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UNIVERSIDADE DA AMAZÔNIA

LETRAS PORTUGUÊS
JAMILE GOMES DA CUNHA

HISTÓRIAS EM QUADRINHOS NA SALA DE AULA.

BRAGANÇA-PA
2023
1

HISTÓRIAS EMQUADRINHOS NA SALA DE AULA


Autor (JAMILE GOMES DA CUNHA)1

RESUMO

O presente artigo tem como objetivo analisar a importância de histórias em


quadrinhos inseridas na sala de aula como recurso didático-pedagógico e refletir sobre a
eficácia ou não de sua utilização dentro dos processos de alfabetização e letramento.
Os objetivos propostos inicialmente foram analisar a importância e os benefícios que
este gênero literário de comunicação de massa e artístico pode trazer para a educação.
Este estudo pretende ainda compreender a relação que esta forma de arte literária tem
no processo educativo de ensino e aprendizagem da criança, auxiliando aquelas que
ainda não sabem ler ou escrever corretamente, ou seja, as histórias em quadrinhos são
mecanismos fundamentais e não prejudiciais para o processo de ensino e aprendizagem
do aluno.

Palavras-chave: Leitura; Escrita; Letramento; Histórias em quadrinhos e recursos


didático e pedagógico.

1
Período, concluinte do curso de Letras (Português/Inglês), Faculdade
2

INTRODUÇÃO

Quando adentramos no universo escolar, nos deparamos com crianças de várias


idades que não rem domínio dos processos de leitura e escrita. E essa realidade se
faz pertinente em inúmeras escolas brasileiras. Levando em consideração esse
aspecto é que consideramos relevante introduzirmos e concomitantemente
pesquisar as histórias em quadrinhos (HQs) em sala de aula, tendo em vista que o
gênero pode colaborar no desvendar das formas coloquiais da linguagem, ampliar
a capacidade de observação e de expressão criativa das crianças, estimular a
fantasia, e que as HQs podem transformar o ato de ler em atividade prazerosa,
contribuindo para estabelecer o saudável hábito da leitura, bem como a produção e
edição de histórias em quadrinhos, é que apresentamos a partir do trabalho
desenvolvido em sala de aula o presente trabalho, que almeja contribuir com
subsídio para que educadores familiarizem-se mais com as HQs, podendo
estabelecer parâmetros mínimos de ação em relação a estes, proporcionando
maiores benefícios às comunidades educacionais que atendem o interesse da
educação da educação nas histórias em quadrinhos desde a antiguidade, além de
interagirem estes indivíduos com o meio social em que estão inseridos,
proporcionando-lhes experiências individuais e coletiva das mais diversas,
importantes para essa socialização do ser humano com a sociedade.
Assim sendo, no primeiro capítulo me apoiei em vários teóricos para delinear
os aspectos positivos dos gibis nos processos de alfabetização e letramento. Ainda
aportado nesses discorrer sobre “A leitura e o prazer de ler” e também sobre “A
linguagem oral e escrita”. Para finalizar o capitulo achei conveniente abordar a
visão de letramento concebida por Magda Soares.
No segundo capítulo, ainda apoiada no referencial teórico fiz a menção à
importância dos gibis nos processos da leitura, escrita e letramento me apoiando
nas palavras de Luyten, posteriormente discorrer sobre os elementos encontrados
nas histórias em quadrinhos.
E no terceiro capítulo fiz a pesquisa, a qual foi desenvolvida na escola
RAIMUNDO GOMES DE LIMA com a turma do 2º ano do ensino fundamental.
Apresentei à metodologia de trabalho, assim como os dados gerais da escola, a
descrição da turma e para finalizar com o passo a passo dos dados da pesquisa-
ação.
3

1 CAPITULO I – ASPECTOS POSITIVOS DO GÊNERO GIBIS NOS


PROCESSOS DE ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO.

Na prática cotidiana de sala de aula, o ensino de produção encontra-se


baseado, em um número expressivo de situações, nas propostas dos livros
didáticos, os quais mantêm a tipologia clássica da narração, descrição e
dissertação. Tal metodologia, já há algum tempo, está sendo foco de
discussão.
O resultado dessa prática recorrente recorre em muitas escolas é a
produção de textos artificiais, apenas para cumprir uma exigência do professor,
resultando em dificuldades na elaboração de textos, problemas de coerência e
coesão textuais. Contudo, esse resultado pode ser mudado e também evitado
se o professor de Língua portuguesa, assim como de outras, souber criar
situações que envolvam os educandos com objetivos bem definidos, pois
escrever bem depende de um trabalho bem planejado e organizado.
Uma concepção de ensino-aprendizagem de produção escrita encontra-
se no conceito de gênero discursivo, de acordo com Bakthin (1992, p.279):
(...) a riqueza e a variedade dos gêneros do discurso são infinitas,
pois a variedade virtual da atividade humana é inesgotável, e cada
esfera dessa diferenciando-se e ampliando-se à medida que a
própria esfera se desenvolve e fica complexa.

Desta forma, percebe-se que há um grande número de gêneros


discursivos. Sendo impossível precisar quantos são os gêneros discursivos
existentes, pois são instrumentos sociais, os quais surgem conforme a
evolução, progressos e necessidades dos usuários da língua.
Em nosso país onde a educação permanece como uma das áreas mais
vulneráveis, com investimentos insuficientes e professores buscando
alternativas para despertar o interesse dos alunos, utilizar histórias em
quadrinhos é opção de baixo custo.
Por muito tempo, apenas os textos escritos eram aceitos como formas
de leitura. Não obstante, o texto visual esteve presente ao longo dos séculos,
desde as pinturas rupestres, nas quais se podiam vislumbrar cenas do
cotidiano dos homens de seu tempo. Na atualidade, em plena era da
informação, para que a comunicação seja efetivada, o homem deve ser capaz
de ler o mundo e suas múltiplas linguagens, sejam elas escritas, visuais ou
4

sonoras.
Dentre todas as linguagens que fazem parte do mundo contemporâneo,
as histórias em quadrinhos como gênero permite a integração entre a
linguagem escrita e a linguagem visual.
À primeira vista, enfatizar o aspecto positivo das histórias em quadrinhos
no contexto da sala de aula pode gerar controvérsias, mas ao conhecer as
experiencias que alguns professores têm obtido a partir dessa atividade pode-
se comprovar tal eficácia como instrumento de ensino na leitura e produção de
textos. Ademais, tanto a LDB (Lei de Diretrizes e Base da Educação) quanto os
PCNs (Parâmetros Curriculares Nacionais) preveem a utilização das histórias
em quadrinhos como recurso didático-pedagógico.
Nos parâmetros curriculares nacionais, apresentados em 1997 pelo
MEC, os quadrinhos são recomendados no volume relacionado ao ensino de
língua portuguesa. Maria Cristina Ribeiro Pereira, pedagoga coordenadora
geral dos PCN, afirma que, “Por associarem imagens e textos, os gibis ajudam
as crianças a aprender a ler e a avançar rapidamente na leitura” (SERPA &
ALENCAR, 1998. P 87).
A professora Sonia Bibe Luyten também defendo o quadrinho como
incentivador da leitura: Ao contrário do que muitos pedagogos apregoam, os
quadrinhos exercitam a criatividade e a imaginação da criança, quando bem
utilizados. Podem servir de reforço à leitura e constituem uma linguagem
altamente dinâmica. É uma forma de arte adequada à nossa era: fluida,
embora intensa e transitória, a fim de dar espaço permanente às formas de
renovação. (BIBE- LUYTEN,1984).
Ao se pensar na formação de leitores ativos e competentes, nota-se que
essa ideia se encontra estrita à compreensão de leitor não como um sujeito
passivo, e sim como alguém que constrói, concordando ou discordando do
autor, sua interpretação numa relação de diálogo intimo com aquilo que lê. Tal
relação atrelasse a certo nível de autonomia, em que o aluno percebe que o
texto não é a representação absoluta de uma verdade.
Dessa maneira, é imprescindível, sobremaneira no espaço escolar,
expor o aluno a diversos tipos de gêneros: informativos, dissertativos, poéticos,
publicitários e narrativos (nos quais se encontram as histórias em quadrinhos).
A partir desse contato com a diversidade, é possível estabelecerem
5

contrapontos, esclarecendo ao aluno que cada texto tem uma especificidade e


propicia uma determinada interpretação do real. Faz-se pertinente também,
que ao aluno seja dada a oportunidade de debater, expor suas ideias,
argumentar e criticar, capacitando-o a analisar a construção de um texto, bem
como os sentimentos a ele atribuídos, segundo Zilberman (1993, p. 12)

A criança e o adolescente precisam de um espaço para poder


expressar o que a obra, seja ela qual for, suscitou dentro deles.
Esse espaço depende do tipo de família e de que eles estão. Se
essas instituições forem de modelo autoritário, não haverá o
necessário diálogo e as pequenas cabeças serão talhadas
conforme a censura dos adultos decidir que devem pensar. Se
forem igualitárias, mesmo diante de conflitos interpretativos, ideias
e crenças serão postas em circulação irrestrita e cotejadas com os
fatos concretos, alargando-se a visão de mundo dos leitores, tanto
adultos como jovens.

Além disso, constituem um gênero discursivo secundário que, para


Bakhtin (1993) aparecem em circunstancia de comunicação cultural na forma
escrita e que, muitas vezes em função do enredo desenvolvido, englobam os
gêneros discursivos primários correspondentes às circunstancia de
comunicação verbal espontânea. Outra característica é o fato de que, segundo
Assis (2002), os gêneros produzidos na interface oral/escrita são
necessariamente, secundários como é o caso das HQs.
Para Eguti (2001, p.45): os quadrinhos têm como objetivo principal a
narração de fatos procurando reproduzir uma conversação natural, na qual os
personagens interagem face a face, expressando-se por palavras e expressões
faciais e corporais.
Nas histórias em quadrinhos encontramos um elemento essencialmente
importante para a melhor compreensão dos enunciados, o balão. Esta forma
um código de imagem e texto, transmitindo ao leitor uma comunicação em que
ele irá ler as palavras contidas nesse e tentar entender o que lhe é passado. O
código que é transmitido no balão para os leitores pode conter um comentário
textual, que é a metalinguagem. O balão, ainda, informa que um personagem
está falando em primeira pessoa. Neste sentido, acreditamos que o espectador
ao ler o escrito no balão, fará uma junção entre imagem e o código escrito,
interpretando a história de sua maneira.
6

A fusão de símbolos, imagens e balões faz o enunciado [...]. Os


balões, outro dispositivo de contenção usado para encerrar a apresentação da
fala e do som, também é útil no delineamento do tempo. Os outros fenômenos
naturais [...] representados por signos reconhecíveis, tornam-se parte do
vocabulário usado para expressar o tempo. Eles são indispensáveis ao
contador de histórias, principalmente quando ele está procurando envolver o
leitor. (EISNER, 1989, p.28).
Todo o conjunto do quadrinho é responsável pela transmissão do
contexto em enunciativo ao leitor. Assim como na literatura, o contexto é obtido
por meio de descrições detalhada através da palavra escrita. Nas HQs, esse
contexto é fruto da dicotomia verbal/ não verbal, na qual tanto os desenhos
quanto as palavras são necessárias ao entendimento da história.
A criança, ao aprender a visualidade das histórias em quadrinhos, não
está apenas realizando uma soma de imagens. Nos quadrinhos existe uma
sucessão em que o sentido de uma imagem só se estabelece por meio de
quem a precede. A ação contínua estabelece a ligação entre as diferentes
figuras, e essa disposição temporal e espacial das imagens é que organiza seu
significado.
Como aponta Eisner (1995, p.41):
Nas histórias em quadrinhos, existem na verdade dois
‘quadrinhos’ nesse sentido: a página total, que pode conter vários
quadrinhos, e o quadrinho em si, dentro do qual se desenrola a
ação narrativa. Eles são o dispositivo de controle da arte
sequencial.

É fato que nos quadrinhos há uma escassez de palavras no que diz


respeito à caracterização de fala dos personagens e do narrador. Da mesma
forma, as imagens também não são completas de informações. A baixa
quantidade de informações. A baixa quantidade de informações. A baixa
quantidade de informação dos signos visuais, no entanto, quando aliados nos
quadrinhos, não compromete a leitura e a interpretação; pelo contrário, eles se
complementam e reforçam-se, um comportando o outro e permitindo que o
leitor preencha as lacunas como um leitor ativo. O trabalho de leitura, na
escola, tem por objetivo levar o aluno à analise e à compreensão das ideias
dos autores e a buscar no texto os elementos básicos e os efeitos de sentido. É
muito importante que o leitor se envolva, se emocione e adquira uma visão de
vários materiais portadores de mensagens presentes na comunidade em que
vive, buscando sempre a cidadania plena. A constatação de que uso das HQs
funciona de forma positiva, tanto para crianças quanto para adolescentes,
7

ajuda a derrubar uma série de preconceitos que vigoraram, em certa medida,


até o final da década de 70, no brasil, e em algumas partes do mundo.

1.1 A LEITURA E O PRAZER DE LER


Ler não é somente decodificar palavras, mas saber identificar: odores,
cores, sons, luzes e etc. “desde os nossos primeiros contatos com o mundo,
percebemos o calor e o aconchego de um berço, diferentemente das mesmas
sensações provocadas pelos braços carinhosos que nos alcançam”.
(MARTINS.2006, p.11).
Na visão de Lajolo (1993, p.59) “ler é ser capaz de atribuir aos textos
significados, relacionando-o a todos os outros textos. É perceber as
indiferenças que o texto traz consigo, permitindo melhor esclarecimento para o
leitor”.
A leitura não pode ser confundida com decodificador de sinais. O ato de
ler inicia-se quando o leitor, por meio de sua percepção, toma consciência dos
documentos escritos existentes no mundo. De acordo com Silva (2000. P.95)
“Ao buscar a intencionalidade, o sujeito abre-se para a possibilidade de
significação, para proposições de mundo que os signos do documento evocam
e sugerem”.
No entendimento de Bordini (1988, p.16) “ A tarefa da leitura consiste em
escolher o significado mais apropriado para as palavras num conjunto limitado”.
Pois, embora as palavras sejam explicadas no dicionário, nunca exprimem um
único significado.
A leitura não pode ser algo forçado. Para que esse ato se torne um hábito,
não deve ser imposto pelo professor de Língua portuguesa, mas sim
trabalhado com professores das múltiplas disciplinas escolares, discutindo
sobre diversas áreas, podendo despertar o interesse do educando e
posteriormente leva-lo ao gosto pela leitura. Essa deve ser exposta de modo
agradável e no nível do conhecimento do aluno, pois ler o que não se
compreende leva o discípulo a afastar-se da leitura.
Na tentativa de buscar incentivo no ato de ler, o professor deve investir
em novos métodos, não somente buscar os “clássicos da literatura”, mas
também apresentar aos alunos que uma história em quadrinhos é uma forma
8

de leitura, e com ela, o docente pode tornar esse material um forte aliado no
desafio aluno versus leitura.
Nely Novaes Coelho, em sua obra “A literatura infantil”, afirma que, as
histórias em quadrinhos são tão válidas quando os livros de figuras como
processo de leitura acessível às crianças pequenas. Desse modo, ela destaca
que, psicólogos, como por exemplo, Claparède acreditam que as crianças ao
lerem as histórias em quadrinhos não somente se divertem com também
satisfazem uma necessidade interior e instintiva, à necessidade do crescimento
mental, inerente ao ser em desenvolvimento.
Por ter uma linguagem simples e imagens coloridas, os quadrinhos
atraem as crianças e jovens com mais facilidade e com seu processo de
comunicação, atende com mais destreza à sua própria predisposição
psicológica.
Segundo Vergueiro, os gibis devem ser apresentados a alunos de todas
as faixas etárias durante o período escolar. Num primeiro momento, para o
publico infantil, as histórias como, por exemplo, A turma da Mônica, Zé Carioca,
que as crianças procuram mesmo sem saber ler, serviria para estimular o
hábito de leitura e o interesse pela escola, trabalhando com os recursos
utilizados pelas HQs, tais como, balões, onomatopeias e expressões faciais
das personagens, com isso o aluno consegue identificar a reação das mesmas
tornando-se mais perceptivo na leitura.
Já com alunos mais velhos, o ideal seria utilizar as HQs como suporte e
exemplificação de temas específicos das aulas, como uma discussão sobre
costumes de época ou sobre variações da linguagem, por exemplo. Trabalhar
assuntos como a linguagem e as diferentes variedades linguísticas, como por
exemplo, as histórias do Chico bento, menino da roça que fala errado, e que
tem costumes diferentes dos da cidade, abordar a questão gramatical, como
poderíamos escrever tal frase mencionada pelo personagem de forma correta,
ou cebolinha, menino da cidade que troca R pelo L, ambas as personagens de
Mauricio de Souza. Também é viável fazer uma análise sintática das frases dos
personagens, trabalhando com os verbos e suas funções, seu uso adequado.
Introduzir aulas com quadrinhos que abordem temas transversais, de interesse
de todos, como drogas sexualidade e amor.
Tudo isso pode ser utilizado nas aulas de língua portuguesa, não que o
9

professor se afaste das gramaticas propriamente ditas, mas que possa utilizar
os quadrinhos como uma forma mais atrativa do uso da linguagem estudada.

2 CAPITULO II- A IMPORTÂNCIA DOS GIBIS NOS PROCESSOS DE


LEITURA, ESCRITA E LETRAMENTO.

Na perspectiva de desenvolver o processo de leitura e escrita com os


alunos do 2º ano do ensino fundamental da E.M.E.I RAIMUNDO GOMES DE
LIMA, o intuito da pesquisa foi buscar trabalhar as histórias em quadrinhos que
de certa forma servem como elo entre o meio interno e externo da criança, pois
fazem parte do seu cotidiano, e seus personagens são encontrados em muitos
produtos que consumimos. Além disso, os personagens praticam ações
vivenciadas por criança, jovens e adultos, o que os torna familiares ao público
alvo da pesquisa.
A arte sequencial mais conhecida como histórias em quadrinhos (gibis),
se compreendida em seu conceito convencional, nada mais são do que
desenhos em sequência que narram uma história, um poema, um conto.
Porém, se compreendida numa ótica pedagógica, os quadrinhos são muitos
mais que uma arte sequenciada com forte forma de expressão que se expande
diariamente no mundo todo; são fontes inesgotáveis de ensinamentos e
diversidades linguísticas. (LUYTEN, 1985, p.97) Mauricio de Sousa, criador da
turma da Mônica, história em quadrinho muito conhecida afirma: “Faço histórias
que sei fazer, com personagens infantis e para um público infantil”.
Logo, não seria estranheza que as crianças que estão aprendendo a ler
se interessem por personagens de histórias que passem por situações
semelhantes com a que elas vivem. Basta lembrar: quem de nós nunca foi
criança como a Mônica, Magali, Cebolinha, Cascão, Franjinha, etc.? “Quando
atingimos esse ponto de identificação e de qualidade, devemos ter cuidado
para manter nosso público” (Revista Família Cristã, ed.778, p.10).
Os gibis transportam as crianças a um mundo “magico” da leitura e da
10

fantasia, sua sequenciação faz coma criança desenvolva o seu intelecto


criativo e encare situações diárias com maior autonomia. Abramowkicz (1989,
p.36) afirma que:
Ouvindo ou lendo histórias se pode sentir emoções importantes,
como tristeza, a raiva, a irritação, o medo, a alegria, o pavor, a
insegurança, a tranquilidade, e tantas outras coisas mais, pois,
além de ouvir, é sentir e enxergar com os olhos do imaginário!
“Através de uma história é possível descobrir outros lugares,
outros tempos, outros jeitos de agir e de ser, outra ética, outra’
ótica”.

As histórias em quadrinhos também despertam a sensibilidade,


sociabilidade, o sendo critico, além de aprender o português e outras
disciplinas. Também a partir de gibis podemos desenvolver temas transversais
incluídos nos currículos escolares, tais como diversidade cultural.
A sociedade tem tratado as histórias em quadrinhos como uma
subliteratura e também como uma linguagem nociva e pejorativa ao
desenvolvimento psicológico e cognitivo de quem as lê. Essa visão está
ultrapassada e é infundada, pois atualmente até nas melhores universidades
do país se desenvolvem ‘trabalhos de pesquisa envolvendo as revistas em
quadrinhos com a finalidade de abarcar as habilidades da lecto-escrita com as
crianças, tendo esses trabalhos alcançados um grande êxito.
Na duplicidade de códigos dos quadrinhos há um incentivo aos signos
visuais. A percepção visual se caracteriza por ativar a mente diante de um
objeto. E o incentivo visual em nada prejudica o desenvolvimento mental ou
intelectual, pelo contrário, é o meio mais espontâneo que antecede e forma o
suporte para a percepção reflexiva. (LUYTEN, 1985: P, 69).
De qualquer modo, as imagens, ainda que subordinadas a escrita,
também se apresentam na escola, em muitos suportes como mapas,
fotografias, ilustrações de livros e etc. A criança, ao apreender a visualidade
das histórias em quadrinhos, não está apenas somando uma imagem, mas
fazendo uma ação continua através da sucessão de imagens interligadas que
dão sentido uma às outras. E essa disposição temporal e espacial das imagens
é que organiza seu significado. (LUYTEN 1985, p.16).
O conjunto estruturado de imagens dos quadrinhos é uma característica
que o torna parecido com as linguagens escritas, visto que existe uma narração
figurada. Outro fato importante, além da duplicidade de códigos, é a estrutura
11

narrativa que nele se apresenta, aonde aparece o desenvolvimento das ações


dos personagens, o enredo, o tempo e o espaço. Há sucessivos quadrinhos
com ou sem balões, que sintetizam uma narrativa, portanto requer a leitura
para dar-lhe sentido. Na duplicidade de códigos dos quadrinhos há um
incentivo aos signos visuais. A percepção visual se caracteriza por ativar a
mente diante de um objeto. E o incentivo visual em nada prejudica o
desenvolvimento mental ou intelectual, ao inverso, é o meio mais espontâneo
que antecede e forma o suporte para a percepção reflexiva. (LUYTEN, 1985: p
69)
De qualquer maneira, as imagens, ainda que subordinadas a escrita,
também se apresentam na escola, em muitos suportes como mapas,
fotografias, ilustrações de livros e etc. A criança, ao aprender a visualidade das
histórias em quadrinhos, não está apenas somando uma imagem, mas fazendo
uma ação continua através da sua sucessão de imagens interligadas que dão
sentido uma às outras. E essa disposição temporal e espacial das imagens é
que organiza seu significado. (LUYTE 1985, p.16).
Esse conjunto estruturado de imagens dos quadrinhos é uma
característica que o torna parecido com as demais linguagens escritas, visto
que existe uma narração figurada. Outro fator importante é a estrutura narrativa
que nele se apresenta, com relação ao desenvolvimento das ações dos
personagens, o enredo, o tempo e o espaço. Há sucessivos quadrinhos com ou
sem balões, que sintetiza uma narrativa, portanto, requer a leitura para dar-lhe
sentido. Assim, de acordo com Álvaro de Moya (1993, p.150):
“(...) a seriação de quadrinhos que se assemelha a uma lenta
projeção cinematográfica – ou a cenas fixas, de uma singela peça
de teatro – pode considerar-se na medida solicitada pela mente
infantil, adequada ilustração do texto; na realidade assume o
caráter de verdadeiro relato visual ou imagístico, que
sugestivamente se integra com as rápidas conotações do texto
escrito, numa perfeita identificação e identificação e entrosamento
das duas formas de linguagem: a palavra e o desenho. Exatamente
como convém ao caráter sincrético e intuitivo do pensamento
infantil”.

A questão literária é imprescindível na formação de leitores iniciantes,


sendo por isso, necessário apresentar além das histórias em quadrinhos outros
tipos de literaturas para que desenvolva mais e mais o seu repertorio
12

vocabular, a interpretação, a criticidade, para assim não apenas tornar-se


alfabetizado e sim letrado como exige a sociedade atual.

2.1 OS ELEMENTOS ENCONTRADOS NOS QUADRINHOS.

Segundo Bizzotto a Aroeira (2007), o gibi é um gênero textual humorístico


composto de dois meios de expressão distintos, o desenho e o texto. Essas
características dão às histórias em quadrinhos um grande poder de
comunicação.
As histórias em quadrinhos podem ser providas ou não de textos.
Contudo, seu poder de comunicação não se altera devido neles existirem
balões que por si só traduzem as ações, ideias, ou pensamentos de seus
personagens, além de, estarem recheados de onomatopeias (o som é
representado por palavras que indicam ruídos).
A imagem dos quadrinhos permite que a criança leia e interprete o texto
mesmo sem o domínio da leitura e da escrita convencionais. Por meio da
observação e da interpretação das características dos personagens e de suas
ações encadeadas, ela estabelece relações de tempo e espaço. Isso favorece
a organização logica das ideias, fator importante para se estabelecer a unidade
temática do texto. (BIZZOTTO E AROEIRA 2007, p.14).

A fusão de símbolos, imagens e balões faz o enunciado [...]. os


balões, outro dispositivo de contenção usado para encerrar a
representação da fala e do som, também é útil no delineamento do
tempo. Os outros fenômenos naturais [...] representados por signos
reconhecíveis, tornam-se parte do vocabulário usado para
expressar o tempo. Eles são indispensáveis ao contador de
histórias, principalmente quando ele está procurando envolver o
leitor. (EISNER, 1989, p.28).

A narrativa das histórias em quadrinhos sugere uma ficção por meio de


uma sucessão de imagens fixas, organizada em sequencias. Com a interação
de palavra e imagens, a leitura adquire um componente a mais, o de percepção
estética, além do esforço intelectual característico.
O leitor exerce suas habilidades interpretativas visuais e verbais,
podendo perceber aspectos artísticos (composição, simetria, etc.), aspectos
13

literários (ação, enredo, personagens) e linguísticos (dialogo, sintaxe,


gramática). E a própria leitura das imagens também é dupla no sentido em que
o leitor leia aquilo que vê na pagina (leitura conotativa). Para desenvolver uma
leitura completa e competente de uma história em quadrinhos, o leitor tem que
ter conhecimentos prévios dessa linguagem, para assim transformar o ato de
ler em um ato verdadeiramente significativo.
É precípuo que o leitor esteja familiarizado com a convenção estrutural
das histórias em quadrinhos: da esquerda para a direita e de cima para baixo
(cultura ocidental), assim como é feito no sistema convencional de escrita,
facilitando assim a compreensão das histórias, mesmo para aqueles que ainda
não estão alfabetizados. (DINORAH, 1995: P. 72).
Na própria ordenação da leitura desenvolve-se a sucessão de tempo, de
causa e efeito, pois, para que um quadrinho possa unir-se a outro, é preciso
que alguns elementos (figurino, objetos, cenário) permaneçam invariáveis
durante dois ou mais quadrinhos, para que possa ocorrer a transmissão da
mensagem, e concomitantemente é preciso ocorrer mudanças na evolução
temporal e revelação gradativa ou súbita do conteúdo narrativo, através de
palavras, gestos, expressões facial e movimento.
Para Eisner (1989, p.25-26),
O fenômeno da duração e da sua vivencia-comumente designado
como ‘tempo’(time) – é uma dimensão essencial da arte sequencial
[...] Nas histórias em quadrinhos, trata-se de um elemento estrutural
essencial [...]. A habilidade de expressar tempo é decisiva para o
sucesso de uma narrativa visual. É essa dimensão da compreensão
humana que nos torna capazes de reconhecer e de compartilhar
emocionalmente a surpresa, o humor, o terror e todo o âmbito da
experiencia humana [...]. Mas para expressar o timing, que é o uso
dos elementos do tempo para a obtenção de uma mensagem ou
emoção especifica, os quadrinhos tornam-se um elemento
fundamental.

Quanto aos aspectos denotativos e conotativos próprios de cada


quadrinho, esses são levados para a estrutura narrativa, sugerindo movimento
e promovendo o andamento das ações. É importante perceber nas histórias em
quadrinhos os aspectos gráficos que incluem cor, composição, simetria,
perspectiva e volume – e literários, na realização de leituras competentes.
A imagem inerte e sem palavras dos quadrinhos servem para dar a ilusão
de sonoridade, vitalidade e dinâmica e para isso são utilizados ideogramas
14

(sinal que não exprime letra ou som, mas diretamente uma ideia ou uma
palavra), que objetivam reproduzir o real em sua totalidade.
Os ideogramas só tem sentido quando acompanhados de outros signos.
Os mais utilizados são os de origem metafórica, como: ver estrelas, a
metonímia das gotinhas que aparecem em volta do rosto para exprimir medo,
ambos de compreensão mais ou menos imediata. (SCOTT, 1995, p.55). Os
ideogramas se entrelaçam ao desenho e ao texto com função de comunicar
emoções, sons e movimentos.
O grito dado por um personagem é escrito em letras grandes para
informar ao leitor que o autor deseja que ele soe, trazendo à tona uma emoção
própria.
A cor é outro elemento que pode imprimir valores, simbólicos e
gramáticos, por exemplo, quadrinhos com fundo vermelho exprimem situações
violentas, a fala do narrador sempre é colocada em balões da mesma cor e
forma, já os balões de fala dos demais personagens se diferem dos balões do
narrador.
Em contrapartida, as imagens que mais aparecem nas histórias em
quadrinhos são de forma humana recheadas de expressões corporais, faciais e
que indicam um movimento, amor, ódio, irritação. São as expressões do corpo
que nos previnem do perigo ou nos falam de amor. Nos quadrinhos, de acordo
com as experiencias do leitor pode invocar uma emoção ou inflexionar a fala do
personagem. Quanto mais completa for essa caracterização, maior será sua
compreensão pelo leitor. (SCOTT,1995, p.67).
A representatividade do movimento é ímpar nas histórias em quadrinho,
posto que desse dinamismo do desenho decorra boa parte da representação
temporal, em contraponto a fixidez das poses da noção de espera. Da mesma
forma que o movimento se torna indispensável também o cenário o é, pois os
quadrinhos inexistem sem ele, ora representam o mundo através de lugares
históricos de edificações ou monumentos de valorização simbólica, ou mesmo
lugares comuns como bairros, estabelecendo assim a ligação entre a ficção e o
real. (SCOTT 1995, p.78).
Os quadrinhos são uma forma narrativa concomitante, lúdica e ativa. Os
personagens em sua maioria são crianças, as quais passam por situações
corriqueiras e que tem personalidades diversas como ocorre na vida real, são
15

componentes que podem vir a ser atrativos para o leitor iniciante.

3 CAPITULO III – A LINGUAGEM ORAL E ESCRITA SEGUNDO OS


TEORICOS.
A pratica da leitura tem sido fonte de incansáveis discussões na escola,
em especial com professores/as de língua portuguesa, embora o trabalho com
leitura deva se dar com todos que trabalham, diretamente, com e/ou
necessitam da linguagem. Mas, como são inúmeras as dificuldades de se
trabalhar com leitura, não vamos atar a essa questão.
A história do leitor tem início na Europa, por volta do século XVIII. Época
em que a impressão de livros deixa de ser um trabalho artesanal, passando a
destinar-se ao lucro. Esse comercio traz maior lucratividade a partir do
momento em pode contar com uma clientela com habilidades na leitura, o que
se dá com o fortalecimento da escola e a obrigatoriedade do ensino, pois, para
inserir-se no meio acadêmico, a principal fonte de conhecimento se dá a partir
da leitura. Pratica comum/constante na elite europeia no século XVIII.
Por volta de 1840, o Brasil passa a sentir a necessidade de formação de
uma cultura da leitura. Começa então, a surgir meios para a produção e
circulação de obras literárias como tipografias, livrarias, bibliotecas. A partir daí,
o acesso a livros impressos torna-se mais fácil e a comunidade acadêmica
ganha mais espaço.
A educação, aos poucos, vai deixando de ser privilegio apenas de
alguns – a burguesia. As classes média e baixa da sociedade vão alardeando
fronteiras, de forma que no século XXI todos têm acesso à educação, e em
consequência, ainda que precária, à leitura.
O sentido da pratica da leitura está no fato de proporcionar ao indivíduo
16

elementos suficientes ao combate à alienação e à ignorância, mostra-lhe


caminhos para melhor análise das desigualdades sociais e, mesmo que,
individualmente, buscar meios para melhor analise das desigualdades sociais
e, mesmo que, individualmente, buscar meios para que os privilégios não
sejam destinados a uma minoria. Afinal, quem (...) sabe ler e executa essa
pratica social em diferentes momentos de sua vida tem possibilidade de
desmascarar os ocultamentos feitos e impostos pela classe dominante (SILVA,
1986: p.46).
Uma pessoa com capacidade de leitura critica pode criar e/ou dinamizar
conflitos sociais, combater conformismos impregnados na sociedade; é alguém
com capacidade de incomodar e, muito, a política do nosso país, que, em
muitos casos, mostrou-se uma política de exclusão. Para que o indivíduo
consiga inserir-se nesta cultura, há três categorias básicas de leitura onde, de
acordo com o momento, o contexto, ele pode estar inserido.
A leitura enquanto busca de informação mantém o indivíduo atualizado
dos fatos que acontecem ao seu redor. Esse tipo de leitura lhe permite analisar
a dinâmica diária da sociedade para que ele se posicione de maneira critica
diante de cada situação.
A leitura enquanto busca por conhecimento tem relação direta com os
processos de pesquisa, de estudo, lhe dá fundamentação teórica para
trabalhos científicos. Já a leitura pelo prazer pode conduzir o indivíduo pelos
caminhos da literatura, da poesia, dos contos, dos romances, e também nos
proporcionar conhecimento; afinal, muito sabiamente Guimarães Rosa nos
ensinou que “Viver é muito perigoso”.
Observar-se, então, que as categorias de leitura citadas estão
interligadas com a sua natureza social.
Dessa forma e levando em consideração que qualquer tipo de linguagem
sempre possui um referencial de mundo/realidade, ser leitor é ser capaz de
aprender os referenciais inscritos num texto, o que significa dizer compreender
a dinâmica do real e compreender-se como um ser que participa dessa
dinâmica. (SILVA, 1986 p.55).
A pratica de leitura defasa na escola devido à forma como é trabalhada;
não estimula o aluno, não o transforma em leitor. O que a escola considera
como leitura está longe de propiciar aprendizado eficaz, vivo, duradouro. As
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práticas diárias da sala de aula e as pesquisas tem mostrado que se a leitura e


a escrita não se tornam pratica importante na vida de alunas e alunos, o valor
que estas terão não servirão de motivação para seu desenvolvimento e
aprendizagem. Ou seja, a criança que não traz essa experiencia do seu
cotidiano deveria encontra-la na escola, mas visto que a leitura implica,
também, leitura de mundo, é função do professor não só intervir no estimulo à
leitura pelo aluno, como também criar condições para que o aprendizado seja
realizado pelo próprio aluno, de acordo com interesses próprios, suas
necessidades e seus desejos. É fundamental que as educadoras e
educadores, ao saber dos limites de sua ação, repensem sua pratica
profissional e passem a agir de forma objetiva, coerente, diante dos desafios e
desequilíbrios que a realidade apresenta.
A linguagem das crianças é um assunto que intriga linguistas e
estudiosos, e a leitura e escrita – como partes da linguagem – também vêm
sendo uma questão bastante discutida, principalmente pelos profissionais de
educação, por se observar ainda uma grande dificuldade na aprendizagem
desses aspectos pelas crianças. Atualmente esta questão vem recebendo
atenção especial, por ser considerado o aprendizado da leitura e escrita não
como fim último, mas como um processo, tendo o contexto sociocultural,
histórico e econômico do sujeito que faz parte deste processo, neste caso, a
criança, grande importância.
Para melhor entendermos essa discussão buscaremos fundamentos na
concepção de letramento muito defendido por Magda Soares (2004, p.58) que
dá ênfase à discussão da importância de um ensino voltado a um contexto, no
qual a leitura e a escrita tenham sentido real.
É preciso defender assim como Palácios (2007, p.67), a importância da
linguagem relacionada também às bases maturativas da criança e à
estimulação da aquisição desta linguagem levando-se em consideração
aspectos básicos do desenvolvimento humano, tais como as fases de
desenvolvimento cognitivo concebidas por grandes estudiosos como Piaget e
Vygotsky. Torna-se essencial enfatizar que todas estas preocupações não são
recentes, vários teóricos discutiram e vem discutindo a importância de ver a
criança não como uma “tabula rasa”, ou como um “adulto em miniatura”, mas
como um ser em construção.
18

Ler e escrever são processos complexos que envolvem aspectos como


o desenvolvimento mental, motor, social e cultural. Assim, muitos
pesquisadores têm trabalhado na tentativa de compreender a elaboração do
pensamento do ser que aprende, ou seja, entender como funciona o
pensamento da criança quando está aprendendo a ler e escrever.
Muito se tem discutido sobre a prática de leitura e escrita nos primeiros
anos da vida escolar. Período da tão conhecida alfabetização. No entanto, essa
discussão vem ganhando maior atenção por parte de estudiosos que se
prezam em conhecer a fundo qual o verdadeiro conceito de “alfabetizar” e, por
conseguir identificar, os danos ocasionados em uma criança, quando ela não
adquire esse processo com eficiência nas primeiras séries iniciais.
No primeiro momento antecipa-se o fato de que o ato de aprender a ler e
a escrever, mecanismos essenciais na alfabetização, não deve ser meramente
tratado como uma técnica escolar, mas trata-se de uma metodologia cujo
sujeito aprendiz é a peça relevante no jogo em que os objetivos devem estar
intrinsecamente ligados à aquisição do conhecimento, isto é, a todo o processo
de ensino, há um sujeito (aluno) que deve seguir à risca aquilo que é
apresentado, sendo que todos os objetivos traçados pelo orientador devem
estar voltados para o seu alvo, com todas as suas dificuldades, ou seja, o
orientador deve preocupar-se com o desempenho do seu educando.

4 ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS DADOS

A turma é heterogênea em vários sentidos. Há os que adoram conversar


outros ficam calados, alguns pedem para escrever e são bem ágeis na escrita,
enquanto outros são dispersos, uns leem com muita dificuldade, outros ainda
não dominam a leitura. Entretanto esses últimos já tem a capacidade de
interpretar texto se alguém fizer a leitura em voz alta deste. Já na escrita,
99,99% da turma apresentam dificuldade, entretanto esforçam-se para fazê-lo
da maneira mais adequada possível. Dentre todos os alunos da classe, apenas
uma criança efetiva a leitura com autonomia e fluidez as outras estão em
processo de desenvolvimento, ou seja, nas fases pré-silábica.
A turma compõe-se de 16 alunos, sendo 5 meninas e o restante meninos
e suas idades variam entre 7 e 8 anos. São bastantes falantes e irrequietos.
19

4.1 Caracterização do estudo

Foi utilizada a pesquisa-ação, introduzindo os gibis em sala de aula, com


a finalidade de obter melhores resultados no desenvolvimento e apreensão dos
processos de leitura, escrita e letramento, assim como também realizamos a
pesquisa bibliográfica para dar maior sustentáculo ao trabalho. De tal modo, na
utilização das HQs foram percorridas algumas etapas, as quais deram
norteamento as ações em sala de aula, dando-nos a oportunidade de
observação na turma do 2º do ensino fundamental da escola Raimundo Gomes
de Lima. Com esses procedimentos, transcrevi com maior veracidade os fatos
ocorridos para nossos diários de campo, o qual será de extremo valor para a
redação final presente trabalho. A pesquisa tende a ser dialógica e qualitativa
concomitantemente, pois espero que futuramente sirva de usufruto a outros
profissionais em suas práticas cotidianas escolares.

4.2 População e amostra


Ao iniciar a pesquisa-ação, apenas uma criança dentre os dezesseis
alunos da turma, apenas uma demonstrava fluência na leitura. Entretanto, após
a inserção das HQs na sala de aula, juntamente com a professora notamos que
8 crianças evoluíram tanto na leitura quanto na escrita. Porém, não podemos
dizer que já o fazem com a autonomia desejada, mas já conseguem ler e
escrever pequenas frases, o que antes do trabalho com os gibis não acontecia.
As outras crianças já galgaram em seus níveis de escrita, avançaram do pré-
silábico para o silábico. Quanto a leitura, ainda o fazem apenas se as palavras
não tiverem maior grau de dificuldade ortográfica, dito de outro modo, leem
apenas palavras simples.
No entanto, avançaram significativamente no que tange a interpretação
textual sequencializada. Os conteúdos curriculares também estão sendo
apreendidos com maior constância.
Muito embora tenhamos obtido bons resultados na utilização dos gibis
como fomentador dos processos de leitura e escrita acreditamos que ainda há
muito que trabalhar para que todos, pretensão nossa, aprimorem esses dois
processos (leitura e escrita), e o façam com autonomia. Pelos motivos expostos
iremos levar adiante o uso desse recurso em nossa sala de aula, acreditando
20

após nossa pesquisa que ele é um grande auxiliar para o professor. Contudo,
se faz necessário saber utilizá-lo.
4.3 Instrumentos de coleta de dados

Para principiarmos a pesquisa colocamos a disposição das crianças


uma grande variedade de gênero textuais, tais como (literatura infantil, jornais,
revistas, gibis e livros variados), e por incrível que pareça o gênero de maior
representatividade de escolha das crianças foram os gibis. A princípio olharam
a capa e depois o interior das revistas em quadrinhos e um fato curioso é que
estavam compenetrados e absortos com as imagens. Assim que folheavam
uma até o final buscavam outra fazendo o mesmo processo. Nesse dia, não
tomamos nenhuma atitude com relação às escolhas, pois o intuito era apenas
observar a escolha e o comportamento das crianças mediante suas escolhas
espontâneas.
No segundo momento da pesquisa resolvemos montar uma pequena
gibiteca mista em sala de aula. Misturamos literatura infantil e gibis, pois foram
os foram os gêneros que mais as crianças apreciaram. Todavia, os gibis
ganharam a concorrência em disparada. Após esse momento deixamos as
crianças à vontade novamente para a escolha de suas leituras. Quando
falamos em leitura, queremos predizer a leitura visual, pois a maioria dessas
crianças ainda está em processo de desenvolvimento da mesma. Nesse
momento ainda de observação, percebemos que uma criança que antes da
apresentação dos gêneros era tímida e tem dificuldade na oralidade não
interagia com as outras crianças. A partir do segundo contato com gibis, já se
aproximou de outra criança para folhear o gibi.
Atualmente, a aluna já apresenta maior intimidade com as outras
crianças da turma e também da professora.
A partir da montagem da gibiteca mista, os alunos começaram a
pedir os gibis para levarem para casa, mas no outro dia ao chegar na sala de
aula teciam comentários com os colegas e com a professora sobre a história
lida, a seguir devolviam a professora. Isso se repetia durante os meses de
pesquisa, os quais duraram um semestre.
No terceiro momento, selecionamos previamente uma história em
quadrinhos encontrada no livro letramento e alfabetização linguística, do 1º
21

ano, página 24 a 27, cujo título é Chico Bento em: “O peixe mais esperto da
lagoa”. O texto conta a história do peixe Tenório que se dizia muito esperto por
todos quererem pesca-lo de todos os meios e modos, ou seja, com caniço,
rede de pesca, arpão e o peixe espertalhão driblava a todos e ainda fazia
galhofa ou zombaria da cara dos pescadores deixando-os irritados. Até que um
belo dia, o pobre peixe foi fisgado, não por uma rede, arpão ou anzol, mas sim
pelo coração, apaixonou-se por um peixe fêmea e nunca mais conseguiu ser
livre. Então, os outros peixinhos começaram a fazer zombaria com ele.

FIGURA 1

FONTE: LIVRO DIDÁTICO

No quarto momento da pesquisa tínhamos previsto iniciar a aula


apresentando os vários tipos de balões aproveitando a história anterior, mas
tínhamos que mudarmos o plano, pois um aluno que havia levado uma revista
em quadrinhos da turma do para casa, ao chegar à escola pediu-nos que
contássemos a história para ele, pois não sabia ler. Ele nos contou que gosta
muito de filme de terror, então resolvemos iniciar esse momento a partir da
sugestão do aluno. A história se intitula “Eu existo!”.
22

FIGURA 2
23

FONTE: REVISTA EM QUADRINHOS


A história se passa na frente de um cemitério. O vampirinho Zé
Vampir ao ver uma garotinha na rua em frente ao cemitério tenta assustá-la,
mas a menina não se abala com a investida do vampiro. Ele diz a ela que
chegou a sua hora e ela responde que seu ônibus ainda não passou. O
vampiro nada entendeu e resolve explicar quem é ele. A menina não dá
nenhuma importância aos ditos do vampiro e ainda diz a ele que ele não existe
que é uma lenda para assustar criancinhas. Ele retruca dizendo que está ali é
porque e a menina pede-lhe que prove a existência com documentos. Ele por
sua vez apresenta uma carteira e ela diz que não vale como prova de
existência, devido se tratar de uma carteira do banco de sangue. Ele furioso
retorna ao cemitério em plena crise existencial. Ao avistar Penadinho seu
amigo que vem cantarolando fica feliz e se indaga dizendo que se não existe
como tem amigos. Este absorto em seus pensamentos passa por ele sem
perceber a presença do Zé Vampir. O vampir entra em desespero e chora
copiosamente. Penadinho se apercebe a situação e indaga qual motivo do
choro desesperado e o vampirinho conta-lhe o acontecido. O amigo irritado
procura reverter à situação, vai até a menina para tomar satisfações e ao
mesmo tempo tentar convencê-la de que o vampiro existe. A menina cria
outras situações que comprovam que nenhum dos três existe. Os dois sem
nada entender levam o maior susto que eles já tiverem em suas vidas, digo, em
suas mortes. A menina repentinamente transforma-se em um fantasma
horroroso e desaparece. Os dois amigos apavorados fogem e escondem-se
atrás de uma tumba no cemitério, finalizando assim a história.
A partir desse texto procuramos extrair das crianças os seus medos
e no que acreditavam. Aproveitávamos esse momento para trabalhar algumas
lendas como: Iara, saci, mula sem cabeça, etc. também aproveitávamos para
trabalhar a identidade dos alunos explicando a necessidade e utilidade de se
ter documentos de identificação pessoal. Em outro momento pedimos a eles
que perguntassem a seus familiares o que estava escrito em seus registros de
nascimento, ou seja, os principais dados encontrados nesse documento. Além
disso, pedimos as crianças que perguntassem a seus pais se sabiam alguma
história de assombração e se poderiam vir até a escola contar para a turma ou
que contassem a seus filhos para que pudessem reconta-la na sala de aula.
24

Porém, os pais não puderem vir, mas algumas crianças contaram algumas
histórias de assombração. Aproveitamos para destrinchar conteúdos referentes
ao local, espaço, hora e tecnologia, pois no desfecho da história a menina
menciona a faacbook e está com fones de ouvidos. Já o quinto momento deu-
se a partir do que tínhamos planejado para a etapa anterior. Reutilizamos o
texto do peixe mais esperto do lago e exploramos os tipos de balões que
pareciam no texto, dando destaque especial as onomatopeias, pois ambos são
de extrema importância para a compreensão do texto. A seguir introduzimos a
interpretação quadro do texto para melhor entendimento da HQ pelas crianças.
Exploramos também as expressões faciais de cada personagem e depois
pedimos que as crianças demonstrassem expressões faciais de irritação, raiva,
susto, zombaria, medo, medo, felicidade e amor.
Outro tipo de exploração foi a partir da preservação dos rios e
animais que fazem parte desse ecossistema e cuidados com água do nosso
planeta e seus principais tipos: potável, poluída. Assim como, discorremos
sobre a importância e a responsabilidade das pessoas com relação ao
matrimônio, valores que na atualidade já estão quase que exauridos de nossa
sociedade. Trabalhamos também com dobraduras e colagem de peixes nos
cadernos dos alunos, como forma de entrar no campo da expressão artística.
Já no sexto momento exploramos o texto da turma da Mônica, cujo
título era “Que barulho é esse? O Chico sabe!” com a intenção de que os
alunos observassem os vários tipos de balões novamente, as onomatopeias já
apresentadas a eles e outras encontradas e também a construção da história
escrita, para aprimorar a escrita ainda um tanto rudimentar, mas compreensível
nessa fase de desenvolvimento.
Em outro instante abordamos conteúdos como dia e noite, fases da
lua, ponto de interrogação e exclamação, lendas brasileiras como lobisomem,
mula sem cabeça, iara, saci Pererê, dentre outras.
Ao enveredarmos no sétimo e último momento de nossa pesquisa,
utilizamos do texto Magali em: Boi da cara preta. Esse texto apresenta uma
diversidade de balões, os quais traduzem pensamento imagístico da criança ao
escutar uma música, sonolência. Também destaca a mesma situação com
várias famílias e personagens e a diferença de imaginação e sonho de cada
um e em cada situação.
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Com esse texto desvencilhamos vários conteúdos curriculares como


foram o caso dos tipos de famílias, diferenças e semelhanças entre elas,
hábitos alimentares saudáveis e não saudáveis. Bem como, sobre a
importância da estrutura familiar na formação dos indivíduos. Reforçamos
alguns conteúdos abordados anteriormente como, por exemplo, dia/noite e
fases da lua. Também enfatizamos essa etapa cantando com as crianças a
música “ Boi da cara preta”.
Uma particularidade que nos levaram a seleção desse último texto foi
de antemão porque, na turma há uma criança que tem dificuldades na fala e
certo dia ela criou para si um boi imaginário e só vivia mencionando esse boi
na sala. Então lembramos disso e procuramos nos livros didáticos uma HQ que
enfatizasse um boi, encontramos no livro letramento e alfabetização do 1º ano,
páginas 101/102. A criança se identificou muito com a leitura e isso a trouxe
para perto de nós, isto é, começou uma maior interação dela com a professora,
assim como com as outras crianças.

FIGURA 3

FONTE: LIVRO DIDÁTICO

Uma observação importante que não podemos deixar de ressaltar é que essas
atividades passaram a ser rotineiras com as crianças e todos os textos
trabalhados eram xerocados e distribuídos a todas as crianças. Todos os textos
foram aproveitados interdisciplinarmente.
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REFERÊNCIAS

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27

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LUYTEN, Sônia M. Bibe. (org.) histórias em quadrinhos: leitura crítica. São

Paulo: Paulinas,1984.

ZILBERMAN, Regina (org.) Guia de leitura para alunos de 1º e 2º graus.

Campinas: UNICAMP, 1993.

Artigo depositado no AVA, no dia 11/05/2023.

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