Atendimento e Comportamento de Gatos 1

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ATENDIMENTO E COMPORTAMENTO DE GATOS

SUMÁRIO

NOSSA HISTÓRIA ............................................................................................................. 2


PRINCIPAIS COMPONENTES DO COMPORTAMENTO FELINO ............................................ 3
O ESTRESSE ..................................................................................................................... 5
A IMPORTANCIA DO PERÍODO DE SOCIALIZAÇÃO ............................................................ 6
O COMPORTAMENTO SOCIAL .......................................................................................... 8
A Colônia ou Grupo Social de Felis Catus .................................................................................8
Relações com Co-específicos, Vínculo Social e Comunicação....................................................8
Interações entre Fêmeas ........................................................................................................9
Interações entre Fêmeas e Machos....................................................................................... 10
Interações entre Adultos e Filhotes ...................................................................................... 10
A Importância do Parentesco e Familiaridade entre os Gatos ................................................ 11
Dominância, Comportamento Agonístico e Agressividade ..................................................... 12
O BEM ESTAR ANIMAL .................................................................................................. 14
O MANEJO FELINE-FRIENDLY ......................................................................................... 15
A VISITA AO MÉDICO VETERINÁRIO ............................................................................... 17
O ATENDIMENTO POR PARTE DO MÉDICO VETERINÁRIO ............................................... 19
Abordagem do Felino na Rotina Clínica ................................................................................. 19
Procedimentos na Rotina Clínica .......................................................................................... 21
Coleta de Sangue ................................................................................................................. 22
Coleta de Urina .................................................................................................................... 23
CONSIDERAÇÕES FINAIS .............................................................................................. 106
REFERÊNCIAS .............................................................................................................. 107

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NOSSA HISTÓRIA

A nossa história inicia com a realização do sonho de um grupo de empresários, em


atender à crescente demanda de alunos para cursos de Graduação e Pós-Graduação. Com
isso foi criado a nossa instituição, como entidade oferecendo serviços educacionais em
nível superior.

A instituição tem por objetivo formar diplomados nas diferentes áreas de


conhecimento, aptos para a inserção em setores profissionais e para a participação no
desenvolvimento da sociedade brasileira, e colaborar na sua formação contínua. Além de
promover a divulgação de conhecimentos culturais, científicos e técnicos que constituem
patrimônio da humanidade e comunicar o saber através do ensino, de publicação ou outras
normas de comunicação.

A nossa missão é oferecer qualidade em conhecimento e cultura de forma confiável


e eficiente para que o aluno tenha oportunidade de construir uma base profissional e ética.
Dessa forma, conquistando o espaço de uma das instituições modelo no país na oferta de
cursos, primando sempre pela inovação tecnológica, excelência no atendimento e valor do
serviço oferecido.

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PRINCIPAIS COMPONENTES DO COMPORTAMENTO FELINO

A convivência próxima com a espécie humana comumente submete os animais a


experiências aversivas precocemente (DILLY, 2005; LANDSGERG, 1996). A separação da
mãe, o isolamento de membros da mesma espécie, a punição excessiva e a privação da
realização de comportamentos normais e necessários ao bem-estar da espécie contribuem
para o desenvolvimento de diversos distúrbios de comportamento (ADAMELLI et al., 2005;
HART, 1980).
Não só o comportamento, mas também a fisiologia de um gato pode ser alterada por
experiências sofridas quando neonatos e filhotes (FELDMAN, 1993). O ambiente físico e
social ao qual o animal é exposto pode gerar estresse intenso, o que é facilmente observado
em ambientes com excesso de animais, com falta de controle ambiental e restrição
comportamental, tais como os abrigos (BEAVER, 1994). O estresse oriundo do ambiente
social pode gerar marcação territorial, agressividade ou reclusão, ou levando alguns
sociais, causando ainda ao comportamento agonístico normal, tipicamente ritualizado em
gatos, a escalar para a agressão (ADAMELLI et al., 2005).
A seleção natural e a hereditariedade também influenciam o comportamento da
espécie e o comportamento individual (MACDONALD, 1983). Enfermidades de vários
sistemas do organismo e as alterações comportamentais têm fatores genéticos que podem
ser passados às novas gerações (HART, 1980). Trabalhos experimentais demonstraram
que diversas características comportamentais podem ser alteradas através de manipulação
genética. Todavia, características de origem genética são constantemente influenciadas
por fatores ambientais (HART, 1980).
A aprendizagem é outro aspecto fundamental na formação do comportamento felino
(GERBER; JOCHLE; SULMAN, 1973). A aprendizagem é definida como a mudança no
comportamento resultante das experiências do indivíduo, contrastando com o
comportamento instintivo, que envolve hereditariedade (BEAVER, 1994). Filhotes de gatos
aprendem após o nascimento a escolher uma teta preferida para mamar, através de
tentativa e erro, assim como aprendem a evitar e escapar de situações desagradáveis.
Gatos são capazes de aprendizagem através da observação e aprendizagem por
associação, na qual o indivíduo usa a informação adquirida através de um problema para
solucionar outro (HART, 1980).
Fatores que motivam o aprendizado do filhote podem definir a capacidade e o
comportamento do gato adulto. Por exemplo, um filhote cuja mãe tem medo de humanos

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pode ser medroso porque herdou esse traço de personalidade, porque aprendeu a ter medo
de humanos ao observar o comportamento da mãe, e em razão do temperamento desta,
não foi suficientemente exposto ao contato humano no período de socialização; ou devido
a soma desses fatores (ROBINSON, 1997).
Em síntese, o comportamento individual possui características dinâmicas, que
apesar de consistentes durante diferentes experiências, pode ser alterado ao longo da vida
por fatores causadores de estresse (FEAVER; MENDL; BATESON, 1986) e através de
experiências aprendidas. A estimulação e as experiências na infância influenciam o
comportamento e a sanidade dos gatos adultos, tornando-os (ou não) animais aptos à
adoção e à convivência com outras espécies (ADAMELLI et al., 2004; ADAMELLI et al.,
2005).

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O ESTRESSE

Dos vários fatores que podem influenciar o comportamento de gatos domésticos,


nenhum é tão marcante como o estresse (BENEFIEL; GREENOUGH, 1998; WESTROPP
et al., 2006). A excessiva estimulação do sistema nervoso simpático altera o funcionamento
hipotalâmico e hormonal, particularmente das glândulas adrenais (BOS, 1998). A
cronicidade desse estado prejudica o funcionamento do sistema imunológico (HART, 1980).
Essas alterações podem ser particularmente graves em gatos idosos e filhotes, quando
uma maior dificuldade de adaptação pode levar a um declínio fisiológico e psicológico
(HOUPT, 2001; OVERALL, 2005).
Mudanças e falta de controle sobre o ambiente, confinamento, trauma físico e dor,
superpopulação, exposição contínua a ruídos de alta frequência, antecipação prolongada,
desamparo aprendido e luto são apenas alguns exemplos de fatores estressantes comuns
que levam os gatos a um quadro de frustração (HART, 1980; KESSLER; TURNER, 1999a).
Os sinais clínicos de anormalidades orgânicas e psicológicas causadas pelo
estresse são inúmeros, uma vez que vários sistemas orgânicos são afetados
simultaneamente. Dentre alguns sinais clínicos e comportamentais relatados estão: medo,
agitação, excitabilidade, depressão, reclusão, isolamento, mudanças nas preferências e
hábitos, alterações no apetite, aversão a determinados locais, eliminação inapropriada de
urina e fezes, agressividade, pseudociese, limpeza (grooming) excessiva, abstenção de
limpeza, perda de pelo psicogênica, febre, vômito, diarreia, constipação, úlceras gástricas,
convulsões, choque psicogênico e catatonia (KESSLER; TURNER, 1999b; OVERALL;
DUNHAM, 2002).
Não obstante, todos esses exemplos são diagnósticos tardios de problemas já
estabelecidos. A prevenção do estresse e a promoção do bem-estar de animais mantidos
sozinhos ou em grupos precisa fazer parte da prática médica veterinária preventiva
(PATRONEK; SPERRY, 2001).

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A IMPORTANCIA DO PERÍODO DE SOCIALIZAÇÃO

Quatro períodos são únicos em importância no desenvolvimento do comportamento


de filhotes de gatos: o período neonatal; o período de transição; o período de socialização
primária e o período de socialização tardia (ROBINSON, 1997). As experiências que um
animal tem nessas fases causam consequências permanentes. O período de socialização
primária é crítico, pois as experiências ocorridas nessa época influenciam ao longo prazo o
comportamento mental e emocional do adulto (BRADSHAW, 2000, ROBINSON, 1997).
O período neonatal (do nascimento até duas semanas de vida) é caracterizado pela
predominância de padrões comportamentais de sono e alimentação. O período de transição
ou intermediário ocorre da segunda à terceira semana, quando os filhotes começam a ser
menos dependentes da mãe e observa-se o aparecimento de padrões adultos de
alimentação e de locomoção e as primeiras formas imaturas de comportamento social
(BEAVER, 1992).
No período de socialização primária (do início da terceira semana até a oitava
semana de vida), observa-se o aumento das brincadeiras sociais e os primeiros vínculos
são formados. Como a socialização é o processo pelo qual um indivíduo reconhece os
outros da própria espécie como iguais e quando forma vínculos com as demais espécies
(BATESON, 1979), este é considerado o período mais importante da vida do gato. O
ambiente onde o filhote cresce e suas relações sociais nesta fase são fundamentais. O
contato positivo com seres humanos e com outros animais promove o convívio
interespecífico. Entretanto, o período de socialização é mais curto em animais expostos a
fatores estressantes (BATESON, 1979).
Após essa fase, é mais difícil habituar um gato com outras espécies, pois
frequentemente desenvolvem medo, fobia ou agressividade como resposta. Nesses casos,
o estresse social é ainda mais deletério (BEAVER, 1994). Da mesma forma, a falta de
interação com outros gatos e o contato exclusivo com seres humanos pode dificultar a
adaptação a outros gatos na vida adulta, a ponto de gerar dificuldades nas atividades
reprodutivas (OVERALL et al., 2005). Maus tratos, nesta fase, podem gerar agressividade,
fobias ou timidez excessiva na idade adulta (HART, 1980).
Há divergências quanto à duração do período de socialização primária. O final é
geralmente caracterizado por um declínio das brincadeiras sociais e aumento da exploração
do ambiente (CARO, 1981). Após esta fase, há um período de socialização tardia, que pode
estender-se até a décima sexta semana de vida. As diferenças da duração descrita para

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essas fases entre estudos podem ser consequentes às diferenças ambientais (BATESON;
MENDL; FEAVER, 1990).
A fase entre o período de socialização tardia e a maturidade sexual é chamada de
juvenil ou adolescência. A duração é variável, de acordo com a raça e o ambiente. Nesta
fase não há mudanças comportamentais marcantes e sim o desenvolvimento gradual de
habilidades motoras (OVERALL et al., 2005). Ao atingirem a maturidade sexual, o
comportamento dos gatos pode-se alterar, podendo ser observados distúrbios de
comportamento consequentes às experiências anteriormente vividas. No entanto, alguns
comportamentos que seriam normais para espécie nessa fase da vida, como os ligados à
reprodução e à maternidade, são suprimidos através das cirurgias para gonadectomia
(CROWELL-DAVIS; CURTIS; KNOWLES, 2004).

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O COMPORTAMENTO SOCIAL

Os grupos sociais de gatos, ou colônias, possuem organização social complexa e


seus membros se reconhecem e praticam diversos padrões comportamentais típicos de
espécies sociais (KERBY; MACDONALD, 1988; NATOLI, 1985a, 1985b; NATOLI;
BAGGIO; PONTIER, 2001; PANAMAN, 1981).
Quando em grupos, os gatos formam relações afiliativas com co-específicos,
realizando limpeza social, esfregando-se uns nos outros, cumprimentando-se e procurando
contato direto com indivíduos específicos. Alguns gatos formam relações afiliativas com tal
grau de complexidade que alianças e antipatias geradas podem afetar o acesso de
determinados animais aos recursos disponíveis e gerar consequências que estudos
recentes estão apenas começando a vislumbrar (CROWELL-DAVIS; CURTIS; KNOWLES,
2004).

A Colônia ou Grupo Social de Felis Catus

A colônia é geralmente matrilinear e as relações afiliativas e cooperativas entre as


fêmeas delineiam a estrutura social do grupo (LIBERG; SANDELL, 1988; MACDONALD;
1987). O comportamento cooperativo ao cuidar de ninhadas é observado entre fêmeas, e
a participação de machos no cuidado com filhotes e na defesa do núcleo familiar também
foi documentada (MACDONALD, 1983; LIDBERG et al., 2000). Machos inteiros foram
observados unindo-se às fêmeas na defesa de ninhadas contra machos invasores
(MACDONALD, 1987; FELDMAN, 1993), dividindo a comida e se enroscando ao redor de
filhotes que foram deixados sozinhos (CROWELL-DAVIS; BARRY; WOLFE, 1997).

Relações com Co-específicos, Vínculo Social e Comunicação

Gatos são capazes de reconhecer e diferenciar membros da colônia de outros que


não pertencem ao grupo. Como observado em grupos de outras espécies sociais, a
aproximação casual e a entrada de membros de fora da colônia geralmente não é permitida.
Se outros gatos insistem em se aproximar, podem eventualmente ser integrados ao grupo,
mas isso dependerá de complexas interações (MACDONALD, 1987; WOLFE, 2001).
Dentro do grupo, os animais exibem comportamentos afiliativos e possuem parceiros
preferenciais. Parceiros preferenciais ou companheiros são geralmente observados

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próximos e praticam limpeza mútua com mais frequência entre si do que a outros membros
do grupo. São observados juntos em diversos locais e contextos: não se deslocam em
direção a recursos ou dormem juntos por acaso, mas sim porque há um vínculo social e
afetivo que os une (WOLFE, 2001).
Da mesma forma, parceiros preferenciais esfregam-se mais uns nos outros do que
em outros membros do grupo (CROWELL-DAVIS; CURTIS; KNOWLES, 2004). A
esfregação mútua provavelmente tem várias funções. O contato intenso, especificamente
quando um gato esfrega a lateral do rosto no rosto ou corpo de outro gato, sem dúvida
facilita a troca de odores. Provavelmente a sensação tátil é importante, uma vez que com
frequência os gatos ronronam durante essa atividade. O fato de que os gatos também se
cheiram durante esse comportamento sugere que gatos pertencentes a um grupo
desenvolvem um odor próprio da colônia (BRADSHAW; CAMERON-BEAUMONT, 2000).
A aproximação com a cauda em pé (suspensa verticalmente ao chão) sinaliza
intenções amigáveis quando um gato se aproxima de outro. A esfregação mútua, por
exemplo, é na maioria das vezes precedida da aproximação de um dos gatos com a cauda
em pé e ocorre com mais frequência quando ambos os gatos apresentam essa postura
(CAMERONBEAUMONT, 1997).
Membros de uma mesma colônia, de todas as faixas etárias, brincam uns com os
outros, mesmo em situação de desnutrição. A extensão do membro dianteiro, com as unhas
retraídas ocorre de quatro semanas aos quatro meses de vida, quando as relações sociais
entre filhotes da mesma ninhada estão sendo desenvolvidas (WEST, 1974).
Além de comportamentos sociais ativos, os gatos também interagem de forma
afiliativa apenas dormindo ou descansando muito próximos ou com corpos unidos, quando
muitas vezes um parceiro recosta no outro e facilita o posicionamento do companheiro
(CROWELL-DAVIS; CURTIS; KNOWLES, 2004).

Interações entre Fêmeas

Em colônias de gatos ferais, a cooperação entre fêmeas nos cuidados com filhotes
é comumente observada, e a autoajuda não ocorre apenas entre fêmeas consanguíneas,
constituindo um típico comportamento de altruísmo recíproco. Fêmeas também realizam o
comportamento de parteiras, acompanhando o parto de outras fêmeas. Fêmeas não
parturientes limpam o períneo da gestante e os filhotes, ingerirem o líquido amniótico,
amamentam, trazem comida para a parturiente e guardam os filhotes. Fêmeas também

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cooperam entre si ajudando a mudar os filhotes umas das outras de local, guardando os
filhotes para que não fiquem sozinhos durante a mudança (FELDMAN, 1993).

Interações entre Gatos

Machos adultos inteiros podem ter confrontos agressivos, principalmente na


presença de fêmeas no cio, mas isso nem sempre ocorre. Com frequência, apenas
alternam a vez para copular. Machos adultos, inteiros ou castrados, formam pares
preferenciais e fazem limpeza e esfregação mútua uns nos outros (CROWELL-DAVIS;
CURTIS; KNOWLES, 2004).

Interações entre Fêmeas e Machos

Contato físico e relações afiliativas entre fêmeas e machos não se restringem à


atividade sexual. Fêmeas e machos inteiros e castrados podem formar pares de parceiros
preferenciais (WOLFE, 2001). Quando se conhecem previamente, engajam em um
comportamento de corte mais longo, que inclui limpeza e esfregação mútua e aninharem-
se próximos entre as cópulas. A cópula entre gatos domésticos é poligâmica: fêmeas
copulam com mais de um macho e os machos com mais de uma fêmea (CROWELL-DAVIS;
CURTIS; KNOWLES, 2004).
YAMAME; DOI; ONO (1996) observaram que embora machos maiores tivessem
maior sucesso para obter cópula, machos que são membros da colônia, independente do
seu tamanho, tinham o melhor desempenho em sua colônia, o que evidencia que o vínculo
social com as fêmeas é fundamental para o sucesso reprodutivo.

Interações entre Adultos e Filhotes

O papel da mãe ao ensinar aos filhotes a comunicação da espécie e a caçar há muito


foi reconhecido. Em colônias de gatos livres, as mães começam a trazer presas para os
filhotes quando esses estão aproximadamente com quatro semanas de idade (CROWELL-
DAVIS; CURTIS; KNOWLES, 2004). Inicialmente a fêmea traz presas mortas, até que as
traz vivas, proporcionando aos filhotes a oportunidade de aprender a caçar e matar. Os

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gatos, tanto filhotes quanto adultos, aprendem através da observação inclusive atividades
que não são típicas da espécie (CHESLER, 1969). Essa habilidade é provavelmente
adaptativa, uma vez que espécies que dependem da caça precisam aprender e mudar de
tática rapidamente para sobreviver na natureza (CROWELL-DAVIS; CURTIS; KNOWLES,
2004).
Embora o gato seja um animal gregário, o comportamento predatório é geralmente
exibido como atividade individual, devido ao tipo de presa tipicamente abatida, sendo
necessárias várias presas ao dia para manter um gato adulto (CROWELL-DAVIS; CURTIS;
KNOWLES, 2004).
O contato com a mãe é crítico para o aprendizado social dos filhotes, uma vez que
ela será o primeiro individuo da espécie com quem terão uma relação afiliativa. O
aprendizado com a mãe vai além da infância. Foi observado que mais tempo é dedicado à
limpeza social em grupos onde a mãe ainda está presente (CURTIS; KNOWLES;
CROWELL-DAVIS, 2003). Filhotes buscam na mãe informações sobre como interagir com
o mundo, e socializam mais rapidamente com humanos quando a mãe está presente e
demonstra tranquilidade ao interagir com pessoas (CROWELL-DAVIS; CURTIS;
KNOWLES, 2004).
Quanto aos machos adultos, estes foram observados separando brincadeiras mais
agressivas entre filhotes ou juvenis, apenas usando um membro dianteiro para afastá-los,
sem demonstrar sinais de agressão (CROWELL-DAVIS; CURTIS; KNOWLES, 2003).

A Importância do Parentesco e Familiaridade entre os Gatos

A família estendida de cada fêmea inclui seus filhotes e os filhotes desses,


observando-se uma relação próxima entre eles. Membros da mesma família exibem
comportamentos afiliativos entre si com mais frequência do que com outros gatos. Por
exemplo, membros da mesma família geralmente irão realizar limpeza social mais entre si
do que com outros gatos. Fora do grupo familiar, irão realizar limpeza social
preferencialmente com gatos conhecidos, ou seja, com quem estão familiarizados
(CROWELL-DAVIS; CURTIS; KNOWLES, 2004). Da mesma forma, gatos que convivem
juntos há mais tempo tendem a não exibir comportamentos abertamente agressivos entre
si (BARRY; CROWELLDAVIS, 1999).

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Dominância, Comportamento Agonístico e Agressividade

Segundo a definição da etologia clássica, se um indivíduo se submete ou cede a


outro repetidamente, o animal que cede é considerado o perdedor, subordinado ou
submisso, enquanto o que outro é o vencedor ou dominante (BERSTEIN, 1981,
IMMELMAN; BEER, 1989). Todavia, os conceitos de dominância e hierarquia social vêm
sendo questionados em várias espécies quanto a sua validade para explicar relações entre
animais e no diagnóstico do comportamento agressivo (BRADSHAW, 2009; LUESCHER;
REISNER, 2008).
Grupos sociais com estrutura verdadeiramente linear são raros no reino animal,
principalmente em grupos grandes, com mais de quatro ou cinco animais. Na maioria dos
grupos de mamíferos, as relações afiliativas e agonísticas são flexíveis (BERSTEIN, 1981).
Grupos pequenos de gatos foram documentados apresentando hierarquia linear, e
alguns grupos com mais de dez animais com hierarquia não-linear (COLE; SHAFER, 1966;
CROWELL-DAVIS; CURTIS; KNOWLES, 2004; BARON; STEWART; WARREN, 1957).
Porém, nem sempre uma hierarquia social pode ser documentada em grupos de gatos,
apenas identificando-se duplas nas quais constantemente um animal cede ao outro
(KNOWLES, 1998).
A primeira razão para a formação de uma hierarquia em um grupo social seria o
acesso preferencial aos recursos (ex. comida, água, parceiros sexuais, locais de descanso).
Porém, nem sempre o animal no topo da hierarquia de uma colônia de gatos tem acesso
preferencial a todos os recursos (NATOLI; DE VITO, 1991). Variáveis como a motivação
para a obtenção de um recurso, coalizões formadas por vários animais subordinados contra
um dominante, e no caso da cópula, a própria escolha da fêmea, podem contradizer a
ordem social esperada (CROWELL-DAVIS; CURTIS; KNOWLES, 2004).
A outra função para a formação de uma hierarquia social em um grupo ou de relações
de dominância entre indivíduos seria a diminuição da agressividade (BERSTEIN, 1981). O
estado de subordinado ou perdedor seria aceito e o de vencedor ou dominante seria
reforçado e mantido através de sinais ritualizados, ao invés de comportamentos agressivos
(KNOWLES; CURTIS; CROWELL-DAVIS, 2004; NATOLI; DE VITO, 1991). Dessa forma,
dominância refere-se à característica de uma dupla de indivíduos ou das relações
observadas em um grupo, não sendo descritiva de um indivíduo (BERSTEIN, 1981). Ou

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seja, uma vez que uma relação de dominância é estabelecida entre dois animais, permitirá
que ambos possam predizer o resultado do seu próximo encontro, refletindo-se em
comportamentos agonísticos ritualizados, e não à injúria a algum dos envolvidos
(CROWELL-DAVIS, 2007). Essa é a razão principal para muitos especialistas em
comportamento não concordarem com o diagnóstico de agressão por dominância ou por
estado social para animais apresentando agressividade (BRADSHAW, 2009; CURTIS,
2008; LUESCHER; REISNER, 2008).
Gatos tímidos ou medrosos irão exibir sinais sutis como desviar o olhar, abaixar
ligeiramente as orelhas, virar a cabeça para outra direção ou se inclinar para trás ao se
deparar com um gato assertivo. Em encontros mais intensos, irão abaixar as orelhas rente
à cabeça, abaixar e manter a cauda enroscada junto ao corpo, virar a cabeça e agachar, e
em casos extremos, podem rolar para o lado, expor o ventre e vocalizar (BRADSHAW;
CAMERONBEAUMONT, 2000; FELDMAN, 1994; KONECNY, 1983).
Frequentemente, encontros são evitados através da cessão do espaço ou
desviando-se o caminho (KNOWLES; CURTIS; CROWELL-DAVIS, 2004). Gatos assertivos
também sinalizam seu estado social através de sinais, como olhar fixamente, com membros
tensos e orelhas eretas ou viradas lateralmente, além de elevar e bater a cauda. Montar
não é um comportamento comum (OVERALL, 1997).
Gatos assertivos tendem a não buscar embates, a não ser que outros gatos os
confrontem por um recurso que eles especificamente queiram num determinado momento.
Devido à natureza do seu comportamento agonístico, a agressividade em grupos de gatos
domésticos tende a se manter ritualizada. Porém, fatores causadores de estresse, má
socialização, escassez de recursos e eventos aversivos que levam a ansiedade, medos e
fobias fazem da agressividade um dos problemas mais comuns em grupos de gatos
domiciliados e em abrigos. A compreensão da dinâmica de grupos de animais é
fundamental para a promoção do bem-estar felino (CROWELL-DAVIS; CURTIS;
KNOWLES, 2004; NEVILLE, 2004).

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O BEM ESTAR ANIMAL

O aumento da expectativa de vida dos seres humanos e dos animais domésticos


gerou uma população crescente de indivíduos com idade avançada e doenças crônicas
(PATRONEK; SPERRY, 2001; VAZ, 1994). A manutenção da vida muitas vezes torna-se
questionável, o que gera a discussão pela necessidade de se priorizar o bem-estar ao invés
da longevidade (MCMILLAN, 2003; ROLLIN, 2006).
A Organização Mundial de Saúde define saúde como um estado de completo bem-
estar físico, mental e social, e não apenas como a ausência de doença (OMS, 2006). Na
medicina veterinária moderna, o conflito é semelhante, entre preservar a vida e prevenir o
sofrimento animal (MCMILLAN, 2002). As condições de vida de animais confinados, seja
em zoológicos, abrigos, laboratórios ou domicílios, podem ser tão adversas que é inevitável
discutir a sua moralidade (EVANS, 2001; ROCHLITZ, 2005).
Apesar dos animais não comunicarem seus sentimentos e desejos diretamente, o
estudo do comportamento permite uma avaliação fidedigna do seu bem-estar (BEAVER,
1992; BEKOFF, 1995; HETTS; HEINKE; ESTEP, 2004). No caso dos gatos, algumas
peculiaridades da espécie devem ser levadas em consideração: a relativa inatividade dos
indivíduos na maior parte do dia; a complexidade do seu ambiente natural; o
comportamento social, exploratório e predatório e a presença do comportamento lúdico,
que persiste até a idade adulta; assim como a sua cognição altamente desenvolvida e a
sua capacidade de adaptação (BIBEN, 1979; CARO, 1979; CARO, 1980; CARO, 1981;
WEST, 1974). A biologia ritualizada do comportamento agonístico também é importante ao
se diagnosticar a etiologia da agressividade dentre gatos (HARTMANN; KUFFER, 1998;
KNOWLES; CURTIS; CROWELL-DAVIS, 2004), uma vez que o comportamento agressivo
é um sinal comum de estresse nessa espécie (CROWELL-DAVIS; CURTIS; KNOWLES,
2004).

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O MANEJO FELINE-FRIENDLY

Ao entender e respeitar o comportamento natural do gato, a equipe veterinária pode


traçar uma relação de confiança com o tutor e, com isso, promover saúde para o animal ao
obedecer técnicas adequadas para felinos, alcançando o mais completo conceito de bem-
estar durante as consultas (RODAN, 2012).

O manejo chamado feline-friendly, ou seja, amigável para felinos, visa diversos


objetivos que colaboram, entre outras coisas, com a aprovação e tranquilidade do
proprietário, conforto do paciente e sucesso da equipe veterinária. Esses objetivos são:
redução de medo e dor do paciente, aproximação e confiança do cliente, detecção precoce
de alterações clínicas relevantes para a manter íntegra a saúde do paciente e redução de
lesões ao tutor e aos veterinários causadas pelo gato (RODAN et al., 2011).

Um dos aspectos mais importantes quando se deseja criar um ambiente cat-friendly,


é a postura e atitude dos funcionários que nele trabalham e se envolvem, de alguma
maneira, com os pacientes e/ou com os clientes. Esses funcionários podem ser os
recepcionistas de uma clínica, os que trabalham com a limpeza e higiene do local, e, é
claro, a própria equipe veterinária, incluindo médicos veterinários, estagiários e técnicos.
Essa postura exigida é chamada de “cattitude” e requer treinamento e motivação da equipe
(CANNON et al., 2016).

Com a finalidade de encorajar e apoiar essas práticas, a American Association of


Feline Practitioners (AAFP) e a International Society of Feline Medicine (ISFM)
disponibilizam diversos esquemas a serem seguidos por clínicas ou hospitais veterinários
que propõem o desenvolvimento de um ambiente preparado para receber e atender esses
pacientes de maneira correta. Estes guias auxiliam profissionais veterinários que desejam
implementar técnicas completas da prática com o felino em seu local de trabalho, a
assumirem uma postura que traga segurança e bem-estar ao animal. Ainda, são produzidos
manuais direcionados ao proprietário, informando melhores maneiras de lidar com o gato
em casa, passo-a-passo, além de auxiliar no entendimento dos leigos acerca das
necessidades felinas. A criação do Cat-Friendly-Clinic/Cat-Friendly-Practice pelas ISFM e
AAFP, respectivamente, propõe esquemas envolvendo técnicas para pensar no gato como
um paciente distinto e permitir que os clientes reconheçam as práticas cat-friendly. O
conjunto desse material aborda questões básicas como o manejo inicial do paciente, até

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procedimentos mais complexos utilizados na rotina clínica. O esquema também mostra uma
série de pré-requisitos necessários ao atendimento adequado para os gatos, apresentando
equipamentos ideais e design apropriado das instalações.

Para a empresa ou instituição ser considerada um ambiente cat-friendly, é


necessário que esta possua, no mínimo, um profissional membro da AAFP, além de terem
seu cadastro atualizado e aprovado a cada dois anos para manter o status. Ambientes que
obtiverem sucesso na aplicação de práticas Cat-Friendly são listados em websites e
colocados à disposição dos tutores, para que estes possam buscar esse tipo de ambiente,
certificados como “AAFP/ISFM Cat-Friendly-Clinic/Cat-Friendly-Practice” de acordo com
sua localização mais próxima (CANNON et al., 2016).

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A VISITA AO MÉDICO VETERINÁRIO

Segundo SEKSEL (2006) educar os tutores para que proporcionem cuidado à saúde
do seu felino de estimação é uma forma de prevenir problemas comportamentais futuros e
reduzir o estresse dentro de casa, contribuindo para o bem-estar do animal em seu próprio
lar e comportamentos positivos em futuras visitas ao veterinário.

Assim, além de enriquecimento ambiental e atenção às necessidades nutricionais,


de entretenimento e descanso, é interessante que o gato se habitue ao transporte até a
clínica e ao manejo propriamente dito, uma vez que a ida ao consultório para atendimento
não poderá ser evitada sempre. Quando possível, o tutor deve, sob orientação veterinária,
recompensar o gato após comportamentos desejáveis, com petiscos (RODAN et al., 2011).
Um bom exemplo dessa prática é oferecer, não demasiadamente, o alimento preferido do
gato após procedimentos rotineiros necessários, como o corte das unhas em casa.
Conforme a Sociedade Americana Veterinária de Comportamento Animal (AVSAB),
punições e xingamentos devem ser evitados e não colaboram para um entendimento do
felino sobre suas ações (RODAN et al., 2011).

Acima de tudo, o tutor deve permanecer confiante, na tentativa de não influenciar ou


induzir maus comportamentos, caso esteja ansioso demais durante os procedimentos. O
proprietário pode ensaiar manejos básicos com seu gato em casa, como manipular as patas
do animal, simulando um corte de unhas, ou eventualmente abrir a boca do animal, para
inspeção da cavidade oral ou administração de medicações (RODAN et al., 2011).

Para adaptar os gatos ao transporte até a clínica, é recomendado realizar passeios


curtos de carro, com o animal bem alocado em uma caixa de transporte segura e apropriada
(ROSE et al. apud RODAN et al, 2011), além de sempre priorizar que o gato entre dentro
da caixa voluntariamente, se houver tempo hábil para tal. Existem diversos tipos de caixa
de transporte disponíveis no mercado, como bolsas com zíper, que se abrem,
transformando-se em cama, caixas desmontáveis que facilitam a exposição do animal, ou
outras. O ideal é transformar a caixa de transporte em um ambiente familiar e confortável,
podendo conter os brinquedos preferidos do animal, cobertores habituais, e até catnip
(RODAN et al., 2011). Dessa maneira, a caixa poderá ser utilizada não somente para o
transporte, mas também como abrigo disponível em seu próprio lar.

17
O uso de toalhas sobre a caixa de transporte é uma alternativa interessante quando
se visa reduzir o estresse do animal, caso este se mostre assustado demais, ou com
sensibilidade considerável a estímulos visuais e auditivos (RODAN et al., 2011).

Medicações ansiolíticas ou fármacos que propõem reduzir possíveis náuseas no


animal devem ser utilizadas somente com indicação de um médico veterinário. De forma
ideal, o transporte do gato até a clínica ou hospital veterinário deve ocorrer com o animal
em jejum, a fim de prevenir enjoos, além de aumentar o interesse em petiscos oferecidos
durante a consulta. Caso o gato, apesar da privação alimentar, apresente sinais de náusea,
o maropitant (Cerenia) é efetivo (HICKMAN; COX; MAHABIR apud CANNON, 2016), na
dose de 1mg/kg. Moffat ressalta que fármacos aplicados pelas vias IM e SC são ideais,
uma vez que possibilitam menos contenção (RODAN et al., 2011). Doses baixas de
dexmedetomidina, associada a um opioide reversível, como a morfina, podem ser utilizadas
para a sedação do animal. O uso de benzodiazepínicos, como o midazolam também é
indicado, pelo seu efeito sedativo e de relaxamento muscular (ARAKAWA apud RODAN et
al, 2011).

Caso não seja possível sedar adequadamente o animal com essas combinações, é
possível, ainda, administrar uma quantidade pequena de cetamina. A acepromazina, no
entanto, não é indicada nesse tipo de situação e deve ser evitada, uma vez que se trata de
um sedativo não ansiolítico, que limita reações motoras do animal, sem modificar sua
percepção a estímulos externos. Ao invés disso, esse fármaco aumenta a sensibilidade do
paciente a ruídos, podendo tornar o animal ainda mais combativo (RODAN et al., 2011).

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O ATENDIMENTO POR PARTE DO MÉDICO VETERINÁRIO

Abordagem do Felino na Rotina Clínica

A área destinada à recepção do tutor e seu gato é geralmente o primeiro lugar onde
os proprietários tem a oportunidade de interagir com o ambiente hospitalar e esta, quando
adequada, contribui com a aprovação do cliente, pois gera uma sensação de segurança
mostrando a preocupação do estabelecimento com o paciente (BRUNT, 2012).

O primeiro passo para a recepção ideal do paciente e seu tutor é a clínica ou


ambiente hospitalar dispor de uma área de espera exclusiva para felinos, ou seja, separada
da sala de cães, em virtude dos estímulos indesejáveis que a presença de outros animais
proporciona. Mesmo assim, poucos estabelecimentos possuem áreas de exclusividade
felina (BRUNT, 2012). O objetivo é fazer do ambiente de espera o espaço mais calmo e
silencioso possível, de preferência, em um local com pouco trânsito de pessoas e animais.

A área da recepção deve ser desenvolvida de forma que os gatos não se posicionem
de frente um para o outro, através de paredes ou telas, de forma a minimizar o contato
visual e possíveis conflitos entre os animais. Além da estrutura da área de recepção, é
adequado atentar para odores acidentais presentes no ambiente, como derramamento de
líquidos, pois estímulos como este podem facilitar o aparecimento precoce de estresse,
mesmo antes do gato iniciar a consulta médica. Além disso, outros odores marcantes, como
desinfetantes, também interferem no bem-estar do paciente, e, dessa forma, o espaço deve
ser bem ventilado evitando que novamente estímulos odoríferos tragam desconforto ao
gato (CANNON et al., 2016).

Não importa o quão calma seja a área de recepção da clínica ou hospital, levar o
gato diretamente para o consultório, assim que chegar, reduzirá o medo e a ansiedade
causados por estarem em um lugar que não conhecem (RODAN 2012). De outra forma,
caso não seja possível atender o paciente imediatamente, oferecer aos clientes prateleiras
verticais para acomodar o paciente dentro da caixa de transporte demonstra atenção com
os hábitos do felino, uma vez que se sentem seguros a certa altura do chão. Caso os
proprietários prefiram, o veterinário deve permitir que os pacientes permaneçam na caixa
de transporte dentro do carro, enquanto não são atendidos (CANNON et al., 2016).

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Uma vez no consultório, o gato deve ter a oportunidade de iniciar o contato quando
desejar, já que se sentem menos ansiosos com o controle da situação em um ambiente
estranho. O veterinário deve abrir a porta da caixa de transporte e deixá-la aberta, enquanto
cumprimenta o cliente e revisa o histórico do gato. A partir disso, o gato poderá explorar o
consultório, caso se senta confortável. Colocar catnip perto do transportador pode encorajar
o gato a se aventurar por conta própria. Observar a postura do paciente e as expressões
faciais pode ajudar a revelar ao veterinário o nível de medo do gato.

Caso o gato permaneça tímido, o veterinário pode estender o dedo indicador em


direção ao gato para que possa cheirar, lembrando sempre de não realizar nenhum
movimento brusco. Se ainda, o gato não se mostrar curioso para sair da caixa de transporte,
o clínico poderá remover cuidadosamente a metade superior do transportador, para que o
gato possa permanecer na metade inferior durante a maior parte do exame físico possível.
Se mesmo assim o gato ainda apresentar sinais de insegurança, o veterinário pode colocar
uma toalha entre a parte superior e inferior do transportador enquanto o topo é removido,
oferecendo um esconderijo seguro para o paciente.

Quando o gato precisar ser removido da superfície inferior da caixa, é necessário


levantar o gato, apoiando seu abdômen, e é extremamente importante nunca despejar o
gato do transportador. Uma vez que o gato esteja fora da caixa, esta deve ser colocada
fora de sua vista, para que não queira retornar para dentro dela. Muitos gatos preferem ser
examinados quando estão na presença de um cobertor familiar que já possui o cheiro do
gato e, muitas vezes, é mais apropriado e fácil ter o gato ao lado do cliente ou no chão para
o exame. Se uma mesa for necessária para o exame, deve ser forrada com uma toalha ou
cobertor macio antes de posicionar o gato (RODAN, 2012).

“Menos contenção é sempre a melhor contenção.” (RODAN, 2012, p. 13). Ao


contrário do que se pensa, segurar um gato pelo pescoço o torna mais ansioso e medroso,
pois não proporciona ao gato um senso de controle (VIGNE; GUILAINE; DEBUE et al. apud
RODAN et al., 2011). Mais efetivo que segurar o gato dessa maneira, é realizar massagens
na cabeça, ao redor das orelhas e embaixo do queixo (RODAN et al., 2011)

A ordem do exame físico deve ser adaptada a cada paciente, pois começar pelo
exame da cabeça e deixar por último a cauda não é a forma mais fácil para todos os gatos,
uma vez que animais com úlceras orais sentirão mais dor quando examinados na boca e

20
dentes, enquanto gatos com desordens urinárias terão mais desconforto à manipulação do
abdômen (RODAN, 2012).

Gatos mais ansiosos devem ser distraídos, interagindo com brinquedos ou


recebendo guloseimas e, quando o veterinário está manipulando regiões longe da cabeça,
um colar Elizabethano pode protegê-lo contra mordidas. Segundo POZZA; STELLA;
CHAPPUIS-GAGNON et al., alguns veterinários, especialmente na Europa, utilizam “clipes”
ao longo do dorso para acalmar o gato durante o exame (RODAN, 2012, p. 14). Essa
ferramenta, no entanto, não é bem aceita por muitos profissionais da clínica felina, sob
argumento de causar dor na região onde o clipe é colocado. Assim, é possível que o gato
tenha menos mobilidade durante o exame físico, não em função conforto gerado, mas sim
pelo estímulo doloroso presente. O clínico deve ter o equipamento necessário pronto para
a utilização no paciente, o que ajuda a reduzir o tempo de manuseio e evita que o gato seja
surpreendido por pessoas que entram e saem do consultório (RODAN, 2012).

Assim que o exame for finalizado, o gato deve poder voltar para dentro da caixa de
transporte o quanto antes. É interessante documentar, junto ao histórico do animal, quais
técnicas de manejo funcionam melhor com cada paciente, pois auxilia a evitar mais estresse
em visitas futuras, quando então o gato já será conhecido pela equipe (RODAN, 2012).

Procedimentos na Rotina Clínica

Geralmente, as práticas da rotina clínica do paciente felino requerem mínima


manipulação, sendo que o veterinário deve garantir que o paciente se sinta confortável
durante o procedimento, permitindo que o gato permaneça na posição mais natural
possível, sem segurar ou conter o corpo de forma demasiada. Um cobertor ou toalha macia,
que de preferência traga o cheiro do ambiente em que o paciente vive, pode ser útil para
colocar o gato durante as coletas de amostras biológicas. Para que o gato se sinta ainda
mais seguro, é recomendado que se envolva o animal em um pano, porém sem restringir
demais seus movimentos, como já explicado (RODAN, 2012).

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Mensuração da Pressão Arterial

A pressão sanguínea deve ser o primeiro parâmetro a ser avaliado pois, após outros
procedimentos, considera-se que o gato está sob um nível de estresse maior e, dessa
forma, poderemos ter uma alteração na pressão que não condiz com a realidade. Para
mensurar a pressão arterial, necessitamos de um ambiente calmo, silencioso, afastado de
outros animais e, quando possível, na presença do tutor (BROWN; ATKINS; BAGLEY et al.
apud RODAN, 2012). Podemos mensurar a pressão sanguínea do paciente no consultório
ou na área onde se realizam os tratamentos dos animais internos (RODAN, 2012), desde
que isso não cause mais estresse no paciente em questão, pois o gato necessita de
aproximadamente cinco a dez minutos para se acostumar com um ambiente novo e,
geralmente, o tempo que o clínico leva para coletar a história clínica e anamnese do
paciente é suficiente, reduzindo a chance da “síndrome-do jaleco-branco” (RODAN, 2012).

A mensuração da pressão sanguínea no gato pode ser feita através do antebraço,


perna, ou cauda, sendo a última uma excelente escolha em pacientes com artrite ou que
não toleram manipulação de membros. A posição que o gato deve ficar para a realizar a
mensuração da pressão deve ser aquela em que o paciente se sinta mais confortável,
podendo ser no colo de alguém, na caixa de transporte ou em outro lugar de sua
preferência. O veterinário deve utilizar fones de ouvido para escutar o pulso arterial,
evitando o medo associado ao barulho do aparelho. Além disso, a utilização de gel condutor
em uma temperatura morna pode melhorar o bem-estar do paciente durante a mensuração
(RODAN, 2012).

Coleta de Sangue

Na maioria dos casos, o volume de sangue solicitado pelos laboratórios é maior que
o necessário para a amostra ser analisada e, nesses casos, é interessante contatar com os
patologistas clínicos, a fim de esclarecer qual quantidade deve ser coletada. Caso seja
possível coletar menos volume, a clínica/hospital deve ter disponíveis microtainers ou tubos
aviários com EDTA, evitando a hemoconcentração (RODAN, 2012). Para puncionar o vaso,
a máxima “menos é mais” é importante, uma vez que quanto menor a contenção aplicada
ao gato, mais eficaz será a coleta (LOVELACE, 2012).

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Existe mais de um local em que se pode realizar com segurança e eficácia a coleta
de sangue, porém, independentemente desta escolha, na maioria dos pacientes é possível
uma só pessoa realizar a coleta, como é o caso do acesso na veia jugular. Nessa região é
possível obter grandes volumes de forma rápida, no entanto, alguns gatos podem preferir
visualizar o que está sendo feito e, por isso nesses indivíduos, deve-se optar pela veia
safena medial ou a veia cefálica (RODAN, 2012).

Para proceder com a coleta na veia jugular ou cefálica, o gato pode ser contido em
uma posição sentada, ao passo que para coletar sangue da veia safena medial, o decúbito
esternal é preferido (LOVELACE, 2012). Para prevenir que os vasos sejam rompidos, pode-
se utilizar um cateter butterfly. Ainda, em pacientes muito sensíveis ao uso de agulhas,
pode ser feita a aplicação de gel de lidocaína trinta minutos antes da coleta, anestesiando
adequadamente a região. A presença do tutor durante a coleta pode ser requerida e,
quando tudo ocorre de maneira adequada, ele pode colaborar para que o dono do animal
tenha mais confiança na equipe veterinária (RODAN, 2012).

Coleta de Urina

A coleta de urina deve ser realizada por cistocentese e poderá ser feita em uma
mesa ou no colo de um indivíduo, lembrando que a melhor posição para a punção vesical
será a que o gato se sentir mais confortável, sem que tenha seus membros esticados ou
contidos (RODAN, 2012). Segundo RODAN et al. (2016) as amostras de urina são
geralmente coletadas com o gato em decúbito lateral, com as pernas voltadas para trás,
para melhor visualização da bexiga, no entanto, essa posição gera desconforto. Como
alternativas para evitar a falta de conforto do gato durante a coleta podemos posicionar o
animal em estação, ou em decúbito dorsal, sem esticar os membros (RODAN et al., 2016).
Apoiar o dorso do paciente durante a coleta auxilia a acalmar o gato, além de reduzir uma
contenção exagerada (LOVELACE, 2012).

Exceto a coleta de urina por micção natural, todas as outras técnicas podem resultar
em algum grau de trauma físico para o paciente (LOVELACE, 2012). Embora a cistocentese
se apresente como método de eleição para a coleta de urina, alguns gatos com dor, como
pacientes com CIF, podem ter problemas com essa técnica e, para o alívio do estímulo
doloroso nesses casos, se preconiza administração de analgésicos apropriados. Ainda,

23
para os gatos com CIF, se permite que a urina seja coleta por micção natural, em recipientes
absorventes dentro da vasilha sanitária (RODAN et al., 2016).

Radiografias e Ultrassonografia Abdominal

Uma vez que a indicação desses exames faz parte de uma suspeita clínica, é
aconselhado fazer uso de analgésicos antes dos procedimentos para que sejam realizados
com conforto. Por exemplo, um paciente que necessita radiografar o tórax pode sofrer de
DAD e, nesse caso, muitos países como os EUA optam pela sedação profunda antes do
US ou RX (RODAN et al., 2016). Pacientes que chegam ao atendimento apresentando
dispneia não poderão ser imediatamente radiografados ou sofrerem intensa manipulação,
pois além de agravar o quadro clínico desses animais, o gato poderá vir a óbito em função
de submetê-lo a um posicionamento incompatível com sua condição clínica.

Hospitalização

O ideal, sempre que possível, é evitar a hospitalização de gatos (PATRONEK;


SPERRY apud RODAN, 2012, p. 16), tendo em vista sua considerável sensibilidade a
estímulos externos, bem como a facilidade com que esses animais respondem
negativamente à ruptura de sua rotina social. Segundo Griffin e Hume, a alta carga de
estresse dentro de um hospital geralmente inibe comportamentos normais do gato, como
se alimentar e descansar, além de comprometer a higiene do pelo e eliminação de fezes e
urina. Ademais, gatos que não foram bem socializados ou ainda, para pacientes idosos,
esses fatores são ainda mais prejudiciais (RODAN, 2012).

Caso a internação do gato seja essencial, como para pacientes com doenças graves
ou que necessitem supervisão veterinária, o animal deve permanecer em um lugar
silencioso e calmo, sem que possa visualizar, ouvir, ou sentir odores de outros animais.
Isso pode ser alcançado acomodando-se os pacientes em gaiolas separadas, lado a lado,
ao invés de posicionar um animal de frente para o outro, a fim de reduzir conflitos visuais.
Ainda, alguns gatos podem preferir móveis verticais, com certa altura do chão. O uso de
cobertores e caixas ou tocas para que o gato possa se esconder quando sentir necessidade
também auxiliam na redução do estresse.

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Por mais que um hospital seja higienizado com a frequência e maneira corretas, é
muito difícil eliminar completamente os odores, uma vez que é um ambiente com intenso
fluxo de animais. Uma alternativa para amenizar esses odores é a aplicação de Feliway no
local trinta minutos antes do paciente ser acomodado o que, além de acalmar o gato,
melhora a ingestão de alimento e auto higiene (GRIFFITH; STEIGERWALD; BUFFINGTON
apud RODAN, 2012. p. 16). Griffin e Hume destacam que o paciente deve ser colocado em
um box ou gaiola, onde seja capaz de defecar e urinar, além de poder esticar os membros
ou até pular, caso se sinta disposto e que os gatos preferem se deitar sobre superfícies
macias, onde experimentam períodos mais longos de sono (RODAN, 2012, p. 16). Preparar
uma toalha torcida em forma de círculo faz uma boa cama para o interno e permite a
visualização do acesso intravenoso pela equipe veterinária, sem perturbar o paciente (YIN
apud RODAN, 2012).

A alimentação e limpeza constantes são menos estressantes para os pacientes


felinos, assim como a atenção, cuidados gerais e verificações de peso (PATRONEK;
SPERRY apud RODAN, 2012). Uma vez que os gatos preferem contato com pessoas
familiares, um só funcionário deve ficar responsável pelo mesmo paciente e, aliado a isso,
o tutor do animal deve ser estimulado a comparecer nos horários de visita durante a
internação de seu animal (GRIFFIN; HUME apud RODAN, 2012).

Para manipular ou remover do box um felino que demonstra medo, devemos nos
posicionar ao lado da gaiola, e não à frente dela pois, dessa forma, o felino será encorajado
a entrar dentro da caixa de transporte, como esconderijo. Se o funcionário colocar grande
parte de seu corpo dentro do box, ele tende a aumentar o medo e propiciar a fuga do animal
(RODAN, 2012).

25
O Retorno para Casa

Geralmente voltar para casa após uma visita ao veterinário ou alta hospitalar não é
um problema para o gato, porém, existem duas situações que devem ser abordadas com
os tutores do paciente: a volta do paciente em si e os outros gatos que convivem com o
paciente, que porventura não aceitam seu retorno (HEATH apud RODAN, 2012). É
importante orientar o proprietário dessa possibilidade de estranhamento por parte do
paciente, que pode permanecer reativo por vários dias. Rochlitz comenta que, nesse
momento, pode ser útil ignorar o comportamento do gato, para que as atitudes indesejadas
não sejam reforçadas. Os outros animais da casa podem não reconhecer os odores que o
paciente traz do ambiente em que esteve gerando descontentamento dos indivíduos
(RODAN, 2012). Uma alternativa a esse problema pode ser manter o paciente dentro da
caixa de transporte, por algumas horas, ou até que os outros animais se familiarizem com
os odores trazidos e, caso a reintrodução ainda cause problemas, o cliente deve primeiro
higienizar o(s) indivíduo(s) que permanece na casa com uma toalha e depois limpar o gato
que retorna com a mesma toalha, para transferir o aroma familiar para o "estranho"
(RODAN, 2012).

Outra possibilidade frente a essa questão seria levar os dois (ou todos) os gatos ao
veterinário ao mesmo tempo, mesmo quando somente um deles necessita de atendimento
veterinário. Essa opção, contudo, pode não parecer prática e até provocar a insatisfação
do cliente, que não está disposto a causar ainda mais estranhamento em sua rotina.
Pulverizar Feliway no transportador pelo menos 30 minutos antes de viajar para o hospital
veterinário e incluir roupas familiares poderá reduzir ansiedade para os gatos durante a
visita à clínica (RODAN, 2012).

Feromonioterapia

A marcação é uma forma de comunicação mais permanente do que posturas ou


vocalizações, pois permite que o gato deixe mensagens olfativas e visuais que
permanecem muito tempo após o contato com outros indivíduos. Dessa forma, os felinos
podem evitar encontros, reconhecer os proprietários pelo cheiro e controlar a reprodução.
Por isso, o uso de feromônios sintéticos pode ajudar a reduzir os níveis de ansiedade em

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gatos associados a novos ambientes, a introdução de gatos estranhos ou outros estresses
ambientais (BEAVER, 2003).

“Substâncias que sinalizam o feromônio percebido estão contidas em fluidos


corporais, como urina, suor, glândulas endócrinas especializadas e secreções mucosas de
órgãos genitais” (DEPORTER, 2016).

A comunicação odorífera dos gatos pode ser evidenciada de três formas: marcação
facial, marcação com as unhas e marcação urinária, sendo que a última pode ser dividida
em finalidade sexual e marcação urinária reacional (PEREIRA et al., 2013). O órgão
vomeronasal localiza-se na parte fina rostral do palato duro (PEREIRA et al., 2013) e é o
responsável pela percepção dos feromônios de demarcação, pois tem função de detectar
odor de outros gatos, através dos movimentos de flehmen, onde o animal ergue seus lábios
superiores e, com a boca levemente aberta expõe o órgão (RODAN, 2012).

Da mesma forma que os feromônios naturais, os sintéticos são análogos aos


receptores do órgão vomeronasal que realiza a mediação do sistema límbico. Das cinco
frações isoladas do feromônio facial dos gatos apenas duas, F3 e F4, têm função
conhecida, sendo a primeira depositada pelo felino em objetos, e a segunda, sobre
indivíduos (PEREIRA et al., 2013). A fração F3 do feromônio facial do gato foi produzida
comercialmente por seu efeito calmante (BEAVER, 2003). Comercialmente existem
disponíveis ambas as frações, conhecidas por Feliway e Felifriend, respectivamente.
Verificou-se o benefício do uso do Feliway em gatos submetidos a cateterização
intravenosa, que além de aumentar o interesse no alimento, estimula a higiene e reduz a
pulverização com urina em superfícies variadas. Entre outros motivos para indicar o uso do
Feliway, temos: adaptações do gato a uma nova moradia; experiências novas, como
primeiro banho, eventos estressantes, mudanças no ambiente onde vive o gato, marcação
urinária ou através das unhas e visitas ao veterinário. Enquanto isso, a utilização do
Felifriend é mais adequada quando o gato é introduzido a novos indivíduos, tanto em casa,
quanto em abrigos populosos.

Os feromônios sintéticos, análogos aos naturais, são disponíveis comercialmente


sob apresentação de spray ou difusores, sendo que o primeiro permite aplicação sobre
objetos ou locais específicos. Nesse caso, o intervalo entre a aplicação e a utilização
determina maior ou menor efeito. Alguns gatos têm aversão ao veículo alcoólico presente
nos produtos, por isso, deve-se sempre ter cuidado para não aplicarmos o feromônio

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diretamente no animal. O difusor contém um feromônio facial que não tem efeitos sobre
pessoas ou outros animais, que não o gato (DEPORTER, 2016).

O efeito confortante dos feromônios sintéticos não poderá amenizar conflitos sociais
muito intensos e tem sua função limitada, sendo efetivo quando associado a outras
maneiras de reduzir estresse. Ainda segundo este autor, não são conhecidos efeitos
adversos em função da utilização dos feromônios sintéticos, uma vez que foram
desenvolvidos especialmente para os gatos (DEPORTER, 2016),

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TEXTO COMPLEMENTAR

Prevenção de Alterações e Doenças do Comportamento em Gatos


Sofia Torres Vieira Barbosa Ferreira

Orientador: Professor Doutor Artur Severo Proença Varejão

Co-Orientador: Mestre Maria Isabel Monteiro Macedo Ferreira dos Santos

Mestrado Integrado de Medicina Veterinária Ciências Veterinárias

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CASO CLÍNICO

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

O profissional deve alertar o proprietário de felídeos sobre os aspectos


comportamentais desses animais e discutir minuciosamente sobre o que ele espera de um
animal de companhia, minimizando as chances de um conflito entre ambos, com um
possível abandono. Muitas reclamações apresentadas por proprietários são manifestações
corriqueiras de um animal mantido em condições inadequadas, ou mesmo consideradas
normais para um gato, em residências. Portanto, o proprietário deve ter a exata medida do
que terá pela frente ao adquirir um exemplar dessa espécie animal.
O conhecimento das características comportamentais, bem como do
desenvolvimento e da evolução temporal do animal que se pretende adquirir poderá auxiliar
na prevenção de problemas comportamentais, intervindo-se assim o mais precocemente
possível, ou mesmo corrigindo-se transtornos comportamentais adquirido, caso as opções
anteriores não tenham sido efetivas.
Animais mantidos em residências, sem acesso à rua, possuem maior longevidade,
fruto do isolamento sanitário, ou da prevenção de incidentes comuns (acidentes, conflitos,
etc.). Entretanto, o empobrecimento advindo desse isolamento pode tornar-se fonte de
alterações, inicialmente comportamentais, e mais tarde com significativas manifestações
clínicas problemáticas. Um exemplo: o isolamento social (enfatizado neste texto), que é
fruto de um proprietário que possui apenas um único animal mantido nessa condição desde
a infância até a vida adulta, poderá determinar que este indivíduo não se aproxime de outro
para o acasalamento ou mesmo se tiver que ser mantido próximo a outros animais. Com
essas informações básicas, tanto o profissional como o proprietário poderão minimizar as
chances de ocorrerem problemas e conflitos ao longo da vida do animal.

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SITES PARA CONSULTA

https://meupet.bayer.com/pt-br/novos-tutores/comportamento-dos-gatos/

https://www.psicovet.com.br/atendimento-comportamental/

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