Um Namoro de Mentirinha - B.K. Borison
Um Namoro de Mentirinha - B.K. Borison
Um Namoro de Mentirinha - B.K. Borison
Borison
Um namorado de Natal
Um amor de cidade pequena
Título original
Mixed Signals – Lovelight Series
ISBN: 978-65-5924-355-6
B739n
Borison, B.K.
Um namoro de mentirinha [recurso eletrônico] / B.K. Borison ; tradução Carolina
Candido. - 1. ed. - Rio de Janeiro : Verus, 2024.
recurso digital
Tradução de: Mixed signals
Formato: epub
Requisitos do sistema: adobe digital editions
Modo de acesso: world wide web
ISBN 978-65-5924-355-6 (recurso eletrônico)
1. Romance americano. 2. Livros eletrônicos. I. Candido, Carolina. II. Título.
24-93782
CDD: 813
CDU: 82-31(73)
Gabriela Faray Ferreira Lopes - Bibliotecária - CRB-7/6643
CAPÍTULO 1
CAPÍTULO 2
CAPÍTULO 3
CAPÍTULO 4
CAPÍTULO 5
CAPÍTULO 6
CAPÍTULO 7
CAPÍTULO 8
CAPÍTULO 9
CAPÍTULO 10
CAPÍTULO 11
CAPÍTULO 12
CAPÍTULO 13
CAPÍTULO 14
CAPÍTULO 15
CAPÍTULO 16
CAPÍTULO 17
CAPÍTULO 18
CAPÍTULO 19
CAPÍTULO 20
CAPÍTULO 21
CAPÍTULO 22
CAPÍTULO 23
CAPÍTULO 24
CAPÍTULO 25
CAPÍTULO 26
1
LAYLA
TERMINO DE PAGAR a conta e olho para onde Celia indicou. Vejo um homem que
se move tranquilamente entre as mesas abarrotadas e agrupadas na areia. Não é o
cara que veio comigo. Claro que não. Bryce é tão inesquecível quanto papel de
chiclete amassado e perdido no fundo da bolsa.
Não, o homem que vem na nossa direção é alto. Deve ter, facilmente, mais de
um metro e oitenta. A pele marrom linda e radiante. Não consigo ver seu rosto
porque ele está olhando por cima do ombro, para o grupo do qual acabou de sair,
gritando algo com uma risada. Ele veste uma camisa havaiana colorida, que
deveria ser ridícula, mas, com os três botões de cima abertos, só consigo me
concentrar em suas clavículas e nas mangas apertadas na curva dos bíceps, que
estão esticadas demais, como se a camisa não conseguisse conter toda a força dele.
Olho para os abacaxis dançantes em seu peito largo, distraída. Continuo
olhando enquanto ele vem até o bar, bem ao meu lado, e apoia as duas mãos no
balcão. Seus antebraços se exionam, e resisto à vontade de levar minhas mãos ao
rosto, admirada.
Por que antebraços me deixam assim?
Je-sus.
Vou querer outra piña colada, por favor. O aniversariante está cando
inquieto.
Celia parece ter vontade de dar mais que uma piña colada para ele. Escondo um
sorriso por trás dos dedos e, en m, olho para o rosto dele. Quase engasgo com a
surpresa.
Caleb?
Caleb Alvarez. O mesmo homem que vejo pelo menos três vezes por semana
durante os últimos cinco anos, sem pensar uma única vez em seu peitoral. Ele vai à
padaria na fazenda toda segunda, quarta e sexta e faz sempre o mesmo pedido, um
croissant e um café. Só com creme.
Caleb está aqui, tão longe da nossa cidadezinha.
Em um bar na beira da praia.
Vestindo uma camisa havaiana quase indecente com esses botões abertos.
Ele inclina a cabeça e arregala os olhos castanhos. Vejo, fascinada, suas pupilas
parecerem mais vivas ao me reconhecer, um anel âmbar em volta da íris. Nunca
tinha notado a cor dos olhos dele antes. Estou adorando o que estou vendo. O
cabelo bagunçado pela brisa do oceano e toda aquela pele marrom-clara à mostra.
Um sorriso surge no canto da sua boca, e tenho que engolir em seco três vezes
seguidas.
Layla diz, uma doce combinação de surpresa e alegria. Ele sempre diz
meu nome desse jeito, mas soa diferente aqui, com todo o sal e a areia. Fico com a
boca seca.
E aí, Caleb? Aponto para um dos abacaxis circundado por ores laranja
vibrante no peito dele. Tenho um branco total, minha mente esvaziada pelos três
pequenos botões. Camisa legal.
Já vi Caleb de suéter de gola alta algumas vezes. De calças jeans gastas e botas
com cadarços na altura dos tornozelos. De camiseta durante o verão. Eu nunca
tive… uma reação parecida… com nada disso.
Ele alisa os botões, um leve rubor surgindo nas bochechas.
Ah, bom. O Alex insistiu.
Ele aponta com o queixo para as mesas. Sigo seu olhar e vejo Alex Alvarez, nosso
livreiro quieto e modesto de cidade pequena, dançando o que me parece uma
versão bêbada de salsa com uma linda ruiva, os dois usando camisas havaianas tão
assustadoras quanto a de Caleb.
É tipo uma tradição explica Caleb.
Notei.
Ele adora estampas fortes. E todo mundo no tema.
Acho que faz sentido. Já vi as vitrines que Alex monta. São sempre bem ousadas.
No Halloween passado, a cidade fez um abaixo-assinado por causa da
interpretação um tanto literal de e Rocky Horror Picture Show. Pisco algumas
vezes e olho para a camisa de Caleb de novo.
Deu pra perceber.
Ele também adora obrigar a família toda a parecer um bando de idiotas em
público. Caleb descansa a mão em volta o copo que Celia desliza para ele e dá
um sorriso em agradecimento. Nós duas suspiramos em uníssono.
Qual a chance, né? Ele apoia um dos cotovelos no balcão e dá um sorriso
que se abre devagar, discreto. Uau… tudo bem. Com certeza eu não tinha notado
essas covinhas antes também. Entre todos os bares.
Pois é respondo, ainda distraída. Meu cérebro está tentando alinhar essa
versão de Caleb com a que eu tinha em mente. Não… não está dando certo.
Tem algum vudu nessa camisa havaiana?
Ele olha discretamente para meu vestido verde, o sorriso se derretendo e cando
mais determinado, mais sincero, o tom rosa fraco das bochechas assumindo uma
cor vermelho-rubi.
Você está linda.
Obrigada consigo responder, resistindo à vontade de limpar a garganta.
Acho que Bryce não me fez um único elogio a noite toda, além do comentário de
que sou mais bonita pessoalmente do que na foto de per l. Um elogio de
centavos.
Eu me arrumei toda hoje. Coloquei um vestido verde-claro de alças nas, com
uma fenda lateral que vai até a coxa. Queria estar bonita. Queria me sentir linda,
deslumbrante e desejada.
E desperdicei tudo isso com Bryce.
Você veio com a Stella e o Becke ?
Eu me divirto ao pensar em Becke , nosso chefe de cultivo, sempre tão mal-
humorado, de cara feia, com uma bebida de coco nas mãos. Mas então brinco com
a alça do vestido e suspiro alto, olhando para a mesa que abandonei.
Estou em um encontro. Bom, acho que eu estava em um encontro.
Porque não faço ideia de onde Bryce está. A mesa está vazia, e poderia jurar que
alguns dos talheres sumiram. Meu prato de sobremesa também.
Babaca.
Caleb parece confuso.
Com, hum, com você mesma?
Não. Com um idiota que, pelo jeito, gosta de sair de ninho pra não pagar a
conta. Franzo a testa, pensando no que, sem dúvida, será uma longa e cara
viagem de volta para Inglewild com um carro de aplicativo. Merda. Ele me
trouxe até aqui.
E foi embora? A expressão de Caleb é ameaçadora. A mandíbula está
cerrada, as covinhas desaparecendo tão depressa quanto surgiram.
Acredite confesso , foi melhor assim.
Não consigo me imaginar sentada no carro de Bryce durante os trinta e cinco
minutos de viagem até Inglewild, encarando o bonequinho de hamster no painel
cheia de ódio. É bem provável que ele colocasse Ace of Base para ouvir. Ou pior,
Nickelback.
Ele não deveria ter abandonado você aqui. É tudo o que Caleb diz, ainda
encarando a mesa vazia com o olhar distante. Ele parece prestes a correr até o
estacionamento como um justiceiro em busca de vingança. Sinto uma satisfação
estranha ao imaginar isso.
Tudo bem. Posso pedir um Uber pra voltar pra casa. Eu me viro e vejo
Celia ainda atrás do balcão, o olhar alternando de Caleb para mim. Acho que
vou querer aquele pedaço extra de bolo pra viagem, então.
Espere. Caleb segura meu cotovelo com seus dedos longos e aperta de
leve uma vez. Seu toque é gentil, a mão quente. Eu levo você de volta.
Não, não. Não precisa. Olho para o outro lado do bar, onde Alex é jogado
de um lado para o outro pela parceira de dança, os dois rindo tanto que mal
conseguem car em pé. A mesa está cercada por uma série de pessoas em camisas
havaianas combinando. Toda a família Alvarez, en m percebo. O tio deles,
Benjamín, está com a camisa amarrada na cintura em uma versão um tanto
estranha de um cropped. Sorrio. Você não pode ir embora. É o aniversário do
seu irmão.
Estreito os olhos, reparando em um rapaz de cabelo escuro com um sutiã de
coco na ponta do pequeno grupo. É um pouco mais alto que os outros.
Aquele é o Charlie?
Caleb nem se preocupa em seguir meu olhar.
Ele mesmo.
Observo o meio-irmão de Stella bambear, uma bebida em cada mão.
Ele veio dirigindo de Nova York?
Você sabe como o Charlie é. Nunca diz não pra uma festa. Caleb continua
segurando meu braço, os olhos focados em mim. O Alex não vai se lembrar de
nada que tenha acontecido na última hora. É sério. Deixe que eu levo você pra
casa.
Mas e a bebida dele?
Vou lá entregar e podemos ir.
Como ele vai voltar pra casa?
Alugamos um ônibus temático. Claro que alugaram. Caleb me dá outro
olhar tímido, o vermelho do rosto cando ainda mais intenso. Ele ama temas
tropicais murmura.
Aperto os lábios para disfarçar o sorriso.
Vamos roubar o ônibus, então?
O quê? Não. Ele parece assustado. Eu vim de carro.
É brega demais pra você?
Um sorriso surge em seus lábios.
Acho que pra todo mundo, pelo menos um pouquinho.
Menos para o Alex.
Menos para o Alex, é claro.
O sorriso discreto se amplia de repente, tão radiante e lindo que preciso me
lembrar de respirar. As covinhas das bochechas ganham vida nova, e co feliz por
Caleb ainda estar com a mão em meu braço. Seu polegar alisa uma vez a parte
interna do meu cotovelo, um toque despretensioso e casual. Caleb inclina a cabeça
para a frente e uma mecha do cabelo escuro cai sobre a testa. Algum canto distante
da minha mente ainda sussurra: Mas o que é que está acontecendo?
Quando foi que Caleb Alvarez cou tão gato?
Se você tem certeza murmuro, por m.
Eu não tenho certeza. Acho que nunca tive tão pouca certeza em toda a vida.
Que segredo Caleb vai revelar a seguir? Que ele sabe tocar gaita? Que tem um
bonequinho esquisito cabeçudo no painel do carro? Que é um baita de um
gostoso, mas péssimo motorista? Meu Deus, será que ele dirige em silêncio? Ele
odeia música? Não faço ideia. Mas estou pronta para a viagem agora mesmo,
impressionada o su ciente com um conjunto de bíceps fortes e uma camisa
estampada.
Tenho certeza responde decidido enquanto solta meu braço e pega a
bebida frutada à sua frente. Observo com interesse a camisa dele se retesando
sobre o peito. Sinto como se estivesse em uma dimensão alternativa, em que o
cara legal e despretensioso que entra na minha padaria com uma precisão quase
militar é, de repente, uma visão dos sonhos vestindo uma camisa havaiana. Só
me dê um segundo para falar com o Alex e podemos ir.
Caleb se afasta, passando pelas mesas, de alguma forma conseguindo não
parecer ridículo. Eu não tiro os olhos enquanto ele segue.
Todas as outras mulheres no bar fazem o mesmo. Alguns homens também.
Celia assobia baixo. Droga, eu nem tinha me dado conta de que ela ainda estava
ali.
Você arrumou um rapidinho.
Coço a sobrancelha uma vez e observo enquanto Caleb tenta tirar Alex da
coreogra a improvisada de salsa. Alex faz uma manobra evasiva enquanto Charlie
bate os próprios punhos agressivamente.
Nós moramos na mesma cidade. Eu o conheço.
Também queria conhecer murmura Celia.
Eu me viro para ela com as sobrancelhas erguidas.
Não precisa se segurar por minha causa.
Ela balança a mão.
Não. Eu senti um clima.
Não existe clima nenhum. Ele só é um cara legal.
O mais legal. Costumo vê-lo ajudar velhinhas a atravessarem a rua. Ele se
oferece como voluntário todos os anos para o Dia de Cavar na fazenda, quando os
moradores da cidade nos ajudam a preparar os campos para a nova estação. Na
maioria das vezes, não sei dizer se, de fato, ele gosta dos croissants de manteiga
que pede religiosamente ou se quer só apoiar um negócio local. Stella disse uma
vez que ele era cronicamente gentil. É meigo e engraçado, e nunca está ocupado
demais para ajudar a colocar sete sacos de açúcar de vinte e cinco quilos no meu
carro.
Dane, o xerife da cidade, o demitiu do cargo de delegado há quatro meses por
ele ser legal demais. Pelo que ouvi, Caleb aceitou muitos pagamentos de multa de
trânsito na forma de notas promissórias escritas no verso de recibos antigos. Ouvi
de Ma y, na pizzaria, que algumas delas foram bastante explícitas.
Desde então, ele tem trabalhado como professor substituto na escola.
Observo enquanto Alex tenta fazer um passo de dança com o irmão mais velho.
Todas as pessoas reunidas ao redor da mesa comemoram. Eu sorrio.
Tipo, um cara muito legal.
Claro, claro. Celia põe de lado o copo que está polindo há quase quinze
minutos. Pega outro. Vou colocar dois pedaços pra viagem.
Caleb en m consegue fazer com que Alex que parado. Eu o observo dizer
alguma coisa no ouvido de Alex que o faz car animado, então ele tenta subir na
mesa de novo, a mão protegendo os olhos, apesar de o sol ter se posto horas atrás.
Ele me vê perto do bar.
Então grita a plenos pulmões.
Laylaaaaaa!
Caleb parece prestes a morrer de vergonha.
Vou até a mesa antes que ele resolva se lançar com tudo em cima do balcão do
bar. Assim que estou perto o su ciente, ele dá um salto espetacular do topo da
mesa e pousa em algum lugar perto dos meus pés. Envolve minhas pernas com os
braços.
Laylaaaaaa! diz, cantando as sílabas do meu nome em sua melhor
imitação de Eric Clapton. Você veio à minha festa de aniversário!
Tento levantá-lo segurando-o pelos braços, mas somos impedidos pela parede
de músculos de um metro e noventa que nos abraça de repente. Charlie cheira a
uma prateleira inteira de bebida, seu rosto grande e ridículo pressionado em meu
ombro.
Layla. Ele parece prestes a chorar. É tão bom ver você.
Levo a mão à testa dele e o empurro para longe de mim.
A gente se viu no m de semana passado, bobo.
Stella e o namorado, Luka, zeram um jantar na casa deles, e tive o prazer de ver
meus melhores amigos e seus entes queridos bajularem um ao outro. Charlie se
retirou depois de quinze minutos, alegando dor de estômago, e terminei a noite
com o melhor encontro que tive em meses: uma bela garrafa de sauvignon blanc e
um prato de cookies recheados com pasta de amendoim que eu mesma z.
Mesmo assim diz Charlie, a voz arrastada. Ele se afasta, os grandes olhos
azuis arregalados. Está usando um sutiã de coco e uma or atrás da orelha. Está
ridículo. Quer tomar um shot?
Alex dá aquele grito estridente mais uma vez. Coros de “shot, shot, shot” surgem
no grupo dos Alvarez. Sinto duas mãos fortes em meus ombros, me guiando com
delicadeza para longe dos bêbados carinhosos pendurados em mim.
Acho que não foi uma boa ideia vir se despedir murmura Caleb. Um de
seus tios tenta entregar um copo de shot para ele. Caleb faz uma careta e balança a
cabeça, depois olha por cima de mim. Meu Deus. Acho que o Charlie está
convencendo as pessoas a tomarem shots no corpo dele.
Eu não quero nem olhar.
Vou acreditar em você.
Certo. Hora de ir.
Ele estende a mão para mim, com a palma para cima.
Entrelaço meus dedos nos dele e vamos embora juntos.
3
LAYLA
POR SORTE, CALEB não tem nenhum bonequinho cabeçudo estranho no painel do
carro.
Só um dos aromatizantes de pinheiro com o logotipo da Lovelight que Stella
começou a vender na fazenda há alguns meses. Um jornal velho en ado entre a
marcha e o banco do motorista. Uma caixa da minha padaria que ele tenta
esconder assim que entro no jipe.
Não paro de olhar para ele enquanto se acomoda no banco do motorista,
ajustando as saídas de ar para que soprem nas minhas pernas, e não no meu rosto.
Ele veri ca o retrovisor e os espelhos laterais e eu sorrio. É claro que Caleb veri ca
os espelhos sempre que entra no carro. Aposto que ele também sabe a pressão dos
pneus.
Estreito os olhos e o observo, me sentindo inquieta.
Você cortou o cabelo?
Ele passa os dedos pelos os, constrangido.
Não.
Você cresceu, talvez? Ficou mais alto?
Ele ri.
Não cresci nem um centímetro desde que z dezoito anos. Ele estreita os
olhos de volta para mim. Por quê?
Fez plástica no nariz?
Ele parece ofendido.
Não.
Cirurgia de substituição de quadril?
Ele ri ao ouvir isso.
Não. O que deu em você?
É que você parece… diferente, só isso. Mais gato, meu cérebro grita para
mim. Nota dez na escala de gostosura. Juro pelas minhas baguetes de manteiga e
geleia que eu nunca tinha reparado no Caleb… assim… antes. Posso ter feito
alguma observação passageira, talvez. Ah, ele é uma gracinha, como quem não quer
nada.
Mas agora… não acho que ele é uma gracinha.
É um baita de um gostoso.
Estou impressionada.
Eu me recosto no banco e observo enquanto Caleb continua fazendo ajustes no
carro como se estivesse prestes a nos lançar ao espaço.
É a camisa havaiana.
Só pode ser.
Estou surpresa digo.
Ele me dá um olhar hesitante de soslaio, certi cando-se de que já estou com o
cinto de segurança a velado antes de sairmos do estacionamento. Acho que se
arrependeu de ter me oferecido carona de volta para casa.
Com o quê?
Que você não queira voltar no ônibus.
Ele dá outra gargalhada. Os sorrisos de Caleb são frequentes, mas suas risadas
são raras, e me pego afundando no banco ao ouvi-las. Sua risada é agradável.
Calorosa.
Não. As luzes me dão dor de cabeça. Além disso, saí tarde da escola hoje.
Perdi o ônibus.
Há uma ironia em alguma parte dessa a rmação.
Como está indo? Isso de dar aula.
É bom. Diferente. Estou aprendendo. Tenho sorte de a Katie Metzler ter
decidido fazer uma viagem para se redescobrir em Florida Keys.
Uma escolha estranha para uma viagem de autodescoberta, mas tudo bem.
A escola estava desesperada atrás de um professor de espanhol para o verão e
fez vista grossa para o fato de eu não ter quali cação. Estou tirando o certi cado
enquanto trabalho. Quero me tornar parte do corpo docente em tempo integral
no início do próximo ano letivo. Não poderia ter sido em um momento melhor,
considerando as circunstâncias.
Você cou chateado com o que aconteceu na delegacia?
Quando o Dane me demitiu? Ele dá risada. Não, de jeito nenhum. Já
estava na hora. A gente sabia que ser delegado não era mais uma boa opção pra
mim. Ele só me demitiu pra eu receber a indenização. Caleb me olha rápido.
Talvez eu devesse ter cado chateado, mas não sei. Fiquei aliviado, na verdade.
Acho que posso ajudar mais pessoas como professor. Mais crianças, pelo menos.
Sobretudo em nossa pequena cidade, onde Caleb passou mais tempo
impedindo que a sra. Beatrice usasse o carro como aríete do lado de fora de sua
cafeteria do que evitando qualquer tipo de crime grave. Tenho certeza de que
Dane consegue cuidar disso sozinho.
O Alex vive me dizendo que eu deveria esquecer o certi cado e só mostrar às
crianças reprises antigas da novela que minha abuela sempre fazia a gente assistir.
Ela nunca perdia um episódio de Corazón salvaje.
Sorrio. Às vezes, eu o vejo pela cidade com a avó. É mais alto que ela, e ela quase
sempre está mandando nele, fazendo-o carregar as compras.
Coração selvagem?
Isso.
Murmuro, pensativa.
Não seria má ideia.
Não sei se a diretoria também acha isso.
Dou risada e olho por cima do ombro para o banco de trás. O carro dele é mais
arrumado do que a bagunça de recibos amassados, tigelas velhas e doces vencidos
que enchem o meu. O cheiro aqui é de canela, como se ele tivesse uma fornada
inteira de biscoitos de gengibre escondida em algum lugar. Seguro a beirada da
caixa de guloseimas meio en ada embaixo do meu banco, com a esperança de
encontrar algo doce lá dentro. Esqueci a droga do bolo no bar, distraída por Caleb,
que tentava afastar todos os Alvarez como se fossem gatos bêbados.
Arranco a caixa branca de debaixo do banco com um puxão. Sei que estou
usando um vestido verde bem apertado, e a fenda provavelmente já deve estar na
altura da minha cintura, mas os olhos de Caleb seguem rmes na estrada. Ainda
bem.
Sobrou alguma coisa aqui?
Você acha que eu consigo me controlar tanto assim?
Olho com indiferença para ele.
Com certeza.
Toda semana, Caleb vai até a padaria e come um único croissant enquanto
encara avidamente a vitrine cheia de donuts cobertos de glacê. Só pode ter nervos
de aço. Ele aperta e relaxa as mãos no volante, e eu estremeço no banco. Meu olhar
sobe dos braços para os ombros dele, a curva do pescoço e a linha rme do
maxilar. Ele tira uma das mãos do volante e passa pelo cabelo escuro. Com a noite
caindo à nossa volta, quase parece tinta derramada. Chocolate derretendo no
fogão.
Sinceramente. Conheço o Caleb há anos. Como nunca notei o quanto ele é
bonito antes?
Talvez porque estava perdida em uma motivação quase maníaca para encontrar
um parceiro de vida. Ou por causa da série de homens sem graça que permiti que
me enganassem ao longo dos últimos anos. Ou talvez pela regra que coloquei para
mim mesma de que nunca, sob hipótese alguma, namoraria alguém da cidade.
Acho que funcionou como uma venda.
Deve haver umas sete pessoas na cidade toda. Mal consigo imaginar ter que lidar
com um encontro que não deu certo em todo lugar que for. Se eu tivesse que ver o
Bryce todos os dias esperando na la da padaria, pedindo meu biscoito favorito, o
de farinha de aveia salgada com chocolate branco, acho que morreria. Evaporaria
da face da terra.
E provavelmente também seria presa por homicídio.
Caleb limpa a garganta.
Posso fazer uma pergunta?
Você me salvou de pagar bem caro em um Uber hoje. Pode não apenas fazer
uma pergunta, mas também tomar café de graça a semana inteira na padaria.
Um sorrisinho surge nos cantos da boca dele.
Você já me dá café de graça.
Bom, agora você tem o café e uma pergunta.
Ele pausa por um segundo.
Só uma?
Isso importa?
Ele parece chocado com a minha pergunta.
É claro que importa.
E por quê?
Se só posso fazer uma pergunta, tenho que escolher uma das boas.
Também acho concordo com uma risada.
Ele murmura, hesitante, o som grave entre nós. Observo as luzes da rua
pintando seu rosto na escuridão. Dourado, prateado e um vermelho bem, bem
quente. O sorriso some e seu olhar parece mais incerto. Ele olha para mim e
depois volta a olhar para a estrada.
Por que você foi jantar com um cara desses?
Eu me remexo no assento, incomodada.
Como assim “um cara desses”?
Ele murmura alguma coisa que não consigo entender.
Um cara que deixa a conta pra você pagar e rouba os talheres antes de ir
embora responde ele, agora falando mais alto e claro.
Suspiro e pressiono dois dedos na testa.
Você também reparou nisso?
Ouvi você contando pra Stella na padaria umas semanas atrás hesita
Caleb de um cara que passou um rolinho de tirar apos em você antes de
entrar no carro dele.
Ah, sim. Peter. Ele também me fez colocar aquelas sapatilhas cirúrgicas nos
sapatos, mas não contei isso para ninguém. Olho pela janela e ajeito o cabelo atrás
das orelhas. Fiz escova hoje e ele está liso e brilhante. Agora, me sinto boba por
todo esse esforço.
Não tenho tido muita sorte nos encontros ultimamente digo, por m. É
um eufemismo e tanto, mas como eu poderia explicar a desgraça que é a minha
vida amorosa?
Peter e Bryce nem foram os piores. Um cara me perguntou se poderíamos pegar
a mãe dele depois do almoço e levá-la à lavanderia. Outro levou o melhor amigo e
agiu como se eu nem estivesse lá. Eles conversaram sobre ligas de Fantasy
Football, escalando times imaginários com os jogadores da rodada, por quarenta e
nove minutos, e tomaram sete doses de uísque com suco de picles.
Cada um.
E aquele cara, como era mesmo o nome, Justin?
Jacob respondo baixinho.
De todos, esse foi o que mais doeu. Todo o resto eu posso ngir que são só
histórias divertidas para entreter meus amigos. Incursões no mundo selvagem e
estranho dos encontros. Mas eu estava com Jacob havia meses. Entreguei a ele
muitas partes de mim em uma tentativa desesperada de que desse certo. Eu queria
tanto que alguém só… casse comigo… que eu inventava desculpas, justi cava o
comportamento de merda dele, e dizia a mim mesma que ele iria melhorar. Que
seria menos indeciso. Menos indiferente. Eu dizia a mim mesma que Jacob só
precisava de tempo para se ajustar e entrar em um ritmo mais confortável. Só
precisava de tempo para gostar de mim.
Mas, quanto mais tempo eu passava com ele, mais sentia que estava perdendo
aquelas partes de mim que cedia com tanta facilidade. Para ele, nem eu nem o
relacionamento éramos prioridades. Estava mais comprometido com o celular do
que comigo.
Eu merecia mais do que aquilo. Eu mereço mais do que aquilo.
O Jacob era um merda reclama Caleb. O maxilar dele se cerra de novo.
Era mesmo.
E o que está acontecendo, então? Caleb usa o pulso para dar a seta e
saímos da estrada, mais próximos de casa. Esses caras parecem todos…
Uns idiotas? sugiro. Babacas? Uma enorme e humilhante perda de tempo?
Ele ri, mas não parece se divertir nem um pouco. É um som quase cortante.
Sim concorda. Todos parecem perfeitos idiotas.
Não respondo nada. Não preciso que me lembrem do desastre que é a minha
vida amorosa. Que a única coisa que sempre esperei, em segredo e em silêncio, é
um mistério para mim tanto quanto a matéria escura e a vida extraterrestre. Não
importa quantos encontros eu tenha, estou tão longe disso agora quanto sempre
estive.
Não entendo como algo que é tão fácil para os outros pode ser tão difícil para
mim.
Layla. Caleb fala meu nome com um suspiro. Quando diz meu nome
desse jeito, sinto como se tivesse duas mãos em meus ombros, me sacudindo com
gentileza. Por que você perde tempo com esses caras? Por que se contenta com
migalhas quando merece o bolo inteiro?
Sinto um aperto no coração. Uma dor, bem no meio do peito.
É muito legal pensar desse jeito, mas às vezes tudo o que se tem são migalhas.
Sei que ele não gostou da minha resposta, então me viro para olhar pela janela,
observando a paisagem mudar devagar conforme nos aproximamos da costa.
Tudo aqui é tão vivo e vibrante, o verão se recusando a acabar. Bichinhos de luz
dançam do lado de fora da janela do carro, clarões dourados conforme passamos
em alta velocidade.
Espero que ele tente me convencer a desistir dessa triste convicção. Quando
Caleb não diz mais nada, quando percebo que está pacientemente esperando que
eu continue falando, algo se destrava dentro de mim e as palavras saem em uma
torrente.
Não sei. Acho… acho que estou procurando nos lugares errados. Quero
alguém que seja meu. E nem todo mundo é perfeito logo de cara, sabe? Às vezes as
pessoas precisam de um pouco de tempo antes de se entenderem. Todos merecem
uma chance. Dou de ombros, me sentindo inocente do pior jeito possível.
Quer dizer, Peter saiu do carro com um removedor de apos na mão. Não sei dizer
se ele sequer merecia minha atenção. E com a Stella e o Luka juntos, além do
Becke e da Evie, estou meio que cercada disso. Acho que tenho pensado que ter
algumas migalhas é melhor do que nada. Apoio a testa contra o vidro frio da
janela. Vai ver o meu problema é esse. Talvez seja melhor desistir do bolo de
vez, pelo menos por um tempo, até das migalhas.
Caleb está em silêncio, o ruído do carro é o único som. O vento bate nas janelas
e vozes murmuram baixinho no rádio.
Essa analogia cou estranha comenta, por m.
Ficou mesmo.
A verdade é que eu vi Stella se apaixonar por Luka, um homem por quem ela
tinha uma quedinha havia quase dez anos. Depois, vi Becke se apaixonar, a
contragosto, por Evelyn, uma mulher que é seu exato oposto. E depois que Becke
declarou seu amor pelas redes sociais, um verdadeiro choque para todo mundo,
talvez até para o próprio Becke , nossa pequena fazenda de árvores de Natal se
tornou um destino para qualquer pessoa que quisesse viver um pouco de
romance. Nos últimos três meses, assisti a mais pedidos de casamento, primeiros
encontros e casais tão apaixonados que chegavam a dar enjoo do que qualquer
pessoa presa em uma rotina de encontros frustrados deveria ter que suportar.
Eu quero isso para mim.
O… Caleb começa a falar e depois para, as mãos tensas no volante. O
Jesse não chamou você pra sair alguns meses atrás?
Ergo a sobrancelha e poderia jurar que até a ponta das orelhas dele está corada.
Fofo.
Foi na noite de competição de perguntas murmura. Tenho quase
certeza de que a cidade inteira ouviu quando ele convidou você.
É verdade. Ele praticamente gritou no microfone enquanto eu pegava outra
caneca de cerveja. Dou de ombros.
Não namoro ninguém da cidade.
Caleb pisca algumas vezes.
Ah.
Com um histórico como o meu, não co animada com a possibilidade de
encontrar os fantasmas de encontros passados a cada vez que for comprar uma
alcachofra na mercearia.
Isso acontece muito? O sorriso de Caleb surge devagar. Começa em um
dos cantos da boca e vai se espalhando até que seu rosto inteiro esteja iluminado.
Não consigo parar de olhar, confusa e cativada. Preciso jogar um balde de água
gelada na minha cabeça. Você precisar de alcachofras?
Você caria surpreso.
Tenho certeza de que caria.
Voltamos a car em silêncio, com o barulho constante da estrada sob nós e o
zumbido de algo lento e suave no rádio. Começo a sentir a exaustão se instalar em
meu corpo e curvo os ombros para a frente. Estou muito, muito cansada. Cansada
de fazer a mesma coisa várias vezes e não receber nada em troca. Caleb está certo.
Estou me contentando com migalhas.
Acho que já deu declaro. Esses encontros não estão me levando a lugar
algum. Apenas me deixando mais e mais insensível a cada fracasso. Não entendo
por que encontrar alguém é tão difícil para mim. Nada de bolo. Nem cupcakes
nem mesmo… rocamboles. A gata aqui vai entrar em uma dieta low-carb.
Caleb não comenta sobre minha determinação de estender a analogia que ele
fez. Ele apenas apoia o cotovelo na janela e esfrega os nós dos dedos no queixo.
Se isso faz você se sentir melhor declara , eu também não tenho tido
muita sorte com encontros.
Não consigo evitar. Bufo. Caleb, com esse cabelo, rosto, as covinhas e os ombros.
Qualquer uma das mulheres no bar hoje à noite teria jantado com ele feliz da vida.
Aposto que, quando ele abrir o botão dessa camisa havaiana ridícula em casa, vão
cair números de telefones que nem confetes.
Acho difícil de acreditar.
O quê? Por quê? Ele é o retrato da mais pura confusão.
Olhe pra você.
Olhar pra mim?
Faço um gesto amplo com os braços para indicar todo o corpo dele, como uma
daquelas moças bonitas nas feiras de automóveis. Sinto que deveria estar
segurando um número de papelão sobre a cabeça. Nota dez em todas as
categorias.
Olhe pra você.
Um sorriso confuso faz a boca dele se retorcer. Ele limpa a garganta.
Quando foi a última vez que você me viu com alguém na cidade?
Além do Alex?
Aham, além do meu irmão.
Costumo vê-lo com a avó, tão pequenina. Com a mãe e o pai também, na feira
dos agricultores aos domingos. Uma frota inteira de primos que parecem estar
sempre brigando, com Caleb caminhando na frente do grupo, tentando manter
todos na linha.
Não sou alguém que… Ele para de falar de repente e suspira. Não
acredito que vou dizer isso murmura, envergonhado. Respira fundo e fala de
uma vez. Ok, acho que eu sou muito ruim nisso de encontros. Não tão ruim
quanto o Peter-do-removedor-de- apos, mas, de verdade, não faço ideia do que
estou fazendo.
Como é que é?
Talvez eu fale as coisas erradas ou hesite demais. Ou seja apressado demais.
Não faço ideia se estou fazendo mais ou menos do que deveria. Todos os meus
namoros, se é que dá pra chamar assim, acabam ali pelo quarto encontro. Mesmo
quando acho que está tudo indo bem.
Sempre?
Ele concorda.
Isso. Sempre. Às vezes um encontro a mais ou a menos.
Hum.
Pois é. Ele parece prestes a abrir a porta e se jogar do carro em
movimento. Suspira tão forte que parece vir de dentro da alma. Acho que
sou… sou um pouco demais. Pra algumas pessoas.
Algo em sua voz parece envolver meu peito e apertar.
Como assim, demais?
As bochechas dele cam rosadas de novo, a cor subindo até a ponta das orelhas.
Tenho di culdade de entender algumas deixas. Acho que acabo colocando o
carro na frente dos bois. A última mulher com quem saí disse que eu era um cara
legal. Mas ela falou como se isso fosse ruim. O Alex diz que eu me faço de
capacho, que coloco as pessoas em um pedestal que elas não necessariamente
merecem, mas, sei lá, não acho que ver o melhor de alguém seja ruim. Também
não acho que ser gentil seja ruim.
Não é. Penso na vez em que ele deu o croissant que tinha acabado de
comprar para uma garotinha, só porque ela deixou o bolo cair no chão do lado de
fora da padaria e começou a chorar. A maneira como ele se ajoelhou para enxugar
as lágrimas dela com a manga da camisa. Ser gentil é algo muito bom.
Ele dá de ombros como se quisesse discordar. Sinto isso como um soco no
coração. Caleb não deveria mudar nada nele mesmo, sobretudo seu jeito gentil. Eu
franzo a testa para ele, seu maxilar cerrado.
Ele também não deveria perder tempo com migalhas.
Passamos pela placa da cidade de Inglewild, velha e desbotada com letras
pintadas à mão. Lar. Até que en m.
As estrelas parecem pedras preciosas no céu noturno, mais brilhantes agora que
estamos em meio à grama, às árvores e aos campos. Penso em Caleb e em mim,
nós dois aos tropeços em nossas vidas amorosas.
Que bela dupla a gente forma digo, só para nós e para o luar. Não
temos a mínima ideia do que estamos fazendo, não é?
É bom saber que não estou sozinho nessa. Ele inclina a cabeça para o lado,
pensativo. Talvez essa seja a resposta.
Você está cem por cento certo assinto, concordando. Vamos afogar
nossas mágoas em sobremesas.
Não foi… não foi isso que eu quis dizer.
Ah. Vai ver era só eu que estava pensando nisso. Passei a última metade do
encontro com Bryce sonhando com o que comeria quando estivesse em casa.
Bolo de chocolate com uma na camada de hortelã. Torta de morango e uma
limonada gelada. Torta de pêssego. Crumble de mirtilo. Minhas opções são
ilimitadas.
Caleb tamborila os dedos no volante. Aquela maldita camisa havaiana
tensionada em seu bíceps de novo. Obrigada, Alex Alvarez, por ser tão el ao tema.
Talvez a gente devesse namorar.
Meu sorriso se desfaz. Devo parecer uma daquelas fotos tiradas na montanha-
russa, que tiram depois da primeira grande queda. Metade diversão e metade
confusão. Um tanto assustada. Quando criança, nunca estava preparada para essas
fotos.
Também não estava preparada para a sugestão de Caleb.
Você está… um frio invade meu peito e pressiona meus pulmões de
brincadeira com a minha cara?
O quê? Não! Seus olhos se movem entre mim e a estrada. O lado bom é
que reduzimos muito a velocidade dentro dos limites da cidade.
Não, Layla. Não estou de brincadeira com você. Pense nisso por um segundo.
Estou pensando. E não sei o que dizer. Não sei dizer como ele foi de Uau,
nós dois somos péssimos nisso para A gente deveria namorar.
A expressão de Caleb ca abatida quando não respondo.
É uma ideia tão absurda assim? Sair comigo?
Não. Talvez? Ok, bem provável que seja. Nunca pensei nisso antes. Nem por
uma fração de segundo. Há a minha regra de não namorar ninguém da cidade,
com certeza. Mas também…
Ele é o Caleb. O cara que entra na minha confeitaria e bate com o cotovelo na
vitrine. O cara que se encosta no balcão com as pernas cruzadas na altura dos
tornozelos e faz piadas idiotas sobre donuts. Ele sempre esteve rme e forte no
grupo dos conhecidos. Um amigo, talvez. Nunca pensei em ter nada além disso
com ele.
Mas será que poderia?
Não é você respondo, e ele emite um som que poderia ser uma risada, mas
parece autodepreciativo demais para ser engraçado. Caleb, você me pegou
desprevenida. Eu não esperava isso.
Tudo bem, é justo admite e relaxa os ombros, que estavam quase
grudados nas orelhas, a respiração ofegante. Eu só estava pensando. Nós dois
estamos cansados desses encontros. Poderia ser tipo um experimento social.
Dou uma gargalhada forte e alta.
Toda mulher sonha em ouvir isso.
Ele sorri para mim e, tudo bem, talvez essa ideia não seja tão louca assim. Sair
com o Caleb. Namorar o Caleb de forma experimental. Seja lá o que for isso.
Mas não seria mais fácil ir a um encontro e receber uma avaliação verdadeira?
Quem sabe assim nós dois consigamos descobrir o que estamos fazendo de
errado.
Se você sugerir um formulário, acho que dou um soco na sua cara digo.
Se eu sugerir um formulário, acho que dou um soco na minha própria cara.
Ergo a sobrancelha para ele.
Então o quê? Vamos sair e você vai me dizer tudo o que estou fazendo de
errado?
Minha voz falha um pouco. Uma ferida antiga e delicada ganha vida bem no
meu peito. Uma insegurança que diz que o motivo de meus relacionamentos não
darem certo sou eu mesma. Que, seja como for, só consigo atrair o pior tipo de
homem. Que essas decepções são, de alguma forma, culpa minha, e é exatamente
isso o que mereço.
Não responde ele depressa, a voz segura no silêncio entre nós. Não é
nada disso. Acho que você precisa ser bem tratada. Acho que precisa ver que pode
ser bem tratada por alguém. Vamos sair juntos algumas vezes. Seguro seu casaco e
a sua mão e ouço como foi seu dia. Saímos pra jantar. Comer espaguete ou o que
quer que você queira. Um sorriso malicioso se insinua em seus lábios. E eu
não vou roubar os talheres na saída.
Ah, droga. Está bem. Isso parece mesmo muito bom.
E o que você ganha com esse pequeno acordo?
Além de sair com uma mulher linda? Minha nuca parece pegar fogo. Eu
me remexo no banco. Com sorte, você pode me dizer por que sou tão ruim
nessa coisa toda dos encontros.
Um experimento social?
Isso.
Ele diminui a velocidade até parar em frente à minha pequena casa. Na
primavera passada, eu a pintei de rosa-claro e plantei tantas ores que parecia que
a Mãe Natureza tinha vomitado nela. Lírios, gardênias e girassóis grandes e
reluzentes. Gosto de me sentar na varanda da frente à noite e sentir o cheiro de
lavanda. Afundar os dedos dos pés na grama fresca e ver as estrelas começarem a
surgir no céu.
Solto o cinto de segurança e saio do carro de Caleb, segurando a porta aberta.
Fico olhando para ele sentado ali, com sua camisa de abacaxi dançante, o cabelo
desarrumado, o calor abafado do verão deixando meus ombros e à parte de trás
dos meus joelhos suados. Ele me encara de volta, com um sorriso nos olhos, o
olhar xo em mim.
Caleb Alvarez. Quem diria?
Para alguém que, em teoria, é ruim em encontros, você é bom de conversa.
O sorriso em seus olhos se estende até sua boca. Eu observo os ângulos de seu
rosto à luz da lua.
Só com você, Layla.
Ruim em encontros uma ova.
Vou pensar nisso. Prometo com uma risada.
Ele parece querer dizer mais alguma coisa, mas engole em seco e, em vez disso,
assente.
Nos vemos segunda-feira?
Um croissant de manteiga e um café só com creme. Com certeza.
Nos vemos na segunda. Bato duas vezes no capô do carro. Obrigada
pela carona.
O sorriso discreto em seu rosto se alarga, e aqueles olhos castanhos brilham. É
demais.
Tenho a sensação de que vou car pensando em muitas coisas no que diz
respeito a Caleb Alvarez.
A começar por esses três malditos botões e as rugas de sorriso em seus olhos.
4
CALEB
MEU AMOR, eu só quero que saiba que você é a melhor coisa que já me
aconteceu…
Cerro os dentes e faço de tudo para ignorar o casal parado a menos de um metro
de mim, esfregando o nariz um no outro, as mãos dadas.
… e estou tão feliz por termos vindo aqui juntos. Parece, de verdade, que
nosso amor cresceu ainda mais e…
Faço um som como se estivesse me engasgando e me abaixo ainda mais atrás do
balcão. Todos os dias. Isso acontece todos os dias.
… vir pra esse lugar, sentir essa magia. Sei que meu destino é car com você
pelo resto das nossas vidas.
Eu sei o que vem a seguir. O barulho suave de um joelho batendo no chão de
taco e uma inspiração ofegante em resposta. Vi dezessete pedidos de casamento
nos últimos seis meses.
É fofo, de certa forma. Mas de outras formas mais importantes… é a pior coisa.
Eu saio de trás do balcão bem a tempo de ver as duas pessoas se pegando
desesperadamente, encostadas na vitrine, um enorme anel de diamante solitário
brilhando no dedo certo. Eu os ignoro e volto a prestar atenção nos cupcakes.
Tenho coisas maiores para resolver do que a possibilidade de indecência pública
bem aqui onde todos os meus cookies de caramelo salgado podem ver.
Caleb não apareceu na segunda.
Nem na terça.
É quarta-feira à tarde, e ainda nem sinal dele. Ele perdeu dois croissants de
manteiga e todo o café gratuito que prometi.
Digo a mim mesma que está tudo bem. Nossa conversa no m de semana foi
puramente hipotética, duas pessoas que se encontram casualmente, matando o
tempo durante uma longa viagem de volta para casa. Não há motivo para me sentir
envergonhada por ter passado o domingo inteiro remoendo a ideia em minha
cabeça, examinando-a de todos os ângulos enquanto elaborava o cardápio da
padaria para a semana. Não preciso me envergonhar por ter me sentado em meu
grande e quentinho roupão lilás enquanto ertava com a ideia de sair com Caleb
Alvarez para ajudá-lo a melhorar suas habilidades de conquista.
Seja lá o que isso signi que.
Estou começando a achar que ele estava só brincando, e não… não tem
problema. De verdade. Ele não precisa evitar a padaria. Ele não precisa me evitar.
Encho o saco de confeitar com glacê e observo enquanto o feliz casal deixa a
padaria, minha guirlanda de peônias na porta da frente balançando de leve
quando eles saem. Não é a decepção que se aloja rmemente no fundo da minha
garganta, mas, sim, o café ruim de antes. Deixei-o por tempo demais no aquecedor
de caneca esta manhã e não me preocupei em usar os grãos selecionados da sra.
Beatrice.
Mas Caleb não faria isso. Faria? Não brincaria com algo assim. Não me parece
coisa dele. Certa vez, ele passou o restante da reunião da cidade gaguejando
depois que a sra. Beatrice o acusou de interrompê-la no meio da frase. Eu o vi
dobrar a mesma folha de papel sete vezes. Ele nunca mais se ofereceu para liderar
uma reunião.
Não, ele não estava tirando sarro de mim. Talvez esteja só ocupado. Fazendo…
alguma coisa.
Por três dias seguidos.
Está esperando alguém?
Stella aparece do nada bem na minha frente. Tomo um susto e bato com o
cotovelo na bandeja de cupcakes. Ela me ajuda a endireitá-la e, em seguida,
arranca um cristal de laranja do topo de um que tombou. Reviro os olhos e
entrego o bolinho para ela. É impressionante a quantidade de comida que perco
com a Stella e o Becke .
De onde você surgiu?
Dos fundos, srta. Assustada. Estava chamando você. Stella retira a
forminha de papel do cupcake com cuidado. Você não tira os olhos da porta.
Está esperando alguma entrega? Não recebi nenhuma papelada.
Quê?
Quem você está esperando?
Olho para a porta de novo. Não vejo nada além de árvores nas janelas da frente,
com galhos grossos, repletos de verde. Elas pressionam as janelas de vidro, que vão
do chão ao teto na frente, escondendo a padaria quase que por completo. Há dias
que não vejo nenhum sinal de um homem de um metro e noventa com covinhas.
Ugh.
Não. Não, não estou. Começo a apertar o saco de confeitar. Não estou.
Não estou esperando ninguém.
Stella estreita os olhos para mim, a boca cheia de cupcake.
Você foi enfática demais com esse não.
Eu me inclino para a frente para continuar confeitando, faço um anel perfeito de
glacê branco em volta do topo do bolinho de laranja. Chamo essas belezinhas de
moinho de laranja. Gostaria de moer um deles bem na cara de Stella, nem que seja
para que ela pare de me encher o saco.
Nada disso murmuro.
Você já olhou vinte e uma vezes para a porta desde que cheguei aqui. E não
faz nem três minutos.
Estreito os olhos e mantenho meu olhar rmemente afastado da porta, e meu
olho esquerdo treme.
Não olhei não.
Você quase derrubou a batedeira quando entrei pra dar um oi.
Você me assustou.
Hum.
Stella sempre foi boa nisso. Ela sabe esperar pacientemente que eu fale o que
quer que esteja tomando conta da minha mente. Ela dominou essa arte na época
da faculdade, quando éramos garotas desajeitadas começando a vida adulta.
Passamos muitas noites juntas na sala de estudos do dormitório, rindo de nada e
falando de tudo. Fazendo bolo de massa pronta. Quando nos formamos, ela voltou
para a cidadezinha onde cresceu e eu vim atrás dela. Ainda não estava pronta para
deixar minha melhor amiga. Fiz alguns cookies com gotas de chocolate para o
evento de confeitaria do corpo de bombeiros e um brilho maníaco surgiu nos
olhos da Stella assim que ela os provou, explodindo em um frenesi de planos de
negócios sobre a fazenda de árvores de Natal.
Estou aqui desde então.
Ao que tudo indica, cozinhar é uma excelente forma de colocar o diploma de
matemática para jogo.
Minha mão treme, e a cobertura perfeita escorre pela lateral do cupcake.
Suspiro, pego-o da bandeja e o coloco na frente de Stella.
Você está me distraindo.
Acho que você está se distraindo sozinha.
Está bem. Coloco o saco de confeitar de lado e olho em volta, para me
certi car de que não haja ninguém perto para ouvir. Está bastante vazio,
considerando que é uma tarde de quarta-feira, mas nossa cidade está repleta de
pessoas intrometidas que adoram bisbilhotar. Estreito os olhos para Gus no canto,
o belo e jovem bombeiro que talvez seja o maior fofoqueiro de todos. Tenho
certeza de que ele é um dos mais ativos da rede de comunicação secreta da cidade,
que serve para distribuir fofocas em vez de informações importantes. Também sei
da lousa com apostas nos fundos do quartel do corpo de bombeiros. Durante um
tempo, ele listava as probabilidades de quando Stella e Luka nalmente cariam
juntos. Agora, acho que é uma lista de apostas para adivinhar quando Becke
adotará o próximo animal.
Satisfeita ao ver que Gus não está ouvindo, olho para Stella e coloco as mãos na
cintura.
Vi o Caleb esse m de semana sussurro.
Quê? Tipo, na cidade? Ela franze a testa e dá outra mordida no cupcake.
Isso não é nenhuma novidade. Por que você está sussurrando?
Meu Deus.
Por que você está gritando?
Não estou gritando. Estou falando normal. Ela me olha de um jeito
estranho e dá mais uma mordida gigante no cupcake. Você está surtando.
Não quero que o Gus ouça o que estamos falando explico, ainda
sussurrando. Não preciso que a cidade inteira saiba que estou esperando que
Caleb entre por aquelas portas. É bem capaz que isso vire pauta na próxima
reunião da cidade.
Não estou ouvindo nada grita Gus do sofá no nicho do canto, as costas
apoiadas na janela, uma almofada xadrez no colo. Ele nem se incomoda em erguer
os olhos do pedaço de torta de noz-pecã. Podem continuar.
Você lembra onde ca a porta, não é, Gus?
Ele pisca para mim.
Claro que lembro, Laylagarta.
Pare de me chamar assim.
Pego Stella pelo cotovelo e a arrasto para a cozinha. Ela abandona o cupcake em
uma das mesas de preparação e agarra minhas duas mãos. Aperta com força.
O que você tem? Aconteceu alguma coisa no seu encontro, no m de
semana? Ele fez algo estranho? Ela me aperta com ainda mais força, os nós dos
dedos brancos. Devo ligar para o Becke e o Luka? Aposto que o Dane pode
usar seus contatos de xerife para descobrir o endereço dele. Eu sempre quis cortar
os pneus de alguém.
Espere aí, Rambo. Não precisamos furar os pneus de ninguém. Eu já disse.
Eu vi o Caleb esse m de semana.
Stella ergue as sobrancelhas para mim.
Ok, e daí? Ele mora aqui. A gente vê o Caleb o tempo todo.
Não, eu o vi no bar.
Ela me encara, confusa.
Layla, de verdade, não estou entendendo qual é o problema, mas vou dar
corda porque é o que os amigos fazem. Que bar?
Fui naquele bar na beira da praia em Rehoboth, para o encontro com o
Bryce.
Pela cara que ela faz, parece até que a forcei a chupar limão.
Bryce. Que nome de babaca.
Bom, ele foi um babaca. Então combina. Solto as mãos dela e esfrego
minhas palmas nas coxas. Ele acabou indo embora sozinho e me largou lá, e eu
vi o Caleb enquanto estava tentando decidir o que ia fazer.
O Bryce largou você lá? No bar? Stella cerra o maxilar do mesmo jeito que
Caleb fez. Seus lindos olhos azuis se estreitam e ela aperta os punhos. Parece
prestes a virar a doida da motosserra. Onde ele mora mesmo?
Eu a ignoro.
Não interessa. O Caleb estava no bar e, Stella… ele estava com uma camisa
havaiana.
Eu só consigo pensar naquela camisa. Passei a semana inteira fazendo
decorações de hibiscos laranja nos doces.
A camisa surge o tempo todo em minha mente, assim como os bíceps dele. As
covinhas. A voz dele ao dizer talvez a gente devesse namorar.
Sou pura confusão.
Entendi. Stella parece preocupada comigo. Essa é uma… escolha e
tanto.
Ele disse que a gente deveria namorar acrescento como uma re exão
tardia, minha mente ainda presa à pele escura e à saliência de suas clavículas sob o
colarinho desabotoado. Eu adoraria parar de pensar naquela camisa. De verdade,
adoraria.
Stella estende a mão e me dá um tapa no braço. Dou um pulo para trás, indo de
encontro com a prateleira de metal cheia de enfeites para cupcakes. Um pote de
gotas de chocolate cai no chão.
Caramba, o que foi isso? pergunto, esfregando o braço.
Por car escondendo a porcaria do jogo! Stella parece prestes a me bater
de novo. Layla, eu juro por Deus. Por que você não começou por essa parte?
Dou de ombros.
Não sei. Talvez porque faz dois dias que ele não vem aqui pela manhã, o
que ele sempre fazia. Acho que, desde que abri a padaria, ele não passou uma
semana sequer sem vir comer alguma coisa. Será que está comprando croissants
em outro lugar? A ideia pesa como uma pedra no meu estômago. Ninguém faz
croissants melhores que os meus. Ninguém. Não sei se ele estava falando sério.
Não vi mais o Caleb.
Como assim?
É que… Olho por cima do ombro dela, pela pequena janela na porta, para
me certi car de que Gus ainda está ocupado. Não estranharia nem um pouco se
ele estivesse com a orelha encostada na porta. É que, quando ele me deixou em
casa, disse que a gente se veria na segunda-feira, mas não apareceu.
Stella analisa minha expressão.
Você queria que ele estivesse falando sério?
Não sei. O que Caleb estava falando parecia legal. Ter um encontro que
não me deixasse envergonhada e desolada. Não seria um encontro de verdade.
Mas poderia ser bom pra sair da rotina.
O rosto de Stella se desmancha em confusão.
Acho que preciso de um manual pra essa conversa. Como assim, não seria
um encontro de verdade? Comece do começo.
É o que eu faço. Conto a ela sobre o encontro desastroso com Bryce, os talheres
de prata, sobre Caleb no bar e o ônibus temático. Conto a ela sobre Alex e Charlie
e a dança ridícula em cima da mesa. Conto da viagem de volta para casa, de como
Caleb me disse que é ruim nisso de encontros e da sugestão de que, talvez,
devêssemos sair e ajudar um ao outro.
Então, e o que você vai dizer a ele? pergunta Stella.
Se ele continuar me evitando, nada. Pego o cupcake que ela deixou de
lado e tiro um pouco da cobertura. Se vai ser desse jeito, é melhor ngir que
essa conversa nunca aconteceu.
Não! exclama Stella, ofegante, os olhos arregalados. Droga. Sei bem que
cara é essa. Ela está empolgada. Empolgada do tipo comprar-uma-fazenda-de-
árvores-de-Natal-do-nada-e-demolir-metade-dos-prédios. Ou assistir-a-todos-os-
episódios-de-Pesca-radical-após-ler-um-livro-sobre-catadores-de-caranguejo.
Ela dá pulinhos.
Não, não, não. Você tem que aceitar.
Tenho?
É óbvio.
Não para mim.
Por quê?
É o cenário perfeito. Um homem lindo com covinhas…
Você também notou as covinhas dele? Juro que nunca tinha reparado
nisso antes desse m de semana.
Você falou várias vezes enquanto contava a história.
Ah, beleza.
En m, um homem lindo, gentil e com covinhas quer levar você pra sair.
Ela ergue um dedo como se estivesse marcando uma lista de compras. Ele quer
dar todo o carinho que você merece. Outro dedo. E quer que você o analise
de forma crítica enquanto faz isso. Pra ser sincera, não consigo ver o lado ruim.
Dou mais uma mordida no cupcake e penso. Ela tem razão. Já desperdicei muito
tempo com homens idiotas. A maré pode estar para peixe, mas a maioria deles
habita o fundo do mar, com luzes estranhas penduradas na frente da cara. Eles
atraem você para roubar seus brownies.
Não há nada de errado em me divertir um pouco. Eu mereço.
Primeiro ele precisa parar de me evitar digo, voltando ao problema
original. Não posso aceitar a oferta se nunca mais o vir. Não acho que seja
coincidência o fato de ele ter dado um m repentino ao hábito de comer
croissants logo após nossa conversa.
E assim, de repente, a ansiedade e a inquietação por levar um chá de sumiço se
transformam em irritação.
Não é nada novo. Ser deixada na mão por um homem.
É fácil resolver isso. Stella tira o celular do bolso de trás da calça. Vou
ligar para a rede de comunicação e perguntar se alguém viu o Caleb pela cidade.
De jeito nenhum. Perguntar sobre Caleb seria fazer com que toda a cidade
aparecesse à minha porta, pronta para opinar. Arranco o celular da mão dela tão
rápido, que ele voa para dentro de uma tigela de recheio de bolo branco e
cremoso.
Droga. Eu ia colocar isso em alguns donuts mais tarde.
Nós duas camos olhando para o aparelho até que a porta se abre e Becke
entra, com o boné virado para trás e as mangas da camiseta levemente arregaçadas.
Ele está coberto da cabeça aos pés de sujeira, suor e…
Isso é sangue?
O quê? Ele olha para a camiseta. Ah, não. É recheio de morango.
Peguei um donut na vitrine quando entrei.
Claro que pegou. Ergo a cabeça para o teto e resmungo.
E o que você estava fazendo antes de entrar aqui?
Como encarregado da parte operacional da fazenda, não há nada de suspeito no
fato de que Becke parece ter passado a manhã inteira rolando em uma poça de
lama. Mas, no último mês e meio, ele vem tentando me convencer de que eu
deveria adotar um bando de galinhas da fazenda de produtos agrícolas vizinha.
Tenho minhas suspeitas de que ele esteja construindo um galinheiro em meio às
árvores ao lado da padaria, apesar de eu ter dito com todas as letras para que não
zesse isso.
Não quero galinha nenhuma, nem quero ouvir Becke falando de galinhas tão
cedo. Esse homem tem um problema sério.
O silêncio dele é a resposta de que eu que precisava. Nem me dou ao trabalho
de abrir os olhos. Quero rastejar para baixo de uma das mesas de preparação e
tirar uma longa soneca com uma garrafa de vinho enorme.
Eu não estava fazendo nada murmura.
Aham.
Ouço a porta se abrir de novo e todo o meu corpo ca tenso. Eu me sinto como
um elástico esticado demais, a dois segundos de arrebentar.
Ei. É a voz de Luka desta vez, as botas batendo contra o chão de madeira.
Está um clima estranho aqui.
Abro os olhos bem a tempo de vê-lo depositar um beijo demorado na nuca de
Stella, com o braço em seus ombros e a mão pressionada sobre o coração dela. Ela
segura o pulso dele e o aperta. Algo em meu peito também parece se apertar.
Estou feliz por eles. De verdade, muito feliz. Demoraram dez anos para chegar a
um ponto em que podiam trocar carinhos com tranquilidade e sussurrar palavras
de amor. Ninguém merece isso mais do que eles.
Mas também estou triste por mim. Um pouco cansada. Exausta tanto em minha
mente quanto em meu coração.
Inspiro fundo pelo nariz. Expiro de novo. Becke observa minha respiração
controlada com atenção. Seu rosto ca cada vez mais sombrio quanto mais eu
tento me acalmar.
Luka diz, sem se preocupar em olhar para o homem que está chamando.
O que é bom, porque Luka está ocupado ngindo que não conseguimos ver sua
mão na bunda de Stella.
Que foi? murmura Luka, com o nariz atrás da orelha de Stella.
Vá buscar a caminhonete.
Por quê?
Os olhos de Becke se estreitam. Ele se parece com Clint Eastwood olhando em
direção ao sol. A única coisa que falta é um palito de dente pendurado na boca.
Evie está fora há duas semanas em uma viagem de trabalho, e o homem já está
rabugento.
Vamos partir em uma missão.
Luka, abençoado seja, não move um músculo sequer.
Aonde nós vamos?
Becke vira a cabeça para ele devagar.
Você ainda tem tinta para o rosto?
Luka sorri. Stella resmunga. Eu dou risada.
O método favorito de Luka e Becke para resolver problemas é se esconder em
arbustos com o rosto pintado de camu agem verde e preta e intimidar quem quer
que esteja causando problemas. Na última vez que zeram isso, Dane os colocou
na cela de bêbados por quarenta e oito minutos e os obrigou a assistir a Keeping
Up with the Kardashians como punição. Becke quase chorou. Stella e eu tivemos
de socorrê-los com donuts quentinhos com recheio de creme, o favorito de Dane.
Um sorriso surge no canto da minha boca.
Não, não é uma situação de tinta no rosto.
Então por que você parece chateada? E por que o celular da Stella está na
tigela de cobertura?
É recheio de bolo murmuro, me sentindo impertinente. Pego a tigela e
tiro o celular dali, dando alguns tapinhas para deixar cair o excesso de creme e
limpando o resto com um pano de prato. Consigo sentir três pares de olhos em
mim.
Eu só… Entrego o celular para Stella. Ela o pega, mas também agarra meu
pulso e o segura rme. Luka muda de posição para poder apoiar um braço no meu
ombro. Ficamos ali parados, nesse meio abraço em grupo esquisito. Não é ruim.
Só estou cansada de me decepcionar sussurro. Tento limpar a garganta,
mas a tristeza gruda ali, pegajosa, fazendo minha voz soar estranha.
Estou cansada de car sozinha, é o que tenho vontade de dizer.
Ninguém diz nada em resposta. A cozinha está silenciosa, nada além do barulho
do cronômetro no canto e do som constante do forno. Coloquei algumas
tortinhas ali não muito tempo atrás. Mirtilo e ruibarbo com pequenas estrelas
desenhadas na massa. Preciso tirá-las em breve. Mas, antes que eu possa sequer
pensar em me soltar de Luka e Stella, Becke resmunga atrás de mim, então nós
três somos envolvidos por braços fortes e suados. É nojento. Vou precisar trocar
de avental.
Stella me abraça pela cintura.
Também é a melhor coisa do mundo.
Isso é estranho murmura Luka em algum lugar acima da minha cabeça.
Becke faz um barulho de irritação e ouvimos um arrastar de pés. Luka grunhe e
seu braço se choca contra meus ombros. Mas também é gostoso! Becke ,
caramba, por que você me chutou? Eu ia dizer que é gostoso.
Não ia, não.
Ia, sim. Ia dizer que a gente devia dar um abraço coletivo por dia. Uma
pausa. Um murmúrio pensativo. A Evelyn tem sido uma boa in uência pra
você. Você está lidando melhor com sua necessidade de afeto.
Becke resmunga de novo. Pressiono o rosto no ombro de Stella com uma
risadinha.
Independentemente do que aconteça murmura ela enquanto Becke e
Luka continuam discutindo acima de nossas cabeças , pode sempre contar com
a gente, Layla. Você nunca vai estar sozinha.
Ela se reclina e sorri para mim.
Goste você ou não.
CALEB FINALMENTE DÁ as caras na quinta de manhã.
Ele emerge do bosque de árvores que circunda a padaria como um espírito lindo
e vingativo, subindo os degraus de pedra como se não tivesse pensado em mais
nada desde a última vez que o vi. Faço uma pausa com a bandeja de pão doce a
meio caminho do balcão quando ele abre a porta com força, minha pobre
guirlanda de ores voando pelo aconchegante salão.
Caleb parece a personi cação da impaciência. Os ombros rígidos. A testa
franzida. As mãos lutando contra a alça da mochila presa na maçaneta da porta.
Observo com interesse enquanto ele se solta, xingando baixinho o tempo todo.
Parece que ele correu até aqui. Talvez tenha sido atingido por um tornado no
caminho.
Acho que nunca o vi tão desgrenhado.
Nem tão mal-humorado.
Passe o celular diz ele quando en m consegue se soltar da porta. Sem Oi.
Sem Tudo bem? Sem Desculpa por ter ignorado você e seus croissants por três dias.
O quê? Acho que ainda estou dez passos atrás, com a mão congelada a
meio caminho entre o balcão e a vitrine, equilibrando um pãozinho. Se Caleb é o
retrato da impaciência, então eu sou o da confusão. Perplexidade. Por quê?
Ele atravessa a distância da porta até o balcão em três passos largos.
Foi uma confusão atrás da outra nessa semana. Tentei vir todos os dias, mas o
Alex estava de ressaca, depois minha abuela precisou de ajuda com os panos de
prato e o Jeremy tinha um lance de um bilhete de amor. Foi… Ele pressiona
dois dedos entre as sobrancelhas escuras e dá um suspiro pesado, a tensão se
estampando em seu rosto e na forma como tenta se conter no espaço à minha
frente. Me desculpe por não ter vindo. Eu deveria ter vindo. Queria ter vindo.
Tentei mandar mensagem, mas eu não tenho o seu número.
Franzo a testa e respondo à última frase.
Como isso é possível?
É estranho que alguém que conheço, nem que seja de vista, há alguns anos, não
tenha meu número de celular. Acho que o Clint, do corpo de bombeiros, tem meu
número.
Caleb parece frustrado.
Não sei.
Você poderia ter ligado pra padaria.
Seu rosto se contrai. Fica óbvio que ele não tinha pensado nisso.
Acho que poderia. Ele tira a mão do rosto e pede, impaciente, com dois
dedos. Meu olhar se xa nesse movimento discreto e gradual. Celular, por
favor.
Coloco a bandeja de pães no balcão e puxo meu celular. A ponta de seus dedos
roça nos nós dos meus quando ele o pega, o toque suave. Ele dá um sorriso
discreto quando vê a capinha rosa de cupcake do aparelho, sua expressão mal-
humorada se suavizando.
Vou levar você pra sair amanhã anuncia.
Ergo as sobrancelhas e pisco algumas vezes, desviando o olhar de onde ele está
escrevendo em minha tela.
Ah, é?
Ele murmura em con rmação.
Pego você às seis e meia. Ele me devolve o celular, os olhos castanho-
escuros procurando os meus. Consigo distinguir, neles, manchas douradas na luz
da tarde que entra pelas grandes janelas. Um sorriso se forma no canto de sua
boca.
Coloco uma mecha de cabelo atrás da orelha. Estou com di culdade em
entender a situação. Alguns segundos atrás, eu estava reabastecendo a vitrine de
pães e, no segundo seguinte, Caleb está entrando pela porta da frente. Achei que
não o veria de novo por mais quatro ou seis meses, quando poderíamos ngir que
a carona em seu jipe nunca aconteceu.
Eu o noto me observando.
O que foi?
Nada diz, seu sorriso se transformando em algo mais selvagem. Você
está bonita hoje.
Eu sempre estou bonita.
Ele traça o lábio inferior com o polegar, seu olhar indo dos meus olhos até a
curva do meu queixo. A inclinação do meu pescoço. Meu avental vermelho-vivo
com desenhos de moranguinhos.
É verdade responde baixinho.
Ele limpa a garganta e pisca para a minha vitrine de vidro transparente, e um
som profundo sai de sua boca. É o som da mais pura e verdadeira admiração. Sinto
o calor subir pela minha nuca.
Isso são pães doces?
Eu limpo a palma das mãos no avental, meu rosto quente.
São, sim. Fico chocada em perceber como, de repente, estou tão
interessada na aparência, nos sons e no comportamento de Caleb. Está tudo
misturado com nossas brincadeiras amigáveis, minha percepção geral dele. Ele me
virou de pernas para o ar, sou a mais pura confusão. Limpo a garganta. Quer
um?
A julgar pela cara que faz, ele quer muitos. Mas tudo o que faz é passar a língua
no lábio inferior enquanto continua encarando os pães. Levo a mão ao pegador e
agarro um pão doce ainda quente com cuidado. Balanço o pão em frente ao rosto
dele.
Caramelo com or de sal provoco com a voz melodiosa.
Eu não deveria comer. Ele já está se aproximando, como um marinheiro
bêbado levado pela luxúria.
Ah, deveria, sim.
Caleb olha para o pão como se nunca tivesse visto nada tão tentador em toda a
sua vida. Seus olhos cam pesados, e uma respiração profunda começa em seu
peito e desce pelos ombros. Bochechas rosadas. Esse é um olhar feito para a calada
da noite. Para mãos que agarram e peles suadas. Sua língua aparece no canto da
boca de novo, a palma da mão trabalhando em seu maxilar. A outra mão está
apoiada no balcão, o antebraço exionado. Olho xamente para os cinco
centímetros de pele expostos por sua manga dobrada.
Por que você só come croissants de manteiga, Caleb? Mantenho minha
voz baixa. Animada. Provocante. Ele faz outro som suave. Há um mundo
inteiro de sabores esperando por você.
Ele pisca para desviar o olhar da guloseima em minha mão e se sacode para sair
de seu estupor. Ele me olha nos olhos.
Isso é jogo sujo.
Dou uma risadinha e coloco a sobremesa na sacola para viagem.
Você não faz ideia. Há poucas coisas que eu goste mais de fazer do que
alimentar as pessoas. Seguro a sacola sobre o balcão para que ele a pegue. Sim,
vou sair com você amanhã, mas, se me deixar esperando de novo, vamos encerrar
esse acordo. Não quero ser enrolada.
Não por você. Essa parte guardo para mim mesma.
Não vou responde, seus olhos perdendo um pouco do brilho do caramelo
com or de sal. Juro que não vou. Não era minha intenção.
Meu estômago se contorce e se contrai.
Estou me arriscando e suspendendo minha regra de não namorar ninguém
da cidade.
Ele parece achar graça, mas não ri.
Bom… Ele para de repente e coça uma vez atrás da orelha.
Bom o quê?
Na teoria, não estamos namorando, certo?
Tá bom. Balanço a sacola de papel para a frente e para trás, talvez com um
pouco mais de agressividade do que deveria. Estou suspendendo minha regra
de não sair com homens que conheço da cidade.
Ah, sei. Agora eu entendi.
Tá bom, então.
Tá bom concorda. Venho buscar você amanhã.
Ele pega a sacola da minha mão e se afasta.
Observo, entretida, enquanto ele desvia da maçaneta da porta.
Até amanhã, então!
Ele acena com a mão sobre a cabeça e desaparece nos degraus. Passa por entre as
árvores que abraçam a passagem, cada passo seguro nas lajes de pedra. Ele
desabotoa o colarinho enquanto se move no calor do verão, e tenho um ashback
daquela maldita camisa havaiana.
Abacaxis.
Flores.
Clavículas.
Meu celular vibra no balcão.
Abro a mensagem e encontro uma foto de Caleb, metade do rosto enquadrado, a
maior parte da imagem ocupada por um pão doce com uma mordida monstruosa
faltando. Suas bochechas estão cheias, o sorriso fazendo as rugas dos olhos
carem mais profundas.
Um “ah” suave escapa da minha boca sem permissão.
E ele tem a coragem de falar que a perigosa sou eu.
Caleb
O melhor que já provei.
QUANDO ENTRO EM casa, dou de cara com doze pessoas na minha cozinha.
Ou, melhor dizendo, quando utuo para dentro de casa.
Porque não faço ideia de como consegui vir da casa da Layla até aqui. Não faço
ideia de como coloquei um pé na frente do outro e me afastei dela. Provavelmente
não foi muito seguro eu ter vindo dirigindo. Nem me lembro de ter entrado na
garagem.
Pele quente. Respiração ofegante. A boca de Layla se movendo contra a minha.
Eu queria dar um beijo de cinema, mas a Layla me beijou como se o mundo
estivesse acabando. Um beijo com sabor de aventura. Um beijo que nos lançou no
espaço.
Nunca beijei uma mulher dessa forma antes. E também nunca fui beijado assim.
Esfrego a ponta dos dedos na boca e entro pela porta dos fundos da cozinha, a
mente ainda em algum lugar nos degraus da varanda de Layla, seu corpo envolto
no meu. Suas coxas na minha cintura e a mão na minha barriga. Eu estava a sete
segundos de pressioná-la contra o corrimão da varanda, deslizar minhas mãos por
baixo da camiseta que havia emprestado e sentir toda aquela linda renda me
provocando através do tecido molhado do vestido.
Entro na cozinha e minha família paralisa: um quadro cômico do jantar em
andamento. Minha mãe está segurando uma grande faca sobre um tomate. Luis
está fazendo algo bizarro com um pano de prato e uma espiga de milho. So a está
vasculhando a gaveta da geladeira. E, no meio de tudo isso, como o centro de uma
tempestade perfeita, está minha avó, com as mãos em uma tigela, misturando
alguma coisa. Ela para o que está fazendo e me lança um olhar crítico, a
sobrancelha rme erguida no alto da testa.
Hum. Olho por cima do ombro para veri car se não há ninguém atrás de
mim, se não estraguei, sem querer, uma festa surpresa na minha própria casa.
Reclino o corpo para trás e veri co de novo os números de metal acima da porta.
Sim, é aqui que eu moro. Entro e fecho a porta. O que está acontecendo?
O silêncio toma conta do lugar, um milagre quando todos os meus primos estão
reunidos em um mesmo cômodo. Esta cozinha não foi construída para acomodar
toda a família Alvarez.
Minha avó en m encontra o que estava procurando em meu rosto. Ela assente e
continua misturando o que quer que esteja naquela tigela, com as mangas
arregaçadas até os cotovelos. Espero que seja pozole.
Bien declara. Vocês se beijaram.
Como se ela tivesse acabado de estalar os dedos e dado uma ordem, o
movimento recomeça na cozinha. Minha prima So a se movimenta com a cara
en ada na geladeira, toda a parte da frente do corpo escondida enquanto
reorganiza a comida. Minha mãe se volta para seus tomates e cebolas picados. E
Luis faz… seja lá o que ele esteja fazendo com aquela espiga de milho.
Fico ali parado, confuso.
Alex aparece ao meu lado e me entrega uma das cervejas que pegou na geladeira
da cozinha. Da cozinha onde ele esteve sentado por um bom tempo com o
restante da minha família enquanto eu não estava aqui.
Ainda estou muito confuso.
Coço a nuca e franzo a testa.
Eu esqueci o aniversário de alguém?
Não. Alex dá um longo gole em sua cerveja. A abuela ligou e disse que
você estava em crise. Que a gente tinha que vir pra sua casa e alimentar você.
Ele olha para minha camiseta e faz uma careta. Por que você está ensopado?
Ignoro a pergunta.
Como vocês entraram?
Com a chave.
Que chave?
Todos nós temos uma chave.
Pisco algumas vezes.
Todos vocês?
Alex concorda.
Todos nós.
É claro que eles têm. Minha mãe deve ter ido à loja de ferragens onde meu
primo David trabalha e tirado cópias assim que entreguei a chave reserva nas mãos
dela.
Meu celular vibra no bolso de trás da calça e quase o deixo cair pela janela na
pressa de pegá-lo. É difícil com a calça jeans molhada desse jeito. Alex ri enquanto
me contorço.
Eu o afasto com a mão em seu rosto e en m consigo tirar o celular. É uma
mensagem de Layla.
Layla
O melhor de todos.
Sorrio.
Dios mio resmunga minha prima Adriana no canto. Você já está meio
apaixonado de novo, não é?
Minhas bochechas cam vermelhas e coloco o celular no bolso. Alex olha para
onde ela está sentada, em um banco perto da geladeira. Parece que ela está usando
um dos meus vasos como copo para sua Corona. Que bom.
Não murmuro. Consigo sentir os olhos de todos na cozinha em mim.
Sinto um aperto na garganta e tusso algumas vezes. Claro que não.
Adriana me encara estreitando os olhos, que se parecem muito com os da nossa
avó.
Você sempre faz isso, osezno. Vai a alguns encontros, se diverte e, de repente,
acha que está apaix…
Ah, que quieta corta Alex. Você só está com inveja porque o Frankie
nunca tem tempo pra você.
Ela ergue as sobrancelhas perfeitas e leva meu vaso de ores à boca.
Ele me dá muitas coisas, e nenhuma delas é durante o dia. Alguém
resmunga de novo, desta vez em tom de repulsa. Minha tia revira os olhos e
murmura algo incisivo e rápido em espanhol. Adriana desvia o olhar.
Vamos comer como uma família diz minha avó, uma ordem velada em sua
voz. Basta con eso. Já chega disso.
Há um coro de concordância em resposta. Alguém liga o rádio, e o murmúrio
baixo da estática e das vozes preenche o espaço, o sobe e desce das trombetas
permeando tudo. A risada alegre da minha mãe ressoa com algo que meu pai
sussurra ao seu ouvido. As facas batem em uma tábua de corte e alguém abre uma
garrafa de vinho.
Alex passa o braço em volta do meu ombro e me leva para a sala de jantar. Minha
pobre e despreparada sala de jantar, na qual só deve caber metade da família. Terei
que pegar a mesa dobrável no porão. Algumas cadeiras da garagem. Adriana pode
comer na cozinha.
Ela fez parecer que eu me apaixono duas vezes por semana por qualquer pessoa
que passe por aqui. Sei que posso ser meio precipitado às vezes, mas com a Layla é
diferente. Temos limites muito claros. Nossas expectativas estão de nidas. Não
estou me precipitando.
Não ligue pra Adriana comenta Alex, me entregando uma pilha de pratos
limpos do armário da parede. Essa aí acha que amor é só uma palavra de quatro
letras.
Amor é uma palavra de quatro letras resmungo, me sentindo um
adolescente de novo, discutindo com meus primos na cozinha até que minha avó
puxe nossas orelhas e nos obrigue a nos sentar juntos à mesa.
Minha camiseta molhada está grudada no peito, e eu a puxo com o polegar e o
indicador. A sensação de leveza, felicidade e vertigem com que entrei em casa se
foi, substituída por uma sensação de algo se afundando dentro de mim. Será que
estou me entregando demais por causa de um beijo? Será que esse beijo deveria
mesmo ter acontecido? Sendo bem sincero, não sei dizer.
Alex revira os olhos.
Você entendeu o que eu quis dizer.
Coloco dois pratos, com os garfos inclinados seis milímetros para a direita,
como minha abuela gosta. Meu avô sempre arrumava a mesa desse jeito, e manter
essa pequena tradição a faz sorrir.
Mesmo assim. O jeito como ela falou. Faz parecer que sou um idiota ingênuo.
Alex franze a testa quando vê como arrumei a mesa. Ele demora a responder, e
tudo dentro de mim se revira de forma ainda mais dolorosa.
Não é algo ruim responde, por m querer se apaixonar.
Obrigado.
Mas é melhor ter cuidado, Caleb. Eu conheço você. Você se deixa levar pelo
coração. E essa coisa toda com a Layla… Ele para de falar e olha xamente para
a toalha de mesa que minha avó deve ter trazido. É branca e delicada, e com
certeza não se parece com nada que eu tenha.
O que tem essa coisa toda com a Layla?
Já faz um tempinho que você é a m dela. Vocês estão se conhecendo melhor
agora e eu não acho… não quero que a imagem da Layla que você criou na sua
mente se confunda com a Layla de verdade, uma pessoa com falhas, defeitos e
imperfeições.
Balanço a cabeça, frustrado.
Não é isso que está rolando.
Não é. Eu a estou conhecendo melhor, entendendo quem ela é por trás dos
sorrisinhos e da risada fácil. Não estou projetando nada nela.
Parecia que alguém tinha en ado um raio de sol na sua bunda quando você
entrou em casa hoje. Ele dá um suspiro longo e preocupado. Às vezes, você
tem di culdade em estabelecer limites, ainda mais quando se trata de sentimentos.
Tudo o que quero é que tome cuidado. E que seja justo com a Layla. Ele engole
em seco. Às vezes é difícil estar em seu pedestal.
Você parece a Adriana falando.
Não. Não, não é assim. Ela é uma… o que mamãe sempre diz? Cangrejo
enojón?
Solto uma risada. Adriana parece mesmo um pequeno caranguejo irritado.
Alex sorri e depois aperta os lábios em uma linha na.
Tudo o que estou dizendo é que você precisa ver essa situação pelo que ela é.
Você disse que isso tinha data para acabar, certo?
Concordo.
Acho que é importante se lembrar disso comenta com gentileza. Não
quero que você que cheio de expectativas.
Pois é. Imagino o rosto de Layla entre minhas mãos, os olhos fechados
enquanto as gotas de chuva pintavam sua pele em pinceladas. O sorriso atordoado
em sua boca e como ela se inclinou na minha direção nos degraus da varanda.
Esfrego os olhos e tento apagar essa imagem. Ninguém quer isso.
Olho para os meus pés, para a poça de água que estou deixando na madeira.
Minha avó chamou todos para cá porque achou que eu precisava de apoio
emocional. Adriana riu na minha cara por eu ter esperanças no amor. E meu irmão
mais novo está me dando um sermão sobre limites. Resignado, passo a mão na
parte de trás do meu cabelo molhado.
Acho melhor eu ir me trocar.
Caleb…
Dispenso Alex com a mão.
Eu estou bem.
E estou mesmo. Está tudo bem. Na mais pura e completa perfeição. Eu sabia no
que estava me metendo quando concordei com os encontros com a Layla. A ideia
foi minha. Posso beijá-la na chuva sem sentir nada. Bom, sem sentir mais do que já
sinto. Posso dar tudo o que ela merece sem rabiscar nosso nome em pequenos
corações no caderno.
Eu sou adulto. Ela é adulta. Não preciso disso. Posso lidar com as consequências
das minhas ações.
Entrego o restante dos garfos para Alex sem olhar para ele e vou até a cozinha
para indicar a So a onde está a saladeira. Em vez disso, me distraio com meus pais,
que estão em seu mundinho ao lado da geladeira. Observo meu pai ajeitar uma
mecha de cabelo comprido atrás da orelha da minha mãe, um sussurro
pressionado na pele logo abaixo. Ela ri, alto e feliz, e ele a toma em seus braços. Ela
pousa os braços dela nos ombros do dele, e ele a conduz em uma dança leve e
fácil, girando em torno do minúsculo espaço da cozinha. Ela inclina a cabeça para
trás e ri ainda mais, os olhos do meu pai xos nos dela.
Algo em meu peito se contrai, uma dor discreta.
Não deixe que o tio Benjamín saiba que temos tequila murmuro para
Alex. Já volto.
Eu me afasto antes que ele possa dizer mais alguma coisa e subo a escada para o
quarto. O celular de volta à minha mão vibra mais uma vez e deslizo para
desbloqueá-lo, o brilho intenso na escuridão do corredor.
Layla
Me diverti muito com você essa noite.
Deslizo o polegar sobre as letras do nome dela antes de jogar o celular na cama e
tirar as roupas úmidas do corpo.
Posso car até o m deste mês com Layla sem perder o controle sobre meus
sentimentos. Posso ser tudo o que ela merece sem me machucar no processo. Não
era esse o objetivo do nosso acordo desde o começo? Eu daria a Layla uma
experiência positiva de namoro, e ela me daria um feedback para que eu consiga
ser mais realista.
Tudo está exatamente como deveria estar.
Inclusive meu coração.
14
LAYLA
EU NÃO ESPE VA que fosse acabar a noite sentada no colo de Caleb, com suas
mãos por baixo da minha saia, mas aqui estamos. Com certeza não estou triste por
isso. Seus olhos estão escuros, o cabelo está revirado em todas as direções e ele
tem um chupão se formando logo abaixo da orelha esquerda, fruto da minha
empolgação.
Ele ca lindo assim.
Ele desliza os polegares do alto das minhas coxas até a parte interna dos meus
joelhos, e quase lanço nós dois para fora da cadeira.
Estou nervosa sussurro, decidindo ser honesta. Não quero que ele que
desanimado quando eu não… responder ao seu toque.
Já tive parceiros que caram chateados no passado. Frustrados. Aprendi logo
que ngir costuma ser o caminho mais fácil, sem a complicação de egos feridos.
Mas não quero ngir nada com Caleb.
Por que você está nervosa? Ele desliza as mãos até a minha bunda e
aperta, fazendo faíscas dançarem pela minha coluna. Sou só eu.
Mas esse é o problema, não é? Ao que parece, ele não é só o Caleb.
Ele é um toque cuidadoso e um olhar persistente. Patins no primeiro encontro,
nachos e beijos na chuva. A mão no meu cotovelo e na parte inferior das minhas
costas, os lábios pressionados na minha nuca. Firme. Con ável. Gentil. Muito
gostoso.
Caleb está se revelando muitas coisas para mim.
Às vezes… Reviro os olhos e encaro a luminária acima da mesa da
cozinha em vez de olhar para o rosto dele. Às vezes eu demoro um pouco pra
entrar no clima.
Ele emite um som baixo e mexe os quadris sob os meus. Olho nos olhos dele.
Está um pouco ofegante, os botões da camisa esticados. Parece um tanto
selvagem, um tanto exausto. Com fome de algo que não é a sobremesa.
Isso parece o oposto de um problema, Layla.
É?
Ele concorda, entusiasmado, e se inclina para a frente até que seus lábios
encontrem o ponto em que o decote revela parte dos meus seios. Ele dá um
beijinho acima do meu coração e depois lambe uma faixa quente até o meu
pescoço. Meu corpo todo estremece com força.
Gosto de me esforçar pra conseguir o que quero sussurra em meu ouvido.
Um suspiro escapa da minha boca.
Tudo bem, então.
Ele dá dois tapinhas do meu quadril por baixo da saia, o rosto ainda enterrado
no meu pescoço.
Se levante ordena com gentileza, e eu levanto o quadril, apoiada sobre os
joelhos, para que suas mãos possam se mover. Ele traça a linha da minha calcinha
de um lado ao outro da cintura com uma única e deliberada ponta do dedo.
Você gosta de ser provocada? Os nós de seus dedos roçam a parte da
frente do algodão macio da minha calcinha, quase sem encostar. Respiro fundo e
me arrepio toda. Ou você prefere rápido? Seu polegar pressiona com força o
local onde mais preciso dele, e nós dois gememos de prazer. O meu gemido soa
mais ofegante, o dele, mais baixo e rouco.
Ser provocada respondo com a boca no topo de sua cabeça, minha voz
ofegante e fraca. Acho.
Nunca me zeram essa pergunta antes. Nunca pensei muito sobre o que quero e
o que não quero quando estou com alguém assim. Mas eu gosto desse estímulo,
do desejo contido em minha barriga que aumenta quando seu toque é fugaz e
suave. Gosto do roçar de seu polegar quando ele traça cada centímetro de mim
por baixo da saia, devagar, devagar, devagar. Como se estivesse saboreando. Como
se estivesse memorizando.
Como se quisesse que o momento durasse.
Ele pressiona o polegar de novo e grunhe baixinho quando sente como estou
molhada entre as coxas.
Meu Deus exclama ele. Meu corpo inteiro treme como uma folha ao
vento. Me diga quando estiver bom, tá?
Concordo e me movo contra sua mão.
Tá bom.
Ele tira uma das mãos de debaixo da minha saia e brinca com a alça do vestido
no momento em que os nós de seus dedos roçam meu centro de novo. Eu
contenho um gemido e en o as mãos em seu cabelo, meus quadris indo em
direção ao seu toque e depois se afastando. Essa posição é estranha, meu corpo
está suspenso acima do dele enquanto ele me toca. Eu me sinto desajeitada e
desequilibrada, tudo está muito apertado.
Não, que aqui. A mão de Caleb vai até meu quadril e ele me guia para
baixo, me incentivando a rebolar na mão em seu colo. Mais confortável, envolvo
seu pescoço com os braços e me ajeito. Um meio-sorriso se insinua em seus lábios,
fazendo as covinhas que adoro aparecerem, e eu me acomodo mais um pouco.
É o Caleb, e com Caleb estou segura.
Eu o observo com os olhos semicerrados enquanto rebolo, seu olhar xo em
mim, sentada em seu colo. Sinto seu olhar como sinto os nós dos dedos em minha
pele nua, nos meus ombros. O volume dos meus seios contra o vestido, a saia
subindo pelas coxas. Ele se recosta na cadeira e afasta mais as pernas, fazendo com
que as minhas também se abram mais. Seus dedos têm mais espaço para explorar
sob meu vestido, e quase não consigo respirar.
Você ca tão linda assim diz ele em voz baixa. Está gostoso?
Eu murmuro alegre em resposta e fecho os olhos. Inclino a cabeça para trás
enquanto ele puxa uma das alças do meu vestido para baixo e depois a outra,
ambas se acomodando na curva dos meus cotovelos. Ele roça a boca na minha
clavícula e na pequena cavidade entre meus seios. O tecido do meu vestido se
mantém ali, apertado.
A sensação é incrível. Uma provocação deliciosa, do jeito que eu queria. O calor
se acumula no fundo da minha barriga e em todos os lugares em que meu corpo
está pressionado contra o dele: joelhos, coxas, cabeça e coração.
Responda, Layla. Ele ajusta a mão entre minhas pernas para que eu
pressione diretamente o polegar dele a cada movimento dos quadris. Meu corpo
inteiro estremece.
Está gostoso digo, as palavras arrastadas. É a melhor sensação que já tive
com alguém, e ele nem precisou tirar minhas roupas. Ele não tocou a pele nua por
baixo delas. Um de seus dedos invade a borda da minha calcinha e um som
errático ca preso no fundo da minha garganta.
Gosta quando eu falo com você? Ele segura o decote do meu vestido com
os dentes e puxa o tecido só um pouquinho para baixo. A tensão dos meus
mamilos contra o tecido macio o distrai. Ele passa a língua em um deles sobre o
material frágil do vestido, que está quase caindo, até que eu esteja arqueada em seu
colo.
Gosto quando você fala consigo dizer entre respirações ofegantes. Não
consigo parar de observá-lo. Seu braço exionado entre minhas pernas e a boca
nos meus seios. Ele prende um mamilo entre os dentes, e o calor sobe pela minha
coluna. Nunca me senti assim, nem mesmo sozinha. Deixo escapar um suspiro
trêmulo. Gosto quando você…
Não termino a frase, meus pensamentos se dispersando. Ele encosta a testa no
meu peito e pressiona os quadris contra os meus, com a mão presa entre nós.
Do que você gosta?
Minhas bochechas estão quentes. Eu também nunca disse isso a ninguém.
Gosto quando você também me diz do que gosta.
Acho que gosto do elogio. Gostaria de ouvir todas as coisas boas que o estou
fazendo sentir.
Ele geme, um som impotente. Ele ajusta a mão para que eu rebole em sua palma,
a parte alta roçando em meu clitóris a cada movimento brusco do meu quadril.
Ele pressiona meu pescoço com beijos molhados, chupando.
Quer saber o quanto você é gostosa?
Quero.
Quer saber como estou cando louco só de ver você assim?
Assinto freneticamente. Sim, é disso que eu preciso. Quero saber que Caleb está
sentindo o mesmo que eu. Que ele também se sente fora de controle. A tensão
dentro de mim se agita mais fundo, um frio no fundo da minha barriga. Rebolo
com mais força, perseguindo o toque.
Isso, meu bem. Assim mesmo. A mão por cima do vestido me agarra pela
cintura e me guia para mais perto. Em todo lugar que me movo, sinto uma
sensação diferente. O botão da calça jeans dele quando meus quadris avançam. A
pressão dura de seu pau na parte interna da minha coxa quando eu me inclino para
baixo. Sua boca no meu peito e o cabelo bagunçado no meu pescoço.
Isso incentiva ele, e eu rebolo com mais força. Agarro a parte de cima da
cadeira em que estamos equilibrados e persigo a sensação, fazendo minhas pernas
se contorcerem e tremerem. Persigo aquela deliciosa borda dourada que está fora
do meu alcance. Isso mesmo, Layla. Cavalgue na minha mão até chegar lá.
Caramba murmuro. Acho que é a combinação de seu toque rme e de
suas palavras baixas e murmuradas, elogios sussurrados em meu ouvido,
aumentando meu desejo cada vez mais. Ele não hesita enquanto eu me esforço
contra ele, e o material áspero de sua calça jeans roçando a parte interna de
minhas coxas torna tudo melhor. Eu gosto do ardor. Gosto do desespero.
Eu me movo, e Caleb me diz como sou gostosa, perfeita, como estou toda
quente e que sente que estou molhada através da calcinha. Ele me diz que já está
ansioso por outro momento assim comigo, mas que vai tirar todas as minhas
roupas para que ele possa ver o rubor pintar minha pele de rosa.
Só com um daqueles lenços lindos murmura ele com a boca na base do
meu pescoço, o dedo passando por baixo da bainha da minha calcinha. Nada
mais.
Eu não… Minha voz se eleva em um lamento. Estou tão perto, mas não
consigo me forçar a ultrapassar o limite. Quanto mais me esforço contra ele, mais
longe pareço estar. Meu prazer oscila, a frustração nebulosa embotando a
sensação. Eu me contenho em um gemido que mais parece um soluço.
Caleb me faz desacelerar com toques suaves e cuidadosos. A ponta dos dedos na
parte inferior das minhas costas. Um beijo entre meu ombro e meu pescoço.
Do que você precisa? sussurra ele.
Eu não sei murmuro em seu pescoço, raspando meus dentes em sua
orelha e rebolando com mais força em sua mão. Quero gozar. Quero gozar, quero
gozar, quero gozar. Não sei do que preciso.
Caleb me imobiliza acima dele, e eu me agito em seu aperto, frenética. A
necessidade pulsa bem abaixo da minha pele, um zumbido vertiginoso no fundo
dos meus ossos. Chupo seu pescoço, me atrapalho com os botões de sua camisa.
Sou pura confusão, o puxando e agarrando debaixo de mim. A paciência se foi. A
hesitação também.
Caleb, por favor peço, envergonhada por estar implorando por um
orgasmo, mas também incapaz de parar. Estou tão perto. Por favor, continue.
Ele passa a mão pelas minhas costas e aperta minha bunda por cima do vestido.
Ele me segura com um dos braços e me levanta, mantendo-me rme contra a
frente de seu corpo enquanto se ergue da cadeira. Envolvo seus ombros com meus
braços.
Vou continuar. Ele dá quatro passos em direção ao sofá e caímos nele, nos
acomodando até que eu esteja pressionada contra as almofadas e Caleb esteja
acima de mim, com minhas pernas em volta de sua cintura. Cruzo os tornozelos e
o puxo para mais perto, o pau pesado e duro no espaço entre minhas pernas.
Você vai gozar, eu prometo. Acho que descobri o problema.
Você parou de me tocar reclamo, me sentindo petulante. Ele segura meus
pulsos, guiando meus braços para cima da minha cabeça. Eu os quero embaixo do
meu vestido. Em minha pele. Esse é o problema.
Eu estava fazendo você se esforçar demais diz ele, o olhar xo no deslizar
de suas mãos largas pelos meus braços, então nas laterais do meu corpo. Ele
prende dois dedos na parte de cima do meu vestido e puxa até que meus seios
quem nus sob ele. Solta um grunhido baixo e apreciativo e passa a palma das
mãos de leve nos meus mamilos. Ele me provoca dessa forma, com o peito
ofegando enquanto se mantém acima de mim, de joelhos. Quando en o meus
dedos sob seu cinto e puxo, ele agarra meu pulso e o leva acima da minha cabeça,
me pressionando com mais força contra o sofá. Meu corpo inteiro estremece de
necessidade.
Seus olhos queimam de prazer ao me encarar.
Você não tem que se esforçar, meu bem. Deixe que eu faço o trabalho.
Então Caleb começa.
Ele me segura no sofá e se move contra mim como se estivéssemos em uma
cama. Como se estivéssemos em uma cama e nus, e ele estivesse dentro de mim e
quisesse ir mais fundo. Ele rebola os quadris, chupa meu pescoço e arrasta uma
palma da mão pela linha do meu braço até meu seio. Belisca meu mamilo
enquanto roça o corpo no meu, e tudo se transforma em cores brilhantes, formas,
sensações e o som ofegante de nossas respirações juntas.
Você está tão linda, Layla. Puta merda.
Uma mecha de cabelo escuro cai sobre sua testa quando ele alcança meu
tornozelo. Ele envolve seus longos dedos em torno do osso delicado e o apoia
mais alto nas costas. Dobro os joelhos e quase me engasgo com um gemido.
Aposto que você ca mais linda ainda quando goza. Posso ver? Ele pega o
lóbulo da minha orelha com os dentes e o puxa. Você vai me mostrar?
Caleb. Digo seu nome apenas porque quero. Quero sentir o gosto das
sílabas em minha língua enquanto me movo com mais intensidade. Ele murmura e
pressiona o polegar em meu queixo, guiando minha boca até a dele. O beijo é
lento e profundo, a cadência do corpo se mantendo. Ele não acelera, não
desacelera, apenas continua a me excitar por cima da roupa, naquele ritmo
perfeito, delicioso e pesado.
Você está quase lá?
Eu concordo e depois concordo de novo. Não sei há quanto tempo estamos nos
movendo juntos dessa forma, só sei que é uma sensação muito, muito boa. Caleb é
tão, tão gostoso. Ele roça os dentes na minha orelha e, ao mesmo tempo, desliza a
mão entre nossos quadris, arrastando o polegar com força, o que me faz arquear,
ofegar e gemer sob ele.
Me diga como você quer.
Mais rápido ofego. Ele segue minhas instruções com perfeição, e eu gemo.
Dois dedos, um pouco mais alto. Por favor… eu…
Bom. Isso mesmo diz Caleb. Seus quadris se chocam contra as costas de
sua mão. Quero que você sinta esse prazer, Layla. É seu.
Talvez seja o incentivo dele, ou talvez seja o polegar entrando por baixo da
minha calcinha molhada e retorcida. Talvez seja o primeiro toque dele em minha
pele nua ou o som profundo de prazer que ele emite em resposta. Um palavrão
murmurado, como se ele estivesse tão entregue quanto eu. Não sei dizer. Só sei
que, quando inspiro, estou vendo Caleb se mover acima de mim e, ao soltar o ar,
estou mergulhando rumo ao prazer mais intenso.
Acontece de repente, um solavanco forte bem no centro do meu peito. Como
uma corda sendo puxada. Eu me agarro a Caleb enquanto a sensação me percorre,
um incêndio de prazer e sensações selvagens e confusas. Pode ter começado de
repente, mas se espalha devagar, pela parte de trás das minhas pernas, pela base
dos quadris, ao longo dos meus seios, pressionados contra o tecido frio da camisa
de Caleb. Eu gemo e faço sons que nunca ouvi saírem de minha boca antes.
Quando en m recupero o fôlego, Caleb ainda está por cima de mim, ofegando
em meu pescoço.
Deslizo a palma das mãos pelas costas dele e as en o por baixo da camisa. Seus
quadris se movem e ele se aconchega em mim, a pele quente sob o toque. Ele
parece o cobertor mais pesado e com o cheiro mais delicioso.
Eu sorrio para o teto.
Acho que essa foi a melhor ideia que você já teve.
Ele toca meu pescoço com o nariz, e posso sentir seus lábios se curvarem em um
sorriso.
Melhor que a pista de patinação?
Eu me mexo embaixo dele, muito satisfeita.
Sem dúvida.
Ele ri e leva a mão à base do meu pescoço. Acaricia minha pele com o polegar. É
um conforto e uma marca. Uma garantia suave de que tudo o que acabamos de
fazer foi como deveria ser.
Eu concordo.
Você… Eu me remexo embaixo dele e traço a linha forte de sua coluna até
logo acima da calça jeans. Quero tirar a camisa dele e acariciar essa pele linda.
Engulo em seco. Quer que eu toque você também?
Caleb se apoia sobre os antebraços, com um delicioso rubor nas bochechas, no
pescoço e na ponta das orelhas. Seus lábios estão inchados e o cabelo é uma série
de ondas emaranhadas de suor. Quero me lembrar dele exatamente assim toda vez
que ele estiver do outro lado do balcão na padaria e pedir um croissant.
Se bem que imagino que será um desa o e tanto à minha produtividade.
Eu, hã… Ele morde o lábio inferior. Não precisa.
Ignoro minhas entranhas se revirando, a dor da rejeição, por mais gentil e amável
que ele tenha sido. Tudo bem se ele não quiser que eu o toque da mesma maneira
que ele acabou de me tocar. Sem problema.
Olho xamente para o teto e acalmo minhas mãos.
Layla. Caleb suspira meu nome. Não é nada disso. Eu já, hã… já…
Franzo a testa e vejo o rosto dele se contorcer de vergonha.
O quê?
Ele olha para mim com um sorriso tímido e triste. Ergue a mão e traça as linhas
do meu rosto, o inchaço do meu lábio inferior. Parece encantado. Aquele toque
memorável dele, tudo de novo. Eu o seguro pelo pulso e dou um beijo estalado
bem no centro de sua palma.
Ele apoia a testa na minha clavícula e balança para a frente e para trás.
Eu já gozei explica com muita relutância. Ele esfrega a mão que acabei de
beijar em seu peito. Só precisei ver você. Tocar você foi… Ele suspira
devagar. Incrível, esse som parece dizer. Outro suspiro e uma risada baixa e
estrondosa. Eu me sinto um adolescente.
Uma onda de calor substitui a sensação de vazio no meu peito. Afeição, com
toda a certeza e segurança.
Você deve ter sido divertido na adolescência.
Ele dá de ombros e se apoia nas mãos para erguer o corpo.
Eu era um moleque todo desengonçado. Não sabia como falar com as
pessoas, de verdade. Ainda mais com as garotas.
Acho difícil acreditar nisso quando, há uns três minutos, ele estava me dizendo
para gozar. Mas gosto mesmo assim. Gosto que Caleb se sinta confortável para ser
ele mesmo comigo. Que não se censure nem se molde a algo que acha que eu
quero. Eu entendo Caleb em todos os seus belos e imperfeitos tons.
Ele se ergue até se sentar recostado no sofá, e eu co esparramada sobre as
almofadas, com o vestido erguido até a cintura e o braço estendido acima da
cabeça. Os olhos de Caleb percorrem um caminho sinuoso pelo meu corpo,
detendo-se na curva dos meus seios.
Ele respira fundo, com os olhos turvos e sonolentos. Desejo. E algo mais suave.
Eu sorrio.
Dez de dez digo, me sentindo mal por atribuir uma nota. Mas preciso
lembrar a nossa situação, a base em que nosso relacionamento está sendo
construído. Não vai ser nada bom encarar a realidade no m disso tudo, apesar de
ter sido incrível. Suspiro e passo os dedos pelo cabelo suado. Você é
maravilhoso, merece medalha de ouro.
Ele sorri, com os olhos franzidos no canto.
Eu digo o mesmo. Caleb se vira no sofá com as pernas abertas, uma mão
apoiada na barriga e a outra no espaço de cinco centímetros entre nós. Seu olhar
se detém em todos os lugares que suas mãos tocaram. A inclinação dos meus
ombros e a extensão suave dos meus braços. A cavidade entre meus seios e a pele
macia da minha barriga.
É uma coisa simples ter alguém me observando enquanto me recomponho.
Simples e linda, uma intimidade incrível.
Outra novidade para mim esta noite.
Ele passa a mão no meu tornozelo e tamborila os dedos na minha panturrilha.
Sobe a palma da mão até a parte de baixo do meu joelho e desce de novo
enquanto eu passo os braços pelas alças do vestido. Um tapinha, outro tapinha, até
chegar aos meus pés.
O quê? pergunto enquanto me contorço para colocar a alça teimosa, toda
retorcida.
Caleb tira a mão do meu joelho e segura o tecido teimoso, passando o polegar
pela minha clavícula enquanto o endireita. Ele passa a mão pelos meus ombros,
bem de leve, até o centro do meu peito. Repousa a mão ali até que eu tenha certeza
de que pode sentir as batidas do meu coração.
Nada diz ele, com uma voz profunda , gosto de olhar pra você.
Sorrio e aliso a saia do vestido para cobrir minhas coxas. Seguro a mão dele na
minha e entrelaço nossos dedos, aconchegando-me ao seu lado até que estejamos
enrolados um no outro. Ficamos sentados em meu sofá azul, ouvindo os sons da
casa se acomodando ao nosso redor. O ranger da madeira e os grilos chamando
uns aos outros pela janela aberta acima da pia. Acho que nunca quei tão quieta
com alguém antes. Tão contente só por existirmos.
Inclino a cabeça e dou um beijo nos nós dos dedos de Caleb. Ele emite um som
de satisfação, bem no fundo da garganta, e inclina a cabeça para olhar para mim.
Você ainda tem bolo? pergunta, a voz cheia de esperança.
Solto uma risada.
Tenho. Eu me inclino e deposito um beijo na curva do sorriso dele. Sinto
como se estivesse utuando. Como se estivesse no meio da lagoa que ca nos
extremos do terreno de Lovelight, olhando para os raios de sol que passam por
entre as árvores. Meus lábios percorrem a linha nítida de seu maxilar até o queixo.
Eu me aninho em seu peito e o envolvo em um abraço. Ainda tenho bolo.
17
CALEB
ACHO QUE a gente devia… meu Deus, Caleb. Layla ofega meu nome em
minha boca, os dentes em meu lábio inferior e as duas mãos sujas de farinha
agarrando meu cabelo com força. Vai parecer que mergulhei a cabeça em uma
tigela de massa quando sair daqui, mas não consigo me controlar. Na verdade,
desde aquela noite, dois dias atrás, no sofá de Layla, não consigo parar de tocar
nela. Toda vez que fecho os olhos, vejo aquele vestido laranja retorcido em seu
corpo. A pele nua e minhas mãos pressionando as dela contra o sofá. Continuo
ouvindo os sons que ela fazia enquanto se movia em meu colo e buscava o prazer.
Se eu achava que iria desejá-la menos depois que sentisse seu gosto pela
primeira vez, fui um idiota. O desejo só aumentou.
Ainda mais hoje, que ela está usando o avental estampado de morangos. Há algo
de especial no vermelho que se destaca em sua pele macia, nos cordões que dão
duas voltas em sua cintura, amarrados em um laço bem-feito na frente do corpo.
Quero desfazê-lo com os dentes.
Sem mencionar o batom vermelho-cereja e os brincos de argola dourados. O
lenço azul com pequenas bananas amarelas enfeitando seu cabelo curto. Entrei
pela porta e ela me olhou por cima de uma bandeja com forminhas de crème
brûlée de baunilha, um sorriso enorme ao me ver. Precisei parar por um momento
e respirar fundo. Esfregar a palma da mão no peito e tentar colocar tudo de volta
em seu devido lugar.
Tentei me comportar. Fiquei sentado no banquinho e ngi tomar minha xícara
de café, mas, na verdade, estava observando as curvas de seu corpo enquanto ela
se debruçava sobre a bancada. Observei enquanto ela misturava, mexia e
desenrolava a massa fresca para os rolinhos de canela, ignorando a tentação
quando ela pegou um pote de açúcar com canela. Não pude evitar um gemido
fraco quando ela mexeu a manteiga derretida em uma tigela, espalhando-a na
massa com um pincel, em listras largas.
Mas foi o glacê que en m me tirou do sério. Em um segundo, Layla estava
pegando a tigela na geladeira e, no outro, estava estendendo a mão na minha
direção, com uma porção perfeita e imaculada de glacê equilibrada na ponta do
dedo. Eu lambi seu dedo, os cílios dela tremularam e, no instante seguinte,
estávamos nos agarrando, com tigelas e um prato em formato de cupcake indo
parar no chão.
É melhor a gente parar diz ela logo antes de correr os dentes pelo meu
pescoço e guiar minha boca de volta para a sua com a mão em meu queixo,
deixando mais marcas de farinha. Eu a pressiono com força contra a geladeira e
aperto as coxas dela com mais intensidade.
É, é melhor concordo. Empurro seu queixo com o nariz até que ela incline
a cabeça para trás, até que eu possa chupar seu pescoço e sentir o gosto de açúcar
em sua pele. Ela pressiona os quadris contra os meus e estou a quatro segundos de
en ar as mãos por baixo desse avental e descobrir que tipo de calcinha Layla
Dupree usa quando está cozinhando.
Sempre fui meticuloso em questão de autocontrole. Sempre muito educado,
fazendo o que era esperado de mim. Mas Layla faz com que eu me sinta
transtornado. Livre, desconcentrado, desestabilizado. Subo uma das mãos pela
perna dela e depois volto a descer, a barra do vestido roçando nos nós dos meus
dedos.
Ela está ofegante, puxando meu cabelo com força. Uma sensação lenta e quente
se desenrola na base da minha coluna, minha respiração mais acelerada do que um
segundo antes. Há surpresa e encantamento em seu sorriso, e ela puxa de novo,
inclinando minha cabeça para trás, a boca em meu pomo de adão. Seus olhos
estão xos em mim.
Meu corpo inteiro se desfaz contra o dela.
Ela ri, um som rouco logo abaixo do meu ouvido.
Preciso ir trabalhar.
Tá bom. Não desgrudo dela, meu rosto apoiado em seu pescoço.
Caleb. Posso sentir seu sorriso em meu ombro. Ela abraça minha cintura e
me aperta. Vá se sentar no seu banquinho.
Não, valeu.
Não quero ir. Quero car onde estou, abraçado à Layla, sentindo o cheiro de
farinha, açúcar e lavanda em sua pele, o coração dela batendo contra o meu. Alex
tem me dito que preciso controlar minhas expectativas, mas não vejo problema
em me entregar.
Sempre gostei de Layla do jeito que qualquer pessoa gosta de alguém que é bom
e gentil. Um sentimento caloroso, mas, ainda assim, um tanto impessoal. Eu
gostava do sorriso dela, de sua risada. Gostava de como ela sempre cuidava do
caixa, independentemente do quanto a padaria estivesse lotada. Gostava de vê-la
decorar os bolos prendendo a língua entre os dentes e segurando com cuidado
uma espátula pequenina.
Mas agora esse gostar está se transformando em algo mais profundo. Gosto de
como ela segue o que o coração diz, apesar de já ter se machucado tantas vezes. De
como ela ergue o queixo e se esforça para ser corajosa quando está falando da
família. A lealdade inabalável que tem por seus amigos e o orgulho que sente deste
lugar que construiu.
Também gosto do jeito que ela me toca, como passa os dedos para cima e para
baixo no meu braço enquanto estamos sentados no capô do jipe. Gosto de ver o
sol pintar o céu em um caleidoscópio de cores suaves com Layla deitada em meu
ombro. Do polegar dela apertando a pele macia na base do meu pescoço quando
se anima com alguma coisa, a voz subindo um oitavo, em um ritmo mais rápido.
Ela é tudo o que eu pensava que seria e mais um pouco.
Layla começa a cantar o início duvidoso de uma música e se remexe colada a
mim. A ponta dos dedos brinca com o cabelo curto na minha nuca enquanto eu a
envolvo em um balanço para a frente e para trás, bem devagar. Uma dança só
nossa, particular, bem aqui na cozinha da padaria dela. Farinha no meu cabelo e
meu coração batendo acelerado. Melhor que qualquer encontro que eu poderia
ter planejado.
Você acha que… Ela engole a frase, as unhas me arranhando de leve. Solto
um som um pouco constrangedor e me acomodo sob seu toque.
O quê?
Sinto que está hesitando. Percebo pela maneira como seu corpo ca tenso
contra o meu. Eu continuo nosso balanço enquanto ela encontra a forma certa de
dizer o que quer.
Você acha que as coisas têm dado tão certo entre nós por causa do acordo?
Sua voz é um sussurro. Ou você acha que é por nossa causa?
Murmuro, roçando a boca em sua têmpora.
Como assim?
Ela inclina o rosto em direção ao meu, as duas mãos pressionadas em meu peito.
As coisas entre nós parecem… Um sorriso surge no canto de sua boca, e
gosto tanto dele que me abaixo para saboreá-lo. Ela ri em minha boca e me
empurra para trás de novo. Pare de me distrair. Seus lindos olhos procuram
os meus e, quando volta a falar, sua voz é suave, tímida, e tem um tom que eu
nunca tinha ouvido antes. As coisas parecem fáceis demais entre a gente, Caleb.
E não sei quanto disso é por mim, por você ou pelo acordo.
Traço meu polegar pela curva de seu maxilar até o meio do queixo.
Não podem ser as duas coisas?
Ela franze a testa.
Como assim?
Penso bem no que quero falar e decido expressar uma teoria que tenho
analisado.
Pode ser que o acordo tenha ajudado a gente a ser mais sincero um com o
outro, mas não acho que seja só isso. Talvez ele só tenha dado um empurrãozinho
na direção certa.
Ao menos, foi assim que escolhi ver a situação. O acordo pode ter tornado mais
fácil nosso caminho juntos, mas a forma como me sinto quando estou perto dela?
O crédito é cem por cento da Layla.
Eu a mantenho perto de mim com uma mão rme na base de sua coluna.
Ela enterra o rosto na parte da frente da minha camisa. O cabelo curto grudado
nas bochechas até que ela se esconda o máximo que consegue.
Como você sabe disso? murmura em minha camisa.
Eu expiro, baixo e devagar, então crio coragem e confesso.
Dia 17 de fevereiro.
Ela suspira, uma discreta lufada de ar quente em algum lugar sobre meu esterno.
O que aconteceu no dia 17 de fevereiro?
Eu comprei um bolo.
É uma provocação. Quero tentá-la com respostas curtas demais, para que tenha
que se inclinar para trás e olhar para mim. Mas ela se mantém rme no lugar,
erguendo uma mão para bater em minhas costelas em um aviso velado.
Se você me disser que comprou um bolo em uma padaria de supermercado,
vou socar sua cara, Caleb Alvarez.
Solto uma risada, surpreso.
O quê?
Se esse bolo era de mistura pronta ou foi feito por outra pessoa, nunca mais
falo com você.
Não comprei o bolo no supermercado nem de outra pessoa respondo.
Comprei de você.
Ela não diz nada. Deslizo a ponta dos dedos por suas costas, ao longo de sua
coluna. Ela é tão de nida ali, tão rme. Acho que nunca se deu conta disso.
Comprei um bolo no dia 17 de fevereiro. Eu lembro bem a data por causa do
monte de enfeites do Dia dos Namorados que ainda estava pendurado na frente
da padaria. Eu batia a cabeça em um negócio com um cupido de papel o tempo
todo. Acho que você pendura as decorações baixo demais, às vezes.
Ou você que é alto demais argumenta ela, em algum lugar próximo da
minha clavícula.
É, talvez seja isso. Mas alguém estava reclamando com você por causa de um
bolo no balcão. Disse que você errou na cobertura e que não queria o bolo se
estivesse errado, e você… você parecia tão confusa e um pouco triste, e eu
queria… Eu me lembro da raiva queimando em meu peito, descendo para
meus ombros. Uma queimação na palma das mãos. Eu ainda era delegado e
achei que não seria certo dar um soco na cara de alguém… então, esperei. A
pessoa foi embora e não levou o bolo. Quando perguntei o que você ia fazer com
ele, você meio que deu de ombros e olhou para as ores no topo, tão lindas, como
se fossem a pior coisa que já tinha visto, e… E partiu meu coração um pouco,
vê-la atrás do balcão tentando não chorar. Então eu comprei o bolo. E, Layla,
foi o melhor bolo que já comi em toda a minha vida.
As mãos dela vão da minha cintura para as costelas. Ela espalma os dedos.
E eu gostei… Paro de falar. Essa é a parte difícil. A parte que me causa
incerteza. É aqui que sinto cada conversa fracassada com uma mulher como uma
marca em minha pele. Não quero forçar a situação, não com a Layla.
Quero ser o su ciente.
Eu gostava de abrir a geladeira no meio da noite pra pegar um copo d’água e
ver a caixa de bolo lá. Gostava de comer um pedaço de manhã com meu café e
olhar para as pequenas ores no topo. Às vezes, você morde a ponta da língua
quando está fazendo os desenhos no bolo, sabia disso?
De vez em quando, eu chegava mais cedo para pegar meu bolo, só para poder ver
seu rosto se transformar quando ela estava concentrada. Uma alegria tão cheia de
cuidado, disfarçada, que orescia quando ela sorria, como as pequenas margaridas
feitas de glacê.
Mas decido guardar essa parte para mim.
Eu comia só um pedaço por dia. Quando estava acabando, comecei a comer
pedaços cada vez menores. Então, quando comi o último com meu café e não
conseguia aceitar a ideia de esperar até depois do trabalho, olhei para a caixa cheia
de migalhas e pensei: Por que não pedir outro bolo? Eu estava… Solto uma
risada, me sentindo meio constrangido, meio burro e um milhão de outras coisas
confusas que pesam em minha cabeça e em meu coração. Eu estava com tanto
medo de ligar e encomendar outro bolo.
Liguei duas vezes e desliguei, dei uma volta na cozinha, coloquei as mãos na
cintura e encarei o celular na mesa. Quando, por m, decidi ligar, nem foi a Layla
quem anotou meu pedido. Eu me lembro de pensar em como estava sendo idiota
por causa de um bolo.
Eu pensei que você tinha um monte de festas de aniversário dos Alvarez para
ir e tinha cado encarregado dos bolos murmura ela no ombro da minha
camisa, esfregando o nariz no tecido. Sua voz soa um tanto embargada.
Não, eu não estava encarregado dos bolos. Rio de novo. Eu comia todos
aqueles bolos sozinho, e a mudança na largura da minha cintura era a prova disso.
Não sei dizer por que continuei pedindo os bolos. Acho que gostava de ver
você. De estar perto de você. Ainda gosto de tudo isso, Layla.
Ela funga e se agarra a mim com mais força. A cada vez que meu coração bate,
parece que está tentando abrir caminho por entre os músculos, tendões e ossos
para chegar até ela. Estou de pé diante do precipício, esperando…
Não sei o que estou esperando.
Acho que estou apenas esperando.
Faço carinho nas costas dela e en o as mãos por baixo de seu cabelo, encostando
a palma da mão em sua nuca.
Então, é isso. Não acho que tudo que está acontecendo seja por causa do
acordo. Acho que parte disso sou eu, parte é você e parte somos nós. Mas tudo
isso é bom, não é?
É sussurra ela. É bom.
Acho que podemos desbravar essa próxima parte juntos. É só… só continuar
me dizendo do que você precisa.
Ela en m se afasta do meu peito e ergue o queixo, os olhos surpreendentemente
claros e radiantes. Noto um leve vinco sob o olho direito até bochecha, onde seu
rosto estava apoiado na minha camisa, uma delicada linha na parte que estava
grudada em mim. Acho que gosto mais disso do que deveria.
Seus olhos procuram os meus, me encarando. Ela franze o nariz e traço meu
polegar no vinco discreto.
Você também tem que me dizer do que precisa responde, por m. É
assim que vai funcionar. Temos que continuar conversando.
Eu gosto de conversar com você.
Parece ridículo dizer isso, mas percebo que ela está com as bochechas rosadas e
um sorriso tímido surge em sua boca. Seguro seu rosto entre as mãos para que
possa observar o sorriso crescer ainda mais. Ela vira a cabeça e dá um beijo bem
no meio da minha palma. Gostaria de poder segurar esse beijo em minhas mãos
também.
Também gosto de conversar com você.
Suspiro, me sentindo mais leve do que nunca, e me aproximo novamente.
Tenho um pedido, na verdade, já que você disse que posso falar.
Tem, é?
Tenho, sim.
Diga lá, então.
Acaricio a orelha dela com o nariz e dou um único e demorado beijo na pele
macia abaixo dela. Sorrio quando ela agarra a parte da frente da minha camisa e
tenta me puxar para mais perto ainda. Layla pode ter di culdade em verbalizar
sobre o que precisa, mas não é nada tímida na hora de mostrar.
Mais mãos dadas sussurro. Uma de minhas mãos alcança a dela e eu
entrelaço nossos dedos. Mais croissants de manteiga.
Mais corridas na chuva. Mais piqueniques na praia, com os pés na areia e bolo
de morango em potinhos. Menos escape rooms e pistas de patinação, acho eu,
mas sou exível nessa parte, se for algo que ela queira.
Ela dá uma gargalhada.
Mais sorvete exige. Dá um beijo rápido em meu queixo. Mais beijos
sussurra.
Eu a seguro pela nuca e dou um selinho nela.
Acho que podemos começar essa parte agora mesmo.
Ela concorda, o nariz roçando no meu.
Aham, acho que sim.
Então, abaixo a cabeça em direção à dela em um beijo mais lento que o último e
mais doce também. Esse beijo parece ser algo mais.
Mais de Layla. Mais de mim.
Mais de nós dois juntos.
Mais de tudo.
18
LAYLA
TRÊS DIAS DEPOIS, Caleb está parado no meio da minha cozinha de novo. Mas,
desta vez, com as mãos en adas nos bolsos, olhando para a imensidão de tortas de
frutas na bancada, como se estivesse prestes a realizar uma intervenção. Ele coça o
queixo e passa a palma da mão na nuca. Olha para mim e depois para a bancada.
Ele é todo hesitação.
Acho fofo.
Isso é… comida pra caramba diz devagar, com cuidado. Acho que está
com medo de me assustar. Levando em conta meu estado mental nos últimos dias,
não é precaução exagerada. Ele empurra a ponta de uma torre de cupcakes com o
dedo mindinho, a cabeça ligeiramente inclinada para o lado em re exão. Essa torre
é nova e acho que não precisava de mais uma, mas meus cupcakes de abacaxi com
rum cam tão lindos ali, e é isso que importa.
Caleb se vira para mim, parado no lugar. Acho que é a primeira vez que camos
no mesmo cômodo sem nos agarrarmos. Ao que parece, nossa conversa no outro
dia se traduziu em amassos em todas as superfícies da padaria e além. Mas beijar o
Caleb nem passou pela minha cabeça hoje, o que mostra o quanto estou nervosa
para a entrevista da Baltimore Magazine amanhã.
Hoje ele está usando uma camisa de botões. Larga, com as mangas arregaçadas,
dois botões desabotoados na altura do pescoço. Limpo as mãos no avental e dou
uma olhada na cozinha.
Não está tão ruim quanto na manhã em que Evelyn e Becke vieram me visitar,
mas por pouco. Diminuí um pouco o ritmo. Se zer vista grossa, talvez. Ainda
assim, passei metade do dia fazendo seis dúzias de tortinhas de creme, com ores
comestíveis enfeitando as bordas de cada uma delas. Caleb apareceu durante a
última fornada com outro sanduíche gorduroso de café da manhã e um beijo na
minha nuca. Ele se acomodou em um dos banquinhos e me observou com o
queixo apoiado no punho, um olhar preguiçoso em seu belo rosto toda vez que eu
olhava para cima. Um sorriso discreto, olhos carinhosos, só um vislumbre da
covinha. Parecia que ele queria mais a mim do que as tortinhas.
Mas isso não o impediu de pegar uma.
As coisas estão indo bem com Caleb. Mais que bem. Ontem à noite, tomamos
sorvete em um quiosque de madeira a meio caminho da cidade e camos sentados
no estacionamento com os pés balançando no para-choque. Sob o céu de algodão-
doce e uma brisa morna de verão que soprava pelos campos. Eu me sentei com o
joelho encostado em sua coxa, tomei sorvete de nozes e observei como os
salgueiros dançavam com a brisa. A mão de Caleb na minha coxa, o polegar
passeando para a frente e para trás na pele sensível.
Mais sorvete comentou ele com um sorriso, repetindo nossa conversa da
outra noite. Retribuí o sorriso e seus olhos assumiram uma expressão mais suave,
mais séria. Ele passou o polegar em minha bochecha com carinho, inclinou-se
para a frente e deu um beijo no canto da minha boca.
Mais desse sorriso acrescentou.
Nunca me senti tão confortável com um homem. É libertador, agradável,
assustador e maravilhoso.
Principalmente assustador.
Fico esperando pelo pior. É difícil acreditar que, de repente, minha má sorte no
amor tenha evaporado. Adorei a história que Caleb me contou sobre como ele
queria me ver e por isso encomendava os bolos, mas acho que nosso acordo pesa
mais do que ele pensa. Talvez os critérios do nosso relacionamento de mentirinha
nos façam ver tudo pintado de rosa. Talvez o tique-taque do relógio garanta que só
vejamos o melhor um do outro, não sei.
Tudo parece muito fácil agora.
Olho para ele de soslaio, observando-o reorganizar algumas das minhas
espátulas limpas por ordem de tamanho. Ele me viu fazer isso uma vez e agora faz
sempre que está aqui comigo. Outro dia, também encontrei o papel-alumínio no
lugar dentro do armário. Luka caria muito orgulhoso.
Ele me pega olhando e um sorriso se forma no canto de sua boca.
Suas covinhas voltam à vida, e minha barriga dá cambalhotas, um tum-tum
respondendo bem no meu peito.
Deve ser pura química. Já me deixei enganar por isso antes. Ou talvez seja a
liberdade do nosso acordo. A capacidade de sermos exatamente quem somos sem
nenhum tipo de pressão. Um relógio que corre devagar. Deve ser isso, porque esse
tipo de coisa não acontece por acaso.
Não comigo.
Fico com o coração na mão e me concentro em um pedaço de papel-manteiga.
Se o que está acontecendo for só por causa do acordo, esses sentimentos devem se
dissipar quando o mês acabar. Vamos nos separar sem ressentimentos e as coisas
vão voltar a ser como antes. Conversas amigáveis três vezes por semana. Um café
com creme. Um croissant de manteiga.
Terei novos e incríveis parâmetros para comparar meus relacionamentos, e
Caleb vai saber como conquistar a próxima mulher por quem se interessar. Será
como se nada tivesse acontecido entre nós.
O cookie que estou tentando embrulhar se desfaz em minhas mãos. Fico
olhando para as migalhas de aveia e nozes e tento afastar a imagem de Caleb
saindo com outra pessoa. Será que eles vão comprar sorvete de creme com cristais
de laranja na praia? Será que se vão se sentar na lanchonete do Deixa Rolar e
comer nachos meio murchos?
Ei. Caleb toca a ponta do meu nariz, surgindo de repente bem na minha
frente. No que você está pensando?
Pisco algumas vezes e coloco o papel-manteiga no balcão, esfregando a palma da
mão contra a tensão que está se formando na parte de trás do meu pescoço. Não
preciso pensar nisso agora. Essa preocupação ca para outro dia. Algo para a Layla
do futuro resolver. Neste instante, a única coisa em que preciso me concentrar é
na entrevista e em deixar este lugar o mais bonito possível para a sessão de fotos.
Eu estava pensando em ores. É muito fácil distorcer a verdade. Eu estava
pensando vagamente nas ores da frente da loja, no enorme dossel de peônias,
lavanda e margaridas que a Mabel me ajudou a torcer ao longo das vigas. Agora,
quando se entra pela porta da frente, é como se o verão estivesse caindo pelo teto.
Flores e ores por toda parte.
Bom, elas estão lindas. Caleb encosta o quadril no balcão ao meu lado e
arranca uma lasca de chocolate do meu papel-manteiga. A Mabel ajudou você?
Faço que sim com a cabeça. Gus também. Um caminhão inteiro de ores antes
mesmo de o sol nascer esta manhã. Uma dúvida surge em minha mente, uma
coincidência que tem me incomodado.
Ei, você tem recebido notícias da rede de comunicação?
Quando as notícias se espalham, costumo receber ligações de Ma y, mas o
silêncio das últimas semanas parece bastante suspeito. Não sei nem se houve
alguma atualização sobre a situação dos patos de borracha nas fontes.
As sobrancelhas de Caleb se contraem em uma linha funda.
Não. Agora que parei pra pensar, não tenho recebido nada.
É um tanto estranho, você não acha?
Ele concorda e pega mais um pedaço do cookie. Sorte dele, ser tão bonito. Se
fosse o Becke , já teria levado uma colher nos dedos.
É verdade. Também não tenho notícias da Darlene, e ela ligava duas vezes
por dia.
Minha suspeita aumenta.
O que você acha que isso signi ca?
E tem que signi car alguma coisa? Ele dá de ombros. Talvez não haja
nenhuma notícia.
Olho nos olhos dele. Ah, meu querido Caleb.
Lembra aquela vez que houve uma discussão na cidade sobre macarrão com
queijo e o Gus enviou um decreto dizendo que estava expressamente proibido
distribuir macarrão gravatinha?
Caleb mastiga, pensativo.
Lembra aquela vez que o Jesse cou sem cerejas no bar e tentou fazer uma
campanha de doações por telefone? Eu bufo. Becke descobriu e mudou o
número do contato para que as doações fossem direcionadas para a Sociedade
Americana de Prevenção da Crueldade contra os Animais quando a mensagem
chegou até ele. Acho que foram arrecadados mais de setecentos dólares. Pois é,
não acho que seja por falta de notícias ou de qualquer outra coisa em que a rede
tenha se especializado. Faço uma pausa para bocejar, com as costas da mão
contra a boca enquanto meu corpo inteiro arrepia e estremece. É estranho, só
isso.
Estou exausta. Minha lombar está me matando, meu corpo está irritado comigo
por car tanto tempo em pé, erguendo coisas e assando. Eu não lembro a última
vez que saí desta cozinha, agora que parei para pensar. Talvez ontem? Anteontem?
Nem sei que horas são: se é manhã, noite ou o meio da tarde.
Ok, meu bem. Caleb abandona as migalhas de cookie e coloca as duas
mãos nos meus ombros. Agora já chega.
Balanço no lugar, os cookies de aveia com pedaços de chocolate dançando na
frente dos meus olhos.
O que foi?
Esse intensivão de confeitaria que você está se forçando a fazer.
Ele endireita a postura, as mãos espalmadas. Seus polegares vão de um lado para
o outro em minhas clavículas e deslizam um pouco por baixo da gola da minha
camisa. É um toque reconfortante, que me aquece como um cobertor. Um
cobertor alto, minha mente anestesiada de tanto cozinhar suspira com alegria. Um
cobertor bom. A boca dele se contorce em um sorriso.
Espero não ter falado em voz alta.
Você fez comida su ciente para abastecer um pequeno exército. Acho que é
melhor dar a noite por encerrada.
Então é noite, pelo visto. Meus olhos turvos examinam a cozinha antes de
voltar a olhar para o homem alto e bonito que me mantém de pé. Eu ia fazer
um bolo de pêssego agora.
Os olhos de Caleb escurecem um pouco, suas pupilas se dilatando ao ouvir falar
do bolo de pêssego.
Porra murmura baixinho, com um ranger profundo das palavras entre os
dentes cerrados. Ele coloca as mãos nos meus ombros. Não acredito que estou
dizendo isso, mas esqueça o bolo de pêssego. Você precisa dormir um pouco.
Eu só quero que tudo esteja perfeito. Quero que o pessoal da Baltimore
Magazine olhe em volta e veja todas as coisas que tornam este lugar especial.
Quero ser impressionante. Memorável.
Alguém por quem valha a pena car.
Está tudo perfeito, Layla. Ele me puxa para mais perto até que minha testa
encoste em seu queixo. Fecho os olhos e agarro sua camisa sem pensar. Ele é tão
quente. Como um… como um brownie de chocolate. Eu me aconchego em seus
braços e me enrosco nos botões da camisa. Talvez ele esteja certo. Talvez eu
precise dormir um pouco. Mesmo sem todas essas coisas que você fez, este
lugar seria perfeito. Deixe que eu leve você pra casa.
Será que eu penduro alguns cupcakes primeiro? Eu me inclino para trás e
apoio o queixo em seu peito, com os braços em volta de sua cintura Pra
acompanhar as ores?
Agora eu sei que você está delirando. Ele se reclina até conseguir tocar
meu queixo com o polegar, a mão grande segurando meu rosto. Não, você não
precisa desperdiçar cupcakes pendurando alguns no teto.
Semicerro os olhos.
Tem certeza?
Ele sorri. Um sorriso discreto.
Tenho.
Está bom assim?
Está ótimo.
Tem certeza?
Sua risada ressoa baixinho contra meu peito, bem onde meu queixo está
pressionado no corpo dele. Caleb passa a mão pelo meu cabelo e pressiona a
palma nas minhas costas para me acalmar.
Sim, tenho certeza.
Apoio o peso do meu corpo no dele. Ele me envolve em um abraço, me
aconchegando. Acho que nunca me senti tão confortável na vida.
Ouço a porta da cozinha se abrir e botas pesadas na madeira.
Ai, merda. Foi mal. Não quis interromper. Becke parece comicamente
angustiado. Não me dou ao trabalho de olhar, mas parece que ele está falando de
costas para nós. Aposto que está cobrindo os olhos com as mãos. Que ironia,
vindo do homem que sei que adora uma escapadinha romântica com Evie sob as
estrelas no meio de nossos campos de árvores. Eu sorrio para a gola da camisa de
Caleb, com os olhos ainda fechados.
Será que estou dormindo? Estou acordada? Nem sei.
Você não interrompeu nada murmuro, com meus braços ainda presos à
cintura de Caleb. Quero que ele me leve até o carro exatamente assim. Quero que
ele me leve para casa enrolada nele feito um coala.
Isso é contra a lei, meu bem sussurra ele em meu cabelo, com um sorriso
na voz. Acho que falei em voz alta. Os cintos de segurança são importantes.
Eu posso ser o seu cinto de segurança murmuro.
Caleb ri de novo, e Becke emite um som áspero e rouco que se parece
vagamente com uma risada.
Ela está bêbada de açúcar?
Apelidei de intensivão de confeitaria.
Boa.
Estou ouvindo vocês dois. Só não sei dizer quem está falando. E porque a
voz deles soa como se estivesse vindo do m de um túnel muito longo. E alguém
está tocando merengue?
Mãos rmes trabalham nos cordões do meu avental. Deixo Caleb movimentar
meus braços enquanto me guia com cuidado para me livrar do tecido de lona.
Balanço no lugar, abro os olhos e observo enquanto ele passa o polegar sobre um
dos morangos, colocando o avental com cuidado na prateleira ao lado da porta.
Olho para Becke , ainda confusa. Parece mesmo que estou bêbada. Como se
estivesse no fundo do mar.
Você precisa de alguma coisa?
Becke balança a cabeça, observando Caleb pegar algumas tigelas na bancada e
colocá-las na lava-louças industrial: as menores meio inclinadas na prateleira de
cima, do jeito que eu gosto. Vejo um sorriso de cumplicidade nos olhos de Becke
e ele vira o boné até que a aba esteja para trás, com uma pequena árvore de Natal
bordada acima dos fechos.
Ei, cara. Ele inclina o queixo em direção a Caleb. O que você acha de
cachorros?
Caleb dá uma olhada por cima do ombro.
Em geral ou de um cachorro especí co?
Estreito os olhos.
Nem pensar.
Becke me ignora.
Eu conheço um cara que está procurando um lar pra um cachorro que foi
abandonado…
Onde você encontra essas pessoas?
Ele acha que ela deve ter sido um cachorro de polícia. Sabe todos os
comandos. Acha que foi abandonada porque é um pouco pequena e não é
agressiva. É muito meiga. Ela adora borda de pizza e se chama Poppy.
Caleb faz uma pausa e inclina a cabeça para o lado, pensando no assunto.
Eu toparia.
Eu olho para ele, um pouco chocada.
Toparia?
Ele dá de ombros.
Por que não?
Becke concorda e cruza os braços tatuados.
Vou avisar pra ele. Talvez vocês dois possam se conhecer.
Tento imaginar Caleb com um cãozinho de resgate que adora borda de pizza.
Uma risada um tanto histérica brota de mim. É disso mesmo que eu preciso, de
mais um motivo para me sentir atraída por ele.
Becke me olha com preocupação.
Tudo bem aí?
Você jura que veio até aqui pra tentar fazer com que outro animal seja
adotado?
Ele dá de ombros e pega uma das tortas que ainda não guardei na geladeira. Eu
bato em seus dedos com uma toalha.
Ai, Layla. Nossa. Ele leva a mão ao peito. Eu vim dar uma olhada.
Queria ter certeza de que você não ia passar a noite aqui nem ia se esconder na
prateleira da despensa de novo.
Reviro os olhos.
Isso foi só uma vez, porque eu queria car de olho na massa fermentada.
Caleb ca parado de costas para mim, curvado sobre a lava-louças. Ele vira a
cabeça até que eu possa ver seu rosto de per l.
Você dormiu na despensa?
Cruzo os braços, preparada para defender meu compromisso com meu trabalho.
Era a prateleira de baixo, perto do chão, e era muito confortável.
Você me deu um susto e tanto resmungou Becke . Pensei que fosse
um vampiro.
Becke entrou pela porta dos fundos naquela noite e eu saí rolando da
prateleira. Acho que camos os dois gritando por cerca de sete minutos. Sem dizer
nada, só gritos incoerentes.
Caleb termina de arrumar a louça e vem ao meu encontro. Ele se posiciona atrás
de mim e passa um braço sobre meu peito, me puxando até que minhas costas
estejam grudadas em seu corpo. Fecho os olhos e cantarolo enquanto ele dá um
beijo em minha nuca.
É muito bom. Quero fazer isso para sempre.
Como você quer guardar essa comida toda? pergunta ele. Não é uma
pergunta sedutora, mas parece que talvez pudesse ser. Acho que nenhum homem
nunca me perguntou que tipo de pote deveria usar para guardar rolinhos de canela
antes.
Dou algumas instruções e Becke nos ajuda. Juntos, limpamos a cozinha e
guardamos tudo. Estou preocupada com o estado da minha geladeira, mas só
preciso sobreviver até amanhã. Depois disso, Becke pode roubar todas as
tortinhas que quiser.
Becke desaparece com um resmungo e um aceno por cima do ombro assim
que guardamos a última bandeja, provavelmente a caminho de seduzir Evelyn em
um campo em algum lugar. Com sorte, desta vez eles irão para longe das câmeras.
Eu me derreto sob o toque de Caleb em minha nuca e suspiro.
Estou pronta pra ir, só quero dar uma olhada na frente de novo.
Quero ter certeza de que tudo está do jeito que deveria.
Está bem. Ele desliza a mão pelas minhas costas e me segura pela cintura.
Venha comigo.
Caleb me leva para fora pela porta dos fundos, com seus dedos entrelaçados aos
meus, andando pelo caminho de pedra que circunda a padaria até a frente. O
caminho é ladeado por ores silvestres: amarelas, rosas e roxas, reluzentes contra a
madeira desgastada do galpão que, antes da reforma, servia para guardar tratores.
Quando Stella comprou a fazenda, o galpão estava caindo aos pedaços.
Acho que Hank o usava como depósito. Limpamos o galpão por dentro,
colocamos algumas janelas na parte da frente, ligamos a água e a energia,
compramos uma quantidade absurda de tinta e a padaria nasceu.
A mão de Caleb aperta a minha enquanto ele olha para mim por cima do ombro,
a luz da lua deslizando pelas curvas de seu corpo. Ombros. Rosto. O sorriso
discreto. Que se alarga quanto mais ele olha para mim.
Feche os olhos.
Por quê?
Ele bufa e abaixa a cabeça, nos guiando com cuidado ao redor de um arbusto de
lilases rebelde, uma mão segurando a minha e a outra apoiada na minha cintura.
Ele me olha por entre os cílios, permanecendo perfeitamente imóvel enquanto eu
arrasto meus pés sonolentos pelas duas pedras entre nós. Esbarro nele, que me
abraça pela cintura. Apoio a testa em seu queixo e ele ri, um som rouco e baixinho.
Você con a em mim, Layla Dupree?
En o os dedos por baixo de sua camiseta macia até sentir a pele quente. Ele é
como uma fornalha, mais quente que o ar abafado da noite. Traço a ponta dos
meus dedos na base de sua coluna e ele solta um suspiro trêmulo que me agrada
muito.
Eu con o em você, Caleb Alvarez. Encosto o nariz em seu queixo e ele
passa os dedos pelo lenço no meu cabelo. E em algumas outras coisinhas
também.
Ah, é? Sua voz é gentil, divertida, rouca e baixa, soando de algum lugar
acima da minha cabeça. Quer dar uma nota pra isso?
Esfrego o nariz em seu pescoço. Tenho quase certeza de que ele está segurando
todo o peso do meu corpo. De novo.
Agora, não.
Talvez depois, então. Vamos lá, estamos perto. Vamos dar uma última olhada
e depois vamos direto pra casa.
Abrir meus olhos requer um esforço monumental.
Você pode segurar minha mão? Minha voz sai arrastada.
Posso, meu bem. Eu vou segurar a sua mão.
Ele me conduz pelos últimos três passos com meu corpo quase colado ao dele,
meus olhos obedientemente fechados e nossos dedos entrelaçados. Ele me faz
parar com um toque suave em meu ombro e me vira com cuidado sobre a pedra
maior na base da escada. Aquela que eu z Becke arrastar por metade da
propriedade com seu trator depois que a encontrei perto do lago.
Pode olhar sussurra Caleb, e eu abro os olhos.
O lugar inteiro está iluminado. A luz amarela quente se espalha pelas janelas e
dança ao longo das pedras em uma chuva cintilante de ouro.
As ores penduradas no alto parecem perfeitas daqui. Glicínias brancas como a
neve e peônias rosa-pálido. Uma grossa guirlanda verde se enrola ao redor das
vigas de madeira expostas no teto. Tudo isso utuando acima dos sofás
aconchegantes e mesinhas arrumadas, cada cadeira em um estilo e vasos com
padrões antigos. Margaridas e camomilas se espalham pelas bordas lascadas da
cerâmica colorida, um feixe para cada mesa.
Magia. Parece magia.
Meu pé escorrega em um cascalho e Caleb me segura pela cintura de novo, me
puxando mais para perto até que meu corpo esteja pressionado contra o seu. Eu
me agarro a ele enquanto meus olhos percorrem cada or, cada traço de tinta, cada
telha, cada detalhe.
Olhe pra tudo aqui. Caleb me abraça com mais força. Roça a boca na
minha bochecha. Isso é obra sua, Layla.
Com muita ajuda. Tento me esquivar do elogio, mas meus olhos estão
ardendo, uma pressão bem entre as sobrancelhas que me faz saber que estou
prestes a começar a chorar no degrau da frente da padaria.
Caleb ignora a minha fala.
Estou tão orgulhoso de você diz ele, a voz calma e sincera. Suas mãos me
seguram com mais força, e eu me abraço com a mesma intensidade. Algo em meu
peito se desloca, se realinha e se encaixa no lugar.
Uma única lágrima escorre dos meus olhos e desliza pela bochecha.
Quando foi a última vez que ouvi isso de alguém? Quando foi a última vez que
acreditei nisso? Afasto a lágrima com os nós dos dedos e encosto a testa em seu
ombro.
Eu também estou orgulhosa de mim.
19
CALEB
OLHO PA CALEB, sem camisa e ajoelhado entre minhas pernas, esperando que eu
responda. Ele é tão gostoso que é quase indecente. A pele marrom, o peito largo. A
calça jeans desabotoada. As entradinhas na cintura que desaparecem logo abaixo
da calça. Olhos escuros e boca inchada.
Tive um sonho assim há quatro dias. No meu sonho, Caleb surgia atrás de mim
enquanto eu misturava uma massa de biscoito e en ava a mão na gola do meu
vestido. Tocava em meu seio, a boca no meu pescoço, os dedos beliscando e
puxando. Ele estava só de avental, tenho certeza. Lembro que tinha calda de
chocolate envolvida.
Isso é melhor. Ele lambe o lábio inferior, os olhos indo da minha testa até o
umbigo e minha calcinha retorcida logo abaixo. Eles grudam ali, brilhando como
brasas na fogueira.
Isso é muito melhor.
Eu me contorço contra ele.
O quê?
Você ouviu. Seu tom rme faz meu coração acelerar. Ele desce as mãos até
minhas coxas, os dedos bem abertos, como se estivesse tentando cobrir o máximo
de pele possível. Nem sei se percebe que está fazendo isso, seus olhos estão
grudados nos meus. Você pode me mostrar como se toca?
Deslizo as pernas nuas contra os cobertores. Uma coisa é sussurrar coisas no
calor do momento, outra é mostrar para ele, no sol da tarde que atravessa minhas
cortinas, como gosto de me tocar. Seus olhos se suavizam conforme ele olha para
mim, e o calor e a necessidade são substituídos por um afeto gentil.
Um sorriso surge no canto de sua boca quando ele se abaixa e toca meu nariz
com o dele.
Você está segura comigo, lembra? Podemos fazer tudo o que você quiser. Ou
podemos parar agora mesmo.
Assinto, mal roçando sua boca com a minha. Levo os dedos até minha barriga
para testá-lo e seu olhar se xa ali, observando. Limpo a garganta e ele volta a olhar
nos meus olhos com uma relutância signi cativa. Percebo como gosto disso.
Gosto do jeito que Caleb me olha, como se eu fosse tudo o que ele poderia querer.
Como se car sentado na beirada da minha cama aprendendo como gosto de ser
tocada fosse o su ciente para ele.
É o su ciente para eu mandar o pouco de hesitação que me restava para longe.
Movo a mão mais para baixo.
Não temos que fazer nada que você não queira, nunca diz ele. É assim
com Caleb, um ir e vir entre se controlar e se entregar. Exigir e desejar. O melhor
tipo de dança.
Eu sei.
Podemos voltar pra cozinha e comer um pedaço daquela torta.
Mordo a bochecha para disfarçar o sorriso.
Vamos car aqui.
Eu quero isso. Quero explorar todas as formas como ele faz eu me sentir
diferente, me sentir melhor, do que qualquer outra pessoa já fez antes. Quero ver o
maxilar dele se contrair conforme movo minhas mãos por meu corpo. Quero ver
seus olhos brilharem em um tom mais escuro e os músculos de seus braços
saltarem. Quero desvendá-lo pouco a pouco. Testar esse seu controle meticuloso.
Quero que ele que tão entregue quanto eu me sinto, um arrepio em minha pele
e um friozinho na barriga. Como se estivéssemos à beira do precipício.
Tudo bem sussurra. Ele traça o polegar pela minha coxa e, em seguida, tira
as mãos de mim. Ele se ajoelha na cama e aperta a nuca. Um homem lutando para
se controlar.
Ah, eu gosto muito disso.
Puxo a barra da camiseta e a ergo de novo. Não sei se devo tirar ou car com ela.
Apesar de todo o meu entusiasmo, na verdade, não faço ideia de por onde
começar.
Quer que eu…
Caleb não desvia o olhar dos cinco centímetros de pele entre meu umbigo e
minha calcinha, mas pisca algumas vezes e me olha quando percebe a hesitação
em minha voz. Um sorriso aparece nas linhas de seus olhos e ele tira a mão da
nuca.
Feche os olhos ordena. Ergo uma sobrancelha e ele me dá um meio-
sorriso, a covinha surgindo na bochecha. Ele arrasta dois dedos do meu joelho até
a coxa. E depois para baixo. Feche os olhos, Layla.
Bufo, a maldita rmeza em sua voz fazendo tudo dentro de mim vibrar.
Você é mais mandão do que parece.
Sua risada é sombria e perversa, uma lufada de ar quente contra meu pescoço
enquanto ele se inclina sobre mim.
Você não faz ideia.
Ele não me dá tempo para pensar nesse pequeno e interessante comentário.
Caleb se inclina e pega minha boca na dele. Ele me lambe como se eu fosse aquela
torta de mirtilo que deixei na mesa de centro na sala. Intenso. Devorando.
Consumindo. Fecho os olhos e o beijo com a mesma avidez.
É mais fácil seguir suas instruções assim. Desligar a parte do meu cérebro que
ainda está cheia de ansiedade por causa da manhã de hoje. A parte que está
analisando as consequências do que estou fazendo com Caleb, examinando cada
ângulo repetidas vezes. Ele me beija e não me importo com nada além de sua boca
na minha, sua mão na minha nuca e a pele quente de seu peito me pressionando
contra a cama.
Eu achei… Caleb leva a boca para o meu pescoço, e eu arqueio sob seu
toque, meus dedos encontrando o cinto em sua calça. Puxo a vela para trazê-lo
mais para perto. Achei que era pra eu me tocar.
Pode começar quando quiser. Caleb ri, suave e caloroso. Parece a primeira
onda de calor que emana do forno, quando estou impaciente demais e o abro para
espiar lá dentro.
Você também pode digo em um suspiro. Me tocar, quero dizer.
Ele toca abaixo da minha orelha com o nariz, sua expiração longa e lenta. Parece
que ele está se segurando. Como se mal estivesse aguentando.
Tá bem, mas você começa, tá?
Estendo a mão entre nós e toco meu seio, roçando o mamilo por cima do tecido
macio da camiseta.
O toque quase inocente ca carregado de eletricidade com os olhos de Caleb
em mim, uma pulsação lenta de calor que se instala entre minhas pernas com uma
dor oca.
Repito o gesto, me demorando um pouco mais, dando um beliscão suave, e
Caleb grunhe como se eu tivesse dado um soco em seu peito.
Mais exige.
Ganancioso. Eu sorrio, ainda de olhos fechados. Vou no meu ritmo,
obrigada.
Ele bufa.
Parece que agora sou eu quem está sendo provocado. Suas palavras saem
cortadas, curtas.
Aham. Tiro a mão esquerda da vela no quadril dele e a en o por baixo da
minha camiseta, segurando meu seio nu. Arrasto o polegar para a frente e para
trás, quase esquecendo que estou sendo assistida. É assim que eu me toco quando
estou sozinha à noite. Quando o desejo, a espera e a solidão se tornam excessivos,
njo que minha mão pertence a outra pessoa. Respiro ofegante e Caleb se vira
sobre mim, os lençóis farfalhando com seu movimento. Sinto a palma de sua mão
ao meu lado, a ponta de seus dedos roçando minhas costelas enquanto ele ergue
minha camiseta.
Posso ver? Faço que sim com a cabeça e ele arrasta minha camiseta para
cima. Posso ver como você gosta de se tocar, Layla?
Pode.
Fico deitada embaixo de Caleb com os olhos fechados, ouvindo o ritmo de sua
respiração enquanto me toco. Acaricio meus seios do jeito que eu gosto, com
toques provocantes e círculos tênues. Belisco meu mamilo e arqueio as costas,
abrindo as pernas e pressionando Caleb, equilibrado acima de mim. Ele segura
minha perna e a mantém ali, seu polegar traçando uma linha na parte de trás do
meu joelho, e a sensação é como se ele estivesse tocando meu clitóris. Abro os
olhos e… Ah, é muito mais gostoso quando o vejo me assistir.
Ele parece absolutamente acabado. A calça puxada para baixo, mais do que
estava antes, como se mãos impacientes a tivessem afastado. Seu corpo é todo de
linhas magras, músculos lisos e pele escura e quente. O zíper está aberto e posso
ver parte da cueca boxer preta, o cós branco e nítido ao redor do quadril. Uma
linha de pelos escuros logo abaixo do umbigo. Meu olhar desce até onde ele está
duro e tenso, e sinto o desejo como uma sgada.
Toque no meio das suas pernas pede ele com a voz baixa. Quero ver ali
também.
En o a mão por dentro da calcinha e consigo me acariciar uma vez, duas vezes,
antes de puxar Caleb com a outra mão. Eu o seguro pela calça jeans e puxo.
Sua boca ofego. Seus olhos se voltam para os meus e se xam. Quero
sua boca em mim. Por favor.
Ah, Layla… Ele praticamente se joga em cima de mim e passa os dentes
na minha tatuagem, a boca indo de um lado ao outro do meu quadril, afastando
minhas pernas com os ombros. Meu corpo todo está pegando fogo, como se
estivesse derretendo. Você não precisa dizer por favor. Mas, porra, amo quando
você diz.
O primeiro toque de sua boca faz minhas pernas se debaterem contra os lençóis,
os calcanhares cravados no colchão, enquanto procuro me rmar. A boca dele é
deliciosa. Nunca senti nada parecido antes. Ele me agarra pela cintura e me prende
contra a cama enquanto me lambe por cima da calcinha, devagar, passando a
língua por tudo, e é divino.
Ele encosta a testa em meu umbigo e suspira, trêmulo.
Layla diz apenas. Aperta meu quadril, os dedos se enroscando no cetim.
Posso tirar?
Pode. Pode, eu quero.
É uma confusão de membros e movimentos quando Caleb puxa minha calcinha
pelas pernas e a torce nos dedos. Observo enquanto ele a en a no bolso de trás da
calça como se eu não fosse me dar conta de que cou com uma das minhas
calcinhas mais caras. Mas eu não ligo. Não ligo, não ligo, não ligo, porque ele me
segura pelos tornozelos e abre minhas pernas, seu corpo grande afundando entre
elas. Observo como sua cabeça se inclina sobre mim, o rubor na ponta das orelhas.
Como suas mãos apertam e soltam minha pele.
Ele solta um gemido baixo de prazer quando encosta a boca de novo, e cada
partícula do meu corpo se acende. Prazer quente, úmido e suave como seda.
Seguro o cabelo dele com força e me contraio contra sua boca ávida, rebolando de
forma discreta e tornando tudo ainda mais incrível.
Solto um gemido abafado.
Ah, meu Deus, Caleb.
Nunca senti nada parecido com isso. Nunca. Beijos úmidos que chupam, cada
movimento da língua deliberado e áspero, do jeito que eu gosto. Do jeitinho que
mostrei.
Isso murmura ele na parte interna da minha coxa, a mão segurando minha
bunda, o polegar alcançando a virilha, perto da minha tatuagem. Ele a traça com o
polegar enquanto morde minha perna. Me mostre como você gosta. É tudo pra
você.
E eu quero tudo. Caleb me dá e eu aceito, aceito e aceito até que meu corpo todo
começa a tremer em sua boca, minhas coxas pressionando suas orelhas. Rebolo,
perseguindo aquela sensação de delírio até me sentir envolvida por ela: vibrando,
alcançando, chegando cada vez mais perto daquele limite que tão raramente
consigo encontrar.
Então Caleb se afasta. Com o peito arfando, ele encosta a testa no meu quadril e
estende a mão entre suas pernas, en ando-a na calça jeans aberta, e observo
enquanto ele se acaricia uma vez e geme.
O-o quê? Minha voz soa sete oitavas mais alta que o normal, ofegante e
na. Caleb, o que você está…
Espere. Ele tira a mão de dentro da calça jeans e passa o polegar nas
minhas costelas, subindo mais e esfregando-a no meu peito. Você vai chegar lá,
meu bem. Eu prometo.
Ele se arrasta pelo meu corpo, depositando beijos como segredos ao longo do
caminho. Na parte que sinto cócegas, do lado esquerdo do quadril. Na mancha de
sardas aglomeradas entre meus seios. Na curva do meu ombro. No meu queixo.
Cada um deles é como o toque em um o exposto, uma lambida de calor elétrico
da ponta dos meus dedos até o cotovelo. Meu prazer se intensi ca.
Caleb.
Às vezes é melhor assim. Sua boca está quente em meu pescoço.
Quando você quase chega lá, mas espera um pouco.
Eu não quero esperar choramingo. Estou tentando puxar o homem mais
teimoso do mundo para cima de mim. Já esperei o su ciente.
Ele ri em algum lugar na minha clavícula.
Tá bom. Ele encosta os lábios no canto da minha boca, e eu gemo quando
sinto meu gosto nele. Ele também faz um som. Algo baixo, profundo e quente.
Vou me lembrar desse som toda vez que ele pedir um croissant do outro lado do
balcão, pelo resto da minha vida. Você tem razão. Estou sendo grosseiro.
Ele desliza a mão entre minhas coxas e eu arqueio as costas de novo, o calor
correndo pelo meu peito e me puxando para baixo. Seu polegar acaricia meu
clitóris enquanto sua boca paira sobre a minha, um dedo e depois dois deslizando
para dentro.
Não acredito… Ele morde meu lábio inferior e o chupa em sua boca. Eu
agarro freneticamente seus ombros. Não acredito que estou aqui com você
ele respira, com um toque de admiração na voz. Não acredito que estou
tocando você assim.
Não acredito que fazíamos qualquer outra coisa que não fosse isso. É tudo tão
bom entre nós, melhor do que eu jamais poderia ter imaginado. Melhor do que
imaginei todas as noites nas últimas semanas, sozinha na escuridão do meu
quarto: sua risada, seu sorriso e aquela maldita camisa havaiana surgindo em
minha mente.
Desta vez, parece que vou chegar lá mais rápido. Meu corpo todo estremece a
cada vez que ele en a os dedos em mim. Respiro seu nome, nossos corpos
balançando juntos.
Então ele para. De novo.
Cravo as unhas no ombro dele e resmungo. Meus olhos se fecham quando a
pulsação entre minhas pernas se intensi ca. Caleb tenta se afastar, mas eu me
agarro a ele com mais força, tentando rebolar em sua mão.
Caleb. Minha voz é um sussurro entrecortado. Não quero mais ser
provocada.
Não foi por sua causa diz ele baixinho, com um sorriso tímido na voz.
Consigo imaginar a expressão em seu rosto, um pouco confusa e um pouco
tímida. Os lábios retorcidos e um tom rosado em suas bochechas. Foi por mim.
Eu… eu preciso de um segundo.
Empurro meus quadris para cima.
Que seja um segundo rápido, então.
Ele solta risada e passa o polegar uma única vez no meu clitóris.
Os gemidos cam presos em nossas gargantas.
Tem certeza de que não quer mais ser provocada?
Balanço a cabeça.
O que você quer, então? Ele passa o polegar de novo e eu abro as pernas.
Ele emite um som de satisfação bem na minha orelha e depois a prende entre os
dentes. Sua mão se move mais devagar, com mais força, e de novo sinto que estou
prestes a gozar.
Eu quero gozar sussurro para a pele quente de seu pescoço. Roço os
dentes ali e me agarro a ele.
Ele suspira, satisfeito, e en a os dedos com mais força. Ele me leva de volta ao
ponto em que eu estava antes de parar e além. A algum lugar com o sol, as nuvens
e todas as estrelas. Um milhão de desejos dançando como cometas no céu.
Você está indo bem, Layla. Ele belisca meu mamilo do jeito que mostrei, e
eu me sinto desmoronar. Respiro fundo, como se não conseguisse puxar ar
su ciente para meus pulmões. Você está se saindo muito, muito bem. Isso, seja
uma boa menina pra mim, meu bem.
Duas palavras boa menina e meu orgasmo vem em um rompante. Eu me
deixo ir em sua onda, as unhas cravadas na parte inferior das costas de Caleb, meu
corpo inteiro encharcado de luz quente e dourada. Posso sentir cada lugar em que
Caleb está me tocando enquanto gozo, quase sem conseguir respirar.
Sua boca logo acima da minha. Seu quadril encostado na minha coxa e seus
dedos no meio das minhas pernas, se movendo devagar, extraindo até o último
instante de prazer de mim. Eu me movimento com ele enquanto o calor e a
pulsação suave ecoam e se espalham.
Caleb suspiro. Eu o seguro pelo rosto e guio sua boca até a minha. Ele me
beija com uma risada calorosa, o sorriso contra a minha boca.
Oi.
Murmuro, saciada e um pouco fraca.
Isso foi bom.
Ele afasta minha coxa com o quadril enquanto se acomoda ao meu lado. En a
um dos braços embaixo do travesseiro, tão lindo que mal consigo suportar.
Bochechas rosadas. Cabelo bagunçado. Uma marca dos meus dentes em seu
ombro que não me lembro de ter deixado.
Eu espero que tenha sido mais que bom.
Foi muito bom corrijo. Tão gostoso quanto cobertura de cream
cheese, quanto o brownie quentinho do meio do tabuleiro.
Ele encosta o nariz no meu ombro e desliza a mão até minha barriga.
Bom que nem croissant de manteiga?
Croissants de manteiga. A coisa não tão especial que faço todos os dias e que
Caleb pede três vezes por semana, sempre. A coisa que ele sempre quis. Uma
balança pesa mais para um lado em meu peito e algo me aperta. Pisco duas vezes
para afastar o que quer que esteja fazendo meus olhos arderem.
Bom que nem croissant de manteiga concordo, minha voz um pouco
rouca. Ele se move contra mim de novo, se ajeitando entre os travesseiros e
cobertores. Seus quadris se contraem para a frente e eu o sinto, ainda pesado e
duro, contra a minha perna. Deslizo a mão pela lateral de seu corpo e brinco com
o elástico de sua cueca. Ele solta um suspiro curto.
Caleb?
Seus olhos estão fechados, um pequeno sulco entre as sobrancelhas.
Hum?
O que você quer que eu faça?
Ele abre os olhos, brilhantes e reluzindo como ouro. Pupilas dilatadas de desejo.
Com o quê?
Eu me viro de lado e traço um único dedo pela linha volumosa de sua ereção por
cima da cueca, minha boca em seu pescoço.
Com isso.
Ele geme, os quadris empurrando contra meu toque. Ele coloca a mão sobre a
minha e aperta, me guiando. Com força, mas lentamente, minha palma roça os
pelos abaixo de seu umbigo a cada movimento para cima.
Que tal dessa vez sussurro contra sua pele. Seguro o cós de sua calça,
empurrando-a para baixo. Que tal você me mostrar do que gosta?
É exatamente nisso que tenho pensado desde que ele me levou para o sofá e
segurou minhas mãos acima da cabeça. Desde que ele me fez gozar sem precisar
tirar minhas roupas. Eu o empurro pelo ombro e rolamos juntos, meus joelhos um
de cada lado de seus quadris. Ele me olha deitado sobre os lençóis emaranhados.
Layla… Ele engole o som do meu nome. Suas mãos apertam meus
quadris enquanto eu luto contra o que falta do zíper de sua calça. Não
precisamos fazer mais nada. Eu posso… Provavelmente vou gozar em três
segundos, se você continuar fazendo isso. Acho que ele está se referindo aos
nós dos meus dedos roçando ao longo de sua ereção em movimentos irregulares e
hesitantes, enquanto puxo seu jeans para baixo. En o minha mão em sua cueca e
envolvo meus dedos em torno de seu volume: quente, duro e deliciosamente
grande. Caleb geme e recosta a cabeça no travesseiro, com os olhos fechados.
Não quero que você goze em três segundos sussurro. Eu o acaricio,
frustrada pela maldita calça jeans que restringe meus movimentos. Eu quero
mais com você. Você não disse que gosta de ouvir o que eu quero?
Seus olhos se abrem em fendas estreitas.
Disse.
Então con e em mim. En m consigo abaixar as calças dele até as coxas, e
Caleb faz o restante do trabalho. Tenho certeza de que as calças foram parar na
luminária perto do meu armário. Não me importo. É isso que eu quero.
Maxilar cerrado, mãos cerradas, todos os músculos de seu corpo tensos…
Caleb me encara com olhos escuros.
É por causa do acordo?
Rebolo em cima dele e nós dois gememos.
O quê?
Se eu for transar com você, Layla as palavras saem roucas e apertadas de
sua garganta , não vai ser pra aprender nada ou por causa de um acordo. Vai ser
porque eu quero você e você também me quer.
Eu expiro, passando os dedos por baixo do elástico de sua cueca. A resposta é
muito fácil.
Bom, eu quero você. Você me quer?
Ele me vira na cama antes mesmo que eu perceba sua intenção, seu corpo
pesado sobre o meu e a mão segurando meu rosto com gentileza. Ele passeia com
o polegar do canto do meu olho até meu maxilar. Dá um beijo suave em meus
lábios e se inclina para trás. Nós dois estamos à beira do precipício, querendo
mais.
Meu meio-sorriso favorito aparece no canto de sua boca.
Não faça perguntas para as quais você já sabe a resposta.
ACHO QUE NUNCA transei assim antes.
Um sexo sincero e livre, e de uma beleza tão fascinante.
Caleb se levanta da cama e tira a cueca, revelando uma timidez deliciosa quando
a cueca cai nos tornozelos. Eu catalogo todas as linhas e músculos de seu corpo
com interesse, com a palma da mão apoiada na minha barriga. Pele marrom.
Músculos de nidos. As entradinhas na cintura e uma cicatriz bem onde suas
costelas se curvam. Ele abaixa a cabeça enquanto eu o encaro, com a mão na nuca.
Venha aqui murmuro.
Ele sobe na cama, um joelho de cada vez, seu corpo grande encobrindo o meu
até que tudo o que eu vejo é marrom e castanho, e o preto como a meia-noite. Ele
passa os dedos em meu lábio inferior enquanto beija minha pele e eu abro as
pernas para recebê-lo, o tornozelo na parte de trás de seu joelho. Tudo alinhado
com perfeição, exatamente onde deveria estar, nós dois gemendo de prazer e
expectativa. Um suspiro que se torna um gemido, bocas abertas sobre a pele
repleta de suor.
Camisinha? pergunta.
Estico o braço para a mesa de cabeceira e pego o pacote de camisinhas que
coloquei ali no dia seguinte àquele em que Caleb me fez gozar no sofá, na
esperança de que algo assim pudesse acontecer. Dirigi por quatro cidades até uma
farmácia vinte e quatro horas na calada da noite, desesperada para não me tornar o
assunto da próxima mensagem da rede de comunicação. Não sei o que faria se o
xerife Jones recebesse uma mensagem de voz informando que andei comprando
camisinhas.
Caleb rasga a embalagem com os dentes e desliza a mão entre minhas coxas,
mexendo com o polegar. Ele geme quando sente como ainda estou molhada, e
tudo o que já zemos juntos não é su ciente para aliviar o desejo.
Você é tão gostosa, Layla. Ele sobe a língua quente pelo meu pescoço até
meu rosto e morde uma vez. Vai me fazer perder a porra da cabeça.
Até que en m murmuro. Talvez assim eu não me sinta a única.
Até que en m concorda ele, com a voz rme e séria. Observo enquanto
ele coloca a camisinha e se acomoda entre minhas coxas. Ele me ajuda a tirar a
camiseta e então somos só nós dois. Pele nua sob a luz difusa de uma tarde de
verão.
Diz que você me quer sussurra.
É a coisa mais fácil que eu já disse a alguém. A verdade em cada sílaba.
Eu quero muito você.
Ele me penetra com um gemido de prazer em meu pescoço, o calor percorrendo
meu corpo e me fazendo agarrar o cobertor de cada lado da minha cabeça. Ele
desliza as mãos pelo meu corpo e segura meus pulsos, depois entrelaça nossos
dedos e aperta. Eu me prendo a ele com as pernas, as costas arqueadas nos
travesseiros, recebendo-o contra mim, dentro de mim, enquanto ele se movimenta
devagar, com cuidado. A sensação é incrível enquanto ele procura a posição certa.
O ritmo certo. O ângulo certo que faz meu corpo se contrair e se curvar contra o
dele.
Porra murmura em meu ouvido, sua voz ávida e baixa. Seus quadris se
chocam contra os meus com um pouco mais de força, e eu perco o fôlego.
Porra, isso é tão…
Tão bom termino. Aperto sua cintura com minhas pernas e Caleb se
move mais rápido, de joelhos na cama, uma mão apoiada na cabeceira. Assim,
consigo observar como ele se move entre minhas pernas abertas. Os músculos se
contraindo e relaxando. As linhas e os sulcos de seu abdômen se esticando e se
retraindo enquanto ele se afunda em mim sem parar. Em um espasmo, bato o pé
no abajur na mesa de cabeceira, que vai parar em algum lugar. Ergo o corpo e
cravo os dentes em seu peito.
Você vai… Ele fecha os olhos com força, se concentrando, o rosto corado.
Observo os cílios dele enquanto persegue o prazer. Você vai me fazer gozar.
Ele consegue dizer.
Tudo bem. Passo as mãos pelo cabelo dele e dou pequenas mordidas no
caminho que vai do pescoço até o lóbulo da orelha. Chupo sua orelha e ele geme,
desamparado. Tudo bem. Eu quero ver você gozar, Caleb. Já imaginei tantas
vezes como você deve car quando goza.
Ele abre os olhos, turvos e ardentes. Eles se xam nos meus e ele penetra com
mais força. A cama inteira balança. Jogo a cabeça para trás quando ele atinge um
ponto que faz faíscas dançarem atrás de minhas pálpebras.
Imaginou? diz ele, arfando.
Assinto.
Isso, imaginei. Inclino a cabeça contra o travesseiro, que agora está na
metade do colchão, e observo Caleb se movendo em cima de mim. Seu corpo é
lindo, o rosto se contorcendo na mais bela imagem de um prazer quase
angustiante. Deslizo as mãos pelo peito dele e o seguro pela cintura. Afundo as
unhas ali e ele emite um som feroz.
Você vai me mostrar? repito suas palavras de antes. Posso ver?
Ele ofega enquanto goza, todo o corpo se inclinando para a frente até que a testa
esteja apoiada na minha clavícula. Seus quadris saltam em movimentos
descoordenados e desordenados. Quase me faz gozar de novo, com o jeito bruto
que ele me empurra na cama e roça em mim, mas não consigo. Não quando ele
diminui o ritmo bem quando meu prazer estava começando a se intensi car. A
tensão em minha barriga se suaviza, meu corpo quase no limite.
O corpo enorme de Caleb desaba no meu e ele solta o ar, o nariz na minha
bochecha.
Eu o abraço pelos ombros. Ele beija a curva do meu pescoço, que ainda está
latejando.
Eu me mexo embaixo dele. Isso é o su ciente. Abraço mais forte. Isso é mais que
su ciente.
Você gozou? pergunta ele baixinho em algum lugar no meu pescoço. Sua
voz soa rouca e áspera, e eu gosto muito, muito disso.
Balanço a cabeça e faço carinho nas costas dele. Sua pele está quente, o coração
ainda batendo forte contra meu peito.
Não, mas tudo bem. Eu ainda…
Não termino minha frase antes que Caleb se levante e se afaste de mim. Franzo a
testa com a perda do peso e do calor dele, o braço cobrindo meus seios nus. Ele
cou… Caleb cou bravo por eu não ter gozado? Um rubor de constrangimento
sobe pelas minhas bochechas e eu viro o rosto para o lado, para o travesseiro.
Ei, não sussurra ele. Não, não. Não faça assim.
Ele vira meu rosto para o dele com a palma da mão e dá um beijo lento e
demorado na minha boca. Seu nariz esbarra no meu e percebo que ele está
sorrindo. Caleb dá outro beijo na minha bochecha, no meu lábio inferior. Dá uma
mordida e então se apoia nos braços, seu corpo se movendo para baixo, para baixo,
para baixo.
Franzo a testa e tento fechar as pernas.
O que você está fazendo?
Ele as mantém abertas, com um beijo pressionado em meu joelho esquerdo e
depois no direito. Ele olha para mim por baixo dos cílios, emoldurado por minhas
coxas abertas e banhadas por uma luz dourada quente. Consigo ver o brilho do
suor em sua pele, o cabelo úmido enrolado atrás das orelhas. A força de seus
braços e os músculos marcados em seu abdômen. Seus olhos escuros estão xos
nos meus.
Não é assim que as coisas funcionam.
Engulo em seco, minha voz em um sussurro.
Que funciona o quê?
Você não vai car passando vontade. Então… Ele mordisca uma vez a
parte interna do meu joelho, arrasta a boca pela minha coxa. Ele sorri para mim,
com os olhos escuros brilhando. Me mostre do que você gosta, Layla.
Então coloca a boca de volta em mim, e eu desabo nos travesseiros.
23
CALEB
POR ALGUMA ZÃO, Charlie e Alex estão esperando na minha sala de aula quando
termino de cuidar dos ônibus. Olho por cima do ombro para o corredor vazio e
depois para os dois sentados nas carteiras na primeira la. Alex entrelaça os dedos
lentamente e olha para mim por cima dos óculos. Charlie não se dá ao trabalho de
olhar na minha direção, ocupado com o que deve ser metade da coleção de potes
da minha avó.
Ela ainda tem feito comida pra você? Fecho a porta e vou até minha mesa.
Não faço ideia do que eles querem, mas é melhor carmos à vontade. Alex não
costuma ser rápido quando tem algo a dizer. Dou uma espiada no que Charlie está
comendo. Minha avó fez tres leches para ele… de novo.
Tento pegar um pouco de creme do topo, mas Charlie bate na minha mão.
Ela fez pra mim.
Franzo a testa e me jogo na minha cadeira.
Você sabe que está na minha sala de aula, né?
E por isso tenho que dividir minha sobremesa com você? Charlie balança
a cabeça com uma risada ameaçadora. Acho que não.
Alex nos ignora.
Nós não estaríamos aqui anuncia ele de sua carteira ao lado de Charlie
se você não estivesse fazendo de tudo para me evitar nos últimos três dias.
Eu não o tenho evitado, só andei ocupado. Os cursos de férias estão acabando,
Jeremy está quase terminando seu projeto de bilhete de amor e Layla…
Layla é incrível. Passo todos os momentos livres que tenho sentado na cozinha
da padaria, comendo croissants de manteiga e observando enquanto ela trabalha.
Ou encostado no balcão da frente, o queixo apoiado nas mãos e o coração na
garganta.
Ou na minha casa, com as pernas dela me envolvendo, suas costas apoiadas na
parede, meus porta-retratos bem organizados caindo de lado quando nos
empolgamos. Sobre sua cama com a mão em seu pescoço, fazendo Layla gozar
enquanto grita meu nome do jeito mais doce que já ouvi em toda a minha vida.
Acordando com o nascer do sol e deslizando a mão pela curva de sua cintura até o
meio das pernas, ouvindo meu nome sair de sua boca em um sussurro enquanto a
luz do início da manhã entra através das cortinas.
Adormecendo com ela em meus braços, um de seus pés frios pressionado entre
minhas panturrilhas, o nariz no meu peito.
Sinto como se tivéssemos deixado de lado todos os termos do nosso acordo… E
a sensação é boa.
É muito boa.
Eu ando bem ocupado murmuro. Viro Fernando de costas no canto da
mesa. Não preciso do julgamento dele neste momento.
Charlie aponta um garfo para mim.
Você só quer saber da Layla Dupree e está ignorando o mundo real, meu
amigo.
Bufo. Não preciso ouvir isso dele, entre todas as pessoas.
Você não tem feito a mesma coisa com a Nova Porter? retruco. Ele acha
que está sendo discreto, mas sei que é por isso que tem vindo de Nova York a cada
dois ns de semana. Quase sempre vejo o carro dele estacionado do lado de fora
do espaço em que a irmã caçula de Becke está de olho para abrir seu novo
estúdio de tatuagens.
Nova Porter não quer saber de mim, mas tudo bem. Charlie dobra
alegremente uma tortilha em um quadrado harmonioso e a en a inteira na boca.
Você tem que pensar a longo prazo, cara protesta com a boca cheia de
comida. E não mude de assunto.
Estou preocupado com você declara Alex, com o rosto sério e os dedos
ainda entrelaçados sobre a mesa. Ele está parecendo meu pai todas as vezes que
tinha uma conversa séria conosco quando éramos crianças. Até os óculos na ponta
do nariz e a boca torta. Essa coisa com a Layla…
Esfrego a mão na testa.
De novo isso.
É, de novo. Alex se reclina na cadeira, os joelhos batendo na parte de
baixo da mesa. Você precisa ouvir. Quando o seu acordo com a Layla acaba?
Eu estava tentando não pensar nisso.
Vai fazer um mês no domingo respondo, relutante.
E o que vocês vão fazer no domingo?
Eu me ocupo com um pacote de post-its na ponta da mesa, virando-o para um
lado e depois para o outro.
Vamos fazer um piquenique murmuro.
Parece divertido comenta Charlie.
Parece que você está torcendo para que a Layla esqueça que esse acordo está
terminando pra vocês dois continuarem o que quer que estejam fazendo, sem
discutir o assunto, como adultos fariam vocifera Alex. A mesa se move dois
centímetros para a frente.
Charlie coloca mais um pedaço de comida na boca.
Também parece divertido. Vocês vão naquele pequeno campo de ores na
fazenda?
Na verdade, vamos para o lago.
Boa.
Caleb chama Alex com a voz suave, tirando os óculos, dois dedos na
ponte do nariz. O que você está fazendo?
Sei o que parece. Sei que meu histórico não é dos melhores com esse tipo de
coisa. Mas Layla é diferente. O que tenho com ela, o que eu sinto por ela, é
diferente. Não estou projetando nada. Acho que o acordo me faz ser mais
verdadeiro e sincero do que o habitual em relação ao que sinto. Layla e eu nunca
tentamos ser nada além de nós mesmos.
Eu não sei. Se as coisas estão dando certo entre a gente, por que acabar?
É isso que tenho pensado em segredo. O que tenho guardado no fundo do peito
nos últimos dias. Por que as coisas têm que mudar? Por que não podemos
continuar saindo para tomar sorvete? Por que não posso me sentar no fundo da
padaria e vê-la cantar totalmente errado baladas dos anos oitenta?
Alex me olha como se eu fosse um idiota. O olhar de Charlie é parecido, com
um pouco de pena. Até Fernando parece me julgar com seus pequenos olhos de
cerâmica.
Não faço ideia de como essa droga dessa tartaruga está virada de novo.
Você precisa colocar um m nesse acordo declara Alex.
Charlie concorda.
É, cara. Não dá para construir algo sobre uma base instável assim.
Mas nossa base não parece instável. Penso na mão dela na minha, a boca abaixo
da minha orelha. No sorriso que ela abre quando entro pela porta da frente da
padaria. Compartilhei mais de mim com Layla do que jamais dividi com outra
pessoa. Pensamentos, segredos e sonhos.
Sinto que nossas peças se encaixam com perfeição.
Não sei murmuro de novo, achando o cadarço dos sapatos mil vezes mais
interessante que os olhares que estou recebendo da primeira la de carteiras da
minha sala de aula.
Você já falou disso com ela? Alex coloca os óculos de volta. Do que vai
acontecer quando o mês acabar?
Mais ou menos, acho. Algumas piadas bobas sobre não ter mais que aturar um
ao outro. Mas já faz algum tempo que não falamos dos detalhes especí cos. A
resposta deve estar estampada no meu rosto, porque Alex suspira de novo,
decepcionado.
Tento me defender.
Eu ia falar.
Ah, é? Quando?
Domingo, talvez. Se ela mencionasse antes.
Charlie olha de soslaio para Alex, um tanto irritado. Está usando um terno de
três peças, o colete por cima da camisa social que parece mais cara do que tudo
que tenho no meu guarda-roupa. Os punhos da camisa estão dobrados, e o paletó
está pendurado no encosto de uma das cadeiras. Espero que não seja aquela em
que Tyler escreveu pênis setenta e cinco vezes. Não parece ser o tipo de terno que
lida bem com transferência de tinta.
O que o Alex está tentando dizer… Charlie limpa a garganta de forma
signi cativa. É que é óbvio que os seus sentimentos pela Layla são verdadeiros.
E, se você quiser ter algo de verdade com ela, precisa falar desse acordo primeiro.
Não pode só continuar do jeito que está… toda essa bobagem de praticar. Você
precisa ser sincero com ela e dizer que quer mais. Acabar com o acordo pra
começar algo novo. Partir para o jogo real.
Não sei por que isso parece tão difícil para mim. Talvez seja medo de que a Layla
ria na minha cara. Ou que diga que não sou o que ela quer. É mais fácil car só na
esperança.
Não posso só continuar de boca fechada e torcer pelo melhor?
Alex dá um sorriso torto.
E isso já funcionou pra você antes? Quando estreito meus olhos para ele,
Alex ergue as mãos e suspira. Não, Caleb, você não pode fazer isso. Diga a ela
como você se sente. Como você se sente de verdade. Olhe só como você tem se
comportado. Nas últimas semanas, anda por aí como se estivesse utuando.
Parece até… até…
Até alguém que acabou de aprender a se masturbar completa Charlie com
a boca cheia de arroz. Você sempre foi um cara feliz, meu amigo. Mas agora
atingiu outro patamar.
Reviro os olhos e me volto para Alex.
E se engulo em seco e reorganizo as canetas na minha xícara. E se ela
não sentir o mesmo?
A minha esperança era a de ignorar esse momento. Se eu nunca tocasse no
assunto, talvez não tivesse que me decepcionar.
Alex suspira.
Seja sincero com ela. Diga o que você quer, mas controle um pouco suas
expectativas, tá? Lembre que tudo isso foi um acordo entre vocês dois. É normal
que os sentimentos sejam um pouco exagerados. Vocês estavam procurando
algum tipo de solução.
Franzo a testa, percebendo o que ele deu a entender.
Você não acha que ela sente o mesmo?
Charlie e Alex trocam outra série de olhares que não consigo interpretar.
Charlie fala alguma coisa e faz um gesto complicado com as mãos. Alex arregala
os olhos, então os dois se perdem em sussurros furiosos. Não é muito diferente
das duas garotas do time de so ball que se sentam nesses mesmos lugares durante
a aula de espanhol.
Isso não me dá muita esperança.
Mas o que é que está acontecendo com vocês dois?
Eles param de repente. Alex olha para mim, mas Charlie olha para o teto, os
lábios em uma linha na.
Fale com a Layla.
QUASE PERCO A coragem.
Layla desce os degraus da casa dela no domingo à tarde com um vestido rosa
pastel com mangas que deixam os ombros à mostra, a luz do sol dançando em sua
pele. Um lenço vermelho-cereja no cabelo. A cesta de piquenique no braço. Ela
está parecendo uma das balinhas de coração que vêm em uma caixa de Dia dos
Namorados, cada uma com uma mensagem. Você é como um sonho, a dela diria.
Fique comigo.
Ela solta uma gargalhada quando abre a porta da frente do carro e vê minha
tentativa fracassada de fazer um bolo de morango no banco do passageiro. Eu
queria adoçá-la, talvez, para essa conversa. Achei que um bolo poderia ajudar. Mas
superestimei minha capacidade.
O que é isso?
Franzo a testa.
É um bolo de morango.
É um bololô de morango, isso, sim diz ela com um sorriso malicioso que
tenho vontade de morder. Ainda assim, ela é cuidadosa ao tirá-lo do assento e
colocá-lo no banco de trás, ao lado da cesta de piquenique. Layla entra no carro e
dá um beijo estalado na minha bochecha. No caminho até aqui, eu disse a mim
mesmo que não iria beijá-la até que tivéssemos a conversa. Não iria tocá-la até
saber em que pé estamos. Não adiantava tornar as coisas mais difíceis para mim.
Mas, no meu coração, deve estar escrito Sou louco por você. Inclino meu rosto
em direção ao dela e pego seus lábios com os meus, minha mão passando por
baixo de seu cabelo para brincar com a ponta do lenço vermelho-cereja. Eu o
enrolo na mão e puxo, sorrindo quando ouço a respiração dela falhar.
O acordo termina hoje, mas não precisamos terminar outras coisas. Por mais
que a abordagem de Charlie e Alex não tenha sido nada sutil, eles estavam certos.
Se eu quiser ter uma chance verdadeira de algo duradouro com Layla, precisamos
ter uma conversa sincera.
Mas tenho di culdade em expressar esses pensamentos quando parece que tudo
está correndo tão bem entre nós. Quanto mais adentramos na Lovelight, mais
minha ansiedade aumenta. Quando chegamos aos campos e ela está me puxando
até o lago no extremo da propriedade, meus pulmões estão apertados e meu
coração está acelerado. Observo a saia rosa do vestido esvoaçar em torno das
coxas, os saltos que ela dá para pular os vegetais que Becke plantou ali no início
da temporada. Aperto a alça da cesta e tento me recompor.
Ela sabe quem eu sou. Ela gosta de quem eu sou, repito como um mantra. Nossas
peças se encaixam. Não vai ser como todas as outras vezes.
Layla começo, mas deixo o vento levar o resto do meu pensamento.
Ela olha para mim por cima do ombro e quase perco o fôlego. A luz do sol que se
põe devagar e o ouro reluzindo no colar que ela tem no pescoço. Uma brisa suave
que serpenteia pela grama alta e levanta a ponta do cabelo dela. Vaga-lumes que
ganham vida no campo ao nosso redor, saindo dos salgueiros como pequenas
estrelas caídas.
O quê? pergunta ela.
Sacudo a cabeça e engulo as palavras. Só preciso de mais alguns minutos.
Nada. Limpo a garganta: Aqui está bom para a gente car?
Está, sim. Ela gira em um círculo, a saia esvoaçante e a cabeça inclinada
para trás para olhar o céu. É tão linda que meu coração marca um único e doloroso
baque bem no centro do meu peito.
Olho para o chão e estendo a manta.
Você vai tirar sarro do meu bolo de novo?
Depende do sabor. Ela se abaixa bem ao lado de onde estou ajoelhado,
com o cotovelo apoiado em meu ombro e a boca em meu ouvido. Um sorriso
surge no canto de seus lábios. Às vezes, as coisas mais saborosas podem não ser
as mais bonitas.
Tenho certeza de que é conversa ada dela, mas, mesmo assim, co agradecido.
Tiro o braço dela do meu ombro e dou um beijo rápido na parte interna de seu
pulso, sem pensar. Meus lábios se demoram e depois me afasto como se ela tivesse
me queimado.
Ela me olha xamente, a confusão estampada em seu rosto. Segura o braço junto
ao peito, a ponta dos dedos roçando o local onde minha boca tocou.
Estou fazendo tudo errado. Não consigo descobrir o que quero dizer nem como.
Seria melhor ter feito anotações e as colocado na cesta.
Ei. Os dedos de Layla estão hesitantes quando ela se aproxima de mim e
traça, sem pensar, um desenho no meu antebraço. O que houve? Você está
meio estranho.
Eu sei murmuro. Passo a mão no rosto e a mantenho no queixo, o olhar
cansado enquanto olho para ela. Layla se mantém rme, me encarando com seus
penetrantes olhos cor de avelã. Deixo a mão cair e tento ser sincero. Preciso
falar com você.
Tá. Eu a observo enquanto se prepara, se sentando na manta com um
pequeno espaço entre nós. Ela segura os cotovelos, o corpo curvando para a
frente. O que foi?
Eu…
Não quero mais que nossos encontros sejam um acordo. Quero ser tudo para você,
minha mente elabora. Assim como você é tudo para mim.
Quero terminar o acordo.
Ela assente, um único cacho escorregando do lenço em seu cabelo e caindo em
seu rosto. Ela o empurra para trás com a mão.
Tudo bem. Esse era o plano, não era? Estava quase completando um mês, eu
acho.
Faz um mês hoje respondo. Ela pisca algumas vezes, os cílios trêmulos.
Preciso me controlar para não gritar as coisas como um lunático. Inspiro fundo
pelo nariz e solto o ar devagar pela boca. Tento de novo. Completou um mês
hoje e eu quero encerrar o nosso acordo.
Ah diz ela. Se eu não estivesse observando com tanta atenção, não notaria
a mudança em sua expressão. O lábio inferior se retorcendo e o rápido lampejo de
dor em seus olhos. Ela ergue os ombros, se preparando. Ah repete.
Eu estava pensando que talvez a gente pudesse…
É claro interrompe ela depressa, as mãos na saia do vestido. Ela cerra os
punhos e depois volta a abrir. Pela primeira vez, noto os pequenos morangos
pintados em suas unhas. De um rosa bem, bem fraco. É claro, você tem razão.
Precisamos encerrar o acordo.
Ela não está olhando para mim, os olhos mirando algum lugar em seus joelhos.
Acabei de dizer exatamente a mesma coisa, mas sua voz soa estranha. O sorriso
também parece estranho, frágil e destroçado.
Certo. Eu…
Eu não sabia que já havia se passado um mês. Achei que estava perto, mas…
Ela balança a cabeça e morde o lábio inferior rapidamente. Me desculpe. Faz
tempo que você estava esperando pra ter essa conversa? Não quis prolongar as
coisas.
O quê?
Você deve estar ansioso pra voltar a procurar por aí.
Olho por cima do meu ombro. Tudo o que vejo são campos dourados, um
grande celeiro vermelho ao longe, perto da estrada.
Procurar o que por aí?
Ela en m me olha nos olhos. Está me observando com atenção, o olhar vagando.
Acho que Layla nunca me olhou desse jeito antes.
Uma namorada diz, estremecendo de leve. De verdade, dessa vez.
Algo brusco e feio me revira por dentro, e preciso engolir em seco três vezes
seguidas antes de conseguir pronunciar alguma coisa.
De verdade repito com a voz fraca. Tudo o que senti por Layla foi o mais
próximo da verdade que já cheguei. Dessa vez.
Ela concorda e brinca com a ponta do lenço em seu pescoço. Movimentos
inquietos e distantes.
Sinto muito por não ter percebido antes e você ser obrigado a falar isso.
Parece que o nosso acordo já estava incomodando você há algum tempo.
Incomodando há algum tempo. Toda vez que fecho os olhos, vejo Layla. Toda
vez que me viro na cama, sinto sua pele nua na ponta dos meus dedos. Toda vez
que vejo esta maldita data em meu calendário, meu peito se aperta e me esqueço
de como respirar. Se está me incomodando, é porque eu quero mais. Quero todas
as partes que ela me deu e o restante também. Quero cada sorriso, cada croissant,
cada toque de sua mão na minha. Quero andar de patins e tomar sorvete
derretendo e escorrendo pelos dedos. Comer nachos nos campos.
Layla no meio da minha cozinha, com um grande sorriso e farinha nas mãos.
É consigo dizer. É verdade.
Ah diz ela mais uma vez, mais baixo. Isso é, hum… Seus olhos se
desviam de mim para a pilha organizada de potes ao nosso lado. Seus ombros se
curvam para trás e ela começa a recolher os itens que acabou de tirar da cesta:
xícaras, pratos e o que parece ser a mesma garrafa de champanhe que comprou
todas aquelas semanas atrás na loja de bebidas, uma garrafa laranja com lacre de
papel-alumínio dourado. Quando ela pega a caixa de doces, eu a seguro pelo pulso
para impedi-la.
Layla, me ouça só por um segundo. Estou nervoso e não estou… não estou
conseguindo me explicar muito bem.
Ela se solta e puxa a caixa de guloseimas para mais perto. Então segura a caixa
contra o peito, como se fosse uma armadura. Como se quisesse desaparecer ali
dentro.
Você não precisa explicar nada.
Layla…
Por favor, Caleb, não explique nada.
Por quê?
Porque está tudo bem, eu entendo. Você não precisa… não precisa me dizer
que não sou a pessoa certa pra você. Ela se afasta de mim e alisa a manta
estendida no chão. Observo a saia dela voar ao sabor do vento, meu cérebro preso
na frase a pessoa certa pra você. Ela se repete como um disco arranhado até que as
palavras percam o sentido. Acho que eu não estava pronta pra isso completa
ela em um sussurro. Não faço ideia se era para eu ter ouvido ou não.
Eu não estou… Espere aí. Estico a mão e a ponta dos meus dedos roça na
barra de seu vestido. Cerro o punho. Não estou terminando com você.
Eu sei, você está terminando o acordo.
É, eu quero terminar o acordo, mas… Suspiro, frustrado. Estamos
rodando em círculos. Talvez Charlie estivesse certo quando disse que eu deveria
praticar em frente ao espelho. Eu estava pensando que talvez a gente pudesse
começar algo novo.
Suas mãos congelam em meio ao movimento por meio segundo, pairando sobre
os potes. Não consigo ver seu rosto encoberto pelo cabelo. Mas posso sentir cada
segundo silencioso como um al nete espetando minha pele. Expectativa, do pior
tipo.
Não sei diz ela devagar. Concordamos que seria um mês. E já se passou
um mês.
Não podemos acrescentar mais um? Arrasto os nós dos dedos pelo braço
dela. Odeio o tom de súplica em minha voz. Engulo em seco. Eu quero tentar
com você.
Ela arregala os olhos cor de avelã. Seu lábio inferior treme, e eu quase rasgo a
manta ao meio. Não quero que ela chore. Não quero que ela chore por minha
causa.
Não sei se eu consigo responde ela, por m.
Por que não?
Porque… Ela olha por cima do meu ombro, as mãos nos cotovelos, se
envolvendo em um abraço. Porque isso está indo além do que concordamos.
Eu nem estou mais avaliando você, Caleb. Era pra ser fácil e divertido, mas
agora…
Ela para no meio da frase e cerra o maxilar. Os nós dos dedos estão brancos de
tanto apertar os braços.
O quê? pergunto. Mas agora o quê?
Fico no limite da incerteza, a respiração presa. Eu me sinto como se estivesse de
novo no escape room e o cotovelo dela tivesse ido direto no meu olho, na minha
garganta no ponto macio e pulsante dentro do meu peito, que parece estar
sendo rasgado. Não consigo dizer mais nada, a angústia bloqueando minha
garganta.
Sei que tenho o hábito de projetar meus sentimentos, imaginando coisas que
não existem. Mas não acho que seja isso. Parece algo completamente diferente.
Layla cou chateada quando pensou que eu estava cancelando o acordo. Achei
que isso pudesse signi car que ela sentia o mesmo que eu. Mas talvez fosse ela
quem queria terminar tudo comigo antes? Não estou entendendo.
Não estou entendendo repito, dessa vez em voz alta.
Ela inspira fundo. Expira, trêmula. Olha para cima, os olhos encontrando os
meus, e depois desvia o olhar, encarando os dedos que se contorcem em seu colo.
Nunca vi Layla Dupree se encolher dessa forma. Isso não combina com ela.
Tudo com você parece fácil demais. Acho que vou car sempre esperando
pelo pior. Sempre quis viver algo assim, mas não… eu não sei se consigo con ar
em mim mesma conclui com um sussurro. Eu… Ela olha para cima e
pisca algumas vezes. Eu não sei fazer isso.
Layla. Seu nome escapa da minha boca. Claro que sabe, você já está
fazendo isso.
Não tenho tanta certeza. Ela passa uma mão trêmula sob o nariz e expira
com di culdade. É mais fácil terminar isso agora, antes que evolua. Antes que
eu… antes que eu… Ela para de falar, emitindo um som agudo tão próximo de
um soluço que quase não consigo suportar. Algo sombrio e muito possessivo
desperta em meu peito. Minhas mãos doem com o esforço de não as estender para
ela.
Antes que você faça o quê? Fale comigo.
Parece extremamente importante que ela termine a frase.
Mas Layla não responde. Só balança a cabeça e coloca as mãos nos joelhos, o
lábio inferior preso entre os dentes.
Do que você tem medo? A pergunta sai de repente, guiada por uma
frustração desesperada.
Layla não hesita. Ela nalmente ergue o queixo, encontra meu olhar e sussurra:
De mim mesma.
Me ajude a entender.
Ela se ajoelha e volta a recolher todos os itens do nosso piquenique. Uma única
lágrima desce por sua bochecha, e meu peito se aperta.
Eu sempre tive um péssimo gosto pra homens. Sei que brinco com isso, mas
meu histórico é o pior, de verdade. Eu… Ela balança a cabeça, com os lábios
apertados, como se estivesse tentando não chorar. Não posso con ar em mim
mesma quando se trata desse tipo de decisão. E não quero machucar você nesse
processo, Caleb.
Estou me agarrando à manta com toda a força, tentando não a tocar. Ela coloca
os talheres enrolados no plástico- lme na cesta, os guardanapos amarrados com
um barbante vermelho. Outra lágrima cai.
Você está me machucando agora, tenho vontade de dizer.
Nada tem que mudar digo baixinho. De verdade. Só o nome que
damos a isso. Tudo o que estamos fazendo juntos… Layla, você pode con ar em
mim.
Eu sei que posso. Ela limpa embaixo dos olhos com as costas da mão e se
levanta com as pernas instáveis. O problema sou eu. Algumas partes de mim
estão despedaçadas e eu não… eu não sei como consertar isso pra você, Caleb.
Você não precisa consertar nada pra mim retruco. Eu a aceitarei por
inteiro, exatamente como ela é. Vamos encaixar nossas peças até que sejamos algo
completo, juntos, com nossas partes quebradas se transformando em algo bonito.
Ela dá um sorriso triste, a cabeça inclinada para o lado e o olhar suave.
Acho que é melhor não irmos além disso se estou… se ainda estou tentando
me descobrir. Você merece alguém que se dê por completo, Caleb.
Eu quero você.
Ela choraminga baixinho.
Sei que você se sente assim agora, eu só… Ela balança a cabeça. Eu
acho que precisamos dar alguns passos para trás. Entender o que sentimos de
verdade.
O que sentimos de verdade? Eu sei o que sinto. E agora, mais do que nunca, sei
como ela se sente também. Vejo a cada vez que olha para mim. A cada vez que
segura minha mão. Eu sei disso.
Layla.
Por favor sussurra ela , por favor, pare de dizer meu nome desse jeito.
O que eu posso fazer?
Quero que ela me diga como consertar essa situação. Quero saber como
podemos voltar aos momentos em que ela corria para me encontrar com um
sorriso radiante. Quero pegar todos os seus medos e amassá-los, fazer uma bolinha
e lançá-los no espaço. Colocar fogo neles. Quero dar um soco em todos os merdas
que a trataram como lixo. Lançá-los no espaço também.
Quero que você… Ela dá um suspiro curto. Quero que você vá até a
padaria todas as segundas, quartas e sextas. Quero que você que do outro lado
do balcão e peça um café, só com creme. Quero que você compre um croissant de
manteiga e não dê a primeira mordida até que esteja na metade da escada da
frente. Quero que tudo que bem entre a gente.
Eu me ergo e me inclino na direção dela. Seguro seu rosto, meu polegar apoiado
em seu queixo. Mais duas lágrimas caem de seus olhos e pousam nas costas da
minha mão.
Não sei se consigo fazer isso, Layla. Não sei se consigo fazer isso e não querer
você.
A expressão em seu rosto parte meu coração em dois.
Com o tempo isso vai passar. Eu prometo. Sempre passa.
Eu não acho que vá passar. Vou car do outro lado do balcão pensando nas
sardas na dobra do seu cotovelo. No som da sua risada abafada pelos meus beijos.
Na tatuagem discreta no quadril e nos patins com caveiras e ossos cruzados em
miniatura. No sorvete de creme na praia. No pacote de comida congelada no meu
olho e na ponta de seus dedos na minha pele.
Estou apaixonado.
No começo, foi devagar, com cuidado. E então aconteceu tudo de uma vez.
Sinto uma pressão bem no meio das minhas costas. Algo que torce e puxa até se
acomodar no meu peito. Layla está acostumada com pessoas que a decepcionam.
Ela está condicionada a se proteger da decepção.
Alguém já lutou por ela da maneira que merece?
Layla segura meu pulso com força e eu encosto minha testa na dela. Nossos
narizes se tocam e ela suspira, trêmula. Não sei se ela está me segurando ou me
afastando. Parece um pouco de cada.
Ainda vou ver você? Seu lábio inferior roça o meu e todo o meu corpo
estremece. Segunda, quarta e sexta?
Se é disso que ela precisa. Se é para isso que se sente pronta, se essa for a forma
de provar que sou o que ela merece ter, então serei o melhor cliente que a sua
padaria já teve.
Sim, meu bem, toda segunda, quarta e sexta.
Ficamos ali, sob a sombra de uma árvore, balançando para a frente e para trás,
abraçados. Os pássaros chamam uns aos outros dos galhos.
A grama roça em nossos tornozelos. Seus lábios estão a milímetros de distância
dos meus. Ela me segura pelos pulsos.
Posso fazer uma pergunta? Mal consigo pronunciar as palavras, vacilantes
e roucas. Antes de irmos embora?
Ela tenta sorrir, mas o sorriso falha nos cantinhos. Um som de dor ca preso no
fundo da minha garganta.
Só uma responde ela.
Limpo a garganta.
Se só posso fazer uma pergunta, tenho que escolher uma das boas.
Ela me olha xamente, lembrando nossa primeira noite juntos.
Também acho.
Passo o dedo em sua bochecha. Da última vez que disse isso, ela estava sorrindo.
Agora, ela fecha os olhos, a respiração irregular enquanto fala.
Posso beijar você? pergunto.
Ela mantém os olhos fechados e concorda.
Eu me mantenho imóvel diante dela e me pergunto como devo beijar Layla
Dupree pela última vez. Qual é a melhor maneira de fazer com que alguém se
lembre de você? Com que queira você de volta?
Pressiono meus lábios contra os dela e coloco a palma da mão em sua nuca.
Ficamos ali no espaço entre as respirações, perfeitamente imóveis, dolorosamente
imóveis. Tenho medo de me mexer. Tenho medo de permitir que o momento
acabe. Mas basta que ela se aproxime mais um centímetro para que eu me liberte
de meu cauteloso controle. Com Layla, não consigo evitar. Nunca consegui.
Inclino a cabeça e ela faz um som, algo baixo e irregular que se prende em meu
coração e me puxa. Tristeza, acho eu. Insegurança. Exalo de forma brusca pelo
nariz e a beijo mais devagar. Implorando.
Não vá embora, tento dizer. Fique comigo.
Con e em mim.
Ela afasta a boca da minha com um suspiro e pressiona as costas da mão nos
lábios. Dá um passo para longe, e depois dois, tropeçando em uma raiz de árvore.
Eu a alcanço, mas ela balança a cabeça. Pega a pilha de potes aos seus pés.
Eu… Ela aponta por cima do ombro com o polegar. Vou pra padaria.
Preciso veri car umas coisas.
En o as mãos nos bolsos.
Pode deixar. Aponto para a manta com o queixo e tento não passar a mão
nos lábios. Quero marcar a sensação dela em mim. Gravá-la em minha pele. Eu
recolho tudo.
Ela pisca algumas vezes, o lábio inferior tremendo. Parece muito distante
quando diz:
Eu sinto muito, de verdade. Gostaria de não me sentir assim.
Balanço a cabeça.
Não precisa se desculpar.
Não precisa, de verdade. Desta vez, eu fui o idiota que partiu o próprio coração.
Quando começamos esse acordo, a intenção era me ajudar a me curar desse
problema, mas, olhe só, mesma coisa aconteceu de novo.
Olho xamente para minhas botas no chão. Para a ponta da manta.
Tá bom. Eu a ouço dizer. Vejo você amanhã, né?
Ela vai me ver amanhã. Ela continuará me vendo. Meu último beijo com Layla
não será no meio de um campo com lágrimas no rosto.
Concordo e olho para ela, com a palma da mão na nuca. Aperto com força para
não ir atrás dela. Ela me encara com o lábio inferior preso entre os dentes, como se
quisesse dizer algo mais.
Mas ela não diz nada. Dá mais um sorriso triste e se vira. Ela se afasta de mim,
seu lindo vestido rosa cando vermelho-escuro sob a luz intensa.
Fico ali parado e a vejo partir.
Eu a vejo ir embora até carmos apenas eu e as árvores.
24
LAYLA
LAYLA
AG DEÇO DO FUNDO do meu coração por você ter acolhido Lovelight com amor.
Espero que saiba que isso signi ca muito para mim.
E eu sei que é difícil me perder para outros mundos durante os meses que passo
escrevendo esses livros, mas saiba que as histórias de amor que escrevo só são
possíveis por causa do amor que temos e do amor que cultivamos juntos. Nossa
pequena família é minha história de amor favorita.
Annie, compartilhar isso com você é o melhor presente. Sou grata por isso,
sobretudo neste ano, e por quão altruísta você continua a ser, apesar do seu
universo ter sido abalado. Sua capacidade de amar, sua generosidade e sua
bondade são o que mais brilha ao seu redor. Espero que você saiba sempre o
quanto valorizo você e nossa amizade. Eu a guardo bem no fundo do coração. Há
um canto em Lovelight com um jardim esperando, e as ores estão sempre
desabrochando.
Sam, seu talento só é superado por sua bondade. Eu valorizo cada uma das obras
de arte que você cria para mim e as guardo com carinho.
Bri , foi um prazer trabalhar com você neste projeto. Adorei cada segundo e sou
muito grata por seu trabalho, seu grande coração e seu entusiasmo em fazer as
coisas rapidamente. Obrigada por ser exível com um cronograma tão caótico e
por sempre me dar o seu melhor.
Sarah, obrigada por segurar minha mão e ouvir minhas mensagens desconexas e
por se sentar comigo em bares da cidade enquanto conversamos sobre
personagens ctícios. Meu lugar favorito é na poltrona ao seu lado, falando de
pessoas, lugares e coisas que só existem em nosso coração e em nossa cabeça.
Adri, sempre haverá bordas de pizza esperando pela Poppy na pizzaria do Ma y.
Obrigada por me emprestar seu bebê e dá-la ao Caleb.
E, por último, mas não menos importante, um enorme agradecimento a Kelsey e
Marisol, por participarem e ajudarem a melhorar esta história. Kelsey, na minha
opinião, você é o melhor que o Canadá já exportou. Tem sido incrível ter você em
minha vida, e sou grata por isso. Marisol, sua visão deste livro é muito especial
para mim, e não tenho como agradecer o su ciente por dedicar seu tempo.
Eu não conseguiria fazer nada disso sem todos vocês. Obrigada por me deixarem
contar histórias.
Este e-book foi desenvolvido em formato ePub
pela Distribuidora Record de Serviços de Imprensa S. A.
Um namoro de mentirinha
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