04 CadernoTematico Final
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A obra faz parte de uma trilogia (“Rio Doce I, II e III”; “Figueira I, II e III” e “Ibituruna
I, II e III”) concebida por ocasião do desmoronamento da barragem da Samarco,
na cidade de Mariana, Minas Gerais, Brasil, em novembro de 2015. Dei à série o
título “Rasgos na Alma: ode ao Vale do Rio Doce” fazendo referência aos sentimen-
tos pelos quais nós, os atingidos/moradores do Vale do Rio Doce, passamos diante
dessa tragédia, numa denúncia poética, expressão permitida pela Arte. Objetiva,
também, fazer uma homenagem ao Vale, focando os sentimentos que os moradores
de Governador Valadares - cidade onde moro atualmente - possuem, representados
metaforicamente nos símbolos presentes na obra e que são carregados de sentidos:
o Rio Doce, a Figueira e a Ibituruna.
Como professora, pesquisadora e artista visual busco com a obra, portanto, ho-
menagear o Vale, sensibilizar os moradores e, ao mesmo tempo, compartilhar os
sentimentos vivenciados a partir do ocorrido, principalmente pelos Borum do Watu,
sociedade nativa que vive num território situado às margens do rio Doce, próximo a
cidade de Resplendor, MG e que vivencia de forma material e simbólica o rio Doce,
o Watu para os Borum. Expresso no “Rio Doce I” um rio que ainda exala vida, re-
presentada nas cores fortes e na presença dos peixes, que também carregam esta
simbologia. Imagem vívida, ainda, na memória dos Borum, segundo relato colhido
durante uma pesquisa etnográfica que fiz no território Krenak. No “Rio Doce II”,
concebida na noite do desmoronamento, trago a minha angústia diante da notícia
que se espalhou de forma contundente: a lama tóxica chega aos borbotões como
“chamas de um dragão”, enquanto os peixes tentam “correr para o mar, em vão”.
No “Rio Doce III”, o rio muda de cor. Torna-se rubro como a lama que chega: é
a hora da sua partida e da morte dos peixes, que emergem agonizantes. Ao fundo
das três obras, sob o olhar impotente da Ibituruna, a Vida se esvai. Aqui, justifico o
título “Rasgos na Alma” uma vez que essa tragédia não rasgou o Vale só no sentido
material, mas a Alma dos entes e seres que nele habitam. O tríptico “Rio Doce I, II
e III” ilustra, juntamente com os outros dois trabalhos já referidos, um livro que leva
o mesmo título: “Rasgos na Alma: ode ao Vale do Rio Doce”. Trata-se de um poema
* Possui graduação em Artes pela Universidade Federal de Minas Gerais, Especialização em Folclore e Cultura Popular e Mestrado em Gestão
Integrada do Território. É Membro Efetivo (Pesquisador) da Comissão Mineira de Folclore (2005) e do Instituto Histórico e Geográfico do Mucuri
(2019). Atuou como professora assistente da Universidade Vale do Rio Doce de 2002 a 2017. Gere o espaço cultural Ateliê Edileila Portes desde
2014, prestando assessoria e consultoria em Arte e Cultura. Tem experiência na área de Artes, com ênfase em Artes Visuais, atuando principal-
mente nas seguintes áreas: desenho, composição e plástica, percepção visual, história da arte, arquitetura e urbanismo, teoria do urbanismo,
cultura, folclore, identidade, território e territorialidades.
CADERNO TEMÁTICO 4
RIO DOCE: NOS FIOS DA ARTE E DA MEMÓRIA / 2
ilustrado, editado pela Editora Atafona, de Belo Horizonte, com a coedição do Ate-
liê Edileila Portes, do qual sou gestora e tem o apoio cultural da Comissão Mineira
de Folclore, onde sou membra efetiva pesquisadora. O conjunto da obra objetiva
propor reflexões sobre o tema, que acreditamos pertinente diante da crise ambiental
vivenciada no Brasil e no mundo. Desde a sua edição, em novembro de 2017, até
o momento, o livro e as obras que o ilustram participaram de um vasto circuito de
exposições e lançamentos - da Universidade de Framingham, nos Estados Unidos
até livrarias em Belo Horizonte, Governador Valadares e São Paulo. Ongs, Institutos,
Escolas, Universidades, Fórum Social Mundial, em Salvador, Feiras internacionais
do livro - São Paulo e Buenos Aires - também fizeram parte do circuito. Em abril de
2018, o livro ilustrado foi contemplado com o selo de “Altamente Recomendável”
pela Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil – FNLIJ.
O projeto gráfico elaborado pela Tuia Comunicação para a coleção Conversas com
o rio Doce considerou seu uso como ferramenta de aprendizado, ensino e também
de pesquisa.
Pensando na unidade visual, as obras da artista Edileila Portes da capa, foram o
ponto de partida para criar esse ambiente. As cores foram extraídas das telas. Os
elementos gráficos em destaque no rodapé, e também em alguns tópicos, remetem
às ondas ou movimentos das águas do rio Doce.
A proporção das páginas, o tamanho das fontes utilizadas no texto, bem como a cor,
tanto facilita a leitura em meios eletrônicos como a impressão, visto que o formato
da página (folha A4) é comum em impressoras e fotocopiadoras pequenas, presen-
tes na maioria das escolas. E, sendo nesse formato, sua encadernação torna-se mais
prática para ser utilizada em rodas de conversas e distribuídos entre alunos.
A disposição do texto foi pensada de uma forma fluida, remetendo às curvas do
percurso do rio Doce. Com os recuos de texto e imagens, criam-se também espaços
para anotações complementares de professores e alunos.
Esse projeto aproxima a forma da diagramação do conteúdo dos Cadernos Temáticos
com a intenção de trazer uma experiência de leitura e aprendizado mais agradáveis.
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Todos os direitos reservados. Copyright © 2021 dos autores
Esta coleção foi editorada com financiamento do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tec-
nológico (CNPq) - Chamada Universal MCTI/CNPq, edital nº 01/2016, e com auxílio financeiro da Fundação
Percival Farquhar, entidade mantenedora da Universidade Vale do Rio Doce (UNIVALE). Venda proibida.
Projeto: Relação com o saber e Educação Ambiental: uma pesquisa com estu-
dantes em tempo integral
ISBN 978-65-87227-17-7 (on-line).
CDD 981.51
Projeto Gráfico
Tuia Comunicação
tuiacomunicacao@gmail.com
Ficha Catalográfica
Biblioteca Dr. Geraldo Vianna Cruz (UNIVALE)
Revisão
Elizabeth Lopes Latorre
Contato
Programa de Pós-graduação Interdisciplinar em Gestão Integrada do Território (PPG-GIT)
territorio@univale.br
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Rios sem discurso
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apresentação
Apresentação ........................................................................................................ 7
Um Dedo de Prosa.............................................................................................. 11
Abrindo a Prosa................................................................................................... 13
No Fio da Prosa................................................................................................... 15
Outras Prosas....................................................................................................... 18
Amarrando a Prosa............................................................................................... 21
Referências.......................................................................................................... 22
Sobre os Autores.................................................................................................. 23
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apresentação
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RIO DOCE: NOS FIOS DA ARTE E DA MEMÓRIA / 7
versidade de olhares que, nos diferentes cadernos desta coleção, os (as) autores (as)
usam termos distintos para se referirem ao rompimento da barragem e suas conse-
quências, quais sejam desastre, crime, tragédia, desastre-crime, desastre sociotécni-
co, desastre socioambiental. Esse grupo plural se une em defesa do rio Doce, do seu
ecossistema e das populações atingidas pelo rompimento da barragem de Fundão.
Cadernos Temáticos
1. Histórias do rio Doce
Haruf Salmen Espíndola.
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9. Conversas sobre reparação de direitos no rompimento da barragem da Samarco
Lissandra Lopes Coelho Rocha
Diego Jeangregório Martins Guimarães
Iesmy Elisa Gomes Mifarreg
Reconhecemos que as conversas com o rio Doce que estabelecemos neste material
são a continuidade de tantas outras conversas tecidas no cotidiano por diferentes
pessoas, grupos e nas pesquisas. Desejamos que você viva a experiência da leitura
e que seja provocado a relembrar suas conversas com o rio Doce e iniciar outras.
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APOIO
ANA – Agência Nacional de Águas
CAPES – Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior
CNPq – Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico
FAPEMIG – Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais
UNIVALE – Universidade Vale do Rio Doce
OBIT – Observatório Interdisciplinar do Território – UNIVALE
LAD – Laboratório de Didática – Pedagogia /UNIVALE
NIESD – Núcleo Interdisciplinar de Educação, Saúde e Direitos – UNIVALE
AGRADECIMENTOS
Agradecemos à Secretaria Municipal de Educação de Governador Valadares a auto-
rização para realizar a pesquisa e a abertura para o desenvolvimento de atividades
formativas em Educação Ambiental.
Gratidão e reconhecimento pelo trabalho aos bolsistas de Iniciação Científica da
UNIVALE que contribuíram com a primeira pesquisa citada: Giovanni Tavares Neves
(Engenharia Civil e Ambiental); Isabela Neto da Silva Paes (Engenharia Civil e Am-
biental); Keren Christine Marques Cupertino (Pedagogia); e Rodrigo Felix Ferreira
Rezende (Psicologia).
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um dedo de prosa
Iniciamos nossa prosa com uma foto do rio Doce, tendo ao fundo e refletido na água
o Pico da Ibituruna, localizado na cidade de Governador Valadares. Buscamos sua
atenção e convidamos a voltar seu olhar para essa imagem fotográfica. Uma imagem
entre tantas que já apreciamos em catálogos, pôsteres, desenhos e pinturas, livros,
reportagens, documentários.... Convidamos você a se lembrar de outras fotografias,
que tenham você em destaque ou contemplem o rio Doce como parte do cenário:
fotografia de um nascer ou pôr do sol, de um passeio, areia na prainha, banhos de
rio, pescaria, cheia do rio, peixes, plantas, caiaques, balsa, gente no rio, a lua no rio
e também, imagens com a lama de rejeitos despejados na calha do rio Doce, como
consequência do rompimento da barragem de Fundão – Imagens de peixes mortos,
rio de lama....
Essas lembranças, representações do rio Doce, surgem de memórias afetivas. Lem-
bramos que a afetividade se faz presente nas relações com o outro e com o mundo;
são manifestações representadas pelos sentimentos e emoções diversas.
Afetos são significantes de momentos vividos com o rio Doce e pertencem ao ima-
ginário de muitos, a uma coletividade que, longe ou perto, convive com o rio Doce.
Podemos dizer que guardamos na memória variadas representações do rio Doce
que foram produzidas na interação, na relação com o rio, nas conversas que trava-
mos com ele, seja por meio do olhar que admira sua beleza natural ou no uso de
suas águas.
Vamos abrir a conversa, neste caderno temático, sobre nossa experiência com o
rio, as relações de convivência, o que aprendemos quando olhamos e indagamos a
beleza de suas águas, as pessoas e o rio, sua seca ou sua cheia, a lama de rejeitos e
o desastre sociotécnico, as relações entre o rio e o ambiente.
Toda foto conta duas histórias: a do lado da câmera e a que fica do outro lado - a
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percepção do olhar. Outras histórias poderão ser contadas, a partir das lembranças
daqueles que fazem parte da cena capturada. Ainda, a imagem fotográfica em cena
poderá ser recontada, recriada, customizada em porta-retratos, guardada em álbuns
e na memória afetiva.
A apresentação deste caderno destaca o rompimento da barragem de Fundão, em
2015. A barragem despejou na calha do rio Doce, aproximadamente, 55.000,000
m³ de rejeitos de minério, imprimindo em nossas memórias marcas desse desastre
sociotécnico. Todos nós temos lembranças desse trágico acontecimento. Vivendo
perto ou longe das águas do rio Doce, lamentamos, entristecemos, percebemos a
dor do rio Doce com as águas alaranjadas pelo rejeito de minério.
Nossa conversa segue fios das águas do rio Doce, mas também segue os fios da me-
mória de Eliene Nery e João Marcos, autores deste caderno.
Vamos apresentar outras imagens sobre o rio Doce. Agora pelo olhar do cartunis-
ta, João Marcos, que por meio de suas charges, captura no tempo vivido, registra,
denuncia, revela em seus traços criativos: sentimentos, acontecimentos e fatos do
cotidiano.
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Neste caderno, vamos dialogar com as charges de João Marcos. Esse é seu modo
de conversa – usa o desenho, no estilo cartum, para registrar um acontecimento e
fazer a gente pensar. Foi assim com o rompimento da barragem de Fundão, com as
representações, “Como uma lama no mar”, “Lama a caminho do litoral capixaba” e
outras charges que vamos conhecer ao longo do texto ... #abrimos a prosa.
abrindo a prosa
#música maestro!
... (Como uma onda, Lulu Santos)
Nada do que foi será
De novo do jeito que já foi um dia:
Tudo passa, tudo sempre passará.
A vida vem ondas como um mar
Num indo e vindo infinito.
Tudo que se vê não é
Igual ao que a gente viu há um segundo...
Não adianta fugir nem mentir
Pra si mesmo ....
Como uma onda no mar
Como uma onda no mar.
Figura 2: Como uma onda no mar. Fonte: Diário do Aço, Ipatinga-MG (2015)1
1 João Marcos Parreira Mendonça, na época do rompimento da barragem de Mariana, era chargista do Jornal Diário do Aço/Ipatinga e registrou
em suas charges as consequências da tragédia ambiental na região.
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Figura 3: Lama a caminho do litoral capixaba. Fonte: Diário do Aço, Ipatinga-MG (2015).
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água potável por semanas. Todo o Rio Doce destruído. (Desastre no Vale do
Rio Doce, 2016, p. 15).
Adolescentes, estudantes de escolas públicas de Governador Valadares, que parti-
ciparam da pesquisa “Relação com o saber e educação ambiental: uma pesquisa
com estudantes em tempo integral”, também expressam seus sentimentos com o
rompimento da barragem.
O desastre de Mariana trouxe muitos prejuízos para nós. A água contaminou,
tinha gente que nadava na água; hoje não pode mais, pescador não pode pes-
car mais, os peixes morreram muitos. Eles reclamam, porque foi um prejuízo
para eles, porque era um lazer que eles tinham, tomar banho no rio, brincar,
e agora não podem mais. (Carlos, nome fictício)
O rio era importante para muita gente, que tipo, tinha gente que sobrevivia
da pesca, da água. E hoje não pesca mais, porque não tem tanto peixe assim.
E também a água está ruim, porque os peixes talvez estejam contaminados.
(Ayla, nome fictício)
Ah eu acho que eu me sinto triste né, porque o rio antes era muito bonito e
agora está acabado, morreu muito peixe, acabou com o rio. (Lara, nome fictício)
Além desses depoimentos de pesquisadores e de estudantes, temos na memória
reportagens que circulam pela mídia e depoimentos diversos das pessoas (crian-
ças, jovens, mulheres e homens) pessoas do campo e da cidade, povos indígenas,
quilombolas, pescadores, dentre tantos que descrevem com dor e perplexidade o
impacto desse desastre sociotécnico sobre a população, sobre nós mesmos que vive-
mos ao longo do curso do rio Doce. Sabemos que o desastre será sentido por várias
gerações e ainda não sabemos se o ambiente voltará a ser como antes.
Entendemos que você também deve ter suas representações sobre o rio Doce, suas
lembranças da tragédia, quer seja na forma de imagens da lama, da falta d’água, da
morte dos peixes e outros animais ou de bons momentos vividos no rio em passeios,
banhos, churrasco na beira do rio, etc. Se tiver oportunidade, fale sobre essas lem-
branças. É um jeito de fortalecer o rio Doce, de mostrar o seu valor, sua resistência,
sua vulnerabilidade e o que ele representa para você.
no fio da prosa
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Figura 4: Rio Doce. Fonte: Diário do Aço, Ipatinga-MG (2016).
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sofridos. Os processos deliberativos e programas de reparação de danos causados
pelo rompimento seguem a passos lentos e muitos processos estão paralisados.
E o rio? É doce.
A Vale? Amarga.
Ai, antes fosse
Mais leve a carga.
Entre estatais
E multinacionais,
Quantos ais!
A dívida interna.
A dívida externa.
A dívida eterna.
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Esses vídeos são sugestões para revisitar cenas, obter informações sobre os enca-
minhamentos de reparação de danos aos atingidos e ao meio ambiente. Os vídeos
mostram o rio Doce, antes e depois do rompimento da barragem de Fundão, a pai-
sagem natural, as pessoas, as falas dos atingidos que confirmam o que foi perdido e,
ainda, os danos não reparados.
Vídeo 1: Assista ao vídeo com a reportagem do G1.globo.com/minas Gerais, que
traz comentário recente sobre a impunidade, descaso com o meio ambiente e a
população atingida.
Disponível em:
https://g1.globo.com/mg/minas-gerais/noticia/2020/10/29/cinco-anos-depois-da-
maior-tragedia-ambiental-do-pais-que-matou-19-pessoas-em-mariana-ninguem-
foi-punido.ghtml
Vídeo 2: confira no vídeo da BBC Brasil a reportagem de Ricardo Senra e Luís Kawa-
guti, que percorreram o rio Doce de Colatina (ES) a Governador Valadares (MG)
Disponível em:
https://www.bbc.com/portuguese/videos_e_fotos/2015/11/151119_rio_doce_lk
outras prosas
O meio ambiente anuncia com as enchentes e secas que a natureza está em dese-
quilíbrio. O que se passa com os humanos que não cuidam de sua casa? Pergunta-
mos. Nossa casa é o nosso quintal, nosso bairro, nosso rio, nossa floresta, animais
e plantas. Tudo foi criado antes da nossa existência e entregue a cada pessoa para
cuidar, usufruir e continuar legando às futuras gerações.
Nesse contexto, como podemos pensar a relação entre humanos e ambiente retra-
tada na charge abaixo? Que sentimentos essa charge provoca em você?
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RIO DOCE: NOS FIOS DA ARTE E DA MEMÓRIA / 18
Você sabia que o ambiente é um direito? A Constituição da República Federativa do
Brasil, em seu artigo 225, esclarece:
Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso
comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao poder
público e à coletividade o dever de defendê-lo para as presentes e futuras ge-
rações. (Artigo 225 da Constituição da República Federativa do Brasil de 1988)
Como cidadãos, temos direito ao equilíbrio do ambiente, preconizado na Consti-
tuição Federal, para o bem comum e para as futuras gerações. A palavra ambiente
vem do latim—ambiens.entis— meio ambiente. Na Língua Portuguesa, essa palavra
significa: “tudo que rodeia ou envolve por todos os lados os seres vivos ou coisas e
constitui o meio em que vive; conjunto de condições materiais, culturais, psicológi-
cas e morais que envolvem uma ou mais pessoas” (HOUAISS, 2001, p.183).
O que essa charge denuncia sobre esse direito humano ao ambiente? E o direito do
rio e da biosfera que o constitui?
Uma pesquisadora que muito nos inspirou em nossos estudos sobre esse debate é
Lucie Sauvé, que resume compreensões de ambiente como: natureza a ser apre-
ciada, respeitada, preservada; um recurso a ser gerido, caracterizado como nosso
patrimônio biofísico coletivo; um lugar para habitar, conhecer, cuidar; a biosfera
caracterizada pelo planeta Terra, um mundo de interdependência no qual todos
vivemos juntos (SAUVÉ, 2005). É nesse meio ambiente que vivemos e construímos
um modo de ser no mundo, por meio de nossas relações com os outros e a cultura.
Outro autor, pesquisador, Marcos Reigota, enfatiza que as relações pessoas-ambien-
te processam a criação cultural, tecnológica, os processos históricos e políticos (REI-
GOTA, 2009). O rio Doce é um exemplo de descuido, de descaso das políticas am-
bientais. Pensamos que refletir sobre o rio Doce e o meio ambiente nos faz pensar
sobre as relações das pessoas com a natureza, os animais, com o outro, com a nossa
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RIO DOCE: NOS FIOS DA ARTE E DA MEMÓRIA / 19
cidade – o que nos leva a construir ideias, opiniões, saberes que possam mobilizar o
agir na defesa do rio, da natureza, de nossa vida no planeta.
É provável que você participa ou já participou de algum movimento em defesa do
rio Doce, por meio de conversas com colegas e professores, na escola, sobre a lama
de rejeitos da barragem de Fundão no rio Doce e como ficaria a água para o uso hu-
mano e dos animais. Talvez você tenha participado, ainda, de reuniões em bairros e
igrejas sobre a indenização de danos disponibilizada pela Samarco, procurou ouvir
jornais falados e reportagens sobre a turbidez da água e sobre os danos à população,
leu jornais diversos, viu o rio, conversou com familiares, etc.
Esses movimentos são formas de ação, de participação, de reflexão sobre o futuro
do rio Doce e do ambiente. Entendemos que o rio Doce faz parte de nossas vidas,
morando perto ou longe. Ele interage, estabelece relações pela paisagem, pela ponte
que atravessamos, pela água que bebemos, pela chuva e todos os movimentos do
clima, pelos peixes, plantas e animais. O rio Doce é parte das nossas vidas.
Em tempos de tecnologias de informação e comunicação, com a velocidade de no-
vas informações, é preciso refletir, pensar sobre a realidade dos fatos, as realidades
ambiental, local e global. Essa defesa, ao longo do tempo, foi organizada em gestão
e políticas ambientais. Precisamos dialogar para tecer ideias, refletir sobre a degrada-
ção ambiental, criar modos sustentáveis de agir em nosso entorno. Pequenas ações
ajudam: separar o lixo úmido e seco, cuidar da praça do bairro, árvore da rua...
Pense outras ações que você pode fazer para contribuir com o meio ambiente, na
sua escola e seu entorno.
As Universidades, as escolas, as igrejas, as organizações da sociedade civil são insti-
tuições abertas ao diálogo, nos revelam conhecimentos, informações e são caminhos
para a construção de laços de referência, projetos e redes de proteção relacionadas
ao meio ambiente. Se tiver oportunidade, participe de eventos e de reuniões com
amigos e familiares.
Como vivemos em um mundo de imagens, vamos apresentar algumas dicas de ma-
teriais interessantes, de fácil acesso na internet, que ajudam a aprofundar temas
relacionados ao ambiente e construir novos questionamentos.
Fotografias: Sebastião Salgado, renomado fotógrafo documental. Por meio de suas
fotografias retrata fatos, dramas sociais e políticos, defende a natureza. Acesse o link
abaixo e conheça a força expressiva de suas fotografias:
https://br.pinterest.com/abordando/fotografia-de-sebasti%C3%A3o-salgado/
Manifesto: “Ajude-nos a proteger os índios da Amazônia da Covid-19”. O famoso
fotógrafo brasileiro Sebastião Salgado e sua mulher, a designer gráfica Lélia Wanick
Salgado, pedem que o presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, adote medidas imedia-
tas para defender os povos indígenas da ameaça da pandemia.
https://www.youtube.com/watch?v=u7G4JA1of_E
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RIO DOCE: NOS FIOS DA ARTE E DA MEMÓRIA / 20
O Instituto Terra: uma organização civil sem fins lucrativos voltada para a restaura-
ção ambiental e para o desenvolvimento sustentável do Vale do Rio Doce. O insti-
tuto está localizado bem perto de nós, a vizinha Aimorés. A região originariamente
era coberta pela Mata Atlântica e abrange municípios de Minas Gerais e do Espírito
Santo, banhados pela Bacia Hidrográfica do Rio Doce.
Institutoterra.org
Documentário: “Lixo Extraordinário” - relata o trabalho do artista plástico brasi-
leiro, Vik Muniz, com catadores de material reciclável em um dos maiores aterros
controlados do mundo, localizado no Jardim Gramacho, em Duque de Caxias (RJ).
Livro: “O Amanhã não está à venda”, de Ailton Krenak, líder indígena que discute
como a sociedade se divorciou da natureza e sobre a pandemia de Covid-19. Abai-
xo o link para acessar e baixar PDF do livro. Uma ótima leitura!
https://revistaeducacao.com.br/2020/04/18/ailton-krenak-coronavirus/
Esse conjunto de materiais que selecionamos pode render boas conversas em casa,
em seus círculos de amizade, nos grupos dos quais participa e nos ajudam a refletir
sobre as responsabilidades pessoais, coletivas e políticas, empresariais, dentre ou-
tras, no cuidado ambiental e em defesa do rio Doce.
amarrando a prosa
A prosa tá boa...
Gostamos de compartilhar com você essas reflexões e ideias sobre o rio Doce e o
ambiente. Esperamos que a leitura deste caderno possa ter contribuído para o início
de outras conversas sobre o rio Doce.
Jorge Luís Borges é um poeta que escreveu sobre uma vivência de viagem em seu
texto “O deserto do Saara”. Escreve ele: “A uns trezentos ou quatrocentos metros da
Pirâmide me inclinei, peguei um punhado de areia, deixei-o cair silenciosamente
um pouco mais longe e disse em voz baixa: estou modificando o Saara”. Borges nos
encoraja. Um punhado de areia modifica o meio ambiente. Podemos fazer isso!
Deixamos para você a amarração das palavras deste caderno a outras palavras, de
outros parceiros, colegas, escolares... Passe adiante este caderno, ele mesmo ou por
meio de suas palavras, suas ideias e outras representações como: desenhos, fotogra-
fias, vídeos e, principalmente, a escuta da conversa do rio. Escute.... Ele fala nos fios
de suas águas!
#oRioDoceFala
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Fechamos essa prosa com os versos do poema “De mão dadas”, de Carlos Drum-
mond de Andrade, que convida a caminhar juntos. Os fios da arte e da memória
que aqui tecemos ganham sentido na luta e defesa comuns. Que a esperança e os
desejos nos mobilizem...
..... não cantarei o mundo futuro
Estou preso à vida e olho meus companheiros
Estão taciturnos mas nutrem grandes esperanças
Entre eles, considero a enorme realidade
O presente é tão grande, não nos afastemos
Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas.
referências
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MILANEZ, Bruno; LOSEKANN, Cristiana (org.). Desastre no Vale do Rio Doce:
antecedentes, impactos e ações sobre a destruição. Rio de Janeiro: Folio Digital:
Letra e Imagem, 2016.
MINAS GERAIS. Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento
Sustentável. Disponível em: http://www.meioambiente.mg.gov.br/component/
content/article/13-informativo/2879-desastre-ambiental-em-mariana-e-
recuperacao-da-bacia-do-rio-doce. Acesso em: nov. 2020.
Minas Gerais. Relatório: Avaliação dos efeitos e desdobramentos do rompimento
da Barragem de Fundão em Mariana-MG. Belo Horizonte, 2016.PDF. Disponível
em: https://arquivos.ana.gov.br/RioDoce/EncarteRioDoce_22_03_2016v2.pdf.
Acesso em: nov. 2020.
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Acesso em: Nov.2020
REIGOTA, Marcos. O que é educação ambiental. São Paulo: Editora Brasiliense, 2009.
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te. Tradução de Lívia de Oliveira. Londrina: Eduel, 2012
TUAN, Yi-Fu. Paisagens do medo. São Paulo: Editora UNESP, 2005.
Sobre os Autores
Eliene Nery Santana Enes
Mestre em Gestão Integrada do Território (GIT/UNIVALE). Professora do curso de
Psicologia (UNIVALE). Pedagoga. Psicóloga. Pesquisadora vinculada ao Grupo de
Pesquisa: Núcleo Interdisciplinar de Educação, Saúde e Direitos (UNIVALE).
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