TCC - Dannah Fernandez

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA

CENTRO SOCIOECONÔMICO
DEPARTAMENTO DE ECONOMIA E RELAÇÕES INTERNACIONAIS
CURSO DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS

DANNAH MARCELA FERNANDEZ ARIAS

A POLÍTICA DE DEFESA E SEGURANÇA DEMOCRÁTICA, OS PROCESSOS DE


SECURITIZAÇÃO E OS FALSOS POSITIVOS NA COLÔMBIA

FLORIANÓPOLIS
2023
DANNAH MARCELA FERNANDEZ ARIAS

A POLÍTICA DE DEFESA E SEGURANÇA DEMOCRÁTICA, OS PROCESSOS DE


SECURITIZAÇÃO E OS FALSOS POSITIVOS NA COLÔMBIA

Trabalho de Conclusão de Curso


submetido ao curso de Relações
Internacionais do Centro Socioeconômico
da Universidade Federal de Santa
Catarina como requisito parcial para a
obtenção do título de Bacharel em
Relações Internacionais.

Orientador: Profa. Graciela De Conti


Pagliari

FLORIANÓPOLIS-SC
2023
DANNAH MARCELA FERNANDEZ ARIAS

A POLÍTICA DE DEFESA E SEGURANÇA DEMOCRÁTICA, OS PROCESSOS DE


SECURITIZAÇÃO E OS FALSOS POSITIVOS NA COLÔMBIA

Este trabalho de conclusão de curso foi julgado adequado para a obtenção do título
de Bacharel em Relações Internacionais e aprovado em sua forma final pelo Curso
de Relações Internacionais.

Florianópolis, 20 de novembro de 2023.

________________________________________
Coordenação do Curso

BANCA EXAMINADORA

________________________________________
Profa. Graciela De Conti Pagliari
Orientadora

________________________________________
Profa. Jéssica Maria Grassi
Universidade Federal de Santa Catarina

________________________________________
Profa. Lisa Belmiro Camara
Universidade Federal de Santa Catarina
Esse trabalho é dedicado a todos os meus
ancestrais, que me guiaram e lutaram para
hoje, poder continuar construindo a trilha
que eles iniciaram.
AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente aos meus avós Daisy e Rafael, por todos os valores
ensinados e pela motivação diária para continuar estudando e construindo o futuro
que eles sonharam para mim desde que nasci. Agradeço também à minha mãe
Maileth pelo apoio incondicional e pela inspiração em me formar, sendo ela a primeira
mulher das últimas gerações a receber um título universitário na nossa família. De
igual maneira, agradeço às minhas irmãs Karol, Kihara, Angélica e Pamela por serem
meu ponto de paz sempre e alegrarem meus dias, mesmo de longe. Quero agradecer
também à minha companheira Gabrielly por trilhar essa caminhada comigo e me
inspirar a ser corajosa, forte e a nunca desistir. Agradeço a toda minha família que
colocou um grão de areia para me tornar a mulher que sou hoje e às minhas amigas
que fizeram com que cada semestre fosse mais leve.
Também agradeço à minha orientadora Graciela, por todos os ensinamentos e
a inspiração em pesquisar temas de segurança advinda desde a sala de aula, muito
obrigada pela paciência e hospitalidade de sempre.
De igual maneira, agradeço ao Brasil por abrir tantas portas para mim. Ser
imigrante é um desafio enorme, mas o Brasil sempre me recebeu com amabilidade e
oportunidades. Me formar em uma universidade pública, gratuita e de qualidade, além
de poder contribuir com a pesquisa deste país, é uma realização para mim.
“No hay mejor felicidad que la que se consigue con lucha”
(Ernesto Emilio Fernandez Fester).
RESUMO

Esta pesquisa, tem como ponto de partida a análise das extremas injustiças políticas
e sociais na Colômbia, que deram origem às guerrilhas insurgentes, com destaque
para as FARC-EP. O crescimento desses grupos de extrema esquerda gerou reações
de dois lados: os grupos paramilitares de extrema direita e o próprio Estado
colombiano, ao longo de todo o conflito. Em função desse cenário, o marco temporal
da pesquisa abrange o período de 1948 a 2019, destacando os governos mais
securitizadores, com ênfase no governo de Alvaro Uribe (2002-2010),
especificamente na sua agenda de segurança consolidada na Política de Defesa e
Segurança Democrática em 2003, que encorajou a participação militar e civil na
segurança do Estado, com influência dos Estados Unidos, levando assim à criação de
"falsos positivos", como uma resposta distorcida para atingir metas e recompensas.
Da mesma forma, é analisado o governo de Juan Manuel Santos (2010-2018),
destacando as ações dessecuritizadoras, após a securitização de Uribe, e analisando
as ferramentas de restauração, advindas a partir do Acordo de Paz assinado em 2016,
entre as FARC-EP e Santos. Para a consolidação da pesquisa, parte-se da hipótese
inicial de que securitização do governo Uribe, consolidada na Política de Defesa e
Segurança Democrática, foi realizada com ações inadequadas. Por isso, resultaria em
uma onda de insegurança social, principalmente nos falsos positivos. A análise
central, realiza-se sob a lente da teoria da securitização da Escola de Copenhague,
voltada para a segurança pública. Para isso, foram utilizados relatos e dados de
vítimas que viveram as consequências das atuações dos Esquadrões da Morte, para
comprovar as implicações sociais e de segurança causadas a partir dessa agenda de
segurança. Da mesma maneira, foram apuradas as declarações em audiências
mediadas pela JEP, realizadas por ex-soldados do Exército Nacional colombiano e
ex-paramilitares, para corroborar com a ligação da Política de Defesa e Segurança
Democrática e os falsos positivos. Em complementação, foram realizadas pela autora,
entrevistas a vítimas do conflito armado na Colômbia, com o intuito de corroborar com
o impacto das consequências do conflito no país.

Palavras-chave: Colômbia; falsos positivos; securitização; Escola de Copenhague.


RESUMEN

Esta investigación tiene como punto de partida el análisis de las extremas injusticias
políticas y sociales en Colombia, que dieron origen a las guerrillas insurgentes, con
énfasis en las FARC-EP. El crecimiento de estos grupos de extrema izquierda generó
reacciones de dos partes: los grupos paramilitares de extrema derecha y el propio
Estado colombiano, durante todo el conflicto. Debido a este escenario, el marco
temporal de la investigación abarca el período de 1948 a 2019, destacando los
gobiernos más securitizadores, con énfasis en el gobierno de Álvaro Uribe (2002-
2010), específicamente en su agenda de seguridad consolidada en la Política de
Defensa y Seguridad Democrática de 2003, que alentó la participación militar y civil
para la seguridad del Estado, con influencia de los Estados Unidos, lo que llevó a la
creación de los conocidos "falsos positivos" como respuesta distorsionada al logro de
objetivos y recompensas. Asimismo, se analiza el gobierno de Juan Manuel Santos
(2010-2018), resaltando las acciones desecuritizantes, luego de la securitización de
Uribe, y analizando las herramientas de restauración, derivadas del Acuerdo de Paz
firmado en 2016, entre las FARC-EP y Santos. Para consolidar la investigación,
partimos de la hipótesis inicial de que la securitización por parte del gobierno de Uribe,
consolidada en la Política de Defensa y Seguridad Democrática, se llevó a cabo con
acciones inadecuadas. Por lo tanto, se traduciría en una ola de inseguridad social,
especialmente de falsos positivos. El análisis central se realiza bajo el lente de la
teoría de la securitización de la Escuela de Copenhague, centrada en la seguridad
pública. Para ello, se utilizaron informes y datos de víctimas que vivieron las
consecuencias de las acciones de los Escuadrones de la Muerte, para comprobar las
implicaciones sociales y de seguridad que genera esta agenda de seguridad. Del
mismo modo, se investigaron declaraciones en audiencias mediadas por la JEP,
realizadas por exmilitares del Ejército Nacional de Colombia y exparamilitares, para
corroborar el vínculo entre la Política de Defensa y Seguridad Democrática y los falsos
positivos. Además, la autora realizó entrevistas a víctimas del conflicto armado en
Colombia, con el objetivo de demonstrar el impacto de las consecuencias del conflicto
en el país.

Keywords: Colombia; falsos positivos; securitización; Escuela de Copenhague.


LISTA DE QUADROS

Quadro 1 - Dados Sobre Deslocamentos Atribuídos à AUC de 1995 a 2006 ........... 26


Quadro 2 - Compromissos assinados no Acordo de Santa Fé de Ralito (2003) ....... 29
Quadro 3 - Dados Sobre Integrantes Desmobilizados e Armas Entregues no Processo
.................................................................................................................................. 30
Quadro 4 - Dados dos sequestros de vítimas do conflito armado na Colômbia entre
1990 e 2008 .............................................................................................................. 34
Quadro 5 - Dados sobre os homicídios de vítimas no conflito armado entre 1985 e
2008 .......................................................................................................................... 35
Quadro 6 - Dados sobre os desaparecimentos forçados de vítimas no conflito armado
entre 1985 e 2016 ..................................................................................................... 35
Quadro 7 - Componentes da assistência dos EUA no Plano Colômbia de 2000 ...... 38
Quadro 8 - Dados sobre Gastos Militares na Colômbia em Milhões de $US (1998 a
2010) ......................................................................................................................... 42
Quadro 9 - Política de Defesa e Segurança Democrática do Governo Uribe ............ 49
Quadro 10 - Critérios de valoração para o pagamento de recompensas por chefes das
organizações das OAML e Chefes do Narcotráfico com valores em USD ................ 76
Quadro 11 - Critérios para valoração do material de guerra com valores em USD ... 78
Quadro 12 - Artigos da Lei 35 de 1982 ..................................................................... 92
Quadro 13 - Premissas do Acordo de La Uribe ......................................................... 93
Quadro 14 - Artigos da Lei 77 de 1989 ..................................................................... 96
Quadro 15 - Pontos de negociação determinados no Acordo Geral de Determinação
do Conflito e a Construção de uma Paz Duradoura ................................................ 100
LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Processo de Securitização do Governo Uribe .......................................... 73


Figura 2 - Cartaz de divulgação de recompensas por informações que levassem à
captura de Pablo Escobar ......................................................................................... 74
Figura 3 - Falsos positivos entre 2002 e 2008......................................................... 107
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ACNUR Alto-comissariado nas Nações Unidas para os Refugiados


AUC Autodefesas Unidas de Colômbia
CCEEU Comissão Colombiana de Esclarecimento de Execuções Unilaterais e
Sequestros
DAS Departamento Administrativo de Seguridad
DHI Direitos Humanos Internacionais
DIJIN Dirección de Investigación Criminal e INTERPOL
DMP Directiva Ministerial Permanente
ELN Ejército de Liberación Nacional
EPL Ejército Popular de Liberación
FARC-EP Fuerzas Armadas de Colombia - Ejército del Pueblo
GAULA Grupo de Acción Unificada por la Libertad Personal
JEP Jurisdicción especial para la paz
LASO Latin American Security Operation
M19 Movimiento Diecinueve de Abril
MAQL Movimiento Armado Quintin Lame
OEA Organização dos Estados Americanos
ONU Organização das Nações Unidas
PRT Partido Revolucionario de los Trabajadores
PDSD Política de Defensa y Seguridad Democrática
S.N Sem nome
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ............................................................................................. 14
2 HISTÓRIA DO CONFLITO ARMADO NA COLÔMBIA ............................... 18
2.1 INSEGURANÇA SOCIAL NA COLÔMBIA A PARTIR DO CONFLITO
ARMADO ...................................................................................................... 30
2.2 A MILITARIZAÇÃO COMO MECANISMO DE SECURITIZAÇÃO E A
INFLUÊNCIA DO PLANO COLÔMBIA ......................................................... 36
2.3 CONSIDERAÇÕES PARCIAIS..................................................................... 42
3 ANÁLISE DA AGENDA DE SEGURANÇA DO GOVERNO URIBE SOB A
TEORIA DA SECURITIZAÇÃO DA ESCOLA DE COPENHAGUE ............. 44
3.1 A DIRETIVA MINISTERIAL PERMANENTE NO 29/2005, OS ESQUADRÕES
DA MORTE E OS FALSOS POSITIVOS ...................................................... 73
3.2 OS FALSOS POSITIVOS E AS FALHAS NA POLÍTICA DE SEGURANÇA
DEMOCRÁTICA ........................................................................................... 81
3.3 CONSIDERAÇÕES PARCIAIS..................................................................... 89
4 O ACORDO DE PAZ DE SANTOS COMO MECANISMO DE JUSTIÇA E DE
REPARAÇÃO .............................................................................................. 91
4.1 A JURISDIÇÃO ESPECIAL PARA A PAZ E A COMISSÃO DA VERDADE
103
4.2 CONSIDERAÇÕES PARCIAIS................................................................... 109
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ....................................................................... 111
REFERÊNCIAS....................................................................................................... 113
APÊNDICE A – ENTREVISTA COM SUJEITO 1 ................................................... 124
APÊNDICE B – ENTREVISTA COM SUJEITO 2 ................................................... 126
14

1 INTRODUÇÃO

As extremas injustiças políticas e sociais existentes na Colômbia, serviram


como motivação para o surgimento de guerrilhas insurgentes criadas por movimentos
revolucionários, com o fim de defender seus ideais e dar voz a grupos vulneráveis
como indígenas, afrodescendentes e agricultores. Em razão disso, Pedro Antonio
Marín fundou a primeira e maior guerrilha oficial existente na história da Colômbia, as
FARC- EP (Fuerzas Armadas de Colombia - Ejército del Pueblo), iniciando seus
trabalhos no ano de 1964. O surgimento das FARC-EP, de alguma forma estimulou o
crescimento de outros grupos insurgentes, dando campo assim, ao aparecimento das
guerrilhas ELN (Ejército de Liberación Nacional) criada em 1964, EPL (Ejército
Popular de Liberación) em 1997 e M-19 (Movimiento Diecinueve de Abril) em 1974.
Como é de se presumir, o crescimento de grupos de extrema esquerda
levantaria incômodos de dois lugares: 1. Grupos de extrema direita1 e 2. O Estado.
Sendo assim, neste primeiro lugar de extrema direita, com a principal motivação de
combater o crescimento das guerrilhas na Colômbia, surgiram os chamados grupos
paramilitares, e dentre eles, as Autodefesas Unidas de Colômbia (AUC). As AUC,
buscaram diminuir a atuação das guerrilhas por meio da apropriação das terras que
elas tomaram para usar como base, morar e até mesmo expandir o mercado do
narcotráfico. As AUC, iniciaram como uma reação a uma orientação política de viés
conservador, com a proposta de serem um tipo de exército privado ou entidade
paramilitar, em busca de justiça. Esse grupo recebeu apoio financeiro não apenas de
figuras políticas alinhadas ao tradicionalismo, mas também de elementos vinculados
ao narcotráfico e de corporações multinacionais.
O plano inicial das AUC foi, majoritariamente, bem-sucedido. O grupo
conseguiu apropriar-se de várias terras e expandir ainda mais o mercado do
narcotráfico. Além de terem sido responsáveis pelo desaparecimento das bases de
apoio das guerrilhas, a apropriação de terras agropecuárias ao norte e centro da

1 A extrema-direita é, nesse aspecto, antissistêmica e hostil à democracia liberal, e pode ser dividida
em dois grupos: 1) os radicais, com uma agenda mais reformista, que aceitam a essência da
democracia (soberania popular e governo da maioria) mas se opondo aos pilares da democracia liberal,
como direitos de minorias, Estado de Direito e separação dos poderes; e 2) os fascistas, que são mais
revolucionários no escopo de seus projetos, rejeitando a essência da democracia e favorecendo – ou
até glorificando – a violência direta como necessária para imposição de seu projeto político (SEVERO
E CAMPOS, 2020, p. 6). No caso da Colômbia, os grupos de extrema-direita, aproximam-se do
espectro fascista, devido ao uso das armas como ferramenta de exercer medo e poder.
15

Colômbia, geraram o deslocamento forçado de inúmeras famílias das áreas rurais


dessas regiões, chegando a resultar em uma contrarreforma agrária, que acabou
transformando líderes paramilitares ligados ao narcotráfico em grandes detentores de
terras. Da mesma forma, as AUC se expandiram cada vez mais em espaços políticos,
inclusive tendo participação no Congresso Nacional e apoio financeiro de
organizações políticas, segundo corroboram durante audiências e entrevistas, ex-
paramilitares que se desmobilizaram após sua participação no grupo.
A desmobilização das AUC, por sua vez, teve início em 2002 e estendeu-se até
2006, a mesma foi feita por meio da declaração “Acto de fé por la paz” durante o
governo de Álvaro Uribe Vélez (2002-2010). Entretanto, a desmobilização das AUC
não significou necessariamente o fim do plano de acabar com as guerrilhas na
Colômbia ou até mesmo o fim da atuação da influência paramilitar. Na realidade, no
período de 2002 a 2010, Colômbia viveu um dos períodos com mais massacres na
história do país, liderada pelos comumente conhecidos como “Escuadrones de la
Muerte” (Esquadrões da Morte)2 que surgiram a partir da agenda de segurança criada
pelo governo Uribe logo no início do seu mandato. Uma das principais diferenças entre
as AUC e os Esquadrões da Morte, é que enquanto as AUC surgiram como grupo
paramilitar com atuação fora da lei, os esquadrões tiveram início como um grupo
institucionalizado dentro do Exército Nacional a partir de um aval do Ministério de
Defesa Nacional. Ainda assim, ambos tinham um objetivo em comum: Eliminar a
atuação de guerrilhas no território colombiano e manter a segurança no país. Esse
objetivo em comum, resultaria em uma união de ambas as forças durante o governo
Uribe, resultando assim no aumento da insegurança social no país.
Como colocado anteriormente, o aparecimento de grupos de extrema esquerda
incomodou dois lugares e o segundo deles é o Estado. Essa preocupação, causou
uma série de tentativas de securitização desde o aparecimento deles. Contudo, foi no
governo Uribe que as tentativas de segurança, resultaram numa piora da insegurança
nacional e social. Em 2003, um ano após o início do governo comandado por ele, se
deu início à execução dos planos securitizadores diagramados na sua agenda de
segurança, criando assim uma das maiores políticas de segurança na história da
Colômbia, a Política de Defesa e Segurança Democrática, resultado do incômodo do
Estado em razão da atuação das guerrilhas no país. Esta política emergiu com o

2Chama-se “Escuadrones de la Muerte” aqueles grupos militares que assassinaram falsos positivos
na Colômbia, durante o período da agenda de segurança do presidente Álvaro Uribe Vélez.
16

objetivo de implementar uma proposta de securitização no país, encorajando as


instituições militares e à sociedade a ter uma participação presente no que se refere
à segurança do Estado contra grupos insurgentes, como as guerrilhas FARC-EP e
ELN, paramilitares e narcoterroristas. Uribe, incentivava a sociedade a lutar pelo país
por meio do discurso, sendo uma das suas principais armas de securitização ao longo
do seu mandato.
Com o aval da agenda de segurança de Uribe, em 2005, o ministro de defesa
Camilo Ospina traçou um plano de segurança nacional por meio da Diretiva Ministerial
Permanente N°29/2005, onde decretava-se a formalização de um plano securitizador,
que tinha como objetivo diminuir as ações realizadas por grupos insurgentes no
território colombiano, identificadas principalmente como sequestros, atentados
terroristas e tráfico de drogas. No documento da diretiva, assinado pelo ministro
Ospina, o Ministério da Defesa desenvolveu os critérios para o ganho de recompensas
em troca de corpos de rebeldes em combate, armamento apreendido pertencente a
grupos insurgentes, material de inteligência etc. A proposta principal do documento
explica que para cada item achado pelos soldados, cada base militar receberia
recompensas em forma de dinheiro e a mesma aumentava segundo o grau de
importância ou relevância do item para o Estado. Existem declarações 3 de ex-
soldados expondo que os comandantes estimulavam também a eficácia do plano por
meio de premiações internas como permissões no mês de dezembro, promoções,
pratos de comida e entre os superiores, revezavam as premiações de intercâmbios
ou especializações no exterior.
Com o assentimento, suporte e incentivo financeiro dado pelo Ministério de
Defesa, os soldados do exército deram início aos trabalhos no mesmo ano. A Diretiva
Ministerial Permanente, juntamente com a Política de Segurança Democrática,
concordava com que a eficácia do trabalho do exército seria medida pelo número de
terroristas capturados ou do material de guerra encontrado por eles, o que levaria
consequentemente à diminuição das ações terroristas no território colombiano. Além
da pressão colocada pelo ex-presidente Uribe no que se refere a entrega de
resultados4, tinha a motivação monetária que continha valores muito altos como
recompensa. Ambos os pontos serviram como receita perfeita para soldados

3Declarações fornecidas para a JEP em audiências públicas de reconhecimento de vítimas.


4No original: “Los comandantes de brigada de batallón que vayan bien, magnífico. Los que vayan mal
y no den resultado que vayan presentando la renuncia” (Alvaro Uribe, 2003).
17

trapacearem o processo, e foi assim que começou a onda do que se conhece


comumente como “falsos positivos”. As formas mais comuns de capturá-los era
prometendo uma vaga de trabalho atrativa na área rural, ou por enganações de todos
os tipos, os falsos positivos comumente eram estudantes ou trabalhadores que nunca
tiveram ligação nenhuma com as guerrilhas, narcoterrorismo ou paramilitarismo. A
forma de agir dos soldados, geralmente era orquestrando um cenário de combate,
vestindo os corpos dos civis com uniformes de guerrilheiros e entregando-os às bases
militares, como guerrilheiros reais.
Com esse cenário, esta pesquisa é motivada a partir do questionamento: “De
que forma a Política de Defesa e Segurança Democrática na Colômbia, influenciou no
aparecimento de falsos positivos?”, que será analisado, sob a teoria da securitização
da Escola de Copenhague, voltada para a segurança pública. A hipótese central da
pesquisa, direciona o trabalho a julgar a securitização do governo Uribe como uma
securitização com ações inadequadas. Tais ações, trouxeram consequências como a
piora da insegurança social, devido à violência, e os falsos positivos. Em função disso,
se verificarão os relatos e os dados de vítimas, que viveram as consequências das
atuações dos Esquadrões da Morte, para assim comprovar as implicações sociais e
de segurança causadas a partir dessa agenda de segurança. Da mesma maneira,
serão apuradas declarações em audiências mediadas pela JEP, realizadas por ex-
soldados do Exército Nacional colombiano e ex-paramilitares, para corroborar com a
ligação da Política de Defesa e Segurança Democrática e os falsos positivos, assim
como, entrevistas realizadas pela autora a vítimas diretas do conflito armado e
análises próprias implementadas a partir da sua vivência e da sua família, na
Colômbia.
O marco temporal da pesquisa iniciará a partir de 1948 com o início do conflito
armado na Colômbia e irá até 2019, com a implementação de uma série de
ferramentas de justiça, reconhecimento de vítimas e não-repetição da violência
causada em função do conflito armado. Ao longo dessa linha do tempo, serão
analisados os governos que passaram pelas ações e consequências do conflito
armado, principalmente aqueles mais securitizadores. Dando destaque ao governo de
Uribe e comparando-o com o posterior governo, Santos.
18

2 HISTÓRIA DO CONFLITO ARMADO NA COLÔMBIA

Com o início das FARC-EP e das demais guerrilhas que se criaram ao longo
da história colombiana, iniciaram também uma série de mecanismos para serem
combatidas, já que o surgimento delas acarretou uma grande preocupação em todos
os governos que assistiram de perto o crescimento desses grupos.
Sendo assim, neste primeiro capítulo será plasmado de que forma se deu o
início das guerrilhas colombianas, e serão pontuados os cenários que possibilitaram
o início do conflito armado. Da mesma forma, serão colocadas as consequências e
impactos sociais causados pelo crescimento das guerrilhas, e como vêm sendo
combatidas desde o surgimento dos primeiros movimentos armados liberais e
comunistas. Ademais, serão destacadas quais foram as primeiras ações
securitizadoras para combater as guerrilhas desde o início delas, e como a agenda de
segurança de cada governo exerceu sua força para exterminá-las.
Faz mais de 50 anos que o cenário político e social colombiano é palco de
guerras entre liberais e conservadores. Esta conjuntura resultou no crescimento de
grupos armados de autodefesa dentro do país.
Dessa forma, o conflito armado inicia a partir da Guerra dos Mil Dias, que
aconteceu entre 1899 e 1902 e que foi determinante para a história econômica,
política e social da Colômbia. Esta guerra tratou-se de um confronto entre o exército
do governo conservador de José Manuel Marroquín (1900 a 1904) e movimentos
liberais comandados pelo político e militar Rafael Uribe. O grupo Liberal, liderado por
Rafael Uribe defendia pautas sociais, reformas na economia e na política colombiana.
Por outro lado, o grupo conservador comandado por José Marroquín defendia uma
ordem social, sob pautas tradicionais e religiosas.
Embora a guerra não tenha durado exatamente 1000 dias, foi chamada assim
devido à sua longa duração. O conflito, teve suas raízes em questões políticas,
econômicas e sociais que refletiam as problemáticas existentes na época. No que diz
respeito ao cenário político, Colômbia passava por disputas entre as duas principais
19

facções políticas liderando a opinião popular na década, liberais5 e conservadores6,


favorecendo assim o início da guerra. Da mesma maneira, o cenário social era
desigual e a disparidade econômica e social entre diferentes grupos também
contribuiu para o conflito. Sendo a população rural, em sua maioria, o grupo mais
marginalizado.
Durante a Guerra dos Mil Dias, a influência externa também teve sua vez,
sendo o interesse nas riquezas naturais colombianas como minerais e produtos
agrícolas, por parte de potências estrangeiras, a principal motivação para intervir.
Estados Unidos, Alemanha e o Reino Unido buscavam garantir condições favoráveis
para seus investimentos e comércio na Colômbia, acarretando assim tamanha
influência. Com isso, Alemanha e Reino Unido, fizeram empréstimos e financiaram o
conflito sob acordos que visavam proteger seus interesses econômicos. Além da
influência econômica, ambas potências também se disponibilizaram para mediar as
negociações entre liberais e conservadores, com o fim de estabilizar o conflito, e
proteger os investimentos econômicos já realizados na América Latina. Para os
Estados Unidos, os interesses econômicos eram similares, pois o país também
precisava de uma estabilidade no bloco econômico, devido aos seus investimentos e
rotas comerciais que estavam sendo realizadas na América Latina. Durante a Guerra
dos Mil Dias, os EUA estavam envolvidos na construção do Canal do Panamá, então,
o fim da guerra era crucial para o desenvolvimento do plano para a criação do Canal.
A Guerra, teve como resultado um conflito armado formado por assassinatos
políticos, confrontos armados, destruição de cidades e deslocamentos forçados. O fim
da Guerra consolidou-se com o Tratado de Neerlandia em 1902, entretanto, o fim da
Guerra dos Mil Dias não significou o fim do conflito e sim o início do Conflito Armado
colombiano, pois contribuiu e moldou as futuras instabilidades políticas, ao longo do
século XX.

5 Liberalismo é antes de tudo liberdade. Liberdade entendida como ausência de coerção de indivíduos
sobre indivíduos. É a adesão ao princípio de que a ninguém é permitido recorrer à força ou à fraude
para obrigar ou induzir alguém a fazer o que não deseja.
A escolha da liberdade como valor supremo não decorre de razões de natureza metafísica ou religiosa;
decorre do fato de que um sistema baseado na liberdade assegura uma maior produtividade de trabalho
humano, sendo, portanto, do interesse de todos os habitantes do mundo (STEWART, 1995). Na
Colômbia, a onda do liberalismo consolidou-se com a imagem das lutas sociais e revolucionárias, além
de uma economia mais livre.
6 Entende-se conservadorismo, como: [...] um grupo de ideologias políticas e sociais que promovem

instituições sociais e políticas tradicionais, gradualismo na ação política e oposição a movimentos


políticos e sociais radicais (MCMAKEN, 2022).
20

Após o término da Guerra dos Mil Dias, passaram-se 45 anos para que a
Colômbia saísse da hegemonia conservadora e os liberais tivessem voz no governo.
O marco desse acontecimento ocorreu a partir da eleição do ex-presidente Enrique
Olaya Herrera (liberal), no ano de 1930. Com isso, o movimento liberal colombiano foi
crescendo cada vez mais, dando espaço para mais 3 governos liberais 7, até as
eleições de 1946, onde o ex-presidente Mariano Ospina Pérez, do Partido
Conservador, elegeu-se.
Entretanto, as guerras na Colômbia por motivos políticos e sociais, não
pararam. Em 9 de abril de 1948, o candidato liberal à presidência Jorge Eliecer
Gaitán8, que foi um dos principais líderes do liberalismo na Colômbia, foi assassinado
a tiros enquanto saía do prédio onde tinha seu escritório, iniciando assim o dia mais
terrível de morte que jamais existiu na história de Bogotá9, ação conhecida como
"Bogotazo”10. Com o Bogotazo agudizou-se a crescente onda de violência que, com
pouco fôlego, viveria o país nas décadas seguintes, o período chamado “La Violencia”
(FERNÁNDEZ e TAMARO, 2004, tradução nossa).
O período de La Violencia foi um período de intensa violência na Colômbia que
ocorreu entre 1948 e 1958. La Violencia, foi alimentada pelas tensões políticas entre
os partidos liberal e conservador, que foram historicamente rivais no país. A morte de
Gaitán intensificou essas rivalidades, levando a confrontos armados. Em razão disso,
o conflito iniciou com a mobilização de milícias de ambos os partidos, e grupos
paramilitares foram formados por membros dos partidos liberal e conservador. Os
confrontos entre os grupos causaram massacres, perseguições e assassinatos
políticos e violações de direitos humanos, tornando esta uma das décadas cruciais
para o crescimento do conflito armado colombiano, afetando comunidades inteiras e
se espalhando por todo o país.

7 Alfonso López Pumarejo (1934-1938), Eduardo Santos Montejo (1938-1942) e mais uma vez, Alfonso
López Pumarejo (1942-1946).
8 Gaitán foi um líder social que participou como candidato à presidência. Na década de 1940, liderou

um movimento social e político que mobilizou muitas pessoas e que criticava a distribuição econômica
da época.
9 Capital da Colômbia.
10 “Uma revolta do povo com o assassinato de seu “defensor” gerou enormes protestos na capital do

país, e a forte repressão do Exército, comandado pelo partido conservador, culminou em um massacre
na capital, conhecida como Bogotazo, espalhando-se por todo o país, provocando confrontos na zona
rural entre simpatizantes de dois partidos.” (LOPES, 2005).
21

Foi a partir do assassinato de Gaitán que os movimentos começaram a utilizar


armas para defender seus ideais, começando assim os primórdios dos modelos das
guerrilhas que conhecemos hoje, tendo início no período de La Violencia.

Nesse contexto, grupos armados surgiram e se espalharam pelas montanhas


e planícies do país com o intuito de defender camponeses e suas terras de
possíveis ameaças que pudessem ocorrer. Piorando esse quadro de guerra
civil, além das autodefesas constituídas por pequenos proprietários,
espalhava-se pela zona rural do país grupos particulares, financiados por
grandes proprietários, além de bandos de saqueadores e assassinos,
trabalhando para quem pudesse pagar mais pelos seus serviços, ou
simplesmente para o enriquecimento de seus líderes (LOPES, 2005).

Nos 10 anos dessa guerra, as agendas de segurança dos governos começaram


a ser voltadas unicamente para solucionar esse conflito. A partir de La Violencia, o
assunto passou de ser um assunto de conotação pública a ser um assunto
securitizado, roubando o foco das agendas de segurança dos governos que vieram a
partir do acontecimento. No governo de Gustavo Rojas Pinilla (1953-1957), por
exemplo, efetuou-se a primeira proposta de anistia aos grupos rebeldes durante toda
a história da Colômbia até então, contudo, a mesma não vingou dado que assim como
o Partido Comunista Colombiano, os grupos de rebeldes também não queriam
entregar as armas, sendo influenciados completamente pelo Partido. A partir desse
ponto, o Partido Comunista e os grupos de rebeldes liberais uniram suas forças para
trabalharem juntos, ressurgindo com ideais comunistas11 e deixando e deixando o
liberalismo de lado. Os novos grupos, começaram a se espalhar pela Colômbia, tendo
algumas regiões com grupos mais organizados do que outras (LOPES, 2005).
Os Acordos de Paz de 1958, que visavam encerrar o confronto entre os partidos
liberal e conservador, marcaram o fim, em grande parte, do período de La Violencia.
Esses acordos resultaram em uma alternância de poder entre os partidos,
estabelecendo o pacto conhecido como Frente Nacional12. No entanto, os efeitos da
violência persistiram na Colômbia, deixando marcas profundas na sociedade, e a
rivalidade política continuou existindo. Entretanto, a experiência traumática de La
Violencia influenciou eventos subsequentes na história colombiana, incluindo o

11 Ideais comunistas como: luta pela igualdade social, contra o classicismo e a favor dos direitos dos
camponeses e de outras minorias.
12 O Frente Nacional foi um acordo bipartidário entre liberais e conservadores, que concordaram em

alterar a presidência a cada quatro anos entre os dois partidos. Isso significava que,
independentemente do resultado das eleições, um presidente do Partido Liberal seria seguido por um
presidente do Partido Conservador e vice-versa.
22

surgimento de grupos guerrilheiros e de grupos paramilitares. Ao longo do tempo, os


grupos guerrilheiros iam se consolidando e homogeneizando em regiões diferentes,
porém, foi na década de 1960 que os trabalhos para a consolidação de um grupo
guerrilheiro maior e organizado foram tomando vez, criando assim os primórdios da
estrutura de guerrilha que conhecemos hoje. Alguns grupos começaram a tomar
regiões e declará-las como Repúblicas Independentes, gerando uma preocupação
tanto ao Estado colombiano, como aos Estados Unidos, já que durante a Guerra Fria,
ter grupos revolucionários comunistas com ideias separatistas dentro do bloco
econômico capitalista, poderia servir de exemplo e motivação para que em outras
regiões do mundo, grupos comunistas fizessem o mesmo (LOPES, 2005).
A preocupação com a imagem que a América estava passando no meio da
Guerra Fria, acarretou algumas ações por parte do governo colombiano, certamente
por pressão dos Estados Unidos. Uma das ações tomadas a partir dessa apreensão
foi a criação de uma República Independente com o aval do governo colombiano,
chamada Marquetalia.
A República Independente de Marquetalia foi comandada por Manuel
Marulanda Vélez ou atualmente conhecido como Pedro Antonio Marín, fundador
também da posteriormente conhecida, FARC-EP. Criada pelo governo, com o intuito
de separar os grupos rebeldes do resto do país, para não depreciar a imagem da
América ao longo da Guerra Fria, Marquetalia era composta por camponeses que
lutavam por ter acesso a direitos básicos já que viviam com escassez de recursos
básicos em modo geral (LOPES, 2005).
Entretanto, no ano de 1964, durante o governo conservador de Guillermo León
Valencia, a república foi atacada pelo exército colombiano em uma ação militar
chamada "Operação Marquetalia". “Nos primeiros dias de abril de 1964, soubemos de
uma séria decisão do governo colombiano: a guerra de extermínio contra a região de
Marquetalia começaria na terceira semana de maio daquele ano” (ARENAS, 1965,
tradução nossa)13. O objetivo da Operação era eliminar a presença das guerrilhas na
região, e teve como resultado assassinatos em massa, e a dispersão dos grupos que
ocupavam a região.

13No original: “En los primeros días de abril de 1964 tuvimos conocimiento de una grave decisión del
gobierno colombiano: la guerra de exterminio contra la región de Marquetalia comenzaría en la tercera
semana de mayo de ese año” (ARENAS, 1965, tradução nossa).
23

O ataque a Marquetalia teve como consequência o início das Fuerzas Armadas


de Colombia - Ejército del Pueblo (FARC-EP), e o início do conflito prolongado entre
as FARC-EP e o governo colombiano. Desde então, as tentativas de acabar com os
movimentos guerrilheiros aumentaram cada vez mais, os governos começaram a
securitizar-se mais e a chamar a população com a influência do discurso, para lutar
contra as guerrilhas.
Após a Operação Marquetalia, os organismos de segurança colombiana,
iniciaram uma série de estratégias militares que tinham por objetivo acabar com a
insurgência comunista no país, principalmente nas áreas rurais, onde havia a maior
presença de guerrilhas. Dessa forma, foi criado o Plano LASO (Latin American
Security Operation).
O Plano LASO foi uma estratégia militar implementada pelo governo
colombiano em 1965, um ano depois da criação oficial do grupo guerrilheiro FARC-
EP, com a finalidade de neutralizar as ações guerrilheiras, e retomar o controle
territorial das áreas ocupadas por eles. As ações envolveram confrontos militares
intensos nas áreas rurais, insegurança social devido ao conflito e assassinatos em
massa.
No diário de Jacobo Arenas, membro do Comitê Executivo do Partido
Comunista da Colômbia, e destacado membro do Estado-Maior das Forças Armadas
Revolucionárias da Colômbia (que posteriormente converteu-se em um livro), relata a
forma em que as forças políticas do Estado, utilizavam o discurso securitizador para
obter audiência e apoio, com o fim de justificar qualquer ação securitizadora realizada
para acabar com as guerrilhas:

Em 11 de novembro de 1967, o então comandante das forças armadas


colombianas, general Pinzón Caicedo, declarou: "o comandante do exército
apela à opinião cidadã, consciente de seus deveres cívicos, para que
entenda que a guerra atual é uma guerra não apenas contra as forças
públicas... É, sem ambiguidades nem macartismos, a grande guerra entre a
democracia e o comunismo, levada ao teatro colombiano" (ARENAS, 1965,
tradução nossa).

No livro, Arenas relata que esse discurso foi realizado para levar até às últimas
consequências o Plano LASO14 (ARENAS, 1965). Entretanto, o Plano não teve um
término definido, todavia, fazia parte de uma série de estratégias do governo, para

14 Plano militar elaborado pelo Pentágono com o objetivo de destruir as zonas de autodefesa
colombianas.
24

acabar com as guerrilhas no país. Por isso, o contexto em que o plano foi
implementado, desencadeou uma ampla militarização no país, que se estendeu
durante décadas na Colômbia. Essa série de estratégias foram determinantes para o
conflito armado, já que assim como o governo armou-se, os grupos insurgentes
também viram a necessidade de aumentar o uso da força, devido aos confrontos por
parte da força pública.
Entre a década de 1960 e a década de 1970, os grupos comunistas
guerrilheiros começaram a aumentar, surgindo grupos mais organizados e
estabelecidos em diferentes terras ao redor da Colômbia, grupos como FARC-EP,
ELN, EPL e M-19 deram início às suas atividades ao longo dessas décadas, e
consequentemente, as agendas de segurança dos governos investiram suas forças,
amplificando seus interesses no extermínio deles, em congruência com o crescimento
contínuo deles. Um exemplo disso, foi a ação tomada pelo governo de Guillermo León
Valencia, que emitiu um decreto que permitia que civis se armassem para a defesa
nacional e preservação da ordem pública, diante do risco de uma suposta ameaça
externa (COMISIÓN, 2023, tradução nossa). Essa decisão foi tomada no ano de 1965,
permitindo assim, o livre uso das autodefesas na Colômbia, dentro da sociedade.

O Decreto 3.398 de 1965 dizia: “todos os colombianos são obrigados a


participar ativamente da defesa nacional, quando as necessidades públicas
o exijam para defender a independência nacional e as instituições nacionais”.
Este regulamento permitiu ao Ministério da Defesa Nacional autorizar a
propriedade privada de armas para uso exclusivo das Forças Armadas
(COMISIÓN, 2023, tradução nossa).

Os governos, entretanto, no que concerne ao seu papel de soberania dentro de


um Estado, tiveram um papel crucial nas próximas décadas em relação às guerrilhas,
pois foi a partir da influência das agendas de segurança dos governos conservadores,
que os grupos de autodefesa cresceram sem parar. Os civis optaram pelo uso das
armas em prol do país e grupos maiores constituíram-se, tudo isso com o objetivo de
confrontar as guerrilhas, que na época, não estavam apenas defendendo suas pautas,
com raízes comunistas a favor da sociedade, mas também iniciando sua participação
no narcotráfico colombiano. Aumentando assim as rotas de tráfico de drogas, cultivo
e negócio delas, com o objetivo de financiar suas atividades e permanecer no status
de poder, onde se encontravam.
25

Dentre os grupos de autodefesa que vieram a formar-se, a partir do crescimento


das atividades das guerrilhas, do estímulo dos governos conservadores e do
crescimento do narcotráfico no país, as AUC15 (1994), foram um deles. A aparição
desses grupos paramilitares, deixou o cenário nacional numa guerra exposta entre
guerrilheiros e paramilitares, custando a vida de milhares de pessoas e impactando
na segurança social, nas regiões rurais colombianas.
Uma das principais e mais tristes consequências da atuação das autodefesas,
também foi o deslocamento forçado de inúmeras famílias, ao longo da história dessa
guerra. Escutando os relatos de uma das vítimas do conflito, conta a razão pela qual
sua família foi obrigada a sair da cidade em que viviam na Colômbia:

Sou deslocada da Colômbia, sou migrante porque em 1995, grupos


paramilitares ilegais mataram meu companheiro, ele era professor, Fulano de
Tal. Dedicado a defender os direitos dos professores e do campesinato,
enfim. Eles (os paramilitares) o ameaçaram e como ele não saiu, ele não
podia sair, eles o mataram em 20 de fevereiro de 1995. Por conta disso, tive
que deixar a cidade onde morávamos, Pailitas, Cesar, e fui morar com meus
filhos em Valledupar, capital de Cesar (UM 16, 2023, tradução nossa.
Informação verbal).17

Essa é uma realidade muito comum entre as famílias colombianas, como


mostra o quadro abaixo. Fica nítido o aumento crescente de vítimas do conflito
atribuídos a grupos paramilitares, neste caso às AUC, de 1995 a 2006 (início e fim
das AUC).

15 Autodefensas Unidas de Colombia.


16 Usou-se “Sujeito um” com o fim de preservar a identidade da pessoa entrevistada.
17 Entrevista realizada pela autora em formato de áudio. No apêndice deste documento, consta a

entrevista completa.
26

Quadro 1 - Dados Sobre Deslocamentos Atribuídos à AUC de 1995 a 2006

Registos - Rede de
Ano Solidariedade Social Estimado pelo CODHES18

1995 251 89.000

1996 2.582 181.000

1997 15.260 257.000

1998 35.675 308.000

1999 31.546 288.000

2000 331.383 317.375

2001 375.187 341.925

2002 424.354 412.553

2003 220.414 207.607

2004 162.501 287.581

2005 160.215 310.387

2006 30.688 Sem dados

TOTAL 1.796.452 3.000.428

Fonte: Observatorio Presidencial de los Derechos Humanos (PARDO apud VALENCIA,


2007, tradução nossa).

A pauta sobre tomar iniciativas urgentemente, para encontrar a justiça quanto


ao conflito armado, foi construindo este cenário de surgimentos de grupos de
autodefesas. Um exemplo deste tipo de discurso, são as Palavras de César Gaviria
Trujillo, ex-presidente colombiano que exerceu seu mandato entre 1990 e 1994. Neste
discurso, Gaviria enfatiza a importância dos princípios democráticos e a necessidade
imediata de enfrentar o tráfico de drogas.
Durante seu mandato como presidente da Colômbia, Gaviria testemunhou de
perto as complexidades, a violência e a crueldade dos cartéis de narcotráfico. Nesse
contexto, ele insta todas as nações a unirem esforços para erradicar esse desafio que
afeta toda a região.

“Temos também o enorme desafio de estabelecer os mecanismos e


procedimentos para avaliar o seio “desical”, as políticas dos países contra as
drogas. Apoiando-nos nos princípios da nossa Carta, nas diretrizes
estabelecidas na estratégia hemisférica que assinamos em Montevidéu e,

18 Consultoría para los derechos humanos y el desplazamiento.


27

sobretudo, no princípio da responsabilidade compartilhada”. (GAVIRIA, [s.d.],


tradução nossa).

O ex-presidente Andrés Pastrana também discursou em relação ao conflito


armado, especialmente sobre uma tentativa falida de resolução do conflito junto às
FARC. Em discurso realizado no ano de 2002, em um tom de raiva e decepção, o ex-
presidente relata em televisão aberta o fim do processo de paz junto ao grupo armado.

“Tomei a decisão de não continuar com o processo de paz com as FARC,


este grupo guerrilheiro com as suas ações e atitudes tem sido responsável
por fechar a porta a uma solução política. Continuarei buscando a paz de
mãos dadas com todos vocês, mas não submeterei o povo colombiano à
arrogância de alguns interlocutores que dizem querer a paz, mas que atiram
contra ela.” (PASTRANA, 2002, tradução nossa)

Nesse discurso, Pastrana menciona que “O grupo guerrilheiro, com suas ações
e sua atitude, encarregou-se de fechar a porta à solução política”. Em outras palavras,
a solução política deixaria de ser uma opção, dando espaço assim para a solução
militarizada. Comportamento, que se mostra no governo posterior ao mandato de
Pastrana.
A criação desses grupos de autodefesa deu continuação à militarização para a
segurança colombiana no governo Uribe, a facilidade para surgirem diversos grupos
paramilitares, se deu a partir dos discursos securitizadores e que direcionavam a
resoluções não-políticas, utilizados pelos governos da década, motivados pela
insistência em fazer justiça. Discursos securitizadores como: “Temos que amar este
país, temos que nos fazer moer por este país” (URIBE, 2002, tradução nossa),
passam a mensagem de que se a pessoa ama a pátria, deve se sacrificar pelo bem
da mesma.
Analisando esses três governos, fica explícito o processo de tentativa de
resolução do conflito, que iniciou a priori de uma forma não-violenta, buscando o
diálogo para o início do processo de paz, mas que foi cada vez mais, ficando no outro
extremo que nesta escala, exemplifica a militarização.
Sendo assim, atuação dos paramilitares foi nada mais e nada menos que uma
extensão das vontades do Estado, colocadas como responsabilidade social da
população, com o pretexto de ser um dever de todos manter a paz do país, entretanto,
esse objetivo acabou resultando em um aumento de ameaças para a segurança
nacional, aumento na violência e aumento da insegurança social.
28

O governo de Álvaro Uribe Vélez, por sua vez, iniciou no ano de 2002, por
meio de um discurso de esperança em relação à segurança nacional.

O seu discurso como candidato penetraria na cidadania e teria apoio na maior


parte do território nacional, conseguiria também firmar os seus interesses no
Estado e utilizar os meios disponíveis para concretizar os interesses do seu
discurso. Por outras palavras, o aparelho governamental responderia à
ideologia da Segurança Democrática (CASTILLEJO, 2016, tradução nossa).

No mesmo sentido, no início do seu mandato, Uribe conseguiu iniciar o


processo social e político que daria fim às AUC, em concordância com uma proposta
colocada pelo grupo paramilitar. “Em 7 de outubro de 2004, por meio de uma
declaração chamada "Acto de Fé por la Paz", os paramilitares reiteraram sua
disposição de depor as armas e iniciaram uma série de desmobilizações coletivas que
duraram até 11 de abril de 2006” (COMISIÓN, 2019, tradução nossa). O Acto de Fé
por la Paz foi o início do processo de desmobilização das AUC, ele prometia anistia
total aos envolvidos, reinserção na sociedade e apuração do narcotráfico, sendo esta
a primeira ação que entraria em concordância com o discurso político de Uribe,
durante o processo eleitoral.

“O processo começou (...) com a declaração unilateral de cessação das


hostilidades realizada por parte desta organização armada em 29 de
novembro de 2002, onde se manifestou o compromisso de iniciar
conversações de paz com o Governo Nacional. As razões para esta decisão
unilateral foram, entre outras, a acusação internacional contra eles como
terroristas e a necessidade de incluí-los em uma lista deste tipo; além disso,
aproveitar a disposição do recém-eleito Presidente da República Álvaro Uribe
Vélez para iniciar um processo de negociação” (VALENCIA, 2007, tradução
nossa).

Com isso, se deu início à estruturação do Acordo de Santa Fé de Ralito, em


julho de 2003, com o fim de levar adiante o processo de desmobilização, foi formada
uma equipe de seis pessoas que se encarregaram de dar início às negociações.
(HUMAN RIGHT WATCH, 2005). No acordo, foram colocados todos os pontos que
deveriam ser trabalhados para a desmobilização e os compromissos que deveriam
ser acatados, por parte das AUC, com o fim de restabelecer o poder da força ao
Estado, iniciar o processo de desarmamento e iniciar a desmobilização de todos os
integrantes. No quadro abaixo, mostra-se em detalhes cada um dos pontos
acordados:
29

Quadro 2 - Compromissos assinados no Acordo de Santa Fé de Ralito


(2003)

N° Acordo
Estabelecer como objetivo desse processo a conquista da paz nacional, por meio do
fortalecimento da governabilidade democrática e da restauração do monopólio da força nas mãos
do Estado. As AUC reiteram que sua maior contribuição à nação neste momento histórico é
1
avançar em direção à sua reintegração à vida civil e contribuir para o fortalecimento do Estado de
Direito. As partes se comprometem nesse processo, cientes de dar um passo que efetivamente
contribui para a construção da verdadeira paz que a nação colombiana espera e merece.
Para cumprir esse propósito, as Autodefesas Unidas de Colômbia se comprometem a
desmobilizar a totalidade de seus membros, em um processo gradual que começa com as
2 primeiras desmobilizações antes do final do ano em curso e que deverá ser concluído até 31 de
dezembro de 2005. O governo se compromete a tomar as medidas necessárias para reintegrá-los
à vida civil.
As Autodefesas Unidas de Colômbia consideram muito positivas as recomendações finais
3 da Comissão Exploratória e concordam que elas constituem uma orientação adequada para o
processo de paz entre o governo nacional e as AUC.
Concordam que, a partir das recomendações do relatório final da Comissão Exploratória, a
4 fase de exploração do processo de paz está encerrada para dar início a uma etapa de
negociação.
Criar as condições para que, em um prazo razoável, os membros das Autodefesas Unidas
de Colômbia se concentrem - com as devidas garantias de segurança - em locais previamente
5 acordados. A concentração de seus integrantes incluirá todos os níveis de comando, com as
garantias acordadas entre as partes. Essas áreas contarão com a presença permanente da força
pública.
As Autodefesas Unidas de Colômbia ratificam seu compromisso com o cumprimento do
6 cessar-fogo, como expressão de boa vontade, e continuarão seus esforços para garantir que ele
seja totalmente eficaz.
As Autodefesas Unidas da Colômbia compartilham o objetivo do governo de uma
7 Colômbia sem narcotráfico e apoiam as ações do Estado colombiano contra esse fenômeno que
destrói a democracia, a convivência, a economia e o meio ambiente.
Agradecer a presença contínua da Igreja Católica nesse processo de paz e convidá-la a
8 continuar acompanhando-o, como garantia de transparência e comprometimento das partes com
a paz na Colômbia.
Convocar a solidariedade e o compromisso nacional para fortalecer o Estado e criar as
condições que tornem possível a desmobilização e reintegração à vida civil dos membros das
9
AUC. Pedir aos diferentes setores nacionais e às comunidades locais que apoiem os esforços
institucionais para consolidar a segurança, a convivência e o desenvolvimento.

Exortar a comunidade internacional a apoiar os esforços para defender e fortalecer a


10 democracia colombiana e a prestar sua colaboração para desativar os fatores de violência que
afetam a Colômbia.
Fonte: UN Peacemaker.

O processo de desmobilização dividiu-se em 3 fases a cargo do Gabinete do


Alto Comissariado para a Paz “1. Sensibilização, preparação e adaptação (que duraria
entre 15 e 30 dias); 2. a concentração, desmobilização e verificação (entre dois e dez
dias de duração); 3. início do processo de reincorporação aos locais de origem
(aproximadamente oito dias)” (VALENCIA, 2007, tradução nossa), além de um auxílio
30

econômico para cada pessoa que optasse pela desmobilização. Até 2006, as AUC
continuavam os trabalhos e um mês depois da reeleição do ex-presidente Uribe, o
último grupo entregou as armas, “Ao final, foram dissolvidas 36 estruturas armadas
entre blocos e frentes, num total de 30.944 homens e mulheres em todo o território
nacional” (COMISIÓN, 2019, tradução nossa).
Todavia, o processo de desmobilização, que durou por volta de 2 anos, não
garantiu a eliminação total do paramilitarismo na Colômbia, já que nem todos os
integrantes das AUC de fato se desmobilizaram e nem todas as armas foram
entregues, como indica o quadro abaixo:

Quadro 3 - Dados Sobre Integrantes Desmobilizados e Armas Entregues no


Processo

Ano Integrantes Armas Média de Armas/Integrantes

2004 2645 2110 0,8

2005 10417 6834 0,66

2006 17573 8561 0,49

TOTAL 31671 18051 0,57

Fonte: Escola de Cultura de Pau y Agencia Española de Cooperación Internacional (apud


VALENCIA, 2007, tradução nossa).

O narcotráfico e os ataques à segurança social realizados devido ao conflito


armado, continuaram no país. Mesmo que o processo de desmobilização tenha sido
uma nova esperança para a sociedade colombiana, era nítido que ainda faltavam
muitos problemas por resolver e enquanto não eram resolvidos, a segurança nacional
continuava sendo afetada, não só pela atuação paramilitar, mas também pela atuação
das guerrilhas, que no governo Uribe, a agenda de segurança voltou suas forças para
a eliminação delas, já que eram elas que vinham afetando a segurança do país há
várias décadas.

2.1 INSEGURANÇA SOCIAL NA COLÔMBIA A PARTIR DO CONFLITO ARMADO

Nas relações internacionais, segurança social refere-se a uma preocupação


devido a uma ameaça existente no sistema internacional, podendo ser entre dois ou
mais Estados ou envolvendo apenas um. A insegurança social surge a partir de
31

conflitos que envolvem violações de direitos humanos e causam medo a um grupo de


pessoas, tendo como resultado deslocamentos forçados, massacres, sequestros e
pobreza extrema, podendo transcender ou não as fronteiras nacionais.
No caso da Colômbia, a entrada do exército nacional para a resolução do
conflito armado, causou uma insegurança social que gerou as primeiras ondas de
deslocamentos forçados na Colômbia. A razão dos deslocamentos eram
principalmente sequestros por parte das guerrilhas em regiões rurais, e confrontos
entre as guerrilhas e o exército.
Os sequestros por parte das guerrilhas, tinham motivações políticas e
financeiras, utilizando-os como ferramenta de manipulação, para que o governo
atendesse suas demandas como libertação de guerrilheiros presos e mudanças nas
políticas nacionais. As guerrilhas também solicitavam financiamentos para suas
operações em troca de reféns, incluindo alvos como políticos, membros importantes
das forças de segurança e estrangeiros. A pressão ao governo era aumentada
estrategicamente, conforme o nível de importância do refém para o Estado.
O sequestro do Núncio Apostólico colombiano na época, Emílio Berlie foi um
dos que mais mobilizou o governo colombiano, no ano de 1983. Berlie, foi sequestrado
pelo grupo guerrilheiro M-19 em Bogotá e mantido em cativeiro durante três meses,
com o fim de pressionar o governo a atender as demandas políticas do grupo
guerrilheiro. As negociações para a libertação do Núncio, foram mediadas pelo
presidente da época Belisario Betancur e pela igreja católica, que acabou
desempenhando um papel ativo, buscando negociações pacíficas.
Outro sequestro de comoção nacional e midiática foi o da ex-deputada
Consuelo González. O sequestro foi realizado pelas FARC-EP no ano de 2001,
ficando em cativeiro durante pouco mais de seis anos, até o resgate. Da mesma forma,
o sequestro foi motivado pelas intenções de pressionar o governo a acatar as
reivindicações políticas do grupo. As negociações foram mediadas pelo governo de
Álvaro Uribe, por meio de uma operação humanitária em 2008. A operação tinha por
objetivo a libertação de reféns, como parte das estratégias que visavam alcançar um
acordo humanitário.
O sequestro de Alan Jara também foi um dos mais longos, permanecendo em
cativeiro durante sete anos. Jara é ex-governador do departamento de Meta e foi
sequestrado no ano de 2001, pelas FARC-EP. Sua libertação ocorreu em 2008
durante a mesma operação humanitária em que foi libertada Clara Rojas, sequestrada
32

em 2002 e que no momento exercia o trabalho de chefe de debate da então candidata


à presidência, Ingrid Betancourt.
Os sequestros, entretanto, não eram apenas de figuras políticas e de influência,
mas também de civis inocentes. O alvo de sequestros de civis era diferente, sendo
estes focados em crianças e pessoas com dívidas, com o grupo guerrilheiro.
As crianças sequestradas, eram capturadas principalmente para trabalharem
dentro das guerrilhas. O Sujeito Dois19, lembra-se da sua infância e do medo causado
pelas guerrilhas na região em que morava, motivo suficiente para que sua família
deixasse sua terra no campo e se deslocasse para a cidade, em busca de segurança:

(...) E então o exército começou a chegar, e quando o exército chegou lá eles


"se pegavam" em qualquer lugar. Depois começaram a ter episódios como
não ir mais à escola e tiroteios no campo e por isso termos que nos esconder,
mas o que mais nos levou a sair, foi o desaparecimento de 3 meninos da
aldeia. Até da escola sumiam do nada, todo mundo sabia que era porque
tinham sido levados para a guerra e sabe-se lá quem, né? Então um dia eles
sumiam do nada ou um grupo fora da lei levaria eles embora e se os pais não
quisessem entregar os filhos, eles ameaçavam os pais. Então quando meus
pais viram aquela situação nós saímos na hora. O motivo do deslocamento
foi mais para nos proteger porque na época eu tinha 11 anos e meu irmão
tinha 10, eu acho. Então estávamos em uma idade em que pegavam os
meninos, foi por isso (DOIS, 2023, tradução nossa. Informação verbal). 20

Além das capturas para forçar as crianças a se juntarem à luta armada, esta
estratégia era utilizada como forma de intimidação, para pressionar as comunidades
locais a colaborarem com as guerrilhas e silenciar as mesmas. Era comum a utilização
das crianças para transportar mensagens e espionar nas áreas de conflito, dessa
forma, os grupos guerrilheiros teriam acesso a informações e até mesmo planos de
ação da parte contrária.
É notável a tamanha violação de direitos humanos vivida pelas crianças
sequestradas, até mesmo porque quando as crianças não eram utilizadas para
colaborar com a guerrilha, passavam por uma série de torturas desumanas. Casos de
violência sexual e baseadas no género, desaparecimento forçado e homicídios,
tortura e outros tratamentos cruéis, desumanos ou degradantes eram comuns
(JURISDICCIÓN, 2021). Segundo dados tratados pela JEP, no período de 1996 a
2016 as FARC-EP sequestraram 18.677 crianças maiores e menores de 15 anos.

19Usou-se “Sujeito Dois” com o fim de preservar a identidade da pessoa entrevistada.


20Entrevista realizada pela autora em formato de áudio. No apêndice deste documento, consta a
entrevista completa.
33

Como foi mencionado anteriormente, os sequestros devido a dívidas, também


eram comuns na Colômbia. Uma das formas de financiamento das atividades
guerrilheiras, era os pagamentos exigidos às comunidades rurais onde as guerrilhas
se localizavam. Os pagamentos eram uma espécie de taxa que as pessoas pagavam,
em troca de proteção e de não prejudicar ou atacar tais pessoas ou propriedades,
estas taxas eram chamadas de “Vacunas”. Esta atividade completamente ilegal
acabou gerando certamente problemas na economia e impactou na segurança social
dos colombianos, já que quem não pagasse a vacuna, não seria protegido e seria
prejudicado de diversas formas. Casas foram queimadas, famílias atacadas,
abusadas, assassinadas e sequestradas.
A pessoa entrevistada conta como era a logística de trabalho por parte da
guerrilha na região em que ele morava no que se refere às vacunas: As “Vacunas”
eram cobradas pelos guerrilheiros às famílias que possuíam gado e quem não
pagasse era assassinado ou sequestrado (DOIS, 2023, tradução nossa. Informação
verbal).
Essa onda de violações de direitos humanos, gerou comoção nacional e medo
nas distintas regiões rurais colombianas, entretanto, nenhum organismo nacional ou
internacional, focava em uma solução para além da extinção das guerrilhas. Sem
dúvida, cortar o problema da raiz parece a forma mais lógica de acabar com o conflito
armado, contudo, enquanto a guerra estava acontecendo ninguém se
responsabilizava pelas famílias inocentes, não houve, por exemplo, operações de
desocupação das áreas afetadas enquanto o cenário de confrontos constantes
acontecia. O medo era tão grande que as comunidades temiam tanto aos guerrilheiros
quanto ao exército, não sabendo distinguir a diferença entre eles quando os viam perto
das suas moradias.
A tentativa de securitização dos governos que implementaram as operações
militares, sem dúvida incrementou a onda de insegurança social. Este problema é
muito comum em cenários de guerra, o foco unilateral para a extinção das guerrilhas
abandonou a vida de milhares de famílias e crianças, esquecidas por quem deveria
zelar por sua segurança, o governo. O quadro abaixo, mostra os dados das vítimas
de sequestro entre os anos 1990 e 2008:
34

Quadro 4 - Dados dos sequestros de vítimas do conflito armado na


Colômbia entre 1990 e 2008

Sequestros de vítimas do conflito armado entre 1990 e 2008

Vítimas entre 1990 e 2008 50.770

Número total potencial 80.000

Entre 1995 e 2004 ocorreram 38.926 vítimas (77% do total de


Décadas com mais vítimas sequestros) e só entre 2002 e 2003 foram 11.643 vítimas (23% do
total).

1. As FARC-EP: 20.223 vítimas (40%)


Principais responsáveis pelos 2. Grupos paramilitares com 24% (9.538 vítimas)
sequestros 3. O ELN com 19% (9.538).
4. Os sequestros também foram realizados em número considerável por
outros grupos (9%).

1. Antióquia: 9.308 vítimas (20%)


2. César: 3.353 vítimas (7%)
Regiões mais afetadas 3. Norte de Santander: 2.949 vítimas (6%)
4. Bolívar: 2.611 vítimas (6%)
5. Nariño: 2.513 vítimas (5%).
Sexo das vítimas 78% das vítimas são do sexo masculino e 22% do sexo feminino.
Idade das vítimas 87% das vítimas eram adultos e 13% eram menores.
Fonte: Comisión de la Verdad, 2022.

Além dos sequestros, o medo de ser assassinado e de desaparecer, também


era comum, pois não apenas guerrilheiros e paramilitares carregavam a
responsabilidade dos homicídios e dos desaparecimentos forçados, mas também os
agentes estatais. O que demonstra mais uma vez que a insegurança social na
Colômbia, não é responsabilidade apenas dos grupos insurgentes, mas também dos
governos. Nas tabelas abaixo pode-se entender melhor os números impactantes de
assassinatos atribuídos a cada grupo assim como os desaparecimentos forçados.
35

Quadro 5 - Dados sobre os homicídios de vítimas no conflito armado entre


1985 e 2008

Homicídio de vítimas no conflito armado entre 1985 e 2008

Vítimas entre 1985 e 2008 450.664

Número total potencial 800.000

Décadas com mais vítimas Entre 1995 e 2004, foram registradas 45% das vítimas (202.293
vítimas).

1. Grupos paramilitares: 205.028 vítimas (45%)


Principais responsáveis pelos 2. Grupos guerrilheiros: 122.813 vítimas (27%)
sequestros Do percentual dos grupos guerrilheiros, 21% correspondem às
FARC-EP (96.952 vítimas), 4% ao ELN (17.725 vítimas) e 2% a
outras guerrilhas (8.496 vítimas)
3. Agentes do Estado: 56.094 vítimas (12%)

1. Antióquia: 125.980 vítimas (28%)


2. Valle del Cauca: 41.201 vítimas (9,1%)
Regiões mais afetadas 3. Norte de Santander: 21.418 vítimas (4,8%)
4. Cauca: 19.473 vítimas (4,3%)
5. Cesar: 16.728 vítimas (3,7%).

Sexo das vítimas 91% das vítimas são do sexo masculino e 9% do sexo feminino.

Idade das vítimas 86% das vítimas eram adultos e 14% eram menores.
Fonte: Comisión de la Verdad, 2022

Quadro 6 - Dados sobre os desaparecimentos forçados de vítimas no


conflito armado entre 1985 e 2016

Desaparecimentos forçados de vítimas no conflito armado entre 1985 e 2016

Vítimas entre 1990 e 2008 121.768

Número total potencial 210.000

1. Grupos paramilitares, com 63.029 vítimas (52%)


Principais responsáveis pelos 2. FARC-EP com 29.410 vítimas (24%)
sequestros 3. Múltiplos perpetradores com 10.448 vítimas (9%)
4. Agentes do Estado 9.359 vítimas (8%)

1. Antióquia: 28.029 vítimas (23%)


2. Valle del Cauca com 8.626 vítimas (7%)
Regiões mais afetadas 3. Meta com 8.542 vítimas (7%)
4. Bogotá com 5.565 vítimas (5%)
5. Norte de Santander com 5.207 vítimas (4%)

Sexo das vítimas 83% das vítimas são do sexo masculino e 17% do
sexo feminino.

Idade das vítimas 77% das vítimas eram adultos e 23% eram menores.

Fonte: Comisión de la Verdad, 2022


36

Como colocado anteriormente, a insegurança social na história do conflito


armado na Colômbia, gerou uma forte onda de deslocamentos forçados devido aos
riscos causados pelo conflito armado, tornando assim, a Colômbia o país com mais
deslocados forçados do mundo segundo a ACNUR, 2016. Até a contagem de dados
realizada em 2022 pelo Internal Displacement Monitoring Centre (IDMC), indica que o
número de pessoas que mantêm o seu estatuto de deslocados internos é de
4.766.280. O Governo colombiano por sua vez, identificou até 31 de dezembro de
2022 um total de 8.375.715 de pessoas incluídas no Registro Único de Vítimas, devido
a deslocamentos forçados, a partir de 1985.

2.2 A MILITARIZAÇÃO COMO MECANISMO DE SECURITIZAÇÃO E A


INFLUÊNCIA DO PLANO COLÔMBIA

A guerra fria teve uma influência significativa no sistema internacional,


inclusive no que se refere à segurança nacional da Colômbia, assim como em vários
países ao redor do mundo. A rivalidade entre as superpotências Estados Unidos e
União Soviética, causou uma série de implicações políticas, econômicas e militares
na América Latina.
É notável que, a influência da Guerra Fria na segurança nacional foi
maioritariamente exercida por parte dos Estados Unidos. Essa influência pode ser
analisada a partir de vários aspectos como: a doutrina de segurança nacional passada
pelos Estados Unidos para a Colômbia, o combate ao comunismo devido às
insurgências comunistas que estavam acontecendo na Colômbia e as intervenções e
financiamentos advindos dos Estados Unidos, como forma de auxiliar na segurança
nacional.
Durante a guerra, os Estados Unidos promoveram uma doutrina de segurança
nacional voltada para a militarização dos países e o bloqueio da expansão do
comunismo. Dessa forma, os Estados Unidos começaram a apoiar regimes que se
declarassem anticomunistas. Na Colômbia, essa doutrinação revelou-se em forma de
apoio militar e financeiro, aos governos que promoviam políticas que fossem em
concordância com os interesses dos Estados Unidos.
O apoio dos Estados Unidos, trouxe consigo o combate ao comunismo que já
estava sendo projetado contra a União Soviética, sendo assim, o foco em acabar com
os grupos insurgentes comunistas na Colômbia, nunca esteve tão presente. A pressão
37

exercida pelo financiamento dos Estados Unidos nos governos da época na Colômbia,
causou uma série de operações e planos militares, adotando medidas severas para
controlar as guerrilhas na Colômbia, já que a atuação delas, causava uma
desestabilização regional.
O fato dos Estados Unidos ser o maior preocupado com os grupos comunistas
insurgentes na época, criou uma ligação econômica e de segurança com a Colômbia
que se manteve inclusive no governo Uribe, especificamente com o Plano Colômbia,
que teve início no ano de 2000, durante o governo Pastrana e o governo Bill Clinton
dos Estados Unidos, com previsão de término em 2005, durante o posterior governo
Uribe.
Oficialmente denominado “Plano para a paz, a prosperidade e o
fortalecimento do Estado”, o Plano busca apoio político e financiamento e foi aprovado
sob a designação de Lei S-1758 – Alliance with Colombia and the Andean Region
(ALIANZA) Act of 1999 e assinado em acordo bilateral, conseguindo apoio financeiro
não apenas dos Estados Unidos, mas também da Europa e da Comunidade
Internacional (CECEÑA e AGUIAR, 2015).
A iniciativa bilateral teve por objetivo enfrentar os desafios do narcotráfico, o
conflito armado interno e questões relacionadas à segurança, oferecendo assistência
financeira e treinamento militar para apoiar as forças de segurança na Colômbia. “É
um programa de US$ 7,5 bilhões, sendo que o Presidente Pastrana comprometeu
US$ 4 bilhões de recursos colombianos e solicitou à comunidade internacional os US$
3,5 bilhões restantes para apoiar esse esforço” (USA GOVERMENT, 2001, tradução
nossa), dentre os quais, Estados Unidos realizou um aporte de US$ 1,3 bilhão. No
quadro abaixo, encontram-se os cinco componentes assistenciais fornecidos pelos
Estados Unidos no acordo do Plano Colômbia.
38

Quadro 7 - Componentes da assistência dos EUA no Plano Colômbia de


2000

Componentes da assistência dos EUA no Plano Colômbia de 2000


O pacote total de assistência interagências dos EUA fornece 122 milhões de dólares
para uma ampla gama de direitos humanos, reforma judicial e outros programas
concebidos para apoiar o processo de paz e para fortalecer a democracia e o Estado
de direito na Colômbia. Iniciativas específicas incluem a proteção de organizações
I. Apoio aos
não governamentais (ONG) preocupadas com os direitos humanos (4 milhões de
Direitos Humanos
dólares); fortalecimento das instituições de direitos humanos (7 milhões de dólares);
e à Reforma
estabelecimento de unidades de direitos humanos na Polícia Nacional da Colômbia
Judiciária
(CNP) e na Procuradoria-Geral da Colômbia (US$ 25 milhões); formação de juízes
e procuradores (7,5 milhões de dólares); e fornecer financiamento para treinar e
apoiar o pessoal policial colombiano em medidas anticorrupção, combate à lavagem
de dinheiro e combate ao sequestro.
O pacote total de assistência interagências dos EUA inclui 390,5 milhões de dólares
para apoiar o objetivo do Governo da Colômbia de obter o controle das regiões
II. Expansão das produtoras de drogas do sul da Colômbia. Esses fundos apoiarão certos aspectos
operações do treinamento e equipamento do segundo e terceiro batalhões antinarcóticos do
antinarcóticos no exército colombiano. Financiará a aquisição e o apoio de 14 helicópteros UH-60
sul da Colômbia Black Hawk (US$ 208 milhões); aquisição, reforma e suporte de 30 helicópteros UH-
1H Huey II (US$ 60 milhões); e apoio a 15 helicópteros UH-1N (US$ 60 milhões)
para uso do exército colombiano.
O pacote total de assistência interagências dos EUA fornece 81 milhões de dólares
para apoiar programas alternativos e de desenvolvimento económico na Colômbia
para ajudar os pequenos agricultores que agora cultivam coca e papoilas do ópio a
fazerem a transição para a atividade económica legal, uma vez que a interdição e a
erradicação tornam a agricultura de narcóticos menos lucrativa. Estes fundos
III.
somam-se aos fundos fornecidos para o desenvolvimento alternativo associado aos
Desenvolvimento
esforços do governo colombiano centrados no sul da Colômbia. Incluídos neste
Econômico
pacote estão 27,5 milhões de dólares para ajudar pessoas deslocadas internamente,
Alternativo
mais de 30 milhões de dólares para programas de erradicação voluntária, 12 milhões
de dólares em assistência aos governos locais e 2,5 milhões de dólares para
programas ambientais para proteger terras frágeis e bacias hidrográficas. Também
são disponibilizados fundos para o desenvolvimento alternativo e econômico na
Bolívia (85 milhões de dólares) e no Equador (8 milhões de dólares).
O pacote de assistência fornece 129,4 milhões de dólares para melhorar os esforços
de interdição de narcóticos nos EUA e na Colômbia. A maior parte desses fundos
(US$ 68 milhões) é dedicada à atualização dos sistemas de radar em quatro
aeronaves de interdição de alerta aéreo antecipado P-3 do Serviço de Alfândega dos
EUA, usadas para detectar e monitorar alvos suspeitos destinados aos Estados
Unidos a partir de zonas de origem de cocaína, incluindo a Colômbia; Foram
IV. Aumento da
disponibilizados US$ 16,9 milhões para atualizar as aeronaves OV-10 da Força
Interdição
Aérea Colombiana, US$ 19,5 milhões para apoiar programas de interdição aérea
colombianos, US$ 14 milhões para apoiar e provisionar o programa de interdição
ribeirinha da Colômbia e US$ 1 milhão para apoiar a infraestrutura de inteligência
antinarcóticos da Marinha colombiana. Além disso, foram disponibilizados 18
milhões de dólares para apoiar programas de interdição noutros países da América
do Sul e Central e das Caraíbas, incluindo especificamente a Bolívia e o Equador.
O pacote total de assistência interagências dos EUA inclui 115,6 milhões de dólares
para apoiar o CNP. Isso inclui US$ 26 milhões para aquisição, treinamento e suporte
V. Assistência à para dois helicópteros UH-60 Black Hawk; US$ 20,6 milhões para 12 helicópteros
Polícia Nacional UH-1H Huey II; e US$ 20 milhões para a compra de aeronaves de pulverização
Colombiana agrícola Ayers S2R T-65 e aeronaves OV-10. Fundos também são disponibilizados
para equipamentos de comunicação, munições, peças sobressalentes, treinamento
e apoio logístico.
Fonte: USA Government, 2001.
39

Além dessas assistências, os Estados Unidos também determinaram a


alocação de 15 milhões de dólares para auxiliar pessoas que sofreram deslocamentos
forçados, devido a conflitos na região. Esses recursos, complementaram os fundos
previamente concedidos pelo Governo dos Estados Unidos ao Comitê Internacional
da Cruz Vermelha (CICV) e ao Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados
(ACNUR), para oferecer suporte às pessoas deslocadas internamente na Colômbia.
Além disso, essa parcela de financiamento destinou a fornecer 10 milhões de dólares
em auxílio ao desenvolvimento, incluindo assistência técnica e agrícola aos
agricultores no sul da Colômbia.
O Plano Colômbia, foi o pontapé inicial para o estreitamento desta relação
entre ambos os países, levando a assinar mais acordos bilaterais nos anos
posteriores. No ano de 2004, foi assinado o Acordo de Cooperação para Combater o
Narcoterrorismo, que estabeleceu diretrizes de cooperação com o objetivo de
combater o narcotráfico e o terrorismo. Já o Acordo de Cooperação para Prevenção
e Combate ao Crime Organizado Transnacional, assinado em 2006, com o foco de
enfrentar as ameaças do crime organizado, especialmente do tráfico de drogas. Mais
tarde, o Acordo para a Proteção e Interconexão de Redes de Comunicações de 2009,
que visou fortalecer a segurança das comunicações de troca de informações, entre
as agências de segurança. O Acordo de Assistência Militar assinado em 2013, que
serviu como renovação do compromisso de cooperação com os Estados Unidos, de
fornecer assistência militar e treinamento às forças militares colombianas. O Acordo
para o Compartilhamento de Informações e Inteligência, que foi assinado em 2014, e
teve por objetivo estabelecer mecanismos para o compartilhamento de informações
de inteligência, entre os Estados Unidos e a Colômbia. O Acordo Marco de
Cooperação para o Desenvolvimento de Programas de Assistência Humanitária, que
foi assinado em 2015, que focou em juntar esforços conjuntos para assistência
humanitária e o desenvolvimento social e econômico da Colômbia e por fim, o Acordo
para o Acesso Recíproco a Programas e Atividades de Treinamento e Educação
Militar de 2018, que buscou mais uma vez, facilitar o treinamento militar e a
cooperação educacional entre as forças armadas dos dois países.
A partir dos acordos e financiamentos recebidos por parte dos Estados
Unidos, a Colômbia se fortaleceu militarmente para implementar uma série de
40

operações militares, com o objetivo de acabar com os grupos insurgentes e manter o


controle do Estado, se traduzindo em 3 grandes operativos.
A primeira operação aconteceu em 2003 e foi chamada de “Operação
Liberdade 1”. A Operação teve por objetivo iniciar uma série de combates para
diminuir a capacidade armada das FARC-EP, em 5 departamentos colombianos. Ao
longo desses confrontos, a operação militar comandada pelo exército nacional
conseguiu neutralizar mais de 600 integrantes do grupo guerrilheiro e vários materiais
de guerra (EJÉRCITO, 2022).
A “Operação Fénix" foi a segunda operação militar e aconteceu em 2008,
financiada pelos Estados Unidos. Durante a Operação, foi bombardeado um
acampamento onde encontrava-se Raúl Reyes, secretário importante das FARC-EP.

Com as bombas inteligentes, entregues e monitoradas pelos Estados Unidos,


o governo mudou o equilíbrio estratégico da guerra ao atingir, pela primeira
vez desde 1964, o secretariado das FARC. Em 1º de março de 2008, as
Forças Armadas bombardearam o acampamento de Raúl Reyes em território
equatoriano por meio da Operação Fénix. Reyes havia sido negociador em
El Caguán, era o "chanceler" das FARC-EP encarregado de administrar o
intercâmbio humanitário e peça chave nas finanças daquela guerrilha
(COMISIÓN, 2022, tradução nossa).

O bombardeio, além da morte de Raúl Reyes, confiscou computadores com


informações importantes como a ida de Reyes para Bucareste, capital da Romênia,
para negociar a compra de uma quantidade de urânio suficiente para construir uma
bomba. Além disso, também foram encontradas provas "vinculando as FARC ao
governo de Hugo Chávez, incluindo um pagamento de 300 milhões de dólares que
este último fez para apoiar sua causa terrorista21" (EL ESPECTADOR, 2008, tradução
nossa).
A terceira operação foi a “Operação Jaque”, também realizada em 2008.
Nesta oportunidade, o Exército Nacional criou uma estratégia de resgate já que há 6

21 A relação da Venezuela com guerrilhas colombianas estreitou-se fortemente ao longo da história,


especificamente no mandato de Hugo Chávez. As colaborações do governo Chávez, eram financeiras,
mas também de refúgio de integrantes dos grupos guerrilheiros. “ [...]a eleição de dezembro de 1998
do líder populista Hugo Chávez na Venezuela e sua crescente virada para a esquerda após sua saída
temporária do poder em 2002, levou o governo venezuelano a adotar uma postura mais permissiva em
relação ao ELN, à medida que cada vez mais a organização buscava refúgio naquele país,
complementado por uma atitude menos cooperativa de Chávez em relação ao governo Uribe que era
fortemente pró- EUA na Colômbia.23 Chávez não apenas deu instruções aos comandantes militares
locais para não desafiar o ELN, mas permitiu que membros da organização se envolvessem em
atividades ideológicas em conjunto com os “Círculos Bolivarianos” do regime e outras entidades.24 Em
2010, havia cerca de 1.500 ELN operando permanente ou temporariamente no lado venezuelano da
fronteira” (ELLIS, 2021).
41

anos Ingrid Betancourt22 e outros 11 soldados teriam sido sequestrados pelas FARC-
EP.
Todos os operativos foram comandados pelo Exército Nacional colombiano e
como é comum na história colombiana, o financiamento estadunidense esteve
presente mais uma vez para que as operações militares fossem feitas. Além das
operações, o governo também estabeleceu:

A colocação de tropas do exército e da polícia para garantir a segurança nas


estradas; a solicitação do aumento da ajuda econômica dos EUA para não
somente manter a política de erradicação dos cultivos ilícitos via fumigações,
como também combater as ações das guerrilhas; o aumento das forças do
exército com o recrutamento de “soldados camponeses”, etc (SANTOS,
2006).

Sabe-se que os Estados Unidos sempre trataram o narcotráfico como um


assunto exclusivamente de segurança, sendo o mesmo contornado na maioria das
vezes de forma militarizada. Sendo assim, o Plano Colômbia trouxe as premissas de
militarização estadunidenses, visando controlar o narcotráfico na Colômbia por meio
de bloqueios das ações guerrilheiras e paramilitares no país.
O plano tinha previsão de acabar em 2005, entretanto, o apoio para o fim do
narcotráfico, por parte dos Estados Unidos continuou ainda no governo Bush.

Em reunião com Álvaro Uribe no seu rancho no Texas, em agosto do mesmo


ano, o presidente Bush reafirmou o mesmo compromisso: Pedirei ao
Congresso que mantenha o nosso compromisso para dar prosseguimento
aos programas do Plano Colômbia, para que a Colômbia possa continuar com
os seus progressos e vencer a sua guerra contra o narcoterrorismo. Nossa
parceria estratégica é vital à segurança, à prosperidade e à liberdade de
ambos os nossos países e das Américas (Folha de São Paulo apud SANTOS,
2006).

A relação entre os Estados Unidos e a Colômbia estreitou-se ainda mais, essa


relação traduziu-se em forma de financiamento militar. Como consequência disso e
da política de segurança militarizada do governo Uribe, os gastos militares
colombianos a partir de 2005, duplicaram em relação aos anos anteriores do governo
Uribe e até mesmo do governo Pastrana. Isto foi causado também pela
implementação de novas políticas de segurança nacional, como a Diretiva Ministerial
Permanente N°29/2005, implementada pelo Ministério de Segurança colombiano.

22 Ex-senadora da Colômbia e ativista sequestrada em 2002 pelas FARC-EP.


42

Quadro 8 - Dados sobre Gastos Militares na Colômbia em Milhões de $US


(1998 a 2010)

Governo Pastrana Governo Uribe

1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010

$3.389,8 $3.247,3 $3.027,9 $3.264,4 $3.347,5 $3.278,4 $4.056,9 $4.914,2 $5.326,7 $6.775,8 $9.051,1 $9.033,2 $10.422,1

Fonte: SIPRI. Elaboração própria.

O Plano Colômbia, foi um adendo para a implementação dos ideais expostos


na Política de Defesa e Segurança Democrática. A influência dos Estados Unidos no
processo de pacificação da Colômbia, é explícito ao longo de toda a história do conflito
armado.

2.3 CONSIDERAÇÕES PARCIAIS

O conflito armado na Colômbia, iniciou devido à não concordância da


população em relação às decisões tomadas pelos governos, assim como em razão
de um embate político entre liberais e conservadores. Ao longo do tempo, ambas
partes foram estruturando-se cada vez mais, trazendo dogmas de diferentes
pensamentos teóricos, para sustentar as razões das suas lutas e guiá-las por um
caminho teórico. O comunismo tomou lugar dentro das guerrilhas, tornando-se uma
luta armadas para e pelo povo colombiano, gerando assim um maior
descontentamento com os governos e o capitalismo. Até hoje, as ações realizadas
por algumas guerrilhas, são embasadas e justificadas pelo descontentamento com as
ações dos governos e o abandono dele, em relação à população rural e pobre na
Colômbia. Entretanto, as justificativas teóricas nunca dariam conta de justificar os
sequestros, extorsões e outros crimes realizados pelos grupos insurgentes. De igual
maneira, os governos que vieram a partir do início das primeiras ondas guerrilheiras,
não tomaram as melhores decisões para combatê-las, já que os cidadãos sofriam as
consequências de cada uma das ações militarizadas (que foram a maioria), para
combater os grupos insurgentes.
A forma em que se deu o conflito, assim como a forma em que os governos
tentaram solucionar e amenizar as consequências, gerou uma piora em todos os
âmbitos da sociedade. Com isso, é nítido que a responsabilidade da insegurança
43

nacional, não é apenas dos grupos insurgentes, mas também dos governos que na
ânsia de ter novamente o total controle do território, tomaram decisões apressadas,
ou melhor, pouco estudadas no que concerne a como afetaria a população.
Um Estado não pode defender-se de qualquer tipo de ameaça, sem antes
pensar na sua população, porque facilmente está cavando uma cova muito maior,
além de muito mais cara. A não priorização do bem-estar populacional, criou uma
desconfiança do povo colombiano em relação ao Estado, assim como um sentimento
de abandono por ele. As ações securitizadoras, mesmo que tenham usado o disfarce
de estarem sendo realizadas para, dentre outras razões, obter uma segurança social
e proteção populacional, não mostravam resultados congruentes com os motivos
mencionados. A desconfiança pelo Estado implantada desde o início do conflito
armado, tornou-se algo cultural na Colômbia e o reflexo disso foi uma série de
consequências. Por exemplo, nos governos posteriores foi muito comum a solicitação
dos governos pela colaboração dos cidadãos no combate contra as guerrilhas, onde
era comum também oferecerem certos benefícios em troca da ajuda. Esse mecanismo
resultou parcialmente falho devido a essa desconfiança, e a não credibilidade nas
promessas do governo. Acreditava-se que o cumprimento delas seria impossível.
Da mesma forma, as tentativas de securitização militarizadas certamente
foram influenciadas por países como os Estados Unidos, esta relação criou nada mais
e nada menos que uma brecha para exercer pressão sobre as ações securitizadoras,
que estariam sendo realizadas para combater rapidamente o surgimento das
guerrilhas e consequentemente, acabar com o conflito armado no país. Quando ocorre
um financiamento por parte de outro país, a parte que está fornecendo o
financiamento espera resultados, e a parte financiada coloca-se em um lugar de
submissão. A relação entre os Estados Unidos e a Colômbia é definida exatamente
dessa forma, não apenas pela imagem soberana que os Estados Unidos representam,
mas também pela dependência econômica, criada a partir dos acordos
securitizadores.
A lógica seguida pelos governos apresentados, claramente determinou o
processo do conflito, assim como o pós-conflito, essas ações realizadas refletiram
também nos governos posteriores aos governos apresentados neste capítulo,
principalmente nas tentativas de securitização deles.
44

3 ANÁLISE DA AGENDA DE SEGURANÇA DO GOVERNO URIBE SOB A


TEORIA DA SECURITIZAÇÃO DA ESCOLA DE COPENHAGUE

As eleições presidenciais de 2002 na Colômbia, aconteceram em um cenário


dificílimo quanto à segurança nacional. A insegurança social23 estava no seu auge e
as ações por parte das guerrilhas e grupos paramilitares, eram cada vez mais
frequentes. O narcotráfico na década anterior também exercia um papel significativo
de insegurança no país, inclusive, nesse período, as organizações criminosas de
tráfico de drogas, iniciavam suas alianças com grupos insurgentes como guerrilhas e
paramilitares, aumentando assim o alcance do tráfico de drogas e consequentemente,
tornando o início da década de 2000, um desafio ainda maior para os governos que
viriam.
Cartéis como o Cartel de Cali, exerciam um controle impecável nas rotas de
tráfico internacional. De igual maneira, o Cartel de Medellín liderado por Pablo
Escobar, também estaria no seu auge na década que antecedeu as eleições de 2002.
Na mesma década, surgiram as narco guerrilhas, tendo as FARC-EP e o ELN como
as principais cabeças, o tráfico de drogas auxiliaria como financiamento para suas
atividades insurgentes. As AUC, iniciaram suas atividades com o objetivo de combater
as guerrilhas, entretanto, não tardaram a se envolver também com o tráfico de drogas.
Com isso, neste terceiro capítulo será discutido cada ponto da agenda de segurança
democrática do governo Uribe, para solucionar o cenário conflituoso que o país estaria
vivenciando, sob a lente analítica da teoria de securitização da Escola de
Copenhague. Como forma de corroborar com a hipótese inicial da pesquisa, será
relacionada a agenda de segurança do mesmo com o surgimento de falsos positivos
no país, assim como as diferentes consequências sociais do conflito e as pioras
advindas das decisões tomadas pelo governo.
Além dos grupos insurgentes, o tráfico de drogas também ocupava espaços em
instituições governamentais, com casos de corrupções significativas que facilitavam
as atividades do tráfico. Dentre os atores, participaram integrantes da Polícia Nacional
e outras autoridades governamentais. A corrupção policial, foi motivada devido ao

23 Entende-se por insegurança social um cenário com baixos níveis de coesão social e a não
legitimidade tanto do Estado quanto do seu regime (RUDZIT E NOGAMI, 2010). Na Colômbia, a
insegurança social foi formada pela violência gerada pelo conflito armado, assim como, pela não
atenção do Estado no que concerne à segurança pública.
45

oferecimento de subornos por parte dos traficantes, assim como, dentro das
alfândegas e aeroportos, onde funcionários eram subornados para facilitar o
transporte de drogas para fora do país. Os subornos também chegaram ao âmbito
político, em troca de apoio político nas campanhas. Essa postura, atrasaria e
enfraqueceria os esforços de combate ao tráfico de drogas na Colômbia. Devido a
esse cenário, o povo colombiano precisava de respostas e esperança, quanto aos
desafios que estavam sendo enfrentados. Claramente, essa necessidade de
segurança, viria influenciar nas decisões populares, quanto às votações presidenciais.
O cenário era propício e as necessidades intuitivamente preenchíveis,
Colômbia precisava de um líder que conseguisse passar credibilidade, em relação aos
bloqueios desses grupos narcoterroristas. As promessas dos candidatos à
presidência, precisavam ser congruentes com as demandas dos colombianos. Em
função do cenário de terror que a Colômbia estava vivenciando, uma luz no fim do
túnel seria suficiente, para que a esperança voltasse na vida dos colombianos. Sendo
assim, em 2002, a eleição de Álvaro Uribe conseguiu construir uma campanha política
que parecia preencher cada uma das lacunas que o país precisava, demonstrando
que a única opção para o povo colombiano, era o caminho da securitização
militarizada.
Dentre os principais candidatos que concorreram à presidência nas eleições de
2002, estavam: Horacio Serpa do Partido Liberal Colombiano, Luis Eduardo Garzón:
Representando a Aliança Democrática M-19 (um partido político formado por ex-
membros do grupo guerrilheiro M-19 que desarmou-se na década de 1990), Ingrid
Betancourt que concorreu pelo partido OxiGénese e que dentre as pautas trazidas
pela sua campanha, enfatizava a luta contra a corrupção e a promoção dos direitos
humanos e finalmente, o candidato Álvaro Uribe que representou o Partido Primeiro
Colômbia, o partido foi formado unicamente para apoiar sua candidatura. “Desde sua
origem, a Associação serviu como plataforma para a concepção, organização e
manejo das campanhas presidenciais do médico Álvaro Uribe Vélez, em 2002 e 2006”
(PRIMERO COLOMBIA, 2019, tradução nossa).
A campanha presidencial de Álvaro Uribe, desde seu início, enfatizou
fortemente as questões de segurança e de ordem pública, prometendo uma
abordagem firme contra as guerrilhas e uma luta contra o narcoterrorismo, assumindo
uma postura conservadora, em relação aos desafios que o país estava enfrentando
na época. Em um dos comerciais da campanha eleitoral, ficam nitidamente plasmadas
46

as premissas que direcionaram o mandato de Uribe, “Devemos levar de mãos dadas


a política de segurança democrática e a política de investimento social, por isso
precisamos de um grande apoio dos eleitores que vivem na Colômbia e no exterior,
no dia 28 de maio. Ajude-me a vencer, faremos a Colômbia vencer” (URIBE, 2002,
tradução nossa).
Uribe traçou a rota da sua campanha, sob o documento chamado Manifesto
Democrático - 100 pontos de Álvaro Uribe. Dividido em dezoito partes, Uribe inicia o
documento com a premissa “A Colômbia que eu Quero”, onde relata que ele sonha
com uma Colômbia dominada por uma classe média democrática, tolerante, solidária
e respeitosa com o meio ambiente, uma Colômbia onde todos possam viver em paz,
resolver suas diferenças de forma pacífica e criativa, desfrutar em família das
estradas, paisagens e rios. Sentir com entusiasmo que a pátria pertence aos
colombianos, e que devem cumprir suas obrigações com ela de maneira séria. Uma
Colômbia com autoridade legítima, e nenhum poder para os violentos. Além disso,
Uribe também escreve que sonha com um país democrático, tanto politicamente
quanto economicamente. Com oportunidades para todos. Um país de proprietários,
com uma revolução que impulsiona micro, pequenas e médias empresas e com um
Estado a serviço do povo e não em benefício da corrupção e da “Politiquería” 24
(URIBE, 2002).
Na segunda premissa, “Em direção a um Estado Comunitário”, Uribe coloca
que:

O Estado Comunitário dedicará os seus recursos à erradicação da miséria, à


construção da equidade social e ao fornecimento de segurança. Haverá mais
participação dos cidadãos na definição das tarefas públicas, na sua execução
e acompanhamento. A participação dos cidadãos garante que os recursos
cheguem às pessoas e não fiquem enredados na política (URIBE, 2002,
tradução nossa).

A participação dos cidadãos como forma de manter a democracia no país, é


um ponto muito presente ao longo da campanha e até mesmo, durante o governo
Uribe. Uma forma de dar poder ao povo colombiano de fazer justiça, podendo ser
perigoso, devido ao cenário social e aos anos a serem enfrentados. Da mesma forma,
Uribe também enfatiza fortemente suas críticas quanto à corrupção estatal e ao

24A palavra “Politiquería” em espanhol, refere-se às práticas políticas desonestas. A palavra, é utilizada
para criticar atores e ações políticas corruptas que visam ter vantagens pessoais.
47

neoliberalismo, já que na visão dele o Estado enganaria a população colombiana com


um discurso social, que não foi cumprido já que os recursos prometidos, foram gastos
com corrupção. Da mesma forma, Uribe menciona que “O modelo Neoliberal
abandonou o social ao destino do mercado, aumentando assim a miséria e a injustiça
social” (URIBE, 2002, tradução nossa). Após sua crítica, Uribe promete que seu
governo será diferente, e que servirá para dar exemplo aos governos anteriores, já
que gastaria menos com burocracia.
No seu terceiro ponto, Uribe fala sobre a Reforma Política e Administrativa e a
Luta Contra a “Politiquería”. Nesta oportunidade, o ex-candidato à presidência critica
os gastos públicos com congressistas, e os diferentes setores públicos, prometendo
que no seu governo iria reduzir tais gastos.
Já a quarta premissa, é focada na “Luta Contra a Corrupção”, onde ele promete
a extinção da corrupção no seu governo pois, nas palavras de Uribe: “O pai de família
que dá mau exemplo, espalha autoridade sobre seus filhos em um deserto árido. Para
controlar os violentos, o Estado tem de dar o exemplo, derrotar a politicagem e a
corrupção” (URIBE, 2002, tradução nossa).
Na quinta premissa, Uribe finalmente fala sobre a política chave para sua
eleição, a “Política de Defesa e Segurança Democrática”. A primeira promessa é sobre
uma Colômbia sem guerrilhas e sem paramilitares, garantindo que a segurança seria
democrática e protegeria todos os colombianos de qualquer agressor. Na mesma
premissa, Uribe traz os primeiros ares de militarização em que seu governo se baseou
após a eleição:

Exaltarei a profissão de soldado e policial. Que a comunidade os valorize e


respeite. Que se esforcem para merecer respeito e admiração. Que recebam
formação técnica e que seus esforços sejam recompensados com bolsas de
estudo e alta qualificação. Com mais polícias e soldados a nossa força
pública sofrerá menos baixas, será mais respeitada e as pessoas viverão
mais pacificamente (URIBE, 2002, tradução nossa).

Da mesma forma, Uribe fala sobre a extensão do Plano Colômbia e a


incrementação de interceptação aérea, para evitar saírem aviões com cocaína e
voltarem com armas. Assim mesmo, Uribe promete proteger a comunidade por meio
de soldados das Nações Unidas e demanda a cooperação internacional, já que o
conflito, financiar-se-ia com o narcotráfico internacional, o negócio criminal
internacional e se apoiaria com armas fabricadas no exterior.
48

Na sua sexta premissa, Uribe fala sobre “A Busca Pela Paz” relatando ser
“amigo do diálogo com os violentos, mas não para que cresçam, mas para fazer a
paz” (URIBE, 2002, tradução nossa) e mais uma vez, promete pedir mediação
internacional para estabelecer um diálogo com os grupos terroristas25.
A sétima, oitava e nona premissa, focam no âmbito social, que concerne à
Confiança, Erradicação Da Miséria e Justiça Social, Revolução Educacional e Saúde
Para os Pobres, com uma série de propostas voltadas para o aumento de benefícios
sociais, apoio econômico para mães e seus filhos, aumento no investimento em
educação e aumento em benefícios para os trabalhadores.
Da décima a décima sexta premissa, Uribe traz mais pautas sociais voltadas
ao uso de recursos públicos, falando sobre O Cooperativismo, O Campo E A
Segurança Alimentar, Os Serviços Públicos, A Vocação Empresarial, O Emprego E
Habitação, Transportes e Infraestruturas e Reforma De Impostos e Pensões.
Já no que tange às Relações Internacionais, na décima sétima premissa, Uribe
explica de que forma comportar-se-ia a política internacional, caso fosse eleito,
enfatizando mais uma vez o uso da lente da democracia e o respeito à
autodeterminação dos povos. No mesmo texto, Uribe abre a comunicação para
qualquer ajuda, de qualquer nação, que queira ajudar o Governo Colombiano a
conseguir a paz:

Qualquer nação que queira ajudar-nos a alcançar a paz deve fazê-lo através
do Governo da Colômbia. Que ninguém seja protegido de nossos criminosos.
A Comunidade Andina não precisa de salvar a sua aparência, mas sim de
uma forte decisão política para recuperar. Nas novas negociações comerciais
nos uniremos a empresários e trabalhadores. Apoiamos processos de
integração, mas com cláusulas de equidade social, para que o mundo deixe
de estar dividido entre países beneficiários e vítimas do comércio livre
(URIBE, 2002, tradução nossa).

Por fim, a décima oitava parte do documento, traz a promessa de que o governo
Uribe será um governo sério, eficaz e honrado, não milagroso. Nesta oportunidade,
Uribe descreve como sua vocação rural alimentou um amor infinito por todas as
regiões da Colômbia, e chama a população para construir uma nação tolerante à
diversidade, sem violência e sem corrupção. “Uma Nação com consciência ética, para
que todos nos preocupemos em não prejudicar os outros com o nosso

25Utiliza-se terroristas, como forma de usar a conotação dada pelos governos colombianos, às
guerrilhas, paramilitares e cartéis de drogas.
49

comportamento” (URIBE, 2002, tradução nossa). Com estas propostas, Uribe


conseguiu chegar ao poder em 2002 e seu mandato estendeu-se até 2010.
Ao entrar na presidência, devido ao cenário de insegurança social que o país
estava, Álvaro Uribe Vélez decidiu implementar um dos primeiros movimentos de
pacificação, o processo de desmobilização das AUC, que teve início em 2002 e fim
em 2006 como explicado no capítulo anterior, entretanto, o trabalho de segurança do
governo Uribe apenas iniciava. O desafio era grande, já que as guerrilhas e os
paramilitares não paravam de crescer na Colômbia, e o narcotráfico continuava
aumentando graças à participação deles.
De acordo com a Escola de Copenhague, qualquer assunto público pode
passar a ser não politizado, politizado ou securitizado. No caso da Colômbia, mesmo
que em governos anteriores o assunto já tivesse sido posto como securitizado, apenas
o governo Uribe implementou uma Política de Defesa e Segurança Democrática em
2003, que olhasse apenas para a securitização do país e para as consequências
causadas a partir do conflito, até essa época:

Em teoria, qualquer questão pública pode ser localizada no espectro que vai
desde a não politizada (o que significa que o estado não lida com ela e não é
de nenhuma outra forma transformada em questão de debate e decisão
pública) até a politizada (o que significa que a questão é parte de política
pública, exigindo decisões do governo e alocações de recursos ou, mais
raramente, alguma outra forma de governança comunal) para securitizado
(significando que a questão é apresentada como uma ameaça existencial,
exigindo medidas de emergência e justificando ações fora dos limites normais
do procedimento político) (BUZAN, WAEVER, WILDE, 1998, p. 23-24,
tradução nossa).

Com a implementação da Política de Defesa e Segurança Democrática, o


governo estabeleceu uma nova política de securitização para o país, pontuou quais
eram as ameaças e implantou novos objetivos estratégicos.
Na agenda de segurança, as propostas foram divididas da seguinte forma:

Quadro 9 - Política de Defesa e Segurança Democrática do Governo Uribe

Política de Defesa e Segurança Democrática do Governo Uribe

Segurança Democrática, Cooperação e Solidariedade


I. Política de Defesa
Democracia e Direitos Humanos
e Segurança Democrática

Controle Territorial e Ação Coordenada do Estado


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Cooperação e Solidariedade

Eficiência e Austeridade

Transparência e Legalidade

Políticas Nacionais e Respostas Locais

Defesa Nacional

Multilateralidade e Corresponsabilidade

Segurança e Desenvolvimento

A Opção da Negociação

O terrorismo

O negócio das drogas ilícitas

finanças ilícitas
II. Ameaças
Tráfico de armas, munições e explosivos

Sequestro e extorsão

O homicídio

Consolidação do controle estatal do território

Proteção da população

III. Objetivos estratégicos Eliminação do negócio ilícito de drogas na Colômbia

Manter uma capacidade dissuasora

Eficiência, transparência e responsabilidade

A. Coordenar a ação do Estado

Conselho Nacional de Segurança e Defesa

Conselho Conjunto de Inteligência

IV. Seis linhas de ação: coordenar, Ministério da defesa


fortalecer,
consolidar, proteger, cooperar, comunicar Estruturas de apoio

B. Fortalecer as instituições do Estado

Fortalecimento do sistema judiciário

Fortalecimento das Forças Militares


51

Fortalecimento da Polícia Nacional

Fortalecendo a inteligência

Fortalecimento das finanças do estado

C. Consolidar o controle do território nacional

Ciclo de recuperação e consolidação

Recuperação do controle estatal do território

Manutenção do controle estatal do território

Consolidação do controle estatal do território

Zonas de reabilitação e consolidação

Plano abrangente de segurança nas fronteiras

segurança urbana

Eliminação do negócio ilícito de drogas na Colômbia

Desmantelamento das finanças organizacionais

terroristas e tráfico de drogas

D. Proteger os cidadãos e a infraestrutura


da nação

Proteção de pessoas em risco

Proteção das vítimas de deslocamento forçado

Proteção contra o terrorismo

Proteção contra sequestro e extorsão

Proteção de desmobilizados e crianças combatentes

Proteção contra o recrutamento de crianças e jovens

Proteção da infraestrutura econômica

Proteção da rede rodoviária

E. Cooperar para a segurança de todos

A segurança da solidariedade

Redes de cooperadores
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Programa de recompensas

Cooperação internacional

F. Comunicar as políticas e ações do Estado

Terrorismo e comunicação

Diplomacia pública
Fonte: Política de Defensa y Seguridad Democrática, 2002, tradução nossa.

No que concerne à primeira parte, Política de Defesa e Segurança


Democrática, Uribe inicia explicando que a política é o documento onde o Governo
Uribe, apresenta as rotas de execução da segurança. O objetivo principal desta
política, seria garantir o Estado de Direito em todo o território colombiano, “através do
fortalecimento da autoridade democrática: o livre exercício da autoridade das
instituições, do Estado de direito e da participação ativa dos cidadãos em assuntos de
interesse comum” (COLOMBIA, 2002). Uribe também enfatiza a importância do
fortalecimento do Estado de Direito, pois seria a condição necessária para garantir a
proteção de todos os colombianos. Tendo em vista a expectativa da segurança
democrática de Uribe, decidiu dividir a mesma em três partes: a Proteção de Direitos
de Todos os Cidadãos, a Proteção de Valores, Pluralidade e das Instituições
Democráticas e a Solidariedade e a Cooperação de Todos os Cidadãos. Em resumo,
a segurança democrática de Uribe, buscaria nada mais e nada menos que a proteção
da população colombiana, já que, havia um leque de ameaças rondando todos os
colombianos.
Em relação ao segundo ponto, Democracia e Direitos Humanos, Uribe enfatiza
a importância do pleno respeito aos direitos humanos, como condição fundamental
para a execução da Política de Segurança Democrática. Já no que se refere ao
Controle Territorial e Ação Coordenada do Estado, Uribe expõe a que seria uma das
suas principais premissas ao criar esta política, o foco em recuperar o pleno controle
estatal e territorial, para isso, o documento relata que será utilizada a força pública.
Em relação à Cooperação e Solidariedade, o documento reitera mais uma vez
que a segurança é produto do esforço coletivo dos cidadãos, na mesma linha:

A participação ativa dos cidadãos, a sua colaboração com a administração


da justiça e o seu apoio às autoridades, são uma parte essencial do
53

fortalecimento da justiça, da democracia e, consequentemente, do


fortalecimento do Estado de direito. São deveres obrigatórios, conforme
previsto na Constituição. Mas, acima de tudo, a cooperação cidadã assenta
no princípio da solidariedade em que se funda o Estado Social de Direito
(COLOMBIA, 2002, tradução nossa).

A Eficiência e Austeridade também seria uma grande promessa do governo


Uribe, no documento explica-se que a segurança dos cidadãos exige que as
instituições do estado trabalhem efetivamente, para ter a capacidade de responder às
demandas dos Colombianos. Com isso, Uribe explica que “Assim como os cidadãos
contribuem para o fortalecimento da Força Pública através do pagamento de
impostos, o Governo e a Força Pública responderiam aos princípios de eficiência,
transparência e austeridade na utilização destes recursos” (COLOMBIA, 2002,
tradução nossa).
Quanto à Transparência e Legalidade, mais uma vez é reforçada a importância
que o governo Uribe coloca em relação a ser 100% transparente com a população
colombiana, de forma que é prometido que todas as ações do governo serão expostas
publicamente, para que todos estejam cientes dos esforços e trabalho do Estado para
a segurança nacional. Também é enfatizado que:

Todas as ações do Governo ocorrerão dentro da estrutura das normas legais.


Haverá rigorosa observância dos direitos humanos e estrito cumprimento do
Direito Internacional Humanitário, conforme exigido pela Constituição e pela
lei. Qualquer violação ou abuso dos direitos humanos cometido por um
membro da Força Pública ou qualquer outra entidade do Estado será
sancionado sem hesitação através de meios disciplinares e criminais, se for
o caso (COLOMBIA, 2002, tradução nossa).

Quanto às Políticas Nacionais e Respostas Locais, Uribe mira em focar em


cada uma das necessidades locais, e supri-las seguindo as suas especificidades.
Chama a atenção, à diversidade de fatores que afetam à segurança segundo o tipo
de ameaça, por isso, o Governo Nacional se encarregaria de olhar para cada uma, e
implementar os planos de ação ajustados às necessidades de cada território.
Na premissa de Defesa Nacional, Uribe expõe por meio dos seus ideais
conservadores, que “A necessidade de abordar a segurança interna não implica uma
negligência da defesa nacional, à qual será dada a devida prioridade. A Colômbia
continuará fiel à sua tradição de país respeitador do direito internacional, mas manterá
uma capacidade dissuasora” (COLOMBIA, 2002, tradução nossa). Dessa forma, se
54

garantiria o respeito pela soberania nacional, assumindo uma postura estratégica e


defensiva.
No que concerne à Multilateralidade e Corresponsabilidade, chama a atenção
ao terrorismo como mecanismo de atentar à estabilidade estatal, ameaçando a
democracia colombiana. Por isso, a política compromete-se em tomar medidas contra
o terrorismo, desenvolvidas como uma política de Estado, sem influências partidárias
ou burocráticas. Da mesma forma, faz um chamado aos mecanismos internacionais
contra o terrorismo, principalmente após o atentado de 11 de setembro de 2001, nos
Estados Unidos:

Mas a luta contra o terrorismo ultrapassa o território da Colômbia, como o de


todos os Estados, e exige um esforço multilateral. As evidências crescentes
do envolvimento de redes terroristas internacionais nas atividades das
organizações armadas ilegais colombianas tornam urgente a cooperação
internacional contra o terrorismo e o cumprimento dos compromissos
internacionais adquiridos após os acontecimentos de 11 de setembro,
particularmente a Resolução 1373, de 28 de setembro de 2001 , do Conselho
de Segurança das Nações Unidas e, a nível regional e sub-regional, da
Convenção Interamericana contra o Terrorismo, de 3 de junho de 2002, e do
Compromisso de Lima, de 17 de junho de 2002. Todos os espaços que
permitem o financiamento, a movimentação e a ação das organizações
terroristas devem ser encerradas, através da cooperação internacional sem
atrasos e sem obstáculos (COLOMBIA, 2002, tradução nossa).

Assim mesmo, a Política traz a premissa de Segurança e Desenvolvimento,


colocando a Segurança não como a única preocupação ou o único foco do Governo
Uribe, mas sim a primeira. As ações não seriam realizadas apenas no âmbito social,
mas também no desenvolvimento econômico. Na mesma premissa, menciona-se a
importância do empoderamento da população a lutar junto ao Estado, como
mecanismo de “incentivo de um sentimento de pertencimento e participação no
desenvolvimento de um projeto comum” (COLOMBIA, 2002, tradução nossa).
Por fim, a primeira proposta da Política de Defesa e Segurança Democrática,
finaliza a primeira parte do documento com a premissa “A Opção de Negociação”,
onde é exposta a oportunidade para aqueles que queiram trabalhar junto ao governo,
para acabar com o conflito armado da Colômbia. “Aqueles que se reintegrarem na
sociedade e na vida democrática, terão todas as garantias para exercer a política que
o dissidente merece, dentro da democracia” (COLOMBIA, 2022, tradução nossa).
Na segunda parte do documento, são pontuadas cada uma das ameaças que
a Política miraria. Sendo estas o Terrorismo, como principal mecanismo de
55

desestabilização nacional, chamando a atenção para as AUC, as FARC-EP e o ELN.


Como segunda ameaça, é colocado o Negócio das Drogas Ilícitas, pois ele
desestabiliza não apenas o Estado, mas também a economia do país. Da mesma
forma, As Finanças Ilícitas seriam mais uma ameaça que traz grandes prejuízos para
o país, colocando foco absoluto nas consequências da lavagem de ativos, por parte
do narcotráfico. O Tráfico de armas, munições e explosivos, ligado ao negócio das
drogas ilícitas e ao terrorismo, seria mais uma preocupação do Governo, quanto à
segurança nacional. Como proposta para acabar ou diminuir esta problemática, o
documento coloca que:

O Governo Nacional promoverá todos os mecanismos que aumentem a


transparência dos países na produção e comercialização de armas, para
impedir a sua passagem legal ao comércio ilegal, bem como a sua importação
e posterior reexportar para terceiros. O Governo também apoiará a criação
de um sistema internacional de marcação de armas, para determinar seu
local de origem e controlar sua circulação (COLOMBIA, 2002, tradução
nossa).

Quanto à ameaça de Sequestro e Extorsão, e O Homicídio, no documento é


explicado que ambos fazem parte do modus operandi dos grupos terroristas, para o
financiamento e promoção deles. Além disso, em razão da atuação desses grupos,
os homicídios na Colômbia aumentaram a cada ano, sendo uma situação plausível de
foco nesta Política.
Após toda a leitura analítica do cenário em que o governo estava começando,
uma série de objetivos estratégicos teriam de ser criados, para garantir a segurança
nacional colombiana. Dessa forma, a Política de Defesa e Segurança Democrática,
implementaria cinco objetivos que serviriam para criar as estratégias, para controlar
os problemas causados pelas ameaças anteriormente pontuadas. O primeiro objetivo
“Consolidação do controle estatal do território” teria como foco os pontos:
Recuperação gradual da presença da Força Pública em todos os municípios; Aumento
da persecução penal de crimes de elevado impacto social; Ampliação e fortalecimento
da administração da justiça e das instituições do Estado, em áreas onde o controle
estatal foi fortalecido e a Diminuição das denúncias de violações dos direitos humano.
Da mesma forma, o segundo objetivo “Proteção da população” visaria no
Desmantelamento de organizações terroristas; Redução de sequestros e extorsões;
Redução de homicídios; Prevenção da deslocação forçada e facilitação do regresso
56

da população deslocada aos seus locais de origem; Reintegração na vida civil de


organizações, grupos ou indivíduos que desistem da violência.
O terceiro objetivo, cuida da “Eliminação do negócio ilícito de drogas na
Colômbia” e para isso, o governo realizaria: Interdição aérea, marítima, fluvial e
terrestre do tráfico de drogas e de insumos; Erradicação das plantações de coca e
papoula; desmantelar redes de tráfico de drogas; Apreensão de bens e finanças do
tráfico de drogas.
Já o quarto objetivo “Manter uma capacidade de dissuasão”, atuaria no que
concerne à proteção das fronteiras terrestres, marítimas e fluviais e da mesma forma,
o quinto objetivo “Eficiência, transparência e responsabilidade” cuidaria do
desenvolvimento de mecanismos de transparência e responsabilização (COLOMBIA,
2002, tradução nossa).
A partir dos objetivos, foram traçadas seis linhas de ação que serviram como
bússola para a implementação da Política ao longo do governo Uribe, estas linhas
fazem parte do plano político e militar, que assumiria a responsabilidade pela
implementação e garantia da segurança nacional.
A primeira premissa fala sobre coordenar a ação do Estado onde o Conselho
Nacional de Segurança e Defesa, seria crucial para as ações advindas a partir dela,
devido à necessidade nacional de uma coordenação mais eficaz entre as instituições
estatais, para lidar com a segurança nacional. Para isso, o Plano propõe que o
Conselho de Segurança e Defesa Nacional, liderado pelo Presidente, coordene com
ministros e a Força Pública, a execução da Política de Defesa e Segurança
Democrática, atribuindo funções e avaliando os resultados a partir dela. Em nível
regional e local, também foram propostos conselhos de segurança com comitês
consultivos, para estudar políticas públicas e supervisionar a implementação em nível
territorial. O segundo ator fundamental para a efetividade do Plano, seria o Conselho
Conjunto de Inteligência, o Conselho coordenaria a inteligência estatal, formada pelos
diretores dos órgãos de inteligência. Suas funções incluíram produzir análises
estratégicas para o Presidente e Ministro da Defesa, traduzir políticas de segurança
em requisitos de inteligência e coordenar as tarefas de inteligência. Uma forma de
monitoramento destas ações, seria por meio de reuniões de inteligência regionais,
visando a coordenação regional e o intercâmbio eficiente de informações entre todas
as pontas. O Ministério da Defesa também seria um ator chave na busca de otimizar
a eficácia da Força Pública, na implementação da Segurança Democrática, expedindo
57

diretrizes e reformando as estruturas já existentes. As prioridades do Ministério,


incluiriam garantir que os recursos econômicos tivessem impacto significativo na luta
contra o terrorismo, aprimorar a administração e o planejamento, e desenvolver um
sistema de planejamento eficiente. Além disso, comprometeu-se a gerar empregos,
para beneficiar a indústria nacional e a coordenar a aplicação da política integral de
segurança, envolvendo diversas entidades governamentais e a sociedade civil.
Comitês também seriam estabelecidos para a contribuição do setor privado, e
supervisão dos recursos.
O estabelecimento de Estruturas de Apoio Interinstitucionais, também ajudaria
na coordenação da ação do Estado. As estruturas coordenariam e complementariam
as ações estatais, em nível regional e local, facilitando o trabalho das autoridades
judiciais. Essas estruturas, promoveriam uma abordagem colaborativa entre a Força
Pública, os órgãos de investigação e controle do Estado e as autoridades judiciais,
visando investigar e analisar crimes de forma organizada. Sempre, visando pela
garantia dos direitos humanos, em qualquer ação.
A segunda linha de ação, visou fortalecer as instituições públicas do Estado. O
primeiro seria o Fortalecimento do sistema judiciário, propondo um projeto de lei ao
Congresso para lidar eficazmente com o terrorismo, alinhado às obrigações da
Resolução 1373 da ONU. O sistema judiciário, priorizaria os crimes que mais
impactam a sociedade, e pretendia realizar uma política criminal abrangente para
perseguir terroristas e narcotraficantes com penas rigorosas, assim como, prometeu
focar na redução de homicídios e sequestros, fortalecendo o sistema investigativo e
punitivo. Tais reformas incluiriam a abolição da liberação para narcotráfico, princípios
de justiça restaurativa e revisão de penas. Fortaleceria também esquemas prisionais,
melhoraria a identificação de reclusos e promoveria responsabilidades financeiras
municipais. Da mesma forma, promete que:

O Governo apoiará a racionalização da administração da justiça e a


promoção da profissionalização e especialização dos seus funcionários. Da
mesma forma, promoveu a reforma constitucional da Procuradoria-Geral da
República, a fim de estabelecer um esquema acusatório que fortaleça a
natureza pesquisa desta instituição (COLOMBIA, 2002, tradução nossa).

No que tange ao Fortalecimento das Forças Militares, focariam “na defesa da


soberania, integridade territorial e ordem constitucional, protegendo a população civil,
desarticulando organizações terroristas, defendendo a infraestrutura nacional e as
58

fronteiras para fortalecer o Estado de Direito” (COLOMBIA, 2002, tradução nossa).


Por outro lado, o Plano defende a profissionalização dos soldados com as propostas
de desenvolver o talento humano, qualidade, preparação e manutenção de
equipamentos, aprimorar a análise e disseminação de inteligências, visando uma
melhor coordenação para operações inteligentes e a capacidade de agir prontamente
quando a inteligência estiver disponível. Além de investir em programas bem-
sucedidos de treinamento em direitos humanos e Direito Internacional Humanitário, e
na otimização do material estratégico das Forças, para manter a capacidade
dissuasiva e garantir a defesa da soberania. Assim mesmo, decide reformar o sistema
de serviço militar obrigatório, por meio de um projeto junto ao Congresso, baseado no
princípio da universalidade. Esta reforma, corrobora com os princípios de militarização
que nortearam os próximos passos do governo Uribe, no que tange à segurança
nacional, com a justificativa de que:

Cidadãos iguais têm obrigações iguais. Este dever será cumprido em


condições transparentes, democráticas e sem qualquer discriminação.
Todos os jovens prestarão o serviço em igualdade de condições,
independentemente do seu nível de escolaridade. Da mesma forma, o serviço
militar do soldado camponês será fortalecido para ampliar a possibilidade de
os militares prestarem o serviço militar nas suas áreas de origem, quando
residirem em zonas rurais. Este tipo de serviço militar permitirá a um maior
número de militares manter os seus laços com a comunidade e a comunidade
desenvolver relações de confiança com a Força Pública (COLOMBIA, 2002,
tradução nossa).

O Fortalecimento da Polícia Nacional também foi prioridade com o fim de


proteger e garantir o exercício dos direitos humanos e da liberdade dos indivíduos,
igualmente e sem discriminação. Dentre os compromissos está:

Expandir programada e ordenadamente a presença da Polícia Nacional nos


municípios onde atualmente não está presente; Ampliar o patrulhamento nas
zonas rurais, criando 62 novos Esquadrões Móveis de Carabineiros;
Construir estações rurais fortificadas; Reforçar a polícia de estradas;
Aprimorar a capacidade técnica da Polícia Judicial; Coordenar planos de
segurança nas cidades e fortalecer os corpos policiais com 10.000 novos
patrulheiros efetivos e 10.000 auxiliares regulares; Desenvolver planos
participativos de segurança local e expandir os Frentes de Segurança Local;
Promover o trabalho e a colaboração da Polícia Cívica; Estabelecer redes de
cooperação cidadã para prevenir o terrorismo, através de um envolvimento
comunitário, empresas, comércio e outras instituições do Estado
(COLOMBIA, 2002, tradução nossa).
59

Da mesma forma, a Inteligência também seria fortalecida contra as


organizações criminosas, reforçando os mecanismos de coordenação e
complementaridade entre as agências de segurança e inteligência. O trabalho de
fortalecimento, por sua vez, seria realizado em colaboração com o Conselho Conjunto
de Inteligência e os Conselhos Conjuntos de Inteligência regionais, concentrando
seus esforços na produção e análise de inteligência estratégica.
O desenvolvimento econômico também entrou em foco e se realizaria por meio
do Fortalecimento das finanças do estado. O Plano explica que a melhoria na
segurança, resultara na oferta eficaz de serviços essenciais para o desenvolvimento
empresarial, contribuindo, assim, para alcançar um crescimento econômico
sustentável, que combata o desemprego e enfraqueça as atividades de organizações
criminosas. A implementação dessa política seria aliada a investimentos sociais e
demandaria um ajuste fiscal para assegurar a sustentabilidade das finanças públicas.
A terceira linha de ação “Consolidar o controle do território nacional” foi criada
em razão dos territórios ocupados pelos grupos insurgentes nas áreas rurais do país.
Desde o início do conflito armado, o Estado começou a perder o controle dessas
áreas, causando diversas consequências para o país, como a dificuldade de
implementar políticas de desenvolvimento nessas áreas, prejudicando o acesso a
serviços básicos e de educação para a população que vivia nas áreas afetadas, o
deslocamento forçado em massa e implicações nas relações diplomáticas, devido à
reputação internacional. Em razão dessa situação, a agenda de segurança do governo
Uribe decidiu traçar uma linha de ação que solucionaria este problema. A primeira
ação a ser tomada seria a criação de um ciclo de recuperação e consolidação, “com
o intuito de conter, desarticular e dissuadir organizações armadas ilegais”
(COLOMBIA, 2002, tradução nossa). Essa abordagem seria realizada com o fim de
proteger a população das ameaças terroristas e restaurar a autoridade e controle das
instituições democráticas para poder restabelecer a segurança em todo o país
(COLOMBIA, 2002, tradução nossa).
A recuperação do controle estatal do território e a manutenção do controle
estatal do território também estariam dentro do escopo da Segurança Democrática,
para poder recuperar progressivamente a presença estatal e a autoridade
institucional. A recuperação do controle sobre os territórios poderia ser realizada com
o uso da força por meio de operações lideradas pela Força Pública e poderia ser
60

apoiada por unidades de reforço, caso assim fosse julgado pelos órgãos de
inteligência do Estado. Após conseguirem o controle territorial, o Plano coloca que:

Unidades mistas de soldados regulares, soldados e carabineiros da Polícia


Nacional manterão as condições de segurança, protegendo a população civil.
Essa ação possibilitará o trabalho dos organismos de investigação criminal e
controle do Estado na região. A Força Pública, juntamente com o Ministério
Público, a Procuradoria, a Polícia Nacional e o DAS26, formará uma estrutura
de apoio para identificar e processar judicialmente membros de organizações
terroristas e indivíduos envolvidos em crimes de alto impacto social, de
acordo com a natureza do crime (COLOMBIA, 2002, tradução nossa).

Para a consolidação do controle estatal dos territórios seria implementada uma


política abrangente de restauração da administração judicial, o reforço da democracia
local, atendimento às necessidades imediatas da população, ampliação dos serviços
governamentais e o lançamento de iniciativas produtivas sustentáveis, a médio e
longo prazo. Da mesma forma, o Conselho de Segurança e Defesa Nacional
coordenaria os ministérios e entidades relevantes, assegurando a implementação
segura desses projetos e prevenindo ameaças de organizações armadas ilegais.
Assim, a consolidação iniciou nas zonas de reabilitação, Arauca, Bolívar e Sucre.
Com o fim de reforçar a presença estatal nos territórios afetados pelo
terrorismo, além da criação de zonas de reabilitação e consolidação, seria executado
um Plano de Segurança Integral de Fronteiras, para reforçar a presença do Estado
nas regiões fronteiriças. O plano explica que:

A soberania vai além do controle das fronteiras, envolvendo um desempenho


mais eficaz das funções estatais e melhorias nas condições de vida da
população. Ministérios colaboram para realizar um censo, atender
necessidades imediatas e propor soluções de médio e longo prazo em
segurança, saúde e educação. O governo também buscará cooperação com
países vizinhos para evitar abusos por organizações terroristas e de
narcotráfico (COLOMBIA, 2002, tradução nossa).

Outro ponto focal importante desta linha de ação foi a segurança urbana. O
ponto seria levado a cabo por meio da implementação de políticas e planos de
segurança, para assegurar a convivência cidadã, reduzir a criminalidade e evitar que
os desafios do controle territorial em áreas rurais, se reproduzissem nas cidades.
Coordenando a resposta do Estado com os prefeitos, formulando políticas públicas de
segurança que integrassem os esforços da Força Pública, com os de outras entidades

26 Departamento Administrativo de Segurança.


61

do Estado, além de, contribuir para o financiamento dos esquemas de segurança,


protegendo e fortalecendo a autoridade das instituições, especialmente de justiça,
estimulando a cooperação de toda a cidadania na consecução e manutenção da
segurança, desenvolvendo sistemas de informação e estatísticas confiáveis para
avaliar as necessidades de segurança nas localidades, e formular respostas
adequadas. Por fim, implementando também mecanismos de avaliação contínuos,
para medir o desempenho de todos os responsáveis pela segurança cidadã,
corrigindo deficiências e exigindo os resultados correspondentes (COLOMBIA, 2002,
tradução nossa).
De igual maneira, seria eliminado o negócio ilícito de drogas na Colômbia, por
meio da consolidação do controle estatal sobre o território, para a eficaz erradicação
dos cultivos e a contínua desarticulação das organizações de narcotraficantes. Para
isso, foi traçada uma estratégia de 6 partes.

1.Interdição: Todos os esforços serão empregados para que o impacto


dissuasivo da interdição na produção e comercialização de entorpecentes
reduza os incentivos para o cultivo de plantações ilícitas. O governo dará
prioridade ao reforço da interdição aérea, terrestre, marítima e fluvial de
drogas, bem como de insumos e precursores químicos necessários para sua
produção; 2. Erradicação: A erradicação será realizada por meio do método
de aspersão aérea com glifosato, ou com um produto igualmente eficaz e
ecologicamente aconselhável, em todas as áreas do país onde forem
detectados cultivos de coca e papoula. Todas as normas técnicas e legais
serão cumpridas para garantir a maior eficácia e proteção ambiental. Os
agricultores e indígenas que desejarem se beneficiar de projetos produtivos
rentáveis e sustentáveis terão que romper todos os vínculos com o negócio
de drogas ilícitas; 3. Ação social: Programas sustentáveis de
desenvolvimento para a população de cultivadores serão uma das principais
ferramentas para eliminar os cultivos ilícitos e integrar essa população à
economia lícita. É necessário que os programas alternativos sejam realistas
e sustentáveis, oferecendo substituição de renda para as famílias que
dependem do cultivo de papoula e coca, com apoio financeiro de todos os
países envolvidos no negócio de drogas ilícitas, de acordo com o princípio da
corresponsabilidade. Exemplos de programas de substituição de renda
incluem projetos de reflorestamento que recompensam os agricultores pelo
plantio e cuidado de florestas em antigas áreas de cultivo ilícito, promovendo
assim a conservação ecológica e a transição para uma economia lícita
orientada para o desenvolvimento integral sustentável; 4. Desmantelamento
das redes de narcotraficantes: Suas fontes humanas, bens, finanças e redes
de comercialização serão atacados; 5. Fortalecimento do arcabouço jurídico:
Para desmantelar as redes de narcotraficantes e atividades relacionadas, as
ferramentas legais serão fortalecidas. A recente revisão da legislação
relacionada à extinção de domínio faz parte desse esforço; 6. Redução do
consumo: O programa Rumbos continuará seu trabalho de conscientização
para desencorajar o consumo interno de drogas (COLOMBIA, 2002, tradução
nossa).
62

Assim mesmo, seriam desmanteladas as finanças das organizações terroristas


e do tráfico de drogas, por meio do Conselho Conjunto de Inteligência, ao lado de
entidades estatais especializadas e um comitê de combate à lavagem de dinheiro,
com o objetivo de aprimorar a comunicação de informações, a coordenação entre a
produção de inteligência financeira e às operações correspondentes. Também foram
estabelecidos mecanismos de cooperação com entidades financeiras privadas e mais
uma vez, seria utilizada a população para ajudar nas ações securitizadoras, nesta
oportunidade para relatar os casos de lavagem de dinheiro. Além disso, seriam
implementados controles sobre os recursos provenientes de regalias, frequentemente
utilizados por organizações terroristas. O Governo buscaria também a colaboração
internacional, para congelar contas de organizações colombianas e evitar a utilização
de seus sistemas financeiros. Da mesma forma, a Unidade de Informação e Análise
Financeira desempenharia um papel central na coleta e análise de informações,
visando evitar falhas passadas e integrar completamente a inteligência financeira às
operações contra organizações terroristas e de narcotráfico.
A quarta linha de ação foi a proteção dos cidadãos e da infraestrutura da nação.
O primeiro foco desta linha seria a proteção de pessoas em risco, já que qualquer
pessoa que se colocasse em risco devido à colaboração com o governo, em relação
às ações terroristas, seria ameaçada por tais grupos. Historicamente, a Colômbia
sofre uma insegurança social em relação a líderes de movimentos sociais, então esta
linha buscaria efetivamente proteger tais pessoas, além de líderes políticos,
sindicalistas e jornalistas. A proteção dos indivíduos partiria de três ações:
Reconhecimento público da legitimidade da atividade de cada grupo protegido;
Reforço das medidas de proteção destinadas a preservar os direitos da população
ameaçada; Coordenação interinstitucional com a Fuerza Pública, visando estreitar
vínculos de confiança entre esta e os representantes da sociedade civil objeto de
proteção.
As vítimas de deslocamento forçado também entraram no escopo dessa linha,
a proposta do Plano foi criada com caráter urgente e com isso, foi proposta a criação
da Rede de Solidariedade social que se encarregaria de coordenar planos de retorno
para suas áreas de origem, em acordo com cada família deslocada. Esse plano de
ação seria realizado com ajuda da Força Pública, restabelecendo a segurança nas
áreas, criando programas de segurança alimentar e canalizando recursos por meio de
microcréditos. Por outro lado, também contariam com o suporte do Fundo Pós-Conflito
63

do Banco Mundial, promovendo a recuperação de bens, incluindo terras para os


deslocados. Para aqueles que optarem por não retornar, a Rede de Solidariedade
Social desenvolveria programas de desenvolvimento em novas regiões, buscando
apoio do setor privado e da sociedade para soluções de longo prazo (COLOMBIA,
2002, tradução nossa).
Assim mesmo, seriam criadas formas de proteger a nação contra o terrorismo,
os sequestros e a extorsão. Para combater o terrorismo, o Plano propôs a criação de
estratégias que incluíam a formação de um sistema simples e eficaz, apoiado pela
legislação e a cooperação entre prefeituras e a Polícia Nacional. Um exemplo, foi a
criação de uma estrutura de apoio coordenando a resposta antiterrorismo na cidade
de Bogotá, com o governo apoiando forças especiais e ajuda da cooperação
internacional. Nesta oportunidade, o Plano chama mais uma vez à solidariedade da
cidadania, incentivando a criação de programas de prevenção e estreitamento de
laços entre a Força Pública. Além disso, faz um chamado também ao comércio e às
empresas de segurança, para criar redes de alerta e proteger o país contra ameaças
terroristas.
Para enfrentar os problemas de sequestro e extorsão, o Governo Nacional
implementou uma política de Estado de longo prazo com os seguintes objetivos:
Objetivo geral: reduzir ao mínimo o número de casos de extorsão e sequestro
extorsivo; Objetivos específicos: alcançar o objetivo geral por meio de lineamentos
estratégicos, aumentando os custos desses crimes e consolidando a confiança da
população e da comunidade internacional na capacidade do Estado colombiano de
enfrentar esses delitos. Para alcançar esses objetivos, foram propostas as seguintes
diretrizes estratégicas: A primeira, seria a desarticulação das organizações de
sequestro por meio de mesas de trabalho interinstitucionais, como estruturas de apoio
para centralizar a investigação e a informação de inteligência, visando a
desarticulação de grupos específicos. Da mesma forma, a Coordenação com a
Unidade de Informação e Análise Financeira, para compreender de que forma
funcionam os fluxos de dinheiro e as estruturas das organizações criminosas,
aplicando a extinção do domínio dos recursos, utilizados ou extraídos da extorsão e
do sequestro. Assim como, a alocação de recursos para adquirir equipamentos de
inteligência e pesquisa eletrônica, capacitar equipes conjuntas e executar planos de
pagamento de recompensas por resultados (COLOMBIA, 2002, tradução nossa).
64

A segunda diretriz para atingir os objetivos relacionados à proteção contra do


sequestro e a extorsão seria o aumento dos resgates de pessoas em cativeiro, por
meio da avaliação e redefinição das estruturas, localizações e jurisdições dos grupos
especializados GAULA27, assim como, a melhoria dos níveis de treinamento
operacional e manutenção da capacidade de reação, por meio de simulacros
periódicos e a implementação de esquemas e exercícios programados e aleatórios,
de luta contra a corrupção e contra inteligência nos grupos GAULA e em cada
organismo envolvido na luta contra esses crimes.
A terceira diretriz estaria focada na otimização da informação e do
conhecimento das organizações de sequestradores, por meio da padronização dos
critérios de classificação e manejo de estatísticas, mantendo informações detalhadas
sobre cada caso existente, estabelecendo um sistema de informação descentralizado,
compartilhado por todas as organizações envolvidas na luta contra a extorsão e o
sequestro, coletando informações relevantes e permitindo a geração de diferentes
tipos de relatórios que apoiem a tomada de decisões. Da mesma forma, seria
construída uma base de dados que permitiria o acompanhamento de cada caso
individual de sequestro extorsivo no país e por fim, seriam realizadas análises
sistemáticas para determinar com maior precisão a estrutura de custos desses crimes,
antecipando novas formas de operação e apoiando a tomada de decisões, incluindo
a evolução do sequestro, suas características, comportamentos, padrões geográficos
e temporais, e seu modus operandi (COLOMBIA, 2002, tradução nossa).
A quarta diretriz fala sobre a implementação de um sistema de recepção e
acompanhamento de casos por meio da implementação um sistema para: (i) garantir
uma relação direta, estável e amigável com as vítimas e seus familiares; (ii) produzir
informações judiciais, táticas e estratégicas mais precisas; (iii) direcionar
adequadamente as denúncias; e (iv) garantir que os grupos GAULA se concentrem
em casos de extorsão e sequestro extorsivo. Assim como, a consolidação de uma
agenda internacional contra a extorsão e o sequestro extorsivo que promoveriam
iniciativas internacionais contra práticas que favorecem ou facilitam esses crimes,
além de buscar cooperação efetiva de governos internacionais. Redes de cooperação
internacional também seriam construídas, incluindo apoio em informações de

27O Grupo de Ação Unificada pela Liberdade Pessoal é uma unidade especializada da polícia nacional
da Colômbia que trabalha na luta contra sequestros e extorsões.
65

inteligência, treinamento em protocolos operacionais e de investigação, além de


compartilhamento de informações tecnológicas (COLOMBIA, 2002, tradução nossa).
Já a quinta diretriz preza pelo fortalecimento da capacidade preventiva do
Estado e da cidadania, no que se refere às ondas de sequestro e extorsão. Esta
diretriz seria realizada por meio de campanhas maciças de informação e
conscientização para incentivar a população a: (i) denunciar oportunamente casos de
extorsão e sequestro; (ii) informar às autoridades sobre atividades suspeitas; e (iii)
entender que têm todo o apoio do Estado para não ceder ao pagamento extorsivo.
Por outro lado, o Governo Nacional abriria canais de comunicação simples e eficazes
para facilitar a denúncia desses crimes e seria incentivada a adoção voluntária de
códigos de conduta em associações, empresas, escolas, universidades, famílias,
entre outros, para evitar o pagamento de sequestros e detectar rapidamente situações
relacionadas a sequestros e extorsões. O Governo também atualizaria as tecnologias
de alerta e comunicação disponíveis, apoiando seu uso por meio da melhoria contínua
dos protocolos de reação dos órgãos de segurança e investigação do Estado. Da
mesma forma, seriam identificadas as alianças feitas por organizações que
cometeram sequestros e extorsões, para obter informações sobre suas potenciais
vítimas e facilitar a prática desses crimes, além de identificar as fontes de informação
dos criminosos. O desenvolvimento de um programa de segurança e inteligência
penitenciária, para evitar extorsões e sequestros extorsivos cometidos dentro das
prisões, também seria mais um mecanismo para o combate desses crimes, já que
minimizaria o aprendizado criminal dos detentos e forneceria informações valiosas,
para a desarticulação de organizações criminosas (COLOMBIA, 2002, tradução
nossa).
A sexta diretriz, por sua vez, traz a proposta de estabelecer uma normatividade
adequada por meio de elementos jurídicos necessários para aprimorar a luta contra a
extorsão e o sequestro. Dessa maneira, seriam identificados e apresentados ao
Congresso da República, como parte de uma nova iniciativa jurídica contra esses
crimes. De igual maneira, a sétima diretriz foi proposta com o fim de definir objetivos
mensuráveis a partir do desenvolvimento dessa política. O objetivo seria articular o
Governo desde o início do mandato, com um sistema de monitoramento e avaliação,
baseado em indicadores de gestão e resultados, para compreender os efeitos das
políticas e de sua implementação, tomando decisões de redirecionamento estratégico
ou de política (COLOMBIA, 2002, tradução nossa).
66

A oitava e última diretriz, propõe o desenvolvimento de um esquema de


trabalho, a partir das decisões de política sobre o manejo governamental da luta contra
a extorsão e o sequestro, que seriam aprovadas pelo Presidente da República e
formuladas por meio de documentos de política, apresentados ao Conselho de
Segurança Nacional. De igual maneira, o Conselho Nacional de Luta Contra o
Sequestro (CONASE), presidido pelo Ministério da Defesa Nacional, atribuiu recursos,
tarefas e realizou um acompanhamento contínuo das políticas implementadas pelas
entidades representadas, com o apoio da Vice-Presidência da República
(COLOMBIA, 2002, tradução nossa).
Ainda dentro da quarta linha de ação, o Plano propõe da plena proteção de
deslocados forçados e crianças combatentes por meio do seguinte convite:

O Governo Nacional convida os colombianos em organizações armadas


ilegais a abandonarem as armas através do programa de desmobilização.
Este visa a ressocialização, oferecendo aconselhamento psicológico e
treinamento profissional. Aqueles que desejam desvincular-se devem se
apresentar às autoridades, com processo acelerado pela criação de uma
unidade de fiscais. A reintegração inclui reconstrução de identidade,
garantias de acesso a recursos estatais e parcerias estratégicas com setor
privado e ONGs. Os desmobilizados têm deveres, incluindo evitar atividades
criminosas, cumprir a lei e contribuir de maneira útil à sociedade, com
reincidência resultando na perda de benefícios estatais (COLOMBIA, 2002,
tradução nossa).

Esta proteção também velaria contra o recrutamento de crianças e jovens. A


proteção seria realizada a partir de políticas de prevenção de recrutamento, por parte
dos grupos insurgentes, focando na população de alto risco.
A infraestrutura econômica e a rede rodoviária também seriam protegidas por
meio dessa linha de ação. Quanto à infraestrutura econômica, o governo
“implementou programas especiais para prevenir ataques terroristas contra a
infraestrutura carbonífera, elétrica, petrolífera, portuária, aeroportuária e de
telecomunicações, bem como para evitar o roubo de hidrocarbonetos” (COLOMBIA,
2002, tradução nossa). As ações foram realizadas em colaboração com o Exército, a
Fiscalía, o DAS, a DIJIN28 e a Procuradoria. Por outro lado, no que tange à proteção
da rede rodoviária, o governo criaria estratégias para garantir a segurança nas
estradas junto ao Ministério de Defesa, o Ministério dos Transportes e a Procuradoria
Geral da Nação. Esta estratégia seria intitulada Estratégia Integral de Segurança em

28 Direção de Investigação Criminal e INTERPOL.


67

Estradas e seria composta por quatro componentes principais: o Monitoramento do


tráfego de veículos nas rodovias nacionais; a Implementação de ações de reação e
intervenção da força policial e militar; a Participação da Procuradoria Geral da Nação
em unidades móveis, que permitam procedimentos rápidos para a judicialização
daqueles que atentam contra a segurança e liberdade dos cidadãos nas estradas do
país; e a Coordenação da cooperação cidadã com as autoridades para a vigilância
das estradas (COLOMBIA, 2002, tradução nossa).
A quinta linha de ação foi intitulada “Cooperar para a segurança de todos” e
dividiu-se em quatro partes: a segurança da solidariedade, redes de cooperadores,
programa de recompensas e cooperação internacional. A segurança da solidariedade
é mais uma estratégia do governo, para que a população contribua para a segurança
nacional. Com isso, o governo promete promover a “cooperação voluntária e patriótica
dos cidadãos, cumprindo seus deveres constitucionais e aplicando o princípio de
solidariedade, exigido pelo moderno Estado de Direito social” (COLOMBIA, 2002,
tradução nossa). O objetivo da estratégia seria obter a maior contribuição possível de
cidadãos para a prevenção do terrorismo e da criminalidade, de forma que eles
forneçam informações relacionadas às organizações armadas ilegais e dessa forma,
o governo possa chegar a elas com maior facilidade. Da mesma forma, no segundo
ponto o Plano discute melhor sobre essa rede de cooperadores, basicamente seria
formada uma rede de cidadãos nas áreas urbanas e rurais do país, que cooperariam
ativamente de forma voluntária com as autoridades “participando em programas
cidadãos de cultura para a segurança, e fornecendo informações para a prevenção e
perseguição do crime” (COLOMBIA, 2002, tradução nossa). Esta colaboração não
seria remunerada e quem decidisse colaborar, precisaria fazê-lo
desinteressadamente.
Por outro lado, o PDSD apresentou a proposta de um programa de
recompensas, para pessoas que funcionassem como informantes dos órgãos de
segurança do Estado, fornecessem informações que levassem à prevenção de
atentados terroristas, ou à captura de membros de organizações armadas ilegais. Da
mesma forma, o Governo Nacional também criara um sistema de recompensas e
incentivos, para a denúncia de bens pertencentes a pessoas ou organizações
vinculadas ao terrorismo ou ao narcotráfico (COLOMBIA, 2002, tradução nossa).
No que concerne ao ponto de cooperação internacional, o PDSD coloca que a
segurança não seria apenas resultado da união da população colombiana, mas
68

também da cooperação com os países a quem atravessasse o terrorismo, devido à


natureza transnacional. Em vista disso, o Governo nacional buscaria o fortalecimento
da cooperação regional para:

Criar um frente unido por meio de mecanismos de cooperação que facilitem


operações coordenadas das forças de segurança dos respectivos países e o
controle do trânsito de armas, explosivos, narcóticos, precursores químicos e
pessoas; Reforçar o intercâmbio de inteligência e informações financeiras
para monitorar, identificar e neutralizar as atividades de organizações
armadas ilegais; Fortalecer e expandir as comissões bilaterais fronteiriças,
COMBIFRON, e assinar acordos que permitam às forças de segurança
controlar as fronteiras, especialmente rios, águas e espaço aéreo, de maneira
mais eficaz, trocando inteligência e realizando operações coordenadas de
patrulhamento, controle, registro e interdição; Cumprir os propósitos do
Compromisso de Lima da Comunidade Andina; Promover a reforma do atual
sistema de segurança interamericano para adequá-lo às novas realidades de
segurança. O Governo apoiará a modernização de mecanismos como o TIAR
ou instituições como a Junta Interamericana de Defesa, para traduzir em
mecanismos operacionais concretos a vontade política existente de combater
ameaças como o narcotráfico e o terrorismo. O Governo também promoverá
a ratificação da Convenção Interamericana contra o Terrorismo (COLOMBIA,
2002, tradução nossa).

De igual maneira, a cooperação internacional também seria eficaz para a


erradicação do tráfico ilegal de drogas. Para isso, o PDSD propõe oferecer alternativas
de emprego e apoio financeiro aos pequenos cultivadores de coca e papoula para que
assim, erradiquem voluntariamente e efetivamente seus cultivos. Da mesma forma,
propõe trocar inteligência e fortalecer sua capacidade técnica para combater as redes
de comercialização de drogas, coordenar os esforços de interdição, especialmente a
interdição aérea sobre o Mar do Caribe e o Oceano Pacífico, harmonizar a legislação
contra o tráfico de estupefacientes e precursores químicos, para que as penas
correspondam ao dano que causaram à sociedade, trocar informações financeiras
que permitam identificar e punir a lavagem de dinheiro de forma mais decidida e por
fim, controlar e reduzir o consumo de drogas ilícitas, oferecendo alternativas de
tratamento, reabilitação e capacitação à população (COLOMBIA, 2002, tradução
nossa).
Para que as ações securitizadoras a partir da cooperação internacional,
tivessem eficácia, o PDSD reitera que os países que colaborarem, deveriam
implementar a Resolução 1373 do Conselho de Segurança da ONU e acatar as
recomendações do Comitê Contra o Terrorismo, que supervisiona seu cumprimento,
introduzindo legislação contra o terrorismo, não dando abrigo a grupos terroristas,
nem permitindo que usem seu território para desenvolver suas atividades e
69

administrar suas finanças. O cumprimento dessas obrigações, deveria ser automático


e não deveria exigir a solicitação do país de origem desses grupos. Também, chama
a atenção a unir esforços e exercer a pressão necessária, para que haja transparência
no sistema financeiro internacional e para que os esforços de alguns países não
fossem inúteis, devido à relutância de outros em estabelecer os controles necessários.
Além disso, a PDSD propõe para esses países que troquem permanentemente
informações sobre as atividades das redes terroristas, e cumpram prontamente os
mandatos de captura da INTERPOL (COLOMBIA, 2002, tradução nossa).
Por último, a sexta e última linha de ação, foca em “Comunicar as políticas e
ações do Estado”. Esta linha inicia explicando seu primeiro ponto, “Terrorismo e
comunicação”, devido a que o terrorismo usa a comunicação como ferramenta para
implantar terror, um método de violência política, segundo a PDSD. Em razão disso,
o Governo faz um chamado para os meios de comunicação com o fim de obter sua
colaboração no momento de divulgar informações que coloquem em risco a vida de
pessoas, e o desenvolvimento de operações do Estado (COLOMBIA, 2002, tradução
nossa).
Já no segundo ponto dessa linha de ação, o PDSD fala sobre a diplomacia
pública chamando mais uma vez a cooperação internacional pois a Colômbia
necessitaria, acima de tudo, de instituições fortes que preenchessem as lacunas de
autoridade e protegessem os direitos da população (COLOMBIA, 2002, tradução
nossa).
Sendo assim, a Política de Defesa e Segurança Democrática trouxe, além das
principais ameaças que colocam em risco o país, um leque de soluções nacionais,
internacionais e populacionais para a securitização do país. Além disso, a
militarização também foi um ponto que ficou forte na PDSD, trazendo o cenário mais
comum que resumiria as ações securitizadoras, nos anos posteriores à criação dela.
A teoria da securitização, desenvolvida pela Escola de Copenhague, explora
como certas questões são construídas como ameaças à segurança nacional,
legitimando a adoção de medidas extraordinárias. Levando em consideração essa
premissa, é importante ressaltar também que a partir do momento em que um governo
expõe que existe uma ameaça existencial prejudicando o Estado, e recebe o
consentimento da sociedade, ele se vê livre de utilizar quaisquer meios que julgue
necessários para iniciar, que no caso do governo Uribe, continuou em proporções
maiores e mais militarizadas, o processo de securitização. Assim, o ator reivindicou o
70

direito de lidar com a questão por meios extraordinários, para quebrar as regras
políticas normais do jogo (por exemplo, na forma de sigilo, cobrança de impostos ou
recrutamento, impondo limitações a direitos invioláveis ou concentrando a energia da
sociedade e recursos em uma tarefa específica) (Buzan, Waever e Wilde, 1998, p.24,
tradução nossa).
Da mesma forma, o fato de o governo ter decretado o Estado de Comoção
Interior29 em 2002, permitiu não apenas implementar esses impostos, mas também
“autorizar prisões sem ordens judiciais e instituir a possibilidade de detenção de
pessoas com base em suspeitas de intenções de cometer delitos” (SANTOS 2006),
quebrando assim, as regras políticas normais do jogo, como explicado anteriormente
por Buzan, Waever e Wilde. Por exemplo, no mesmo ano de 2002, foi implementado
um novo imposto cobrado dos colombianos, o “Impuesto ao Patrimônio” por meio do
decreto nº 1.838, de 11 de agosto de 2002, expondo assim uma das razões pelas
quais o ex-presidente Uribe ao longo dos seus discursos securitizadores, chamava à
população para lutar a favor do estado e contra os grupos terroristas. O imposto foi
implantado com o fim de financiar as despesas necessárias para a Política de Defesa
e Segurança Democrática e posteriormente, este imposto que foi inicialmente
especial, foi modificado no ano de 2003 com a criação do imposto transitório sobre a
riqueza através da Lei 863, e aplicável a pessoas físicas e jurídicas com patrimônio
superior a 3 milhões de pesos colombianos (ao redor de USD $726,56 na cotação de
outubro de 2023) (RAMÍREZ, 2017, tradução nossa).
É nítido também, durante as ideias de Uribe, plasmadas no documento, o
anseio em acabar com os terroristas. Entretanto, ele também comunica que todas as
forças necessárias serão utilizadas para a eliminação deles:

Temos tanta generosidade para acolher os que desistem da via violenta,


como firmeza para derrotar o terrorismo. Assim como não desanimaremos
para derrotar o último dos terroristas, aqueles que desejam fazer as pazes
com o Estado colombiano têm a oportunidade de fazê-lo rapidamente,
aproveitando a política de desmobilização (COLOMBIA, 2003, tradução
nossa).

29O estado de comoção interna está previsto no artigo 213 da Constituição Política de 1991. É uma
medida excepcional que o Governo pode declarar e que lhe conferirá poderes especiais para expedir
decretos com força de lei e suspender leis incompatíveis com o estado de choque (BURGOS, 2023).
71

Assim como é nítida a petição de consentimento da sociedade, para que o


governo possa utilizar todas as forças necessárias, para combater as ameaças
existenciais.
Entende-se que a securitização não pode ser apenas implementada, mas
precisa do consentimento da sociedade, que acredita na existência da ameaça e apoia
os caminhos de resolução impostos pelo Estado. Nas ideias do Governo Uribe
colocadas na Política de Defesa e Segurança Democrática, onde chama-se à
sociedade a lutar pela bandeira colombiana, de forma retórica ele está realizando uma
petição de consentimento da população para poder implementar as ações advindas
da política de segurança democrática.

Um discurso que assume a forma de apresentar algo como uma ameaça


existencial a um objeto referente não cria securitização por si só – este é um
movimento securitizador, mas a questão é securitizada apenas se e quando
o público o aceitar como tal. (Aceitar não significa necessariamente em uma
discussão civilizada e livre de domínio; significa apenas que uma ordem
sempre se baseia na coerção, bem como no consentimento. Como a
securitização nunca pode apenas ser imposta, há alguma necessidade de
argumentar o caso.) (Buzan, Waever e Wilde, 1998, p.25, tradução nossa).

Iniciando a agenda de segurança, com o objetivo de combater o terrorismo com


“firmeza”, mais adiante durante o mesmo documento, a ex-ministra de Defesa Marta
Lucía Ramírez de Rincón, relata que para a criação do documento onde se plasma o
projeto de securitização do governo Uribe, ela reuniu “A equipe do Ministério da
Defesa, do Comando-Geral das Forças Armadas, da Escola Superior de Guerra e da
Polícia Nacional” (COLOMBIA, 2003, tradução nossa), com o fim de estruturar quais
eram as melhores opções para resolver os problemas do país relatados no
documento, ressaltando as raízes de militarização em que a agenda de segurança
iniciou. O posicionamento da ex-ministra é compreensível já que, “A natureza especial
das ameaças à segurança justifica o uso de medidas extraordinárias para lidar com
elas” (Buzan, Waever e Wilde, 1998, p.21, tradução nossa), com isso, o uso da força
começa a justificar-se por si só, pois a realidade vivida há mais de 50 anos, teria novos
caminhos para dissolver-se.
Para entender a agenda de segurança do governo Uribe e as decisões
securitizadoras tomadas a partir dela, colocaremos as premissas da Escola de
Copenhague trazidas por Buzan, Waever e Wilde em A New Framework for Analysis,
sobre como se dá o processo de securitização e quais os setores em que as ameaças
72

à segurança de um país podem ver-se afetados. Sob a visão dos autores


mencionados anteriormente, percebe-se um afetamento direto no setor político,
econômico e societal (Buzan, Waever e Wilde, 1998, tradução nossa).
Com isso, e levando em consideração as ameaças e consequências de
segurança, colocadas a partir da política de segurança democrática do governo Uribe,
entende-se que o objeto referente da agenda foi o Estado visando a proteção do
mesmo. Já a ameaça existencial foi configurada pelas guerrilhas e paramilitares, ou
seja, para o governo, assumindo seu papel de ator securitizador, a principal ameaça
a ser combatida era a existência desses grupos terroristas já que a soberania do
Estado e a autoridade governamental estava sendo existencialmente ameaçada por
eles (Buzan, Waever e Wilde, 1998).
O Ato Discursivo ou Speech Act é mais uma ferramenta securitizadora, de
comunicação unilateral entre o ator securitizador e a audiência, por meio dele são
apresentadas as ameaças existenciais para a sociedade, com o fim de esclarecer os
riscos que elas trazem para o Estado, com isso, o governo espera o convencimento e
consentimento da audiência para tomar iniciativas securitizadoras e/ou militarizadas
como no caso da Colômbia, para a eliminação das ameaças.

O processo de securitização é o que na teoria da linguagem é chamado de


ato de fala. Não é interessante como signo referente a algo mais real; é o
próprio enunciado que é o ato. Ao dizer as palavras, algo é feito (como
apostar, fazer uma promessa, nomear um navio)” (Wæver; Austin apud
Buzan, Waever e Wilde, 1998).

É por meio do Speech Act, que o ator securitizador esclarece qual é o objeto
referente, os atores securitizadores e os atores funcionais do assunto apresentado.

O ato discursivo é um elemento chave que está relacionado com a


necessidade de uma ação urgente frente à ameaça emergencial, centrando-
se em: a) objeto referente, considerado como ameaça existencial e que
necessita ser legitimado; b) atores securitizadores, que realizam a
securitização do objeto referente; c) atores funcionais, que afetam as
dinâmicas e influem nas decisões (SCHNEIDER E CASTELLANO apud
Buzan, Waever e Wilde, 1998).

Sendo assim, a agenda de segurança do governo Uribe centra-se em colocar


como objeto referente ao Estado, em detrimento das ameaças existenciais que
impactam diretamente a soberania estatal. Como atores securitizadores, Álvaro Uribe
Vélez junto ao ministério de defesa exercem o papel de securitização do Estado e no
73

que se refere a atores funcionais há uma grande influência e pressão dos Estados
Unidos, além das Forças Públicas. Por outro lado, existem também as ameaças
representadas pelos grupos terroristas e narcoterroristas que acabam direcionando o
tamanho das forças que foram utilizadas para o bloqueio dos mesmos (SCHNEIDER
E CASTELLANO, 2020).
Graficamente, o caso colombiano pode ser entendido da seguinte forma,
segundo a teoria do processo de securitização proposta pela Escola de Copenhague:

Figura 1 - Processo de Securitização do Governo Uribe

Fonte: Elaboração própria.

3.1 A DIRETIVA MINISTERIAL PERMANENTE NO 29/2005, OS ESQUADRÕES DA


MORTE E OS FALSOS POSITIVOS

Desde o início dos anos 80, existem decretos e diretivas que estabelecem o
pagamento de recompensas econômicas, em troca de informação às autoridades.
Estas recompensas eram principalmente fornecidas à população, com o fim de
estimular a colaboração com as autoridades e, certamente, o bloqueio do crescimento
de grupos insurgentes e o narcotráfico na Colômbia.
Durante os anos 1980, por exemplo, o governo colombiano ofereceu
recompensas significativas por informações que levassem à captura do líder do Cartel
de Medellín, Pablo Escobar. Assim, os jornais eram o principal meio de divulgação
dessas recompensas, um exemplo das divulgações foi o comunicado publicado em
15 de agosto de 1992 no jornal El Tiempo com a seguinte descrição:
74

Recompensa adicional oferecida por informações que levem à captura de


Escobar ao O Departamento de Estado dos Estados Unidos, com o apoio e
cooperação do Departamento de Justiça dos Estados Unidos, anunciou que
indivíduos que fornecerem informações que levem à prisão de Pablo Escobar
poderão receber recompensas de até dois milhões de dólares (EL TIEMPO,
1992, tradução nossa).

Segundo a reportagem, as informações que valeriam para o ganho dessas


recompensas, seriam apenas informações que resolvessem atos de terrorismo, que
levassem à prisão dos responsáveis do narcotráfico e/ou informações, que levassem
à prisão de grandes traficantes de drogas (EL TIEMPO, 1992, tradução nossa).
Após o oferecimento de tais recompensas, Pablo Escobar30 pode ser
capturado. Entretanto, ele fugiu da prisão, levando a incrementar o valor da
recompensa para 3.846.153 milhões de dólares na cotação de 1992. Desta vez, para
dar com o paradeiro do esconderijo em que ele supostamente estaria após a fuga.
Além da recompensa em dinheiro, o governo ofereceria realocação no exterior para a
proteção de quem colaborasse com as informações. Na figura abaixo, é possível
entender de que forma a divulgação era realizada:

Figura 2 - Cartaz de divulgação de recompensas por informações que


levassem à captura de Pablo Escobar

Fonte: Entérate Cali, 2017.

30 Narcotraficante e criador do Cartel de Medellín, na Colômbia.


75

Até a morte de Escobar em 1993, as recompensas apenas aumentaram,


chegando até 6,250 milhões de dólares em 2 de fevereiro de 1993, como divulgado
por reportagem publicada no jornal El Tiempo.
Na década de 2000, os programas de recompensas vieram fortemente com o
governo Uribe, ação já esperada desde a implementação da Política de Defesa e
Segurança Democrática. O primeiro programa foi implementado durante a Operação
Orion de 2002, e as recompensas eram dadas a quem oferecesse informações que
levassem à captura de membros de grupos paramilitares e guerrilheiros, que
controlassem a área da Comuna 13 em Medellín.
No entanto, o segundo programa de recompensas criado pelo governo Uribe,
e o mais forte, no que se refere a consequências injustas que envolveram a
população, foi o programa decretado a partir da Diretiva Ministerial Permanente
N°29/2005, assinada em 17 de novembro de 2005, pelo Governo Nacional e pelo
Ministério de Defesa.
A Diretiva Ministerial Permanente N°29/2005, foi criada com o fim de
desenvolver critérios para o pagamento de recompensas, pela captura ou morte em
combate de líderes de organizações armadas fora da lei, material de guerra,
comunicações ou informações sobre atividades relacionadas ao tráfico de drogas.
Assim como, o pagamento de informações que servissem de base para a continuação
do trabalho de inteligência, e posterior planejamento das operações (COLOMBIA,
2005, tradução nossa).
Os critérios de pagamento dependeram do tipo de material entregue e do cargo
dos corpos entregues ao exército, quanto maior o cargo, maior seria a recompensa
monetária dada aos soldados ou à base militar que os soldados faziam parte. A
Diretiva foi criada como forma de estabelecer um preço pela vida de um ser humano,
e a pior parte é que não apenas recompensas monetárias seriam oferecidas aos
soldados, mas também recompensas como dias de férias, intercâmbios e outras
motivações não monetárias que eram repartidas entre os comandantes de cada base
militar.
Abaixo, pode-se entender a definição dos critérios e o valor dos pagamentos
realizados, em função do cargo da pessoa entregue:
76

Quadro 10 - Critérios de valoração para o pagamento de recompensas por


chefes das organizações das OAML31 e Chefes do Narcotráfico com valores em
USD

Nível Vagas Montantes (até) Critérios de valoração


Os dirigentes máximos de cada OAML ou que, sem
serem do mais alto escalão, sejam publicamente
I Até 15 1.173.635,36 USD reconhecidos pelas atrocidades nas suas ações contra a
população civil e/ou por constituírem uma ameaça à
segurança nacional.
Chefes de estruturas maiores ou grupos responsáveis
pelo planejamento e coordenação do maior número de
ações terroristas de relevância nacional, especialmente
aquelas que afetam a infraestrutura econômica. Da
mesma forma, os responsáveis por crimes atrozes,
II Até 40 403.495,84 USD
atividades de narcotráfico, lavagem de dinheiro, tráfico
de material bélico e os terroristas que desde o exterior
realizam atividades em benefício das OAML,
especialmente em relação ao tráfico de material bélico,
financiamento e promoção do terrorismo na Colômbia.

Dirigentes de estruturas rurais e urbanas que realizam


atividades de planeamento, direção e execução de ações
terroristas a nível regional e responsáveis por atividades
relacionadas com finanças, tráfego de material bélico e
logística. (ii) Chefes das principais estruturas e grupos
responsáveis pelos cultivos ilegais, financiando,
planejando e coordenando o tráfico e comercialização de
III Indefinido 44.832,87 USD
drogas de relevância nacional e internacional. Da mesma
forma, os responsáveis pelo braço armado de
organizações de narcotráfico, lavagem de dinheiro,
tráfico de material bélico e os narcotraficantes que desde
o exterior realizam atividades em benefício das OAML,
especialmente em relação ao narcotráfico, material de
guerra, finanças e narcotráfico.

Chefes de estruturas rurais e urbanas que realizem


atividades de planejamento, direção e execução de
ações terroristas a nível local e os responsáveis por
atividades relacionadas com finanças, tráfico de material
bélico e logística, (ii) Administradores de cultivos ilícitos,
produtores, administradores de laboratórios e
IV Indefinido 16.139,83 USD
cristalizadores, processadores em laboratórios e
cristalizadores, comerciantes de produtos intermédios,
sujeitos dedicados ao transporte de produtos refinados,
responsáveis pela logística, pessoal de comunicação na
comercialização de medicamentos e organização do
transporte de drogas.

31 Organizaciones al Margen de la Ley (Organizações fora da lei).


77

Dirigentes e integrantes de guerrilhas, esquadrões ou


particulares responsáveis por desenvolver e/ou apoiar
ações terroristas em nível local, sequestros, extorsões,
V Indefinido 89.548,38 USD
roubos, atividades de inteligência, emboscadas,
perseguições, assaltos às populações, ataques a
instalações militares.
Fonte: Directiva Ministerial Permanente N°29/2005, tradução nossa.

Os valores pagos aos soldados, dependeria diretamente do grau de


importância que o chefe capturado teria, assim como, dos materiais de guerra.
78

Quadro 11 - Critérios para valoração do material de guerra com valores em


USD

Descrição Valor

Metralhadoras de 50 pontos Até $70.418,12 USD

Metralhadoras M-60 Até $46.945,41 USD

Morteiros de 120 mm Até $46.945,41 USD

Morteiros de 81 mm Até $35.209,06 USD

Morteiros de 60 mm Até $35.209,06 USD

MGL Múltiplo Lança-Granadas Até $35.209,06 USD

rifles Até $23.472,71 USD

Lançador de granadas RPG 7 Até $23.472,71 USD

metralhadoras Até $187,78 USD

Pistolas (Sem calibre imponente) Até $117,36 USD

Parafusos (mecanismos de disparo) Até $117,36 USD

Revólver Independente do calibre Até $49,29 USD

Granadas para Moriero Até $42,25 USD

Granadas para rifle Até $35,21 USD

Granadas para MGL 40mm Até $23,47 USD

granadas de mão Até $23,47 USD

carabinas Até $21,13 USD

espingardas Até $16,43 USD

changones Até $11,74 USD

sinalizadores $5,87 USD

Fornecedores para Long Gun $4,69 USD

silenciadores $4,23 USD

Fornecedores de metralhadoras $3,52 USD

Fornecedores para armas curtas $2,35 USD

baionetas $2,35 USD

Munição de Arma Longa Com limite


$0,23 USD
máximo de 200.000.000,00

Munição de arma curta com limite


$0,16 USD
máximo de $ 200.000.000,00
79

Fonte: Directiva Ministerial Permanente N°29/2005, tradução nossa.

Além dos critérios para captura dos chefes e dos materiais de guerra, a diretiva
também estabeleceu critérios para a valoração de material de intendência, material
de guerra especializado, material de comunicações, armas não convencionais e
explosivos, sistemas diversos como computadores, CDs e CPUs, veículos como
carros, motos e aeronaves, brancos aeronáuticos, narcotráfico e insumos químicos,
maquinaria industrial, instrumental para cirurgias e fármacos, mulas e cavalos. Todos
os itens entregues deveriam estar em ótimas condições para o recebimento integral
da recompensa.
Para o monitoramento dos resultados advindos a partir da Diretiva, o
documento estabeleceu a formação de um comitê de acompanhamento, que
gerenciaria os resultados e a efetividade do plano em termos de segurança nacional.
O comitê “Comitê Técnico de Acompanhamento” estaria dividido da seguinte forma:

Será dirigido pelo assessor designado pelo Ministro da Defesa Nacional e


será composto por um delegado da Divisão Administrativa e um analista do
J-2 do Comando Geral das Forças Militares, o chefe da divisão administrativa
da Inteligência Diretoria do Exército Nacional e um analista conforme o caso
a ser discutido; o chefe da divisão administrativa da JINA da Marinha Nacional
e um analista conforme o caso... a ser discutido; o chefe da divisão
administrativa do JIN da Força Aérea Colombiana e um analista conforme o
caso a ser discutido; dois funcionários da Polícia Nacional (DiPOL-DIJIN), um
analista do DAS e um analista do Corpo Técnico de Investigação da
Procuradoria-Geral da República (COLOMBIA, 2005, tradução nossa).

Dentre as funções designadas para o comitê estavam: se reunir mensalmente


para apresentar e avaliar os resultados, onde os delegados de cada base militar
forneceriam informações relacionadas às capturas realizadas e aos insurgentes
mortos em combate, assim como os cultivos de drogas detectados e bloqueados e às
recompensas tramitadas em troca de informações, realizadas no último mês. Essa
informação seria consolidada em um relatório de gestão do Ministério de Defesa
Nacional, do Comandante geral das Forças Armadas, Comandantes de Força, do
Diretor da Polícia Nacional e dos Diretores das Agências de Inteligência (COLOMBIA,
2005, tradução nossa).
O Comitê também encarregar-se-ia de elaborar listas de prioridades
secundárias, dos integrantes perfilados como possíveis substitutos dos insurgentes
capturados ou mortos em combate, assim como, orientar a divulgação do programa
80

de recompensas, revisar e aprovar por meio do Conselho Conjunto de Inteligência, as


recompensas nacionais ou em casos de operações realizadas no exterior
(COLOMBIA, 2005, tradução nossa).
No fim da Diretiva, consta um listado de instruções para as partes envolvidas.
O primeiro ponto, refere-se à modificação da lista dos integrantes dos grupos
insurgentes procurados, sendo que a mesma poderia ser mudada ou trocada sempre
que o Presidente da República e o Ministro de defesa, assim o considerassem
necessário.
Já o segundo ponto, determina quais recursos serão utilizados para o
pagamento de recompensas às bases militares, assim como, o pagamento por
informações que levassem à captura de algum ator insurgente. Com isso, determina-
se que os recursos para o pagamento das recompensas, proveria do Ministério da
Defesa e seria financiado com recursos da Nação e fundos da cooperação económica
nacional e internacional, sendo os Estados Unidos, um dos principais financiadores
para o combate à insurgência na Colômbia.
Por outro lado, o pagamento pelas informações seria pago com os recursos
provenientes das Diretorias de Inteligência das Forças Militares. Fazendo uma rápida
análise, os gastos militares anuais quase triplicaram desde o início da diretiva
ministerial, indo de $4.914,2 milhões de dólares em 2005, para $10.422,1 milhões de
dólares em 2010, último ano do governo Uribe (COLOMBIA, 2005, tradução nossa).
No listado de instruções, também consta que a validação dos insurgentes que
não se encontrassem no listado da Diretiva, passaria pela avaliação de um comitê
central de cada agência de inteligência, para decidir o montante e se, valeria o
pagamento de recompensa pela pessoa capturada ou morta em combate. Tanto a
validação quanto a recompensa, dependeram do nível em que o indivíduo se
encaixaria de acordo com o quadro 10. Para cada indivíduo nível II validado pelo
comitê central, deveria ser entregue em anexo um certificado do Conselho de
Inteligência Regional, que estabelecesse o nível ao que o indivíduo capturado ou
morto em combate, pertencera (COLOMBIA, 2005, tradução nossa).
No fim da Diretiva, o documento deixa clara a flexibilidade, e que todas as
regras e instruções estabelecidas pela Diretiva, poderiam ser adequadas segundo
cada organismo achasse necessário, abrindo assim uma ampla possibilidade de
corrupção e facilitando a modificação das regras do jogo. “Cada órgão de inteligência
das Forças Militares e da Polícia Nacional deverá adaptar as suas normas, diretivas
81

e manuais, de acordo com o disposto nesta Diretiva” (COLOMBIA, 2005, tradução


nossa).
Por fim, o que deveria ser uma ação securitizadora organizada, com o fim de
reduzir o narcotráfico e a atuação de grupos terroristas na Colômbia, tornou-se uma
ação de limpeza social nos anos seguintes.
A diretiva, visou estimular as ações securitizadoras realizadas pelas forças
armadas, com motivações econômicas, porém, por fatores culturais e falta de
monitoramento, esse estímulo econômico resultou em uma série de corrupções dentro
das bases militares, resultado em ganho de dinheiro em troca da entrega de falsos
resultados ao Ministério de Defesa. Sendo assim, as formas de burlar as regras para
as recompensas espalharam-se rapidamente entre as bases militares, criando os
comumente chamados “esquadrões da morte”. Os esquadrões foram grupos do
exército nacional que objetivavam, além de burlar as regras da diretiva, entregando
falsos resultados, realizar um tipo de limpeza social nas áreas rurais da Colômbia. Os
mesmos, trabalhavam matando civis, encenando combates e colocando-os em valas
comuns para serem entregues como terroristas mortos durante combates, dessa
forma, iniciou-se a onda de Falsos positivos na Colômbia.

3.2 OS FALSOS POSITIVOS E AS FALHAS NA POLÍTICA DE SEGURANÇA


DEMOCRÁTICA

Fazia mais de duas décadas que as desaparições forçadas eram um problema


na Colômbia, entretanto, essas desaparições eram atribuídas principalmente a grupos
terroristas, que extorquiram e sequestraram pessoas por motivações políticas, de
dívida ou de benefício próprio, como no caso das guerrilhas. Além do mais, essa
problemática foi mencionada por Uribe desde o início da sua campanha eleitoral para
a presidência da Colômbia, como um dos pontos focais no que concerne à
insegurança social na Colômbia e curiosamente, a mesma situação repetiu-se durante
seu governo. A única diferença é que dessa vez, os protagonistas da catástrofe
receberam premiações em troca e coincidentemente, foi a partir da primeira década
do século XXI, que as execuções extrajudiciais se tornaram massivas, atingindo o pico
entre 2006 e 2008, durante o governo do ex-presidente Álvaro Uribe Vélez. O
82

CCEEU32 assegurou que entre 2007 e 2008 uma pessoa foi assassinada diariamente
por agentes do Estado (RAMÍREZ, 2016, tradução nossa).
A catástrofe de desaparecimentos em massa, é conhecida como a Onda de
Falsos Positivos. Sendo o falso positivo, aquela pessoa civil assassinada e entregue
como terrorista morto em combate, utilizando-o em benefício próprio, em troca de
recompensas.
Os falsos positivos foram o maior efeito colateral da agenda de segurança do
governo Uribe, juntamente com as premissas colocadas na diretiva ministerial
permanente. O discurso do governo Uribe, desde o processo eleitoral, sustentava-se
nas necessidades de segurança que a população demandava na época de 2002, foi
um discurso político que prometeria a segurança nacional e social, além de colocar
como principal ameaça existencial os grupos terroristas, que de alguma forma,
implantaram o terror na nação e afetaram a soberania estatal. Da mesma forma,
durante os discursos do ex-presidente, era fácil deparar-se com dialetos que
desumanizavam esse inimigo interno e colocavam o fortalecimento das Forças
Militares, como a única forma de resolução do problema, fato que, manifestou-se
posteriormente nas políticas públicas durante os seus dois governos e nas ações
corruptas realizadas pelas Forças Militares, nos anos posteriores à Diretiva Ministerial
(CASTILLEJO, 2016). Por exemplo, no segundo discurso de posse, em 2006, Uribe
expôs que: “A conotação democrática da segurança, é um passo irreversível para
obter a paz. Reitero o nosso desejo de alcançar a paz, para a qual apenas pedimos
fatos” (Discurso de inauguração, 2006, tradução nossa). As falas que remetem a
“pedir fatos” ou em outras palavras, solicitar resultados, não começaram no segundo
discurso de posse, entretanto, com a Política de Defesa e Segurança Democrática e
o plano de ação, planteado pela diretiva ministerial, o ex-presidente já tinha construído
um caminho de resolução que estaria em plena atuação no ano de reeleição. O
discurso dado por Uribe, serviu como uma motivação maior para as Forças Armadas
e um símbolo de esperança para a população colombiana. A cobrança por resultados,
era constante.
Durante o mesmo discurso, Uribe,

Indica que a principal necessidade da democracia colombiana é a segurança


como prioridade: “A democracia moderna reconhece na segurança a primeira

32 Comissão Colombiana de Esclarecimento de Execuções Unilaterais e Sequestros.


83

das liberdades, que se legitima ao tornar possível o exercício das demais,


que acabam por conduzir à igualdade”. (Discurso de posse, 2006. P. 5) Isto
indica que a segurança é a prioridade do Estado e a ideologia ou núcleo do
discurso, implicando que não importaria se as liberdades fossem restringidas,
a segurança do território e dos cidadãos justificaria a ações das instituições
responsáveis por esta área (CASTILLEJO, 2016, tradução nossa).

Assim, a onda de falsos positivos foi à luz em 2008, 3 anos depois do início da
implementação da diretiva ministerial permanente N°29/2005. A revolta dos falsos
positivos, teve como pontapé inicial o caso de 16 jovens apresentados ao Exército
Nacional como milicianos das FARC, depois de terem sido mortos em combate e
enterrados como S.N33, em uma vala comum em Ocaña, Norte de Santander. Teve-
se entendimento do que estava acontecendo, a partir da reação dos familiares dos
jovens quando perceberam como se deram os fatos (CASTILLEJO, 2016, tradução
nossa). O caso, gerou indícios para o desenvolvimento das primeiras investigações
relacionadas ao assassinato de civis, por parte do exército.
As áreas rurais da Colômbia foram as mais afetadas pelos assassinatos de
inocentes, o modus operandi dos militares na maior parte das vezes era prometendo
uma vaga de emprego chamativa, para grupos de pessoas com maior chance de
aceitar. A promessa da vaga de emprego chamaria a atenção de jovens e adultos em
busca de dinheiro, sendo prometido transporte e um salário atraente. Após recolherem
os interessados, o motorista levá-los-ia até um campo ou um lugar distante, e os
militares apareceriam para matá-los. Os corpos eram recolhidos e vestidos de
guerrilheiros, colocavam armas por cima e encenavam um combate. Posteriormente,
os corpos eram enterrados em valas comuns, sem nome e nenhum tipo de
identificação. Após esses acontecimentos, várias famílias iriam investigar o paradeiro
de cada um dos assassinados, inclusive, existem casos de famílias que tiveram de
esperar durante anos, para saber o paradeiro dos seus entes queridos.
Um exemplo, é o caso de Doris Tejada,

Doris perdeu de vista seu filho Óscar Alexander, 26 anos, no final do ano de
2007, quando ele viajava de sua casa em Fusagasugá, a duas horas de
Bogotá, até a cidade fronteiriça de Cúcuta para trabalhar vendendo roupas.
O jovem tinha acabado de perder o emprego como ajudante de agrimensor e
investiu as economias em mercadorias para ajudar a família. A última vez que
Doris o ouviu foi no dia 31 de dezembro.
Mais de uma década depois, Doris e seu marido sabem que Óscar entra na
lista dos falsos positivos, como são conhecidas na Colômbia as vítimas de
execuções extrajudiciais por membros do exército que os fizeram passar por

33 Sem nome.
84

guerrilheiros na década de 2000. O caso de Óscar foi acatado no Jurisdição


Especial de Paz (JEP), tribunal encarregado de julgar os fatos do conflito
interno, no caso macro de falsos positivos (SUÁREZ, 2021, tradução nossa).

Em uma entrevista feita a Sujeito Um, relata casos ouvidos por colegas de
trabalho, enquanto trabalhava no departamento de Cesar, região caribenha ao norte
da Colômbia:

Bom, quando eu trabalhava no hospital, ouvi um dia que uma colega


enfermeira disse que tinham vindo procurar gente para trabalhar, rapazes
jovens. Um dos irmãos dela acabou indo e depois descobriram que era o
exército que estava coletando jovens para matá-los e fazê-los parecer
guerrilheiros. O exército do batalhão La Popa. Pegaram uns 7 jovens e os
fizeram desaparecer e depois disseram que eram uns guerrilheiros que
tinham matado e os apresentaram como guerrilheiros (UM, 2023, tradução
nossa. Informação verbal).

Outras formas de assassinar, era sequestrando um grupo de pessoas


aleatoriamente e matando-as. A Jurisdição Especial para a paz (JEP) realizou uma
entrevista em 2023 ao casal Luis Carlos y Luz Marina, pais de Duberney Galeano que
foi assassinado pelo exército nacional. Duberney foi sequestrado enquanto jogava
bilhar com seus amigos e alguns dos seus irmãos, foi levado para o alto da montanha
no bairro onde moravam e lá foi assassinado. As pessoas que ajudaram os pais de
Duberney a saber o que tinha acontecido, assim como as testemunhas que
visualizaram tudo que aconteceu, também foram mortas. No dia, além de Duberney,
todos os jovens que estavam jogando foram levados e assassinados. Duberney
deixou uma filha que posteriormente entrou no mundo das drogas e nunca mais saiu
da rua, uma esposa que começou a ficar doente após o ocorrido, além dos seus pais
e irmãos. O casal Luis Carlos y Luz Marina contam que não foi o primeiro filho que
perderam desse jeito, além disso, também relatam que Duberney foi levado para o
IML identificado como guerrilheiro morto em combate, sendo que o jovem nunca teve
ligação com a guerrilha e com nenhum grupo terrorista, o trabalho dele era dentro de
uma indústria de água sanitária.
Por outro lado, a JEP, no seu trabalho de investigar até o fim quem foram os
responsáveis pelas execuções ilegais e desmembrar todas as partes do plano, fez
audiências públicas de reconhecimento, onde vários militares deram seus relatos em
relação a como iniciou e qual foi o modus operandi das ações realizadas com respaldo
da diretiva N°29/2005. Em uma das oportunidades, um ex-militar relatou que os
operativos para entregar esses falsos resultados, eram orquestrados antes mesmo de
85

realizar os assassinatos e pede desculpa a um familiar presente na audiência, já que


o mesmo, teria assassinado seu parente durante os operativos da Diretiva. Nesta
ocasião, o ex-militar contou que esta pessoa teria saído de casa e enquanto estava
no mercado do bairro, foi sequestrado e posteriormente assassinado. Após o
assassinato, colocaram um rifle em cima do corpo e encenaram um combate. Um
ponto interessante é que este militar, reitera que as armas utilizadas para as
encenações eram compradas por eles mesmos, dos grupos paramilitares, logo em
seguida, justificou os fatos com o sentimento de pressão que os soldados sentiram
por parte dos superiores da base militar, “Eu executei, eu assassinei familiares das
pessoas que estão aqui, levando-os com mentiras e enganos, atirando neles,
assassinando-os cruelmente, covardemente. Colocar uma arma e dizer “um combate,
um guerrilheiro” (EL TIEMPO, 2022, tradução nossa). Curiosamente, todas as
confissões dadas pelos ex-militares, coincidem em que os assassinatos extrajudiciais
foram consequência da pressão por resultados, advinda dos comandantes de cada
base militar.
Além dessa questão, também houve uma pressão por resultados gerada por
discursos realizados por Uribe, e um incentivo reiterado desde o início da PDSD que
colocava como principal objetivo, acabar com os grupos terroristas, causando uma
grande onda de falsos resultados, somado ao mau caráter e à negligência de
beneficiarem-se das premiações em troca de mortes.
No que concerne às premiações recebidas pelos ex-militares, durante uma
audiência de reconhecimento em 2022, a JEP presenciou um dos relatos mais
tocantes ao longo do processo de nomeação de cargos. Um antigo militar da base
militar localizada em Valledupar, relata que os comandantes avisaram que se não
“dessem de baixa” alguém, a equipe não teria férias. Foi então que este militar,
decapitou o jovem indígena Ever de Jesús e após a entrega de resultados, a equipe
recebeu 20 dias de férias. Outras premiações resultaram em pagamento de valores
menores dos que acordados na diretiva, comida e aumento de cargos.
Nos últimos anos, diferentes declarações foram feitas por militares explicando
que muitos deles agiram sob pressão de altas patentes, isto é confirmado pelo major-
general Mario Montoya (2006-2008), investigado atualmente por 36% das baixas
reportadas pelo Exército e que garantiu em diversas ocasiões que “as baixas não são
o mais importante, são a única coisa” (RAMÍREZ, 2016, tradução nossa).
86

Essa pressão por resultados e as motivações econômicas, assim como as


premiações de benefício individual, levaram a uma relação entre o Exército Nacional
e os grupos paramilitares, que não resultaria apenas na comercialização de armas
para serem usadas durante a entrega dos falsos positivos, mas também como ajuda
para entregar mais resultados ao governo. Ramírez, conta a história de um dos
suboficiais do exército, que decidiu denunciar um dos incidentes ocorridos no ano de
2008 “o comandante da sua base, tinha "negócios" com grupos dissidentes dos
paramilitares que, em colaboração com membros do exército, trouxeram jovens de
outras cidades para Ocaña, para fazê-los passar por guerrilheiros mortos em
combate” (RAMÍREZ, 2016, tradução nossa).
A relação entre o Exército e os paramilitares, foi caracterizada por uma série
de dinâmicas complexas e colaborativas, como a colaboração tática para a
identificação de guerrilheiros, informações de inteligência divididas entre ambas as
partes e pôr fim à violência conjunta, que resultaria nos falsos positivos. Claramente,
nem todos os militares envolveram-se nesta relação, porém, a violação de direitos
humanos por parte daqueles envolvidos, deixou enormes cicatrizes na população
colombiana.
A responsabilidade dos falsos positivos, é atribuída a uma tentativa de
securitização falha. A Política de Defesa e Segurança Democrática, erra em vários
pontos, um deles é a falta de vistoria efetiva dentro das bases militares para garantir
resultados verdadeiros, por parte do comitê técnico de acompanhamento. Este ponto
é muito curioso, devido a que no fim da Diretiva Ministerial Permanente, consta um
amplo listado de instruções minuciosas para a execução do plano securitizador, que
inclusive, menciona a responsabilidade de monitoramento presente por parte do
presidente e do ministro de defesa. além disso, esse mesmo listado identifica cada
ator fora o presidente e o ministro de defesa, que se responsabilizaria pela vistoria
dos resultados, além da análise dos resultados entregues. Esta situação abre um
leque de possibilidades em relação à veracidade do posicionamento do Governo
Uribe, já que se coloca alheio à onda de falsos positivos:

Por outro lado, os falsos positivos não resultaram de quaisquer orientações


ou incentivos dados às forças militares durante o governo do Presidente
Uribe. A verdade é que desde o primeiro dia do seu governo e quando se
tratou de neutralizar qualquer ato criminoso, a política do Presidente Uribe foi
muito clara, priorizando a desmobilização sobre qualquer alternativa
disponível, depois as detenções e, apenas como último e inevitável recurso,
87

o combate às vítimas [...] NUNCA foram oferecidas recompensas aos


membros das Forças Armadas, muito menos às vítimas de combate. Nas
diferentes unidades da Força Pública colombiana sempre existiram, e claro,
muito antes do governo Uribe, esquemas de incentivos à força que consistiam
em autorizações de saída, mas nunca em remunerações financeiras e muito
menos baseadas em baixas de combate.
Também não podemos perder de vista que, no início do governo do
Presidente Uribe, a sua equipa no Ministério da Defesa lançou um rigoroso
protocolo de transparência e investigação, independente da própria Força
Pública, sempre que havia uma vítima em combate. Com efeito, o protocolo
estabelecia que, sempre que ocorresse uma vítima em combate, nenhum
membro da Força Pública poderia tocar no corpo, incluindo aqueles que
tivessem participado na operação.
O protocolo também exigia que a retirada do corpo fosse realizada in loco, de
forma que o local dos fatos não pudesse ser alterado. Graças a tudo isso, a
retirada de corpos após operações militares passou a ser realizada pelo CTI
do Ministério Público no local dos fatos e sem qualquer alteração (LEGADO
URIBE, 2022, tradução nossa).

Parece logicamente impossível, o Governo Uribe não ter ciência do que estava
acontecendo, em razão do processo burocrático envolvido para que as ações fossem
realizadas. Cabe ressaltar também que, não apenas os soldados teriam interesses
individuais ao matar falsos positivos e entregá-los como resultado do trabalho árduo
do Exército Nacional, porém, o Governo Uribe também teria seus próprios interesses,
especialmente devido à cobrança diplomática por parte dos países que estivessem
financiando essa Política, como os Estados Unidos. Além de tudo, a imagem
internacional que o país gerava nesse novo governo, também deveria ser impecável,
em relação à luta contra o terrorismo.
Não obstante, embora na última atualização de 2022 do site do ex-presidente,
mencione que o Governo Uribe não teve algum envolvimento com a onda de falsos
positivos,

Mais importante ainda, NÃO existe um único testemunho contra Álvaro Uribe
ou qualquer funcionário do seu governo que indique que foram dadas ordens
à Força Pública para assassinar civis para os fazer passar por vítimas de
combate em troca de recompensas.
Não há dúvida de que a narrativa que se tece sobre o presidente Uribe e os
falsos positivos é mais uma fábula daquelas que seus furiosos inimigos
teceram impunemente para denegri-lo, caluniá-lo e difamá-lo, buscando
vingança contra o homem que finalmente o encurralou. no caminho da
legalidade para todas as forças do narcotráfico e do terrorismo na Colômbia.
(LEGADO URIBE, 2022).

Em 2023, o ex-integrante das AUC, Salvatore Mancuso, relata que Uribe tinha
plena ciência do que estava acontecendo, além de apoiar a participação do
paramilitarismo no processo. Os relatos de Mancuso foram ouvidos durante
88

audiências de reconhecimento das vítimas dos homicídios, chamados de falsos


positivos. Nesta oportunidade, Mancuso explica que “Nas operações que realizamos,
se entregávamos as baixas dos guerrilheiros em combate ao Exército e, se eles
tivessem armas melhores, trocávamos pelas nossas armas” (EL PAÍS, 2023).
A desumanização adotada pelos protagonistas desse massacre, está refletida
nas palavras do ex-diretor do DAS que no relato realizado por Mancuso, explica que
o mesmo, disse aos paramilitares que “[...] Um ideólogo causa mais danos do que 100
guerrilheiros baleados” (EL PAÍS, 2023, tradução nossa). Mancuso, conta que
“Receberam esses relatórios como verdade incontestável. E isso automaticamente
transformou as pessoas em alvos militares e em pena de morte” (EL PAÍS, 2023,
tradução nossa). Da mesma forma, o entrevistado conta uma das formas de
abordagem para matar falsos positivos: “Eles nos deram listas e depois atacamos as
casas e matamos aqueles que identificaram como guerrilheiros” (EL PAÍS, 2023,
tradução nossa). Assim, os relatos de Mancuso corroboram, ainda mais, em relação
à ciência que o Governo Uribe teria sobre o que estava acontecendo. Torna-se
impossível e inacreditável o desconhecimento do que estava acontecendo, devido a
todos os procedimentos realizados para assassinar as pessoas inocentes. Foram 6
anos de falsos positivos, pagando uma conta injustamente.
Um dos pontos mais desconcertantes é que mesmo ao longo da tragédia, nos
discursos de Uribe ainda permaneciam as palavras encorajadoras do uso de força, e
a implementação de qualquer ferramenta necessária para acabar com o terrorismo.
No discurso realizado pelo então presidente, durante a cerimônia de promoção dos
oficiais de mais alta raiz da força pública, que aconteceu em dezembro de 2004, ele
fala sobre a necessidade de assumir riscos no momento de lutar contra os terroristas,
e os resultados provenientes das práticas militares, ao longo do seu mandato:

Que os meus compatriotas compreendam que o Governo não pode hesitar


quando se trata de definições arriscadas, que devemos primeiro enfrentar os
riscos antes de renunciar a princípios. Que devemos primeiro afirmar aqueles
que acreditam que a Colômbia precisa derrotar o terrorismo antes de sair
para apaziguar aqueles que querem que o rumo seja mudado, esperando
sem esperar que o terrorismo recupere o seu ímpeto.
Sem entrar em detalhes, apenas uma mensagem a toda a Nação: seja qual
for o risco que tenhamos que enfrentar, permaneceremos firmes nos
princípios, que é o que tem faltado ao povo colombiano, porque quando o
povo vir que não há firmeza na liderança, que a liderança oscila de um lado
para outro, que está buscando acomodação, então o povo não se sente
vinculado a uma nação com um futuro brilhante, perde-se o sentimento de
pertencimento, que é o vínculo que une um cidadão com o outro forma a
nação (ARCHIVO GENERAL, 2004, tradução nossa).
89

3.3 CONSIDERAÇÕES PARCIAIS

A agenda de segurança do governo Uribe certamente foi uma ótima ferramenta


eleitoral, que fez sentido durante sua campanha como candidato à presidência,
entretanto, embora a agenda de segurança tenha se consolidado em um documento
formal, que visava a defesa e democracia, não foi assim que terminou.
A chamada Política de Defesa e Segurança Democrática buscaria a priori
devolver a liberdade ao indivíduo, assim como ao governo, da forma mais limpa e
democrática possível. Portanto, se a busca pela democracia era tão importante, por
que as ações da agenda não foram condizentes com essa premissa? Quando se
promete uma solução democrática, espera-se uma série de ações humanizadas e
pacíficas para o bem estatal, principalmente que não condenem injustamente nenhum
inocente. Infelizmente, as tentativas de securitização voltadas para a militarização,
não foram a melhor escolha do governo Uribe para a eliminação do conflito. O que se
pode analisar da política Uribe, é uma série de tentativas parecidas com as dos
anteriores governos, focada principalmente na eliminação do conflito devido a
motivações subjetivas do governo, em razão do descontrole territorial, da economia
quanto à entrada e saída de armas ilegais, assim como do narco-dinheiro, disfarçada
de políticas sociais e democráticas, para o bem dos colombianos.
Como pode-se contar com a colaboração de um grupo de pessoas, que sabem
que a ajuda seria unilateral? No governo Uribe o terror na sociedade aumentou, desta
vez, não apenas pelos grupos insurgentes, mas pelas ações próprias dos organismos
de segurança nacional do país. A luta pelo terrorismo, teria virado uma luta contra eles
mesmos?
Não existe justificativa alguma para a onda de falsos positivos, nem pressão
internacional que amenize o peso dos civis mortos injustamente. A onda de falsos
positivos é de longe a maior massacre realizada por um governo colombiano, e até
hoje, Colômbia vive as consequências dessa agenda de segurança que não soube
gerenciar suas ações, mesmo tendo formalizado todas as linhas de ação que seriam
utilizadas para a eliminação do conflito armado. Os colombianos, que estavam
sofrendo nas mãos das guerrilhas e dos paramilitares, agora teriam um novo inimigo,
o Governo Nacional.
90

O Governo Uribe, securitizou a questão da violência gerada a partir do conflito


armado, entretanto, ele extrapolou os limites aceitáveis de securitização, indicando
assim uma securitização inadequada. A teoria da securitização da Escola de
Copenhague destaca a importância da construção discursiva da segurança. Se
determinadas questões são securitizadas de maneira inadequada, isso pode levar a
respostas desproporcionais e a uma ampliação do escopo das medidas de segurança,
muitas vezes à custa dos direitos e liberdades individuais. No governo Uribe, a
tentativa de securitização foi falha, o governo que durou oito anos deixou o país com
muita mais violência e insegurança do que já estava, que analisado sob a lente da
EDC, resultou em um fenômeno problemático nesse contexto.
Por fim, a Escola de Copenhague destaca a importância da dessecuritização,
que envolve reverter o processo de securitização inadequada. Isso implica retirar a
questão do discurso de segurança e abordá-la por meio de mecanismos políticos e
sociais convencionais. Esta movimentação poderá ser facilmente observada ao longo
da agenda do governo sucessor, com as tentativas de diálogo de paz como rota para
a criação da sua agenda de segurança.
91

4 O ACORDO DE PAZ DE SANTOS COMO MECANISMO DE JUSTIÇA E DE


REPARAÇÃO

Desde o início do surgimento dos grupos insurgentes na Colômbia, os governos


não descansaram para conseguir devolver a paz ao território colombiano. Esse
empenho foi motivado por inúmeras razões, sendo o crescimento econômico uma das
principais que motivaram essa busca incessante pela paz, assim como a estabilidade
política e a recuperação da soberania estatal e de controle territorial. Somado a esses
pontos, algo crucial que determinou as tentativas de pacificação foi o desrespeito aos
direitos humanos, problemática muito presente no país com as ações insurgentes, e
que levantou uma preocupação tanto no cenário nacional como no internacional. Com
isso, neste capítulo será possível posicionar-se quanto às tentativas formais de
pacificação, para garantir a segurança nacional, realizadas por parte dos governos em
negociação com as guerrilhas desde a metade do século XX. Assim, será realizada
uma comparação entre as ações pacificadoras dos governos do século XX e do
governo de Santos, com o fim de identificar as falhas e razões de não ter vingado um
acordo de total pacificação e eliminação do conflito armado, até o governo deste. Da
mesma forma, com o fim de entender os organismos criados para acolher as vítimas,
principalmente às que sofreram com a onda de falsos positivos, será analisada de que
forma foram implementadas as ferramentas para a criação deles, e qual foi a
importância deles para a pacificação no país.
As tentativas de alcançar um acordo de paz, junto aos grupos insurgentes,
tiveram início a partir da metade do século XX, com o Decreto de Anistia 1823 de 1954
realizado pelo então presidente, o comandante Gustavo Rojas Pinilla. Segundo o
Decreto, ele propôs no artigo 1º, que concederia:

[...] anistia para crimes políticos cometidos antes de 1º de janeiro deste ano
(1954) 34.
Para os efeitos deste Decreto, entende-se por crimes políticos todos aqueles
cometidos por cidadãos colombianos cujo motivo foi o ataque ao Governo, ou
que possa ser explicado por excesso de apoio ou adesão ao mesmo, ou por
aversão política ou sectarismo (JEP, 2022, tradução nossa).

Da mesma maneira, o Decreto propôs “perdão ao arguido condenado em pena


já executória pelos crimes indicados no artigo 1º” (JEP, 2022, tradução nossa). Em

34 Anotação nossa.
92

razão do Decreto, duas guerrilhas conseguiram deixar as armas, guerrilheiros do


“Llano” e um grupo significativo de liberais, especialmente “Los Limpios” (COMISIÓN,
2023, tradução nossa).
Após esse Decreto, apenas no fim do século XX mais tentativas de paz
surgiram, especificamente no governo de Belisario Betancur. A tentativa de Betancur,
foi marcada por meio de uma proposta de anistia que foi posteriormente aprovada
pelo Congresso em novembro de 1982. A partir disso, Betancur optou por criar a
“Comissão de Paz” em outubro de 1982 e a “Comissão de Negociação e Diálogo” em
julho de 1984, assim como uma “Comissão de Verificação” em maio de 1984. Todos
eles formados por grandes e variados grupos de pessoas de todos os partidos,
jornalistas, líderes sociais, padres etc. (COMISIÓN, 2022, tradução nossa).
Assim, a proposta de anistia de Betancur, foi sancionada por meio da Lei 35 de
1982, pela qual decreta-se que:

Quadro 12 - Artigos da Lei 35 de 1982

ARTIGO 1º: Concede-se anistia geral aos autores, cúmplices ou encobridores de fatos constitutivos
de crimes políticos cometidos antes da vigência da presente Lei.
ARTIGO 2º: Para os efeitos desta Lei, entende-se por crimes políticos aqueles tipificados no Código
Penal como rebelião, sedição ou motim, e os conexos a eles por terem sido cometidos para facilitá-
los, promovê-los, consumá-los ou ocultá-los.
ARTIGO 3º: Os homicídios fora de combate não serão abrangidos pela anistia, se foram cometidos
com crueldade ou colocando a vítima em situação de indefesa ou inferioridade, ou aproveitando-se
dessa situação.
ARTIGO 4º: As autoridades que, por qualquer motivo, estiverem conhecendo de processos por
crimes definidos no artigo 2º desta Lei, os enviarão imediatamente ao respectivo Tribunal Superior,
que decretará a cessação do procedimento por meio de auto interlocutório. Para a extinção da pena
dos condenados em sentença transitada em julgado, as autoridades em cujo poder se encontram os
expedientes procederão a enviá-los ao respectivo Tribunal Superior, que a decretará mediante auto
interlocutório e ordenará a libertação imediata do beneficiado. A decisão que conceda a anistia será
comunicada às autoridades a que se refere o artigo 705 do Código de Processo Penal. Os
processos por crimes excluídos da anistia continuarão seu curso normal.
ARTIGO 5º: Os beneficiados por esta Lei, a quem não tiver sido iniciado processo ou que estejam
em liberdade por qualquer motivo, não poderão ser chamados, requeridos ou investigados por
nenhuma autoridade.
ARTIGO 6º: Ficam resguardadas as indenizações por danos causados a particulares em razão dos
fatos objeto da presente anistia. O Estado não assume nenhuma responsabilidade a esse respeito.
ARTIGO 7º: O artigo 202 do Código Penal ficará assim redigido: "Fabricação e tráfico de armas e
munições de uso privativo das Forças Armadas. Aquele que, sem permissão de autoridade
competente, importar, fabricar, reparar, armazenar, conservar, adquirir, fornecer de qualquer título
ou portar armas ou munições de uso privativo das Forças Militares ou da Polícia, incorrerá em prisão
de dois (2) a cinco (5) anos".
93

ARTIGO 8º: Autoriza-se o Governo a fazer as alocações, transferências orçamentárias necessárias


e contratar empréstimos internos e externos para organizar e realizar programas de reabilitação,
fornecimento de terras, habitação rural, crédito, educação, saúde e criação de empregos, em
benefício daqueles que, em virtude da anistia concedida por esta Lei, se incorporarem à vida
pacífica, sob a proteção das instituições, assim como de todas as pessoas das regiões submetidas
ao confronto armado. Da mesma forma, para garantir a organização, fornecimento, meios e
elementos das Forças Armadas para realizar os programas de ação cívico-militar.
ARTIGO 9º: Para os efeitos da presente Lei e com o objetivo de habilitar a Polícia Nacional para
cumprir eficazmente suas funções, especialmente nas zonas agora afetadas pela subversão,
concede-se ao Presidente da República faculdades extraordinárias pelo prazo de um (1) ano para
reorganizar a Polícia Nacional, dotá-la e equipá-la dos meios necessários para garantir a segurança
de todas as pessoas residentes na Colômbia.

ARTIGO 10: Esta Lei entrará em vigor a partir da data de sua promulgação.
Fonte: SUIN, 1982, tradução nossa.

Com isso, por meio dos processos de securitização iniciados por Betancur, os
líderes das guerrilhas colombianas viram-se motivados a deixar as armas, um dos
principais interesses, foi justamente a possibilidade de anistia. Assim, uma das
primeiras tentativas de pacificação foi proposta pelo líder do grupo guerrilheiro M-19,
Jaime Bateman Cayón. Nesta tentativa, o líder estaria indo rumo ao Panamá em um
avião privado para elaborar uma proposta de paz junto ao governo colombiano,
entretanto, ela não foi possível devido a que o avião desapareceu do radar e foi
encontrado apenas um ano depois junto aos tripulantes, inclusive o corpo de Cayón.
Infelizmente, a proposta de paz com M-19 não teve sucesso devido a esse incidente,
causando assim a continuação do grupo insurgente no país (COMISIÓN, 2022,
tradução nossa).
Todavia, embora o cenário fosse de desesperança, não demorou muito para
iniciar os diálogos de paz com outros grupos guerrilheiros. Em 1985 foi assinado, por
meio da Comissão de Paz, o “Acordo de La Uribe”, que teve como objetivo a formação
política das FARC-EP, como mecanismo para minimizar as atuações terroristas
causadas pelo grupo. O acordo dividiu-se em 10 partes conforme o quadro abaixo:

Quadro 13 - Premissas do Acordo de La Uribe

1. As FARC-EP ordenarão o cessar-fogo e demais operações militares em as suas frentes no país a


partir do dia 28 de maio de 1984 às 00:00 horas, data que poderá ser adiada, no máximo, por dois
meses, se necessário. A ordem mencionada anteriormente será mantida indefinidamente se o senhor
Presidente da República, Dr. Belisario Betancur, responder a este gesto efetivo de paz com uma
ordem semelhante emitida a todas as autoridades civis e militares sob sua jurisdição, no momento
apropriado.
94

2. As FARC-EP condenarão e desautorizarão novamente o sequestro, a extorsão e o terrorismo em


todas as suas formas e contribuirão para que termine sua prática, como atentados que são contra a
liberdade e a dignidade humana.
3. A ordem do senhor Presidente da República será cumprida apenas em relação aos grupos e
pessoas que aceitarem e respeitarem essas bases e não infringirem a lei penal.
4. Uma Comissão Nacional e representativa das forças envolvidas nos confrontos, designada pelo
senhor Presidente da República, será encarregada da verificação de todas as disposições contidas
neste acordo, com o objetivo de consolidar o processo de pacificação. A Comissão criará
subcomissões em Florencia (Caquetá), Vista Hermosa (Meta), Barrancabermeja (Santander),
Saravena (Arauca), Santa Marta (Magdalena), Medellín (Antióquia), Neiva (Huila), Orito (Putumayo) e
Cali (Valle), e poderá se aconselhar com pessoas externas a ela para estudar, com sua contribuição,
nas regiões ou locais em que seus serviços sejam pertinentes, as queixas ou reclamações por fatos
que possam interferir no anseio nacional de paz e segurança. A Comissão funcionará pelo tempo que
for necessário e poderá estabelecer seus próprios regulamentos.
5. A Comissão Nacional de Verificação funcionará em Bogotá e se deslocará periodicamente para
realizar sessões, com plenas garantias de acesso e livre trânsito, em uma das seguintes localidades,
à escolha do senhor Presidente da República: a. San Juan de Arama, Granada e Vista Hermosa, no
Meta; b. San Vicente del Caguán, Caquetá; c. Colômbia, Huila; d. Dolores e Prado, Tolima; e. La Uribe,
Meta. O governo fornecerá à Comissão todos os elementos necessários de comunicação para o
melhor desempenho de suas funções e emitirá aos seus membros as credenciais indispensáveis para
garantir o livre trânsito e a segurança.
6. Quando, na opinião da Comissão de Verificação, os confrontos armados cessarem, será aberto um
período de teste ou espera de um (1) ano para que os membros do grupo até então denominado
Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC-EP) possam se organizar politicamente,
economicamente e socialmente, de acordo com sua livre decisão. O governo lhes concederá, de
acordo com a Constituição e as leis, as garantias e os estímulos pertinentes. Durante este mesmo
período, o governo tomará as medidas necessárias para restabelecer a normalidade civil nas áreas
de violência.
7. Os membros das FARC-EP poderão se beneficiar da lei 35 de 1982 e de decretos complementares,
quando preencherem as condições nela e neles estabelecidas. No Plano Nacional de Reabilitação, o
governo dará prioridade aos colombianos que sofreram, direta ou indiretamente, os estragos da
violência para o restabelecimento de direitos injustamente violados como consequência da
perturbação da ordem pública e da insegurança social.
8. A Comissão de Paz atesta que o governo tem uma ampla vontade de: a) Promover a modernização
das instituições políticas, visando enriquecer a vida democrática da nação, e insistir perante as
Câmaras na rápida tramitação dos projetos de reforma política, garantias à oposição, eleição popular
de prefeitos, reforma eleitoral, acesso adequado das forças políticas aos meios de informação,
controle político da atividade estatal, eficácia da administração da justiça, impulso ao processo de
melhoria da administração pública e novas iniciativas voltadas para fortalecer as funções
constitucionais do Estado e buscar a constante elevação da moral pública. b) Impulsionar
vigorosamente a aplicação de uma política de reforma agrária em reconhecimento de que os
problemas de terra estão presentes nos atuais conflitos sociais, e outras ações das agências do
Estado voltadas para ampliar permanentemente os serviços ao campesinato para melhorar a
qualidade de vida e a produção normal de alimentos e matérias-primas para a indústria, para o qual
dispõe do instrumento jurídico contido no artigo 32 da Constituição Nacional, que estabelece a direção
da economia pelo Estado. c) Fortalecer e facilitar a organização sindical, de usuários rurais e
indígenas, as associações cooperativas e sindicais, em favor dos trabalhadores urbanos e rurais, bem
como suas organizações políticas. d) Envidar esforços constantes para aumentar a educação em
todos os níveis, assim como a saúde, habitação e emprego. e) Manter sua indeclinável intenção de
que, para a proteção dos direitos consagrados em favor dos cidadãos pela Constituição e pelas leis e
para a conservação e restabelecimento da ordem pública, existem apenas as forças institucionais do
Estado, cujo profissionalismo e melhoria contínua dependem da tranquilidade cidadã. f) Promover,
uma vez estabelecida a paz, e assim como aconteceu em outras oportunidades, iniciativas para
fortalecer as melhores condições da fraternidade democrática, que requer perdão e esquecimento, e
o bem-estar econômico, político e social de todo o povo colombiano.
95

9. A Comissão de Paz estima que os enunciados anteriores apresentam um notável melhoramento


das condições objetivas para a ação política e eleitoral e reitera seu convite aos setores
comprometidos em ações perturbadoras da ordem pública para que se ajustem à normalidade e
apliquem seus talentos e prestígio à conquista da opinião pública por procedimentos democráticos e
pacíficos.
10. O presente acordo será válido em relação a qualquer outro grupo armado que expresse sua
decisão de aderir a ele, mediante manifestação de tal vontade feita ao governo por intermédio da
Comissão
Fonte: Peacemaker, 1984.

O acordo de paz, assim, foi uma negociação exitosa entre o governo Betancur
e as FARC-EP que trouxe benefícios para o país, motivando mais guerrilhas a se
desarmarem e implementando iniciativas políticas de paz que aproximaram os grupos
EPL, M-19 e ADO aos diálogos pacíficos.
Todavia, o acordo de La Uribe, teve fim no ano de 1986 após a desintegração
da Comissão de Paz, Diálogo e Verificação, marcando assim a continuação das ações
guerrilheiras por parte das FARC-EP (VERDAD ABIERTA, 2012). Um ponto digno de
nota, é que as FARC-EP, é a maior guerrilha existente na história colombiana, dessa
forma, carrega o peso da influência entre todas as guerrilhas do país. O caminho da
pacificação, assim como o caminho do terror seguido por esse grupo, determinaria os
seguintes passos dos outros. Por esse motivo, um acordo de paz entre o governo e
as FARC-EP, seria tão importante para o país, não só pela influência e motivação que
poderia gerar nas outras, mas pela capacidade e alcance do grupo, assim como pela
extensão do território ocupado por eles e pelo crescimento do narcotráfico ligado à
guerrilha, dentre outros aspectos voltados para a insegurança social.
Os processos de pacificação implementados por Betancur, certamente abriram
uma porta com múltiplas possibilidades e esperanças para o país, devido à linha de
diálogo conectada a partir do acordo de La Uribe. Após o fim do acordo, os próximos
processos de paz aconteceram entre 1990 e 1991, durante os governos de Virgilio
Barco Vargas e César Gaviria do Partido Liberal. Os governos, conseguiram iniciar o
processo de paz com os grupos M-19, EPL, PRT35 e MAQL36, tendo como marco
jurídico a Lei 77 de 1989. Com a Lei, o Presidente da República, fica habilitado a
conceder indultos e os casos de cessação de processos penais e de emissão de
medidas cautelares, seriam regulados no desenvolvimento da política de
reconciliação (CAMARA, 1989, tradução nossa). Na Lei, o Congresso decretou:

35 PRT- Partido Revolucionario de los Trabajadores.


36 MAQL - Movimiento Armado Quintin Lame.
96

Quadro 14 - Artigos da Lei 77 de 1989

ARTIGO 1º: Autoriza-se o Presidente da República a conceder indultos aos nacionais colombianos de
acordo com as regras estabelecidas na presente Lei.
ARTIGO 2º: O indulto a que se refere esta Lei beneficiará os nacionais colombianos autores ou
cúmplices de fatos constitutivos de crimes políticos cometidos antes da vigência da presente Lei.
ARTIGO 3º: Para os efeitos desta Lei, entendem-se por crimes políticos aqueles tipificados no Código
Penal como rebelião, sedição e motim, e os delitos conexos a estes.
ARTIGO 4º: O indulto será concedido em cada caso particular uma vez cumpridas as condições
estabelecidas nesta Lei, quando, a critério do Governo Nacional, a organização rebelde da qual fazem
parte aqueles que o solicitam tenha demonstrado inequivocamente sua vontade de reintegrar-se à
vida civil. Igualmente, o indulto poderá ser concedido à pessoa ou pessoas que, fora da organização
rebelde da qual faz ou fez parte, o solicitem e, a critério do Governo Nacional, tenham demonstrado
sua vontade de reintegrar-se à vida civil.
ARTIGO 5º: A demonstração definitiva da vontade de reintegração à vida civil implica, por parte da
respectiva organização rebelde e de seus membros, a renúncia às armas nos termos da política de
reconciliação. O Governo avaliará tal conduta para efeitos da concessão dos benefícios estabelecidos
nesta Lei.
ARTIGO 6º: O indulto não se aplicará a homicídios cometidos fora de combate, com crueldade, ou
colocando a vítima em estado de indefesa, nem a atos de ferocidade ou barbaridade. Também não
se aplicará àqueles que façam parte de organizações terroristas.
ARTIGO 7º: O benefício de indulto deve ser solicitado pelo interessado, diretamente ou por meio de
procurador, por escrito dirigido ao Ministério da Justiça dentro dos seis (6) meses seguintes à data de
promulgação da presente Lei. A solicitação deverá ser resolvida dentro dos dois (2) meses seguintes.
ARTIGO 8º: O indulto será concedido por resolução executiva assinada pelo Presidente da República
e pelos Ministros do Governo e da Justiça. Uma cópia desta resolução será enviada ao Juiz ou
Tribunal que detém o respectivo processo.
ARTIGO 9º: O interessado poderá solicitar o estabelecimento da conexão referida no artigo 3º desta
Lei, se ela não tiver sido declarada na sentença ou considerada no processo em curso, levando em
consideração: a) as provas que constam no respectivo processo; b) as certificações emitidas para o
efeito pelas autoridades competentes; c) qualquer outra informação considerada pertinente e anexada
à solicitação.
ARTIGO 10: Será concedido o benefício de cessação de procedimento àqueles que estiverem sendo
processados por fatos que possam constituir os delitos referidos no artigo 3º desta Lei, com as
exceções previstas no artigo 6º e em relação aos quais não tenha sido proferida sentença
condenatória. Para tanto, é necessário que o solicitante faça parte ou tenha feito parte de uma
organização rebelde que tenha cumprido as condições estabelecidas nos artigos 4º e 5º. O Governo
estabelecerá as condições que permitam verificar que aqueles que solicitam o benefício de cessação
de procedimento fazem parte da respectiva organização rebelde.
ARTIGO 11: As autoridades que, por qualquer motivo, estejam conhecendo de processos por delitos
definidos no artigo 3º desta Lei, os enviarão imediatamente ao respectivo Tribunal Superior do Distrito
Judicial ou ao Tribunal Superior de Ordem Pública, conforme o caso, para que, no prazo de sete (7)
dias úteis, decidam de ofício sobre a cessação de procedimento. O auto que negar a cessação de
procedimento será passível de recurso perante a Sala de Cassação Penal da Corte Suprema de
Justiça, de acordo com o disposto no Código de Processo Penal.
ARTIGO 12: Quando houver conhecimento por parte de qualquer Juiz de fatos que possam constituir
os delitos a que se refere o artigo 3º desta Lei, com as exceções previstas no artigo 6º, ele se abstendo
de iniciar o processo e deverá proferir a correspondente decisão de arquivamento se aqueles que se
beneficiam com essa providência cumprirem as condições estabelecidas no artigo 10º da presente Lei
para a concessão da cessação de procedimento. A abstenção de aplicar o auto de arquivamento nas
circunstâncias anteriores será passível de recurso perante a Sala Penal do correspondente Tribunal
Superior ou perante o Tribunal Superior de Ordem Pública, conforme o caso, de acordo com o disposto
no Código de Processo Penal.
97

ARTIGO 13: O indulto, a cessação de procedimento e o auto de arquivamento previstos nesta Lei só
poderão ser concedidos ou proferidos em relação a fatos ocorridos antes da vigência da presente Lei.
Os processos por delitos excluídos dos benefícios referidos continuarão seu curso normal.
ARTIGO 14: As pessoas beneficiadas com o indulto, a cessação de procedimento ou o auto de
arquivamento, decretados em decorrência desta Lei, não poderão ser processadas ou julgadas pelos
mesmos fatos que originaram sua concessão.
ARTIGO 15: As pessoas que estiverem privadas de liberdade pelos delitos a que se refere o artigo 3º
da presente Lei e que sejam beneficiárias dela, deverão ser postas em liberdade, cumpridos os
trâmites de rigor, de forma imediata.
ARTIGO 16: Cabe ao Procurador Geral da Nação, por si ou por meio de seus agentes, verificar em
cada caso a aplicação das disposições estabelecidas na presente Lei.
Fonte: Camara, 1989, tradução nossa.

Além da Lei 77 de 1989, foi determinado o Decreto 213 de 1991 assinado pelo
então presidente Gaviria, como mais um mecanismo para estabelecer condições para
o indulto e a cessação de processos, dos integrantes dos grupos guerrilheiros
(PERAFÁN, 2012).
Após esses processos de pacificação, durante o seguinte governo de Ernesto
Samper, as tentativas de negociação com as guerrilhas foram quase nulas. Esse não-
posicionamento teria deixado os colombianos à espera de um próximo governo com
uma posição diferente quanto às guerrilhas na Colômbia, assim como em relação aos
problemas sociais, incluindo a insegurança social vivida. Sendo assim, no governo
seguinte, assumido por Andrés Pastrana Arango, foram reiniciados os diálogos de paz
com as FARC-EP. O Processo de Paz de Caguán iniciou em 1999 e teve fim em 2002,
entretanto, ele resultou falho pois durante as negociações, o conflito se intensificou,
gerando assim um desgaste no processo e tornando-se insustentável no início de
2002. O processo, teve as seguintes características:

A negociação avançou em meio ao confronto militar (com exceção da zona


de liberação); Foi definida a “Agenda Comum para a mudança para uma nova
Colômbia”, que incluiu temas como emprego, direitos humanos, política
agrária, recursos naturais, modelo de desenvolvimento económico e social, a
reforma da justiça e do Estado, relações internacionais, entre outros; Foram
realizadas “audiências públicas”, transmitidas pela televisão, nas quais mais
de 25.000 delegados e em que propostas de diferentes grupos e setores
sociais; Representantes de governos europeus e americanos participaram
como observadores e facilitadores (INDEPAZ, 2012).

Apesar dos esforços pela paz, a dimensão militar do conflito saiu de controle.
Inicialmente, as condições políticas eram favoráveis ao longo dos diálogos, entretanto,
ao mesmo tempo que o governo buscava encerrar exitosamente o acordo de paz, o
paramilitarismo expandia-se, as Forças Militares tornavam-se mais complexas, e as
98

FARC-EP subordinavam o aspecto político ao militar. Em apenas três anos, o país


que buscava inicialmente a paz, mudou seu foco para unir-se contra a violência e
optou por combater militarmente o terrorismo implantado pelos grupos guerrilheiros
(COMISIÓN, 2023, tradução nossa).
Em seguida, com a chegada do próximo governo assumido por Álvaro Uribe,
iniciou mais uma tentativa de diálogo com grupos insurgentes, como mencionado nos
capítulos anteriores, ela teve sucesso e conseguiu a dissolução do grupo paramilitar
AUC. Entretanto, o governo manteria o caráter militarizado para continuar combatendo
os grupos insurgentes, inclusive dentro dos organismos de segurança. Um exemplo
disso foi a onda de falsos positivos e o aumento da insegurança social deixada por
esse governo.
Por fim, o governo liberal de Juan Manuel Santos, sucessor do governo Uribe,
também manteria o foco nos diálogos de paz com os grupos insurgentes. Iniciando no
ano de 2010 e finalizando em 2018, Santos comandou o país durante dois mandatos.
O governo de Santos focou muito na segurança nacional por meio da solução do
conflito armado e das consequências atreladas a ele, dessa forma, era comum ver o
ex-presidente fazendo uma série de movimentações para iniciar os diálogos com os
grupos insurgentes, e poder trazer a paz para o país.
A primeira ação de reconhecimento do conflito armado, foi realizada em 2011,
por meio da Lei 1448 de 2011 “Lei de Vítimas”, que teve por objetivo abordar questões
e reconhecer as vítimas do conflito armado na Colômbia, fornecendo reparação,
assistência e restituição de terras às vítimas do conflito.

O objetivo desta lei é estabelecer um conjunto de medidas judiciais,


administrativas, sociais e económicas, individuais e coletivas, em benefício
das vítimas das violações previstas no artigo 3º 37 desta lei, no quadro da
justiça transicional, que permitam tornar efetivo o gozo dos seus direitos à
verdade, justiça e reparação com garantia de não repetição, para que a sua
condição de vítima seja reconhecida e dignificada através da materialização
dos seus direitos constitucionais (Lei nº 1448/2011).

A Lei decreta todas as medidas de proteção para as vítimas, assim como todos
os direitos que cobriam elas durante o processo de reconhecimento. De igual maneira,

37VÍTIMAS. São consideradas vítimas, para os efeitos desta lei, aquelas pessoas que, individual ou
coletivamente, tenham sofrido danos devido a acontecimentos ocorridos após 1º de janeiro de 1985,
em consequência de violações do Direito Internacional Humanitário ou de violações graves e
manifestas das normas. Direitos Humanos internacionais, ocorridos durante o conflito armado interno
(Lei nº 1448/2011).
99

a Lei cria a Comissão Nacional de Reparação e Reconciliação (CNRR), para


coordenar e supervisionar a implementação das medidas de reparação das vítimas.
A criação da Lei, no início do mandato de Santos, foi crucial para o
reconhecimento de que de fato estaria ocorrendo um conflito armado no país. O
reconhecimento das vítimas foi um passo humanizado e primordial do governo, uma
ação que não teria sido uma real prioridade nas tentativas de pacificação e de
securitização dos governos anteriores.
Com isso, as negociações de paz com o fim de encerrar décadas do conflito,
iniciaram em março de 2012, entre as FARC-EP e o governo Santos, tendo como
anfitriã das negociações Havana, Cuba, no mês de setembro. Nessa oportunidade,
as partes conversaram sobre as possíveis soluções do conflito e pontuaram os
elementos a serem postos no acordo de paz. Em seguida, em 31 de julho do mesmo
ano, seria aprovado o Ato legislativo 01/2012, O “Marco Jurídico Para a Paz”. O Ato,
foi uma iniciativa com o fim de fornecer condições legais para a negociação do acordo
de paz, entre o governo e os grupos armados, principalmente as FARC-EP, sendo o
principal foco devido ao diálogo anteriormente estabelecido em Cuba. As condições
legais seriam enquadradas por meio da inclusão de um novo artigo na Constituição
Política da Colômbia, o Artigo 66° e o Artigo 67º:

Artigo Transitório 66°: Os instrumentos de justiça transitória serão


excepcionais e terão como finalidade prevalente facilitar a terminação do
conflito armado interno e a conquista da paz estável e duradoura, com
garantias de não repetição e segurança para todos os colombianos; e
garantirão, no maior nível possível, os direitos das vítimas à verdade, justiça
e reparação. Uma Lei estatutária poderá autorizar que, no âmbito de um
acordo de paz, seja concedido tratamento diferenciado para os diferentes
grupos armados à margem da lei que tenham sido parte no conflito armado
interno e também para os agentes do Estado, em relação à sua participação
no mesmo.
Por meio de uma Lei estatutária, serão estabelecidos instrumentos de justiça
transitória de caráter judicial ou extrajudicial que permitam garantir os
deveres estatais de investigação e sanção. Em qualquer caso, serão
aplicados mecanismos de caráter extrajudicial para o esclarecimento da
verdade e a reparação das vítimas. Uma Lei deverá criar uma Comissão da
Verdade e definir seu objeto, composição, atribuições e funções. O mandato
da comissão poderá incluir a formulação de recomendações para a aplicação
dos instrumentos de justiça transitória, incluindo a aplicação dos critérios de
seleção.
[...] Artigo Transitório 67°. Uma Lei estatutária regulará quais serão os crimes
considerados conexos ao crime político para efeitos da possibilidade de
participação política. Não poderão ser considerados conexos ao crime
político os crimes que adquiram a conotação de crimes de lesa humanidade
e genocídio cometidos de maneira sistemática, e consequentemente não
poderão participar na política nem ser eleitos aqueles que tenham sido
condenados e selecionados por estes crimes (Ato legislativo nº 01/2012).
100

A aprovação do Marco Jurídico para a Paz, foi determinante para os próximos


passos do processo de paz, já que após a aprovação, o Governo Nacional e as FARC-
EP assinaram em agosto de 2012, o Acordo Geral de Determinação do Conflito e a
Construção de Uma Paz Duradoura, que serviu como bússola para consolidar as
negociações entre as partes. O Acordo foi assinado em Cuba e especificou as
premissas que guiaram o Acordo Final de Paz mais tarde, dividindo os pontos da
seguinte forma:

Quadro 15 - Pontos de negociação determinados no Acordo Geral de


Determinação do Conflito e a Construção de uma Paz Duradoura

1. Acesso e Uso da Terra: Inclui a utilização de terras improdutivas,


a formalização da propriedade, o manejo da fronteira agrícola e a
proteção de áreas de reserva.
A política de desenvolvimento
2. Programas de Desenvolvimento com Foco Territorial
agrário integral é crucial para
3. Infraestrutura e Adaptação de Terras
impulsionar a integração das
4. Desenvolvimento Social: Compreende ações nas áreas de saúde,
regiões e promover o
educação, moradia e erradicação da pobreza.
desenvolvimento social e
5. Estímulo à Produção Agropecuária e à Economia Solidária e
econômico equitativo do país.
Cooperativa: Envolve assistência técnica, subsídios, crédito,
geração de renda, marketing e formalização do trabalho.
6. Sistema de Segurança Alimentar
1. Garantia de direitos e condições para o exercício da oposição
política, incluindo novos movimentos após a assinatura do Acordo
Final e acesso aos meios de comunicação.
Participação Política 2. Mecanismos democráticos de participação cidadã, incluindo a
participação direta em diferentes níveis e temas.
3. Medidas para promover maior participação política de todos os
setores, com igualdade de condições e garantias de segurança.
1. Cessação bilateral e definitiva do fogo e hostilidades.
2. Entrega das armas e reintegração das FARC-EP à vida civil,
abrangendo aspectos econômicos, sociais e políticos.
3. Revisão da situação legal de pessoas ligadas às FARC-EP.
4. Combate intensificado contra organizações criminosas, incluindo
Fim do Conflito luta contra corrupção e impunidade.
5. Reformas institucionais para enfrentar os desafios da construção
da paz.
6. Garantias de segurança.
7. Esclarecimento do fenômeno do paramilitarismo, conforme
estabelecido no Ponto 5 (Vítimas) do acordo.
1. Programas de substituição de cultivos ilícitos e planos de
Solução para o Problema das
desenvolvimento com participação comunitária.
Drogas Ilícitas
2. Programas de prevenção do consumo e saúde pública.

Vítimas 1. Enfoque nos direitos humanos das vítimas.


2. Busca pela verdade.
101

1. Implementação dos pontos acordados.


2. Mecanismos de implementação e verificação, com ênfase nas
regiões.
Implementação, Verificação e 3. Comissões de acompanhamento e verificação.
Referendo 4. Mecanismos de resolução de diferenças.
5. Acompanhamento internacional.
6. Cronograma, orçamento, ferramentas de comunicação e
mecanismo de referendo dos acordos.
Fonte: Acuerdo general para la terminación del conflicto y la construcción de una paz estable
y duradera, 2012, tradução nossa.

A partir do acordo, foram agendadas mesas de negociação entre o governo e


as FARC-EP, para viabilizar cada um dos pontos especificados no mesmo. Com isso,
em 27 de maio de 2013, as delegações de paz anunciaram desde Cuba, o primeiro
logro que determinou o êxito do primeiro ponto contemplado. Um acordo parcial
referente ao primeiro ponto da agenda de negociação teria sido fechado:
Desenvolvimento Agrícola Integral.
Enquanto o segundo ponto da agenda não era discutido, já estava sendo
pensado de que forma seria realizada a votação do “Plebiscito Pela Paz”, que seria a
priori, a ferramenta utilizada para democratizar o processo de paz. Sendo assim, a
população poderia votar ‘sim ou não’ à pergunta: “Você apoia o acordo final para
acabar com o conflito e construir uma paz estável e duradoura?”. Com isso, o projeto
de lei, então, seria criado em agosto de 2013, entretanto, ele foi assinado apenas em
2015, próximo à data de votação. O mesmo, teve como objeto que:

O Presidente da República, com a assinatura de todos os Ministros, poderá


submeter à consideração do povo, políticas, disposições e questões
necessárias à implementação de um Acordo Final para a cessação do conflito
armado, através de um plebiscito pela paz. O Presidente deverá informar o
Congresso da sua intenção de convocar este plebiscito e da data em que
será realizada a votação, que não poderá ser anterior a um mês nem posterior
a quatro meses, contados a partir da data em que o Congresso receber o
relatório do Presidente (Projeto de Lei Estatutária/2015).

Passaram-se seis meses para que as negociações entre o governo e as FARC-


EP tivessem mais uma atualização, sendo esta feita em novembro de 2013. Nessa
oportunidade, as delegações de paz teriam chegado em mais um acordo parcial em
relação ao segundo ponto da agenda de negociação, “Participação Política.” Depois
disso, o próximo acordo parcial foi assinado em 16 de maio de 2014, encerrando
assim as negociações do quarto ponto da agenda de negociação “Cultivos Ilícitos”.
102

Até ter outra atualização em relação aos pontos de negociação, foram formadas
mais delegações para atuar nas mesas de negociação, além disso, Santos seria
reeleito em 15 de junho de 2014, desta vez com uma campanha completamente
focada em finalizar as negociações e firmar o acordo final.
Em 16 de novembro de 2014, as FARC-EP acabaram realizando uma série de
ações terroristas como sequestrar o General do Exército Nacional Rubén Darío Alzate,
acarretando assim na suspensão dos diálogos de paz, durante catorze dias. Ademais,
atentaram também contra uma base militar, causando a morte de 11 soldados, em
abril de 2015. Após essas ações, as negociações passaram pelo seu momento mais
conturbado, causando a possibilidade de pausar os diálogos com o grupo guerrilheiro
(IDEAS, 2023, tradução nossa).
Embora o cenário fosse difícil, o governo Santos não desistiu dos diálogos,
dessa forma, em 11 de setembro de 2015, às delegações de paz conseguiram
alcançar um acordo parcial em relação ao ponto de justiça transicional da premissa
“Vítimas”, da agenda de negociações. O anúncio desse passo foi realizado desde La
Habana, onde participou o então presidente Juan Manuel Santos e o líder das FARC-
EP, Timoleón Jiménez. Em 15 de dezembro de 2015, foram finalizadas as
negociações da premissa “Vítimas”.
Aproximando-se do fim das negociações, em 23 de junho de 2016, o então
presidente e o líder do grupo guerrilheiro, anunciaram o cesse ao fogo e de
hostilidades bilateral de forma definitiva, além das características da entrega de armas
e de garantias de segurança. Já em 24 de agosto do mesmo ano, o acordo final estaria
pronto para a assinatura de Santos e do líder das FARC-EP, Timoleón Jiménez,
completando assim em 26 de setembro de 2016, a assinatura por ambas as partes,
do Acordo Final para a finalização do conflito e a construção de uma paz estável e
duradoura (IDEAS, 2023).
Embora a assinatura do Acordo Final tenha sido feita, a população ainda
precisaria votar pela implementação do Acordo, por meio de um plebiscito para
endossar os acordos de paz com as FARC. O plebiscito teve uma campanha intensa
de informação para que a população pudesse ter plena ciência do que estaria sendo
acordado, essa campanha levantou múltiplas preocupações nos colombianos em
relação à justiça transicional, a participação política das FARC-EP no país e a
possibilidade de impunidade para os ex-guerrilheiros. Certamente, a posição de
escolha fora complicada, principalmente para as famílias e indivíduos que sofreram
103

de perto as consequências da guerra. Ver os responsáveis do conflito sendo


“perdoados” pelo Estado não foi fácil, entretanto, o dilema devido a que essa seria
provavelmente a única forma de finalizar o conflito armado do país e finalmente chegar
na tão esperada paz, dividiria a população durante as votações.
O resultado do plebiscito foi surpreendente, já que em 2 de outubro de 2016, a
opção "Não" obteve uma estreita vitória, com 50,2% dos votos, enquanto o "Sim"
recebeu 49,8%. O resultado das votações gerou incertezas quanto ao futuro do
processo de paz, devido a toda a força colocada para o sucesso do Acordo, por parte
do Governo e de todos os atores políticos. Entretanto, embora o resultado fosse ‘Não’,
Santos manteve o cessar-fogo bilateral e propôs o diálogo com todas as forças
políticas do país (IDEAS, 2023, tradução nossa). Durante o processo de renegociação
para a ratificação pelo Congresso, o governo e as FARC-EP retomaram os diálogos,
com o fim de realizar ajustes nos pontos mais controversos do acordo, ouvindo as
demandas e preocupações de vários setores da sociedade e políticos. Assim, após
os reajustes, as mudanças no Acordo foram enviadas ao Congresso para aprovação
e ele foi exitosamente ratificado, em dezembro de 2016.
O Acordo de paz em si, foi um dos maiores passos quanto à segurança nacional
na Colômbia, garantindo uma ação nunca realizada, por nenhum governo do país. O
sucesso do acordo trouxe múltiplas esperanças para aqueles que mais sofreram com
o conflito armado, assim como, para a continuação da luta contra os grupos
insurgentes. Cada ponto do acordo foi acordado com o fim de beneficiar
principalmente a população colombiana, uma ação muito diferente em comparação
com as tentativas de pacificação dos governos anteriores.
Com toda certeza, ter incluído no acordo um ponto voltado unicamente para a
observação das vítimas do conflito, foi crucial não apenas para as vítimas de
sequestros, deslocamentos forçados, furtos de terrenos e extorsão, mas também para
o reconhecimento de cada um dos indivíduos que foram colocados como falsos
positivos durante a Diretiva Ministerial Permanente no governo Uribe.
O ponto das vítimas foi definido como um “Acordo sobre as Vítimas do Conflito:
“Sistema Abrangente da Verdade, da Justiça, da Reparação e da Não Repetição”,
esse sistema propôs a criação de organismos para acolher e fazer justiça em relação
às vítimas do conflito, sendo a Jurisdição Especial para a Paz (JEP) a principal.

4.1 A JURISDIÇÃO ESPECIAL PARA A PAZ E A COMISSÃO DA VERDADE


104

Com o início do Acordo de Paz, o Estado tinha um grande compromisso com a


população colombiana, principalmente com aquelas que viveram na pele as
consequências do conflito. Devido a isso, foi acordado no Acordo Sobre as Vítimas do
Conflito, que as FARC-EP comparecessem perante uma jurisdição especial de paz,
onde os responsáveis pelos crimes mais graves, reconheceriam sua responsabilidade
pelos danos causados no conflito, condenando a quem não reconhecesse, a até 20
anos de prisão comum.
Um dos principais pontos estimuladores para que ocorresse a desmobilização
das FARC-EP, seria a isenção de cargos para cada integrante, entretanto, para isso
o grupo guerrilheiro comprometer-se-ia a contribuir para o esclarecimento da verdade
em espaços como a Comissão da Verdade e Unidade Especial, para a busca de
pessoas dadas como desaparecidas devido ao conflito armado. Assim como a
participar em ações de reparação, como a reconstrução de infraestruturas,
desminagem territorial e a erradicação das plantações ilícitas.
Estes compromissos não valeriam apenas para a função de se redimir, em
relação aos crimes realizados pelas FARC-EP, mas também para:

(...) (ii) Agentes do Estado que cometeram crimes no contexto e devido ao


conflito armado; e (iii) pessoas que, sem fazerem parte de organizações ou
grupos armados, participaram indiretamente (financiadores ou
colaboradores) no conflito armado e foram responsáveis pela prática dos
crimes mais graves e representativos (COLOMBIA, 2016, tradução nossa).

O Acordo que visa o reconhecimento das vítimas, criara um sistema de


mecanismos e medidas judiciais e extrajudiciais para compor o Sistema, como: A
Comissão para o Esclarecimento da Verdade, Convivência e Não Repetição que
atuaria como um mecanismo imparcial e independente de carácter temporário e
extrajudicial, com abordagem territorial. Esta comissão, procuraria contribuir para a
satisfação dos direitos das vítimas e da sociedade como um todo, tendo como objetivo
principal esclarecer os padrões de violência durante o conflito armado, como forma de
contribuição para a busca da verdade (COLOMBIA, 2016, tradução nossa).
Igualmente, o Sistema seria composto também por uma Unidade de Busca de
Pessoas Dadas como Desaparecidas, encarregada de “estabelecer, na medida do
possível, o que aconteceu às pessoas dadas como desaparecidas no contexto e
105

devido ao conflito armado e, desta forma, contribuir para satisfazer os direitos das
vítimas à verdade e à reparação integral” (COLOMBIA, 2016, tradução nossa).
Mais um mecanismo do Sistema, criado a partir do Acordo, seria o foco desta
terceira parte do capítulo, A Jurisdição Especial para a Paz. Com isso, em 2019 foi
criada a Lei 1957, a Lei Estatutária JEP que traria um esquema normativo completo,
onde destacam-se as funções de cada membro da JEP, e de cada órgão que
integraria a Jurisdição. Também ficaram estabelecidas as diferentes áreas
administrativa, de apoio e legal. A lei também determina a logística de ação da JEP,
organizada entre salas, sessões de audiência e uma unidade de investigação e
acusação.
As salas seriam divididas entre a sala de reconhecimento da verdade,
responsabilidade e determinação dos feitos e condutas, a sala de definição de
situações jurídicas e a sala de anistias ou indulto.
A JEP, sendo mais um dos componentes de justiça do Sistema Integral, foi
criada basicamente com o intuito de ser uma jurisdição que procura, acima de tudo, o
direito à justiça em relação aos crimes realizados durante o conflito armado.
A JEP, seria composta por magistrados colombianos que após receber os
culpados e analisar cada caso, concederiam anistias e indultos para crimes políticos
e relacionados ao conflito armado colombiano. Com exceção de crimes enquadrados
no documento como “Crimes contra a humanidade”:

Genocídio, crimes de guerra graves, tomada de reféns ou outras privações


graves de liberdade, tais como o rapto de civis, a tortura, as execuções
extrajudiciais, o desaparecimento forçado, o conhecimento carnal violento e
outras formas de violência sexual, a deslocação forçada e o recrutamento de
menores de acordo com as disposições do Estatuto de Roma (COLOMBIA,
2016, tradução nossa).

Para completar o Sistema, foram criadas também 8 medidas de reparação


integral, devido aos crimes e calamidades geradas devido ao conflito armado, as
medidas seriam as seguintes:

Atos precoces de reconhecimento da responsabilidade coletiva; Ações


concretas para contribuir para a reparação por meio de danos; Fortalecer
processos de reparação coletivos e articulação com programas de
desenvolvimento; Expansão e fortalecimento das estratégias de reabilitação
psicossocial a nível individual e comunitário; Implementação de processos
coletivos para retorno de pessoas em situação de deslocamento e
fortalecimento da reparação das vítimas no estrangeiro; Fortalecimento dos
processos de restituição de terras; Adaptação e fortalecimento participativo
106

da política de atenção e reparação abrangente às vítimas; Compromisso das


FARC em contribuir para uma reparação abrangente, incluindo a reparação
de materiais, entendida pelo Governo como a entrega de mercadorias e/ou
dinheiro (COLOMBIA, 2016, tradução nossa).

Com o Acordo de Paz, Colômbia inaugurou um feito que teve como produto um
prêmio Nobel dado ao ex-presidente Juan Manuel Santos, pois foi o primeiro país no
mundo que conseguiu estabelecer um acordo bilateral entre um governo e um grupo
armado ilegal. Além disso, também foi o primeiro a criar “um sistema de
responsabilização perante um tribunal nacional para investigar, julgar e punir condutas
cometidas no contexto e devido ao conflito armado, especialmente os crimes mais
graves e representativos” (COLOMBIA, 2016, tradução nossa).
Embora a catástrofe de falsos positivos tenha saído à luz em 2008, foi apenas
em 2019 que o Estado consolidou uma estrutura de punição forte que se encarregara
não apenas do caso dos falsos positivos, mas também de todos os casos que
deixaram vítimas em razão do conflito armado, ao longo da história colombiana. A
Jurisdição Especial para a Paz (JEP), chegaria com o intuito de fazer cumprir os
seguintes objetivos:

O fim das FARC como movimento armado: entregarão todas suas armas e
retornarão à vida civil; O fim dos sequestros, extorsões e hostilidades contra
a população e as forças públicas por parte deste grupo; Satisfação dos
direitos das vítimas à verdade, justiça e reparo; Uma área rural pacífica com
oportunidades de desenvolvimento legais e reais econômico, sem tráfico de
drogas; O fortalecimento da democracia e das instituições do Estado no
território nacional; Uma luta mais eficaz contra organizações criminosas
(COLOMBIA, 2016, tradução nossa).

No que se refere às sessões, a lei reconheceu sessões como: a sessão de


reconhecimento da verdade, responsabilidade e determinação dos feitos e condutas,
a sessão de não reconhecimento da verdade, responsabilidade e determinação dos
feitos e condutas, a sessão de revisão de sentenças e a sessão de apelação. Além
desses espaços, a lei também determinou espaços de escuta às vítimas e aos
familiares das vítimas. Além disso, a lei determinou 5 grandes critérios de priorização
e seleção. A gravidade dos feitos, a representatividade dos feitos, as características
diferenciais das vítimas, os responsáveis e a disponibilidade probatória (JEP, 2019,
tradução nossa).
A JEP abriu um total de 10 casos de investigação. O primeiro caso “01 Tomada
de reféns, privação grave de liberdade e outros crimes simultâneos cometidos pelas
107

FARC-EP”, refere-se aos casos de sequestro realizados pelas FARC-EP ao longo do


conflito, um dos exemplos mais conhecidos é o caso de Ingrid Betancourt,
mencionado anteriormente, onde foram reconhecidas 3.422 vítimas dos sequestros
por parte do grupo e 3.235 responsáveis pelo crime, passaram pela JEP.
Já o caso “02 Prioriza a situação territorial de Ricaurte, Tumaco e Barbacoas
(Nariño)”, assim como, prioriza as violações de direitos humanos e as violações do
DIH, sendo as principais vítimas os povos indígenas, comunidades negras, afro-
colombianos, camponeses, mulheres e pessoas LGBTI nos municípios de Tumaco,
Ricaurte e Barbacoas, no departamento de Nariño. Foram reconhecidas 105.241
vítimas até a contagem de setembro de 2023.
Da mesma forma, o caso “03 Assassinatos e desaparecimentos forçados
apresentados como vítimas de combate por agentes do Estado” refere-se aos Falsos
Positivos. Nas investigações constam que até setembro de 2023 foram reconhecidos
2.428 falsos positivos entre 2002 e 2008.

Figura 3 - Falsos positivos entre 2002 e 2008

Fonte: JEP.

O caso “04 Situação territorial da região de Urabá”, refere-se às violações de


direitos humanos ocorridas na região de Urabá, sendo estas ao redor de 1000
violações, que iriam contra o direito internacional dos direitos humanos e direito
internacional humanitário. Já foram identificadas 45.358 vítimas.
108

O caso “05 Prioriza a situação territorial na região norte do Cauca e sul do Valle
del Cauca”, é mais um dos casos territoriais de extrema violação de direitos humanos
regionais. Já foram reconhecidas 365.967 vítimas.
O sexto caso “06 Vitimização de membros da União Patriótica”, reconhece
5.733 pessoas que foram assassinadas ou desapareceram em ataques dirigidos
contra o partido político União Patriótica, entre 1984 e 2016, 4.616 foram vítimas de
homicídio, 1.117 foram desaparecidos à força e 2.217 vítimas relatadas de
deslocamento forçado (JEP, 2023).
O sétimo caso “07 Recrutamento e utilização de meninas e meninos em
conflitos armados”, faz uma investigação referente às crianças utilizadas pelas FARC-
EP durante o conflito armado, até setembro de 2023 foram identificadas 3.765 vítimas,
entretanto, foram 18.677 as crianças utilizadas pelas FARC-EP.
Já o oitavo caso, “08 crimes cometidos por forças públicas, agentes estatais
em associação com grupos paramilitares ou terceiros civis no conflito armado”, iniciou
a partir dos ataques contra a população civil sob a justificativa de políticas ou discursos
de contra insurgência; crimes praticados com o objetivo de favorecer interesses
económicos, nomeadamente, relacionados com o território e crimes cometidos com o
objetivo de estabelecer, manter ou recuperar o controlo da força pública entre 1997 y
1999. Já foram identificados 2.840 responsáveis submetidos à JEP (JEP, 2023,
tradução nossa).
O caso “09 Crimes não anistiados cometidos contra povos e territórios étnicos
no âmbito do conflito armado colombiano”, busca investigar crimes cometidos contra
povos e territórios étnicos durante o conflito armado, onde já foram reconhecidas
365.967 vítimas identificadas em quatro regiões do país.
Por último, o caso “10 Crimes não anistiados cometidos pelas extintas FARC-
EP no âmbito do conflito armado colombiano”, procura determinar os crimes não
anistiados e violações graves do Direito Internacional Humanitário, como homicídios
de pessoas protegidas, desaparecimentos forçados, deslocamentos forçados,
violência sexual e utilização de meios e métodos de guerra ilícitos, cometidos pelas
FARC-EP durante o conflito armado. Das quais, 54.000 vítimas foram deslocadas à
força pelas FARC-EP; 50.100 pessoas foram vítimas de meios e métodos de guerra
ilícitos utilizados pelas FARC-EP; 2.300 vítimas de violência sexual atribuível às
FARC-EP; 5.720 vítimas sofreram ataques das Farc-EP como pessoas protegidas;
29.700 vítimas de atos de terrorismo das FARC-EP (JEP, 2023, tradução nossa).
109

Enquanto a JEP atua como mecanismo jurídico de execução das atividades


realizadas, a favor das vítimas, a Comissão da Verdade atuaria de mãos dadas,
investigando e esclarecendo graves violações dos direitos humanos ocorridas durante
o conflito armado interno no país. A Comissão, busca a verdade sobre os eventos que
resultaram em violações de direitos humanos, crimes de guerra e crimes contra a
humanidade, e foi criada a partir do acordo.
Por meio de testemunhos e evidências, a Comissão coleta informações
importantes para as investigações, realizando estudos de campo, examinando
documentos e outras evidências relacionadas a cada caso especificado pela JEP. A
atuação da Comissão, é sumamente importante para a plena honestidade quanto aos
processos de investigação e para o êxito de cada caso. Além do seu papel de apoio,
a comissão cria relatórios públicos e acessíveis à população em relação às suas
investigações, sendo essenciais para a compreensão histórica do conflito e para a
responsabilização dos atores culpados.
A criação da Comissão da Verdade faz parte dos esforços mais amplos de
justiça transicional na Colômbia, para lidar com as consequências do conflito armado
e promover a reconciliação nacional, assim como, a não repetição dos atos cometidos
ao longo de mais de 50 anos de conflito armado. Essa abordagem busca equilibrar a
responsabilização por crimes graves, com medidas destinadas a construir uma paz
duradoura, principal objetivo do Acordo de Paz.

4.2 CONSIDERAÇÕES PARCIAIS

Após a onda de tentativas de pacificação e securitização inadequadas, o


governo Santos abordou de forma diferente o conflito armado interno, Santos buscou
dessecuritizar a questão, tratando-a como uma ameaça à segurança nacional que
exigia uma solução negociada e não militarizada, ponto principal que se destaca em
comparação ao governo Uribe. A busca por um acordo de paz com as FARC, foi uma
tentativa de securitizar o conflito armado, entretanto, o Governo Santos transformou-
o de uma questão puramente militar para uma questão que exigia uma abordagem
política e diplomática, revertendo assim, o discurso de segurança de Uribe.
O processo de negociação foi lento, porém contínuo, entretanto, esteve longe
de ser linear. Algumas ações realizadas pelas FARC-EP ao longo do processo,
colocaram em risco a continuidade das negociações.
110

Um dos pontos dignos de nota, foi o logro de conseguir a transformação das


FARC-EP em Ator Político, já que o governo buscou incluir a guerrilha no sistema
político, securitizando o processo de transição para a vida civil. Particularmente, a
integração na vida civil era um dos pontos mais difíceis do Acordo, devido a que muitos
dos integrantes do grupo, estariam nele desde seu nascimento. Mudar a rotina de vida
e na maioria das vezes, o campo pela cidade, não foi nada fácil.
O plebiscito de 2016, que inicialmente rejeitou o acordo de paz, evidenciou
resistências à securitização proposta pelo governo. Isso demonstra que a percepção
de segurança e a aceitação da securitização, podem variar entre diferentes setores
da sociedade. Além disso, evidencia a desconfiança e desesperança implantada pelos
governos anteriores, o apoio da população tornara-se difícil após os cenários de terror
trazidos pela onda de falsos positivos e pela securitização inadequada do governo
Uribe.
Da mesma forma, as instituições consolidadas a partir do acordo, foram cruciais
para atender os interesses das áreas da sociedade que recusaram a implementação
do Acordo Final no plebiscito. Essas nuances trazidas a partir da opinião popular,
caracterizava maioritariamente o impasse de que os guerrilheiros não pagassem pelos
seus crimes. Devido a isso, a implementação da Jurisdição Especial para a Paz, assim
como, da Comissão da Verdade, conseguiu trazer a justiça demandada pelos
colombianos.
Por fim, as investigações por parte da JEP, em relação aos crimes e vítimas do
conflito armado, continuam ainda em 2023, e cada vez mais o número de vítimas
aumenta. As sessões de audiência de reconhecimento de vítimas e de crimes, estão
sendo ainda de grande ajuda para a identificação dos culpados.
Quanto às investigações de Falsos Positivos, o número de vítimas também
continua aumentado, devido a que depois de tantos anos, tende a ser difícil o
reconhecimento de cada uma das vítimas, muito pela dificuldade que concerne a
logística de desenterrar e reconhecer corpos enterrados em valas comuns,
obstaculizando ainda mais o processo de reconhecimento.
111

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

No início da pesquisa, constatou-se a necessidade de investigar os


procedimentos realizados que resultaram na onda de falsos positivos na Colômbia,
por isso, a pesquisa relacionada aos atores envolvidos, assim como às ações
securitizadoras desenvolvidas, que levaram a cabo os massacres de civis no país, era
digno de estudo.
Diante disso, a pesquisa teve como objetivo geral identificar de que forma a
tentativa de securitização inadequada criada pelo governo Uribe, por meio da Política
de Defesa e Segurança Democrática, influenciou no surgimento de falsos positivos na
Colômbia, tendo como suporte analítico a Teoria de Securitização proposta pela
Escola de Copenhague. Assim como, verificar de que forma a transformação da
abordagem dessecuritizadora do governo Santos, se consolidou em boas ações que
tiveram como resultado o Acordo final de Paz entre o Governo Santos e as FARC-EP.
Dessa forma, o trabalho conseguiu verificar que a onda de falsos positivos foi de fato
acarretada devido à má gestão da agenda de segurança do governo Uribe, e quais
foram as consequências dela, para a sociedade colombiana.
Já o primeiro objetivo específico inicial, foi apurar declarações em audiências
mediadas pela JEP, de ex-soldados e ex-paramilitares para verificar a relação entre a
Política de Defesa e Segurança Democrática e os falsos positivos
O segundo objetivo específico, teve a finalidade de verificar relatos e dados de
vítimas que viveram as consequências das atuações dos Esquadrões da Morte, para
comprovar as implicações na segurança social, causadas a partir dessa problemática.
Assim como, no terceiro objetivo específico, identificar-se-ia de que forma a
violência causada pelo conflito armado, estimulou a criação da agenda de segurança
do governo Uribe e como essa tentativa de securitização levou aos falsos positivos.
A pesquisa partiu da hipótese de que a securitização do governo Uribe,
consolidada na Política de Defesa e Segurança Democrática, foi inadequada. Por isso,
resultaria em uma onda de insegurança social, principalmente nos falsos positivos.
Durante o trabalho, verificou-se que de fato, as ações securitizadoras e militarizadas
do governo Uribe, além de não terem sido humanizadas, acarretou a piora do
problema da violência no país.
O pilar da diferença entre ambos os governos, foi que enquanto o Governo
Uribe securitizou a violência causada pelo terrorismo, o Governo Santos
112

dessecuritizou o conflito armado. Essa transformação, deu espaço para observar cada
um dos problemas gerados a partir do conflito como um todo, assim como enxergar
as necessidades e demandas dos colombianos quanto ao conflito.
Quanto à metodologia, foi utilizado o método de abordagem dedutivo-
hipotético, usando a Teoria de Securitização criada pela Escola de Copenhague, com
o fim de identificar de que modo se deu a influência da agenda de segurança do
Governo Uribe, no surgimento de falsos positivos. Em primeira instância, identificou-
se como se formou o processo de securitização caracterizando as três categorias
operacionais, propostas pela EDC: “1) objetos referentes; (2) agente securitizador; (3)
atores funcionais.” (CORDEIRO E PEREIRA, 2019).
Quanto ao método de procedimento, a pesquisa foi embasada em dados
empíricos utilizando documentos oficiais do governo colombiano, como a Diretiva
Ministerial Permanente assinada pelo Ministro de Defesa no ano de 2005, e a Política
de Defesa e Segurança Democrática ratificada pelo Governo Uribe. Da mesma forma,
por meio de documentos oficiais das leis e decretos advindos dos processos de paz,
foi possível demonstrar as diferenças das securitizações do Governo Uribe e Santos
e os resultados de ambas as agendas de segurança. Como forma de corroborar com
a hipótese central da pesquisa, foram colocadas algumas declarações e entrevistas
que confessam os crimes realizados a partir da Diretiva Ministerial Permanente, dadas
por ex-soldados e ex-paramilitares, para a JEP, em audiência pública. Além das
entrevistas feitas a vítimas do conflito armado, realizadas pela autora e relatos já
existentes obtidos pela JEP.
Por fim, é importante ressaltar que algumas áreas do país continuaram
enfrentando desafios de segurança, mesmo após o fim do governo Santos.
Destacando assim, as complexidades e desafios na aplicação da teoria de
securitização na prática.
113

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124

APÊNDICE A – ENTREVISTA COM SUJEITO 1

Sujeito 1: Buenas tardes, mi nombre es Fulana de Tal.


Soy desplazada de Colombia, soy migrante porque desde el año 1995, los
grupos paramilitares al margen de la ley dieron muerte a mi compañero, era un
docente, Fulano de Tal. Dedicado a defender los derechos de los docentes y del
campesinado, en fin. Lo amenazaron y como no se fue, no pudo irse, le dieron muerte
el 20 de febrero del año 95.
A raíz de eso, pues me tocó salir del pueblo donde vivíamos, Pailitas, Cesar y
me fui a vivir con mis 4 hijos a Valledupar, la capital del Cesar. Ahí estuve un buen
rato trabajando como auxiliar de enfermería, siempre sufriendo las amenazas y
dándole frente a la situación, le di la educación a mis hijos y terminé siendo también
amenazada por los grupos paramilitares. A raíz de todo lo que ocurrió pues les dieron
captura a mis hijos, tengo 2 hijos presos allá en Bogotá, Colombia. Ya en vista de todo
lo que ha ocurrido me tocó migrar, estoy acá en Brasil por todo lo que me ocurrió.
Entrevistadora: Y cómo eran esas amenazas? ¿Eran por llamada o por
mensajes? A usted y a sus hijos…
Sujeito 1: Cartas y unos sufragios, los que usan para dar pésame a los
familiares cuando fallece una persona.
Entrevistadora: ¿Esas cosas le llegaban a su casa?
Sujeito 1: Sí, en Pailitas, Cesar.
Entrevistadora: ¿Y después cuando fueron para Valledupar, siguieron las
amenazas por parte de los paramilitares?
Sujeito 1: No, ellos me dijeron: “si no se mete en nada, no le haremos nada”
Entrevistadora: Ok. ¿Como era la cuestión de falsos positivos en la región en
donde vivía antes del desplazo?
Sujeito 1: Es que eso no lo viví yo
Entrevistadora: ¿Pero se acuerda de alguna familia o amigos que lo hayan
vivido? Alguien de la misma región.
Sujeito 1: Con nombres no
Bueno, cuando yo trabajaba en el hospital, ahí escuché un día que una
compañera de trabajo enfermera, dijo que habían llegado buscando gente para
trabajar, hombres jóvenes y un hermano de ella fue y resulta que era el ejército que
estaba recolectando jóvenes para matarlos y hacerlos aparecer como guerrilleros. El
125

ejército del batallón La Popa. De ahí se llevaron como 7 jóvenes y los desaparecieron
y luego dijeron que eran un poco de guerrilleros que habían abatido y los presentaron
como guerrilleros, pero pues yo nunca estuve cerca si no que mi compañera nos contó
que era lo que le había ocurrido y cuando llamaron la gente a declarar que era lo que
había pasado algunas personas iban a Barranquilla, cerca de Valledupar y en el
camino los paramilitares bajaron y mataron también a otro poco de gente, familiares
de los que estaban ahí.
Entrevistadora: ¿Eso fue en Valledupar, cierto?
Sujeito 1: Si.
126

APÊNDICE B – ENTREVISTA COM SUJEITO 2

Entrevistadora: Buen día, espero que estés muy bien.


Acá están las preguntas para que me las vallas respondiendo cuando tengas
un tiempo:
1. Cuénteme quién es usted y cuál fue el motivo de su desplazamiento.
2. ¿Cómo su familia se vio afectada por la guerra en Colombia?
3. ¿Cómo era la cuestión de falsos positivos en la región en donde vivía antes
del desplazo?
3.1 ¿Conoce a alguna familia que haya pasado por la situación de falsos
positivos?
4. ¿Existe alguna anécdota de alguna situación en que te hayas sentido
amenazado/a por paramilitares?
Sujeito 2: Vale mana, en el transcurso de la semana te voy respondiendo
Entrevistadora: Vale.
Sujeito 2: Hola Mana que pena la demora, pero bueno, hagámosle pues. Sobre
la primera pregunta, quién soy yo, pues bueno yo soy Fulano de Tal, nací en Samaná,
Caldas que es un pueblito al oriente de Caldas, región paisa, productora de café. Pero
pues no viví en el pueblito, vivía muy muy lejos del pueblo. Literalmente muy muy lejos
y había que coger un carrito y estas chivas y escaleras y después caminar un montón
o ir de mula o caballo, en fin. El motivo del desplazamiento no fue algo así como
directo que nos hubieran sacado así a plomo, esto como ocurrió en otros casos, pero
bueno el motivo es básicamente que donde vivíamos pues siempre hubo estos grupos
al margen de la ley, no? Las FARC y la guerrilla, pero pues no se metían con la gente
y si les hacían pagar lo que se llamaba “Vacunas”, se le llamaba cunas a quienes
tenían ganado, que no éramos nosotros pues porque nosotros no teníamos tierra
nuestra, nosotros teníamos bueno una tierra pequeñita que nos dio el abuelo, pero
pues era muy pequeña y vivíamos cuidándoles fincas a otros. Y entonces empezó a
llegar el ejército, y cuando llegó el ejército ahí si se “agarraban” donde fuera. Entonces
empezaron a haber episodios como dejar de ir a la escuela y en el campo el tiroteo y
tenerse que esconder, pero lo que más fue el detonante para salir es la desaparición
de 3 chicos de la vereda. no? De la escuela inclusive, desaparecieron así, todo el
mundo sabía que era que se los habían llevado a la guerra y no se sabe quién, ¿no?
entonces como que un día desaparecían o un grupo al margen de la ley por esto del
127

ejército iba y se los llevaba y si los papás no dejaban amenazaban a los papás
entonces mis papás al ver esa situación de una vez nos fuimos entonces el motivo del
desplazamiento fue más para protegernos a nosotros porque en ese yo tenía 11 años
y mi hermano 10, creo. Entonces estábamos como en una edad que era donde
agarraban a los chicos para eso, y teníamos mi hermana de 8 y la chiquita recién
nacida, tenía 2 o 3 meses, ¿no? Éramos los 4, mi papá y mi mamá.
Sujeito 2: Bueno y como mi familia se vio afectada pues en todos los sentidos,
porque primero esta tierra pequeña que teníamos se perdió, el caballo, todo lo que
teníamos se perdió. Y es muy curioso porque hoy si volvemos a esa región es tierra
de una hidroeléctrica, ¿no? O sea, ni siquiera hay posibilidad de restitución de las
tierras, entonces uno piensa también bueno, por que ocurrió todo eso y qué mano
hubo del gobierno ahí, ¿no? Y pues nos vimos re afectados porque nosotros llegamos
a mitad de año a Bogotá, sin conocer a nadie entonces pues nos instalamos en la
periferia de Bogotá, en los morros entonces es como empezar a tener todo lo que, los
problemas que tiene el morro, a vivir como las periferias de Bogotá. Llegamos a mitad
de año y no encontramos cupo en la escuela entonces fue un año en que no
estudiamos, y pues la informalidad y todo lo demás. Y pues llegar a la ciudad ahí,
Bogotá no es como muy acogedor así con la gente del campo entonces si fue como
tenso, fue… y pues te afecta porque empiezas de cero sin papás que no… Solo mi
mamá terminó la primaria, mi papá no, entonces cómo trabajar en lo que hay, ¿pagar
cuenta de 4 chinos no? todos pequeños. Entonces pues ya te imaginas de ahí pal
frente, ¿no? Con un gobierno que, pues nos daba unos mercados y que después de
llegamos aquí, después de 7 o 8 años de mucho insistir ganamos unos subsidios para
comprar la vivienda, pero pues como no teníamos más dinero además de los subsidios
el único lugar que nos alcanzó para comprar fue en la loma y bien precaria, pero pues
uff, eso sí fue como wow. Pero fue una burocracia enorme y fueron 8 años después
de llegar y ese es el momento en que todavía pertenecemos a la población desplazada
porque para poder dejar de, de salir hay que pasar por todo un proceso de
indemnización y además eso fue una conquista reciente de la lucha de los
desplazados, y pues el gobierno nos anunció hace como 2 años que estamos en la
lista pero de ahí a que eso se concretice hay familias que llevan 15 años esperando a
que eso se concretice, o sea, después de la lista, 15 años a que le den la
indemnización entonces es como que… sí, todavía pertenecemos a la población de
desplazados en Colombia oficialmente.
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Sujeito 2: Oye lo de los falsos positivos si no lo llegue a escuchar porque fue


hacia al 2012 y no sé allá como a cuanto estaban, lo que había era desaparecidos por
montones, eso sí era como el motivo de chisme en la vereda pues, y todo los sábados
que uno subía al pueblo que era donde se hacía mercado y todo ahí es donde uno se
daba cuenta, “ah en tal vereda desaparecieron tal a tal” pero pues uno no sabía
cuándo alguien desaparecía así, uno se imaginaba que estaba en cuentos o que no
le pagaron la “Vacuna” a estos grupos al margen de la ley o arreglo de cuentas, pero
pues falsos positivos algo así no me acuerdo llegar a escuchar, no? Eh, sin embargo,
si queda la duda de estos chicos que se llevaban pues para que grupo era, la verdad
yo nunca sabía y eran como conversaciones de adulto que yo no entendía entonces
la verdad no sabría decir sobre esa situación antes del desplazamiento.
Sujeito 2: Sobre conocer familias, si, resto… Donde yo estudié, que era muy
cercana a Cazucá, uff resto. Inclusive 2 de mi salón, las mamás hacen parte del grupo
de mamás víctimas de mamás que quedaron sin hijos, se les llevaron los hijos y todo
entonces sí, y eran muchachos que se iban a “trabajar”
Mas assim, como eu falei, habían 2 que eran de mi salón, pero pues yo no era
muy amigo de ellos porque, o sea, no tenía mucha intimidad con ellos porque quién
se iban a trabajar normalmente eran los que no querían saber nada del colegio
también o quien sabe tal vez tenían una situación tan precaria que aceptaban los
trabajos que ofrecían, pues yo estaba como muy en eso de estudiar, estudiar… Mi
mamá me apoyaba entonces eso como que a uno nunca le llegaban esas ofertas,
como les decían a nosotros a los “nerdos” jajaja, no eso ni nos llegaba, pero si percibe
yo que como a los más grandes así, a los que menos iban al colegio y demás era eso
y si en mi colegio hubo muchos, un montón, pero de mi salón inclusive hubo 2
personas, pero pues como le digo casi no iban al colegio entonces no, no sé muchas
historias, pero si, si llegué a saber de ellos
Sujeito 2: Ah y bueno, yo no sé si eran específicamente paramilitares como te
digo, ese es un problema porque por mi edad yo no sabía diferenciar mucho una cosa
de la otra, para mí era todo lo mismo, yo veía a esa gente vestida de verde y era
miedo. Pero pues no sé, si hoy hay una hidroeléctrica allá pues uno se pone a pensar
“Guerrilla, paramilitar, las FARC es toda la misma mierda” Parece que el objetivo era
ese, pero, en fin. Pero yo si me acuerdo mucho de que era un miedo horrible cuando
pasaban a la casa porque primero que siempre que pasaban uno les tenía que dar
gallinas, ¿no? Porque uno criaba gallinas y pues yo me imagino que tenían días sin
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comer entonces pues ahí nos ponían a mis hermanitos y a mí a correr detrás de las
gallinas porque las criabamos libres, eh…Y pues todo bien uno les daba la gallina, el
miedo es que pasaba un grupo que era enemigo como que otro grupo entonces eso
era horrible porque era una tensión porque uno decía: “si el otro grupo que pasó ayer
se da cuenta, ellos interpretan que uno les está ayudando a un grupo” Pero uno como
que no tiene opción, o pues me acuerdo mucho que a mi mamá le tocaba cocinarles
cuando pasaban.
Y la otra es que era muy común que ellos convocaban reuniones en la escuela
y uno ya sabía que ese día eh, lo mandaban a la cancha a jugar y los adultos se
quedaban en la reunión escuchando lo que dijeran, pues no sé, porque insisto yo era
pequeño y no entendía, pero pues talvez era eso, reforzando el cobro de las Vacunas,
amenazando, no sé.
Y la otra que era horrible era cuando uno iba en la chiva para el pueblo y ellos
hacían reten y paraban, y era horrible porque ellos pedían la cédula de la gente y a
uno también le pedían la tarjeta de identidad y uno le veía el miedo a todo mundo,
todo el mundo estaba con miedo y ellos dejaban gente o sea, había gente que no las
dejaban seguir en la chiva y pues ahí empezaba el “buguru” de qué sería, para qué
sería, entonces era como una manera de que tal vez ellos perseguían no sé, gente
que no pagó o alguna mierda, pero ese momento era horrible también.
Y Bueno sería eso.

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