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Recurso Extraordinario 1.323.708_PA

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MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL
PROCURADORIA-GERAL DA REPÚBLICA

RECURSO EXTRAORDINÁRIO 1.323.708/PA


RELATOR: MINISTRO EDSON FACHIN
RECORRENTE: MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL
RECORRIDO: MARCOS NOGUEIRA DIAS
ADVOGADO: DATIVO – GILBERTO ALVES
PETIÇÃO AGEP-STF/PGR Nº 1162119/2023

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Excelentíssimo Senhor Ministro Edson Fachin,

A PROCURADORA-GERAL DA REPÚBLICA, com fundamento

nos arts. 53 e 130 do Regimento Interno do Supremo Tribunal Federal, vem:

(i) apresentar, espontaneamente, manifestação acerca da Petição 84997/2023; e

(ii) reiterar o pedido de preferência de julgamento do Recurso Extraordinário

1.323.708/PA, da Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) 5.465/SP e da

Ação Direta de Inconstitucionalidade por Omissão (ADO) 77/DF, bem como

formalizar solicitação de preferência também no julgamento dos Embargos

de Declaração na Ação de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF)

509/DF.

O Recurso Extraordinário, de relatoria do Ministro Edson Fachin e

submetido à sistemática da Repercussão Geral (Tema 1.158), trata tanto sobre

a constitucionalidade da diferenciação das condições de trabalho necessárias

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à tipificação do trabalho como degradante em razão da realidade local em que

realizado, quanto do standard probatório necessário para a condenação pelo

crime de redução a condição análoga à de escravo.

Após requerimento desta Procuradoria-Geral da República, o

Supremo Tribunal Federal acolheu, em 24.8.2021, o reconhecimento da

repercussão geral da matéria. Em 24.2.2022, a Procuradoria-Geral da

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República manifestou-se pelo seu provimento e propôs a fixação das

seguintes teses: (I) é inconstitucional a diferenciação regional dos critérios

para caracterização do trabalho como degradante para fins de cometimento

do crime de redução a condição análoga à de escravo; e (II) a desconsideração

dos elementos coligidos nas atividades de fiscalização que comprovariam a

situação degradante requer a indicação específica dos demais elementos

contrapostos do caso concreto que as afastariam.

Por meio da Petição 31027/2023, em 30 de março de 2023, esta PGR

solicitou a inclusão prioritária deste RE 1.323.708, da ADI 5.465 e da ADO 77

em pauta para julgamento pelo Plenário do STF, preferencialmente ainda

naquele semestre.

No mês seguinte, Vossa Excelência deferiu os pedidos de admissão

de amici curiae, deduzidos pelas seguintes entidades e órgãos: Clínica de

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Trabalho Escravo e Tráfico de Pessoas da Faculdade de Direito da UFMG;

Associação Nacional dos Procuradores do Trabalho – ANPT; Sindicato

Nacional dos Auditores Fiscais do Trabalho – SINAIT; Clínica de Direitos

Humanos e Direito Ambiental da Escola de Direito da Universidade do

Estado do Amazonas – ED/UEA; Clínica de Direitos Humanos da Amazônia

da Universidade Federal do Pará – UFPA; Laboratório de Direitos Humanos –

LABDH e Clínica de Enfrentamento ao Trabalho Escravo – CETE, vinculados

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à Universidade Federal de Uberlândia; USP BUSINESS & HUMAN RIGHTS

WORKING GROUP – USP B&HR WG; Associação Nacional dos Magistrados

da Justiça do Trabalho – ANAMATRA; Federação das Indústrias do Estado de

Minas Gerais – FIEMG; Central Única dos Trabalhadores – CUT; e, por fim,

pela União.

Em 7.8.2023, a Anamatra informou a ocorrência de fato

superveniente relevante, qual seja, o falecimento do único réu objeto do

recurso extraordinário apresentado pelo Ministério Público Federal, assim

como que, de acordo com o art. 62 do CPC, deveria o juiz decretar a extinção

da punibilidade em razão da morte do acusado. Ao final, requereu a

intimação das partes, para "falar se ocorreu mesmo ou não a morte do acusado"

(Petição 84997/2023).

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A Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo

– CNC, a Defensoria Pública da União – DPU e o Centro de Defesa da Vida e

dos Direitos Humanos Carmen Bascarán (CDVDH/CB) apresentaram pedidos

de ingresso como amici curiae, pendentes de apreciação.

Os autos encontram-se conclusos ao relator.

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Tendo em vista os princípios da eficiência e do devido processo

legal, a PROCURADORA-GERAL DA REPÚBLICA apresenta esta

manifestação, com o propósito de: (i) espontaneamente, com base no

princípio da cooperação, esclarecer o alcance da Petição 84997/2023; e (ii)

solicitar o julgamento da questão constitucional discutida nos autos do

Recurso Extraordinário, da ADI 5465, da ADO 77 e da ADPF 509, dada a

particular relevância, no contexto nacional e internacional, da questão

constitucional neles discutida: o combate ao trabalho escravo.

1.1 Petição 84997/2023. Objetivação do recurso extraordinário.

No julgamento da Questão de Ordem no RE 1.017.365/SC,

submetido à sistemática da Repercussão Geral (Tema 1031), o Plenário do

Supremo Tribunal Federal reafirmou o seu entendimento no sentido de que

“a superveniente perda de objeto do recurso escolhido como ‘causa-piloto’ não

interfere na apreciação de determinado tema, para fins de afetação à sistemática da

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Repercussão Geral”. Diversos precedentes apontam a firme orientação da Corte

nesse sentido, a exemplo do julgamento da QO no ARE 1.054.490/RJ (Tema

974), Rel. Min. Roberto Barroso, DJe 9/3/2018, e da QO no RE 905.357/RR

(Tema 864), Rel. Min. Alexandre de Moraes, DJe 18/12/20191.

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QUESTÃO DE ORDEM NO RECURSO EXTRAORDINÁRIO. SISTEMÁTICA DA RE-
PERCUSSÃO GERAL. PROGRESSIVA “ABSTRATIZAÇÃO” DO CONTROLE DIFUSO
DE CONSTITUCIONALIDADE. PRECEDENTES E DOUTRINA. CONSOLIDAÇÃO DA
JURISPRUDÊNCIA DO STF NO SENTIDO DA INAPLICABILIDADE DAS CAUSAS DE
IMPEDIMENTO E SUSPEIÇÃO ORDINÁRIAS ÀS AÇÕES DE CONTROLE CONCEN-
TRADO DE CONSTITUCIONALIDADE. APLICAÇÃO DO MESMO ENTENDIMENTO
AOS RECURSOS EXTRAORDINÁRIOS APRECIADOS SOB A SISTEMÁTICA DA RE-
PERCUSSÃO GERAL. AUSÊNCIA DE DISCRIMINEM RAZOÁVEL. JUÍZO DE CONSTI-
TUCIONALIDADE QUE SE REALIZA NO PLANO ABSTRATO, À SEMELHANÇA DO
QUE OCORRE NAS AÇÕES DE CONTROLE CONCENTRADO, AINDA QUE VEICULA-
DO PELO SISTEMA DIFUSO. RESTRIÇÃO DE PARTICIPAÇÃO ADSTRITA À APRECI-
AÇÃO DO CASO CONCRETO.
1. Não é recente a compreensão que vem se formando no âmbito desse Excelso Colegiado quanto à
“abtratização” – ou “objetivação” – do controle difuso de constitucionalidade, a partir de uma
aproximação contínua e gradual entre os dois sistemas. Nesse sentido, no âmbito da RCL nº
4.335/AC, j. 20/03/2014, p. 22/10/2014, de sua relatoria, pontou o Min. Gilmar Mendes que “a
natureza idêntica do controle de constitucionalidade, quanto às suas finalidades e aos procedi-
mentos comuns dominantes para os modelos difuso e concentrado, não mais parece legitimar a
distinção quanto aos efeitos das decisões proferidas no controle direto e no controle incidental.”
2. Reforçam a tese da “objetivação” do recurso extraordinário, dentre outros, os precedentes firmados
no bojo do RE nº 298.694/SP, Rel. Min. Sepúlveda Pertence, Tribunal Pleno, j. 06/08/2003, p.
23/04/2004, do AI nº 375.011-AgR/RS, Rel. Min. Ellen Gracie, Tribunal Pleno, j. 05/10/2004, p.
28/10/2004, do RE nº 376.852-MC/SC, Rel. Min. Gilmar Mendes, Tribunal Pleno, j.
27/03/2003, p. 13/06/2003, e mais recentemente do RE nº 955.227/BA, Rel. Min. Roberto Barro-
so, j. 08/02/2023, p. 02/05/2023.
3. No âmbito do controle concentrado, ao apreciar Questão de Ordem suscitada pelo eminente
Minitro Dias Toffoli na ADI nº 6.362/DF, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, j. 02/09/2020, p.

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Na oportunidade, o Min. Rel. André Mendonça destacou a

“evolução simbiótica” doutrinária, jurisprudencial e legislativa entre os dois

sistemas de controle de constitucionalidade adotados pelo Brasil, concreto e

abstrato, com a consequente “objetivação” – ou “dessubjetivação” – dos

processos destacados como leading case, o que cinde a declaração de

constitucionalidade dos conflitos intersubjetivos específicos, com eficácia

transcendente das decisões proferidas.

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Diante dessas considerações, a notícia de possível falecimento da

parte apresentada nos autos pela Associação Nacional dos Magistrados da

09/12/2020, o Tribunal reafirmou entendimento já consolidado, fixando “tese no sentido de que


não há impedimento, nem suspeição de Ministro, nos julgamentos de ações de controle concentra-
do, exceto se o próprio Ministro firmar, por razões de foro íntimo, a sua não participação”.
4. Diante do processo de “objetivação” dos recursos extraordinários apreciados sob a sistemática
da repercussão geral, não há razão de discriminem apta a afastar a incidência de tal compreensão
também nestes casos. Sob tal perspectiva, reforçada pelas consequências práticas decorrentes da
potencial redução do quórum de participação em questões de controle de constitucionalidade, que
exigem maioria qualificada (cf. art. 143, p. único, do RISTF e art. 22 da Lei nº 9.868, de 1998),
deve o Ministro virtualmente impedido/suspeito deixar de apresentar voto apenas em relação à
definição do caso concreto, participando da integralidade do julgamento concernente ao tema de
repercussão geral (incluindo voto, debates e sessões correspondentes).
5. Proposição da fixação da seguinte tese: “Nos recursos extraordinários apreciados sob a sis-
temática da repercussão geral, o impedimento restringe-se à etapa da votação referente
ao processo subjetivo e à conclusão de julgamento aplicada às partes, porém, não se apli-
ca à fixação e votação da tese constitucional, pois nesta não se discutem situações indivi-
duais nem interesses concretos. Ou seja, deve-se participar da integralidade do julga-
mento concernente ao tema de repercussão geral (incluindo voto, debates e sessões cor-
respondentes), apenas deixando de apresentar voto sobre a causa-piloto (caso
concreto)”.
(RE 1017365 QO, Rel. Min. André Mendonça, Tribunal Pleno, DJe 6/9/2023)

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Justiça do Trabalho, na qualidade de amicus curiae, somente influirá na

apreciação do caso concreto. Ainda que confirmada, inexiste impedimento

para o julgamento do tema da Repercussão Geral e a consequente fixação da

tese.

1.2 Sobre a convergência temática do RE com as ADI 5.465, ADO 77 e ADPF

509. Particular relevância da questão constitucional neles discutida: o

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combate ao trabalho escravo. Julgamento prioritário.

Na ADI 5.465, de relatoria do Ministro Nunes Marques, discute-se a

constitucionalidade das leis estaduais que preveem, como mecanismo

adicional de repressão ao trabalho escravo, a imposição de sanções

administrativas às empresas que comercializarem produtos em cuja

fabricação tenha havido, em qualquer de suas etapas de industrialização,

condutas que configurem redução de pessoa a condição análoga à de escravo.

No caso específico, está em discussão lei paulista (Lei Estadual

14.946/2013) que prevê o cancelamento da inscrição da empresa faltante no

cadastro de ICMS (arts. 1º e 2º), a perda de créditos tributários (art. 4º, § 2º) e a

inclusão do empregador em relação de infratores (art. 3º), dentre outras

medidas.

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Esta Procuradoria-Geral da República ofertou, em 18.11.2020,

parecer pela “procedência parcial do pedido, a fim de que seja declarado

inconstitucional o art. 4º, I e II, e § 1º, da Lei 14.946/2013 do Estado de São Paulo” e,

em 30.3.2023, petição pela inclusão prioritária do processo em pauta para

julgamento.

O processo aguarda, desde então, liberação para a pauta de

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julgamento.

Por sua vez, na ADO 77, ajuizada por esta Procuradoria-Geral da

República em 21.9.2022, com pedido de medida cautelar, pleiteia-se ao STF:

(i) declarar a mora inconstitucional do Congresso Nacional em regulamentar

o art. 243 da Constituição Federal, na redação dada pela EC 81/2014, (ii) fixar

prazo razoável para que seja suprida a mora legislativa; e (iii) determinar a

aplicação, em prol do combate da exploração do trabalho escravo, da

legislação federal regulamentadora daquele mesmo dispositivo constitucional

voltada à persecução de culturas ilegais de plantas psicotrópicas e do tráfico

ilícito de entorpecentes e de drogas afins, notadamente das Leis federais

8.257/1991 e 7.560/1986 e do Decreto 577/1992.

Após pedido de preferência desta PGR, formalizado em 30.3.2023, o

Sindicato Nacional dos Peritos Federais Agrários, a Clínica de Combate ao

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Trabalho Escravo da UFPA, em conjunto com a Clínica de Trabalho Escravo e

Tráfico de Pessoas da UFMG/CNPQ, a Clínica de Direitos Humanos e Meio

Ambiente, vinculada à UFMT, e o Instituto Brasileiro de Ciências Criminais

apresentaram pedido de ingresso como amici curiae.

O processo aguarda o exame da medida acauteladora e o

prosseguimento da instrução.

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Por fim, a ADPF 509 teve o seu mérito apreciado pelo Plenário da

Suprema Corte, em 16.9.20202. Opostos embargos de declaração pela

Associação Brasileira de Incorporadoras Imobiliárias – ABRAINC e

apresentadas as contrarrazões pela União, os autos encontram-se conclusos

ao novo Relator, Min. André Mendonça, desde 16.12.2021.


2
ARGUIÇÃO DE DESCUMPRIMENTO DE PRECEITO FUNDAMENTAL – CABIMENTO
– SUBSIDIARIEDADE. A adequação da arguição de descumprimento de preceito fundamental
pressupõe inexistência de meio jurídico para sanar lesividade – artigo 4º da Lei nº 9.882/1999.
PORTARIA – CADASTRO DE EMPREGADORES – RESERVA LEGAL – OBSERVÂNCIA.
Encerrando portaria, fundamentada na legislação de regência, divulgação de cadastro de empre-
gadores que tenham submetido trabalhadores a condição análoga à de escravo, sem extravasamen-
to das atribuições previstas na Lei Maior, tem-se a higidez constitucional. CADASTRO DE EM-
PREGADORES – PROCESSO ADMINISTRATIVO – CONTRADITÓRIO E AMPLA DE-
FESA – OBSERVÂNCIA. Identificada, por auditor-fiscal, exploração de trabalho em condição
análoga à de escravo e lavrado auto de infração, a inclusão do empregador em cadastro ocorre
após decisão administrativa irrecorrível, assegurados o contraditório e a ampla defesa. CADAS-
TRO DE EMPREGADORES – NATUREZA DECLARATÓRIA – PRINCÍPIO DA PUBLICI-
DADE. Descabe enquadrar, como sancionador, cadastro de empregadores, cuja finalidade é o
acesso à informação, mediante publicização de política de combate ao trabalho escravo, considera -
do resultado de procedimento administrativo de interesse público.
ADPF 509, Rel. Min. Marco Aurélio, Tribunal Pleno, DJe 2.10.2020.

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Como se observa, o debate em todas as ações refere-se, em síntese, a

desafios sistêmicos que circundam o combate da exploração do trabalho

escravo no Brasil.

Atenta a esse desafio contextual, a Procuradoria-Geral da República

tem requerido uma série de medidas junto ao Supremo Tribunal Federal, a

fim de, para além da coibição ao trabalho forçado e à servidão, reforçar a

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proteção ao trabalho livre, digno e exercido em condições satisfatórias.

Como registrado, nos autos, por esta Procuradoria-Geral da

República, a escravidão remonta a raízes históricas, que se ajustaram às

relações de trabalho e aos modos de produção contemporâneos. O alcance

político e social da questão advém da necessidade de observar os fatos tais

como se mostram hoje, e atribuir leitura ressignificada e proteção suficiente à

tutela constitucional da liberdade e da dignidade, que veda o trabalho escravo

em todas as suas formas e institui a obrigação de puni-las de modo efetivo.

Só no último ano, foram resgatados 2.575 trabalhadores em

situação análoga à escravidão pelo Ministério do Trabalho e Emprego. 3

Segundo dados recentes divulgados pela Divisão de Fiscalização para

3
Disponível em: https://www.gov.br/trabalho-e-previdencia/pt-br/noticias-e-
conteudo/trabalho/2023/janeiro/inspecao-do-trabalho-resgatou-2-575-trabalhadores-
de-trabalho-analogo-ao-de-escravo-no-ano-passado, acesso em 28.3.2023.

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Erradicação do Trabalho Escravo (DETRAE/MTE), o Ministério do Trabalho e

Emprego resgatou 918 trabalhadores em condições análogas à escravidão

entre janeiro e 20 de março de 2023, representando alta de 124% em relação

ao volume dos primeiros três meses de 2022. O número indica, ainda, um

recorde para um primeiro trimestre em quinze anos, sendo superado apenas

pelos números coletados em 2008, ocasião em que 1.456 pessoas foram

resgatadas.4

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Dos números destacados, infere-se que a escravidão contemporânea

segue presente como uma das piores formas de exploração do trabalho na

realidade brasileira, indicando não somente a relevância da questão, mas

também a necessidade de uma resposta jurídica eficaz e prioritária de

combate a esse retrocesso social.

Essa contemporaneidade de casos, inclusive, já foi objeto de análise

pelo Sistema Interamericano de Direitos Humanos, em relação ao Brasil,

como no Caso José Pereira, resolvido no âmbito da Comissão Interamericana

de Direitos Humanos, por meio de acordo em 2003, e no Caso dos

Trabalhadores da Fazenda Brasil Verde, julgado pela Corte IDH em 20 de

outubro de 2016.

4
Disponível em:https://g1.globo.com/trabalho-e-carreira/noticia/2023/03/21/brasil-
resgatou-918-vitimas-de-trabalho-escravo-em-2023-recorde-para-um-1o-trimestre-em-
15-anos.ghtml. Acesso em 28.3.2023.

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Em face do exposto, a PROCURADORA-GERAL DA REPÚBLICA,

nos termos dos arts. 53 e 130 do Regimento Interno do Supremo Tribunal

Federal, apresenta esclarecimentos acerca da Petição 84997/2023 e solicita

novamente seja dada prioridade, com a maior brevidade possível, na inclusão

dos processos em pauta para julgamento pelo Plenário do Supremo Tribunal

Federal.

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Brasília, data da assinatura digital.

Elizeta Maria de Paiva Ramos


Procuradora-Geral da República
Assinado digitalmente
[CPT-RSRL-MC]

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