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RELATÓRIO DE ESTÁGIO SUPERVISIONADO ESPECÍFICO EM


PSICOLOGIA PSICANÁLISE

___________________________________
Fernanda Neves de Martins Moraes
ORIENTANDA

___________________________________
Thatyanna Karla de Britto Poggi Lins
ORIENTADORA

CABEDELO – PB
2024.2
5

FERNANDA NEVES DE MARTINS MORAES

RELATÓRIO DE ESTÁGIO SUPERVISIONADO ESPECÍFICO EM


PSICOLOGIA PSICANÁLISE

Relatório de Estágio Supervisionado


Específico I – Psicanálise, apresentado à
Professora Orientadora Thatyanna Karla de
Britto Poggi Lins, do curso de Psicologia do
Centro Universitário UNIESP, como requisito
para segunda avaliação do estágio.

CABEDELO – PB
2024.2
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SUMÁRIO

1 IDENTIFICAÇÃO ...................................................................................................... 4

2 OBJETIVOS ................................................................................................................ 5

2.1 OBJETIVO GERAL ............................................................................................... 5

2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS ........................................................................... 5

3 CARACTERIZAÇÃO DOS CAMPOS DE ESTÁGIOS ......................................... 6

3.1 DESCRIÇÃO FUNCIONAL DO LOCAL DE ESTÁGIO INTERNO ................. 6

3.2 DESCRIÇÃO DA EQUIPE DE ESTÁGIO INTERNO ........................................ 7

3.3 DESCRIÇÃO FUNCIONAL DO LOCAL DE ESTÁGIO EXTERNO .......... 8

3.4DESCRIÇÃO DA EQUIPE DE ESTÁGIO EXTERNO ........................................ 8

4. ATIVIDADES PROPOSTAS .................................................................................. 10

5 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ............................................................................ 12

5.1 A DESCOBERTA DO INCONSCIENTE ........................................................... 13

5.2. A PRIMEIRA TEORIA DO APARELHO PSIQUICO ...................................... 14

5.3 A SEGUNDA TEORIA DO APARELHO PSÍQUICO ....................................... 15

5.4 OS MECANISMOS DE DEFESA ....................................................................... 15

5.5 PRINCIPAIS RECURSOS E TÉCNICAS UTILIZADAS .................................. 17

5.6 TERAPIA PSICANALÍTICA COM CASAIS ..................................................... 17

6. CRONOGRAMA DE ATIVIDADES ..................................................................... 20

6.1 HORÁRIO DAS (OS) SUPERVISORAS (ES) 2024.2 ....................................... 20

6.2 CARGA HORÁRIA ............................................................................................. 21

7. CONCLUSÃO........................................................................................................... 22

REFERÊNCIAS ........................................................................................................... 24

ANEXOS E APÊNDICES ............................................................................................ 25


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1 IDENTIFICAÇÃO

1.1 Nome completo da aluna: Fernanda Neves de Martins Moraes


1.2 Matrícula: 2022111100048
1.3 Área de Estágio: Processos Clínicos
1.3.1 Sub-área: Psicanálise
1.4 Local do Estágio Interno: Clínica Integrada de Saúde – Psicologia
1.5 Local do Estágio Externo: Clínica Reviver
1.6 Orientadora e nº do CRP: Profª. Esp. Thatyanna Karla de Britto Poggi Lins / CRP
13-5646
1.7 Supervisora e n° do CRP (Estágio Interno): Nas quartas a tarde, Profª. Doutora
Tatiana Cavalcanti de Albuquerque Leal, CRP 13-6674
1.8 Supervisora e n° do CRP (Estágio Externo): Rebeka Ferreira CRP13/6211 e
Ismênia de Conceição Antão de Araújo Brito
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2 OBJETIVOS

2.1 OBJETIVO GERAL

Aplicação na prática dos conhecimentos adquiridos ao longo do curso de


psicologia, sobretudo aqueles que se referem às técnicas utilizadas na abordagem
psicanalítica.

2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS

 Desenvolvimento da capacidade de escuta analítica;


 Receber supervisão regular de uma profissional experiente, que orienta a
estudante em casos clínicos;
 Receber feedback e orientações para aprender e melhorar continuamente as
intervenções e a postura profissional da estudante.
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3 CARACTERIZAÇÃO DOS CAMPOS DE ESTÁGIOS

O estágio será desenvolvido na ênfase de Processos Clínicos, tendo como


pressupostos teóricos a Abordagem Psicanalítica. O meu interesse pela psicanálise surgiu
antes que eu o reconhecesse: através do meu amor pela literatura. Sempre, antes de me
enveredar pela sucessão de fatos na trama, adorava me aperceber dos significados ocultos
das imagens utilizadas pelo autor.
Devido aos vários anos de análise pessoal, pude perceber em mim mesma o
poder da psicanálise. Ao experimentar os benefícios pessoais da terapia, decidi me
aprofundar nesse campo como forma de continuar meu crescimento pessoal e, ao mesmo
tempo, ajudar os outros. Nesse contexto, iniciei um percurso de estudos em 2018, durante
os Seminários da SPP, e eles pavimentaram o meu caminho até a matrícula no curso de
Psicologia, em 2020, já tendo me tornado mãe de duas meninas.
Por causa dos seminários da SPP, fiquei extremamente apaixonada pela teoria
freudiana e pelos outros teóricos da psicanálise, como Winnicott e Klein. Fico sempre
encantada em como a psicanálise dá ênfase ao impacto das experiências da infância na
formação da personalidade e como esses fatores moldam a vida adulta.
Durante o curso de Psicologia recebi o diagnóstico de autismo de minha filha
mais nova, e, a partir daí, passei por um período muito difícil, inclusive, me questionando
se eu seguiria o caminho da psicanálise. Contudo, foi através da perspectiva da psicanálise
que eu tenho conseguido (ou tenho tentado) vivenciar essa nova história em minha vida.
Por fim, gostaria de acrescentar que eu gostaria de seguir nessa trajetória de estudos de
psicanálise.

3.1 DESCRIÇÃO FUNCIONAL DO LOCAL DE ESTÁGIO INTERNO

A Clínica Integrada de Saúde - Psicologia UNIESP oferece atendimento aos


alunos da instituição, colaboradores e comunidade externa das cidades de João Pessoa e
Cabedelo nas modalidades de Triagens, Plantões de Escuta e Atendimentos
Psicoterápicos. Os serviços funcionam de segunda-feira a sexta-feira, no horário das
08:00 às 21:00, não abrindo aos finais de semana e feriados. Nos meses de recesso dos
alunos a clínica também não efetua atendimentos.
A estrutura física do espaço conta com:
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 06 consultórios para atendimento, sendo 01 infantil;


 01 consultório para escuta psicológica;
 01 sala de observação (sala 12);
 01 sala de supervisão (sala 15);
 01 sala para supervisoras e triagem (sala 7);
 02 banheiros internos;
 01 staff de Estagiários (sala 6);
 01 recepção para usuários;
 01 recepção Técnica;
 01 sala da Responsável Técnica e guarda de materiais (sala 5).

Ademais, os responsáveis pela gestão e desenvolvimentos das atividades da clínica


são:

 Coordenadora do Curso de Psicologia - Profª. Dra. Maria da Penha de Lima


Coutinho
 Gestora da Clínica Integrada de Saúde – Psicologia UNIESP: Carla Jeane de
Melo Mendonça
 Responsável Técnica da Clínica Integrada de Saúde – Psicologia UNIESP:
Profª. Dra. Aline Arruda Rodrigues da Fonseca

3.2 DESCRIÇÃO DA EQUIPE DE ESTÁGIO INTERNO

Fazem parte da Clínica Integrada de Saúde – Psicologia UNIESP quatro


funcionárias responsáveis pelo atendimento aos clientes e pela recepção, as quais têm
como função receber os clientes, encaminhar para o atendimento ou acolhimento, agendar
os atendimentos juntamente com os estagiários, receber o pagamento do serviço cobrado
pela Instituição, entre outras atividades. Compõe, ainda, o quadro funcional, a equipe de
serviços gerais que é responsável pela limpeza e organização do ambiente.
Os (as) alunos (as) relacionados a seguir serão os (as) responsáveis pelos
atendimentos e demais atividades desenvolvidas pelo grupo da Abordagem Psicanalítica,
durante o semestre 2024.2:
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EQUIPE:

ÁGDA RODRIGUES DA SILVA


ANA BEATRIZ VASCONCELOS ARAGÃO
ANA KARLA SILVA VIANA
ARIZA MARIA PESSOA SILVA
FERNANDA NEVES DE MARTINS MORAES
IANNY RODRIGUES DO AMARAL
JOÃO VICTOR TOSCANO ALBERT
MARIA ISABELA SEABRA BATISTA
RAFAELLY KEROLAYNNE FERREIRA LOURENÇO FEITOSA
RENATA FREIRE ROCHA DUARTE

ORIENTADORA: Profª. Esp. Thatyanna Karla de Britto Poggi Lins / CRP13-5646

3.3 DESCRIÇÃO FUNCIONAL DO LOCAL DE ESTÁGIO EXTERNO

A Clínica Rede Reviver - Unidade Manaíra é uma clínica de saúde mental


dedicada ao cuidado integral e acolhimento familiar, com ênfase no atendimento de
pessoas neurodivergentes e neuroatípicas. Com uma abordagem multidisciplinar, a
Reviver reúne uma equipe de profissionais qualificados, incluindo médicos de diferentes
especialidades, psicólogos, terapeutas ocupacionais, fonoaudiólogos, psicopedagogos,
fisioterapeutas, nutricionistas, musicoterapeutas, analistas do comportamento e outros
especialistas, que trabalham em conjunto para oferecer intervenções personalizadas e
baseadas em evidências científicas.

3.4DESCRIÇÃO DA EQUIPE DE ESTÁGIO EXTERNO

A Clínica Rede Reviver foi inaugurada em novembro de 2020 e, atualmente, conta


com oito unidades distribuídas entre os estados da Paraíba e Pernambuco, sendo cinco
localizadas em João Pessoa e três em cidades pernambucanas. Os serviços da clínica são
oferecidos de segunda a sexta-feira, no horário das 07:20 às 20:00, e aos sábados, das
07:20 às 12:00.
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A Clínica Rede Reviver – Unidade Manaíra dispõe de uma equipe estruturada e


diversificada, incluindo 42 acompanhantes terapêuticos. Além da equipe
multiprofissional, conta com profissionais de apoio, recepcionistas, auxiliares de limpeza
e estagiárias (Gabriela, Nívia e Licaely).
A infraestrutura da clínica foi projetada para proporcionar um ambiente funcional e
acolhedor, contando com:
 73 salas de atendimento;

 Recepção ampla;

 Copa;

 Sala destinada aos pais para trabalho remoto enquanto aguardam;

 Elevador;

 Quatro andares;

 Sala de apoio;

 Piscina.

Por fim, a equipe de Gestão e Coordenação é formada por:

 Coordenadora Clínica - Ismênia de Conceição Antão de Araújo Brito;

 Gestão Administrativa - Victor Yared e Rebeka Yared;

 Responsável Técnica pelo Time de Assistentes Terapêuticas (AT) - Camila


Lebmann,
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4. ATIVIDADES PROPOSTAS

As atividades propostas nesse plano de estágio abrangem os atendimentos


realizados no semestre 2024.2 na Clínica Integrada de Saúde – Psicologia UNIESP e na
Rede Reviver, pelos (as) estagiários (as) da disciplina de Estágio Específico I -
Psicanálise. A previsão é de que possamos desenvolver semanalmente as seguintes
atividades listadas abaixo, sendo estas individuais, tendo como clientela idosos, adultos,
jovens e crianças.

 Triagem: processo realizado por alunos do 8º, 9º e 10º períodos. Tem como
objetivo acolher e esclarecer a demanda e providenciar encaminhamento interno,
para as diversas modalidades de atendimento oferecidos pela clínica, e externo,
para terapeutas cadastrados (ex-estagiários ou autônomos) ou outras instituições.
 Plantão de Escuta: objetiva oferecer uma escuta especializada às chamadas das
pessoas que procuram a clínica, ou que sejam encaminhadas por instituições e
outros profissionais, no sentido de acolher e encaminhar gradualmente as suas
necessidades.
 Atendimento Psicoterápico: realizado pelo (a) estagiário (a) que já se encontra
liberado (a) pela orientadora. O atendimento inclui as evoluções de prontuários
devidamente orientados semanalmente.
 Estudo individual e em grupo: realizadas de forma sistemática leituras de
textos que fundamentam a prática clínica e embasam cientificamente o estágio,
de forma a contabilizar como carga horária de atividade.
 Orientação: encontros semanais, com duração de cinco horas para discussões
da técnica, prática e manejo clínico de casos em andamento, com organização
de material de atendimento, evolução de prontuários e discussões em grupo a
respeito das demandas acolhidas por cada estagiário (a).
 Supervisão: realizada pelas supervisoras que estiverem de plantão nos dias em
que cada estagiário (a) estiver em atendimento. Tem como objetivo dar o suporte
ao (a) estagiário (a) presente na clínica, tirando as dúvidas e atendendo as
demandas mais urgentes durante a prática.
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 Observação: realizada semanalmente na Rede Reviver mediante


acompanhamento das psicólogas nos atendimentos clínicos infantis vivenciados
na instituição.
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5 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Conforme nos ensina Talaferro (2016), existe um estreito paralelismo entre a


evolução da psicanálise e a vida de Sigmund Freud, a ponto de ser impossível empreender
uma história do movimento psicanalítico sem conhecer os aspectos mais importantes da
vida do criador desse método tão divulgado nos dias de hoje. Sigmund Freud foi o
fundador da psicanálise na passagem do século XIX para o século XX, e ele afirmava
que, ao construir sua teoria, ele não pretendia formar convicções, mas estimular o
pensamento e derrubar preceitos.
O método psicanalítico instituiu-se como ciência no início do século XX, a partir
da investigação empírica de Sigmund Freud sobre a vida mental de pacientes psiquiátricos
e portadores de sofrimento psíquico, sobretudo a histeria. Ao longo dos anos, a evolução
dos conceitos teóricos descobertos por Freud e dos preceitos técnicos por ele propostos
propiciou um extenso conhecimento sobre os processos mentais, com a aquisição de
ferramentas importantes para alívio de sintomas, diminuição do sofrimento, melhora da
qualidade das relações interpessoais, desenvolvimento da criatividade e aumento da
capacidade de adaptação dos pacientes (Talaferro, 2016).
Segundo Bock (2018), Sigmund Freud (1856-1939) foi um médico vienense que
alterou, radicalmente, o modo de pensar a vida psíquica. Freud formou-se em Medicina
na Universidade de Viena, em 1881. Trabalhou algum tempo em um laboratório de
Fisiologia e deu aulas de Neuropatologia no instituto onde trabalhava.
Por dificuldades financeiras, não pode dedicar-se integralmente à vida
acadêmica e de pesquisador. Começou, então, a clinicar, atendendo pessoas acometidas
de problemas nervosos. Obteve, ao final da residência médica, uma bolsa de estudo para
Paris, onde trabalhou com Jean Charcot, psiquiatra francês que tratava as histerias com
hipnose.
De acordo com Talaferro, o grande nome no campo da hipnose empregada para
fins científicos era o do eminente neurologista Charcot, que professava na famosa
Salpetrière, em Paris, e cujos ecos das espetaculares descobertas chegaram aos ouvidos
de Freud, que conseguiu fundos de uma bolsa para estagiar e acompanhar de perto o
carismático mestre francês, no período de setembro de 1885 a fevereiro de 1886.
Sobretudo, dois aspectos impressionavam a Freud: a existência da histeria em homens e
a observação da dissociação da mente, induzida pela hipnose (Bock, 2018).
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Em 1886, retornou a Viena e voltou a clinicar, e seu principal instrumento de


trabalho na eliminação dos sintomas dos distúrbios nervosos passou a ser a sugestão
hipnótica. Em Viena, o contato de Freud com Josef Breuer, médico e cientista, também
foi importante para a continuidade das investigações.
Nesse sentido, o caso de uma paciente de Breuer foi significativo. Ana O.
apresentava um conjunto de sintomas que a fazia sofrer: paralisia com contratura
muscular, inibições e dificuldades de pensamento. Esses sintomas tiveram origem na
época em que ela cuidara do pai enfermo.
Conforme Zimermann (1999), o período em que cumprira essa tarefa, ela havia
tido pensamentos e afetos que se referiam a um desejo de que o pai morresse. Estas ideias
e sentimentos foram reprimidos e substituídos pelos sintomas. Em seu estado de vigília,
Ana O. não era capaz de indicar a origem de seus sintomas, mas, sob o efeito da hipnose,
relatava a origem de cada um deles, que estavam ligados a vivências anteriores da
paciente, relacionadas com o episódio da doença do pai. Com a rememoração destas cenas
e vivências, os sintomas desapareciam. Este desaparecimento não ocorria de forma
“mágica”, mas devido à liberação das reações emotivas associadas ao evento traumático
— a doença do pai, o desejo inconsciente da morte do pai enfermo (Zimermann, 1999).
Breuer denominou “método catártico” o tratamento que possibilita a liberação
de afetos e emoções ligadas a acontecimentos traumáticos que não puderam ser expressos
na ocasião da vivência desagradável ou dolorosa. Esta liberação de afetos leva à
eliminação dos sintomas.

5.1 A DESCOBERTA DO INCONSCIENTE

Conforme relatado por Bock (2018), o esquecido era sempre algo penoso para o
indivíduo e era exatamente por isso que havia sido esquecido, enquanto o penoso não
significava, necessariamente, sempre algo ruim, mas podia se referir a algo bom que se
perdera ou que fora intensamente desejado. Quando Freud abandonou as perguntas no
trabalho terapêutico com os pacientes e os deixou dar livre curso às suas ideias, observou
que, muitas vezes, eles ficavam embaraçados, envergonhados com algumas ideias ou
imagens que lhes ocorriam. A esta força psíquica que se o processo psíquico que visa
encobrir, fazer desaparecer da consciência, opunha a tornar consciente, a revelar um
pensamento, Freud denominou resistência. E chamou de repressão uma ideia ou
representação insuportável e dolorosa que está na origem do sintoma. Estes conteúdos
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psíquicos localizam-se no inconsciente. Conforme as palavras de Freud, tais descobertas


constituíram a base principal da compreensão das neuroses e impuseram uma
modificação do trabalho terapêutico. Seu objetivo era descobrir as repressões e suprimi-
las através de um juízo que aceitasse ou condenasse definitivamente o excluído pela
repressão.
Considerando este novo estado de coisas, deu ao método de investigação e cura
resultante o nome de psicanálise em substituição ao de catártico. Assim como esclarece
Zimerman (1999), “até 1906, Freud já havia lançado as sementes essenciais do edifício
psicanalítico, como foram as noções da descoberta do inconsciente dinâmico como
principal motivador da conduta consciente das pessoas, o fenômeno da “livre associação
de ideias”, a importância dos sonhos como via régia de acesso ao inconsciente, a
sexualidade na criança, estruturada em torno da cena primária e do complexo de Édipo,
o fenômeno das resistências e, por conseguinte, das repressões, a transferência, e a
presença constante de dualidades no psiquismo - como a dos dois tipos de pulsões - assim
como do conflito psíquico resultante de forças contrárias, do consciente versus
inconsciente, princípio do prazer e o da realidade, processos primário e secundário, dentre
outras dualidades mais”.

5.2. A PRIMEIRA TEORIA DO APARELHO PSIQUICO

Em 1900, no livro A interpretação dos sonhos, Freud apresenta a primeira


concepção sobre a estrutura e o funcionamento da personalidade. Essa teoria refere-se à
existência de três sistemas ou instâncias psíquicas: inconsciente, pré-consciente e
consciente. Segundo as conceituações trazidas pela autora Ana Bock, o inconsciente
exprime o “conjunto dos conteúdos não presentes no campo atual da consciência”. É
constituído por conteúdos reprimidos, que não têm acesso aos sistemas pré-
consciente/consciente, pela ação de censuras internas. Estes conteúdos podem ter sido
conscientes, em algum momento, e ter sido reprimidos, isto é, “foram” para o
inconsciente, ou, ainda, podem ser genuinamente inconscientes. O inconsciente é um
sistema do aparelho psíquico regido por leis próprias de funcionamento (Bock, 2018).
O pré-consciente refere-se ao sistema onde permanecem aqueles conteúdos
acessíveis à consciência. É aquilo que não está na consciência, neste momento, e no
momento seguinte pode estar. O consciente é o sistema do aparelho psíquico que recebe
ao mesmo tempo as informações do mundo exterior e as do mundo interior. Na
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consciência, destaca-se o fenômeno da percepção, principalmente a percepção do mundo


exterior, a atenção, o raciocínio (Bock, 2018).

5.3 A SEGUNDA TEORIA DO APARELHO PSÍQUICO

Entre 1920 e 1923, Freud remodela a teoria do aparelho psíquico e introduz os


conceitos de id, ego e superego para referir-se aos três sistemas da personalidade. Ainda
conforme o que nos esclarece a autora Ana Bock (2018), o id constitui o reservatório da
energia psíquica, é onde se “localizam” as pulsões: a de vida e a de morte. As
características atribuídas ao sistema inconsciente, na primeira teoria, são, nesta teoria,
atribuídas ao id. É regido pelo princípio do prazer.
O ego é o sistema que estabelece o equilíbrio entre as exigências do id, as
exigências da realidade e as “ordens” do superego. Procura “dar conta” dos interesses da
pessoa. É regido pelo princípio da realidade, que, com o princípio do prazer, rege o
funcionamento psíquico. É um regulador, na medida em que altera o princípio do prazer
para buscar a satisfação considerando as condições objetivas da realidade. Neste sentido,
a busca do prazer pode ser substituída pelo evitamento do desprazer. As funções básicas
do ego são: percepção, memória, sentimentos, pensamento.
O superego origina-se com o complexo de Édipo, a partir da internalização das
proibições, dos limites e da autoridade. Assim, a moral e os ideais são funções do
superego. O conteúdo do superego refere-se a exigências sociais e culturais.

5.4 OS MECANISMOS DE DEFESA

A percepção de um acontecimento, do mundo externo ou do mundo interno,


pode ser algo muito constrangedor, doloroso, desorganizador. Para evitar este desprazer,
a pessoa “deforma” ou suprime a realidade — deixa de registrar percepções externas,
afasta determinados conteúdos psíquicos, interfere no pensamento.
São vários os mecanismos que o indivíduo pode usar para realizar esta
deformação da realidade, chamados de mecanismos de defesa. São processos realizados
pelo ego e são inconscientes, isto é, ocorrem independentemente da vontade do indivíduo.
Para Freud, defesa é a operação pela qual o ego exclui da consciência os conteúdos
indesejáveis, protegendo, desta forma, o aparelho psíquico.
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O ego — uma instância a serviço da realidade externa e sede dos processos


defensivos — mobiliza estes mecanismos, que suprimem ou dissimulam a percepção do
perigo interno, em função de perigos reais ou imaginários localizados no mundo exterior.
Pelos ensinamentos de Talaferro (2016), estes mecanismos são:
• Recalque: o indivíduo “não vê”, “não ouve” o que ocorre. Existe a supressão
de uma parte da realidade. Este aspecto que não é percebido pelo indivíduo faz parte de
um todo e, ao ficar invisível, altera, deforma o sentido do todo. E como se, ao ler esta
página, uma palavra ou uma das linhas não estivesse impressa, e isto impedisse a
compreensão da frase ou desse outro sentido ao que está escrito. Um exemplo é quando
entendemos uma proibição como permissão porque não “ouvimos” o “não”. O recalque,
ao suprimir a percepção do que está acontecendo, é o mais radical dos mecanismos de
defesa. Os demais referem-se a deformações da realidade.
• Formação reativa: o ego procura afastar o desejo que vai em determinada
direção, e, para isto, o indivíduo adota uma atitude oposta a este desejo. Um bom exemplo
são as atitudes exageradas — ternura excessiva, superproteção — que escondem o seu
oposto, no caso, um desejo agressivo intenso. Aquilo que aparece (a atitude) visa esconder
do próprio indivíduo suas verdadeiras motivações (o desejo), para preservá-lo de uma
descoberta acerca de si mesmo que poderia ser bastante dolorosa.
• Regressão: o indivíduo retorna a etapas anteriores de seu desenvolvimento; é
uma passagem para modos de expressão mais primitivos.
• Projeção: é uma confluência de distorções do mundo externo e interno. O
indivíduo localiza (projeta) algo de si no mundo externo e não percebe aquilo que foi
projetado como algo seu que considera indesejável.
• Racionalização: o indivíduo constrói uma argumentação intelectualmente
convincente e aceitável, que justifica os estados “deformados” da consciência. Isto é, uma
defesa que justifica as outras. Portanto, na racionalização, o ego coloca a razão a serviço
do irracional e utiliza para isto o material fornecido pela cultura, ou mesmo pelo saber
científico.
Além destes mecanismos de defesa do ego, existem outros: denegação,
identificação, isolamento, anulação retroativa, inversão e retorno sobre si mesmo. Todos
nós os utilizamos em nossa vida cotidiana, isto é, deformamos a realidade para nos
defender de perigos internos ou externos, reais ou imaginários. O uso destes mecanismos
não é, em si, patológico, contudo, distorce a realidade, e só o seu desvendamento pode
nos fazer superar essa falsa consciência, ou melhor, ver a realidade como ela é.
17

5.5 PRINCIPAIS RECURSOS E TÉCNICAS UTILIZADAS

Conforme nos ensina Cordioli (2008), na psicanálise, o analista adota uma


atitude neutra em relação ao paciente, enquanto este é orientado a expressar livremente e
sem censura os seus pensamentos, sentimentos, fantasias, sonhos, imagens, assim como
as associações que lhe ocorrem, sem prejulgar sua relevância ou significado. O terapeuta
é neutro, uma vez que evita fazer julgamentos sobre os pensamentos, desejos e
sentimentos do paciente. Apenas procura compreendê-los.
O terapeuta se mantém com uma escuta atenta, podendo interromper as
associações do paciente, fazendo com que ele observe determinadas conexões entre fatos
de sua vida mental (interpretação), particularmente emoções ou fantasias relacionadas
com a pessoa do terapeuta (transferência), que passam despercebidas, e refletir sobre o
seu significado subjacente (inconsciente).
Em virtude da neutralidade, da repetição frequente das sessões e do setting, são
estabelecidas uma regressão e uma relação transferencial por parte do paciente, que passa
a deslocar para a pessoa do terapeuta pensamentos e sentimentos voltados
originariamente para indivíduos importantes de seu passado, repetindo padrões primitivos
de relacionamento.
Dessa forma, o passado se torna presente na chamada neurose de transferência.
Por intermédio das interpretações, centradas na análise e na resolução da referida neurose
transferencial, o paciente pode obter insight sobre tais padrões primitivos e desadaptados
de relações interpessoais, compreender a origem de traços patológicos de seu caráter,
reviver emoções perturbadoras associadas a figuras do passado, modificá-las e livrar-se
dos sintomas. Um princípio básico da psicanálise é a elaboração. A interpretação
repetitiva, a observação, a confrontação e a verbalização permitirão ao paciente elaborar
os seus conflitos, isto é, adquirir domínio sobre os conflitos internos e sobre as emoções
a ele associadas.

5.6 TERAPIA PSICANALÍTICA COM CASAIS

Todo casal presta-se a um jogo dialético entre o “repetir” e o “recriar”, porém,


algumas vezes, acontece unicamente o “repetir”, em cujos casos fica evidenciada a
predominância das pulsões tanáticas, lutos não-elaborados, segredos familiares ou
fixações excessivas em etapas evolutivas mal resolvidas. As configurações vinculares
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repousam fundamentalmente nos tipos de vínculos – os de amor, de ódio, de


conhecimento e de reconhecimento – que, conjuntamente, cimentam todos os
relacionamentos de qualquer pessoa, tal como é, por exemplo, na estruturação – normal
ou patológica – de um casal.
A motivação principal para a busca de tratamento do casal é a de uma destas
possibilidades: uma tentativa de salvar o casamento; ou a de aceitar que a separação já
esteja irreversível, porém o casal deseja que ela seja a menos traumática possível,
especialmente para os filhos; também acontece frequentemente que um dos cônjuges já
esteja decidido pelo divórcio, enquanto o outro não aceita de forma alguma e luta pela
manutenção da união.
Existe um expressivo número de casais que está em crise, sem saber disto,
porque dissimulam, acomodaram-se ou estabeleceram algum tipo de arranjo que vem
auxiliado pelo recurso defensivo da negação, o qual serve para ambos do casal.
Entretanto, é necessário ressaltar que muitas crises são muito favoráveis, no sentido de
que representem um ponto de culminância de que algo de importante, e mais sadio, vá se
transformar na relação do casal.
Na maioria das vezes, o ato de separação aciona um processo que desmascara e
atualiza conflitos anteriores, além de trazer à tona o que estava denegado. A crise de
separação pode ser comparada à da adolescência, pois em ambas se reativam os antigos
conflitos com as famílias de origem, do que resulta uma desordem nas identificações. As
principais causas que desgastam um casal, a ponto de conduzir a um desejo de separação,
em linhas gerais, são as seguintes: a) uma profunda desilusão quando a realidade
desmente a expectativa paradisíaca que a – recíproca – idealização extrema, própria da
fase da paixão, prometeu a ambos, b) personalidades por demais imaturas e dependentes
sucumbem diante de exigências para as quais não estão preparados, como é o nascimento
e cuidados com os filhos, crises existenciais, etc; c) a entrada em cena de uma terceira
pessoa, a do(a) amante de um dos cônjuges.
Na prática clínica, os objetivos de uma terapia de casal visam a que o terapeuta
contribua para reconhecer o tipo de colusão que preside o vínculo do casal. As colusões
formam-se a partir de um jogo, uma forma de “brincar”, conjunta, que não é reconhecido
conscientemente pelos integrantes do casal, individualmente, principalmente em
decorrência do fato de que ambos compartilham um fundamental conflito inconsciente
similar.
19

Restabelecer o processo de comunicação que, habitualmente, já está muito


comprometido, de modo a possibilitar uma forma menos beligerante na transmissão do
discurso e uma melhor capacidade de escuta daquilo que o outro está tentando comunicar.
O terapeuta deve enfatizar o quanto a palavra deixou de ser um vínculo de comunicação
e se tornou um instrumento a serviço de projeções agressivas. Mostrar que a radicalização
dos papéis e das posições - presente na maioria das vezes) - por parte de cada um, atingiu
tal ponto que, no rastro disso, ambos se escudam na sua família de origem e ataca a do
outro, de forma que o campo dinâmico do casal, ainda que de forma invisível, fica muito
ampliado e tumultuado
David E. Zimerman (2012) propõe o entendimento de quatro aspectos que
sempre estão presentes em todo e qualquer casal e que determinam as alternâncias entre
os encontros e desencontros, os bons e os maus momentos, os criativos e os destrutivos.
Os referidos quatro elementos são: a parte sadia de um dos cônjuges; a parte doente dele;
a parte sadia do outro cônjuge; a parte doente desse.
Tanto quanto possível, deve ficar bem claro no contrato analítico que o paciente
é o casal, de modo que não haverá atendimento individual sistemático se o outro não
estiver presente. A transferência da dupla, em relação ao terapeuta do casal, pode recriar
uma “cena primária triangular”, na qual alguém se sinta, ou mesmo, fique excluído. O
analista deve ficar atento para que isso não aconteça, tendo em vista a possibilidade de
que ele se identifique com um dos cônjuges, contra o outro, o que seria um sério erro
técnico. As reações transferenciais podem ficar em um nível de abstração simbólica ou
manifestar-se direta e concretamente, fato que, não raramente, pode induzir o terapeuta a
cometer atitudes contratransferenciais e, às vezes, deixá-lo como que paralisado.
20

6. CRONOGRAMA DE ATIVIDADES

Estão previstas para todos (as) os (as) alunos (as) estagiários (as) durante o
decorrer do semestre 2024.2, algumas atividades para o Estágio Supervisionado
Específico. Tais atividades estarão voltadas principalmente para os acolhimentos, as
triagens, os acompanhamentos psicológicos individualizados, os estudos, a orientação, a
supervisão e a observação, tanto na Clínica Integrada de Saúde quanto na Clínica Reviver.

6.1 HORÁRIO DAS (OS) SUPERVISORAS (ES) 2024.2

SEGUNDA TERÇA QUARTA QUINTA SEXTA


Profª Tatiana Profª. Ana Profª. Profª. Aline
(Plantão) Sandra Thatyanna (Plantão)
(Plantão) (Supervisão)

Profª.
08h às
Profª. Aline Thatyanna
12h Profª Élyman
(Plantão) (Plantão)
(Supervisão) Profº. Luis
Profª. Aline
Augusto
(Plantão)
(Supervisão)
Profª. Aline Profº. Luis
(Plantão) Augusto
(Supervisão)

Profª. Profª. Anna


Ana Sandra Kalline Profº. Pablo
(Supervisão) (Supervisão) (Supervisão)
Profª.
13h às Tatiana
Profª. Olívia
17h (Supervisão) Profª. Anna
(Supervisão)
Kalline
Profª. Anna
Profª Élyman (Supervisão)
Kalline
(Plantão)
(Plantão)
Profº. Luis
Augusto

Profª. Anna Profº. Pablo


17h às
Kalline Profº. Luis (Plantão) Profª. Olívia
21h
(Plantão) Augusto Profº. Luis (Plantão)
Augusto
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6.2 CARGA HORÁRIA

Carga horária semanal 13 horas (20 semanas)

UNIDADE 01

 04h Orientação
 04h Estágio Presencial na Clínica Integrada de
Saúde
 02h Grupo de Estudo
 03h Estudo Individual

UNIDADE 02

 04h Orientação
 04h Estágio Presencial na Clínica Integrada de
Saúde
 02h Estágio Presencial na Rede Reviver
 02h Grupo de Estudo
 01h Estudo Individual

Carga horária 260 horas


total/semestral
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7. CONCLUSÃO

O estágio na clínica, com ênfase na abordagem psicanalítica, foi a experiência


mais aguardada ao longo do curso. Desde o primeiro encontro com a supervisora
Thatyanna Britto, senti-me valorizada ao ser chamada de profissional, de psicóloga. Essa
postura marcou profundamente minha trajetória. A supervisora destacou-se pela
condução organizada e segura, nos dando ensinamentos constantes sobre nossa postura e
prática clínica. Sua orientação foi essencial não apenas para meu crescimento técnico,
mas também para meu desenvolvimento pessoal.
As supervisões semanais, centradas em discussões de casos clínicos, foram um
dos pontos mais altos de todo o estágio. O ambiente da clínica-escola possui com salas
bem estruturadas, oferecendo a segurança necessária para desenvolver habilidades
práticas. Vivenciar a construção de vínculos terapêuticos com os pacientes foi uma
experiência enriquecedora e inesquecível.
Contudo, um desafio foi a quantidade limitada de atendimentos, que dificultou
a continuidade do vínculo com os pacientes. Com alguns pacientes eu senti que, quando
a confiança estava sendo estabelecida, chegou a hora de parar. No início, a condução das
sessões gerou bastante ansiedade, e eu fiquei com muito receio de cometer erros ou fazer
intervenções inadequadas. Entretanto, o apoio recebido nas supervisões ajudou a
fortalecer minha confiança ao longo do estágio.
No estágio externo, a liberdade para decidir as atividades possibilitou a
adaptação das atividades ao meu objetivo pessoal, que é trazer o foco para a ampliação
do entendimento sobre o papel da família no processo terapêutico. Essa experiência
trouxe desafios, especialmente relacionados à adaptação às limitações do espaço físico da
clínica: foi preciso utilizar um dos únicos espaços de convivência disponível.
Entre as sugestões de melhoria para a clínica-escola, destaco a necessidade de
atualizar os materiais utilizados na sala infantil, de modo a otimizar o atendimento nesse
público.
Os objetivos traçados no início do estágio foram plenamente alcançados.
Consegui desenvolver maior autonomia na condução de atendimentos e ampliar meu
repertório técnico na abordagem psicanalítica. As experiências internas e externas
complementaram-se, oferecendo uma visão abrangente das possibilidades de atuação na
Psicologia.
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O estágio foi, sem dúvida, um período essencial de aprendizado e crescimento,


tanto técnico quanto pessoal. As vivências e os desafios enfrentados contribuíram para
meu amadurecimento, deixando-me mais preparada para os desafios futuros e com uma
base sólida para continuar meu desenvolvimento na área.
24

REFERÊNCIAS

BOCK, A. M. B. Psicologias: uma introdução ao estudo da psicologia. 15 ed. São


Paulo: Saraiva Educação, 2018.

CORDIOLI, A. V. Psicoterapias: abordagens atuais. 3. Ed – Porto Alegre: Artmed,


2008.

DI OSTI, N. M. Psicoterapia de casal em um serviço-escola de Psicologia: uma ilustração


clínica. Estudos e pesquisas em psicologia. 2016. Disponível em: <Psicoterapia de casal
em um serviço-escola de Psicologia: uma ilustração clínica | Osti | Estudos e Pesquisas
em Psicologia (uerj.br)>. Acesso em: 15 de outubro de 2024.

TALLAFERRO A. Curso básico de psicanálise. 3. ed- São Paulo: Martins Fontes, 2016.

ZIMERMAN, D.E. Fundamentos Psicanalíticos: teoria, técnica e clínica. Porto


Alegre: Artmed, 1999.

ZIMERMAN, D. E. Manual de técnica psicanalítica. Porto Alegre: Artmed, 2012


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ANEXOS E APÊNDICES

ANEXO A – FOTOS DA REDE REVIVER


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ANEXO B - RELATÓRIO REDE REVIVER

30/09
Nesse primeiro dia de estágio externo, eu e minha colega Renata decidimos
fazer, inicialmente, uma observação da movimentação e dinâmica do local, antes de
definir qual seria a atividade que desenvolveríamos na Reviver. Foi percebido que a
recepção da clínica apresentou um fluxo constante de pessoas, parecendo a estrutura de
uma clínica médica convencional. A televisão foi mantida ligada de forma constante na
recepção, o que não contribui para um ambiente de interação entre as pessoas. Durante o
período de observação, foi notório que muitos pais estavam frequentemente envolvidos
com seus celulares. Outro aspecto que chamou a atenção foi a ausência de um parquinho
ou espaço dedicado à diversão infantil. A percepção de que há crianças na clínica se dá
basicamente pelo fato de observarmos os pequenos entrando e saindo das salas com as
terapeutas. O espaço da clínica não oferece condições adequadas para a interação entre
os pais, os profissionais e as crianças. A disposição dos móveis e a falta de áreas
destinadas ao convívio dificultam a criação de um ambiente mais acolhedor.
Em decorrência do que foi observado na clínica, eu e Renata decidimos organizar
uma roda de conversa na área externa da clínica, com chá e biscoitos. O objetivo dessa
roda de conversa foi criar um espaço acolhedor para que os familiares das crianças em
tratamento pudessem compartilhar experiências, dúvidas e anseios, promovendo uma
troca de vivências e, quem sabe, colaborando para a formação de uma rede de apoio entre
eles.

07/10
No primeiro dia da roda de conversa, organizamos um encontro acolhedor com
chá e biscoitos, convidando os participantes a interagirem. Nesse momento inaugural,
realizamos a escuta de duas avós que vieram juntas trazer o neto, diagnosticado com
autismo. Enquanto conversavam, as avós dividiram suas narrativas sobre como
identificaram os primeiros sinais do transtorno e sobre o impacto do diagnóstico na
dinâmica familiar, especialmente para os pais da criança. Foi interessante observar que,
ao se separarem, o teor das conversas mudou. A avó materna começou a compartilhar
suas preocupações em relação à filha, que não pode deixar de trabalhar devido à
insuficiência da renda do marido. Ela expressou o desejo de levar a filha e os netos para
morar com ela no interior do Ceará. Demonstrou também inquietação com a gravidez da
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filha, temendo que o novo bebê também possa ser diagnosticado com autismo. Por outro
lado, ao ficarmos a sós com a avó paterna, ela trouxe uma visão um pouco mais crítica
sobre a mãe da criança. Em sua percepção, a nora estaria excessivamente focada no
trabalho, o que, segundo ela, comprometeria os cuidados com o filho. Nas entrelinhas,
sugeriu que sua casa seria um espaço de referência para o neto, mencionando que ele só
aceita comer a comida preparada por ela.

14/10
Durante a roda de conversa, a figura que mais me marcou foi uma avó que traz
sua neta adolescente, com deficiência intelectual, para as terapias. Ela é avó materna da
jovem e, inicialmente, relatou as dificuldades enfrentadas nos primeiros anos de vida da
neta, destacando o esforço incansável de sua filha em prol do desenvolvimento da menina.
Após a terapeuta chamar a adolescente para a sessão, a avó começou a compartilhar sua
própria história, revelando dores profundas de um passado que ainda parecia afetá-la
intensamente. Ela falou sobre seu filho adotivo, que hoje vive em São Paulo, tem uma
boa família e leva uma vida organizada, mas cuja adolescência foi marcada por muitos
conflitos e turbulências. A grande mágoa dessa mãe estava relacionada à culpa que sentia
por, inicialmente, ter recusado assumir a criação desse menino, que era filho de parentes
distantes.
Ainda nesta mesma tarde, participou uma mãe que veio do Rio de Janeiro. Ela
relatou que, durante a pandemia, estava trabalhando em home office e é mãe de duas
filhas. A filha mais nova, de 13 anos, desenvolveu compulsão alimentar e está atualmente
em acompanhamento psicológico e nutricional na clínica. A mãe demonstrou um
sentimento profundo de culpa por não ter identificado os sinais da compulsão alimentar
da filha anteriormente, atribuindo isso à intensa carga de trabalho a que estava submetida.
No entanto, explicou que, agora, tem dedicado mais atenção à filha, reduzindo suas horas
de trabalho para estar mais presente. Além disso, decidiu iniciar seu próprio processo
terapêutico, buscando apoio para lidar com suas emoções e desafios.

28/10
Neste dia, recebemos na clínica uma avó que trouxe o neto, diagnosticado com
autismo, para atendimento. Ela nos relatou que, desde o falecimento de sua mãe, sentiu-
se abatida e deprimida. Por essa razão, pediu ao filho, pai das crianças, que permitisse
que seus netos ficassem sob seus cuidados. São duas crianças: o neto de 4 anos, que
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realiza terapia, e a neta mais nova, de 3 anos, que permanece com ela na recepção.
Percebendo que a avó necessitava daquele espaço para ser ouvida, tomei a iniciativa de
brincar com a neta, colhendo flores das árvores e criando pulseiras e colares. Assim,
Renata pôde se concentrar em escutar a avó de maneira mais atenta. Naquele momento
específico, cuidar da neta foi também uma forma de cuidar da avó, proporcionando um
ambiente acolhedor para ambas.

04/11
Devido a questões logísticas e imprevistos, neste dia a nossa colega Isabela
também participou. Como não havíamos planejado previamente, não realizamos a roda
de conversa nos moldes habituais. No entanto, ao nos sentarmos no local de costume,
uma das mães, que já nos conhecia, aproximou-se para conversar. Ela compartilhou seu
desejo de prestar concurso na área de pedagogia, explicando que gostaria de expandir
seus horizontes e sair um pouco do universo exclusivo da maternidade e das preocupações
constantes com o filho. Embora o filho dela não tenha autismo, ele realiza algumas
terapias específicas. Segundo ela, o menino está indo muito bem, conforme informado
pela escola, mas ela ainda o percebe como imaturo em relação aos colegas da mesma
idade. Também conhecemos uma babá que estava no local, ocupada fazendo uma rede de
pesca (jererê) enquanto esperava. Ela nos contou que leva o filho da patroa à clínica, pois
“com ela o menino entra sem chorar”. A babá demonstrou grande afeto e gratidão pelos
patrões, mas revelou estar cansada, mencionando que só continuará no trabalho porque a
patroa está grávida. Ela contou que, desde o nascimento do menino diagnosticado com
autismo, é ela quem dorme com ele todas as noites, descrevendo o amor que sente pelo
menino como o de uma mãe por um filho.

11/11
Esse foi o último dia, e encontrei uma mãe com quem já havia realizado um
curso de assistente terapêutica. Ela veio conversar comigo e demonstrou grande alegria
em me rever, enquanto relatava as dificuldades com sua filha, que ainda não fala, algo
que a angustia profundamente. Apesar de suas palavras revelarem dor contida, seu
discurso também trazia críticas ao que considerava uma postura vitimista de algumas
mães. Isso gerou um certo desconforto com outra mãe presente, que comentou que
costuma entregar o celular à filha pela manhã para ajudá-la a acordar e não perder a hora
da escola. Em resposta, a primeira mãe, em tom mais rígido, insinuou que a criança
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chorava apenas para manipular e afirmou que, se fosse sua filha, deixaria que ela chorasse
até se cansar.
Nessa tarde encontramos a avó e a neta que gostou de brincar de fazer pulseiras
de flores, e dessa vez foi Renata quem mais brincou com a neta. Explicamos que aquela
seria nossa última tarde de atendimento na clínica, e eu presenteei a menina com uma
cartela de adesivos que ela gostou muito.
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ANEXO C - FREQUÊNCIA DE ATIVIDADES ESTÁGIO INTERNO E


EXTERNO
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ANEXO D - PLANILHA DE CONTROLE DE CARGA HORÁRIA

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