04 CadernoTematico Final

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memorial descritivo da capa

Título: Rio Doce I, II e III (tríptico)


Ano: 2015
Artista: Edileila Portes*
Técnica: Gouache s/papel fabriano
Dimensões: 0,45cm x 1,80cm

A obra faz parte de uma trilogia (“Rio Doce I, II e III”; “Figueira I, II e III” e “Ibituruna
I, II e III”) concebida por ocasião do desmoronamento da barragem da Samarco,
na cidade de Mariana, Minas Gerais, Brasil, em novembro de 2015. Dei à série o
título “Rasgos na Alma: ode ao Vale do Rio Doce” fazendo referência aos sentimen-
tos pelos quais nós, os atingidos/moradores do Vale do Rio Doce, passamos diante
dessa tragédia, numa denúncia poética, expressão permitida pela Arte. Objetiva,
também, fazer uma homenagem ao Vale, focando os sentimentos que os moradores
de Governador Valadares - cidade onde moro atualmente - possuem, representados
metaforicamente nos símbolos presentes na obra e que são carregados de sentidos:
o Rio Doce, a Figueira e a Ibituruna.
Como professora, pesquisadora e artista visual busco com a obra, portanto, ho-
menagear o Vale, sensibilizar os moradores e, ao mesmo tempo, compartilhar os
sentimentos vivenciados a partir do ocorrido, principalmente pelos Borum do Watu,
sociedade nativa que vive num território situado às margens do rio Doce, próximo a
cidade de Resplendor, MG e que vivencia de forma material e simbólica o rio Doce,
o Watu para os Borum. Expresso no “Rio Doce I” um rio que ainda exala vida, re-
presentada nas cores fortes e na presença dos peixes, que também carregam esta
simbologia. Imagem vívida, ainda, na memória dos Borum, segundo relato colhido
durante uma pesquisa etnográfica que fiz no território Krenak. No “Rio Doce II”,
concebida na noite do desmoronamento, trago a minha angústia diante da notícia
que se espalhou de forma contundente: a lama tóxica chega aos borbotões como
“chamas de um dragão”, enquanto os peixes tentam “correr para o mar, em vão”.
No “Rio Doce III”, o rio muda de cor. Torna-se rubro como a lama que chega: é
a hora da sua partida e da morte dos peixes, que emergem agonizantes. Ao fundo
das três obras, sob o olhar impotente da Ibituruna, a Vida se esvai. Aqui, justifico o
título “Rasgos na Alma” uma vez que essa tragédia não rasgou o Vale só no sentido
material, mas a Alma dos entes e seres que nele habitam. O tríptico “Rio Doce I, II
e III” ilustra, juntamente com os outros dois trabalhos já referidos, um livro que leva
o mesmo título: “Rasgos na Alma: ode ao Vale do Rio Doce”. Trata-se de um poema

* Possui graduação em Artes pela Universidade Federal de Minas Gerais, Especialização em Folclore e Cultura Popular e Mestrado em Gestão
Integrada do Território. É Membro Efetivo (Pesquisador) da Comissão Mineira de Folclore (2005) e do Instituto Histórico e Geográfico do Mucuri
(2019). Atuou como professora assistente da Universidade Vale do Rio Doce de 2002 a 2017. Gere o espaço cultural Ateliê Edileila Portes desde
2014, prestando assessoria e consultoria em Arte e Cultura. Tem experiência na área de Artes, com ênfase em Artes Visuais, atuando principal-
mente nas seguintes áreas: desenho, composição e plástica, percepção visual, história da arte, arquitetura e urbanismo, teoria do urbanismo,
cultura, folclore, identidade, território e territorialidades.

CADERNO TEMÁTICO 4
RIO DOCE: NOS FIOS DA ARTE E DA MEMÓRIA / 2
ilustrado, editado pela Editora Atafona, de Belo Horizonte, com a coedição do Ate-
liê Edileila Portes, do qual sou gestora e tem o apoio cultural da Comissão Mineira
de Folclore, onde sou membra efetiva pesquisadora. O conjunto da obra objetiva
propor reflexões sobre o tema, que acreditamos pertinente diante da crise ambiental
vivenciada no Brasil e no mundo. Desde a sua edição, em novembro de 2017, até
o momento, o livro e as obras que o ilustram participaram de um vasto circuito de
exposições e lançamentos - da Universidade de Framingham, nos Estados Unidos
até livrarias em Belo Horizonte, Governador Valadares e São Paulo. Ongs, Institutos,
Escolas, Universidades, Fórum Social Mundial, em Salvador, Feiras internacionais
do livro - São Paulo e Buenos Aires - também fizeram parte do circuito. Em abril de
2018, o livro ilustrado foi contemplado com o selo de “Altamente Recomendável”
pela Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil – FNLIJ.

projeto gráfico, muito além da diagramação

O projeto gráfico elaborado pela Tuia Comunicação para a coleção Conversas com
o rio Doce considerou seu uso como ferramenta de aprendizado, ensino e também
de pesquisa.
Pensando na unidade visual, as obras da artista Edileila Portes da capa, foram o
ponto de partida para criar esse ambiente. As cores foram extraídas das telas. Os
elementos gráficos em destaque no rodapé, e também em alguns tópicos, remetem
às ondas ou movimentos das águas do rio Doce.
A proporção das páginas, o tamanho das fontes utilizadas no texto, bem como a cor,
tanto facilita a leitura em meios eletrônicos como a impressão, visto que o formato
da página (folha A4) é comum em impressoras e fotocopiadoras pequenas, presen-
tes na maioria das escolas. E, sendo nesse formato, sua encadernação torna-se mais
prática para ser utilizada em rodas de conversas e distribuídos entre alunos.
A disposição do texto foi pensada de uma forma fluida, remetendo às curvas do
percurso do rio Doce. Com os recuos de texto e imagens, criam-se também espaços
para anotações complementares de professores e alunos.
Esse projeto aproxima a forma da diagramação do conteúdo dos Cadernos Temáticos
com a intenção de trazer uma experiência de leitura e aprendizado mais agradáveis.

CADERNO TEMÁTICO 4
RIO DOCE: NOS FIOS DA ARTE E DA MEMÓRIA / 3
Todos os direitos reservados. Copyright © 2021 dos autores

Esta coleção foi editorada com financiamento do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tec-
nológico (CNPq) - Chamada Universal MCTI/CNPq, edital nº 01/2016, e com auxílio financeiro da Fundação
Percival Farquhar, entidade mantenedora da Universidade Vale do Rio Doce (UNIVALE). Venda proibida.

C766m Enes, Eliene Nery Santana


Memórias do rio Doce [livro eletrônico] : caderno temático 4 / Eliene Nery
Santana Enes e João Marcos Parreira Mendonça; organização Maria Celeste Reis
Fernandes de Souza, Thiago Martins Santos, Renata Bernardes Faria Campos e
Eliene Nery Santana Enes. – Governador Valadares, MG: Univale Editora, 2021.
23 p. : il., color. – (Conversas com o Rio Doce; 4)

Projeto: Relação com o saber e Educação Ambiental: uma pesquisa com estu-
dantes em tempo integral
ISBN 978-65-87227-17-7 (on-line).

1. Rio Doce – Minas Gerais – História. 2. Barragem de minério – Desastres am-


bientais. I. Título. II. Série.

CDD 981.51

Projeto Gráfico
Tuia Comunicação
tuiacomunicacao@gmail.com

Ficha Catalográfica
Biblioteca Dr. Geraldo Vianna Cruz (UNIVALE)

Revisão
Elizabeth Lopes Latorre

Contato
Programa de Pós-graduação Interdisciplinar em Gestão Integrada do Território (PPG-GIT)
territorio@univale.br

CADERNO TEMÁTICO 4
RIO DOCE: NOS FIOS DA ARTE E DA MEMÓRIA / 4
Rios sem discurso

Quando um rio corta, corta-se de vez


o discurso-rio de água que ele fazia;
cortado, a água se quebra em pedaços,
em poços de água, em água paralítica.
Em situação de poço, a água equivale
a uma palavra em situação dicionária:
isolada, estanque no poço dela mesma,
e porque assim estanque, estancada;
e mais: porque assim estancada, muda,
e muda porque com nenhuma comunica,
porque cortou-se a sintaxe desse rio,
o fio de água por que ele discorria.

O curso de um rio, seu discurso-rio,


chega raramente a se reatar de vez;
um rio precisa de muito fio de água
para refazer o fio antigo que o fez.
Salvo a grandiloqüência de uma cheia
lhe impondo interina outra linguagem,
um rio precisa de muitas águas em fios
para que todos os poços se enfrasem:
se reatando, de um para outro poço,
em frases curtas, então frase e frase,
até a sentença-rio do discurso único
em que se tem voz a seca ele combate.

(João Cabral de Melo Neto, A educação pela pedra, 1996).

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RIO DOCE: NOS FIOS DA ARTE E DA MEMÓRIA / 5
apresentação

Apresentação ........................................................................................................ 7

Um Dedo de Prosa.............................................................................................. 11

Abrindo a Prosa................................................................................................... 13

No Fio da Prosa................................................................................................... 15

Outras Prosas....................................................................................................... 18

Amarrando a Prosa............................................................................................... 21

Referências.......................................................................................................... 22

Sobre os Autores.................................................................................................. 23

CADERNO TEMÁTICO 4
RIO DOCE: NOS FIOS DA ARTE E DA MEMÓRIA / 6
apresentação

Caro (a) Leitor (a),


Este caderno é parte da coletânea “Conversas com o rio Doce”, e esperamos que
ele possa render boas conversas para diferentes pessoas e grupos que tenham como
propósito compartilhar aprendizagens e saberes sobre o rio e com o rio.
A elaboração deste material é fruto do projeto “Relação com o saber e Educação
Ambiental: uma pesquisa com estudantes em tempo integral”**, que tomou o rio
Doce como objeto de saber. Os (as) estudantes que participaram da pesquisa trou-
xeram um mosaico de saberes e manifestaram diferentes desejos de aprendizagem
sobre esse rio, antes e depois do rompimento da barragem de Fundão, localizada no
município de Mariana, na Região Central de Minas Gerais.
Como moradores de Governador Valadares, ci-
dade mineira localizada às margens do rio Doce,
e vivendo os processos desencadeados pelo rom-
pimento da barragem de Fundão, cujos rejeitos A barragem, de responsabilidade

de minério atingiram toda a bacia, constatamos da mineradora Samarco/


que os desejos de aprendizagem dos (as) estu- Vale-BHP, rompeu-se no dia
dantes ecoavam os nossos desejos e inquietações 5 de novembro de 2015,
e, de certo modo, da população valadarense e de despejando aproximadamente
outros grupos e populações que vivem ao longo 55.000.000m³ de rejeitos de
da Bacia Hidrográfica do Rio Doce. minério na calha do rio Doce,
que se espalharam por cerca de
Em um outro movimento de pesquisa, que se
600 km do rio, até chegarem ao
propõe a “cartografar territórios educativos em
litoral do Espírito Santo.
bairros de Governador Valadares***”, passamos
também a compreender o rio Doce como um
território educativo. É um rio que nos ensina pe-
las memórias, pelas relações ecológicas, pelos posicionamentos cidadãos aos quais
somos convocados em sua defesa, de modo particular no cenário do rompimento
da barragem de Fundão.
Assim, esta coletânea pretende contribuir para que o rio Doce se torne parte de uma
prosa educativa que propicie aprendizagens e que se alie a outras vozes, ecoando a de-
núncia sobre esse desastre, em pleno curso, e suas consequências ambientais e sociais.
A coletânea é um exercício interdisciplinar que contou, em sua elaboração, com os
fios da escrita de pessoas ligadas à Agroecologia, às Artes, à Biologia, à Comunica-
ção, ao Direito, à Engenharia, à História, à Matemática, à Psicologia, à Pedagogia, à
Química... porque “um rio precisa de muito fio de água para refazer o fio antigo que
o fez”, como lembra o poeta João Cabral de Melo Neto. E é justamente devido à di-

** Apoio: CNPq (Universal 2016/1); UNIVALE; FAPEMIG.


*** Apoio: FAPEMIG (Universal 2018); UNIVALE.

CADERNO TEMÁTICO 4
RIO DOCE: NOS FIOS DA ARTE E DA MEMÓRIA / 7
versidade de olhares que, nos diferentes cadernos desta coleção, os (as) autores (as)
usam termos distintos para se referirem ao rompimento da barragem e suas conse-
quências, quais sejam desastre, crime, tragédia, desastre-crime, desastre sociotécni-
co, desastre socioambiental. Esse grupo plural se une em defesa do rio Doce, do seu
ecossistema e das populações atingidas pelo rompimento da barragem de Fundão.

Cadernos Temáticos
1. Histórias do rio Doce
Haruf Salmen Espíndola.

2. Histórias antigas do rio Doce


Haruf Salmen Espíndola.

3. Memórias do rio Doce


Patrícia Falco Genovez
José Luiz Cazarotto

4. Rio Doce: nos fios da arte e da memória


Eliene Nery Santana Enes
João Marcos Parreira Mendonça

5. Comunidades tradicionais no médio rio Doce


Maria Terezinha Bretas Vilarino
Bianca de Jesus Souza
João Vitor de Freitas Moreira

6. Áreas Protegidas e Unidades de Conservação


Guilherme Antunes de Souza
Fernanda Morozesky Geber
Renata Bernardes Faria Campos
Nájela Priscila dos Santos Moreira

7. Matas ciliares da bacia do rio Doce: impactos do rompimento da barragem


de Fundão
Maria Fernanda Brito de Almeida
Renata Bernardes Faria Campos

8. Peixes da bacia do rio Doce: diversidade e principais ameaças


Eunice Maria Nazarethe Nonato
Renata Bernardes Faria Campos
Jacqueline Martins de Carvalho Vasconcelos

CADERNO TEMÁTICO 4
RIO DOCE: NOS FIOS DA ARTE E DA MEMÓRIA / 8
9. Conversas sobre reparação de direitos no rompimento da barragem da Samarco
Lissandra Lopes Coelho Rocha
Diego Jeangregório Martins Guimarães
Iesmy Elisa Gomes Mifarreg

10. Conversas na escola sobre a qualidade da água do rio Doce


Thiago Martins Santos
Ana Luiza de Quadros

11. Conversas entre o rio Doce e as crianças na escola


Karla Nascimento de Almeida
Valdicélio Martins dos Santos
Alessandra Amaral Ferreira
Elizabete Aparecida de Carvalho
Imoyra Rodrigues dos Santos

12. Conversas entre o rio Doce, adolescentes e jovens na escola


Maria Celeste Reis Fernandes de Souza
Karla Nascimento de Almeida
Gilda Melo Marques
Edmara Carvalho Novaes

13. Conversas na universidade sobre o desastre da Samarco


Thiago Martins Santos
Maria Gabriela Parenti Bicalho
Wildma Mesquita Silva

Reconhecemos que as conversas com o rio Doce que estabelecemos neste material
são a continuidade de tantas outras conversas tecidas no cotidiano por diferentes
pessoas, grupos e nas pesquisas. Desejamos que você viva a experiência da leitura
e que seja provocado a relembrar suas conversas com o rio Doce e iniciar outras.

Maria Celeste Reis Fernandes de Souza


Thiago Martins Santos
Renata Bernardes Faria Campos
Eliene Nery Santana Enes
(Organizadores)

CADERNO TEMÁTICO 4
RIO DOCE: NOS FIOS DA ARTE E DA MEMÓRIA / 9
APOIO
ANA – Agência Nacional de Águas
CAPES – Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior
CNPq – Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico
FAPEMIG – Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais
UNIVALE – Universidade Vale do Rio Doce
OBIT – Observatório Interdisciplinar do Território – UNIVALE
LAD – Laboratório de Didática – Pedagogia /UNIVALE
NIESD – Núcleo Interdisciplinar de Educação, Saúde e Direitos – UNIVALE

AGRADECIMENTOS
Agradecemos à Secretaria Municipal de Educação de Governador Valadares a auto-
rização para realizar a pesquisa e a abertura para o desenvolvimento de atividades
formativas em Educação Ambiental.
Gratidão e reconhecimento pelo trabalho aos bolsistas de Iniciação Científica da
UNIVALE que contribuíram com a primeira pesquisa citada: Giovanni Tavares Neves
(Engenharia Civil e Ambiental); Isabela Neto da Silva Paes (Engenharia Civil e Am-
biental); Keren Christine Marques Cupertino (Pedagogia); e Rodrigo Felix Ferreira
Rezende (Psicologia).

CADERNO TEMÁTICO 4
RIO DOCE: NOS FIOS DA ARTE E DA MEMÓRIA / 10
um dedo de prosa

Figura 1: Foto do rio Doce em Governador Valadares (MG). Fonte: TripAdvisor.

Iniciamos nossa prosa com uma foto do rio Doce, tendo ao fundo e refletido na água
o Pico da Ibituruna, localizado na cidade de Governador Valadares. Buscamos sua
atenção e convidamos a voltar seu olhar para essa imagem fotográfica. Uma imagem
entre tantas que já apreciamos em catálogos, pôsteres, desenhos e pinturas, livros,
reportagens, documentários.... Convidamos você a se lembrar de outras fotografias,
que tenham você em destaque ou contemplem o rio Doce como parte do cenário:
fotografia de um nascer ou pôr do sol, de um passeio, areia na prainha, banhos de
rio, pescaria, cheia do rio, peixes, plantas, caiaques, balsa, gente no rio, a lua no rio
e também, imagens com a lama de rejeitos despejados na calha do rio Doce, como
consequência do rompimento da barragem de Fundão – Imagens de peixes mortos,
rio de lama....
Essas lembranças, representações do rio Doce, surgem de memórias afetivas. Lem-
bramos que a afetividade se faz presente nas relações com o outro e com o mundo;
são manifestações representadas pelos sentimentos e emoções diversas.
Afetos são significantes de momentos vividos com o rio Doce e pertencem ao ima-
ginário de muitos, a uma coletividade que, longe ou perto, convive com o rio Doce.
Podemos dizer que guardamos na memória variadas representações do rio Doce
que foram produzidas na interação, na relação com o rio, nas conversas que trava-
mos com ele, seja por meio do olhar que admira sua beleza natural ou no uso de
suas águas.
Vamos abrir a conversa, neste caderno temático, sobre nossa experiência com o
rio, as relações de convivência, o que aprendemos quando olhamos e indagamos a
beleza de suas águas, as pessoas e o rio, sua seca ou sua cheia, a lama de rejeitos e
o desastre sociotécnico, as relações entre o rio e o ambiente.
Toda foto conta duas histórias: a do lado da câmera e a que fica do outro lado - a

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RIO DOCE: NOS FIOS DA ARTE E DA MEMÓRIA / 11
percepção do olhar. Outras histórias poderão ser contadas, a partir das lembranças
daqueles que fazem parte da cena capturada. Ainda, a imagem fotográfica em cena
poderá ser recontada, recriada, customizada em porta-retratos, guardada em álbuns
e na memória afetiva.
A apresentação deste caderno destaca o rompimento da barragem de Fundão, em
2015. A barragem despejou na calha do rio Doce, aproximadamente, 55.000,000
m³ de rejeitos de minério, imprimindo em nossas memórias marcas desse desastre
sociotécnico. Todos nós temos lembranças desse trágico acontecimento. Vivendo
perto ou longe das águas do rio Doce, lamentamos, entristecemos, percebemos a
dor do rio Doce com as águas alaranjadas pelo rejeito de minério.
Nossa conversa segue fios das águas do rio Doce, mas também segue os fios da me-
mória de Eliene Nery e João Marcos, autores deste caderno.

Eu, Eliene Nery, uma das pesquisadoras citada na apresen-


tação deste caderno. Nessa pesquisa, conversamos com
estudantes de escolas da cidade e do campo sobre o que
pensam sobre o rio Doce no contexto desse desastre so-
ciotécnico. Como moradora da cidade, compreendo que
o rio Doce faz parte de nossas vidas.

João Marcos, parceiro neste trabalho, segue também, os


fios de outras memórias, pelo olhar da arte, acreditando
lançar luz sobre temas do nosso cotidiano, como as con-
sequências do rompimento da barragem de Fundão em
nossa cidade e, principalmente, em nossas vidas. A arte
permite um olhar poético sobre a vida, mas também um
olhar crítico e reflexivo sobre a nossa realidade.

Vamos apresentar outras imagens sobre o rio Doce. Agora pelo olhar do cartunis-
ta, João Marcos, que por meio de suas charges, captura no tempo vivido, registra,
denuncia, revela em seus traços criativos: sentimentos, acontecimentos e fatos do
cotidiano.

A charge é um desenho que tem como tema algum acontecimento


do cotidiano, geralmente abordado com crítica e humor.

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RIO DOCE: NOS FIOS DA ARTE E DA MEMÓRIA / 12
Neste caderno, vamos dialogar com as charges de João Marcos. Esse é seu modo
de conversa – usa o desenho, no estilo cartum, para registrar um acontecimento e
fazer a gente pensar. Foi assim com o rompimento da barragem de Fundão, com as
representações, “Como uma lama no mar”, “Lama a caminho do litoral capixaba” e
outras charges que vamos conhecer ao longo do texto ... #abrimos a prosa.

abrindo a prosa

#música maestro!
... (Como uma onda, Lulu Santos)
Nada do que foi será
De novo do jeito que já foi um dia:
Tudo passa, tudo sempre passará.
A vida vem ondas como um mar
Num indo e vindo infinito.
Tudo que se vê não é
Igual ao que a gente viu há um segundo...
Não adianta fugir nem mentir
Pra si mesmo ....
Como uma onda no mar
Como uma onda no mar.

Figura 2: Como uma onda no mar. Fonte: Diário do Aço, Ipatinga-MG (2015)1

1 João Marcos Parreira Mendonça, na época do rompimento da barragem de Mariana, era chargista do Jornal Diário do Aço/Ipatinga e registrou
em suas charges as consequências da tragédia ambiental na região.

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RIO DOCE: NOS FIOS DA ARTE E DA MEMÓRIA / 13
Figura 3: Lama a caminho do litoral capixaba. Fonte: Diário do Aço, Ipatinga-MG (2015).

As imagens acima, representadas pelas charges de João Marcos, retratam nossos


sentimentos de perplexidade, a ameaça da lama sobre o meio ambiente. “nada do
que foi será”...
Imaginamos que talvez você já tenha ouvido a música “Como uma onda no mar”, de
Lulu Santos. Talvez tenha cantado, batucado, compartilhado... As notas e letra da músi-
ca servem aqui para mostrar as águas do rio Doce, ou seja, a lama de rejeitos da barra-
gem de Fundão no leito do rio Doce. “Como uma lama no mar... nada do que foi será...”
Não há outro jeito de abrir essa prosa, senão dizer da nossa perplexidade, das mani-
festações de tristeza e de medo subjetivos que aparecem de súbito e que, no dizer
do geógrafo Yi-fu Tuan, são sentimentos topofóbicos, ou seja, sentimentos de medo
produzidos por um ambiente ameaçador. A lama que ameaça as crianças estraga a
praia, mata os peixes e, na sequência, toda a cadeia alimentar. Ela atinge quem dela
se serve; é ameaça para todos #somos todos afetados.
As consequências desse desastre marcaram toda a população que se relaciona com
o rio, que dele depende nos vários modos de relações: água para consumo humano,
pesca, criação de animais, plantações, atividades econômicas, culturais, relações
afetivas com a natureza, águas de vida.
Extraímos da apresentação do livro “Desastre no Vale do Rio Doce”, organizado por
Bruno Milanez e Cristiana Losekann, a citação que expressa as marcas do desastre
sociotécnico:
O dia 5 de novembro de 2015 será para sempre marcado como um dia de
tristeza, indignação e dor. Rompeu-se a barragem do Fundão: 19 mortos. Dois
distritos de Mariana, Bento Rodrigues e Paracatu de Baixo, destruídos. Milha-
res de hectares de áreas de plantio e de uso para outras atividades produtivas
impactados, possivelmente, de modo irreversível. Milhares de agricultores, co-
merciantes e pescadores sem trabalho. Mais de um milhão de pessoas atingi-
das. Diversas cidades em Minas Gerais e Espírito Santo sem abastecimento de

CADERNO TEMÁTICO 4
RIO DOCE: NOS FIOS DA ARTE E DA MEMÓRIA / 14
água potável por semanas. Todo o Rio Doce destruído. (Desastre no Vale do
Rio Doce, 2016, p. 15).
Adolescentes, estudantes de escolas públicas de Governador Valadares, que parti-
ciparam da pesquisa “Relação com o saber e educação ambiental: uma pesquisa
com estudantes em tempo integral”, também expressam seus sentimentos com o
rompimento da barragem.
O desastre de Mariana trouxe muitos prejuízos para nós. A água contaminou,
tinha gente que nadava na água; hoje não pode mais, pescador não pode pes-
car mais, os peixes morreram muitos. Eles reclamam, porque foi um prejuízo
para eles, porque era um lazer que eles tinham, tomar banho no rio, brincar,
e agora não podem mais. (Carlos, nome fictício)
O rio era importante para muita gente, que tipo, tinha gente que sobrevivia
da pesca, da água. E hoje não pesca mais, porque não tem tanto peixe assim.
E também a água está ruim, porque os peixes talvez estejam contaminados.
(Ayla, nome fictício)
Ah eu acho que eu me sinto triste né, porque o rio antes era muito bonito e
agora está acabado, morreu muito peixe, acabou com o rio. (Lara, nome fictício)
Além desses depoimentos de pesquisadores e de estudantes, temos na memória
reportagens que circulam pela mídia e depoimentos diversos das pessoas (crian-
ças, jovens, mulheres e homens) pessoas do campo e da cidade, povos indígenas,
quilombolas, pescadores, dentre tantos que descrevem com dor e perplexidade o
impacto desse desastre sociotécnico sobre a população, sobre nós mesmos que vive-
mos ao longo do curso do rio Doce. Sabemos que o desastre será sentido por várias
gerações e ainda não sabemos se o ambiente voltará a ser como antes.
Entendemos que você também deve ter suas representações sobre o rio Doce, suas
lembranças da tragédia, quer seja na forma de imagens da lama, da falta d’água, da
morte dos peixes e outros animais ou de bons momentos vividos no rio em passeios,
banhos, churrasco na beira do rio, etc. Se tiver oportunidade, fale sobre essas lem-
branças. É um jeito de fortalecer o rio Doce, de mostrar o seu valor, sua resistência,
sua vulnerabilidade e o que ele representa para você.

no fio da prosa

Novembro, dia cinco de 2015, aproximadamente 55.000,000 m³ de rejeitos


de minério são despejados na calha do Rio Doce e segue o curso até chegar
ao litoral do Espírito Santo.
Reiteramos a marca do dia cinco de novembro de 2015 como um dia para não es-
quecer! Por isso, escolhemos duas charges provocadoras dessa lembrança e que nos
fazem pensar. Por meio delas perguntamos: o que mudou depois do rompimento
da barragem de Fundão?

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RIO DOCE: NOS FIOS DA ARTE E DA MEMÓRIA / 15
Figura 4: Rio Doce. Fonte: Diário do Aço, Ipatinga-MG (2016).

Figura 5: Rio Doce. Fonte: Diário do Aço, Ipatinga-MG (2015).

O que esses diálogos das charges nos fazem pensar?


As primeiras percepções sobre os diálogos se expressam em sentimentos de tristeza,
perplexidade, olhar de espanto sobre uma paisagem sem vida.
#Somos todos afetados!
Afetados emocionalmente, pois nosso amor pelo rio é natural como sua paisagem,
que é dada e não construída. A tristeza é fotografia do olhar estarrecido.
Afetados economicamente, pois o rio é utilizado para travessias, para alimentar
muitos com peixes e para desenvolver outras atividades econômicas.
Afetados ambientalmente em tudo que circunda o rio em sua extensão e largura,
plantas, animais e pessoas, até suas águas se encontrarem com o mar também afe-
tado pela lama de rejeitos.
Afetados pela impunidade. Pessoas e ambiente esperam respostas sobre os danos

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sofridos. Os processos deliberativos e programas de reparação de danos causados
pelo rompimento seguem a passos lentos e muitos processos estão paralisados.

Cinco anos depois


Cinco anos depois do rompimento da barragem de Fundão, da mineradora Samar-
co, ninguém foi punido criminalmente pelo desastre. O fato aconteceu no dia 5
de novembro de 2015. O crime de homicídio foi retirado do processo; as mortes
provocadas pelo rompimento da barragem foram consideradas pela justiça como
consequência da inundação causada pelo rompimento; as comunidades destruídas
não foram reconstruídas, conforme noticiado pelas mídias, denunciado por grupos,
comunidades afetadas e por pesquisadores.
O poeta Carlos Drummond de Andrade expressou nos versos “Lira Itabirana”, publi-
cado em 1984, sentimentos de dor e denúncia em favor do rio Doce. Os sentimen-
tos da época, dor e denúncia, são os mesmos de hoje.

E o rio? É doce.
A Vale? Amarga.
Ai, antes fosse
Mais leve a carga.

Entre estatais
E multinacionais,
Quantos ais!

A dívida interna.
A dívida externa.
A dívida eterna.

Quantas toneladas exportamos


De ferro?
Quantas lágrimas disfarçamos
Sem berro?

Que leituras você faz, hoje, do poema de Drummond?


Que sentimentos esse poema desperta em você, quase quatro décadas depois?
Além do poema que é inspirador para muitas conversas sobre o que preocupava o
poeta e que hoje nos preocupa, selecionamos também alguns vídeos que podem
render boas prosas com o rio Doce.

CADERNO TEMÁTICO 4
RIO DOCE: NOS FIOS DA ARTE E DA MEMÓRIA / 17
Esses vídeos são sugestões para revisitar cenas, obter informações sobre os enca-
minhamentos de reparação de danos aos atingidos e ao meio ambiente. Os vídeos
mostram o rio Doce, antes e depois do rompimento da barragem de Fundão, a pai-
sagem natural, as pessoas, as falas dos atingidos que confirmam o que foi perdido e,
ainda, os danos não reparados.
Vídeo 1: Assista ao vídeo com a reportagem do G1.globo.com/minas Gerais, que
traz comentário recente sobre a impunidade, descaso com o meio ambiente e a
população atingida.
Disponível em:
https://g1.globo.com/mg/minas-gerais/noticia/2020/10/29/cinco-anos-depois-da-
maior-tragedia-ambiental-do-pais-que-matou-19-pessoas-em-mariana-ninguem-
foi-punido.ghtml
Vídeo 2: confira no vídeo da BBC Brasil a reportagem de Ricardo Senra e Luís Kawa-
guti, que percorreram o rio Doce de Colatina (ES) a Governador Valadares (MG)
Disponível em:
https://www.bbc.com/portuguese/videos_e_fotos/2015/11/151119_rio_doce_lk

outras prosas

O meio ambiente anuncia com as enchentes e secas que a natureza está em dese-
quilíbrio. O que se passa com os humanos que não cuidam de sua casa? Pergunta-
mos. Nossa casa é o nosso quintal, nosso bairro, nosso rio, nossa floresta, animais
e plantas. Tudo foi criado antes da nossa existência e entregue a cada pessoa para
cuidar, usufruir e continuar legando às futuras gerações.
Nesse contexto, como podemos pensar a relação entre humanos e ambiente retra-
tada na charge abaixo? Que sentimentos essa charge provoca em você?

Figura 6: Confiança. Fonte: Diário do Aço, Ipatinga-MG (2015).

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Você sabia que o ambiente é um direito? A Constituição da República Federativa do
Brasil, em seu artigo 225, esclarece:
Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso
comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao poder
público e à coletividade o dever de defendê-lo para as presentes e futuras ge-
rações. (Artigo 225 da Constituição da República Federativa do Brasil de 1988)
Como cidadãos, temos direito ao equilíbrio do ambiente, preconizado na Consti-
tuição Federal, para o bem comum e para as futuras gerações. A palavra ambiente
vem do latim—ambiens.entis— meio ambiente. Na Língua Portuguesa, essa palavra
significa: “tudo que rodeia ou envolve por todos os lados os seres vivos ou coisas e
constitui o meio em que vive; conjunto de condições materiais, culturais, psicológi-
cas e morais que envolvem uma ou mais pessoas” (HOUAISS, 2001, p.183).
O que essa charge denuncia sobre esse direito humano ao ambiente? E o direito do
rio e da biosfera que o constitui?

Figura 7: Rio Doce. Fonte: Diário do Aço, Ipatinga-MG (2015).

Uma pesquisadora que muito nos inspirou em nossos estudos sobre esse debate é
Lucie Sauvé, que resume compreensões de ambiente como: natureza a ser apre-
ciada, respeitada, preservada; um recurso a ser gerido, caracterizado como nosso
patrimônio biofísico coletivo; um lugar para habitar, conhecer, cuidar; a biosfera
caracterizada pelo planeta Terra, um mundo de interdependência no qual todos
vivemos juntos (SAUVÉ, 2005). É nesse meio ambiente que vivemos e construímos
um modo de ser no mundo, por meio de nossas relações com os outros e a cultura.
Outro autor, pesquisador, Marcos Reigota, enfatiza que as relações pessoas-ambien-
te processam a criação cultural, tecnológica, os processos históricos e políticos (REI-
GOTA, 2009). O rio Doce é um exemplo de descuido, de descaso das políticas am-
bientais. Pensamos que refletir sobre o rio Doce e o meio ambiente nos faz pensar
sobre as relações das pessoas com a natureza, os animais, com o outro, com a nossa

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cidade – o que nos leva a construir ideias, opiniões, saberes que possam mobilizar o
agir na defesa do rio, da natureza, de nossa vida no planeta.
É provável que você participa ou já participou de algum movimento em defesa do
rio Doce, por meio de conversas com colegas e professores, na escola, sobre a lama
de rejeitos da barragem de Fundão no rio Doce e como ficaria a água para o uso hu-
mano e dos animais. Talvez você tenha participado, ainda, de reuniões em bairros e
igrejas sobre a indenização de danos disponibilizada pela Samarco, procurou ouvir
jornais falados e reportagens sobre a turbidez da água e sobre os danos à população,
leu jornais diversos, viu o rio, conversou com familiares, etc.
Esses movimentos são formas de ação, de participação, de reflexão sobre o futuro
do rio Doce e do ambiente. Entendemos que o rio Doce faz parte de nossas vidas,
morando perto ou longe. Ele interage, estabelece relações pela paisagem, pela ponte
que atravessamos, pela água que bebemos, pela chuva e todos os movimentos do
clima, pelos peixes, plantas e animais. O rio Doce é parte das nossas vidas.
Em tempos de tecnologias de informação e comunicação, com a velocidade de no-
vas informações, é preciso refletir, pensar sobre a realidade dos fatos, as realidades
ambiental, local e global. Essa defesa, ao longo do tempo, foi organizada em gestão
e políticas ambientais. Precisamos dialogar para tecer ideias, refletir sobre a degrada-
ção ambiental, criar modos sustentáveis de agir em nosso entorno. Pequenas ações
ajudam: separar o lixo úmido e seco, cuidar da praça do bairro, árvore da rua...
Pense outras ações que você pode fazer para contribuir com o meio ambiente, na
sua escola e seu entorno.
As Universidades, as escolas, as igrejas, as organizações da sociedade civil são insti-
tuições abertas ao diálogo, nos revelam conhecimentos, informações e são caminhos
para a construção de laços de referência, projetos e redes de proteção relacionadas
ao meio ambiente. Se tiver oportunidade, participe de eventos e de reuniões com
amigos e familiares.
Como vivemos em um mundo de imagens, vamos apresentar algumas dicas de ma-
teriais interessantes, de fácil acesso na internet, que ajudam a aprofundar temas
relacionados ao ambiente e construir novos questionamentos.
Fotografias: Sebastião Salgado, renomado fotógrafo documental. Por meio de suas
fotografias retrata fatos, dramas sociais e políticos, defende a natureza. Acesse o link
abaixo e conheça a força expressiva de suas fotografias:
https://br.pinterest.com/abordando/fotografia-de-sebasti%C3%A3o-salgado/
Manifesto: “Ajude-nos a proteger os índios da Amazônia da Covid-19”. O famoso
fotógrafo brasileiro Sebastião Salgado e sua mulher, a designer gráfica Lélia Wanick
Salgado, pedem que o presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, adote medidas imedia-
tas para defender os povos indígenas da ameaça da pandemia.
https://www.youtube.com/watch?v=u7G4JA1of_E

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O Instituto Terra: uma organização civil sem fins lucrativos voltada para a restaura-
ção ambiental e para o desenvolvimento sustentável do Vale do Rio Doce. O insti-
tuto está localizado bem perto de nós, a vizinha Aimorés. A região originariamente
era coberta pela Mata Atlântica e abrange municípios de Minas Gerais e do Espírito
Santo, banhados pela Bacia Hidrográfica do Rio Doce.
Institutoterra.org
Documentário: “Lixo Extraordinário” - relata o trabalho do artista plástico brasi-
leiro, Vik Muniz, com catadores de material reciclável em um dos maiores aterros
controlados do mundo, localizado no Jardim Gramacho, em Duque de Caxias (RJ).
Livro: “O Amanhã não está à venda”, de Ailton Krenak, líder indígena que discute
como a sociedade se divorciou da natureza e sobre a pandemia de Covid-19. Abai-
xo o link para acessar e baixar PDF do livro. Uma ótima leitura!
https://revistaeducacao.com.br/2020/04/18/ailton-krenak-coronavirus/

Esse conjunto de materiais que selecionamos pode render boas conversas em casa,
em seus círculos de amizade, nos grupos dos quais participa e nos ajudam a refletir
sobre as responsabilidades pessoais, coletivas e políticas, empresariais, dentre ou-
tras, no cuidado ambiental e em defesa do rio Doce.

amarrando a prosa

A prosa tá boa...
Gostamos de compartilhar com você essas reflexões e ideias sobre o rio Doce e o
ambiente. Esperamos que a leitura deste caderno possa ter contribuído para o início
de outras conversas sobre o rio Doce.
Jorge Luís Borges é um poeta que escreveu sobre uma vivência de viagem em seu
texto “O deserto do Saara”. Escreve ele: “A uns trezentos ou quatrocentos metros da
Pirâmide me inclinei, peguei um punhado de areia, deixei-o cair silenciosamente
um pouco mais longe e disse em voz baixa: estou modificando o Saara”. Borges nos
encoraja. Um punhado de areia modifica o meio ambiente. Podemos fazer isso!
Deixamos para você a amarração das palavras deste caderno a outras palavras, de
outros parceiros, colegas, escolares... Passe adiante este caderno, ele mesmo ou por
meio de suas palavras, suas ideias e outras representações como: desenhos, fotogra-
fias, vídeos e, principalmente, a escuta da conversa do rio. Escute.... Ele fala nos fios
de suas águas!
#oRioDoceFala

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Fechamos essa prosa com os versos do poema “De mão dadas”, de Carlos Drum-
mond de Andrade, que convida a caminhar juntos. Os fios da arte e da memória
que aqui tecemos ganham sentido na luta e defesa comuns. Que a esperança e os
desejos nos mobilizem...
..... não cantarei o mundo futuro
Estou preso à vida e olho meus companheiros
Estão taciturnos mas nutrem grandes esperanças
Entre eles, considero a enorme realidade
O presente é tão grande, não nos afastemos
Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas.

referências

Apresentamos, nesta seção, autores (as), relatórios, sítios eletrônicos e publicações


nossas nas quais nos referenciamos para a escrita deste caderno temático.
AGÊNCIA NACIONAL DE ÁGUAS – ANA. Encarte especial sobre a bacia do Rio
Doce. O rompimento da barragem de Mariana. Superintendência de Planejamento
de Recursos Hídricos. Brasília, DF. 2015. PDF.
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil: texto constitucional pro-
mulgado em 5 de outubro de 1988, compilado até a Emenda Constitucional no
105/2019. – Brasília: Senado Federal, Coordenação de Edições Técnicas, 2020. PDF
CAMPOS, Renata B. F; SANTOS, Thiago M.; SOUZA, Maria Celeste R. F. de;
ENES, Eliene N. S. Risco, desastre e educação ambiental: a terceira margem do
Rio Doce. Revista PerCursos, Florianópolis, v. 18, n. 36, p. 66-94, jan. / abr.
2017. Disponível em: https://www.revistas.udesc.br/index.php/percursos/article/
view/1984724618362017066 . Acesso em: out. 2020.
ENES, Eliene Nery Santana; SOUZA, Maria Celeste Reis F. de; SANTOS, Thiago
Martins; CAMPOS, Renata B. Faria. Relação com o saber e o rio Doce: a marca das
aprendizagens relacionais e afetivas. Revista de Estudos de Cultura. São Cristóvão
(SE), UFS. v. 5, n. 14, p. 117-130, Mai. Ago., 2019. Disponível em: https://seer.ufs.
br/index.php/revec/article/view/13258. Acesso em: out. 2020.
HOUAISS, A. Dicionário da Língua Portuguesa. RJ. Objetiva, 2001.
JORNAL ESTADO DE MINAS GERAIS. Mariana cinco anos depois. Disponível em:
https://www.em.com.br/app/noticia/gerais/2020/11/02/interna_gerais,1200270/
mariana-5-anos-depois-vitimas-de-barragem-ainda-sofrem-com-doencas.shtml
Acesso em: nov. 2020.

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MILANEZ, Bruno; LOSEKANN, Cristiana (org.). Desastre no Vale do Rio Doce:
antecedentes, impactos e ações sobre a destruição. Rio de Janeiro: Folio Digital:
Letra e Imagem, 2016.
MINAS GERAIS. Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento
Sustentável. Disponível em: http://www.meioambiente.mg.gov.br/component/
content/article/13-informativo/2879-desastre-ambiental-em-mariana-e-
recuperacao-da-bacia-do-rio-doce. Acesso em: nov. 2020.
Minas Gerais. Relatório: Avaliação dos efeitos e desdobramentos do rompimento
da Barragem de Fundão em Mariana-MG. Belo Horizonte, 2016.PDF. Disponível
em: https://arquivos.ana.gov.br/RioDoce/EncarteRioDoce_22_03_2016v2.pdf.
Acesso em: nov. 2020.
Poemas sobre rios. Disponível em: https://www.pensador.com/poemas_sobre_rios/.
Acesso em: Nov.2020
REIGOTA, Marcos. O que é educação ambiental. São Paulo: Editora Brasiliense, 2009.
SOUZA, Maria Celeste Reis Fernandes de et al . APRENDIZAGENS AMBIENTAIS DE
ESTUDANTES SOBRE O RIO DOCE: RELAÇÕES E SENTIDOS. Cad. Pesquisa., São
Paulo , v. 50, n. 175, p. 160-185, Mar. 2020. Disponível em: https://www.scielo.br/
pdf/cp/v50n175/pt_1980-5314-cp-50-175-160.pdf . Acesso em: out. 2020.
SAUVÉ, Lucie. Uma cartografia das correntes em educação ambiental. In: SATO, Mi-
chéle; CARVALHO, Isabel (Org.). Educação ambiental: pesquisa e desafios. Porto
Alegre: Artmed, 2005.
TUAN, Yi-Fu. Topofilia: um estudo da percepção, atitude e valores do meio ambien-
te. Tradução de Lívia de Oliveira. Londrina: Eduel, 2012
TUAN, Yi-Fu. Paisagens do medo. São Paulo: Editora UNESP, 2005.

Sobre os Autores
Eliene Nery Santana Enes
Mestre em Gestão Integrada do Território (GIT/UNIVALE). Professora do curso de
Psicologia (UNIVALE). Pedagoga. Psicóloga. Pesquisadora vinculada ao Grupo de
Pesquisa: Núcleo Interdisciplinar de Educação, Saúde e Direitos (UNIVALE).

João Marcos Parreira Mendonça


Mestre em Artes Visuais (UFMG). Professor do curso de Arquitetura e Urbanismo
(UNIVALE). Roteirista da Mauricio e Sousa Produções e autor de diversos livros em
quadrinhos para crianças. Na época do rompimento da barragem de Mariana era
chargista do Jornal Diário do Aço/Ipatinga e registrou em suas charges as consequên-
cias da tragédia ambiental na região. Pesquisador vinculado ao Grupo de Pesquisa:
Núcleo Interdisciplinar de Educação, Saúde e Direitos (UNIVALE).

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