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Hiponema de Lit. Bras - Poesia (1)

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Hiponema de Leituras Poéticas

1. O Sequestro do Barroco na Formação da Literatura Brasileira: O Caso


Gregório de Matos de Haroldo Campos

Esta obra não se trata apenas de uma releitura ao Barroco como seu nome pode
deixar a entender, mas principalmente oferece uma visão ampla da continuidade e
transformação do movimento literário ao longo do tempo.
As declarações sobre Gregório de Matos e o barroco brasileiro em geral
presentes na introdução do livro Formação da Literatura Brasileira: Momentos
Decisivos, escrito por Antonio Candido , são o ponto de partida. Em resposta à obra,
Haroldo de Campos lança o livro O Sequestro do Barroco na Formação da Literatura
Brasileira: O Caso Gregório de Matos, questionando a visão de Candido.
Haroldo não perde tempo em tecer suas críticas reflexivas ao caráter substancial
da obra de Antonio Candido, a importância do barroco e sua posição na história da
literatura brasileira são temas discutidos nessa problemática. Ele argumenta que essa
visão tradicional de Candido contribuiu para o "sequestro" do barroco na formação da
literatura brasileira. Ele critica a abordagem de Candido por não reconhecer plenamente
a originalidade e a complexidade do barroco brasileiro, tratando-o muitas vezes como
uma mera imitação do barroco europeu.
Uma das contribuições mais significativas de "O sequestro do barroco" é sua
abordagem crítica, que desafia interpretações tradicionais e propõe novas leituras do
barroco. Campos não se limita à análise formal, mas também investiga as raízes
históricas e sociais do barroco, destacando suas contradições e ambiguidades como
reflexos das tensões políticas e religiosas de sua época, questionando, entretanto, a obra
de Campos pode por muitas vezes fazer o leitor enfrentar certa dificuldade de
compreender a linguagem usada e conseguir entender o que de fato a subjetividade
usada em sua obra quer expressar.
Muito possivelmente, advindo de seu teor crítico, que realmente se aprofunda
em questões ideológicas para embasar tais argumentos críticos e que ao mesmo tempo é
o elemento curioso da leitura, as críticas mordazes podem criar um sentimento de
comicidade para o leitor, ao perceber-se que os dois autores estão, de certa forma,
tecendo críticas através de suas obras.

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2. Formação da Literatura Brasileira de Antonio Candido

Dividida em 2 volumes, sendo a primeira obra somando um total de 8 capítulos,


organizados de forma cronológica, e cada um deles aborda os principais autores, obras e
movimentos literários de seus respectivos períodos. Esta obra é, sem dúvidas, um
convite ao imaginário da literatura brasileira, sendo uma análise crítica e histórica desde
suas origens até o início do século XIX. Antonio Candido inicia sua análise no período
colonial, discutindo a influência das culturas indígena, africana e européia na formação
de uma identidade literária brasileira. Ele examina as primeiras manifestações literárias
no Brasil, incluindo crônicas de viagem, sermões e poesias que refletem as condições
sociais e culturais da época.
No seu texto, Antonio Candido diferencia manifestações literárias de sistemas
literários, com fundamentado na ideia de literatura como um sistema que envolve autor,
obra e público, todos conscientes de seu papel, e que possui uma continuidade histórica,
ou seja, uma tradição. As obras literárias que não integram a tradição nacional não
exercem influência sobre os escritores subsequentes, apesar de terem valor próprio. O
caso escolhido por Candido como exemplo é o barroco, especificamente Gregório de
Matos. Explicando porque não os escolheria para analisar, ele argumenta que eles não
formam uma estrutura, já que, nessas etapas iniciais da literatura nacional, há
dificuldades significativas para formar grupos de escritores e para desenvolver uma
linguagem única, além da ausência de um público unificado. Tomando Gregório de
Matos como referência, ele menciona que a presença literária desse escritor depende de
ser reconhecido pelos românticos, não tendo impacto em nenhum outro autor até então,
ou seja, não contribuindo para a literatura nacional.
De certa maneira, sua obra pode gerar uma dificuldade no entendimento visto
que o ponto principal do autor é trabalhar a literatura brasileira como um sistema,
desconsiderando os movimentos literários que precedem seu objeto de estudo e
principalmente, o Barroco. Aos leitores acostumados com estudos pautados mais a
respeito de autores, é de difícil compreensão de tal abordagem, mesmo que o autor tente
ser didático. É justamente por não concordar com tais motivações que Haroldo de
Campos critica Candido por ignorar as nuances características do Barroco e de certa
forma, marginalizar o movimento por estar ligado ao movimento europeu.

3. Religiosidade em Ouro Preto no Séc. XVIII de Nancy Nery da Conceição

Nesta dissertação de Nancy Nery, trabalharemos aqui o foco não em um


movimento literário específico, mas às nuances que a religiosidade imprimiu em
contextos históricos do Brasil colonial, marcado pelo paradoxo de uma sociedade
extremamente miscigenada e que ainda resistia à do cristianismo como modelo religioso
a ser seguido. Pautada também pelo período escravocrata, a autora faz destaque para os
signos africanos na igreja de Santa Ifigênia, analisando as interações entre a norma e o
conflito, mostrando a influência desses símbolos africanos na prática religiosa e na
identidade cultural local. A presença de símbolos africanos na igreja de Santa Ifigênia
influenciou a religiosidade em Ouro Preto de diversas maneiras, representando a
resistência cultural e religiosa dos africanos e afrodescendentes escravizados, que
encontraram na religião católica um espaço para preservar e expressar suas tradições e
crenças ancestrais. Ao trazer elementos para a igreja de Santa Ifigênia percebemos a

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existência de espaços de negociação entre a norma imposta pela Igreja Católica e o
conflito cultural vivenciado pelos africanos e afrodescendentes.
Um elemento muito importante para entender o cenário trabalhado, é a presença
marcante de irmandades que tiveram relevância na formação da identidade religiosa da
região, sobretudo na incorporação de aspectos culturais africanos nas cerimônias
religiosas, atuando como locais de resistência e diálogo, onde os africanos e
afrodescendentes podiam manter suas tradições religiosas e culturais, mesmo diante da
influência e opressão do catolicismo. A menção à população da zona do ouro como
“bandos de aventureiros sem lugar fixo”, comparando-os a “burgos cenográficos que
desapareciam e reapareciam como se fossem cenários de teatro e feira”, traz uma
imagem peculiar da instabilidade e dinamismo da região na época
Embora de linguagem acessível ao leitor e de fácil compreensão a respeito de
um período constantemente trabalhado em estudos sociais, compreender as normas
religiosas e abordagem teórica densa e interdisciplinar, envolvendo conceitos de
estética, história da arte, antropologia e sociologia, o que demanda uma leitura mais
atenta e aprofundada para captar todas as nuances e conexões propostas
É impossível não relacionar esta dissertação com alguns elementos presentes nas
leituras anteriores, que trabalham o Barroco de diversas maneiras - com críticas e
defesas - um movimento mais pautado à cultura popular, com o cenário retratado aqui,
de opressão e desinteresse pelo povo e incessante busca dos padrões europeus e ao
racismo presente no período regente. Falando novamente de Antonio Candido, o autor
menciona em sua obra a ausência de instrumentos educacionais adequados e a
existência apenas de educação primária, limitada aos clérigos e conventos e ao poder da
igreja em um geral, enquanto na Europa já havia a popularização do livro, o que orna
perfeitamente com o cenário estudado por Nancy nesta dissertação.

4. “O que é um autor?”, de Michel Foucault (Ditos e Escritos, Vol.3)

Michel Foucault analisa o conceito de autor e como ele mudou na literatura


contemporânea. Ele argumenta que o nome do autor já não pode ser tratado como um
nome próprio comum, a relação entre autor e texto é mais complexa do que a de
proprietário ou produtor, e a atribuição de um texto a um autor é o resultado de
operações críticas. Por fim, Foucault busca localizar o "espaço vazio" deixado após o
desaparecimento do autor tradicional na literatura moderna. A discussão proposta por
Foucault nos leva a alguns pontos interessantes nesse texto, nos levando a um
refinamento da maneira a qual nós interpretamos a realidade. Frequentemente em
biografias, análises de texto ou quando se é analisada a ideia de um autor, geralmente
parte-se do pressuposto que essa “pessoa” é uma totalidade unificada e suas ideias,
pensamentos são a expressão dessa totalidade unificada, porém o que menos a natureza
humana é, é a unificação. Foucault reflete que sempre há a existência de uma
incompletude que atravessa a existência humana.
A obra foca na análise discursiva e em como isso pode afetar ou não o
entendimento de um discurso, incluindo condições sócio históricas e ideológicas que
afetam a posição do sujeito. Quando o sujeito se converte em autor, a enunciação sofre
uma mudança na mensagem, dividindo-se em diversas posições, fazendo o autor
assumir uma função social de organizar uma certa produção escrita, dando uma
roupagem de unicidade.
Considerando as leituras anteriores, o entendimento do conceito proposto por
Foucault é deveras profundo e a abstração da ideia de análise do discurso e a posição

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sujeito-autor são assuntos que exigem bastante bagagem teórica para seu entendimento
ser completo. No entanto, algumas nuances da obra podem se associar à elementos
trabalhados anteriormente, como o questionamento da centralidade do autor que é feito
por Foucault pode ser equiparado à crítica de Haroldo de Campos que busca
descentralizar a visão eurocêntrica, desafiando a autoridade tradicional da crítica
literária representada por Antonio Candido.

5. A confederação dos tamoios de Gonçalves de Magalhães

Autor pertencente à primeira geração romântica, Gonçalves Magalhães é um


poeta marcado por temas religiosos e filosóficos. O eu lírico de seus versos valoriza a
temas existenciais, aspecto literário que poderia fortemente ser instrumento de
concordância de Antonio Candido em razão de seus versos eruditos e reflexivos (apego
aos modelos europeus). Através do Romantismo, Gregório de Matos teve o seu
reconhecimento como participante efetivo do movimento literário brasileiro, levando
em conta o contexto histórico do Brasil neste momento, que era de reconstrução das
funções sociais em razão da Independência do Brasil.
Os romancistas desejavam construir um passado histórico que acenasse para um
período grandioso e, muitas vezes, distante da realidade brasileira. Gonçalves de
Magalhães carrega um sentimentalismo e romantismo que torna seus versos sublimes
aos seus leitores, porém afastado da conjuntura brasileira, criando versos épicos e um
mito a respeito da Confederação dos Tamoios que perdura em discussões até os
momentos atuais. Gonçalves Dias é outro romancista que pode ser correlacionado com a
técnica usada por Magalhães, porém com detalhes que os diferenciam drasticamente,
com Dias oferecendo uma linguagem mais direta e acessível, recheado de um
sentimento de saudosismo que não se encontra em Magalhães.
A leitura se caracteriza como um ode ao amor à pátria brasileira, trazendo um
sentimento nostálgico e curioso e a linguagem também não possui formalidades que
possam comprometer o entendimento do leitor, no entanto, o questionamento que fica é
a respeito da verossimilhança apresentada pelos autores a respeito da história brasileira.
Sendo por um lado, positivo com o saudosismo à pátria e por outro, negativo pelos
possíveis questionamentos a respeito do contexto histórico.

6. O texto entre “o autor e o editor” de Roger Chartier

Roger Chartier explora aqui, o que podemos brevemente associar com o que fora
discutido anteriormente com Foucault e a subjetividade do discurso lírico advinda de
um autor, já que retornamos ao ponto de sermos convidados à reflexão sobre tais
discursos ao concluirmos que os dois autores trabalham complexidade das práticas
discursivas e a circulação dos textos na sociedade. Embora certamente usem enfoques
diferentes em suas abordagens, um interesse comum de ambas as obras é o estudo da
maneira em que o discurso, o texto, é produzido, disseminado e interpretado, desafiando
desafiam a visão tradicional do autor como o único criador do texto.
Com a obra de Chartier, talvez a abordagem usada por Foucault possa ser mais
teoricamente melhor entendida, mas, não sendo o objetivo principal de Chartier nesta
obra, somos transportados para uma outra camada da relação autor e editor: a mediação
editorial. Convida-se nesta obra, o leitor a refletir sobre como o editor influencia a
percepção da autoria e da autoridade do texto. Chartier aqui defende que a mediação
editorial é vista como uma prática de poder que molda a cultura escrita, desde o impacto

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tecnológico na cultura escrita e como as mesmas impactam na circulação e leitura dos
textos, se preocupando também, com os processos sociais que ditam a popularidade que
um texto pode desencadear ou não.
Em resumo, relacionar as idéias de Chartier e Foucault nos permite ver como os
textos são produtos de práticas discursivas complexas, influenciadas por diversos
agentes e mecanismos de poder, que vão além do autor individual para incluir editores,
tecnologias e instituições.

7. Poemas Satíricos de Gregório de Matos

Discutir sobre Gregório de Matos, também é entender o contexto histórico em


que se passavam seus poemas, sendo essencial para fazermos conexões entre ideias e a
acidez mordaz presentes em suas obras. Um dos elementos curiosos ao trabalhar seus
poemas, é a percepção de que, dentre todos os autores trabalhados ao caminhar do
curso, Gregório de Matos é o que prendeu mais minha atenção por carregar elementos
estilísticos próximos da linguagem coloquial e não ter medo de escrever poemas
carregados de críticas às normas sociais da época. De fato, é um autor que não poderia
ser esquecido na história literária, sendo, na minha opinião, um dos autores de poemas
mais interessantes de se analisar. Haroldo de Campos, ao defendê-lo, certamente acerta
em sua argumentação de que Gregório celebra a irreverência, desafiando normas
sociais, políticas e literárias. Entretanto, também acerta ao relacionar a falta de um
repertório mais vasto do autor, que se mantém atrelado ao contexto histórico em que
vivia, a Bahia colonial.
Interessante salientar que Gregório não foi um homem desprovido de bens, mas
havia assumido cargos públicos, de certa relevância social, e foi convidado a voltar para
sua terra natal depois de escrever um poema ácido em “Marinícolas” que era uma crítica
à uma figura de poder que, particularmente, não ficou agraciada com tal poema.
A organização estilística de seus poemas, é, no entanto, distante da linguagem
moderna que utilizamos hoje em dia, portanto é um dos elementos que torna seus
poemas de difícil compreensão em algumas situações e demanda a necessidade de um
estudo mais aprofundado para que seja possível entender de fato a mensagem
transmitida.

8. Poemas Inconfidentes de Alvarenga Peixoto

Levando primeiramente em conta o contexto histórico nacional, devemos estar


atentos ao que esse período histórico desencadeia aos poemas advindos de Alvarenga
Peixoto, a Inconfidência Mineira. Um período em que, alternativamente tínhamos a
Queda da Bastilha e, portanto, a influência de ideais iluministas de um mundo mais
moderno em países com o Brasil, que vivia o momento colonial à todo vapor.
Alvarenga Peixoto entrou para a história como um grande poeta do movimento
arcadismo e não só isso, por atuar como um dos líderes da Inconfidência e seu desejo de
libertação. O autor constantemente carrega certo apelo emocional e comprometimento
político, oferecendo um testemunho poético do movimento e de suas consequências,
com a ideia de sacrifício pessoal pelo bem maior recorrente em seus sonetos. Por vezes,
utilizou elementos bucólicos advindas do fracasso da revolução e do sentimento de
desilusão a respeito da repressão advinda das autoridades coloniais.
A análise crítica da vida e obra de Alvarenga Peixoto, que inclui suas lutas
pessoais e dilemas morais, oferece aos jovens uma oportunidade de refletir sobre

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virtudes como a liberdade, a amizade e a resiliência. Joaquim Norberto, por exemplo,
menciona a traição de Alvarenga aos seus ideais, o que pode servir como um alerta
sobre a importância de manter a integridade e os valores pessoais, mesmo em face da
adversidade. A obra de Alvarenga Peixoto é analisada de forma crítica, destacando tanto
suas contribuições quanto suas falhas. Manuel Rodrigues Lapa e Joaquim Norberto, por
exemplo, discutem a complexidade de sua vida e obra, revelando um poeta que, apesar
de seu talento, enfrentou desafios pessoais e morais. Essa dualidade na análise reflete
uma busca por entender a literatura não apenas como arte, mas também como um
reflexo das experiências humanas e sociais

9. “Construindo um autor colonial na América Latina” de Caio Cesar

O ensaio destaca como intelectuais, ao longo dos séculos, têm moldado a


percepção de autores coloniais através de narrativas que muitas vezes desmaterializam a
figura do autor, transformando-a em conceitos abstratos e nacionais. obra menciona a
importância de antologias, como o "Parnaso Brasileiro", que coletou poesias de autores
coloniais e ajudou a estabelecer um cânone literário. A biografia de Alvarenga Peixoto,
por exemplo, é um caso em que a construção da figura do autor é influenciada por
eventos históricos e pela recepção crítica ao longo do tempo.
O escritor do ensaio destaca o desafio de recriar de maneira autêntica o passado
colonial, considerando as limitações impostas pelos séculos que nos separam dos
poemas coloniais. Ele argumenta que a historiografia e a filologia são ferramentas
essenciais para desconstruir narrativas nacionalistas que possam distorcer a
compreensão dos autores coloniais. Ao analisar os textos, a filologia pode evidenciar a
variedade e a complexidade das vozes literárias, ao passo que a historiografia pode
questionar as interpretações predominantes que simplificam ou uniformizam essas
vozes.
Caio Cesar propõe que sejam formuladas questões que estimulem uma análise
crítica e extensiva sobre os escritores coloniais e suas produções. Mesmo sem listar
diretamente as perguntas, o texto sugere possíveis direções, como investigar a
construção da figura do autor colonial ao longo da história e os impactos dos contextos
históricos, sociais e culturais nesse processo. Por exemplo: "De que forma as narrativas
historiográficas influenciaram a visão dos escritores coloniais?"
O autor da dissertação critica a hegemonia do método filológico que busca um
"texto genuíno", argumentando que essa abordagem pode ignorar a construção social
dos autores e a pluralidade das identidades literárias. Ele defende que a historiografia,
ao analisar a literatura colonial, deve considerar essas construções, reconhecendo que a
história literária é também uma construção social. Essas inter-relações mostram que a
análise das letras latino-americanas é enriquecida pela colaboração entre historiografia e
filologia, permitindo uma compreensão mais profunda e crítica da literatura colonial e
suas implicações. Além disso, o estilo literário na dissertação é acessível ao leitor,
promovendo uma leitura direta e concisa das idéias do autor.

10. "Os primeiros baudelarianos" de Antonio Candido

Conectar "Os primeiros baudelarianos" de Antônio Candido com "O pintor da


vida moderna" de Charles Baudelaire amplia a compreensão sobre a transmissão e
transformação de ideias sobre modernidade, papel do artista, e estética do belo e do feio

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em diferentes culturas ao longo do tempo, já que Candido se inspirou na obra de
Baudelaire.
No ensaio "O pintor da vida moderna", Charles Baudelaire discute a
modernidade como algo transitório, sendo analisado pelo artista que observa a
transformação da vida urbana. Ele caracteriza o artista de hoje como um flâneur, alguém
que observa a sociedade e enxerga beleza tanto no ordinário quanto no estranho,
revelando as ambiguidades da vida contemporânea. A análise de Antônio Candido em
"Os primeiros baudelarianos" ecoa fortemente a visão de Baudelaire sobre a
modernidade e o papel do artista. Candido analisa como autores brasileiros como Cruz e
Sousa e Alphonsus de Guimaraens absorveram e incluíram esses conceitos
baudelairianos, integrando a percepção da efemeridade e da complexidade da vida
contemporânea em seus escritos. Esses escritores do Brasil, inspirados pela estética do
bonito e do feio de Baudelaire, abordaram assuntos como decadência, morbidez e a
beleza presente nas vivências do dia a dia e passageiras.
Antônio Candido ressalta a maneira como os primeiros modernistas brasileiros
se tornaram observadores críticos da sociedade, seguindo a descrição do flâneur feita
por Baudelaire. Eles não só espelharam as mudanças rápidas e as pressões da
urbanização no Brasil, como também reimaginaram a modernidade de Baudelaire para
um ambiente cultural e social distinto. Por meio de suas interpretações, Candido
demonstra como a literatura brasileira do período foi influenciada por esses fatores,
originando uma produção literária que interage com as tradições europeias, porém se
destaca pela sua singularidade e importância regional. Assim, o livro "Os primeiros
baudelarianos" de Candido apresenta uma perspectiva interessante sobre a maneira
como as ideias de "O pintor da vida moderna" foram mudadas e propagadas, mostrando
a persistente vitalidade e evolução da influência de Baudelaire na literatura global.
O estilo de Baudelaire é poético e muitas vezes abstrato, exigindo uma leitura
cuidadosa para captar todas as nuances de suas observações sobre a vida moderna e o
papel do artista. Em contraste, o estilo de Candido, embora erudito e detalhado, é mais
direto e analítico. No entanto, a profundidade de sua análise e as referências literárias
podem apresentar desafios similares aos leitores.

Conclusão

Este hiponema visa unir anotações que possam oferecer uma visão abrangente e
crítica das interações e possíveis tensões entre diferentes autores da literatura poética
brasileira, sustentada por análises aprofundadas através dos poemas, dissertações, obras
e textos citados, juntamente com ênfase em seus devidos gêneros literários.

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Referências Bibliográficas

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caso Gregório de Matos. Fundação Casa de Jorge Amado: 1989.

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