Especies-Arboreas-Brasileiras-vol-3-Louro-mole
Especies-Arboreas-Brasileiras-vol-3-Louro-mole
Especies-Arboreas-Brasileiras-vol-3-Louro-mole
Arbóreas
Brasileiras
Louro-Mole
Cordia ecalyculata
volume
3
Louro-Mole
Cordia ecalyculata
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Rolândia, PR
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Fotos: Paulo Ernani Ramalho Carvalho
Louro-Mole
Cordia ecalyculata
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Descrição Botânica brilhante, glabra, diminutamente reticulada, com
minúsculas estrias longitudinais, em forma de
Forma biológica: arbusto, arvoreta a árvore impressão digital.
perenifólia. As árvores maiores atingem dimensões
próximas a 20 m de altura e 50 cm de DAP Biologia Reprodutiva
(diâmetro à altura do peito, medido a 1,30 m do
solo) na idade adulta. e Eventos Fenológicos
Tronco: é reto, suavemente acanalado com aletas Sistema sexual: Cordia ecalyculata é uma
pequenas na base. O fuste é curto e mede até 7 m espécie monóica.
de comprimento.
Vetor de polinização: essencialmente abelhas,
Ramificação: é cimosa. A copa é alongada, diversos insetos pequenos (KUHLMANN; KUHN,
muito densa e arredondada, com os ramos glabros 1947) e os sirfídeos – Diptera: Syrphidae
ou pubescentes. (ARRUDA; SAZIMA, 1996).
Casca: mede até 14 mm de espessura (LOPEZ et al., Floração: de setembro a fevereiro, no Paraná
1987). A casca externa ou ritidoma é escura, (GOETZKE, 1990), de outubro até janeiro, em
semi-lisa, com fissuras pequenas longitudinalmente Santa Catarina (SMITH, 1970), de outubro a
e horizontais, sendo as horizontais mais profundas. março, em Minas Gerais (VIDAL et al., 1986;
As lenticelas tomam a forma de protuberâncias BRANDÃO et al., 2002) e de novembro a
pequenas. A casca interna é fibrosa, de cor dezembro, no Estado de São Paulo (KUHLMANN;
amarelo-esbranquiçada. Oxida-se rapidamente em KUHN, 1947).
exposição com o ar. Frutificação: os frutos maduros ocorrem de
Folhas: são simples, alternas, totalmente março a maio, no Estado de São Paulo
desprovidas de pubescência, com a lâmina foliar (KUHLMANN; KUHN, 1947), de abril a agosto,
medindo de 3 cm a 14 cm de comprimento por no Paraná e de junho a julho, em Minas Gerais
1 cm a 6 cm de largura, elípticas a lanceoladas, (BRANDÃO et al., 2002).
margens lisas ou onduladas, ápice acuminado e Dispersão de frutos e sementes: notadamente
base acunheada; o pecíolo é torcido e mede de zoocórica (MIKICH; SILVA, 2001), principalmente
0,5 cm a 1,3 cm de comprimento. por animais silvestres. Segundo Frisch e Frisch (2005),
Inflorescência: apresenta-se em dicásio terminal, o louro-mole atrai jacus, jacutingas, surucuás,
pombas, sanhaços e araçaris, entre outros.
medindo de 5 cm a 15 cm de diâmetro,
terminando por monocásios.
Flores: são bissexuais, pequenas e numerosas, Ocorrência Natural
medindo de 0,5 cm a 0,7 cm de comprimento,
perfumadas e de cor branca. Latitudes: de 14º40’S, na Bahia, a 30ºS, no Rio
Grande do Sul.
Fruto: é uma drupa simples, indeiscente,
dispérmica ou monospérmica, com sementes Variação altitudinal: de 100 m, no Rio Grande
protegidas por um endocarpo esclerosado do Sul, a 1.600 m de altitude, no Estado de São
(AMORIM, 1996). Tem forma globosa, Paulo.
ligeiramente achatada no ápice e na base. A Distribuição geográfica: Cordia ecalyculata
superfície é glabra, brilhante, lisa, com curvatura ocorre, de forma natural, no nordeste da
uniforme. Quando maduro, apresenta tonalidade Argentina, na Bolívia (KILLEEN et al., 1993) e no
escarlate. O pericarpo é carnoso e relativamente Paraguai (LOPEZ et al., 1987).
espesso, com epicarpo delgado, cartáceo a quase
No Brasil, essa espécie ocorre nas seguintes
membranáceo, altamente suscetível a danos
Unidades da Federação (Mapa 42):
mecânicos, quando maduro. O mesocarpo é
gelatinoso como cola, víscido e de sabor • Bahia (TARODA; GIBBS, 1987).
adocicado, com espessura entre 1,5 mm e 2,5 mm
• Minas Gerais (VIDAL et al., 1986; TARODA;
e tonalidade alaranjada; o endocarpo esclerosado
GIBBS, 1987; GAVILANES et al., 1992;
tem aproximadamente 1,5 mm de espessura e
BRANDÃO; GAVILANES, 1994; CARVALHO
constitui o pirênio. et al., 1996; GAVILANES; BRANDÃO, 1996;
Semente: é globosa e comprimida lateralmente, BRANDÃO et al., 1998d; RODRIGUES, 2001;
apresenta-se longitudinalmente obovada, ovalada RODRIGUES; NAVE, 2001; CARVALHO, 2002;
ou sub-rotunda, de ápice arredondado a GOMIDE, 2004; CARVALHO et al., 2005;
ligeiramente truncado, com base aguda a obtusa OLIVEIRA-FILHO et al., 2005; PEREIRA et al.,
(AMORIM, 1996). A superfície é branca, lisa, 2006).
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• Paraná (TARODA; GIBBS, 1987; GOETZKE, 1995; DURIGAN; LEITÃO FILHO, 1995;
1990; OLIVEIRA, 1991; SOARES-SILVA et al., TOLEDO FILHO et al., 1997; IVANAUSKAS
1992; TOMÉ; VILHENA, 1996; SOARES- et al., 1999; ALBUQUERQUE; RODRIGUES,
SILVA et al., 1998; MIKICH; SILVA, 2001; 2000; DURIGAN et al., 2000; FONSECA;
RODRIGUES; NAVE, 2001; MIKICH; RODRIGUES, 2000; DISLICH et al., 2001;
OLIVEIRA, 2003; VEIGA et al., 2003; RODRIGUES; NAVE, 2001; TABANEZ et al.,
BORGHI et al., 2004; CORINO, 2006). 2005; BERNACCI et al., 2006; PIVELLO et al.,
• Rio Grande do Sul (SMITH, 1970; KNOB, 2006).
1978; AGUIAR et al., 1982; JACQUES et al.,
1982; BRACK et al., 1985; LONGHI, 1987;
TARODA; GIBBS, 1987; LONGHI, 1991; Aspectos Ecológicos
TABARELLI, 1992; VACCARO et al., 1997;
ANDRAE et al., 2005). Grupo ecológico ou sucessional: é uma
espécie pioneira (IVANAUSKAS et al., 1999);
• Santa Catarina (SMITH, 1970; KLEIN, 1979/
secundária inicial (FONSECA; RODRIGUES,
1980; TARODA; GIBBS, 1987).
2000) a secundária tardia (PIVELLO et al., 2006).
• Estado de São Paulo (KUHLMANN; KUHN,
1947; ASSUMPÇÃO et al., 1982; SILVA; Importância sociológica: essa espécie forma
LEITÃO FILHO, 1982; CAVASSAN et al., parte do estrato intermediário da floresta primária;
1984; PAGANO, 1985; TARODA;GIBBS, 1987; também aparece ao largo de caminhos e nas
BAITELLO et al., 1988; MATTES et al., 1988; bordas das florestas secundárias, onde é
NICOLINI, 1990; ROBIM et al., 1990; COSTA; encontrada em clareiras com menos de 60 m2
MANTOVANI, 1992, COSTA; MANTOVANI, (COSTA; MANTOVANI, 1992).
Mapa 42. Locais identificados de ocorrência natural de louro-mole (Cordia ecalyculata), no Brasil.
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Biomas (IBGE, 2004a) / Tipos Regime de precipitações: chuvas
uniformemente distribuídas no centro-sul do
de Vegetação (IBGE, 2004b) e Paraná, no leste de Santa Catarina e no litoral do
Outras Formações Estado de São Paulo, e chuvas periódicas nas
demais regiões.
Vegetacionais
Deficiência hídrica: de pequena a moderada,
Bioma Mata Atlântica no Paraná. De pequena a moderada, no inverno,
no sul de Minas Gerais e no leste do Estado de
• Floresta Estacional Decidual (Floresta Tropical São Paulo. De moderada a forte, no inverno, no
Caducifólia), na formação das Terras Baixas, no oeste de Minas Gerais.
Rio Grande do Sul (TABARELLI, 1992;
ANDRAE et al., 2005). Temperatura média anual: 13,4 ºC (Campos do
Jordão, SP) a 21,9 ºC (Uberaba, MG).
• Floresta Estacional Semidecidual (Floresta
Temperatura média do mês mais frio: 8,2 ºC
Tropical Subcaducifólia), nas formações
(Campos do Jordão, SP) a 18 ºC (Uberaba, MG).
Submontana e Montana, em Minas Gerais, no
Paraná e no Estado de São Paulo, com Temperatura média do mês mais quente:
freqüência de até nove indivíduos por hectare 21,4 ºC (Caparaó, MG) a 25,5 ºC (Foz do Iguaçu,
(SOARES-SILVA et al., 1992; TOMÉ; PR).
VILHENA, 1996; IVANAUSKAS et al., 1999; Temperatura mínima absoluta: -7,3 ºC
DURIGAN et al., 2000; RODRIGUES, 2001). (Campos do Jordão, SP).
• Floresta Ombrófila Densa (Floresta Tropical Número de geadas por ano: médio de 0 a 30;
Pluvial Atlântica), nas formações das Terras máximo absoluto de 81 geadas no Planalto Sul-
Baixas, Submontana, Montana e Alto-Montana, Brasileiro e em Campos do Jordão, SP.
em Minas Gerais (PEREIRA et al., 2006), em
Classificação Climática de Koeppen: Af
Santa Catarina (SMITH, 1970) e no Estado de
(tropical superúmido) no litoral do Estado de São
São Paulo (BERNACCI et al., 2006), com
Paulo. Aw (tropical quente com estação seca de
freqüência de até 25 indivíduos por hectare inverno) no oeste de Minas Gerais. Cfa
(DISLICH et al., 2001). (subtropical úmido com verões quentes, podendo
• Floresta Ombrófila Mista (Floresta com presença haver estiagem e geadas pouco freqüentes) no
de araucária), na formação Montana, no Maciço do Itatiaia, MG, no norte e no noroeste do
Paraná e Alto-Montana, em Minas Gerais Paraná, no Rio Grande do Sul, em Santa
(CARVALHO et al., 2005) e no Estado de São Catarina e no Estado de São Paulo. Cfb
Paulo (ROBIM et al., 1990), com freqüência de (temperado sempre úmido com verão suave e
até dois indivíduos por hectare. inverno seco com geadas freqüentes) na Serra da
Bocaina, MG, em Colombo, PR e em Campos do
Outras Formações Vegetacionais Jordão, SP. Cwa (subtropical úmido quente de
• Ambiente fluvial ou ripário, em Minas Gerais inverno seco e verão chuvoso) no Estado de São
Paulo. Cwb (subtropical de altitude com inverno
(BRANDÃO et al., 1998), no Paraná
seco) no sul de Minas Gerais e no Estado de São
(RODRIGUES; NAVE, 2001; VEIGA et al.,
Paulo.
2003; CORINO, 2006) e no Estado de São
Paulo (RODRIGUES; NAVE, 2001), com
freqüência de até 13 indivíduos por hectare Solos
(SOARES-SILVA et al., 1998).
• “Mata” de pau-ferro (Myracrodruon balansae), Cordia ecalyculata ocorre, naturalmente, em solos
no Rio Grande do Sul, com uma freqüência de úmidos, de fertilidade química média a alta.
até sete árvores por hectare (LONGHI, 1987).
• Fora do Brasil, ocorre, na Bolívia, na Sabana Tecnologia de Sementes
húmeda (KILLEEN, 1993), e no Paraguai,
habita toda a selva da Região Oriental (LOPEZ Colheita e beneficiamento: os frutos devem ser
et al., 1987). colhidos diretamente da árvore, quando iniciarem
a queda espontânea. Em seguida, devem ser
imersos em água por 48 horas, para depois serem
Clima macerados em peneira sob água corrente, de
modo a separar os pirênios dos resíduos. Por sua
Precipitação pluvial média anual: de 1.200 mm, vez, os pirênios devem ser secos à sombra, em
em Minas Gerais, a 2.700 mm, no Estado de São local ventilado. Para extrair as sementes, Amorim
Paulo. (1996) usou um morso para quebrar os pirênios.
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Número de sementes por quilo: 5.400 Recomenda-se plantio misto associado com
(LORENZI, 2002). espécies pioneiras. Regenera-se através de
brotações vigorosas do toco.
Tratamento pré-germinativo: recomenda-se
imersão em água, em temperatura ambiente por
72 horas (MARTINS et al., 2004). Crescimento e Produção
Longevidade e armazenamento: a viabilidade
das sementes dessa espécie é curta, não O crescimento do louro-mole é lento (Tabela 28),
ultrapassando 3 meses (LORENZI, 2002). podendo atingir uma produção volumétrica de até
Contudo, Martins et al. (2004), recomendam que 9,20 m3.ha-1.ano-1 aos 7 anos de idade em
essa espécie seja armazenada em saco de plástico, Rolândia, PR.
em câmara seca, por até 24 meses.
Características da Madeira
Produção de Mudas
Massa específica aparente (densidade): a
Semeadura: recomenda-se semear em sementeiras madeira dessa espécie é moderadamente densa.
e depois repicar as plântulas para sacos de Outras características: madeira compacta e de
polietileno, ou em tubetes de polipropileno de baixa durabilidade quando exposta.
tamanho médio (100 cm3 a 120 cm3).
A repicagem deve ser feita de 3 a 7 semanas após Produtos e Utilizações
a germinação, quando aparecem as folhas
definitivas, ou quando as plântulas atingem de 5 cm Aproveitamento alimentar: em algumas regiões do
a 10 cm de altura. País, as sementes do louro-mole são torradas e sua
Germinação: é epígea ou fanerocotiledonar. infusão bebida como substituta do café, contendo
inclusive cafeína (LORENZI; MATOS, 2002).
A emergência têm início de 20 a 45 dias após a
semeadura. Normalmente, a germinação é Apícola: as flores dessa espécie são melíferas,
irregular e baixa, até 53 % (AMORIM, 1996). produzindo néctar e pólen.
As mudas atingem tamanho recomendado para Celulose e papel: a madeira dessa espécie é
plantio cerca de 7 meses após a semeadura. inadequada para esse uso.
Energia: produz lenha de má qualidade.
Características Silviculturais Madeira serrada e roliça: a madeira do louro-
mole apresenta pouco uso comercial. Contudo,
Cordia ecalyculata é uma espécie heliófila ou serve para a fabricação de palitos em geral,
esciófila, medianamente tolerante a baixas caixotaria e brinquedos.
temperaturas, quando jovem.
Medicinal: é na medicina popular que essa
Hábito: apresenta formação de multitroncos. Tem planta é amplamente utilizada, sendo inclusive
a tendência de formar touceiras. comercializada, tanto na forma de extratos
líquidos e tinturas como em sachês de suas partes
Essa espécie não apresenta desrama natural, secas – folhas e ramos novos (LORENZI; MATOS,
devendo sofrer poda de condução para a formação 2002). É indicada principalmente como tônico
de um único tronco, complementada com podas cardíaco, diurético e redutor de apetite,
sucessivas para retirar os galhos grossos. acreditando-se que seu uso impede o acúmulo
Métodos de regeneração: o plantio puro a de gordura no corpo, evitando a celulite.
pleno sol deve ser evitado, pois causa No Japão, estudos conduzidos encontraram novos
esgalhamento precoce. usos medicinais para essa planta, concluindo que
Tabela 28. Crescimento de Cordia ecalyculata em plantios mistos, no Paraná e no Estado de São Paulo.
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o pré-tratamento de alguns tipos de células com o substituto da cola para papel, como indica seu
extrato alcoólico de suas folhas reduz em 99 % a nome, colita (LOPEZ et al., 1987).
penetração do vírus tipo I da herpes (HAYASHI
Paisagístico: segundo Lorenzi (2002), essa espécie
et al., 1990). Posteriormente, em outro estudo,
demonstrou-se que o desenvolvimento desse vírus pode ser aproveitada para a arborização de ruas.
foi reduzido em 33 % com doses muito baixas Plantios com finalidade ambiental: o louro-
desse extrato e ao mesmo tempo descobriu-se que mole é interessante para inclusão em plantios
doses maiores possuíam ação tóxica contra células mistos destinados à restauração de áreas
cancerosas (ARISAWA, 1994). degradadas de preservação permanente,
Em estudos mais recentes, com coelhos e cobaias, principalmente localizadas em beira de rios e de
os japoneses concluíram que o chá das folhas córregos.
dessa espécie possui propriedades cardiotônicas,
validando seu uso na medicina tradicional
(MATSUNAGA et al., 1997).
Espécies Afins
Na medicina popular, as folhas do louro-mole são O gênero Cordia L. tem aproximadamente 400
usadas pelos índios de várias etnias do Paraná e espécies nas zonas tropicais das Américas, sendo o
de Santa Catarina para combater azia e maior gênero da família.
problemas do fígado (MARQUESINI, 1995).
Cordia ecalyculata é semelhante a C. silvestris, da
Outros usos: no Paraguai, o fruto pegajoso de qual se distingue, principalmente, pelo tamanho e
C. ecalyculata é usado principalmente como pela forma de suas folhas (SMITH, 1970).
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Referências Bibliográficas
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