Doenca Cronica Crianca
Doenca Cronica Crianca
Doenca Cronica Crianca
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ISSN 1646-6977
Documento produzido em 30.06.2013
2013
Contato:
patricia14_ferreira@hotmail.com
RESUMO
INTRODUÇÃO
ambos, ao depararem-se com a doença, não são simplesmente alterações orgânicas ou físicas da
criança, mas prepassam este ângulo, e promovem alterações emocionais e sociais em toda a
família, os quais exigem constantes cuidados e adaptações (Vieira & Lima, 2002).
A doença de um membro da família é também a doença da sua família. Os laços de
afetividade que demarcam a estrutura familiar são responsáveis pela ligação entre todos os seus
familiares para encarar a doença. Face a esta situação a família procura várias formas de se
reorganizar (Silva, Guedes, Moreira & Souza, 2002).
O objetivo geral deste trabalho consiste na exploração da doença crónica na criança e a
importância que o núcleo familiar representa para esta.
O presente trabalho encontra-se dividido em dois capítulos: o primeiro, “A doença crónica
na criança” e o segundo, “A importância do núcleo familiar”. Assim sendo, os objetivos
específicos relativos ao primeiro capítulo serão a definição e a caracterização da doença e, ainda
perceber qual o impacto que esta tem na criança. Pretende-se, também compreender qual a
perceção da criança sobre o significado de ter saúde e estar doente. Irá também ser explorada, a
hospitalização da criança doente.
No que concerne ao segundo capítulo, a definição de família, o vínculo afetivo da família
para com a criança, as consequências da doença na família, particularmente os significados e
efeitos da descoberta, incluindo como foi realizada a comunicação do diagnóstico serão também
objetivos relevantes para o enriquecimento deste trabalho. Irá, ainda ser aprofundada as
consequências a nível psicológico/emocional e financeiro. Um outro tópico a desenvolver estará
relacionado com as representações que os pais possuem acerca da doença e como é a organização
da estrutura familiar para apoiar o seu filho. Assim, será feita referência, também aos sentimentos
experienciados e dificuldades sentidas pelos progenitores.
Outro aspeto de crucial importância a abordar neste trabalho serão as diferenças que
existem entre os pais no apoio à criança. Por fim, irá ser abordado a importância do
acompanhamento médico e psicológico para a família.
Neste capítulo será versado o tema da doença crónica na criança. Inicialmente será feita
uma concetualização em que constará a definição e caracterização da doença crónica,
apresentado as diversas formas e fases temporais que a doença pode assumir. O segundo objetivo
específico deste capítulo será abordar o impacto da doença na criança. Assim, será explorado
como a criança encara a doença, quais as limitações e restrições impostas. Para além destes
aspetos será ainda analisado os efeitos reativos à doença.
De seguida outro tópico a aprofundar será a perceção da criança sobre o que é ter saúde e
ter uma doença. O que será pretendido é explorar as diferentes conceções que as crianças têm, e
como é que as suas vidas são alteradas por ter uma doença. Deste modo, será ainda pertinente
explorar a hospitalização da criança, bem como enfrenta esta situação.
Por fim, será explorada a família da criança com a doença crónica, nomeadamente, quando
existe como é que a família reage e se reorganiza para responder aos cuidados que a criança
necessita.Será apresentada ainda a perspectiva relacional.
mantendo um peso normal de acordo com o índice de massa corporal e eliminando o consumo de
tabaco (OMS, 2005).
A dimensão fatal que uma doença crónica pode provocar e o grau em que esta pode
diminuir a vida são aspetos críticos peculiares, com profundo impacto psicossocial (Rolland,
2001). Ainda, segundo o mesmo autor, a doença crónica pode apresentar-se de três formas
distintas: de forma progressiva, de forma constante ou de forma reincidente e, em três fases
temporais: a fase de crise, a fase crónica e a fase terminal. A primeira forma caracteriza-se pela
inexistência de períodos de alívio dos sintomas, sendo que a doença progride de forma rápida,
como é o caso da doença de Alzheimer, diabetes juvenis, cancro e artrite reumatóide. A forma
constante é descrita por um episódio inicial mais abrupto, sendo que depois a cronicidade da
doença é relatada por alguns deficits ou algumas limitações, são exemplos, os derrames e os
enfartes miocárdios de episódio único. Por último, os aspetos característicos da fase reincidente é
a alternância de períodos estáveis de duração variada, com períodos de agravamento, como a
colite ulcerativa, asma, úlcera péptica, enxaquecas, estádios iniciais da esclorese múltipla e
cancro em remissão.
Cada fase temporal da doença crónica tem as suas próprias tarefas desenvolvimentais
psicossociais, que exigem forças, atitudes ou mudanças familiares significativas. A fase de crise
inclui qualquer período sintomático antes do diagnóstico preciso. Inclui, também, o período
inicial de reajustamento e manejo, depois da doença ser diagnosticada e de um plano inicial de
tratamento. A duração da fase crónica pode variar, podendo ser longa ou curta, mas consiste no
período de tempo entre o diagnóstico inicial e o período de ajustamento, predominando ainda as
questões sobre a morte e a doença terminal. Por fim, a última fase inclui o estágio pré-terminal da
doença, em que a inevitabilidade da morte se torna aparente e domina a vida familiar. Esta fase
abrange períodos de luto, sendo caracterizada pela separação, morte, tristeza e reajustamento de
uma vida familiar depois da perda.
De acordo com Rolland (2001) existe uma analogia entre as fases da doença e o
desenvolvimento humano, porque cada período do desenvolvimento, assim como as fases da
doença, têm certas tarefas básicas. A fase de crise é equivalente ao período da infância,
caracterizada pela aprendizagem. Assim, durante o período inicial da doença, as pessoas a
conhecerem e aprenderem a utilizar estratégias de como conviver com a doença crónica. Idêntica
à transição da infância para a adolescência, que abrange períodos de crise e maior
responsabilidade, é a transição para a fase crónica da doença que envolve maior autonomia e a
criação de uma estrutura de vida exequível, adaptada às realidades da doença.
criança constrói-se a si mesma com base nas vivências que provêm dela, na apreensão que vai
fazendo da sua relação sobre o mundo e, também, conciliando a imagem de si própria que os pais
lhe reenviam (Carreiras, 2000).
A criança com uma condição médica de saúde crónica necessita de apoio para conviver
com esta situação, nomeadamente, da sua família e de outras pessoas próximas do grupo social
primário (Araújo, Collet, Gomes, & Nóbrega, 2011; Castro & Piccinini, 2002; Silva, Guedes,
Moreira, & Souza, 2002; Marcon, Radavanovic, Waidman, Oliveira, & Sales, 2005; Marcon,
Sassá, Soares, & Molina, 2007).
A doença para a criança constitui-se um caminho longo, difícil e imprevisível. A vida da
criança passa, então, a ser guiada pela enfermidade, com exames, hospitalizações e deslocações
frequentes. O primeiro impacto nasce quando é realizado o diagnóstico, e reconhece que está
doente (Vieira & Lima, 2002).
As crianças têm necessidades e características próprias, de acordo com a fase de
desenvolvimento que se encontram. A criança geralmente encara a doença como um problema
que tem consequências, como a indisposição, a dor, a hospitalização e a falta de apetite
(Cordeiro, 1976; Moreira & Dupas, 2003). A doença altera o ritmo de vida da criança. Se, antes,
a prioridade era brincar agora perante a problemática que a criança apresenta existem restrições.
A prioridade, para estas crianças passa a ser a doença, pois agora necessitam de se adaptar as
suas limitações, estando estas relacionadas com condições físicas, de alimentação e de
socialização (Vieira & Lima, 2002).
O conflito entre a aceitação das limitações impostas pela doença e a vontade de poder
realizar atividades antes permitidas foi um dos motivos apontados relativamente ao impacto da
doença crónica (Araújo et al., 2011). Num estudo realizado em 2011 por Araújo e colaboradores,
as crianças e os adolescentes1 são confrontados com limitações nas suas atividades diárias a partir
da realização do diagnóstico, sendo que se mostraram emocionalmente mais vulneráveis.
Perante a necessidade de conviver com a enfermidade crónica, que impõe hospitalizações
frequentes, a criança passa a adaptar-se aos procedimentos e aos nomes dos medicamentos,
apropriando-se de um vocabulário mais técnico (Vieira & Lima, 2002). Um dos motivos que traz
mais ansiedade à criança são os procedimentos médicos a que tem que se submeter, que a criança
encara como uma invasão ao seu corpo e privacidade, associando esses procedimentos à dor,
mutilação e inclusive à morte (Coyne, 2006; Martins, Ribeiro, Borba & Silva, 2001; Vieira &
Lima, 2002; Soares & Vieira, 2004). Para algumas crianças, o fato de estar doente traz algumas
vantagens, pois têm a possibilidade de ganhar mais presentes nos momentos em que se
encontram hospitalizadas e de participarem em festas que ocorrem no hospital (Vieira & Lima,
2002).
1
Apesar de a faixa etária do presente trabalho ser a infância, alguns estudos abordados abordam tanto a infância
como a adolescência, pelo que nestes casos a adolescência é também mencionada.
Num estudo realizado por Oliveira, Oliveira, Gomes e Gasperin (2004) com o propósito de
examinar as repercussões da comunicação do diagnóstico, em casos de doenças orgânicas
crónicas na perspetiva de adolescentes (entre os 12 e os 18 anos), pais e médicos concluíram que
os jovens crescem a ouvir os pais e os médicos a falarem sobre a sua doença. Estes relataram que
só conseguiram entender o que acontecia por volta dos oito ou nove anos de idade, relatando
ainda que, embora ninguém lhes tenha falado oficialmente sobre a sua doença, eles percebiam
que algo se passava devido as hospitalizações frequentes. As implicações decorrentes da afeção
crónica relatada pelos jovens foram uma maior consciencialização de estar doente, um maior
conhecimento sobre a sua doença, a descoberta de preconceitos pelos outros, vergonha de ser
diferente e ainda uma perceção mais nítida de que não podiam fazer tudo o que queriam. No
entanto estes referiram ainda que a doença lhes proporcionou maior autonomia, podendo realizar
sozinhos alguns procedimentos habituais, como a fisioterapia (Oliveira et al., 2004; Oliveira &
Gomes, 2004).
Paralelamente aos efeitos diretos da doença, os efeitos reativos à doença têm sido bastante
investigados, nomeadamente nas esferas psicológica e psicossomática, sendo constituídos pelos
aspetos relativos à regressão, à depressão e às interpretações da criança sobre a doença. Assim, a
regressão na criança é muito visível, sendo que em crianças mais novas denota-se mais nos
comportamentos de onicofagia e enurese noturna. Já em crianças mais velhas a propensão é
regressar às atitudes de grande dependência à mãe (Cordeiro, 1976).
A depressão na criança apresenta-se de forma distinta da dos adultos, variando de acordo
com a idade. Em crianças mais novas é mais predominante a existência de perturbações do sono
e do apetite e comportamentos de hiperatividade ou hipoactividade. As crianças mais velhas
podem começar a apresentar perturbações do humor, como estados de tristeza, solidão, queixas
hipocondríacas ou comportamentos repetitivos ritualizados e compulsivos (Cordeiro, 1976). No
que reporta à interpretação da doença em crianças até aos cinco anos de idade, a possibilidade de
a criança perceber a doença é reduzida. Na criança mais velha, o início da doença é
frequentemente associado com conflitos com os pais, como por exemplo, ter-lhes desobedecido
(Cordeiro, 1976; Nóbrega, Collet, Gomes, Holanda, & Araújo, 2010). No entanto, demonstram
interesse em compreender a finalidade dos procedimentos, bem como os seus benefícios e
prejuízos (Soares & Vieira, 2004).
morte, à dor, como sofrimento e com a ausência de movimentos, uma vez que passa a ser
compreendida como parte integrante dos movimentos da vida (Souza & Lima, 2007).
A fronteira entre saúde-doença e entre normal-anormal de uma pessoa com uma doença
crónica necessita de ser apreendida do ponto de quem vivência essa situação. A afeção crónica
tem como característica o fato de não ser temporária. Entretanto, isso não significa que uma
pessoa se sinta sempre doente, pois outra particularidade da doença consiste nas fases de
exacerbação e remissão dos sintomas (Damião & Angelo, 2001; Souza & Lima, 2007; Vieira &
Lima, 2002).
Num estudo realizado por Moreira e Dupas em 2003 com o propósito de apurar o
significado de ter saúde e estar doente na perceção das crianças, os investigadores concluíram
que para as crianças que não estavam hospitalizadas a saúde era considerada como fundamental,
sendo uma condição essencial para se estar vivo. Deste modo, a saúde proporciona liberdade,
permitindo a criança brincar, correr e ir para a escola transmitindo sensações de bem-estar e
felicidade. A saúde na perceção de crianças saudáveis é considerada como algo que está dentro
de nós, que nos pertence, permitindo-nos ter disposição para realizar diversas atividades.
O impacto da doença verifica-se, também ao nível da mudança nos hábitos alimentares,
devido ao estado físico e aos tratamentos que as crianças efetuam. As crianças têm perceção que
determinadas comidas podem prejudicar a sua saúde, quando desobedecem às orientações
médicas. A alteração da rotina escolar, devido às limitações da enfermidade crónica pode
originar faltas frequentes à escola que acabam por desmotivar as crianças para a aprendizagem. É
criado um entrave no relacionamento entre a criança, os professores e as outras crianças,
dificultando o seu ajustamento escolar (Vieira & Lima, 2002).
Num estudo realizado com o objetivo de compreender o significado da doença crónica em
crianças de idade escolar percebeu-se as crianças possuem algum conhecimento da doença, de
acordo com a sua capacidade de perceção de si mesma. O modo de narrar a história e entender o
contexto de vida em que está inserida resulta de um processo de recordação de acontecimentos,
mas também de representações atuais e futuras (Nóbrega et al., 2010). Dependendo do estágio de
desenvolvimento cognitivo em que a criança se encontra ela terá um conceito de doença e saúde
(Castro & Piccinini, 2002; Quiles & Carrillo, 2000), sendo que uma criança em idade escolar já
desenvolveu habilidades cognitivas que a capacitam de expressar as suas próprias ideias,
diferenciando-as das outras pessoas (Moreira & Dupas, 2003).
As perceções sobre o reconhecimento formal da doença diferenciaram-se em dois episódios
típicos, nomeadamente aqueles que nunca foram formalmente comunicados de que eram
portadores de uma doença crónica e vieram a entender o que realmente acontecia com eles por
volta dos 8 ou 9 anos de idade, ouvindo os pais e os médicos a conversar sobre a doença e
aqueles que receberam a notícia pela mãe ou então dos médicos através de um diagnóstico tardio
(Oliveira & Gomes, 2004).
A criança atribui à doença a capacidade de ter sonhos e projetos para o futuro prejudicados
ou mesmo não concretizáveis (Nóbrega et al., 2010; Araújo et al., 2011). Para as crianças que são
saudáveis, ter uma doença está ligada ao impedimento e à limitação de não poder fazer as coisas
que gosta ou que realizava habitualmente (Moreira & Dupas, 2003).
sofrimento dos filhos também lhes causa sofrimento, mas precepcionam que é fundamental
enfrentar a situação, para o bem-estar dos filhos, e consequentemente, de toda a família.
A hospitalização por si já é um fator de stress para os pais, mas estes vêm-se confrontados
com outras situações, como cuidar de outros filhos (Quiles & Carrillo, 2000; Valverde, 2010;
Yunee, 2006). Devido à necessidade de hospitalizações frequentes, as famílias distanciam-se dos
outros membros do núcleo familiar que permanecem em casa. Deste modo, o afastamento de
outros filhos durante a hospitalização da criança doente é uma mudança frequente e muito
relatada pelos familiares, sendo mencionada como uma grande dificuldade e motivo de
preocupação constante (Castro & Piccinini, 2002; Schneider & Medeiros, 2011; Silva, Collet,
Silva, & Moura, 2010; Vieira & Lima, 2002).
Na assistência à criança é necessário que o cuidado não contemple só aspetos técnicos, mas
que englobe estratégias para diminuir o impacto tanto a nível físico como emocional. Assim,
através algumas estratégias como o uso do brinquedo terapêutico, espaços apropriados para as
crianças brincarem, sendo incentivadas a realizarem atividades lúdicas e a presença dos pais e
irmãos durante a hospitalização, são fundamentais para que o convívio familiar e social não
sejam profundamente modificados neste processo (Fonseca, 2007; Pénon, 2006; Quiles &
Carrillo, 2000; Vieira & Lima, 2002). Através do brincar as crianças exploram, perguntam e
refletem sobre o dia-a-dia e a realidade envolvente, desenvolvendo-se psicologicamente e
socialmente. O brincar é um meio de a criança libertar a tensão e o stress da hospitalização e de
exprimir a forma como está a vivenciar esta experiência, o que lhe permite adaptar-se a esta nova
realidade (Fonseca, 2007; Furtado & Lima, 1999; Mussa & Malerbi, 2008; Pénon, 2006; Quiles
& Carrillo, 2000).
Após a alta hospitalar, a relação da criança com a família, , depende essencialmente da
fase em que a criança se encontra no momento da sua reintegração familiar. Assim, a criança
pode apresentar uma hiper-dependência e angústia quanto a possíveis separações futuras, dado
que esta reação tende a desaparecer, mas pode ficar latente durante algum tempo (Cordeiro,
1976).
Apesar de as crianças mostrarem uma boa adaptação à hospitalização, no regresso a casa
podem regredir, tendo medo dos médicos ou enfermeiros. Deste modo, os pais deverão ser
informados pela equipa terapêutica destes acontecimentos para deste modo poderem facilmente
evitar atitudes de híper-proteção ou de restrições inadequadas (Cordeiro, 1976).A hospitalização
pode ainda provocar a reactivação da ansiedade de separação, a sução do polegar, a fala infantil,
a enurese e encoprese, distúrbios do sono e alimentares (Baldini & Krebs, 1999; Oliveira et.al,
2004) e diminuiçao da auto-estima (Santos, 2011).
Igualmente, o retorno da criança à escola tem-se mostrado problemático, pois a mesma não
tem sido acolhida nas suas singularidades. A escola não favorece sua inclusão junto dos amigos e
dos professores mostrando-se sem preparação para atender às necessidades da criança com a
doença e colaborar com o intuito de uma melhor qualidade de vida da criança (Nóbrega et al.,
2010).
repercussões não se denotam só ao nível da criança, mas também ao nível do casal, uma vez que
estes viveram em função do filho, esquecendo-se de viver enquanto casal.
No ambiente familiar o apoio advindo dos pais pode-se refletir em sentimentos de
superproteção. Estes mesmos sentimentos devem ser evitados, pois o adolescente com uma
doença crónica carece de independência e responsabilidade. O cuidado dos pais e o apoio social
prestado pela família são indispensáveis (Almino, Queiroz, & Jorge, 2009). Contudo, os jovens
precisam de construir a sua autonomia e não de ficar dependentes do cuidado da família, que
poderá levá-los a sentimentos de incapacidade para enfrentar as circunstâncias do dia-a-dia
sozinhos (Araújo, Collet, Gomes, & Nóbrega, 2011).
para assim manter o casamento como algo que não fica para trás após o aparecimento da doença
crónica no seio familiar.
Em síntese, importa destacar que a doença crónica na infância tem vindo a aumentar e
consequentemente, o seu impacto negativo precisa de ser minimizado. A doença crónica desperta
na criança sentimentos de dor, indisposição e falta de apetite, trazendo também ansiedade devido
à incerteza face ao futuro. O dia-a-dia destas crianças passa a ser marcado pela doença, com
reajustes obrigatórios devido às necessidades impostas pela enfermidade.
A hospitalização pode trazer prejuízos ao desenvolvimento da criança, pois é encarada
como um processo que as separa da sua família e da sua casa. No entanto, este processo pode ser
amenizado dependendo do ambiente hospitalar onde a criança se encontra. Para tal, o recurso ao
brincar e ao uso do brinquedo terapêutico tem funcionado como uma estratégia eficaz ao encarar
a doença.
A família tem um papel fundamental, pois a criança tem nela as suas referências e pode
utilizar os pais como um modelo de comportamento a seguir. Após o diagnóstico de uma doença
crónica no núcleo familiar, a família tem que se reajustar à doença e aos cuidados que esta exige.
Desse modo, pode verificar-se um desgaste físico e emocional por parte dos pais, havendo uma
superproteção à criança doente e uma menor atenção dada aos restantes elementos da família.
O segundo capítulo irá centrar-se na família uma vez que esta é o suporte social e afetivo de
uma criança. Perante um momento de crise, tem de se reorganizar, adaptar e utilizar novas
estratégias para enfrentar o problema. Deste modo, serão abordados tópicos como a definição de
família, quais as consequências da doença, as representações e as diferenças no apoio por parte
dos pais. Por fim, será abordado a organização da família para apoiar a criança, e ainda a
importância do acompanhamento por especialistas.
“Não existe uma criança. Existe uma criança e os seus pais e a sua equipa
terapêutica e a comunidade onde está inserida.”
(p.280) (Carreiras, 2000)
No primeiro capítulo foi abordado o tema da doença crónica na criança. Deste modo, no
segundo capítulo será abordada a importância do núcleo familiar para a criança doente.
Inicialmente irá ser versado a definição de família e de seguida o vínculo afetivo da família para
com a criança doente. Um segundo objetivo específico será abordar as consequências da doença
para a família, nomeadamente, as consequências emocionais/psicológicas e financeiras.
Outro objetivo será aprofundar as representações que os pais têm acerca da doença. De
seguida, irá ser explorada as diferenças que existem entre pai e mãe no apoio prestado à criança.
O objetivo deste tópico será verificar se estas existem e a que níveis se verificam.
Após o diagnóstico de uma doença crónica, a família tem que se organizar de modo a
responder às necessidades da criança, bem como às necessidades dos outros filhos e ainda, aos
compromissos socias. Assim, o terceiro objetivo deste capítulo será perceber como é a
organização familiar, para que o apoio prestado à criança seja adequado às suas carências.
Por fim, será feita referência à importância do acompanhamento médico e psicológico para
a criança e família. A criança e os pais necessitam ser apoiados nesta fase das suas vidas, por
alguém que os possa esclarecer e prestar apoio para ajudar o filho doente.
2.1. A família
A família não é um objeto de estudo simples, antes pelo contrário, é um elemento muitoe
complexo que tem uma dimensão cultural bastante marcada, onde a maneira de viver não é igual
para todos. Em latim, o conceito de família é bastante abrangente, possuindo dois significados:
pessoas ligadas por laços de sangue e pessoas que pertencem por reconhecimento social e
jurídico. A cultura burguesa está próxima da cultura ocidental porque é mais móvel, portanto
mais próxima, sendo também mais aberta e instável, mas sobretudo aberta a transformações.
Neste sentido, é constituída por menos pessoas. A família é apenas constituída pelas pessoas mais
próximas (Cigoli & Scabini, 2006).
A família nuclear é constituída pelo pai, pela mãe e pelos filhos biológicos ou adotivos
dessa união (Dias, 2011; Silveira, 2000), enquanto que a família extensa é uma rede familiar de
ligações consanguíneas, ao longo de pelo menos três gerações (Silveira, 2000). A família inicia-
se com a constituição do casal e vai mudando à medida que nascem os filhos e estes se tornam
adultos. O processo repete-se quando o primeiro filho sai de casa e forma nova família (Cigoli &
Scabini, 2006; Dias, 2011).
Contudo, ao longo do tempo o conceito de família sofreu alterações, mas continuam a
existir algumas constantes, como as relações de vínculo e proximidade que aparecem em
primeiro lugar a partir de uma certa altura, e o cuidar sendo um elemento organizador e
invariante, devido ao sentido de responsabilidade que temos para com a família a que
pertencemos (Cigoli & Scabini, 2006).
A família é entendida como uma forma social primária porque é a origem da civilização,
enquanto lugar que garante o processo generativo biológico, psicológico, social e cultural que
cumpre algumas das funções fundamentais, sem as quais a sociedade não poderia sobreviver,
nomeadamente as funções reprodutiva, educativa e económica e ainda porque tem como função a
socialização primária dos filhos e a estabilização da vida adulta (Cigoli & Scabini, 2006). É um
agregado que partilha um universo de símbolos e valores, códigos e normas, cuja operação
físicas, mentais, espirituais e sociais para continuar. Não obstante, quando a expectativa de vida
da criança é superada, a família mostra-se resignada e centra as suas energias na possibilidade de
ter mais tempo de convivência com o filho (Silva et al., 2010).
A figura materna é o familiar mais próximo da criança doente. É ela quem compila os
sintomas como sendo doença. É ela quem cuida da criança quando esta fica doente. O pai surge
no amparo à criança doente quase sempre de forma indireta. Não é ele o principal responsável
por cuidar, dar a medicação ou ir com a criança ao hospital. A sua função consiste em apoiar e
incentivar as decisões maternas, operando sobre a criança através da mãe. (Oliveira, 1993).
A mãe, como já referido anteriormente, é a primeira pessoa de quem a criança depende para
a satisfação das suas necessidades. Deste modo, é de extrema importância o vínculo que a criança
estabelece com a mãe. Do mesmo modo, verifica-se que é uma dificuldade muito grande a mãe
ter que se separar, mesmo que temporariamente, deste vínculo (Castro & Piccinini, 2004;
Oliveira & Collet, 1999).
Quando existe a necessidade de hospitalizar os filhos, surgem sentimentos de falha em
relação à maternidade, que podem determinar sentimentos de culpa, desordem, inadequação e
infelicidade. Habitualmente, a sociedade e a própria mãe creem que a responsabilidade do
cuidado da criança deve ser seu, provocando deste modo os sentimentos acima descritos
(Oliveira & Collet, 1999).
para as dificuldades que lhes são impostas, sejam estas económicas ou emocionais (Silva et al.,
2002).
Nesta conformidade, um factor importante melhorar a qualidade de vida dos cuidadores é
formar grupos de apoio, que possam substituir o familiar nas suas atividades diárias, pelo menos
uma vez por semana. Assim, irá contribuir-se para a diminuição da sobrecarga emocional e física
do cuidador principal e, ao mesmo tempo, possibilitar que este recupere as suas energias. Esta
nova abordagem poderá resultar positivamente tanto para família da criança como para as
pessoas que adotam a função de cuidador, visto que o compromisso e a responsabilidade que
assumem ao ajudar podem reverter-se em bem-estar e sensação de utilidade (Marcon et al.,2005).
2.2.2.Financeiras
Importa ressaltar um ponto sensível, que a doença acarreta são as despesas contínuas,
passando a fazer parte do orçamento familiar, o que pode representar cortes de suprimentos de
outras necessidades (Silva et al., 2002). Como já referido anteriormente, o tratamento de uma
Entre as reações imediatas enumeradas, sobressaem a tentativa de negar a realidade, bem como
sentimentos de revolta, apatia e choro (Azeredo, Amado, Silva, Marques, & Mendes, 2004;
Oliveira et al., 2004). As mães, num primeiro momento, procuraram acreditar que os médicos
estavam errados quanto ao diagnóstico, procurando novas informações em livros de medicina ou
recorrendo à opinião de familiares médicos. De seguida, os sentimentos de tristeza e de culpa
predominaram, concomitantemente com exteriorizações de não aceitação da doença, sendo que a
assimilação destas informações é descrita como demorada (Oliveira et al., 2004). É comum os
pais demonstrarem sentimentos de culpa e impotência interpretando a doença da criança como
uma punição, sentindo-se incapazes de proteger e de responder adequadamente às necessidades
do filho (Almeida, Higarashi, Molina, Marcon, & Vieira , 2006; Azeredo et al., 2004).
Segundo Oliveira e colaboradores (2004), tanto os pais como as mães tiveram mais
dificuldades para compreender a verdadeira extensão do problema nas situações em que os filhos
aparentemente pareciam perfeitos, sem nenhuma demonstração física de ter uma doença.
Os pais, nesta etapa de vida, assumem funções distintas e socialmente definidas. O pai
assume a responsabilidade económica para a manutenção da família, contribuindo mais para as
atividades domésticas e o cuidar de outros filhos (Azeredo et al., 2004). Já a mãe, em muitos
casos deixa de trabalhar para se dedicar a tempo inteiro à criança doente, uma vez que necessita
de cuidados continuados (Azeredo et al., 2004; Silva et al., 2010).
No estudo realizado por Araújo e colaboradores (2009), em que o objetivo era identificar o
conhecimento da família acerca da condição crónica e dos cuidados específicos a serem
realizados em casa, o conhecimento demonstrado pelas mães sobre a doença do filho mostrou-se
reduzido, o que poderá indicar a necessidade de melhorar a comunicação entre o sistema de
saúde e a família. O que se verifica em muitos casos é a explicação breve, dos técnicos de saúde
e com uma linguagem inacessível a muitos pais. Deste modo, as famílias mencionaram dúvidas
acerca da eventualidade de uma cura da doença, gravidade, sinais e sintomas, complicações,
medicação, tratamento, duração, causas e os riscos resultantes das doenças crónicas.
O conhecimento que a mãe tem sobre a doença e os cuidados necessários pode facilitar a
comunicação no decorrer do processo terapêutico. No estudo em cima referido, os autores
concluíram que a compreensão parcial da condição de saúde da criança, muitas vezes, está
relacionada com uma comunicação não esclarecedora entre profissionais e familiares. Devido à
doença crónica ser uma condição de longo curso, podendo ser incurável, deixando sequelas e
impondo limitações às funções do indivíduo, requerendo adaptação é provável que algumas
famílias não entendam tais implicações (Woods, Yates, & Primomo, 1989).
Apesar de na maioria dos casos as famílias terem uma perceção superficial sobre a doença
do filho, estas unificam os seus conhecimentos populares às informações recebidas dos médicos
para aclararem o que sabem sobre a doença. A convivência diária com a doença vai
instrumentalizando a família para a prestação dos cuidados (Araújo et al., 2009).
do filho. Enquanto as mães de crianças com doença crónica se apresentaram mais desanimadas
com o pouco comprometimento dos pais no tratamento da saúde da criança, sentindo-se sozinhas
para administrar a medicação, deslocar-se com a criança ao médico, acompanhá-la nas
hospitalizações e em alguns procedimentos. Por outro lado, as mães de crianças saudáveis
apresentarem como negativo a pouca participação dos pais nos cuidados diários da criança.
Deste modo, as impressões sobre a figura paterna a partir dos relatos das mães foram
destacadas pela exposição das qualidades positivas dos pais e pela ambição de maior participação
nos cuidados da criança. Algumas das queixas exibidas pelas mães de crianças com doença como
o caso de os pais não as acompanhavam em momentos difíceis como as hospitalizações ou
exames poderão estar relacionadas a diversos fatores, como o emprego. Não obstante, estes
factos poderão indicar a falta de preparação emocional de alguns pais para lidar com estas
situações. Contudo é importante perceber se as mães concedem a abertura necessária para que os
pais se sintam à vontade para participar nos cuidados da criança, uma vez que muitas mães, como
já referido anteriormente, têm dificuldades em separar-se de seus filhos, podendo impedir uma
maior participação dos pais (Castro & Piccinini, 2004).
por verem o irmão doente, mas também porque vêm as atenções dos pais para com eles
diminuídas (Azeredo et al., 2004).
Num estudo realizado por Schneider e Medeiros (2011), quando questionado aos pais se a
psicologia poderia auxiliá-los durante o processo de hospitalização dos filhos, as respostas
obtidas foram positivas, relatando que esta ajuda seria muito preciosa,pois iria auxiliar os pais, e
também os filhos, para melhor enfrentarem a atual situação. A atuação de um psicólogo
hospitalar é fundamental, podendo minimizar as dores, a mágoa e a angústia, tanto dos pais como
das crianças. Durante a hospitalização, todo o núcleo familiar e os seus hábitos são afetados,
sendo que estas mudanças geram um impacto emocional muito grande para toda a família.
Os pais de uma criança portadora de doença crónica frequentemente apresentam barreiras
no cuidado prestado. Estes são expostos a situações complexas, em que por vezes têm que
encontrar novas práticas educativas para regular o comportamento, muitas vezes transformado,
em função dos requisitos médicos e dos cuidados de saúde (Piccinini, Castro, Alvarenga, Vargas,
& Oliveira, 2003). É necessário construir estratégias que possibilitem restabelecer um novo
equilíbrio familiar (Araújo et al., 2009).
A superficialidade dos esclarecimentos recebidos pelas famílias tem gerado dúvidas em
relação aos cuidados a serem realizados em casa. É indispensável que a família saiba
desempenhar um cuidado com qualidade e autonomia. Nos estudos realizados por Almeida e
colaboradores, em 2006, e por Araújo e colaboradores, em 2009, as famílias revelaram que
receberam informações dos profissionais de saúde sobre o tratamento, a alimentação, a prevenção
de acidentes, a observação de sinais relacionados à patologia que devem ser comunicados e
conhecimentos de higiene para prevenção de infeções. No entanto, as informações fornecidas
pelos profissionais não parecem ser suficientes para que a família possa suprir todos os cuidados
da criança em casa. Tanto os pais como as mães sentem-se com pouco conhecimento sobre o
estado de saúde do filho e inseguros para prestarem cuidados, evidenciando a necessidade de os
profissionais alargarem as informações para se sentirem envolvidos em todo o processo
terapêutico.
O envolvimento familiar favorece a formação de redes de apoio entre eles, seja para estar
perto da criança em momentos de hospitalização, seja para proporcionar-lhe cuidado ou até
auxílio financeiro. O apoio de pessoas amigas e de instituições apresenta-se como muito
marcante para que estas famílias encarem com sucesso estas alterações. A presença de uma
doença crónica num membro da família é o momento em que a família procura várias formas de
reorganização, revendo os seus valores e práticas (Silva et al., 2002).
centro de saúde ou ao hospital. Atualmente, as doenças crónicas têm uma demanda crescente que
é abordada nos hospitais pelos psicólogos e médicos, juntamente com as famílias das pessoas
portadoras de uma doença crónica (Méndez-Venegas & Moral, 2011).
Nas doenças crónicas é essencial haver uma abordagem multidisciplinar, que envolva os
aspetos clínicos e as repercussões psicológicas e sociais, tanto para a criança como para a família.
Uma relação caracterizada pela boa comunicação entre a criança, a família e a equipa terapêutica
auxilia a tomada de consciência sobre a extensão e a seriedade da enfermidade bem como sobre a
aderência da criança e da família ao tratamento (Castro & Piccinini, 2002).
Os pais carecem de apoio para se reencontrarem enquanto pais daquela criança. Nesse
sentido, os profissionais de saúde devem trabalhar com os pais o fortalecimento das capacidades
parentais (Carreiras, 2000), uma vez que a doença do filho os leva a culpabilizarem-se (Azeredo
et al., 2004; Carreiras, 2000; Castro & Piccinini, 2002; Oliveira & Collet, 1999; Oliveira et al.,
2004). Uma comunicação apropriada entre família e os profissionais deve ser baseada em
informações consistentes, objetivas, elucidativas e permeadas de orientações (Inaba, Silva, &
Telles, 2005; Leal et al., 2009).
A comunicação do diagnóstico é em si antagónica. Consiste numa má notícia que deve ser
concomitante uma boa notícia, uma vez que a doença é incurável, mas pode ser tratada. A função
do psicólogo hospitalar não é a comunicação do diagnóstico. O psicólogo é responsável por
acompanhar o tratamento e ajudar na formação de uma relação positiva entre a família, a criança
e a equipa de saúde. O psicólogo deve também fornecer apoio na discussão de alguns aspetos
relacionais e comunicativos com os profissionais e familiares, com o intuito de por exemplo,
ajudar os pais a diferenciarem o filho da doença. (Oliveira et al., 2004).
Foram avaliadas as perceções de médicos acerca do momento do diagnóstico num estudo
realizado por Oliveira e colaboradores (2004). Os médicos referiram que no momento de revelar
o diagnóstico era fundamental ter já definido um plano de tratamento como uma forma de não
deixar a criança e a família abandonados, dar a possibilidade aos pais de terem uma nova
consulta passado alguns dias e em alguns casos propor a hospitalização para se poder trabalhar
melhor as reações à notícia.
Alguns profissionais de saúde visam explicar a doença em palavras simples, relacionando-a
a algo do dia-a-dia vivido pela família, sendo percetível uma melhor compreensão acerca da
condição de saúde da criança (Sabatés & Borba, 2005). A família ao solicitar explicações sobre a
doença do filho necessita de informações adequadas ao seu nível de compreensão. A escolaridade
dos pais é um fator cada vez mais importante no processo de cuidar de um filho. É necessário que
os profissionais sejam sensíveis para aumentar o foco da assistência na saúde, incluindo a família
como parte fundamental no processo de cuidar da saúde da criança com uma doença crónica
(Araújo et al., 2009).
filho tende a intensificar-se, criando um elo afetivo muito forte o que dificulta a separação por
vezes necessária para a hospitalização da criança.
A família desempenha o papel de principal cuidadora da criança quando não está no
hospital, esta precisa de conhecer a doença da criança, os cuidados específicos para cada
situação, o tratamento e as demais peculiaridades de cada criança com doença crónica. Assim,
também os pais precisam de ser entendidos e reconhecidos naquilo que são. Os profissionais de
saúde e os psicólogos devem compreender e ajudar a família nos seus dramas internos, nos seus
sofrimentos e nas suas desorganizações.
Na revisão da literatura, os vários estudos registam a falta de conhecimento da família
acerca da doença do filho e dos cuidados essenciais e serem realizados em casa. Deste modo, é
fundamental uma boa comunicação entre os profissionais de saúde e a família. A equipa de saúde
é responsável por esclarecer os pais sobre dúvidas que tenham permanecido e fornecer
informações e recomendações para um melhor ambiente familiar.
CONCLUSÃO GERAL
No término deste trabalho, pode concluir-se que as doenças crónicas têm vindo a aumentar
exponencialmente, com um impacto muito grande na saúde a nível mundial. Perante a revisão
teórica de diversos estudos chegou-se à conclusão que uma criança com uma doença crónica tem
repercussões na sua vida, pois passará a depender de cuidados médicos, psicológicos ou
educacionais especializados.
De modo a favorecer o bem-estar da criança, tornou-se importante compreender a sua
visão sobre esta experiência, bem como o suporte familiar é fundamental no acompanhamento
das crianças. O suporte social da criança deve ser formado pela família, amigos e profissionais de
saúde, constituindo-se um potencial significativo para influenciar positivamente no
enfrentamento da doença.
O modo de encarar a doença depende da vivência de cada criança, da sua idade, do género e
do seu suporte social. De acordo com as necessidades e características da doença a criança
defronta a doença como um problema que despoleta a dor, mal-estar, hospitalizações frequentes,
falta de apetite e limitações a nível físico e social. No que concerne, à perceção que a criança tem
acerca da doença e ao processo de hospitalização, este também é influenciado pela idade, género
e suporte social. Não existe uma reação comum para todas as crianças, pois cada um dos fatores
acima mencionados tem influências diferentes.
Ao viver com a doença crónica a criança enfrenta alterações no seu estilo de vida
provocadas por certas restrições decorrentes da patologia, das necessidades terapêuticas, além da
forte possibilidade de hospitalizações recorrentes. Esta é uma situação que requer do doente e da
sua família uma aprendizagem para encarar a doença. No entanto, esta situação resulta em
alterações emocionais para toda a família. Assim, o suporte social e o acompanhamento médico e
psicológico são fundamentais nesta fase em que é realizado o diagnóstico.
Na doença crónica, a criança e a sua família enfrentam dificuldades como longos períodos
de hospitalizações, tratamentos e efeitos secundários dolorosos. Além disso, há uma modificação
das atividades diárias, gastos financeiros elevados, angústia, dor, ansiedade e medo perante a
possibilidade da morte. As crianças necessitam de tratamentos médicos especializados e de um
acompanhamento médico regular. Pode dizer-se que a doença representa um obstáculo cruel não
só para o desenvolvimento da criança como também para o seu relacionamento familiar.
Não pode ficar esquecido que estas crianças possuem sonhos e ambições. Neste sentido, o
suporte familiar e social deverá contribuir para uma melhor qualidade de vida, encorajando as
crianças a fomentar amizades e participar em atividades adequadas à sua condição pois ao
sentirem-se apoiadas e incluídas, estarão mais fortificadas para enfrentar a doença.
A descoberta da doença é uma novidade no núcleo familiar e a mesma não consegue lidar
com a enfermidade sozinha, sendo que necessitará de apoio e ajuda. Assim, a equipa
multidisciplinar passa a ser fundamental para ajudar as famílias a encontrarem estratégias para
conviver com a nova situação com mais segurança e tranquilidade.
Os profissionais de saúde devem fornecer informações precisas e esclarecedoras sobre a
doença e sobre o cuidado que os familiares têm que realizar. Assim, é imprescindível que haja
boa comunicação entre a equipa e os familiares. É através dos pólos criança-família, criança-
equipa multidisciplinar e família-equipa multidisciplinar que a criança conseguirá encarar a
doença que possui.
A família é considerada com uma parte essencial e responsável pela saúde da criança,
necessitando de ser ouvida, valorizada e estimulada a participar em todo o processo. Os pais das
crianças deverão ter um suporte social, advindo de outros familiares, amigos e profissionais de
saúde para um melhor bem-estar da criança, pois suaviza o stress sentido tanto pela mãe como
pelo pai, possibilitando uma maior tomada de consciência do problema e consequentemente uma
melhor vinculação ao filho.
O psicólogo tem a função de trabalhar os sentimentos e emoções necessárias para o bem-
estar dos utentes. Denota-se, também, que é de extrema importância o seu contributo para com a
família, ajudando-a a lidar com esta nova situação e a desmistificar crenças e expectativas em
relação ao futuro da criança.
No estudo, importa ressaltar as limitações sentidas neste. Estas prendem-se com o facto dos
diversos estudos sobre as famílias, se focarem mais na figura materna e não tanto na figura
paterna. Deste modo, não foi possível aprofundar com mais clareza as diferenças que existem
entre a mãe e o pai no apoio à criança doente devido a este facto. Outra limitação encontrada
reporta-se à existência de estudos onde se encontra somente a perspetiva das mães relativamente
aos filhos com doença crónica, bem como a perspetiva que estas possuem no que concerne ao
apoio prestado pelos pais aos filhos. Deste modo, uma sugestão para futuros estudos prende-se
com a realização de estudos que englobem a perspetiva dos pais relativamente aos filhos.
Ao nível pessoal destaco a importância do presente trabalho pois permitiu refletir sobre o
impacto que uma doença inesperada acarreta, tanto para a criança como para a sua família. Esta
investigação permitiu perceber o papel fundamental no acompanhamento, tanto das crianças
como da família, possibilitando uma ajuda na regulação na dinâmica familiar.
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