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Curso de Extensão em Literatura Brasileira_2

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Aula 02 – Formação da Literatura Brasileira

Prefácio à 1ª edição: Cada literatura requer um tratamento peculiar, em virtude dos


seus problemas específicos ou da relação que mantém com outras. No caso brasileiro,
ela foi gerada no seio da literatura portuguesa e dependeu de mais outras para se
constituir.

A nossa literatura é galho secundário da literatura portuguesa, que é, por sua vez,
arbusto de segunda ordem no jardim das Musas...

Para Antonio Candido, comparada às grandes literaturas, a nossa literatura é pobre e


fraca. Mas ela é, não outra, a que nos exprime.

Em relação à literatura, não se pense que haja sempre novidades para exprimir; essa
é uma ilusão dos parvos ou ignorantes que acreditam que possuem tesouros de
originalidade, e que aquilo que pensam, ou dizem, nunca foi antes pensado, ou dito
por alguém.

Prefácio à 2ª edição: Candido diz jamais ter afirmado a inexistência de literatura no


Brasil antes dos períodos que ele indicou em sua obra. Para ele, em um sentido
amplo, houve literatura desde o século XVI; ralas e esparsas manifestações que
marcaram posições para um futuro.

Para Candido, um primeiro pressuposto para estudar a literatura é a partir da


existência do triângulo “autor-obra-público”, em uma interação dinâmica, com uma
certa continuidade de tradição.

O segundo pressuposto é a partir da sugestão de períodos.

O terceiro pressuposto é de que o estudo da literatura requer um método que seja


histórico e ao mesmo tempo estético. Desse modo, Candido procurou mostrar a
inviabilidade da crítica determinista geral, e mesmo da sociológica, em particular
quando se erige um método exclusivo ou predominante.

Mesmo em estudos literários de orientação ou natureza histórica, jamais se considera


a obra como um produto, mas enquanto uma entidade autônoma, de modo que se
permite analisar a sua função nos processos culturais.

O quarto pressuposto diz respeito ao papel desempenhado pelo Arcadismo e pelo


Romantismo, na constituição de vez da literatura do Ocidente no Brasil.

A literatura do Brasil, como a dos outros países latino-americanos, é marcada por um


compromisso com a vida nacional no seu conjunto, circunstância que inexiste nas
literaturas dos países de velha cultura. Nelas, os vínculos neste sentido são os que
prendem essas seriamente as produções do espírito ao conjunto das produções
culturais; mas não há consciência, ou a intenção de estar fazendo um pouco da nação
ao fazer literatura.

1 – Literatura como sistema: Candido procure estudar a formação da literatura


brasileira como síntese de tendências universalistas e particularistas.

Candido considera a formação de uma literatura propriamente dita a partir da


constituição são de um sistema de obras ligadas por denominadores comuns, que
permitem reconhecer as notas dominantes de uma fase.
Para a constituição de um sistema, convém a existência de um conjunto de
produtores literários, mais ou menos conscientes de seu papel, um conjunto de
receptores, formando diferentes tipos de público sem os quais a obra não vive, um
mecanismo transmissor, de modo geral uma linguagem traduzida em estilos, que
ligam uns aos outros.

Segundo Candido, nossos primeiros críticos estrangeiros e românticos localizaram na


fase arcádica o início da nossa verdadeira literatura graças à manifestação de temas
notadamente o indianismo que dominarão a produção oitocentista.

2 – Uma literatura empenhada: os escritores neoclássicos são quase todos


animados do desejo de construir uma literatura como prova de que os brasileiros
eram tão capazes quanto os europeus e mesmo quando procuraram exprimir uma
realidade puramente individual segundo os moldes universalistas do momento, estão
visando este aspecto.

Depois da Independência o pendor se acentuou, levando a considerar a atividade


literária como parte do esforço de construção do país livre vi em cumprimento a um
programa bem cedo estabelecido revisava a diferenciação e particularização dos
temas e modos de exprimi-los.

O nacionalismo artístico não pode ser condenado ou louvado em abstrato pois é fruto
de condições históricas quase imposição nos momentos em que o estado se forma e
adquire fisionomia nos povos antes desprovidos de autonomia ou unidade.

Um imaturidade, por vezes provinciana deu à literatura brasileira sentido histórico


excepcional poder comunicativo vivo tornando a língua geral de uma sociedade a
busca de autoconhecimento.

O problema da autonomia da literatura brasileira, a definição do momento e os


motivos que a distinguem da portuguesa viu é algo superado que não interessou
especialmente Antonio Candido no entanto este considera que, para os românticos, a
literatura brasileira começava propriamente em virtude do tema indianista.

A nossa literatura é o ramo da portuguesa pode-se considerá-la independente desde


Gregório de Matos ou só após Gonçalves Dias e José de Alencar, segundo a
perspectiva adotada.

3 – Pressupostos: para Cândido, a história da literatura implica a convicção de que o


ponto de vista histórico é um dos modos legítimos de estudar literatura, pressupondo
que as obras se articulam no tempo, de modo a se poder discernir uma certa
determinação na maneira por que são produzidas e incorporadas ao patrimônio de
uma civilização.

Um esteticismo mal compreendido procurou, nos últimos anos, negar a validade a


esta proposição, o que em parte se explica como réplica aos exageros do velho
método histórico que reduziu a literatura a episódio da investigação sobre a
sociedade.

Deste modo para Candido, convém que o estudo da literatura procure apreender o
fenômeno literário da maneira mais significativa e completa possível, não só
averiguando o sentido de um contexto cultural mas procurando estudar cada autor na
sua singularidade estética.
4 – O terreno e as atitudes críticas: a crítica viva usa largamente a intuição,
aceitando e procurando exprimir as sugestões trazidas pela leitura. Delas sairá afinal
o juízo, que não é julgamento puro e simples mas avaliação reconhecimento e
definição de valor.

O crítico é feito pelo esforço de compreender, para interpretar e explicar, mas aquelas
etapas se integram no seu roteiro que pressupõem quando completo um elemento
perceptivo inicial um elemento intelectual médio um elemento voluntário final.
Perceber, compreender, julgar.

Não há porém uma crítica única, mas vários caminhos, conforme o objeto em foco ora
com maior recurso a análise formal ora com atenção mais acurada aos fatores.

5 – O elemento de compreensão: nos colocamos ante uma obra, ou uma sucessão


de obras, temos vários níveis possíveis de compreensão, segundo ângulo em que nos
situamos. 1) os fatores externos que a vinculam ao tempo e se podem resumir na
designação de sociais; 2) o fator individual isto é o autor o homem que a intentou e
realizou está presente no resultado; 3) finalmente, esse resultado, o texto, contendo
os elementos anteriores e outros, específicos, que os transcendem e não se deixam
reduzir a eles.

Literatura é um conjunto de obras, não de fatores nem de autores. Como, porém, o


texto é integração de elementos sociais e psíquicos estes devem ser levados em
conta para interpretá-lo o que apenas na aparência contesta o que acaba de ser dito;

O trabalho de leitura do texto literário consiste em analisar a visão que a obra


exprime do homem, a posição em face dos temas através dos quais se manifestam o
espírito ou a sociedade. Um poema revela sentimentos, ideias, experiências; um
romance revela isto mesmo com mais amplitude e menos concentração.

Importa no estudo da literatura o que o texto exprime. A pesquisa da vida e do


momento vale menos para esclarecer uma verdade documentária frequentemente
inútil do que para ver se nas condições do meio e na biografia há elementos que
esclareçam a realidade superior do texto por vezes uma gloriosa mentira segundo os
padrões usuais.

6 – Conceitos: no arsenal da história literária, na qual se insere a literatura brasileira,


dispomos de conceitos como: período, fase, momento; geração, grupo, corrente;
escola, teoria, tema; fonte, influência.

1) Período: Refere-se a um intervalo de tempo marcado por características específicas


na literatura brasileira, como o Barroco, o Romantismo, o Realismo, entre outros. Cada
período é definido por traços estilísticos, temáticos e contextuais que o distinguem
dos demais.

2) Fase: Dentro de um período, uma fase indica uma subdivisão que compartilha
características particulares. Por exemplo, no Romantismo, podemos falar em fase
indianista, fase ultrarromântica, entre outras, cada uma com suas peculiaridades
temáticas e estilísticas.

3) Momento: Refere-se a conjunturas específicas dentro de um período ou fase,


marcadas por eventos históricos, sociais ou culturais que influenciam a produção
literária. Por exemplo, o momento da Abolição da Escravatura no Brasil foi um
momento crucial que influenciou a literatura da época.

4) Geração: Grupo de escritores que compartilham de características estilísticas,


temáticas ou ideológicas comuns, geralmente nascidos em um intervalo de tempo
aproximado. Por exemplo, a Geração de 45, que inclui escritores como Guimarães
Rosa e Clarice Lispector, caracterizada por uma busca por inovação estilística e
temática na literatura brasileira pós-Segunda Guerra Mundial.

5) Grupo: Conjunto de escritores que se reúnem em torno de objetivos comuns, como


a publicação de revistas, a defesa de determinadas ideias estéticas ou políticas, ou a
formação de movimentos literários. Exemplo disso é o Grupo da Revista Moderna, que
impulsionou o Modernismo no Brasil.

6) Corrente: Tendência ou movimento literário que influencia a produção de um grupo


de escritores em um determinado período. Por exemplo, o Simbolismo foi uma
corrente que teve impacto na poesia brasileira do final do século XIX e início do século
XX.

7) Escola: Conjunto de ideias estéticas, teóricas ou pedagógicas que orientam a


produção literária de um grupo de escritores. Por exemplo, a Escola Romântica
brasileira, que seguiu os preceitos do Romantismo europeu adaptados à realidade
brasileira.

8) Teoria: Conjunto de conceitos e princípios que buscam explicar ou interpretar a


literatura, seus elementos e seu funcionamento. Por exemplo, a teoria do
Realismo/Naturalismo, que enfatiza a representação objetiva da realidade e o
determinismo nas obras literárias.

9) Tema: Assunto central ou recorrente abordado na literatura, podendo ser político,


social, psicológico, entre outros. Por exemplo, o tema da identidade nacional é
recorrente em várias obras da literatura brasileira.

10) Fonte: Origem ou influência de onde um escritor ou movimento literário retira


suas ideias, inspiração ou elementos estilísticos. Por exemplo, a literatura clássica
greco-romana foi uma importante fonte de inspiração para muitos escritores
brasileiros.

11) Influência: Impacto ou efeito que uma obra, autor ou movimento literário exerce
sobre outros, podendo moldar estilos, temas ou abordagens. Por exemplo, a obra de
Machado de Assis exerceu grande influência sobre os escritores brasileiros que vieram
depois dele.

Iniciação à literatura brasileira

I – Manifestações literárias: contextualização histórica das primeiras


manifestações literárias no Brasil, destacando a literatura informativa e jesuítica, que
foi marcada pelos relatos de viagem, cartas, crônicas e catequese produzidos pelos
missionários jesuítas durante o período colonial.

Barroco brasileiro: Gregório de Matos como um de seus principais representantes. A


obra de Gregório de Matos é caracterizada por sua irreverência, crítica social e
religiosa, e uso elaborado da linguagem.
Arcadismo, também conhecido como Neoclassicismo: influenciado pelos ideais
iluministas europeus. Destacam-se autores como Cláudio Manuel da Costa e Tomás
Antônio Gonzaga, cujas obras são marcadas pela simplicidade, idealização da
natureza e busca pela verdade e pelo belo.

Romantismo: valorização do sentimento, da natureza e do nacionalismo. Autores


como Gonçalves Dias, José de Alencar e Álvares de Azevedo são mencionados como
representantes desse período, que apresenta uma grande diversidade temática e
estilística.

Realismo: destaca-se a obra de Machado de Assis como uma das mais importantes
desse período. O Realismo brasileiro foi marcado pela crítica social, psicológica e pela
ironia, apresentando uma visão crítica da sociedade e do comportamento humano.

Por fim, o Modernismo: uma ruptura com as tradições literárias anteriores e uma
busca por uma identidade cultural brasileira. Autores como Mário de Andrade, Oswald
de Andrade e Manuel Bandeira são mencionados como representantes desse
movimento, que apresentou uma grande diversidade estilística e temática.

II - A configuração do sistema literário: a estrutura e funcionamento do sistema


literário, fornecendo uma compreensão mais aprofundada sobre como a literatura se
organiza e se desenvolve no contexto brasileiro.

Definição de Sistema Literário: rede complexa de interações entre diferentes


elementos, como autores, obras, instituições literárias, críticos, leitores e editores.
Esses elementos se influenciam e se interconectam, formando uma estrutura
dinâmica que molda a produção, circulação e recepção da literatura.

Características do Sistema Literário: historicidade, ou seja, a maneira como ele se


transforma ao longo do tempo em resposta a mudanças sociais, políticas e culturais.
Além disso, o sistema literário é marcado pela sua heterogeneidade, abrangendo uma
ampla variedade de gêneros, estilos e temas.

Agentes do Sistema Literário: os escritores, críticos literários, editores, livreiros,


leitores, instituições acadêmicas e culturais, entre outros. Cada um desses agentes
desempenha um papel importante na produção, legitimação e difusão da literatura.

Instituições Literárias: academias, editoras, revistas literárias e bienais do livro, na


promoção e difusão da literatura. Essas instituições desempenham um papel crucial
na consolidação do cânone literário, na formação de novos escritores e na criação de
espaços para o debate crítico e a circulação das obras.

Cânone Literário: conjunto de obras consideradas como as mais importantes e


representativas de uma determinada tradição literária. O cânone é dinâmico e sujeito
a revisões ao longo do tempo, refletindo mudanças nas perspectivas críticas e nos
valores culturais.

Recepção Literária: a maneira como as obras são interpretadas e recebidas pelos


leitores. A recepção literária é influenciada por uma série de fatores, como o contexto
histórico e cultural, as experiências individuais dos leitores e as mediações críticas.

III – O sistema literário consolidado: autonomia literária nacional, a produção e


recepção literárias e as características dos autores e obras que marcaram esse
período.
Consolidação da autonomia literária nacional: Este momento marca a independência
literária do Brasil em relação a Portugal, um processo que se desenvolveu ao longo do
século XIX.

A literatura brasileira começa a se afastar das influências portuguesas, consolidando


sua própria identidade e expressão.

Autores como José de Alencar e Machado de Assis desempenham papéis importantes


nesse processo, contribuindo para a formação de uma literatura nacional autêntica.

Produção e recepção literárias: A literatura brasileira passa a ser produzida e


consumida de forma mais intensa e diversificada.

O público leitor se expande, e as obras literárias ganham maior visibilidade e


relevância na sociedade.

A imprensa exerce um papel crucial na divulgação e popularização da literatura,


tornando-a mais acessível ao público em geral.

Características dos autores e obras: Autores como Machado de Assis, considerado o


maior escritor brasileiro do século XIX, destacam-se pela complexidade de suas obras
e pela abordagem profunda de temas universais.

O Realismo e o Naturalismo ganham destaque como movimentos literários


dominantes, caracterizados pela representação fiel da realidade e pela análise crítica
da sociedade.
Machado de Assis, em particular, é conhecido por suas obras que exploram as
nuances da psicologia humana e as contradições sociais.

Consolidação do cânone literário: Durante esse período, algumas obras e autores se


consolidam como parte do cânone literário brasileiro, sendo amplamente estudados e
celebrados até os dias de hoje.

Obras como "Dom Casmurro", "Memórias Póstumas de Brás Cubas" e "O Cortiço"
tornam-se marcos da literatura nacional, sendo frequentemente analisadas e
reinterpretadas por críticos e estudiosos.

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