Hemodiálise

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Psicologia Médica 2019

Coordenador: Prof.ª Dr.ª Flávia A. F. Marucci


Colaboradora: Renata Nakao

ATENÇÃO: Material confidencial. Reprodução proibida.

Caso clínico atendido pelo psicólogo Leandro Yokoyama - Contratado do Serviço de


Psicologia na Unidade de Diálise do HCFMRP-USP.

Compreendendo a baixa adesão ao tratamento

Paciente adolescente em hemodiálise, encaminhado à Psicologia por problemas na adesão ao


tratamento e alterações no humor. Apresenta quadro de ansiedade em função de uma
experiência ruim em uma sessão de hemodiálise.

LOCAL
Paciente realiza hemodiálise na Unidade de Diálise do HCFMRP-USP, sendo
acompanhado pela equipe multiprofissional dessa unidade.

DADOS DE IDENTIFICAÇÃO DA PACIENTE


Matias*, 16 anos, filho de pais separados, reside com a mãe Keila de 41 anos e,
atualmente, cursa o 1º colegial.

HISTÓRIA DA DOENÇA
Passou por uma cirurgia aos 7 dias de vida devido a presença de uma mielomeningocele
lombar. Realiza tratamento de hemodiálise há 2 anos devido à doença renal crônica,
consequência de repetidas infecções urinárias adquiridas durante o tratamento de sua bexiga
neurogênica. A Hemodiálise é um procedimento através do qual uma máquina limpa e filtra o
sangue, fazendo parte do trabalho que o rim doente já não pode mais fazer. Nesse tratamento, o
paciente comparece uma média de três vezes por semana ao hospital para realizar sessões que
duram em torno de quatro horas.

MOTIVO DO ATENDIMENTO PSICOLÓGICO


A mãe do paciente e sua irmã mais velha (Michele) são bastante presentes nas sessões
de hemodiálise e, segundo relatos da equipe de nefrologia, sempre tomaram a frente nas
informações e decisões acerca do tratamento de Matias. Segundo a equipe de enfermagem da
unidade de hemodiálise, nas últimas semanas Matias vem se mostrando irritado e ansioso
durante as sessões de hemodiálise, além de apresentar reiteradas faltas que comprometem o seu
tratamento. A equipe relata que quando questionado sobre o que está acontecendo, o paciente
limita-se a dizer que não está bem. Diante dos comportamentos apresentados, a residente de
nefrologia solicitou ao psicólogo uma avaliação e possíveis intervenções junto ao paciente.

HISTÓRIA DO PROBLEMA/DESCRIÇÃO DOS ATENDIMENTOS


Os atendimentos psicológicos com Matias ocorreram em consultório, já que em uma
primeira abordagem enquanto o paciente estava na máquina de hemodiálise, o paciente
verbalizou não se sentir bem para se expressar diante das pessoas presentes (enfermeiros,
técnicos de enfermagem e outros pacientes). Durante o atendimento psicológico, Matias relatou
que, aproximadamente 2 meses atrás, passou por uma experiência bastante dolorida durante a
punção de sua fístula arteriovenosa. Afirmou que um técnico de enfermagem responsável pela
punção foi “bastante grosseiro” ao realizar o procedimento e que, após várias tentativas de
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punção mal sucedidas e doloridas, Matias disse que começou a se sentir mal e teve que ser
atendido pelo médico de plantão, o que lhe causou um grande sentimento de vergonha.
Desde então, Matias relata que vem se sentindo bastante inquieto e ansioso durante as
sessões de hemodiálise, principalmente durante a punção de sua fístula arteriovenosa e nos
momentos de contato com o técnico de enfermagem citado anteriormente. Verbaliza que nos
dias em que se encontra mais ansioso, desiste de ir às sessões de hemodiálise para “não
enfrentar os sentimentos ruins”. Notou-se também que o paciente deixava de falar o que
pensava e sentia vergonha de ser julgado pelas outras pessoas. Relata também que devido aos
tratamentos e aos problemas de saúde que possui desde a infância, passou por momentos
difíceis na escola, muitas vezes sofrendo com brincadeiras de seus pares.

DESCRIÇÃO DAS EMOÇÕES, PENSAMENTOS E COMPORTAMENTOS


Medo, vergonha, humor irritado, inquietação e insônia

Aumento do número de falta às sessões de hemodiálise

Respostas evasivas aos questionamentos da equipe da Unidade de Diálise

“Só de pensar na possibilidade de passar mal durante a sessão de hemodiálise, já começo a


suar, sinto o estômago embrulhar”

“As pessoas ficam me perguntando o que eu tenho, mas ninguém quer realmente ouvir”

“Quando eu era menor, diziam que eu era muito fraco por ter tantos problemas de saúde.
Talvez eu seja fraco mesmo”

REGRAS:

“Se eu reclamar que estou sentindo dor, todos ficarão me olhando, acharão que reclamo
demais, que sou mimado”

“Aquele técnico de enfermagem sempre está de cara fechada. Acho que não gosta de
mim e, às vezes, chego a pensar que me faz sentir dor de propósito”

“Agora que estou fazendo este tratamento (HD), já não posso fazer mais nada daquilo
que os meus amigos fazem”

METAS E OBJETIVOS DO ATENDIMENTO


Nos atendimentos psicológicos, avaliou-se junto com o paciente quais eram os
resultados de sua atitude de permanecer calado ou falar diante das situações que o
incomodavam, além de refletir sobre quais maneiras poderia utilizar para comunicar aquilo que
desejava.
Em relação às emoções apresentadas durante as sessões de hemodiálise, treinou-se com
o paciente alguns exercícios de respiração e relaxamento que poderiam ser utilizados para lidar
com as dificuldades em questão.

AVALIAÇÃO FINAL DO CASO


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Colaboradora: Renata Nakao

ATENÇÃO: Material confidencial. Reprodução proibida.

Após algumas sessões, Matias passou a se expressar mais diante de situações que lhe
causavam desconforto durante a hemodiálise. Inicialmente, tal fato gerou um estranhamento na
equipe, porém em discussão multidisciplinar, o psicólogo pode esclarecer a mudança de atitude.
Segundo Matias, as crises de desconforto sentidas durantes as sessões de hemodiálise
diminuíram bastante, apesar de ainda ocorrerem, esporadicamente. As faltas de Matias às
sessões de hemodiálise também diminuíram significativamente.

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