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Inf0764 - Jurisprudencia STJ

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Número 764 Brasília, 28 de fevereiro de 2023.

Este periódico, elaborado pela Secretaria de Jurisprudência do STJ, destaca teses jurisprudenciais
firmadas pelos órgãos julgadores do Tribunal nos acórdãos proferidos nas sessões de julgamento, não
consistindo em repositório oficial de jurisprudência

CORTE ESPECIAL

PROCESSO Processo em segredo de justiça, Rel. Ministra Nancy


Andrighi, Corte Especial, por unanimidade, julgado em
15/2/2023.

RAMO DO DIREITO DIREITO PROCESSUAL PENAL

TEMA Cooperação interinstitucional. Investigação criminal.


CGU. Art. 3°, VIII, da Lei n. 12.850/2013. Convenções de
Caracas, Palermo e de Mérida. Possibilidade.

DESTAQUE

É legal o compartilhamento com a Controladoria-Geral da União de informações coletadas em


inquérito em que se apura suposta prática de crimes de organização criminosa, lavagem de dinheiro
e corrupção ativa e passiva.

INFORMAÇÕES DO INTEIRO TEOR

A Controladoria-Geral da União instaurou procedimento administrativo, a fim de apurar a


responsabilidade de pessoas físicas e jurídicas relacionadas a eventuais infrações penais
investigadas no curso de inquérito em se apura suposta prática de crimes de organização criminosa,
lavagem de dinheiro e corrupção ativa e passiva.
O compartilhamento de informações coletadas em inquérito com a Controladoria-Geral da União
encontra respaldo no art. 3º, VIII, da Lei n. 12.850/2013 e em Tratados promulgados pelo Brasil e
introduzidos no ordenamento pátrio com status de lei ordinária, conforme decidido no AgRg na
CauInomCrim 69/DF (Corte Especial, julgado em 7/12/2022).
O referido dispositivo prevê textualmente a possibilidade de cooperação entre órgãos federais na
busca de provas e informações de interesse da investigação criminal. Essa previsão legal foi inserida
na legislação penal especial em cumprimento a Tratados firmados pela República Federativa do
Brasil.
A Convenção de Palermo (Convenção das Nações Unidas contra o Crime Organizado
Transnacional), promulgada pelo Decreto n. 5.015/2004, constitui o principal instrumento global de
combate ao crime organizado.
O referido documento, aplicável aos delitos de crime organizado, lavagem de capitais e corrupção,
prevê que cada Estado-parte garantirá que as autoridades responsáveis pela detecção, repressão e
combate à lavagem de dinheiro tenham a capacidade de cooperar e trocar informações em âmbito
nacional, criando, inclusive, canais de comunicação para facilitar a rápida e segura troca de
informações relativas a todos os aspectos das infrações previstas na presente Convenção (arts. 7,
item 1, e 27, item 1).
O compartilhamento de informações, encontra, ainda, suporte no art. 14, item 1, da Convenção de
Mérida (Convenção das Nações Unidas contra a corrupção, documento promulgado pelo Decreto n.
5.687/2006), Tratado em que cada Estado-parte se comprometeu a garantir que as autoridades de
administração e as encarregadas de combater a lavagem de dinheiro sejam capazes de intercambiar
informações no âmbito nacional, fortalecendo medidas para combater de forma mais eficaz a
corrupção.
No mesmo sentido, destaca-se a Convenção Interamericana contra a Corrupção (Convenção de
Caracas), promulgada pelo Decreto n. 4.410/2002, documento que, em seu artigo II, destaca o
fortalecimento, por cada um dos Estados-partes, dos mecanismos necessários para prevenir,
detectar, punir e erradicar a corrupção.

INFORMAÇÕES ADICIONAIS

LEGISLAÇÃO

Lei n. 12.850/2013, art. 3º, VIII


Decreto n. 5.015/2004
Decreto n. 5.687/2006
Decreto n. 4.410/2002
SEGUNDA SEÇÃO

PROCESSO QO no REsp 1.882.957-SP, Ministra Nancy Andrighi,


Segunda Seção, por maioria, julgado em 8/2/2023.

RAMO DO DIREITO DIREITO PROCESSUAL CIVIL

TEMA EREsp 1.886.929/SP e EREsp 1.889.704/SP. Lei.


14.454/2022. Alteração legislativa. Incidente de
assunção de competência (IAC). Instauração. Não
cabimento. Necessidade de entendimento firme e
sedimentado.

DESTAQUE

Não é cabível a instauração de incidente de assunção de competência (IAC) enquanto a questão


de direito não tiver sido objeto de debates, com a formação de um entendimento firme e
sedimentado, nos termos do § 4º do art. 927 do Código de Processo Civil.

INFORMAÇÕES DO INTEIRO TEOR

Foi suscitada questão de ordem para instauração de incidente de assunção de competência (IAC)
para decidir acerca da "obrigação de custeio, pelo plano de saúde, de exame ou tratamento, que não
conste do rol da Agência Nacional de Saúde (ANS), prescrito por médico especialista como melhor
opção para o restabelecimento da saúde do paciente", ante a promulgação da Lei n. 14.454/2022.
Em 8/6/2022, a Segunda Seção, ao julgar os EREsps 1.886.929/SP e 1.889.704/SP (DJe
3/8/2022), uniformizou a jurisprudência, concluindo pela natureza taxativa, em regra, do rol da
ANS. Esse julgamento teve grande repercussão social, provocando reações de diversos segmentos da
sociedade e a mobilização do Congresso Nacional.
Foi, então, apresentado o Projeto de Lei n. 2.033/2022, para alterar a Lei n. 9.656/1998,
estabelecendo hipóteses de cobertura de exames ou tratamentos de saúde não incluídos no rol de
procedimentos e eventos em saúde suplementar. O projeto foi aprovado na Câmara e no Senado e
seguiu para sanção presidencial, tendo sido a Lei n. 14.454 sancionada em 21/9/2022, sem vetos.
Essa Lei, ao afastar a natureza taxativa mitigada do rol da ANS e estabelecer a sua natureza
exemplificativa mitigada, trouxe outra perspectiva a respeito da matéria, exigindo, de fato, um novo
pronunciamento desta Corte, agora à luz da recente inovação legislativa.
Todavia, a superveniência desse diploma não tem o condão de alterar o objeto da multiplicidade
de recursos referentes à mesma questão de direito que já tramitavam nesta Corte, senão apenas de
provocar, eventualmente, a adequação na interpretação e no alcance das teses fixadas pela Segunda
Seção, a depender do contexto fático-probatório delineado em cada hipótese concreta.
Dessa forma, a despeito da vigência da Lei 14.454/2022, é possível concluir que há, no Superior
Tribunal de Justiça, repetição em múltiplos processos da questão de direito a ser submetida a
julgamento e, por conseguinte, falta, para o acolhimento da questão de ordem, o requisito objetivo
que autoriza a admissão da assunção de competência, consoante exige o art. 947 do Código de
Processo Civil (CPC) e o art. 271-B do Regimento Interno do Superior Tribunal de Justiça (RISTJ).
Noutra toada, a instauração desse incidente, ao menos por ora, mostra-se prematura. Com efeito,
assim como na afetação ao rito dos repetitivos, a assunção de competência, em homenagem à
segurança jurídica, deve ser admitida somente quando a questão de direito tiver sido objeto de
debates, com a formação de um entendimento firme e sedimentado no âmbito das Turmas da
Segunda Seção, evitando, com isso, a fixação de tese de observância obrigatória que não reflita uma
decisão amadurecida desta Corte ao longo do tempo, a partir do sopesamento dos mais variados
argumentos em uma ou outra direção.
Na espécie, entretanto, não há aqui pronunciamentos suficientes, tampouco conflitantes, a
respeito da controvérsia posta em análise sob o enfoque da recente alteração legislativa e seus
efeitos, inclusive para que se possa cogitar em prevenção ou composição de divergência
jurisprudencial entre as Turmas da Segunda Seção (§ 4º do art. 947 do CPC).

INFORMAÇÕES ADICIONAIS

LEGISLAÇÃO

Código de Processo Civil (CPC), art. 947, § 4º


Regimento Interno do Superior Tribunal de Justiça (RISTJ), art. 271-B
Lei 9.656/1998
Lei 14.454/2022
TERCEIRA SEÇÃO

PROCESSO CC 193.005-MG, Rel. Ministra Laurita Vaz, Terceira Seção,


por unanimidade, julgado em 8/2/2023, DJe 15/2/2023.

RAMO DO DIREITO DIREITO AMBIENTAL, DIREITO PROCESSUAL PENAL

TEMA Crimes ambientais. Delito de competência da Justiça


Federal. Sentença proferida. Crime remanescente.
Julgamento pela Justiça Federal por conexão. Não
cabimento. Área de preservação permanente às margens
de rio estadual. Competência da Justiça estadual da
respectiva unidade federativa.

DESTAQUE

Havendo sentença prolatada quanto ao delito conexo, a competência para julgamento do delito
remanescente deve ser aferida isoladamente.

INFORMAÇÕES DO INTEIRO TEOR

No caso, o Ministério Público do Estado de Minas Gerais ofereceu denúncia pela prática dos
crimes do art. 38, caput, e do art. 55, caput, da Lei n. 9.605/1998, em concurso material.
O Juízo Federal, após receber os autos em razão da declinação de competência do Juízo Estadual,
extinguiu a ação penal, no tocante ao crime do art. 55, caput, da Lei n. 9.605/1998, referente à
conduta de extração de areia e cascalho, por reconhecer a litispendência em relação a ação penal
que tramitara naquele juízo, na qual, inclusive já houvera a prolação de sentença condenatória. Em
relação ao delito do art. 38, caput, também da Lei n. 9.605/1998, afirmou que o ilícito não ocorreu
em área pertencente ou protegida pela União, motivo pelo qual suscitou o conflito.
Sobre o tema, a Súmula n. 235 do Superior Tribunal de Justiça dispõe que "[a] conexão não
determina a reunião dos processos, se um deles já foi julgado." Embora o enunciado tenha origem
em feitos de natureza cível, é pacífico o entendimento de que a sua orientação também é aplicável
aos processos penais.
Portanto, havendo sentença prolatada quanto ao delito conexo, a competência para julgamento
do delito remanescente deve ser aferida isoladamente, ou seja, apenas em razão dos fatos que se
amoldam ao art. 38, caput, da Lei n. 9.605/1998.
Para que haja competência da Justiça Federal, a prática do referido delito deve ter ocorrido em
detrimento de bens, serviços ou interesse da União, nos termos do art. 109, inciso IV, da
Constituição Federal.
O Rio das Mortes tem o seu curso integralmente no estado de Minas Gerais. Por essa razão, é de
propriedade do referido estado, nos termos do art. 20, III, c/c o art. 26, I, da Constituição Federal.
Assim, o crime do art. 38, caput, da Lei n. 9.605/1998, praticado na área de preservação
permanente, em suas margens, não atingiu o patrimônio, serviços ou interesse da União, cabendo à
Justiça Estadual o seu julgamento.

INFORMAÇÕES ADICIONAIS

LEGISLAÇÃO

Lei n. 9.605/1998, art. 38, caput, e do art. 55, caput


Constituição Federal, art. 109, inciso IV
Constituição Federal, art. 20, inciso III e art. 26, inciso I

SÚMULAS

Sumula n. 235 STJ

PROCESSO CC 190.666-MG, Rel. Ministra Laurita Vaz, Terceira Seção,


por unanimidade, julgado em 8/2/2023, DJe 14/2/2023.

RAMO DO DIREITO DIREITO PROCESSUAL PENAL

TEMA Violência doméstica e familiar contra a mulher. Medidas


protetivas de urgência. Princípio do juízo imediato.
Microssistema de proteção de pessoas vulneráveis.
Proteção jurisdicional célere e eficaz. Competência do
juízo do domicílio da vítima.
DESTAQUE

O juízo do domicílio da vítima em situação de violência doméstica é competente para processar e


julgar o pedido de medidas protetivas de urgência, independentemente de as supostas condutas
criminosas que motivaram o pedido terem ocorrido enquanto o autor e a vítima encontravam-se em
viagem fora do domicílio desta.

INFORMAÇÕES DO INTEIRO TEOR

A interpretação sistemática do art. 13 da Lei n. 11.343/2006, em conjunto com o art. 147, incisos I
e II, da Lei n. 8.069/1990 (Estatuto da Criança e do Adolescente) e do art. 80 da Lei n. 10.741/2003
(Estatuto do Idoso), permite a aplicação do princípio do juízo imediato às ações em que se pleiteiam
medidas protetivas de urgência de caráter penal no contexto de violência doméstica e familiar
contra a mulher.
De fato, a aplicação do princípio do juízo imediato na apreciação dos pedidos de medidas
protetivas de urgência não entra em conflito com as demais disposições da Lei n. 11.343/2006. Ao
contrário, essa medida facilita o acesso da mulher vítima de violência doméstica a uma rápida
prestação jurisdicional, que é o principal objetivo perseguido pelas normas processuais especiais
que integram o microssistema de proteção de pessoas vulneráveis que já se delineia no
ordenamento jurídico brasileiro.
O acesso rápido e efetivo à tutela jurisdicional assume especial relevo na situação de risco em que
a mulher se encontra quando solicita medidas protetivas de urgência. É justamente o seu caráter de
urgência que reclama a aplicação do princípio do juízo imediato, tendo em vista que o juízo do
domicilio normalmente é o primeiro ao qual a mulher tem acesso e o que tem interação mais
próxima com a vítima.
Assim, diante da aplicação do princípio do juízo imediato e não havendo dúvidas de que o juízo do
domicílio da vítima é o que possui melhores condições de acompanhar a situação de violência
doméstica e familiar na situação concreta, afirma-se a sua competência para processar e julgar o
pedido de medidas protetivas de urgência, independentemente do local onde tenham inicialmente
ocorrido as supostas condutas criminosas que motivaram o pedido de medidas protetivas.
Ressalte-se, por fim, que a competência do juízo do domicílio da vítima para conhecer e julgar o
pedido de medidas protetivas de caráter urgente não altera ou modifica a competência do juízo
natural para o processamento e julgamento de eventual ação penal, que deve ser definida conforme
as regras gerais do Código de Processo Penal.

INFORMAÇÕES ADICIONAIS
LEGISLAÇÃO

Lei n. 11.343/2006, art. 13


Lei n. 8.069/1990, art. 147, incisos I e II
Lei n. 10.741/2003, art. 80
PRIMEIRA TURMA

PROCESSO REsp 2.006.738-PE, Rel. Ministro Sérgio Kukina, Primeira


Turma, por unanimidade, julgado em 14/2/2023.

RAMO DO DIREITO DIREITO ADMINISTRATIVO

TEMA Servidor público. Processo Administrativo Disciplinar -


PAD. Conduta escandalosa na repartição. Art. 132, V,
parte final, da Lei n. 8.112/1990. Pena de demissão.
Aplicabilidade.

DESTAQUE

A conduta de filmar, por meio de câmera escondida, alunas, servidoras e funcionárias


terceirizadas caracteriza a infração de conduta escandalosa, prevista no art. 132, V, parte final, da
Lei n. 8.112/1990, o que atrai a pena de demissão do servidor público.

INFORMAÇÕES DO INTEIRO TEOR

De acordo com a jurisprudência desta Corte, "o acusado se defende dos fatos", bastando, portanto,
que "o termo de indiciamento elaborado pela comissão processante [contenha] descrição
suficientemente detalhada dos ilícitos administrativos imputados ao indiciado, possibilitando-lhe a
compreensão racional do que é chamado a responder" (MS 21.721/DF, relator Ministro Sérgio
Kukina, Primeira Seção, DJe 18/11/2022).
Cabe ressaltar que "as instâncias cível, penal e administrativa são independentes. Desse modo, a
sentença penal absolutória por ausência de provas do ora recorrente não repercute no exame do
residual administrativo que envolve os fatos narrados" (AR 6.596/BA, relator Ministro Mauro
Campbell Marques, Primeira Seção, DJe 29/11/2021).
Dessa forma, apresentam-se desnecessárias maiores considerações a respeito de a conduta
narrada no Processo Administrativo Disciplinar - PAD caracterizar, ou não, o crime de assédio
sexual previsto no art. 216-A do Código Penal ("Constranger alguém com o intuito de obter
vantagem ou favorecimento sexual, prevalecendo-se o agente da sua condição de superior
hierárquico ou ascendência inerentes ao exercício de emprego, cargo ou função"), haja vista que não
foi esse o fundamento da sanção de demissão, e sim a conclusão de que a conduta imputada ao
recorrente se subsume ao disposto no art. 132, V, da Lei n. 8.112/1990, qual seja: incontinência
pública e conduta escandalosa.
A incontinência pública é o comportamento de natureza grave, tido como indecente, que ocorre
de forma habitual, ostensiva e em público.
Conquanto se apresente correta a assertiva de que, para justificar a aplicação da pena de
demissão, a incontinência praticada pelo servidor deva ser, além de pública, também escandalosa e
grave, há que se ressaltar que a "conduta escandalosa", como referida no dispositivo legal em tela,
possui natureza autônoma, ostentando, via de consequência, requisitos próprios.
De fato, a conduta escandalosa refere-se àquela que, embora também ofenda a moral
administrativa, pode ocorrer de forma pública ou às ocultas, reservadamente, mas que em momento
posterior chega ao conhecimento da Administração.
Nesse contexto, a conduta praticada pelo ora recorrente - que "filmava, por meio de câmera
escondida, alunas, servidoras e funcionárias terceirizadas", realmente caracteriza a infração prevista
no art. 132, V, parte final, da Lei n. 8.112/1990, o que atrai a pena de demissão do servidor público.

INFORMAÇÕES ADICIONAIS

LEGISLAÇÃO

Lei n. 8.112/1990, art. 132, V

PROCESSO REsp 1.830.821-PE, Rel. Ministro Gurgel de Faria,


Primeira Turma, por unanimidade, julgado em
14/2/2023.

RAMO DO DIREITO DIREITO PROCESSUAL CIVIL

TEMA Ação de Nunciação de Obra Nova c/c Ação Demolitória.


Coproprietário. Citação. Prescindibilidade. Litisconsórcio
passivo. Não configuração.
DESTAQUE

Nas ações demolitórias de obra ajuizadas em face de construções erguidas em desacordo com as
regras urbanísticas ou ambientais é prescindível a citação dos coproprietários do imóvel para
integrarem a relação processual, na qualidade de litisconsorte passivo necessário.

INFORMAÇÕES DO INTEIRO TEOR

Segundo o disposto no art. 114 do Código de Processo Civil de 2015, "o litisconsórcio será
necessário por disposição de lei ou quando, pela natureza da relação jurídica controvertida, a
eficácia da sentença depender da citação de todos que devam ser litisconsortes".
Dispõe o art. 116 do mesmo diploma legal que "o litisconsórcio será unitário quando, pela
natureza da relação jurídica, o juiz tiver de decidir o mérito de modo uniforme para todos os
litisconsortes".
Nas ações demolitórias, como no caso, o Superior Tribunal de Justiça já se manifestou no sentido
que é imprescindível a citação do cônjuge ou dos coproprietários do imóvel para integrarem a
relação processual, na qualidade de litisconsorte passivo necessário, em razão de a demanda
envolver direitos reais imobiliários, visto que possuem a mesma natureza das ações de nunciação de
obra nova, distinguindo-se apenas em razão do estado em que se encontra a construção.
Entretanto, a Terceira Turma desta Corte, ao julgar o REsp 1.721.472/DF, relator Ministro Paulo
de Tarso Sanseverino, DJe 25/6/2021, entendeu que, em ação para demolição de obra em desacordo
com a legislação urbanística ou ambiental, o fato de o coproprietário sofrer os efeitos da sentença
não é suficiente para caracterizar o litisconsórcio necessário, porque o direito de propriedade
permanecerá intocado. A Segunda Turma segue o mesmo entendimento.
Diante da divergência de entendimento, coaduna-se com a segunda linha de pensamento exposta,
no sentido de que, nas ações demolitórias de obra ajuizadas em face de construções erguidas em
desacordo com as regras urbanísticas ou ambientais, é prescindível a citação dos coproprietários do
imóvel para integrarem a relação processual, na qualidade de litisconsorte passivo necessário,
notadamente porque a discussão central do feito não diz respeito ao direito de propriedade ou
posse.
Eventual diminuição do patrimônio do coproprietário do imóvel, em razão da demolição da obra,
seria apenas uma consequência natural do cumprimento da decisão judicial, que impôs a obrigação
de demolir as construções erguidas ilicitamente, vale dizer, em desacordo com a legislação de
regência.

INFORMAÇÕES ADICIONAIS
LEGISLAÇÃO

Código de Processo Civil (CPC/2015), art 114 e art. 116


SEGUNDA TURMA

PROCESSO REsp 1.954.451-RJ, Rel. Ministro Francisco Falcão,


Segunda Turma, por unanimidade, julgado em
14/2/2023.

RAMO DO DIREITO DIREITO PROCESSUAL CIVIL

TEMA Mandado de Segurança. Impetração dirigida a Secretário


de Estado da Fazenda. Declinação de competência.
Oportunização de emenda à inicial para correção de
autoridade coatora. Modificação de competência.
Impossibilidade.

DESTAQUE

Em mandado de segurança, é vedada a oportunização ao impetrante de emenda à inicial para a


indicação da correta autoridade coatora, quando a referida modificação implique na alteração da
competência jurisdicional.

INFORMAÇÕES DO INTEIRO TEOR

O Superior Tribunal de Justiça tem jurisprudência pacífica no sentido da vedação à oportunização


ao impetrante, da emenda à inicial para a indicação da correta autoridade coatora, quando a referida
modificação implique na alteração da competência jurisdicional.
No mesmo sentido, confira-se: "PROCESSUAL CIVIL E TRIBUTÁRIO. MANDADO DE SEGURANÇA.
ICMS. GLOSA DE CRÉDITOS. SECRETÁRIO DE ESTADO DA FAZENDA. ILEGITIMIDADE PASSIVA. 1.
Os recursos em mandado de segurança dirigidos ao Superior Tribunal de Justiça são apreciados em
sede de jurisdição ordinária, o que enseja o conhecimento de ofício de questões de ordem pública,
entre elas a alusiva às condições da ação, no caso, especificamente, a relacionada com a legitimidade
passiva da autoridade apontada como coatora. 2. O Superior Tribunal de Justiça tem-se pronunciado
no sentido de que o Secretário de Fazenda do Estado não é parte legítima para figurar como
autoridade coatora em mandados de segurança em que se discute a exigibilidade de tributos, não
havendo falar, de outro lado, na possibilidade de encampação nem em eventual poder hierárquico
sobre seus subordinados, uma vez que sua presença indevida no mandamus altera a competência
para o julgamento da ação mandamental. 3. 'A jurisprudência deste STJ compreende não ser
possível autorizar a emenda da inicial para correção da autoridade indicada como coatora nas
hipóteses em que tal modificação implica em alteração de competência jurisdicional. Isso porque
compete originariamente ao Tribunal de Justiça Estadual o julgamento de mandado de segurança
contra Secretário de Estado, prerrogativa de foro não extensível ao servidor responsável pelo
lançamento tributário' (AgInt no RMS 54.535/RJ, Rel. Ministro Sérgio Kukina, Primeira Turma, DJe
26/9/2018). (...) (AgInt no RMS n. 53.867/MG, relator Ministro Gurgel de Faria, Primeira Turma,
julgado em 21/3/2019, DJe de 3/4/2019)".

PROCESSO REsp 2.043.494-SC, Rel. Ministro Herman Benjamin,


Segunda Turma, por unanimidade, julgado em
14/2/2023.

RAMO DO DIREITO DIREITO PROCESSUAL CIVIL

TEMA Execução fiscal. Conselho de fiscalização profissional.


Condição de procedibilidade para propositura da
execução. Teto mínimo. Valor definido pelo art. 6º da Lei
n. 12.514/2011.

DESTAQUE

O teto mínimo para ajuizamento de execução fiscal independe do valor estabelecido como
anuidade pelos Conselhos de fiscalização profissional.

INFORMAÇÕES DO INTEIRO TEOR

A simples leitura dos arts. 4º, 6º e 8º da Lei n. 12.514/2011 permite concluir que o teto mínimo
para ajuizamento de execução fiscal independe do valor estabelecido pelos Conselhos de fiscalização
profissional, pois o legislador optou pelo valor fixo do art. 6º, I, da Lei n. 12.514/2011, com a
redação dada pela Lei n. 14.195/2021.
O pleito para que o montante a ser considerado como limite mínimo para ajuizamento de
execução fiscal seja de cinco vezes o valor definido por cada conselho profissional para a cobrança
de anuidades - até o limite máximo constante do inciso I do art. 6º da Lei n. 12.514/2011, deve ser
rejeitado por contrariar a literalidade do disposto no art. 8º, caput, da Lei n. 12.514/2011, com
redação dada pela Lei n. 14.195/2021, que é explícito ao se referir ao "valor total inferior a 5 (cinco)
vezes o constante do inciso I do caput do art. 6º desta Lei", em vez de referir-se ao "valor cobrado
anualmente da pessoa física ou jurídica inadimplente", tal como estabelecia o mesmo dispositivo,
em sua redação original.

INFORMAÇÕES ADICIONAIS

LEGISLAÇÃO

Lei n. 12.514/2011, arts. 4º, 6º e 8º


Lei n. 14.195/2021

PROCESSO AgInt nos EDcl no REsp 2.004.107-PB, Rel. Ministro


Mauro Campbell Marques, Segunda Turma, por
unanimidade, julgado em 15/12/2022, DJe 19/12/2022.

RAMO DO DIREITO DIREITO PROCESSUAL CIVIL

TEMA Honorários recursais. Reconhecimento de error in


procedendo. Anulação da sentença. Supressão de
capítulo decisório de honorários sucumbenciais.
Ausência de pressuposto para majoração da verba
sucumbencial em grau recursal.

DESTAQUE

Não são cabíveis honorários recursais na hipótese de recurso que mantém acórdão que
reconheceu error in procedendo e anulou a sentença.

INFORMAÇÕES DO INTEIRO TEOR

No caso analisado, embora a sentença tenha condenado a parte embargante ao pagamento de


honorários advocatícios fixados em R$ 1.500,00 (mil e quinhentos reais), o Tribunal de origem deu
provimento à apelação para, "anulando a sentença, determinar o retorno dos autos à vara de origem,
para regular prosseguimento do feito".
Nesse cenário, ainda que exista a prolação de uma sentença com a condenação em honorários
sucumbenciais, o superveniente provimento de recurso, com o reconhecimento de error in
procedendo e a anulação de tal decisão, como ocorreu na espécie, enseja o desfazimento também da
estipulação da sucumbência originária, de modo que, nessa hipótese, se não subsiste a condenação
em honorários na origem, não há que se falar em sua majoração em sede recursal.
Nesse sentido, confira-se o seguinte julgado: "(...) 3. Os honorários recursais não têm autonomia
nem existência independente da sucumbência fixada na origem e representam um acréscimo (o
CPC/2015 fala em "majoração") ao ônus estabelecido previamente, motivo por que na hipótese de
descabimento ou na de ausência de fixação anterior, não haverá falar em honorários recursais. 4.
Assim, não são cabíveis honorários recursais na hipótese de recurso que reconhece "error in
procedendo" e que anula a sentença, uma vez que essa providência torna sem efeito também o
capítulo decisório referente aos honorários sucumbenciais e estes, por seu turno, constituem
pressuposto para a fixação ("majoração") do ônus em grau recursal. Exegese do art. 85, § 11, do
CPC/2015. 5. Recurso especial provido (REsp 1.703.677/PE, Rel. Ministro Mauro Campbell Marques,
Segunda Turma, julgado em 28/11/2017, DJe de 1º/12/2017)".
Esse entendimento, ademais, guarda perfeita sintonia com a jurisprudência do Superior Tribunal
de Justiça no sentido de que é devida a majoração da verba honorária sucumbencial, na forma do
art. 85, § 11, do CPC/2015, apenas quando estiverem presentes os seguintes requisitos,
simultaneamente: a) decisão recorrida publicada a partir de 18.3.2016, quando entrou em vigor o
novo Código de Processo Civil; b) recurso não conhecido integralmente ou não provido,
monocraticamente ou pelo órgão colegiado competente; e c) condenação em honorários
advocatícios desde a origem no feito em que interposto o recurso (AgInt nos EAREsp 762.075/MT,
Rel. p/ acórdão Ministro Herman Benjamin, Corte Especial, DJe 7/3/2019).

INFORMAÇÕES ADICIONAIS

LEGISLAÇÃO

CPC/2015, art. 85, § 11


TERCEIRA TURMA

PROCESSO REsp 1.905.591-MT, Rel. Ministro Ricardo Villas Bôas


Cueva, Terceira Turma, por unanimidade, julgado em
7/2/2023, DJe 13/2/2023.

RAMO DO DIREITO DIREITO FALIMENTAR, RECUPERAÇÃO JUDICIAL

TEMA Recuperação judicial. Administrador judicial.


Remuneração. Forma de pagamento. Submissão ao plano
de recuperação. Impossibilidade. Crédito extraconcursal.

DESTAQUE

A remuneração do administrador judicial é crédito extraconcursal, não se submetendo aos efeitos


do plano de recuperação judicial.

INFORMAÇÕES DO INTEIRO TEOR

O administrador judicial tem papel preponderante na condução da recuperação judicial e na


falência, atuação que foi ampliada com a reforma trazida pela Lei n. 14.112/2020. Ele atua, ainda, na
condição de auxiliar da justiça, nos termos do art. 149 do Código de Processo Civil de 2015.
Na medida em que presta serviço essencial à administração da justiça, deve ser remunerado,
estando as balizas para definir o valor da verba e a forma de pagamento estabelecidas no art. 24 da
Lei n. 11.101/2005.
Como observa-se do referido artigo, é dever do magistrado definir o valor da remuneração e a
forma de pagamento, podendo estabelecer o parcelamento da verba, proposta que pode, ou não, ser
aceita pelo administrador judicial.
O que não se mostra possível permitir que a remuneração seja paga na forma do plano de
recuperação judicial. Em primeiro lugar, o crédito é extraconcursal, pois seu fato gerador é posterior
ao pedido de recuperação judicial (art. 49 da Lei de Recuperações de Empresas e Falência), além de
ser assim caracterizado expressamente no caso de falência (art. 84, I, "d", da Lei n. 11.101/2005).
Assim, não se submete aos efeitos do plano, seja para sobre ele incidir eventual deságio ou
carência, seja para ser pago de forma diferida ou parcelada. Não fosse isso, a remuneração do
administrador judicial é insuscetível de negociação quer com os devedores, quer com os credores,
diante da necessidade de garantir sua imparcialidade.
Logo, não é possível sua inclusão no plano redigido pelo devedor (ou pelos credores - art. 56, § 4º,
da LREF), tampouco a votação por sua aprovação ou rejeição pelos credores.

INFORMAÇÕES ADICIONAIS

LEGISLAÇÃO

Lei de Recuperação de Empresas e Falências, art. 61


Lei nº 14.112/2020

PROCESSO REsp 2.033.239-SP, Rel. Ministro Marco Aurélio Bellizze,


Terceira Turma, por unanimidade, julgado em
14/2/2023.

RAMO DO DIREITO DIREITO PROCESSUAL CIVIL

TEMA Execução. Morte de coexecutado. Não suspensão do


processo. Ciência inequívoca dos herdeiros a respeito da
ação executiva. Silêncio do coexecutado. Anulação da
avaliação de bem penhorado. Não cabimento. Nulidade
relativa. Nulidade de algibeira. Reconhecimento.

DESTAQUE

É relativa a nulidade advinda da não suspensão do feito em virtude da morte de coexecutado,


sendo imprescindível a comprovação do prejuízo processual sofrido pela parte a quem a nulidade
aproveitaria.

INFORMAÇÕES DO INTEIRO TEOR

Nos termos do art. 313, I, do Código de Processo Civil, a superveniência do óbito de uma das
partes enseja a imediata suspensão do processo - desde o evento morte, portanto -, a fim de
viabilizar a substituição processual da parte por seu espólio. O objetivo é preservar o interesse
particular do espólio, assim como dos herdeiros do falecido.
Sendo esse o propósito da norma processual, a nulidade advinda da inobservância dessa regra é
relativa, passível de declaração apenas no caso de a não regularização do polo ensejar real e
concreto prejuízo processual ao espólio. Do contrário, os atos processuais praticados, a despeito da
não suspensão do feito, hão de ser considerados absolutamente válidos.
Em face disso, não se pode deixar de reconhecer que a caracterização de prejuízo processual,
advindo da não suspensão do feito, mostra-se absolutamente incoerente quando a parte a quem a
nulidade aproveitaria, ciente de seu fato gerador, não a suscita nos autos logo na primeira
oportunidade que lhe é dada, utilizando-se do processo como instrumento hábil a coordenar suas
alegações e trazendo a lume a correlata insurgência, ulteriormente, no caso de prolação de decisão
desfavorável, em absoluta contrariedade aos princípios da efetividade, da razoabilidade e da boa-fé
processual.
A pretensão de anular a avaliação do bem penhorado, em razão de nulidade cujo fato gerador -
morte do executado - era de pleno conhecimento da coexecutada, a qual deliberadamente deixou de
suscitar a questão em Juízo num primeiro momento, não pode ser admitida, a posteriori, para
beneficiar a própria parte executada, sem vulneração do princípio da boa-fé processual.

INFORMAÇÕES ADICIONAIS

LEGISLAÇÃO

Código de Processo Civil, art. 313, I


QUARTA TURMA

PROCESSO AgInt no REsp 1.914.177-DF, Rel. Ministro Antonio


Carlos Ferreira, Rel. para acórdão Ministra Maria Isabel
Gallotti, Quarta Turma, por maioria, julgado em
13/12/2022, DJe 25/1/2023.

RAMO DO DIREITO DIREITO CIVIL, DIREITO DO CONSUMIDOR

TEMA Contrato de promessa de compra e venda de imóvel na


planta (apart-hotel). Atraso na entrega da obra.
Administradora hoteleira. Legitimidade passiva e
responsabilidade solidária. Ausência. Integração à cadeia
de fornecimento não caracterizada.

DESTAQUE

A empresa de administração hoteleira não tem responsabilidade solidária pelo inadimplemento


do contrato de promessa de compra e venda de unidades imobiliárias em construção, porquanto
não integra a cadeia de fornecimento relativa à incorporação formada pelas sociedades empresárias
inadimplentes.

INFORMAÇÕES DO INTEIRO TEOR

A controvérsia consiste em definir se a empresa de administração hoteleira, responsável pela


futura administração de condomínio, faz parte da cadeia de fornecimento de unidade imobiliária
autônoma (apart-hotel) na planta. E, por conseguinte, se possui responsabilidade solidária para
integrar o polo passivo de eventual ação.
Com efeito, ambas Turmas de Direito Privado desta Corte entendem que a rede hoteleira não tem
responsabilidade solidária pelo não adimplemento do contrato de promessa de compra e venda de
unidades imobiliárias, porquanto não integra a cadeia de fornecimento relativa à incorporação
formada pelas sociedades empresárias inadimplentes.
A circunstância de haver no contrato a previsão de que o consumidor se obriga a aderir por
instrumento particular ao futuro pool hoteleiro administrado por empresa indicada no contrato de
compra e venda não implica responsabilidade desta última por eventual inadimplemento da
construtora/incorporadora/vendedora. Ademais, enquanto não concluída a construção da unidade
imobiliária, sequer tem objeto o contrato de administração.
Assim, no que diz respeito ao atraso na construção da unidade, é irrelevante a circunstância de
que foi previamente indicado ao consumidor o nome da empresa de hotelaria, porque não se alega
nenhum defeito relacionado à colocação de imóvel no pool.
Portanto, não há responsabilidade solidária de quem vai administrar um futuro pool hoteleiro,
pois sua própria existência depende da conclusão com êxito da construção, o que é facilmente
perceptível pelo consumidor.

PROCESSO Processo em segredo de justiça, Rel. Ministro Marco


Buzzi, Quarta Turma, por unanimidade, julgado em
12/12/2022, DJe 16/12/2022.

RAMO DO DIREITO DIREITO DO CONSUMIDOR

TEMA Planos e seguros de saúde. Rol de procedimentos e


eventos em saúde da Agência Nacional de Saúde
Suplementar (ANS). Transtorno do Espectro Autista
(TEA). Tratamento Psicoterápico. Número de sessões
ilimitado. Adoção do método ABA (Análise do
Comportamento Aplicada). Cobertura devida.

DESTAQUE

É devida a cobertura do tratamento de psicoterapia, sem limite de sessões, admitindo-se que está
previsto no rol da ANS, nos seguintes termos: a) para o tratamento de autismo, não há mais
limitação de sessões no Rol; b) as psicoterapias pelo método ABA estão contempladas no Rol, na
sessão de psicoterapia; c) em relatório de recomendação da Comissão Nacional de Incorporação de
Tecnologias no Sistema Único de Saúde - CONITEC, de novembro de 2021, elucida-se que é
adequada a utilização do método da Análise do Comportamento Aplicada - ABA.

INFORMAÇÕES DO INTEIRO TEOR

A Quarta Turma do STJ, em julgamento realizado em dezembro de 2019, firmou entendimento no


sentido de que o rol da ANS não pode ser considerado meramente exemplificativo, sob pena de se
inviabilizar a saúde suplementar. A necessidade de cobertura de procedimentos ou medicamentos
não previstos no rol da ANS deve ser observada caso a caso, podendo ser admitida, de forma
excepcional, desde que amparada em critérios técnicos. Não basta, portanto, apenas a prescrição do
médico que acompanha o paciente, devendo ser observados, prioritariamente, os procedimentos e
medicamentos previstos no rol de cobertura mínima.
Nesse sentido, a Segunda Seção deste STJ, em recente julgamento (EREsps 1.886.929/SP e
1.889.704/SP) reafirmou o entendimento da Quarta Turma, fixando premissas que devem orientar a
análise da controvérsia. Especificamente quanto ao tratamento multidisciplinar para o TEA, a
orientação consignada é no sentido de ser devida a cobertura do tratamento de psicoterapia, sem
limite de sessões, admitindo-se que está previsto no rol da ANS, nos seguintes termos: "a) para o
tratamento de autismo, não há mais limitação de sessões no Rol; b) as psicoterapias pelo método
ABA estão contempladas no Rol, na sessão de psicoterapia; c) em relatório de recomendação da
Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no Sistema Único de Saúde (CONITEC), de
novembro de 2021, elucida-se que é adequada a utilização do método da Análise do Comportamento
Aplicada (ABA)".

PROCESSO AgInt no REsp 1.944.528-SP, Rel. Ministro Raul Araújo,


Quarta Turma, por unanimidade, julgado em
12/12/2022, DJe 14/12/2022.

RAMO DO DIREITO DIREITO DO CONSUMIDOR, DIREITO INTERNACIONAL

TEMA Transporte aéreo internacional. Prescrição da


indenização por dano moral. Prevalência do Código de
Defesa do Consumidor em detrimento da Convenção de
Montreal.

DESTAQUE

As Convenções de Varsóvia e Montreal não regularam o dano moral no transporte aéreo


internacional, ao qual deve ser aplicada a lei geral interna, no caso, o Código de Defesa do
Consumidor.

INFORMAÇÕES DO INTEIRO TEOR

Cinge-se a controvérsia acerca do prazo prescricional para passageiro reclamar danos morais no
caso de atraso em voo internacional.
Conforme o atual entendimento do Supremo Tribunal Federal, "ao julgar o RE 636.331, Rel. Min.
Gilmar Mendes, paradigma do tema n. 210 da repercussão geral, este Supremo Tribunal Federal
decidiu sobre a prevalência das convenções internacionais sobre o Código de Defesa do Consumidor
apenas com relação às pretensões de indenização por danos materiais, fixando o entendimento de
que, em tal hipótese, aplica-se o prazo de dois anos previsto no art. 35 da Convenção de Montreal,
incorporada ao direito interno pelo Decreto nº 5.910/2006".
Não foi reconhecida a existência, em acordo internacional sobre transporte aéreo, de regulação de
reparação por danos morais, aplicando-se a lei interna, no caso, o prazo prescricional previsto no
art. 27 do CDC.
No caso, "A orientação jurisprudencial do Supremo Tribunal Federal é no sentido de ser
inaplicável a Convenção de Montreal para contagem do prazo prescricional para as indenizações por
danos morais" (RE 1.374.196, Rel. Ministro Roberto Barroso, Primeira Turma, julgado em
24/10/2022, DJe 10/11/2022).

INFORMAÇÕES ADICIONAIS

LEGISLAÇÃO

Código de Defesa do Consumidor, art. 27

PROCESSO AgInt no REsp 1.582.243-SP, Rel. Ministra Maria Isabel


Gallotti, Quarta Turma, por unanimidade, julgado em
14/2/2023.

RAMO DO DIREITO DIREITO DO CONSUMIDOR, DIREITO PROCESSUAL CIVIL

TEMA Ação Civil Pública. Extinção da associação autora por


decisão judicial. Substituição pelo Ministério Público.
Interpretação extensiva do art. 5º da Lei n. 7.347/1985.
Possibilidade.

DESTAQUE

Em caso de dissolução, por decisão judicial, da associação autora de ação civil pública, é possível a
substituição processual pelo Ministério Público.
INFORMAÇÕES DO INTEIRO TEOR

Cinge-se a controvérsia a determinar a possibilidade de interpretação extensiva do art. 5º, § 3º,


da Lei de Ação Civil Pública (LACP) no caso em que a associação que ajuizara a ação é dissolvida por
decisão judicial em que se reconhece a ausência de representatividade adequada e o desvio de
finalidade, permitindo-se a sua substituição pelo Ministério Público.
Como não cabe ao intérprete estabelecer distinções onde a própria lei não distinguiu, é
irrelevante ao deferimento da substituição processual a circunstância da associação haver sido
extinta por decisão judicial. Nesse sentido, também esta Corte já deixou claro que "se o dispositivo
não restringiu, não pode o aplicador do direito interpretar a norma a ponto de criar uma restrição
nela não prevista" (REsp 1.113.175/DF, Rel. Ministro Castro Meira, Corte Especial, julgado em
24/5/2012, DJe 7/8/2012). O que importa é que tanto nos casos de desistência infundada ou de
abandono da ação quanto na hipótese de extinção da associação por decisão judicial, o objetivo
legítimo consiste em não deixar desprotegidas as pessoas que de fato tinham o interesse naquela
tutela e até então eram substituídas pela associação. Assim sendo, o fundamento para o deferimento
da substituição processual não depende de se tratar de desistência infundada ou de abandono da
ação, mas, sim, da necessidade de proteger os consumidores.
Nesse sentido, "consoante previsão dos arts. 9º da Lei n. 4.717/65 e 5º, § 3º, da Lei n. 7.347/85,
tendo ocorrido a dissolução da autora coletiva originária, deve ser possibilitado aos outros
legitimados coletivos a assunção do polo ativo, como forma de se privilegiar a coletividade
envolvida no processo e a economia dos atos processuais" (REsp 1.800.726/MG, Rel. Ministra Nancy
Andrighi, Terceira Turma, julgado em 2/4/2019, DJe 4/4/2019).

INFORMAÇÕES ADICIONAIS

LEGISLAÇÃO

Lei 4.717/1965, art. 9


Lei 7.347/1985 (Lei da Ação Civil Pública), art. 5º, § 3º
PROCESSO REsp 1.324.978-SP, Rel. Ministro Raul Araújo, Quarta
Turma, por unanimidade, julgado em 14/2/2023.

RAMO DO DIREITO DIREITO INTERNACIONAL, DIREITO EMPRESARIAL,


DIREITO BANCÁRIO

TEMA Importação de mercadoria. Emissão de Cartas de Crédito


Internacional (letter of credit - L/C). Inadimplência do
banco emitente. Banco confirmador cumpriu as
obrigações e compromissos para com o banco emissor da
carta de crédito e os beneficiários exportadores. Sub-
rogação na condição de credor inerente ao banco
emissor. Importador nacional. Devedor principal.
Pagamento. Incumbência.

DESTAQUE

O importador nacional responde pelos valores pagos pelo banco confirmador ao exportador
estrangeiro, na hipótese de insolvência do banco emissor de carta de crédito internacional (letter of
credit - L/C) emitida ao amparo de operação de importação.

INFORMAÇÕES DO INTEIRO TEOR

A carta de crédito internacional (letter of credit) é uma modalidade de crédito utilizada para
viabilizar operações de comércio internacional, envolvendo importação e exportação de
mercadorias, a fim de garantir o pagamento dos bens adquiridos no estrangeiro. Em geral, o
importador (tomador ou proponente) contrata o crédito com uma instituição financeira (banco
emitente), que emite as cartas de crédito e se responsabiliza pelo pagamento da transação ao
exportador (beneficiário) e, ao final, o importador deve pagar os valores contratados diretamente ao
banco emitente.
Trata-se de um crédito documentário, ou crédito documentado, uma vez que o pagamento dos
valores contratados se vincula à entrega, pelo exportador estrangeiro, dos documentos de
embarque, que comprovam o cumprimento dos termos e condições apostos na carta de crédito.
No tocante à questão, a Quarta Turma já se manifestou no sentido de que o crédito documentário,
ou crédito documentado, consiste "(...) no ajuste, geralmente, entre o comprador de mercadoria e
instituição financeira, para que esta libere o crédito ao vendedor da mercadoria, mediante
apresentação dos documentos exigidos. Contrato caracterizado pela triangularização de transações
entre comprador, vendedor e instituição financeira, com liberação do crédito condicionada à
apresentação da documentação da venda, comumente chamado de vendor" (REsp n. 1.022.034/SP,
relator Ministro Luis Felipe Salomão, Quarta Turma, julgado em 12/3/2013, DJe 18/4/2013).
Adicionalmente, é possível que as partes façam uso da figura de um segundo banco, normalmente
domiciliado no país do exportador, o chamado de banco confirmador, o que enseja dupla garantia de
pagamento dos valores ao exportador. Trata-se de uma obrigação autônoma na qual o banco
confirmador se compromete a atender as obrigações assumidas pelo banco emitente perante o
exportador.
No caso ora em exame, o banco confirmador, cumprindo suas obrigações e compromissos para
com o banco emissor da carta de crédito e os beneficiários exportadores, diante do inadimplemento
do banco emitente, realizou os pagamentos diretamente aos exportadores estrangeiros, quitando a
obrigação principal irrevogável e, assim, sub-rogou-se na condição de credor inerente ao banco
emissor perante o importador nacional, devedor principal, o qual recebeu as mercadorias
importadas e nada comprovou haver quitado, até esta parte, seja junto ao banco emissor, seja junto
aos exportadores estrangeiros.
Cumpre ressaltar que, nos termos da UCP 500 (Uniform Customs and Practice for Documentary
Credits), vigente à época da contração, que estabelece costumes e práticas uniformes para créditos
documentários, sendo amplamente adotada pelos bancos quanto à delimitação de responsabilidades
das partes envolvidas na contratação de créditos documentários, ao autorizar ou solicitar outro
banco para adicionar sua confirmação na carta de crédito, o banco emitente autoriza o banco
confirmador, ao cumprir suas obrigações perante o beneficiário, desde que os documentos
apresentados aparentem estar em conformidade com os termos e condições da carta de crédito, se
comprometendo a reembolsá-lo, o que constitui um compromisso adicional ao do banco emissor.
Ainda, conforme dispõe a UCP 500, as cartas de crédito, por sua natureza, são transações
separadas dos contratos de compra venda ou de quaisquer outros contratos firmados durante a
operação, não estando os bancos vinculados por tais contratos, ainda que a carta de crédito faça
referência a eles. Isso significa que o banco confirmador é um típico terceiro interessado, pois seu
compromisso de cumprir com as obrigações decorrentes da carta de crédito não está sujeito a
reclamações ou oposição de exceções pessoais pelo tomador (importador nacional), em decorrência
de suas relações com o banco emitente ou com o beneficiário (exportador estrangeiro).
Nesse contexto, considerando a cadeia de relações existentes na contratação do crédito
documentário, irrecusável a relação jurídica que obriga a importadora, junto ao banco confirmador,
sub-rogado nos direitos e obrigações do banco emitente, podendo este exigir o pagamento dos
valores relativos às cartas de crédito diretamente da importadora.
PROCESSO REsp 1.678.925-MG, Relatora Ministra Maria Isabel
Gallotti, Quarta Turma, por maioria, julgado em
14/2/2023.

RAMO DO DIREITO DIREITO PROCESSUAL CIVIL

TEMA Ação civil pública. Competência da Justiça estadual.


Associação civil extinta por decisão judicial. Processo em
curso no Superior Tribunal de Justiça. Substituição
processual. Ministério Público Federal. Ilegitimidade.
Atribuição do Ministério Público Estadual.

DESTAQUE

Ainda que o processo esteja em curso no Superior Tribunal de Justiça, o Ministério Público
Federal não possui legitimidade para substituir associação extinta por decisão judicial em ação civil
pública proposta perante a Justiça estadual.

INFORMAÇÕES DO INTEIRO TEOR

A associação que ajuizara a ação civil pública foi extinta por decisão judicial, requerendo a
intimação do Ministério Público para manifestar-se acerca da substituição no polo ativo. O
Ministério Público Estadual, a despeito de ter sido intimado, não se manifestou, razão pela qual o
processo foi julgado extinto, sem resolução do mérito, diante da ausência de capacidade para ser
parte da associação.
O Ministério Público Federal (MPF) opôs embargos declaratórios contra essa decisão, afirmando
que, "de acordo com o art. 37, I, e 66 da Lei Complementar nº 75, de 20/5/1993, é atribuição do
Ministério Público Federal atuar nas causas de competência do Superior Tribunal de Justiça, por
seus Subprocuradores-gerais da República".
A pretensão do MPF de substituir a associação civil é inadmissível porquanto a presente ação
tramitou na Justiça do Estado de Minas Gerais. Embora tenha legitimidade para oficiar nos
processos em curso nesta Corte, essa legitimidade não se estende à assunção do polo ativo de ação
civil pública proposta perante a Justiça estadual e que nela teve tramitação por não se enquadrar na
competência da Justiça Federal (CF, art. 109).

INFORMAÇÕES ADICIONAIS
LEGISLAÇÃO

Lei n. 7.347/1985 (Lei da Ação Civil Pública), art. 5º, § 3º


Lei Complementar n. 75/1993, art. 37, I, e art. 66

PROCESSO AgInt nos EDcl no AREsp 920.284-SP, Rel. Ministro Marco


Buzzi, Quarta Turma, julgado em 14/2/2023, DJe
27/2/2023.

RAMO DO DIREITO DIREITO PROCESSUAL CIVIL

TEMA Vigência do antigo CPC. Cumprimento de sentença.


Honorários advocatícios fixados na inicial. Devidos desde
o esgotamento do prazo para o pagamento voluntário.
Parcelamento. Art. 745-A do CPC/1973. Aplicabilidade.

DESTAQUE

Na vigência do antigo Código de Processo Civil, os honorários da fase de cumprimento de


sentença eram fixados no recebimento da inicial, sendo devidos desde o esgotamento do prazo para
pagamento voluntário, inclusive na hipótese de parcelamento prevista no art. 745-A do CPC/1973.

INFORMAÇÕES DO INTEIRO TEOR

Cuida-se, na origem, de cumprimento de sentença arbitral - título executivo judicial, conforme


previsão do art. 475-N, inc. IV, do CPC/1973, vigente à época. O valor exequendo foi parcelado, na
forma do artigo 745-A do CPC/1973, cingindo-se a controvérsia recursal ao cabimento de
honorários sucumbenciais relativos à fase de execução.
O referido dispositivo enuncia: "Art. 745-A. No prazo para embargos, reconhecendo o crédito do
exequente e comprovando o depósito de 30% (trinta por cento) do valor em execução, inclusive
custas e honorários de advogado, poderá o executado requerer seja admitido a pagar o restante em
até 6 (seis) parcelas mensais, acrescidas de correção monetária e juros de 1% (um por cento) ao
mês".
Imperioso ressaltar que o referido dispositivo encontrava-se em capítulo dedicado à execução
por título extrajudicial - tendo sido aplicado por analogia ao cumprimento de sentença de obrigação
de pagar quantia certa. Tal ressalva é necessária para que se compreenda a quais valores de custas e
honorários o dispositivo se refere. Ora, se o dispositivo foi originalmente previsto para execução por
título extrajudicial, somente poderia se referir às custas e honorários da própria execução, pois
inexistente prévia fase cognitiva na hipótese a qual o dispositivo se dedica. Portanto, ao aplicar-se o
dispositivo, por analogia, ao cumprimento de sentença, deve-se incluir, no parcelamento, as custas e
honorários da fase de execução - não sendo viável a exclusão da verba honorária relativa a essa fase
por pagamento voluntário.
Nos termos da jurisprudência desta Corte, são cabíveis honorários advocatícios na fase de
cumprimento de sentença quando não há pagamento voluntário no prazo de 15 (quinze) dias,
previsto no art. 475-J do CPC/1973. O referido pagamento deve ser integral - sob pena de incidir a
verba honorária sobre a parcela restante.
Ainda, na fase de execução, a verba é fixada já no recebimento da petição inicial (ou seja, do
pedido de instauração de cumprimento de sentença) - sendo devida desde o esgotamento do prazo
de 15 (quinze) dias para o pagamento.

INFORMAÇÕES ADICIONAIS

LEGISLAÇÃO

Código de Processo Civil de 1973, arts. 475-J, 475-N, IV e 745-A.


QUINTA TURMA

PROCESSO Processo em segredo de justiça, Rel. Ministro Reynaldo


Soares da Fonseca, Quinta Turma, por unanimidade,
julgado em 28/11/2022, DJe 1º/12/2022.

RAMO DO DIREITO DIREITO PENAL, DIREITO PROCESSUAL PENAL

TEMA Crimes contra a dignidade sexual. Art. 225 do Código


Penal com redação anterior à Lei n. 12.015/2009.
Representação. Desnecessidade. Ação penal pública
incondicionada. Legitimidade do Ministério Público.
Proteção integral à criança e ao adolescente.

DESTAQUE

Antes das alterações introduzidas pela Lei n. 12.015/2009, o Ministério Público já era parte
legítima para propor a ação penal pública incondicionada destinada a verificar a prática de crimes
sexuais contra crianças.

INFORMAÇÕES DO INTEIRO TEOR

A jurisprudência desta Corte Superior é no sentido de que, mesmo antes das alterações
introduzidas pela Lei n. 12.015/2009, o Ministério Público já era parte legítima para propor a ação
penal pública incondicionada destinada a verificar a prática de crimes sexuais contra crianças, pois a
proteção integral à infância é dever do Estado, conforme previsto na Constituição Federal.
A Corte de origem, no tocante a alegada decadência, consignou que, com o advento da Lei n.
12.015/2009, os delitos de estupro passaram a exigir a condição de procedibilidade consistente na
representação. No caso, a representação somente ocorreu em 2016 porque nesse ano é que os fatos
vieram à tona, mas estes foram praticados entre os anos de 2006 e 2008, ou seja, quando a vítima
era ainda uma criança. Logo, não há falar em necessidade de representação, pois a ação penal era
pública incondicionada em razão da sua menoridade, a teor do art. 225 do Código Penal.
Assim, não se pode condicionar à opção dos representantes legais da vítima, ou ao critério
econômico, a persecução penal dos crimes definidos pela Constituição Federal como hediondos,
excluindo da proteção do Estado as crianças submetidas à prática de delitos dessa natureza. Vale
dizer, é descabida a necessidade de iniciativa dos pais quando o bem jurídico protegido é
indisponível, qual seja, a liberdade sexual de criança, que, conquanto não tenha sofrido violência
real, não possui capacidade plena para determinação dos seus atos, dada a sua vulnerabilidade.

INFORMAÇÕES ADICIONAIS

LEGISLAÇÃO

Código Penal, art. 225

PROCESSO Processo em segredo de justiça, Rel. Min. Reynaldo


Soares Da Fonseca, Quinta Turma, por unanimidade,
julgado em 14/2/2023.

RAMO DO DIREITO DIREITO PENAL, DIREITO PROCESSUAL PENAL

TEMA Crimes contra a ordem tributária. Art. 1º, incisos II e V,


da Lei n. 8.137/1990. Supressão de tributo estadual
mediante fraude à fiscalização tributária. Débito fiscal
garantido por contrato de seguro. Constituição de crédito
tributário inalterada. Presença de justa causa para a
persecução penal.

DESTAQUE

O fato de a referida dívida ativa estar garantida por contrato de seguro no bojo de execução fiscal
movida contra o contribuinte não descaracteriza a materialidade dos crimes fiscais.

INFORMAÇÕES DO INTEIRO TEOR

Os administradores da empresa, agindo em conluio, suprimiram tributo estadual (ICMS),


mediante fraude à fiscalização tributária, inserindo elementos inexatos, em documento ou livro
exigido pela lei fiscal, indicando como isentas mercadorias tributáveis (art. 1º, inciso II, da Lei n.
8.137/1990) e, mediante vendas sem emissão de notas fiscais (art. 1º, inciso V, da Lei n.
8.137/1990). Após a tramitação dos Procedimentos Administrativos Tributários cabíveis, os débitos
tributários foram definitivamente lançados e inscritos na dívida ativa.
O fato de a referida dívida ativa estar garantida por contrato de seguro no bojo de execução fiscal
movida contra o contribuinte não descaracteriza a materialidade dos crimes fiscais. Consta da inicial
acusatória que "o prejuízo causado aos cofres públicos do Estado da Paraíba, com consequente
prejuízo à coletividade, é de grande vulto e indiscutível, ante as constituições definitivas dos
créditos tributários". A constituição definitiva do crédito tributário, pressuposto material do crime
fiscal, não é afastada pela mera garantia do débito em execução.
Sobre o tema, a jurisprudência do STJ possui entendimento de que "conquanto o débito fiscal
tenha sido garantido na origem, o certo é que não se equipara ao pagamento do tributo, razão pela
qual não enseja, imediata e obrigatoriamente, o trancamento da ação penal, como almejado" (AgRg
no AREsp 1.230.863/SP, Rel. Ministro Jorge Mussi, Quinta Turma, DJe 7/5/2019).
Acrescente-se, não tendo sido afastada a constituição definitiva do débito tributário por sua
garantia no âmbito da execução fiscal, também não é obrigatória e legalmente impositiva a
suspensão da ação penal.
Nesse sentido, "a garantia do crédito tributário na execução fiscal - procedimento necessário para
que o executado possa oferecer embargos - não possui, consoante o Código Tributário Nacional,
natureza de pagamento voluntário ou de parcelamento da exação e, portanto, não fulmina a justa
causa para a persecução penal, pois não configura hipótese taxativa de extinção da punibilidade ou
de suspensão do processo penal" (RHC 65.221/PE, Sexta Turma, Rel. Ministro Rogério Schietti Cruz,
DJe 27/6/2016).

INFORMAÇÕES ADICIONAIS

LEGISLAÇÃO

Lei n. 8.137/1990, art. 1.º, incisos II e V


SEXTA TURMA

PROCESSO Processo sob segredo de justiça, Rel. Ministra Laurita


Vaz, Sexta Turma, por unanimidade, julgado em
7/2/2023.

RAMO DO DIREITO DIREITO PENAL

TEMA Homicídio. Dosimetria. Dissimulação. Uso de meio que


dificultou a defesa da vítima. Quesitação confirmada pelo
júri. Duas valorações autônomas. Qualificadora do inciso
IV do § 2º do art. 121 do CP e a agravante genérica do art.
61, inciso II, c, do CP. Bis in idem. Impossibilidade. Única
elevação.

DESTAQUE

A confirmação pelo tribunal do júri da dissimulação e do uso de meio que dificultou a defesa da
vítima deve ensejar uma única elevação em decorrência da qualificadora contida no art. 121, § 2º,
inciso IV, do Código Penal, ainda que quesitadas individualmente e não guardem relação de
interdependência entre si.

INFORMAÇÕES DO INTEIRO TEOR

A controvérsia consiste em definir se as circunstâncias reconhecidas pelo Conselho de Sentença


devem trazer repercussão, de forma individual, na dosimetria da pena.
No caso, em razão das circunstâncias da dissimulação e do uso de meio que dificultou ou
impossibilitou a defesa da vítima terem sido quesitadas e confirmadas, individualmente, pelo
Conselho de Sentença, o Juízo sentenciante as reconheceu como duas qualificadoras autônomas.
Contudo, a resposta positiva do Conselho de Sentença aos referidos quesitos deve ensejar o
reconhecimento uno da qualificadora contida no art. 121, § 2º, inciso IV, do Código Penal, ainda que
não guardem relação de interdependência entre si.
Portanto, ainda que o Tribunal do Júri tenha reconhecido a configuração da dissimulação usada
para entrar na casa da vítima e o uso de meio que dificultou a defesa da vítima, deve incidir uma
única elevação em decorrência da qualificadora do art. 121, § 2º, inciso IV, do Código Penal, a fim de
evitar bis in idem.
INFORMAÇÕES ADICIONAIS

LEGISLAÇÃO

Código Penal, arts. 61, inciso II, 'c' e 121, § 2º, IV

PROCESSO AgRg no AREsp 1.995.527-SE, Rel. Ministro Antonio


Saldanha Palheiro, Sexta Turma, por unanimidade,
julgado em 19/12/2022, DJe 21/12/2022.

RAMO DO DIREITO DIREITO PROCESSUAL PENAL

TEMA Produção antecipada de provas. Suspensão do processo.


Art. 366 do CPP. Testemunhas policiais. Contato com
fatos delituosos semelhantes. Risco de perecimento das
provas. Urgência da medida evidenciada. Súmula n. 455
do STJ.

DESTAQUE

É possível a antecipação de provas para a oitiva de testemunhas policiais, dado que, pela natureza
dessa atividade profissional, diariamente em contato com fatos delituosos semelhantes, o decurso
do tempo traz efetivo risco de perecimento da prova testemunhal por esquecimento.

INFORMAÇÕES DO INTEIRO TEOR

No que concerne ao tema, preconiza o art. 366 do Código de Processo Penal que, "se o acusado,
citado por edital, não comparecer, nem constituir advogado, ficarão suspensos o processo e o curso
do prazo prescricional, podendo o juiz determinar a produção antecipada das provas consideradas
urgentes e, se for o caso, decretar prisão preventiva, nos termos do disposto no art. 312".
Cumpre ressaltar que, nos termos do Enunciado n. 455 da Súmula do Superior Tribunal de Justiça,
"A decisão que determina a produção antecipada de provas com base no art. 366 do CPP deve ser
concretamente fundamentada, não a justificando unicamente o mero decurso do tempo".
No caso, os fundamentos do acórdão que determinou a produção antecipada de provas são
idôneos, tendo em vista a urgência da medida, consubstanciada na possibilidade do perecimento ou
da fragilidade dos elementos de convicção, salientando a instância ordinária a necessidade da oitiva
antecipada das testemunhas, seja em virtude do lapso temporal de cerca de quatro anos decorridos
desde os fatos, seja em razão de as únicas testemunhas serem policiais militares, estando presente o
efetivo risco de fuga do acusado do distrito da culpa e de esquecimento dos fatos pelas testemunhas,
pela própria natureza do ofício de quem atua diariamente no combate à criminalidade,
circunstâncias essas concretas que justificam a antecipação da prova, nos termos do art. 366 do CPP
e do entendimento do Superior Tribunal de Justiça.
Nessa esteira, compreendeu a Terceira Seção desta Corte, no julgamento do RHC 64.086/DF, que
é justificável a antecipação de provas para a oitiva de testemunhas policiais, já que, nesse caso, o
simples decurso do tempo traz efetivo risco de perecimento da prova testemunhal, por
esquecimento, dada a natureza dessa atividade profissional, diariamente em contato com fatos
delituosos semelhantes, devendo ser ouvidas com a máxima urgência possível.
Ademais, conforme assentado pelo Superior Tribunal de Justiça, "a realização antecipada de
provas não traz prejuízo ínsito à defesa, visto que, a par de o ato ser realizado na presença de
defensor nomeado, nada impede que, retomado eventualmente o curso do processo com o
comparecimento do réu, sejam produzidas provas que se julgarem úteis à defesa, não sendo vedada
a repetição, se indispensável, da prova produzida antecipadamente" (RHC 64.086/DF, relator
Ministro Nefi Cordeiro, relator p/ Acórdão Ministro Rogerio Schietti Cruz, Terceira Seção, DJe
9/12/2016).

INFORMAÇÕES ADICIONAIS

LEGISLAÇÃO

Código de Processo Penal, art. 366

SÚMULAS

Sumula n. 455 do STJ


PROCESSO REsp 1.913.757-SP, Rel. Ministro Rogerio Schietti Cruz,
Sexta Turma, por unanimidade, julgado em 7/2/2023.

RAMO DO DIREITO EXECUÇÃO PENAL

TEMA Conclusão do ensino médio antes do ingresso no sistema


prisional. Realização do ENEM por reeducando que já
possuía diploma do nível de escolaridade. Remição da
pena. Impossibilidade.

DESTAQUE

Não é cabível a remição penal por aprovação no ENEM ao reeducando que já havia concluído o
ensino médio antes de ingressar no sistema prisional.

INFORMAÇÕES DO INTEIRO TEOR

Cinge-se a controvérsia a definir se o sentenciado que já ostentava o conhecimento relativo ao


ensino médio quando ingressou no sistema prisional faz jus à remição por estudo autodidata, do
mesmo grau de ensino, em decorrência de aprovação no Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM).
O condenado que cumpre a pena em regime fechado ou semiaberto poderá remir, por trabalho ou
por estudo, parte do tempo de execução da pena. Na última hipótese, o cálculo do benefício será
feito à razão de 1 (um) dia de pena a cada 12 (doze) horas de frequência escolar.
A Recomendação n. 44/2013 do CNJ prestigiou a interpretação extensiva do art. 126 da LEP, de
modo a premiar o estudo autodidata da educação básica, se comprovado por aprovação em exames
nacionais.
Em relação ao ENEM (que não certifica a conclusão do ensino médio desde 2017), hoje
substituído pelo ENCEJJA, a certificação dos conhecimentos do ensino médio destinava-se somente
aos candidatos que estavam fora do sistema escolar e ainda não possuíam o diploma do nível de
escolaridade.
A atividade ressocializadora do estudo (e não a realização de prova ou vestibular) continua a ser
o fato gerador da remição. A Resolução n. 391 do CNJ não elencou a realização do ENEM ou ENCEJJA
como hipótese de abatimento da pena, mas apenas como instrumento de avaliação e certificação do
aprendizado por esforço do próprio preso. A resolução estabeleceu diretrizes a serem observados
pelo Poder Judiciário para o reconhecimento do direito previsto no art. 126 da LEP.
Por isso, se o diploma oficial atesta que o ensino médio não foi cursado durante os regimes
fechado ou semiaberto, não é cabível a remição penal por aprovação no ENEM ao reeducando que
concluiu antes de ingressar no sistema prisional, pois o aprendizado para conclusão da educação
básica ocorre apenas uma vez.
Portanto, "tendo o apenado concluído o ensino médio [...] antes do início do cumprimento da
pena, incabível a remição penal por aprovação no Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM)" (AgRg
no AREsp 2.083.985/SP, relator Ministro Ribeiro Dantas, Quinta Turma, DJe de 10/8/2022).

INFORMAÇÕES ADICIONAIS

LEGISLAÇÃO

Lei de Execução Penal, art. 126


Recomendação n. 44/2013 do CNJ
Resolução n. 391/2021, do CNJ
RECURSOS REPETITIVOS - AFETAÇÃO

PROCESSO ProAfR no REsp 2.015.612-SP, Rel. Min. Gurgel de Faria,


Primeira Seção, por unanimidade, julgado em
07/02/2023, DJe 15/02/2023. (Tema 1179).

RAMO DO DIREITO DIREITO ADMINISTRATIVO

TEMA A Primeira Seção acolheu a proposta de afetação dos


REsps 2.015.612/SP e 2.014.023/SP ao rito dos recursos
repetitivos, a fim de uniformizar o entendimento a
respeito da seguinte controvérsia: definir se os Conselhos
Seccionais da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB)
podem, à luz da Lei n. 8.906/1994, instituir e cobrar
anuidade das sociedades de advogados.

PROCESSO ProAfR no REsp 1.995.908-DF, Rel. Min. João Otávio de


Noronha, Corte Especial, por unanimidade, julgado em
14/02/2023, DJe 24/02/2023. (Tema 1180).

RAMO DO DIREITO DIREITO PROCESSUAL CIVIL

TEMA A Corte Especial acolheu a proposta de afetação dos


REsps 1.995.908/DF e 2.004.485/SP ao rito dos recursos
repetitivos, a fim de uniformizar o entendimento a
respeito da seguinte controvérsia: definir o marco inicial
do prazo recursal nos casos de intimação eletrônica e de
publicação no Diário da Justiça eletrônico.

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