O Povo Brasileiro

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O Povo Brasileiro – A formação e o sentido do Brasil- Darcy Ribeiro

1 – A OBRA

O povo brasileiro é uma obra de Darcy Ribeiro, lançada em 1995, que relata a história da
formação étnica e cultural do povo brasileiro (em especial os indígenas).

O livro possui 5 partes (O novo mundo, Gestação Étnica Processo Sociocultural, Os Brasis na
história e O Destino Nacional), com 17 capítulos compondo-as um total de 480 páginas. Sua
editora é a Companhia das letras.

No prefácio da primeira edição, de 1995, Darcy afirma que escrever o livro foi seu maior
desafio. O autor diz ter demorado 30 anos para escreve-o. Segundo o autor, o livro unifica
uma teoria de base empírica de classes sociais no brasil e na américa latina, uma tipologia
das formas de exercício do poder e de militância política.

2 – RESENHA

PARTE 1 – O NOVO MUNDO

Índios Tupi se instalaram por toda a costa Atlântica e Amazônica nos últimos tempos,
surgindo assim a ilha Brasil. Não eram considerados nação, apenas um aglomerado de povo
de mesmo dialeto.

O europeu foi introduzido no mundo indígena sendo caracterizado como bruto e doente. Ele
escravizou os índios, tomaram suas terras e mercantilizaram as relações de produção e
unificaram a língua e costumes, fazendo surgir o povo brasileiro.

Havia 1 milhão de índios espalhados pela costa, divididos em varias tribos, que praticavam a
agricultura, domesticavam plantas, mandioca, milho, feijão, tabaco, etc. Passando por meses
de escassez e abundancia.

Para poderem sobreviver com mais segurança em relação a alimentos, residiam em sítios
privilegiados, no qual existia caça e pesca abundante.
Tamoios foi uma aliança feita entre os franceses que estavam na baía com os índios, para
assim combaterem os portugueses. Foram derrotados pelas tropas indígenas jesuítas apos
várias vitórias.

As tribos viviam em constante guerra contra as outras tribos, devido à disputas dos sítios
privilegiados. Mas era também uma forma de interação das tribos, pois caso ganhassem a
guerra, capturavam os derrotados para a antropofagia.

A civilização estava se tornando mais urbanizada, uma vez que contava com a presença de
invasores. A Corte e o Conselho Ultramarino era onde tudo se decidia e ordenava, junto a
igreja católica e o santo ofício. A igreja tinha o papel de julgar e condenar os ousados.

Havia um complexo de poderio português, que foi fundado perante as novas tecnologias, o
qual se encontrava novas velas de barco, bússola, canhões de guerra, ferro, etc. Com isso era
possível descobrir novas terras e fazer um mundo Eurocentrista. Isso podia se resumir a um
processo civilizatório expansionista que deu nascimento a Portugal e Espanha (Novo
mundo). Assim, nasceram também as correntes religiosas católica e protestante.

A bula inter coletera fazia jus a lei atual brasileira, dizendo que os indígenas não são
escravos, da o direito do latifundiário.

A chegada dos europeus aos olhos dos índios foi algo espantoso pois não sabiam se eles eram
do bem ou do mal. Eram feios e fedidos, diziam os índios, mas os receberam coo qualquer
outro. Porém, os índios foram colocados como mercadorias, tirados seus costumes, cativeiro
e então preferiam à morte, assim vendo o lado mal dos europeus.

Um dos efeitos dos europeus sobre os indígenas foi o de escolherem fazer parte da guerra
junto aos europeus do que voltar a sua rotina tribal.

Os índios acreditavam que tudo foi dado por Deus, desde seus olhos para ver as magníficas
cores do mundo, narizes para sentirem os diversos cheiros, até os peixes, aves, plantações.
Eram inocentes e simples, diferente dos europeus, que tinham pecados, angústias,
sofrimentos, produtos como vela, bombas, doenças.
Os Europeus possuíam trabalhos, eram obrigados a fazer coisas que não gostavam, visavam o
lucro, já os índios faziam potes, teciam panos por gosto e por quererem mostrar sua arte aos
outros. Porém, os Europeus viam os índios como vadios que viviam vidas inúteis, por fazer
coisas que lhes dão prazer.

Após a chegada dos europeus, os índios passaram a adquirir mais doenças, cáries,
tuberculose e sarampo, dando origem a uma guerra biológica, deixando vários índios mortos.

Eles defendem com todas as suas forças o seu modo de viver, porém ainda sim eram
vencidos por inimigos tecnologicamente mais avançados e mais bem armados.

Deveria existir um protetor dos índios, aprovado pelo governador, para defendê-los e
castigá-los.

O Brasil passa a ser depopulado devido as novas armas trazidas pelos Europeus, como
também as doenças que os mesmos trouxeram. Os índios foram exterminados por doenças
como a varíola, que matou aproximadamente 40 mil deles. Assim, as primeiras populações
indígenas encontradas foram extintas em algumas décadas. No seu lugar foram instalados
novos povos: escravos africanos de engenho, mamelucos e brancos pobres, e por fim, índios
escravos.

Os colonos de São Paulo não podiam comprar escravos negros, então utilizavam-se dos
índios como guias, remadores, caçadores, etc.

O fracasso relacionado aos jesuítas provém da oposição dos portugueses e das efemeridades
brancas que geravam a morte. Assim, os jesuítas viram que não podiam salvar vidas, e pior,
eram a causa das mortes também. Eles concentravam os índios nas reduções, cujo eram
vitimados pelas pragas contaminadas, tudo sem intenções. Eles também tinham o papel de
defender os índios e tomar grandes riscos por eles.

Os índios passaram de pessoas boas à canibais e assim começaram a ver os europeus como
inimigos e, então uns passaram a julgar os outros.

O Brasil foi regido primeiro como uma feitoria escravocrata, tropicalista, habitada pelos
índios nativos e negros. Após isso, os mestiços passaram a ser proletariados dos europeus
que acabaram de chegar. Não foi levado em conta os desejos dos próprios índios. Assim, o
Brasil alcança um início de vida urbana civilizada.

O processo civilizatório, junto da revolução tecnológica foi o que possibilitou as navegações


pelos oceanos estruturando-as como impérios mercantis salvacionistas. Desse modo é
possível explicar o ganho de energia expansiva das nações logo capitalistas.

Ao mesmo tempo, houveram novas formações socioeconômicas e novas configurações


histórico-culturais, cuja população, no curso de autotransformação, viabilizam a base do
conhecimento indígena que o europeu se adaptou promovendo a força do trabalho.

Assim surgiram as grandes empresas a partir das navegações marítimas. Houveram países
que passaram a se aliar e virar independentes também.

No Brasil, a obra colonial de Portugal foi também radical. Seu produto verdadeiro não foram
os ouros buscados e achados, nem as mercadorias produzidas e exportadas. Nem mesmo o
que tantas riquezas permitiram erguer no Velho Mundo. Seu produto real foi um povo nação,
conhecido pela mestiçagem, que se multiplicava.

Dois estilos de colonização surgiram, o barroco e o gótico no Novo Mundo. O gótico


compunha a paisagem da agricultura, sendo o índio apenas um detalhe que para se tornar
civilizado era preciso ser eliminado. Já no barroco, não era assim, a Europa se enfrentava
com multidões dos exóticos, sem excluir ninguém.

Ninguém é branco para ser humano, e isso não faz os nativos mais ricos ou mais pobres, ou
seja, mais humanos. Todos se instalaram, e quase todos foram assimilados e abrasileirados.

Em contraste com as etnias tribais que sobreviveram algum tempo a seu lado, a sociedade
colonial precária, era e atuava como um rebento. Era já uma sociedade bipartida em uma
condição rural e outra urbana, estratificada em classes, servida por uma cultura erudita e
letrada, e integrada na economia de âmbito internacional que a navegação possibilitaria.

PARTE 2 – GESTÃO ÉTNICA


O cunhadismo é a instituição social que possibilitou que o povo brasileiro fosse formado,
sendo a incorporação de estranhos para a comunidade indígena. O sistema de parentesco
classificatório dos índios, relaciona, uns com os outros, todos os membros de um povo. Os
europeus postos na costa podiam ter muitos casamentos do tipo cunhadismo, sendo assim
recrutados para a colônia indígena. Mais tarde, serviu também para fazer prisioneiros de
guerra que podiam ser resgatados a troco de mercadorias, em lugar do destino. Os índios
eram encantados com as riquezas europeias, então aproveitavam os casamentos e usavam as
coisas preciosas europeias.

A função do cunhadismo na sua nova inserção civilizatória foi fazer surgir a numerosa
camada de gente mestiça que efetivamente ocupou o Brasil. Baseado no cunhadismo, foram
estabelecidos criadouros mestiços.

Primeiramente, junto aos índios foram adotados certos costumes como o de furar a boca, a
orelha, participar de rituais, aprendendo a língua e cultura (várias mulheres e filhos por
exemplo), trabalhando na área agrícola, trocando mercadorias, etc.

A coroa portuguesa, preservando seus interesses, executou o regime das donatarias, elevando
a economia colonial em outro nível.

O sistema de donatarias foi implantado mais vigorosamente por Martim Afonso, trazendo as
primeiras cabeças de gado e as primeiras mudas de cana. Eram várias dificuldades surgidas
enquanto a sociedade ia crescendo, e a maior delas foi a hostilidade indígena.

O primeiro governador chega ao Brasil em 1549, trazendo civis, militares, soldados, artesãos
e muitos outros jesuítas também.

Em 1550, chegaram à Bahia vários que se descreviam como “moços perdidos, ladrões e
maus, que aqui chamam patifes”.

A convivência cordial e igualitária do cunhadismo ia dando lugar à disciplina de uma


comunidade pia, em um clima insuportável de tensão. Os pastores querendo acalmar os
fervores mais eróticos que religiosos de seus fieis, enforcaram uns quatro deles, castigando
também as índias com que transavam.
Os registros mostram que, efetivamente, começa a crescer o número de escravos índios
trabalhando para os donatários. A escravidão indígena predominou ao longo de todo o
primeiro século. Só no século XVTL a escravidão negra viria a sobrepuja-la, conforme
assinala Brandão.

Muitos índios foram incorporados na sociedade colonial para serem usados até a morte
sendo bestas de carga. Assim, os índios passaram a ter apenas a função de burro de carga e
as mulheres trabalhando na agricultura e com as crianças.

Os atos administrativos que regiam a escravidão indígena proibiam o cativeiro, mas o índio
podia ser escravizado pois fora aprisionado ou capturado. O domínio português se expandiu
e tudo graças aos brasilíndios ou mamelucos que são gerados por pais brancos e mães índias.

Os portugueses de São Paulo foram os principais gastadores dos brasilíndios ou mamelucos.


O motor que movia aqueles velhos paulistas era a pobreza. Os mais bem sucedidos
mamelucos deles alcançavam prosperidade através da pobreza e reconhecimento. Era uma
vida rara.

Os brasilíndios foram denominados mamelucos pelos jesuítas que se horrorizaram com


tamanha brutalidade. Eles foram, heróis civilizadores, serviçais, impositores da dominação
que os oprimia. Eram devotos da brutalidade selvagem.

Provido do cunhadismo, foi criado um gênero humano novo não conhecido ainda e nem visto
como índio ou europeu, eram os argentinos, paraguaios e uruguaios.

A vida do índio cativo não podia ser mais dura como cargueiro ou remador, que eram seus
principais trabalhos. Os negros do Brasil foram trazidos principalmente da costa ocidental
africana.

A contribuição cultural do negro foi pouco relevante na formação daquela protocélula


original da cultura brasileira. Aliciado para incrementar a produção açucareira, o negro teve
uma importância crucial, tanto por sua presença como a massa trabalhadora que produziu
quase tudo que aqui se fez.
A pior herança brasileira é a de levar sempre a cicatriz de torturador impressa na vida e
pronta para explodir na brutalidade racista e classicista.

Devido à auto identificação própria e nova que iam assumindo e, também, ao acesso à
múltiplas inovações socioculturais e tecnológicas, as comunidades neobrasileiras deram dois
passos evolutivos. Primeiro, abrangendo maior número de membros do que as aldeias
indígenas, liberando parcelas crescentes deles das tarefas de subsistência para o exercício
das funções especializadas. Segundo, incorporando todos eles numa só identidade étnica,
estruturada como um sistema socioeconômico integrado na economia mundial.

Apesar de terem um alto grau de autossuficiência, dependiam de certos artigos importados,


sobretudo de instrumentos de metal, sal, pólvora e outros mais, que não podiam produzir. Já
não viviam, portanto, como indígenas encerrados sobre si mesmos e voltados
fundamentalmente ao provimento da subsistência.

O idioma Tupi foi a língua materna de uso corrente desses neobrasileiros até o século XVIII.
De fato, o Tupi se expandiu mais do que o português como a língua da civilização. Cumpre
primeiramente a função de língua de comunicação dos europeus como os Tupinambás de
toda a costa brasileira, logo após o descobrimento. Depois, a de língua materna dos
mamelucos da Bahia, Pernambuco, Maranhão e São Paulo. A substituição da língua geral
pela portuguesa como língua materna dos brasileiros só se completaria no século XVIII.

O processo de formação dos povos americanos tem especificidades que desafiam a


explicação. Porque alguns deles, inclusive mais pobres nas colônias, progrediram
rapidamente, integrando-se de forma dinâmica e eficaz na revolução industrial, enquanto
outros se atrasaram e se esforçaram para se modernizar. O outro caso é o dos povos que
estavam se fazendo como uma configuração totalmente diferente de suas matrizes, que
enfrentava a tarefa de difundir os povos que reuniu diversos, uns aos outros.

O Brasil é identificado como o pau-de-tinta. Cartas e lendas antigas do oceano traziam uma
ilha Brasil referida por pescadores que andavam à cata de bacalhau. Mas foi referido à nova
terra, mesmo que o governo português quisesse dar nos mes pios, que não funcionou. Os
mapas mais antigos da costa já registraram como brasileira e quem ali nascia era brasileiro.
O brasileiro começou a surgir e a se identificar assim ao perceberem a estranheza provocada
no lusitano, do que por sua identificação como membro das comunidades socioculturais
novas, e ainda queriam ser superiores aos indígenas.

O primeiro brasileiro consciente que era um foi o mameluco, um brasilíndio mestiço na


carne e no espírito, que não podia se identificar com os que foram seus ancestrais
americanos desprezados. Já os filhos de índias gerados por um estranho, branco ou preto, se
questionava quem era, já que não era índio, nem branco nem preto.

O brasilíndio como o afro brasileiro existia em uma terra de ninguém de acordo com a etnia,
e a partir dessa carência essencial, para se livras de ninguém ser índio, europeu e negro, em
que eles se veem na força de criar sua própria identidade étnica, a brasileira.

O português, mesmo se identificando com a terra nova, gostava de se sentir parte das
pessoas metropolitanas, sendo sua única superioridade inegável. Seus filhos, também
prefeririam ser português.

Em 1770, os neobrasileiros atingiram 500 mil habitantes, sendo 200 mil representados por
indígenas integrados na colônia com o dobro da área de ocupação. Os negros, 150 mil desses,
concentrados nos engenhos de açúcar e mineração. Uma parte se refugiava nos quilombos,
sendo Palmares o que reunia 30 mil negros, foi destruído. Os brancos seriam 150 mil
restantes.

A economia estava concentrada fundamentalmente na produção açucareira, liderando as


exportações. No gado, alcançou um rebanho de 1,5 milhão de cabeças e era importante
exportando couro.

O branco colonizador e seus descendentes aumentavam durante os séculos, pela


multiplicação de mestiços e mulatos. Os negros, cresciam junto aos brancos, mas só o
fizeram pela introdução anual maciça de enormes contingentes de escravos, tanto repondo
os desgastados no trabalho, como aumentando o estoque disponível.

PARTE 3 – PROCESSO SOCIOCULTURAL


A revolta dos Cabanos era de teor classicista, existindo também conflitos entre raças no
meio. O mesmo ocorria na de Palmares, cuja luta étnica virava hegemônica. A de Canudos,
possuía três ordens, classicista, racial e religiosa.

Conflitos interétnicos existiram desde sempre, opondo as tribos indígenas umas às outras.
Porém não haviam consequências a esses conflitos.

As lutas muitas vezes se davam pelo fato de os brasileiros capturarem índios para usarem
como escravos e os mesmos se rebelavam pois preferiam à morte.

A guerra dos Cabanos, de caráter genocídico, tinha por objetivo eliminar as populações
caboclas, é o exemplo mais claro de enfrentamento interétnico.

Outro motivo da existência dos conflitos é o racial. Vê-se que opondo-se umas às outras
todas as três matrizes da sociedade, cada uma delas armada de preconceitos raciais contra as
outras duas.

Desde quando o primeiro negro chegou no brasil, eles lutam para manter uma igualdade
racial, pois são sempre inferiorizados sob opressões, e assim não se integrando ao resto do
mundo.

O terceiro motivo das guerras são as classes sociais. Os privilegiados e proprietários de bens
de produção, brancos enfrentam os trabalhadores negros.

No Brasil surgiram a implantação e interação de quatro ordens de ação empresarial, variadas


formas de recrutamento da mão de obra e diferentes graus de rentabilidade.

A principal é a empresa escravista, focada na produção de açúcar, na mineração de ouro,


ambas baseadas na força de trabalho importada da África. A segunda é a empresa
comunitária jesuítica, baseada na mão de obra servil dos índios. A terceira, é a multiplicidade
de microempresas de produção de gêneros de subsistência e de criação de gado.

Essas três formas de organização garantiam a sobrevivência e o êxito do empreendimento


colonial português nos trópicos.
Esta classe dominante empresarial burocrático eclesiástica, embora exercendo-se como
agente de sua própria prosperidade, atuou, subsidiariamente, como reitora do processo de
formação do povo brasileiro.

A primeira cidade a se formar é Lisboa. A segunda foi a Bahia, já no primeiro século, quando
surgiram, também, o Rio de Janeiro e João Pessoa. No segundo século, surgem mais quatro:
São Luís, Cabo Frio, Belém e Olinda. No terceiro século, interioriza-se a vida urbana, com
São Paulo, Mariana e Oeiras.

As cidades e vilas da rede colonial, correspondentes à civilização agrária, sendo centros de


dominação colonial criados pela Coroa para defender toda a costa brasileira.

A classe alta era composta de funcionários, escrivães e meirinhos, militares e sacerdotes e


negociantes. Toda essa gente era considerada “de segunda” em relação aos senhores rurais. A
camada intermediária de brancos e mestiços livres.

O crescimento dos centros urbanos dá lugar a uma burocracia civil e eclesiástica da mais alta
hierarquia e à um comércio autônomo e rico.

A economia extrativista criou os pontos de exportação de borracha da Amazônia e sua


constelação de vilas e cidades auxiliares.

A industrialização e a urbanização são processos complementares e associados. A


industrialização oferece empregos urbanos à população rural.

No Brasil, vários processos já referidos, sobretudo o monopólio da terra e a monocultura,


promovem a expulsão da população do campo. As cidades passaram a inchar, desabitaram o
campo sem prejuízo para a produção comercial da agricultura que, mecanizada, passou a
produzir mais e melhor.

Assim, o Brasil alcança uma extraordinária vida urbana, inaugurando provavelmente, um


novo modo de ser das metrópoles. A população urbana agora acha soluções para seus
próprios problemas, como edificar favelas fora dos regulamentos.
No Brasil, a classes ricas e as pobres se separam umas das outras por distâncias sociais e
culturais quase tão grandes quanto as que medeiam entre povos distintos. Essas diferenças
sociais são remarcadas pela atitude de fria indiferença com que as classes dominantes olham
para esse depósito de miseráveis, de onde retiram a força de trabalho de que necessitam.

Pode-se explicar então, a braquiação dos brasileiros, pois os mestiços euro índios são mais
morenos claros. Assim, mostra-se a explicação da discrepância do branco e do negro no seu
desenvolvimento populacional, sendo que os brancos cresciam muito mais que os negros.
Mesmo associando os negros à pobreza, o que os separa dos brancos é a natureza social.

O contingente imigratório europeu integrado na população brasileira é avaliado em 5


milhões de pessoas, quatro quintos das partes que entraram no país no último século.

O maior susto que os portugueses tiveram no passado, foi ver a força de trabalho escrava,
reunida com propósitos exclusivamente mercantis para ser desgastada na produção.

A passagem do padrão tradicional, ao padrão moderno, opera a diferentes ritmos em todas


as regiões, mas mesmo as mais progressistas se veem reduzidas à uma modernização reflexa.
Mesmo as populações rurais e as urbanas marginalizadas enfrentam resistências, antes
sociais do que culturais porque umas e outras estão abertas ao novo.

A resistência às forças inovadoras da Revolução Industrial e a causa fundamental de sua


lentidão não se encontram, portanto, no povo ou no caráter arcaico de sua cultura, mas na
resistência das classes dominantes.

Transfiguração étnica é o processo através do qual os povos, enquanto entidades culturais,


nascem, se transformam e morrem. Quatro são as instâncias básicas da transfiguração,
simultâneas ou sucessivas. Primeiro, a biótica, pela qual os seres humanos, interagindo com
outras forças vivas, podem se transfigurar radicalmente.

Segundo, a ecológica, pela qual os seres vivos, por coexistirem, afetam-se uns aos outros em
sua forma física, em seu desempenho vital.

Terceiro, a econômica, que convertendo uma população em condição da existência material


de outra, em prejuízo de si própria, pode leva-la ao extermínio.
A quarta é a psicocultural, que pode dizimar populações retirando-lhes o desejo de viver,
como ocorreu com os povos indígenas que se deixaram morrer opor não desejar a vida que se
lhes ofereciam.

PARTE 4 – OS BRASIS NA HISTÓRIA

O primeiro é o Brasil crioulo. O engenho açucareiro foi a primeira forma de grande empresa
agroindustrial exportadora e a matriz do primeiro modo de ser dos brasileiros.

A sociedade brasileira nasce em torno do complexo formado pela economia do açúcar, com
suas ramificações comerciais e financeiras e todos os complementos agrícolas e artesanais
que possibilitavam sua operação.

Um produto exótico e precioso, destinado ao consumo dos mais abastados, cresceu de


produção e baixou de preço, o açúcar deixou de ser uma especiaria para se converter em um
produto comum.

As características fundamentais da plantação açucareira são: a extensão latifundiária do


domínio; a monocultura intensiva; a grande concentração local de mão de obra e a
diversificação interna em especializações remarcadas; o alto custo relativo do investimento
financeiro; a destinação externa da produção; a dependência da importação da força de
trabalho escravo que onerava em 70% os resultados da exportação; caráter racional e
planejado do empreendimento que exigia, além do preenchimento de condições técnico
agrícolas e industriais de produção.

A área de cultura crioula assentada, embora, na economia açucareira abrange várias


atividades anciliares que complementam com outras formas de produção suas condições de
existência e dão lugar a variantes rurais e urbana de seu modo de vida. Dentre outras, se
contam diversas especializações produtivas que diversificaram certas parcelas da população
e certas zonas, configurando intrusões dentro da área. Tais são, principalmente, os núcleos
litorâneos de pescadores.

O segundo é o caboclo. A característica básica dessa variante é o primitivismo de sua


tecnologia adaptativa, essencialmente indígena, conservada e transmitida, através de
séculos, sem alterações substanciais.
Vivendo nas comunidades que cresciam em torno dos centros de autoridade real e do
comércio, contando, embora com sua própria indiada cativa ou dependente, os colonizadores
viam limitadas suas perspectivas de riqueza pelo crescimento do sistema de reduções, que
aglutinava a massa maior de índios.

O terceiro é o Brasil sertanejo. Essa área é um vastíssimo mediterrâneo de vegetação rala,


confinado, de um lado, pela floresta da costa atlântica, amazônica e fechado ao sul por zonas
de matas e campinas naturais. Faixas de florestas em galeria cortam esse mediterrâneo,
acompanhando o curso dos rios principais, adensando-se em capões de mata ou palmeirais.

Mas, é pobre, formada de pastos naturais ralos e secos e de arbustos enfezados que
exprimem em seus troncos e ramos tortuosos, em seu enfolhamento maciço e duro, a
pobreza das terras e a irregularidade de regime de chuvas.

Lá, também se encontra um tipo particular de população com uma subcultura própria, a
sertaneja, marcada por sua especialização ao pastoreio, por sua dispersão espacial e por
traços característicos identificáveis no modo de vida, a organização da família, na
estruturação do poder, na vestimenta típica, etc.

O contraste dessa condição com a vida dos engenhos açucareiros devia fazer a criação de
gado mais atrativa para que os brancos pobres e para os mestiços dos núcleos litorâneos.

O ultimo deles é o Brasil caipira. A população paulista revolvia-se numa economia de


pobreza. Não possuindo grandes engenhos de açúcar, que eram a riqueza do tempo, não
tinham escravaria negra, e raramente um navio descia até o ancoradouro de São Vicente.

Essa pobreza, é que fazia deles um bando de aventureiros sempre disponível para qualquer
tarefa desesperada, sempre mais predispostos ao saqueio que à produção.

Esse modo de vida, rude e obre, era o resultado das regressões sociais do processo
deculturativo. O recrutamento da força de trabalho servil para a cafeicultura se fez, primeiro,
regionalmente com a aquisição dos negros excedentes das zonas de mineração.

A característica básica do Brasil sulino, em comparação com as outras áreas culturais


brasileiras, é sua heterogeneidade cultural. Os modos de existência e de participação na vida
nacional dos seus 3 componentes principais não só divergindo largamente entre si, como
também com respeito às outras.

O Brasil sulino surge à civilização pela mão dos jesuítas espanhóis, que fazem florescer no
atual território gaúcho de missões à principal expressão de sua república cristã.

PARTE 5 – O DESTINO NACIONAL

O Brasil foi regido primeiramente como uma feitoria escravista, tropical, habitada por índios
nativos e negros importados.

Depois, como um consulado, no qual um povo sublusitano, mestiçado de sangues afros e


índios, vivia o destino de um proletariado externo dentro de uma possessão estrangeira.

Isso tudo acabaria gerando um sistema econômico acionado por um ritmo acelerado de
produção do que o mercado externo dela exigia, com base numa força de trabalho afundada
no atraso grande, porque nenhuma atenção se dava à produção e reprodução das suas
condições de existência.

Todos esses mulatos e caboclos, envolvidos pela língua portuguesa, pela visão do mundo,
foram plasmando a etnia brasileira e promovendo, simultaneamente, sua integração, na
forma de um Estado Nação.

Tal atitude desses i migrantes é de desprezo e incompreensão. Sua tendência é considerar


que os brasileiros pobres são responsáveis por sua pobreza e de que o fator racial é que
afunda na miséria os descendentes dos índios e dos negros.

No Brasil, apesar da multiplicidade de origens raciais e étnicas da população, não se


encontram tais contingentes esquivos e separatistas dispostos a se organizar em quistos.

Falam muito da preguiça brasileira, atribuída tanto ao índio indolente, como ao negro fujão e
até às classes dominantes viciosas.
No caso da África, ela contrasta com o Brasil pois vive ainda sua europeização, seguida de
sua própria liderança libertária.

Atualmente, o Brasil deveria dominar as tecnologias da futura civilização para ser uma
potência econômica de auto sustentação e independer de terceiros para progredir.

4 – CRÍTICA

Nós vivemos e um contexto no qual refletimos sobre a importância da nação brasileira


passada e a maneira que o povo que lá residia viveu e contribuiu para a nossa sociedade
atual. Pouco se fala de toda a luta que os indígenas passaram quando os europeus aqui
chegaram e os trataram como animais e escravos. Assim, Darcy Ribeiro mostra o seu olhar
sobre os europeus e índios, explicitando a maneira que sobreviviam aqui, os males e os bens
que os europeus causaram e trouxeram (como doenças, mas também como armas,
conhecimento, tecnologia). E isso tudo fez com que a sociedade primitiva fosse se civilizando
e se capitalizando. Ele mostra a formação da língua originada no Tupi e mostra os traços
deixados ao nosso português atual.

É possível observar, também como as mulheres eram subordinadas aos homens e isso é
refletido na nossa sociedade atual na qual algumas pessoas ainda possuem esse pensamento
e inferiorizam as mulheres. O mesmo vale para os negros, pois os escravos naquela época
eram negros, vindos da África, então há ainda um grande preconceito racial nos dias atuais,
associado os negros e escravos e pobres, infelizmente.

Um ponto interessante da obra, que chamou minha atenção foi o cunhadismo, no qual foi a
origem de tamanha diversidade que existe das pessoas no Brasil e as diversas mestiçagens
que aqui encontramos. Não é atoa que o Brasil é considerado o país com a maior diversidade
no mundo.

A obra, felizmente conseguiu trazer aspectos que captam o leitor na leitura, fazendo-o querer
entender cada vez mais sobre sua nação brasileira e sentir-se orgulhoso do país em que
reside.

O autor cita os diferentes brasis, nos quais pode-se observar diferentes criações ao Brasil,
uma vez que um provém da agricultura, mostrando as terras e o cultivo, o outro o caipira
mostrando a pobreza, etc. Assim, a ideia de que o Brasil possui tamanha diversificação é
mais comprovada ainda.

É citado também como o Brasil é visto como preguiçoso e por isso possivelmente não teria a
capacidade de evoluir tecnologicamente. Contudo, devo dizer que o Brasil se encontra perto
de se tornar uma potencia econômica pois após tudo o que já passou, com tantas interações
com Portugal e a Europa em geral, é possível ainda que sejamos uma grande potencia e que
não tenhamos mais que depender de outras do tipo Estados Unidos.

Nenhum outro país possuí o que nós, brasileiros possuímos, ou seja, um contexto histórico
meramente diversificado, com tantas lutas, miscigenações, criações e junção de povos
aliados, o surgimento de novas nações a partir de interações com povos externos que
invadiram o território. Nossa história deve ser reconhecida no mundo todo pois é dela que
nós da atualidade saímos e devemos agradecer.

O livro, assim, conseguiu mostrar de maneira clara tamanha importância que o Brasil possui
no resto do mundo e que não tivemos um passado tranquilo e calmo, fomos sempre
aprendendo com os dias que passaram, até chegarmos hoje, no jeitinho brasileiro de ser.

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