17 - Patologia Bucal - 2020 - 124 - 131

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CAPÍTULO 17

PATOLOGIA BUCAL
OARF-2020

PATOLOGIA BUCAL

1. Definição:
É a especialidade da odontologia que estuda a etiologia e a história natural das
doenças que acometem o complexo bucomaxilofacial, buscando diagnosticar essas
doenças em ambiente laboratorial, através de técnicas histoquímicas e
imunoistoquímicas.
2. Lesões fundamentais:
 Mácula:
Modificações da coloração normal, sem que ocorra elevação ou depressão
tecidual. Ex: pigmentação gengival racial, vitiligo, tatuagem por amálgama, etc.
 Placa:

Constituem lesões bem características, fundamentalmente elevadas em relação ao


tecido normal, sua altura é pequena em relação à sua extensão, consistentes a palpação e
a sua superfície pode ser rugosa, ondulada, lisa ou apresentar várias combinações
desses aspectos. Ex: leucoplasias, líquen plano, etc.
 Erosão:

Perda parcial do epitélio sem exposição do tecido conjuntivo subjacente. Ex:


glossite migratória (língua geográfica)
 Úlcera:
Lesão caracterizada pela perda da superfície do epitélio com exposição do
tecido conjuntivo subjacente. Muitas vezes encontra-se deprimida ou escavada. Ex: aftas,
lesões traumáticas, câncer bucal (em algumas apresentações clínicas)
 Pápula:
Lesão sólida, elevada, com menos de 5 mm de diâmetro.
 Nódulo:
Lesão sólida, elevada, com mais de 5 mm de diâmetro.
 Vesícula e bolha:
São elevações do epitélio, contendo líquido no seu interior. As vesículas são
menores, medem até 3mm, já as bolhas são maiores que 3mm. Ex: vesículas – herpes
simples, bolhas – pênfigo vulgar.
3. Patologia das Glândulas Salivares
As glândulas salivares são glândulas exócrinas que secretam saliva. Estão
amplamente distribuídas na cavidade bucal. Existem as glândulas salivares maiores e
menores.
3.1 Glândulas salivares maiores:
• Parótida: região pré-auricular
• Sublingual: assoalho de boca (região anterior)
• Submandibular: assoalho de boca (região posterior)

3.2 Glândulas salivares menores:


• Localizadas no palato, mucosa jugal e sublingual.
3.3 Ductos excretores:
• Parótida: ducto de Stenon
• Submandibular: ducto de Wharton
• Sublingual: ductos de Bartolin
4. Tipos de saliva:
• Mucosa, serosa ou mista.
 Produzimos cerca de 1 a 1,5 litros de saliva por dia.

5. ALTERAÇÕES DAS GLÂNDULAS SALIVARES:

5.1 MUCOCELE:
É uma lesão comum, considerada um fenômeno de
retenção de saliva, apresentando-se como uma tumefação em
forma de cúpula, com 1 a 2 mm. Ocorre por uma obstrução ou
ruptura dos ductos excretores de glândulas salivares menores.
Geralmente localizada no lábio inferior. O tratamento é cirúrgico.

5.2 RÂNULA:
É uma mucocele localizada no assoalho de boca,
apresentando-se como uma tumefação bem maior do que a
mucocele, de coloração azulada, lembrando o ventre de uma rã.
Daí o nome de rânula. É originada, geralmente, pela obstrução dos
ductos das glândulas sublingual ou Submandibular. Entretanto,
também pode ser originada de glândulas salivares menores. O
tratamento também é cirúrgico.

5.3 SIALOADENITE:
É uma inflamação das glândulas salivares, podendo ter origem infecciosa ou não. A
infecção viral mais comum é a parotidite, ou caxumba (papeira). A maioria das infecções
bacterianas origina-se de uma obstrução do ducto salivar ou diminuição do fluxo salivar.

6. CISTOS

Cavidade patológica, revestida por tecido epitelial, contendo material líquido ou


semi-sólido.
6.1 Classificação:
• Odontogênicos: originados dos tecidos dentários;
• Não-odontogênicos: originados de outros tecidos.

6.2 Cistos mais comuns:

• Cisto periapical:
O epitélio do ápice de um dente não vital é estimulado pela inflamação, originando
um cisto. É diferente de granuloma. O tratamento é endodôntico e cirúrgico.
• Cisto dentígero:
É originado a partir do folículo (saco pericoronário) da coroa de um dente incluso
(não erupcionado). O tratamento é cirúrgico.

• Cisto de erupção:
É o correspondente, no tecido mole, ao cisto dentígero. É
originado a partir do folículo de um dente em erupção. É de
coloração azulada, mole, translúcido. Mais comum em crianças
menores de 10 anos de idade. Ocorre com maior frequência na
região de molares inferiores. Às vezes, rompe espontaneamente
ou, então, se procede à ulectomia.

7. ÚLCERA TRAUMÁTICA
7.1 Definição:
É uma lesão caracterizada pela perda da superfície do epitélio e parte do tecido
conjuntivo. Apresenta-se como uma área de eritema com uma depressão central, com
uma borda esbranquiçada.
7.2 Etiologia:
Trauma físico (mordidas, aparelhos ortodônticos, próteses mal-adaptadas) ou
químico (alguns medicamentos aplicados diretamente sobre a mucosa, como o AAS).
7.3 Tratamento: remover a causa, soluções anti-sépticas.
7.4 7.4 Duração: 8 a 10 dias

8. AFTA
8.1 Definição:
É uma lesão ulcerada, eritematosa, com uma membrana
branco-amarelada removível. Mede de 3 a 4mm, apresentando
dor intensa, não proporcional ao tamanho da lesão.
8.2 Etiologia:
Apresenta diferentes causas como alergias, predisposição genética,
anormalidades hematológicas, influências hormonais, agentes infecciosos, alterações
nutricionais, trauma e stress.
8.3 Tratamento:
Associações de corticóides e anestésicos tópicos melhoram a sintomatologia
dolorosa e, em alguns casos, aceleram a cicatrização das aftas.
8.4 Duração: 7 a 14 dias
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9. ESTOMATITE HERPÉTICA - HERPES


A infecção viral, causada pelo vírus do herpes
simples. Pode ser primária ou secundária. A infecção
primária ocorre principalmente em jovens, entre 6 meses e
cinco anos de idade. O início é repentino, acompanhado por
febre, estomatite, linfadenopatia cervical anterior,
anorexia, irritabilidade e lesões orais dolorosas.
A infecção secundária ou recorrente ocorre coma
reativação do vírus. São comuns, e ocorrem por uma baixa da imunidade, estresse e
exposição solar. Apresenta-se com diversas vesículas que se rompem.
9.1. Etiologia: vírus do herpes simples (HSV). Tipo 1 e tipo 2.
9.2. Tratamento: sintomático, pomadas anti-virais.
9.3. Duração: 10 a 14 dias.

10. CANDIDÍASE
É uma infecção fúngica, o Candida albicans,
caracterizada pela presença de placas esbranquiçadas
removíveis à raspagem com instrumento, localizadas na
língua, palato e mucosa jugal.
10.1 Tratamento: anti-fúngicos, orientações
com relação à higienização de próteses e aparelhos ortopédicos removíveis.
11. CÂNCER DE BOCA
É o câncer que afeta lábios e o interior da cavidade oral. Dentro da boca
devem ser observados gengivas, mucosa jugal (bochechas) palato duro (céu da
boca) e língua (principalmente as bordas), assoalho (região embaixo da língua). O
câncer do lábio é mais comum em pessoas brancas e ocorre mais frequentemente
no lábio inferior.
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11.1 Prevenção

O câncer de boca acomete mais os homens acima dos 40 anos. Os fatores de


risco mais conhecidos para este tipo de câncer são:
• Tabaco: de acordo com a Organização Mundial da Saúde, cerca de 90% dos
pacientes diagnosticados com câncer de boca eram tabagistas. O cigarro representa o
maior risco para o desenvolvimento dessa doença, e o risco varia de acordo com o
consumo. Ou seja, quanto mais frequente for o ato de fumar, maiores serão as chances
de desenvolver câncer de boca.
• Etilismo: o consumo regular de bebidas alcoólicas aumenta o risco de
desenvolver câncer de boca. A associação entre cigarro e bebidas alcoólicas aumenta
muito o risco para câncer de boca.
• Vírus HPV: Pesquisas comprovam que o vírus HPV está relacionado a alguns
casos de câncer de boca.
• Radiação solar: A exposição ao sol sem proteção representa um risco para
o câncer de lábios.
Além destes fatores, observa-se em pacientes com câncer de boca uma higiene
bucal deficiente e uma dieta pobre em proteínas, vitaminas e minerais e rica em
gorduras.
11.2 Sintomas
Os principais sinais que devem ser observados são:
• Lesões na cavidade oral ou nos lábios que não cicatrizam por mais de 15 dias
• Manchas/placas vermelhas ou esbranquiçadas na língua, gengivas, palato
(céu da boca), mucosa jugal (bochecha)
• Nódulos (caroços) no pescoço
• Rouquidão persistente

Nos casos mais avançados observa-se:


• Dificuldade de mastigação e de engolir
• Dificuldade na fala
• Sensação de que há algo preso na garganta

11.3 Detecção precoce

Diante de alguma lesão que não cicatrize em um prazo máximo de 15 dias deve-
se procurar um profissional de saúde (médico ou dentista) para a realização do
exame completo da boca. A visita periódica ao dentista favorece o diagnóstico precoce
do câncer de boca, porque é possível identificar lesões suspeitas. Pessoas com maior
risco para desenvolver câncer de boca (fumantes e consumidores frequentes de
bebidas alcoólicas) devem ter cuidado redobrado.

11.4 Tratamento

Se diagnosticado no início e tratado da maneira adequada, a maioria (80%)


dos casos desse tipo de câncer tem cura. Geralmente, o tratamento emprega cirurgia
e/ou radioterapia. Os dois métodos podem ser usados de forma isolada ou associada. As
duas técnicas têm bons resultados nas lesões iniciais e a indicação vai depender da
localização do tumor e das alterações funcionais que possam ser provocadas pelo
tratamento. As lesões iniciais são aquelas restritas ao local de origem.

Quem deve tratar o câncer de boca? O médico oncologista (especialista


em diagnóstico e tratamento do câncer), o médico de cabeça e pescoço, que
realize oncologia clínica e/ ou cirúrgica, com equipe multidisciplinar na
qual, o cirurgião-dentista participa realizando o atendimento
clínico ± odontológico pré/pós tratamentos radioterápicos,
quimioterápicos e/ ou cirúrgicos, além das próteses radíferas; participam também o
cirurgião plástico, psicólogo, fonoaudiólogo, fisioterapeuta, nutricionista,
assistente social entre outros.
11.5. AUTO-EXAME DA BOCA E PESCOÇO
 O que é o auto-exame?

Este é um método bastante simples e eficaz para detecção de


anormalidades a cavidade bucal, região peribucal, bem como de
pescoço. Consiste na observação,
pelo próprio indivíduo, de sua face, cavidade bucal e pescoço, bastando, para
isso, que esteja em um ambiente bem iluminado e de frente para um espelho.
 Características de normalidade:

Os dois lados da face e do pescoço devem estar iguais, sem assimetrias,


a mucosa da cavidade bucal deve apresentar-se em um tom róseo, ligeiramente
crespo e pontilhado. Em caso de pessoas morenas ou negras, pontos mais
enegrecidos na mucosa bucal é sinal de normalidade. A língua é crespa, rósea e com
sulcos de maior ou menor profundidade. Também deve-se observar os dentes e as
restaurações, que devem ter faces lisas e limpas. A boca deve abrir sem dificuldades
ou travamentos; a língua deve ter mobilidade que lhe permita entrar e sair da
boca, bem como mover-se para os dois lados e levantar tocando o palato bucal.
Não deve haver sangramentos espontâneos ou ao toque dos dedos, nem dor neste
ato de tocar com os dedos nas áreas ou aumento de volume injustificáveis.

 Seqüência do auto-exame:
1. Ambiente e iluminação adequados;
2. Espelho grande, o suficiente para visualização de todo rosto e pescoço;
3. Olhar atentamente o rosto e o pescoço, comparando os dois lados;
4. Apalpar o lado esquerdo do rosto e do pescoço com a mão direita, repetir o
procedimento para o lado direito, palpando-os com a mão esquerda. Verificar se
os
9. dois lados estão iguais;
5. Introduzir um dos polegares por debaixo do queixo e apalpar suavemente todo o
seu contorno inferior;
6. Remoção de próteses dentárias ou aparelhos ortodônticos removíveis
presentes na boca;
7. Fazer bochecho com água para lavar a boca;
8. Puxar com os dedos o lábio inferior para baixo, expondo a sua parte interna
(mucosa). Em seguida, apalpe-o todo. Puxe o lábio superior para cima e repita
a palpação;
9. Com a ponta de um dedo indicador, afastar a bochecha para examinar a parte
interna da mesma. Fazer isso nos dois lados;
10. Com a ponta de um dedo indicador, percorrer toda gengiva superior e inferior;
11. Introduzir o dedo indicador por baixo da língua e o polegar da mesma mão por baixo
do queixo, procurando palpar todo o assoalho da boca;
12. Inclinar a cabeça para trás e abrir a boca, o máximo possível, para examinar
atentamente o palato (céu da boca). Em seguida, dizer ÁÁÁ... e observar o fundo
da garganta. Depois palpar com um dedo indicador todo o palato (céu da boca);
13. Colocar a língua para fora e observar a sua parte de cima. Repetir a
operação, agora da sua parte de baixo, com a língua levantada até o palato (céu da
boca). Em seguida, puxar a língua para a esquerda, observar o lado direito da
mesma. Repetir o procedimento para o lado esquerdo, puxando a língua para a direita;
14. Esticar a língua para fora, segurando-a com um pedaço de gaze ou pano, e apalpa-la
em toda a sua extensão com os dedos indicador e polegar da outra mão. Ministério
da Saúde.

NOTA: Observando qualquer alteração, deve-se procurar, de imediato, o


cirurgião-dentista, ou ainda, em caso de alterações discretas, pode-se proceder
ao controle da mesma, ou seja, realizando um segundo auto-exame, após dez dias
passados do primeiro exame e, em caso de persistência ou aumento da
anormalidade percebida inicialmente, procurar logo o cirurgião- dentista; caso não haja
nenhum cirurgião-dentista no local, buscar um outro profissional da Área de Saúde
que esteja apto, ou mesmo, o Posto de Saúde mais próximo.

12. LESÕES POTENCIALMENTE MALIGNAS (LPM)


Também chamadas de lesões pré-malignas ou lesões precursoras do câncer. As
LPM são alterações teciduais que podem assumir o caráter de tumor maligno, a
qualquer tempo, mas, por outro lado, podem permanecer estáveis por um considerável
período de tempo.
As LPM, que sofrem transformação maligna com maior frequência e de
maior importância em nossa região, Nordeste do Brasil, são:

1.Leucoplasias (termo clínico) 2.Eritroplasia (termo clínico) 3. Queilite actínica

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