História 1ª Série 2ª Semestre 2024

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DA ROMA ANTIGA AO
RENASCIMENTO CULTURAL E
ARTISTICO

HISTÓRIA
1º SÉRIE DO ENSINO MÉDIO

C. E. E. DO RIO DE JANEIRO
PROFESSORA-ELIANE ALVES
2ª SEMESTRE 2024

FORTUNA/2023

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Roma Antiga
A civilização romana surgiu a partir de uma pequena cidade latina que se desenvolveu na Península Itálica, no século
VIII a.C. Roma foi uma das grandes civilizações da Antiguidade e possuiu um território de grandes dimensões que se estendia da
Mesopotâmia à Europa Ocidental e da Bretanha até o norte da África.
Alguns fatores contribuíram para a ocupação da região:
- os aspectos físicos (Roma está localizada na Península Itálica)
- o solo fértil (facilitava a produção de alimentos)
- ausência de bons portos (isolando relativamente à região)

A história romana foi dividida em três grandes períodos que são:


 O monárquico,
 O republicano,
 O imperial.

Da pequena aldeia na região do Lácio, Roma tornou-se uma gigantesca civilização que se expandiu por meio de guerras.
As marcas da presença romana, nos locais que eles conquistaram, resistiram por um longo prazo e muitas existem até os dias
atuais.
A sociedade romana era bem dividida entre patrícios e plebeus e, ao longo da história, as desigualdades sociais levaram
essas classes a entrarem em choque por diversas vezes. Uma das grandes demonstrações dos embates entre plebeus e patrícios
pode ser encontradas nas reformas propostas pelos irmãos Graco.
A decadência romana foi iniciada a partir do século III d.C. e teve relação direta com o enfraquecimento da economia
romana. Primeiramente, o poderio de Roma sobre suas províncias enfraqueceu, e a economia romana esfacelou-se,
principalmente pela crise do sistema de escravos, que sustentava a produção romana.
Além disso, o controle romano sobre suas fronteiras começou a declinar, e os povos germânicos e outros bárbaros
do limes começaram a penetrar no território romano. Muitos foram agregados ao exército romano e, em troca, recebiam terras no
território. As invasões germânicas foram o evento que selou o fim do Império Romano na Europa Ocidental.
Em 476 d.C., o imperador Rômulo Augusto foi deposto pelos hérulos, e os territórios do Império Romano do Ocidente
foram ocupados por diferentes povos germânicos. A Idade Média estabeleceu-se dessa fusão entre a cultura latina com a cultura
germânica.

Fundação de Roma
A fundação de Roma está envolta em lendas. Segundo a narrativa do poeta Virgílio, em sua obra Eneida, os romanos
descendem de Enéias, herói troiano, que fugiu para a Itália após a destruição de Troia pelos gregos, por volta de 1400 a.C.
Reza a lenda que os gêmeos Rômulo e Remo, descendentes de Enéias, foram jogados no rio Tibre, por ordem de Amúlio,
usurpador do trono.

Detalhe da pintura de Rubens que retrata Rômulo e Remo amamentados por uma loba
Amamentados por uma loba e depois criados por um camponês, os irmãos voltam para destronar Amúlio.
Os irmãos receberam a missão de fundar Roma, em 753 a.C. Rômulo, após desentendimentos, assassinou Remo e se
transformou no primeiro rei de Roma.
Na realidade, Roma formou-se da fusão de sete pequenas aldeias de pastores latinos e sabinos situadas às margens do
rio Tibre. Depois de conquistada pelos etruscos chegou a ser uma verdadeira cidade-Estado.
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MONARQUIA
A forma de governo adotada em Roma até o século VI a.C. foi a Monarquia. Os romanos acreditavam que o rei tinha
origem divina.
Esse período foi marcado pela invasão de outros povos (etruscos) que durante cerca de 100 anos, dominaram a cidade,
impondo-lhe seus reis. Em 509 a.C., os romanos derrubaram o rei etrusco (Tarquínio - o Soberbo), e fundaram uma República.
No lugar do rei, elegeram dois magistrados para governar.

República Romana

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A República Romana foi um período da história da civilização romana que durou 500 anos, de 509 a.C. a 27 a.C. quando
foi governada por senadores e magistrados.
Durante este tempo, Roma organizou suas instituições e realizou importantes conquistas militares que lhe garantiram o
domínio do Mar Mediterrâneo.
A República Romana tem sua origem no ano de 509 a.C, quando o último rei etrusco é deposto e o Senado assume as
funções de governo.
Instituições da República Romana
 Senado – ocupava-se da política internacional e da supervisão das magistraturas e era convocado pelos cônsules,
pretores ou pelo tribuno da plebe. Chegou a ter 300 membros e cargo era vitalício. Os senadores eram patrícios que haviam
desempenhado alguma magistratura ou tinham feito algo relevante para a República.
 Magistratura – para ser magistrado era preciso ser cidadão romano e dispor de uma renda de acordo com o cargo
desempenhado. Os magistrados tinham lugares privilegiados em cerimônias públicas e espetáculos, bem como o uso de cores
diferenciadas de acordo com seu cargo.
 Cônsul – exercia o comando militar. No caso de guerra ou do impedimento de um dos cônsules eram substituídos por
um ditador. Este tinha um ano de mandato e poder absoluto sobre os cidadãos romanos.
 Pretor – tinha a função de administrar a Justiça.
 Edil - responsável por fiscalizar o comércio e conduzir a cidade.
 Censor – se encarregava de contar a população, fiscalizar os candidatos a edil e vigiar a conduta moral do povo romano.
 Questor – cobrava impostos e custodiava o patrimônio romano.

Sociedade na República Romana


A sociedade romana estava organizada entre patrícios, plebeus, escravos e clientes. As mulheres não eram consideradas
como cidadãs e não participavam da política.
Vejamos a origem e a função social que cada extrato possuía:
 Patrícios – pertenciam às famílias mais antigas de Roma, possuíam grandes propriedades de terras e eram os
mais ricos.
 Plebeus – Inicialmente, todos aqueles que não eram patrícios e não eram escravos, denominavam-se plebeus.
No princípio não possuíam direitos políticos, mas por conta dos escândalos de corrupção do Senado, pouco a pouco foram
sendo cooptados para as instituições romanas. Como eram a classe mais poderosa havia grande diversidade entre eles.
Basicamente, estavam compostos por homens que haviam se enriquecido através do comércio, cavaleiros que tinham feito
fortuna com as guerras de conquista, médios e pequenos proprietários.
 Escravizados – a escravidão romana era a base da sociedade, e tanto patrícios como plebeus possuíam
escravizados. Estes eram obtidos através das guerras de conquistas. Além disso, qualquer homem livre poderia ser
escravizado, pois as dívidas podiam ser pagas com a escravidão temporária. Não necessariamente eles realizavam sempre os
piores trabalhos, pois aqueles que sabiam ler e escrever eram empregados como escribas, contadores e administradores.
 Clientes – plebeus que para ascender socialmente serviam a uma família patrícia em troca de proteção e
posição social.
Patrícios x Plebeus
Conflitos permanentes entre patrícios e plebeus vão abalar a República Romana. Afinal, o exército romano era composto
em sua maioria por plebeus que não tinham possibilidade de participar da vida política da cidade.
Com o intuito de pressionar os patrícios a cederem direitos políticos, os plebeus saíram de Roma. Só voltaram quando foi
negociada a criação do Tribunal da Plebe, em 494 a.C. Este passou a controlar os patrícios e as magistraturas e, com o tempo, os
plebeus seriam tão poderosos quanto os patrícios.

TRIBUNOS DA PLEBE
Os tribunos da plebe foram uma instituição política que representava os plebeus na República Romana.
O Tribuno da Plebe, também conhecido historicamente como Tribuno do Povo, foi uma magistratura instituída durante a
República Romana. Eram os representantes dos plebeus, eleitos pelo Conselho da Plebe para um mandato de um ano. Eles
representavam os cidadãos romanos de todas as classes (exceto os patrícios).

CONTEXTO HISTÓRICO DO SURGIMENTO


Entre a última década do século VI a.C. e começo do V a.C., logo após a queda da Monarquia e instituição da República
Romana, os plebeus foram dominados e explorados pelos patrícios. Esta situação gerou insatisfação e pequenas revoltas

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populares em Roma. Com o risco de uma grande revolta dos plebeus, o Senado Romano enviou a um ex-cônsul romano, Agripa
Lanato, a missão de negociar com os plebeus uma saída para a crise. O Tribuno da Plebe surgiu neste contexto.
O primeiro Tribuno da Plebe foi instituído em 493 a.C.

ATRIBUIÇÕES E FUNÇÕES PRINCIPAIS DOS TRIBUNOS DA PLEBE:


• Defender os direitos dos plebeus romanos em contraposição aos interesses dos patrícios (aristocracia).
• Incluir, nas leis romanas, direitos para os plebeus. Objetivo que foi alcançado em 457 a.C. Neste mesmo ano, o número
de tribunos da plebe foi aumentado para dez.
• Convocar reuniões do Senado.
• Eles também tinham o poder de impor multas e alguma jurisdição em questões judiciais envolvendo plebeus.
• Enviar aos senadores as reivindicações dos plebeus.
• Os tribunos da plebe podiam instaurar processos políticos contra funcionários que eles considerem estar agindo contra os
interesses do povo.

Tibério Graco e Caio Graco: os irmãos foram os mais famosos tribunos da plebe e morreram defendendo a causa dos
plebeus romanos.

ENFRAQUECIMENTO DOS TRIBUNOS DA PLEBE


Durante o Império Romano, o tribunato perdeu muitos poderes. O Senado e o imperador foram, aos poucos, retirando
suas atribuições originais. Com o tempo, ele passou a ser apenas um degrau para os plebeus que tinham como objetivo chegar
ao Senado Romano.
Os plebeus conseguiram organizar assembleias e promulgar leis que garantissem tantos direitos quanto tinham os
patrícios. Vejamos algumas delas:
Sistema representativo popular. Existiam várias formas como os “comitia curiata” (comícios curiais),
onde se votavam a “Lex curiata”, que eram remetidas aos altos magistrados. Mais tarde, foram criadas
Assembleias
por Sérvio Túlio as “comitia centuriata”, que estavam formadas por 100 indivíduos e eram essenciais
para o recrutamento militar.
Leis das Doze Por pressão dos plebeus, as leis de Roma passaram a ser escritas a fim de que fossem fixadas e os
Tábuas – 450 a.C. plebeus pudessem consultá-las.
Leis Licínias –
Determinam que um dos cônsules deve ser plebeu.
376 a.C.
Leis Canuleias –
Permitem que os plebeus se casem com os patrícios.
345 a.C.

EXPANSÃO MILITAR
A decadência política, social e econômica, fez com que a plebe entrasse em conflito com os patrícios, essa luta durou
cerca de 200 anos. Uma vez que o conflito interno entre patrícios e plebeus foi se tranquilizando, os romanos passaram a
conquistar outras regiões da Península Itálica até dominá-la totalmente.
Em seguida, invadiram a Grécia, de onde trouxeram os deuses, a filosofia e vários costumes. Partiram, então, para a
guerra no outro lado do Mediterrâneo contra cidade de Cartago, num conflito que durou cerca de 120 anos e acabou com a vitória
romana. Apesar disso, os romanos conseguiram conquistar quase toda a Península Itálica e logo em seguida partiram para o
Mediterrâneo.

GUERRAS PÚNICAS
Guerras Púnicas é o nome dado a três guerras travadas entre Cartago – cidade localizada no norte da África e Roma,
entre os anos 264 a.C e 146 a.C..

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Cartago detinha o monopólio comercial marítimo, enquanto Roma almejava o expansionismo. Ambas lutaram pelo domínio
da região do Mar Mediterrâneo.
Púnico era o nome dado ao cartaginense pelos romanos, por isso, as guerras recebem esse nome.

CAUSAS
O Mar Mediterrâneo era dominado pelos grandes navegadores fenícios, povo que tinha o comércio marítimo como
principal atividade econômica. Após a conquista da Fenícia o seu povo fugiu e fundou Cartago que, então dominava o Mar
Mediterrâneo e territórios próximos à Península Itálica.
Roma, que dominava a Península Itálica, almejava agora o Mar Mediterrâneo e o controle do seu comércio.
Primeira Guerra Púnica (264-241 a.C.)
Inicialmente, Roma e Cartago mantinham boas relações comerciais e eram aliadas no propósito de apaziguar as relações
na ilha de Sicília, que se mantinham instáveis.
A Sicília, pertencente à Siracusa, era um ponto estratégico para o desenvolvimento do comércio marítimo e era, assim,
dominada por Cartago.
A Primeira Guerra Púnica tem início quando Roma, vislumbrando a possibilidade de conquistar a ilha e expandir seu
território, expulsa os cartagineses que lá viviam.
Ao fim desta guerra, os cartagineses foram vencidos pelos romando e perderam o domínio das ilhas Sicília, Córsega e
Sardenha. Além disso, tiveram de pagar indenizações à Roma.
Segunda Guerra Púnica (218-201 a.C.)
Na Segunda Guerra Púnica, Cartago é bem sucedida nas mãos do comando do general cartaginês Aníbal Barca, que
inicia a guerra a partir da invasão à Sagunto, cidade aliada à Roma.
Aníbal, o general que ficou conhecido por utilizar elefantes em seus ataques vence alguns conflitos e quase consegue
invadir Roma, através da sua conhecida estratégia de atravessar os Alpes.
Porém, os romanos, mais uma vez, vencem os cartagineses e, em consequência foram obrigados a pagar mais
indenizações à Roma, a fornecer alimentos para suas tropas, a libertar prisioneiros e a entregar navios de guerra.
Terceira Guerra Púnica (149-146 a.C.) – “DelengaCarthago”
O prejuízo dos cartaginenses em decorrência das duas primeiras guerras, leva Cartago a dar início ao desenvolvimento da
agricultura.
O fato de não se deixar vencer pela perda da hegemonia do comércio, principalmente, somado à iniciativa de buscar outras
condições que propiciassem o desenvolvimento econômico da cidade, leva à ira de Roma que, com receio de novos conflitos,
pensa não haver outra alternativa a não ser a destruição de Cartago. A frase “DelengaCarthago”, dita pelo senador romano Catão,
o Velho, significa “Cartago deve ser destruída”.
Consequências – “mare nostrum”
O domínio do Mediterrâneo e do seu comércio passa para Roma, que chama o mar Mediterrâneo de mare nostrum –
nosso mar.
Na sequência dessa conquista, tem início o Império Romano.

Em seguida, ocuparam a Península Ibérica (conquista que levou mais de 200 anos), Gália e o Mediterrâneo Oriental.
Os territórios ocupados foram transformados em províncias. Essas províncias pagavam impostos ao governo de Roma (em
sinal de submissão).
As conquistas transformaram exército romano em um grupo imbatível.
A comunidade militar era formada por:
- Cidadãos de Roma, dos territórios, das colônias e das tribos latinas que também tinham cidadania romana
- Comunidades cujos membros não possuíam cidadania romana completa (não podiam votar nem ser votados)
- Aliados autônomos (faziam tratados de aliança com Roma)

Além do exército, as estradas construídas por toda a península itálica também contribuíram para explicar as conquistas
romanas.
Os romanos desenvolveram armas e aperfeiçoaram também a técnica de montar acampamentos e construir fortificações.
A disciplina militar era severa e a punição consistia em espancamentos e decapitações. Os soldados vencedores recebiam
prêmios e honrarias e o general era homenageado, enquanto que os perdedores eram decapitados nas prisões.
As sucessivas conquistas provocaram, em Roma, grandes transformações sociais, econômicas e políticas.

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No plano social, o desemprego aumentou por causa do aproveitamento dos prisioneiros de guerra como escravos. A mão-
de-obra escrava provocou a concentração das terras nas mãos da aristocracia (provocando a ruína dos pequenos proprietários de
terras que foram forçados a migrar para as cidades).
Na economia, surgiu uma nova camada de comerciantes e militares (homens novos ou cavaleiros) que enriqueceram com
as novas atividades surgidas com as conquistas (cobrança de impostos, fornecimento de alimentos para o exército, construção de
pontes e estradas, etc).
Além disso, sociedade romana também sofreu forte influência da cultura grega e helenística:
- A alimentação ganhou requintes orientais
- A roupa ganhou enfeites
- Homens e mulheres começaram a usar cosméticos
- Influência da religião grega
- Escravos vindos do oriente introduziram suas crenças e práticas religiosas
- Influência grega na arte e na arquitetura
- Escravos gregos eram chamados de pedagogos, pois ensinavam para as famílias ricas a língua e a literatura grega

Essas influências geraram graves consequências sobre a moral: multiplicou-se a desunião entre casais e as famílias ricas
evitavam ter muitos filhos.
Tais transformações foram exploradas pelos grupos que lutavam pelo poder e esse fato desencadeou uma série de lutas
políticas. A sociedade romana dividiu-se em dois partidos: o partido popular (formado pelos homens novos e desempregados) e o
partido aristocrático (formado pelos grandes proprietários rurais). Essas lutas caracterizaram a fase de decadência da República
Romana.
Fim da República Romana
Na República romana, a escravidão era à base de toda produção e o número de escravos ultrapassava os de homens
livres. A violência contra os escravos causou dezenas de revoltas.
Uma das principais revoltas escravos foi liderada por Espártaco entre 73 a 71 a.C. À frente das forças rebeldes, Espártaco
ameaçou o poder de Roma.
Com a expansão territorial romana, a República ficou mais difícil de governar devido à inclusão de novos povos e do
tamanho.
Igualmente, a fragmentação do poder não ajudava na tomada de decisões rápidas e a prática da corrupção se havia
generalizado entre os magistrados.
Assim, os romanos buscam novas fórmulas que permitissem a centralização do poder, mas sempre auxiliado (e vigiado)
pelo Senado. Primeiro, através do Triunvirato e depois através da figura de um só Imperador. Começaria, então, a época do
Império Romano.
Para equilibrar as forças políticas, em 60 a.C., o Senado indicou três líderes políticos ao consulado, Pompeu, Crasso e
Júlio César, que formaram o primeiro Triunvirato.
Após a morte de Júlio César, foi instituído o segundo Triunvirato constituído por Marco Antônio, Otávio Augusto e Lépido.
As disputas de poder eram frequentes. Otávio recebeu do senado o título de Prínceps (primeiro cidadão) foi a primeira fase
do império disfarçado de República.

IMPÉRIO
Dois nomes sobressaíram durante o Império Romano: Julio César e Augusto.
Após vários conflitos, Julio César tornou-se ditador (com o apoio do Senado) e apoiado pelo exército e pela plebe urbana,
começou a acumular títulos concedidos pelo Senado. Tornou-se Pontífice Máximo e passou a ser: Ditador Perpétuo (podia
reformar a Constituição), Censor vitalício (podia escolher senadores) e Cônsul Vitalício, além de comandar o exército em Roma e
nas províncias.
Tantos poderes lhe davam vários privilégios: sua estátua foi colocada nos templos e ele passou a ser venerado como um
deus (Júpiter Julius).
Com tanto poder nas mãos, começou a realizar várias reformas e conquistou enorme apoio popular.
- Acabou com as guerras civis
- Construiu obras publicas
- Reorganizou as finanças
- Obrigou proprietários a empregar homens livres
- Promoveu a fundação de colônias
- Reformou o calendário dando seu nome ao sétimo mês
- Introduziu o ano bissexto
- Estendeu cidadania romana aos habitantes das províncias
- Nomeava os governadores e os fiscalizava para evitar que espoliassem as províncias

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Em compensação, os ricos (que se sentiram prejudicados) começaram a conspirar.


No dia 15 de março de 44 a.C., Julio César foi assassinado. Seu sucessor (Otávio) recebeu o título de Augusto, que
significava “Escolhido dos Deuses”. O governo de Augusto marcou o início de um longo período de calma e prosperidade.
Principais medidas tomadas por Augusto:
- Profissionalizou o exército
- Criou o correio
- Magistrados e senadores tiveram seus poderes reduzidos
- Criou o conselho do imperador (que se tornou mais importante que o senado)
- Criou novos cargos
- Os cidadãos começaram a ter direitos proporcionais aos seus bens. Surgiu assim três ordens sociais: Senatorial (tinham
privilégios políticos), Eqüestre (podiam exercer alguns cargos públicos) e Inferior (não tinham nenhum direito).
- Encorajou a formação de famílias numerosas e a volta da população ao campo
- Mandou punir as mulheres adúlteras
- Estimulou o culto aos deuses tradicionais (Apolo, Vênus, César, etc)
- Combateu a introdução de práticas religiosas estrangeiras
- Passou a sustentar escritores e poetas sem recursos (Virgílio autor de “Eneida”, Tito Lívio, Horácio)
Quando chegou a hora de deixar um sucessor, Augusto nomeou Tibério (um de seus principais colaboradores).
A História Romana vivia o seu melhor período. A cidade de Roma tornou-se o centro de um império que crescia e se
estendia pela Europa, Ásia e África.
Após a morte de Augusto, houve quatro dinastias de Imperadores:
Dinastia Julio-Claudiana (14-68): Tibério executou os planos deixados por Augusto. Porém, foi acusado da morte do
general Germanicus e teve o povo e o Senado contra ele. Sua morte (78 anos) foi comemorada nas ruas de Roma. Seus
sucessores foram Calígula (filho de Germanicus), Cláudio (tio de Calígula) e Nero. Essa dinastia caracterizou-se pelos constantes
conflitos entre o Senado e os imperadores.
Dinastia dos Flávios (69-96): neste período, os romanos dominaram a Palestina e houve a dispersão (diáspora) do povo
judeu.
Dinastia dos Antoninos (96-192): marcou o apogeu do Império Romano. Dentre os imperadores dessa dinastia, podemos
citar: Marco Aurélio (que cultivava os ideais de justiça e bondade) e Cômodo que por ser corrupto, acabou sendo assassinado em
uma das conspirações que enfrentou.
Dinastia dos Severos (193-235): várias crises internas e pressões externas exercidas pelos bárbaros (os povos que
ficavam além das fronteiras) pronunciaram o fim do Império Romano, a partir do século III da era cristã.

Decadência do Império Romano


A partir de 235, o Império começou a ser governado pelos imperadores-soldados, cujo principal objetivo era combater as
invasões.
Do ponto de vista político, o século III caracterizou-se pela volta da anarquia militar. Num período de apenas meio século
(235 a 284) Roma teve 26 imperadores, dos quais 24 foram assassinados.
Com a morte do imperador Teodósio, em 395, o Império Romano foi dividido entre seus filhos Honório e Arcádio.
Honório ficou com o Império Romano do Ocidente, capital Roma, e Arcádio ficou com o Império Romano do Oriente, capital
Constantinopla.
Em 476, o Império Romano do Ocidente desintegrou-se e o imperador Rômulo Augusto foi deposto. O ano de 476 é
considerado pelos historiadores o marco divisório da Antiguidade para a Idade Média.
Alguns fatores contribuíram para a crise do império: colapso do sistema escravista, a diminuição da produção e fluxo
comercial e a pressão dos povos que habitavam as fronteiras do Império (bárbaros).
A partir do ano 235, o Império começou a ser governado pelos imperadores-soldados (que tinham como principal objetivo
combater as invasões).
Com a ascensão de Diocleciano no poder, em 284, o Império foi dividido em dois: Oriente (governado por ele mesmo) e
Ocidente (governado por Maximiniano). Cada um deles era ajudado por um imperador subalterno – o César. Diocleciano
acreditava que essa estrutura de poder (Tetrarquia) aumentava a eficiência do Estado e facilitava a defesa do território.
Diocleciano tomou várias medidas para controlar a inflação.
Seu sucessor (Constantino) governou de 313 até 337.
Constantino legalizou o cristianismo e fundou Constantinopla – para onde transferiu a sede do governo, além de ter abolido
o sistema de tetrarquia.
A partir do século IV, uma grave crise econômica deixou o Império enfraquecido e sem condições de proteger suas
fronteiras, isso fez com que o território romano fosse ameaçado pelos bárbaros que aos poucos invadiram e dominaram o Império
Romano do Ocidente formando vários reinos (Vândalos, Ostrogodos, Visigodos, Anglo-Saxões e Francos).
Em 476 (ano que é considerado pelos historiadores um marco divisório entre a Antiguidade e a Idade Média), o Império
Romano do Ocidente desintegrou-se restando apenas o Império Romano do Oriente (com a capital situada em Constantinopla é
também conhecido como Império Bizantino – por ter sido construído no lugar onde antes existia a colônia grega de Bizâncio), que
ainda se manteve até o ano de 1453 quando Constantinopla foi invadida e dominada pelos turcos.

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Durante toda a Idade Média, Roma manteve parte da sua antiga importância, mesmo com a população reduzida. Era
apenas uma modesta cidade quando foi eleita capital da Itália em 1870.
A civilização romana deixou para a cultura ocidental uma herança riquíssima.
- A legislação adotada hoje em vários países do mundo tem como inspiração o Direito criado pelos romanos
- Várias línguas (inclusive o português) derivaram do latim falado pelos romanos
- Arquitetura
- Literatura

DO AUGE À QUEDA: CONHEÇA O IMPÉRIO BIZANTINO, QUE


DUROU 11 SÉCULOS
ORIGEM
O Império Bizantino nasceu da divisão do Império Romano, no ano de 395, em Império Romano do Oriente, com capital em
Constantinopla e Império Romano do Ocidente, com capital em Milão.
O Império Bizantino, também conhecido como Império Romano do Oriente, durou de 330 a 1453 d.C. A cidade de
Constantinopla, localizada no atual território da Turquia, era a capital administrativa e emergiu como uma "nova Roma" após as
conquistas dos povos germânicos que dissolveram o poderio do Império Romano do Ocidente.
A cidade de Constantinopla, antes denominada Bizâncio, havia sido rebatizada pelo Imperador Constantino no ano
de 330. Atualmente, a cidade recebe o nome de Istambul. O termo Bizantino refere-se a Bizâncio, uma colônia grega fundada em
658 a.C. às margens do Bósforo, estreito que liga o Mediterrâneo ao Mar Negro. A origem oficial do império, porém, só ocorreu
séculos mais tarde, em 330 d.C., quando o imperador romano Constantino fundou no local a cidade de Constantinopla. A cidade
serviria como uma capital oriental para o Império Romano.
Por esta razão, o Império Romano do Oriente passou para a história como “Império Bizantino”. Sua extensão
territorial compreendia a Península Balcânica, a Ásia Menor, a Síria, a Palestina, o norte da Mesopotâmia e o nordeste da Ásia.
Enquanto no Ocidente, o Império Romano desapareceu por conta das invasões de diversos povos, o Império
Bizantino conseguiu manter sua unidade e seus habitantes chamavam-se a si mesmo de romanos.
Com a queda de Roma, em 476, o Império Bizantino passou a ser o herdeiro das tradições romanas e sobreviveu
mais mil anos.

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AUGE
Um dos principais imperadores bizantinos foi Justiniano (527-565), pois em seu governo, o Império Bizantino atingiu o máximo
esplendor.
Filho de camponeses, Justiniano chegou ao trono em 527. Sua esposa, Teodora, também vinha de origem humilde
e exerceu decisiva influência sobre a administração do Império.
Justiniano foi também o responsável pela reconquista de territórios que antes haviam pertencido ao Império
Romano do Ocidente, incluindo Roma, o sul da Espanha e o norte da África. Estas regiões haviam sido ocupadas pelos povos
germânicos.

Mapa do Império Bizantino sob o reinado do Imperador Justianiano. Em laranja escuro, o Império Bizantino e na
parte clara, os território conquistados por Justiniano
No poder, Justiniano procurou organizar as leis do Império. Encarregou uma comissão de juristas de elaborar o
“Digesto”, uma espécie de manual de Direito destinado aos estudantes, que foi publicado em 533.
Nesse mesmo ano foram publicadas as "Institutas", com os princípios fundamentais do Direito Romano e no ano
seguinte concluiu o Código de Justiniano.
As três obras de Justiniano eram uma compilação das leis romanas desde a República até o Império Romano.
Posteriormente, foram reunidas numa única obra o Codex Justinianus, depois chamado de Corpus Juris Civilis (Corpo de Direito
Civil).
O florescimento do Império Bizantino se deu com o imperador Justiniano I a partir de 527 d.C.. Foi em seu governo
que ocorreu a restauração da grandeza romana: ele conseguiu recuperar grandes extensões de territórios perdidos por Roma
como a península da Itália, o sul da península Ibérica e o norte da África.
Foi também sob Justiniano I que o Império Bizantino deixou legados vivos até hoje. Físicos, como a Basílica de
Santa Sofia, em Constantinopla (atual Istambul); e imateriais: foi o imperador quem reformou e recodificou o Direito Romano,
código de leis que ajudou a fundamentar muitos estados modernos.

REVOLTA DE NIKA
O chamado Império Romano do Oriente foi fundado, como sabemos, no século IV d.C. pelo imperador Constantino. A
transferência do centro do poder romano para Bizâncio (que passou a ser conhecido como Constantinopla) objetivava afastar o
império da pressão exercida pelas invasões bárbaras, que assolavam, à época, o lado ocidental da Europa. Com o
estabelecimento em Constantinopla, o império romano absorveu muitos elementos do cristianismo ortodoxo e também muitas
características tradicionais do Império Romano. Entre essas últimas, estava a forma de lidar com as massas que habitavam a
cidade.
Se, em Roma, os espetáculos realizados no Coliseu entretinham as camadas populares da cidade, em Constantinopla, a
população concentrava-se nas corridas de cavalos realizadas no Hipódromo da cidade. Assim como no Coliseu, a violência e a
brutalidade extremas também se alastravam no Hipódromo, mas com repercussões sociais mais complicadas de se lidar do que
em Roma. Na época do imperador Justiniano, houve, em decorrência das rivalidades existentes em torno das corridas de cavalos,
um surto de violência que culminou em uma revolta política, conhecida como Revolta de Nika.
A Revolta de Nika aconteceu no ano de 532 d.C. Apesar de Justiniano ter sido um dos imperadores que mais conseguiram
tornar o Império Bizantino poderoso e sofisticado, com conquistas de território e embelezamento de Constantinopla, sua forma de
administração austera não lhe garantiu popularidade. As insatisfações sociais das camadas populares do império refletiam-se nas
corridas de cavalos do Hipódromo. Duas facções principais disputavam a atenção do imperador: a verde e a azul. Essas disputas
chegavam ao ponto de seus membros assassinarem uns aos outros.
Justiniano, para barrar o excesso de violências entre as facções, decidiu punir os líderes de ambas, condenando-os à
morte. Esse gesto gerou a revolta geral. Em certa ocasião em que o imperador estava no hipódromo e preparava-se para assistir
a mais uma disputa, os membros das duas facções uniram-se e realizaram um motim que se transformou em um levante social e
político. Diz-se que, enquanto conseguiam bloquear as atividades do imperador, a massa gritava “Nika! Nika!”, que significa, em
grego, “Vitória”.
Esse levante culminou em uma onda de depredação e atos violentos que demorou três dias. Uma das vandalizações foi
perpetrada contra a Igreja de Santa Sofia, como relata o historiador Procópio de Cesarea:
“Alguns homens da ralé, toda a escória da cidade, ergueram-se numa dada altura contra o
imperador Justiniano em Bizâncio, quando provocaram o levantamento conhecido por Insurreição de Nika.

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[…] E a fim de mostrarem que não era só contra o imperador que tinham pegado em armas, mas também
contra o próprio Deus, miseráveis e ímpios com eram, tiveram a ousadia de incendiar a igreja dos cristãos,
a que o povo de Bizâncio chama Sofia, epíteto que muito apropriadamente inventaram para Deus e pelo
qual nomeiam o Seu templo; e Deus permitiu-lhes a realização desta impiedade, sabendo em que objeto de
beleza esta relíquia estava destinada a transformar-se. Assim, toda a Igreja por essa altura era um monte
de ruínas calcinadas.”

Os revoltosos tentaram empossar o senador Hipácio, um dos inimigos políticos de Justiniano, como imperador. Enquanto
isso, Justiniano, orientado por sua esposa, Thedora, procurou um meio de, a um só tempo, ganhar tempo com as hordas violentas
e preparar um contragolpe para o motim. O imperador procurou incitar nas facções o ódio recíproco que lhes era característico.
Ao mesmo tempo, seus principais generais, Belisário e Mundus, organizaram as tropas imperiais para invadir o Hipódromo e
sufocar a revolta. Especula-se que mais de 30 mil pessoas foram assassinadas pelas tropas do imperador. Entre os mortos,
estavam políticos, comerciantes e outras pessoas de destaque na cidade. Hipácio, que tentara usurpar o trono, foi um dos
assassinados.

CARACTERÍSTICAS DO IMPÉRIO BIZANTINO


CULTURA BIZANTINA
A cultura bizantina era uma mistura de influências romanas, helenísticas e orientais. A cidade de Constantinopla era
um importante centro comercial e cultural, e foi dali que o cristianismo se expandiu.
Adotaram o grego como idioma oficial no século VII e mantiveram constantes relações com os povos asiáticos.
A pintura se desenvolveu juntamente com o Cristianismo e se caracteriza pela frontalidade, pouca importância em
retratar o corpo humano e o uso de cores para ressaltar as figuras. A arquitetura combinava o luxo e a exuberância do Oriente.

RELIGIÃO NO IMPÉRIO BIZANTINO


Justiniano procurou usar a religião cristã para unir o mundo oriental e ocidental. Procedeu à construção da igreja de
Santa Sofia (532 a 537), monumento arquitetônico com sua enorme cúpula central, apoiada em colunas que terminam em capitéis
ricamente trabalhados. Ali eram consagrados os imperadores bizantinos.
Quando os turcos tomaram Constantinopla, em 1453, foram acrescentados os quatro minaretes que caracterizam
as mesquitas.
O cristianismo predominou no Império Bizantino, mas se desenvolveu de forma distinta que no Ocidente. Enquanto
este se via cada vez mais dividido, a Igreja e o Imperador se uniam no Oriente.
Por isso, o Imperador passa a ser considerado como um dos chefes da Igreja e esta união foi chamada de
“cesaropapismo” (césar + papa) ou "teocracia".
Desde o século IV, o Imperador de Roma, Constantino, elegeu a religião católica como oficial do Império Romano.
Após o Concílio de Niceia (325 d.C.) e decorrente às diferenças existentes em cada uma, a Igreja Católica foi dividida em: Igreja
Católica Apostólica Romana e as Igrejas Católicas Ortodoxas de Constantinopla, Alexandria, Antioquia e Jerusalém. Por
conseguinte, outros concílios ecumênicos aconteceram, no entanto, o que ficou determinada foi a crença na divindade de Cristo e
a união da cristandade.
Os conflitos dessas duas vertentes remontam o século IV, com a divisão do Império Romano em Oriental e
Ocidental, e a transferência da capital da cidade de Roma para Constantinopla.
Entretanto, foi no ano de 1054 que ocorreu na cidade de Constantinopla, a Cisma do Oriente, que definitivamente
separou as duas vertentes do catolicismo. Vale lembrar que a sede da Igreja Católica do Ocidente era em Roma, enquanto a
Igreja Católica do Oriente era em Constantinopla.
No ano de 1043, Miguel Cerulário se tornou patriarca de Constantinopla, desenvolvendo diversas campanhas contra
os dogmas dos apostólicos, o que resultou na excomunhão de Cerulário, em 1054 pelo cardeal romano Humberto.
Com a entrada do Papa Leão IX na Igreja Apostólica Romana, que assumiu desde 1048 até 1054, foram feitas
algumas exigências jurisdicionais que não agradaram os cristãos ortodoxos. Assim, da mesma maneira, a Igreja Ortodoxa
excomungou o Papa Leão IX.
Os ortodoxos seguiam os ideais do “Cesaropapismo Bizantino” (subordinação da Igreja ao Estado), que
desagradava os católicos do ocidente, uma vez que os ortodoxos do ocidente elegiam um Patriarca ecumênico, não compartilham
a crença nos santos e da virgem Maria, além de não consideravam obrigatório o celibato para os padres.
Por sua vez, os católicos de Roma, creditavam todo o poder na figura do Papa, ao mesmo tempo em que
veneravam os Santos, acreditavam no purgatório (além do céu e inferno) e ainda, o celibato para padres era obrigatório.
Parte disso explica uma diferença substancial na iconoclastia das duas vertentes da religião, posto que as Igrejas
Católicas do Ocidente são constituídas de diversas imagens de santos, enquanto as Igrejas Ortodoxas, não apresentam
nenhuma. Além do aspecto da Iconoclastia, os ortodoxos negaram a natureza humana de Deus, em detrimento da natureza
divina, o que ficou conhecido como Monofisismo.
A Igreja Oriental utilizava a língua local nos seus cultos e não admitiam as imagens tridimensionais. Já a Igreja no
Ocidente não reconhecia o Imperador como um chefe, empregava o latim nas suas cerimônias e veneravam esculturas.

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Para os bizantinos, as imagens, denominadas ícones, deviam ser bidimensionais e esta disputa acabou levando-os
a um movimento de destruição conhecido como Iconoclastia. Assim, muitas obras de arte se perderam enquanto não se chegou
um acordo sobre a relação da veneração das imagens.
Os questionamentos dos dogmas cristãos pregados por Roma deram origem a algumas heresias - correntes
doutrinárias discordantes da interpretação cristã tradicional.
As diferenças culturais entre Oriente e Ocidente e as disputas pelo poder entre o Papa e o Imperador, culminaram
na divisão da Igreja, em 1054, criando uma cristandade ocidental, chefiada pelo Papa; e uma oriental, chefiada por um colegiado
de bispos e o imperador. Esse fato recebeu o nome de Cisma do Oriente.
A partir de então, a Igreja Oriental passou a ser conhecida como Igreja Católica Ortodoxa e foi responsável por
cristianizar lugares como a Rússia, Bulgária, a Península do Balcãs, entre outros.
Significado de Ortodoxo - A palavra ortodoxo vem do grego, da junção de “orthos” que significa “reto” e “doxa” que
significa “fé”. Por isso, o cristianismo ortodoxo acredita que eles sejam os únicos depositários da verdadeira fé.

DIFERENÇAS ENTRE A IGREJA CATÓLICA ROMANA E A ORTODOXA


Características Romana Ortodoxa
Doutrina A salvação vem da fé e das obras. A salvação vem da fé.
Existe o purgatório para aquelas almas que
Vida após- ainda não estão puras o suficiente para entrar no Paraíso. Não se crê na existência do
morte Também se acredita que as indulgências podem abreviar Purgatório.
as penas no Purgatório.
Cada bispo tem autonomia
O Papa é o chefe visível da Igreja e é sobre sua igreja e não existe um líder
Hierarquia
infalível em assuntos de doutrina e moral. maior ou infalível. A decisão é tomada de
forma colegiada.
Acessível aos homens
Sacerdócio Acessível aos homens celibatários.
casados ou celibatários.
As cerimônias, salvo
Os ritos foram mudando ao longo do tempo,
Liturgia pequenas diferenças locais, são as
especialmente após o Concílio do Vaticano II (1962-1965).
mesmas desde a fundação.
Em três períodos do ano,
Recomenda-se não comer carne na
Jejum os fiéis devem jejuar ou abster-se de
Quaresma e em todas as sextas-feiras do ano.
certos alimentos.
A partir do batismo e ao longo da vida, as A partir do batismo já
Crianças
crianças vão recebendo os sacramentos da Igreja. recebem todos os sacramentos.
Depois da eclosão
São veneradas imagens tridimensionais
Imagens do movimento iconoclasta, somente a
como estátuas e bidimensionais, como quadros.
veneração aos ícones é permitida.

SEMELHANÇAS ENTRE A IGREJA CATÓLICA ROMANA E A ORTODOXA


A principal semelhança é na crença num único Deus que mandou seu Filho, Jesus Cristo, para a salvação da
humanidade. Este mesmo Deus ainda se manifesta no Espírito Santo.
Ambas igrejas rezam a mesma oração nas missas, o "Credo", onde estão resumidos os princípios da fé.
Igualmente, Maria é venerada como Mãe de Deus, e os santos e mártires também recebem homenagens dos fiéis,
além de serem exemplos de vida.
A Bíblia é a fonte da fé, assim como a Tradição Oral e os comentários feitos pelos santos doutores da Igreja.
Observa-se o domingo e os dias santos prescritos pela Igreja, assim como são comemoradas festas como o Natal e
a Páscoa.
Do mesmo modo, possuem os sacramentos como o batismo, confissão e comunhão que são considerados os
canais pelas quais o fiel pode se curar e receber a graça de Deus.

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O Cristianismo ortodoxo venera uma cruz com um desenho diferente daquela que costumamos ver nas igrejas
latinas.
A cruz ortodoxa tem oito braços e Jesus aparece com os dois pés feridos por cravos. Na extremidade superior,
temos o lugar onde se escreveram o nome de Jesus em vários idiomas. Na inferior, podemos ver uma caveira que nos remete ao
"Calvário", monte onde Cristo foi crucificado.

ECONOMIA NO IMPÉRIO BIZANTINO


Situada numa posição privilegiada, entre a Europa e a Ásia, na passagem do Mar de Marmara para o Mar Negro,
Constantinopla era ponto para os comerciantes que circulavam entre o Oriente e o Ocidente. A cidade possuía diversas
manufaturas, como as de seda e um comércio desenvolvido.
Devido a prosperidade econômica, a cidade era alvo de expedições militares de povos orientais e mais tarde, dos
árabes. Estava fortificada com muralhas e os bizantinos desenvolveram o “fogo grego”, substância que permitia arder mesmo na
água.

CRISTIANISMO X ISLAMISMO
Com a capital situada exatamente entre a Europa e a Ásia, o Império Bizantino foi palco do embate entre o Cristianismo e o
Islamismo. As primeiras invasões de tropas muçulmanas começaram em 634, 12 anos depois da fundação da religião pelo profeta
Mohammed. Ao final do século 7, o Império Bizantino já havia perdido a Síria, Jerusalém, o Egito e o norte da África para as
tropas islâmicas
Foi no Império Bizantino que também se originaram as Cruzadas, série de guerras entre cristãos e muçulmanos
ocorridas entre 1095 e 1291. A primeira delas foi resultado de uma convocação do imperador bizantino Aleixo I aos reinos da
Europa Ocidental para conter o avanço dos turcos seljúcidas, que haviam conquistado territórios na Ásia Central e rumavam em
direção à Constantinopla. Franceses, italianos e alemães atenderam ao chamado e ajudaram a expulsar os turcos,
reconquistando territórios para o Império Bizantino.

QUEDA
Após o auge do governo Justiniano, no século VI, o Império Bizantino não expandiu mais seu território. Seguiram-se
anos de prosperidade, onde os bizantinos desenvolveram um dos maiores impérios da Idade Medieval.
Por outro lado, com a conversão dos árabes ao islamismo, no séc. VII, vários monarcas muçulmanos passam a
atacar as fronteiras do Império Bizantino e ocupá-lo.
Durante a Baixa Idade Média (séculos X a XV), além das pressões dos povos e impérios nas suas fronteiras
orientais e perdas de territórios, o Império Bizantino foi alvo da retomada expansionista ocidental. A Quarta Cruzada foi
particularmente nociva à Constantinopla. Ao invés dos cruzados atacarem Jerusalém, preferiram guerrear contra um império
cristão e ainda instalaram ali o Patriarcado Latino.
O fim do Império Bizantino aconteceu em 1453, com a derrubada de Constantinopla pelos turco-otomanos. Marcou
também o encerramento da Idade Média e o início da Era Moderna.
O sucesso das campanhas contra os turcos gerou atrito entre o Império Bizantino e a Europa Ocidental. As
animosidades chegaram a tal ponto que os cruzados decidirem mudar o foco da Quarta Cruzada, que ocorreu entre 1199 e 1204
d.C.. Em vez de tentar retomar Jerusalém, as tropas decidiram conquistar e saquear Constantinopla, obrigando os bizantinos a se
exilarem em Nicéia, importante cidade reconquistada dos turcos.
A retomada da capital só ocorreu em 1261. E isso teve um custo econômico enorme. Também permitiu que os
turcos voltassem a conquistar influência na região. A partir do Século 14, o Império Bizantino murchava ao mesmo tempo que o
Império Otomano crescia e ganhava força. O final da história aconteceu em 29 de maio de 1453, quando, após um cerco de 53
dias, o sultão Mohammed II, o Conquistador, invadiu Constantinopla e eliminou Constantino XI, o último imperador bizantino.
Com a expansão dos turcos-otomanos no século XIV, tomando os Bálcãs e a Ásia Menor, o império acabou
reduzido à cidade de Constantinopla.
O predomínio econômico das cidades italianas ampliou o enfraquecimento Bizantino, que chegou ao fim em 1453,
quando o sultão Maomé II destruiu as muralhas de Constantinopla com poderosos canhões.
Os turcos transformaram-na em sua capital, passando a chamá-la de Istambul, como é conhecida hoje.

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Reino dos Francos


Os povos francos eram constituídos por um grupo de tribos germânicas que habitavam o baixo e o médio Rio Reno
por volta do século III d.C. Os francos foram a organização política mais poderosa da Europa Ocidental após a queda de Roma.
Durante séculos de expansão, absorveram grande número de povos em sua cultura, entre eles os saxões, os
romanos, os alemães e os avaros. O reino dos francos foi responsável por redesenhar a Europa.
Aparecem nas províncias romanas por volta do ano 253 e seus dois grupos proeminentes eram os sálios e os
ripuários, que exerciam forte liderança sobre os demais.
Os francos são mencionados a partir de 257, como poderosos inimigos de Roma, ao norte da região da Gália. Sua
eficiência bélica era reconhecida por terra e pelo mar. Cabia aos sálios a excelência nos combates navais, enquanto os ripuários
apresentavam elevado desempenho nas batalhas terrestres.
Ao fim do século III, algumas tribos dos francos juntaram-se aos saxões e dominaram as rotas de navegação na
costa da Grã-Bretanha e na Gália. A pressão fez com que o imperador Maximiliano assinasse um acordo em que, entre os muitos
acertos, estava a presença de francos no exército romano.
A medida, considerada curiosa, influenciou o exército romano, cujo contingente no século IV era composto, em sua
maioria, por francos. Em meados de 350 d.C., os francos já marcavam presença sólida na Gália e, no século V sob o comando de
Childerico (440 - 482) iniciavam uma nova fase de expansão e se tornaram uma potência na região, sob a dinastia Merovíngia.Os
francos juntaram-se aos romanos para enfrentar com sucesso, em 451 d.C., as investidas de Átila, o Rei dos Hunos, sobre a
Gália. O apoio militar dos francos ao exército romano permaneceu em batalhas posteriores, como as ocorridas contra os visigodos
em 463 e os saxões, em 469.

DINASTIA MEROVÍNGIA
Com a desintegração do Império Romano, surgem inúmeros reinos bárbaros, os quais, por sua vez, irão também
sofrer com as contínuas invasões bárbaras e muçulmanas. Assim, a Europa fragilizada não consegue se reunificar, uma vez que
não haviam de reis cristãos e a maioria dos povos eram pagãos ou convertidos às heresias cristãs, como o arianismo.
Este quadro muda no século V, quando Clóvis I (481-511) unifica as tribos francas e funda o Estado dos Francos,
tornando-se o primeiro rei cristão dos francos a fundar uma dinastia, a saber, a Merovíngia.
Foi sob o comando Clóvis I (466 - 511), que os francos passaram a viver mais um momento de expansão. Clóvis,
que era filho de Childerico, ascendeu ao trono em 481, quando tinha 15 anos, e consolidou a dinastia merovíngia, que perdurou
por 200 anos.
Os francos eram pagãos, quando a maioria das tribos bárbaras da época já seguia os preceitos do cristianismo. Foi
o rei Clóvis I o responsável pela conversão dos francos ao cristianismo. Segundo historiadores, o batismo do rei ocorreu após o
casamento com a princesa Clotilde Borgonha (457 - 545) e após a vitória contra os alemães, em 496, atribuída à vontade divina.
A estratégia de Clóvis I era, contudo, facilitar a aceitação dos galeses e romanos após a conquista do Império
Romano do Oriente. Sob o reino de Clóvis, muitos aspectos dos francos influenciaram na região, como a língua, as crenças
religiosas e a legislatura, que se tornaram uma mudança das culturas germânicas e romanas.
Os francos mantiveram a indústria e a manufatura dos romanos e dos germânicos, bem como a arte e a arquitetura.
Após a morte de Clóvis, o reino foi dividido entre seus quatro filhos. O mais velho, Teodorico I, controlou a margem oeste do Mar
do Norte até a região dos Alpes.
Com sua morte em 511, seu reino foi dividido entre seus quatro filhos, até que, em 628, Dagoberto consolida-se
como único rei, dando início as gerações de “reis indolentes”, os quais ficavam cada vez mais distantes e desinteressados das
funções administrativas do reino. É neste contexto que ganham destaque os “Mordomos do Paço” (ou do Palácio), responsáveis
pelo controle do Estado e do exército.

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Assim, Carlos Martel (715-741), um prestigiado vassalo e mordomo do paço, derrota os visigodos em 711; e os
árabes na Batalha de Poitiers, em 732; consagrando-se como um grande líder.
Com sua morte, seu filho Pepino, o Breve, assume seu posto e, em 751, com as bênçãos do Papa Zacarias,
desfere um golpe de Estado, usurpando o trono dos Francos e depondo Childerico III, para depois reunificar e expandindo as
fronteiras do seu reino.
Pepino morre em 768 e o seu reino é dividido entre seus dois filhos: Carlomano e Carlos Magno; os irmãos serão
rivais no poder até a morte de Carlomano, em 771.
A partir daí, Carlos se consolida no poder e empreende seu projeto de expansionismo militar para reconquistar os
antigos territórios do Império Romano do Ocidente, incluindo as regiões da Germânia, do norte da Itália e da Espanha.

IMPÉRIO CAROLÍNGIO
A dinastia carolíngia foi iniciada por Pepino, o Breve, que se tornou rei dos francos em 754, sucedido por seu filho,
Carlos Magno, em 768. Sob o domínio de Carlos Magno, os francos ocuparam a maior parte da Europa Ocidental.
O Império Carolíngio (800-888) tem seu nome derivado de Carolus (do latim, Carlos) e designa o Reino Franco que
ocupou a região da Europa central (coincidindo com o antigo Império Romano do Ocidente, um território de aproximadamente
1.112.000 km² e cerca de 20 milhões de pessoas).
A formação deste império está na gênese dos processos de constituição da sociedade feudal, bem como foi
responsável pela expansão do Cristianismo pela Europa.

QUEM FOI CARLOS MAGNO?


Apesar de ser considerado uma das figuras mais importantes da Europa Medieval, pouco se sabe sobre sua vida.
Neto de Carlos Martel, Duque da Austrásia, e o primogênito de Pepino III, o Breve, Carolus Magnus nasceu em 742 e faleceu em
814. Seguiu os passos de seus herdeiros e foi uma das figuras representativas mais importantes das políticas expansionistas
realizadas na Europa.
Após a queda do Império Romano do Ocidente em meados do século V, a Europa estava fragmentada em diversos
reinos, os quais competiam entre si o poder ao buscar a conquista e expansão dos territórios no continente.
Embora houvesse muitas contendas entre os reinos, a essencial característica foi a expansão da religião católica,
que por sua vez, foi utilizada estrategicamente por Carlos Magno, para unir novamente a Europa, já que muitos reinos tinham em
comum essas crenças.
O trabalho que vinha fazendo, já estava sendo realizado por seu pai Pepino III, que governou o Reino dos Francos
de 751 a 768, e selou o poder do Reino com a Igreja Católica. Com sua morte, a herança foi dividida entre Carlos Magno e seu
irmão Carlomano I (751-771).
Como estrategista e dominado pela vontade de conquista, com a morte de seu irmão, que governou a parte oriental
do Reino dos Francos durante três anos (768-771), Carlos Magno resolveu unificar as terras desrespeitando assim a ordem de
sucessão ao trono, a qual deveria ser de seu sobrinho. Esse fato lhe rendeu o título do mais importante Rei dos Francos, e para
muitos, o único.
Assim, Magno governou o Reino dos Francos a partir de 768, sendo que o poder religioso que emanava de Roma,
fora transferido para o norte da França, o que deixou muitos romanos descontentes, indicadas pelas diversas contendas que
tiveram. Seu grande rival foi o italiano Desidério, Duque da Toscana e Rei dos Lombardos, que governou de 756 até o ano de
774, quando foi derrotado por Carlos Magno.
Foi um habilidoso guerreiro, político e estrategista, e por meio de suas campanhas militares, conquistou diversos
territórios criando um vasto Império, o qual reunia parte da Europa Ocidental e Central, nos territórios dos países: França,
Espanha e Itália. Participou de diversas batalhas, das quais se destacam: Guerra na Aquitânia, Guerra da Lombarda, Guerra da
Saxônia e Guerra da Bavaria.
Foi assim que lutou bravamente contra o paganismo na Europa convertendo os em cristãos e estendendo cada vez
mais seu domínio, o que gerou diversas batalhas de diferentes povos: mouros, bretões, eslavos, hunos, frísios, dentre outros.
Com sua morte, o cargo foi ocupado por seu filho Luís, Rei da Aquitânia.
Carlos Magno ou Carlos I, o Grande, defensor dos dogmas católicos, foi coroado Imperador do Sacro Império
Romano Germânico, em 800, pelo Papa leão III, após tornar-se Rei dos Francos (768 a 814) e dos Lombardos (a partir de 774),
constituindo assim, o grande Império Carolíngio, que recebeu esse nome em sua homenagem.
Suas ações foram muito importantes para reunificar diversas partes da Europa, as quais estavam fragmentadas
desde a queda do Império Romano Ocidental, em 476 d.C.. Foi assim que o governante contribuiu com mudanças significativas
no âmbito da cultura do medievo, do desenvolvimento da administração territorial e das estratégias focadas no expansionismo
militar.
De tal modo, além de colaborar com a disseminação da religião católica, foi um grande incentivador das letras e das
artes bem como um valorizador do ensino, o que o levou a realizar uma reforma educacional na Europa.
Assim, as escolas passaram a funcionar nas cortes, mosteiros e bispados as quais incluíam as disciplinas:
gramática, retórica e dialética, aritmética, geometria, astronomia e música. Esse período de florescimento das artes e da cultura
ficou conhecido como Renascimento Carolíngio.

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O RENASCIMENTO CAROLÍNGIO
O Renascimento Carolíngio foi o momento de alta atividade cultural na Idade Média, fundamental para o
pensamento humanista do início da Idade Moderna. O principal esforço veio com o reinado de Carlos Magno (768-814). A
expansão territorial do Império Carolíngio não começou com Magno, mas foi a partir dele que o domínio alcançou grande parte da
Europa. Dessa forma, consolidou o poder dos francos, porém, não sem buscar as referências da Antiguidade.

A queda de Roma significou o fim das estruturas burocráticas que auxiliavam na administração imperial. Os
romanos possuíam um sistema jurídico e político aprimorados durante séculos. Para a população comum pouco mudou, pois a
desigualdade e as classes continuavam como sempre. Contudo, na questão política, as transformações foram sensíveis. Os
reinos germânicos precisaram se adaptar para ganhar legitimidade perante o povo que passou a ser governado por eles. A
aliança com a Igreja foi uma estratégia bem-sucedida, mas isso não significou a homogeneização do catolicismo. A crença variava
de acordo com o lugar, pois absorvia as suas particularidades e se transformava junto dos fiéis.
Carlos Magno queria a unificação do seu Império, o que seria feito por meio da fé. A necessidade de educar a
todos, inclusive os funcionários e clero, fez com que dedicasse muitos recursos para o desenvolvimento cultural dos reinos. Se a
base era o catolicismo, a referência era o Império Romano. O rei carolíngio se considerava sucessor dos antepassados romanos
e queria que o latim fosse praticado como na Antiguidade. É bom destacar que esse ponto de vista era claramente idealizado,
porque a língua no passado imperial não era a mesma em todas as províncias. Primeiro, a uniformização da língua falada não
existe em nenhum lugar, pois uma das características da linguagem é a transformação. Dialetos e maneirismos são adicionados
organicamente ao longo do tempo, o que impede a unificação. Esta só é possível ao ser institucionalizada, quando o estado
estabelece uma língua oficial que é utilizada em níveis burocráticos, na sistematização política. Magno queria que o seu reinado
tivesse uma língua conhecida por todos, pois era um dos caminhos para unificá-lo e diferenciá-lo dos outros territórios europeus.
Para que isso ocorresse, a ideia era educar. O Império Carolíngio começa a patrocinar a formação de escolas e de
intelectuais focados no ensino e aprendizagem, inclusive, se incluiu no processo. Como exemplo e por vontade própria, contratou
os principais eruditos europeus para ensiná-lo latim, escrita e conhecimentos gerais. Boa parte dos nobres e clero eram
analfabetos, e queria corrigir essa situação. A ideia principal era instituírem ensinamento correto das escrituras sagradas para
todos, por isso o ponto de partida para a unificação formal do Império veio por meio do catolicismo.
Com isso, houve o desenvolvimento literário que atingiu, de início, o clero. Nos monteiros, os monges passaram a
se dedicar à produção dos manuscritos, que exigia muito tempo e habilidades. A partir de cópia dos livros clássicos, preservaram
os principais conteúdos criados na Antiguidade. Junto disso, surgiram as iluminuras, decorações introduzidas nos manuscritos
medievais que foram ganhando mais espaço ao longo do tempo e demonstravam o ponto de vista estético do período. A
padronização do ato de copiar, do trabalho manual, foi uma das premissas de Carlos Magno pois auxiliaria na disseminação do
conteúdo e das ideias dessas obras, facilitando a compreensão que antes era mais difícil pelas diferenças gritantes entre elas.
Com as obras antigas sendo copiadas e preenchendo as bibliotecas eclesiásticas, aumentam as atividades
intelectuais que culminou no surgimento das Universidades. Os primeiros cursos eram de Teologia, e conforme as ciências foram
se desenvolvendo, novas carreiras se tornaram foram agregadas.
Tudo isso foi possível devido ao crescimento econômico da Dinastia Carolíngia. A ideia de Renascimento, contudo,
pode ser debatida, porque dá a entender que o período anterior não tinha qualquer manifestação artística, o que é incorreto. Além
dos motivos explanados anteriormente, a ambição de normalizar o latim ajudaria no processo de ordenação do sistema
burocrático.
Foi por essa iniciativa de escolarização, aprendizagem e produção massiva de manuscritos, que o Renascimento
moderno foi possível, já que a cópia dos clássicos manteve essas obras para a posteridade. Os métodos desenvolvidos nesse
momento foram vastamente aplicados, dando espaço para o surgimento de duas línguas: o latim formal, ensinado nas escolas,
Universidades e utilizado com mais frequência pela Igreja; e o latim comum, que era falado pelo povo, e foi o embrião das línguas
conhecidas hoje como latinas: o italiano, francês, português, espanhol, entre outros dialetos falados na Europa.
A Idade Média foi muito rica culturalmente, com o desenvolvimento de características que foram essenciais para a
identidade dos povos europeus e, também, para as mudanças políticas que ocorrerão após o século XIII.
A principal característica política administrativa do Império Carolíngio foi a distribuições de terras entre os oficiais e
soldados mais leais à realeza, mediante um juramento de fidelidade ao Imperador. Consequentemente, isso criou uma intensa
regionalização do poder, ao possibilitar o estabelecimento de uma influente nobreza regional.
Esta elevação era adquirida pelos títulos de nobreza, como o de Condes, Guardiões dos Condados e Marqueses,
defensores das Marcas, regiões fronteiriças do Império. Estes dotes chegavam centenas de condados e marcas, donde a
administração do vasto território era realizada pela administração itinerante da corte do imperador. Ela se deslocava pelo território,
bem, como pelos missi dominici (do latim, enviados do senhor), responsáveis por fiscalizar as atividades da nobreza.
Outra característica notável foi o fortalecimento dos laços de servidão responsáveis pela transformação de homens
livres em servos ligados a terra em que viviam. Este sistema possibilitou um grande desenvolvimento rural e agrícola, tornando
essas atividades à base da economia, com várias feiras e mercados nos centros urbanos europeus.
Além disso, este soberano estimulou o desenvolvimento das artes e instituiu um conjunto de leis escritas
denominadas “Leis Capitulares”. Após sua morte em 814, estes laços de fidelidade passaram a seu filho e sucessor, Luís I, o
Piedoso, o qual, por sua vez, falece em 840, deixando três herdeiros que irão disputar a Coroa. Ora, Lotário, o primogênito, irá
confrontar-se com seus irmãos Luís, o Germânico, e Carlos, o Calvo.

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Como resultado desta disputa, surge o Tratado de Verdun, em 843, oficializando a divisão do Império Carolíngio.
Como a morte de Lotário, seus irmãos anexam seus territórios e fazem surgir a Frância Oriental, futura Alemanha, e a Frância
Ocidental, que se tornará o Reino da França.

PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS E CONSEQUÊNCIAS


Vale ressaltar que o Tratado de Verdun marca uma época em que a unidade política da cristandade é abalada,
pondo fim a qualquer supremacia política na Europa.
Com a desintegração do Império Carolíngio, os francos não foram capazes de impedir as invasões bárbaras
subsequentes (árabes, normandos e magiares), muito menos de impedir o fortalecimento de nobres como os duques, condes e
marqueses.
Assim, além de concretizar o processo de formação da sociedade feudal entre os francos, este tratado está na
gênese da formação das nações francesa e alemã.
Com a divisão, Carlos, o Calvo (Carlos V), ficou com os territórios da Frância Ocidental (França). Contudo, o
enfraquecimento causado pelas disputas que envolveram a divisão de territórios foi tão grande, que a Frância Ocidental foi
conquistada por Hugo Capeto, em 987.
Por sua vez, a Luís, o Germânico (Luís II), coube as porções do território que compunham a Frância Oriental ou
Germânia, mais tarde denominada Sacro Império Romano-Germânico. No entanto, o destino desta dinastia não foi diferente da
anterior e Oto I conquistou este território em 936.
Por fim, a Lotário é entregue o título imperial e a porção de territórios do antigo Império Carolíngio que formavam
uma estreita faixa pelo centro da Itália até a Frísia, incluindo territórios dos Países Baixos, Lorena e Borgonha.
Estes territórios ficaram conhecidos como Lotaríngia e foi dividida entre Carlos, o Calvo, e Luís, o Germânico, em
870.
Contudo, as crescentes guerras civis, bem como a regionalização e fortalecimento da aristocracia, a qual
estabeleceu laços de vassalagem entre si, formando uma pequena nobreza sem laços de fidelidade para com os monarcas,
acaba por levar á queda da Dinastia Carolíngia, sobretudo após as invasões normandas.

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Mundo medieval
A Idade Média é um período compreendido entre os séculos V e XV, entre a Queda do Império Romano (476) e a
Queda de Constantinopla (1453). Muitas transformações contribuíram para a construção do mundo moderno.
A palavra-chave para o entendimento da Idade Média é feudalismo. Um conjunto de laços pessoais entre nobres
através da concessão de feudos. O feudalismo surgiu da necessidade dos nobres em estabelecer laços de fidelidade mútuos
devido à ruralização e à descentralização política provocada pelas invasões ocorridas a partir de fins do século IX.

ALTA IDADE MÉDIA


O período da Alta Idade Média corresponde à formação da Europa medieval até o seu apogeu, no século X. O
Império Romano do Ocidente acabou no século IV, e o imenso território conquistado pelos romanos pertencia então aos povos
bárbaros. O termo “bárbaro” era como os romanos chamavam os povos que não faziam parte do seu império, que estavam fora
dos limites romanos, ou seja, eram aqueles que não compartilhavam do mesmo costume romano, que não tinham a cidadania
romana.
A Alta Idade Média constituiu-se pela junção da herança romana com os costumes dos povos bárbaros. A invasão
bárbara alcançou a cidade de Roma, que foi saqueada diversas vezes. O temor dessas invasões fez com que os habitantes das
cidades buscassem refúgio e trabalho no campo. Ocorreu o que chamamos de ruralização da Europa.
Os reinos germânicos adaptaram seus costumes aos os dos romanos. A Igreja Católica aliou-se aos reis e tornou-
se a grande ponte entre o mundo germânico e o mundo romano. Os povos bárbaros abandonaram suas antigas práticas
religiosas e aderiram ao cristianismo. A fé cristã expandiu-se pela Europa ocidental, reforçando o poder do papa. Foi no Império
Carolíngio, no século VII, que a Igreja conseguiu consolidar o seu domínio.

COMO SE INICIOU A IDADE MÉDIA?


Importante considerarmos que o marco utilizado pelos historiadores para determinar o início da Idade Média — a
destituição de Rômulo Augusto do trono romano, em 476 — não é algo engessado. Sendo assim, esse evento é apenas utilizado
pelos historiadores como um ponto de partida para certas mudanças estruturais na Europa.
Essas mudanças estão ligadas ao fim do Império Romano na Europa Ocidental e ao estabelecimento dos
germânicos nesse território. Para entendermos isso, precisamos retornar alguns séculos na história romana. A partir do século III,
iniciou-se o que ficou conhecido como “crise do século III”, acontecimento que deu início à queda de Roma.
O declínio romano não é um acontecimento motivado por apenas uma razão, mas sim por uma série de fatores.
Havia, em Roma, crise política, crise econômica, crise social e guerra.
Do século II em diante, Roma não realizou mais guerras de conquista, o que impactou diretamente as estruturas
econômicas do império. Isso aconteceu porque a economia romana necessitava de escravos para funcionar plenamente e, sem
as guerras, Roma não os obtinha. Isso gerou queda na população de escravos e na produtividade, e afetou a economia romana.
A economia também foi prejudicada pela política, uma vez que a corrupção e a intensa disputa pelo poder que
existia no império prejudicavam sua estabilidade. Durante um período de 50 anos, no século III, Roma teve 18 imperadores, a
maioria deles assassinada para que outros pudessem assumir o poder.
O enfraquecimento econômico resultou em enfraquecimento militar, e o golpe de misericórdia sobre os romanos foi
dado pelos germânicos, povos que habitavam além das fronteiras romanas, no norte da Europa. Desde muitos séculos, os
germânicos tentavam integrar-se a Roma, lutando contra os romanos pelo direito de conseguir adentrar nas terras deles.
Essa luta travada entre ambos fez com que muitos germânicos recebessem o direito de instalar-se nas terras
fronteiriças de Roma e de adentrar-se nos exércitos de fronteira. Do século IV em diante, as invasões germânicas tornaram-se
mais drásticas e contribuíram diretamente para o fim do Império Romano.
Tratava-se dezenas de povos que migravam à procura de novas terras para garantir sua sobrevivência, e, ao longo
dos séculos IV e V, eles devastaram o território romano. As invasões germânicas não foram acontecimentos pequenos e isolados,
eram movimentações de população gigantescas que traziam guerra e destruição. O historiador Hilário Franco Júnior aponta que
cada povo germânico em migração tinha cerca de 50 mil a 80 mil pessoas.
Os ataques, inclusive, chegaram a Roma, capital do Império Romano do Ocidente. Em 410, o rei visigodo Alarico
liderou o saque dela; em 453, o papa Leão I subornou os hunos, liderados por Átila, para que eles não a atacassem; em 455, foi a
vez dos vândalos, liderados por Genserico, saquearem-na.
Com o poder enfraquecido perante o esfacelamento do território romano, o último imperador de Roma foi deposto
em 476. Com isso, chegou-se ao fim do Império Romano do Ocidente.
Todos esses fatores enfraqueceram o império de tal maneira que ele foi deixando de existir a partir do século V.

ENTRE AS CARACTERÍSTICAS DA IDADE MÉDIA, PODEMOS DESTACAR:

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RURALIZAÇÃO
Após a desgregação do Império Romano, a Europa Ocidental ruralizou-se, e esse é um dado comprovado pelos
historiadores. Isso foi uma consequência direta da devastação causada pela crise romana e pelas invasões germânicas. Os povos
invasores tinham como grande alvo as cidades romanas, pela quantidade de bens que poderiam ser saqueados.
Além disso, com a crise econômica romana e a devastação causada pelos germânicos, a produção agrícola do
império caiu drasticamente e o comércio enfraqueceu-se. Com a produção e o comércio em queda, as grandes cidades ficaram
desabastecidas. Num cenário de morte e fome, as cidades logo se tornaram locais de proliferação de doenças.
Esse cenário forçou milhares de pessoas a buscarem refúgio no campo, longe das cidades. Elas passaram a
abrigar-se em pequenas vilas ou ao redor de grandes propriedades de terra para obter alguma proteção em comida. Os donos
das grandes propriedades converteram-se em chefes militares, para garantir a segurança de seus bens, e passaram a explorar
aqueles que procuravam trabalho em suas terras. Desenvolveu-se nesse processo a servidão medieval.

REDUÇÃO POPULACIONAL
A Alta Idade Média ficou marcada pela redução populacional. Os fatores diretos dessa redução foram as guerras, a
fome e as doenças que foram trazidas durante as invasões germânicas. Hilário Franco Júnior aponta que, no ano 200, a
população na Europa Ocidental era de 24,1 milhões de pessoas, enquanto que, no ano 600, era de 16,3 milhões. Só a partir do
século VIII a população europeia começou a recuperar-se.

TRABALHO E SOCIEDADE
Durante a Alta Idade Média, a Europa ruralizou-se e presenciou a formação dos feudos.
Como mencionado, durante a Alta Idade Média, consolidou-se a servidão. O camponês ficava preso à terra em que
ele estava durante toda a sua vida. Essa terra não pertencia a ele, mas a um nobre que lhe fornecia o direito de instalar-se nela e
tirar a sua subsistência do cultivo. O camponês deveria pagar vários tributos pelo direito de cultivar a terra e por utilizar as
instalações do seu senhor.
Esse processo de consolidação do trabalho servil aliado à ruralização e ao progressivo isolamento dessas
propriedades fez com que o feudalismo fosse estruturado. No entanto, a formatação clássica do feudalismo só entrou em vigor a
partir do século XI, portanto, na Baixa Idade Média.
O trabalho dos camponeses era marcado pela baixa produtividade, pois era manual e as técnicas de produção eram
arcaicas. Isso afetava diretamente a vida do camponês, uma vez que grande parte da sua pequena produção era revertida em
imposto para os donos das terras. Esse quadro reforçava a penúria dos trabalhadores na Alta Idade Média.
Só para termos uma ideia dessa baixa produtividade, vale considerar uma estatística trazida pelo historiador Robert
Darnton. Ele aponta que, na França, durante a Idade Moderna (séculos XV ao XVIII), cada semente fornecia cinco grãos de trigo,
um retorno muito baixo. Podemos considerar que na Alta Idade Média (séculos antes da Idade Moderna) a produtividade era igual
ou até mesmo menor que isso. Para fins de comparação, Darnton aponta que, no século XX, cada semente fornecia até trinta
grãos, uma diferença abissal.
A sociedade medieval era dividida em ordens ou estamentos, camadas sociais definidas conforme o papel
desempenhado por seus membros. O bispo Adalberón traduziu a visão da Igreja sobre a sociedade medieval em um poema onde
dizia que o clero era os que oravam; a nobreza, os que guerreavam; os servos, os que trabalhavam.
Essa sociedade divididia-se em classes e com pouca mobilidade social. No topo da pirâmide estava o clero,
formado por representantes da Igreja Católica, também detentor de poder político e econômico; logo abaixo vinha a nobreza, a
elite detentora do poder político, militar e econômico; e na base estavam os camponeses e servos, grupo mais explorado que
tirava seu sustento por meio de seu trabalho e era obrigado a pagar pesados impostos aos outros dois grupos e os únicos que
trabalhavam e sustentavam as classes de cima.
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ECONOMIA
A agricultura tornou-se a principal atividade econômica, da qual quase toda a riqueza no período era produzida, por
meio do trabalho dos camponeses. Os servos trabalhavam na terra para o seu próprio sustento, de sua família e do seu senhor.
Havia uma dinâmica ao lidar-se com a terra aproveitando-a ao máximo sem desgastá-la. Enquanto uma parte da
terra era utilizada para o cultivo, uma outra porção dela ficava em repouso. Logo após a colheita, a terra trabalhada ficava em
repouso e a outra era utilizada. Esse era o sistema de rotação, que evitava o desgaste do solo.
A produção artesanal era baixa, e isso era fruto da redução populacional, pois não havia mão de obra qualificada
para a atividade, além de haver pouca matéria-prima disponível e poucos consumidores.
O artesanato começou a ganhar força, a partir do século VIII, à medida que a população europeia crescia. No caso
do comércio, é importante esclarecer que o comércio mediterrâneo, por influência dos bizantinos, continuou existindo. No entanto,
na Europa Ocidental, essa atividade enfraqueceu-se por conta da organização econômica baseada em um relativo isolamento.
Não era frequente que existissem excedentes que fossem comercializados, mas quando eles existiam eram
comercializados com feudos vizinhos ou eram levados para pequenas feiras que se desenvolviam.
A pouca presença dessa atividade na Europa Central, durante a Alta Idade Média, contribuiu para que circulação da
moeda começasse a diminuir. Isso porque o comércio que ainda existia nesse período baseava-se na troca de mercadorias.
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POLÍTICA

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Politicamente, a influência da cultura germânica foi muito presente, a começar pela forma como essa população
organizava-se. Tratava-se de reinos, liderados por um rei que, geralmente, era o chefe militar.
Essa estrutura de poder era típica dos povos germânicos, e o historiador Jacques Le Goff afirma que ela era
detestada pelos romanos. Le Goff também sugere que as leis que surgiram na Europa após o fim do Império Romano eram
baseadas em códigos da tradição germânica.
Na Alta Idade Média, estabeleceu-se uma aliança entre o poder secular e o poder eclesiástico. A Igreja Católica
consolidou-se como instituição religiosa, e, aos poucos, seu poder econômico permitiu-lhe interferir no poder secular. Assim,
muitos dos reinos germânicos que surgiram — o caso mais simbólico é o dos francos — procuraram respaldo e legitimidade para
seu poder na Igreja Católica.
Por fim, vale destacar que, na Alta Idade Média, estabeleceu-se uma relação de poder que foi uma das grandes
marcas da Idade Média: a vassalagem. Isso aconteceu porque, na Alta Idade Média, o rei era uma figura frágil e que só garantia
sua posição de poder com o apoio de outros nobres/chefes militares.
Para isso surgiu essa relação de fidelidade entre rei e nobre, na qual o rei (suserano) demandava a fidelidade de
seu nobre (vassalo). Em troca, o suserano fornecia uma terra e os direitos e privilégios de exploração a seu vassalo, que, por sua
vez, devia auxiliá-lo na governança e fornecer suas tropas quando necessário.

CULTURA
A cultura da Alta Idade Média estava concentrada nos mosteiros. A produção da Antiguidade Clássica foi guardada,
e os monges copistas tinham a missão de copiar os textos antigos para que não se perdessem com o tempo. O acesso às
bibliotecas dos mosteiros era restrito e o trabalho era manual.

Feudalismo
O QUE É FEUDALISMO?
O feudalismo foi à forma de organização social e econômica instituída na Europa Ocidental entre os séculos V a XV,
durante a Idade Média. Baseava-se em grandes propriedades de terra, chamadas de feudos, que pertenciam aos senhores
feudais, e a mão de obra era servil.
De acordo com Jacques Le Goff, um dos principais estudiosos da Idade Média, o feudalismo é “um sistema de
organização econômica, social e política baseado nos vínculos de homem a homem, no qual uma classe de guerreiros
especializados — os senhores —, subordinados uns aos outros por uma hierarquia de vínculos de dependência, domina uma
massa campesina que explora a terra e lhes fornece com que viver”.
O feudalismo foi um modelo social e econômico que vigorou dos séculos V ao XV, na Europa Ocidental, e que
marcou profundamente a Idade Média. Esse modelo era baseado na terra e, por meio dela, constituíam-se a atividade econômica
e a estrutura social.
Os feudos eram grandes propriedades de terra onde se baseavam as relações sociais e econômicas durante a
Idade Média.

ORIGEM DO FEUDALISMO
A origem do feudalismo está na crise que provocou a queda do Império Romano do Ocidente. No século III, por
conta da crise econômica provocada pela falta de escravizados e das invasões germânicas.
Os germanos eram povos que estavam fora dos limites do grande império atravessaram as suas fronteiras e
adentraram no território, alcançando Roma. A capital do império foi saqueada pelos bárbaros. Essa ação violenta e a
desestruturação do Império Romano fizeram com que os moradores das cidades e migraram para o campo com o objetivo de
encontrar proteção e trabalho. Dessa forma, surgiam os colonatos, nos quais aqueles que encontravam abrigos no campo
trabalhavam para o seu senhor.
O surgimento dos reinos germânicos, no século V, contribuiu para aprofundar o processo de ruralização europeia.
Além desse movimento de saída das cidades para o campo, o enfraquecimento do poder político contribuiu para o surgimento do
feudalismo.
Nessa transição entre a queda do Império Romano, ocorrida no século IV d.C., e o início da Idade Média, observa-
se a ruralização da Europa, ou seja, as cidades perderam suas forças para o campo promovendo o fortalecimento dos nobres.
A nobreza era formada pelos senhores feudais, por cavaleiros que garantiam a segurança dos feudos e por outros
donos de terras.
Nessa classe social se desenvolveu a fidelidade entre suseranos e vassalos. Os suseranos eram aqueles que
concediam terras e outros favores aos vassalos, e estes, em troca, deveriam retribuir o favor quando solicitados. Essa fidelidade
era uma característica dos povos bárbaros e que foi incorporada nas relações sociais feudais. Fazia-se uma cerimônia, a
“Homenagens”, que por norma aconteciam em igrejas para tornar público o acordo firmado, estabelecendo-se o sistema de
vassalagem.

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Este sistema se estabelecia por um ato espontâneo que firmava um compromisso de fidelidade de um cavaleiro
(vassalo) para outro nobre (suserano) durante uma cerimônia, a homenagem era dividida em dois atos. No juramento, o vassalo
prometia auxílio militar quando requisitado, conselhos e ajuda financeira quando necessário. Em contrapartida, na investidura, o
suserano cedia um feudo que podia ser uma porção de terra, pensão ou rendimento agrícola.
Os senhores feudais, os donos dos feudos, tornaram-se poderosos por conta da valorização as terras. Enquanto os
imperadores concentravam poderes nos tempos de domínio romano, no feudalismo, o poder foi descentralizado nas mãos desses
senhores donos das terras.
Os servos trabalhavam nos feudos que procuravam para proteção. Ficavam sob as ordens do Senhor Feudal que
herdava e transmitia seu feudo hereditariamente. Suas terras eram divididas da seguinte forma: manso senhorial, as terras
reservadas ao cultivo do senhor; manso servil, lotes de terras destinados à produção dos servos; manso comunal, terras de uso
comum.
No Senhorio (feudo), os servos, em troca de moradia e proteção, trabalhavam para os senhores feudais e para a
sobrevivência deles mesmos e de suas famílias. A eles cabiam inúmeras exigências, cobranças sobre os usos dos utensílios
pertencentes ao senhor feudal, a entrega de parte da produção, o dízimo para a Igreja. As principais eram: corveia, o trabalho no
manso senhorial durante três dias da semana; talha, uma parte da produção do servo era entregue ao senhor feudal; banalidades,
pagamento pelo uso de equipamentos do senhor – celeiros, moinhos, fornos.
O rei, a Igreja e os grandes nobres detinham os maiores domínios, mas, com o tempo, as terras reais e dos demais
nobres foram se dividindo graças à vassalagem, o que aumentou o poder da Igreja, que não dividia suas terras.
A Igreja Católica se fortaleceu nesse período ao fazer alianças com os reis bárbaros que instalaram seus domínios
na Europa. Dessa forma, os povos pertencentes a esses reinos foram convertidos ao cristianismo, e o papa se tornou poderoso
não somente nos assuntos celestiais, mas também políticos. Iniciava-se a tradição, que se estendeu até o século XIX, dos papas
coroarem os novos reis, uma cerimônia que marcava a aproximação da Igreja com o poder político.
O clero se tornou uma classe social poderosa e atuante na formação da mentalidade medieval. A crença se
baseava na força divina contra o maligno e na negação do fiel sobre os prazeres mundanos em busca da salvação da sua alma. A
cultura clássica ficou guardada nos mosteiros para ser preservada das invasões, e os monges copistas tiveram papel importante
na reprodução desses escritos.

Baixa Idade Média


Baixa Idade foi uma das fases da Idade Média e correspondeu ao período iniciado no século XI e encerrado
no século XV. Nela houve inúmeras mudanças para o continente europeu: a população cresceu, as cidades e o comércio
renasceram, e isso resultou em transformações na forma como a sociedade europeia organizava-se. As mudanças da Baixa
Idade Média levaram ao fim do feudalismo e à centralização do poder real.
A Baixa Idade Média é um período marcado pelo feudalismo — sistema que delimitava o funcionamento da
sociedade europeia em diferentes aspectos. O auge do feudalismo deu-se entre os séculos XI e XIII, sendo que, após esse
período, esse sistema começou a ruir por conta das modificações que a Europa passou a sofrer.
O feudalismo foi estruturado ao longo da Alta Idade Média, chegando a sua forma clássica no período citado. Tal
sistema dependia exclusivamente de duas coisas: a dependência do trabalho agrícola e a relação de fidelidade entre o rei e o
nobre. Assim, nele, o local que centralizava a vida medieval era o feudo.
O feudo pertencia a um senhor feudal, que permitia que camponeses instalassem-se em suas terras e cultivassem
seu solo. Em troca, estes eram obrigados a pagar impostos pesados por utilizar a terra e as instalações daquele. O camponês
ficava preso à terra em que vivia, e a mobilidade social era quase inexistente.
Outra característica importante era a relação de vassalagem, surgida no interior do Império Carolíngio durante a
Alta Idade Média. Na Baixa Idade Média, ela era a relação principal que o rei tinha com seus súditos. Ele dava uma de suas terras
a um nobre, que lhe prestava juramento, garantindo-lhe apoio na administração do reino e na guerra.

SOCIEDADE
A sociedade na Baixa Idade Média continuava estamental, ou seja, era dividida em classes sociais muito bem
definidas e que tinham pouquíssimas chances de mobilidade social, uma vez que o valor dos nobres era atribuído pelo sangue,
por sua descendência, e esse era o fator da origem e manutenção de toda sua riqueza.
A Baixa Idade Média, porém, presenciou alguma modificação nessa organização social. O crescimento das cidades
esteve por trás dessas mudanças devido ao surgimento de novos ofícios por toda a Europa Ocidental.

ECONOMIA
Baixa Idade Média ficou marcada pelo crescimento das cidades.
A Europa ainda era majoritariamente rural e dependente da agricultura. A agricultura europeia passou por melhorias
a partir do século XI, quando os europeus começaram a utilizar animais de tração e a charrua para o arado do solo. Além disso,
eles iniciaram um sistema de rotatividade trienal, que garantia a fertilidade do solo. Esses fatores melhoraram a produtividade
dessa atividade econômica na época.

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Do século X ao século XIII, a Europa também sofreu um aumento na temperatura média. Isso possibilitou melhores
colheitas, mas também a ampliação das terras cultivadas. O aumento da produtividade permitiu os feudos a terem um pequeno
excedente agrícola, que passou a ser comercializado.
Esse renascimento do comércio, que se deu primeiramente a partir desse excedente, expandiu o leque de
mercadorias disponíveis, obtendo-se mercadorias de luxo oriundas do Oriente. A princípio itinerante, o comércio consolidou-se e
as feiras temporárias tornaram-se fixas nos arredores das cidades, conhecidos como burgos, locais em que se encontravam os
burgueses.
Isso reforçou o crescimento das cidades, um processo que já estava em curso. As cidades em crescimento
possibilitaram o aumento dos ofícios e novas formas de sobrevivência. A economia agora se diversificava, e os trabalhadores
poderiam sobreviver do comércio e do artesanato, se assim preferissem.

POLÍTICA
Na política, a Europa também sofreu grandes mudanças. No final do século XIII, a relação entre feudalismo e
vassalagem perdeu sua força, e a Europa presenciou um processo de fortalecimento da posição do rei e o surgimento de um
aparato burocrático que deu origem ao Estado Nacional.
Esse fortalecimento aconteceu em alguns locais da Europa Ocidental, e os casos mais simbólicos deram-se na
Inglaterra e, principalmente, na França. No caso francês, os reis da Dinastia Capetíngia (ou dinastia dos Capetos) firmaram-se no
poder a partir do século X e, pouco a pouco, combateram os privilégios da nobreza, tomando-lhes as terras. Após o processo de
unificação jurídica com a aplicação de uma lei sobre todo o reino, houve a transformação do poder do rei em lei, de fato.
O caso inglês foi um pouco diferente, porque, após um processo inicial de consolidação da figura real a partir da
chegada dos normandos na região no século XI, uma crise política no século XIII estabeleceu mecanismos que deram origem ao
Parlamento, que, por sua vez, começou a agir como moderador do poder do rei.

CRISE DO SÉCULO XIV


A crise do feudalismo começou a partir do século XII, quando mudanças na sociedade europeia colocaram em
xeque as estruturas do feudalismo. As cidades voltaram a surgir após séculos de abandono, desde os tempos das invasões
bárbaras. Houve o aumento populacional ocorrido no ano 1000, também chamado de “ano da paz de Deus”, por conta da queda
significativa nas guerras medievais. Com o aumento demográfico, a produção agrícola também se expandiu, exigindo maior
trabalho dos servos e o uso de técnicas mais avançadas para atender a demanda.
Outro fator que transformou a sociedade europeia foram as Cruzadas. Inicialmente eram expedições religiosas que
se dirigiam até o Oriente para resgatar os locais sagrados para os cristãos e que estavam nas mãos dos islâmicos. No entanto,
essas expedições ganharam outras dimensões ao trazerem para a Europa Ocidental produtos orientais, como as especiarias.
O comércio retomava suas atividades após mais de um milênio de predomínio agrícola. O mar Mediterrâneo voltava
a receber expedições comerciais que interligavam o Ocidente com o Oriente. As cidades italianas de Gênova e Veneza fizeram
acordos comerciais com os islâmicos a fim de manter a abertura do Mediterrâneo para essa nova onda comercial.
Surgia nesse contexto a burguesia, uma classe social formada por comerciantes que enriqueceram com as trocas
comerciais de produtos orientais. Ao redor dos feudos se formavam as feiras, que faziam as negociações dos produtos; instalava-
se os primeiros bancos para fazer as conversões monetárias, e as moedas voltavam a circular no Ocidente.
Após séculos de domínio eclesiástico sobre a produção cultural, o período final do feudalismo marcou a retomada o
cientificismo, ou seja, da pesquisa científica no estudo sobre a natureza. Temendo represálias da Igreja, muitos cientistas faziam
seus experimentos às escondidas. O humanismo começava a se fortificar na Europa, um movimento cultural que valorizava o ser
humano e toda sua potencialidade. Buscava fazer renascer os princípios humanistas que caracterizaram a cultura clássica greco-
romana. O teocentrismo, Deus no centro do Universo, cedia lugar para o antropocentrismo, o ser humano como centro e principal
medida de todas as coisas. Mesmo mantendo as temáticas religiosas, as produções artísticas no final da Idade Média apontavam
para as expressões de traços humanos na pintura e escultura.
Entre os séculos XII e XIV, a economia medieval vivenciou uma época de ascensão mediante a ampliação da oferta
de gêneros agrícolas e o desenvolvimento das cidades. A dinâmica que antes ordenava a Europa despontava para outras
possibilidades que incluíam o aquecimento das atividades comerciais, o afrouxamento das relações servis em algumas regiões, a
monetarização da economia e a consolidação de uma nova classe social pela burguesia.
Contudo, no início da segunda metade do século XIV, essa realidade foi bruscamente interrompida com o terrível
advento da Peste Negra. Essa foi uma doença altamente infecciosa e que se alastrou por toda a Europa graças às péssimas
condições de higiene daquela época, matando 1/3 da população.
A morte de tanta gente acabou provocando um enorme desordenamento ao processo produtivo daquela época. As
atividades comerciais retraíram, bem como as propriedades feudais desaceleraram a sua capacidade de produção. Temendo a
escassez de alimento, que de fato aconteceu, vários nobres dificultaram ao máximo a saída dos servos de suas propriedades.
Nesse contexto de escassez e enrijecimento, as tensões entre servos e nobres logo se evidenciaram.
O século XIV ficou marcado por uma nova queda na temperatura que resultou em colheitas muito ruins. A
consequência disso, naturalmente, foi a fome, e o historiador Jacques Le Goff exemplifica que Bruges (atual Bélgica) perdeu dois
mil dos seus 35 mil habitantes por ela. A situação ampliou a penúria dos mais pobres, aumentou a insatisfação, e revoltas

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eclodiram em toda a Europa. Com o excesso de trabalho e desejosos por sair dos feudos e mudar de vida nas cidades, os servos
de revoltaram contra os seus senhores, encerrando um período de mais de um milênio de obrigações e apego a terra.
Em regiões da Bélgica, França e Inglaterra observamos os camponeses envolvidos em grandes revoltas que
ficaram conhecidas pelo nome de “jacqueries”. O termo, proveniente da expressão “Jacques bon homme”, era negativamente
dirigida para todos aqueles que não tinham qualquer tipo de propriedade ou não ocupavam uma posição privilegiada.
Essas revoltas aconteciam pelo excesso de impostos que os pobres tinham que pagar, pela falta de empregos nas
cidades e pelos altos preços de itens básicos à sobrevivência, como alimentos. Revoltas aconteceram em cidades de todos os
portes e também se espalharam para o campo.
A crise do século XIV abalou as estruturas medievais, dando origem a novas realidades políticas, econômicas e
sociais. A redução populacional de todo esse processo foi drástica, e, no final, a centralização do poder real estava consolidada, a
economia começou a basear-se no comércio e a sociedade diversificou-se.
Os reis começaram a ganhar força política ao liderarem as tropas militares que abafaram as revoltas servis e
atuaram na linha de frente das guerras entre os primeiros reinos europeus, como a Guerra dos Cem Anos, um conflito envolvendo
a França e a Inglaterra. De chefes militares, os reis ganhavam poderes políticos e começavam a se tornar monarcas absolutistas,
característica dos reinos modernos.
Além disso, as disputas por terras e poder entre os membros da nobreza suscitaram guerras. A maior guerra do
século XIV foi a Guerra dos Cem Anos, travada durante 1337 e 1453, entre França e Inglaterra. Esses combates destruíram
colheitas, empobreceram pessoas e espalharam mortes e doenças pela Europa. Eles ainda contribuíram para o enfraquecimento
da nobreza, exaurida pelos gastos neles.
Tanta instabilidade demonstrou que os antigos hábitos e instituições que definiam a ordem feudal não mais se
manteriam incólumes. Por tal razão, observamos que essas últimas décadas do período medieval foram marcadas por guerras, a
centralização do poder político e a reorganização das atividades econômicas. Adentrando o século XV, vemos uma Europa
articulando transformações que definiram boa parte da compreensão do mundo moderno.

RESSURGIMENTO DO COMÉRCIO E O NASCIMENTO BURGUESIA


Com todas as desgraças chegando ao “fim”, principalmente nas regiões onde existia relativa paz ou maior equilíbrio
de poder, a atividade comercial acabou por lançar a Europa a um novo patamar.
O comércio de especiarias gerava um alto lucro, mas a fragmentação do poder nas mãos de muitos suseranos
dificultava o trânsito das mercadorias.
A ascensão da classe burguesa, que não pertencia à nobreza nem ao clero (classes dominantes da época), acabou
por fortalecer os monarcas, de modo que conseguissem compor seus próprios exércitos profissionais, quando financiados pela
burguesia.
Assim, à medida em que a figura do rei cada vez mais se fortalecia, a centralização e unificação do poder também.
Com isso, uma maior uniformização das regras, moedas, costumes surgiu, facilitando as necessidades do comércio.
Essas mudanças facilitaram o comércio e o poderio da classe burguesa, financiando, inclusive, o que chamamos de
as Grandes Navegações, que é uma das inúmeras decorrências do Renascimento e da Formação dos Estados Modernos.

AS CRUZADAS MEDIEVAIS
O QUE FORAM AS CRUZADAS?
As Cruzadas foram guerras incentivadas pela Igreja Católica, que aconteceram na Europa Ocidental. Tinham como
alvo principal retomar a Palestina e Jerusalém, tirando as cidades do domínio muçulmano. Foram nove Cruzadas oficiais, que
aconteceram entre os séculos XI e XIII, período da Idade Média, na Europa. Além das nove aconteceram incontáveis outras que
foram feitas por vontade do povo, sem lideranças de reis ou da Igreja, por isso não estão entre as oficiais.

PRINCIPAIS CAUSAS
A cidade de Jerusalém estava sob o controle dos muçulmanos desde o ano 636, quando o califa Omar ibn al-
Khattab havia conquistado a cidade dos bizantinos. No século XI, os países cristãos da Europa sofriam com a expansão dos
reinos muçulmanos, tanto na Península Ibérica (região onde se localizam hoje Portugal e Espanha) quanto nas terras do Império
Bizantino, onde os turcos eram a ameaça. Nesse contexto, começa a surgir na Igreja o interesse em reaver o controle da
chamada Terra Santa.
Além disso, o controle dos turcos sobre a Palestina representava também uma maneira de repressão sobre os
peregrinos cristãos. A peregrinação era algo muito comum naquele momento, pois era vista como uma maneira de perdão aos
pecados, entretanto, a viagem para a Palestina (onde o Santo Sepulcro era o lugar mais visitado) era muito cara, uma vez que os
peregrinos estavam sujeitos a todo tipo de ameaça, como naufrágios e saques, além de serem obrigados a pagar pedágios,
dependendo da região em que estivessem.

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Naquele contexto, uma série de fatores ajudam a explicar a convocação das Cruzadas. No caso da Igreja,
especula-se que o papa Urbano II desejava canalizar a atenção dos cristãos para combater o “infiel” como uma maneira de
reduzir os conflitos e disputas internas entre os próprios cristãos. Além disso, o auxílio aos bizantinos, que sofriam com os
ataques dos turcos, poderia contribuir para a unificação da Igreja, separada em 1054 entre Igreja Católica Apostólica Romana e
Igreja Católica Apostólica Ortodoxa. Outros fatores eram ainda a possibilidade de as Cruzadas motivarem as pessoas por meio da
promessa de salvação e remissão dos pecados e também pela chance de obter terras e riquezas a partir dos saques.
- Após o domínio da região, os turcos passaram a impedir ferozmente a peregrinação dos europeus, através da
captura e do assassinato de muitos peregrinos que visitavam o local unicamente pela fé.
- A elevada população de algumas cidades europeias também é apontada, por muitos historiadores, como uma das
causas das Cruzadas. Neste contexto, as expedições era uma forma de aliviar a pressão demográfica sobre estas cidades, pois
estimularia a migração de grande quantidade de pessoas.
- Havia também motivações econômicas entre muitos participantes das Cruzadas. O principal objetivo desses
cruzados era a obtenção de riquezas através dos saques de cidades localizadas no Oriente.

OBJETIVOS:
- Reconquistar a “Terra Santa” (Jerusalém) que estava em posse dos turcos. Esse pode ser considerado o principal
objetivo das Cruzadas.
- Expandir o cristianismo em direção ao Oriente.
- Expulsar os muçulmanos da Península Ibérica.
- Os nobres que participaram das Cruzadas tinham a intenção de conquistar novas terras.
- Combate às heresias de movimentos cristãos não integrantes da Igreja Católica. Nesse caso, podemos citar a
Cruzada Albigense (1209-1244).
- Reunificar o Catolicismo, aumentando assim o poder da Igreja.
- Diminuir a pressão demográfica (aumento populacional) em algumas regiões da Europa.
- A participação de reis europeus em algumas Cruzadas mostrou também que havia na nobreza a vontade de
aumento de reputação, através de um ato considerado de coragem e fé.
- Havia também nas cruzadas um importante objetivo comercial, principalmente por parte de Veneza, interessada
na retomada do comércio no Mediterrâneo. Nesse sentido, a burguesia veneziana financiou a Quarta Cruzada (também conhecida
como Cruzada Comercial) e foi favorecida com a conquista de Constantinopla.
- Não podemos deixar de lado também o objetivo, de alguns cruzados, de praticar o saque, de cidades
conquistadas, para obtenção de objetos de valor.
- Quarta Cruzada (1202-1204): principal objetivo foi a retomada do comércio com o Oriente.

CONVOCAÇÃO, ORGANIZAÇÃO E CONFRONTOS MILITARES


A convocação para as Cruzadas aconteceu em 25 de novembro de 1095, no Concílio de Clermont, pelo papa
Urbano II que, em seus discursos, “prometeu que aqueles que se empenhassem nessa causa com um espírito de penitência
teriam seus pecados pregressos perdoados e obteriam total remissão das penitências terrenas impostas pela Igreja” 1.
Percebemos, portanto, que a Igreja prometia a salvação a todos aqueles que lutassem na “defesa do cristianismo”. Nesse
período, foi debatido pela Igreja o conceito de “Guerra Justa”, no qual se considerava como justa toda a defesa do cristianismo
contra os muçulmanos, chamados de “infiéis”. Dessa forma, a Igreja dava o aval para seus seguidores lutarem (e matarem) em
sua defesa.
Muitos camponeses foram a combate pela promessa de que receberiam reconhecimento espiritual e recompensas
da Igreja; contudo, esta primeira batalha fracassou e muitos perderam suas vidas em combate.
Após a Primeira Cruzada, foi criada a Ordem dos Cavaleiros Templários que tiveram importante participação militar
nos combates das Cruzadas que se seguiram.
Após a derrota na 1.ª Cruzada, outro exército ocidental, comandado pelos franceses, invadiu o oriente para lutar
pela mesma causa. Seus soldados usavam, como emblema, o sinal da cruz costurado sobre seus uniformes de batalha.
Liderados por Godofredo de Bulhão, estes guerreiros massacraram os turcos durante o combate e tomaram Jerusalém,
permitindo novamente livre para acesso aos peregrinos.
Outros confrontos deste tipo ocorreram, porém, somente a sexta edição (1228-1229) ocorreu de forma pacífica. As
demais serviram somente para prejudicar o relacionamento religioso entre ocidente e oriente. A relação dos dois continentes
ficava cada vez mais desgastada devido à violência e a ambição desenfreada que havia tomado conta dos cruzados, e, sobre
isso, o clero católico nada podia fazer para controlar a situação.

PRINCIPAIS CRUZADAS

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C Descrição
ruzada

A primeira Cruzada foi proclamada pelo papa Urbano II. O primeiro alvo era reconquistar
Primeira Jerusalém. A localidade já havia sido dos cristãos, mas foi tomada pelos muçulmanos em 1076. Nessa
Cruzada um dos homens de frente da guerra não avançou na busca por Jerusalém. Ajudado por uma minoria,
Balduíno conquistou a cidade de Edessa, sendo esta a primeira conquista da primeira Cruzada. A partir dos
conflitos seguintes, culminou-se a conquista de Antioquia e mais tarde de Jerusalém.

Anos depois da primeira Cruzada oficial os muçulmanos tomaram a cidade de Edessa


Segunda novamente, desfazendo o reino cristão que Balduíno instaurou por ali. E então o rei Luís VII organizou o povo
mais uma vez para a guerra. A segunda Cruzada foi um desastre: Edessa permaneceu no poder dos
muçulmanos e Jerusalém teve o reinado cristão ameaçado.

Em 1187 os muçulmanos, liderados por Saladino, conseguiram invadir Jerusalém e retomaram a região. Os
cristãos não conseguiram mais combater e Saladino permitiu o acesso dos cristãos à cidade para suas
peregrinações, mesmo que o território fosse muçulmano.

Essa é a Cruzada dos Reis. Foi convocada pelo papa Gregório VII, que por sua vez chamou
Terceira três reis para liderar a batalha: Frederico I Barba-Ruiva, Felipe Augusto e Ricardo I.

Dos três reis, Ricardo I teve grandes feitos. Esse Rei conseguiu conquistar três regiões próximas a Jerusalém:
Chipre, Acre e Jafa.

Depois que Jerusalém foi conquistada por Saladino, os cristãos nunca mais tiveram êxito na retomada das
terras. Por isso Ricardo I teve a estratégia de ofertar prisioneiros muçulmanos em troca de Jerusalém. Foram
2700 homens que ele jurou matar, caso Saladino não trocasse os seus homens pela cidade.

Ricardo I, que era conhecido como Coração de Leão, se tornou conhecido depois de cumprir sua promessa de
matar os muçulmanos, uma vez que Saladino não lhe entregou Jerusalém.

A terceira Cruzada culminou na desistência dos cristãos em insistir na retomada da cidade santa. Eles
tentaram algumas vezes posteriormente, mas as Cruzadas, após Ricardo I não tinham mais esse objetivo
como o maior.

A quarta fase de guerras teve alvos diferentes. Essa Cruzada foi mais rápida que as outras. Foi
Quarta feita pelos comerciantes. O objetivo era expandir as terras para aumentar também o comércio.

Juntaram-se homens de Veneza e Gênova, hoje cidades da Itália, e decidiram invadir a cidade de
Constantinopla, que tinham grande sucesso no comércio.
Veneza e Gênova tomaram Constantinopla, abriram os portos do Mar Mediterrâneo e deram um novo fluxo de
mercado ao comércio da região.

AS PRINCIPAIS CONSEQUÊNCIAS DAS CRUZADAS FORAM:


Embora não tenham sido bem-sucedidas, ao ponto de até crianças terem feito parte e morrido por este tipo de luta,
estes combates atraíram grandes reis como Ricardo I, também chamado de Ricardo Coração de Leão, e Luís IX.
- As Cruzadas proporcionaram também o renascimento do comércio na Europa. Muitos cavaleiros, ao retornarem
do Oriente, saqueavam cidades e montavam pequenas feiras nas rotas comerciais. Houve, portanto, um importante
reaquecimento da economia no Ocidente. Estes guerreiros inseriram, na Europa, novos conhecimentos, originários do Oriente,
através da influente sabedoria dos sarracenos.
- Não podemos deixar de lembrar que as Cruzadas aumentaram as tensões e hostilidades entre cristãos e
muçulmanos na Idade Média. Mesmo após o fim das Cruzadas, este clima tenso entre os integrantes destas duas religiões
continuou.
- Já no aspecto cultural, as Cruzadas favoreceram o desenvolvimento de um tipo de literatura voltado para as
guerras e grandes feitos heroicos. Muitos contos de cavalaria tiveram como tema principal estes conflitos.

CURIOSIDADES:

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- A expressão "Cruzada" não era conhecida nem mesmo foi usada durante o período dos conflitos. Na Europa,
eram usados termos como, por exemplo, "Guerra Santa" e Peregrinação para fazerem referência ao movimento de tentativa de
tomar a "terra santa" dos muçulmanos.
- Para incentivar a participação dos cristãos, a Igreja prometia aos fiéis à salvação e o perdão de todos os pecados
para aqueles que participassem das Cruzadas.
Primeira Cruzada (cruzados cercam Jerusalém em 1099) - iluminura medieval.

Guerra dos Cem Anos

Joana d’Arc: heroína francesa na Guerra dos Cem Anos.

Ao longo de 116 anos, França e Inglaterra se envolveram em um conflito que marcou a passagem do mundo
medieval para o moderno. Na chamada Guerra dos Cem Anos (1337 – 1453), as tropas francesas e inglesas se colocaram em
combate devido a disputas de ordem econômica e política. Esse conflito, mesmo trazendo enormes desgastes para os envolvidos,
é de vital importância para a compreensão do processo de formação das monarquias francesa e britânica.
A morte do rei Carlos IV, em 1328, inaugurou um período de instabilidade política no interior da França. Eduardo III,
rei da Inglaterra, ambicionava controlar o reino francês. Para isso, alegava que o fato de ser sobrinho, por parte de mãe, de Carlos
IV lhe concederia autoridade para assumir a França. Em contrapartida, ressuscitando uma antiga lei da dinastia merovíngea, a Lei
Sálica, os nobres franceses proibiram a ascensão de um descendente de linhagem matriarcal ao trono.
No lugar de Eduardo III, foi Filipe de Valois, primo de Carlos IV, que instalou uma nova dinastia na França. Insatisfeito com a
frustração de seu golpe político, Eduardo III preparou-se para guerrear contra os franceses. No lado francês, uma antiga disputa
econômica motivava essa monarquia a participar de uma guerra contra os ingleses. Nesse caso, a França pretendia dominar a
região de Flandres, notadamente reconhecida por suas atividades mercantis e manufatureiras.
Os comerciantes de Flandres, ameaçados pela cobiça da monarquia francesa, resolveram apoiar os exércitos da Inglaterra que
obtinham lucros expressivos com a exportação de lã para os comerciantes daquela região. O apoio financeiro de Flandres
possibilitou enorme vantagem militar contra a França. Na guerra, a Inglaterra também esperava recuperar territórios da Europa
Continental perdidos para a França durante o reinado de João Sem Terra.
Na primeira fase do conflito, a vantagem inglesa traduziu-se em esmagadoras vitórias sobre os franceses. Em 26 de agosto de

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1346, ocorreu a Batalha de Creci, que ficou conhecida como uma das maiores batalhas acontecidas em toda Idade Média. A
vitória dos ingleses no confronto foi seguida por uma sucessão de vitórias militares. No ano de 1356, a Inglaterra cercou a cidade
de Calais, onde capturou João, o Bom, rei da França naquele período.
As derrotas francesas concederam à Inglaterra a assinatura do tratado de paz de Btretigny. Nesse acordo a Inglaterra passou a
controlar quase um terço dos territórios da França. No governo de Carlos V, a França reconquistou os territórios perdidos para os
ingleses. No entanto, no governo de Carlos VI uma guerra civil exportou a França às tropas inglesas, que se aliaram aos nobres
da casa de Borguignons. Vencendo a França na Batalha de Azincourt (1415), a Inglaterra conquistou a coroa francesa com a
assinatura do Tratado de Troyes.
Nesse momento, o rei deposto Carlos VII conheceu uma jovem francesa chamada Joana d’Arc, que se dizia predestinada a
libertar a França do domínio britânico. Com um pequeno exército de 5000 homens, conseguiu recuperar a região de Orleans para
a coroa francesa. Inspirados pela vitória da camponesa de apenas dezesseis anos, os franceses empreenderam novas conquistas
ao rei Carlos VII. Os triunfos militares de Joana d’Arc se interromperam quando, vítima de uma traição, foi entregue às
autoridades britânicas.
Condenada à fogueira por feitiçaria, Joana teve sua sentença cumprida na cidade de Rouen, em 1431. Joana d’Arc foi
transformada em mártir dos combatentes franceses, que a partir de então conseguiram sucessivas vitórias à monarquia francesa.
Na batalha de Calais, em 1453, a Guerra dos Cem Anos teve o seu fim. Como consequência, a guerra serviu para definirem-se os
poderes monárquicos que viriam a se instituir na França e, tempos depois, na Inglaterra.

Peste negra

CONDIÇÕES DE HIGIENE NA IDADE MÉDIA


As condições de higiene na Europa feudal eram as piores possíveis: o acúmulo de lixo nas ruas e porcos como
agentes de limpeza das estreitas e mal ordenadas ruas.
As infraestruturas, como sistema esgoto, deixada pelos romanos já praticamente não existia, tendo sido destruída
durante as invasões bárbaras.
A peste negra foi uma pandemia que se deflagrou na Europa, no século XIV, provocando uma das maiores baixas
populacionais da história desse continente.
A peste negra foi uma pandemia que acometeu a Europa no século XIV provocada pelo bacilo Yersinia pestis e
deflagrada a partir do ano de 1348. Esse acontecimento figurou entre aqueles que caracterizaram a crise da Baixa Idade Média,
sendo os outros as revoltas camponesas no século XIV e a crise do feudalismo.

ORIGEM DA PESTE NEGRA


Vários historiadores sugerem que a origem da peste negra seja asiática, especificamente chinesa. Sua inserção na
Europa teria ocorrido por meio de caravanas comerciais que se dirigiam para cidades portuárias do Mar Mediterrâneo, como
Gênova e Veneza, nas quais havia intensa atividade comercial e grande concentração demográfica. Aproximadamente ¼ da
população europeia sucumbiu com a doença, o que provocou um dos maiores decréscimos demográficos da história.

CAUSAS
Inicialmente, os principais agentes transmissores da doença eram os ratos e as pulgas, que se proliferavam com
facilidade tanto nas cidades quanto nos vilarejos menores em razão das condições precárias de higiene. Posteriormente, na fase
mais crítica da pandemia, a contaminação ocorria por via aérea. Por meio de espirros ou tosse, o bacilo acabava sendo
transmitido pelo ar.

POR QUE "PESTE NEGRA"?


A peste era chamada de negra porque ela causava manchas negras na pele das pessoas, fruto das infecções
provocadas pelo bacilo. Essa peste também ficou conhecida como bubônica por provocar bubões ou bubos, isto é, inchaços
infecciosos no sistema linfático, sobretudo nas regiões das axilas, virilha e pescoço.

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CONSEQUÊNCIAS
A situação agravou-se de tal forma que a quantidade de mortos excedia a quantidade de pessoas aptas a enterrá-
los. A cultura medieval foi profundamente afetada pela atmosfera catastrófica provocada pela peste. Várias pinturas da época
expunham imagens da chamada “dança macabra” ou a “dança da morte”, em que pessoas de várias ordens sociais eram
representadas juntas, dançando com esqueletos que simbolizavam o potencial destrutivo da morte.
Na literatura também figuraram vários relatos da peste e do impacto que ela produziu. Um dos mais famosos é do
autor italiano Giovanni Boccaccio e de seu famoso livro Decameron, no qual podemos ler o seguinte relato:
“A Peste, em Florença, não teve o mesmo comportamento que no Oriente. Neste, quando o sangue saía pelo nariz,
fosse de quem fosse, era sinal evidente de morte inevitável. Em Florença, apareciam no começo, tanto em homens como nas
mulheres, ou na virilha ou na axila, algumas inchações. Algumas destas cresciam como maçãs; outras, como um ovo; cresciam
umas mais, outras menos, chamava-as o populacho de bubões. Dessas duas referidas partes do corpo logo o tal tumor mortal
passava a repontar e a surgir por toda parte.”
Como a ciência biológica ainda não havia se desenvolvido na época da peste negra, as causas da doença eram
atribuídas a origens sobrenaturais e, principalmente, a “bodes expiatórios”, como povos estrangeiros, em especial os judeus,
gerando, assim, além da catástrofe natural, uma grande tensão social.

ESTADO NACIONAL MODERNO


A Formação das Monarquias Nacionais ocorreu durante o período da Baixa Idade Média, entre os séculos XII e XV,
nos países da Europa Ocidental.
O crescimento demográfico, o surgimento da burguesia e o desenvolvimento do comércio, a partir da expansão das
rotas marítimas, fizeram com que o modelo feudal já não funcionasse como antes.Desta maneira, o novo desenvolvimento
econômico precisava de outro modelo político. Assim, os países europeus foram centralizando o poder nas mãos de um rei e este
se torna uma das figuras importantes ao lado da Igreja e da nova classe que surgia: a burguesia.
Os principais exemplos de monarquias nacionais são a portuguesa, espanhola, francesa e inglesa.
O processo ocorreu de maneira similar nos países europeus, mas em tempos distintos. Em Portugal teve início no
século XII, com a Dinastia de Borgonha (ou Afonsina), sendo mais tarde consolidada pela Dinastia de Avis. Por sua parte, na
Espanha, França e Inglaterra, a formação dos Estados Nacionais teve início no século XV.
Na Espanha ocorreu a partir da união dos reinos de Aragão e Castela e seu apogeu aconteceu durante o reinado
dos Habsburgo. Ambos os países, Portugal e Espanha, começaram o processo de formação dos estados nacionais após a
expulsão dos mouros (muçulmanos).
Na França, considerada o modelo do absolutismo europeu, esse processo se deu ao longo do reinado das Dinastias
Capetíngia e Valois. No entanto, será a Dinastia Bourbon que consolidará os monarcas absolutistas da França.
Por fim, na Inglaterra, através das Dinastias Plantageneta e Tudor.
As monarquias nacionais podem ser chamadas de Estado Absolutista, Monarquias Absolutistas ou ainda Estado
Moderno.
Com o surgimento da burguesia, esta passou a lutar pela autonomia das cidades que ainda eram dominadas pelos
senhores feudais. Este movimento ficou conhecido como Movimento Comunal e era um compromisso entre várias cidades de
constituir uma defesa única frente um ataque.
Os ideais mercantilistas conquistam os mercadores, comerciantes e profissionais burgueses. O dinheiro passa a ser
mais importante que a terra e isto originam o nascimento de um novo sistema econômico: o capitalismo. No entanto, quando este
sistema surgiu era diferente daqueles que temos hoje em dia. Por isso, os historiadores o chamam de capitalismo primitivo.
Nesta época, se defendia o monopólio comercial, protecionismo alfandegário (proteção da economia pela entrada
de produtos estrangeiros), e o metalismo (acúmulo de metais preciosos).
Enfim, o sistema feudal (administrado pelos senhores feudais), foi sendo substituído pelo sistema capitalista. Neste
momento, verifica-se crescimento das cidades (burgos) e a intensificação do comércio e das feiras livres pela classe burguesa.
Este período ficou conhecido como Renascimento Comercial e Urbano.
Diante disso, os senhores feudais, que possuíam poder na Idade Média, começam a perder sua posição. Por seu
lado, o Rei torna-se a figura responsável por administrar a política, a economia, a justiça e o exército.
A partir disso, foram criados os Estados Nacionais, também chamado de Estado Moderno, com fronteiras definidas
e um exército nacional (com o fim dos exércitos particulares dos senhores feudais). No âmbito econômico, as monarquias
nacionais visavam a unificação dos padrões monetários e também um sistema de cobrança dos impostos.
Esse aumento de poder ao Monarca foi obtido pelo apoio de parte da nobreza e, sobretudo, dos burgueses, a nova
classe social que enriquecia com o desenvolvimento do comércio.
O Estado Nacional Moderno ou Antigo Regime consistiu em um conjunto de práticas envolvendo questões de
ordem econômica, social e política. A partir do século XVI, a Europa Ocidental sofreu diversas transformações que promoveram o
crescimento das cidades, das atividades comerciais e da ciência. Foi em meio a essas mudanças que as Monarquias Nacionais

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surgiram, contribuindo para o fortalecimento do poder real e acarretando no desaparecimento gradual da servidão e no declínio do
mundo feudal.
O processo de centralização política nas mãos do rei foi o símbolo da formação dos Estados Modernos na Europa,
os exemplos mais clássicos desse processo foram Espanha, Portugal e França. As mudanças na forma de governar tornaram
mais claras as diferenças entre o mundo moderno e o mundo feudal. Entre os principais aspectos que caracterizaram as
Monarquias Nacionais estão: A burocracia administrativa, que ganhou um corpo de funcionários que tinham a função de
desempenhar tarefas de administração pública; A força militar, que gerou a necessidade de criação de um exército nacional para
conter possíveis invasões ou confrontos com outros países e também para estabelecer ordem pública na sociedade; Leis e
justiças unificadas, que foram responsáveis pela formação de leis que possuíam caráter da manutenção da ordem, além de
melhor proteger os direitos e deveres dos cidadãos; Sistema burocrático, que marcou o surgimento das tarifas e tributos cobrados
pelo rei para sustentar as despesas públicas.
O desenvolvimento da navegação marítima marcou a busca por expansão territorial dos Estados Nacionais
Modernos. Os reis almejavam conquistar riquezas no além-mar, obtendo novos mercados e expandindo o comércio. A busca por
metais preciosos e o interesse na propagação da fé cristã também impulsionaram a descoberta de novos territórios. O Estado
Nacional Moderno Português retratou claramente isso na colonização da América Portuguesa no século XVI. O objetivo dos
portugueses foi concretizado na prática colonizadora que ocasionou a ampliação de suas fronteiras, a obtenção de novos
comércios, o descobrimento de locais com metais preciosos e a disseminação do catolicismo, resumindo perfeitamente as
ambições que os Estados Nacionais Modernos possuíam.
Em suma, a união dos interesses políticos dos Reis e os interesses econômicos da burguesia, foram essenciais
para formação das Monarquias ou Estados Nacionais. Assim, foram se extinguindo o domínio dos senhores feudais do período
medieval, dando início a Era Moderna.

Absolutismo
O Estado Absolutista foi o sistema político e administrativo dos países europeus nos séculos XVI ao XVIII, que
surgiu no processo de formação do Estado Moderno ao mesmo tempo em que a burguesia se fortalecia.
Durante a Idade Média, os nobres detinham mais poder que o rei. O soberano era apenas mais um entre os nobres
e deveria buscar o equilíbrio entre a nobreza e seu próprio espaço.
Durante a transição do feudalismo para o capitalismo houve a ascensão econômica da burguesia e do
Mercantilismo. Era preciso outro regime político na Europa centro-ocidental que garantisse a paz e o cumprimento das leis. Por
isso, surge a necessidade de um governo que centralizasse a administração estatal.
Desta maneira, o rei era a figura ideal para concentrar o poder político e das armas, e garantir o funcionamento dos
negócios.
A fim de controlar as revoltas camponesas, parte da nobreza apoia que o rei seja mais poderoso. Igualmente, o
monarca recebe auxílio da burguesia, pois a centralização significava a padronização das políticas fiscais e monetárias.
O clero também admira este movimento, pois era uma forma da Igreja continuar a não pagar impostos e seguir
cobrando várias taxas.

CARACTERISSTICAS
O Estado absolutista se caracteriza por centralizar o poder e fazer valer a mesma lei em todo território do reino.
Desta maneira, o rei administrava apenas com a ajuda de alguns ministros. Em alguns países, existiam
assembleias, mas estas só se reuniam quando convocadas pelo soberano.
Nesse tipo de governo, o rei está totalmente identificado com o Estado, ou seja, não há diferença entre a pessoa
real e o Estado que governa e centralizava todos os poderes do Estado em suas mãos, sem prestar contas à sociedade.
Não há nenhuma Constituição ou lei escrita que limite o poder real e tampouco existe um parlamento regular que
contrabalance o poder do monarca.
O Absolutismo estabeleceu uma burocracia civil capaz de auxiliar o Estado. Isto significava que somente o governo
central estabeleceria padrões monetários e fiscais iguais para todos. Assim, antigas medidas como "varas" e "onça" vão sendo
abandonados e substituídos por "metros" e "quilos".
Igualmente, somente o rei poderia cunhar moedas e garantir seu valor. A conservação e a segurança das estradas
também seriam atribuições reais, uma medida que agradou os burgueses.
Da mesma forma, apenas um idioma foi escolhido para se tornar a língua falada em todo reino. Um exemplo foi o
francês, em detrimento das línguas regionais. Vemos este fenômeno ocorrer na Espanha e até no Brasil, com a proibição de se
usar a “língua geral”.
Para concentrar o poder em suas mãos, o rei precisou acabar com os exércitos particulares, proibir a cunhagem de
diferentes moedas e centralizar a administração do reino. Nesta época, começam a surgir os grandes exércitos nacionais e a
proibição de forças armadas particulares.

TEÓRICOS DO ABSOLUTISMO

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Os teóricos absolutistas escreveram sobre o novo regime político que estava nascendo. Destacamos os mais
importantes:
Nicolau Maquiavel (1469-1527):
O florentino Nicolau Maquiavel (1469-1527) resumiu na sua obra "O Príncipe" a separação da moral e da política.
Segundo Maquiavel, o líder de uma nação deveria usar de todos os meios para se manter no poder e governar. Por
isso, descreve que monarca pode lançar meios como a violência a fim de assegurar sua permanência no trono.
Defensor do Estado e dos soberanos fortes, os quais deveriam lançar mãos de todos os meios para garantir o
sucesso e a continuidade no poder. Maquiavel se afasta da justificativa religiosa e descreve a política como algo racional e sem
interferência espiritual.

Thomas Hobbes (1588-1679):


Um dos principais defensores do absolutismo foi o inglês Thomas Hobbes (1588-1679). Hobbes defendeu, em sua
obra "Leviatã", inicialmente, os seres humanos viviam no estado de natureza, onde havia a "guerra de todos contra todos".
A fim de viver em paz, os homens firmaram uma espécie de contrato social, renunciariam à sua liberdade e se
submeteriam à uma autoridade.
Em troca, receberiam a segurança oferecida pelo Estado e a garantia que a propriedade privada seria respeitada.
Segundo Hobbes, para fugir da guerra e do estado de barbárie, os homens uniram-se num contrato social e
atribuíram poderes a um líder para protegê-los. Este, por sua vez, deveria ser forte o suficiente para não deixar os seres humanos
se matarem entre si e garantir a paz e a prosperidade.

Jean Bodin (1530-1596):


A doutrina da soberania do Estado foi descrita pelo francês Jean Bodin (1530 - 1596). Essa teoria defende que o
poder supremo era concedido por Deus ao soberano e os súditos devem somente obedecê-lo.
Por esse pensamento, o rei é considerado o representante de Deus e só deve obediência a Ele. A única restrição
para o poder do rei seria sua própria consciência e a religião que deveria pautar suas ações.
Ele associava o Estado à própria célula familiar, onde o poder real seria ilimitado, tal qual o chefe de família. Assim,
o absolutismo seria uma espécie de família onde todos deviam obediência a um chefe. Este, por sua vez, seria encarregado de
protegê-los e provê-los.

Jacques-Bénigne Bossuet (1627-1704):


O absolutismo previa um soberano, governando para súditos da mesma religião, como fez Henrique VIII, na
Inglaterra.
Defendeu o absolutismo a partir do "direito divino dos reis". Para ele, o poder era entregue pelo próprio Deus ao
soberano e assim, a vontade do rei era a vontade de Deus.
Bossuet considera que o soberano é o próprio representante de Deus na Terra e por isso deve ser obedecido. Os
súditos devem acatar suas ordens e não questioná-las. Por sua vez, o monarca deveria ser o melhor dos homens, cultivar a
justiça e o bom governo. Bossuet argumentava que se o rei fosse criado dentro dos princípios religiosos necessariamente ele
seria um bom governante, porque suas ações seriam sempre em beneficio dos súditos.
Defendeu o absolutismo a partir do "direito divino dos reis". Para ele, o poder era entregue pelo próprio Deus ao
soberano e assim, a vontade do rei era a vontade de Deus. Bossuet foi o principal teórico do absolutismo do rei Luís XIV.

EXEMPLOS DE ESTADOS ABSOLUTISTAS


França
Considera-se a formação do Estado francês sob reinado dos reis Luís XIII (1610-1643) e do rei Luís XIV (1643-
1715) durando até a Revolução Francesa, em 1789.
Luís XIV limitou o poder da nobreza, concentrou as decisões econômicas e de guerra em si e seus colaboradores
mais próximos.
Realizou uma política de alianças através de casamentos que garantiu sua influência em boa parte da Europa,
fazendo a França ser o reino mais relevante no continente europeu.
Este rei acreditava que somente "um rei, uma lei e uma religião" fariam prosperar a nação. Deste modo, inicia uma
perseguição aos protestantes.

Inglaterra
A Inglaterra passou um longo período de disputas internas devido às guerras religiosas, primeiro entre católicos e
protestantes e, mais tarde, entre as várias correntes protestantes. Este fato foi decisivo para que o monarca concentrasse mais
poder, em detrimento da nobreza.
O grande exemplo de monarquia absolutista inglesa é o reinado de Henrique VIII (1509-1547) e o de sua filha, a
rainha Elizabeth I (1558-1603) quando uma nova religião foi estabelecida e o Parlamento foi enfraquecido.
A fim de limitar o poder do soberano, o país entra em guerra e somente com a Revolução Gloriosa estabelece as
bases da monarquia constitucional.

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Espanha
Considera-se que a Espanha teve dois períodos de monarquia absoluta.
Primeiro, durante o reinado dos reis católicos, Isabel e Fernando, no final do século XIV, até o reinado de Carlos IV,
que durou de 1788 a 1808. Isabel de Castela e Fernando de Aragão governaram sem nenhuma constituição. De todas as formas,
Isabel e Fernando, deviam estar sempre atentos aos pedidos da nobreza tanto de Castela como de Aragão, de onde procediam
respectivamente.
O segundo período é o reinado de Fernando VII, de 1815 -1833, que aboliu a Constituição de 1812, restabeleceu a
Inquisição e retirou alguns direitos da nobreza.

Portugal
O absolutismo em Portugal começou ao mesmo tempo que se iniciavam as Grandes Navegações. A prosperidade
trazida com os novos produtos e os metais preciosos do Brasil foram fundamentais para enriquecer o rei.
O reinado de Dom João V (1706-1750) é considerado o auge do estado absolutista português, pois este monarca
centralizou na coroa todas as decisões importantes como a justiça, o exército e a economia.
O absolutismo em Portugal duraria até a Revolução Liberal do Porto, em 1820, quando o rei Dom João VI (1816-
1826) foi obrigado aceitar uma Constituição.

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REINOS E IMPÉRIOS AFRICANOS – ÁFRICA ANTIGA

A África Antiga é o período da história que se estende do final do Neolítico, em torno do 8º milênio antes da Era
Cristã, até o início do século VII da nossa era. Nesse período grandes civilizações viveram na região, centradas, sobretudo, na
região mais ao norte e oriental do continente.
Na porção subsaariana, neste período, as sociedades passavam do estágio da caça e da coleta para uma
economia centrada na agricultura. A população aumentava e disso resultou uma vida mais estável em aldeias e comunidades.
Alguns estados começavam a surgir, como o Reino de Gana, a partir do século VII. No entanto, durante a antiguidade, na África
Subsaariana, não foram constituídos grandes reinos.
Em geral, quando se estuda a antiguidade, sobretudo a África Antiga, os estudos se concentram em um único povo
africano, os egípcios. No entanto, ao passo que se desenvolvia a civilização egípcia, núbios, axumitas e cartagineses também
faziam a sua história e constituíam reinos, impérios e civilizações.
A Civilização Egípcia, que se desenvolveu ao longo do delta do Rio Nilo, durou quase três milênios, a partir da
unificação política por Menés. O Egito não foi apenas uma dádiva do Nilo, mas uma criação do ser humano e de estratégias de
dominar o meio ambiente, a aridez do solo e as dificuldades impostas.
Foi o primeiro estado africano a fazer uso da escrita, construiu um complexo sistema de irrigação, de administração
pública, contábil e política, por meio dos faraós, como forma de gerir a disponibilidade de recursos, organizar os trabalhos e
minimizar a vulnerabilidade às cheias e secas do Rio Nilo. Para sobreviver e se desenvolver naquela região, foi preciso organizar-
se.
Localizada ao sul do Egito e no norte do Sudão, região estratégica e elo entre a África Central (subsaariana) e o
Mediterrâneo (norte da África e oriente próximo), a Civilização Núbia surgiu por volta de 4.000 a.C, em meio ao Deserto do Saara
e, assim como o Egito, é uma ‘‘dádiva do Nilo’’, bem como do trabalho de construção de diques e canais de irrigação destes
povos para evitar inundações durante as cheias e garantir boas colheitas.

Por volta de 2.000 a.C, houve a unificação das comunidades núbias sob o poder de um rei; surgiu então o Reino de
Kush (Cuxe), um dos primeiros reinos negros africanos.
O ouro de Kush enriqueceu o Egito e, ao se expandir, os kushitas passaram a ser uma ameaça ao vizinho do Norte.
Por isso, os egípcios ocuparam Kush, por volta de 1.500 a.C. Este foi o período da egipcianização da Núbia: adotou-se a religião,
o culto às divindades egípcias, os costumes funerários, a construção de pirâmides. Em Napata e Méroe, cidades kushitas, foram
erguidas numerosas pirâmides. Os meroítas construíram mais pirâmides do que os faraós egípcios; até o presente já foram
contabilizadas mais de 230 pirâmides nos arredores de Méroe, 100 a mais do que no Egito. Por isso, os núbios são conhecidos
como ‘‘Faraós Negros’’.
Na parte oriental do continente, região do ‘‘Chifre da África’’, para o Império de Axum, que deu origem ao Império
Etíope (Etiópia e Eritreia). O Império Axumita foi considerado um dos quatro grandes impérios do final da Antiguidade (séculos I-
VI d.C.), ao lado de Roma, Pérsia e China.

No século X a.C., de acordo com a mitologia etíope contida no livro Kebra Negast, acredita-se que nesta região
viveu a Rainha de Sabá (Makeda). Acredita-se também que a família imperial da Etiópia, bem como os imperadores de Axum, têm
sua origem a partir de Menelik I, filho da Rainha de Sabá e do rei Salomão. Esta dinastia governou o país durante

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aproximadamente três mil anos, terminando apenas em 1974, com o Imperador Haile Selassie, o que demonstra a origem milenar
da Etiópia.
A partir do século I da Era Cristão, teve início a expansão de Axum pelo norte da Etiópia, parte da Pérsia, sul da
península arábica (Iêmen) e, no século IV, a conquista de Meroé, capitão do Reino de Kush (Sudão). Deste modo, construiu-se
um império, que abarcava ricas terras cultiváveis do norte da Etiópia, do Sudão e da Arábia meridional.
Nos séculos VII e VIII, o reino se enfraqueceu enquanto os árabes muçulmanos emergiam. O império de Axum e,
posteriormente, o império etíope deixou uma diversidade de riquezas para a posteridade, a exemplo da língua ainda falada na
região (ge’ez), a igreja etíope com suas tradições, a história milenar que remonta à Rainha de Sabá e o patrimônio arquitetônico.
Para finalizar o nosso passeio pela antiguidade no continente africano, aportamos no Império Cartaginês, no Mar
Mediterrâneo. A cidade-estado de Cartago localizava-se no norte da África, próximo de onde hoje é a cidade de Túnis, capital da
Tunísia. Foi fundada pelos fenícios no século IX a.C e, com o tempo, passou a exercer controle político sobre boa parte do
Mediterrâneo, controlando as rotas marítimas deste mar por mais de seiscentos anos.

No entanto, a prosperidade de Cartago fez com que a cidade-estado entrasse em choque com outra superpotência,
Roma. As lutas entre cartagineses e romanos ficaram conhecidas como Guerras Púnicas. Ao final da Terceira Guerra
Púnica, Cartago foi incendiada, dizimada e o seu chão foi salgado, para que nada nele crescesse. Era o ano de 146 a.C quando
chegou ao fim o Império e a hegemonia de Cartago na região.

Reinos africanos: Axum, Gana, Mali, Iorubás e o Congo


Durante o período europeu que conhecemos como Idade Medieval, vários reinos africanos prosperaram.
Acompanhe esta aula para saber mais sobre os reinos de Axum, Gana, Mali, Congo e dos iorubás!
Os reinos europeus que estamos acostumados a imaginar quando alguém fala em Idade Média não foram os únicos
que existiram na época. Durante a Antiguidade e o período medieval, várias sociedades ricas e complexas existiam na África.
É importante lembrar que havia uma pluralidade de povos e de organização das sociedades na África. Existiam
desde pequenas aldeias até grandes impérios e cidades-Estado.

REINO DE AXUM
No território onde hoje fica a Etiópia, no passado existiu um dos reinos africanos mais prósperos e influentes. Era o
Reino de Axum. A população que ali vivia era proveniente do sul da Península Arábica, e já no século VII a. C. tinha domínio
sobre a agricultura e criação de gado.

Localização dos reinos africanos. O Reino de Axum está na cor laranja.


A posição às margens do Mar Vermelho possibilitou que cidades do reino, como Adúlis e Axum, tivessem
importantes portos. Dessa forma, eles comercializavam produtos como marfim, ouro, sal e pedras preciosas com regiões da
Arábia, da Índia, do Mediterrâneo e com outros reinos africanos.icidade
A atividade se tornou tão intensa que o reino passou a controlar todo o comércio da região e suas cidades se
tornaram riquíssimas. Além disso, esse poder possibilitou a conquista do Império Kush (que havia tomado o poder do Egito entre
750 a. C. e 653 a. C.) e territórios na Península Arábica.

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Esse contato com outros povos provocou alterações na cultura do reino de Axum. Até o século IV, sua população
era politeísta – assim como a grande maioria dos povos africanos da época. No entanto, a expansão do cristianismo chegou até a
região e vários setores daquela sociedade foram convertidos.
Séculos depois, os muçulmanos é que estavam se expandindo e chegaram até a costa da África. Sabendo do poder
que o Reino de Axum tinha na região, os muçulmanos promoveram uma série de invasões e destruíram o porto de Adúlis. O reino
ficou enfraquecido e não sobreviveu às incursões dos islâmicos.

GANA
Um dos reinos africanos que mais tiveram destaque foi o de Gana. Localizado entre o Sahel e a parte ocidental do
Sudão, Gana começou a surgir no século IV. Um povo chamado soninquê começou a se agrupar para defender-se dos berberes,
populações do deserto que atacavam e saqueavam aldeias.

Localização do Império de Gana.


Assim, a união política e militar das aldeias de soninqueses permitiu que eles passassem a controlar o comércio
que vinha do norte. No século seguinte Gana se firmou como um reino. Além de dominar as rotas comerciais da região, extraía
uma quantidade enorme de ouro de territórios próximos.
Era tanto ouro que eles se tornaram o principal fornecedor do Mediterrâneo por vários séculos. Viajantes do século
XI relataram que a população usava o metal em pulseiras, colares, nas armas e até em enfeites nos cães que ficavam no palácio
real. Por tudo isso, Gana ficou conhecido como o reino do ouro.
O Estado era organizado de forma que o soberano tinha funções administrativas, militares e de justiça. Ele era
chamado de gana, que significa “senhor da guerra”. Tanto a capital quanto o reino receberam essa mesma denominação.
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Esse reino africano prosperou até o século X, quando começou a ser atacado por almorávidas (berberes
convertidos ao islamismo). As tentativas de conversão dos soninqueses só provocaram ainda mais conflitos. A consequência foi a
desarticulação comercial de Gana.
Apesar de ter reconquistado certa autonomia no XII, o reino foi vítima de várias incursões de outros povos que
almejavam sua posição e riquezas. Com isso, Gana permaneceu dependente de outros reinos africanos.

MALI
Além dos soninqueses, outro povo habitava a região entre o Sahel e o Sudão Ocidental: os mandingas. No século
XIII, quando o reino de Gana já estava desarticulado, vários clãs mandingas se uniram sob a liderança de Sundiata Keita. Ele
expandiu os domínios do seu povo e constituiu o que foi chamado de Império do Mali. Sundiata adotou o título de mansa (rei) e
tornou-se o soberano desse reino africano.

Localização do Império do Mali.


As áreas conquistadas pelo mansa eram ricas em sal e ouro. Além de dominar a venda desses produtos, também
passaram a controlar várias rotas comerciais transaarianas que passavam pela região.
Foi justamente por essas rotas que o islamismo chegou até o povo mandinga e passou a se difundir por suas
cidades. Durante grande parte da duração do Império do Mali, a região muçulmana conviveu de forma tolerante com os cultos
tradicionais da região.
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ISLAMIZAÇÃO DO MALI

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Muitos mansas, inclusive, faziam peregrinações até Meca, mesmo que mantivessem outras formas de culto. Em
uma dessas viagens, um mansa chamado Musa levou para Mali sábios e arquitetos do Oriente Próximo para construírem
mesquitas e difundirem conhecimento.
Assim, a cidade de Tombuctu foi transformada em um centro de referência em estudos islâmicos e atraiu inúmeros
estrangeiros por seu desenvolvimento intelectual.
A partir do século XV, no entanto, o Mali passou a sofrer uma série de invasões de povos que queriam assumir o
poder. O mais importante deles era o povo songai, que mesmo compondo parte dos domínios de Mali, detinha um importante
centro comercial e certa autonomia.
Liderados pelo seu soberano Soni Ali, conquistaram a cidade de Tombuctu e desarticularam o governo do Mali.
Dessa forma, formaram o Império Songai, que possuía uma elite muçulmana rigorosa. Eles passaram a impor seu poder e religião
nos territórios próximos. Obtiveram sucesso até o século XVI, quando os povos do atual Marrocos atacaram e dominaram a
região.

Mandingas
Nessa altura você já deve estar se questionando sobre o que esses mandigas tem a ver com a mandinga que
conhecemos no Brasil, não é? Pois não é só uma coincidência! Na época em que a população do Mali já seguia o islamismo, eles
utilizavam as bolsas de mandinga.
Eram saquinhos que continham versículos do Corão e eram carregados no pescoço como amuletos que
forneceriam proteção contra armas e doenças. Com o tempo, a prática se difundiu pela África subsaariana e foi aumentando de
tamanho e de ingredientes.
Elementos fetichistas e cristãos passaram a ser guardados como amuletos por diversos povos africanos. Portanto,
foi essa bolsa que se difundiu no Brasil colonial e acabou agregando, aqui, novos significados ligados a macumbas e feitiços.
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IORUBÁS
Diferentemente dos reinos africanos anteriores que eram formados por um povo predominante, os iorubás eram
várias populações do mesmo tronco linguístico. Eram os efãs, ijexás, egbás, entre outros povos que habitavam a atual região da
Nigéria e do Benin.

Mapa da localização dos povos iorubás.


Além do idioma, eles tinham traços culturais e religiosos em comum. Eles estavam organizados em cidades
independentes entre si, mas todos acreditavam que elas tinham uma mesma origem divina. As principais cidades eram Benin,
Oyo e Ilé Ifê.
Essa última seria o berço de todas as sociedades iorubás. De acordo com suas tradições, o deus Olodumaré havia
escolhido Ilé Ifê como local de criação do mundo. Por isso, era considerada o centro espiritual dos iorubás e era governada
pelo oni (grande sacerdote).
As outras cidades possuíam chefes que eram eleitos por um conselho e deveriam governar por um tempo
determinado.
Assim como os reinos já mencionados, as cidades iorubás também controlavam rotas comerciais. Nesse caso,
eram aquelas que iam do litoral para o interior da África. Além disso, eles tinham grandes conhecimentos na metalurgia, o que
possibilitava a fabricação de armas, instrumentos e obras de arte.
As cidades também possuíam importantes centros de artesanato, com presença de tecelões, marceneiros e
ferreiros.
Um último aspecto sobre esses povos é que têm sua história ligada à do Brasil, e por isso é ainda mais importante
conhecê-la. No século XVIII, após vários conflitos com Portugal, grande parte da população iorubá foi traficada para o Brasil e
escravizada.
Essas pessoas trouxeram consigo várias tradições e elementos culturais que resistiram à escravidão. Alguns
exemplos são orixás do candomblé, como Xangô e Iemanjá. Além disso, pratos como vatapá e acarajé são de origem iorubá,
além de instrumentos musicais como o atabaque e o agogô.

CONGO

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O último dos reinos africanos que vamos abordar é o do Congo, que ficava localizado na parte equatorial do
continente. Ele era formado por vários povos que possuíam o mesmo tronco linguístico, o banto. Mas, da mesma forma que os
iorubás, isso não quer dizer que existia uma unicidade entre eles.

Mapa da localização do Congo.

No início do século XIV, o povo ambundo, do tronco linguístico banto, formou uma cidade que seria chamada de
Mbanza Congo. Quem estava em seu comando era um rei que recebia o nome de manicongo (senhor do Congo). A cidade tomou
grandes proporções, e chegou a abrigar cerca de 100 mil habitantes.
Com o tempo, o reino do Congo se expandiu militarmente e conquistou um território enorme, que hoje corresponde
a países como Congo, Angola e Zaire. A região se dividia em seis províncias e cada uma delas controlava várias aldeias. O poder
das famílias fundadoras das aldeias foi preservado para que não houvesse revoltas que prejudicassem o reino.
Os congos viviam da agropecuária, do comércio e do artesanato. No campo, todo o trabalho em torno de cultivos de
frutas, verduras, legumes e de criação de gado era função das mulheres. Enquanto isso, os homens eram responsáveis por
derrubar a mata em áreas de cultivo, e auxiliar na colheita se fosse necessário.
No artesanato se destacavam os objetos feitos de ferro forjado, cobre, madeira e ráfia. Já o comércio girava em
torno da venda do sal e do ferro extraído de diferentes províncias.
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O CONGO E OS PORTUGUESES
No fim do século XV, uma expedição portuguesa chegou ao Congo em busca de metais preciosos e mão de obra
escravizada. A fim de alcançar esse objetivo, os portugueses se valeram de disputas de poder internas e se aliaram a um dos
herdeiros do manicongo, Nzinga Mbemba. Eles ofereceram armas de fogo aos seus apoiadores para depois poderem cobrar o
favor.
Mbemba conseguiu assumir o trono com a ajuda portuguesa e adotou o nome de Afonso I. Também instituiu o
catolicismo como religião oficial e trocou o nome da capital para São Salvador. Ele chegou a trocar cartas com o rei de Portugal,
D. João III, e até enviou parentes para estudar em Lisboa.
No entanto, Afonso I logo percebeu que as intenções dos portugueses não eram amistosas. No início, eles levavam
para suas colônias apenas prisioneiros de guerra para serem escravizados. Mas, com o tempo, até mesmo nobres do Congo
foram capturados e feitos escravos no Brasil.
Apesar de a população congolesa ter organizado uma revolta no século XVII, foram duramente derrotados.
O tráfico foi tão intenso que o Congo ficou despovoado. Além disso, a chegada de europeus acabou com o equilíbrio de poderes
que existia anteriormente, e conflitos pelo poder fragilizaram ainda mais o reino.

Mercantilismo
O QUE É MERCANTILISMO?
O mercantilismo foi o conjunto de práticas econômicas utilizadas pelas nações absolutistas da Europa durante a
Idade Moderna, que esteve em vigência, na Europa, entre os séculos XV e XVIII, período de transição do feudalismo para o
capitalismo. No mercantilismo, o objetivo era garantir o acúmulo de riquezas por meio da obtenção de metais preciosos e utilizá-
los para reforçar o poder do monarca.
O mercantilismo se baseou fortemente na exploração colonial e no comércio marítimo. As expansões marítimas
promoveram a colonização da América por parte de Portugal e Espanha, onde o mercantilismo foi aplicado.
Essas práticas e ideias estavam baseadas:

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*na intervenção do Estado na economia;


*no metalismo (busca por metais preciosos);
*na balança comercial favorável;
*no incentivo à manufatura;
*no protecionismo econômico.
Na Europa, essas práticas econômicas foram idealizadas por economistas como Adam Smith e Jean-Baptiste
Colbert. O mercantilismo se fez presente no Brasil por meio do exclusivismo comercial, no início da colonização portuguesa.

ORIGENS DO MERCANTILISMO
As origens do mercantilismo remontam à transição da Idade Média para a Idade Moderna, entre os séculos XIV e
XV. A Europa vivia a crise do sistema feudal e o surgimento do capitalismo. A burguesia se tornava uma classe social em
ascensão, graças ao fortalecimento do comércio. Os reis ganharam destaque ao exercerem suas lideranças nas guerras, no
combate às revoltas servis e na formação dos Estados nacionais. Burgueses e monarcas absolutistas se uniram para fortalecer
um ao outro, bem como expandir o comércio, que se consolidava como principal atividade econômica da Europa.
Esse período foi marcado pela expansão marítima, liderada por Portugal e Espanha. A busca por novas rotas até as
Índias, em busca de especiarias para serem comercializadas no continente europeu, promoveu o reconhecimento de um novo
continente, a América. Iniciava a colonização dessa nova terra, o que levou para o outro lado do Atlântico as práticas e ideias
mercantilistas. O colonialismo europeu contou com o apoio dos reis e o financiamento da burguesia.
A aliança entre reis e burgueses enfraqueceu a nobreza feudal. Durante a Idade Média, os nobres eram a classe
social dominante e possuidores de grandes quantidades de terra, fonte de riqueza no período feudal. Como a agricultura era a
principal atividade econômica da Europa feudalista, os nobres eram os mais ricos e, consequentemente, os mais poderosos. A
crise do sistema feudal e as ascensões dos monarcas absolutistas e da burguesia colocaram um ponto-final no domínio nobre na
Europa.
TIPOS DE MERCANTILISMO
Mercantilismo comercial
As ideias mercantilistas incentivaram a expansão comercial, fortalecendo o capitalismo nascente. As nações
europeias buscavam produtos que poderiam ser comercializados no mercado europeu e, dessa forma, acumular riquezas.
Portugal e Espanha iniciaram a colonização na América em busca de metais preciosos ou de outros produtos valiosos para o
mercado.
Os espanhóis encontraram ouro nos primeiros anos de colonização e obtiveram grandes lucros. Já Portugal, sem
encontrar metal precioso no litoral brasileiro, primeiramente investiu no comércio do pau-brasil e, logo em seguida, na produção
açucareira, que, de fato, começou a gerar lucro para os portugueses.
Mercantilismo industrial
Esse tipo de mercantilismo se baseava na produção manufatureira. A França adotou esse tipo por meio do ministro
Colbert. Ele incentivou a produção de artigos de luxo, que seriam comercializados no mercado externo. Em busca de matéria-
prima para essa produção, os franceses decidiram invadir a América portuguesa, mas foram expulsos.
Colbertismo: incentivo ao desenvolvimento manufatureiro para atrair riqueza por meio da vinda de moeda
estrangeira. Buscava-se também limitar os gastos internos. Essa característica foi baseada nas ideias do ministro francês Jean-
Baptiste Colbert.
Balança comercial favorável: nas trocas comerciais, uma nação deveria vender mais mercadorias e comprar menos,
ou seja, exportar mais e importar menos. Dessa forma, sua balança comercial estaria positiva.
Protecionismo alfandegário: cobranças de impostos sobre produtos estrangeiros para proteger o mercado interno.

EXPANSÃO MARÍTIMA EUROPEIA


A expansão marítima europeia foi o período compreendido entre os séculos XV e XVIII quando alguns povos
europeus partiram para explorar o oceano que os rodeava.
Estas viagens deram início ao processo da Revolução Comercial, ao encontro de culturas diferentes e da
exploração do novo mundo, possibilitando a interligação dos continentes.
As primeiras grandes navegações permitiram a superação das barreiras comerciais da Idade Média, o
desenvolvimento da economia mercantil e o fortalecimento da burguesia.
A necessidade do europeu lançar-se ao mar resultou de uma série de fatores sociais, políticos, econômicos e
tecnológicos.
A Europa saía da crise do século XIV e as monarquias nacionais eram levadas a novos desafios que resultariam na
expansão para outros territórios.

ROTA DAS VIAGENS

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A Europa atravessava um momento de crise, pois comprava mais que vendia. No continente europeu, a oferta era
de madeira, pedras, cobre, ferro, estanho, chumbo, lã, linho, frutas, trigo, peixe, carne.
Os países do Oriente, por sua vez, dispunham de açúcar, ouro, cânfora, sândalo, porcelanas, pedras preciosas,
cravo, canela, pimenta, noz-moscada, gengibre, unguentos, óleos aromáticos, drogas medicinais e perfumes.
Cabia aos árabes o transporte dos produtos até a Europa em caravanas realizadas por rotas terrestres. O destino
eram as cidades italianas de Gênova e Veneza que serviam como intermediárias para a venda das mercadorias ao restante do
continente.
Outra rota disponível era pelo Mar Mediterrâneo monopolizada por Veneza. Por isso, era necessário encontrar um
caminho alternativo, mais rápido, seguro e, principalmente, econômico.
Paralela à necessidade de uma nova passagem, era preciso solucionar a crise dos metais na Europa, onde as
minas já davam sinais de esgotamento.
Uma reorganização social e política também impulsionava à busca de mais rotas. Eram as alianças entre reis e
burguesia que formaram as monarquias nacionais.
O capital burguês financiaria a infraestrutura cara e necessária para o feito ao mar. Afinal, era preciso navios,
armas, navegadores e mantimentos. Os burgueses pagavam e recebiam em troca a participação nos lucros das viagens. Este foi
um modo de fortalecer os Estados nacionais e submeter à sociedade a um governo centralizado.
No campo da tecnologia foi necessário o aperfeiçoamento da cartografia, da astronomia e da engenharia náutica.
Os portugueses tomaram a dianteira deste processo através da chamada da Escola de Sagres. Ainda que não fosse uma
instituição do modo que conhecemos hoje, serviu para reunir navegadores e estudiosos so patrocínio do Infante Dom Henrique
(1394-1460).

FATORES QUE MOTIVARAM A EXPANSÃO MARÍTIMA


Diversos fatores contribuíram para a expansão marítima europeia. Entre eles:
• monopólio árabe-italiano no Mediterrâneo que impulsionou a busca de novas rotas marítimas;
• exploração de metais preciosos para a cunhagem de moedas;
• investimento financeiro das monarquias nacionais aos projetos náuticos;
• centralização política dos reinos absolutistas;
• aliança política entre os reis e a burguesia mercantil interessada na lucratividade da expansão ultramarina;
• divulgação da fé cristã para povos de outros territórios;
• aperfeiçoamento das técnicas navais.
Outro importante fator que corroborou ainda mais para a expansão marítima europeia foi o Renascimento urbano e
comercial.
Esse novo contexto cultural trouxe um outro olhar para as questões humanas, espirituais e naturais. Anteriormente,
as teorias teocêntricas da Igreja Católica disseminavam concepções infundadas sobre os oceanos, como a existência de
monstros tenebrosos nas profundezas dos mares e zonas tórridas.
O espírito aventureiro e de conquista adotado pelos nos navegadores europeus os fizeram superar toda e qualquer
ideia arcaica acerca das navegações.
Outra atividade importante foi o desenvolvimento da arte da ciência náutica, com o uso da bússola, do astrolábio, o
quadrante, as caravelas, as cartas de marear e a vela triangular.

O PIONEIRISMO MARÍTIMO DE PORTUGAL


Os portugueses foram os primeiros europeus a se lançar ao mar no período das Grandes Navegações Marítimas,
nos séculos XV e XVI. No presente texto iremos abordar os motivos do pioneirismo português na conquista dos oceanos.
O primeiro motivo que levou os portugueses ao empreendimento das Grandes Navegações foi à progressiva
participação lusitana no comércio europeu no século XV, em razão da ascensão de uma burguesia enriquecida que investiu nas
navegações no intuito de comercializar com diferentes partes do mundo.
A centralização monárquica portuguesa aconteceu ainda no século XIV com a Revolução de Avis, Portugal foi
considerado o primeiro reino europeu unificado, ou seja, foi o primeiro Estado Nacional da história da Europa. Além do fato da
unificação portuguesa, a Revolução de Avis consolidou a força da burguesia mercantil que, conforme vimos acima, investiu
pesadamente nas Grandes Navegações.
Estudiosos como Diegues (2010), Tengarrinha (2001) e Silva (1989)1 que analisaram Portugal nos séculos XV e
XVI, afirmaram também que os portos de boa qualidade que eram existentes no país influenciaram bastante no processo do
pioneirismo português. Outro motivo não menos fundamental que os outros expostos, que ajudou no processo do
empreendimento português, foi o estudo náutico realizado na Escola de Sagres, sob o comando do astuto infante D. Henrique, o
navegador (1394-1460).
A Escola de Sagres foi consolidada na residência de D. Henrique e se tornou uma referência para estudiosos como
cosmógrafos, cartógrafos, mercadores, aventureiros entre outros. Iniciando o processo de conquistas pelos mares, os
portugueses no ano de 1415 dominaram Ceuta, considerada primeira conquista dos europeus durante a Expansão Marítima.
O principal objetivo que os navegadores portugueses desejavam alcançar era dar a volta no continente africano, ou
seja, realizar o périplo africano.

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A expansão marítima portuguesa começou através das conquistas na costa da África e se expandiram para os
arquipélagos próximos. Experientes pescadores, eles utilizaram pequenos barcos, o barinel, para explorar o entorno. Mais tarde,
desenvolveriam e construiriam as caravelas e naus a fim de poderem ir mais longe com mais segurança.
A precisão náutica foi favorecida pela bússola e o astrolábio, vindos da China. A bússola já era utilizada pelos
muçulmanos no século XII e tem como finalidade apontar para o norte (ou para o sul). Por sua vez, o astrolábio é utilizado para
calcular as distâncias tomando como medida a posição dos corpos celestes.
Com o desenvolvimento dos estudos marítimos (Escola de Sagres), os portugueses se tornaram grandes
comerciantes, prosperando e produzindo novas embarcações e formando grandes navegadores. Portugal se transformou em um
dos mais importantes entrepostos (armazém de depósito de mercadorias - que esperam comprador ou que se vão reembarcar)
comerciais durante as Grandes Navegações Marítimas.

EXPANSÃO MARÍTIMA EUROPEIA


Portugal
As navegações portuguesas na África foram denominadas Périplo Africano
Com tecnologia desenvolvida e a necessidade econômica de explorar o Oceano, os portugueses ainda somaram a
vontade de levar a fé católica para outros povos.
As condições políticas eram bastante favoráveis. Portugal foi à primeira nação a criar um Estado-nacional associado
aos interesses mercantis através da Revolução de Avis.
Em paz, enquanto outras nações guerreavam, houve uma coordenação central para as estimular e organizar as
incursões marítimas. Estas seriam essenciais para suprir a falta de mão de obra, de produtos agrícolas e metais preciosos.
O primeiro sucesso português nos mares foi a Conquista de Ceuta, em 1415. Sob o pretexto de conquista religiosa
contra os muçulmanos, os portugueses dominaram o porto que era o destino de várias expedições comerciais árabes.
Assim, Portugal estabeleceu-se na África, mas não foi possível interceptar as caravanas carregadas de escravos,
ouro, pimenta, marfim, que paravam em Ceuta. Os árabes procuraram outras rotas e os portugueses foram obrigados a procurar
novos caminhos para obter as mercadorias que tanto aspiravam.
Na tentativa de chegar à Índia, os navegadores portugueses foram contornando a África e se estabelecendo na
costa deste continente. Criaram feitorias, fortes, portos e pontos para negociação com os nativos.
A essas incursões deu-se o nome de périplo africano e tinham o objetivo de obter lucro através do comércio. Não
havia o interesse em colonizar ou organizar a produção de algum produto nos locais explorados.
Em 1431, os navegadores portugueses chegavam às ilhas dos Açores, e mais tarde, ocupariam a Madeira e Cabo
Verde. O Cabo do Bojador foi atingido em 1434, numa expedição comandada por Gil Eanes. O comércio de escravos africanos já
era uma realidade em 1460, com retirada de pessoas do Senegal até Serra Leoa.
Desta maneira, Portugal foi conquistando várias concessões na África. No ano de 1488, Bartolomeu Dias,
navegador português, havia conseguido chegar ao Cabo da Boa Esperança, provando para o mundo que existia uma passagem
para outro oceano, esse feito constitui entre as importantes marcas das conquistas marítimas de Portugal, pois desta maneira se
encontrou uma rota para o Oceano Índico em alternativa ao Mar Mediterrâneo. Finalmente, no ano de 1498, o navegador
português Vasco da Gama conseguiu chegar a Calicute, nas Índias, e aí estabelecer negociações com os chefes locais; em 1500,
outro navegador lusitano, Pedro Álvares Cabral(1467-1520), se afasta da costa da África a fim de confirmar se havia terras por ali,
deslocou-se com uma grande frota de embarcações para fazer comércio com o Oriente, acabou chegando ao chamado ‘Novo
Mundo’ - o continente americano. Desta maneira, chega nas terras onde seria o Brasil, em 1500.

Expansão marítima espanhola e o Tratado de Tordesilhas


O Estado Nacional Espanhol realizou sua primeira expansão marítima em 1492. A rota de destino dos espanhóis foi
em direção ao oeste, sob a liderança do navegador italiano Cristóvão Colombo. Apoiado pelos reis Fernando de Aragão e Isabel
de Castela, Colombo partiu em agosto de 1492 com as caravelas Nina e Pinta e com a nau Santa Maria rumo a oeste, chegando
à América em outubro do mesmo ano.
A rota escolhida por Cristóvão Colombo foi fruto das influências das teorias renascentistas acerca da forma do
mundo.
As viagens marítimas espanholas percorreram parte do Oceano Atlântico.
Na primeira viagem as embarcações espanholas atracaram na América. Entretanto, o líder navegante acreditava
estar em terras indianas. Além da Espanha tentar provar as teorias do formato da terra, entrou ainda em conflitos com Portugal
pelo domínio das produções de especiarias.
Dois anos depois, o Papa Alexandre VI aprovou o Tratado de Tordesilhas, que dividia as terras descobertas e por
descobrir entre espanhóis e portugueses.
Inicialmente, o papa decidiu que a divisão dos territórios entre Portugal e Espanha seria o meridiano traçado a 100
léguas das ilhas de Cabo Verde. E após a repartição as terras a oeste do meridiano pertenceria ao reino português e as terras a
leste ao reino espanhol.
Em 1494 Portugal iniciou negociações diplomáticas com os espanhóis por recusa ao primeiro acordo papal. E foi
com o Tratado de Tordesilhas que se estabeleceram as divisões territoriais das terras descobertas.
No tratado ficaram acordados entre os dois países que os territórios seriam divididos pelo meridiano, traçado a 370
léguas a oeste das Ilhas de cabo Verde. Portugal se beneficiou economicamente porque ficou com a rota de leste, rumo à Índia, e

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boa porção do território do Brasil. A Espanha unificou grande parte do seu território com a queda de Granada, em 1492, com a
derrota do último reino árabe. A primeira incursão espanhola ao mar resultou na descoberta da América, pelo navegador italiano
Cristóvão Colombo (1452-1516).

França
Através de uma crítica ao Tratado de Tordesilhas feita pelo rei Francisco I, os franceses se lançaram em busca de
territórios ultramarinos. A França saía da Guerra dos Cem Anos (1337-1453), das lutas do rei Luís XI (1461-1483) contra os
senhores feudais.
A partir de 1520, os franceses passaram a fazer expedições, chegando ao Rio de Janeiro e Maranhão, de onde
foram expulsos. Na América do Norte, chegaram à região hoje ocupada pelo Canadá e o estado da Louisiana, nos Estados
Unidos.
No Caribe, se estabeleceram no Haiti e na América do Sul, na Guiana.

Inglaterra
Os ingleses, que também estavam envolvidos na Guerra dos Cem Anos, Guerra das Duas Rosas (1455-1485) e
conflitos com senhores feudais, também queriam buscar uma nova rota para as Índias passando pela América do Norte.
Assim, ocuparam o que hoje seria os Estados Unidos e o Canadá. Igualmente, ocuparam ilhas no Caribe como a
Jamaica e Bahamas. Na América do Sul, se estabeleceram na atual Guiana.
Os métodos empregados pelo país eram bastante agressivos e incluía o estímulo à pirataria contra a Espanha, com
a anuência rainha Elizabeth I (1558-1603).
Os ingleses dominaram o tráfico de escravos para a América Espanhola e também ocuparam várias ilhas no
Pacífico, colonizando as atuais Austrália e Nova Zelândia.

Holanda
A Holanda se lançou na conquista por novos territórios a fim de melhorar o próspero comércio que dominavam.
Conseguiram ocupar vários territórios na América estabelecendo-se no atual Suriname e em ilhas no Caribe, como Curaçao.
Na América do Norte, chegaram a fundar a cidade de Nova Amsterdã, mas foram expulsos pelos ingleses que a
rebatizaram de Nova Iorque.
Igualmente, tentaram arrebatar o nordeste do Brasil durante a União Ibérica, mas foram repelidos pelos espanhóis e
portugueses. No Pacífico, ocuparam o arquipélago da Indonésia e ali permaneceriam por três séculos e meio.

CONSEQUÊNCIAS DA EXPANSÃO MARÍTIMA EUROPEIA


O comércio em escala mundial foi ampliado graças as grandes navegações da expansão marítima europeia. Por
isso, muitos historiadores denominam as relações comerciais do século XV ao XVII de Revolução Comercial.
O mar Mediterrâneo era monopolizado pelos árabes-italianos, através das rotas terrestres das cidades italianas de
Gênova e Veneza. Depois da expansão marítima europeia o eixo econômico passou a ser o oceano Atlântico.
A mudança do eixo econômico valorizou a cidade portuguesa de Lisboa. Posteriormente, a cidade espanhola de
Sevilha.
O comércio marítimo europeu ainda ocasionou o surgimento e da exploração das riquezas das terras descobertas.
A exploração enriqueceu os reis e a burguesia e colocou o povo em uma estrema pobreza. As consequências
dessa relação comercial exploratória se estenderam e formaram países com economias desenvolvidas e subdesenvolvidas.

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Humanismo Renascentista
O humanismo renascentista foi um movimento intelectual e filosófico que se desenvolveu durante o período do
Renascimento entre os séculos XV e XVI, de glorificação do homem e da natureza humana, que surgiu na nas cidades da
Península Itálica. O antropocentrismo, que coloca o homem no centro do mundo, foi o conceito pelo qual se apoiava este o
pensamento filosófico.
Na literatura, o humanismo representa uma fase de transição entre o trovadorismo e o classicismo, ou ainda, a
segunda época medieval.
O homem, a obra mais perfeita do Criador, era capaz de compreender, modificar e até dominar a natureza. Por isso,
os humanistas buscavam interpretar o cristianismo, utilizando escritos de autores da Antiguidade, como Platão.
A religião não perdeu importância, mas foi questionada e daí surgiram novas correntes cristãs como o
protestantismo.
O estudo dos textos antigos, igualmente, despertou o gosto pela pesquisa histórica e pelo conhecimento das
línguas clássicas como o latim e o grego.
Desta forma, o humanismo se tornou referência para muitos pensadores nos séculos seguintes, como os filósofos
iluministas do século XVII.

Renascimento: Características e Contexto Histórico


ORIGEM DO RENASCIMENTO
O termo Renascimento foi criado no séc. XVI para descrever o movimento artístico que surgiu um século antes.
Posteriormente acabou designando as mudanças econômicas e políticas do período também e é muito contestado hoje em dia.
Afinal, as cidades nunca desapareceram totalmente e os povos não deixaram de comercializar entre si, nem de usar
moeda. Houve, sim, uma diminuição dessas atividades durante a Idade Média.
O Renascimento foi um movimento artístico e filosófico que teve início no século XV na Península Itálica e que aos
poucos, foi se espalhando pelo continente europeu.
Esta nova visão de mundo surge quando o sistema feudal começa a se esgotar. A terra passa a perder valor e o
comércio será a atividade mais lucrativa. Com o crescimento comercial surge uma nova classe social, a burguesia e o
renascimento reflete essas mudanças.

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Ao mesmo tempo, com a revalorização dos textos da Antiguidade Clássica, a ciência ganha um novo impulso. As
pesquisas de cientistas como Copérnico, Galileu, Kepler, Newton, etc., vieram confrontar diversos dogmas da Igreja Católica, que
aos poucos, foi perdendo influência, sobretudo com a reforma protestante.
Na Península Itálica várias cidades como Veneza, Gênova, Florença, Roma, dentre outras, se beneficiaram do
comércio com o Oriente. Estas regiões se enriqueceram com o desenvolvimento do comércio no Mar Mediterrâneo dando origem
a uma rica burguesia mercantil. A fim de se afirmarem socialmente, estes comerciantes patrocinavam artistas e escritores, que
inauguraram uma nova forma de fazer arte.
A Igreja e nobreza também foram mecenas de artistas como Michelangelo, Domenico Ghirlandaio, Pietro della
Francesa, entre muitos outros.

CARACTERÍSTICAS DO RENASCIMENTO
1. Humanismo
O movimento humanista surge como mote para a valorização do ser humano e da natureza humana, onde o
antropocentrismo (homem no centro do mundo) foi sua principal característica.
O humanismo foi uma corrente intelectual que se destacou na filosofia e nas artes e que desenvolveu o espírito
crítico do ser humano.
2. Racionalismo
Ao defender a razão humana, essa corrente filosófica foi importante para desenvolver diversos aspectos do
pensamento renascentista em detrimento da fé medieval.
Com ele, o empirismo ou a valorização da experiência, foram essenciais para a mudança de mentalidade no
período do renascimento. Esta corrente afirmava que os fenômenos humanos e da natureza deveriam ser comprovados diante de
experiências racionais.
Note que o racionalismo está intimamente relacionado com a expansão científica, de forma que busca uma
explicação para os fatos, baseada na ciência. Em outras palavras, a razão é o único caminho para se chegar ao conhecimento.
3. Individualismo
Foi uma das principais características do humanismo renascentista, uma vez que trouxe à tona questões
relacionadas com a individualidade do ser humano, bem como de suas emoções.
Dessa forma, o homem é colocado em posição central e passa a ser regido, não somente pela igreja, mas também
por suas emoções e escolhas. Assim, ele torna-se um ser crítico e responsável por suas ações no mundo e a partir daí, é
destacada sua importância como agente de mudanças, dotado, portanto, de inteligência.
Nesse ínterim, e rechaçando os valores medievais calcados na religião, o homem humanista é individualista e está
pronto para fazer suas escolhas no mundo (livre-arbítrio). Torna-se assim, um ser humano crítico.
4. Antropocentrismo
Em detrimento do pensamento teocêntrico medieval, onde Deus estava no centro do mundo, o antropocentrismo
(homem como centro do mundo) surge para valorizar diversos aspectos do ser humano.
A razão torna-se o instrumento pelo qual o ser humano deve pautar suas ações. Ainda que a religião continue a ter
muita importância, a inteligência humana foi exaltada diante das diversas descobertas científicas da época.
Desta maneira, reforçado pelo individualismo, o homem passa a ter uma posição centralizada e isso o impulsiona a
ousar no aprendizado e em descobertas científicas ou de novas terras.
5. Cientificismo
Numa época de efervescência, o conceito do cientificismo foi de suma importância para mudar a mentalidade do
homem e trazer à tona questões sobre o conhecimento do mundo.
6. Universalismo
Foi desenvolvida, sobretudo, na educação renascentista corroborada pelo desenvolvimento do conhecimento
humano em diversas áreas do saber.
O homem renascentista busca ser um "polímata", ou seja, aquele que se especializa em diversas áreas. O maior
exemplo de figura polímata do renascimento foi sem dúvida, Leonardo da Vinci.
Vale ressaltar que no período renascentista, houve uma expansão de escolas, faculdades e universidades, bem
como a inclusão de disciplinas relacionadas às humanidades (línguas, literatura, filosofia, dentre outras.)
7. Antiguidade Clássica
A retomada dos valores clássicos foi essencial para o estudo dos humanistas. Um dos fatos que facilitou muito o
estudo dos clássicos foi à invenção da imprensa, uma vez que a rápida reprodução das obras auxiliou na divulgação do
conhecimento.
Segundo os estudiosos da época, a filosofia e as artes desenvolvidas durante a Grécia e a Roma antiga possuíam
grande valor estético e cultural, em detrimento daquelas da Idade Média.

Renascimento artístico
O Renascimento Artístico representou uma das vertentes do período renascentista com a profusão de diversas
obras.

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Lembre-se que o Renascimento foi um movimento artístico, intelectual e cultural que teve início no século XV na
Itália.
Foi com o declínio do sistema feudal e de diversas caraterísticas associadas ao período medieval, que surgiu a
Renascença, um período de efervescência cultural, artística e científica que se espalhou pela Europa.

CARACTERÍSTICAS DO RENASCIMENTO NAS ARTES


A arte renascentista valorizou os aspectos culturais, do homem e da natureza, e esteve voltada essencialmente
para a retomada dos modelos clássicos greco-romano.
Baseada no naturalismo, racionalismo e hedonismo, representou um divisor de águas, na medida em que a arte da
renascença trouxe inovações técnicas e temáticas, por exemplo, o surgimento da perspectiva, em detrimento da arte anterior
(plano reto).
Além disso, a harmonia e o equilíbrio foram características importantes que buscaram os artistas renascentistas
para frisar a valorização da antiguidade clássica bem como do antropocentrismo.
De tal modo, a arte renascentista chega para abordar outros temas, ampliando o leque de possibilidades, que
somente estavam restritos à arte religiosa, no período da Idade Média.
Para os artistas do renascimento, o contexto associado ao período medieval impossibilitou a evolução da arte em
diversos aspectos.
Isso porque, o medievo esteve intimamente relacionado a uma cultura religiosa, donde o teocentrismo (Deus no
centro do Universo) regia a vida das pessoas.
Foi a partir do avanço científico, social e cultural que surge o movimento do renascimento, o qual foi marcado
sobretudo pelo caráter humanista.
Assim, o teocentrismo medieval dá lugar ao antropocentrismo renascentista, com a chegada da Idade Moderna.
A grande contribuição da arte renascentista foi à descoberta da perspectiva e da profundidade. Assim, do plano reto
e bidimensional da arte medieval, a arte da renascença promoveu um outro olhar.
Outros aspectos, não menos importantes, explorados pelos artistas do renascimento, foram o equilíbrio das formas
e a busca da harmonia, fundamentadas na arte clássica.
Vale lembrar que o renascimento artístico incluiu a evolução da pintura, escultura, arquitetura e literatura,
valorizando aspectos humanos e da natureza.
Ainda que muitos temas explorados pelos artistas do renascimento estejam associados ao plano religioso e
espiritual, a mudança de mentalidade da época proporcionou incluir uma variedade de temáticas. Os assuntos abordados
variavam desde os costumes, a mitologia, as paisagens, dentre outros.

RENASCIMENTO COMERCIAL
Todas essas inovações só foram possíveis graças ao crescimento comercial que houve na Idade Média.
Quando as colheitas eram boas e sobravam alimentos estes eram vendidos em feiras itinerantes. Com o incremento
comercial, os vendedores passaram a se fixar em determinados locais que ficou conhecido como burgo. Assim, quem morava no
burgo foi chamado de burguês.
Nas feiras era mais fácil usar moedas do que o sistema de trocas. No entanto, como cada feudo tinha sua própria
moeda ficava difícil saber qual seria o valor correto. Dessa forma, surgiram pessoas especializadas na troca de moeda (câmbio),
outras em fazer empréstimos e garantir pagamentos e que é a origem dos bancos.
O dinheiro, então, passou a ser mais valorizado do que a terra e isso inaugurou uma nova forma de pensar e se
relacionar em sociedade onde tudo seria medido pela quantidade de dinheiro que custava.

As fases do renascimento reúnem três momentos:


 Trecento (século XIV)
 Quatroccento (século XV)
 Cinquecento (século XVI)
Essas fases estão intimamente relacionadas com o renascimento artístico e cultural que começou na Itália no
século XIV, mais precisamente na cidade de Florença.
Ainda que elas apresentem características em comum, por exemplo, o humanismo e a inspiração na arte clássica,
se diferem em alguns aspectos. Vejamos abaixo as características de cada período.
Trecento
A primeira fase do renascimento recebe esse nome uma vez que foi desenvolvido nos anos 1300 em Florença,
Itália.
É um momento de transição entre a Idade Média e a Idade Moderna em que se nota o despontar de questões
humanistas, além das inspirações clássicas.
Além disso, na pintura a tridimensionalidade marca essa ruptura com o estilo anterior: o estilo gótico. Os artistas
mais proeminentes dessa fase foram: o pintor Giotto, e os literatos Dante Alighieri, Francesco Petrarca e Giovanni Bocaccio.

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Quatrocento
O segundo período do renascimento foi desenvolvido durante os anos de 1400, daí surge seu nome.
É uma fase de consolidação das artes, com a difusão de diversas obras e artistas, dos quais se destacam Leonardo
da Vinci, Sandro Botticelli, Filippo Brunelleschi e Massacio.
Representa o auge do renascimento artístico e cultural na Itália e por isso, pode ser chamado de Alta Renascença.
Cada vez mais, outros países europeus começam a aderir ao movimento, produzindo obras que aproximem do
renascimento italiano.
Além do aprofundamento dos aspectos que envolvem o humanismo renascentista, a busca da beleza e da perfeição
das formas, inspirados na cultura greco-romana, são uma marca do período.
Ainda que os temas explorados estejam relacionados a religião, muitos artistas dessa fase utilizaram a mitologia e
outros temas pagãos para expressar nas obras.
Os mecenas, ricos (reis, príncipes, condes, duques, bispos, nobres e burgueses) que financiavam as artes, foram
essenciais para o desenvolvimento da arte renascentista desse período.
Cinquecento
O terceiro período do renascimento se desenvolveu durante os anos de 1500, e por isso recebe esse nome.
Nessa fase, os artistas já começam a se distanciar dos temas religiosos e assim, notamos a mescla dos temas
religiosos e profanos nas obras.
Nessa época, o estilo renascentista se consolida em diversas partes do continente europeu: Portugal, Espanha,
França e Alemanha.
Destacam-se os artistas Rafael Sanzio e Michelangelo e na literatura, Erasmo de Roterdã e Nicolau Maquiavel.
Note que, nesse período, o movimento renascentista começa a entrar em decadência e já começam a surgir obras
no estilo maneirista e barroco.

PRINCIPAIS ARTISTAS E OBRAS


Na literatura, o período do Renascimento foi denominado de Classicismo, e da mesma forma que outras vertentes
da arte renascentista (pintura, escultura, arquitetura), representava uma arte voltada para os modelos clássicos, e daí surge seu
nome.
Nessa época, muitos escritores se empenharam em trazer à tona os aspectos do humanismo renascentista,
inaugurando assim, a literatura moderna. Segue abaixo, um dos maiores representantes da literatura renascentista:
* Dante Alighieri (1265-1321)
Escritor italiano, considerado um dos primeiros e dos maiores escritores de língua italiana. Além da literatura, foi um
estadista e político da época da renascença. De suas obras merece destaque:
 A Divina Comédia;
 Sobre a Eloquência Vernácula;
 Vida Nova e Monarquia.

* Willian Shakespeare (1564-1616): considerado um dos maiores dramaturgos de todos os tempos. Abordou em
sua obra os conflitos humanos nas mais diversas dimensões: pessoais, sociais, políticas. Escreveu comédias e tragédias, como
"Romeu e Julieta", "Macbeth", "A Megera Domada", "Otelo" e várias outras.
* Miguel de Cervantes (1547-1616): poeta, romancista e dramaturgo espanhol, autor de Dom Quixote de la
Mancha, uma crítica contundente da cavalaria medieval.
* Luís de Camões (1524-1580): teve destaque na literatura renascentista em Portugal, sendo autor do grande
poema épico "Os Lusíadas".
* Michel de Montaigne (1523-1592): escritor e filósofo francês, autor de Ensaios.
* Nicolau Maquiavel (1469-1527): Escritor, historiador e político italiano, foi um dos grandes nomes da literatura
renascentista. Considerado o “Pai do Pensamento Político Moderno” sua principal obra é O Príncipe, que aborda sobre o tema da
unificação italiana, obra precursora da ciência política onde o autor dá conselhos aos governadores da época.

* François de Rabelais (1494-1553): escritor e padre francês, autor de Pantagruel e Gargântua.


* Erasmo de Roterdã (1466-1536): escritor e teólogo neerlandês, autor de Elogio da Loucura.Diferentemente da
arte medieval, o renascimento artístico esteve inspirado na antiguidade clássica, ou seja, nas artes greco-romana, que haviam
sido esquecidas durante séculos.

* Leonardo da Vinci (1452-1519): Matemático, físico, anatomista, inventor, arquiteto, escultor e pintor, ele
foi o esteriótipo do homem renascentista que domina várias ciências. Por isso, é considerado um gênio absoluto.
Nascido no vilarejo de Anchiano, próximo de Florença, Leonardo é uma das figuras mais importantes do
Renascimento, de forma que contribuiu para a produção intelectual e artística da época. Seu trabalho tinha como característica o
realismo, a simetria, o uso impecável de luzes e sombras, resultando na sensação de relevo.
De suas obras destacam-se: A Última Ceia (Santa Ceia) e A Gioconda (ou Mona Lisa).Sem dúvida, Leonardo foi um
dos principais artistas do Renascimento.

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A última ceia (1495-1498)


Pintor, escultor, arquiteto e literato renascentista, de suas principais obras destacam-se:
 Mona Lisa (La Gioconda);  A Virgem das Rochas;
 A Última Ceia;  Homem Vitruviano.

* Michelangelo (1475-1564) foi pintor, escultor, arquiteto e escritor renascentista.

Pietà (1498-1499)
Michelangelo: artista italiano cuja obra foi marcada pelo humanismo. Além de pintor foi um dos maiores escultores
do Renascimento. Entre suas obras destacam-se a Pietá, David, A Criação de Adão e O Juízo Final. Também foi o responsável
por pintar o teto da Capela Sistina. Considerado o “Gigante do Renascimento”, destacou-se com a produção de sua escultura de
diversas obras, entre elas, destacam-se:
 David;
 Pietà;
 Moisés;
 Teto da Capela Sistina, com destaque para a pintura A Criação de Adão.

* Donatello di Niccoló (1368-1466) Além da tríade dos principais representantes da Renascença, foi um
importante escultor italiano do período, nascido em Florença. Introduziu novas técnicas artísticas ao utilizar diferentes materiais
para compor suas esculturas, como mármore, bronze e madeira.
Donatello foi um escultor italiano nascido em Florença, teve grande destaque na arte renascentista.

David (1430-1440)
De seus trabalhos destacam-se as esculturas:
 David;  São Marcos;
 Gattamelata;  Tabernáculo de São Jorge.

* Sandro Boticcelli (1445-1510) Pintor e desenhista nascido em Florença, Alessandro di Mariano di


Vanni Filipepi, mais conhecido por seu nome artístico, Sandro Boticcelli, foi um dos pintores mais proeminentes da Itália
renascentista.
Em suas obras, abordou temas religiosos e mitológicos, donde se destacam: A Primavera e O Nascimento de
Vênus.

O nascimento de Vênus (1485-1486)


De suas obras destacam-se:
 O Nascimento de Vênus;  Primavera e Virgem com o Menino;
 Adoração dos Reis Magos;  São João Batista Criança.

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* Rafael Sanzio (1483-1520): Ao lado de Leonardo da Vinci e Michelangelo, Rafael formou a tríade mais
importante dos grandes mestres da arte italiana da Renascença. Foi um mestre da pintura e famoso por saber transmitir
sentimentos delicados através de suas imagens de Nossa Senhora. Uma de suas obras mais perfeitas é a Madona do Prado.
Pintor italiano nascido na cidade de Urbino, inovou as técnicas de pintura, ao utilizar contrastes de luzes e sombras.
Pintor italiano que, em suas obras, utilizou a técnica do contraste de luz e sombras, sendo reconhecido como um
dos principais nomes do movimento renascentista.

Madona do Prado (1506)


De suas obras merecem destaque as diversas pinturas de Madonas e O Casamento da Virgem.

* Masaccio (1401-1428) Pintor italiano considerado o primeiro grande pintor do renascimento artístico.

O pagamento do tributo (1425)


De suas obras merecem destaque:
 Sagrada Trindade;  Expulsão do Paraíso;
 A Natividade;  O pagamento do tributo.
 Tríptico de San Giovenale;

* Filippo Brunelleschi (1377-1446) Arquiteto e escultor italiano.

Cúpula da Catedral Santa Maria del Fiore (1438) em Florença


Suas principais obras arquitetônicas foram:
 Domo (cúpula) da catedral de Santa Maria  Palácio Pitti;
del Fiore;  Capela Pazzi.
 Hospital do Inocentes;

* Tintoretto (1518-1594) Jacopo Comin, mais conhecido como Tintoretto, foi um pintor italiano da última
fase do renascimento artístico (denominada de alto renascimento).

A última ceia (1592-1594)


Considerado precursor do movimento do barroco, suas obras mais notáveis são:
 Marte e Vênus surpreendidos por Vulcano;  A Última Ceia;
 O Milagre de São Marcos;  São Jorge lutando contra o Dragão.

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* Paolo Veronese (1529-1588) Pintor italiano pertencente à última fase do renascimento, a obra de
Veronese abrange aspectos da escola maneirista.

As bodas de Caná (1562-1563)


De suas pinturas mais notáveis destacam-se:
 As Bodas de Caná;  O Sacrifício de Isaac;
 A Batalha de Lepanto;  Adoração pelos Magos.

* Andrea Mantegna (1431-1506) Pintor e gravador italiano, Andrea contribuiu com a técnica do ilusionismo
espacial.

Lamentação sobre o Cristo Morto (1480)


De suas principais obras merecem destaque:
 Quarto dos esposos;  Judite e Holofernes;
 Lamentação sobre Cristo Morto;  A Circuncisão de Jesus.

* Fra Angelico (1387-1455) Guido di Pietro Trosini, mais conhecido pelo nome Fra Angelico, foi um pintor
italiano beatificado pela Igreja Católica em 1982.

A anunciação (1437-1446)
Um dos precursores da pintura renascentista, destacou-se com suas obras:
 O Juízo Final;  A Anunciação;
 Adoração dos Reis Magos;  A Coroação do Virgem
.
* Donato Bramante (1444-1514) Arquiteto e pintor Bramante foi discípulo de Andrea Mantegna.

Cristo na coluna (1479)


Contribuiu para as construções arquitetônicas da Igreja de São Pedro, em Montorio, e da Basílica de São Pedro. Na
pintura, merecem destaque as obras:
 Cristo na Coluna;
 Homens de Armas.

* Francesco Petrarca (1304-1374) Escritor italiano considerado o "Fundador do Humanismo


Renascentista" e criador da forma fixa literária, os sonetos.

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Francesco Petrarca na obra Ciclo dos Famosos Homens e Mulheres (1450), por Andrea di Bartolo di Bargilla.
De suas obras destacam-se:
 Cancioneiro e o Triunfo;  Remédios para os Trancos e Barrancos.
 Meu Livro Secreto; *
 Itinerário para a Terra Santa;
Giovanni Boccaccio (1313-1375) Escritor e humanista italiano, Boccaccio foi um estudioso da obra de Dante. Suas
obras de destaque, são:
 Decameron (grande obra que inclui cerca de 100 novelas);
 Mulheres famosas;
 Rima e Visão Amorosa.

RENASCIMENTO CIENTÍFICO
A ideia era trazer à tona questões relacionadas com as descobertas científicas, bem como o desenvolvimento
social, artístico e cultural. Assim, gradualmente, esses artistas promoviam um pensamento mais humano e racionalista, ou seja,
centrado no antropocentrismo (homem como centro do mundo).
No campo científico, denominado de Renascimento Científico, os maiores representantes foram os astrônomos:
Nicolau Copérnico (1473-1543), com a Teoria Heliocêntrica (Sol no centro do Universo), e Galileu Galilei (1564-1642),
considerado o “pai da ciência moderna”.
Vale destacar que esse período de transição da Idade Média para a Idade Moderna foi marcado por diversas
transformações sociais, políticas, econômicas e culturais na Europa.
O declínio da sociedade feudal, o renascimento comercial-urbano, a criação da Imprensa e o surgimento da
burguesia, foram essenciais para consolidar uma nova era que se aproximava: O Humanismo Renascentista.
Chama-se Renascimento Científico o período de desenvolvimento da ciência durante os séculos XV e XVI. Esta
época foi pautada no racionalismo, no humanismo e nos conhecimentos da Antiguidade Clássica que mudaram a mentalidade das
pessoas.

Homem Vitruviano (1490) de Leonardo da Vinci. Ilustração ícone do Humanismo Renascentista

A partir deste saber e descobertas dos estudiosos, esse período possibilitou o avanço de diversos campos do
conhecimento que, mais tarde, inauguraria a Ciência Moderna.
Os renascentistas estavam preocupados em estudar a natureza através da experimentação e da segmentação de
informações.
Vários homens e até mulheres realizaram pesquisas e, entre tantos, podemos citar Leonardo da Vinci. Embora
tenha sido um dos nomes mais importantes do Renascimento Cultural e Artístico, ele também se destaca no Renascimento
Científico, ao lado de Nicolau Copérnico.

PRINCIPAIS REPRESENTANTES

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O Renascimento foi marcado por importantes descobertas científicas, notadamente nos campos da astronomia, da
física, da medicina, da matemática e da geografia. Os principais pensadores que fizeram parte do Renascimento Científico foram:

 Nicolau Copérnico (1473-1543): astrônomo e matemático polonês, considerado o “Pai da Astronomia


Moderna”. Foi criador da Teoria Heliocêntrica (sol como centro do Universo), na qual contradiz a Teoria Geocêntrica medieval
(adotada pela Igreja Católica), em que a Terra seria o centro do Universo.
* Galileu Galilei (1564-1642): astrônomo, físico, matemático e filósofo italiano, Galileu foi defensor da Teoria
Heliocêntrica de Copérnico, sendo considerado um dos fundadores da geometria moderna e da física. Além disso, aperfeiçoou o
telescópio, inventou o microscópio com duas lentes e o compasso geométrico. Descobriu os anéis de Saturno, as manchas
solares, os satélites de Júpiter. Perseguido e ameaçado pela Igreja, Galileu foi obrigado a negar publicamente suas ideias e
descobertas.
 Johannes Kepler (1571-1630): astrônomo, matemático e astrólogo alemão, Kepler aprofundou suas teorias
sobre mecânica celeste inspiradas no modelo heliocêntrico, apresentando estudos sobre as eclipses lunar e solar.
* Andreas Vesalius (1514-1564): médico belga, considerado o “Pai da Anatomia Moderna”, Vesalius foi um
dos precursores dos estudos sobre anatomia e fisiologia, após dissecar corpos de humanos e escrever sua principal obra, um
atlas de Anatomia Humana intitulado “Fábrica”. Na medicina os conhecimentos avançaram com trabalhos e experiências sobre
circulação sanguínea, métodos de cauterização e princípios gerais de anatomia.
 Francis Bacon (1561-1626): filósofo, político e alquimista inglês, Bacon foi o criador do “Método Científico”
(nova maneira de estudar a natureza), sistematizando o conhecimento humano, sendo considerado o fundador da “Ciência
Moderna”.
 René Descartes (1596-1650): filósofo, físico e matemático francês, segundo seus estudos, Descartes foi
considerado o “Pai do Racionalismo e da Matemática Moderna” e ainda, o fundador da Filosofia Moderna. Sua obra mais
representativa é o “Discurso sobre o Método”, tratado filosófico e matemático propondo as bases do racionalismo.
 Isaac Newton (1643-1727): filósofo, físico, matemático, astrônomo, alquimista e teólogo inglês, Newton foi
considerado o “Pai da Física e da Mecânica Modernas”, do qual desenvolveu diversos conhecimentos nas áreas da matemática,
física e filosofia natural. Estudou o movimento dos corpos propondo as três “Leis de Newton”.
 Leonardo da Vinci (1452-1519): inventor, matemático, engenheiro e artista italiano, Da Vinci foi considerado um
dos mais proeminentes gênios do Renascimento e da história da humanidade. Avançou em diversos estudos sobre a anatomia
humana, e inventou o paraquedas, a máquina de voar, o submarino, o tanque de guerra, dentre outros.

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Reforma Protestante
ORIGEM DA REFORMA PROTESTANTE
O processo de centralização monárquica que dominava a Europa desde o final da Idade Média, tornou tensa a
relação entre reis e Igreja.
A Igreja - possuidora de grandes extensões de terra - recebia tributos feudais controlados em Roma pelo Papa.
Com o fortalecimento do Estado Nacional Absolutista, essa prática passou a ser questionada pelos monarcas que desejavam
reter estes impostos no reino.
Parte dos camponeses também estava descontente com a Igreja, pois eles também lhe deveriam pagar taxas,
como o dízimo. Em toda Europa, mosteiros e bispados possuíam imensas propriedades e viviam às custas dos trabalhadores da
cidade e dos campos.
A Igreja condenava as práticas capitalistas nascentes, entre elas a "usura" - a cobrança de juros por empréstimos -
considerada pecado; e defendia a comercialização a "justo preço", sem lucro abusivo.
Esta doutrina estava em contra as novas práticas mercantilistas do fim da Idade Média e freava o investimento da
burguesia mercantil e manufatureira.
No entanto, a desmoralização do clero, que apesar de condenar a usura e desconfiar do lucro, veio com a prática
do comércio de bens eclesiásticos.
O clero fazia uso da sua autoridade para obter privilégios e a venda de cargos da Igreja, uma prática chamada de
"simonia". Igualmente, muitos sacerdotes tinham esposas, apesar do celibato obrigatório, numa heresia conhecida como
"nicolaísmo".
O maior escândalo foi a venda indiscriminada de indulgências, isto é, a remissão dos pecados em troca de
pagamento em dinheiro a religiosos.

ANTECEDENTES
A reforma protestante ocorreu em um contexto de grandes transformações sociais, políticas, culturais e econômicas
na Europa. A formatação da Europa nos moldes medievais estava em declínio e novas realidades estavam surgindo. Era uma
Europa que via o comércio desenvolver-se e novos interesses políticos surgindo. Tratou-se de um período de mudanças culturais,
pois a cultura renascentista defendia a ideia do homem no centro de todas as coisas como forma de quebrar a grande influência
religiosa. As artes encontravam novas formas de expressão e o conhecimento científico avançava.
Fatores comuns que desempenharam um papel durante a Reforma e a Contrarreforma incluíram o surgimento da
imprensa, no século XV, foi um fator crucial, pois garantiu maior produção de livros e ampliou a circulação de ideias, do
nacionalismo, da simonia, da nomeação de cardeais-sobrinhos e de outras corrupções da Cúria Romana e outras hierarquias
eclesiásticas, o impacto do humanismo, o novo aprendizado da Renascença versus escolástica e o Cisma Ocidental, que corroeu
a lealdade ao papado e gerou guerras entre príncipes, revoltas entre os camponeses...
No campo religioso, a contestação da Igreja Católica era uma prática que vinha acontecendo desde meados da
Idade Média. Esses movimentos religiosos questionavam a falta de moralidade, o abuso do poder, a avareza, a corrupção e todo
tipo de desvio comum na Igreja Católica na Europa. Alguns historiadores entendem, por exemplo, que os valdenses, surgidos na
França, no século XII, já eram um movimento reformista, especialmente de John Wycliffe na Universidade de Oxford e de Jan Hus
na Universidade Carolina em Praga.
John Wycliff e Jan Hus, dois nomes que questionaram as práticas da Igreja nos séculos XIV e XV, respectivamente.
As críticas realizadas por ambos iam em caminho semelhante às de Lutero: questionavam o acúmulo de poder e os desmandos
de Roma, criticavam os desvios dos ensinamentos contidos na Bíblia, a venda de indulgências etc.
Huss se opôs a algumas das práticas da Igreja Católica Romana e queria devolver à igreja da Boêmia e da Morávia
as práticas anteriores: a liturgia na linguagem do povo (ou seja, o povo tcheco), fazendo com que os leigos recebam a comunhão
em ambas as espécies (pão e vinho—isto é, em latim, communio sub utraque specie), que padres possam casar e eliminando as
indulgências e o conceito de purgatório. Algumas delas, como o uso da língua local como língua litúrgica, foram aprovadas pelo
papa já no século IX.
John Wycliffe questionou o status privilegiado do clero católico que havia reforçado seu poderoso papel na
Inglaterra e o luxo e pompa das paróquias locais e suas cerimônias. Ele foi, portanto, caracterizado como a "estrela da tarde" da
escolástica e como a "estrela da manhã" ou stella matutina da Reforma Inglesa. Em 1374, Catarina de Siena começou a viajar
com seus seguidores por todo o norte e centro da Itália defendendo a reforma do clero e aconselhando as pessoas de que o
arrependimento e a renovação poderiam ser feitos por meio do "amor total a Deus". Ela manteve uma longa correspondência com
o Papa Gregório XI, pedindo-lhe para reformar o clero e a administração dos Estados Pontifícios. As igrejas protestantes mais
antigas, como a Igreja dos Irmãos Morávios, datam suas origens em Jan Hus no início do século XV. Por ser liderada por uma
maioria nobre da Boêmia e reconhecida, por algum tempo, pelos Pactos de Basiléia, a reforma hussita foi a primeira "reforma
magisterial" da Europa porque os magistrados governantes a apoiaram, ao contrário da "Reforma Radical", que o Estado não
apoiou Pré-Reforma de John Wycliffe

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Os líderes da Igreja Católica Romana o condenaram no Concílio de Constança (1414-1417), queimando-o na


fogueira apesar da promessa de salvo-conduto. Wycliffe foi postumamente condenado como herege e seu cadáver foi exumado e
queimado em 1428. O Concílio de Constança confirmou e fortaleceu a concepção medieval tradicional da Igreja e do império, sem
abordar as tensões nacionais ou teológicas provocadas durante o século anterior e não pôde evitar o cisma e as Guerras Hussitas
na Boêmia.
O Papa Sisto IV (1471-1484) estabeleceu a prática de vender indulgências aos mortos, estabelecendo assim um
novo fluxo de receita com agentes em toda a Europa. Já o Papa Alexandre VI (1492-1503) foi um dos papas mais controversos da
Renascença. Ele era pai de sete filhos, entre eles Lucrécia e César Borgia. Em resposta à corrupção papal, particularmente a
venda de indulgências, Martinho Lutero escreveu as Noventa e Cinco Teses.

Lutero é o nome mais conhecido da Reforma Protestante, contudo tal movimento teve como base as ideias do
professor e teólogo inglês, John Wycliffe. Ele levantou diversas questões sobre a Igreja, entre elas a necessidade da figura do
Papa, Wycliffe pregava que "Nosso papa é o Cristo".
O teólogo tinha como propostas reformistas:
• A pobreza apostólica;
• A Escritura como única lei da igreja;
• Os eleitos são a igreja, não o Papa e os cardeais;
• Cristo como o cabeça da igreja, não o Papa.

CAUSAS DA REFORMA
1 - Abusos da Igreja Católica
A Igreja Católica vinha, desde o final da Idade Média, perdendo sua identidade. Gastos com luxos e bens materiais
estavam tirando o objetivo católico dos trilhos. Muitos integrantes do clero estavam desrespeitando as regras religiosas,
principalmente no que se diz respeito ao celibato. Padres que mal sabiam rezar uma missa e comandar os rituais deixavam os
cristãos católicos insatisfeitos.
2 - Necessidades da burguesia
A burguesia comercial, em plena expansão no século XVI, ficou cada vez mais inconformada, pois os clérigos
católicos estavam condenando seu trabalho. O lucro e os juros, típicos de um capitalismo emergente, eram vistos como práticas
condenáveis pelos religiosos.
3 - Venda de Indulgências
Por outro lado, o papa arrecadava dinheiro para a construção da Basílica de São Pedro em Roma, com a venda das
indulgências (venda do perdão).
4 - Interferências do papa na política
No campo político, os reis estavam descontentes com o papa, pois esse interferia muito nos comandos que eram
próprios da realeza.
5 - Pensamento renascentista e a valorização das Ciências e da razão
O novo pensamento renascentista também fazia oposição aos preceitos da Igreja. O homem renascentista começou
a ler mais e formar opiniões cada vez mais críticas. Trabalhadores urbanos, com mais acesso a livros, começaram a discutir e a
pensar sobre as coisas do mundo, baseando-se na ciência e na busca da verdade através de experiências e da razão.
6 - Insatisfação dos camponeses
Outro fator importante foi a insatisfação de muitos camponeses, que não saíram da condição de servos, em pleno
século XVI, e viam na Igreja uma instituição que apoiava a condição de miséria em que viviam. Os camponeses e pessoas pobres
também estavam inconformados com o acúmulo de capital do clero, principalmente de terras.

REFORMA DE LUTERO
O monge agostiniano Martinho Lutero não concordava com as práticas da Igreja e por isso teceu críticas por meio
das 95 teses.
Um dos seus maiores questionamentos era sobre a venda de indulgências, prática em que a pessoa ofertava
dinheiro em troca do perdão pelos seus pecados. Sua indignação era reforçada pelo fato de que o papa Leão X havia oferecido
indulgências para todos que contribuíssem financeiramente para a construção da Basílica de São Pedro.
Lutero também criticava a venda de cargos eclesiásticos e a venda de relíquias sagradas, ambas conhecidas como
simonia. Suas críticas davam-se porque a ideia que o movia, teologicamente falando, era a de gratuidade da fé, isso quer dizer
que ele não acreditava que obras, como pagarem pelo perdão concedido pelo papa, garantissem a salvação de uma pessoa, mas
que apenas a fé garantiria a salvação.
A insatisfação com as práticas e o debate teológico a respeito da salvação foram os fatores centrais que levaram o
monge a posicionar-se. O movimento que Lutero iniciou não visava à separação da Igreja, mas sua moralização. Acontece que o
que foi iniciado por Lutero propiciou que mudanças nos âmbitos políticos e econômicos fossem possíveis.

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Politicamente a Igreja ainda representava uma grande força, uma vez que a consolidação do poder dos monarcas
dependia da aprovação papal. Nesse sentido, ter o apoio do papa garantia uma influência muito grande, tanto internamente
quanto externamente. A grande questão é que o século XVI foi um momento em que as demandas e os interesses políticos de
cada reino começaram a tornarem-se mais complexos.
Essa situação tem relação com o processo de formação dos Estados nacionais e de centralização do poder. As
agendas políticas dos Estados formados eram muitos amplas, e, na maioria das vezes, os interesses dos reis desses locais não
se encontravam com os interesses do papa. Nesse sentido, muitos nobres apoiaram a reforma de Lutero porque identificou nela
potencial para o enfraquecimento da Igreja, o que poderia garantir-lhes maior autonomia.
Essa maior autonomia política também significava maior autonomia econômica para esses reinos, uma vez que
garantia o fim de impostos pagos para a Igreja. No contexto alemão, a reforma também foi abraçada porque se encarava com
indignação a grande quantidade de recursos e posses que a Igreja possuía, principalmente porque algumas regiões do Sacro
Império eram bastante pobres.
O início da Reforma é geralmente datado em 31 de outubro de 1517 em Wittenberg, Saxônia, quando Lutero enviou
suas Noventa e Cinco Teses sobre o Poder e a Eficácia das Indulgências ao Arcebispo de Mainz. As teses debatiam e criticavam
a Igreja e o papado, mas concentravam-se na venda de indulgências e políticas doutrinárias sobre o purgatório, o julgamento
particular e a autoridade do papa. O estopim da Reforma Protestante aconteceu em 1517, quando Martinho Lutero se deparou
com o dominicano Tetzel que vendia indulgências em Wittnberg. Em resposta, no dia 31 de outubro, escreveu 95 teses que
criticavam a Igreja Católica e Papa, fixando-os na porta da Catedral de Wittenberg.

Confira abaixo algumas teses:


16ª – Inferno, purgatório e céu parecem diferir da mesma forma que o desespero, o semidesespero e a segurança;
20ª – Portanto, sob remissão plena de todas as penas, o papa não entende simplesmente todas, mas somente
aquelas que ele mesmo impôs;
27ª – Pregam futilidades humanas quantos alegam que no momento em que a moeda soa ao cair na caixa a alma
se vai do purgatório;
34ª – Tanto assim que a graça da indulgência apenas se refere à pena satisfatória estipulada por homens;
36ª – Qualquer cristão verdadeiramente arrependido tem direito à remissão pela de pena e culpa, mesmo sem carta
de indulgência;
75ª – A opinião de que as indulgências papais são tão eficazes ao ponto de poderem absolver um homem mesmo
que tivesse violentado a mãe de Deus, caso isso fosse possível, é loucura.

A ação de Lutero rapidamente se repercutiu pelos países da Europa e no ano seguinte, 1518, ele foi acusado de
heresia e chamado em Roma. O monge recusou a ordem papal e manteve suas posições, que também expressavam a opinião de
boa parte da população.
Em 1520, Martinho Lutero recebeu uma “Bula Papal”, que ordenava que se retratasse ou seria excomungado. Em
resposta, eles, juntamente com estudantes e professores da Universidade de Wittenberg, queimaram a Bula em praça pública.
A Igreja Católica não aprovou as críticas de Lutero. O papa Leão X, por exemplo, emitiu uma bula exigindo que o
monge se retratasse, mas este queimou a bula papal em uma demonstração de que não se curvaria à pressão de Roma. No ano
seguinte, o papa ainda excomungou Lutero, o que significava que ele estava excluído da Igreja Católica.
No entanto, Lutero foi acolhido por parte da nobreza alemã, que simpatizava com suas ideias e refugiou-se no
castelo de Wartburg. Ali, se dedicou à tradução da Bíblia do latim para o alemão, e a desenvolver os princípios da nova religião.
Seguiram-se guerras religiosas que só foram concluídas em 1555, pela "Paz de Augsburgo". Este acordo
determinava o princípio de que cada governante dentro do Sacro Império poderia escolher sua religião e a de seus súditos.
Lutero ainda teve de posicionar-se contra o poder temporal, uma vez que o imperador do Sacro Império, Carlos V,
convocou a Dieta de Worms, uma espécie de assembleia, para que as ideias de Lutero fossem debatidas. Lutero esteve presente
nesse evento, defendeu seus escritos e ideias e foi considerado um herege. Isso o forçou a esconder-se por um ano no Castelo
de Wartburg como forma de proteger sua vida.
As ideias de Lutero foram fortemente abraçadas por muitos no Sacro Império, e a base de teologia luterana é a
ideia de que “o justo viverá pela fé”. Assim, não são boas obras que garantem a salvação de uma pessoa, mas sim a sua fé.
Quanto às indulgências, ele as questionava nas suas teses dizendo:
Os reformadores e seus oponentes fizeram uso intenso de panfletos baratos, bem como de Bíblias vernáculas,
usando a relativamente nova tecnologia de impressão, de modo que houve um movimento rápido de ideias e documentos.

“Já que, com as indulgências, o papa procura mais a salvação das almas do o dinheiro, por que suspende as
cartas e indulgências outrora já concedidas, se são igualmente eficazes?”.
A construção teológica desenvolvida por Martinho Lutero pode ser resumida nos princípios conhecidos como cinco
solas, crenças basilares da teologia protestante:
• Sola fide (somente a fé)
• Sola scriptura (somente a escritura)
• Solus Christus (somente Cristo)
• Sola gratia (somente a graça)
• Soli Deo gloria (glória somente a Deus) • Reação da Igreja

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Na década de 1540, o papa Paulo III convocou o Concílio de Trento, evento que organizou a contrarreforma, o
movimento de reação da Igreja contra o crescimento do protestantismo. Essa reação criou critérios para uma formação mais
rigorosa dos membros clero e determinou que determinados livros tivessem sua circulação proibida.
“A reação da Igreja Católica conseguiu, em partes, barrar o avanço do protestantismo, mas em locais como
Alemanha, Dinamarca, Suécia, Países Baixos, Suíça, Inglaterra e Suíça, essa vertente religiosa conseguiu conquistar muito
espaço.”

CALVINISMO E REFORMA PROTESTANTE


A revolta e os ideais de Lutero se espalharam pelo continente europeu. Em cada região, o Luteranismo assumiu
características diferentes, pois muitos religiosos passaram a estudar os escritos de Lutero e propor a renovação da Igreja. Por
outro lado, na França e na Holanda, os princípios de Lutero foram ampliados por João Calvino (1509-1564). Pertencente à
burguesia e influenciado pelo Humanismo e pelas teses luteranas, Calvino converteu-se em ardente defensor das novas ideias.
Na Suíça, o teólogo cristão francês João Calvino começou a Reforma Luterana na década de 1530. De acordo com
Calvino, a salvação era explicada através da Doutrina da Predestinação (salvos e condenados já estão escolhidos por Deus).
Escreveu a "Instituição da religião cristã", que veio a ser o catecismo dos calvinistas. Perseguido, refugiou-se em
Genebra, na Suíça, onde a Reforma havia sido adotada. Dinamizou o movimento reformista através de novos princípios,
completando e ampliando a doutrina luterana.
Determinou que não houvesse nenhuma imagem nas igrejas, nem sacerdotes paramentados. A Bíblia era a base
da religião, não sendo necessária sequer a existência de um clero regular.
Para Calvino, a salvação não dependia dos fiéis e sim de Deus, que escolhe as pessoas que deverão ser salvas
(doutrina da predestinação).
O Calvinismo expandiu-se rapidamente por toda a Europa, mais do que o luteranismo. Atingiu os Países Baixos e a
Dinamarca, além da Escócia, cujos seguidores foram chamados de presbiterianos; na França, huguenotes; e na Inglaterra,
puritanos.
O trabalho justo e honesto é valorizado, sendo que o sucesso pessoal e profissional, advindos desse trabalho, é um
dos indícios, de acordo com os calvinistas, de que a pessoa está predestinada à salvação. Essa crença calvinista atraiu muitos
burgueses e banqueiros para o calvinismo. Muitos trabalhadores também viram nessa nova religião uma forma de ficar em paz
com sua religiosidade.
A primeira ideia defendida por João Calvino foi a predestinação. Essa ideia se baseava na crença de que Deus
determinara quem seria salvo e quem seria condenado. Para ele, a morte de Jesus Cristo na cruz não teria sido para toda a
humanidade, mas apenas para os escolhidos por Deus. Como o fiel saberia se foi salvo ou não? A resposta estaria em sua vida
prática, procurando viver os bons costumes, aproximando-se de Deus e buscando indícios de sua salvação.
O calvinismo não admite a possibilidade de intermédio entre Deus e seu fiel. Ao contrário do catolicismo e do
luteranismo, o calvinista não acredita que exista santos ou qualquer outro caminho que leve o cristão até Deus. O indivíduo por si
só teria condições de se relacionar com Deus. Para isso, ele deveria viver uma vida correta, baseada nos bons costumes. Essa
defesa de uma “vida pura” fez com que os calvinistas fossem chamados de puritanos.
Na questão econômica, o calvinismo aborda o trabalho e o lucro como algo benéfico para o homem e que não
atrapalharia a sua crença em Deus. Dessa forma, se um fiel possuísse um talento dado por Deus logo após o seu nascimento, ele
deveria trabalhar esse talento como um dom divino e ser merecedor dos frutos desse seu trabalho, como o acúmulo de capital.

REFORMA ANGLICANA
Ao contrário de outras reformas empreendidas por eclesiásticos e teólogos, a reforma anglicana foi estabelecida
sob os auspícios da monarquia inglesa no século XVI e teve início como mais um episódio no longo debate com a Igreja Católica
sobre sua autoridade em relação ao povo inglês. Na realidade, trata-se mais de um cisma do que uma verdadeira reforma,
configurando-se, portanto, mais como uma disputa política do que religiosa (embora as diferenças políticas tenham permitido,
posteriormente, uma crescente discórdia teológica).
A Igreja Anglicana reconheceu seu soberano como chefe, manteve o papa com o título de bispo de Roma, e teve
seus dogmas e ritos muito pouco modificados em relação aos do catolicismo. Trata-se de uma igreja independente de Roma, sem
comunidades monásticas, mas fiel à sua doutrina.
Henrique VIII Tudor da Inglaterra solicitara, em 1527, a Clemente VIII a dissolução de seu casamento com Catarina
de Aragão, alegando que ela não podia lhe dar um herdeiro. Como seu pedido fosse negado pelo papa, o soberano dirigiu-se ao
arcebispo da Cantuária, obtendo o que desejava. Em 1534, ele promulgou, com apoio do parlamento, o Ato de Supremacia, que o
declarava Chefe Supremo da Igreja e do Clero da Inglaterra na Terra e rompeu as relações diplomáticas com a Igreja Católica
Apostólica Romana.
Ana Bolena: segunda esposa de Henrique VIII e um dos motivos do rompimento do rei inglês com a Igreja Católica.

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Uma vez anulado o casamento com Catarina de Aragão, Henrique VIII casou-se com Ana Bolena, que
posteriormente ela foi acusada de adultério e executada (com ela ele teve uma única filha, Elizabeth Tudor). Ele se casou então
com Jane Seymour, que finalmente lhe deu um herdeiro, Eduardo Tudor, futuro Eduardo VI. Após a morte de Jane Seymour,
Henrique VIII casou-se ainda com a luterana Ana de Cleves (cunhada de Frederico, da Saxônia), com a conservadora Catarina
Howard e, finalmente, com Catarina Parr, casamentos estes que foram resultado de várias articulações políticas.
Entre 1534 e 1539, o parlamento decretou que os impostos religiosos não fossem mais pagos ao papa, e sim ao rei,
e que a Igreja Anglicana podia deliberar sobre as próprias questões internas sem recorrer a Roma, o que fez com que Henrique
VIII fosse excomungado; os mosteiros foram saqueados e destruídos, e seus bens confiscados e vendidos, permitindo que o
Estado retomasse cerca de um terço do reino; cada paróquia passou a ter uma Bíblia em inglês; e as ideias de Lutero foram
fortemente condenadas.

CONTRARREFORMA OU REFORMA CATÓLICA


A Contrarreforma foi um movimento católico que visava combater as propostas feitas pela Reforma Protestante,
comandada por Martinho Lutero. O movimento teve início após a realização do Concílio de Trento, reunião convocada pelo Papa
Paulo III para discutir formas de opor às ideias de Lutero.
Concílio de Trento, encontro que originou a Contrarreforma para se opor a Reforma Protestante.
O encontro aconteceu na cidade de Trento, na Itália, entre os anos de 1545 e 1563, sendo o mais duradouro
concílio ecumênico da história. Do encontro saíram vários decretos, que visavam reafirmar a fé cristã e os dogmas da igreja
católica.
O Concílio de Trento foi dividido em três períodos: de 1545 a 1548, de 1551 a 1552 e de 1562 até 1563. O encontro
e a Contrarreforma marcam, inclusive, o começo de um dos movimentos artísticos mais famosos, o Barroco. O movimento teve
grande participação nos ideais de expansão dos dogmas da igreja..
Desta maneira, a Igreja Católica acelera a tomada de uma série de providências para conter as ideias protestantes.
Uma delas foi apoiar a Companhia de Jesus, fundada por Inácio de Loyola, em 1534. Seus membros, conhecidos
como jesuítas tinham total confiança do papa e buscavam combater o protestantismo por meio do ensino e expansão da fé
católica.

Concílio de Trento
Em 1545 e 1563, realizou-se o Concílio de Trento, com representantes da Igreja Católica de toda a Europa.
Igualmente estavam presentes membros da igreja luterana e da ortodoxa.
Vejamos as principais decisões:
 O clero regular deveria estudar nos Seminários, caso quisessem tornar-se padres.
 Os párocos foram obrigados a morar em suas paróquias e dar atenção especial à pregação doutrinal.
 Proibiu-se a venda de cargos religiosos
 Foi criado o “Index”, lista de livros proibidos pela Igreja, incluindo livros científicos de Galileu, Giordano Bruno,

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