Atendimento e Comportamento de Gatos 1
Atendimento e Comportamento de Gatos 1
Atendimento e Comportamento de Gatos 1
SUMÁRIO
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NOSSA HISTÓRIA
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PRINCIPAIS COMPONENTES DO COMPORTAMENTO FELINO
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pode ser medroso porque herdou esse traço de personalidade, porque aprendeu a ter medo
de humanos ao observar o comportamento da mãe, e em razão do temperamento desta,
não foi suficientemente exposto ao contato humano no período de socialização; ou devido
a soma desses fatores (ROBINSON, 1997).
Em síntese, o comportamento individual possui características dinâmicas, que
apesar de consistentes durante diferentes experiências, pode ser alterado ao longo da vida
por fatores causadores de estresse (FEAVER; MENDL; BATESON, 1986) e através de
experiências aprendidas. A estimulação e as experiências na infância influenciam o
comportamento e a sanidade dos gatos adultos, tornando-os (ou não) animais aptos à
adoção e à convivência com outras espécies (ADAMELLI et al., 2004; ADAMELLI et al.,
2005).
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O ESTRESSE
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A IMPORTANCIA DO PERÍODO DE SOCIALIZAÇÃO
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essas fases entre estudos podem ser consequentes às diferenças ambientais (BATESON;
MENDL; FEAVER, 1990).
A fase entre o período de socialização tardia e a maturidade sexual é chamada de
juvenil ou adolescência. A duração é variável, de acordo com a raça e o ambiente. Nesta
fase não há mudanças comportamentais marcantes e sim o desenvolvimento gradual de
habilidades motoras (OVERALL et al., 2005). Ao atingirem a maturidade sexual, o
comportamento dos gatos pode-se alterar, podendo ser observados distúrbios de
comportamento consequentes às experiências anteriormente vividas. No entanto, alguns
comportamentos que seriam normais para espécie nessa fase da vida, como os ligados à
reprodução e à maternidade, são suprimidos através das cirurgias para gonadectomia
(CROWELL-DAVIS; CURTIS; KNOWLES, 2004).
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O COMPORTAMENTO SOCIAL
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próximos e praticam limpeza mútua com mais frequência entre si do que a outros membros
do grupo. São observados juntos em diversos locais e contextos: não se deslocam em
direção a recursos ou dormem juntos por acaso, mas sim porque há um vínculo social e
afetivo que os une (WOLFE, 2001).
Da mesma forma, parceiros preferenciais esfregam-se mais uns nos outros do que
em outros membros do grupo (CROWELL-DAVIS; CURTIS; KNOWLES, 2004). A
esfregação mútua provavelmente tem várias funções. O contato intenso, especificamente
quando um gato esfrega a lateral do rosto no rosto ou corpo de outro gato, sem dúvida
facilita a troca de odores. Provavelmente a sensação tátil é importante, uma vez que com
frequência os gatos ronronam durante essa atividade. O fato de que os gatos também se
cheiram durante esse comportamento sugere que gatos pertencentes a um grupo
desenvolvem um odor próprio da colônia (BRADSHAW; CAMERON-BEAUMONT, 2000).
A aproximação com a cauda em pé (suspensa verticalmente ao chão) sinaliza
intenções amigáveis quando um gato se aproxima de outro. A esfregação mútua, por
exemplo, é na maioria das vezes precedida da aproximação de um dos gatos com a cauda
em pé e ocorre com mais frequência quando ambos os gatos apresentam essa postura
(CAMERONBEAUMONT, 1997).
Membros de uma mesma colônia, de todas as faixas etárias, brincam uns com os
outros, mesmo em situação de desnutrição. A extensão do membro dianteiro, com as unhas
retraídas ocorre de quatro semanas aos quatro meses de vida, quando as relações sociais
entre filhotes da mesma ninhada estão sendo desenvolvidas (WEST, 1974).
Além de comportamentos sociais ativos, os gatos também interagem de forma
afiliativa apenas dormindo ou descansando muito próximos ou com corpos unidos, quando
muitas vezes um parceiro recosta no outro e facilita o posicionamento do companheiro
(CROWELL-DAVIS; CURTIS; KNOWLES, 2004).
Em colônias de gatos ferais, a cooperação entre fêmeas nos cuidados com filhotes
é comumente observada, e a autoajuda não ocorre apenas entre fêmeas consanguíneas,
constituindo um típico comportamento de altruísmo recíproco. Fêmeas também realizam o
comportamento de parteiras, acompanhando o parto de outras fêmeas. Fêmeas não
parturientes limpam o períneo da gestante e os filhotes, ingerirem o líquido amniótico,
amamentam, trazem comida para a parturiente e guardam os filhotes. Fêmeas também
9
cooperam entre si ajudando a mudar os filhotes umas das outras de local, guardando os
filhotes para que não fiquem sozinhos durante a mudança (FELDMAN, 1993).
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gatos, tanto filhotes quanto adultos, aprendem através da observação inclusive atividades
que não são típicas da espécie (CHESLER, 1969). Essa habilidade é provavelmente
adaptativa, uma vez que espécies que dependem da caça precisam aprender e mudar de
tática rapidamente para sobreviver na natureza (CROWELL-DAVIS; CURTIS; KNOWLES,
2004).
Embora o gato seja um animal gregário, o comportamento predatório é geralmente
exibido como atividade individual, devido ao tipo de presa tipicamente abatida, sendo
necessárias várias presas ao dia para manter um gato adulto (CROWELL-DAVIS; CURTIS;
KNOWLES, 2004).
O contato com a mãe é crítico para o aprendizado social dos filhotes, uma vez que
ela será o primeiro individuo da espécie com quem terão uma relação afiliativa. O
aprendizado com a mãe vai além da infância. Foi observado que mais tempo é dedicado à
limpeza social em grupos onde a mãe ainda está presente (CURTIS; KNOWLES;
CROWELL-DAVIS, 2003). Filhotes buscam na mãe informações sobre como interagir com
o mundo, e socializam mais rapidamente com humanos quando a mãe está presente e
demonstra tranquilidade ao interagir com pessoas (CROWELL-DAVIS; CURTIS;
KNOWLES, 2004).
Quanto aos machos adultos, estes foram observados separando brincadeiras mais
agressivas entre filhotes ou juvenis, apenas usando um membro dianteiro para afastá-los,
sem demonstrar sinais de agressão (CROWELL-DAVIS; CURTIS; KNOWLES, 2003).
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Dominância, Comportamento Agonístico e Agressividade
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seja, uma vez que uma relação de dominância é estabelecida entre dois animais, permitirá
que ambos possam predizer o resultado do seu próximo encontro, refletindo-se em
comportamentos agonísticos ritualizados, e não à injúria a algum dos envolvidos
(CROWELL-DAVIS, 2007). Essa é a razão principal para muitos especialistas em
comportamento não concordarem com o diagnóstico de agressão por dominância ou por
estado social para animais apresentando agressividade (BRADSHAW, 2009; CURTIS,
2008; LUESCHER; REISNER, 2008).
Gatos tímidos ou medrosos irão exibir sinais sutis como desviar o olhar, abaixar
ligeiramente as orelhas, virar a cabeça para outra direção ou se inclinar para trás ao se
deparar com um gato assertivo. Em encontros mais intensos, irão abaixar as orelhas rente
à cabeça, abaixar e manter a cauda enroscada junto ao corpo, virar a cabeça e agachar, e
em casos extremos, podem rolar para o lado, expor o ventre e vocalizar (BRADSHAW;
CAMERONBEAUMONT, 2000; FELDMAN, 1994; KONECNY, 1983).
Frequentemente, encontros são evitados através da cessão do espaço ou
desviando-se o caminho (KNOWLES; CURTIS; CROWELL-DAVIS, 2004). Gatos assertivos
também sinalizam seu estado social através de sinais, como olhar fixamente, com membros
tensos e orelhas eretas ou viradas lateralmente, além de elevar e bater a cauda. Montar
não é um comportamento comum (OVERALL, 1997).
Gatos assertivos tendem a não buscar embates, a não ser que outros gatos os
confrontem por um recurso que eles especificamente queiram num determinado momento.
Devido à natureza do seu comportamento agonístico, a agressividade em grupos de gatos
domésticos tende a se manter ritualizada. Porém, fatores causadores de estresse, má
socialização, escassez de recursos e eventos aversivos que levam a ansiedade, medos e
fobias fazem da agressividade um dos problemas mais comuns em grupos de gatos
domiciliados e em abrigos. A compreensão da dinâmica de grupos de animais é
fundamental para a promoção do bem-estar felino (CROWELL-DAVIS; CURTIS;
KNOWLES, 2004; NEVILLE, 2004).
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O BEM ESTAR ANIMAL
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O MANEJO FELINE-FRIENDLY
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procedimentos mais complexos utilizados na rotina clínica. O esquema também mostra uma
série de pré-requisitos necessários ao atendimento adequado para os gatos, apresentando
equipamentos ideais e design apropriado das instalações.
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A VISITA AO MÉDICO VETERINÁRIO
Segundo SEKSEL (2006) educar os tutores para que proporcionem cuidado à saúde
do seu felino de estimação é uma forma de prevenir problemas comportamentais futuros e
reduzir o estresse dentro de casa, contribuindo para o bem-estar do animal em seu próprio
lar e comportamentos positivos em futuras visitas ao veterinário.
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O uso de toalhas sobre a caixa de transporte é uma alternativa interessante quando
se visa reduzir o estresse do animal, caso este se mostre assustado demais, ou com
sensibilidade considerável a estímulos visuais e auditivos (RODAN et al., 2011).
Caso não seja possível sedar adequadamente o animal com essas combinações, é
possível, ainda, administrar uma quantidade pequena de cetamina. A acepromazina, no
entanto, não é indicada nesse tipo de situação e deve ser evitada, uma vez que se trata de
um sedativo não ansiolítico, que limita reações motoras do animal, sem modificar sua
percepção a estímulos externos. Ao invés disso, esse fármaco aumenta a sensibilidade do
paciente a ruídos, podendo tornar o animal ainda mais combativo (RODAN et al., 2011).
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O ATENDIMENTO POR PARTE DO MÉDICO VETERINÁRIO
A área destinada à recepção do tutor e seu gato é geralmente o primeiro lugar onde
os proprietários tem a oportunidade de interagir com o ambiente hospitalar e esta, quando
adequada, contribui com a aprovação do cliente, pois gera uma sensação de segurança
mostrando a preocupação do estabelecimento com o paciente (BRUNT, 2012).
A área da recepção deve ser desenvolvida de forma que os gatos não se posicionem
de frente um para o outro, através de paredes ou telas, de forma a minimizar o contato
visual e possíveis conflitos entre os animais. Além da estrutura da área de recepção, é
adequado atentar para odores acidentais presentes no ambiente, como derramamento de
líquidos, pois estímulos como este podem facilitar o aparecimento precoce de estresse,
mesmo antes do gato iniciar a consulta médica. Além disso, outros odores marcantes, como
desinfetantes, também interferem no bem-estar do paciente, e, dessa forma, o espaço deve
ser bem ventilado evitando que novamente estímulos odoríferos tragam desconforto ao
gato (CANNON et al., 2016).
Não importa o quão calma seja a área de recepção da clínica ou hospital, levar o
gato diretamente para o consultório, assim que chegar, reduzirá o medo e a ansiedade
causados por estarem em um lugar que não conhecem (RODAN 2012). De outra forma,
caso não seja possível atender o paciente imediatamente, oferecer aos clientes prateleiras
verticais para acomodar o paciente dentro da caixa de transporte demonstra atenção com
os hábitos do felino, uma vez que se sentem seguros a certa altura do chão. Caso os
proprietários prefiram, o veterinário deve permitir que os pacientes permaneçam na caixa
de transporte dentro do carro, enquanto não são atendidos (CANNON et al., 2016).
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Uma vez no consultório, o gato deve ter a oportunidade de iniciar o contato quando
desejar, já que se sentem menos ansiosos com o controle da situação em um ambiente
estranho. O veterinário deve abrir a porta da caixa de transporte e deixá-la aberta, enquanto
cumprimenta o cliente e revisa o histórico do gato. A partir disso, o gato poderá explorar o
consultório, caso se senta confortável. Colocar catnip perto do transportador pode encorajar
o gato a se aventurar por conta própria. Observar a postura do paciente e as expressões
faciais pode ajudar a revelar ao veterinário o nível de medo do gato.
A ordem do exame físico deve ser adaptada a cada paciente, pois começar pelo
exame da cabeça e deixar por último a cauda não é a forma mais fácil para todos os gatos,
uma vez que animais com úlceras orais sentirão mais dor quando examinados na boca e
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dentes, enquanto gatos com desordens urinárias terão mais desconforto à manipulação do
abdômen (RODAN, 2012).
Assim que o exame for finalizado, o gato deve poder voltar para dentro da caixa de
transporte o quanto antes. É interessante documentar, junto ao histórico do animal, quais
técnicas de manejo funcionam melhor com cada paciente, pois auxilia a evitar mais estresse
em visitas futuras, quando então o gato já será conhecido pela equipe (RODAN, 2012).
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Mensuração da Pressão Arterial
A pressão sanguínea deve ser o primeiro parâmetro a ser avaliado pois, após outros
procedimentos, considera-se que o gato está sob um nível de estresse maior e, dessa
forma, poderemos ter uma alteração na pressão que não condiz com a realidade. Para
mensurar a pressão arterial, necessitamos de um ambiente calmo, silencioso, afastado de
outros animais e, quando possível, na presença do tutor (BROWN; ATKINS; BAGLEY et al.
apud RODAN, 2012). Podemos mensurar a pressão sanguínea do paciente no consultório
ou na área onde se realizam os tratamentos dos animais internos (RODAN, 2012), desde
que isso não cause mais estresse no paciente em questão, pois o gato necessita de
aproximadamente cinco a dez minutos para se acostumar com um ambiente novo e,
geralmente, o tempo que o clínico leva para coletar a história clínica e anamnese do
paciente é suficiente, reduzindo a chance da “síndrome-do jaleco-branco” (RODAN, 2012).
Coleta de Sangue
Na maioria dos casos, o volume de sangue solicitado pelos laboratórios é maior que
o necessário para a amostra ser analisada e, nesses casos, é interessante contatar com os
patologistas clínicos, a fim de esclarecer qual quantidade deve ser coletada. Caso seja
possível coletar menos volume, a clínica/hospital deve ter disponíveis microtainers ou tubos
aviários com EDTA, evitando a hemoconcentração (RODAN, 2012). Para puncionar o vaso,
a máxima “menos é mais” é importante, uma vez que quanto menor a contenção aplicada
ao gato, mais eficaz será a coleta (LOVELACE, 2012).
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Existe mais de um local em que se pode realizar com segurança e eficácia a coleta
de sangue, porém, independentemente desta escolha, na maioria dos pacientes é possível
uma só pessoa realizar a coleta, como é o caso do acesso na veia jugular. Nessa região é
possível obter grandes volumes de forma rápida, no entanto, alguns gatos podem preferir
visualizar o que está sendo feito e, por isso nesses indivíduos, deve-se optar pela veia
safena medial ou a veia cefálica (RODAN, 2012).
Para proceder com a coleta na veia jugular ou cefálica, o gato pode ser contido em
uma posição sentada, ao passo que para coletar sangue da veia safena medial, o decúbito
esternal é preferido (LOVELACE, 2012). Para prevenir que os vasos sejam rompidos, pode-
se utilizar um cateter butterfly. Ainda, em pacientes muito sensíveis ao uso de agulhas,
pode ser feita a aplicação de gel de lidocaína trinta minutos antes da coleta, anestesiando
adequadamente a região. A presença do tutor durante a coleta pode ser requerida e,
quando tudo ocorre de maneira adequada, ele pode colaborar para que o dono do animal
tenha mais confiança na equipe veterinária (RODAN, 2012).
Coleta de Urina
A coleta de urina deve ser realizada por cistocentese e poderá ser feita em uma
mesa ou no colo de um indivíduo, lembrando que a melhor posição para a punção vesical
será a que o gato se sentir mais confortável, sem que tenha seus membros esticados ou
contidos (RODAN, 2012). Segundo RODAN et al. (2016) as amostras de urina são
geralmente coletadas com o gato em decúbito lateral, com as pernas voltadas para trás,
para melhor visualização da bexiga, no entanto, essa posição gera desconforto. Como
alternativas para evitar a falta de conforto do gato durante a coleta podemos posicionar o
animal em estação, ou em decúbito dorsal, sem esticar os membros (RODAN et al., 2016).
Apoiar o dorso do paciente durante a coleta auxilia a acalmar o gato, além de reduzir uma
contenção exagerada (LOVELACE, 2012).
Exceto a coleta de urina por micção natural, todas as outras técnicas podem resultar
em algum grau de trauma físico para o paciente (LOVELACE, 2012). Embora a cistocentese
se apresente como método de eleição para a coleta de urina, alguns gatos com dor, como
pacientes com CIF, podem ter problemas com essa técnica e, para o alívio do estímulo
doloroso nesses casos, se preconiza administração de analgésicos apropriados. Ainda,
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para os gatos com CIF, se permite que a urina seja coleta por micção natural, em recipientes
absorventes dentro da vasilha sanitária (RODAN et al., 2016).
Uma vez que a indicação desses exames faz parte de uma suspeita clínica, é
aconselhado fazer uso de analgésicos antes dos procedimentos para que sejam realizados
com conforto. Por exemplo, um paciente que necessita radiografar o tórax pode sofrer de
DAD e, nesse caso, muitos países como os EUA optam pela sedação profunda antes do
US ou RX (RODAN et al., 2016). Pacientes que chegam ao atendimento apresentando
dispneia não poderão ser imediatamente radiografados ou sofrerem intensa manipulação,
pois além de agravar o quadro clínico desses animais, o gato poderá vir a óbito em função
de submetê-lo a um posicionamento incompatível com sua condição clínica.
Hospitalização
Caso a internação do gato seja essencial, como para pacientes com doenças graves
ou que necessitem supervisão veterinária, o animal deve permanecer em um lugar
silencioso e calmo, sem que possa visualizar, ouvir, ou sentir odores de outros animais.
Isso pode ser alcançado acomodando-se os pacientes em gaiolas separadas, lado a lado,
ao invés de posicionar um animal de frente para o outro, a fim de reduzir conflitos visuais.
Ainda, alguns gatos podem preferir móveis verticais, com certa altura do chão. O uso de
cobertores e caixas ou tocas para que o gato possa se esconder quando sentir necessidade
também auxiliam na redução do estresse.
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Por mais que um hospital seja higienizado com a frequência e maneira corretas, é
muito difícil eliminar completamente os odores, uma vez que é um ambiente com intenso
fluxo de animais. Uma alternativa para amenizar esses odores é a aplicação de Feliway no
local trinta minutos antes do paciente ser acomodado o que, além de acalmar o gato,
melhora a ingestão de alimento e auto higiene (GRIFFITH; STEIGERWALD; BUFFINGTON
apud RODAN, 2012. p. 16). Griffin e Hume destacam que o paciente deve ser colocado em
um box ou gaiola, onde seja capaz de defecar e urinar, além de poder esticar os membros
ou até pular, caso se sinta disposto e que os gatos preferem se deitar sobre superfícies
macias, onde experimentam períodos mais longos de sono (RODAN, 2012, p. 16). Preparar
uma toalha torcida em forma de círculo faz uma boa cama para o interno e permite a
visualização do acesso intravenoso pela equipe veterinária, sem perturbar o paciente (YIN
apud RODAN, 2012).
Para manipular ou remover do box um felino que demonstra medo, devemos nos
posicionar ao lado da gaiola, e não à frente dela pois, dessa forma, o felino será encorajado
a entrar dentro da caixa de transporte, como esconderijo. Se o funcionário colocar grande
parte de seu corpo dentro do box, ele tende a aumentar o medo e propiciar a fuga do animal
(RODAN, 2012).
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O Retorno para Casa
Geralmente voltar para casa após uma visita ao veterinário ou alta hospitalar não é
um problema para o gato, porém, existem duas situações que devem ser abordadas com
os tutores do paciente: a volta do paciente em si e os outros gatos que convivem com o
paciente, que porventura não aceitam seu retorno (HEATH apud RODAN, 2012). É
importante orientar o proprietário dessa possibilidade de estranhamento por parte do
paciente, que pode permanecer reativo por vários dias. Rochlitz comenta que, nesse
momento, pode ser útil ignorar o comportamento do gato, para que as atitudes indesejadas
não sejam reforçadas. Os outros animais da casa podem não reconhecer os odores que o
paciente traz do ambiente em que esteve gerando descontentamento dos indivíduos
(RODAN, 2012). Uma alternativa a esse problema pode ser manter o paciente dentro da
caixa de transporte, por algumas horas, ou até que os outros animais se familiarizem com
os odores trazidos e, caso a reintrodução ainda cause problemas, o cliente deve primeiro
higienizar o(s) indivíduo(s) que permanece na casa com uma toalha e depois limpar o gato
que retorna com a mesma toalha, para transferir o aroma familiar para o "estranho"
(RODAN, 2012).
Outra possibilidade frente a essa questão seria levar os dois (ou todos) os gatos ao
veterinário ao mesmo tempo, mesmo quando somente um deles necessita de atendimento
veterinário. Essa opção, contudo, pode não parecer prática e até provocar a insatisfação
do cliente, que não está disposto a causar ainda mais estranhamento em sua rotina.
Pulverizar Feliway no transportador pelo menos 30 minutos antes de viajar para o hospital
veterinário e incluir roupas familiares poderá reduzir ansiedade para os gatos durante a
visita à clínica (RODAN, 2012).
Feromonioterapia
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gatos associados a novos ambientes, a introdução de gatos estranhos ou outros estresses
ambientais (BEAVER, 2003).
A comunicação odorífera dos gatos pode ser evidenciada de três formas: marcação
facial, marcação com as unhas e marcação urinária, sendo que a última pode ser dividida
em finalidade sexual e marcação urinária reacional (PEREIRA et al., 2013). O órgão
vomeronasal localiza-se na parte fina rostral do palato duro (PEREIRA et al., 2013) e é o
responsável pela percepção dos feromônios de demarcação, pois tem função de detectar
odor de outros gatos, através dos movimentos de flehmen, onde o animal ergue seus lábios
superiores e, com a boca levemente aberta expõe o órgão (RODAN, 2012).
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diretamente no animal. O difusor contém um feromônio facial que não tem efeitos sobre
pessoas ou outros animais, que não o gato (DEPORTER, 2016).
O efeito confortante dos feromônios sintéticos não poderá amenizar conflitos sociais
muito intensos e tem sua função limitada, sendo efetivo quando associado a outras
maneiras de reduzir estresse. Ainda segundo este autor, não são conhecidos efeitos
adversos em função da utilização dos feromônios sintéticos, uma vez que foram
desenvolvidos especialmente para os gatos (DEPORTER, 2016),
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TEXTO COMPLEMENTAR
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CASO CLÍNICO
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
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