Mero_aborrecimento_impropriedades_a_luz
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ARTIGO
JOÃO QUINELATO
RODRIGO DA GUIA SILVA
04/11/2018 08:05
Imagem: Pixabay
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Tais observações estão na base das preocupações com que a advocacia uminense
recebeu a notícia da aprovação, em 22/11/2014, da Súmula 75 do Tribunal de
Justiça do Estado do Rio de Janeiro, que assim dispõe: “O simples descumprimento
de dever legal ou contratual, por caracterizar mero aborrecimento, em princípio, não
con gura dano moral, salvo se da infração advém circunstância que atenta contra a
dignidade da parte”.
Sem prejuízo ao propósito conciliador que parece ter inspirado o Tribunal, a frieza da
literalidade do enunciado sumular ameaça a efetivação da garantia constitucional de
ampla reparação dos danos morais (art. 5º, V e X, da Constituição). Tal ameaça tem
sido diuturnamente concretizada em decisões judiciais que negam legítimos pleitos
indenizatórios sob a genérica alegação da impossibilidade de con guração do dano
moral em razão do inadimplemento contratual. O cenário revela-se especialmente
grave porque a prática revela que uma expressiva parcela das decisões invoca o
referido entendimento sem explorar a ressalva contida na parte nal do próprio
enunciado sumular.
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11/09/2019 Mero aborrecimento: impropriedades à luz da teoria da interpretação - JOTA Info
Se, por um lado, a análise casuística do que é ou não dano moral reparável tem o
potencial de assegurar decisões mais justas, por outro lado, não se nega que assim
se atribui ao julgador uma esfera maior de discricionariedade (embora sempre e
necessariamente reconduzida à Constituição). Coloca-se, então, um ponto nevrálgico
para o equilíbrio almejado: o mandamento constitucional de fundamentação da
decisão judicial (art. 93, IX, da Constituição). O magistrado tem o dever inafastável,
no exercício do seu múnus, de realizar uma análise profunda de todas as
circunstâncias do caso concreto, perquirindo a tutela reclamada pela pessoa
humana na medida da sua concreta vulnerabilidade. A exigência constitucional de
fundamentação das decisões judiciais serve justamente para possibilitar que o
controle da conformidade entre a decisão e o ordenamento jurídico não tenha por
referência apenas o resultado (o decisum), mas igualmente o meio (a
fundamentação da decisão).
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11/09/2019 Mero aborrecimento: impropriedades à luz da teoria da interpretação - JOTA Info
JOÃO QUINELATO – Advogado. Mestre em Direito Civil pela UERJ. Professor do IBMEC. Secretário-Geral da
Comissão de Direito Civil e Presidente da Comissão de Estágio da OAB/RJ. E-mail:
joao@lapaadvogados.com.br.
RODRIGO DA GUIA SILVA – Doutorando e Mestre em Direito Civil pela Universidade do Estado do Rio de
Janeiro (UERJ). Pesquisador da Clínica de Responsabilidade Civil da Faculdade de Direito da UERJ.
Membro do Instituto Brasileiro de Direito Civil (IBDCivil) e do Comitê Brasileiro da Association Henri
Capitant des Amis de la Culture Juridique Française (AHC-Brasil). Advogado.
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