
cepção de cada conceito depende do ângulo do observador, deste
modo, para que haja o frio precisa-se da existência do calor, para que
saibamos o que é a saciedade precisamos sentir a fome, para concei-
tuarmos o que é bom precisamos determinar o que é ruim.

Essa dualidade dos conceitos no pensamento dialético de He-


ráclito influenciou psicologia e as ciências humanas e sociais de tal
forma que ao analisarmos qualquer dado histórico, cultural e social e a
constituição subjetiva do homem precisamos considerar todos os as-
pectos envolvidos e compreender que não há uma verdade totalitária.

Dialética é o filosofar, debater, argumentar sobre


ideias contrários para se chegar a um consenso. Depois
desse conceito criado por Heráclito outros filósofos se
Fique
debruçaram sobre esse conceito e por vezes o modifi- Atento

caram, a exemplo de Platão, Hegel e Marx.

• Pitágoras de Samos
Pitágoras, ao contrário de Tales de Mileto e Heráclito de Éfeso,
buscou nos princípios matemáticos uma ordem universal e perma-
nente que regia o mundo. Para este matemático e filósofo “todas as
coisas são números”, isto porque a atemporalidade e imobilidade
dos números permitem quantificar tudo que existe, inclusive as re-
lações humanas e a educação do homem.
HISTÓRIA DAS IDEIAS PSICOLÓGICAS | 15
Figura 5 – Pitágoras de Samos

Fonte: https://bit.ly/2KqyRoo

Sua fama e maiores contribuições para a contemporaneidade


vêm dos seus estudos nas áreas da matemática e astronomia, em-
bora tenha contribuído para a filosofia, medicina e música. Em sua
teoria filosófica há uma harmonia entre os elementos, para ele cor-
po e alma, família e Estado são uma mesma unidade, continuando a
tradição da escola monista já iniciada por Tales e Heráclito.

Os filósofos gregos citados até aqui são considerados segui-


dores do monismo, pois acreditavam na possibilidade de encontrar
um elemento básico que originava todos os outros elementos do
mundo, para Tales era a água, Heráclito o fogo e Pitágoras o número.

No monismo tem-se a ideia de que corpo e men-


te é uma única unidade. Na Idade Moderna, há uma se-
paração ideal entre a mente e o corpo instituída pelo
método positivista. De acordo com Figueiredo (2008),
o dualismo considera a mente livre das influências ex-
ternas e o corpo determinado pela natureza e pelos
condicionamentos sociais precisando ser controlado. O
antagonismo entre monismo e dualismo é uma ques-
tão central para as teorias psicológicas.

Representando a escola pluralista apresentamos os filósofos


Anaxágoras e Demócrito. Esses filósofos estão próximos por acredita-
rem que o universo é formado por vários elementos e ao mesmo tempo
16 | HISTÓRIA DAS IDEIAS PSICOLÓGICAS
se distinguem, pois para Anaxágoras esses elementos são qualitativa-
mente distintos enquanto para Demócrito essa diferença não existe.

• Anaxágoras de Clazômenas
Em Anaxágoras há a existência de uma diversidade de ele-
mentos chamados de homeomerias. Essas unidades são distintas
em formas, tamanhos e posição e se combinam por meio de um ato
da razão divina para criar as coisas e seres do mundo.

Figura 6 – Anaxágoras de Clazômenas

Fonte: https://bit.ly/2Tjc8NG

Para Anaxágoras “tudo está em tudo”, pois em cada objeto há


uma parte de todos os outros objetos. Sua contribuição para a psico-
logia está na compreensão que a disposição e ordem dos elementos
para formar o todo é mais importante do que cada elemento sozinho.

A Escola da Gestalt sofreu grande influência do pensamento


de Anaxágoras, com o estudo da percepção visual do movimen-
to de objetos, com formas distintas, cor e luminosidade diferentes,
essa corrente psicológica pode comprovar através de experimen-
tos que a percepção é um fenômeno total, que unifica o processo
fisiológico e psicológico e não pode ser considerado a soma de
elementos ou de sensações isoladas.

Posteriormente, os estudiosos dessa escola se dedicaram ao


estudo de outros fenômenos psicológicos, tais como: aprendiza-
gem, memória e reações motoras sob a perspectiva biológica a,
HISTÓRIA DAS IDEIAS PSICOLÓGICAS | 17
fisiológica e física que comprovavam a crença na unidade do uni-
verso e sustentar esta ideia como princípio universal para o estudo
dos fenômenos psíquicos.

Perceba que os conhecimentos produzidos pelo povo grego


foram importantes em diversos campos: arte, política, ciência huma-
nas, sociais, biológicas, dentre outros. Com recursos tecnológicos li-
mitados e iniciando a construção de um saber científico conseguiram
dar pistas sobre a constituição da natureza do homem e do universo.

• Demócrito de Abdera
Em Demócrito há a ideia de que o universo é composto por áto-
mos, sendo ele considerado o primeiro atomista da história. Os átomos
eram matérias indivisíveis que se distinguiam pela forma, ordem, tama-
nho e posição, se moviam constantemente e em várias direções. Demó-
crito acreditava que havia átomos na constituição do corpo e da alma.

Apesar de na modernidade ter se compro-


vado que o átomo é divisível, já que possui elé-
trons, prótons e nêutrons, Demócrito estava cor-
Curiosidade reto ao postular que os átomos estão na base de
tudo que existe na natureza.

Figura 7 – Demócrito de Abdera

Fonte: https://bit.ly/2MgqYUT

18 | HISTÓRIA DAS IDEIAS PSICOLÓGICAS


Em relação às contribuições para a psicologia, Demócrito afir-
mava que os pensamentos e os acontecimentos da vida eram deter-
minados por agentes externos, uma visão considerada determinista.

A Escola Behaviorista foi bastante influenciada por sua visão


estática e predeterminada do mundo e da sociedade, assim, a de-
terminação ambiental se sobrepõe ao livre arbítrio do ser huma-
no. Os pensamentos de Demócrito também influenciaram a teoria
da percepção da Escola da Gestalt ao postular que átomos muito
pequenos representam as imagens das coisas nos nossos órgãos
sensoriais, isto é, vários átomos pequenos são percebidos de forma
a constituir uma imagem total do objeto.

2.2. Período Antropocêntrico


O período final da Filosofia Grega é marcado pela forte influ-
ência de Sócrates, Platão e Aristóteles. Há um salto qualitativo no
conhecimento dos sofistas, que deixaram de estudam o cosmos e
passaram a se preocupar com a humanidade em si mesma.

Esse período é conhecido como antropocêntrico justamente por


colocar o homem como centro dos questionamentos, se interessando
pelos problemas humanos de ordem psicológica, a exemplo das per-
guntas: Como nos conhecemos? Como podemos nos conhecer?

Sócrates e Platão se interessavam pela natureza do homem, tra-


zendo para o centro das reflexões filosóficas inúmeras questões psicoló-
gicas. A explicação do indivíduo se dava pelo viés moralista e ético, não
cientificista, mas foi relevante como um primeiro impulso para a consti-
tuição da psicologia enquanto ciência na segunda metade do século XIX.

Os filósofos do século VI a.C. até o século IV são


conhecidos como sofistas por não seguirem os ensina-
mentos de Socrátes.
Curiosidade

HISTÓRIA DAS IDEIAS PSICOLÓGICAS | 19


• Sócrates
Há uma preocupação em formar cidadãos críticos, buscan-
do soluções racionais para os problemas humanos e o autoconhe-
cimento. Para Sócrates o único conhecimento que podia ser obtido
era o do próprio eu e nunca saberemos se conhecemos verdadeira-
mente alguma coisa. Sua celebre frase “só sei que nada sei” resume
essa sua ideia de que não podemos ter certeza de que compreen-
demos alguma coisa sobre o mundo.

Figura 8 – Sócrates

Fonte: https://bit.ly/2KpdKCP

O método maiêutico de Sócrates se configura como o ques-


tionamento lógico de uma situação particular e a posterior gene-
ralização dos conceitos oriundos desse caso específico. A peda-
gogia do diálogo crítico é o meio para a descoberta da essência
das coisas, ao nos questionarmos criticamente de uma situação
vivenciada, podemos chegar a conclusões generalizáveis para ou-
tros momentos da nossa vida.

Ao longo de nossa vida somos estimulados pelo grupo social


no qual convivemos a ter um determinado comportamento. Ao nos
questionarmos se esse comportamento é adequado para nós ou não
estamos refletindo sobre nossa cultura e organização social, podendo
continuar a nos comportar da forma que a sociedade nos demanda ou
criar novos comportamentos. Sócrates era um questionador das tra-
dições e cultura de sua época, seu pensamento crítico com certeza é
uma influência para o modo de pensar e agir da sociedade ocidental.
20 | HISTÓRIA DAS IDEIAS PSICOLÓGICAS
• Platão
Figura 9 – Platão

Fonte: https://bit.ly/33rFlLo

Platão acredita na existência de um mundo das ideias que


justifica o mundo real. Para ele o conhecimento adquirido por
meio dos sentidos é imperfeito, somos enganados pelas nossas
sensações. O mundo da ideias é perfeito, ideal, imutável, externo
ao homem e independente. As ideias do mundo ideal são inatas
ao homem, que as acessa através da contemplação pela alma
antes de encarnar no corpo.

O idealismo e inativismo de Platão traz uma visão dualista


do homem, uma vez que há a separação entre a mente, conside-
rada imaterial, imortal, bela e boa, e o corpo tido como concreto,
mortal e imperfeito. Essa é uma visão fragmentada do ser huma-
no e a utilização desse conceito por algumas teorias psicológicas
para fundamentar sua visão de homem e de mundo gera muitas
controvérsias na Psicologia.

A união da alma ao corpo se dá com as necessidades cor-


póreas, afetos, impulsos, emoções e razão. Platão propunha uma
educação liberal, democráticas e de oportunidade a todos, porém
os homens deveriam ser divididos por meio do reconhecimento de
suas diferenças individuais e de suas inclinações. Os homens que
eram movidos pelas necessidades corpóreas seriam os servos e es-
HISTÓRIA DAS IDEIAS PSICOLÓGICAS | 21
cravos, sendo os de menos valia para a sociedade; já os que eram
movidos pelas emoções serviam para a função de soldados, pois
na guerra o combate exigia a impulsividade e o sentimento de pro-
teção da pólis; enquanto que os homens inteligentes e de vontade
livre eram considerados os cidadãos.

• Aristóteles
Aristóteles é conhecido pela trilogia “De Anima”, onde cons-
trói uma doutrina sistemática dos fenômenos da vida psíquica. Aris-
tóteles acreditava que as ideias e consequentemente a alma seriam
independentes do tempo, do espaço, da matéria, portanto imortais.

Perceba que apesar de considerar a alma um in-


telecto ativo, corpo e mente são indivisíveis e Aristóte-
Fique les acreditava no inativismo e idealismo como Platão.
Atento

De acordo com Freire (2004), Aristóteles inaugurou o méto-


do da observação como meio para chegar à explicação dos even-
tos naturais, o que chamamos de empirismo. Para ele todo conhe-
cimento ocorre por meio da estimulação dos órgãos dos sentidos
que ao serem estimulados provocam reações no homem.

A pedagogia da essência em Aristóteles pressupõe um pro-


cesso introspectivo do conhecimento, deve-se olhar para dentro
a fim de tornar as ideias conscientes. O homem nasce como uma
tabula rasa e ao longo da vida o homem vai buscar a forma de ser
no mundo, ou seja, sua essência.

Além do empirismo e do conceito de ser no mundo absorvi-


do posteriormente pelas correntes filosóficas do empirismo crítico
e da fenomenologia, Aristóteles também contribuiu para o estudo
sistemático pela psicologia dos processos de memória, sensação,
sono e desenvolvimento humano.
22 | HISTÓRIA DAS IDEIAS PSICOLÓGICAS
3. Período Teocêntrico
Após o domínio dos gregos, o império romano conquistou o
lugar de influência política, cultural e econômica na sociedade oci-
dental. O conhecimento produzido pelos filósofos gregos foi adap-
tado para esse novo mundo. Com a derrocada de Roma, a Igreja Ca-
tólica que vinha se fortalecendo como instituição religiosa e política
ascendeu ao lugar de referência de visão de homem e de mundo

A Igreja Católica esteve no cerne do poder político e cultural na


Europa entre os séculos V e XV, concentrado terras, riquezas e prestí-
gio social. Sua hegemonia dogmática transitava entre a organização da
ordem social e a normatização da vida individual, tendo grande influên-
cia na vida cotidiana das pessoas independente da sua origem social.

Conhecida como idade das trevas, a Idade Média também


produziu um vasto conhecimento, apesar de não se interessar pe-
los fenômenos naturais em si e preocupar-se com a salvação da
alma. Deus era o centro do universo, por isso esse período ser
chamado de Teocentrismo, e todas as preocupações do homem
deveriam estar ligadas a sustentação da fé e salvação da alma.

Os intelectuais da Idade Média pertenciam, em


sua maioria, a Igreja Católica e o estudo da filosofia
e da ciência seguiam os dogmas cristãos. Por vezes
adentrar a ordem religiosa foi à única forma encon- Atenção

trada para acessar o conhecimento dos livros produ-


zidos por outras sociedades e que se encontravam
sob o domínio da Igreja Católica.

O primeiro período filosófico da Idade Média é nomeado


como Patrística, existindo durante os séculos I d.C. ao VII d.C., sen-
do seu maior representante o bispo Aurélio Agostinho. Para ele
o mundo foi criado a partir da vontade de uma divindade única e
onipotente: o Deus dos cristãos.
HISTÓRIA DAS IDEIAS PSICOLÓGICAS | 23
Figura 10 – Agostinho

Fonte: https://bit.ly/2M95GZ2

Agostinho estudou a memória, a percepção e os hábitos, po-


rém não dialogou com o conhecimento produzido pelos gregos. Ao
contrário, buscava fundamentação ontológica e lógica para a fé em
Deus, racionalizando o pensamento cristão.

Figura 11 – Tomás de Aquino

Fonte: https://bit.ly/2YAdKc4

Somente nos séculos IX d.C. ao XV d.C. ocorre a retomada


dos princípios filosóficos gregos, principalmente de Aristóte-
les, por Tomás de Aquino. A escola da Escolástica preocupa-se
com as relações corpo-alma e as questões ligadas as diferentes
funções psíquicas, conectando o pensamento cristão aos prin-
cípios filosóficos aristotélicos.
24 | HISTÓRIA DAS IDEIAS PSICOLÓGICAS
Perceba que as ilustrações de Agostinho e Tomás de Aquino
remetem a uma presença divina que os inspira na produção do co-
nhecimento. Não há grandes contribuições da Patrística e Escolásti-
ca para o campo da psicologia, o estudo dessa época é importante
por ser a primeira aproximação da psicologia com a espiritualidade.

Como dito anteriormente, as produções do mun-


do grego são importantes para diversos campos do
conhecimento: filosofia, psicologia, medicina, matemá-
tica, física, arte, direito, dentre outros. O campo da psi- Relembre

cologia foi muito influenciado pelos filósofos defenso-


res tanto da Cosmologia como do Antropocentrismo.

Você pode estar refletindo como o conhecimen-


to da filosofia grega poderá lhe ajudar na formação em
psicologia, de antemão, saiba que as questões sobre a
existência humana e sobre a conduta do homem em
sociedade partiram do pensamento crítico e reflexivo
grego. A sobreposição do caráter filosófico sobre a o
viés sobrenatural da mitologia conferiu uma qualidade
ao pensamento da humanidade.

Além disso, os primeiros estudos acerca da per-


cepção, memória e consciência ocorreram na Grécia
Antiga, sendo a base fundamental de escolas psicoló-
gicas como o Behaviorismo e a Gestalt.

Ainda, questões de antagonismo entre o pensa-


mento racionalista e o empirista, o monismo e o dua-
lismo, o idealismo/inativismo e a ideia de tabula rasa
continuam efervescentes na ciência contemporânea,
permitindo a percepção clara e objetiva do estudo da
raiz filosófica da psicologia.
HISTÓRIA DAS IDEIAS PSICOLÓGICAS | 25
Por fim, apesar do período teocêntrico de não ter
dado tantas contribuições para a psicologia como o perí-
odo grego, o estudo da filosofia de Agostinho e Tomás de
Aquino são relevantes pela aproximação entre a subjetivi-
dade humana e a espiritualidade.

O período filosófico da psicologia também é no-


meado de pré-científico, pois apesar do interesse sobre
a origem do universo e do homem a partir de fenômenos
naturais e da refutação da mitologia, não havia uma preo-
cupação científica em suas explicações.

Pratique
1. Na psicologia atual há um movimento que busca retomar o es-
tudo dos fenômenos metafísicos. No entanto, não se trata do
estudo dos dogmas de nenhuma religião, mas da espiritualida-
de enquanto condição humana. Aproveitando as leituras neste
capítulo sobre os princípios e as escolas filosóficas que influen-
ciaram a Psicologia, você consegue imaginar de que maneira é
possível pensar em espiritualidade sem atrelar esse pensamento
a uma religião em especial?

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ANOTAÇÕES

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