Pensamento Americanista na Educação
Pensamento Americanista na Educação
Pensamento Americanista na Educação
MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO
UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO
O PENSAMENTO AMERICANISTA NA
EDUCAÇÃO BRASILEIRA: O PROJETO DOS
GINÁSIOS POLIVALENTES (1960 – 1970)
DOUTORADO
UBERLÂNDIA/MG
2018
UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA
FACULDADE DE EDUCAÇÃO
PROGRAMA DE PÓS-GRADUÇÃO EM EDUCAÇÃO
O PENSAMENTO AMERICANISTA NA
EDUCAÇÃO BRASILEIRA: O PROJETO DOS
GINÁSIOS POLIVALENTES (1960 – 1970)
UBERLÂNDIA/MG
2018
Dados Internacionais de Catalogaçã o na Publicaçã o (CIP)
Sistema de Bibliotecas da UFU, MG, Brasil.
CDU: 37
COMISSÃO JULGADORA
_______________________________________________________
Orientador — Prof. Dr. Humberto Aparecido Guido de Oliveira
Universidade Federal de Uberlândia (UFU)
_______________________________________________________
Prof. Dr. José Geraldo Pedrosa
Centro Federal de Educação Profissional e Tecnológica de Minas Gerais
(CEFET – MG)
_______________________________________________________
Profª. Drª. Luciana Araújo Valle Resende
Instituto Federal do Triangulo Mineiro (IFTM)
______________________________________________________
Prof. Dr. Márcio Danelon
Universidade Federal de Uberlândia (UFU)
________________________________________________________
Prof. Dr. Sauloeber Tarcio de Souza
Universidade Federal de Uberlândia (UFU)
1
Com financiamento da CAPES – MEC - BRASIL
Dedico este trabalho à minha esposa, Milce Ferreira
dos Santos, aos meu filho, Pedro Ângelo Pinel Londe
Bittencourt, a minha filha Maria Eduarda Ferreira
Bittencourt, e à minha mãe, Therezinha Pinel
Bittencourt, minha primeira educadora profissional. E
também a todos irmãos e irmãs, de sangue e também
àqueles de convivência que me apoiaram na minha
trajetória acadêmica.
Agradecimentos
Este trabalho é fruto de anos de pesquisa e dedicação ao tema dos Ginásios
Polivalentes. Ele representa toda uma trajetória de sobre saltos na vida de que se dedica
a formação acadêmica e às atividades profissionais. Foi durante a Pós Graduação Lato
sensu que me deparei com o tema. Agradeço a Professora Drª Suzana Lanna Burnier
Coelho, pessoa que me indicou a pesquisa sobre estas escolas e primeira orientadora na
elaboração da monografia de conclusão do curso em 2006-2008. No mestrado, período
mais duro desta trajetória que foi iniciado em 2008 só tem sido concluída em 2013.
Agradeço a Profª Drª Carla Simone Chamon, que me orientou na primeira tentativa de
pesquisa dissertativa no mestrado, que não conclui por problemas de saúde, pela
compreensão e apoio neste momento. Em 2011, ao retornar, agradeço a confiança do Prof.
Dr José Geraldo Pedrosa, por acreditar em mim quando muitos já haviam desistido. Por
todo esse período, aprendi muito com estas pessoas e lhes sou grato. Foi neste período
que passei a entender que Deus, seja em qualquer forma de que os seres humanos se
referem à Ele está presente em nossa vidas. Assim também lhe sou grato.
Quanto à minha família, agradeço minha mãe, Therezinha Pinel Bittencourt,
educadora de profissão, fez com que a escola fizesse parte da minha vida antes da maioria
das pessoas, quando me levava para seu local de trabalho. Aos meus irmãos, em destaque
para o Walner Pinel Bittencourt, também educador de profissão, que me mostrou a
importância da pedagogia, no período em que eu ia prestar vestibular e estava indeciso.
Agradeço à minha esposa, Milce Ferreira dos Santos, pela compreensão e companhia.
Foram muitos finais de semana em que eu lhe pedia para ir com as crianças para casa da
mãe dela, para que eu pudesse trabalhar na pesquisa. Fato corriqueiro na vida de quem
trabalha e estuda. Meus filhos Pedro Ângelo e Maria Eduarda, pela compreensão desta
minha ausência. Muito obrigado a vocês três. Se vocês não existissem eu nunca chegaria
onde estou.
Agradeço à Professora Drª Sandra Cristina Fagundes de Lima, e aos professores
doutores Marcio Danelon, Carlos Henrique de Carvalho, Sauloeber Tarcio, e em especial
ao orientador, Professor Humberto Guido. Todos vocês além de mestres, se tornaram
amigos. Agradeço aos demais professores e aos funcionários da Faculdade de Educação
da Universidade Federal de Uberlândia, que sempre me atenderam e auxiliaram com
atenção e presteza. A Denise Moraes, que me auxiliou no acesso à documentação do
PROEDES/UFRJ, digitalizando e enviando, mesmo após a visita, o material que
subsidiou parte da discussão trazida por este trabalho.
Aos meus colegas de doutorado e de trabalho, pelo companheirismo, pela atenção
e pelo carinho; suas indicações e experiências me auxiliaram e alertaram quanto às
necessidades da pesquisa. A todos e a todas, meu sincero agradecimento e minha eterna
gratidão!
Resumo:
BITTENCOURT JR, Nilton Ferreira. Aspectos Culturais do Americanismo na Construção
do Projeto dos Ginásios Polivalentes. 2018. 177 fls. Tese (Doutorado em Educação) —
Faculdade de Educação, Universidade Federal de Uberlândia, 2018.
INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 12
2 – O Americanismo e a educação.
2.1 – Nos primórdios do Americanismo ....................................................................... 65
2.1.1 – Ciência e cidadania ........................................................................................... 67
2.2 – Era Progressista Norte-Americana ...................................................................... 70
2.3 – Educação americana way of life .......................................................................... 98
12
estreita relação com o novo modo de produção capitalista que se irradiou pelo planeta. É
possível verificar, também, como esse processo é dinâmico e renovável, recriando-se
sempre no embate de setores que fazem parte daquela nação. A construção e a
reconstrução dinâmica podem ser vistas em diversas situações.
Na educação — ponto que nos interessa —, a ideia de que dentro dos Estados
Unidos da América havia uma disputa para definição dos rumos da educação da
população é exemplo claro desse dinamismo. No período da Era Progressista (1890-
1930) houve várias reformas na educação estadunidense, no sentido de torná-la moderna
e eficiente. Assim, busquei trabalhar com uma série de artigos publicados no Dossiê da
Revista de História da Educação da UFU (2016), e também com a obra Inventing the
Modern self and John Dewey de Thomas Popkewitz1, a qual demonstra que muitas das
reformas realizadas naquele tempo, nos EUA, têm seus princípios análogos ao
movimento de reforma educacional no Brasil, nos anos 1960-1970.
Em uma segunda parte do capítulo diz respeito à expansão do Americanismo,
especificamente pela escolarização. Nesse ponto há a contextualização do imperialismo
e da educação como principal instrumento de ação pacificadora, mas com o objetivo de
controle e dominação da selvageria pela modernidade. Como afirma Martin Carnnoy em
sua obra Education as Cultural Imperialism2, que trata da relação da educação com a
construção de sistemas imperialistas nos séculos XIX e XX, quando a escolarização em
massa se torna o apanágio da revolução republicana expansionista estadunidense.
O terceiro capítulo, apresento a análise de documentos e teses indicando como a
construção do projeto dos Ginásios Polivalentes foi se constituindo num crescente. Inicio
o capitulo com uma explanação sobre os estudos de administração de empresas e cultura
organizacional, elaborado por uma corrente teórica chamada de empresarialistas. Esta
corrente é uma nova forma de abordar as relações humanas. Decorrentes do
taylorismo/fordismo, aspecto marcante do americanismo, se torna o eixo para balizar as
ações educacionais norte-americana, em terras brasileiras. A referência utilizada é uma
obra estadunidense escrita a quatro mãos — Clark Kerr, John T. Dunlop, Frederick H.
1
Todos os textos nesta tese são de tradução própria.
John Dewey e a invenção da formação moderna.
Há também referências do artigo Education sciences, schooling, and abjection: recognizing difference
and the making of inequality? (tradução própria: Pedagogia, escolarização e submissão: Reconhecendo
diferenças e fabricando desigualdades) Publicado na South African Jounal of Education, EASA, vol. 28
301- 319, 2008.
2
Essa obra não possui edição traduzida para a língua portuguesa. Assim, disponibilizo em anexo à esta
tese as traduções que fiz, na integra, dos capítulos 1, 2 e 7.
13
Harbinson, Charles A. Myers —, Industrialism and industrial man, traduzida no Brasil
como Industrialismo e sociedade industrial. No auxílio à compreensão da ação dos
empresarialistas sobre educação empresarial e formação de Recursos Humanos para a
empresa moderna, utilizo o artigo do Professor norte-americano Ted Goertzel, que
relaciona o pensamento dos empresarialistas com as ações da USAID – Agência Norte
Americana de Desenvolvimento Humanitário. Nela, há a tese dos “empresarialistas” que
veem a sociedade dividida não entre cidadãos, mas entre administradores e administrados
— sendo esta a opção do governo brasileiro para os rumos da educação no país.
A forma como este aspecto se irradia pelo Brasil é apresentado em três momentos:
A análise de atas retratando seis reuniões do Escritório Ponto IV no Brasil, principal órgão
de planejamento de ações de ajuda humanitária entre o Brasil e os Estados Unidos; A
análise dos discursos do Embaixador norte-americano no Brasil, Lincoln Gordon,
contidos no livro O Progresso pela Aliança, que apresenta ações na América Latina, de
modernização e ajuda humanitária, decorrentes do Programa Aliança para o Progresso da
Organização de Estados Americanos – OEA; E por fim, a estruturação e implantação dos
Ginásios Polivalentes. O objetivo deste capítulo é apresentar o principal aspecto cultural
americanista que vem inscritos na produção do projeto dos Ginásios Polivalentes foi um
movimento irradiado para todo o país, a partir de grupos cooptados e treinados dentro dos
princípios desta forma de ver o mundo. A educação (treinamento) foi o instrumento deste
movimento denominado pacificador, para evitar revoluções violentas.
14
1 - Referencial teórico metodológico
Esta tese é o resultado de uma pesquisa sobre a construção do projeto dos Ginásios
Polivalentes — GPE —, cuja efetivação pode ser situada nos primeiros anos da década
de 1970 (entre 1971 e 1974).
Tratava-se de um programa ambicioso, situado no âmbito do acordo bilateral
conhecido como MEC/USAID — Ministério de Educação e Cultura e Agência Norte-
Americana de Desenvolvimento —, entre o Brasil e os Estados Unidos. Essas escolas são
o resultado da presença do Americanismo na educação básica brasileira. Os GPE,
juntamente com a lei 5.692/1971, tinham como parâmetro a ampliação do ensino básico
obrigatório em todo território nacional. Essa pesquisa foi tema dos meus trabalhos de
monografia, apresentado no curso de especialização lato-sensu em Educação Tecnológica
em 2007, e também da dissertação de mestrado em Educação Tecnológica concluído em
2013, havendo ambivalência no que diz respeito ao seu campo de pertencimento entre a
História e a Filosofia Social, ambas com foco na educação para o trabalho.
A dissertação, apesar de concluída e aprovada, ainda não esgotou as possibilidades
de conhecimento sobre o tema. Nas considerações finais da dissertação de mestrado,
encontram-se os resultados dos quais destaco aspectos gerais como: i) a proposta dos
Ginásios Polivalentes foi expressão direta da presença americana na educação brasileira;
ii) os aspectos americanistas presentes eram referentes à garantia do direito à
escolarização universal, como direito social de todos os membros da sociedade de receber
uma herança cultural.
Quanto aos documentos que definiam a filosofia dos Ginásios Polivalentes, pude
verificar que estes
3
O plano trienal de Educação (1963 — 1965), do governo do Presidente João Goulart, previa a implantação
de uma rede nacional de Ginásios Orientados para o Trabalho, porém o Ministério da Educação não
dispunha de técnicos em número suficiente para a prestação de assistência. Planejamento fornecido pelo
INEP. Ver ROMANELLI, 1978.
16
autores como Arapiraca (1982), Nunes (1980), Romanelli (2003) e Lage (2001) sobre as
intenções da ajuda humanitária norte-americana de expansão do capitalismo, em que os
“EUA usaram essa ajuda para guiar o processo modernizador na América Latina como
ação contrária à ameaça comunista e reforçaram os postulados da sua política”.
(BITTENCOURT JR, 2013, p. 71), além de documentos sobre as ações do Programa
Aliança para o Progresso e, também, a partir da análise dos diversos convênios
celebrados entre o Brasil e os EUA4 no período pós II Guerra Mundial, sendo possível
verificar que a educação era a única que não continha uma previsão de diagnóstico amplo
de preparação para implantação — abordando as áreas de referências sociais e culturais,
por exemplo. O que se constatou nessa análise foi que havia um projeto educacional como
modelo para estabelecer o mecanismo de ressignificação cultural, orientando a educação
brasileira para o foco no desenvolvimento econômico.
Essa hipótese já possui vasta pesquisa (como os trabalhos dos autores citados),
com resultados afirmativos sobre esse redirecionamento cultural no Brasil. Assim, a
proposição desta pesquisa é aprofundar em aspectos já salientados por outras pesquisas,
incluindo a continuidade da pesquisa que realizei no mestrado, ampliando a investigação
da possibilidade desse referencial civilizatório da sociedade norte-americana estar
presente no projeto dos GPE.
Ao buscar o referencial civilizatório da sociedade norte-americana, é comum
pensar essencialmente pelo processo de produção industrial de Taylor e Ford5.
4
A maioria desses documentos foram encontrado no Programa de Estudos e Documentação Educação e
Sociedade — PROEDES — da Faculdade de Educação da Universidade Federal do Rio de Janeiro —
UFRJ. O inventário completo de todos os documentos existentes lá está disponível em anexo. Mais
informações sobre o Programa proedes.fe.ufrj@gmail.com
5
O conceito de Taylorismo/fordismo decorre da introdução dos princípios gerais de
fundamento científico na organização do processo produtivo norte-americano. Nos
artigos "A piecerate svstem" (1895) e "Shop management" (1903) e no livro The
Principles of Scientific Management (1901), Frederick. W. Taylor (1856-1915) inaugura
o campo científico da Organização Científica do Trabalho – OCT. Henry Ford, em 1914,
foi o primeiro a aplicar em sua fábrica o modelo proposto por Taylor. Os resultados foi a
potencialização da produção de forma jamais vista, e prossegue em escala internacional.
O Taylorismo/Fordismo são correntemente reduzidos a três princípios essenciais:
1. a separação rigorosa entre a concepção das tarefas e a sua execução; 2. a existência de
um sistema de peritagem independente para a definição dos tempos e das remunerações
que escape por isso mesmo a toda a discussão; 3. os sistemas de remuneração ligados ao
estabelecimento dos tempos e por isso mesmo também eles indiscutíveis em princípio.
(Vários autores, Dicionário de Sociologia)
17
Contudo, o Americanismo tem como base uma forma social particular. Para
Gramsci, a superação da “capa de chumbo” aristocrática do velho mundo é um dos traços
básicos dessa nova civilização. No Americanismo há “uma composição demográfica
racional que consiste no fato de que não existem classes numerosas sem uma função
essencial no mundo produtivo, ou seja, classes absolutamente parasitárias.” (GRAMSCI,
2008 p. 34). Esse fato era típico da sociedade com grupos plutocráticos, como na Itália
de Gramsci. Para ele, quanto “mais vetusa é a história de um país, tanto mais numerosas
e onerosas são as sedimentações dessa massa de vagabundos e inúteis, que vivem do
patrimônio dos avós, pensionistas da história econômica.” (GRAMSCI, 2008, p. 35). A
estrutura escolar brasileira pós Segunda Guerra continuou marcada por uma estrutura
dualista que determina a formação diferenciada às diferentes classes. Por isso Gramsci,
tanto na sua abordagem sobre o Americanismo quanto em relação ao modelo Europeu
(Italiano), fornece elementos para entender o contexto de disputa em que se envolvia o
projeto de escolarização para o Brasil, no período. Para isso é necessário a caracterização
do Americanismo em dois períodos. Antes e depois da II Grande Guerra.
Quando Dewey, no início do século XX, inclui o homem comum na sociedade
americana por meio da escolarização universal, como direito do cidadão, ele está
minimizando o impacto causado pelo direito hereditário e oferecendo uma herança
cultural nacional para todos, aumentando, assim, as chances de mobilidade social.
(TEIXEIRA, 2006). A sociedade individualista, baseada no nome de família herdado —
na qual as relações de poder e de produção estão diretamente ligadas à detenção de
propriedades e instrumentos de produção científica e tecnicamente desenvolvidos em uma
lógica programática, passa a prevalecer. A escola passa a ser o lugar de formação do
cidadão e de mediação dos interesses individuais e sociais.
Para Gramsci, no início do século XX surge outro tipo de escola, ao lado da escola
clássica humanista tradicional. Segundo ele, na modernidade, as ciências tornaram
complexas as atividades práticas da vida, criando a tendência de uma escola única para
formar dirigentes e especialistas, onde os professores seriam intelectuais especialistas.
18
foi destruída, pode-se dizer, já que sua capacidade formativa era em grande
parte baseada sobre o prestígio geral e tradicionalmente indiscutido de uma
determinada forma de civilização. (GRAMSCI, 1982, p. 115).
19
caracterizado como intervencionismo imperialista — forma renovada e atualizada dos
movimentos imperialistas europeus na Ásia e na África, nos séculos XIX e XX. Carnnoy
(1974) diz que essa estratégia já vinha sendo empregada pelos EUA desde o período após
a Guerra de Secessão, quando o norte do país estende sua hegemonia ao sul escravagista.
A educação dos negros foi ponto chave ao trazer, de forma velada, a manutenção de uma
supremacia branca, o que agradou às elites sulistas:
No período pós II Grande Guerra, outro fator vem somar a esses interesses
velados: a questão humanitária norte-americana se sobrepõe à geopolítica mundial da
Guerra Fria. Investigar sobre esse processo — como se deu a evolução da forma de
escolarização interna nos EUA — nos ajuda a compreender os elementos culturais
presentes no projeto do GPE. Há uma escola proposta por Dewey, que Anísio Teixeira
conhece e relata em seu livro, onde a educação é voltada para a formação de cidadãos, de
modo que a escola é a vida; e uma outra voltada para a formação para o trabalho, onde a
vida é a fábrica.
O que fazia a escola tradicional ser oligárquica era seu caráter dualista, no qual
cada grupo social tem um tipo de escola, com a função de desenvolver a perpetuação de
funções originárias da classe a que pertence. Era este o modelo de educação básica no
Brasil até o início da década de 1970. A discussão acerca de uma educação moderna
atravessa nossa história em diversos projetos. Na década de 1920, há o aprofundamento
dessas discussões, que culminam no Manifesto dos Pioneiros da Educação Brasileira, em
20
1932. Porém, na prática, o que vigorou até 1970 foram projetos que colimavam um ensino
fundamental universal, com duração de quatro anos. Após o primário, era dividido em
educação secundária (preparatória para estudos superiores) e ensino profissionalizante,
como educação fim. Desse modo, o ensino ginasial dualista determinava a que classe
social pertenceria seus alunos.
Na década de 1970, a proposta de ensino extensivo à toda população se expressa
na lei 5692/1971, que reformou o ensino secundário, unificando e tornando obrigatório o
ensino ginasial: foi este o momento de massificação da educação. Mas, como veremos à
frente, evidências mostram que foi um movimento proveniente de questões geopolíticas,
em relação à vontade interna, que determinou essa reforma.
Na década de 1960 desencadeou, na América Latina, a Aliança Para o Progresso
(1961) e a Declaração de Santiago do Chile (1962), dando forma a um Plano Decenal de
Educação, que objetivava, como princípios norteadores de implantação de um modelo de
escola no Brasil, promover tanto a extensão da escolaridade obrigatória quanto a iniciação
profissional para os concluintes do ensino primário6. De fato, após o golpe civil-militar
de 1964 intensificaram os esforços nesse sentido. Em 1966 são criados a EPEM - Equipe
de Planejamento do Ensino Médio - e em 1968, o PREMEM — Programa de Expansão e
Melhoria do Ensino Médio.
Na década de 1970, o Brasil buscava consolidar os GPE como modelo para a
virada educacional almejada pelo Governo Federal e por expressivos setores econômicos,
contemplando anseios sociais. Esse projeto era uma das ações do governo para a reforma
do ensino médio e serviu como carro chefe para o que se pretendia com a reforma, pois
tinha a responsabilidade de representar o novo modelo de escola ginasial que surgia. O
projeto dos GPE era de uma escola única, baseada em um modelo de escola vocacional e
que ofereceria o ensino geral ao lado de disciplinas de cunho profissional. Era vocacional
por fundamentar, nestas disciplinas de cunho profissional, uma abordagem de introdução
ao mundo do trabalho, sem buscar uma profissionalização fim e, ao mesmo tempo,
permitir uma continuidade dos estudos. As disciplinas de cunho geral também possuíam
um viés vocacional. O Plano era construir 300 unidades em todo o Brasil, sendo Minas
6
O plano trienal de Educação (1963 – 1965) do governo do Presidente João Goulart previa a implantação
de uma rede nacional de Ginásios Orientados para o Trabalho. Já havia negociações de acordo com a
USAID para financiamento. Ver Nunes (1980).
21
Gerais, Bahia, Espírito Santo e Rio Grande do Sul, os estados de implantação em grande
escala da rede GPE. Os outros estados receberam uma unidade, em média.
Ao investigar os motivos da implantação dos GPE no Brasil, é possível verificar
a predominância do fator político nas abordagens, ou seja, a conotação política de relações
entre Brasil e EUA como aspecto de análise. Uma nova postura filosófica da educação
brasileira, vinculando o sistema educacional com o desenvolvimento econômico, é
apontada por vários autores. Ao examinar os estudos de Cunha (2000) — como também
os de Romanelli (2003), de Nunes (1980) e de Arapiraca (1982) —, essa conotação
política é a que aparece com mais evidência. Os estudos sobre os GPE aparecem sempre
inseridos em trabalhos sobre essa política de alinhamento, tornando esse modelo de escola
um alvo de confusão com outras experiências brasileiras que já se alinhavam ao modelo
norte-americano de educação ginasial. Nunes aborda essas escolas como “decorrentes dos
interesses políticos e exigências econômicas do capitalismo” (1980, p. 152). Vale
ressaltar que estudos dos GPE identificando traços civilizatórios típicos do Americanismo
que estariam circulando nesse projeto educacional eram ainda inexistentes na história da
educação.
A importância de analisar os GPE, buscando identificar os traços culturais
americanistas, está na possibilidade de ampliação da visão sobre essa modalidade de
escola que surgiu em um momento de mudanças na educação brasileira. Se foi uma escola
decorrente dos interesses políticos e exigências econômicas do capitalismo, é possível
que ela também pode ser expressa como um anseio antigo de uma educação voltada para
as práticas da vida, fundamentação esta tirada da filosofia de Dewey. Dessa forma, a
pesquisa sobre essa experiência educacional encontra apoio nas proposições de
identificação cultural dos moldes americanistas trazidos para o Brasil, que vão além da
simples transplantação de modelo. Daí a necessidade de aprofundamento da questão, sob
essa perspectiva de análise, que visa a verificar por meio de que recursos — discursivos
e não-discursivos — o Americanismo penetrou no Brasil. Neste caso, o estudo sobre os
GPE contribui para responder esta questão maior.
Sendo assim, esta pesquisa teve como objetivo geral produzir conhecimento sobre
a implantação dos Ginásios Polivalente no Brasil, buscando identificar, nos documentos
que definem a concepção, a legalização e a implantação dos GPE, traços civilizatórios
típicos do Americanismo que estariam circulando na construção desse projeto
educacional. Também busquei identificar a natureza da escolha do modelo de escola que
foi definido para se implantar no Brasil — assim como investigar se houve motivação
22
velada que veio a influenciar nessa decisão, decorrente de pressões e interesses
internacionais — e avaliar as consequências dessas escolas e sua filosofia na educação
brasileira, após sua implantação.
23
e política. Assim, Vianna afirma que a América “racional” pode se universalizar, uma vez
que as próprias forças produtivas tecem as supra-estruturas. O progresso não é apenas o
desenvolvimento local, refletindo também o desenvolvimento internacional irradiado do
centro para a periferia na forma de correntes ideológicas e expansão hegemônica:
Há uma distinção entre a relação estrutura e supra-estrutura nos EUA. Isso também o
distingue como singular na forma de produção moderna, por meio da racionalização do
processo produtivo, que pode ser universalizado e “aprendido”, facilitando sua expansão
e irradiação hegemônica no mundo.
Ao comprometer mudança com a conservação, “a revolução passiva, antes um
processo referido a formações nacionais com precisa contextualização histórica, ter-se-ia
convertido no único processo a ter vigência universal.” (VIANNA, 1997, p. 29). Vianna
fala que nas proximidades da virada do milênio (ano 2000), as revoluções não têm mais
espaço nas sociedades, com exceção do Islã e alguns focos isolados na América Latina.
Nessa revolução passiva da atualidade os atores inexistem, restando o protagonismo dos
“fatos”, em um processo de história de “dialética sem síntese”.
É, pois, neste ponto, que a educação se torna seu apanágio e possibilita substituir o
domínio pelas armas por um domínio mais sutil, no qual, por meio da educação técnica e
racionalizada, se conquista as consciências: “A revolução passiva seria o contexto do
protagonismo político-social dos intelectuais.” (VIANNA, 1997, p.53). Os intelectuais da
era progressiva americana que fundamentaram uma educação para a produção e,
posteriormente, formaram intelectuais das diversas nacionalidades para atuar em seus
respectivos países, em rede com a Teacher College, formaram e reformaram a educação
pelo mundo. É esse o movimento que acontece massivamente no Brasil na década de
1960, com o crescimento dos convênios MEC-USAID, e que dava o lustre de formação
24
“americana” aos agentes tupiniquins reformadores da educação. A análise desse processo
sob a ótica Gramsciana nos é valorosa nesta tese.
Nos EUA, o processo de educação foi decisivo na conquista de sua posição no
mundo moderno. Entre os intelectuais da educação estadunidense está John Dewey,
filósofo norte-americano, ícone dos princípios da Escola Ativa 7. Sua filosofia está em
incluir o homem comum na sociedade americana por meio da escolarização universal,
como direito do cidadão. Isso minimiza o impacto causado pelo direito hereditário,
oferecendo uma herança cultural nacional para todos e aumentando as chances de
mobilidade social. Para Marshall, as “diferenças de status podem receber a chancela da
legitimidade em termos de cidadania democrática, desde que não seja uma expressão de
privilégio hereditário.” (1967, p. 108). A escola passa a ser o local de formação do cidadão
e de mediação dos interesses individuais e sociais que ocupam o cenário da luta
hegemônica, de acordo com as possibilidades que cada momento histórico encerra.
7
No capítulo sobre o Americanismo aprofundaremos no pensamento de Dewey e de outros intelectuais
que faziam parte do quadro de professores da Teacher College durante a Era Progressiva.
25
A proposta educacional fundamentada nos Ginásios Polivalentes, no contexto da
institucionalização da lei 5692/1971, inicia uma nova etapa do sistema de ensino
secundário brasileiro, instituindo uma modificação estrutural quanto à extensão e à
obrigatoriedade do ensino para toda a população — mudanças na estrutura curricular e na
própria estrutura de ensino secundário —, que passa a ter seu primeiro ciclo (o ensino
ginasial) incorporado ao ensino fundamental, denominado, a partir de 1971, ensino de
primeiro grau, com sondagem vocacional. O segundo ciclo do ensino secundário (o
ensino colegial) passa a ser denominado ensino de segundo grau como ensino técnico
profissionalizante. Mas, sem dúvida, as principais modificações foram a unificação do
ensino secundário e a abolição do ensino desinteressado (erudito), em opção pelo ensino
tecnicista. Desse modo, os Ginásios Polivalentes fazem parte ou complementam as
modificações da lei 5692/1971.
O conjunto de modificações educacionais contidos na lei 5692/1971, em especial
a instituição dos Ginásios Polivalentes, poderia se encaixar numa perspectiva da história
das instituições educativas, mas não é esse o foco da pesquisa. Mais que uma instituição-
educação, o objeto proposto é um projeto-educação, que não fornece todos os elementos
necessários para que dela se faça uma história das instituições educativas. Entretanto, a
despeito de não ser uma instituição-educação, a experiência está documentada em
arquivos que se constituem em objeto de investigação. O objeto em questão — a
concepção, o projeto e os preparativos para implantação dos GPE — não caracteriza
stricto sensu uma instituição educacional. Isso é definido, principalmente, pelo fato do
foco da pesquisa estar nos processos que antecedem a instituição em seu funcionamento.
O que pode ter sido instituído com essa experiência é o modo diferenciado das tradições
de se fazer educação no Brasil.
Como já citado, a referência básica na análise dos fatos será pela ótica gramsciana
— mas também buscarei o pensamento do filósofo francês Paul Michel Foucault (1926-
1984) que, sob sua ótica singular, nos permite perceber que o que ocorre na educação
brasileira é um processo que vai muito além de uma estruturação educacional. Já é
conhecido o fato de acoplamento ou ajustamento da sociedade brasileira ao processo de
produção moderna no período das décadas de 1960-1970, em que houve o Golpe Civil-
Militar (1964). Porém, o que se busca aqui, é entender o que está inserido nos discursos,
que revelam as intensões para além da disputa geopolítica. Por se tratar de uma análise
de um projeto a ser instituído, num período no qual encontramos o Brasil — e o resto do
mundo — envolvido em vários binarismos que certamente compõe um mosaico de
26
situações que podem contaminar a análise histórica. Após leitura de obras significativas
para a compreensão do contexto, como Education as Cultural Imperilism, de Martin
Carnnoy (1974), poderemos constatar que na proposta de implantação de uma nova
estrutura de educação no país, para além de ajuda humanitária, buscou-se uma
intervenção na cultura e na forma de governo em nível político e pessoal, que vai além
das disputas de modelos. Discorrendo sobre o processo de escolarização em massa em
contextos imperialistas modernos ele diz:
8
“School also functioned to transform societies from feudalism and traditionalism to capitalism. But once
schooling had contributed to the demise of feudalism and other forms of social organization, it continued
to reinforce capitalism forms. Like any social organization, capitalism produced institutions that supported
capitalism structures. So schools functioned to control social change (to maintain order), to produce better
labor inputs for more material output, and to transform individuals into competitive men and women who
functioned well and believed in the capitalist system.”.
27
expansão do imperialismo, sem que isso seja considerado reação de partidários
“comunistas” que querem a expansão do imperialismo soviético? São perguntas que
tendem a um binarismo de defesa de “x” ou de “y”, mas que merecem um outro olhar.
Ao analisar a arte de governar, Foucault caracteriza os mecanismos que existem
para guiar os homens, dirigindo sua conduta controlando suas ações e reações. A
dominação social e, consequentemente, a luta de classes são conceitos bastante
explorados nas análises sociológicas. Michel Foucault toma por método de análise a
suspensão de certos conceitos — suspensão, pois não os abandona ou os nega, apenas
busca observar e fazer a análise sem se deixar contaminar pelo estabelecido, como se
fizesse a história inversa, observando a construção dos fatos, e como se suas
denominações para definir os instrumentos de poder não existissem:
Ao deixar de lado esses universais, Foucault busca analisar e partir das práticas como elas
se apresentam (como ela é constituída) e, a partir dessa análise, entender a constituição
desses universais; ou seja, entender a história nos encadeamentos de fatos e de práticas
biológicas e sociais que geram conceitos. “Pois bem, precisamente, em partir desses
universais tais como são dados e em ver como a história, ou os modula, ou os modifica,
ou estabelece finalmente sua não-validade.” (FOUCAULT, 2008, p. 05).
Movimento parecido ao de Foucault, foi o método na elaboração da pesquisa dos
empresarialistas Kerr; Dunlop; Harbinson; e Myers. Eles abandonaram as discussões
sobre pressões e oposições entre sindicatos e trabalhadores – proletariado e burguesia –
por estas, no julgamento deles, já se encontrarem ultrapassadas. Eles abandonam esses
imperativos de oposição entre os envolvidos na produção industrial e veem a questão sob
outra perspectiva. E a partir daí abandonam o enfoque nas questões de conflitos sindicais
e voltam sua atenção para a uma possibilidade única e sem retorno à qual todas sociedades
humanas caminham. A industrialização moderna. Os empresarialistas consideram apenas,
“Estados Unidos, a Inglaterra e a União Soviética, os únicos modelos a serem seguidos
9
– grifos no original
28
pelas economia emergentes, na industrialização” [sic] (KERR; DUNLOP;
HARBINSON; MYERS, 1963, p. 19). Assim o destino do mundo era ser renovado,
seguindo um modelo de modernização industrial que já acontecia nestes países. A questão
para eles então não é “qual” modelo, mas “quem” se deve seguir, quem vai controlar a
irradiação deste modelo. Seu estudo de tipificação de sociedades – elites industriais –
facilitou a expansão dos EUA em busca de parceiros para expandir-se, como modelo de
modernização industrial pelo mundo. A análise de discursos dos norte-americanos sobre
as ações de ajuda humanitária para o Brasil, encontrado nos documentos, contém indícios
desse processo e também do imperialismo velado que este controle proporcionou.
O Brasil é um país que é modulado em todos os tempos. Desde 1500 que as
práticas de governo são importadas e atendem aos interesses diversos. Se temos um marco
de governo, este é o da negação do estabelecimento da nação no seu sentido pleno de ação
de integração de um povo. Aqui, os interesses governamentais sempre se adequaram aos
interesses de pequenos grupos internos juntamente com interesses externos. Nos períodos
coloniais e imperiais, essas afirmações fazem sentido:
10
“Colonialism becomes a description of relationship among people rather than nations. We therefore use
the term describe the way one individual behaves toward another (one individual's subjugation of another).
Since human relations usually occur within the context of institutions (created and managed by people),
these relations are shaped and mediated through institutional structures.”.
29
oligárquicos. Economicamente, São Paulo começa a se destacar no setor industrial. Neste
período temos o Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova — 1932, que tinha a intenção
de cristalizar esse ideal de nação por um projeto de educação igualitário. Mas o
endurecimento de setores conservadores, como a Liga Eleitoral Católica, que elegeu 2/3
do congresso nas eleições de 1933, reage no intento de manter a “ordem tradicional das
coisas”.
A partir da década de 1950, esse espírito nacional ressurge. Movimentos
nacionalistas como “O Petróleo é nosso” e projetos de alfabetização de faixa da população
que nunca teve acesso à escola aparecem, colocando em questão o determinismo de classe
na educação e fazendo emergir um sentimento de identidade e de autocuidado. A
economia industrial moderna se estabeleceu forte e os anos de Juscelino Kubitschek são
marcantes, de modo que a nova capital e a abertura de mercado dão novo alento ao
sentimento nacional. Em 1960 fervilha o novo estilo de vida da maioria da população,
que agora reside em cidades. Ele exige reformas de base e melhor acesso à escolarização.
Nesse momento, a cultura tupiniquim tem novo marcante movimento identitário: a
Tropicália. Também nesse período, a reação veio combater os anseios populares.
Movimentos de uma minoria elitista como a TFP (Tradição, Família e Propriedade), que
detinha poder político e econômico, lutam pela manutenção de privilégios herdados da
estrutura patrimonialista — em 2010 ainda sofremos deste mal. Em todas as situações, o
que prevalece como argumento de dominação é muito parecido com os argumentos dos
colonizadores europeus, donos de uma cultura acabada e que estabelecem uma ligação
estreita com Deus. O governo aqui ainda é o de fora, do colonizador, sendo o Brasil
apenas um lugar para enriquecer. Se olharmos pela ótica de Foucault, são esses
argumentos fixos às universais que dão legitimidade ao discurso de superioridade
cultural: mas não é apenas isso.
Esses fatos históricos se relacionam ao conceito gramsciano de “Revolução
Passiva”:
Como programa de ação da elites conservadoras, com sua forma expressiva
contida no binômio conservar-mudando, ao iniciar um processo de
transformações sob a cláusula de restrição de que este se confirme e atualize
seu domínio; como “critério de interpretação” para o ator que se invista da
representação de portador das mudanças, capacitando-o, a partir de uma
adequada avaliação das circunstâncias que bloqueiam seu sucesso imediato e
fulminante, a disputar a hegemonia numa longa “guerra de posições”, e a
dirigir o seu empenho no sentido de um transformismo “de registro positivo”,
assim desorganizando molecularmente a hegemonia dominante, ao tempo em
que procura dar vida àquela que deve sucedê-la. (VIANNA, 1997, p. 9)
30
A complexa obra de Michel Foucault também apresenta conceitos para trabalhar nessa
análise que foi em torno de binarismos: novo/velho; moderno/arcaico;
civilidade/selvageria; desenvolvido/subdesenvolvido. Mas também, a análise sob a forma
de alguns termos do livro Segurança, território, população: curso dado no College de
France (1977-1978). Nesta obra, Foucault nos permite perceber que o modus vivendi
moderno envolve aspectos dos conceitos biológicos que mudam as relações humanas em
uma quantidade imensa de hábitos e formas de pensar o mundo, fazendo do século XX
uma revolução nunca antes vista, pois não há tempo de cristalização deste modus vivendi.
Os empresarialistas falam destas mudanças como, repito, irreversíveis e destino da
humanidade. A dinâmica de produção tecnológica11 tem acelerado cada vez mais a
mudança nos hábitos sociais, inviabilizando os sujeitos de se reconhecerem enquanto
pertencentes a um grupo sociocultural. Isso implica no estranhamento dentro dos grupos
sociais e, nas últimas décadas, estranhamentos dentro de grupos genéticos, de modo que
de uma geração a outra há uma mudança sensível nos hábitos, possivelmente fazendo
com que os mais velhos assumam o discurso conservador como forma de preservação de
tradições. Isso também impacta no processo de escolarização em massa, levando a um
retrocesso aos tempos aristocráticos. Ou seja, o que se inicia como proposta de libertação
do ser humano da sua condição de desigualdade, na qual havia os senhores e os serviçais
em direitos de liberdade, está levando a humanidade à condição em que todos são servis
e obedientes ao pré-determinismo do sistema social irracional, alienados de sua condição
humana.
Foucault utiliza três categorias de análise: Segurança, Território e População.
Como base de referência, pretendo trabalhar basicamente duas categorias: “biopoder” —
Aula de 11 de janeiro de 1978 — e governamentalidade – Aula de 1º de fevereiro de 1978.
Tal análise se mostra pertinente, pois são pontos interligados e com os quais o processo
de escolarização está profundamente vinculado. Para Foucault, a reflexão sobre o termo
biopoder é construída sob os efeitos da busca por segurança.
A dominação de classes existe desde que o aspecto cultural entra em cena no
contexto histórico humano. Em sua análise, Foucault nos coloca uma básica questão
biológica. Encontramos no pré-humano relações de poder que certamente valoriza mais
a questão da força que do intelecto. Em outras palavras, se no aspecto biológico o
determinante principal de dominação é a força, no cultural a subjetividade entra em cena,
11
Aqui, tecnológico em seu sentido pleno, de técnicas de produção a aparatos tecnológicos.
31
revelando jogos e artimanhas para gerar e manter o poder. Foucault busca determinar
como o domínio da prática de governo foi estabelecido para governar da melhor maneira
possível, mas com o uso dos fatores biológicos humanos no exercício do poder: biopoder.
Na citação de Vianna acima encontramos o termo “Guerra de posições”: seria ele análogo
ao biopoder?
Foucault, em suas aulas no College de France entre 1977 e 1978, analisa como a
transição da sociedade feudal para sociedade industrial modifica os universais sem
modificar os termos, em função das novas necessidades de ocupação do território a partir
do controle do meio planejado, antes mesmo de sua constituição, e da segurança e seus
mecanismos, também em função da criação dos meios e do controle populacional,
facilitando a arte de governar e conduzir pessoas.
Esses sistemas de segurança — junto do controle de ocupação do solo na criação
do meio, para controlar as populações — se baseia em um binarismo composto por lei e
punição, sendo “portanto o mecanismo legal ou jurídico. O segundo mecanismo, a lei
enquadrada por mecanismos de vigilância e de correção, e é evidentemente o mecanismo
disciplinar”. (FOUCAULT, 2008, p. 8). Essa criação controlada do meio pode ser análoga
à Revolução Passiva burguesa?
Foucault afirma que o triângulo soberania, disciplina e gestão governamental
(parte do termo governamentalidade) é usado na governança da população, por meio de
mecanismos essenciais e/ou dispositivos de segurança. É a governamentalidade uma
instituição hegemônica?
Foucault apresenta o termo “Biopoder” como a representação de uma série de
fenômenos ou “o conjunto dos mecanismos pelos quais aquilo que, na espécie humana,
constitui suas características biológicas fundamentais vai poder entrar numa política,
numa estratégia política, numa estratégia geral de poder.” (FOUCAULT, 2008, p. 03).
Segundo ele, a partir do século XVIII as sociedades ocidentais modernas passam a
considerar a condição biológica na relação dos seres humanos pelo poder. O biopoder se
constitui nas relações, determinando nessas relações, uma série de eventos de regulação.
Assim passa a ser a forma de racionalizar o natural e naturalizar o ideal racional. Foucault
não pretende uma teoria sobre o que é o poder, admitindo “que o poder é um conjunto de
mecanismos e de procedimentos que tem como papel ou função e tema manter — mesmo
que não o consigam — justamente o poder” (2008, p. 4):
32
mecanismos de poder que podemos encontrar nas relações de produção, nas
relações familiares, nas relações sexuais, seja possível encontrar coordenações
laterais, subordinações hierárquicas, isomorfismos, identidades ou analogias
técnicas, efeitos encadeados que permitem percorrer de uma maneira ao
mesmo tempo lógica, coerente e válida o conjunto dos mecanismos de poder e
apreendê-los no que podem ter de específico num momento dado, durante um
período dado, num campo dado. (FOUCAULT, 2008, p. 4-5).
34
incivilizada para uma condição de iluminação e civilização. A massificação da educação
começou a ser vista com bons olhos e começaram a ser propostos os métodos de ação —
Pedagogias. Um dos primeiros foi o de Comenius (1592 a 1690), com seus doze degraus
de aprendizagem compulsória, método este descrito em sua Magna Didática em que ele
descreveu a escola como dispositivos para "ensinar tudo a todos” de forma mais barata e
acessível. A ideia era transformar pessoas, culturas e sistemas sociais. Esse determinante
universal não desapareceu, e foi constantemente ressignificado. Com isso, a massificação
foi transformando sociedades do feudalismo e do tradicionalismo em sociedades
industriais modernas. (CARNNOY, 1974)
A hipótese apresentada por Carnnoy é de que a extensão da escolaridade às massas
foi realizada “no contexto do imperialismo e do colonialismo — na disseminação do
mercantilismo e do capitalismo” — e, atualmente, ainda faz parte desse contexto. Apesar
da escolaridade oferecida pela metrópole promover “a mudança de uma hierarquia para
outra — da hierarquia tradicional da cultura colonizada para alguma forma da hierarquia
do mercantilismo ou capitalismo europeu —, essa mudança foi cuidadosamente
definida”. (CARNNOY, 1974, p. 15).
Esse processo de escolarização atrelado ao imperialismo é dividido por Carnnoy
em duas fases: i) no período mercantil do imperialismo europeu (1500 à cerca de 1780),
a escolaridade formal foi restrita quase que inteiramente às crianças dos ricos, aos
europeus e à elite colonizada. Para os pobres geralmente era treinamento religioso para
conversão ou manutenção moral; ii) no período posterior à 1780, quando o capitalismo
começar a dominar a economia. É a partir desse momento que a escolaridade formal foi
usada para incorporar as pessoas na estrutura econômica, devido ao novo tipo de
sociedade a que se propunha “uma sociedade organizada em torno de fábricas, turnos,
estruturas salariais e trabalho organizado por outros. A escolaridade serviu para preservar
o tecido moral desta sociedade e para socializar as crianças nela”. (CARNNOY, 1974, p.
21). Entendo que posterior à 1780 este processo aparece no capitalismo liberal e no
capitalismo de Estado.
A importância dessa análise histórica é que ela não é apenas sobre o passado, mas
se relaciona com o presente:
35
modo algum, aos impérios formais do século XIX e início do século XX. Pelo
contrário, quanto mais complexa for a divisão do trabalho nos Estados Unidos
e no Terceiro Mundo, mais sofisticada se torna a colonização interna e externa
através da escolaridade12. (CARNNOY, 1974, p. 23)
É a arte do governo, tal como aparece em toda essa literatura, deve responder
essencialmente a esta pergunta: como introduzir a economia — isto é, a
maneira de administrar corretamente os indivíduos, os bens, as riquezas, como
fazê-lo no seio de uma família, como pode fazê-lo um bom pai de família que
sabe dirigir sua mulher, seus filhos, sua criadagem, que sabe fazer prosperar a
fortuna da sua família, que sabe arranjar para ela as alianças que convém —,
como introduzir essa atenção, essa meticulosidade, esse tipo de relação do prol
de família com sua família na gestão de um Estado? A introdução da economia
no seio do exercício político, é isso, a meu ver, que será a meta essencial do
governo. Assim o é no século XVI, é verdade, mas será também ainda no
século XVIII.” (FOUCAULT, 2008, p. 126)
12
“Our historical analysis, therefore, not only stress the past but also the present. It not only relates the role
of schooling to fit Africans and Asians into European colonial structures, but also how schooling was called
upon to colonize people in the United States, and how these methods and experiences were and are exported
back to a now “independent Third World. Schooling as an institution for colonization, social control, and
hierarchical skill production was not in any sense limited to the formal empires of the nineteenth and early
twentieth centuries. To the contrary, the more complex the division of labor in the United States and the
Third World, the more sophisticated does internal and external colonization through schooling become.”.
36
Pode parecer um anacronismo relacionar eventos do século XX com as relações
dos séculos XVI e XVIII, citadas por Foucault. No entanto, entendo que esse movimento
é contínuo. No século XVI, ele é o gérmen do governo de Estado, enquanto no século
XVIII ele é retomado e vai evoluindo e se difundindo da teoria à prática — fato que,
inclusive, não cessou ainda13. Segundo o filósofo, esse processo se dá pela inserção da
estatística como mecanismo de controle dos rumos sociais. No século XVII, a estatística
era chamada de ciência do Estado (FOUCAULT, 2008). Para Foucault, o avanço desse
processo estatístico que desencadearia a arte de governar não avançou no século XVII,
devido ao grande número de eventos — guerras, revoltas e crises — que o impediam. Em
momentos de não guerra, a eficácia da estatística auxilia, indicando as tendências e
planejando ações para o ajustamento da arte de governar. Assim, o termo
“governamentalidade”, é defino por Foucault da seguinte maneira:
Sendo assim, o modo de vida estava ligado aos princípios de cidadania em uma sociedade
democrática e ao seu progresso. No princípio Iluminista, a ciência tinha duas trajetórias
que se sobrepõem nas práticas de escolaridade. Se antes do iluminismo se pensava a
povoação em relação aos meios de subsistência — vivia-se perto dos rios por causa da
água; das matas por causa da caça; nas montanhas para dificultar o ataque de inimigos.
Na modernidade, os espaços urbanos são pensados para crescer e favorecer a circulação:
essa é a base racional. É o controle da circulação — povoamento, imigração, controle da
formação e informação — que, ao ser sistematizada na razão legal, possibilita o
planejamento racional de ocupação e o uso da natureza e das relações sociais, bem como
13
No referencial gramsciano, “Revoluções Passivas” de ajustamento moderno para conservação da
ordem.
37
a extinção de muros. Com isso, o sistema legal desenclausurou e ampliou as relações
sociais.
Nos Estados Unidos, o modus operandi de controle do meio foi um último estágio
de evolução no sistema de segurança, especificamente na prevenção e na construção de
comportamentos desejáveis. Para Foucault:
Já no Brasil, que viveu por grande período sob o sistema escravagista, as relações
legais ainda circulam em torno do status quo, herança do patrimonialismo, e vinculadas
de forma velada a uma herança divina. Muitos movimentos de retomada do poder no
Brasil (“Revoluções”) sempre vêm vinculados à defesa da família e de Deus. A ordem é
sempre a manutenção da harmonia conservadora de poder; é a retomada de um passado
no qual não havia revoltas. O planejamento do meio da forma racional iluminista fica
comprometido pelo pessoalismo determinante das relações. É esse o movimento que se
perpetua: o atraso a ser combatido ou ressignificado para sua modernização. Sendo assim,
sua história colonial insistia em se manter, de modo que a modernização brasileira é uma
processo que reflete os conflitos históricos e os expõe.
As exigências acarretadas pelo próprio processo produtivo, tanto na indústria
quanto nos transportes ferroviários, revelam o discurso de dominação e sua adequação às
novas necessidades. Esses setores passaram a exigir trabalhadores dotados de qualidades
que não poderiam resultar de processos aleatórios: “Eles deveriam atender aos requisitos
do taylorismo, para o que se impunha sua seleção mediante exames psicotécnicos.”
(CUNHA, 2000, p. 06) Após “Revolução” de 1930 houve a instauração do
corporativismo no Brasil, consagrando uma nova modalidade de interpenetração entre o
público e o privado. “Essa instauração se deu num contexto de fechamento do sistema
político, culminando com o golpe de estado, em 1937, que inaugurou o Estado Novo.”
(CUNHA, 2000, p. 06). A necessidade de revisitar alguns princípios do Manifesto dos
Pioneiros e de valorizar a formação profissional se fez evidente, assumindo, dessa vez,
um caráter menos assistencialista do ensino profissional.
38
Para evitar esses inconvenientes, começou a surgir toda uma ideologia de
valorização do trabalho “do elemento nacional”, cuja a propalada inaptidão e
inconstância já não era vista como natural, senão como resultado da falta de
oportunidades. Ou seja, seria preciso valorizar a qualificação profissional
como algo que dignificava o trabalhador, algo que ele desejasse para seus
filhos, não como um destino fatal, mas como algo dotado de valor próprio. Para
tanto, o ensino profissional teria de deixar de ser destinado aos miseráveis,
órfãos, abandonados e delinquentes. (CUNHA, 2000, p. 06).
39
desenvolveram-se teorias da educação, ou pedagogias que marcaram épocas e
civilizações, como a Paideia Grega, a escola de Alexandria, a educação Romana e as
escolas clericais da Idade Média. Desse modo, a educação, enquanto escolarização,
sempre esteve atrelada a condições hegemônicas.
Consideramos a escolarização como “o processo e a paulatina produção de
referências sociais tendo a escola ou a forma escolar de socialização e transmissão do
conhecimento, como eixo articulador de seus sentidos e significados”. (FARIA FILHO,
2003, p. 522). A escolarização é sistemática e tem como alvo a formação do aluno, não
um sujeito, mas uma classe ou geração de sujeitos. A massificação da escolarização surge,
principalmente, decorrente do movimento da Reforma Protestante. Ao traduzir a Bíblia e
promulgar a necessidade de leitura e interpretação das escrituras sagradas, substituindo a
transmissão oral das interpretações dessas escrituras para a população em geral,
tradicionalmente utilizadas pela Religião Católica, os reformadores transformaram a
alfabetização em condição de fé. A Igreja Católica, inicialmente, foi contrária à instrução
universalizante, mas assumindo a importância da instrução no campo de adesão
doutrinária institui a contrarreforma e passa a escolarizar os gentios. Na disputa pela
hegemonia religiosa, sobressai a necessidade de massificação da educação e da
alfabetização. Os catecismos surgem, então, como os primeiros manuais escolares
modernos (MARCÍLIO, 2005) e (SAVIANI, 2007).
No pensamento de Antônio Gramsci, “hegemonia é o conjunto das funções de
domínio e direção exercido por uma classe social dominante, no decurso de um período
histórico, sobre outra classe social e até sobre o conjunto da sociedade.”
(MOCHCOVITCH, 1992, p. 20). Ela é composta por duas funções: de domínio — uso
da força; processo coercitivo — e de direção intelectual e moral — promove adesão por
meios ideológicos; persuasão. No mundo moderno, a escolarização está fortemente
vinculada à construção e à manutenção de hegemonias. É a teoria da educação —
Pedagogia — que orienta a escolarização, que será determinante sobre a desarticulação-
rearticulação da hegemonia de uma classe ou grupos sociais sobre outros. O triângulo
Cultura — teia de significados semióticos; educação — Teoria educacional ou pedagogia
e Hegemonia são inseparáveis. Ou seja, a educação sempre ocupou o espaço
desarticulação-rearticulação da hegemonia de grupos sociais, tomando-o pela mais
determinante, a dominação através da violência física sobre as massas. Por muito tempo,
a educação formal era privilégio dos grupos dominantes em cada sociedade. Com a
massificação da educação, elementos subjetivos de poder (leitura e escrita) são
40
incorporados por grande parte da população, proporcionando entendimento de mundo e
de sociedade. Desse modo, a escola amplia seu espaço e sua importância para a garantia
hegemônica, por fabricar a teia de significações (ressignificações) que determina a
cultura. A educação se torna a pacificadora, em busca da vida racional e produtiva.
Sempre houve, entre a massa da população, aqueles que se destacam nas
interpretações ou têm sua vida dedicada a este trabalho. Seja de forma espontânea
(interna) ou por formação (externa), há aqueles que conseguem organizar e colimar a
diversidade de caminhos interpretativos em uma direção. Com a massificação da
educação, essa diversificação de visões de mundo ganha espaço para além do campo
religioso. Após Gutemberg e a imprensa, a difusão das “letras” faz crescer o
conhecimento em vários setores. A ideologia aristocrática começa a sofrer abalos e a força
da razão tem seu impacto na estrutura social, devido a uma nova classe que, após assumir
a dominação econômica da sociedade, reivindica poderes sob o Estado para se impor
enquanto classe hegemônica.
Com a hegemonia rearticulada, sob a égide da ideologia burguesa industrial, a
reestruturação social passa pela ampliação da massificação da educação, seja por uma
ideologia estruturante de superação da ordem anterior — igualdade de direitos e cidadania
—, seja por necessidade de controle e direção para a nova ordem vigente — formação do
homem cosmopolita. A ampliação da visão de mundo das massas, tirando-as do “senso
comum”, é necessária para as novas formas de trabalho e de organização demográfica;
enfim, nova forma de vida. A crescente histórica do processo de escolarização das massas
pode ser analisada dentro do interesse de formação e ressignificação de cultura que
necessitava. Com a modernidade, a socialização e a educação, tarefa primária da família
(que faz de seus filhos novos membros da sociedade), passa a ser também função do
Estado, institucionalizado pela escola.
Os pensadores como Kant acreditavam que, por meio da educação, o homem
supera o seu ser natural, passando a fazer uso da razão, adquirindo autocontrole e
formando o caráter desenvolvido na educação moral. A partir disso, a escola deve ensinar
as normas sociais que possibilitam a coesão social e a sobrevivência da sociedade. Para
Durkheim (1984) a escola é o locus da socialização. Todas as sociedades devem trabalhar
pela educação dos seus membros, para criar uma comunhão de ideias e de sentimentos
entre eles, função essencial para transmitir a herança cultural em que todos são herdeiros.
Seja no ordenamento de uma sociedade — para aqueles que se encontram fora do
processo civilizatório —, ou para a perpetuação da sociedade civilizada, a escola é a
41
ferramenta pela qual a sociedade, ao longo dos tempos, tem assegurado sua reprodução,
vinculando uma geração à outra e guardando certa fisionomia intelectual e moral.
Durkheim ainda afirma que a escola passa a ser a instituição central na formação do
caráter da criança, ficando a família como secundária no processo, devido a sua condição
de foco nas relações privadas e afetivas. A escola, na modernidade, deve fazer a
integração dos novos membros, na medida em que eles internalizam o conjunto de ideias,
sentimentos e maneiras de pensar e sentir que definem uma dada sociedade, além da
função de diferenciação na preparação dos indivíduos para ocuparem distintas posições
no mundo do trabalho. Nesse processo, o professor tem a responsabilidade de inculcar na
criança os valores hegemônicos da sociedade e de transformá-la em ser social necessário
à manutenção da sociedade.
Na obra Democracy and Education: an introduction to the philosophy of
education, publicada em 1916, Dewey escreve um capítulo denominado “Cultura como
Meta”, no qual reflete sobre o que cada cultura define como criança, infância, práticas
pedagógicas e políticas públicas. Para Dewey, a cultura é entendida como valores e
conhecimentos que subjazem ao objetivo da educação. A criança, em uma sociedade
democrática, deve integrar-se às intervenções valorativas desta, com o poder de
desenvolver o simbolismo do ser humano. Ao apreender o interesse individual da criança
e buscar conexão com interesses coletivos, o que se fez na escola americana é inserir o
sujeito em seu meio, ou seja, ela se baseia em focalizar nos interesses das partes para, a
partir daí, direcionar a ação. A escola quer cuidar de interesses vocacionais ou de
interesses especiais não será educativa se não utilizar esses interesses como meios para a
participação em todos os interesses da sociedade: “Latim, Grego ou a profissão de
carpinteiro devem ser ensinados com o mesmo espírito de fazer do educando um membro
da sua atual sociedade, com poder e oportunidade para participar em todos os seus
interesses”. (TEIXEIRA, 2006, p. 72). Com isso, a escola se constituiu numa agência de
contínua transformação social, ao trazer os interesses individuais dos alunos e discipliná-
los com o que existia de conhecimento científico, dentro de sua estrutura de pensar e de
dominar os problemas que afligiam o dia a dia do ser humano. Assim, o seu conteúdo
coincidirá com o conteúdo da sociedade democrática em movimento.
O novo sistema produtivo, de base industrial, buscava uma série de capacidades e
habilidades que não existiam no sistema anterior, baseada nesse dualismo educacional. A
separação dos conhecimentos gerais das habilidades profissionais só servia ao propósito
de determinismo de classe e a introdução do espírito científico na resolução e no domínio
42
dos problemas cotidianos pôs em cheque a estrutura aristocrática velada, devido a sua
ineficiência produtiva, gerada pelo prestígio social. A educação norte-americana se
modifica valorizando essa união denominada humanismo moderno.
43
treze anos de discussão da LDB nº 4.024/1961, no Congresso brasileiro14. Esses são
exemplos de como a educação vai sendo ressignificada e planejada, assim como vai sendo
paulatinamente transformada em aspectos culturais, perpassando gerações. Neste
momento, é importante destacar que, nesta tese, datas e épocas são colocadas como
referência processual/gestacional, não como marcos deliberados de grupos sociais.
Consideramos um primeiro estágio de manutenção da hegemonia liberal burguesa
— a referência é a Europa, ou escola ocidental — o processo de escolarização universal
na segunda metade do século XIX e princípio do século XX. Esses estágios se repetem
conforme a expansão e a irradiação desse modelo do centro para a periferia. Nessa fase,
a escola ainda era vista pela população em geral como locus de erudição destinado às
classes altas. Assim, o novo modo de produção deveria ser atrativo e trazer resultados
visíveis de elevação cultural nas massas. Há a diferenciação da escolarização em massa
anterior, que se dava pelo seu conteúdo e focava na racionalização e no domínio das
técnicas de transformação da natureza, em detrimento do conhecimento das escrituras
bíblicas. Essas escolas formavam os alunos para o trabalho moderno, diferenciado do
processo de produção até então existente, havendo o rompimento de uma ideologia
patriarcal para a ideologia industrial. Por isso era necessária, à escolarização em massa,
uma fundamentação teórica motivacional, para a população em geral, de formação
libertária, de elevação real da cultura geral. Ensinava-se um novo modo de vida, com
controle de horários e de comportamentos, com programas educacionais higienistas e
normalizadores. Mais que um novo ofício, ela dava oportunidade de bons empregos e de
elevação de classe social, pois também ensinava modos de vida e de ampliação de direitos
civis — consciência de si, e forma de convivência e mobilidade social —, além de
proporcionar consciência de classe. Este último aspecto é muitas vezes visto como efeito
colateral da escolarização das massas, pois gera consciência política e reinvindicações;
mas prevalecem, pois são aspectos necessários para atrair as massas para dentro da sala
de aula, dando consciência de pertencimento. No entanto, era feito controle sobre os
comportamentos (controle de reinvindicações não desejáveis), realizado de forma
externa, pela força.
Quando o processo de escolarização já se encontra consolidado nas massas, como
representação semiótica de “bom emprego e ascensão social”, amplia-se a função de
44
reprodução ideológica e manutenção da hegemonia da classe burguesa. Esse é um
segundo estágio. Há, então, uma sutil mudança na escolarização das massas, com a
ampliação do controle externo — da vida moral e da seleção (exclusão) de não
conformidades. O desenvolvimento de novas formas de produção, nas quais a força física
é cada vez menos utilizada e a formação de segmentos destinados ao trabalho na
organização e na administração dos setores produtivos se torna complexa e cada vez mais
fragmentada. Só a escolarização não é mais garantia de empregos com salários dignos.
Se no período anterior a escolarização massificada tinha como função a
integração/socialização de indivíduos, nessa fase serve, principalmente, à manutenção da
hegemonia burguesa e à exclusão de não conformidades, sejam elas nas formas de
pensamentos diferentes de visão de mundo, seja na marginalização daqueles que resistem
à inculcação dessa ideologia. É um período de orientação da ideologia da meritocracia 15,
e luta contra o efeito colateral16 do processo de escolarização das massas:
15
Existe vasta pesquisa que aponta para as falhas da visão meritocrática escolar como determinante na
seleção de pessoas para cargos na hierarquia social. O fator de origem social é flagrantemente maior nessa
determinação. Para aprofundar, veja Carnnoy, Education as Cultural Imperilism, 1974, p. 332.
16
Já citado anteriormente, e conceituado neste momento.
17
Como exemplo, a teoria Malthusiana ainda hoje é usada para justificar que é impossível todos terem
acesso a tudo que se produz e que a desigualdade de classes é natural e harmônica. Outro exemplo que
insiste nesse ponto é a questão étnica ainda ser aceita como fator natural que justifica a eficiência social
de uma classe sobre outras.
45
um bom senso, que busca simplificar o contexto e contrapor o entendimento de lideranças
populares. Se não funcionar, apelam para a força (Estado legal).
18
O conceito de competência começa a ser empregado nas pesquisas e nos manuais organizacionais a
partir da década de 1970. Na LDB nº 9.394/1996 é amplamente utilizado o conceito de competências
educacionais.
19
Gramsci nos diz que está sendo cortês com Taylor quando denomina consciência de finalidade o objetivo
de controle. Citando André Philip, ele lembra que “Taylor considerava que um gorila amestrado poderia
fazer o trabalho atualmente efetuado por um operário.” (GRAMSCI, 2008, p. 69 — nota de rodapé).
46
Evidencia-se, também, o processo de adaptação da arte de governar, com mecanismos de
controle através de elementos baseados na moralidade tradicional conservadora. A
finalidade da sociedade americana era
Assim, Gramsci expõe a função espiritualista dessas iniciativas como hipócritas, pois
elas matam o princípio puritano de espiritualidade: humanidade. Essa nova postura, para
ele, não foi forjada por Ford e Taylor, mas podemos verificar sua evolução desde o nascer
do próprio industrialismo:
Para Gramsci, as iniciativas puritanas devem ser mantidas em foco para preservar a
integridade muscular e nervosa do trabalhador e, para isso, a manutenção no que diz
respeito à sua moralização. Ao controlar elementos nocivos à saúde do trabalhador, como
o álcool e suas consequências (devassidão e liberdade aos impulsos sexuais), ele direciona
sua energia e capacidade de consumo para os fins da produção.
Esse controle exercido começa a formar uma consciência de autodisciplina 20 em
todo o grupo, classe ou população, de forma muito mais eficiente que a coerção e muito
mais segura para as novas necessidades de potencialização da produção de alienar os
trabalhadores de sua condição humana. A criação de um meio sociocultural é, neste caso,
fundamental, assim como o desenvolvimento da autodisciplina. Elementos contemplados
na conceituação de Foucault para a “governamentalidade”. No meu entender, é nesse
momento que a cultura norte americana sofre uma nova transformação, que pode ser
entendida como um Americanismo nos moldes Fordista, no qual a relação produção-
educação é potencializada também para produzir trabalhadores autodisciplinados, física
20
Lembrando a citação de Foucault acima, “A disciplina é um modo de individualização das
multiplicidades”.
47
e moralmente, porém nos moldes da disciplina fabril adestrada, mecanizada e alienada da
sua condição humana e com fortes traços de um moralismo conservador.
No ideal Deweyano, a educação em massa estadunidense foi uma formatação do
pensar que deu identidade e liberdade na constituição de cidadãos. Porém, esse fato foi
sutilmente modificado para a formação profissional, deixando de lado alguns aspectos da
formação cidadã, como o citado humanismo (que dá lugar ao individualismo competitivo)
e o espiritualismo (que dá lugar a uma moralidade utilitarista), principalmente após a
potencialização dos meios de produção através do sistema taylorista/fordista. Tal
mudança, que retira a humanidade e a espiritualidade da formação humana em prol de
uma formação puramente técnica, foi absolvida e aceita pela população sem muita
resistência. Mas isso se deu, talvez, por facilitar as ações, aumentando o automatismo e
eliminando o desconforto da tomada de decisão, trazendo segurança individual, sem risco
de erros no processamento de escolhas sobre o que fazer para viver e dando acesso a
elementos que facilitavam a vida diária — consumismo. Os que não se adaptaram a este
novo modus vivente eram vozes isoladas que acabaram ecoando em setores artísticos e
intelectuais, mas afastados dos meios populares. Para Foucault, essas ações discordantes
fazem parte do meio capitalista e dos mecanismos de segurança que acabam por assimilar
a crítica, fazendo dela uma válvula de segurança que dá vazão aos desejos — mas
controladamente, para não afetar a produção.
Os avanços tecnológicos proporcionaram a criação e a ampliação do acesso aos
meios de comunicação, como o rádio e o cinema, que continuaram aumentando com o
passar dos anos. Na primeira metade do século XX descobre-se um eficiente instrumento
no controle do ideário popular. Um novo fator no controle e manutenção de um modus
vivendi próprio do Americanismo, usado na divulgação de produtos e serviços do
mercado econômico, torna-se muito mais eficiente e de baixo custo: o aparato tecnológico
de comunicação. Dewey cita esse aparato quando visita a URSS, na década de 1930, e
relata que não entendia de onde tiravam os fatos apresentados na propaganda
anticomunista nos rádios, pois o que ele verificou lá era muito diferente do que havia
escutado nas propagandas governamentais norte-americanas. (DEWEY, 2016). Se
olharmos essa “mentira” sobre o sistema comunista pela ótica foucaultiana, podemos
inferir que a propaganda anticomunista tinha a função de exercer controle e direcionar
individualidades com os argumentos de ameaça à soberania e à liberdade dos Estados
Unidos. Isso traz elementos de auto disciplina e coesão para a sociedade e,
consequentemente, controle e direcionamento para seus líderes, sendo mais um elemento
48
poderoso na criação de um meio propício à produção e ao consumo, visto que
propagandeava-se o sistema norte-americano da plena produção para acesso de todos:
O controle do acesso a bens culturais produzidos por toda a sociedade passa a ser
um balizador no status quo — podendo, também, revelar seu lugar na hierarquia social.
Desse modo, um mecanismo é necessário para não expor essas diferenças e os desejos
devem ser controlados. É na escolarização em massa que esse mecanismo é inculcado na
cultura social. Aqui entra a importância do conceito de meritocracia no aspecto
psicológico de dominação, como justificativa de hierarquização de uma estrutura de
justiça social, classificando os alunos por méritos e capacidades escolares, e
responsabilizando o indivíduo por seu próprio fracasso. Para Carnnoy, confiar a educação
à alocação de papeis sociais é hierarquizar as relações escolares entre pares, ou seja, filtrar
e valorizar crianças com atitudes burguesas. Outra forma de superação do dilema da
expansão de escolaridade a todas as classes foi criando um sistema educacional “dual”,
com escolas preparatórias às carreiras universitárias para um seleto grupo e escolas
técnico-vocacionais para a maioria. (CARNNOY, 1974). Exemplos disso são percebidos
no modelo francês, ainda atual, e no brasileiro até a década de 1970, quando deixa de
existir legalmente e passa a vigorar veladamente com sistemas público e particular de
ensino.
As distinções de classe no mundo são determinadas pelas relações sociais — teias
de significação. A escolarização em massa, no seu primeiro estágio, buscou equalizar as
diferenças e dar uma unidade de cidadania que fosse comum a uma diversidade de sujeitos
originários das mais diferentes culturas (teias de significação). No segundo estágio, torna-
se fundamental a consolidação da nova estrutura burguesa e o reforço de manutenção da
hegemonia, de modo que justificativas internalizadas como natural da diferença de classes
e de grupos sociais, como a questão étnica, não se sustentam como antes — mesmo
porque são consideradas ultrapassadas para o mundo iluminado.
A teoria da meritocracia ganha importância nesse momento e é a filosofia que
passa a ser inculcada no senso comum. A meritocracia sempre fez parte da atividade de
49
escolarização, idealizada como forma justa, mas desvirtuada para a manutenção de
estruturas de classe, ao se basear em critérios morais de julgar o mérito; ou seja, quem
detinha mérito era aquele mais ajustado ao sistema capitalista de produção. Para Gramsci,
a distinção entre trabalhador intelectual e trabalhador braçal não está no “critério
intrínseco às atividades intelectuais,” mas “no conjunto do sistema de relações no qual
estas atividades se encontram, no conjunto geral das relações sociais.” (GRAMSCI, 1979,
pp 6-7).
A determinação de um intelectual na sociedade se faz pela direção de sua atividade
profissional e a capacidade intelectual é inerente a cada ser humano. Na relação do
trabalho, os dirigentes usam a capacidade intelectual e o operário “terá que se abster de
usá-la”, sendo obediente à direção dada. Fora do trabalho, ele exercerá livremente sua
intelectualidade:
O problema da criação de uma nova camada intelectual, portanto, consiste em
elaborar criticamente a atividade intelectual que existe em cada um em
determinado grau de desenvolvimento, modificando sua relação com o esforço
muscular-nervoso no sentido de um novo equilíbrio e conseguindo-se que o
próprio esforço muscular-nervoso, enquanto elemento de uma atividade
prática geral, que inova continuamente o mundo físico e social, torne-se o
fundamento de uma nova e integral concepção de mundo. (GRAMSCI, 1979,
p. 8)
É este o dilema da escolarização e da elevação cultural das massas. Sem a devida atenção
aos critérios racionalizados de seleção meritocrática, seja de forma intencional ou não, a
escola desvirtua sua função organizadora. Sem o devido cuidado, os critérios de méritos
ligados a fatores de moral tradicional sobrepõem-se aos critérios de fatores intelectuais,
favorecendo a reprodução de estruturas de classes preexistentes, forma reprodutora de um
sistema de valores sociais já existentes e hegemônicos. De equalizadora e locus de
inserção social, a escola passa a ampliar sua função excludente e conformista.
Ao elevar o conhecimento das massas, aqueles que se destacam e não veem suas
oportunidades aparecerem denunciam as falhas do sistema, fazendo coro aos que resistem
ao processo de escolarização/aculturação, ou ressignificação cultural. Gramsci já
apontava o papel social da escola na formação de intelectuais desde o mundo medieval:
dentre eles, os teóricos do Iluminismo que transformaram a hegemonia aristocrática. Com
a massificação, a necessidade do controle da educação torna-se cada vez maior. A escola,
nos planos supraestruturais, locus da formação social, é que garantirá a hegemonia do
grupo dominante sobre toda a sociedade, reproduzindo sua ideologia e repelindo
inconformados — se não pelo consenso espontâneo, será pelo disciplinamento dos
50
resistentes, através do aspecto psicológico de auto responsabilização pelo fracasso e, por
fim, usando a questão legal. A meritocracia, desta forma, mantém elementos da educação
clássica e aristocrática, e deve ser internalizada como princípio de legitimação
espontânea, além de cumprir seu propósito de justificativa para as desigualdades de
classe, velando-se os privilégios de acesso aos conhecimentos herdados, que a origem de
classe garantirá aos seus descendentes.
Para melhorar o controle sobre as massas que passam a reivindicar a
escolarização, era necessário a abolição da escola clássica erudita. Isso aumentaria a
ruptura com a velha ordem, minimizando os impactos das visões de desigualdade que
emergiam, dando a ideia de “projeto em implantação”, e serviu de prerrogativa para uma
resposta à crítica de escola aristocrática e para a valorização da meritocracia, pois uma
escola igualitária para todos é uma escola democrática e justa, onde os mais capazes
intelectualmente dirigirão a sociedade21. Inicialmente, esse modelo de escola foi
importante para possibilitar a mobilidade social, fato que ocorreu em maior intensidade
no princípio, reforçando a instituição escolar como necessária em camadas populacionais
que resistiam em frequentá-la. Com sua consolidação social e saturação de cidadãos
escolarizados, emergiram outros aspectos sociais que influenciam no sucesso ou no
fracasso da mobilidade social:
21
Um exemplo desse processo foi a já citada promulgação da primeira LDB — Lei de Diretrizes e Bases
da educação Brasileira; Lei 4.024 em 1961 —, que começou com os debates sociais e políticos em 1948,
levando 13 anos para ser concluída, devido ao conservadorismo de se manter o aspecto formativo humano
clássico da educação básica.
51
na inteligência ou no desempenho escolar. Carnnoy, com base nos trabalhos de Bowles e
Gintis22, afirma que a origem social de humanos adultos é bem mais determinante que as
diferenças de QI entre essas pessoas; e que os testes objetivos têm sido utilizados, como
refinamento da teoria meritocrática, para legitimar hierarquias econômicas e de classe
social.
Outra questão levantada em relação à meritocracia enquanto equalizadora da
justiça social é apontada por Carnnoy. Há evidências de que aumentar o nível médio de
escolaridade mantém a estrutura de renda atual: em sociedades onde a renda per capita
está aumentando rapidamente, pelo crescimento da manufatura, verifica-se uma grande
mobilidade horizontal de áreas rurais para áreas urbanas e mobilidade vertical, de modo
que o descendente do agricultor é, agora, um trabalhador urbano não qualificado. “A
porcentagem de renda captada por diferentes grupos de classe de renda na sociedade
permanece sobre o mesmo (ou se torna mais desigual) ao longo do tempo, a menos que
sejam feitos esforços conscientes para redistribuir riqueza e renda.” (CARNNOY, 1974,
p. 09). Com isso, os efeitos psicológicos da escolaridade passam a ser importantes, pois
ela melhora a autoestima dos indivíduos: “Em um mundo em que saber ler e escrever é
uma "coisa boa", a auto-estima de uma pessoa pode ser maior simplesmente ao conhecer
essas habilidades simples. Os educadores enfatizaram esse aspecto da escolaridade por
muitos anos.” [sic] (CARNNOY, 1974, p. 10)
Carnnoy afirma que muitas crianças no mundo ocidentalizado são levadas à escola
para fracassar — e mesmo que aprendam a ler e a escrever, um fracasso inicial não supera
os efeitos positivos da alfabetização. Também importantes na questão da autoestima e
que influenciam no sucesso da escolarização estão os investimentos pecuniários.
Carnnoy, referenciado nos trabalhos de Illich, afirma que a estrutura familiar caracteriza
qual escolaridade os descendentes receberão. A objetividade como régua equalizadora na
medição do desempenho escolar ignora uma série de fatores fora da escola, que
influenciam o sucesso escolar, como nutrição e cuidados de saúde em casa; reforço dos
pais no trabalho escolar; expectativas dos pais para a criança e a capacidade da família de
se sustentar para manter as crianças na escola, em vez de gerar renda. As famílias devem
22
Segundo esses autores “Enquanto o status econômico tende a se parecer muito com o dos pais, apenas
uma pequena parte dessa associação pode ser atribuída a diferenças de classe social nos recursos genéticos
— mesmo aceitando as estimativas de hereditariedade de Jensen. Assim, uma perfeita equalização do QI
entre as classes sociais reduziria a transmissão intergeracional do status econômico por uma quantia
insignificante.” (BOWLES & GINTIS, apud CARNNOY, 1974, pág 332).
52
contribuir para uniformes, livros, transportes e, em muitos países, ensino privado. O que
pode influenciar no desempenho do aluno e até na sua exclusão. (CARNNOY, 1974)
Em grande parte, crianças pobres geralmente vão mal na escola e são marcadas
no início da vida, simplesmente porque não conseguiram ter sucesso nessas provas e nas
atividades escolares. Por meio da escolaridade e de outras instituições, o autoconceito
desses desistentes formam a autoimagem da incompetência e da ignorância. O que fica é
que a escolarização em massa, na prática, mais que equidade social, dá uma autoimagem
maior para aqueles que já possuem status quando entram na escola reduzindo a
autoimagem daqueles originários de famílias pobres quando expõe e valoriza essa
diferença de status no aprendizado. A escola normatiza o capaz e o incapaz na
introspecção de conteúdos culturais, determinados por ela como normais.
A escolaridade vendida como campo de ampliação de oportunidades é muito
eficiente nesse modelo de desenvolvimento, pois ajuda a preservar a estabilidade no
sistema, agindo de forma subliminar na conformação desse grupo que acredita que eles
não têm direito aos frutos produzidos por todos, uma vez que não são dignos de participar
tão plenamente no processo de desenvolvimento como aqueles com escolaridade.
(CARNNOY, 1974). Carnnoy expõe a questão psicológica da escolarização — e que nos
é cara nesta tese: é a serviço de quem a escolarização está:
23
“Illich argues that the net effects of schooling, adults are cast into roles by the amount of schooling they
have rather than their willingness or potential capability to perform tasks (since this capability is not allowed
to develop), and the society becomes oriented toward formalized expertise: the more schooling one has, the
more his or her opinion is worth, often regardless of the person’s good sense, humaneness, or other factors
which may be considerably more important than the skills learned in school. As a result, Illich claims, the
technology of today’s industrial societies has little to do with people’s needs, but serves the needs of
experts; technology and knowledge are mystified by experts through technical jargon. This keeps the mass
of people from understanding relationship in the society and separates them from technology and its
control.”
53
Questionamentos ao sistema meritocrático começaram a ganhar corpo na segunda
metade do século XX, por meio de pesquisas na área da sociologia escolar. Ficou explícita
a questão cultural, evidenciando o currículo escolar na base de determinação do fracasso
ou sucesso dos alunos, conforme a classe social/cultural a que pertencem. Essa
constatação gerou novo ponto para crise e reivindicações de escolas que cumpriam os
princípios de inserção e equidade social. A meritocracia, da forma que foi implementada,
sofria abalos conceituais. Era necessário a ressignificação dessas teorias para a
manutenção do papel reprodutor da escola como forma de garantir a hegemonia de grupo.
Como forma de ressignificação cultural, inaugurando novo capítulo da
“Revolução Passiva Burguesa”, surge a teoria educacional tecnicista ou Pedagogia
Tecnicista. A escola assume uma função de formar trabalhadores, ficando reduzida a
serventia do mercado econômico (ARAPIRACA, 1982). É o momento em que a escola
passa a ser vista apenas sob o viés técnico, abrindo mão de formar cidadãos. Desse modo,
princípios de administração empresarial são incorporados e a moral tradicional é
substituída pela moral empresarial.
A Pedagogia Tecnicista (teoria educacional a ser implementada) deveria garantir
a reprodução do modelo estrutural capitalista, combater a ideologia Soviética
(Comunismo)24 e eliminar os efeitos colaterais da educação. O modelo de formação
idealizado era o de um intelectual que fosse capaz de se adequar ao sistema de produção
em constante mutação, dados os avanços tecnológicos. Essa formação deveria, também,
inculcar princípios da competição e do individualismo, próprios do mercado capitalista.
Isso evitaria a formação de consciência de classe, formando técnicos com postura política
individualizada, pois o conhecimento é colocado como produto a ser vendido.
A meritocracia toma forma da moral empresarial, conforme os interesses
individuais, ambição pessoal e de liberdade individual, ficando a cargo do indivíduo
capitalizar-se de conhecimento para ter mais valor no mercado, aumentando a
competitividade — logo, o lucro. Aqueles que não o fazem, não merecem os benefícios
da produção. A forma de equalização social, colocada na educação universal, começa a
ser racionalizada para a criação de necessidades da formação para produção e consumo,
24
Ironicamente, um dos livros base na determinação de qual modelo de educação seria desenvolvido no
Brasil pela USAID, nas décadas de 1960-1970, optou pela visão do movimento empresarialista nos EUA.
Conforme seus principais pensadores — Clark Kerr, John Dunlop, Frederick H. Harbinson e Charles A.
Mayers — o melhor modelo de educação seria o empregado na China e União Soviética, países
considerados modelo comunista a ser combatido. Para mais informações ver Industrialism and Industrial
Man, traduzido no Brasil como Industrialismo e Sociedade Industrial, de autoria dos quatro pesquisadores
citados. (editora Fundo de Cultura, 1960) Retomaremos esse ponto em mais à frente.
54
reforçando a ideia que a educação é mercadoria25. “O enfraquecimento da escola pública,
paralelo ao crescimento do sistema privado, deu-se ao mesmo tempo em que a
socialização deslocou-se da escola para a mídia, a publicidade e o consumo.”
(MÉZÀROS, 2005, p. 16). Sendo assim, a mídia televisiva é uma possibilidade de
educação e de controle na produção de desejos e, também, na formação de uma
“intelectualidade” com leituras de mundo prontas, capazes de auxiliar no processo
educativo e, principalmente, proporcionar um lazer controlado e individualizado26. “O
negócio se organiza como uma grande máquina capitalista, que utiliza os processos
tecnológicos mais avançados, voltada para a produção da mercadoria entretenimento, que
consumida, dá suporte aos anúncios das grandes empresas.” (MELLO & NOVAIS, 1998,
p. 638). Desse modo, além de dar a falsa sensação de pertencimento de grupo,
paralelamente à escola, a mídia disputa espaço na formação de consciências, fazendo com
que professores sejam confrontados com informações de programas televisivos: “Mas,
professor, passou no Fantástico27!”, o que mostra como os aparatos tecnológicos
conferem o status ao cidadão, como moderno e atualizado.
Paralelo à implantação da pedagogia tecnicista, criou-se uma indústria cultural
televisiva, fonográfica e editorial, consumida pela nova classe média: Way of life
americano para o mundo. Além de entretenimento, a mídia favoreceu a
institucionalização de intelectuais e artistas. O intelectual libertário, militante, engajado,
altruísta, atormentado com sua condição privilegiada numa sociedade subdesenvolvida,
vai cedendo lugar ao intelectual profissional, resignado e passivo, que observa o mundo,
mas não o contradiz, apenas se adapta a sua condição de intelectual acadêmico,
preocupado com sua carreira profissional (RIDENTI, 2012).
A educação nos moldes da Pedagogia Tecnicista criou um espaço educacional
individualizado e os docentes em meros técnicos a facilitarem o entendimento de
conteúdos prontos, além de terem que fazer o papel coercitivo de conformação das
consciências desajustadas. A educação (principalmente a pública) passa a ter a função de
25
Mesmo após à promulgação da Lei LDB -4.024/1961, o Brasil ainda continuou a ter uma educação básica
dualista, por resistência de setores conservadores da sociedade brasileira. Em 1971, a promulgação da lei
5.692, de reforma da educação básica no Brasil pôs fim a esse dualismo, universalizando a educação básica
numa única forma — Formação vocacional no 1º Grau e técnica no 2º Grau. Após essa lei, houve a
expansão da rede pública e também da privada e, por “melindres” legais, o dualismo passou a ser velado.
Para mais informações ver BITTENCOURT, N. F. Americanismo e educação para o trabalho no brasil:
um estudo sobre os ginásios polivalentes (1971-1974) — dissertação de mestrado. Disponível em
http://www.posgraduacao.cefetmg.br/cefet-mg-ppget/index.php/pt/dissertacoes Capítulo 2; 2013.
26
Ver teoria do “seguidismo” de Finney, no próximo capítulo.
27
“Fantástico” é um tradicional programa de TV aberta no Brasil.
55
conformação com a situação de reprodução de um sistema social acabado. O mérito do
não acesso aos bens culturais valorizados encontra-se no aluno, por ele fazer más escolhas
— como se realmente tivesse opção. As inconformidades que surgem são resinificadas
ou demonizadas28. Com a disseminação do aparato midiático, trocou-se as armas pelos
“jingles” e telejornais formadores de um senso comum “intelectualizado”, cheios de
frases de efeito e esvaziados de conhecimento imparcial (apenas a visão de mundo de
classe dominante), reforçando uma filosofia histórica e apaziguadora e transformando a
dominação em salvação. Toda expressão de libertação originariamente do povo é
capturada para ser útil às classes dominantes, que farão a releitura midiática daquela
realidade, ajustando ao que lhes favorece e demonizando as não conformidades numa
generalização de que o ato de libertação plena vai contra a ordem preestabelecida e deve
ser extirpado, por colocar em risco todo o progresso conquistado. A racionalidade do
lucro tem por ordem eliminar a concorrência e os problemas sociais de não produtividade.
Com o avanço tecnológico e midiático (redes sociais), esse quadro se acentua nos dias
atuais.
Uma característica central da sociedade em rede é a transformação da área da
comunicação, incluindo os media. A comunicação constitui o espaço público,
ou seja, o espaço cognitivo em que as mentes das pessoas recebem informação
e formam os seus pontos de vista através do processamento de sinais da
sociedade no seu conjunto. Por outras palavras, enquanto a comunicação
interpessoal é uma relação privada, formada pelos actores da interacção, os
sistemas de comunicação mediáticos criam os relacionamentos entre
instituições e organizações da sociedade e as pessoas no seu conjunto, não
enquanto indivíduos, mas como receptores colectivos de informação, mesmo
quando a informação final é processada por cada indivíduo de acordo com as
suas próprias características pessoais. É por isso que a estrutura e a dinâmica
da comunicação social é essencial na formação da consciência e da opinião, e
a base do processo de decisão política. (CASTELLS, 2004, p. 23)
28
A rotulação de grupos dissidentes tornou-se arma de controle e coerção social, com a intensificação do
mecanismo de patrulhamento ideológico. Por exemplo: o rótulo de “comunista” como símbolo do atraso e
selvageria e, mais atualmente (2013), os “Black Blocks”.
56
concepção de Estado e do direito, em virtude de terem eles completado a sua
missão de terem sidos absolvidos pela sociedade civil. (CASTELLS, 2004, p
147)
No fim, somos todos alienados de nossa condição humana, tendo virado peças da estrutura
social moderna, com muita habilidade e pouca sabedoria. Como no romance Fahrenheit
451, de Ray Bradbury (1953), o conhecimento se torna cada vez mais perigoso e os livros,
inimigos da harmonia social da modernidade.
Foucault (2008) afirma que o controle do espaço aparece mesmo antes do espaço. Foi
assim no início do processo de massificação da educação no período republicano29. Ao
29
Ver formação do homem cosmopolita no próximo capítulo.
57
planejar a disposição de uma urbanidade, a questão física espacial não foi levada em
conta, mas o meio que se queria criar. Como já citado acima, se antes do Iluminismo se
pensava a povoação em relação aos meios de subsistência — vivia-se perto dos rios por
causa da água; das matas por causa da caça; nas montanhas para dificultar o ataque de
inimigos —, na modernidade os espaços urbanos são pensados para crescer e a circulação
é a base racional. Assim, não só a circulação física das coisas, mas também a circulação
de ideias e seus efeitos. A quantificação estatística das circulações físicas e de ideias cria
os indicadores que serão usados para diagnosticar e domesticar o meio. A soberania,
muito mais que uma questão espacial, passa a ser uma questão de controle do que circula
em meio às massas. Controle este que potencializa a segurança muito além de guardar
territórios ou espaços físicos.
A criação da Escola Superior de Guerra (ESG) em 1949 é, a meu ver, onde se
inicia a ressignificação da política de proteção de fronteira, controle de pessoas e
mercadorias no Brasil. Pois é importante no mundo moderno, nesse momento, o controle
da forma de circulação de ideias e pessoas e liberdade de circulação de mercadorias e
capital. Assim criou-se a Doutrina de Segurança Nacional, ampliando o controle interno
para além do controle das fronteiras. (BORGES, 2012, pp. 20-21). Os mecanismos de
ação para modernização do Brasil são ampliados e adaptados, mantendo o controle da
população, além de servir para quebrar a resistência de alguns setores das oligarquias
tradicionais conservadoras que insistiam na estrutura social patrimonialista. Era preciso
um elemento motivador para se fazer uma intervenção silenciosa e consentida no sistema
econômico e social brasileiro (abaixo falaremos sobre este elemento), uma vez que, ainda
em 1961, com a promulgação da primeira LDB, ficou claro que a elite brasileira estava
profundamente desatualizada da nova ordem de dominação e gerava riscos com a
manutenção de um conservadorismo oligárquico de uma estrutura escolar dualista.
Os movimentos de emancipação popular cresciam e, com eles, o desejo de uma
sociedade igualitária e a exigência de reformas de base. A utilização da mesma tática de
propaganda (criticada por Dewey quando foi usada nos EUA, na década de 1930) era
aplicada no Brasil nas décadas de 1950-1960, extirpando os dissidentes sob o julgo de
“comunismo”, e dando unidade de povo, agora em sua maioria urbana, ao mesmo tempo
que formatando as mentes aos interesses expansionistas de mercado. Para solidificação
hegemônica, após cooptação da elite, o passo a seguir era a expansão da escolarização,
para a conversão das massas.
58
Para Arapiraca (1982), no período de expansionismo mundial o capitalismo
começa a perceber que o uso abusivo do poder de polícia estava obtendo um efeito
iatrogênico. A Revolução Cubana30, em 1959, foi a prova cabal dessa situação e
desencadeia outra ação, por meio do programa de ajuda humanitária dos EUA para a
América Latina, denominado Aliança Para o Progresso. Assim, o próprio governo
estadunidense estabeleceu um programa de ajuda humanitária para países do 3º mundo e,
juntamente com o Banco Interamericano de Desenvolvimento e o Fundo Monetário
Internacional, financiou a expansão da educação básica nestes países. Partindo da
Revolução Passiva Burguesa, “criou-se a antirrevolução de 1964”:
Assim, Vianna caracteriza o Brasil como o lugar por excelência da Revolução Passiva,
onde a modernização se segue atrelada ao conservadorismo, de modo que os movimentos
de revolução no Brasil (Independência; 1930; 1964) só existiram na intenção de evitá-la.
É uma ação reacionária de conservação, não de mudança (VIANNA, 1997).
No caso da ação de extensão da escolarização, reverteu as pressões populares pela
igualdade de oportunidade com a equiparação dos currículos de formação básica, mas
retirou o viés de formação humana (desejado pela população) valorizando a formação
técnica (preterida pela população). Isso transformou reinvindicação — ponto em ebulição
e possibilidade de fomentar revoluções populares — em ação de contenção de desejos e
ampliação da cultura hegemônica da produção e do consumo. Ou seja, na educação
brasileira, as ações decorrentes do Programa Aliança para o Progresso tiveram dois
objetivos básicos: uma política de reversão de expectativas, ao mesmo tempo que um
sistema de controle e segurança para as elites (WARDE, 1979).
A Aliança para o Progresso foi a alternativa para a manutenção da hegemonia em
países periféricos, por meio da educação ofertada, na busca de novos parceiros, fazendo
com que os pactos com burguesias nativas se tornassem favoráveis. O processo educativo,
30
Que depôs do ditador Fulgêncio Batista, assumindo o revolucionário Fidel Castro que alinhou Cuba
politicamente ao eixo Soviético
59
nesse caso, necessita de intervenções em outros processos estruturados, pois ele se dá
como “totalidade em interação, numa dança transacional de inter-relações de vários
sistemas que, em se estruturando em novas totalidades, se desestruturam em outras inter-
relações, tornando a se reestruturarem ad infinitum.” (ARAPIRACA, 1982, p. 170). A
Educação (em massa) como instrumento de construção de identidades, aliada a um
aparato de campanhas, movimentos, etc., torna-se a nova arma na construção e expansão
imperialista. Nesse processo há um discurso simulado de democracia e modernização
com igualdade de oportunidades educacionais, no qual a ascensão social depende do
desempenho individual — além da potencialização do processo de produção.
Para Kuenzer (1998, p. 5), a estrutura que se implanta tem por finalidade articular
a educação ao processo de trabalho capitalista nas especificidades dos processos de
produção, disciplinando a vida social e produtiva. Para ela, o processo pedagógico se
utiliza de duas estratégias básicas:
• a dualidade estrutural, a partir da qual se definem tipos diferentes de escola,
segundo a origem de classe e o papel destinado aos discentes, na divisão social e
técnica e trabalho;
• a fragmentação curricular, que divide o conhecimento em áreas e disciplinas
trabalhadas de forma isoladas, passando a serem tratadas como se fossem
autônomas entre si e da prática social concreta, a partir da pretensa divisão da
consciência sobre a ação e do que a teoria se supõe separada da prática. A
expressão dessa fragmentação é a grade curricular, que distribui as diferentes
disciplinas com suas cargas horárias por séries e turmas de forma aleatória,
supondo que a unidade rompida se recupere como consequência “natural” das
práticas curriculares, ficando por conta do aluno a reconstituição das relações que
se estabelecem entre os diversos conteúdos disciplinares (KUENZER, 1998, p. 7-
8).
Tanto a dualidade estrutural quando a fragmentação curricular leva o sujeito escolar a
uma sublimação do todo como algo sobrenatural e incomum. Escolas de elite ou de
trabalhador tem o mito de serem mais ou menos exigentes, quando, na verdade, a
aproximação ao contexto real (realidade) é que determina dominantes e dominados. É
comum, em escolas de elite, a submissão dos professores aos alunos quanto à capacidade
de decidir. Já em escolas populares, a decisão cabe ao professor, mesmo que ele opte por
fazer uma abordagem mais problematizadora.
60
A fragmentação curricular confirma o sobrenatural do conhecimento, uma vez que
é difícil encontrar alunos bons em todas as diversas áreas. Estabelece uma dicotomia para
as capacidades em ser “bom em português ou em matemática”, fragmentando, assim, a
capacidade cognitiva de conhecer o todo, dando a quem tem domínio das técnicas e meios
de produção (classes dominantes) um verniz de seres do Olimpo. Esse fato só reforça a
teoria de incapacidade de domínio do todo.
Além disso, a implantação de uma finalidade de resposta crítica aos problemas do
meio é controlada para solucionar os problemas do meio produtivo. O processo avaliativo
da capacidade de resposta rápida tem que ser vinculado ao processo produtivo, sem
questionar a funcionalidade do todo (mítico). Na seleção dos melhores entra a avaliação
dos que têm características internalizadas de dar respostas às questões que se mantêm
dentro do grupo, fragmentado de todo o processo. Eles são pessoas que internalizaram o
mito de que o todo só é compreensível por competências muito superiores às suas, mas
para se chegar a compreensão do todo é suficiente apenas acompanhar esse
comportamento, internalizando-o nas ações no grupo. Um sujeito que não está
sobrenatural, mas em formação de ser mítico. Um Dionísio do Olimpo produtivo.
61
se renova a cada geração e, percebe-se recentemente, mesmo dentro de uma mesma
geração, diluindo as identidades e os hábitos, como se fossem parte de uma obsolescência
programada justamente para não se cristalizar. A educação profissional está estática,
prescrita em conteúdos técnicos e mecânicos para atuação em um posto de trabalho cujas
funções são pré-determinadas e o caráter vocacionado já não leva em conta um ethos —
isso, para senhores e empregados. É difícil ter consciência de classe em um ambiente de
disputa profissional; é difícil ser humanizado em uma reunião de acionistas. Todos
cumprem seus papeis preestabelecidos nas relações capitalistas modernas, nas quais o
único interesse real é a lucratividade. A educação passa a ter a função de conformação ao
sistema e aos seus postos de trabalho: “Uma das funções principais da educação formal
na nossa sociedade é produzir tanta conformidade ou “consenso” quanto for capaz, a
partir de dentro e por meio dos seus próprios limites institucionalizados e legalmente
sancionados.” (MÉZÀROS, 2005, p. 45).
A educação passa a ser um elemento que visa a formar um sujeito com capacidade
de resolver problemas específicos de reprodução e ampliação dos mecanismos de controle
social. Aqueles que se destacam vão para grandes centros ou são consumidos por suas
funções, que sugam suas ideias e desqualificam sua pessoa. Nesse sentido, a educação de
classes facilita a formação de determinismos sociais. No Brasil, o sistema privado de
ensino sempre tratou de formar as elites e de influenciar nos parâmetros da escola pública,
mantendo sua qualidade duvidosa (ou pelo menos propagandeando isso), e,
principalmente, mantendo esse setor sob um controle populacional. No sistema
capitalista, o aparelho escolar deve refletir uma educação diferenciadora e não-igualitária
— ser uma escola de classe. Isto se mostra claro no sistema escolar competitivo que tem
por função excluir aqueles que não se submetem à passividade requerida. No entanto, as
duas versões da escola de classes me parecem pura ilusão e alienação de desejos humanos
secretos que, se externados, não cabem neste sistema predeterminado.
Nesse processo, o discente virtuoso (que se adéqua à docilidade requerida)
internaliza elementos do processo produtivo em que o comportamento adequado pode ser
um elemento valioso na escalada social. Internaliza hábitos e capitaliza-se de uma cultura
empresarial que vem transvestida de crescimento pessoal, de modo que a sujeição ao
“sistema” é a base de crescimento. Ao investir no processo de autodisciplinamento, em
busca de capitalizar-se culturalmente, com bens que, em sua grande maioria, não se
encontram na escola regular, o sujeito se converte em um capitalista, mesmo sem ter
capital. Com isso, suas chances no mercado de trabalho aumentam, mas o objetivo é que
62
o lucro obtido pelos patrões seja potencializado pelo aumento substancial do capital
cultural de seus funcionários:
Por outro lado, a escola de patrões também necessita fazer com que seus discentes sigam
o mesmo caminho de internalização e capitalização da cultura empresarial. Para ser
patrão, também é necessário abrir mão de vontades e desejos que não cabem no sistema.
Assim sendo, temos que o sistema deve conformar os indivíduos de que estão no
lugar que lhes compete. O pensamento crítico pode ser considerado não conformação,
pois ele leva à resistência, e resistir às investidas de enquadramento vem a ser um risco
ao sistema. A não conformidade do discente que demonstra habilidades que não
interessam ao sistema produtivo gera problemas de convívio e de inadequação, o que,
consequentemente leva à exclusão. Ao fim, todos o considerarão o responsável pelo seu
fracasso (inclusive ele próprio), com a justificativa de que não se esforçou o suficiente.
A antropóloga Marília Gomes de Carvalho (1997) afirma que a expansão do
modus vinvendi capitalista nos trouxe a separação do mundo entre duas partes distintas e
não intercambiáveis: por um lado o mundo da instrumentalidade que tem, na lógica
ocidental moderna, capitalista e racional, suas características básicas, nas quais razão e
objetividade são princípios fundamentais. Esse mundo é organizado em sua base pelo
desenvolvimento tecnológico e os meios produtivos são mais avançados e eficientes, de
modo que o trabalho e a busca pelo sucesso econômico são prioridades para o ser humano.
Por outro lado, o mundo das identidades culturais, cujos objetivos são garantir a prática
de padrões culturais específicos, mas também mantendo a luta pela aceitação de suas
diferenças. Citando Alain Touraine, ela diz que esses dois mundos — Instrumentalidade
e Identidade — são contraditórios e entram em choque toda vez que há interposição de
interesses de um sobre o outro; e, nesse embate, a instrumentalidade tem avançado sobre
a identidade. O Planeta está virando uma única aldeia, as fronteiras horizontais estão
dando lugar às fronteiras verticais, onde a classe A de um país possui uma relação de
culturas e costumes com membros da classe A de outros países, mas não possui vínculos
e valores culturais com a classe B de seus respectivos países. (CARVALHO, 1997). Pode,
63
inclusive, considerá-los inferiores, de outra “casta” e, dependendo da diferença de classe,
de outra raça, biologicamente inferior e incapaz.
A expansão da educação brasileira, com a ampliação das unidades escolares e da
extensão da obrigatoriedade do tempo de escolarização de quatro para oito anos, contidas
na reforma promovida pela lei 5.692/1971, além de financiamento e aporte estadunidense,
está vinculada à criação dos Ginásios Polivalentes. Podemos identificar aspectos culturais
Americanistas que circulam e motivam essa intervenção simulada em ajuda humanitária.
Nos capítulos que se seguem veremos um histórico dos elementos constitutivos da cultura
norte-americana que dão formatação ao conceito Americanismo, além de uma descrição
do que foi o projeto dos Ginásios Polivalentes para, finalmente, identificar quais aspectos
do Americanismos estão inseridos no projeto dos Ginásios Polivalentes.
64
2 – O Americanismo e a educação.
Na filosofia social o termo americanismo foi cravado por Gramsci (2001), nas
décadas de 1920 e 30, para identificar o novo homem que estava sendo criado
pela simbiose americanismo-fordismo. Na mesma época de Gramsci, se
estendendo pelas décadas seguintes, principalmente no pós Segunda Guerra,
os frankfurtianos Max Horkheimer (1985), Herbert Marcuse (1982) e Theodor
Adorno (1985), juntos ou separados, também se dedicaram ao entendimento
da queda da Europa num estado de neobarbarismo e da afirmação do modus
vivendi compatível com o capitalismo tardio, nos EUA. (...) orientadas por
diferentes problemas e inspiradas em matrizes intelectuais muitas vezes rivais,
cada qual elaborou ou mobilizou diferentes repertórios conceituais. Cada qual
lançou luzes próprias sobre o fenômeno americano. Tocqueville associou
cultura e política para pensar na democracia; Weber associou religião e
economia para pensar no espírito do capitalismo; os frankfurtianos associaram
cultura e sociedade para pensar na indústria cultural e Gramsci associou
indústria e sociedade para identificar a emergência do novo homem.
(PEDROSA, 2011, p. 3-4)
65
com uma educação (tipo exportação) que só atende aos interesses do mercado, formando
o indivíduo como empresa, num laisse fair, como única maneira de viver. A educação,
aqui nessa tese, tem importância por formar consciências, transmitindo a herança cultural
de geração em geração. Hoje, esse processo de controle é internacionalizado e conhecido
como Globalização, tendo “modernizado” o mundo provocando mudanças em ideias,
autoridades, relações e instituições e encarnando diferentes teses culturais sobre a maneira
correta de viver e agir como um elemento na arte de governar.
Neste trabalho, que tem como tese principal apresentar aspectos do Americanismo
que estão contidos no projeto de reestruturação da educação básica brasileira,
especificamente na lei 5.692/1971 e na construção da rede de Ginásios Polivalentes, no
período das décadas de 1960-1970, é fundamental estabelecer uma categoria do
Americanismo antes da devida análise. Não pretendo apresentar um trabalho de fôlego
sobre o que é o Americanismo, mas sim estabelecer uma linha de raciocínio que me
permita trabalhar aspectos culturais que acredito terem feito parte do que ocorreu no
Brasil, no período da reforma educacional de 1971.
Assim, inicio com o subtítulo “Nos primórdios do Americanismo”, buscando
estabelecer as bases da educação americanista e tomando como referência o trabalho do
Polonês Thomaz Popkwitz, quando professor na University of Wisconsin-Madison, nos
Estados Unidos. Neste subcapítulo busquei reconstituir elementos importantes da história
estadunidense nos preparativos motivadores das reformas educacionais nos séculos XIX
e XX. No segundo subtítulo (“As reformas educacionais na virada do Século XX”)
procuro delinear como ocorreu uma série de mudanças e definições sobre os rumos da
educação moderna e seus pressupostos que justificam sua expansão mundo afora. Nesse
período, a construção da nova educação nos EUA era um movimento interno
hegemonicamente, e influenciado por circulação de modelos de outros países. Mais à
frente, veremos exemplos dessa influência na internacionalização do Teacher College —
New York, USA, este com influência ativa por meio do acesso de estudantes estrangeiros
que aprendiam sobre a educação norte-americana e acabavam por deixar suas impressões
de origem — a meu ver, o princípio da expansão mundial. Nesse subtítulo vamos utilizar
a obra de Anísio Teixeira Aspectos Americanos da Educação, que foi o relatório de
viagem apresentado pelo autor, do período em que estudou no Teacher College, na década
de 1920. Usaremos, também, o Dossiê Tópicos de História da Educação nos Estados
Unidos (entre os séculos XIX e XX), de organização da Professora Mirian Jorge Warde,
no periódico Cadernos de História da Educação (v.15, n.1, jan.-abr. 2016). Somada à obra
66
de Teixeira, a publicação desse periódico enriqueceu e facilitou muito a pesquisa,
constituindo-se como em peça importante deste capítulo. Por fim, a expansão
Americanista na segunda metade do século XX, que sobrepõe educação como expansão
do mercado consumidor e de influência econômica, interna e externamente. O livro
Education as Cultural Imperialism de Martin Carnnoy, obra que não possui tradução para
a língua portuguesa, buscamos destacar as formas que o colonialismo e o imperialismo
se deram no mundo e a relação desses com a educação. A intenção é verificar o modelo
de expansão do Americanismo, como expansão de um imperialismo. Ao final, abordamos
parte do discurso de posse do presidente norte-americano Harry Truman (1945-1953) em
janeiro de 1949. Esse discurso significou a clara intenção dos EUA em expandir sua
influência por toda o continente Americano. A expressão que resume esta intenção é A
América para os Americanos. O objetivo de toda essa explanação é apresentar a base de
constituição do que se chama educação para as consciências corporativistas, que tem
transformado o mundo em uma prisão por meio da formação de consciências.
Entendo que o processo de mundialização do capital — consequentemente da
formação para o capital — não é exclusivamente obra estadunidense, mas sua influência
é inquestionável. Assim como as mudanças que ocorrem internamente, não há o
estabelecimento de marcos representando estágios, sendo um jogo de poder no sentido
geopolítico. Esta análise irá focar em indícios que possam demonstrar esse jogo de força
constante. No referencial foucaultiano, inclusive, deve-se abandonar os universais e
buscar as relações biopolíticas que deram origem a eles. No meu entender, existe uma
“guerra silenciosa” nos EUA e sua história apresenta indícios de que ela ainda não
terminou, apesar de ter se expandido pelo mundo. Tal guerra é própria do mundo
capitalista — nas palavras de Gramsci: uma “Guerra de Posição”.
O Americanismo é um termo visto como tese cultural sobre os modos de vida, que
determina como os indivíduos devem refletir e participar da sociedade, além de
incorporarem normas e valores de um pensamento coletivo em que a individualidade, a
sociedade e a nação são interpretadas. Pedrosa (2011, p. 4) refere-se à noção de
americanismo articulando dois sentidos: i) a afirmação dos EUA no cenário internacional
em um período crítico para a Europa “como uma virada civilizatória ou como o início de
67
um novo ciclo civilizatório”; ii) o ato de admiração pelos EUA (sua condição geográfica,
econômica, política e social), que nomina-se a noção de Americanismo. Segundo ele, ao
final do século XIX já havia referências ao termo Americanismo: “Quem usou pela
primeira vez o termo americanismo para referir-se ao ethos ou ao caráter estadunidense
foi o Vaticano. (...) Na linguagem da Igreja Católica o termo designava o modo particular
de existência do catolicismo dos EUA (PEDROSA, 2011, p. 3).
Mirian Jorge Warde, em seu artigo “Americanismo e Educação: um ensaio no
espelho” (2000, p. 43), retrata o americanismo como mudanças do modo de “ser e viver,
e como tal é processo de configuração subjetiva. Aí está um elemento fundamental sobre
o qual o projeto se encaminha: o americanismo como processo educacional, ao mesmo
tempo que fez da educação o seu apanágio”, citando Gramsci. Segundo Thomaz
Popkewitz (2008), a formação da nação norte-americana faz do processo de escolarização
seu principal instrumento de ação na coesão daquele povo formado por imigrantes de
diversas partes da Europa, em sua maioria.
Para ele, os projetos de educação na América do Norte trazem à luz uma proposta
particular de emancipação para o progresso, por meio do Iluminismo e da Reforma
(Puritanismo). Essa fórmula incorpora os temas da salvação, acompanhando as tendências
de alguns países da Europa. O que se objetivava era a formação do futuro cidadão
cosmopolita, de modo que o uso da razão e da racionalidade produzirão liberdade e
progresso. Os fundadores das repúblicas americana e francesa, por exemplo, valorizaram
a educação para inscrever princípios cosmopolitas, a fim de produzir o cidadão cuja
participação era necessária para o governo republicano. A nação incorporou qualidades
particulares, associadas às ideais iluministas, o que ficou conhecido como
Excepcionalismo Americano. No início, os temas Puritanos de salvação imperaram nos
discursos como o povo eleito, cuja iluminação de visão colocou a nação e seus cidadãos
como uma única experiência humana para mover a civilização para os mais altos ideais
de humano, de valores e de progresso. A nação foi descrita como o Novo Mundo ou a
Nova Jerusalém, de modo que o tema religioso foi carregado no sentido de destino
manifesto, que deu justificativa para a expansão territorial em direção ao Oceano Pacífico,
articulando temas anteriormente cristãos em uma visão de superação com o passado
europeu medieval. Citando Wood, Popkewitz diz que o estabelecimento de colônias era
“a abertura de uma grande cena e plano da Providência Divina para a iluminação dos
68
ignorantes, e a emancipação da parte escravizada da humanidade sobre toda a terra.” 31
(POPKEWITZ, 2008, p. 304).
A formação das bases para um governo Republicano deveria seguir-se com a
criação do cidadão livre, ligado aos sistemas de administração social. A ciência era vista
como uma forma de organizar a vida diária e não como uma forma de estudar o mundo
natural. Essa visão da ciência como um conjunto de princípios para viver, no entanto, não
era apenas sobre tomadas de decisão racional e caminhos para a solução de problemas. A
racionalidade de ordenar o "pensamento" incorporou novos valores e normas que
constituem a ideia sublime que se pode pensar e agir na vida cotidiana (POPKEWITZ,
2008). A ciência não tem lugar apenas no laboratório ou nas academias, mas também faz
parte da vida diária e da ação de leigos na busca de solução para seus problemas. É o
método, a racionalização e a ação do ser humano sobre a natureza, para transformá-la em
solução e virtude de Deus.
A partir do final do século XIX, as teorias sobre a infância e o ensino transcreviam
a esperança Iluminista sobre a formação humana, tendo a razão e a racionalidade como
princípios para organizar a vida diária. As novas ciências da criança forneceram
estratégias específicas e concretas por meio das quais se possa prever e administrar o que
ela era e o que deveria ser. Quem não se adequasse ficava à margem desse espaço
iluminado do futuro cidadão. Assim, instalou-se um comparativo de razão: o currículo e
o ensino, por exemplo, diferenciavam a criança cosmopolita civilizada em comparação
àqueles que não incorporam as características aparentemente necessárias32. O novo plano
social não foi pensado sobre o cuidar do indivíduo. A visão mundial (ocidental,
principalmente) anterior — de providência divina e status social herdado — foi
substituída por noções de ação humana, e o progresso e as culturas cívicas passaram a ser
voltadas para o presente e não para uma vida após a morte. Desse modo, pontos de vista
religiosos sobre a salvação foram transformados (trocados) em noções de razão,
racionalidade e progresso. A pedagogia existia para formar modos de vida, nos quais
obrigações pessoais, responsabilidades e disciplina eram vinculadas às noções de
progresso e autogoverno, como princípios de uma democracia participativa liberal. A
escola é entendida como uma prática para governar a sociedade, fazendo da criança o seu
futuro cidadão (POPKEWITZ, 2008).
31
"the opening of a grand scene and design in Providence for the illumination of the ignorant, and the
emancipation of the slavish part of mankind all over the earth.”.
32
Ver Carnnoy, 1974, p. 11 (citado no capítulo anterior)
69
2.1.1 - Ciência e cidadania
33
“A paradoxical insertion of Puritan notions of “good works” in notions of the republican citizen was
embodied in the writings of John Adams, one of the signers of the American Declaration of Independence.”.
34
“The school is understood as a practice for the governing of society by making the child its future citizen.
The new sciences of the child provided particular and concrete strategies through which to envision and
administer who the child was and should be, and also who was not ‘fit’ in this enlightened space of the
future citizen.”.
70
No imaginário que se formava, o estabelecimento de colônias no EUA era visto como
plano da Providência Divina, que dava nova chance aos imigrantes, a maioria em situação
de opressão em seus países. Nos discursos, era comum os temas Puritanos de salvação,
que situavam esses imigrantes como o povo eleito e fundamentaram a visão que colocou
a nação e seus cidadãos como uma única experiência humana para mover a civilização
para os mais altos ideais de humano, de valores e de progresso. No Excepcionalismo
Americano, a educação da criança deveria garantir a redenção da sociedade que a nação
incorporava (POPKEWITZ, 2008).
35
“Pedagogy was the ‘converting ordinance’, drawing on earlier Puritan notions of education as an evangelizing and
calculated design on the souls of their readers. Drawing on John Calvin’s notion of curriculum vitæ or ‘course of life’,
education was the persistent preparation for a conversion experience that gave the individual moral behaviour. The
method of reason was to build revelatory, spiritual fulfillment. Community was part of this course of life or one’s
curriculum vitae. The individual’s freedom was indivisible from the shared cultural world that gave unity to all of
human kind.”.
71
obrigados a ensinar seus filhos a lerem a Bíblia, de modo que tivessem acesso
aos meios de salvação. A leitura era importante também por razões de
“controle social”. De fato, uma lei aprovada pela Colônia da Baía de
Massachusetts em 1642, dava poderes aos membros da câmara municipal de
tirarem de seus pais qualquer criança que não tivesse sido ensinada “a ler e a
compreender os princípios da religião e as leis fundamentais de nosso país” e
de emprega-las como aprendizes de outra pessoa (citado, com ortografia
modernizada, em CREMIN, 1970, p. 124). Embora isso raramente
acontecesse, a lei codificava o direito que o governo achava que tinha em exigir
dos pais que provessem instrução de leitura a seus filhos. (MONAGHAN &
SAUL, 2016, p. 110-111)
Essa lei educacional da Colônia da Baía de Massachusetts sofre mudanças cinco anos
depois, exigindo a proporção de um mestre-escola para cada grupo de 50 famílias,
modificando o currículo para o ensino de leitura e de escrita, ainda separados, devido às
necessidades profissionalizantes. Com isso, as meninas não frequentavam as escolas dos
povoados, pois “Escrever era uma habilidade de carreira para os meninos com ambições
comerciais ou de exercer cargos públicos, para as garotas era mais importante saber
costurar do que escrever”. Poucas meninas obtinham a instrução para a escrita por meios
privados, uma vez que, para elas, escrever era apenas uma marca de status social, na época
(MONAGHAN & SAUL, 2016, p. 111).
Já na área de matemática da educação básica, segundo Santos (2016), os
conteúdos da Aritmética não eram incluídos oficialmente até meados do século XVIII,
devido à pouca importância. Aprendia-se o básico, que aos poucos foi se modificando,
devido a sua exigência para acesso ao ensino superior: “No ano de 1789, em
Massachusetts e New Hampshire, o ensino de reading, writing e arithmetic passou a ser
obrigatório e, aos poucos, ele foi se tornando oficial.” (SANTOS, 2016, p. 153). Em 1807,
ele passou a ser exigido na Harvard College. Ao observar o fato de que a inserção da
aritmética no currículo é influenciada pela sua exigência para ingresso nos cursos
superiores — Colleges —, me traz um indício do teor elitista e da cultura desinteressada
do currículo, pelo menos nesse início de inserção de disciplinas devido às demandas de
acesso aos estudos, e não de necessidade de formação para o mercado.
Para Monroe, “a Aritmética passou a ocupar mais espaço na escola, apesar de não
apresentar ainda objetivos bem definidos e explicitados, estando, em geral, norteada por
atividades rudimentares do comércio e negócios do período colonial.” (MONROE apud
SANTOS, 2016, p. 153). O ensino da aritmética amplia sua função de solução de
problemas vivenciados, impulsionado pelas relações comerciais, mas também por
aspectos científicos, sendo ela reconhecida como uma disciplina escolar depois que o
72
estado assume o controle sobre a escola pública (antes função da Igreja), formando, agora,
habilidades modernas.
Outra versão popular, conhecida como currículo Inglês, focava nas “matérias modernas”
— História, Ciências, Línguas estrangeiras modernas e Literatura — e buscava
praticidade, tornando a formação mais relevante para o mundo do comércio e dos
negócios. Franklin (2016) corrobora com vários outros autores quando cita que:
Temos, acima, alguns exemplos com os quais podemos ver como a educação
básica nos EUA, até o século XIX, vai se estruturando aos poucos. A construção da
sociedade e da escolaridade com bases na fé e na ciência, noções que já existiam há algum
36
Em nota de revisão da versão em português do artigo de Franklin, Míriam Jorge Warde nos explica que
a Common school foi a escola pública existente nos EUA do século XIX, que oferecia os saberes
elementares.
73
tempo na Europa. A racionalidade da ciência grega tornou-se parte da estruturação
epistemológica de salvação, se observarmos a tese de Santo Agostinho e a ciência em
Aristóteles. A diferença no caso norte-americano é entre a visão de salvação puritana e a
ciência como uma força positiva para a ação e o progresso convocado como parte da
herança iluminista. Como as ciências físicas buscaram o domínio do natural do mundo,
as ciências sociais foram descrever, explicar e dar uma orientação para a solução de
problemas sociais. Popkewitz (2008) afirma que as teorias, os conceitos e os métodos
científicos eram colocadas como parte do salvacionismo puritano, fazendo da ação
individual um largo senso coletivo de missão e progresso. O indivíduo é visto, então,
como agente de mudança em um mundo cheio de contingências.
Franklin (2016) diz que a construção do senso de comunidade, característica
desses argumentos curriculares, viam no programa escolar um instrumento do propósito
comum no seio da população norte-americana; mas o conceito de comunidade não
possuía um significado contundente. Ele exemplifica citando a denominação de
“desejos”, da teóloga Elizabeth Bounds, para descrever a busca da comunidade: “Entre
eles estão um anseio pelos que pensam da mesma forma e pela unanimidade, a busca de
um passado e de uma época mais simples e um desejo de recuperar o conjunto perdido
das tradições em face de perspectivas mais dominantes.” (BOUNDS apud FRANKLIN,
2016, p.28).
Para Popkewitz, primeiro a ciência prometeu domínio das condições de vida social
por meio dos seus cálculos e dos princípios da administração social. Ademais, estudos de
planejamento urbano e gestão da cidade, condições de saúde e de trabalho foram
realizados e novas leis foram produzidas para a melhoria social da população urbana. Para
o planejamento da sociedade em nome do bem-estar coletivo, foram elaboradas a
introdução de um serviço cívico independente do clientelismo político, leis trabalhistas
para crianças, propriedade pública dos serviços públicos e sistemas de transporte, e leis
de frequência escolar nas escolas primárias, secundárias e posteriores.
Em segundo lugar, a ciência era uma forma de ordenar e planejar a própria vida
diária. Teorias do desenvolvimento da família e da criança deram atenção à forma como
se constitui experiência, reflexão e ação. As novas teorias psicológicas e de interação
social forneciam "ferramentas" por meio das quais cada indivíduo pode se pensar como
uma biografia planejada, em busca do progresso interior e da melhoria social. Noções de
personalidade, satisfação e realização, por exemplo, foram conceitos fornecidos que
ligavam fins sociais às avaliações pessoais sobre as escolhas realizadas nas rotinas diárias
74
da família, escolaridade e trabalho. Em todo esse processo foram sendo construídas
crenças gerais sobre a ciência como processo de racionalização da vida, que eram
utilizadas para estudos psicológicos sobre o desenvolvimento da criança, os
comportamentos de aprendizagem e a resolução de problemas como princípios para
orientar as ações. Popkewitz cita estudos como o Connectionism de Thorndike, o estudo
da criança de G. Stanley Hall e o pragmatismo de Dewey — embora diferentes em suas
teorias psicológicas da criança, no conjunto, trazem a noção da infância e o aprendizado
de alguns princípios sobre a individualidade ligada às normas e aos valores de
pertencimento coletivo e do progresso (POPKEWITZ, 2008).
Popkewitz exemplifica como o trabalho pedagógico era vinculado a essa visão
sociológica citando o pensamento de Charles Horton Cooley, em 1909, que afirma que
os EUA tinham o espírito da nova ordem (Iluminista) ao colocar ênfase maior na
individualidade e na inovação e se afastar da cultura de classe europeia. Esse pensamento
encontra-se no livro de Edward Alsworth Ross, Principles of Sociology. Em sua segunda
edição, Ross postula as qualidades universalizadas da sociedade americana para fundar
um princípio progressista de Sociologia Americana, na tarefa das escolas, e a formação
do cidadão democrático esclarecido:
Assim, a ciência passa a embasar os estudos das condições sociais como uma
funcionalidade para ordenar a vida diariamente. Esses estudos eram sistematizados nos
movimentos de educação Progressiva Americana, e se ocupavam da estruturação do
governo municipal, da habitação urbana, dos estudos da família e da criança, como os
citados anteriomente. Buscava-se classificar e identificar os desvios do padrão requerido
37
“Ross believed that the common school replaced the medieval church in providing for the cohesion,
“concord and obedience” (p.524) necessary for modern societies. Education, he argued, is the social
institution to produce a likemindedness among diverse populations through stressing “the present and the
future rather than the past (p.259, italics in original). That likemindedness entailed an individuality who
was a purposeful agent of change through processes that entail problem-solving in a continually action
oriented process that has no finality.”.
75
e, com isso, propor ações ou estratégias para resgatar aqueles que sofreram ou que caíram
em condições debilitantes da cidade, mudando seus modos de vida 38:
38
Ver planejamento do meio e controle da segurança em Foucault, 2008.
39 “The urbane of the city would use the expertise of science to study the urban conditions that produced
moral decay, and work with government for effective reform to eliminate evils and rid its citizens of moral
transgressions. Science was to identify the causes of alcoholism, delinquency, and prostitution, among other
practices, from which interventions could rectify and create cosmopolitan modes of living linked to the
narratives of the nation. Surveys, ethnographies and interviews — tools of the new disciplines of sociology
and psychology — mapped the conditions of the city and daily life of the immigrants from southern and
eastern Europe, the poor, and former African black slaves who moved from the South.”.
40 “
The new domestic sciences, later called ‘home economics’, gave attention to improving health
conditions through rationalizing the ways in which the urban homes of the poor and immigrant were
organized. Health was not only about physical issues of disease.”.
76
particulares para pensar sobre a estabilidade e a mudança da sociedade, de modo que os
padrões das pequenas interações comunitárias foram eliminar as qualidades alienantes da
modernidade. A comunidade estava, então, ligada ao conceito de grupo primário para
desenvolver maneiras de organizar a vida diária, com as condições da sociedade moderna
(POPKEWITZ, 2008). Citando Cooley, Popkewitz relata que a família era como um
grupo primário para a civilização da criança através de interações no lar:
41 “The communication systems of the family would, for Cooley, establish Christian principles through which proper
socialization by the family and the neighbourhood would enable the child to lose the greed, lust and pride, and thus
enable the child to be “fit” for the moral life and self-sacrifice for the good of the group.”.
42. “A medical expert in the 1920s, employed by the Philadelphia High School for Girls, described jazz (by this time a
rubric that included ragtime) as causing disease in young girls and society as a whole.”.
77
estética musical, crenças religiosas e virtude cívica. Nessa ciência, alertava-se sobre a
quantidade adequada de estimulação para o cérebro e para o corpo:
Para Popkwitz (2008), a arte dos menestréis (Minstrelsy) — uma versão satírica da música
negra e espiritual que atraiu grandes audiências ao longo dos séculos XVIII e XIX —
formou um contraste instrutivo com a complexidade da música e as tradições musicais da
"civilização" europeia. Assim, o estilo de razão no planejamento da aprendizagem e do
desenvolvimento infantil inscreveu um método comparativo que reconhecia e
diferenciava os grupos pobres, imigrantes e radicalizados do "corpo" social.
43
“The staging of musical response in the classroom classified listening habits with age-appropriate
behavior. A scale of value was constructed that compared immature or primitive human development with
those of a fully endowed capacity that corresponded to race and nationality. The progression of musical
knowledge outlined in teacher manuals calculated music as a form of psychometrics associated with
psychoacoustics. The physical aspect of music (acoustics) was combined with the notion of a musical and
interior apparatus for the perception of acoustics. The “attentive listener” was one who embodied the
cosmopolitan mode of the civilized life. That child was contrasted with the distracted listener in the group.
Carl Seashore, a psychology professor, claimed that a full 10% of the children tested for musical talents
were unfit for musical appreciation. In teaching manuals, the child who did not learn to listen to the music
in a particular way was regarded as “distracted”, a determinate category bound to moral and social
distinctions about the child as a drifter, a name caller, a gang joiner, a juvenile offender, a joke maker, or
a potential religious fanatic, having acute emotional stress and an intense interest in sex.”.
78
O final do século XIX é marcado pelo afluxo de imigrantes de todas as partes do
mundo: “Entre 1850 e 1909, a imigração acrescentou à população o espantoso total de
aproximadamente 25 milhões de almas.” (ALLEN apud SANTOS, 2016, p. 144). Com
isso, a demanda por escolarização nas grandes cidades aumentou consideravelmente.
Estava em curso uma mudança na sociedade e no estilo de vida norte-americano:
Assim como ocorre desde o início, na formação do cidadão cosmopolita, com referência
maior no puritanismo, quando imigrantes eram “convertidos” em norte-americanos, os
imigrantes no final do século XIX e no início do séc XX são vistos como um risco à
cultura estadunidense. Como já citado, 25 milhões chegam ao país entre 1850 e 1909. Se
levarmos em conta que a população nos EUA, em 1900, é de aproximadamente 76
milhões, havia, então, um terço de não nativos — apenas para se ter uma ideia do impacto
na sociedade, uma vez que não temos como saber se o censo contabilizava não nativos
44
EC é a abreviação de Educação Cívica — Segundo Clark (2016, p. 79) que afirma que “A afluência populacional
nesse período provocou um debate fervoroso sobre o currículo, impelindo a transformação da EC em pedra angular do
currículo dos Estudos Sociais no primário e no secundário. Os historiadores caracterizaram esses debates sobre o
currículo como “lutas” (KLIEBARD, 2004), e nos Estudos Sociais especificamente como “guerras” (EVANS, 2004).
Este tema será tratado mais à frente, neste capítulo.
45
Nota: Comitê de Estudos Sociais (CES) da Comissão de Reorganização da Educação Secundária (CRES).
79
e/ou em processo de se tornar cidadão. Nesse momento, a Educação Cívica torna-se
fundamental e pedra angular de todo o currículo. A pressão de setores sociais “nativistas”
que “consideravam seu compatriota como sendo estritamente branco, protestante e de
ascendência teutônica ou anglo-saxã” (SMITH apud CLARK, 2016, p. 79) buscavam
preservar certos aspectos da cultura, defendendo a tradição norte-americana. Claramente,
a intenção era manter uma mesma direção para a qual todos deveriam olhar e
reestabelecer a supremacia nas relações de poder dentro da sociedade.
46
Relatório do Comitê de Estudos Sociais de 1916 da Comissão da NEA para a Reorganização da Educação
Secundária (SSCR). Em anexo está o relatório na integra. (Português e Inglês).
80
Ao observar o período militar brasileiro — considerando a lei 5.692/1971 —, a Educação
Moral e Cívica era a disciplina para os cursos ginasiais, transformados por essa lei em
ensino de 1º grau. Nos outros níveis de escolarização havia Organização Social e Política
Brasileira e Estudo dos Problemas Brasileiros, um indício de aspecto cultural norte-
americano transplantado para o Brasil nas décadas de 1960-1970, uma vez que são
disciplinas para a formação cívica que vêm no pacote americano de formar a soberania
nacional. É nesse período que os anseios da população brasileira por escolarização
crescem, após uma intensa migração para os grandes centros. Nos EUA, 70 anos antes, a
ação de civilidade urbana foi o caminho: “Em consideração a essas questões e muitas
outras relativas aos sistemas escolares urbanos em expansão, a SSCR levou em conta uma
série de objetivos e acomodou muitos interesses.” (CLARK, 2016, p.88). Para Foucault
(2008), é a pavimentação de uma estrutura na qual é possível determinar imperativos de
normalidade.
Dentro dessa definição do que é ser Americanista (ou quem deve ser americanizado) havia
visões conflitantes devido às categorias que variavam do país de origem à origem racial
— esta, mais para emigrantes:
Para ele, havia distinções entre europeus de países do sul ou leste e os do norte, tendo
estes mais aptidão à cidadania, devido ao liberalismo e à origem anglo-saxã dos primeiros
Pioneiros. Internamente, o liberalismo era usado para justificar a condição de negros em
relação aos seus direitos de escolarização ou de voto. “O republicanismo, de acordo com
Smith (1988, p. 230), é uma extensão do liberalismo.” (CLARK, 2016, p. 80). Porém,
ações educativas para controle e dominação já faziam parte da história educacional dos
EUA. Em 1865, o norte do país pretendia acabar com o poder político e econômico dos
proprietários de terras do sul que queriam se separar da nação. Ações financiadas por
81
entidades filantrópicas como a Junta Geral de Educação da Fundação Rockefeller
promoveram programas de assistência aos Conselho de Educação do Sul,
Para Carnnoy, o que se chama “participação na boa vida proporcionada pela sociedade
capitalista” era a ação de dar empregabilidade, renda e estabilidade social às pessoas
pobres, por meio da educação, ao mesmo tempo que a renda mais alta no Sul aumentaria
tanto os mercados de bens industriais do norte quanto as oportunidades de investimento:
47 “were a mixture of humanitarianism and the promotion of an economic development that was consistent with the
needs of the capitalists who staffed the boards. Education was viewed as a key variable in terms of both the
philanthropies’ humanitarian and economic-growth goals. Throughout the nineteenth century, progressive industrialists
felt that schooling prepared people for participation in the good life provided by capitalist society.”.
48
“But, as we have seen, the growth of schooling successfully stimulated by the philanthropies hardly
reached the poor – particularly the black poor. This was due to the structure of the philanthropies
themselves: the boards of directors determining their policies included progressive southerners from the
planter class, who advised the boards in terms of their class interests. At the turn of the century, this meant
placating white Populist at the expense of the blacks, in order for the old aristocracy to keep control of the
state funds.”.
49
“This mixture of humanitarianism and profit motives, which stimulated northern invention in southern education
for a half century after Civil War, also led to the granting of U.S. assistance for economic and social development to
foreign countries almost a century later. There was a general feeling that United States – rich country – should devote
some of its resources, both private and public, to helping poor people achieve higher standards of living.”.
82
O que estava em jogo nesse período da Era Progressiva nos EUA, é o que leva à
questão sobre a transição educacional nos EUA, nos períodos antes e depois da II Grande
Guerra Mundial. Quando coloco a hipótese de que a educação em massa nos EUA foi na
primeira metade do século XX (uma educação voltada aos interesses civis), na segunda
metade ela é, claramente, uma educação voltada à formação de trabalhadores, o que é
semelhante ao que Clark diz sobre a educação cívica no período da Era Progressista:
Assim, fica clara a questão de que esses fatos estão em franca gestação, se observamos
os discursos e os movimentos que vão se constituindo. Uma Revolução Passiva Burguesa
(GRAMSCI) — ou planejamento do meio em busca da segurança (FOUCAULT) —
certamente as transformações econômicas e sociais nas três primeiras décadas do século
XX, podemos ver segmentos influentes da população dos EUA buscando, por meio da
escola, um sentido seguro de identidade cívica, mantendo a ordem social preestabelecida,
com base nas leis de cidadania do que é ser norte-americano. As escolas eram espaços
vitais no esforço de moldar os mais novos, nativos ou imigrantes rurais, em cidadãos. Os
gestores educacionais buscavam dar ênfase a um currículo que valorizasse a
americanização (CLARK, 2016):
84
de exercê-la e o próprio status das mulheres; e quarto, cidadania plena,
incluindo o direito ao voto.( SMITH apud CLARK, 2016 p. 86)
Muitas são as discussões e opiniões sobre a condição cidadã. Para além da ciência
política, havia educadores que aprofundaram na questão por influência das Ciências
Sociais, da Psicologia e da Filosofia, trazendo para educação novas e valiosas
contribuições. Para Clark, “O foco da atenção era tornar as escolas mais eficientes,
eliminar o desperdício e reformar o ensino de matérias que não tinham valor prático.”
(2016, p. 89). Mais à frente ele explica:
50
Relacionado aos conceitos de FOUCAULT, 2008, p. 118.
85
Esse foco sobre a sociedade era um importante afastamento dos relatórios
anteriores, que centravam no desenvolvimento intelectual individual dos
alunos. Esse novo ponto de atenção era possivelmente a melhor indicação
filosófica de que a SSCR queria dedicar-se mais ao conhecimento e habilidades
cívicas dos alunos, e além disso indicava que a EC não se destinava somente
ao cidadão individual, mas também ao propósito maior de reforma da
sociedade. (CLARK, 2016, p. 89)
51
Publicado nos Cadernos de História da Educação, v.15, n.1, p. 08-39, jan.-abr. 2016, da Universidade Federal de
Uberlândia.
86
O Committee of Ten, associado à National Education Association (NEA) e
presidido por Charles W. Eliot, da Harvard University, procurou efetuar um
levantamento das correntes educacionais que estavam em curso à época e
sugerir recomendações para reestruturar a organização escolar norte-
americana. Foram organizadas nove conferências, cada formada por dez
representantes responsáveis por um determinado tema. As conferências foram
organizadas baseadas nos seguintes temas: 1. Latim; 2. Grego; 3. Inglês; 4.
Outras línguas modernas. 5. Matemática; 6. Física, Astronomia e Química; 7.
História Natural (Biologia, incluindo Botânica, Zoologia e Fisiologia); 8.
História, Civil Government e Economia Política; 9. Geografia (Geografia
física, Geologia e Meteorologia). (SANTOS, 2016, p.143)
52
Education Association.
53
Report of the Committee of Ten da National Education Association.
54
Cardinal Principles of Secondary Education Report — Em anexo o original e a tradução.
55
Commission on the Reorganization of Secondary Education da National Education Association.
87
não haverá ação concertada rumos aos fins sociais necessários.” (COMMISSION ON
THE REORGANIZATION OF SECONDARY EDUCATION, apud FRANKLIN, 2016,
p. 29).
O caminho para chegar a esses dois fins, de acordo com os autores do relatório,
era a escola secundária integral que proporcionava “todos os currículos numa
única organização unificada”. Havia elementos do currículo conhecidos como
constantes que possibilitariam o cumprimento das sete metas da escola
secundária. Havia variáveis do currículo cujo objetivo era prover as
necessidades vocacionais dos alunos. E havia também optativas livres que
permitiriam aos estudantes perseguir seus interesses específicos
(COMMISSION ON THE REORGANIZATION OF SECONDARY
EDUCATION, 1918, p. 18-19). Tal como os autores do relatório viam a
questão, a escola secundária para todos era o melhor mecanismo para se atingir
a unificação exigida por uma democracia. (FRANKLIN, 2016, p.29)
88
analisar discursos em documentos, na proposta de arqueologia Foucaultiana, pode sim ir
além da visão de “herdeiro (romântico) do liberalismo deweyano” (WARDE, 2016, p. 5).
Esse posicionamento meu é parte da hipótese de transição do objetivo educacional do
Americanismo, de formar cidadão num primeiro momento, para formar trabalhadores pós
1930. Vejamos o que Franklin escreve:
O ponto de partida de Dewey era a pequena cidade rural dos EUA do século
XIX na qual as principais atividades industriais e de manufatura da época
estavam centradas no lar. Na visão de Dewey, um conjunto de transformações
sociais, econômicas e demográficas nos cinquenta anos após o término da
Guerra Civil e nos primeiros anos do século XX levou a uma separação entre
o ambiente doméstico e o local de trabalho. Entre essas mudanças estavam o
crescimento do capitalismo corporativo, a ascensão do plano industrial, o
movimento de migração do campo para a cidade e a crescente diversidade da
população no rastro da imigração. (FRANKLIN, 2016, p. 33)
As conexões antes vitais que revelavam aos indivíduos quem eles eram, o que
faziam e como se relacionavam com a sociedade abrangente se perderam à
medida que especialistas assumiam a responsabilidade por decisões que antes
estavam sob o controle popular. O resultado, argumentava Dewey, era a erosão
da capacidade dos indivíduos comuns de funcionar como cidadãos ativos a fim
de solucionar os dilemas que enfrentavam através de sua participação na
política democrática. Sua identidade coletiva, que Dewey chamava de “o
público” havia se tornado tão desgastada e atenuada que não poderia mais dar
conta da miríade de problemas que eles, suas famílias e seus concidadãos
enfrentavam. (FRANKLIN, 2016, p. 33)
E, mais à frente:
Na visão de Dewey, o indivíduo não existia isolado dos outros indivíduos, mas
como um “ser social”. O que unia as pessoas numa sociedade e o que tornava
a democracia possível era a presença de uma “vontade comum” que juntaria a
opinião da maioria e da minoria num todo unificado. Para Dewey, a relação
entre a sociedade e seus integrantes era recíproca. Os indivíduos eram,
acreditava ele, produto da sociedade na qual viviam e trabalhavam. Mas cada
indivíduo tinha um papel a cumprir na construção dos elementos daquela
sociedade — seus valores, atitudes e padrões de comportamento.
(FRANKLIN, 2016, p. 34)
89
Entusiasta leitor de Omer Buyse56, após mandar traduzir essa obra para distribuição nas
escolas baianas, ele viaja por duas vezes aos Estados Unidos. Na segunda viagem, em
1927, Anísio faz cursos na Teacher College (Columbia University), onde conhece o
filósofo e educador John Dewey. Como parte das atividades incentivadas pelo curso,
Teixeira visita várias escolas americanas e seu relatório foi organizado de modo a tornar
visível as condições materiais e intelectuais do sucesso das escolas norte-americanas. O
intuito de dar publicidade ao seu trabalho resulta na obra Aspectos Americanos de
Educação, com a primeira edição em 1928.
Anísio descreve que no século XIX, nos EUA, o industrialismo e a urbanização
apresentavam aspectos da modernidade, porém, a educação em massa (mass-education)
movia-se mais lentamente. Era necessário o ajuste entre a escola e a sociedade. Estudos
de W. James, Dewey, Thorndike, Woodwoth, Judd57 sobre as leis biológicas do
crescimento infantil, da psicologia e do próprio currículo foram fundamentais neste
processo. Para esses pensadores, o sentido de educação só se faz pelo meio que a vida
social se perpetua — pela transmissão de valores morais e sociais. Com as complexas
formas de civilização moderna, o acesso à educação se dá através de longos esforços
coordenados em uma agência especial — a escola — e um grupo especializado — os
professores. A escola é apenas o imprescindível substituto, funcionando como o atual
complemento da educação que, permanentemente, recebemos da sociedade. Anísio relata
que Dewey acreditava que a estrutura educacional baseada na transmissão de conteúdo
de forma direta, por meio de treinamento mental de especialidades e erudições, para
depois aplicá-la na vida, não era uma função educacional formadora de estruturas de
pensamento. Os estudos de psicologia contribuíram para sua defesa de que o elemento do
aprender com sentido se fazia mais produtivo. A verdadeira educação se processa quando
o educando aprende uma coisa nova, compreende e participa do seu sentido social. Fora
disso, essa educação obtida por motivos puramente externos é treino:
56
BUYSE, Omer. Méthodes américaines d’éducation générale et technique. Paris: Dunot & Pinat, 1909
57
Veja que, para Teixeira, o conjunto de professores tinha o mesmo propósito, o que não quer dizer que
tinha a mesma linha de raciocínio de como conseguir o propósito. É sempre uma linha tênue, pois as
justificativas se sobrepõem, na maioria das vezes; mas as visões individuais são diferentes.
90
Anísio diz que é na América (do Norte) que a democracia ampliou seu sentido
político e significa uma nova experiência de vida associada. Citando Dewey, ele diz que
a teoria americana de educação não poderia ser compreendida se não fosse estudada à luz
da organização democrática de sua sociedade. Dewey fixa dois critérios para julgar as
condições de um grupo social: os interesses partilhados em comum e a cooperação com
outros grupos distintos — sentido comunitário e cooperação mútua. Sendo assim, é na
inclusão do homem comum que consiste a grandeza da escola americana. Para Anísio,
esse ideal (que anos atrás seria uma utopia) parece perfeitamente realizável nos Estados
Unidos. A ideia de “eficiência social como um aparelhamento do indivíduo para uma
progressiva organização social, mais e mais adequado ao desenvolvimento harmonioso
das atividades individuais” (TEIXEIRA, 2006, p. 53) é que se traduz em eficiência
econômica ou competência industrial e eficiência cívica.
A conexão entre a sociedade e o aluno que se fez na escola americana foi na
compreensão e na comunhão dos interesses de cada parte, segundo a teoria do interesse.
Essa teoria se baseia em focar nos interesses das partes para, então, direcionar a ação. Ela
é um extraordinário auxiliar para o professor no descobrimento das diferenças individuais
e o auxilia a um ajustamento da educação mais inteligente. Ela também supera a
concepção de mente e seu treino da concepção escolástica, que julga que a inteligência
tem uma faculdade de conhecimento isolada de qualquer outra atividade — considerando
que a inteligência (ou mente) representa somente a habilidade de responder a certos
estímulos presentes, com uma visão de suas futuras consequências, que procuramos
modificar ou controlar tanto quanto possível. Desse modo, a instrução verdadeira se
processa por intermédio do desenvolvimento de uma atividade — experiência.
A grande discussão em torno do currículo que atendesse a esses princípios não
intenta somente adaptá-lo à criança, mas adaptá-lo à moderna sociedade americana. O
conceito social de educação significa que, cuide a escola de interesses vocacionais ou de
interesses especiais de qualquer sorte, ela não será educativa se não utilizar esses
interesses como meios para a participação em todos os interesses da sociedade. Latim,
Grego ou a profissão de carpinteiro devem ser ensinados com o mesmo espírito de fazer
do educando um membro da sua atual sociedade, com poder e oportunidade para
participar, em todos os seus interesses, por meio de um currículo correspondente e
utilizado em função do ideal educativo de “eficiência social”. A escola em si será uma
agência de contínua transformação social que constitui o processo democrático — uma
91
agência de inquérito e de reconstrução social —, de modo que só assim o seu conteúdo
coincidirá com o conteúdo da sociedade democrática e, em vez de tornar as mudanças
sociais difíceis, ela colaborará na própria revisão social constante, que é a essência da
democracia.
A decisão de Teixeira em situar Dewey e Thorndike lado a lado nessas propostas
é possível. Se observarmos as ideias sobre o conexionismo, Thorndike propõe uma
diferenciação com a pedagogia tradicional. Nessa proposta, ele se aproxima muito do que
é a teoria do interesse de Dewey.
Santos analisa o trabalho de Thorndike no livro The Thorndike Arithmetics, no
qual ele critica o aprendizado como faculdade mítica no desenvolvimento de raciocínio.
O que ele propõe é cooperação, organização e controle dos hábitos, para se atingir o
raciocínio. Diferentemente da educação tradicional, na qual professor já trazia pronta a
coletânea de atividades formuladas puramente nas ações matemáticas, para ele
(Thorndike) “nenhum hábito era formado para posteriormente ser interrompido e sim para
contribuir na formação de outros hábitos.” (SANTOS, p. 162). Era necessário, então, a
conexão (conexionismo) entre a vida real e as atividades escolares, dando sentido a essas
atividades:
Necessário se faz, portanto, reafirmar que a defesa do autor estava alicerçada
principalmente na importância de que os enunciados dos problemas ou das
atividades desenvolvidas pelo aluno contivessem “elementos idênticos” a
situações que acontecessem fora do ambiente escolar. Era a presença de
elementos idênticos que segundo Thorndike (1905, 1913) garantiria que uma
conexão fosse estabelecida e a aprendizagem ocorresse, pois para o autor
aprendizagem é conexão. (SANTOS,2016, p. 163)
92
sexismo e uma miríade de outras formas de controle e exclusão 58.
(FRANKLIN, 2016, p. 30)
Podemos ver, aí, princípios da teoria psicológica Behaviorista, que considera o ser
humano no mesmo nível dos animais, diferenciando-se apenas por uma subjetividade
intelectual, mas sujeito às mesmas leis naturais e biológica do condicionamento operante
formado por estímulos do meio ambiente — o que não é errado, mas limitante. Nessa
visão limitante do ser humano, a educação é condicionamento para o meio, de modo que
aqueles que não dão a resposta esperada são considerados incapazes. A lei de efeito de
Throndike é isso: o aprendizado só acontece em resposta ao meio e a comunidade é o
meio preestabelecido. Àqueles novos membros que respondessem positivamente à
exigência do meio eram, então, predispostos a este meio, enquanto as respostas contrárias
aos seus estímulos eram devido à inadequação e à rebeldia, e deveriam ser eliminados do
meio.
Essa psicologia é uma estrutura capaz de explicar a virada educacional pró
formação de trabalhadores, em detrimento da formação de cidadãos, sendo, assim, a
adequação do sujeito à sociedade uma via de mão única: “O indivíduo adequadamente
socializado era aquele cujo comportamento seguia os ditames dos estímulos externos.”
(FRANKLIN apud FRANKLIN, 2016, p 31). Se a sociedade precisa de trabalhadores
obedientes que dedicam seus esforços totalmente à produção, a escola deve formar esse
sujeito. Os alunos que não se adequassem a essa educação (ou não concordassem) eram
58
Esses aspectos psicológicos da exclusão foram descritos também por Carnnoy, no capítulo anterior.
93
dissonantes e malvistos como riscos à comunidade, considerados os antinacionalistas, que
não queriam o progresso social americano.
Pode ser que, assim, a busca por categorizar sujeitos imigrantes já determina a
escolarização e a posição na indústria de cada grupo, dependendo de sua nacionalidade,
havendo um controle do meio e o molde da segurança na ocupação do território (o local
de trabalho). Nessa configuração se apresenta o binarismo entre os que se sujeitam às
necessidades do mercado e os que resistem, classificando “meritocraticamente” os que
são mais capazes e os que são menos capazes na produção. Além disso, Thorndike
defendia a seleção com intervenção biológica entre os capazes e os menos capazes para
formar um meio ideal. Na prática, ele defendia que o governo estimulasse a procriação
de pessoas inteligentes com recursos financeiros e, ao mesmo tempo, a esterilização dos
menos inteligentes, salientando
(...) o fato de que os genes que fazem com que as pessoas sejam boas e capazes
também tendem a constituir lares competentes e prestativos, e o argumento
pela esterilização de qualquer um que esteja próximo ao extremo inferior da
escala de intelecto e moralidade sempre que seja possível realizar isto
legalmente é muito forte. (THORNDIKE apud FRANKLIN, 2016, p. 31)
94
No meu entender, essa passagem é explicativa ao que se estabelece na propaganda
ideológica, que vende-se enlatados mentais: estruturas simplistas de pensamento que
atendam à população em geral, para explicar situações da complexa forma de produzir e
de viver que se inicia. Mais que explicar, esses enlatados devem trazer ao povo um
aspecto de sabedoria e inteligência que é própria daqueles que, mesmo não indo bem na
escola, não se sintam inferiorizados intelectualmente, reagrupando os que evadiram da
escola por outra via. A fabricação de slogans é a base da indústria de propagandas.
Nessa época, entra a era da informação acessível a todos. Isso elimina uma
preocupação de escolarização e controle dos primórdios puritanistas, pois, com o rádio,
tinha-se o controle e não era necessário saber ler, uma vez que ele se popularizava como
difusor de informações e de propagandas, sejam comerciais ou de interesse público
governamentais. No processo de internacionalização do way of live americanista, a
difusão de informações eletrônicas foi fundamental. Feita inicialmente por meio do rádio,
foi ampliando para o cinema e mais ainda da televisão e hoje multimídia.
Com isso, das visões diferenciadas dos intelectuais Dewey, Thorndike e Finney,
vigoraram as dos dois últimos, sendo que a política de financiamento de fundações
filantrópicas foi decisiva nessa definição, com a Fundação Ford e a Fundação
Rockeffeller. Fato que merece destaque (e que será explorado mais a frente) é que a
Divisão de Psicologia Educacional, sob o comando de Thorndike, tornou-se referência
“em relação a tudo o que dissesse respeito à pesquisa educacional no TC; isso quer dizer,
uma enorme concentração de recursos financeiros que haviam começado com a soma de
US$1.870.582,00 para o ano fiscal 1921-1922.” (COLLEGE NEWS AND
DEPARTMENTAL NOTES, apud WARD, 2016, p. 193).
Resultado do período da Era Progressiva, a tecnologia de difusão do
Americanismo ainda não existia de forma maciça: o rádio e o cinema ainda engatinhavam.
Nesse período, a internacionalização marcante do Americanismo foi realizada pelo
International Institute do Teachers College, Columbia University (TC), criado em 1887,
conforme informações no sítio eletrônico Oficial do TC59. Em 1880, a filantropa Grace
Hoadley Dodge criou uma escola denominada Kitchen Garden, em Greenwich Village,
para atender mulheres pobres e imigrantes que, ali, podiam aprender artes práticas:
culinária, costura, higiene etc.
59
http://www.tc.columbia.edu, consultado em 10/11/2017.
95
George Vanderbilt, a escola Kitchen Garden de Dodge evoluiu para algo muito
maior: um tipo inteiramente novo de escola dedicada ao professor Educação.
Em 1892, com Butler como presidente e um conselho de curadores que incluía
representantes das principais famílias filantrópicas da cidade, incluindo
Vanderbilt, Rockefeller, Trask, Macy, Dodge, Choate, Olney, Milbank e Hyde,
a nova instituição formalmente incorporada sob o nome Faculdade de
professores.60 (TEACHER COLLEGE UNIVERSITY OF COLUMBIA,
http://www.tc.columbia.edu/, 2017)
Warde explica que o perfil do alunado se alterou quanto à questão do gênero. O alunado
feminino — dominante, antes, devido ao fato de ser formado por recém-egressas do
ensino médio — foi, gradativamente, dando lugar ao alunado masculino, que atendia aos
novos requerimentos de ingresso:
60
“By 1887, with the help of the Columbia University philosopher Nicholas Murray Butler, and with a site at West
120th Street donated by the industrialist George Vanderbilt, Dodge’s kitchen garden school had evolved into something
much greater: an entirely new kind of school devoted to teacher education. In 1892, with Butler as president and a
board of trustees that included representatives of the city’s leading philanthropic families, including Vanderbilt,
Rockefeller, Trask, Macy, Dodge, Choate, Olney, Milbank, and Hyde, the new institution formally incorporated under
the name Teachers College.”.
61
“Teachers College had expanded yet again, marrying humanitarian concerns with a broad-based scientific approach
to human development premised on the interrelationship among three broad areas: education, psychology and health.”.
96
No espírito de mudanças, foi criado, em 1921, o Institute of Educational Research,
ampliando o campo de pesquisas em educação do TC para outras áreas de conhecimento
e instituições interessadas em caráter de colaboração. Na sua composição havia as
divisões de Psicologia Experimental, de Experimentação Escolar e de Estudos de Campo
(área de atuação de Thorndike).
Em 1923 foi criado o International Institute, destinado à formação de
pesquisadores em educação de outros países, mas, não necessariamente, imigrantes.
Assim, ao mesmo tempo que atraía mentes e informações para os EUA, irradiava seu
processo e seus métodos de ensino pelo mundo:
97
juntos em harmonia e disposição.” (BUTLER apud WARDE, 2016, p.196). Temos, com
isso, o gérmen do way of live enquanto produto, que serve como indício dos interesses de
grandes corporações nos processos de formação educacional pelo mundo, como o
exemplo do financiamento das pesquisas de Thorndike no desenvolvimento da educação
para o meio:
Não resta dúvida de que os patrocinadores, diretores e docentes do
International Institute of Teachers College tinham uma refinada visão
estratégica da luta pela hegemonia internacional na qual os Estados Unidos
estavam inteiramente empenhados; mobilizavam com muita destreza o campo
educacional naquela direção. Durante toda a gestão do decano James E. Russell
parcela dos professores do College vinha se habilitando para falar para plateias
nacionais e internacionais e se dedicando a construir sólidas redes intelectuais
e políticas, também nas duas esferas. (WARDE, 2016, p.198)
A expansão do Americanismo por meio da escolarização pode ser verificado devido aos
indícios e às hipóteses levantadas por Warde. Porém, o aprofundamento na questão não
é o objetivo central. Busco os elementos visíveis que vão se compondo dentro das relações
de poder e que justificam aspectos culturais americanistas na educação brasileira —
educação no sentido de formatação de consciências.
A Era Progressista do Americanismo é significativa, pois apresenta elementos
muito parecidos com a realidade brasileira da época — como o processo de
industrialização sendo ampliado, a busca por reformas de base e o crescimento da
população urbana — podem aqui ser identificados e também suas soluções, como o
desenvolvimento da educação cívica para homogeneizar interesses.
Até aqui podemos verificar que as bases da educação norte-americana estão
montadas. O que ocorre na sequência dos anos, no meu entender, é a expansão dos
interesses corporativos, inicialmente controlando o progresso educativo que atendesse aos
seus interesses (por meio do financiamento) e, depois, fazendo o mesmo em outros países
— ofereciam financiamentos de projetos educativos como forma de colonização cultural.
O período que transcorre após a II Guerra Mundial é considerado uma nova etapa
da expansão do Americanismo pelo planeta. Nesta tese, defendo que a expansão do
Americanismo não sobrepõe diretamente a expansão do capitalismo como um todo, mas
do capitalismo nos moldes Americanistas. O capitalismo surge na Europa e,
posteriormente, renova-se nos EUA, principalmente com os fenômenos taylorismo e
fordismo, conforme já comprovado por teorias citadas.
98
Neste momento, pretendo caracterizar o Americanismo enquanto imperialismo
em expansão (expansão de hegemonia disfarçada de programa de desenvolvimento
humanitário — a revolução passiva burguesa em seu ápice de irradiação no mundo). Para
auxílio do entendimento dessa nova forma de imperialismo, traçarei algumas linhas que
caracterizam esse processo historicamente, utilizando a obra Educação como
Imperialismo Cultural62, citada em momentos anteriores, mas que, agora, será o eixo
balizador da descrição. Uma vez que a obra não possui versão em língua portuguesa,
grande, grande esforço e tempo gasto nesta tese foram devido à tradução de, pelo menos,
três capítulos do livro63: o primeiro, “Escolarização e sociedade64” — apresenta como o
processo de escolarização ocidental se tornou instrumento de ressignificação cultural,
auxiliando a dominação sobre as massas —, o segundo, “Educação para o
desenvolvimento ou para a dominação? A estruturação teórica65”, e o sétimo, “Educação
e Ideologia da Eficiência: o Neocolonialismo dos Estados Unidos a partir de 1945 66” —
relata a colonização interna dos EUA ao Terceiro Mundo, particularmente depois de
1945.
Essa referência também auxiliará ao analisar documentos sobre as relações Brasil
/ EUA, datados do período pós-guerra, encontrados no Programa de Estudos e
Documentação Educação e Sociedade (PROEDES), da Faculdade de Educação da
Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Neles, pude identificar vários indícios
de uma ação planejada da expansão do Americanismo no Brasil, sobrepondo-se aos
princípios capitalistas europeus, considerados arcaicos — o que confirma o trabalho de
Carnnoy. Muitos desses documentos tratam de convênios de ajuda humanitária, por meio
do financiamento de projetos educativos, com acompanhamento de técnicos norte-
americanos.
Carnnoy afirma que os Estados Unidos utilizaram modelos educativos para
“controlar a mudança social e atribuir a vários grupos seus papéis econômicos em uma
economia em rápido crescimento (mundial), que começaram a se espalhar para o Terceiro
Mundo.” (CARNNOY, 1974, p. 23), isto é, a estratégia de alocação de nações-órgãos em
um sistema de produção global. Ele reafirma que a escolaridade contribui para a condição
colonizada dos indivíduos, baseando-se em uma interpretação de dados históricos
99
coletados em estudos de caso, nos quais a escolaridade é parte integrante do imperialismo
europeu, tais como a britânica na Índia; a britânica e a francesa na África Ocidental e em
países latino-americanos — dependências econômicas da Espanha e de Portugal até que
as revoluções burguesas os amarrassem à Inglaterra e aos Estados Unidos — e, por fim,
o colonialismo interno norte-americano e o novo "imperialismo do desenvolvimento"
(que emergiu da hegemonia pós-Segunda Guerra Mundial dos EUA).
A escolaridade desempenhou um papel fundamental no sistema internacional do
pós-guerra, tal como tinha sido fundamental nos Estados Unidos, no século XIX, para
socializar os trabalhadores imigrantes no nordeste e para atribuir negros ao trabalho
agrícola e aos empregos das fábricas não qualificadas no sul do país. As reformas
impulsionadas pelas agências de assistência dos EUA, para enfrentarem a ameaça de
agitação social decorrentes da Guerra Fria, no Terceiro Mundo são as mesmas reformas
usadas para enfrentar a ameaça de uma mudança social radical nos Estados Unidos em
torno da virada do século XIX para o XX67. Enfatizavam nos EUA, já nessa época, a
responsabilidade individual pelo sucesso e pelo fracasso social, ignorando o impacto
causado pelas injustiças da organização do sistema econômico. Também culpabilizam
como ineficiência as insuficiências das escolas em relação ao gerenciamento de
estudantes para as realidades do mercado de trabalho. Tais reformas se dirigem para a
"ideologia da eficiência", que caracterizou o desenvolvimento capitalista dos EUA nos
últimos cem anos (CARNNOY, 1974, p. 23). Na obra, podemos verificar como a
escolaridade vai sendo adaptada às mudanças das necessidades utilitárias das classes
capitalistas dominantes. Aqui, nos interessa como tais necessidades afetaram diferentes
grupos nas sociedades dos EUA e do Brasil.
No mundo, o uso da escolaridade para promover e manter estruturas de classe no
desenvolvimento capitalista — seja nas colônias ou na metrópole — não foi o resultado
da "conspiração" de pessoas, mas de poderosos grupos econômicos e sociais que atuam
em seu próprio interesse pessoal. Eles formataram a escolaridade por meio de legislação
e influência — não é uma conspiração dos poderosos contra os fracos, mas entre grupos
de poder: instituições e modos de vida de ricos que mantêm sua posição de poder no
próprio país e no mundo. Carnnoy defende a tese de que “os educadores, cientistas sociais
67
Como já citado os EUA neste período possuía quase 1/3 da população formada por estrangeiros
imigrantes.
100
e historiadores interpretaram mal o papel da educação ocidental no terceiro mundo e nos
próprios países industrializados.” (CARNNOY, 1974, p. 3). Em nota do texto, ele afirma:
O que evidencia que a educação formal serve à estrutura econômica e social real ou
desejada.
Segundo Carnnoy, para aceitar a interpretação de muitos escritores ocidentais de
que a escolaridade no período colonial — que na Ásia e na África duraram até a Segunda
Guerra Mundial — contribuiu para o desenvolvimento, devemos aceitar que o
imperialismo e o colonialismo foram, a longo prazo, benéficos para os povos colonizados.
Mesmo que não estivéssemos dispostos a ir tão longe, teríamos que acreditar que quatro
séculos de colonização e exploração de africanos, asiáticos, indígenas, latino-americanos
e trabalhadores brancos europeus eram, se não justificados, pelo menos atenuados,
trazendo-lhes educação ocidental. Teríamos de estar convencidos de que, apesar dos
aspectos negativos do imperialismo e do colonialismo, a escolaridade formal permitiu
que diversos povos de diferentes etnias e culturas se juntassem ao mundo moderno. Esse
movimento ocorre mesmo em economias capitalistas avançadas, quando há a migração
do campo para a cidade: “a escola era usada para se ajustar aos trabalhadores brancos e,
mais tarde, às minorias marginalizadas, em papéis econômicos e sociais definidos pela
classe capitalista dominante.” (CARNNOY, 1974, p. 16).
A função modernizadora das escolas não teve o propósito de revolucionar
sociedades, mas de agregá-las. Ao estabelecer uma formação na língua materna da
metrópole, com ressignificação de culturas e hábitos — rompendo laços de origem —,
esse modelo escolar, após a independência, torna-se permanente e instituído como
sinônimo de modernidade. A elite da ex-colônia expandirá essa escolarização para toda a
população, favorecendo os interesses em favor da metrópole, como se fossem seus
próprios interesses.
A grande maioria de não-europeus altamente educados em países colonizados
escolheu ser europeu e deixar seu próprio povo para trás, abandonando sua cultura e seus
101
costumes, sendo este o aspecto psicológico que passa despercebido pela maioria dos
escritores da escolarização em massa. Apesar do fim dos processos de imperialismo e
colonialismo de estilo antigo desaparecerem, os sistemas educacionais nas ex-colônias
permanecem, em grande parte, intactos após a independência. Curriculum, linguagem e,
em alguns casos, até mesmo a nacionalidade dos próprios professores, são transferidos
do período colonial (CARNNOY, 1974).
A escola brasileira sempre acompanhou a escola europeia: inicialmente, os filhos
dos fidalgos estudavam na Europa. Com a república, eles passam a estudar em escolas
Católicas — pagas —, onde davam continuidade à cultura colonizadora e à
desvalorização da educação nacional, mesmo que estruturalmente europeia, mas de
caráter popular. Por outro lado, essa passagem sinaliza a hipótese de uma primeiro estágio
da escolarização em massa, no qual é necessária uma escola democrática como atrativo
para formar as primeiras gerações, de modo que ela deva conferir uma melhora na vida
daqueles que a frequentam, diferenciando-os entre os não frequentadores da mesma
geração. Uma vez estabelecida a confiança da população na escola, ela passa a ser um
aparelho de conformação de classes, como ocorreu na era progressiva americana e na
década de 1960-1970, no Brasil.
Para Carnnoy, a introdução da própria escola constitui um tipo de mudança, mas
apenas a um certo nível limitado de consciência social. Em sua estrutura, ela exige
respostas mais passivas desses grupos da sociedade, que são os mais oprimidos pelo
sistema econômico e político, e permitem a participação e a aprendizagem mais ativa
daqueles que são menos propensos a querer mudar. Isso racionaliza relações colonizadas
entre indivíduos e grupos na sociedade e formaliza essas relações, dando-lhes uma lógica
que torna razoável o irracional.
No entanto, muitos cientistas e educadores sociais ocidentais assumem que toda estrutura
motivadora da expansão da educação se baseia na mudança societária para a
102
modernidade, na qual a disseminação das formas capitalistas aumentam o bem-estar de
todos. Para eles, o capitalismo e sua expansão promove o desenvolvimento. Para entender
esse processo, faz-se necessário abordarmos a seguinte teoria do desenvolvimento:
Por outro lado, há correntes teóricas que argumentam que “o capitalismo evolui para o
monopólio e o imperialismo — que o imperialismo é uma extensão das formas capitalistas
— e que discutir relações iguais entre grandes potências industriais capitalistas e
produções primárias é ingênuo.” (CARNNOY, 1974, p. 32). O que nos leva a pensar que
as ações de escolarização têm relação equiparada às relações entre as nações envolvidas
no comércio que tendem a ser imperialistas, mesmo no quadro capitalista. É pela
escolarização que ocorrerá a incorporação de hegemonias de grupos em estruturas
capitalistas, sendo pensada uma educação para explorá-los: “Obviamente, a educação
pode ser usada para manter as relações imperiais entre as nações ou para quebrá-las. As
teorias que consideram o capitalismo como imperialista negam que contribuir para a
eficiência capitalista promova a paz e o progresso.” (CARNNOY, 1974, p. 32).
Na análise do imperialismo e do colonialismo, para esclarecer a questão colocada
acima, Carnnoy faz uma revisão de dois pontos de vista — Schumpeter e Lenin. Lenin
descreveu as fontes e os efeitos do imperialismo nos países industrializados. Ele estava
especialmente preocupado em analisar as raízes do domínio dos países industriais da Ásia
e da África, e as causas da Primeira Guerra Mundial (CARNNOY, 1974, p. 33). Já
Schumpeter encontra a explicação fundamental do imperialismo não no domínio
econômico, mas nas forças psicológicas que sobraram das estruturas sociais e econômicas
do passado, de modo que o imperialismo é equiparado com a guerra e a conquista direta.
Com base nessa teoria, ele tenta mostrar que o capitalismo é anti-imperializado — que as
relações de produção associadas ao capitalismo são uma força que contraria a tendência
de dominar os outros pela conquista (essa é a sua definição de imperialismo). Ele
103
argumenta que o capitalismo gerou sentimento antiguerra e anti-imperialista em grande
escala, pela primeira vez na História. Quanto a uma guerra para adquirir território,
assumindo o livre comércio, a expansão forçada é inútil, porque mercados e matérias-
primas estão abertos a todos em igualdade de condições. Assim, Schumpeter toma de
exemplo o imperialismo britânico do século XIX como um comportamento humano a ser
combatido, devido ao seu empreendimento realizado, em grande parte, como política de
guerra (CARNNOY, 1974, p. 36).
Se a teoria de Schumpeter está correta, o que isso implica para o papel da educação
nas colônias e na metrópole desde o século XVIII até agora? Uma vez que a disseminação
da escolaridade certamente não fazia parte da necessidade psicológica de conquista física,
não há relação entre a escolaridade nas colônias e o imperialismo. Para transformar
agressões em uma competição saudável, o schooling desempenha um papel central na
neutralização das tendências guerreiras do passado. Essa visão coincide com a teoria
ocidental do capitalismo de desenvolvimento — que o capitalismo foi e continua a ser
uma força para o nacionalismo e o anti-imperialismo. À medida que as pessoas abraçam
as relações de produção associadas ao capitalismo, é menos provável que tentem dominar
outros povos pela violência. (CARNNOY, 1974, p. 36).
Mesmo com ressalvas à teoria de Schumpeter, podemos perceber a rearticulação
do controle do meio para garantir maior segurança. Como evidenciam as duas grandes
guerras do século XX, a guerra gera insegurança para todos — a exemplo da I Guerra
Mundial, causada pela desigualdade capitalista de países com capitalismo consolidado,
mas que mantinham ações protecionistas de seus oligopólios industriais. Esses países,
hoje, comandam setores de organizações mundiais e continuam a manter seus privilégios
de metrópoles. A rearticulação se faz com a escolarização tomando espaço das armas na
conquista de povos e territórios, com desenvolvimento humanitário em vez de guerra e
com a meritocracia como instrumento de justificação, conferindo a legalidade de
estruturas hierárquicas — mas que só pode prevalecer na sociedade se a maioria da
população estiver frequentando a escola. É aí que a teoria do mais capaz age como um
dos instrumentos da psicologia das massas, conformando e legitimando o poder de uma
elite de vencedores, mais capazes para os postos que ocupam. Com isso, temos que a
cultura da paz sem opinião é mais vantajosa que a guerra: nada mais atual que combater
o imperialismo com medidas imperialistas ressignificadas em modernização.
Nessa visão, o imperialismo por comércio e investimento é uma impossibilidade.
Portanto, é uma impossibilidade que a escolarização de não-europeus em escolas que
104
ensinam normas e valores capitalistas dessa cultura possam fazer parte de uma estrutura
imperialista: “Podemos começar a entender os elementos essenciais dos conceitos
ocidentais de desenvolvimento econômico e social: o livre comércio e a disseminação de
instituições capitalistas são anti-imperialistas.” (CARNNOY, 1974, p. 37), ou seja, a
pacificação pela razão, iluminando a barbárie da violência. Ao propagar o anti-
imperialismo, promovendo a educação ocidental, tem-se o efeito psicológico da
prevenção de revoltas na ação de paz, velando toda violência simbólica que existe na
subjugação cultural e na eliminação de identidades locais. Assim, toda desigualdade e
resistência cultural é considerada ação de selvageria e revolução (luta de classe),
enquanto, na verdade, é a resistência ao domínio e à revolução passiva industrial.
Principalmente após a II Guerra Mundial, toda nação que não se submete à metrópole é
considerada por esta como repressora de liberdade e com intenções imperialistas —
exemplos de Cuba e Venezuela.
Chega a ser utópico, como se o laissez faire do mercado fosse apenas uma
conversa de namorados para se ajustar condutas. Até certo ponto, me parece que o
capitalismo, nos primórdios americanistas, esboçou essa postura quando abandonou a
“capa de chumbo aristocrática”, apontada por Gramsci como “histórica” no capitalismo
Europeu. Eliminar as influências do passado, até que seja possível um capitalismo
agregador, como foram os EUA num período de curto lapso de luz, sob a visão “liberal”
de Dewey e valorização dos interesses comunitários, ficando interesses corporativos
como secundários. Mas essa ideia também se tornou utópica e Dewey passou a ser
considerado “comunista” e antiprogressista.
Mas Lênin não limita sua explicação da expansão dos países capitalistas para
os países “atrasados” à taxa decrescente de lucro nos países avançados. O
105
imperialismo esforça-se por anexar não apenas territórios agrários, mas
também regiões industrializadas. (...) Uma característica essencial do
imperialismo é a rivalidade entre as potências capitalistas no “esforço pela
hegemonia; isto é, para a conquista do território, não tanto diretamente para si
mesmos como para enfraquecer o adversário e minar sua hegemonia. No
argumento de Lenin, estes dois fatores combinam, para produzir uma força
poderosa para expansão." (CARNNOY, 1974, p 40)
106
A escolaridade que acompanha essa industrialização é, portanto, também uma
função dessas necessidades. O trabalho profissional mais bem pago para
empresas estrangeiras, especialmente para os EUA, as multinacionais. Os tipos
de pessoas necessárias para essas empresas são engenheiros, técnicos, gerentes
e contadores. Especialistas americanos enfatizaram a necessidade de preencher
esses cargos por meio da reforma da universidade e da escola secundária. Os
Estados Unidos também enfatizaram a necessidade de que a educação como
um todo seja mais "relevante" para o processo de desenvolvimento, o que
significa que deve ser menos orientado para disciplinas tradicionais como o
direito e as ciências humanas, e ter um currículo mais orientado para a ciência.
(CARNNOY, 1974, p. 50)
68
Ver SAVIANI (2007) e SAVIANI (2008).
107
desenvolvidos. Estes tornaram-se industriais por meio de avanço tecnológico e poderio
militar, com mercados internos bem-desenvolvidos e mão de obra altamente qualificada.
Os obstáculos evidentes são os das relações entre países em desenvolvimento e as
metrópoles, que os colocam na condição de se encaixarem em uma geoeconomia já
estabelecida, ou seja, sem espaço ou incentivo para se desenvolver em competição de
mercado com a metrópole:
A relação que se manteve nos países subdesenvolvidos governados por seus próprios
nacionais, como já dito, foi a postura do colonizador, de intermediário entre a periferia
por ele governado e o centro. Esses pseudo colonizadores “Tentam assumir o lugar de
onde os europeus pararam, mas não tem a história, o poder e a riqueza do seu homólogo
europeu.” (CARNNOY, 1974, p. 63).
Nos documentos analisados (fontes primárias), é possível reconstituir ações que
indicam o desenvolvimento das relações dos EUA no Brasil, no período pós II Guerra
Mundial, como um movimento planejado, estratégico em cada ação de reorientação ou
ressignificação, conforme vai avançando: a cooptação de uma elite tupiniquim, as
pesquisas de sondagem de riquezas naturais, o desenvolvimento de transporte para o
escoamento de produção e a formação de uma mão de obra dócil e obediente (a última
sem um estudo prévio de aspectos socioculturais relevantes da cultura tupiniquim). Veio
um modelo pronto — reedição do modelo de controle já empregado desde o século XIX
— na relação “apaziguadora’ interna entre Norte e Sul do território americano: uma
“Ratio Studiorum” moderna que substituiu o arcaico modelo imperialista europeu e suas
tímidas ações de implantação do capitalismo.
108
O especial nas ações dos EUA é que o desenvolvimento passa por “americanizar”
as nações: Way of life, by USA. É possível acreditar que, no psiquismo norte-americano,
há a crença sincera do princípio puritanista de salvador de almas da opressão imperial
com eficiência e racionalidade. Como citado no início deste subitem, por Carnnoy, “A
rigor, a expressão correta para designar esse estado da alma americana seria mass
efficiency, algo que equivale à eficiência no ritmo da máquina, portanto, eficiência
padronizada.” (PEDROSA, 2011, p. 09).
As experiências fascista e nazista que desencadearam a II Guerra Mundial são a
grande preocupação no mundo pós-guerra, sendo este o período em que se instaura um
binarismo geopolítico entre capitalismo e “comunismo”, no qual os colonizadores, "na
defesa da liberdade”, reeditam um maniqueísmo para combater a doutrinação
“comunista”, doutrinando-se para o capitalismo, assim como, contra o totalitarismo,
tomam medidas totalitárias travestidas de liberdade. Na interpretação de Monteiro
Lobato, “o americanismo é a sociedade-máquina, que funciona como uma grande
engrenagem social. (...) para Lobato, a maquinização equivale à colmeização da
sociedade e inviabiliza a independência do indivíduo.” (PEDROSA, 2011, p. 07).
69
Truman era vice presidente dos EUA e assumiu a presidência em 12 de abril de 1945, devido à morte de Franklin
D. Rooselvelt.
109
o governo norte-americano: o Acordo Básico de Cooperação Técnica, de 19 de dezembro
de 1950, e o Acordo de Serviços Técnicos Especiais, de 30 de maio de 1953. Neles, foi
celebrada a cooperação dos EUA ao Brasil, abrangendo áreas de economia, administração
pública, administração orçamentária e financeira, agricultura, recursos minerais, energia
nuclear, saúde, educação, transportes, entre outras70.
A formação de quadros para estruturar essas ações — e também na cooptação de
uma elite brasileira — é iniciada. Em todas as áreas, o foco foi a formação de profissionais
e técnicos para atuarem no Brasil, como na área de administração, quando professores
das universidades de Michigan e da Califórnia, e prestaram assessoria às universidades
da Bahia e do Rio Grande do Sul, à Fundação Getúlio Vargas (FGV), à Escola de Serviço
Público do Departamento Administrativo do Serviço Público (DASP) e ao Ministério da
Educação e Cultura — além de auxiliarem na criação, em São Paulo, da Escola de
Administração de Empresas de São Paulo, da FGV. No setor de agricultura, o Escritório
Técnico de Agricultura (FTA), órgão misto brasileiro-norte-americano, atuou na criação
de diversos cursos pelo Brasil e também nos setores de saúde — criação de 292 postos de
saúde pública e pela administração de 23 hospitais no Nordeste — e transporte — o
Controle de Tráfego Aéreo (CONTRAF), instalando equipamento eletrônico de proteção
à navegação aérea nos aeroportos do Rio de Janeiro, São Paulo e Porto Alegre, dentre
demais áreas.
Especificamente na área de educação, o Ponto IV desencadeou ações de forma
tímida, inicialmente, focadas no ensino industrial e primário. Assim, houve a criação do
Centro Nacional de Treinamento de Professores para o Ensino Industrial em Curitiba e
da CBAI — Comissão Brasileiro-Americana de Educação Industrial, criada em 1946,
tornando-se permanente após reorganização, em 1957, no mesmo princípio de formação
de quadros.
Na educação primária, em 1956, foi criado o Programa de Assistência Brasileiro-
Americana ao Ensino Elementar (PABAEE), que tinha como principal função formar
educadores brasileiros, no Brasil e nos EUA, e publicar textos — material didático —
para as escolas normais e primárias. Esse programa foi criticado por ser puramente
técnico, sem levar em conta as determinações culturais e políticas envolvidas no processo
de alfabetização e letramento (PAIVA & PAIXÃO, 2002). Mas foi em 1959, com a
revolução Cubana e seu alinhamento ao bloco Soviético, que o fortalecimento das
70
Esses fatos estão registrados em atas encontradas no PROEDES-FaE-UFRJ, e estão anexos à esta tese.
110
relações Brasil e Estados Unidos tomou consistência. O Decreto brasileiro nº 45.660 71,
de março de 1959, criou o Escritório Técnico de Coordenação dos Projetos e Ajustes
Administrativos do Ponto IV. Esse escritório dava continuidade no auxílio aos técnicos
brasileiros, no estabelecimento de prioridades e na elaboração de projetos sob supervisão
direta dos norte-americanos. Ele era composto por um diretor executivo e um conselho
de coordenadores, e subdividido em ações nos setores de saúde, educação, agricultura,
assuntos diversos e administração geral.
A partir de 1949, o que se viu foi uma liberdade imposta. Em toda a América
Latina surgiram governos militares ditatoriais, sob o mesmo princípio de defesa contra a
ditadura comunista: assim deu-se significado à expressão “A América para os
Americanos” (do Norte). Há outros pontos característicos do Americanismo enquanto
intervenção cultural e ressignificação de hábitos, que vêm para o Brasil neste período, os
quais serão expostos e discutidos no capitulo de análise documental.
71
Idem.
111
3 – Aspectos culturais americanistas nos discursos e ações para construção dos
Ginásios Polivalentes.
72
Ted George Goertzel (nascido em 20 de novembro de 1942), sociólogo americano e professor emérito de
sociologia na Rutgers University — New Jersey, U.S. —, Ph.D. pela Washington University, St. Louis, Missouri,
1970, com a tese Brazilian student attitudes towards politics and education. Doutorando à época do artigo, em trabalho de
campo no Brasil.
73
Traduzido no Brasil como Industrialismo e Sociedade Industrial, de autoria dos quatro pesquisadores citados.
(editora Fundo de Cultura, 1960).
74
James Burnham, The Managerial Revolution, New York, 1941.
112
loucura nos atravessarmos no caminho da torrente do futuro75. (GOERTZEL, 1967,
p. 124-125)
Segundos os empresarialistas, essa torrente para o futuro pode ser explicada por eles
acreditarem que “o maior imperativo do industrialismo é a conquista do velho pelo nôvo;
o industrialismo compele a humanidade a marchar através da História a uma velocidade
cada vez maior, embora determinando apenas a direção geral desta marcha”. [sic] (KERR;
DUNLOP; HARBINSON; MYERS, 1963, p. 63), seja em países com ideologia capitalista,
socialista ou comunista.
Os empresarialistas, seguidores de Comte e os positivistas distinguiam pessoas dentro
de uma nação conforme sua capacidade funcional. Eles dividiam a sociedade em
administradores e administrados, dentro de um contexto com objetivos comuns e harmônicos,
abandonando visões que levem ao conflito de classes ou diferenciem os indivíduos, pois
consideram indesejável e impossível isso ocorrer dentro de uma sociedade democrática e
igualitária consolidada. Para eles, o que distingue as pessoas são capacidades meritocraticamente
definidas na alocação de funções sociais. Desse modo, a educação deve formar recursos
humanos para as funções administrativas e operacionais necessárias ao bom funcionamento da
sociedade, fazendo com que a educação seja a serva do industrialismo. Contudo, quando trata
das ações da USAID no Brasil, Goertzel afirma não acreditar em más intenções dos
empresarialistas: “A probabilidade maior é de que estejam simplesmente planejando na linha do
que eles consideram que deva ser a Torrente do Futuro.” (GOERTZEL, 1967, p. 133).
No intuito de entender melhor essas ideias, analisei uma das obras dos empresarialistas,
traduzida para o português como Industrialismo e Sociedade Industrial, que, apesar de ser pouco
conhecida nos EUA, como afirmado acima, foi publicada no Brasil em 1963. Trago, abaixo,
uma descrição sucinta dos aspectos da obra, para auxiliar o entendimento desses teóricos — e
também de qual tipo de elite industrial a sociedade brasileira pertence, em meu entendimento.
Problemas administrativos enfrentados pela moderna forma de produção
industrial americanista: esse é o ponto inicial de pesquisa dos quatro teóricos do
movimento empresarialista. Eles queriam saber sobre as formas de recrutamento da força
de trabalho; as características históricas dos protestos de operários industriais; quem está
por trás desses protestos; como as atitudes dos patrões e do governo afetam os protestos
e como a cultura de uma nação afeta o recrutamento e os protestos de operários para a
indústria — isto é, problemas clássicos da administração industrial moderna. Porém, no
75
Grifos meus
113
decorrer da pesquisa, reorientaram seu foco para outro aspecto mais importante e
abrangente, inclusive das relações industrialização e tensões:
Para eles, a força de trabalho industrial pelo mundo se formou no contexto de cada
sociedade, sem muita influência no estabelecimento de normas — a escolarização não
influenciava muito, no início. Tudo isso contribuiu para a criação de características
próprias de cada sociedade na sua forma de industrialização e, consequentemente,
determinou as características destes modelos, conforme quem os organizava e instituía.
Ou seja, a característica da industrialização retratava os aspectos da elite industrializante.
Para eles,
Elite industrializante ou industrializadora, neste volume, é o conjunto de
líderes do processo de industrialização, tais como líderes políticos, fundadores
de organizações industriais, militares dos postos mais elevados, intelectuais
associados e, as vezes líderes trabalhistas. Toda elite industrializante
necessitará de técnicos, administradores e burocratas. [sic] (KERR; DUNLOP;
HARBINSON; MYERS, 1963, p.18, nota de rodapé)
Com isso, este se tornou seu novo objeto de estudo: examinar as diferentes elites
industrializantes no mundo — “O trabalho raramente é o condutor real da sociedade rumo
ao futuro. Êle pode pressionar e arrastar os líderes, mas a administração, lato sensu,
desempenha o papel principal e tem a maior responsabilidade no delineamento do curso
da civilização.”. [sic] (KERR; DUNLOP; HARBINSON; MYERS, 1963, p. 18).
Tomando análises históricas de sociedades como base, os autores tipificaram
cinco ideais de elite que lideram o processo de industrialização:
114
Nessa tipificação, os autores não se referem aos indivíduos que a constituem, mas sim ao
caráter de sua orientação central. Porém, destacam a importância de identificar quem já
possuía esse caráter de desejo de industrialização:
Não pretendo discorrer sobre todos os cinco tipos; apenas apresentarei aqueles que
possibilitariam entender em qual desses tipos a sociedade brasileira se enquadrava.
Primeiramente, me veio o tipo elite dos administradores coloniais, logo descartado.
Analisei que a perspectiva de tipo colonial no Brasil não pode ser verificada, pois a nossa
elite oligárquica já era estruturada culturalmente no modelo agrário, patrimonialista e
escravagista. Com a independência, os aspectos culturais herdados do período colonial se
cristalizaram como cultura nacional e não possuíam uma vertente industrial. O que nos
leva a outra hipótese de tipificação da nossa elite, a Elite Dinástica:
Esta, sim, é a que mais se enquadra na caracterização de elites dominantes, proposta pelos
empresarialistas.
Confesso que, a princípio, criei a ideia de que não foi a Elite Dinástica, a escolhida
para ser cooptada pelas forças externas para alavancar o desenvolvimentismo no Brasil.
Após primeira leitura geral do livro, minha análise foi que, no cadinho cultural brasileiro
nos séculos XIX e XX, um novo elemento foi introduzido: o da imigração europeia,
constituída, em sua esmagadora maioria, de trabalhadores excedentes do processo de
industrialização por lá, em busca de nova vida por aqui, criando uma nova classe sem
tradições de status quo em terras tupiniquins, mas que tinha experiência do processo de
industrialização. Nessa primeira impressão, entendi que os conflitos entre a Elite de
Administradores Coloniais e a Elite da Classe Média marcavam a gênese desse processo
115
no Brasil: era o conflito entre “a nova cultura, com seu tema dominante lançado pela elite
industrializante, e a velha cultura é, inevitavelmente travado em várias frentes: o
econômico, o político, o religioso e o intelectual.” (KERR; DUNLOP; HARBINSON;
MYERS, 1963, p. 67). Esses renegados europeus, originários de vários países, trouxeram
os aspectos culturais da industrialização que ocorria na Europa, enxergando, dessa
maneira, um meio de ascensão social. Eles se destacam das classes baixas daqui,
justamente por esses aspectos da cultura industrializante. Por outro lado, não possuem o
status de cultura dominante, pela ausência de tradição e pela visão diversa das elite
agrárias brasileiras. Concluí, nesse momento, que a revolução passiva burguesa brasileira
foi a ascensão dessa “classe média” ao controle hegemônico da cultura brasileira,
patrocinado pelos “pais” da cultura industrializante:
Levei em conta que São Paulo é o berço do industrialismo brasileiro. Isso muito se deve
aos imigrantes europeus que abandonavam as lavouras de café rumo à cidade, compondo
a classe média sem tradição escravocrata:
116
forem necessários para permitir o prosseguimento da industrialização, sob sua
orientação.” [sic] (KERR; DUNLOP; HARBINSON; MYERS, 1963, p. 69). Já os
tradicionalistas veem o advento da industrialização e lutam contra ele, de modo que esses
dois grupos tencionam a implantação do industrialismo. Somente se os realistas se
sobressaírem é que a Elite Dinástica não será decadente, nem desaparecerá em uma
nação. Assim, “somente no caso de os “realistas” serem fortes, dominantes, competentes
e patriotas é que um elite dinástica tem possibilidade de liderar um processo de
industrialização, como o Japão ou na Alemanha.” (KERR; DUNLOP; HARBINSON;
MYERS, 1963, p.69). Ora, o movimento progressista que toma corpo em meados do
século XX, no Brasil, é o da modernização conservadora, típico do grupo de realistas.
Minha reorientação aumentou após analisar a descrição de outro grupo dentro da Elite
Dinástica, que é indiferente ao processo de industrialização (ou não): os decadentes76:
76
Este, por sinal, é o aspecto que mais se destaca na nossa elite dinástica nos tempos atuais (2018). Me
parece que, após a Elite Dinástica brasileira se tornar decadente, a ação reacionária foi culpabilizar
lideranças trabalhistas (talvez esta sim, uma Elite de Classe Média) de ser a responsável por toda a
decadência, fazendo uso de um discurso saudosista.
117
Sobre a escolarização da população, esta é descrita no livro Industrialism and Industrial
Man também com o dever de ficar a serviço do industrialismo, cumprindo duas funções
principais: i) preparar a massa populacional, alfabetizando-a e tornando-a dócil para seguir
ordens e ii) formar profissionais liberais e nas ciências aplicadas, treinando-os para operar o
sistema produtivo. Para os autores, “a educação é a serva do industrialismo”.
Retornando a análise de Goertzel, a concepção empresarialistas da educação superior,
por exemplo, deseja o rompimento entre universidade e o resto da sociedade. A universidade,
para eles, ficaria limitada e arbitrária nessa relação. O livro
Harbison e Myers têm consciência de que a educação também abre a mente para a
curiosidade e a indagação, e traz uma exigência de liberdade, mas isto deve esperar
até que o sistema tenha criado condições nas quais ele está a salvo para permiti-lo. A
apreciação das humanidades e artes deve ajudar o homem a encher o tempo de lazer
aumentado depois que o desenvolvimento foi complementado. (GOERTZEL, 1967,
p. 130)
O risco apontado por Harbison e Myers pode ser visto sob a ótica do efeito colateral da
escolarização em massa — a qual me referi no início da tese — assim como a última etapa desse
77
Valores dos anos 1960.
78
Goertzel vê a educação liberal como aquela que ajuda os estudantes a pensarem criticamente e a terem
consciência de um contexto mais amplo do que o de sua profissão específica. Uma educação liberal dá aos estudantes
oportunidade de levar em conta suas questões pessoais básicas, tais como seus objetivos na vida e sua orientação
ética, bem como os problemas sociais. Essa visão da educação superior é defendida pelos humanistas e cientistas
sociais que têm sido deixados de fora, de maneira frequente, pelos fundos federais de pesquisa. É o alvo fundamental
de, virtualmente, cada universidade americana de pré-graduação, tal como está estabelecido nas normas
universitárias.
118
processo, lembrando de Ray Bradbury em seu Fahrenheit 451, defendendo que os
enlatados mentais são a moda e os livros são inimigos.
Goertzel caracteriza os estudantes não conformistas, citados como indesejáveis pelos
empresarialistas, dentro da concepção revolucionária. Ele situa essa concepção em oposição à
empresarialista, pois a concepção revolucionária dá ênfase à necessidade de ideias novas e de
crítica para o esclarecimento da população como um todo: “Revolucionários, de qualquer tipo,
encaram as massas como participantes ativos dos processos sociais, enquanto os empresarialistas
as tem como recursos a serem explorados, talvez para seu próprio bem, mas por certo para o
bem da máquina produtiva.” (GOERTZEL, 1967, p. 126). Outra característica do grupo de
revolucionários é a estrutura de personalidade que envolve as relações pessoais, íntimas (como
dentro da família) e gerais (sociedade), por sua preocupação com mudanças estruturais que
favoreçam a todos em seu bem-estar. Esses indivíduos podem ser encontrados em todos os
setores da sociedade: “Estamos lidando com duas ideologias muito gerais, ou do ponto de vista
universais ou weltanschauungs.” (GOERTZEL, 1967, p. 126). Goertzel apresenta um quadro
comparativo com aspectos essenciais dessas duas posições:
Quadro I
Revolucionária Empresarial
Dá ênfase à necessidade de mudança Dá ênfase à necessidade de mudanças
qualitativa para alterar o sistema ou quantitativas para fazer aperfeiçoamentos
estabelecer um sistema melhor progressivos no sistema
Ciência, saber e arte são valorizados por si só Ciência aplicada, engenharia, relações
públicas e perícia administrativa têm valor
para manter e aperfeiçoar o sistema
Criatividade e inovação são valores chaves Orientação para a tradição, repetição e
confiança na autoridade.
Identificação com grupos abstratos, por ex. Identificação com o grupo igual atual ou
classe baixa, países subdesenvolvidos antecipatório, em especial com grupos
poderosos
Não conformista, dirigido para dentro Conformista, dirigida para fora
Este quadro nos auxilia a entender ações do governo brasileiro contra estudantes e
intelectuais nativos, após o golpe civil-militar de 1964. Este contexto afetou, principalmente, os
intelectuais que, por sua condição “solitária79”, trabalham com novas ideias que emergem do
79
Ver Gaston Bachelard, “A formação do espírito científico” (2002).
119
contexto social quotidiano e podem repensar a sociedade, apontando críticas ou novas
tendências. Na visão empresarialista, os intelectuais podem ser perigosos devido ao efeito que
essas críticas ou novas tendências causam às massas, mesmo considerando que esse ato não seja
a intenção dos intelectuais. Goertzel fala que
80
Para Rollemberg (2012), o fracasso da luta armada no Brasil foi resultado do vácuo entre os intelectuais
de vanguarda e o povo. Toda repressão, toda propaganda ideológica de ambos os lados ainda era uma
incógnita para o povo que assistia a tudo como espectador, passivo ao espetáculo (BITTENCOURT, 2013).
81
Popkewitz cita este movimento na análise dos primórdios do Americanismo, quando relata a formação
do homem cosmopolita.
120
Em relação ao Brasil, Goertzel diz que o plano da USAID segue esse modelo nas
reformas de educação, por meio do incremento da educação técnica. Para ele, no caso da
educação superior, a ação da USAID reedita a desqualificação do sistema brasileiro, que
considera “estruturas organizacionais antiquadas e procedimentos administrativos ineficientes.”
(p. 132). Essa preocupação é esclarecida no pensamento empresarialista, que prescreve que “Os
planejadores educacionais, de maneira quase geral, recomendam que os países
subdesenvolvidos abandonem sua ênfase nas humanidades, direito e artes e ciências sociais sem
aplicação prática e treinem mais gente nas ciências, engenharia e administração de negócios.”
(GOERTZEL, 1967, p. 131). A decisão de manter a linha empresarialista de ampliação da
educação técnica, em detrimento de uma formação que possa gerar “riscos” ao desenvolvimento,
pode ser vista na fala do antropólogo Darcy Ribeiro, citada por Goertzel:
Darcy Ribeiro notou que as faculdades de Filosofia, Ciências e Letras, que foram
criadas com o objetivo de serem um órgão de integração das universidades, não
satisfazem este objetivo. Por certo nenhuma reforma universitária pode deixar de dar
a estas faculdades uma posição mais importante, ao mesmo tempo no preparo de
especialistas e na realização da pesquisa, e na ajuda para propiciar uma educação
humanística mais vasta aos estudantes de outras universidades. (GOERTZEL, 1967,
p. 136-137)
121
Especiais, de 30 de maio de 195382. Na análise desses documentos, pude notar que em 1955
havia programas de cooperação em andamento, com os seguintes objetivos: i) incremento da
produção agrícola e pecuária; ii) melhoria de transporte entre centros produtores e consumidores,
bem como das instalações de armazenagem e métodos de distribuição de gêneros alimentícios;
iii) melhoria das condições de higiene, nutrição, bem-estar social e educação; iv) ensino técnico
e conhecimentos necessários ao amparo da economia do país, incluindo os exigidos na
administração pública e particular, por meio de suas várias modalidades; v) treinamento
especializado nos Estados Unidos da América do Norte, de técnicos brasileiros, nos mais
variados ramos de atividades ligadas ao desenvolvimento econômico e social. (AMU03.019,
p.01).
Na maioria das reuniões, participaram o Senador Apolônio Sales, representando
o Governo Brasileiro; William E. Warne, diretor da USOMB-Brasil, e, também, Jule
Arnold Jr., chefe de planejamento da USOMB-Brasil, Lewis H Earl, chefe de
planejamento e assistente da USOMB-Brasil e Elias Esquinaze, chefe de secretaria e
representante do Governo Brasileiro. As reuniões duravam, em média, uma hora e trinta
minutos. O Sr. Warne e o Senador Apolônio Sales eram os únicos que tinham o conteúdo
das falas registrado em todas as seis atas, nos levando a inferir que as reuniões eram,
basicamente, entre os dois.
O conteúdo e os temas tratados em todas as atas terão seus pontos relevantes
destacados por completo em itálico (ou em quadros), diferenciando-os de comentários
analíticos, no decorrer deste capítulo.
Na primeira ata de reunião, em 23 de setembro de 1955, quero destacar o programa
12-41-028 — Incentivo à participação do trabalhador —, destinado “a facultar
treinamento nos Estados Unidos da America do Norte, a jovens líderes do movimento
sindicalista, cuidadosamente escolhidos para se aperfeiçoarem na técnica de organização,
negociações e relações entre patrões e empregados na formação de sindicatos livres,
independentes e democráticos.” (AMU03.019, p.03).
Na reunião de 23 de dezembro de 1955, o Diretor da USOM-Brasil entregou ao
Senador Sales uma cópia, em lingua inglesa, do acordo sobre o projeto relativo à
participação de diregentes trabalhistas, prometendo entregar uma cópia traduzida,
82
Destaca-se que todos os documentos que verifiquei no PROEDES — FaE — UFRJ, que retratam acordos
entre o Brasil e os EUA, vêm com um formulário na página inicial — espécie de folha de rost—o —, o
qual se preenche dando as referências e as origens dos acordos. Em todos que observei, a origem são esses
dois acordos, demonstrando continuidade de ações. Penso que não dentro de um planejamento, mas de uma
adaptação constante para manter uma meta inicial.
122
posteriormente, para ser analisada e assinada antes da próxima reunião. Na reunião
seguinte, no dia 28 de janeiro de 1956, no item sobre a discussão desse programa, foi
registrado em ata o seguinte: “Passando ao quarto item da ordem do dia, o Senador Sales
e o Sr. Warne assinaram acôrdo de projeto sôbre treinamento de líderes trabalhista nos
EE. UU., que havia sido discutido pormenorizadamente na reunião anterior.” [sic]
(AMU03.019, p.13).
Porém, conforme registro nas atas não houve reunião oficial entre os dias 23 de
dezembro de 1955 e 28 de janeiro de 1956. O que não está registrado é o que havia sido
discutido pormenorizadamente na reunião anterior. Além disso, esse é um item que consta
em três das seis atas analisadas. O porquê de tanto empenho em formação sindical ou
liderança trabalhista — como passou a ser denominado nas duas últimas atas —, em ações
de treinamento que visavam ao desenvolvimento e à industrialização, pode ser explicado
pela visão dos empresarialistas sobre quem deve controlar os sindicatos, descrita
anteriormente. Goertzel confirma a explicação a esta e outras questões:
Sindicatos livres, sob certas condições, tornam-se nada menos do que organizações
comunistas sabotando esforços pelo desenvolvimento econômico. Devem assim ser
livres? pergunta Industrialism and Industrial Man. A livre empresa pode conduzir a
monopólios perigosos. Um mercado livre de trabalho pode resultar na anarquia e
desmoralização. A mão pesada do estado tem que ser mais eficiente do que a mão
invisível do mercado de competição, e alguns generais, em certas situações, são de
longe os melhores líderes de uma nação em industrialização... (GOERTZEL, 1967,
p. 132)
Fora de sua vida de trabalho o indivíduo pode ter mais liberdade sob o industrialismo
pluralístico do que formas mais anteriores de sociedade. Politicamente pode ser-lhe
123
dada alguma influência. A sociedade alcançou o consenso e talvez seja menos
necessário o Irmão Mais Velho exercer controle político... Não haverá nenhuma
revolta, de modo algum, exceto revoltinhas burocráticas que podem ser controladas a
pouco. [sic] (GOERTZEL, 1967, p. 131)
Os planejadores estão, afinal, recomendando nada mais que o Brasil modele seu
sistema de educação de educação superior segundo as normas que a União Soviética
e a China seguiram para satisfazer as necessidades de suas economias em crescimento
rápido. Estes países destacaram a educação técnica em detrimento da educação
humanística num grau muito mais elevado do que os países capitalistas. A China foi
especialmente notável as reformas educacionais que os conselheiros americanos lhe
prescreveriam, e Harbison e Myers a elogiam por isto. (GOERTZEL, 1967, p. 135)
83
Na obra dos empresarialistas, há mais detalhes nas páginas 16 e 17.
84Ver Leonardo Boff, “O despertar da águia: o dia-bólico e o sim-bólico na construção da realidade”, Vozes,
Petrópolis, 1998.
124
Assim, os aspectos culturais característicos do Americanismo na versão do
empresarialismo é a estrutura social harmônica dos administradores e administrados; ou seja, a
cultura organizacional do taylorismo/fordismo se rearticulando conforme é praticada, sem
perder o foco na busca da maior eficiência com menor custo. Com isso, temos a administração
como a ciência aplicada em plena e vigorosa experimentação ascética.
125
produção mineral — US Geological Survey — e o Departamento assinado no dia 27 de
janeiro de 1956. Esses acordos sobre recursos minerais duraram, pelo menos, 14 anos,
como poderemos observar mais à frente, no histórico feito pelo Embaixador norte-
americano Lincoln Gordon, publicado em um livro com seus discursos.
Nessa ata, destaca-se, também, o empenho norte-americano em formar
administradores no Brasil. Há referência à criação de duas escolas superiores com esse
intuito, sempre com assistência direta de professores norte-americanos.
Em outra pauta:
Estes dois recortes, juntamente com o recorte sobre o montante liberado pelos
EUA (citado acima), representam como os brasileiros ficavam à mercê do planejamento
norte-americano. Nas seis atas, o único trecho registrado com oposição ou contestamento
do controle norte-americano está abaixo, no qual apresenta ponto de controvérsia entre as
partes — o Sr Warne e o Senador Apolônio Sales —, em relação à distribuição de recursos
e projetos pelo território nacional.
126
de um curso de administração pública na Universidade de Minas, onde um
professor americano vem prestando serviços, pelo período de um ano; e (4)
em Salvador, com o estabelecimento de um centro regional de
desenvolvimento econômico na Universidade da Bahia, o que ainda está no
plano das discussões. Como se vê, disse o Sr Warne, a cooperação americana
no plano educacional tem tido distribuição geográfica. A Missão luta com
dificuldades para entender, dentro de seus limites financeiros, os pedidos de
outras universidades que solicitaram assistência da mesma natureza. Após
enumerar vários dêsses [sic] pedidos, o Sr Warne declarou que a Missão
pretende cooperar com as instituições mais importantes em cada setor e
desenvolver os projetos de cooperação técnica de tal forma que outras
universidades brasileiras possam vir a se beneficiar dêles [sic] em vez de
necessitarem projetos especiais para cada uma. À vista disso, e desde que a
engenharia administrativa da produção é tão intimamente ligada à
administração de emprêsas, [sic] pareceu lógico à Missão localizar êsse [sic]
projeto em São Paulo para que possa haver um intercâmbio de estudantes com
a Escola de Administração de Emprêsas. [sic]
A racionalização lógica é um bom argumento, mas, aqui, traz duas questões para análise.
A quem cabe pensar onde alocar escolas e promover o desenvolvimento. Analisando essa
resposta do Sr Warne, temos o indício de uma racionalização para a transferência de
know-how administrativa americanista, fundamento taylorista de incremento de
produção. Porém, há um indício que esse processo é instituído para ser irradiado dos
grandes centros para as periferias. Isso garante um controle maior, pois evita formas
regionais de ação administrativas que, naturalmente, poderiam surgir, devido às
diferenças regionais características de nosso país; além de estabelecer um sistema
colonial, como descrito por Carnnoy, de relação metrópole-periferia — fato que pode ter
comprovação na atual visão simplista de que o Brasil sem São Paulo não produz nada.
É necessário ressaltar, também, a estrutura da irradiação, começando pela
formação no ensino superior, na década de 1950, profundamente elitista no Brasil. Os
quatro exemplos da Missão no Brasil são ligados direta, ou indiretamente à
administração, sendo que a única escola que sai do eixo sudeste, o centro regional de
desenvolvimento econômico na Universidade da Bahia, não foi concretizado e está no
plano das discussões. Talvez por escassez de recursos humanos para sua implantação
controlada na eficiência norte-americana. Destaca-se também que a Universidade Rural
de Minas Gerais, em Viçosa, se tornou um centro de excelência na formação de recursos
humanos para o agronegócio. Ponto estratégico dos EUA na configuração geopolítica.
O debate continuou com a resposta do Senador Sales:
127
desequilibrio do desenvolvimento econômico brasileiro, pela concentração de
facilidades educacionais altamente especializadas numa área desenvolvida. E,
continuou, as maiores necessidades do país são de facilidades educacionais
de nível básico em áreas sub-desenvolvidas. Ademais, em virtude das leis em
vigor, pelas quais as facilidades educacionais se destinam primeiro aos
estudantes locais, o intercâmbio de estudantes entre universidades estaduais
é, em geral, impossível. A sua aprovação ao projeto decorria, portanto, de fato
ser o mesmo uma demonstração de geenerosidade americana, mas não
poderia deixar de acentuar a dificuldade de intercâmbio entre universidades
brasileiras. O Sr. Warne acentuou a sua satisfação por essa oportunidade de
discutir com o Senador Sales a orientação básica do programa de assistência
do Ponto IV, visto que o intercâmbio de idéias era uma das razões principais
da existência de um programa de cooperação técnica no Brasil. Declarou,
ainda, que, apenas porque os EE. UU. estão arcando com o custo, isto não
significa que as decisões devam ser tomadas unilateralmente. Acentuou
também que o programa no Brasil não terá qualquer sucesso se não for levado
a efeito através da concordância mútua de ambos os governos. Disse que a
cooperação e os esforços devem ser mútuos e que compreendia o problema de
concentração em determinada área, como mencionava os Senador Sales.
Sugeriu ao Sr Arnoud um memorando sobre o assunto para discussão no
Comitê de Programas da Missão. O Senador Sales declarou que reconhecia
que certo projetos, por sua natureza, devem ser concentrados em uma
determinada região. Aparentemente, entretanto, existe considerável
concentração em diversos setores no triangulo São Paulo-Distrito Federal-
Minas Gerais, e que queria ver os programa de assistência técnica se estender
a áreas fora deste triangulo de uma forma progressiva. O Sr. Warne ponderou
que essa sugestão era lógica e digna de atenção e que uma das formas de
evitar essa concentração seria através do centro regional de planejamento a
ser estabelecido na Bahia.
85
Os decadentes certamente nem iam às escolas superiores.
128
questão legal de frequência nas escolas apenas por alunos da região. Ainda que exista
essa lei, condicionando a matrícula à apresentação de provas que o aluno é membro da
comunidade, seria muito simples um aluno com boas condições financeiras, por exemplo,
do Estado do Piauí, estabelecer moradia em São Paulo, apenas para o curso de
administrador de empresas, retornando ao seu Estado, ao término do curso.
Se na formação de administradores havia concentração, na descoberta de novos
nichos econômicos (para atuação destes) a distribuição geográfica acontecia —
principalmente na exploração de recurso minerais. Nessa mesma reunião tratou-se do
treinamento de técnicos para exploração das minas de fosfato, próximo a Recife, no
estado de Pernambuco.
129
não havia recursos. A exploração de recursos minerais, por exemplo, leva modernidade
para onde antes havia apenas pedras e pobreza.
Nota-se que o foco é o aspecto social, político e econômico. No meu entendimento, esses
aspectos são necessários para a eficiência de implantação da educação técnico-
vocacional, por meio de uma rede de escolas, para cumprir sua função de ressignificação
cultural de forma ampla à toda a população.
Nomeado para chefiar a missão diplomática norte-americana no Brasil, o
Embaixador Lincoln Gordon publicou o livro (que teve distribuição gratuita) no claro
desejo de informar, largamente, o que se propunha nesta nova etapa das relações com a
América Latina — especificamente, com o Brasil. Vale lembrar que Gordon não era
embaixador por profissão, era economista e professor. Não há como identificar, na obra,
se é uma coletânea dos discursos ou se são fregmentos dos discursos agrupados nos
capítulos, conforme os temas. Nota-se, ainda, que há vários momentos em que as ideias
são retomadas ou repetidas. O exemplar encontrado no PROEDES é uma fotocópia do
livro e não possui referências bibliográficas ou ano de publicação. No prefácio, há
referência ao aniversário de um ano do Programa Aliança para o Progresso, que teve
início em 1961, com a elaboração da Carta de Punta del Este. Assim, a princípio,
inferimos que a publicação deste livro tenha sido em 1962. Buscando em sites de livrarias
na internet, encontrei exemplares à venda em sebos, que confirmam essa data de
publicação.
130
Encontro-me aqui movido por profundo interêsse pessoal nos problemas e no
desenvolvimento dêste país e porque, desde alguns anos, meu principal
empenho tem sido o fortalecimento das diretrizes dos Estados Unidos no
hemisfério ocidental e, especialmente, no Brasil. [sic] (GORDON, 1962, p.01)
86
A origem da ideia está na carta de Juscelino Kubitschek, endereçada ao presidente norte-americano, Eisenhower, por
oportunidade da reunião na OPA – Operação Pan Americana. Esta carta afirma que o descontentamento manifestado
durante a viagem do seu vice-presidente (Nixon) ao continente latino-americano era consequência da miséria, atraso,
subdesenvolvimento e, portanto, descontentamento das populações do continente. Na mesma carta, Juscelino
Kubitschek pergunta: Não seria no caso de se pensar uma nova política norte-americana, em colaboração com os
governos latino-americanos, para erradicar tais fatores de atraso? Ver Lage, (2001); Bittencourt, (2013).
131
Gordon aponta que o interesse dos EUA em finaciar a Aliança para o Progresso
parte da convicção da necessidade de uma América Latina próspera, livre e auto-
confiante. Dentro do princípio de liberdade e de contenção de conflitos, ele diz que os
Estados Unidos não podem se acomodar com sua prosperidade em um mundo sofredor.
Levar o desenvolvimento é “indispensável porque só por meio de maior produção e maior
produtividade as reivindicações legítimas dos grupos sociais e regiões de uma nação
podem ser harmonizados ao invés de degenerarem em lutas de classe e lutas regionais”.
(GORDON, 1962, p.10). Assim, essa ajuda
Não é aritimética econômica (...) sabemos que vizinhos prósperos são sócios
de bons negócios. Nem aritimética política; sabemos que os verdadeiros
aliados não podem ser comprados e acolhemos a cooperação voluntária de
nossos amigos latinoamericanos nos assuntos mundiais, porque partilhamos os
mesmos pontos de vista no que concerne à paz e à liberdade no mundo.
(GORDON, 1962, p.8)
Investir para o desenvolvimento exige economia, que pode ser voluntária ou forçada,
interna e externa. Este é o ponto que divide o planeta: “Há o caminho das instituições
livres, para o qual aponta a Aliança para o Progresso. E há o caminho soviético.”
(GORDON, 1962, p.11).
O embaixador Gordon continuou tecendo comentários sobre o desenvolvimento
na União Soviética, citando exemplos como a expropriação de riquezas dos camponeses
e a espoliação de trabalhadores de indústria com a obrigação de trabalhos forçados, sob
ameaça de serem deportados para região da sibéria. Além disso, o povo não tinha acesso
aos bens produzidos e os padrões de habitação, em sua maioria, eram inferiores aos
encontradas na America Latina nos “dias atuais”(anos 1960). Ele ainda apela para o lado
humanitário, levando a dificuldade para “nós cristãos” acreditarmos em tal realidade de
exploração.
Aspectos do discurso do embaixador se alinham ao pensamento dos
empresarialistas. Em todo o livro é possível ver essa referência: por exemplo, a hipótese
de que os empresarialistas estavam um nível acima das dicussões geopolíticas mundiais,
mas que reforçavam para efeito de coesão e controle. A defesa de que o mundo precisa
se unir contra o comunismo pode ser vista claramente como a criação do binarismo
foucautiano para controle de relações. Ao normatizar o capitalismo, apresenta-se o
anormal, o comunismo.
A educação é outro exemplo das ações derivadas da teoria empresarialista. Em
todo o discurso, a escolarização é para a formação de recursos humanos (conceito
administrativo). Para Gordon, a Aliança para o Progresso é um direcionamento, uma vez
132
que na América Latina “existem recursos materiais e humanos para construir
comunidades de crescente prosperidade material, de justiça social, de oportunidades cada
vez mais vindouras.” (GORDON, 1962, p.18). Ao mesmo tempo, há essa determinação
para a ressignificação cultural: “O crescimento da população e as aspirações populares
não permitirão qualquer simples manutenção do status quo.” (GORDON, 1962, p. 18) —
clara sinalização que busca romper a antiga ordem aristocrática (patrimonialista) de
mobilidade social independente do status quo. Ele cita como exemplo essa superação
aristocrática nas revoluções americana e francesa, além de fazer referência à mensagem
da Mater et Magistra87. Gordon afirma, também, que o Brasil pode e deve ser um modelo
para o desenvolvimento livre para a América Latina e outros países, destacando que
O Brasil muito ensinou o mundo. Foi o Brasil que pôs fim pacificamente à
escravatura, com uma penada, e atingiu um grau de harmonia racial que causa
inveja a outra comunidades multi-raciais, em todo o mundo. O Brasil que
unificou metade do continente com a mesma língua e sob a mesma bandeira
não pode duvidar de sua capacidade de realização. [sic] (GORDON, 1962,
p.19)
Também podemos verificar indícios dessa visão empresarialista quando Gordon cita o
apendice II da Carta de Punta del Este. Nele, há a descrição das oito metas a serem
atingidas a longo prazo, das quais sete estão ligadas diretamente à área da economia e a
última, indiretamente, na formação de mecanismos de administração pública.
Para Gordon, esses tópicos não devem ser entendidos como o planejamento total
de todos os aspectos de vida econômica — da maneira que se tenta em algumas
sociedades totalitárias —, referência indireta ao Capitalismo de Estado, dos países do
bloco Soviético. No geral,
87
Mater et Magistra (Mãe e Mestra) é uma carta encíclica do Papa João XXIII, sobre a evolução da questão Social à
luz da Doutrina Cristã, publicada em maio de 1961.
133
ele, isso significa justiça para a classe trabalhadora, por meio da cooperação de todos os
membros da comunidade “para expandir a produtividade, ao invés de esforços auto-
destruidores com o fim de igualar a pobreza. E significa contrôle responsável da liderança
política por um eleitorado bem informado por meio de imprensa livre e honesta”.
(GORDON, 1962, p. 40). Novamente, Gordon repete a fórmula trazendo comparações
valorizando o modelo capitalista em detrimento do modelo soviético, anunciando uma
ajuda humanitária na qual se difunde e valoriza parte da luta do bem contra o mal. No
meu ver, é sutilmente contráditorio falar de um modelo de pacificação e união dos povos
e fomentar a discórdia não resolvida que envolve a própria nação que propõe o modelo.
O livro, inclusive, traz um apêndice com a história da Guerra Fria, na versão americana.
No discurso de Gordon fica evidente o uso do dualismo geopolítico, como contraponto
para justificar as revoluções passivas, ante as violentas revoluções populares comunistas.
Gordon destaca essa forma pacificadora de ação em princípios democráticos. Para
ele, a verdadeira democracia pode ser resumida como
88
Forma como o grupo de alunos considerados revolucionários apelidaram seu professor Clark Kerr.
134
essa indiferença aos “paredões” brasileiros venha do fato de Gordon acreditar que “as
reformas têm que vir de dentro” e esclarecer que a Aliança para o Progresso não quer
trocar auxílio por reformas: um dos princípios filosóficos da Operação Aliança é o
conceito autoajuda.
O conceito de autoajuda é o necessário à eficiência da assitência técnica para a
realização de tarefas de desenvolvimento do Programa. Ou seja, esse conceito é fundante,
como parte do programa geral. Em resumo, a programação eficiente e a preparação de
projetos específicos são dois dos principais aspectos do princípio de autoajuda, acordados
na Carta de Punta del Este. Assim, conforme Gordon, (1962, p. 42), são três elementos
essenciais no conceito de autoajuda:
1) Contribuição substancial de recursos internos (dinheiro, terras ou materiais e mão
de obra, por exemplo, em cada projeto que requeira recursos exteriores;
2) Melhoramentos institucionais para tornar mais eficiente um projeto ou programa
(por exemplo: ajustes administrativos; estabelecimento de cooperativas agrícolas;
treinamento de pessoal; distribuição de energia elétrica e nova legislação de âmbito
nacional ou local) e
3) Reformas mais amplas, que facultam a estrutura do progresso democrático, como
o controle da inflação.
Não há referências diretas para a educação. Mas, na sequência do texto, poderemos notar
que, para Aliança para o Progresso, quando se refere ao desenvolvimento social, a relação
educação-treinamento é fundamental. Gordon alerta para a distinção entre o
desenvolvimento social e as simples atividades de bem-estar social. Para ele “as
finalidades do desenvolvimento econômico e social na Aliança são gêmeas — de fato,
são gêmeas siamesas.” [sic] (GORDON, 1962, p. 46). Com isso, o sistema educacional
precisa ser elaborado de modo a atender às necessidades da sociedade em
desenvolvimento.
Gordon faz críticas ao modelo atual de educação latinoamericano, com destaque
para os níveis secundário e superior, por não atenderem ao aspecto útil das necessidades
requeridas ao desenvolvimento moderno:
135
todos os setores da vida pública ou particular requer mentalidades cultivadas e
judiciosas, tanto quanto disciplinadas. [sic] (GORDON, 1962, p. 48)
Ou seja, ressignificação das teias culturais de forma geral. Ainda, ele conceitua socialismo
da seguinte maneira:
Se a ideia de “socialismo” significa justiça social e atenção aos interêsses das
amplas massas de população, então essas economias neo-capitalistas,
democráticas, mistas são muito mais “socialistas” que os sistemas comunistas
que se apropriaram do têrmo. Em verdade, os regimes comunistas têm tão
pouco direito de se chamar “socialistas” quanto aplicar o têrmo “democrático”
às ditaduras dos países satélites da Europa Oriental, inteiramente totalitárias,
unipartidárias. (GORDON, 1962, p. 58)
89
Há outros que poderão ser vistos no decorrer do texto.
136
Lenine (GORDON, 1962, p. 58). Feitas as devidas distinções, Gordon faz uma
explanação do desenvolvimentismo como um processo de cinco etapas 90. Em sua
avaliação, no Brasil podem ser encontrados exemplos de quatro das cinco etapas,
simultaneamente conforme a região — sem deixar de repetir o mantra da liberdade e da
democracia.
Ponto curioso do livro de Lincoln Gordon é a introdução ao capítulo VI
(“Reconstrução das estruturas educacionais”). Ele inicia o capitulo falando da
Inconfidência Mineira, ocorrida ainda no século XVIII, em 1789, data próxima à
Independência dos EUA (1776). Para Gordon, há um estreito elo entre o Estado de Minas
Gerais e o Estado norte-americano. Segundo ele, enqunto Tiradentes buscava apoio à
libertação da nação brasileira, levava no bolso uma cópia da recém promulgada
constituição norte-americana. No entanto, não consegui referências concretas de que
houve apoio ao movimento de independência brasileira por parte de nossos “irmãos do
norte”; pelo contrário. Extraoficialmente, em uma obra literária 91 sobre a vida dos
inconfidentes mineiros, Tomás António Gonzaga relata sua frustração por nunca ter
recebido resposta sobre o pedido de apoio ou reconhecimento, caso se alcançasse o
intento da independência.
Depois disso, Gordon faz um histórico sobre projetos em andamento, que vão
desde a extensão das ações nos últimos quatorze anos do United States Geological
Survey92, no mapeamento do quadrilátero ferrífero mineiro, a projetos de suprimento de
energia elétrica e outras ações que levam em conta as reformas pretendidas e os interesses
regionais, ponto largamente colocado por Gordon como o princípio de autoajuda, da Carta
de Punta del Este. Ressalta-se que, no capítulo sobre educação, não foi realizado um
histórico de ações, como ocorreu em todos os setores de exploração de recursos de
matéria-prima industrial desde 1950, após a criação do escritório de ações do Ponto IV,
no Brasil.
Não há qualquer referência, em todo o livro, a um estudo diagnóstico da situação
educacional brasileira, levando em conta aspectos socioculturais característicos de cada
região do Brasil. Se observarmos o princípio de autoajuda, este seria um projeto
90
Gordon cita como referência de análise a publicação Etapas do desenvolvimento Econômico, do Professor
Walt Rostow, do Massachusetts Institute of Technology (MIT), chefe do Grupo de Planejamento Político
do Departamento de Estado dos EUA, na década de 1960. Em 1964, Rostow era o representante norte-
americano da Comissão Interamericana da Aliança para o Progresso (CIAP), no Brasil.
91
Confidências de um inconfidente (Vasconcellos, 1986, editora edicel)
92
Há referência a esta instituição nas atas do Escritório do Ponto IV, nos anos de 1955-1956.
137
fundamental para orientar ações, mesmo que usando o novo modelo técnico vocacional.
O que Gordon apresenta são generalizações, como a diferença dos tempos de
escolarização primária no nordeste brasileiro e a alta taxa de evasão nos níveis primário
e secundário; e, é claro, os jargões enaltecendo a educação técnica vocacional moderna
em detrimento do modelo antigo, arcaico.
Gordon faz críticas que podem ser encontradas, quase que nos mesmos termos,
em diversos momentos do livro, referindo-se ao nosso sistema de ensino como ineficiente
na formação de recursos humanos necessários ao desenvolvimento, destacando
novamente sua necessidade de modernização. Como dito acima, não há como identificar,
no livro, se ele é uma coletânea dos discursos, ou se estes estão distribuídos pelos
capítulos conforme os temas. Assim, por questão sistemática e evitando repetir citações
de discursos, fiz alguns recortes, apenas no que toca o tema da educação que nos interessa,
a partir de pontos de vários capítulos. Isto, no meu ver, tornará mais didático o
entendimento do que o Programa Aliança para o Progresso propunha para a educação,
conforme o discurso do embaixador norte-americano. Logo no início, Gordon fala da
necessidade de investir em educação. Para ele,
Em outro momento, referindo-se a esses estudos, Gordon cita um teórico que nos ajuda a
entender como a educação pode potencializar os lucros:
138
Gordon afirma que o moderno modelo de educação que garante mais retorno a
este investimento é o técnico vocacional: por isso ele deve ser implantado em larga escala
na América Latina. Essa é a oportunidade oferecida pela Aliança para o Progresso, de se
pular etapas93 de desenvolvimento a partir do auxílo dos países desenvolvidos. Esse salto
seria possível adotando “as técnicas adquiridas por outros [países], antes dêle, à custa de
grandes despesas e sacrifícios.” (GORDON, 1962, p. 69). Assim, sem cometer erros na
formação que levaram ao sofrimento, a America Latina poderá garantir um
desenvolvimento muito mais aligeirado dos que ocorreu com outros países em
industrialização, no século XIX:
93
Os empresarialistas consideram apenas os Estados Unidos, a Inglaterra e a União Soviética os únicos modelos a
serem seguidos pelas economia emergentes, na industrialização [sic] (KERR; DUNLOP; HARBINSON; MYERS,
1963, p. 19).
139
Para ele, não há oposição entre a educação humanística e a materialista (técnica
vocacional): na prática, apesar de materialista, a educação técnico vocacional também
tem o objetivo de formar cidadãos.
Ainda segundo Gordon, o que há de inovador é a ligação direta à eficiência
educacional com parâmetros na cultura administrativa. Nas palavras do embaixador, o
melhoramento substancial da estrutura administrativa na educação. “o esforço requer
planejamento sistemático, relação adequada de treinamento de professores com a
construção de escolas e o uso de métodos educacionais que deem os melhores resultados
por unidade de despesa.” (GORDON, 1962, p. 73), isto é, todos os aspectos contemplados
na instauração dos Ginásios Polivalentes. A sociedade como um todo deve contribuir
também, garantindo investimento administrativo, para um retorno maior, com maior
eficiência: “Isso por sua vez requer um corpo de servidores civis para administração
educacional bem pagos, bem treinados e verdadeiramente profissionais. E também
administradores treinados em outros setores de atividade governamental e das empresas
particulares.” (idem, p. 73).
O princípio americanista de inovação educacional que mais se destaca em seu
discurso é o da administração como meio para a eficiência, o que repercurte até os nossos
dias. Quase 60 anos após a publicação do livro, é forte, nos discursos educacionais
brasileiros — seja na formação ou na adminitração escolar —, a valorização do privado,
como melhores e mais eficientes administradores que o público, arcaico e ineficiente;
mantendo, assim, o espírito da sociedade formada por administradores e administrados,
proposta pelos empresarialistas e profetizada como “torrente para o futuro”. O aspecto da
cultura de administração americanista, certamente, foi o que mais se difundiu, em todos
os setores da sociedade brasileira:
Destaca-se que a participação consentida dos membros componentes não é o mesmo que
a particiapção espontânea. Os administradores veem a sociedade como uma grande
140
empresa, todos ocupando seu papel funcional (inclusive o de consumidor). A
colmeização, na fala de Monteiro Lobato, pode ser bem compreendida agora: a sociedade
é uma grande e promissora empresa e os cidadãos são seus colaboradores:
141
as reformas darem certo também na América Latina. Lendo o que ele descreve (e
resumindo), me parece uma receita para passar da sociedade patrimonialista à sociedade
anônima; isto é, mais um modelo de forma idealizada do que praticada, pois, para que
ocorra o planejamento, a consciência social dos empresários é exigida como pré-requisito.
Se o proprietário obtém uma taxa de lucro satisfatória, ele pode melhorar a remuneração
de seus funcionários. Logo, se todas agirem assim, todos terão aumento das taxas de lucro,
uma vez que os salários movimentam o mercado. Altos lucros com baixos salários não
favorecem esse modelo, que é representado pelo velho mercador e deve ser superado.
Gordon também fala da aversão brasileira ao lucro, como se fosse pecado:
(...) parece haver um sentimento de que o lucro é uma coisa sórdida, anti-social,
de que todos os homens de negócio deveriam se envergonhar. (...) num sistema
saldável e competitivo, os lucros são somente uma prova que a emprêsa está
realmente satisfazendo as necessidades dos consumidores, mantendo o custo
de produção abaixo dos preços que os consumidores aceitam pagar.
(GORDON, 1962, p. 83)
O fato é que esse modelo parece lógico, desde que se mantenha a consciência
social dos empresários, da forma idealizado por Gordon. No entanto é, no mínimo,
contraditório propor consciência social e aumento de lucro, uma vez que a visão do lucro
é um ponto cultural que difere, em aspectos políticos culturais enraizados, na origem das
Américas do Norte e do Sul. A usura era condenada pela Igreja Católica, além de ponto
divergente das religiões Protestantes que surgiram no século XV, como o Anglicanismo
e o Puritanismo, que via o lucro como valorização divina do trabalho na Terra. A visão
do lucro, na modernização empresarialista, também deveria ser ressignificada. De fato, o
Brasil legislou para controle abusivo de taxas de lucro: a lei da Usura, Decreto nº 22.626
de 1933, esteve em vigor até ser expressamente revogada por um decreto sem número, de
25 de abril de 1991. Se foi consequência dessa intervenção/ressignificação cultural ou
não, não é possível afirmar.
Outro fator de destaque e que repercute na relação como o lucro é a tensão das
relações em busca da eficiência de produção. Gordon afirma que a tensão da competição
no mercado é uma saudável motivação para buscar mais eficiência. No livro com seus
discursos existe um capítulo para tratar desse assunto: o capítulo VIII (“As Tensões
Produtivas no Desenvolvimento”). Para Gordon, as tensões sociais podem ser boas ou
ruins: “A guerra compreende tensões desagradáveis. O amor compreende tensões
altamente agradáveis. E o trabalho compreende tensões necessárias.” (GORDON, 1962,
p. 89). Uma forma de criar boas tensões é por meio do estímulo de países desenvolvidos
142
para tirar sociedades arcaicas da lenta produção e completa ausência de tensão. Com isso,
a Aliança para o Progresso vem para pacificar as revoluções destrutivas do tecido social:
“A tarefa não é só eliminar as tensões desagradáveis, mas estimular tensões produtivas e
afastar as obstrutivas.” (p. 89). A resistência de alguns países latino americanos em
empenhar toda energia de povos e governos nessa aliança cooperativa, “garantindo os
esforços devotado dos líderes mais competentes da vida pública e particular, em todo o
hemisfério” (p. 91), traz fortíssima pressão negativa e desagradável sobre a região como
um todo.
Por que estas deficiências? Seria necessária uma análise detalhada de cada país
para explicar o vulto de todas elas. Aqui no Brasil, a vida política foi
obviamente anuviada pela crise que se seguiu à renúncia do Presidente
Quadros, logo após a adoção da Carta de Punta del Este. Contudo, é minha
opinião, a deficiência básica é exatamente caracterizada pelo embaixador
Campos, quando ele fala da necessidade de uma mistura política. A não ser
que a busca do progresso econômico e social, nos termos da Carta de Punta del
Este, se torne parte importânte na vida política nacional de cada país
participante e a não ser que a grande maioria dos povos, grupos organizados e
líderes influêntes sintam que estão todos compreendidos e comprometidos
neste objetivos, a Aliança para o Progresso não lograra êxito, apesar da solidez
técnica de projetos isolados e do vulto do auxílio financeiro proveniente do
exterior, à disposição da América Latina. A Aliança tornar-se-á, então,
simplesmente, mais um programa norte-americano de auxílio, sem dúvida
maior e melhor do que outros que o precederam, mas nunca um processo de
cooperação para proporcionar mudança profunda nos padrões de vida
existentes, nas perspectivas para sua mais rápida melhoria, no sentimento de
participação no progresso, de todas as classe e regiões das comunidades
nacionais e na salvaguarda das liberdades civis e das instituições da
democracia representativa. [sic] (GORDON, 1962, p.91)
Ao analisar esse discurso, percebo a intenção de ultimato: isto é, se não for o bloco
continental do Sul, não vai ter a eficiência necessária. O que desencadeou esse
redirecionamento dos interesses políticos dos EUA na América Latina foi a Revolução
Cubana, de 1959, e o consequente alinhamento de Cuba (como país socialista) ao eixo
liderado pela URSS. Com o episódio da instalação de foguetes soviéticos em Cuba, os
EUA buscaram novas políticas de segurança para a área, decretando o embargo
econômico contra Cuba e tornando-o um elemento permanente da ação americana para
estes fins de segurança. Isso despertou uma mudança na ação política (também dos EUA)
para as nações latino-americanas.
143
reforçaram os postulados da sua política. (BITTENCOURT, 2013, p. 70)
O risco de não eficiência da Aliança, apresentado pelos EUA, pode ser de não
eficiência na adesão continental do Sul ao “lado” capitalista. Retorno, assim, à pergunta
dos empresarialistas “o que interessa é: quem vai controlar este território?” Outra questão
é que, apesar de se falar no conceito de autoajuda, este me parece mais uma forma de
legitimação conceitual de independência de ações; se não fizer o prescrito, não vai
funcionar. Ou seja, se não mudar os padrões de vida existente — ressignificação cultural
— na maneira proposta e prescrita, as ações serão paliativas e não podem se
institucionalizar enquanto cultura. Esse efeito é descrito por Carnnoy, nas estruturas
colonialistas: é preciso que cada brasileiro tenha, pelos norte-americanos, o efeito
psicológico do pai que ajuda o filho a crescer, e que este se mantenha na linha de gratidão,
tenho aquele sempre como exemplo a ser seguido.
A educação é o instrumento para colocar essas ideias em prática. A cultura
americanista foi se irradiando de forma controlada na formação técnico administrativa,
cooptando por meio da formação de administradores para os setores privado e público e
fomentando negócios nunca antes explorados por aqui. O último estágio foi formar
consciências administradoras em larga escala. Essa estrutura empresarialista de formar
administradores em bloco, disfarçada de oportunidades e tensões para fomentar busca de
eficiência (autoeficiência; autovalorização; autodisciplina), realmente foi convertida em
maior taxa de lucros.
São estes os aspectos americanistas presentes nas ações de cooperação entre os
EUA e o Brasil, na segunda metade do século XX. A concepção do projeto dos Ginásios
Polivalentes, sem essas configurações anteriores, talvez nunca teria existido. Basta ver
que o mesmo modelo de escola já existia em experiências educacionais no Brasil, mas
não conseguia arrancar como modelo a ser universalizado. A primeira Lei de Diretrizes e
Bases da Educação Brasileira foi promulgada no mesmo ano da Carta de Punta del Este,
mas ainda dissonante da proposta dos empresarialistas: “De forma geral, a LDB 4.024/61
foi promulgada e não alterou muito a situação educacional no Brasil. Os valores e
direcionamentos nela expressos visavam a garantir direitos exclusivos a uma pequena
parte da população, deixando de lado os interesses da nação.” (BITTENCOURT, 2013,
p. 64). Muitos desse valores culturais aristocráticos foram mantidos, por pressões de
setores conservadores, por meio de seus representantes no Congresso. Como vimos na
análise do livro Industrialism and Industrial Man, na tipificação de elites hegemônicas que se
encontram pelo planeta, no caso brasileiro, é a Elite Dinástica. Por aqui, seus representantes
144
sempre foram reacionários: por exemplo, em 1930 a Liga Eleitoral Católica elegeu dois
terços dos deputados do Congresso, tornando-se um entrave nas aspirações dos
Escolanovistas e da recém classe industrial brasileira (CAVALIERE, 2004); em 1960, o
movimento denominado TFP — Tradição, Família e Propriedade — engrossou o coro de
civis que clamavam por ordem e segurança, frente à “ameaça comunista”. A TFP é uma
organização civil, de inspiração católica, fundada em 1960 pelo Professor Plínio Corrêa
de Oliveira, que foi deputado e constituinte em 1934. Ela foi registrada no Brasil como
Sociedade Brasileira de Defesa da Tradição, Família e Propriedade 94 e representava uma
elite que deveria ser ressignificada quanto às suas visões sobre a educação. Essa visão
influenciava a população, causando um efeito cascata nas classes sociais que estavam
abaixo. Ou seja, no geral, as ressignificações culturais não tiveram maiores problemas.
Para os empresarialistas, “Gente recém-saída do mato dirige caminhões.” (KERR;
DUNLOP; HARBINSON; MYERS,1963, p. 18). M
Porém, eram necessárias medidas diferenciadas na ressignificação da nossa elite.
Somente a adesão de todos os setores, eliminando ponto de tensões (desagradáveis) nas
decisões, seria possível consolidar o modelo técnico vocacional:
94
A título de ilustração, podemos encontrar, em fontes não oficiais, dados sobre este movimento que, em
1995, ano da morte de Plínio Corrêa, tinha mais de 1500 membros efetivos e sociedades irmãs em mais de
26 países, nos cinco continentes, sob a direção intelectual do fundador.
95
Como exemplo, a série de manifestações públicas ocorridas em 1964, conhecidas como Marcha da
Família com Deus pela Liberdade
145
ação. Mais tarde, esse grupo teve que suportar a ressignificação dos aspectos considerados
fundamentais por eles, como a manutenção da estrutura de escolarização dualista na
educação básica.
Ainda assim, a aceitação do modelo técnico vocacional pela classe média foi
certamente o maior desafio. As discussões que se seguiram no Conselho Federal de
Educação, após a promulgação da lei 5.692/1971 de reforma da educação básica,
representam como foi tratado esse desafio. Indício da ausência de um diagnóstico
educacional, as discussões sobre o que era profissionalização (sondagem vocacional)
vigoraram paralelas à resistência em se manter os aspecto aristocrático da educação.
Miriam Jorge Warde analisa dois pareceres do CFE que representam esses embates e
tensões: i) o Parecer 45, de 1972; que trata do mínimo exigido em cada habilitação
profissional na educação básica (resultado da discussão sobre o quanto de carga horária
do curso deveria ser destinada às disciplinas de cunho técnico vocacional). O relator,
Padre Vasconcelos, alega que, conforme a lei de reforma, a qualificação de cada escola
deverá estar vinculada à vocação produtiva da região à qual a escola pertence. Também,
o entendimento sobre preparação para o trabalho moderno deveria abordar as profissões
de cunho humanista, flexibilizando os currículos par uma abordagem técnico vocacional
humanista moderna. ii) O Parecer 76, de 1975, vai um pouco mais além ao sugerir “que
o treinamento profissional, que poderia ser específico, deveria ser dado essencialmente
no 3º grau e, no 2º grau, concretizar-se-ia a formação profissionalizante básica que teria
caráter geral e que se proporia inserir o jovem no contexto do Humanismo do nosso
tempo”. (WARDE, 1979, p. 21). Usando o fundamento descrito na lei 5.692/1971 — de
tecnização a nível de 2º grau — que diz que a parte profissionalizante não visa só ao
mercado de trabalho; mas à formação integral do adolescente, foi possível garantir, em
algumas escolas — principalmente escolas privadas que atendiam à classe média —, um
retorno quase completo à formação propedêutica como formação técnico vocacional
humanista moderna.
146
Assim ocorreu a ressignificação da cultura de escolarização aristocrática da classe
média, mesmo que permitindo, de forma velada, o dualismo. A rede privada de ensino
não se converteu por completo à formação técnico vocacional, mas a uma formação
tecnicista, quando, mantendo seu caráter propedêutico, absolveu a cultura empresarialista
ao seu sistema, continuando a formar a Elite Dinástica de administradores originários do
Brasil. Harmonizar as tensões desagradáveis com essa classe foi fundamental para a
aceitação dos Ginásios Polivalentes como modelo universal de educação secundária no
Brasil.
No século XIX, os EUA buscavam se consolidar em uma nação única e
harmônica. Para eliminar as tensões desagradáveis, sem riscos, atendeu às necessidades
da elite branca patrimonialista e escravocrata, escolarizando os negros com um modelo
de escola empobrecido de conteúdo. No Brasil, esse processo também foi a solução para
ampliação da hegemonia cultural norte-americana em nosso território. O modelo
taylorista de organização empresarial, modernizado pelos estudos dos empresarialistas,
logrou êxito por aqui, implantando a educação como desenvolvimento social moderno.
Dez anos depois da carta de Punta del Este, a educação brasileira havia sido unificada e
sua estrutura alinhada favorecia a continuidade por meio da “educação primária
universal, educação secundária técnico vocacional e educação superior modelada com
os fins de atingir os reclamos de especialistas, para um rápido progresso.” (GORDON,
1962, p. 79).
Os Ginásios Polivalentes, com todo seu sucesso, representam o meio institucional
de penetrar no todo da cultura. Eles ressignificaram nossa cultura de Elite Dinástica nos
limites necessários à industrialização e ao desenvolvimento dependente (que
necessitavam as metrópoles), mantendo aspectos dessa elite, que não representassem
tensões desagradáveis.
147
alinhamento ideológico ao Bloco Capitalista, seja na expansão de mercado de
investimento. O fato é que esse processo culminou na tentativa de reestruturação da
educação brasileira, em todos os níveis.
Desse processo, nos interessa a faixa de escolarização secundária, especificamente
a rede de Escolas Polivalentes, que foi modelo para a reforma da educação média em todo
o Brasil. Assim, neste momento, começaremos a analisar como esse modelo de escola se
institui, expondo aspectos de seu projeto de implantação. Este foi o ponto mais difícil na
construção desta tese; por já ter elaborado uma pesquisa sobre este modelo de escola,
sinto a dificuldade de trilhar novos caminhos reflexivos, pois a tendência psicológica faz
com que a experiência influencie na trajetória, dificultando um olhar novo (ou pelo menos
diferenciado) que possibilite a diversificação sobre o objeto.
Assim buscarei fazer um breve histórico para contextualizar o projeto dos GPE.
Posteriormente, destacarei aspectos novos, que não constam na pesquisa anterior. Assim,
poderemos ver melhor o que era velho e o que foi novo. Também tomei o cuidado de
colocar referências além do necessário, para que os leitores possam aprofundar em outros
aspectos do projeto do GPE.
148
escolas privadas vinculadas às Ordens Religiosas da Igreja Católica; e o ensino
profissionalizante, ofertado por liceus financiados pelo Estado ou por entidades
filantrópicas.
Quanto às diferenças na formação Ginasial, elas consistiam em: o ensino
secundário era desinteressado, erudito e propedêutico aos estudos superiores
universitários, destinado a formação de uma elite intelectual diretiva; o ensino
profissionalizante formaria as funções subalternas de trabalhos manuais e com formação
fim, não sendo possível tentar uma vaga nos ensinos superiores (universitários). A
maioria da população buscava matricular seus filhos no ensino secundário, pois este grau
de escolarização proporcionava maior status e possibilidade de alcançar empregos nos
setores administrativos e de serviços. Como forma de correção dessa situação, foram
promulgadas as leis de equiparação, em 1942, concedendo ao ensino profissionalizante o
direito de prestar exame nas universidades. Mas isso não mudou a situação de demanda
pelo ensino secundário, pois, se o aluno tivesse ambições universitárias, era esse modelo
de ensino que preparava para tal finalidade (BITTENCOURT, 2013).
A redemocratização brasileira, após o período getulista, estava impregnada pelos
valores liberais e estimulava a reestruturação funcional do processo de escolarização
nessa direção, necessária à industrialização. O fato é que, apesar de não ser verificado nos
discursos contidos nas atas de reuniões do Escritório do Ponto IV, analisadas
anteriormente, aconteciam acordos de ajuda educacional entre norte-americanos e
brasileiros, para a educação básica:
149
objetivo foi fomentar a formação no campo do ensino industrial, por meio de transferência
de know-how e do intercâmbio de especialistas brasileiros e norte-americanos em
educação industrial (BITTENCOURT, 2013).
Em 12 de setembro de 1956, novo convênio foi firmado, agora entre o MEC e a
United States Operations Mission to Brazil (USOMB), objetivando a criação de um
centro-piloto no Rio de Janeiro, voltado para o aperfeiçoamento de professores do ensino
secundário. Nesse acordo, foi estabelecido um programa para preparar e para publicar
material de ensino secundário (NUNES, 1980).
96 Além da OEA, faziam parte dos instrumentos internacionais o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID),
que operava na área financeira, e a Comissão Econômica para a América Latina (CEPAL). Na América Latina existiam
três outras entidades sub-regionais com responsabilidades específicas: a Associação Latino Americana de Livre
Comércio (ALALC), a Secretaria do Tratado Geral de Integração Econômica (DCIE) e o Banco Centro-Americano de
Integração Econômica (BCIE). Também, as Nações Unidas e seus organismos especializados participavam da base
institucional da Aliança. Do lado norte-americano, boa parte dos recursos coube à Agência para o Desenvolvimento
Internacional (AID), cuja criação resultou da fusão do Fundo de Empréstimo de Desenvolvimento com a Administração
da Cooperação Internacional. O Eximbank, o Tesouro Norte-Americano, Alimentos para a Paz e os Voluntários para
a Paz prestaram também assistência à Aliança para o Progresso (Lage, 2001, p. 60-61).
150
explicitados na análise dos discursos de Gordon). Como já citado, um dos principais
motivos do incremento das ações dos EUA na América Latina foi a Revolução Cubana e
o alinhamento desse país ao Bloco Soviético.
Esse cenário político e ideológico é um divisor de águas nas ações norte-
americanas no Brasil. Por trás da ação da Aliança para o Progresso, já havia ações da
USOM e de outros órgãos internacionais que buscavam auxiliar (cooptar por meio da
formação técnica) lideranças brasileiras. Como exemplo a criação da Escola Superior de
Guerra, em 1949, onde eram formados não apenas militares, mas também civis
(ROMANELLI, 1978). Por outro lado, proporcionou solução de um problema estrutural
da educação: o financiamento.
151
agiam diretamente através da diplomacia de força propriamente dita, mas pela persuasão
e pelo envolvimento dos países periféricos na sua filosofia econômica, através do
processo dissimulado de endividamento com financiamento de ajuda.” (ARAPIRACA,
1982, p. 110).97
No Brasil, ações nesse sentido já existiam antes de 1960, como prescrita na
mudança de foco nas fronteiras, para o combate ao inimigo interno, proposta na doutrina
de segurança nacional da Escola Superior de Guerra:
97 Arapiraca se refere à mudança de postura dos EUA em relação a sua política internacional para a
América Latina. Antes de 1822 até 1960 vigorava a Doutrina Monroe, que tinha como lema “A América
para os Americanos” e tinha o objetivo de repelir a intromissão de outras potências na esfera de domínio
do continente. Essa prática era denominada “Big Stick” (O grande cassetete). Arapiraca cita, também,
historiadores que classificam a política norte-americana para a América Latina da seguinte maneira:
1822-1898 Doutrina Monroe; 1898 – 1933 o Big Stick; 1933 – 1945 Boa Vizinhança; 1945 – 1975
Guerra Fria, ponto IV e Aliança Para o Progresso; 1975 – Direitos humanos.
152
A partir do golpe militar de 1964, ocorre a reestruturação do Estado. A ação em
si era um segundo estágio de ressignificação cultural, ampliando para setores de
lideranças secundárias, por meio de “Doutrinação e treinamento de órgãos e pessoas
intermediárias brasileiras, com vistas obviamente a uma intervenção na formulação de
estratégias que a própria AID pretendia fosse adotada pelos dirigentes, órgãos e
instituições educacionais.” (ROMANELLI, 2003, p. 210). Citando Hilliard, ela escreve:
(...) Agency for International Development tem por função não a concepção de
uma estratégia da educação, mas influenciar e facilitar esta estratégia nos
setores nos quais seus conhecimentos, sua experiência e seus recursos
financeiros podem ser uma força construtiva que ajudará a atingir os objetivos
visados. Tal estratégia deve ser concebida essencialmente por aqueles que têm
o poder de tomar decisões e disponham dos recursos necessários. É então aos
dirigentes dos países em vias de desenvolvimento que cabe decidir sobre a
estratégia da educação. (ROMANELLI, 2003, p. 210).
98
Ver: Romanelli (2003); Bittencourt (2013); Resende (2015).
99
Ver documento AMU02-016, que fala da ampliação da equipe para 30 em cada área.
153
Fonte: Resende, 2015, p. 96
154
Este mapa conceitual foi elaborado por Resende para sistematizar o objetivo do acordo
realizado em 1972, (512-11-680-286.1), que buscava desenvolver métodos de
planejamento do MEC e das Secretarias Estaduais de Educação, elevando o nível de
eficiência administrativa e a padronização da educação básica (ensino de 1º e 2º graus).
Podemos ver no mapa conceitual acima como a USAID estruturou vários
subprojetos que buscavam integrar o ensino primário com o ensino médio, dando uma
coerência sistêmica entre planejamento e conteúdo. De maneira cadenciada, foi
expandindo suas ações conforme encontrava/formava recursos humanos condizentes com
a cultura americanista: estrutura que representa a visão pragmatista, forma não linear, mas
da incessante busca de soluções aos problemas que podem obstruir o alcance da meta
desejada. Na difusão do modelo escolar americanista, vários técnicos brasileiros em
educação primária foram enviados à University of Wisconsin — Milwaukee e University
of San Diego, na Califórnia, para treinamento, capacitando-os para serem reprodutores
desse sistema no Brasil, ajudando na expansão e na melhoria do sistema escolar brasileiro.
Os cursos eram ministrados visando a aproximar os participantes brasileiros, por meio da
participação em variadas atividades, em especial no ensino de valores, da perspectiva
ideológico–cultural, e sob o ângulo da filosofia social e dos valores da cultura norte-
americana: “Os próprios enunciados dos cursos já denotam preocupação em identificar
os EUA como parâmetro de civilização ou mesmo Centro de Produção inquestionável da
ciência.” (ARAPIRACA, 1982, p. 120). A partir de 1972, essa equipe (EPEM) se integrou
à estrutura de planejamento do MEC, incorporando-se administrativamente ao PREMEN
— Programa de Melhoria do Ensino.
100
A partir de 1972, o decreto nº 70.067 de 26 de janeiro o designou como PREMEN — Programa de Expansão e
Melhoria do Ensino.
101 O plano trienal de Educação (1963 – 1965), do governo do Presidente João Goulart, previa a implantação de uma
rede nacional de Ginásios Orientados para o Trabalho, porém o Ministério da Educação não dispunha de técnicos em
número suficiente para a prestação de assistência.
156
coordenação de recursos e medidas para o desenvolvimento da educação nacional”.
Destaca-se, dos resultados dessa conferência, a necessidade de racionalização e
planejamento da educação, adotando os princípios e os “padrões das técnicas
econométricas do orçamento-programa, como também tornar obrigatória a colaboração e
a execução dos planos estaduais de educação.” (ARAPIRACA, 1982 p, 148). Essa
conferência pode ser considerada como forma de legitimação democrática das reformas
em andamento na educação básica, uma vez que o resultado acima segue as
recomendações da Carta de Punta Del Este, além de contemplar o princípio da autoajuda
da carta. Por outro, pode ser considerado como forma de difusão — irradiação — desses
princípios para toda uma diversidade de educadores de diferentes partes do país: forma
de irradiação da cultura americanista.
Foram realizadas mais duas conferências na mesma linha dos princípios da Carta
de Punta Del Este. Em 1966, a Conferência Nacional de Educação foi realizada em Porto
Alegre e teve como tema “o desenvolvimento do ensino primário, construção e
equipamento de escolas”. Em 1967, a Conferência Nacional na cidade de Salvador teve
como tema “a extensão da escolaridade”, sendo “a criação da 5ª e 6ª série do curso
primário” e “a articulação entre ensino primário e ginasial” os subtemas. Para Arapiraca,
essas conferências representam prosseguimento no alinhamento da Aliança para o
Progresso e ao uso da “educação, como aparelho ideológico que é, foi dada a função de
legitimá-lo.” (ARAPIRACA 1982, p. 149).
157
um projeto em si: acredito que ele foi sendo construído paralelo às ações descritas acima.
Assim, muito do que já foi dito até aqui pode ser considerado como fragmentos deste
projeto. O que faremos, a seguir, é apresentar aspectos característicos dessas escolas, que
podem ser indícios da influência cultural escolar americanista.
Em sua essência, a proposta dos GPEs seguia a reforma da educação básica
regulamentada pela lei 5.693/1971. Como já dito, eles eram a Escola Conceito dessa
reforma. Sua estrutura curricular atendia aos anseios de unificação (universalização) do
ensino médio, oferecendo formação geral em ciências, em conjunto com as disciplinas de
introdução ao mundo do trabalho moderno, baseada num modelo de escola técnico
vocacional. Ou seja, sem buscar uma profissionalização fim e, ao mesmo tempo,
permitindo uma continuidade dos estudos.
Mas o modelo técnico vocacional não vingou até a implantação dos GPEs por
motivos da não aceitação desse modelo pela classe média brasileira, discutido na análise
dos discursos do Embaixador norte-americano Lincoln Gordon. Na comparação, vários
teóricos que analisaram a educação técnico profissional neste período, no Brasil, falam
de reedição do modelo, com mudança no nome. No documento Fundamentação Teórica
da Escola Polivalente — Volume I, por exemplo:
158
os estudos para a implantação da Escola Polivalente no Brasil não são recentes.
A rigor, desde a década de cinquenta o tema já era estudado e debatido, se bem
que em esferas restritas”. (...) A ideia ganhou contornos mais delineados nos
primeiros anos da década de sessenta, quando teve sua primeira realização
prática com os Ginásios Orientados para o Trabalho (GOT), criação material
da Diretoria do Ensino Secundário do MEC, em convênio com Secretarias de
Educação e Escolas Particulares. (...) Partindo da experiência dos GOT,
começou-se a repensar a escola Média, em termos mais abrangentes, mais
afinados com a realidade educacional do país. (MEC-SG-PREMEN, s.d., p.
01)
Pouco a pouco, o Americanismo vai sendo introduzido no Brasil também, por intermédio
do processo de escolarização. Se não tiver o efeito e a eficiência necessários para cumprir
a meta, levantam-se os problemas, propondo reajustes e reaplicações. Mas esse fato é um
indício de que esse processo moldar, sem estudos prévios para levar em conta aspectos
culturais, regionais ou nacionais, uma vez que o mesmo modelo é reeditado com
nomenclatura diferente para dar aspecto de inovação e modernidade, característica
administrativa das revoluções passivas burguesas, mantendo as escolas para o
desenvolvimento técnico sem efeitos colaterais.
Em todos os estudos que analisei, a única referência apontando diferenças entre
os modelos de escolas vocacionais brasileiras102 foi do professor Geraldo Bastos Silva,
no Relatório final do Grupo de trabalho que coordenou no 1˚ Seminário Sobre o Ginásio
Polivalente no Contexto da Educação Fundamental. Para ele, os aspectos básicos da
estrutura e do funcionamento dos GPEs representam um progresso em comparação com
a formulação original do Ginásio Orientado para o Trabalho, como um desdobramento
deste:
Sob esse ponto de vista, o que haveria de inovador no ginásio polivalente seria
colocar essas exigências pedagógicas a serviço de uma síntese da formação
cultural e da preparação para a vida prática. Mas, também inovador é o fato de
que o programa de criação de ginásios polivalentes que o Governo Federal se
propõe a realizar em cooperação com Estados, representa uma contribuição
extensiva à renovação do ensino público médio, mediante uma transformação
estrutural que fará do ensino de 1º ciclo, em continuação ao ensino primário,
um fator positivo do desenvolvimento no país. (MEC, 1970, p. 51).
A meu ver, essa diferença está mais na organização da lei de reforma do ensino médio —
5.692/1971 —, na qual a estrutura dos GPEs serviu de modelo para a adequação das
estruturas estaduais, de modo que o projeto do GPE sobrepõe o projeto de reforma da
educação básica.
O Americanismo foi se irradiando pelo Brasil, ressignificando “inovações” e
conquistando espaço no ideário educacional brasileiro. Após a legitimação do projeto de
102
Isso não esgota a questão se há mais diferenças. Certamente há, e devem ser pesquisadas.
159
reforma do ensino secundário por meio das conferências nacionais de educação, citadas
acima, apresentou-se o novo modelo de escola — Os Ginásios Polivalentes. Em meados
de 1970, o 1˚ Seminário Sobre o Ginásio Polivalente no Contexto da Educação
Fundamental, ocorrido em Brasília, tinha o propósito de promover o intercâmbio de
experiências, além de estudos sobre a implantação do GPE no Brasil.
Em discurso de abertura, o Coronel Mauro da Costa Rodrigues, secretário geral
do MEC103, enfatizou que os Ginásios Polivalentes estavam alinhados à implantação da
política educacional, de modo que deveria “Criar as bases para uma década de
desenvolvimento, capazes de possibilitar ao Brasil, no fim do século, formar entre as
sociedades desenvolvidas, sem perda de sua identidade sociocultural.” (MEC, 1970, p.
19). Ou seja, até o fim do século estaríamos no 1º mundo. Também podemos ver, no
discurso, referência à educação ideal como aquela que permitisse ao jovem o seu
desenvolvimento integral, fundamentado nos princípios institucionalizados para formar a
capacitação adequada da mão-de-obra, visando à produtividade e ao pleno emprego; a
educação como fator de produção, visando às necessidades da comunidade e não apenas
formando excedentes profissionais; a nítida interação entre educação, recursos humanos,
segurança e desenvolvimento, “garantindo a consequente participação de todos os
segmentos da população nos frutos do desenvolvimento, em suma, educação para o
desenvolvimento em sua mais ampla e completa acepção.” (MEC, 1970, p. 19) — isto é,
uma educação típica da visão cultural americanista, na sua versão empresarialista.
O Coronel Mauro da Costa Rodrigues anunciou que o foco deveria ser de
mudanças no campo sócio econômico, no qual o ensino polivalente, de fundo vocacional
e com maior destaque para as ciências e para a tecnologia, seria o meio: “Através de
ensinamentos e práticas, fazer com que a criança incorpore progressivamente
conhecimentos, hábitos e aptidões que lhe assegure as condições fundamentais para viver
como ser humano e como parte de um todo é a nova tarefa.” (MEC, 1970, p. 20); tudo em
tom de liberdade e democracia.
Resende (2015, p. 76-77) apresenta uma discussão sobre o termo Polivalência,
identificando a origem do conceito derivado dos modelos de organização trabalhistas do
século XX. Através dos estudos de Chiariello & Eid, ela discorre que a polivalência foi
lapidada a partir do modelo taylorista do trabalhador-bovino, para criar um novo perfil de
103
Representando o Ministro da Educação, também militar e Tenente: Coronel Jarbas Gonçalves
Passarinho.
160
trabalhador desejado pelas organizações: “O trabalhador polivalente deve mobilizar toda
a sua capacidade cognitiva e mesmo renovar seus conhecimentos diariamente para melhor
servir à produção em constante transformação, levando também à necessidade de
integração das capacidades e competências diversas.” Porém, este trabalhador ainda
obedece a direção determinada por administradores que concebem a forma de produção,
dando amplitude apenas às suas tarefas e atividades para a execução do trabalho, com
novas responsabilidades. Para Resende,
161
Em relação às disciplinas ministradas nos GPEs, Resende, ainda discorrendo sobre
o conceito de polivalência, afirma que
104
Ver discussão na análise dos discursos do Embaixador Gordon.
105
Como exemplo, Romanelli apresenta uma análise dos fundamentos do projeto das diretrizes e bases da
educação 4.024/1961, elaborada pelo Professor Roque Spencer Maciel de Barros, que elucida como a Igreja
Católica estava presente neste projeto. (...) percebe-se que, na verdade, o conceito de liberdade de ensino,
que então prevalecia, era o mesmo conceito proposto pelos documentos papais, nos quais ele se limitava,
pura e simplesmente, à exclusiva liberdade da Igreja de exercer a ação educativa. (Romanelli, 2003, p. 177).
106
A lei Nº 5.692/1971, que reforma o ensino médio brasileiro, no artigo 7º, Parágrafo único, reza que o
ensino religioso, de matrícula facultativa, constituirá disciplina dos horários normais dos estabelecimentos
oficiais de 1º e 2º graus (BRASIL, 1971).
162
Polivalente do município de Ituiutaba, em reunião da CPA, ocorrida em 19 de fevereiro
de 1976, foi registrado em ata que apenas um professor deverá lecionar as aulas de
religião, desde que tenha autorização do bispo da diocese e do vigário da paróquia.
Quanto ao conteúdo, “Ficou determinado que as aulas serão dadas mais num sentido de
cristianismo do que pregação de uma determinada religião.” (RESENDE, 2015, p. 66).
Assim, corroboro com Resende sobre o que está por trás dessas disciplinas. A meu
ver, elas garantiam aspectos de dominação tradicionais da cultura brasileira, dentro da
perspectiva conservadora modernizadora da revolução passiva brasileira. Resende
apresenta a relação mais detalhada das disciplinas encontradas em Escolas Polivalentes
dos quatro municípios por ela pesquisados (Araxá, Frutal, Ituiutaba e Monte Carmelo). O
documento encontrado — “Plano curricular” — foi elaborado de acordo com a resolução
925, de 27/5/1970107, que apresentava as diretrizes curriculares básicas para possibilitar
a regionalização dos currículos.
107
A análise desta resolução também se encontra em Bittencourt (2013).
163
documento, Subsídios para o estudo dos Ginásios Polivalentes, Newton Sucupira
argumenta:
Em resumo, o ginásio polivalente atende melhor que os ginásios diferenciados
aos princípios de justiça em educação, em sua dupla expressão de acesso do
maior número possível de adolescentes ao ensino de segundo grau e de
adequação do ensino às peculiaridades pessoais; atende aos objetivos de maior
comunicação entre as classes, fazendo da escola não um reflexo da
estratificação, mas um instrumento de integração social; atende aos objetivos
do progresso econômico, fazendo convergir para as ocupações à força jovem
de trabalho, na medida de suas afinidades vocacionais e, portanto, garantindo
o mais adequado aproveitamento da maior riqueza de um país, que são as
potencialidades de sua juventude; atende, portanto, à pedagogia, ao
desenvolvimento social, aos interesses da economia e, como síntese de todos
os seus fins, ao ideal democrático de igualdade de direitos. (MEC — EPEM
DES, 1969, p. 93–94).
Podemos inferir que, com a revolução industrial em sua forma americanista, com
o processo de humanização do homem e de condições para uma sociedade democrática,
todos estariam no mundo do trabalho, pois a nova educação deveria romper com a escola
desinteressada, de humanismo clássico108. Este era visto como arcaico, reflexo de uma
sociedade ainda presa em aspectos culturais “da capa de chumbo” da aristocracia
parasitária, citadas por Gramsci na Itália e em toda a Europa. No modelo americanista, o
conhecimento geral (baseado nas ciências) e as disciplinas práticas (como introdução ao
mundo do trabalho), eram as formas que a escola tinha de educar os jovens nas
humanidades modernas.
Esses modelos de currículo eram encontrados em comparações com outros países
que intensificavam o modo de produção na referência do modelo aplicado nos EUA, antes
da II Guerra Mundial, provavelmente propagandeados como evidência de sucesso e
melhor que o modelo europeu por egresso da Teacher College em Nova York e,
posteriormente à Guerra, pela implantação do Plano Marshall. Em um dos textos
constantes do livro elaborado por Barros, há uma referência ao professor Jayme Abreu:
108
Para Teixeira, o humanismo clássico era característica da educação brasileira propedêutica
desinteressada, que se vinculava a uma formação cultural com base na vida dos Gregos e Romanos, em sua
era de domínio. Em uma conferência aos supervisores educacionais, em 1953, Teixeira afirma que se era
pelo latim que o homem se cultivava, pelo latim é que se transferiria para a comunidade dos homens cultos
e passava a viver entre os seus, distante da realidade contemporânea e da vida corrente.
164
De um modo geral, é difundida a ideia de que a escolaridade aumenta os
rendimentos e a capacidade de se adaptar à sociedade moderna para aqueles que
frequentam a escola. Retomando o pensamento de Carnnoy (1974), isso ocorre desde que
todos os outros não tenham ido à escola junto com ele. A escolaridade, quanto maior do
que outro, permite maior acesso aos recursos físicos da economia, permitindo-lhe
aumentar a renda individual. Como afirmado nos capítulos anteriores, esse pensamento
precisa ter um grande efeito quando se busca instituir a escolarização em massa.
Outros estudos sugerem que bons níveis de escolaridade aumentam a probabilidade
de uma sociedade politicamente democrática do estilo ocidental. Entretanto, se por um
lado o aumento do nível da população escolarizada é acompanhado por democracia e
distribuição de riqueza e renda, por outro lado, tem-se verificado que o número de
empregos não tem crescido tão rapidamente quanto o número de pessoas educadas,
consequentemente, há o aumento dos desempregados com escolaridade média. Isso faz
refletir sobre a relação entre a produção econômica nacional e investimentos maciços na
escolaridade formal. A maioria das habilidades de trabalho provavelmente não são
ensinadas na escola, mas no trabalho, e o treinamento no trabalho é consideravelmente
mais barato do que a escolaridade (CARNNOY, 1974). Por que, então, investir tanto em
escolarização em massa? Para democratizar e modernizar a nação? Estamos falando de
uma período de Estado de Exceção. Para além das questões geopolíticas da Guerra Fria,
no Brasil pós Segunda Guerra Mundial a população migrou intensivamente para os
centros urbanos, tornando-se maior que nos meios rurais, o que é análogo ao ocorrido nos
EUA na virada do século XIX para o XX. Isso auxiliou na perspectiva de “escolarizar
para urbanizar” como estratégia de minimizar o impacto de diferentes culturas
convivendo e compartilhando espaços urbanos. Foi, também, uma oportunidade ímpar de
ressignificar toda uma cultura nacional, quando ela própria está se reconfigurando. O
impacto do Brasil rural com o urbano é intenso neste período e provocou rearranjos
culturais, fragilizando os dois lados. Nesse momento, a escola empresarialista colimou
toda a população em uma homogeneização americanista.
Retomando a questão da educação humanista moderna, no modelo empresarialista,
com viés técnico vocacional, Carnnoy (1974) explica que a escola não pode ser apenas o
lugar para desenvolver habilidades vocacionais. As escolas transferem cultura e valores
e canalizam as crianças para vários papéis sociais, sem que isso afete drasticamente na
própria estrutura econômica e social. A escola comum é a instituição que se desenvolveu
dentro da economia e com estruturas capitalistas selecionando indivíduos mais desejáveis
165
(do ponto de vista das instituições econômicas, sociais e políticas capitalistas). Aqueles
que têm as qualidades mais desejáveis pela economia e pela sociedade — habilidade
verbal, consciência do tempo e capacidade de resposta internalizada a recompensas
extrínsecas e não intrínsecas — são melhores na escola (CARNNOY, 1974); fatos estes
também apontados por Bourdieu & Passeron, na obra A Reprodução, publicada em 1970.
Para Carnnoy, nesse processo de predeterminação no qual as vocações e os papeis
sociais são externos aos sujeitos, a eficiência do sistema de escolaridade está atrelada ao
modelo de desenvolvimento que maximiza o crescimento e não se preocupa
operacionalmente com a igualdade de oportunidades econômicas. Entretanto, a retórica
em torno da escolaridade em seus aspectos de equalização deve ser propagandeada:
Com isso, a meritocracia é meio para auxiliar no processo de exclusão quando a educação
formal vem atrelada às questões de formação econômica. Ter alta ou baixa produtividade
em uma escola vinculada a questões econômicas está mais ligado à origem social do aluno
do que à sua capacidade, uma vez que o aluno que se encontra inserido na cultura de
produção terá maior familiaridade com o conteúdo escolar deste meio. Assim, o status
social do aluno refletirá diretamente em seu alto ou baixo rendimento escolar. Mesmo
que o aluno de camadas pobres se esforce muito para ter sucesso na escola, o fator status
social (fator externo) ainda prevalecerá sobre a capacidade intelectual de produção (fator
interno). Acredito ser, este, mais um argumento utilizado para convencer os setores
conservadores-patrimonialistas da reforma que se pretendia na educação média brasileira.
Assim como convenceu os norte-americanos “brancos” do sul do país a estenderem a
escolaridade para os negros dessa região:
166
reversão de expectativas109. Os resultados podem ser vistos com relação à opinião da
população.
Desde que comecei a pesquisar sobre o GPE, em 2006, foi unânime a aprovação
e os elogios por parte das pessoas por mim entrevistadas informalmente, que passaram
por essa experiência, ou quando lhes falava sobre minha pesquisa acadêmica: indício de
que o processo de escolarização em massa deve ser atrativo, e também da eficiência norte-
americana na reversão de expectativas. Mas, no imaginário popular que não tinha acesso
às escolas, tudo é novidade, além da satisfação em ver uma possibilidade de melhoria de
vida, que certamente veio para muitos. Essa é uma experiência recorrente em
pesquisadores sobre as Escolas Polivalentes. Resende, em sua tese de doutoramento
escreve:
Durante a redação desta parte do texto, enquanto líamos os diários, veio a
imaginação do quão interessante devem ter sido essas aulas, sobretudo para
crianças e adolescentes que estão no auge da energia física e mental, querendo
descobrir e abraçar o mundo; mas que, na maioria das vezes, não tinham —
nem teriam — contato com esses conhecimentos, equipamentos e atividades.
Como deve ter sido motivador para esses alunos retornar para casa e apresentar
aos seus familiares os produtos de suas atividades escolares ou a aplicação do
seu aprendizado na resolução de problemas próprios do ambiente doméstico
ou comunitário. (RESENDE, 2015, p. 143)
109
Warde se refere ao processo de apaziguamento ocorrido na década de 1960-1970, revertendo as
expectativas de grande parte da população urbana, que clamava por acesso à educação secundária.
110
AMU05.026
167
A repercussão da imprensa não terá maior destaque para esta tese. Aqui, faço essa
referência para registro de parte do “pacote” americanista, no qual a propaganda é
instrumento reforçador, alimentador e produtor de argumentos a seu favor; e, também,
para demonizar o que não interessava. Na análise realizada no capítulo sobre o
Americanismo, vimos como a cultura de mídia americanista fez isso nas propagandas
anticomunistas, por meio de jingles, aspecto que se torna formativo, se observarmos a
filosofia de Finney quanto à sua teoria educacional do Seguidismo. No geral, pude
verificar que as reportagens negativas se referiam à denúncia de uma projeto vindo de
cima, sem levar em conta o interesse da população. Nas reportagens positivas, destaca-se
as palavras Desenvolvimento, Modernização e Democratização.
Resende também verificou aspectos divergentes da imprensa em sua análise da
cobertura da imprensa:
Como se pode deduzir, em torno dos acordos entre o MEC e a USAID — assim
como do produto que deles resultaria —, foram marcantes a contradição e a
opinião polarizada, em especial em veículos difusores de visões distintas de
educação e escola, ou seja, de sua estrutura e seu funcionamento pedagógico.
(...) A consciência desse ônus do programa de assistência, pelo que pudemos
averiguar, restringiu-se aos círculos de pessoas mais esclarecidas e politizadas
dos grandes centros urbanos, não atingindo a massa populacional das
localidades onde as escolas foram instaladas. Para esta gama de pessoas, o que
se apresentou foi o que se teve de mais concreto, ou seja, os prédios escolares
com sua estrutura e proposta inovadoras. Analisado por esses pontos de vista,
é compreensível a mencionada polarização nas opiniões coletadas.
(RESENDE, 2015, p. 129)
168
Sua implantação pode ter significado a auto transformação de sujeitos com
direitos em colaboradores de um grande empreendimento multinacional da cultura
industrial moderna.
169
4 - CONSIDERAÇÕES FINAIS
111
A relação completa está no apêndice desta tese.
170
cultural do Americanismo, na ação dos empresarialistas, pois não observei, na prática, a
co-responsabilidade nas ações e nas decisões a serem tomadas para o desenvolvimento
da nação que recebe ajuda, na forma apresentada pelo Embaixador Gordon. Entendo que,
quando se referem a autoajuda, seria mais sincero dizer autodisciplina administrativa: “A
disciplina só existe na medida em que há uma multiplicidade e um fim, ou um objetivo,
ou um resultado a obter a partir dessa multiplicidade.” (FOUCAULT, 2008, p. 16). Com
isso, a escolarização produz formação para essas relações de poder e autodisciplinamento.
A governamentalidade instituída é a garantia de hegemonia. Como vimos no
pensamento de Antônio Gramsci, “hegemonia é o conjunto das funções de domínio e
direção exercido por uma classe social dominante, no decurso de um período histórico,
sobre outra classe social e até sobre o conjunto da sociedade.” (MOCHCOVITSCH, 1992,
p. 20). Ela é composta por duas funções: de domínio — uso da força — e processo
coercitivo — e de direção intelectual e moral —, promovendo adesão por meios
ideológicos de persuasão. No mundo moderno, a escolarização está fortemente vinculada
à construção e à manutenção de hegemonias. Os empresarialistas abandonam questões
relativas à luta de classes e passam a questionar, em suas pesquisas, quem se tornaria
hegemônico na construção de sociedades industriais nos países periféricos. No mundo
industrializado, a pacificação deve ceder lugar às revoluções. Esse lema é largamente
propagandeado nas ações da Operação Aliança112, referindo-se às revoluções violentas
dos comunistas e às ações pacificadoras dos capitalistas. Os EUA provocaram revoluções
passivas, antes das revoluções violentas, e formaram governamentalidades em toda a
América Latina, garantindo a hegemonia no continente, mesmo que, ainda hoje,
Venezuela e Cuba representem problemas.
No aspecto geral, podemos ver, nos discursos do Embaixador Gordon, a hipótese
de que os empresarialistas estavam um nível acima das dicussões geopolíticas mundiais.
Em todo o livro, há a evocação do bem contra o mal; o reforço do sim-bólico, na luta
contra o dia-bólico; os humanitários contra os ateus, representantes do diabo. Isso, até
hoje, pode ser constatado quando se referem aos países que não aderiram à revolução
passiva burguesa, oferecida pela Operação Aliança. Mas os modelos e os valores eram
para resignificar e revolucionar a produção, de forma controlada e segura, sem riscos.
112
Termo cunhado por Gordon, que faz referência à ideia original da Aliança para o Progresso, proferida pelo Ex-
presidente Juscelino Kubistchek em uma das reuniões da Operação Pan-Americana — OPA. Ele se refere, em alguns
pontos dos discursos, à Aliança para o Progresso como Operação Aliança, deixando evidência de sua visão de
conjunto sobre estes dois programas.
171
Isso acontece em um movimento permanente, no qual há uma permissiva liberdade para
observar as ações incorformistas e planejar a re-ação antes da ação; revoluções passivas
antes das revoluções orgânicas.
No aspecto específico, os Ginásios Polivalentes representam o fim da educação
dualística, típica das sociedades aristocráticas, conforme a visão de Gramsci (1982). Mas
o que houve foi o nivelamento em um só modelo, com extinção do ensino propedêutico
desinteressado — Humanismo clássico — e implantação do ensino técnico vocacional,
como humanismo moderno, numa interpretação equivocada da visão de Gramsci, devido
ao seu contexto de formação. Na versão empresarialista, conforme apresentado nas
críticas de Carnnoy a este modelo, podemos ver que os aspectos administrativos coloniais
foram incorporados por setores produtivos no Brasil. Por que, então, levar estes aspectos
para um cultura popular? No meu entender, uma das funções é o controle de riscos, não
do risco comunista, mas como na formação cosmopolita, preocupação do século XIX,
conforme relatado por Popkewitz (2008). O ensino desinteressado deixa brechas para
formação intelectual, fora da caixa administrativa, gerando riscos de um pensamento
livre. Outra função, também ligada ao controle comportamental, vem do
autodisciplinamento como incremento da produção. Já vimos este aspecto acima e o
discutiremos mais à frente.
Os Ginásios Polivalentes representam a consolidação do modelo de escola técnico
vocacional, que tem experiencias registradas no Brasil desde a década de 1920, por
intermédio de ações realizadas por Anísio Teixeira e Fernando de Azevedo. Na segunda
metade do século XX, intensificam-se as experiências de implantação deste modelo
como, por exemplo: o Centro Educacional Carneiro Ribeiro, em Salvador, e a criação dos
Ginásios Orientados para o Trabalho (GOT), os dois idealizados sob direção de Anísio
Teixeira. Além dos Ginásios Pluricurriculares, surgiram também os Ginásios Modernos
e os Ginásios Vocacionais — modelos de ensino técnico vocacional implantados em São
Paulo nas décadas de 1950-1960. Como vimos na tese, apesar de serem modelos
análogos, eram pontuais e não possuíam o status para a universalização do ensino técnico
vocacional, que só ocorreu com a implantação do Ginásio Polivalente.
Com a Operação Aliança, todo o contexto político social brasileiro foi alvo de
ações, que culminaram na reforma da educação brasileira, em todos os níveis, para se
adequar ao sistema de produção industrial. Na reforma da educação básica, ocorrida com
a promulgação da lei 5.692, de 1971, o modelo técnico vocacional foi universalizado.
Ora, se a lei reformava todo o sistema educacional básico, por que tanto esforço e tantos
172
gastos financeiros para criar uma rede de escolas? Aponto algumas respostas que seguem
o eixo da concretização do novo: i) a imponência e eficiência Americanista na realização
humanitária de educar todos sob os princípio da liberdade e da democracia. Ressaltando
que quem conheceu ou passou pela experiência de fazer parte dos Ginásios Polivalentes
ainda se entusiasma ao falar dessas escolas. ii) os desdobramento práticos, típico do
Pragmatismo norte-americano. A reforma teria mais eficiência se houvesse um modelo a
ser observado, por isso se controlou todos os aspectos. Por exemplo, foram treinados, nos
EUA, profissionais ligados diretamente à área educacional, como professores,
supervisores, etc; como também engenheiros e arquitetos que iriam projetar os prédios.
Após curto período de instituído, os GPEs se descaracterizaram, em muitos aspectos que
lhe conferiam, como escola diferenciada.
O modelo serve a um propósito — ser modelo. Ele foi decisivo na reversão das
expectativas de escolarização da população brasileira, sendo que o maior desafio era
converter a Elite Dinástica brasileira: fato que influenciou nas alterações da lei
5.692/1971, já no primeiro ano após sua promulgação, com o parecer 45/72 e,
posteriormente, com o parecer 76/75 do Conselho Federal de Educação. Mas a estrutura
técnico vocacional permaneceu para toda a população, mesmo permitindo a manutenção
da “capa de chumbo” aristocrática da educação dualística em manobras e subterfúgios
velados na interpretação da lei. Na prática, havia outras manobras. Lembro-me que, nesta
época, o aluno que tinha intenção de cursar medicina nas Universidades Federais
matriculava-se no 2º grau, no curso técnico em química. Esse curso, devido a sua estrutura
curricular, possuía aspectos da formação básica para as provas específicas, por área
científica, dos vestibulares de acesso à área de ciências médicas. Até aí, era um curso
profissionalizante igual aos outros. O que velava o dualismo era que cursos como esses
eram caros e oferecidos apenas em escolas privadas. Nas escolas públicas, em sua
maioria, o ensino profissionalizante de 2º grau oferecia as opções de técnico em
contabilidade ou magistério. Ou seja, apesar de técnico universal na lei, na prática era
dualista, devido à condição financeira do aluno.
Como afirma Gramsci, a escola clássica era oligárquica pela sua clientela e não
pelo seu modo de ensino. Universalizar a educação, mas manter redes de ensino paralelas,
definindo a clientela pela classe social ou poder de compra, é manter seu caráter dualista.
A escolarização tecnicista manteve o dualismo por meio de uma rede privada de ensino,
funcionando paralela à rede pública, acompanhando a tendência histórica no Brasil. Após
a reforma do ensino médio, o que alterou foi a aparência de uma rede de escolarização
173
nacional democrática. A rede particular foi modernizada, não no conteúdo técnico
vocacional, mas por princípios de administração do Americanismo, tornando-se grandes
conglomerados educacionais. A antiga rede particular vinculada às ordens religiosas
católicas se mantiveram, mas perderam a predominância e o domínio do mercado
educacional. No geral, essa rede particular forma administradores e a rede pública forma
administrados. A reforma da educação média representou a forma reducionista e
simplista, conforme alertou Gramsci, pois garantiu os interesses maiores da elite, em
detrimento de um direito de formação para a vida — para a sociedade —, como sujeito
incluso no processo social em direitos iguais. Universalizou-se a educação básica de
forma controlada, para não alterar as relações de classe, mas dar a elas legitimidade por
competência meritocrática.
Nas palavras de Vianna, ao comprometer mudança com a conservação, “a
revolução passiva, antes um processo referido a formações nacionais com precisa
contextualização histórica, ter-se-ia convertido no único processo a ter vigência
universal.” (VIANNA, 1997, p. 29). Nessa revolução passiva da atualidade, os atores
inexistem, restando o protagonismo dos “fatos” em um processo de história de “dialética
sem síntese”. A institucionalização dos GPEs foi a revolução antes da revolução.
Enfim, sabemos hoje que foi também um objetivo da escolarização em massa, no
modelo técnico vocacional, a criação de um exército de reserva de trabalhadores. Isso
facilita a negociação salarial, além de aumentar o engajamento dos administrados na
ampliação de formas de produção. Outro aspecto a ser considerado está na obra de
Carnnoy, quando afirma que muitas crianças no mundo ocidentalizado são levadas à
escola para fracassarem — e, mesmo que aprendam a ler e a escrever, um fracasso inicial
não supera os efeitos positivos da alfabetização. Isso reforça a legitimação meritocrática
de classe social a que se pertence: a classe que não tem como capitalizar sua formação
com investimentos pecuniários estão conformadas com a posição social que têm. Mesmo
com ampliação das escolas públicas, a objetividade como régua equalizadora na medição
do desempenho escolar ignora uma série de fatores fora da escola, que influenciam o
sucesso escolar, como nutrição e cuidados de saúde em casa; reforço dos pais no trabalho
escolar; expectativas dos pais para a criança e a capacidade da família de se sustentar para
manter as crianças na escola, em vez de gerar renda. As famílias devem contribuir com
uniformes, livros e transporte, que vão além de “só comprar” o ensino privado
propriamente dito; o que pode influenciar no desempenho do aluno e até em sua exclusão
(CARNNOY, 1972).
174
Por fim, pude verificar que o projeto dos Ginásios Polivalentes foi o instrumento
para formar uma senso comum adepto do empresarialismo, aspecto fundamental na
ampliação da hegemonia norte-americana sobre o Brasil. Além de seu impacto
psicológico de solução dos conflitos de classes sobre o modelo de educação média, sua
filosofia refletida na estrutura curricular e organizacional inaugurou uma nova etapa
educacional no país. Como vimos, a formação de uma mentalidade empresarial —
empreendedora na versão ressignificada da atualidade —, chegou aos rincões brasileiros
como modernização cultural em oposição ao atraso. A eficiência dessa influência
americanista está em aspectos, que tem reflexos até os nossos dias. A meu ver o aspecto
fundamental foi o forma administrativa americanista, originária na teoria de organização
do trabalho de Taylor e Ford, ressignificada na versão da visão empresarialista.
Atualmente (2018), aspectos de bem-estar social e cidadania são considerados no
senso comum como ultrapassados e devem ser revistos. É possível encontra trabalhadores
que acreditam na redução de direitos trabalhistas conquistados, para preservação da
harmonia e bem comum de todos, como forma de manutenção harmônica dos sistema
administradores e administrados. É quase uma unanimidade que o empresário privado é
mais eficiente que o público, quando se trata de administrar. Qualquer forma de ver o
mundo questionando esse modelo é considerada revolucionária e deve ser de origem dia-
bólica; intelectuais são vistos como criadores de tensões desagradáveis e devem se
converter ao modelo pacífico e harmônico da livre concorrência, da liberdade e da
democracia.
A cultura organizacional taylorista/fordista, forjada essencialmente nos Estados
Unidos da América e ressignificada e ampliada na versão dos empresarialistas, na
estruturação de uma sociedade industrial produtiva e harmônica, formada apenas por
administradores e administrados, foi, certamente, o aspecto cultural Americanista
essencial que compunha a construção do projeto dos Ginásios Polivalentes.
175
5 - Referências:
Livros
176
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Cite http://www.esocite.org.br/eventos/tecsoc2011/cd-anais/arquivos/pdfs/artigos/gt0 16
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Documento Eletrônico
Documentos
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BRASIL - MEC MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO E CULTURA SECRETARIA-
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http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/DetalheObraForm.do?select_action=&co_
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BRASIL. MEC – EPEM DIRETORIA DO ENSINO SECUNDÁRIO. (Ed), Subsídios
para o estudo do Ginásio Polivalente. Rio de Janeiro: [s.n.] (Sine nomine) 1969.
MEC – EPEM – DES Diretoria do ensino secundário, Subsídios para o estudo do Ginásio
Polivalente. Rio de Janeiro: [s.n.], 1969.
180
6 - Anexos:
OISECIR
OISECIR
OISE CIR
180
Digitalizado pelo Arquivo da Internet em 2008 com financiamento de Corporação
Microsoft
http://www.archive.org/details/cardinalprinciplOOnatiuoft
DEPARTAMENTO DO INTERIOR
BUREAU DE EDUCAÇÃO
BOLETIM, 1918, nº 35
PRINCÍPIOS CARDINAIS DE
EDUCAÇÃO SECUNDÁRIA
WASHINGTON
1918
CÓPIAS ADICIONAIS
o superintendente de DOCUMENTOS
MACHADO
181
5 CENTAVOS 1'ER COPY
CONTEÚDO
Prefácio 5
EU . A necessidade de reorganização 7
1. Saúde 11
4. Vocação. 13
5. Educação Cívica 13
7. Caráter ético 15
182
XII -Articulação do ensino médio com ensino fundamental 1)
XX Conclusão 31
183
PREFÁCIO.
Os relatórios já emitidos por sete comitês e listados no A última página deste boletim é,
em sua maior parte, em concordância fundamental. com os princípios aqui estabelecidos.
Clarence D. Kixgslet,
Presidente da Comissão.
184
mittees e 10 são membros em geral.)
Presidentes de Comitês:
185
Educação empresarial - Cheesman A. Herrick, presidente do Girard College, Phila-
Delphia, Pa.
Artes Domésticas - Sra. Henrietta Calvin, Bureau de Educação dos Estados Unidos
Washington. D. C.
I. A NECESSIDADE DE REORGANIZAÇÃO
O ensino secundário deve ser determinado pelas necessidades da sociedade a ser servida,
o caráter dos indivíduos a serem educados, e o conhecimento da teoria e prática
educacional disponível. Esses fatores não são de forma estática. A sociedade já está em
andamento de desenvolvimento; o caráter da população do ensino secundário sofre
modificação; e as ciências em que a teoria educacional e prática dependem
186
constantemente fornecer novas informações. Secundário educação, no entanto, como
qualquer outra agência estabelecida da sociedade, é conservador e tende a resistir à
modificação. Não fazer justos quando surge a necessidade leva à necessidade de extensa
reorganização em intervalos irregulares. A evidência é forte que uma reorganização tão
abrangente do ensino secundário é imperativa no presente momento.
187
futuro próximo que todos os alunos sejam capazes de concluir o ensino secundário como
estudantes a tempo inteiro. Em conexão com o lar e a vida familiar, frequentemente vêm
menos responsabilidade por parte das crianças; a retirada do pai e às vezes a mãe das
ocupações domésticas para a fábrica ou loja; e aumento da urbanização, resultando
Atualmente, apenas cerca de um terço dos alunos que entram no primeiro ano da escola
elementar chegar ao ensino médio de quatro anos, e apenas cerca de um em nove é
formado. Daqueles que entram no sétimo ano letivo, apenas meio a dois terços atingem o
primeiro ano do quatro anos de ensino médio. Daqueles que entram no ensino médio de
quatro anos cerca de um terço de licença antes do início do segundo ano, cerca de metade
desapareceu antes do início do terceiro ano e menos de um terço são graduados. Esses
fatos não podem mais ser seguramente ignorado.
(h) O reexame e reinterpretação dos valores dos sujeitos e dos métodos de ensino com a
referência à "disciplina geral?" o veredicto final da psicologia moderna ainda não foi
apresentado, É claro que as antigas concepções de "valores gerais" devem ser
cuidadosamente revisadas. c) Importância do conhecimento operacional. - O tema varia
e os métodos de ensino devem ser testados em termos das leis de aprendizagem e da
aplicação do conhecimento às atividades da vida, e não principalmente em termos das
exigências de qualquer assunto como uma ciência logicamente organizada.
(d) Continuidade no desenvolvimento de crianças. - Tem sido por muito tempo sustentou
que as mudanças psicológicas em certas fases são tão pronunciadas como ofuscar a
continuidade do desenvolvimento. Nesta base o ensino secundário foi fortemente
separado da educação elementar. A psicologia moderna, no entanto, mostra que o
desenvolvimento do indivíduo é, em muitos aspectos, um processo contínuo e que,
portanto, qualquer ruptura repentina ou abrupta entre o e a escola secundária ou entre
quaisquer dois estágios sucessivos da educação é indesejável.
188
A educação nos Estados Unidos deve ser guiada por uma concepção clara do significado
da democracia. É o ideal da democracia que o indivíduo e a sociedade possam encontrar
satisfação um no outro. A democracia não sanciona nem a exploração do indivíduo pela
sociedade, nem o desrespeito dos interesses da sociedade pelo indivíduo. Mais
explicitamente -
Este ideal exige que as atividades humanas sejam colocadas em alta nível de eficiência;
que para este efeito ser adicionado uma apreciação do significado dessas atividades e
lealdade aos melhores ideais envolvidos; e que a escolha individual que vocação e essas
formas do serviço social em que sua personalidade pode se desenvolver e se tornar mais
efetivo. Para a consecução desses fins, a democracia deve colocar a principal confiança
na educação.
grupo, e de vários grupos cívicos, e em virtude dessas relações, ele é chamado a se engajar
em atividades que enriquecem a vida familiar, a prestar importantes serviços vocacionais
a seus companheiros e a promover o bem comum. Segue-se, portanto, que a digna adesão,
vocação e cidadania exigem atenção como três dos principais objetivos.
Além do cumprimento imediato desses deveres específicos, todo indivíduo deve ter uma
margem de tempo para o cultivo de interesses pessoais e sociais. Esse lazer, se usado com
dignidade, recriará seus poderes e ampliará e enriquecerá a vida, tornando-o assim mais
apto a cumprir suas responsabilidades. O uso indigno do lazer prejudica a saúde, perturba
a vida doméstica, diminui a eficiência vocacional e destrói a mente cívica. A tendência
na vida industrial, ajudada pela legislação, é diminuir as horas de trabalho de grandes
grupos de pessoas. Enquanto as horas encurtadas tendem a diminuir as reações
prejudiciais que surgem da tensão prolongada, elas aumentam, se possível, a importância
189
da preparação para o lazer. Diante dessas considerações, a educação para o uso digno do
lazer é de importância crescente como objetivo.
Para cumprir os deveres da vida e beneficiar-se do lazer, é preciso ter boa saúde. A saúde
do indivíduo é essencial também para a vitalidade da raça e para a defesa da nação. A
educação em saúde é, portanto, fundamental.
Existem vários processos, tais como leitura, escrita, cálculos aritméticos e expressão oral
e escrita, que são necessários como ferramentas nos assuntos da vida. consequentemente,
o comando desses processos fundamentais, embora não seja um fim em si, é, no entanto,
um objetivo indispensável.
esses. 3. Digna de ser membro de casa. 4. Vocação. 5. Cidadania.6. Uso digno de lazer.
7. Caráter ético
A nomeação dos objetivos acima não tem a intenção de implicar que o processo de
educação pode ser dividido em campos separados. Este não pode ser, já que o aluno é
indivisível. Nem a análise é toda inclusive. No entanto, acreditamos que distinguir e
nomear esses objetivos ajudarão na direção dos esforços; e nós seguramos que eles devem
constituir os principais objetivos da educação.
OBJETIVOS.
190
Por razões declaradas na Seção X, esta comissão favorece que o ensino médio pode ser
definido como aplicando-se a todos os alunos de aproximadamente 12 a 18 anos de idade.
Para levar a cabo tal programa, é necessário despertar o público para reconhecer que as
necessidades de saúde dos jovens são de importância vital para a sociedade} para
assegurar professores competentes para verificar e satisfazer as necessidades de cada
aluno e capaz de inculcar em todo o corpo estudantil um amor pelo esporte limpo, para
fornecer equipamentos adequados para atividades físicas, e para tornar o prédio da escola,
seus quartos e arredores, em conformidade com os melhores padrões de higiene e
saneamento. 1
Ao longo da escola secundária, a instrução e a prática devem andar de mãos dadas, mas,
como indicado no relatório do comitê de inglês1, apenas uma teoria deveria ser ensinada
a qualquer momento, pois isso mostraria resultados na prática.
3. Digna de ser membro de casa. - A digna de ser membro de casa como um objetivo
exige o desenvolvimento daquelas qualidades que tornam o indivíduo um membro digno
de uma família, tanto contribuindo como beneficiando-se dessa afiliação.
Este objetivo aplica-se a meninos e meninas. Os estudos sociais devem lidar com o lar
como uma instituição social fundamental e esclarecer sua relação com os interesses mais
amplos externos. A literatura deve interpretar e idealizar os elementos humanos que
fazem a casa. Música e arte devem resultar em casas mais bonitas e em maior alegria. A
escola coeducacional com uma faculdade de homens e mulheres deve, em sua
191
organização e suas atividades, exemplificar as relações saudáveis entre meninos e
meninas e homens e mulheres.
A afiliação doméstica como um objetivo não deve ser pensada apenas com referência a
deveres futuros. Estes são os melhores garantidos se a escola ajudar os alunos a tomar a
atitude correta em relação às responsabilidades domésticas atuais e interpretar para eles a
contribuição da casa para o seu desenvolvimento.
Na educação dos meninos, alguma oportunidade deve ser encontrada para dar-lhes uma
base para a apreciação inteligente do valor do lar bem-nomeado e do trabalho e habilidade
necessários para manter tal lar, para que possam cooperar mais efetivamente. Por
exemplo, eles devem entender o essencial dos valores alimentares, do saneamento e dos
orçamentos domésticos.
192
Este ideal exige que o aluno explore suas próprias capacidades e aptidões, e faça um
levantamento do trabalho do mundo, para que ele possa selecionar sua vocação. Por isso,
um programa eficaz de orientação vocacional na escola secundária é essencial. 1
O grau em que a escola secundária deveria oferecer treinamento para uma vocação
específica depende da vocação, das facilidades que a escola pode adquirir e da
oportunidade que o aluno pode ter para obter tal treinamento mais tarde. Para obter
resultados satisfatórios, aqueles proficientes nessa vocação devem ser empregados como
instrutores e as condições reais da vocação devem ser utilizadas tanto no ensino médio
quanto em cooperação com a casa, fazenda, loja ou escritório. Muito do tempo do aluno
será necessário para produzir tal eficiência.
5. A educação cívica deve desenvolver no indivíduo as qualidades pelas quais ele agirá
bem como membro do bairro, cidade ou cidade, Estado e nação, e lhe dará uma base para
entender os problemas internacionais.
A diferenciação nas atividades cívicas deve ser encorajada, mas não na extensão da perda
de interesse pelos problemas comuns com os quais todos devem lidar.
Entre os meios para desenvolver atitudes e hábitos importantes em uma democracia estão
a atribuição de projetos e problemas a grupos de alunos para solução cooperativa e a
recitação socializada pela qual a classe como um todo desenvolve um senso de
193
responsabilidade coletiva. Ambos os dispositivos oferecem treinamento em pensamento
coletivo. Além disso, a organização e administração democráticas da própria escola, bem
como as relações de cooperação entre aluno e professor, aluno e aluno, professor e
professor, são indispensáveis.
Embora todos os assuntos devam contribuir para a boa cidadania, os estudos sociais -
geografia, história, civismo e economia - devem ter isso como seu objetivo dominante.
Demasiado frequentemente, no entanto, mera formação, convencional em valor e remota
em seu significado, compõe o conteúdo dos estudos sociais. A história deve, portanto,
tratar o crescimento das instituições que seu valor presente possa ser apreciado. A
geografia deve mostrar a interdependência dos homens enquanto mostra sua dependência
comum da natureza. A área cívica deve preocupar-se menos com questões constitucionais
e funções governamentais remotas, e deve dirigir a atenção às agências sociais próximas
e às atividades informais da vida cotidiana que consideram e buscam o bem comum.
Agências tais como organizações de assistência infantil e ligas de consumidores oferecem
oportunidades específicas para a expressão de qualificações cívicas pelos alunos mais
velhos.
O trabalho em inglês deve acender os ideais sociais e dar uma visão das condições sociais
e do caráter pessoal em relação a essas condições. Daí a ênfase do comitê de inglês sobre
a importância do conhecimento das atividades sociais, movimentos sociais, e
necessidades sociais por parte do professor de inglês.
A educação cívica deve considerar outras nações também. Como povo, devemos tentar
compreender as suas aspirações e ideais, para podermos lidar com mais simpatia e
inteligência com o imigrante que chega às nossas terras, e ter uma base para uma
abordagem mais sábia e mais compreensiva dos problemas internacionais. Nossos alunos
devem aprender que cada nação, pelo menos potencialmente, tem algo de valor para
contribuir para a civilização e que a humanidade estaria incompleta sem essa
contribuição. Isto significa um estudo de nações específicas, suas realizações e
possibilidades, não ignorando suas limitações. Tal estudo de contribuições dissimilares à
luz do
194
G. Uso digno de lazer. - A educação deve equipar o indivíduo para assegurar de seu lazer
a recreação do corpo, mente e espírito, e o enriquecimento e ampliação de sua
personalidade.
Este objetivo exige a capacidade de utilizar os meios comuns de diversão, como música,
arte, literatura, teatro e relações sociais, juntamente com a promoção em cada indivíduo
de um ou mais interesses vocacionais especiais.
Até então, a escola secundária deu pouca atenção consciente a esse objetivo. Procurou
tão exclusivamente a disciplina intelectual que raramente tratou a literatura, a arte e a
música de modo a evocar uma reação emocional correta e produzir prazer positivo. Sua
apresentação da ciência deve visar, em parte, despertar uma genuína apreciação da
natureza.
A escola também não conseguiu organizar e dirigir as atividades sociais dos jovens como
deveria. Uma das maneiras mais seguras de preparar os alunos dignamente para utilizar
o lazer na vida adulta é orientar e orientar o uso do lazer na juventude. A escola deve,
portanto, ver que a recreação adequada é fornecida tanto dentro da escola quanto por
outras agências apropriadas da comunidade. A escola, no entanto, tem uma oportunidade
única neste campo porque inclui em seus membros representantes de todas as classes da
sociedade e, consequentemente, é capaz através de relações sociais para estabelecer laços
de amizade e compreensão comum que não podem ser fornecidos por outras agências.
Além disso, a escola pode organizar atividades recreativas que contribuam
simultaneamente para outros fins da educação, como no caso do festival escolar ou do
festival.
7. Caráter ético - Em uma sociedade democrática, o caráter ético se torna primordial entre
os objetivos da escola secundária. Entre os meios para desenvolver o caráter ético, pode-
se mencionar a sábia seleção de conteúdos e métodos de instrução em todas as disciplinas
de estudo, os contatos sociais dos alunos entre si e com seus professores, as oportunidades
proporcionadas pela organização e administração da escola. o desenvolvimento por parte
dos alunos do sentido de responsabilidade pessoal e iniciativa, e, acima de tudo, o espírito
de serviço e os princípios da verdadeira democracia que devem permear toda a escola -
diretor, professores e alunos. Consideração específica é dada aos valores morais a serem
obtidos a partir da organização da escola e os assuntos de estudo no relatório desta
comissão intitulado "Valores Morais no Ensino Secundário".
1 Para uma discussão mais aprofundada da educação cívica, sec os relatórios desta
comissão sobre "O Ensino da Comunidade Cívica" e "Estudos Sociais no Ensino
Secundário", emitido como Bureau of Education Boletins, 1915, No. 23, e 1916, No. 28,
respectivamente.
195
Educação ”. * Esse relatório também considera as condições sob as quais pode ser
aconselhável suplementar as outras atividades da escola oferecendo um curso distinto de
instrução moral.
Além disso, é apenas quando o aluno vê a sua vocação em relação à sua cidadania e
cidadania, à luz da sua vocação, que ele estará preparado para ser membro efetivo de uma
democracia industrial. Consequentemente, esta comissão entra em protesto contra todos
e quaisquer planos, por mais bem intencionados que corram o risco de se divorciar da
vocação e da educação social-cívica. Enfatiza a infusão da vocação com o espírito de
serviço e a vitalização da cultura pelo contato genuíno com o trabalho do mundo.
Cada disciplina agora ensinada nas escolas secundárias necessita de uma reorganização
abrangente, a fim de poder contribuir mais eficazmente para os objetivos aqui delineados,
e o lugar dessa disciplina no ensino secundário deve depender do valor de tal contribuição.
Na Seção IV deste relatório, várias referências foram feitas às mudanças necessárias. Para
um tratamento mais completo, o leitor é encaminhado para relatos desta comissão que
tratam dos diversos assuntos. Esses relatórios indicam etapas importantes em tais
modificações. Em cada relatório, a comissão tenta analisar os objetivos em termos dos
objetivos; indicar a adaptação dos métodos de apresentação aos objetivos aceitos; e
sugerir uma seleção de conteúdo com base em objetivos e métodos.
196
Na medida em que este princípio mentiroso foi ignorado, o formalismo e a esterilidade
resultaram.
Por exemplo, a educação cívica muitas vezes começou com tópicos distantes da
experiência e do interesse do aluno. Reagindo contra esse formalismo, alguns teriam
alunos apenas para estudar as atividades em que eles podem se envolver quando jovens.
Este extremo, no entanto, não é necessário nem desejável. Os alunos devem ser levados
a responder às tarefas atuais e, ao mesmo tempo, seu interesse deve ser despertado em
problemas da vida adulta. Com esse interesse como base, eles devem ser ajudados a
adquirir os hábitos, a percepção e as ideias que lhes permitam cumprir os deveres e
responsabilidades da vida futura. Da mesma forma, na educação doméstica, negligenciar
os deveres e responsabilidades atuais em relação à família da qual o aluno é agora membro
é cortejar a insinceridade moral e pôr em risco a futura conduta correta. Com os deveres
atuais como ponto de partida, a educação doméstica deve despertar o interesse em futuras
atividades domésticas e, com esse interesse como base, dar o treinamento necessário.
O número de anos que os alunos continuam na escola além da idade escolar obrigatória
depende, em grande parte, do grau em que eles e seus pais percebem que o trabalho
escolar vale a pena para eles e que estão obtendo êxito. Provavelmente, na maioria das
comunidades, a dúvida em relação ao valor do trabalho oferecido faz com que mais alunos
abandonem a escola do que a necessidade econômica. Consequentemente, é importante
que o trabalho de cada aluno seja apresentado de forma a convencê-lo e a seus pais de seu
valor real.
Muitos sujeitos estão agora tão organizados que são de pouco valor, a menos que o aluno
os estude por vários anos. Uma vez que uma grande proporção de alunos deixa a escola
em cada um dos anos sucessivos, cada disciplina deve ser organizada de tal forma que o
primeiro ano de trabalho seja de valor definitivo para aqueles que não vão além; e este
princípio deve ser aplicado ao trabalho de cada ano. Cursos planejados de acordo com
este princípio tratarão dos aspectos mais simples, ou aqueles de aplicação mais direta, nos
anos anteriores e adiarão os refinamentos para anos posteriores, quando estes puderem
ser melhor apreciados. O curso como um todo será então melhor adaptado às necessidades
tanto daqueles que continuam quanto daqueles que abandonam a escola.
197
1 deve ser organizado em fases apropriadas eo trabalho dos alunos progressivamente
diferenciados.
Para realizar essa diferenciação de forma mais sábia, o aluno deve ser assistido
normalmente aos 12 ou 13 anos de idade para iniciar um levantamento preliminar das
atividades da vida adulta e de suas próprias aptidões relacionadas, para que ele possa
escolher, pelo menos provisoriamente, algum campo do esforço humano para
consideração especial. Após o período de levantamento preliminar e escolha provisória,
ele deve adquirir um conhecimento mais íntimo do campo escolhido, incluindo com isso
uma apreciação de seu significado social. Aqueles cuja educação termina aqui devem
atingir algum domínio da técnica envolvida. O campo escolhido será para alguns tão bem
definido quanto um comércio específico; para outros, será apenas a escolha preliminar de
um domínio mais amplo dentro do qual uma escolha mais restrita será feita
posteriormente. Estas considerações, reforçadas por outros, simplesmente, no julgamento
desta comissão, uma redivisão do período dedicado ao ensino fundamental e médio. Os
oito anos até então dados ao ensino fundamental não foram, via de regra, efetivamente
utilizados. Os últimos dois anos, em particular, não foram bem adaptados às necessidades
do adolescente. Muitos alunos perdem o interesse e abandonam completamente a escola
ou formam hábitos de desavença, ao prejuízo grave do trabalho subsequente. Acreditamos
que grande parte da dificuldade será removida por um novo tipo de educação secundária
a partir de 12 ou 13 anos. Além disso, o período de quatro anos alocado para o ensino
médio é muito curto para se realizar o trabalho acima delineado. .
No ensino médio, uma organização de currículo definido deve ser fornecida por meio da
qual cada aluno pode levar o trabalho sistematicamente planejado com referência às suas
necessidades como indivíduo e como membro da sociedade. O ensino médio deve ser
caracterizado por uma consciência social em rápido desenvolvimento e por uma aptidão
de autoconfiança baseada em objetivos claramente percebidos.
Em circunstâncias normais, os períodos júnior e sênior devem ter, cada um, três anos de
duração, para realizar seus propósitos distintos. Em comunidades pouco povoadas, onde
uma escola secundária não pode ser mantida de forma eficaz, a escola secundária pode
198
ter quatro anos de duração, para que os alunos possam frequentar a escola mais perto de
suas casas por mais um ano.
EDUCAÇÃO.
Como declarado na Seção XII deste relatório, a escola secundária deve admitir todos os
alunos que obteriam maior benefício da escola secundária do que da primária. Com a
demanda da sociedade democrática por uma educação liberal e vocacional estendida para
um número cada vez maior de pessoas, as instituições superiores de ensino, tomadas como
um todo, têm uma obrigação semelhante com relação àquelas cujas necessidades não são
mais atendidas pelo ensino secundário. escola e estão dispostos a continuar sua educação.
A concepção de que o ensino superior deve ser limitado aos poucos está destinado a
desaparecer no interesse da democracia.
199
deve, portanto, dar lugar a uma avaliação científica de todos os tipos de educação
secundária como preparação para a continuação estude. Essa concepção mais ampla não
precisa envolver qualquer redução de oportunidades para aqueles que cedo manifestam
interesse acadêmico em buscar o trabalho adaptado às suas necessidades. No entanto,
significa que os alunos que, durante o período secundário, dedicam um tempo
considerável a cursos com conteúdo profissional, devem ser autorizados a seguir qualquer
forma de ensino superior, liberal ou vocacional, que possam empreender com lucro para
si próprios e para a sociedade.
A saúde, como objetivo, torna imperativo um tempo adequado para o treinamento físico
e requer cursos científicos devidamente focados na higiene pessoal e comunitária, nos
princípios do saneamento e em suas aplicações. Comando de processos fundamentais
exige cursos completos na língua inglesa como um meio de receber e dar ideias. A ideia
digna de ser membro da casa exige o redirecionamento de grande parte do trabalho em
literatura, arte e estudos sociais. Para as meninas, é necessário cursos adequados em artes
domésticas. A cidadania exige que os estudos sociais tenham um lugar de destaque. A
vocação como objetivo exige que muitos alunos dediquem grande parte de seu tempo à
preparação específica para um comércio ou ocupação definidos e que alguns realizem
estudos que sirvam como base para o trabalho avançado em instituições superiores.
O uso digno de chamadas de lazer para cursos de literatura, arte, música e ciência,
ensinado de forma a desenvolver uma apreciação. Também exige uma margem de eletivas
livres a serem escolhidas com base em interesses pessoais de avocação.
200
Sem uma especialização eficaz por parte de grupos de indivíduos, não há progresso. Sem
unificação em uma democracia, não pode haver vida comunitária digna e nenhuma ação
conjunta para fins sociais necessários. A crescente especialização enfatiza a necessidade
de unificação, sem a qual uma democracia é uma presa para os inimigos em casa e no
exterior.
(a) Uma ampla gama de assuntos. - A fim de testar e desenvolver as muitas capacidades
e interesses importantes encontrados em alunos de idade do ensino secundário, a escola
deve fornecer uma gama tão ampla de matérias quanto possa oferecer de forma eficaz.
(b) Exploração e orientação. - Especialmente na escola secundária, o aluno deve ter uma
variedade de experiências e contatos para poder explorar suas próprias capacidades e
aptidões. Através de um sistema de supervisão ou orientação educacional, ele deve ser
ajudado a determinar sua educação e sua vocação. Essas decisões não devem ser impostas
a ele por outros.
201
pode oferecer de forma eficaz. A base da diferenciação deve ser, no sentido amplo do
termo, vocacional, justificando, assim, os nomes comumente dados, como os currículos
agrícolas, empresariais, administrativos, industriais, de artes plásticas e artes domésticas.
Provisão deve ser feita também para aqueles que têm interesses e necessidades
acadêmicas distintas. A conclusão de que o trabalho do ensino médio deveria ser
organizado com base nos currículos não implica que cada estudo deva ser diferente nos
vários currículos. Isso implica que todo estudo deve ser determinado pelo elemento
dominante daquele currículo. Na verdade, qualquer prática desse tipo ignoraria outros
objetivos da educação tão importantes quanto o da eficiência profissional.
(a) Estudos de valor direto para este fim, especialmente os estudos sociais e a língua
materna, com sua literatura.
(c) A participação de alunos em atividades comuns nas quais eles devem ter uma grande
responsabilidade, como jogos de atletismo, atividades sociais e o governo da escola.
202
O caráter suplementar dessas funções tem influência direta sobre os assuntos a serem
tomados pelos alunos do ensino médio. Para este fim, a escola secundária deve fornecer
os seguintes grupos de estudos:
(a) Constantes, a serem tomadas por todos ou quase todos os alunos. Estes devem ser
determinados principalmente pelos objetivos da saúde, pelo comando dos processos
fundamentais, pela digna adesão ao lar, pela cidadania e pelo caráter ético.
(c) Elecctos livres, a serem realizados pelos alunos de acordo com aptidões individuais
ou interesses especiais, geralmente de natureza não-profissional. Estes são significativos,
especialmente na preparação para o uso digno do lazer.
No sétimo ano, que é o primeiro ano da escola secundária, o aluno não deve ser obrigado
a escolher desde o início o campo ao qual ele se dedicará. Para aqueles que não o fazem
neste momento tem um propósito definido, deve ser dada oportunidade de ganhar alguma
experiência com vários tipos significativos de trabalho, tais como alguma forma de artes
industriais, jardinagem ou outra activit3 agrícola \ datilografia ou problemas retirados de
negócios, lar artes para meninas, e pelo menos uma parte dos alunos, alguns trabalham
em uma língua estrangeira.
Pode ser viável organizar vários desses assuntos ou projetos em unidades curtas e
organizar o cronograma para que cada aluno possa levar vários deles. O trabalho assim
oferecido pode e deve ser de real valor educativo, além de seu valor exploratório.
Nos dois anos seguintes da escola secundária, alguns alunos devem continuar este
processo de experimentação, enquanto outros podem dedicar um quarto a metade do seu
tempo a variáveis curriculares. Os alunos que provavelmente entrarão na indústria no
final do nono ano podem dar até dois terços do seu tempo à preparação vocacional, mas
não devem ser autorizados a negligenciar a preparação para a cidadania e o uso digno do
lazer.
No ensino médio, a proporção relativa desses três grupos de sujeitos varia de acordo com
o currículo. Os alunos que entrarem em uma ocupação remunerada antes da conclusão do
ensino médio podem dedicar uma grande parte de seu tempo às variáveis curriculares,
especialmente durante o último ano na escola.
203
Em resumo, quanto maior o tempo permitido para as variáveis curriculares, mais
proposital deve ser o tempo dedicado às constantes, a fim de que a escola possa ser eficaz
como uma agência de unificação. Acima de tudo, quanto maior a diferenciação nos
estudos, mais importante se torna a mistura social de alunos que seguem currículos
diferentes.
As escolas secundárias devem ser do tipo abrangente, seja qual for a política adotada para
as escolas secundárias seniores, já que um dos principais objetivos da escola secundária
é ajudar o aluno através de uma ampla variedade de contatos e experiências, a fim de
obter uma base para os alunos inteligentes. escolha de sua carreira educacional e
vocacional. No julgamento da comissão, as escolas secundárias e as escolas secundárias
de quatro anos das organizações mais antigas devem, em regra, ser do tipo abrangente,
pelas seguintes razões:
204
conversar com professores que lhe dão conselhos de especialistas. tais currículos. Quando
tal aluno encontrou um currículo melhor adaptado às suas necessidades, ele pode ser
transferido para ele sem o rompimento das relações escolares e. o que parece a ele, o
sacrifício da lealdade escolar.
Além disso, os alunos de escolas abrangentes têm contatos valiosos para eles de maneira
vocacional, já que pessoas de todas as profissões devem ser capazes de lidar
inteligentemente com outras vocações, e os empregadores e empregados devem ser
capazes de entender uns aos outros e reconhecer interesses comuns. Da mesma forma, os
professores em escolas abrangentes têm uma oportunidade melhor de observar outros
currículos e, assim, são mais capazes de aconselhar os alunos de forma inteligente.
Resumindo sob este ponto de vista, a escola abrangente e bem organizada pode fazer uma
educação diferenciada de maior valor do que a escola de tipo especial, porque auxilia em
uma sábia escolha de currículo, auxilia nos reajustes quando isso é desejável e fornece
contatos mais amplos verdadeiro sucesso em toda vocação.
2. Para unificação. - Quando administrado por um diretor que reconhece o valor social de
todos os tipos de educação secundária e inspira um amplo espírito de democracia entre
professores e alunos, o ensino médio abrangente é um instrumento melhor para a
unificação. Através de amizades formadas com alunos que buscam outros currículos e
tendo objetivos vocacionais e educacionais muito diferentes dos seus, os alunos percebem
que os interesses que têm em comum com os outros são, afinal, muito mais importantes
do que as diferenças que tenderiam a torná-los antagônico aos outros.
• Através de assembléias e organizações escolares, elas adquirem idéias comuns. Por meio
de atividades em grupo, eles garantem treinamento em cooperação. Através da lealdade
a uma escola que inclui muitos grupos, eles estão preparados para a lealdade ao Estado e
à nação.
205
isso requer, para o seu sucesso, uma liderança entusiástica, como a que pode ser mais bem
assegurada por um grande corpo docente. Meninas em todos os currículos devem ter as
vantagens de trabalhar em artes domésticas sob diretores eficientes e com equipamento
adequado. Tais condições são mais prontamente fornecidas na escola abrangente, onde
há um forte departamento de artes domésticas.
4. Para acessibilidade. - Em cidades grandes o suficiente para exigir mais do que uma
escola secundária, é desejável que cada escola esteja localizada de modo a atender a uma
parte específica da cidade, reduzindo assim as despesas e a perda de tempo envolvidas
nas viagens dos alunos. A proximidade da escola aos lares resulta também em maior
interesse na educação por parte dos alunos e pais, e consequentemente aumenta o poder
de atração e retenção da escola.
206
de currículo devem trabalhar sob a direção geral do diretor, que deve ser o coordenador
de todas as atividades da escola. Em especial, é necessário que cada diretor seja
selecionado com o mesmo cuidado que seria exercido na escolha do diretor de uma escola
de matrícula especial com tantos alunos matriculados no currículo ou nos currículos sob
sua direção, em escolas secundárias de médio porte. incapazes de empregar diretores para
os vários currículos, os professores deveriam ser organizados em comitês para considerar
os problemas dos vários currículos, todos trabalhando sob a direção do diretor.
O diretor pode selecionar de seus professores um conselho, cada membro do qual será
encarregado da responsabilidade de estudar as atividades da escola com referência a um
objetivo específico. Os planos para a realização desses objetivos devem ser discutidos
pelo diretor e pelo conselho. Sem prejudicar de forma alguma a responsabilidade final do
diretor, ele irá, como regra, aumentar a eficiência da escola se o diretor encorajar a
iniciativa por parte desses membros do conselho e delegar-lhes responsabilidades que ele
possa cumprir. Os membros de tal conselho e seus deveres são sugeridos da seguinte
forma:
207
regulamentação adequada do trabalho e recreação. Ele pode descobrir se o ensino da
biologia está voltado para a higiene e o saneamento.
Diretores de currículo. - Como discutido na Seção XVI deste relatório, para cada grupo
importante de vocações para as quais a escola oferece um currículo, ou grupo de
currículos, deve haver um diretor para estudar as necessidades dessas vocações e
descobrir os aspectos em que os graduados estão tendo sucesso ou falham em atender
demandas vocacionais legítimas. Com o conhecimento assim obtido, ele deve se esforçar
para melhorar o trabalho oferecido pela escola.
Um desses diretores de currículo deve ter preparação para faculdades e escolas normais.
Ele deve obter os registros dos graduados que frequentam essas escolas e descobrir os
pontos fortes e fracos em sua preparação. Ele aconselhará os alunos que pretendem
ingressar nessas instituições quanto ao trabalho que devem realizar no ensino médio.
O diretor pode selecionar de seus professores um conselho, cada membro do qual será
encarregado da responsabilidade de estudar as atividades da escola com referência a um
objetivo específico. Os planos para a realização desses objetivos devem ser discutidos
pelo diretor e pelo conselho. Sem prejudicar de forma alguma a responsabilidade final do
diretor, ele irá, como regra, aumentar a eficiência da escola se o diretor encorajar a
iniciativa por parte desses membros do conselho e delegar-lhes responsabilidades que ele
possa cumprir. Os membros de tal conselho e seus deveres são sugeridos da seguinte
forma:
208
regulamentação adequada do trabalho e recreação. Ele pode descobrir se o ensino da
biologia está voltado para a higiene e o saneamento.
Diretores de currículo. - Como discutido na Seção XVI deste relatório, para cada grupo
importante de vocações para as quais a escola oferece um currículo, ou grupo de
currículos, deve haver um diretor para estudar as necessidades dessas vocações e
descobrir os aspectos em que os graduados estão tendo sucesso ou falham em atender
demandas vocacionais legítimas. Com o conhecimento assim obtido, ele deve se esforçar
para melhorar o trabalho oferecido pela escola.
Um desses diretores de currículo deve ter preparação para faculdades e escolas normais.
Ele deve obter os registros dos graduados que frequentam essas escolas e descobrir os
pontos fortes e fracos em sua preparação. Ele aconselhará os alunos que pretendem
ingressar nessas instituições quanto ao trabalho que devem realizar no ensino médio.
Cada um desses objetivos requer para sua realização não apenas o treinamento e a
formação de hábitos que a criança pode obter, mas também a inteligência e a eficiência
que não podem ser desenvolvidas antes da adolescência. De fato, sua realização exige o
período total alocado para as escolas secundárias júnior e sênior.
Consequentemente, esta comissão considera que a educação deve ser reorganizada de tal
forma que todos os meninos e meninas normais sejam encorajados a permanecer na escola
até os 18 anos de idade, em período integral, se possível, ou em tempo parcial.
Como afirmado na Seção I deste relatório, apenas um jovem americano em cerca de três
atinge o primeiro ano do ensino médio de quatro anos, e apenas um em cerca de nove
permanece na escola até o final do curso secundário. Essa condição é, em última análise,
209
devida principalmente a quatro causas: primeiro, a gama limitada de instrução
comumente oferecida pelas escolas secundárias; segundo, o fracasso da escola em
demonstrar adequadamente aos jovens e seus pais o valor da educação oferecida; em
terceiro lugar, a atração do emprego, juntamente com o desejo de maior independência
econômica por parte dos jovens; e quarto, pressão econômica na família, real ou
imaginada.
Enquanto isso, uma política nacional sólida determina a necessidade urgente de uma
legislação em que todos os jovens, empregados ou não, sejam obrigados a freqüentar a
escola pelo menos oito horas em cada Aveek que as escolas estão em atividade até
atingirem a idade de 18 anos. .
210
Para tornar eficaz este ensino a tempo parcial, será necessário adaptá-lo especificamente
às necessidades dos alunos em causa. Além disso, os professores devem ser treinados
para esse novo tipo de trabalho. Sem tais disposições, existe um grande perigo de fracasso
e uma conseqüente reação contra essa mais valiosa extensão da educação secundária.
O comparecimento em meio período a oito horas por semana de toda a pessoa * entre 14
e 18 anos que não esteja na escola exigirá um grande aumento no número de professores
nas escolas secundárias. Nenhuma outra parte da legislação educacional poderia, no
entanto, fazer mais para aumentar o nível de inteligência e eficiência e para assegurar o
bem-estar da democracia.
XX CONCLUSÃO.
Treze relatórios lidam com os objetivos, métodos e conteúdo dos vários assuntos de
estudo e currículos à luz desses princípios. Três outros discutem orientação vocacional,
educação física e os valores morais que devem ser derivados da organização e instrução
da escola secundária.
Torna-se cada vez mais evidente que os problemas do ensino secundário merecem uma
atenção muito mais séria do que a que receberam até agora. O estudo dos melhores
métodos para adaptar o ensino secundário às necessidades da vida democrática moderna
está apenas começando. As características físicas, intelectuais, emocionais e éticas dos
jovens ainda são vagamente compreendidas. Esse conhecimento das necessidades sociais
e da teoria e prática educacional, como já está disponível, tem sido seriamente estudado
por relativamente poucos administradores e professores. O progresso dependerá em
211
grande parte da formação profissional adequada dos professores antes e depois da entrada
em serviço. Planos devem ser adotados para agrupar os resultados da experimentação
bem-sucedida por parte de professores individuais. Para tornar a reorganização eficaz, a
supervisão competente e a liderança construtiva devem ser fornecidas nos vários campos
do ensino secundário.
É a firme convicção desta comissão que o ensino secundário nos Estados Unidos deve
visar nada menos que uma vida digna e completa para todos os jovens, e que, portanto,
os objetivos aqui descritos devem encontrar lugar na educação de todos os meninos e
meninas.
319
212
Anexo II - Descrição detalhada dos documentos pesquisados no PROEDES - UFRJ
A pesquisa de campo foi realizada entre os dias 20 e 24 de agosto de 2018.
Foram verificados 6 relatórios, 10 convênios, 8 projetos, 1 Parecer, 3 manuais, 5
inventários, 16 Estudos, 6 decretos, 01 correspondência, 26 publicações, 01 catálogo, 6
atas, 6 acordos.
Acordos
Qt Pasta No Espécie Data Autor Descrição
01 01 012 Acordo 1969 BR e USA AID – Empréstimo nº 5122018 ...
AID – Empréstimo nº 5122018 acordo destinado
02 02 013 Acordo 1971 BR e USA
ao fundamental e médio
MEC/DEF/SUBI Education Administration Planning – Visa
03 02 014 Acordo 1972
N/USAID aprimorar o planejamento de 1º e 2º graus
MEC/DEF/SUBI Acordo para assegurar continuidade do apoio
04 02 015 Acordo 1972
N/USAID financeiro
MEC/DEF/SUBI Objetiva desenvolver melhores métodos de
05 02 016 Acordo 1974
N/USAID planejamento....
06 02 018 Acordo S/D MEC/USAID Acordo prevendo transferência de recursos
Atas
BR e USA coord de Atas das 6 primeiras reuniões do escritório do
01 03 019 Atas 1956
apoio Ponto IV no Brasil
Catálogos
Catálogo de acordos de assistência técnica
01 04 020 Catálogo 1967 CONTAP USAID Acordos de cooperação entre BR e EUA
Convênios
Qt Pasta No Espécie Data Autor Descrição
01 05 025 Convênio 1965
Hight education – Criação de grupo de
MEC/USAID
planejamento binacional...
Secondary and industrial education –
02 05 026 Convênio 1965 MEC/USAID Assistência à conselhos e secretarias de
educação
Secondary and industrial education –
03 05 027 Convênio 1965 MEC/USAID Orientação e assessoramento à educação
secundária...
Secondary and industrial education – vigência
04 05 030 Convênio 1968 MEC/USAID
das atividades EPEM
Secondary and industrial education - Atividades
05 05 031 Convênio 1969 MEC/USAID
EPEM estendias aos Estados
Secondary and industrial education – Dá
06 05 032 Convênio 1969 MEC/USAID
prosseguimento ao projeto e destina recursos
Secondary and industrial education – Apres obj
07 06 034 Convênio 1970 MEC/USAID a longo prazo e amplia equipe EPEM p 30
membros
Education Adm Planing – convênio relativo ao
08 06 036 Convênio 1971 MEC/USAID
ensino de 1º grau...
09 06 037 Convênio 1972 MEC/USAID Convênio setorial nº 3 SUBIN/MEC e outras...
10 06 038 Convênio 1972 MEC/USAID Dota o PREMEM de recursos...
213
Correspondência
01 07 041 Corresp. 1967 CONTAP Ofício
Decretos
Da aprovação ao Acordo Básico de cooperação
01 08 046 Decreto 1959 Poder Legislativo técnica e o Acordo sobre programas de serviços
técnicos especializados
Dispõe sobre o funcionamento do escritório do
02 08 047 Decreto 1959 Poder Executivo
Ponto IV
03 08 048 Decreto 1961 Poder Executivo Dá nova redação ao decreto nº 45.660...
04 08 049 Decreto 1962 Poder Executivo Cria Comissão Aliança para o progresso
05 08 050 Decreto 1965 Poder Executivo Cria Comissão Aliança para o progresso
06 08 052 Decreto 1969 Poder Executivo Atividade de cooperação técnica
Estudos
Qt Pasta No Espécie Data Autor Descrição
Como um ministro da educação destrói uma
01 09 054 Estudo 1963 O globo
educação
02 09 057 Estudos 1970 A P S Campos Matéria de formação pedagógica
Vicente Ubelino de
03 09 058 Estudos 1970 Planejamento Educ. EPEM-GPES
Souza
04 09 059 Estudos 1970 Donald M Foster Planejamento educacional Estados
Estudo da implantação da divisão de supervisão
05 09 060 Estudos 1971 MEC/USAID
do ensino
Fundamentação teórica da escola Polivalente
06 09 062 Estudos 1972 MEC
1º volume
Fundamentação teórica da escola Polivalente
07 09 062 Estudos 1972 MEC
2º volume
Fundamentação teórica da escola Polivalente
08 09 062 Estudos 1972 MEC
3º volume
Materiais de ensino aprendizagem - Conceitos
09 10 063 Estudos 1973 MEC
básicos
10 10 064 Estudos 1973 PREMEM Serviço de orientação educacional
11 10 065 Estudos 1977 MEC Considerações sobre o projeto em implantação
12 10 068 Estudos S/D MEC/USAID Historicização a Assistencia tec internacional
13 10 069 Estudos S/D MEC/USAID O programa de criação dos GPEs
14 11 070 Estudos S/D Resultados nos acordos MEC/USAID
15 11 071 Estudos S/D MEC/USAID Atividade extra classe
16 11 072 Estudos S/D MEC/PREMEM Relacionamento escola comunidade
Inventários
01 12 073 Invent. S/D Publicações PREMEM
02 12 074 Invent. S/D Programas do ponto IV no Brasil
03 12 075 Invent. S/D List treinamento de professores no Brasil
04 12 076 Invent. S/D Doc. Tec. Produzido PREMEM
05 12 077 Invent. S/D Doc Gerais - lista
Manuais
Manuai 1973
01 13 079 MEC Projeto recursos humanos
s
Manuai 1973 Projeto recursos humanos para 1º grau
02 13 080 MEC
s
214
Manuai
03 13 081 S/D MEC Organização da escola Polivalente
s
Parecer
Câmera de Trata da consideração final do Conselho sobre o
01 14 083 Parecer 1967
Planejamento CFE acordo MEC/USAID
Projetos
Qt Pasta No Espécie Data Autor Descrição
01 15 084 Projetos 1955 MEC Improvent of secundar education
Secondary education - Treinamento de 400
02 15 086 Projetos 1956 MEC
professores
Educação Primária – treinamento de 1.000
03 15 087 Projetos 1957 BR - ICA
professores
04 15 088 Projetos 1957 BR - ICA Secondary Education – custos de treinamentos
Projeto de assistência ao ensino secundário -
05 15 089 Projetos 1957 BR - ICA
treinamento
06 15 094 Projetos 1963 BR - ICA PABAEE
Projeto de avaliação de assistência técnica
07 15 095 Projetos 1970 BR - USAID
elementar
08 15 096 Projetos S/D Premem Projeto de longo prazo/obj do profiss
Publicações
Venâncio Filho, Contribuições norte-americanas à educação no
01 16 097 Publicações 1946 Francisco BR. RBEP
02 16 098 Publicações 1952 J. Lyle Cunninghan Programa de cooperação Adm entre BR e Eua
Revista “Documentário da Revista do Serviço
03 16 099 Publicações 1959
Público sobre Programa de Assistência
04 16 100 Publicações 1967 Moniz Aragão A propósito do convênio Mec/USAID
MEC/USAID Ideologia de desenvolvimento
05 16 101 Publicações 1967 Ted Goertzel
Aplicado à educação superior no Br
Sérgio Guerra
06 16 102 Publicações 1968 A presença americana na educação brasileira
Duarte
Dulce Helena Levantamento de pesquisa sobre assuntos
07 16 103 Publicações 1974 Alvares Pessoa brasileiros feitas em Universidades
Ramos americanas
M do Carmo Rosa
08 16 104 Publicações 1976 de Souza e Alii
Textos sobre currículo
Noel McGinn e Education Planing as political process two
09 16 104A Publicações 1979
outros case studies from Latin America
Christopher
10 16 105 Publicações s/d
Mitchell
AID and politics in Latin America
215
Sec de Educ e
16 20 117 Publicações 1969 I Seminário GOT’s
Cultura
17 22 119 Publicações 1974 MEC Secr Geral Considerações sobre o relatório americano
18 22 121 Publicações s/d Juracy Andrade Capítulo de livro sobre a USAID
19 22 122 Publicações S/D Lincon Gordon O progresso pela aliança
20 23 129 Publicações 1967 O Globo Aragão defende MEC USAID
21 23 130 Publicações 1967 Correio da manhã MEC USAID acordo virá ampliado
22 23 131 Publicações 1967 Jornal do Brasil Revisão MEC USAID sai em dias
23 23 136 Publicações 1967 Jornal do Brasil Acordo MEC USAID será revisto
Publicações 1967 Imperialismo MEC USAID ensino teses da União
24 24 152 O Metropolitano Metropolitana de Estudantes
25 24 153 Publicações 1968 Jornal do Brasil Agência mantém 58 programas
26 24 155 Publicações 1968 Jornal do Brasil Fim do acordo MEC USAID
Relatórios
Qt Pasta No Espécie Data Autor Descrição
Relatório Anual do Programa conjunto de
01 25 158 Relatório 1957 USOMB RJ
Educação Brasil / Estados Unidos
02 25 162 Relatório 1965
Cooperação BR/EUA informa sobre
GPEA
trabalhos...
03 25 164 Relatório 1969
BR/UNICEF/UNES Relatório do 1º encontro de coordenadores e
CO diretores de cursos
04 25 165 Relatório 1969
BR/UNICEF/UNES
Relatório final do treinamento do magistério
CO
BR/UNICEF/UNES
05 25 166 Relatório 1970 Relatório final do III plano de operações
CO
Relatório final do acordo
06 25 167 Relatórios 1978 PREMEM
MEC/PREMEM/USA
Anexo III
Atas das seis primeiras reuniões do Escritório Ponto IV no Brasil
216
Apêndice I
Tradução do prefácio; introdução e capitulo 1 do livro
POPKEWITZ, Thomaz. Inventing the Modern self and John Dewey – Modernities
and the Traveling of Pragmatism in Education. Palgrave Macmillan, New York, 2008.
Pág IX e X do Prefácio
O livro traz em foco uma série de temas importantes na filosofia contemporânea, ciências
sociais, história e educação. Entre as teses estão:
1) A coleção de ensaios fornece uma maneira de repensar a história da escolaridade a
partir de uma perspectiva histórica comparativa e cultural / social. Permite considerar o
campo de idéias, as relações de autoridade e as instituições através das quais as escolas
modernas são construídas, e os múltiplos princípios de suas práticas pedagógicas ao
governar quem é e deve ser a criança. Os ensaios não são normativos ou comemorativos,
mas analíticos e diagnósticos dos processos culturais, sociais e políticos através dos quais
a criança é constituída como objeto de reflexão e ação. O rastreamento dos movimentos
do pragmatismo, então, é uma maneira de considerar os princípios de governar os
princípios de reflexão e participação - escolaridade e suas construções da criança.
2) É dentro deste projeto intelectual que se colocam os exames do pragmatismo de
Dewey. O pragmatismo funciona como uma tese cultural sobre os modos de vida. Esse
modo de vida é uma das muitas teses culturais sobre como os indivíduos devem refletir e
participar - os modos de vida - que circularam no século XX. A importância de explorar
essas teses culturais é que elas também incorporam normas e valores de um pensamento
coletivo e de "lares", que a individualidade, a sociedade e a nação são interpretadas.
3) Os ensaios deste livro colocam a construção da modernidade dentro de um campo de
práticas culturais em que os contextos europeus e norte-americanos são vistos relacional
e historicamente. A suposição dos ensaios é que a modernidade não é um fato para
explicar as mudanças que ocorrem, mas um termo cujo uso é possível através de
mudanças nas idéias, autoridade, relações e instituições. Além disso, essas mudanças são
melhor compreendidas internacionalmente e relacionalmente, assim meu uso das
"modernidades" no título. A ênfase de múltiplas modernidades como encarnando
diferentes teses culturais sobre como se deve viver e agir não é meramente um
epifenômeno de outras mudanças institucionais ou estruturais, mas um elemento integral
e material de governar.
4) O livro fornece uma maneira de estudar novos conhecimentos que relaciona o
conhecimento político e elitizado com um conhecimento popular da vida cotidiana. As
diferentes discussões, por exemplo, centram-se na inscrição da ciência como uma forma
de organizar a vida diária e não como uma forma de estudar o mundo natural. Esta
inscrição da ciência como um conjunto de princípios para viver, no entanto, não era
apenas sobre tomada de decisão racional e caminhos para a solução de problemas. A
racionalidade de ordenar o "pensamento" incorporou novos valores e normas que
constituem o pensamento sublime que se pode pensar e agir na vida cotidiana. Assim, há
diferentes noções de beleza e boa vida que se sobrepõem com a noção de ciência na Suíça
e na Colômbia, para usar dois exemplos do livro, bem como a inscrição do medo sobre
as características da criança que dificulta o progresso. Além disso, os ensaios fornecem
uma maneira de entender como o próprio conhecimento - seus modos de constituir os
objetos de reflexões e participações - são práticas governantes formadas através das
teorias e métodos das novas ciências sociais e educacionais.
Pág XI
5) A abordagem histórica do livro fornece uma estratégia para estudar a relação entre o
global e local nas práticas de construção de modernidades. Há uma indústria de trabalho
na globalização que tende a se concentrar na economia, política e social, enquanto
ignorando que precisa ser considerado em como o presente é diferente formam o passado.
Esta diferenciação histórica faz parte das discursões que têm lugar neste livro. Além disso,
o enfoque em diferentes modernidades através de suas teses culturais pode fornecer lentes
históricas do presente, particularmente no pensamento sobre os atuais regulamentos de
conflitos sociais e políticos.
O livro se sobrepõe com múltiplos temas intelectuais e focos disciplinares e, portanto,
tem vários públicos de leitura. Os capítulos conceitualizam a história da escolaridade e
suas políticas de conhecimento em um campo internacional do qual emergiu a educação
moderna. No sentido, a coleção de capítulos fornece uma intervenção substantiva e
metodológica no estudo da escolaridade. Os capítulos também respondem ao renovado
interesse em John Dewey e pragmatismo que se move através dos terrenos da educação,
filosofia e teoria social. Ao mesmo tempo, o livro reúne e integra discussões
históricamente discordantes que se relacionam com globalização e localização, múltiplas
modernidades e questões de governo e governo. O último não é sobre as propriedades
formais do aparato administrativo legal do estado, mas o governo que ocorre através da
escolarização na geração de princípios sobre quem a criança eo cidadão são e devem ser.
Thomas S. Popkewitz
Madison, WI
Página 3
Original
Inventing the Modern Self and John Dewey: Modernities and the Traveling of
pragmatism in Education - An Introdution
Thomaz S. Popkewitz
Introduction
This book explores the relationship of education to modernity, pregmatism, and one of
pragmatism's major international spokespersons, John Dewey. As I look across a number
of social science and philosophy journals today, these three themes have found a certain
prominence in contemporary scholarship for thinking about the problems, issues, and
dilemmas of the present.
The idea of modernity, for example, is used in different ways to refer to change of the
past and the present. Various debates in the social sciences, history, and philosophy about
what to label the present- modernism, postmodernism, advanced modernity, to name just
a few - suggest a certain unease with the present and its constructions of historical legacies
and present coherences. For the most part, discussions about modernity signify it as a
noun, a particular object explained by a range of changes in the long nineteenth century
1. - Social and economic, scientific inventions, and new technologies (railroad, eletricity,
and telegraph), industrialization and urbanization, as well as the new instituitions of the
state concerned with the welfare of its citizens. Others go back to the eighteenth century
to talk about the emergence of a particular intellectual outlook thats forms with, for
example, the Reformation and Counter- Reformation, Enlightenment thinkers, and new
political regimes such as those associated with the American and French Revolutions.
Tradução:
POPKEWITZ, Thomaz. Inventing the Modern self and John Dewey – Modernities and the
Traveling of Pragmatism in Education. Palgrave Macmillan, New York, 2008.
Introdução
Página 16
Através da ordenação da vida das crianças 12. Dewey foi reunido na Columbia através
Decroly e autores "locais" em uma pedagogia reacionária e conservadora 13; E Dewey e
Decroly foram colocados na companhia do Kerschensteiner alemão e Claparède suíço
como o filósofo de uma redenção social que o trabalho pedagógico jugoslavo centrar-se-
ia na atividade da criança 14.
O estrangeiro indígena e as bibliotecas itinerantes são ferramentas intelectuais para
inquirir historicamente sobre teses culturais através das quais o eu é construído e
construído. Os dois conceitos chamam a atenção para fluxos globais de idéias e relações
de autoridade em situações particulares à medida que novas intenções são abertas e novas
oportunidades e interações são invocadas que são historicamente pressupostas nas
discussões da modernidade. Ao mesmo tempo, os conceitos fornecem uma maneira de
considerar a globalização e a localiza- ção como processos relacionados e oligarcas, em
vez de diferentes e distintos. As diferentes fotografias que se seguem são para pensar
sobre as diferentes montagens e conexões em que Dewey participa em diferentes
bibliotecas itinerantes. Eu não incluí uma foto de Dewey nesta colagem para enfatizar os
fluxos de idéias, sua rede e condições e não para reinserir Dewey como um ícone da
mudança.
Volto agora a atenção para um conjunto particular de princípios que circulam nas teses
culturais sobre o eu moderno nos estudos de caso de seu livro. As teses culturais são dadas
inteligibilidade através de uma grade que exploro através de três distinções históricas que
funcionam epistemologicamente para ordenar ação e participação. Eles implicam (a) a
invenção do indivíduo que tem a responsabilidade pelo progresso pessoal e coletivo; (B)
a regulação do tempo no planejamento da agência. O "eu" moderno é uma biografia
planejada que existe em um fluxo serial ou racional de tempo calculado. As noções
pedagógicas do desenvolvimento infantil eo conceito de ação de Dewey incorporam tais
noções de uma vida planejada na seqüência do tempo regulado. E (c) a inscrição da
ciência como um método de vida. Os imaginários da ciência são fabricados como um
modo de viver e planejar a biografia e o progresso da pessoa.
As três distinções são tratadas historicamente como qualidades culturais diferentes e
sobrepostas, através das quais os eues modernos são fabricados.
Fim de paga 16
Página 17
São postos como marcadores históricos e não necessariamente as palavras de
protagonismo e antagonismo das narrativas históricas contadas no capítulo subseqüente.
Eu não acho que, Dewey usou o termo agência, mas eu sugiro mais tarde suas noções, se
não a palavra foi incorporado no pragmatismo. Nem essas noções são entidades estáveis
e fixas para medir ao longo de um contínuo de modernidades. Agência, por exemplo, não
é meramente a realização de auto-realização de acordo com alguma noção universal de
participação e capacitação. A agência é produzida dentro de um conjunto histórico de
condições de atuação que incluem, entre outras, quem é definido como o agente para
"agir" e que não é capaz de tal ação; Regras e padrões de participação e a relação da
agência do ator com a pertença coletiva da "sociedade" e / ou da nação. A ciência,
também, não é um conjunto universal de regras de valores que formam princípios
historicamente específicos ou "locais" de reflexão e participação. Na pedagogia belga,
brasileira e turca, a criança que usa a "ciência" não é a mesma nesses diferentes espaços.
Os diferentes temas são concepções históricas para pensar sobre os múltiplos sistemas de
razão através dos quais as soluções e planos de ação estão inscritos nas bibliotecas
itinerantes discutidas nos capítulos do livro. Implanto essas categorias, portanto, não
como normativo ou definição. Eles funcionam como uma estratégia para pensar sobre as
práticas culturais dinâmicas e diversas. As seções que se seguem discutem a inserção de
uma nova experiência de conhecimento sobre a sociedade e a individualidade e os
sublimes que viajam com a noção diferente de agência e ciência como um método de
ordenar a vida.
Inventando a Agência eo "eu" moderno
A noção "moderna" de agência faz parte da sacralidade da teoria social contemporânea e
doutrinas políticas. Não evocar a imagem do ator que tem agência parece oferecer um
mundo determinista que não tem opção de mudança. Mas a agência como um sujeito da
Se eu perseguir a noção de agência com Fourcault "O que é a iluminação? Was ist
Aufklärung?"(do alemão: O que é o Iluminismo?) Ele sugere que a atitude do Iluminismo
traz um indivíduo particular que é ao mesmo tempo um objetivo e um subjetivo de
reflexão 15. O indivíduo encarna uma nova episteme na qual não há mais uma estrutura
trancendental ou universal para todo o conhecimento, mas o mundo condicional com
noções de contínuo mudança. O mundo externo parecia desequilibrado e o futuro não
Fim de pag 17
Página 18
Mais tempo se move em uma linha constante do passado através do presente para o futuro.
A individualidade é formada e expressa num mundo de incerteza, um mundo que o
pragmatismo articula sobre o eu como "a partir da contingência que nos fez o que somos,
fazemos ou pensamos" 16. O futuro da incessante mudança e inovação constitui agora as
novas certezas Do mundo e sua individualidade.
A construção da agência humana inscrita na individualidade. A idéia de agência como
um a priori ator histórico é uma mudança radical em mover o lugar da verdade de um
sujeito divino para o sujeito criativo humano. Suas boas obras são mais longas para se
prepararem para a vida após a morte, mas para a melhoria da vida na terra. A razão é o
mecanismo pelo qual a agência é efetuada! Reflexão e participação proporcionam ordem
e estabilidade num mundo de crescimento e progresso que se desdobram e se acumulam.
O foco na agência introduz uma nova gama de pensamento sobre o sujeito atuante. Mas
os sistemas da razão para ordenar a agência não eram algo de pura lógica, nem era natural
para o funcionamento do "pensamento". A razão é transformada em algo calculável e
administrável. John Mayer argumenta, por exemplo, que as teorias da agência implicaram
a descoberta progressiva da personalidade humana nos séculos XVIII e XIX; Que cada
pessoa carrega um sistema inteiro de motivos e percepções que refletem diferentes forças
biológicas e sociais através das quais o eu individual é integrado e constituído como o
sujeito moral de suas próprias ações 17. A ordenação produz do conhecimento racional é
para governar a direção e as possibilidades do futuro.
O cálculo ea administração da ação e dos atores / agências foram cruciais para a expansão
internacional da educação de massa e para a construção da nação moderna no final do
século XIX e XX. 18. O pragmatismo de Dewey enquadra-se nestas condições históricas.
O pragmatismo era um instrumento para intervir na infância com a intenção de influenciar
o que seria a sociedade. Dewey falou dessa sociedade através das normas e valores dos
imaginários culturais americanos do cidadão em uma democracia. A ação foi um conceito
central para o planejamento da vida de uma pessoa como uma série, por exemplo, de
resolução de problemas que ordenou a experiência e projetou o futuro. A agência foi
expressa na idéia da reflexividade e do pensamento da criança como uma ação intrigante.
"A flexibilização nos permite dirigir nossas atividades com previsão e planejar de acordo
com os fins em vista ou propósito de que estamos conscientes, que nos permite agir de
forma deliberada e intencional para alcançar objetos futuros ou entrar em Comando do
que agora está distante e falto "20.
Fim da Pagina 18
Página 19
O governo da criança foi resposta à incerteza da modernidade, mas também incorpora
uma estratégia cultural que expressou temores sobre a manutenção das qualidades de uma
população civilizada. Intervenção artificial no desenvolvimento individual da criança era
necessária, pois, se não fosse devidamente controlada, o caráter e as disposições
individuais poderiam ser potencialmente perigosos para o futuro moral e espiritual da
nação. "A existência do método científico nos protege também formam um perigo que
atende à operação de homens de poder incomum, os perigos da parcialidade de imitação
servil, e tal devoção ciumenta a eles e seu trabalho como para atrapalhar o progresso". O
treinamento sistemático em "pensar" era prevenir "o mal do tipo errado de
desenvolvimento é [como] ... o poder do pensamento ... livra-nos da submissão servil ao
instinto, ao apetite e às rotinas" 22.
A agência é uma particular perspectiva moral e política encarnada no pragmatismo. Para
Dewey, a conexão da consciência e do mundo através da ação era a essência da
democracia como um modo de vida. Dewey exortou, por exemplo, a parar de "pensar a
democracia como algo institucional e externo" e a vê-la como "um modo de vida pessoal",
perceber que "a democracia é um ideal moral e, na medida em que se torna um fato, é um
Fato moral ". O pragmatismo de Dewey enfatiza o indivíduo que participa em
comunidades para agir em um ambiente de processo contínuo de mudança. O novo
sistema da razão era uma filosofia que "poderia examinar como a mudança servia a
propósitos específicos, como as inteligências individuais moldavam as coisas, como a
administração científica gerava incrementos de justiça e felicidade" 23.
A ligação das idéias de agência e progresso em um mundo contingente no pragmatismo
de Dewey tem configurações diferentes no pensamento europeu. Pode-se, por exemplo,
discutir os debates entre ciência e religião no século XIX ou as diferenças entre noções
marxistas, fenomenológicas e comportamentais de agência para reconhecer que há
inscrição diferente para os agentes de mudança e a constituição de agência. A abordagem
mais proeminente na sociedade social está relacionada com a filosofia da consciência e
as teorias da ação. Nesse cenário, o indivíduo é um ator proposital que produz mudanças
através das ações de alguém - às vezes intencionalmente, às vezes com conseqüências
inesperadas.
A psicologia antropológica de Dewey se concentra em provar os princípios gerais ou as
disposições do indivíduo na formação da ação. O indivíduo era um eu social formado
através de intercâmbio e padrões de comunicação. A ordenação e administração do
processo de
Fim página 19
Página 20
A ação caiu em um discurso da psicologia social 24. As novas teorias da psicologia social
enfocaram a linguagem e os sistemas de comunicação e interação na educação como
"hábitos de pensamento" que "criam atitudes favoráveis ao pensamento efetivo ..." 25
Dewey funciona como autor e como personae conceptual. Como autor, Dewey reúne
múltiplas maneiras diferentes de pensar que circulou na virada do século de uma maneira
que é inovadora. Ao mesmo tempo, essa escrita encarna e expressa suas condições de
possibilidade. Há uma narrativa de salvação na escrita de Dewey que liga o indivíduo
agentivo a uma grade particular de relações sociais, culturais e políticas. Seu modelo de
democracia continha as possibilidades de progresso social e felicidade individual que
foram expressas dentro como uma representação do pensamento iluminista americano 26.
A perspectiva pragmática encarna um excepcionalismo americano que trouxe a noção de
salvação da reforma calvinista para a visão da nação e seu povo escolhido. O pragmatismo
afirmou o progresso na América que revisou o mito da América como fronteira cultural.
A escola era um local onde a experiência reinscrevia a vida do pioneiro como
"literalmente instrumentos de ajuste e teste de conseqüência". 27. O pragmatismo era uma
nova mentalidade de fronteira de uma "civilização americana" como um "processo de
contínua expansão e reconstrução" . O indivíduo de Dewey era um "pioneiro americano"
que abriu o universo "em que a incerteza, a escolha, as hipóteses, as novidades e as
possibilidades são naturalizadas que da experiência de uma América pioneira" 28.
A partir do exposto, é possível pensar no pragmatismo não apenas como "pensamento",
mas como uma tese cultural sobre um modo de vida. Formula ideias de elite do
Iluminismo em um projeto de administração social da vida cotidiana. Um colega do
Teachers College da Universidade de Columbia, Arthur Childs, disse que o pragmatismo
de Dewey era "um sistema no qual as pessoas comuns devem remodelar as condições que
moldam sua própria experiência no contexto de suas próprias atividades em andamento,
todas as instituições necessárias e princípios reguladores E padrões "29. A escola devia
tornar o indivíduo como um ator central da mudança e do progresso, fornecendo as
disposições eo estilo de vida que permitem a ação humana.
Também é possível pensar em dewey como conceitualmente dando inteligibilidade a
soluções particulares e planos de ação para governar as mudanças culturais que foram
sentidas em diferentes contextos geográficos. A abordagem pragmática dos Estados
Unidos era um exemplo exemplar de como extrair os valores progressivos e
racionalidades do governo sem valorizar sua nação e princípios econômicos. O alemão
Fim página 20
Página 21
O sociólogo Max Weber, por exemplo, viu a criação de uma nova sociedade na
experiência americana da democracia e do pragmatismo 30. O marxista Iltaliano, Antonio
Gramsci, considerou o pragmatismo americano como ressoando com as mudanças
internacionais sobre um modo de viver, de ser e de agir. 31. Esse modo de vida pragmático
foi separado do fordismo americano como modelo pelo qual Gramsci poderia procurar
exemplos para uma sociedade mais progressista socialmente.
As condições que o pragmatismo pressupunha faziam parte de um pensamento
pregressivo que circulava o Atlântico. A noção de Escola Popular ou Escola Popular, por
exemplo, que misturava o nacionalismo cultural com a vida cooperativa na Escandinávia.
32. Se rastreamos a remontagem do pragmatismo na Suécia, a Nova Educação estava
ligada à formação do Estado de bem-estar moderno. Um nível, o sujeito deveria ser um
agente de seu próprio destino. Aprender fazendo era um princípio básico. O destino, no
entanto, fazia parte do compromisso coletivo através do qual o indivíduo participava de
uma sociedade a que o estado sueco e os cientistas sociais se referiam como Casa do
Povo. Acreditava-se que para a melhoria igualitária da sociedade ("uma escola para
todos"), a população sueca deve ser reformada. Essa reforma do eu era possível, uma vez
que o homem ea sociedade tinham uma natureza humana plástica. As escolas deveriam
capacitar-se, fazendo com que os sujeitos voltados para o futuro e auto-governados
tenham prazer em ações cooperativas. Dewey juntou-se na biblioteca viajando sueca com
o alemão Kershensteiner e americano Kilpatric para focalizar nos interesses naturais da
criança, individualização, criatividade, e espontaneidade.
Calvinismo e valores republicanos foram re-inscritos no pragmatismo como o mais tarde
viajou para a criação de uma forte identidade suíça. Os currículos de atividades suíças
tinham as crianças explorando seus interesses e resolver problemas como uma forma de
expressar a agência. Tröhler 34 argumenta que a pedagogia deveria desenvolver uma forte
cultura suíça, com indivíduos se unindo voluntariamente à divisão do trabalho. A
atividade era para o ajuste social do indivíduo, incorporando idéias protestantes
darwinianas no pensamento sobre a organização do ensino. Claparède, o suíço que
"traduziu" Dewey, escreveu sobre a pedagogia como funcionalidade genética, com pouca
atenção às normas sociais e políticas do pragmatismo americano.
É possível neste momento considerar a abertura pragmática à mudança e à agência como
moldadas através das amálgamas diferentes das idéias, das relações da autoridade, e das
instituições. A agência não é uma qualidade de vida universal, mas uma construção
particular que está inscrita na construção do eu "moderno". Essa construção relaciona
individualidade e
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Página 22
Narrativas. Mas falar de agência também é considerar as grades historicamente formadas
através das quais é dada inteligibilidade.
O Regulamento do Tempo no Planejamento da Agência
Parte da montagem através da qual o eu moderno foi construído foi uma estabilização e
domar a mudança em um mundo visto como contingente e incerto. O pragmatismo, assim
como outras novas misturas de filosofia e ciências sociais, focalizava um método de
mudança que regulava, estabilizava e domesticava, a contingência e a incerteza do futuro.
O cálculo da "razão" realizada como uma "ferramenta" biográfica que ordenou o
desenvolvimento temporal do indivíduo em um mundo parece condição, insegura e
ambígua. A vida era uma dimensão de tempo regulado e desenvolvimento que projetou o
futuro para o presente.
Imaginários da ciência foram um processo de ordenar a vida diária para fornecer
estabilidade e consenseus. Os reformadores educacionais em diferentes lugares
geográficos discutidos neste livro usaram os procedimentos de nacionalização associados
à ciência para minar as tradições sociais e educacionais da escolaridade, assim como fazer
com que a criança cujas disposições atuassem encarnam as normas e valores culturais do
"moderno" - mas diferentes Temas de salvação. A preocupação com a ciência como
método de ação no pragmatismo americano, por exemplo, era destruir as tradições do
Velho Mundo, pois impediam o progresso e a salvação. Dewey escreveu sobre Willian
James em 1929 que ele estava "bem dentro dos limites da moderação quando disse que
olhar para a frente em vez de para trás, olhando o que o mundo ea vida poderia se tornar
em vez de ao que foram, é uma alteração no ‘assento De autoridade’." 35. O futuro seria
sem um sistema autoritário de instituições religiosas e civis, e quaisquer classes fixas e
antigas instituições: "A velha cultura está condenada a nós porque foi construída sobre
uma aliança de poderes políticos e espirituais e equilíbrio de governo E classes de lazer,
que não há muito tempo ". 36. Arthur Child, colega de Dewey, cita Dewey como "nossa
vida não tem nenhum fundo de categorias santificadas sobre as quais podemos cair para
trás, confiamos no precedente como autoridade apenas para nossa própria ruína ..." 37.
O tempo foi inscrito como parte do conhecimento racional que tinha usos práticos no
planejamento de uma biografia e contribuição para o progresso social. A noção de tempo
deu referência ao futuro como norma normativa para ordenar o presente. O pragmatismo,
por exemplo, era visto como um sistema de razão para humanizar o poder criativo da
ciência
Fim da página 22
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E "assim ganhar o controle do futuro". 38. O controle do futuro é através do
desenvolvimento de um hábito científico da mente!
A ligação do passado, do presente e do futuro como norma regulamentar tem
configurações diferentes em Portugal. Adolfo Lima iniciou a Nova Educação em Portugal
e "traduziu" Dewey para promover uma Escola Social onde a criança aprendeu a resolver
problemas e desenvolver um modo de vida que reconheceu múltiplos caminhos para a
acção. 39. Essa agência deveria usar o interesse que era inato para a criança, mas para
fins sociais. O desenvolvimento da criança era conectar o passado e o futuro do
desenvolvimento da criança para prover o progresso da nação que era "emancipatória" e
livre. Enquanto Lima era um anarquista, o regime autoritário produzido nas décadas
medias do século inscreveu a pedagogia para seus propósitos nacionais.
O esvaziamento do passado no pragmatismo das reformas escolares subjugou a história
como não mais central para o modo como se vive. Mas foi? A idéia de tradição e sua
"eliminação" é uma criação da modernidade. Ao identificar a tradição com o dogma ea
ignorância, os pensadores do Iluminismo procuraram justificar sua absorção com o novo.
A fé na agência individual no planejamento ou nas ações para o futuro fora do tempo da
história foi tanto para subjugar as tradições anteriores como para dificultar o progresso e
para instalar novas tradições, como argumento mais tarde, que associavam a ordem moral
das comunidades rurais anteriores nas condições Da urbanização. O esvaziamento da
história envolveu a produção de novos valores morais e imagens do sublime.
A Ciência como Prática na Vida Diária
A ciência é um marcador central para diferenciar o que é moderno eo que não é. Os
pensadores do Iluminismo europeu do século XVIII buscaram um cidadão do mundo que
usasse a razão ea racionalidade como forma de viver entre as diversas culturas. Na Europa
do século XIX e na América do Norte, os métodos científicos encarnavam o que muitos
intelectuais e planejadores sociais consideravam a força mais poderosa que moldava o
mundo. As mesmas práticas que trouxeram o mundo natural sob controle foram pensadas
como capazes de ordenar o mundo social para o progresso. A ciência não só assumiu o
manto do moderno e do progresso, mas também como uma forma de desestabilizar as
hierarquias existentes através da reforma 40. A teoria de Darwin sobre a evolução da
espécie, por exemplo, foi trazida para a noção mais ampla de evolução social na qual o
social eo individual Mundos poderiam ser modificados artificialmente em nome do
progresso e da liberdade.
Fim da página 23
Página 24
O pragmatismo encarna essa fé na ciência que circulou na parte final do século XIX como
um processo para desenvolver os resultados desejados, em vez de encontrar as regras
relativas à unidade do conhecimento ou da Verdade. Os métodos da ciência, pensava-se,
deveriam trazer a agência aos indivíduos que efetuaram mudanças em suas próprias vidas
e comunidade. Não mais buscando a unidade de conhecimento que identificaria as regras
providenciais de Deus na Terra, os intelectuais colocaram sua fé na união do processo da
ciência que permitiu a auto-reflexão e a participação num mundo condicional. As
universidades americanas, por exemplo, começaram a definir a ciência como disposição
e método na busca contínua pela verdade 41. E essa busca pela verdade pela ciência
governava os princípios da agência. Para Dewey, "o domínio dos métodos científicos e
da matéria sistematizada liberta os indivíduos, permite então ver novos problemas,
conceber novos procedimentos e, em geral, favorecer a diversificação e não a
uniformidade" 42.
Quando falo sobre a ciência no pragmatismo de Dewey, é importante focalizar nele como
práticas corporais encarnadas para ordenar a vida diária. Assim, eu falo sobre a ciência
como uma prática para agir que abstraiu de qualquer particular senso institucional do que
o físico ou biólogos realmente fazem. A ciência do pragmatismo é uma invenção para
falar e fornecer uma abordagem calculada para ordenar e classificar os métodos de
governar as ações dos indivíduos. Fornece um sistema particular e socialmente
enquadrado de padrões e regras de razão e racionalidade que regulam a vida indivudual.
A fé na ciência tinha uma crença quase milenarista do conhecimento racional como força
positiva para a ação. A ciência não era apenas sobre o controle do mundo externo. Para
Dewey e outros, a ciência era um modo de vida que se juntava aos processos democráticos
e à noção da reforma cristã da salvação na vida cotidiana. Dewey não viu nenhuma
diferença entre uma noção universalizada de valores cristãos sobre as boas obras do
indivíduo ea democracia que o pragmatismo encarna suas noções de comunidade,
resolução de problemas, experimentalismo e ação. Dewey disse que "o futuro da nossa
civilização depende da ampliação da expansão e aprofundamento do hábito científico da
mente, o problema dos problemas em nossa educação é, portanto, descobrir como
amadurecer e tornar efetivo esse hábito científico".
O pragmatismo era aproximar a investigação racional da ciência na busca consciente e
diária pelo bem-estar individual e social. Dewey, por exemplo, olhou para o método
experimental das ciências naturais ea formulação de hipóteses para testar teorias como as
melhores
Fim da página 24
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meios de resolver conflitos sobre crenças e revisar nossas idéias em resposta à
experiência. A ciência era um plano de operação que capacitava as pessoas a transformar
uma determinada situação através de uma ação resoluta em um mundo que está
continuamente em construção. A agência é a aplicação da ciência que deu
intencionalidade e propósito à ação. Agir "com um objetivo é tudo aberto (abrir para
como) com agir inteligentemente. Prever um término de um ato é ter um básico (uma
base) sobre o qual observar, selecionar e ordenar objetos e nossas próprias capacidades"
44 "Ciência significa. A existência de métodos sistemáticos de investigação que, quando
são levados a cabo sobre uma série de factos, permitem compreendê-los melhor e
controlá-los de forma mais inteligente, menos desordenada e menos rotineira " 45.
Esta noção de ciência e planejamento envolve uma atitude particular que é assumida na
modernidade. Essa atitude é que o indivíduo é tanto um objeto como um sujeito do
"pensamento". Essa individualidade "moderna" emprega o pensamento científico como
uma "ferramenta" para desenvolver o conhecimento abstrato que permite refletir sobre o
imediato sem estar vinculado às tradições existentes e ao seu senso comum. "[T] aqui não
é ciência sem abstração, e abstração significa fundamentalmente que certas ocorrências
são removidas da dimensão de experiência familiar para a de investigação reflexiva ou
teórica .... Para ser capaz de fugir para o momento de emaranhamento em As urgências e
necessidades de preocupações práticas imediatas é uma condição da origem do tratamento
científico em qualquer campo ". 46.
Mas o desenvolvimento do conhecimento abstrato e a remoção das tradições e ethos da
vida imediata também é um modo de viver e agir. A ciência é um método de reflexão e
participação que recria a pertença e a comunidade que foram vistas como perdidas na
urbanização, questão que retomarei mais tarde.
É importante reconhecer que a ciência como um método para organizar a vida foi a base
para a psicologia antropológica trazida para a pedagogia. Os problemas pedagógicos do
"pensamento" como solução contínua de problemas na comunidade e na ação tinham
pouco a ver com o que os cientistas faziam, nem se baseavam em estudos reais de como
a ciência funcionava como uma prática de investigação. Pedagogia normativa para
caminhar o futuro cidadão. Eram práticas para ordenar pensamentos e ações relacionadas
a ações futuras ligadas a um sublime particular que incorporassem as noções de
democracia americana secularizadas noções protestantes de salvação e redenção. Não
eram uma pedagogia da ciência, isto é, como aprender sobre normas disciplinares, valores
e práticas culturais como sistemas de produção de conhecimento que circulavam em
campos como a física ou a biologia.
Fim da página 25
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A Perícia de Ciência no Planejamento O "Eu" Moderno
A nova experiência da ciência como mecanismo de mudança e o exemplo do que torna
os indivíduos "mordernos" foi central para a New Education Fellowship, A Pedagogia
Ativa ou A Nova Escola discutida neste volume. Um movimento bastante heterogêneo de
reforma escolar foi iniciado nas primeiras décadas do século passado, que em 1932
representava em cinquenta e três países. Montado neste movimento estão muitas das
pessoas que formaram as bibliotecas itinerantes discutidas nos capítulos subseqüentes:
Adolphe Ferriére, editor do jornal francês de movimento, Decroly belga, bem como os
franceses Binet, Claparède e Piaget, e alemão Kerschensteiner.
A New Education Fellowship diz respeito à transformação dos princípios pedagógicos
que governam quem a criança é e deve ser. Embora não seja um movimento momolítico,
promoveu o estudo científico da infância e da pedagogia para organizar de forma eficiente
e eficaz a escola como um lugar de vida e progresso democrático, embora essas mulheres
tivessem diferentes quadros de referências e realidades de autoridade em diferentes
lugares. A pedagogia não era apenas um assunto de investigação sobre os processos e
práticas de ensino ou um assunto escolar para a criança explorar o mundo externo. A
ciência, como falei antes, era um modo de vida pelo qual a reflexão ea participação eram
reguladas. O interesse das crianças, a diversidade, a criatividade e a independência de
pensamento eram locais através dos quais se aprendeu a disposição para agir 49.
A Nova Educação foi central para as reformas em diferentes países, mas com diferentes
teses culturais sobre a agência como um modo de vida. 50. Os liberais progressistas
colombianos na década de 1930, por exemplo, reuniram Dewey na construção da Nova
Educação. Esses reformistas educacionais consideravam a pedagogia como um processo
civilizador que unia autoridade eclesiástica com a razão científica como forma de vida da
criança. A ciência como processo de viver estava ligada à modificação inconsciente dos
hábitos de ação e ao processo de rejeição da idéia de autonomia da força de vontade
separada da faculdade da alma e do centro da vida espiritual. A Revolução Mexicana nas
primeiras décadas do século XX forneceu uma tese cultural diferente na escola reformada.
O currículo de atividades juntou-se à posição sagrada dedicada aos emblemas e tradições
religiosas católicas com noções tiradas do Iluminismo, do racionalismo, do pragmatismo,
da democracia, do socialismo e do republicanismo. As reformas turcas da
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Ao mesmo tempo, selecionou textos pedagógicos específicos de Dewey para reformas
pedagógicas que serviriam a secularização e modernização que o novo regime tinha
empreendido. A racionalidade da agência foi subsumida em nome do bem estabelecido
da nação através de redesenhar o modo de vida da criança camponesa e as escolas rurais
familiares. Essa nova individualidade modernizaria as qualidades internas da criança que,
de acordo com os papéis e práticas imaginadas pelos iluminados da nação. As disposições
da ciência e da comunidade destinadas a ordenar práticas diárias deveriam ser colocadas
ao indivíduo dentro de uma hierarquia de realidades sociais que colocavam a soberania
da nação como seu pináculo. Em um conjunto diferente de condições e grade, as reformas
portuguesas inscrevem a ciência como um modo de vida que integrava normas e valores
coletivos com uma psicologia social da criança.
O pragmatismo deu expressão a diferentes conhecimentos nesse contexto cultural e
político-social. Onde a física produziu conhecimento sobre o cosmo e apoiou a inovação
tecnológica, a nova ciência social e psicológica americana uniu valores morais e seculares
com o planejamento do Estado, a organização da sociedade civil ea produção do cidadão
cujo modo de vida era encarnar Princípios de razão e racionalidade. A revisão da filosofia
e das novas disciplinas da psicologia e da sociologia, por exemplo, dirigiu a atenção para
as questões práticas da vida cotidiana. Os novos conhecimentos tornaram-se empíricos e
instrumentais, entendidos como úteis para a mudança social e individual. O progressismo
do pragmatismo "encaixou" este programa. A psicologia social se preocupava com a
criança como um organismo auto-monitorado e auto-reflexivo que trabalha para o futuro
da "sociedade". A sociologia da Nova Educação em Portugal, em contraste, recorreu a
Dewey para ordenar e administrar as habilidades sociais e as sensibilidades da criança
para uso futuro na sociedade.
A profissionalização do conhecimento social e psicológico era parte do que hoje se
poderia chamar de globalização. Pode-se pensar no Iluminismo Europeu como noções
múltiplas formuladas e transmogrificadas através das viagens mundiais e do estudo por
intelectuais. No final do século XIX, muitos fundadores da ciência social e história
americana viajaram para a Europa e estudaram nas novas instituições científicas que
estavam localizadas principalmente na Alemanha.
A entrada de Dewey neste ambiente institucional era simbólica da nova ciência
profissionalizada que evolui nas fronteiras do Atlântico e além. Em um nível, Dewey era
um intelectual profissionalizado que tinha uma posição de universidade para prosseguir
a ciência como uma carreira paga.
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Em um nível diferente, as migrações não foram apenas entre o Atlântico, como é
consistentemente identificado nos capítulos de acompanhamento. Os educadores
japoneses visitaram a Johns Hopkins University, a primeira universidade americana
modelada após a noção Humboldtiana alemã de uma universidade como um local de
produção de conhecimento científico, e depois retornaram ao Japão para promover noções
de Dewey na educação. Outros pedagogos da América do Sul, Ásia e Europa viajaram
para os Estados Unidos para viagens de estudo ou para estudos de pós-graduação. Para
alguns, a América foi um exemplo para expressar o papel do indivíduo nos processos de
modernização e na formação de conduta incorporada nas novas idéias de cidadania.
A nova experiência não foi apenas sobre a melhoria do estudo da sociedade e das
organizações através de seus métodos empíricos. Os novos conhecimentos produziram
princípios para governar os indivíduos que participaram da sociedade 51.
O novo aparato conceitual de sociologia e psicologia na pedagogia, por exemplo,
focalizou os padrões de interação dos indivíduos como domínios de uma comunidade
moral que foi considerada "perdida" na urbanização e na industrialização. A Escola de
Chicago de Sociologia Comunitária, que Dewey interagiu com a revisão da distinção do
sociólogo alemão Tönnies entre Gemeinschaft e Gesellschaft 52. Gemeinschaft era a
visão rural e pastoral imaginada da comunidade onde os vizinhos anteriores à
modernidade se aproximam mais do natural e de Deus. O mundo urbano na virada do
século trouxe um conjunto de relações mais abstrato e impessoal que Tönnies chamou
Gesellschaft, onde os compromissos morais e espirituais do mundo pastoral não eram
mais vinculativos para as pessoas. A psicologia social em Dewey e amigo, George
Herbert Mead pode ser pensado como uma revisão da comunidade pastoral, rural de uma
comunidade cara-a-cara imaginada do Gemeinschaft nas condições modernas industriais
de Gesellschaft. A revisão foi através de uma psicologia social que teorizou sobre os
processos de mediação intersubjetiva para a auto-realização do indivíduo 53. As
interações face a face íntimas receberam um novo design, por exemplo, através de
conceitos de grupos primários. O conceito de grupo primário era produzir laços pessoais
através da inscrição de normas sociais de comunicação em "comunidade" fabricada.
A ciência da educação cumpriria a promessa do futuro, reconfigurando os valores e as
normas através dos quais as famílias de imigrantes e seus filhos ordenavam e planejavam
sua vida na cidade. Os conceitos de psicologia social fornecem maneiras de pensar o "eu"
e pertencer através de um conhecimento abstrato que se juntou a escolhas diárias
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E as intenções para as interações sociais do "grupo". As conexões entre criança, família
e comunidade em política social, saúde, ciências sociais e escolaridade juntaram-se à
metafórica "família americana" da nação com as diversas etéticas e famílias imigrantes e
criança na construção da identidade.
Dewey estava viajando vendedor americano que pregou sobre o novo conhecimento da
ciência humana e sua utilidade em reformas educacionais para acompanhar mudanças
industriais e culturais. 55. As missões de Dewey na China, no Japão, na ex-União
Soviética, no México e na Turquia, por exemplo, trouxeram idéias aparentemente
modernas e cosmopolitas para o mundo. Debates nacionais sobre a formação da
sociedade, o cidadão ea educação do indivíduo. Dewey, por exemplo, defendeu o caso da
educação progressiva e das novas ciências sociais como os instrumentos mais eficazes do
crescimento humano e do progresso social em uma sociedade civilista. Democrática. Este
novo tipo de intelectual foi associado com o ser moderno.
Os contextos coloniais da África, não discutidos neste volume, oferecem um "Dewey"
em uma biblioteca complexa relacionada ao movimento evangélico social trazido por
missionários protestantes, fundamentos anglo-americanos como Phelps-Stoke Fund
relatórios (bem como Carnegie e Rockfeller ) E investigação realizada no Teachers
College, Universidade de Columbia em África. Os conceitos de dewey são
transmogríficos e associados ao avanço individual, ao progresso comunitário e aos tipos
de educação vocacional e prático (agrícola) dirigidos às populações africanas. 57. Dewey
hesitou primeiro em usar os países do Terceiro Mundo como laboratórios, Novas teorias
educacionais no contexto colonial como uma maneira de promover um cidadão mais
esclarecido e nação. 58
Desencantamentos / encantamentos: modernidades e novas perspectivas milenárias
Anteriormente, eu falava sobre a crença da ciência como um modo de vida que substituía
tradições entrincheiradas, mas ao mesmo tempo instalando uma nova assembléia de fé e
ciência como motores do progresso. A noção de agência, ciência e progresso envolveu
tanto a perda da fé como a construção da fé. Um mundo encantado não foi purgado, mas
reiniciado como
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Diferentes quadros de valores morais e redentores reformulados e reunidos com as
operações cognitivas que ordenavam a razão, a racionalidade e o progresso. As
modernidades discutidas neste volume encarnam diferentes interseções entre a ciência eo
sublime como teses culturais que ordenam quem é e deve ser.
No início, a ênfase na ciência traz a imagem do desencanto com o mundo. A ciência é
valorizada como um método de agir cujo compromisso neutro com a busca da verdade
parece estar fora dos valores provinciais, tradições locais e lados ideológicos.
Mas essa noção de desencanto não é tudo o que parece. Max Weber sugere que a ciência
sobre as pessoas nunca foi sobre um pensamento desapaixonado. Ela trouxe idéias
puritanas particulares de salvação para um mundo secular para proporcionar um sublime
no qual sentidos de temor, estética, beleza e medos viajavam com os objetos de reflexão
e ação. O desencantamento estava continuamente dobrando com encantamentos.
A relação da ciência com os encantamentos é, ela própria, um tema central no
pragmatismo, ao incorporar o indivíduo na formação de um mundo social ético e moral.
Enquanto a cultura pós-darwinista nos Estados Unidos substituiu a escritura pela
natureza, filosofia e ciências sociais, a religião nunca foi deixada para trás, mas voltada
para o naturalismo científico. A generalização da fé na ciência associada ao pragmatismo
e à modernidade, por exemplo, revisou temas redentores da Reforma através dos quais as
boas obras dos indivíduos proporcionam caminhos para a salvação 59. A ciência era um
modo de alcançar uma unidade do espiritual / moral. Nas palavras de Willian James, "a
democracia é um rei da religião", e por razões pragmáticas "estamos obrigados a não
admitir seu fracasso". Tal "fé e utopias são o exercício mais nobre da razão humana", e
daí criou um otimismo no futuro 60. Ele pensou que tudo o que estava errado conosco era
que o ideal cristão de fraternidade ainda não tinha sido alcançado a sociedade ainda não
tinha Tornar-se generalizadamente democrático onde seus problemas foram resolvidos
por pessoas e não resolvido por fazer a conexão adequada com poderes superiores. A
solução de problemas e o experimentalismo de Dewey era um tema redentor ligado a
como se pensava, via, falava e agia na vida cotidiana.
As novas teses culturais que se sobrepunham a encantamentos e desencantos passaram a
fazer parte das lutas sobre a escolaridade como inscrever modos de vida, particularmente
em países onde havia uma forte relação entre o Estado, a religião institucional e as escolas.
Ao se mudarem para a América do Sul, China e Japão, por exemplo, os reformadores
evocam a necessidade de destruir antigas tradições na busca de uma nova sociedade que
incorporasse novos sublimes.
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O esvaziamento da história no "eu" moderno inscreveu espiritualmente valores. As
viagens de Dewey na Ioguslávia nos anos 20 e 30, por exemplo, foram fazer a
modernidade eslava através de idéias de uma ação e agência desacralizada. No entanto,
ao mesmo tempo, a criança era vista como rural e aldeia como a verdadeira fonte do
propósito da ação e da ação. 61. As reformas chinesas na década de 1920 transformaram
a filosofia de Dewey e as noções pedagógicas para criar um espaço social e político para
reformar intelectuais no The Força de Maio Força 62. A introdução da linguagem
vernácula, as mudanças literárias que valorizavam o autor individual e a educação
centrada na criança eram para santificar os direitos individuais através da sua localização
num grupo, comunidade e nação. Esta santificação dos direitos individuais desafiou a
hierarquia existente das tradições de Confúcio. As reformas procuraram reinserir uma
hierarquia diferente através da qual se poderia produzir uma cultura coletiva. Essa
hierarquia tinha pouco a ver com a tradição liberal sobre a qual Dewey escreveu. Uma
observação similar pode ser feita do Japão como Dewey foi colocado em um currículo
para reordenar a hierarquia social. Cada aluno foi colocado dentro de um horizonte linear
da família que reinscreveu a relação da criança com a família e o estado como um
horizonte contínuo, revelando assim o caráter nacional. Finalmente, Anísio Teixeira,
considerado o maior intérprete e divulgador de Dewey no Brasil, procurou proteger
Dewey (e ele mesmo) da mudança de um racionalismo anti-ético e secularismo como
outros reformadores católicos viam-se como protegendo a sociedade através da
inculcação dos valores da Igreja.
Modernidades, mentes "modernas" e escolaridade
O foco desta introdução é fornecer uma maneira de pensar sobre as múltiplas idéias que
fluem na elaboração do título deste livro, Inventando o Modernismo: Viagens de John
Dewey levando Modernidades e Pragmatismo na Educação. A abordagem histórica de
Dewey como um estrangeiro indígena e em uma biblioteca itinerante dá atenção a "idéias"
como teses culturais sobre um modo de vida. Eu forneci alguns "marcadores" através dos
quais pensar sobre a construção do "eu" que viajou com e pressuposto na tomada de
diferentes modernidades. Dentre essas características destacam-se a superposição de uma
fé na agência ativa do ator, a ordenação e modelagem de um modo de vida através dos
princípios da ciência e da domesticação da mudança como estratégia de estabilização e
regulação da conduta em processo de mudança. Os métodos da ciência foram reformar,
essas qualidades de
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A individualidade se sobrepõem através de métodos de abstração e "reflexão" no mundo
atual. Os "desencantamentos" encarnavam novos encantamentos de apego e
pertencimento que hoje estão incorporados nas discussões da modernidade.
As práticas culturais em que a agência, a ciência e a domesticação da mudança ocorreram
não foram variações de um único tema, mas de configurações diferentes que relacionavam
as identidades coletivas com a individualidade. As teses culturais resultantes foram
reunidas como bibliotecas ambulantes que moldaram e moldaram o que constitui a
modernidade e os "modernos" eus. Dewey neste contexto funcionou não como um autor
original, mas como um personae conceptual que conectado e desconectado em condições
diferentes para produzir princípios para ordenar quem a criança é e deveria estar em uma
de suas principais instituições através do qual a reforma da sociedade como "moderna"
Estava a ocorrer.
A abordagem histórica adotada neste livro de Dewey como um estrangeiro indígena é
contrariar o que Walter Benjamim chamou de esvaziamento da história 64. Essa história
vazia tem Dewey aparecendo como um sistema lógico de pensamento ou como
"conceitos" que não têm amarração social em As interpretações e possibilidades de ação.
A história cultural e social deste volume explora os múltiplos fluxos e amálgama de
práticas (bibliotecas itinerantes) através das quais o "pensamento" é produzido. Abordar
o estudo de Dewey dessa maneira é reconhecer que o pragmatismo é um dos múltiplos
sistemas de "pensamentos" sobre os princípios que governam a relação das normas e
valores coletivos com a individualidade.
Aproximando-se de Dewey como um estrangeiro indígena e parte das bibliotecas
ambulantes desiste de um velho e, penso eu, um debate infrutífero sobre se a influência
de Dewey tem sido persuasiva em teoria, mas muito menos na prática. Este volume
contém elementos históricos e um campo internacional de idéias, realidades de autoridade
e instituições através das quais os modos de vida foram fabricados. A abordagem
argumenta contra o tratamento da modernidade como um conceito épico de
uniformidades nas experiências sociais e, em vez disso, se concentra em suas diferenças,
distinções e divisões não uniformes. Dewey é usado em uma estratégia para explorar
pedagogia escolar como um local principal na produção do self na vida contemporânea.
A historicização das práticas culturais que produzem padrões de pensamento também
fornece uma maneira de interpretar a relação do global com o local, bem como o universal
com o particular. Esta estratégia não se centra nas contribuições de Dewey, mas antes
indaga nos diferentes stting cultural e social através do qual suas idéias viajaram e
mutated para dar inteligibilidade a mundos diferentes chamados "modernos".
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Fim dos trabalhos
Apêndice II
Tradução do artigo:
POPKEWITZ, Thomaz. Education sciences, schooling, and abjection: recognizing difference
and the making of inequality? South African Jounal of Education, EASA, vol. 28 301- 319, 2008.
1
music characterized by a syncopated melodic line and regularly accented accompaniment, evolved by
black American musicians in the 1890s and played especially on the piano.
Até este ponto, eu tenho explorado a pedagogia dos EUA e as ciências da educação
como historicamente incorporando teses culturais sobre modos de vida. Os modos de vida
implicam princípios gerados a partir das interseções do excepcionalismo americano, dos
movimentos de reforma protestante, sobrepostos às teorias e métodos das ciências da
educação, à construção do cosmopolitismo da "razão" e das "pessoas razoáveis". A
universalidade e a particularidade no cosmopolitismo na pedagogia, segundo eu
argumentava, eram instâncias comparativas que reconheciam as populações que
necessitavam de resgate e redenção. Esse reconhecimento foi simbolizado em A Questão
Social que paradoxalmente estabeleceu diferenças e exclusões sociais. Enfocar a alquimia
dos sujeitos escolares na construção da criança dirigiu a atenção para os modelos de
traduzir o conhecimento disciplinar na escola como expressão dos gestos duplos de
governar na escolaridade e nas suas ciências. Na próxima seção eu focalizo a virada do
século 21 para considerar uma assembléia diferente em governar como princípios de
gestos duplos.
2
a traditional theme or formula in literature. Topos
executa como a nostalgia para governar o futuro. O relatório de reforma profissional O
que mais importa: ensinar para o futuro da América (Comissão Nacional de Ensino e
Futuro da América, 1996), por exemplo, fala dos valores normativos das aspirações
passadas na realização de mudanças no presente.
Devemos recuperar a alma da América. E para isso precisamos de um sistema
educativo que ajude as pessoas a forjar valores compartilhados, a entender e
respeitar outras perspectivas, a aprender e trabalhar em altos níveis de
competência, a assumir riscos e a perseverar contra as probabilidades, a trabalhar
confortavelmente com pessoas de diversas origens e continuar a aprender ao
longo da vida (p. 12, meu itálico).
As reformas e a Questão Social surgiram em uma configuração particular do
excepcionalismo americano que dá à nação e seus cidadãos uma particular singularidade
e valor transcendente. A "recuperação da alma da América", no entanto, não é a mesma
da virada do século XX. A reforma da preparação dos professores traz à tona uma tese
cultural coletiva sobre um novo cosmopolitismo que expressa tanto esperança quanto
medos em sua retórica de "recuperar a alma da América". A retórica "recuperar a alma"
da nação não é sobre o passado. Trata-se de uma tese cultural sobre modos de vida,
ordenada através de uma conduta que "forja valores", "respeita os outros", "arrisca",
trabalha com "pessoas diversas" e uma individualidade que "continua a aprender ao longo
da vida".
A criança virtuosa conceitualmente incorporada no relatório é a criança que atua
como o inacabado cosmopolita, um aprendiz de toda a vida que responde ativamente às
mudanças globais que ocorrem, se engaja na construção social e reconstrução da
Sociedade de Aprendizagem e como um cidadão global. Se olharmos através da literatura
reformista e do discurso em que este relatório é escrito, o aluno ao longo da vida é um
discurso sobre o indivíduo que está continuamente buscando o conhecimento e a inovação
em uma perseguição interminável para o futuro (veja, por exemplo, Petersson, Olsson ,
& Popkewitz, 2007). A subjetividade do aluno ao longo da vida é falada como um
indivíduo empreendedor. A escolha se torna um objetivo da vida. A resolução de
problemas e o trabalho colaborativo nas comunidades são os caminhos para buscar
continuamente a realização pessoal.
A comunidade de sala de aula torna-se uma "estrutura de participação" preocupada
com a criação de identidades fluidas associadas com a aprendizagem ao longo da vida. O
cosmopolitismo é aquele que implica a capacidade contínua de inovar e lidar com a
mudança nos processos intermináveis de fazer escolhas e resolver problemas. A criança
age autonomamente (aparentemente) e responsavelmente (espero) na tomada de decisão
contínua e na resolução de problemas.
As estratégias ligam as características da criança às normas sociais e políticas que
moldam os limites em que a independência e a liberdade são promulgadas. A
individualidade do aluno ao longo da vida é colocada em padrões sociais formados como
colaboração com outros em "comunidades de aprendizes" e comunidades de discurso. As
salas de aula do início do século XX eram lugares de socialização onde a criança
internalizava normas coletivas e universais pré-estabelecidas de identidade; Hoje eles são
um espaço redesenhado de vida. A localização da responsabilidade não é mais atravessada
pelo conjunto de práticas sociais voltadas para uma única esfera pública - a social. A
responsabilidade está localizada hoje em comunidades, comunidades diversas, autônomas
e plurais, perpetuamente constituídas através da própria prática em "comunidades" de
aprendizado.
A resolução de problemas está alinhada com os registros políticos do liberalismo
republicano nas reformas e nas ciências da reforma. "Comunidade", por exemplo, é o
local onde o solucionador de problemas aprende habilidades de pensamento ao participar
da sala de aula - "uma comunidade de discursos" (Conselho Nacional de Professores de
Matemática, 1989: 7) - e em "uma comunidade de conhecedores que Participação na
construção de crenças ou conhecimentos "e cujo conhecimento" é criado através de
processos discursivos e de negociação de significados realizados de acordo com as
normas do grupo "(Nelson et al., 2001: 6). A pesquisa é ordenar a nova democracia da
sala de aula como construindo o conhecimento através da participação e da colaboração.
Encontramos uma "sala de aula na qual as diferenças são valorizadas, nas quais os alunos
aprendem a se preocupar e a respeitar uns aos outros e em que os compromissos com uma
sociedade justa e democrática são encarnados e aprendidos" (Ball, 2001: 13).
Quaisquer que sejam os méritos da resolução de problemas e da comunidade, eles
não são meramente descritivos de algum raciocínio natural da criança que a pesquisa
meramente reúne. As narrativas do cosmopolita inacabado, através de suas noções de
resolução de problemas e de comunidade, conectam o escopo e as aspirações dos poderes
públicos com as capacidades pessoais e subjetivas dos indivíduos. A comunidade da sala
de aula é um espaço social de relações morais no qual os indivíduos formam obrigações
e lealdades em múltiplas comunidades. Por exemplo, Sutherland e Balacheff (1999)
afirmam que a ênfase nas atividades de resolução de problemas ea construção do
significado na educação matemática é a resposta social moderna à necessidade de
capacitar as crianças para se tornarem cidadãos - isto é, membros de uma sociedade que
têm Acesso a uma cultura partilhada e a quem são facultados instrumentos intelectuais e
emocionais para enfrentar problemas no local de trabalho e na vida quotidiana (p.2).
A criança que age para planejar o futuro está perseguindo um modo de vida
particular. O projeto da vida é projetar a própria biografia como um movimento contínuo
de uma esfera social para outra, como se a vida fosse uma oficina de planejamento que
tivesse um valor em si mesma. A ação é um fluxo contínuo de resolução de problemas
para projetar não apenas o que será feito, mas também o futuro do que essa pessoa será.
A formação é direcionada à resolução de problemas que persegue o desejo nas infinitas
escolhas de busca de inovação contínua.
A autorização da independência é falado como se não houver nenhum cerco. No
entanto, a liberdade de escolha expressa um fatalismo dos processos de globalização. O
cosmopolitismo inacabado é feito como se fosse a inevitável marcha do globalismo que
os professores respondem nas mudanças curriculares. Professores, administradores de
escolas e funcionários do governo em um estudo da União Européia expressaram esse
fatalismo (Lindblad & Popkewitz, 2004). O novo filho é aquele que faz escolhas para ser
mais feliz e bem sucedido em uma globalização que não tem autor ou precisa ser
explicado. O onipresente futuro do globalismo torna impossível para o indivíduo, para
citar um livro de ensino médio francês, "escapar do fluxo da mudança" (em Soysal,
Bertiloot, & Mannitz, 2005: 24-25). O globalismo é naturalizado para internar e encerrar
os espaços da participação.
Reformar as ciências e repensar a questão social
Se o inacabado cosmopolita é a esperança do futuro, há outro tipo de esperança
que é acompanhada de temores nas reformas escolares. A esperança de uma sociedade
inclusiva implica estratégias para eliminar a marginalização social e econômica causada
pelo fracasso de determinadas populações de crianças nas escolas. Essa esperança de uma
sociedade inclusiva é capturada na frase da legislação nacional de reforma intitulada
"Nenhuma criança deixada para trás", que reconheça a necessidade de melhorar a
qualidade e os resultados das escolas para determinados grupos étnicos, raciais e
economicamente pobres. A palavra de ordem dos programas e pesquisas nacionais
subjacentes às reformas é que "todas as crianças podem aprender", significando uma
instituição igualitária e compromisso da sociedade e da política.
O reconhecimento dado às populações excluídas implica gestos duplos e a re-
visão da questão social. A reiteração contínua de "tudo" em políticas e pesquisas sobre
reformas escolares sinaliza retoricamente o compromisso de uma igualdade e inclusão na
sociedade. Os Princípios e Padrões para Matemática Escolar, por exemplo, afirmam que
"Todos os alunos, independentemente de suas características pessoais, antecedentes ou
desafios físicos, devem ter oportunidades de estudar - e apoiar a aprender - matemática"
(Conselho Nacional de Professores de Matemática, 2000: 12, itálicos acrescentados). O
relatório do Conselho Americano de Educação (1999) sobre a reforma da educação de
professores reafirma essa esperança em seu apelo por uma educação "disponível para
todos os estudantes, não apenas os ricos e os afortunados ..." (p.5, itálicos adicionados).
A inscrição da frase "todas as crianças" não é apenas um compromisso ético. Ela
dá expressão a uma assembleia de distinções que classificam e ordenam uma unidade da
qual a diferença é estabelecida. Essa diferença é a criança deixada para trás que não
incorpora as qualidades do cosmopolitismo inacabado do aluno ao longo da vida cujo
modo de vida implica estima, auto responsabilidade na tomada de decisões, resolução de
problemas e inovação contínua.
A mesmice e a diferença estão inscritas nas teorias psicológicas e nas categorias
de pedagogia que calculam e ordenam o ensino e a aprendizagem. A unidade de "todas
as crianças" apaga a diferença, mas simultaneamente instala divisões. Se eu voltar para o
aluno ao longo da vida ea Sociedade de Aprendizagem, parece que não há diferenças
como todas as crianças vão resolver problemas e trabalhar em colaboração em um
processo contínuo de escolha e inovação. No entanto, de pé com as crianças "todos" são
distinções e diferenciações que nomeiam as qualidades e características daqueles que não
se qualificam como entre todas as crianças.
A diferença é apagada e reinscrita através da pesquisa que inclui todas as crianças.
Estudos da criança urbana deixada para trás instanciam um resumo de fatos pessoais que
modela territórios de membros e não-membros. Os conjuntos de distinções e
classificações da criança deixada se sobrepõem com aqueles dados à "criança urbana" na
educação americana. Se eu usar um estudo etnográfico de um programa alternativo de
formação de professores para escolas urbanas e rurais (Popkewitz, 1998), a criança urbana
é uma categoria determinada de tipo humano e uma tese cultural da diferença. Urbano
não é um lugar geográfico, mas um espaço cultural e uma tese sobre quem não "se
encaixa" nas qualidades inscritas como a criança cosmopolita inacabada. Em outras
nações, essa criança pode ser chamada de desvantajosa, em risco, ou a criança
"necessitada".
A tese cultural da diferença nos Estados Unidos deve ser entendida comparando
suas cidades como espaços com grande riqueza e uma urbanidade cosmopolita que
coexiste com os espaços de pobreza e segregação racial. As crianças que moram nos
subúrbios e as áreas rurais se juntam com as crianças projetadas como "centro da cidade",
como "visto" E falou sobre como diferente da urbana, tendo "baixas expectativas", baixa
auto-estima, disfunções familiares e pobreza. O significado de "urbano", então, está em
sua tese cultural sobre a criança e não como uma distinção geográfica.
Os perigos e as populações perigosas são sobreposições sociais, culturais e
psicológicas distinções que formam uma determinada categoria de uma espécie de criança
e família. Os sites federais para identificar as reformas, sobre "o que funciona" para
melhorar a realização das crianças, buscados na legislação "Nenhuma criança deixada
para trás" e pesquisas sobre a equidade no ensino da criança "urbana" 10 falam sobre os
perigos para o futuro, Estima e auto-conceitos pobres. As qualidades psicológicas são
reunidas com categorias sociais / morais para expressar temores sobre, por exemplo,
famílias disfuncionais, famílias monoparentais, pobreza e delinquência juvenil. A criança
urbana deixada para trás é reconhecida como vivendo "na pobreza, estudantes que não
são falantes nativos de inglês, estudantes com deficiência, mulheres e muitos estudantes
não brancos que tradicionalmente têm sido muito mais provável do que seus homólogos
em outros grupos demográficos a serem Vítimas de baixas expectativas "(Conselho
Nacional de Professores de Matemática, 2000: 13). O problema do fracassado é reduzido
a um lugar comum psicológico - baixas expectativas.
A esperança de resgate na política e na investigação sobrepõe-se ao medo da
desorganização moral que reaparece à (re) visão a Questão Social dirigida à criança e à
família. A criança deixada para trás é também a família deixada para trás, que é
reconhecido como sendo na necessidade de ajuda especial e diferente. A pesquisa, por
exemplo, focaliza as famílias de crianças que falham na escola como "família frágil" e
"famílias vulneráveis" (Hildago, Siu, Bright, & Epstein, 1995: 500). Os pais,
diferenciados e normalizados como tendo um menor nível de educação e status
socioeconômico, são imigrantes (dependendo do tempo de residência no país), vivem em
áreas pobres de residência e são etnicamente definidos (vivendo ou não vivendo em
enclaves étnicos ), Entre outros (Hildago, Siu, Bright, Swap & Epstein, 1995: 501). As
classificações sociais e econômicas da criança e da família estão ligadas às relações
estruturais dentro das relações de gênero e aos padrões de comunicação relacionados ao
gênero, como se a mãe é uma mãe solteira ou adolescente (Hildago, Siu, Bright, Swap e
Epstein, 1995: 501, David e Lucille Packard Foundation, 2002).
As várias categorias da criança e da família são uma determinada classificação de
desvio que tem características cronológicas, culturais, fisiológicas e psicológicas sucintas.
O agregado da família "frágil" e "vulnerável" adquire a abstração das ciências ou da
gestão impessoal para raciocinar sobre o grupo e as capacidades e capacidades individuais
das pessoas.
Ironias de democratização, autonomia e participação nos espaços de
transformação pedagógica.
Um sítio, no qual o cosmopolitismo inacabado e a questão social aparecem como
parte do mesmo fenômeno das ciências da reforma, está na disciplina escolar da educação
matemática. Numa declaração que ressoa nas reformas das escolas americanas, o modelo
do Conselho Nacional de Professores de Matemática (2000) para padrões de currículo
argumenta que o aluno precisa estar preparado para o futuro, onde a mudança é "uma
característica ubíqua da vida contemporânea. Essencial para permitir que os alunos usem
o que aprendem para resolver os novos tipos de problemas que inevitavelmente
enfrentarão no futuro "(p.20-21). A literatura sobre padrões de educação matemática, por
exemplo, coloca a resolução de problemas e as comunidades de alunos em uma tese
cultural específica sobre a vida em um futuro incerto "ubíquo"(unipresente) para o qual a
matemática de aprendizagem prepara a criança.
Este futuro ubíquo pode ser pensado historicamente como um que estava presente
com a formação da nação moderna, com noções de democracia e com "pensamento" sobre
a agência humana e o progresso associado com o cosmopolitismo dos iluministas
americanos. Estava claramente presente no pragmatismo de Dewey, por exemplo, através
dos conceitos de ação inteligente, solução de problemas e comunidade. A tese cultural
era de uma individualidade cuja reflexão e ação estavam continuamente voltadas para o
futuro que traria um mundo mais progressista e humano.
No entanto, os processos alquímicos falam sobre a construção social do
conhecimento, a incerteza e o onipresente futuro das Sociedades de Aprendizagem são
irônicos. De fato, essas sociedades não são incertas ou omnipresentes. As práticas de
verdade dos modelos de tradução nos "Princípios e Padrões da Matemática Escolar"
(Conselho Nacional de Professores de Matemática, 2000), por exemplo, baseiam sua
seleção de conteúdo como extraída do "conhecimento convencional" do campo.
Subjacente à noção de "convencional" está o tratamento da matemática como estruturas
formais, lógicas e analíticas classificadas como "corpos de conhecimento" - sistemas de
conceitos, provas, generalizações e procedimentos - que as crianças aprendem. A
qualidade lingüística dos "corpos", "conteúdo", "Cobertura de conteúdo" e
"conhecimento conceitual" tratam as disciplinas como "coisas" (conceitos ou provas)
inertes, imutáveis e não ambíguas. A resolução de problemas da criança funciona para
"testar" o conhecimento de que, na educação matemática, por exemplo, tem um status
ontológico separado das questões epistemológicas (ver, por exemplo, Brousseau, 1997).
A resolução de problemas, distinta das disciplinas acadêmicas, é para acessar e confirmar
a realidade do mundo externo e para arbitrar a verdade e a falsidade na vida pessoal.
A prática de dupla face da alquimia é encontrada nos livros didáticos de educação
científica, quando examinada da virada do século 20 para 1995 (McEneaney, 2003a,
2003b). A organização do ensino tem se movido dramaticamente para uma maior
participação para proporcionar maior relevância pessoal e acessibilidade emocional. Essa
participação relaciona a "perícia" da criança na resolução de problemas com a estatura
icônica de especialistas em conhecimento profissional em um mundo físico ordenado e
gerenciável. A participação das crianças e a resolução de problemas são organizadas para
aprender a majestade dos procedimentos, estilos de argumentação e sistemas simbólicos
que afirmam a veracidade da perícia da ciência. As conclusões da perícia acadêmica estão
localizadas fora dos limites do questionamento das crianças e da resolução de problemas.
A atenção dada ao conhecimento "base" consensual elide a relação das práticas
culturais dos campos disciplinares e sua produção do conhecimento. O currículo das
disciplinas escolares estabelece a majestade do conhecimento científico como uma forma
de testar o que é real e dado. As práticas de tradução e transporte da psicologia para
selecionar e ordenar "conhecimento" disciplinar para governar a criança através de
critérios que têm pouca relação com as pedagogias para a aprendizagem de culturas
disciplinares e produção de conhecimento.
Notes
1. I use the plural as there were multiple “enlightenments’ in, for example, Germany,
France, Britain, the Slavic areas of Eastern Europe, as well as in North America. My focus
will be on what is called historically the American Enlightenment, a term that refers to
the particular geographical site of the US but which was part of a broader circulation of
ideas and practices. See Ferguson, 1997.
2. I use the notion of modern hesitantly in this text for literary convenience. My concern
is not to engage in periodization. It is to explore the slow and uneven changes in the
categories, epistemologies, and distinctions that make possible the school as it overlaps
with other historical patterns that are often placed together as modernity.
3. I am using the 19th century to focus on different historical patterns and trajectories that
move in uneven time from the 18th to the early 20th centuries, which come together to
construct what is thought of as the modern school. In this sense, there is no single origin
to what is today called schooling.
5. The alchemists were important to the formation of modern chemistry and commerce
(McCalman, 2003; Moran, 2005; Wilford, 2006). In this context, the school alchemy has
a different social trajectory as its function to generate principles of reflection and
behaviour.
6. The notions of enlightenment that were brought into modern schooling, which crossed
the northern Atlantic, had different distinctions and characteristics if one compares, for
example, American, British, French, and German discourses about progress,
emancipation and agency.
7. For a discussion of the secularization of religion into civic society, see Bellah (1968).
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Author
Thomas Popkewitz is Professor at The University of Wisconsin-Madison. He studies the
systems of reason that govern educational reforms and research. His ethnographical study
of US urban education (Struggling for the Soul) and current reforms and sciences of
pedagogy and teacher education (Cosmopolitanism and the Age of Reform) consider the
simultaneous processes of abjection in the school’s impulse to include. He is currently
completing a comparative study on political cultures in schooling during the long 19th
century.
Tradução Educação e Imperialismo cultural1
Martin Carnoy
Referência:
CARNNOY, Martin Education as Cultural Imperialism. Longman Inc., New York, 3ª
printing, 1974
Epígrafe:
Como o imperialismo romano lançou os alicerces da civilização moderna e levou os
bárbaros selvagens das ilhas (Grã-Bretanha) ao longo dos progressos, então, na África,
hoje estamos pagando a dívida e trazendo para os lugares escuros da Terra - a morada de
barbarismo e crueldade - a tocha da cultura e do progresso, enquanto ministrando as
necessidades materiais de nossa própria civilização ... nós defendemos isso porque é o
gênio de nossa raça colonizar, negociar e governar.
Lord Lugard
"O mandato duplo na África Tropical Britânica"
Pág 1
ESCOLA E SOCIEDADE
1
Obs.:
Esta tradução foi realizada por mim com o único objetivo de compreensão do texto para sua utilização na
tese. Assim, não é uma tradução oficial, ou autorizada. Estou repassando à banca de avaliação para que
possa compreender melhor o contexto de onde foi recortada as citações. Peço desculpas por erros e a
tradução literal de alguns termos.
de edificação ao longo da vida, ensinando a juventude não só a uma compreensão de
fenômenos importantes, mas também ao processo de aprendizagem. Os empregadores
vêem a escolaridade como avaliadora (ou validadora) de habilidades, preparando a
juventude para funções econômicas em uma sociedade tecnológica cada vez mais
complexa, incluindo a socialização para se encaixarem em novos tipos de organizações
econômicas.
pág 2
Os pais e, eventualmente, os próprios alunos consideram a escolaridade como uma chave
para maiores rendimentos e status, um passo para o sucesso em uma economia
competitiva e orientada para o sucesso. Para aqueles que são pobres, esta última função é
considerada particularmente crucial, pois a mobilidade social pode significar a diferença
entre a pobreza ao longo da vida e o acesso à sociedade de consumo.
A nível nacional, esses efeitos percebidos da escolaridade sobre o indivíduo são
estendidos à sociedade como um todo. Porque a escolaridade é vista como um
componente importante da educação ao longo da vida, muitos saltam para a conclusão de
que a população de uma nação é ignorante ou incivilizada se tenha sido submetida a pouca
escolaridade. As nações passaram a acreditar que para serem aceitas como civilizadas,
elas devem ser educadas; e para serem educados, eles devem ser educados. O corolário
desta proposição é que a escolaridade é em si mesma uma força libertadora (civilizadora)
e que é um pré-requisito necessário para que as nações participem com o desenvolvimento
do projeto mundial de avanço material.
Citação:
(M. Zymelman, Labor, Education and development” in Education in
National Development, ed. Don Adams NY: McKay, 1971, pp99)
Agora, a situação é diferente. Ao contrário do fardo colocado nos países
desenvolvidos quando estavam em estágios similares de desenvolvimento
econômico, a tecnologia atual e o conhecimento disponível exigem
habilidades técnicas cada vez maiores e educação da força de trabalho. Se
um país deve avançar economicamente e participar ativamente do comércio
internacional, ele deve educar sua população.
Pág 3
O sistema de educação formal - de acordo com essa visão - atua para compensar
desigualdades sociais e ineficiências, sendo um seletor objetivo de indivíduos inteligentes
e racionais para os mais altos cargos na hierarquia social, política e econômica.
Neste livro, argumentamos que essa explicação é enganosa. Nossa tese é que os
educadores, cientistas sociais e historiadores interpretaram mal o papel da educação
ocidental no terceiro mundo e nos próprios países industrializados. Argumentamos que,
longe de atuar como libertador, a educação formal ocidental veio à maioria dos países
como parte da dominação do imperialismo.
Nota 3
Como "desenvolvimento", "imperialismo" e "colonialismo" são termos carregados, com
diferentes significados para diferentes pessoas. Talvez o mais estereotipado seja o
imperialismo, é claramente pejorativo, cheio de implicações políticas e pressupostos
ideológicos. Tão bem-sucedido que o ataque da esquerda foi no imperialismo que admite
ser uma queda imperialista na mesma categoria como sendo racista ou facistivo. Isso torna
o termo imperialismo inútil? Como Tom Kemp ressalta: "A tendência de evitar o
reconhecimento ou a discussão de relacionamentos e a sugestão de que o termo"
imperialismo "não é um conceito científico, mas um slogan radical que impede a
objetividade, decorre de uma sensibilidade à crítica do fenômeno em questão e o desejo
de evadir a discussão ".
Era consistente com os objetivos do imperialismo: o controle econômico e político das
pessoas em um país pela classe dominante em outro. Os poderes imperiais tentaram,
através da escolaridade, treinar o colonizado por regras adequadas ao colonizador.
Mesmo nos próprios países dominantes, a escolaridade não compensou as desigualdades
sociais. o sistema educacional não era mais justo ou igual que a economia e a própria
sociedade - especificamente, argumentamos, porque a escolaridade foi organizada para
desenvolver e manter, nos países imperiais, uma organização de produção e de poder
inerentemente injustas e injustas.
O suporte para esses argumentos geralmente não é derivado de novos dados. Isso vem da
análise e interpretação de livros e documentos prontamente disponíveis - fontes
certamente acessíveis para aqueles que tentam nos convencer de que a escolaridade serviu
os pobres para ter sucesso e rico para se tornar benevolente. Por que todos esses mitos
foram perpetuados? Por que isso foi nosso conhecimento das escolas Nós acreditamos
que é porque o próprio conhecimento é "colonizado" 4: o conhecimento colonizado
perpetua a estrutura hierárquica da sociedade. Enquanto as pessoas pensassem que a
escolaridade fazia as coisas que as autoridades reivindicavam, era esperado que não
tentassem mudar as escolas. Aqueles que apoiaram a educação como um meio para a
mobilidade em massa queriam perpetuar o mito para apoiar a estrutura social inalterada
em seu próprio interesse ou, como acadêmicos "desinteressados", eles próprios foram
colonizados o suficiente para aceitar as regras sistema para uma autocrítica limitada.
Nota 4:
À medida que as colônias buscavam sua independência, o significado do colonialismo
que surgia dos próprios países em desenvolvimento era muito mais amplo do que a
ocupação do território e a revogação dos direitos políticos dos sujeitos. O colonialismo
de Fanon, Memmi e Mannoni (ver, capítulo 2) é a relação psicológica entre os seres
humanos desempenhando vários papéis. O colonizador, como colonizador, considera o
colonizado como não só sem direito político, mas como uma categoria diferente de ser.
Todos os termos utilizados para descrever o colonizado - incivilizado, selvagem,
primitivo, tradicional - converter a separação categórica do colonizador e do colonizado.
A essência do colonialismo nesta literatura é muito mais profunda do que a ocupação
militar. Para que o verdadeiro colonialismo ocorra - em contraste com o imperialismo
político de estilo antigo - o colonizado deve ser transformado de um indivíduo com crença
em si mesmo como um ser humano capaz para alguém que acredita apenas na capacidade
dos outros. Quando os europeus vieram para a América, a África e a Ásia com tecnologia
tecnológica militar superior, conseguiram degradar os "selvagens" ou "pagãos" locais
para acreditar que se deve ser europeu, para ser bom, forte, capaz e certo. Naturalmente,
uma vez que a colonização é definida dessa maneira, nos afastamos da definição de "uma
nação que busca ampliar sua autoridade sobre outras pessoas e territórios" (The American
College Dictionary - NY: Random House, 1958). O colonialismo torna-se uma descrição
da relação entre as pessoas e não as nações. Portanto, usamos o termo descrevendo a
forma como um indivíduo se comporta em direção a outro (a subjugação de um indivíduo
de outro). Uma vez que as realidades humanas geralmente ocorrem no contexto de
instituições (criadas e geridas por pessoas), essas relações são moldadas e mediadas
através de estruturas institucionais. As instituições "coloniais" têm hierarquias claramente
definidas: a instituição define o papel de cada pessoa em uma estrutura autoritária e existe
uma grande disparidade entre o controle que vários indivíduos têm sobre sua estrutura e
operação. Tais instituições são a família, a fábrica, a escola, o hospital, etc. As instituições
coloniais também podem ser em toda a sociedade: uma fábrica autoritária e hierárquica
tem sua contrapartida em um sistema econômico que tende a centralização, concentração
e monopolização; A escola que coloniza os alunos e está enraizada na desigualdade tem
sua contrapartida em um sistema escolar que fornece um tipo de escolaridade para os
ricos e outro para os pobres.
Pag 4
Rumo a uma teoria da escolaridade e da sociedade
Pág 18
No entanto, outros líderes surgiram entre os pobres que cooperaram com capitalistas do
norte. Como devemos mostrar, a escolaridade tornou-se um mecanismo por brancos
pobres e os negros poderiam ser temporariamente apaziguados através desse grupo de
líderes cooptados, enquanto sua posição na sociedade permaneceu essencialmente
inalterada. Ao invés de construir independência e autoconfiança entre os pobres da
América, as escolas são usadas para assegurar, tanto quanto possível e aparentemente
com algum sucesso, que aqueles que estão em pior posição econômica não se rebelam
contra o sistema que os reprime e identifica com líderes que trabalharia no âmbito da ação
estabelecida pela classe dominante.
No sentido, a relação entre essa classe dominante, centrada no capitalismo norte-
americano e os pobres, fazia parte do mesmo imperialismo que levava à expansão a oeste
e à guerra contra a Espanha e era análogo às relações coloniais da Europa com a África,
Ásia e América Latina. A conexão entre a educação dos negros no sul e a educação
britânica dos negros africanos, por exemplo, foi tão direta que, após a Primeira Guerra
Mundial e o educador americano foi enviado para a África para informar ao escritório
colonial sobre a adoção da educação "colonial" dos EUA, colônias britânicas .
Nós argumentamos, então, que o propósito da educação ocidental, tal como foi instituído
em torno da palavra, era tornar as pessoas úteis na nova hierarquia, não para ajudá-los a
desenvolver relações sociais que os levassem além dessa estrutura social para os outros.
Portanto, a escolaridade não ajuda as pessoas alcançam estágios além dessa hierarquia
capitalista / estrangeira ou de outra classe controlada, mas tentam adequar as pessoas às
necessidades dessa hierarquia, seja ela beneficiada ou não. Nós definimos isso como um
aspecto colonizador da escolaridade. A transformação das hierarquias tradicionais para
as hierarquias capitalistas ocorre, pelo menos em certos setores25, mas as ferramentas de
mudança não são ensinadas nas escolas. A escolaridade como uma instituição colonial
tenta fazer as crianças se adequarem a certos moldes, para moldá-los para desempenhar
papéis e tarefas predeterminados com base na sua classe social. Nem crianças nem adultos
são levados a entender o relacionamento deles com as instituições e como elas podem
mudar essas instituições de acordo com suas necessidades.
Pág 19
A introdução da própria escola constitui um tipo de mudança, mas uma vez que essa
introdução é realizada, as pessoas são levadas a um certo nível de consciência social e
não mais.
Em nossa teoria, as escolas são colonialistas, na medida em que tentam impor
relacionamentos econômicos e políticos na sociedade, especialmente nas crianças que
ganham menos (ou perdem a maioria) dessas relações. As escolas exigem a resposta mais
passiva desses grupos da sociedade que são as mais oprimidas pelo sistema econômico e
político e permitem a participação e a aprendizagem mais ativa daqueles que são menos
propensos a querer mudar. Embora isso seja lógico na preservação do status quo, também
é um meio de colonizar as crianças para aceitar papéis insatisfatórios. Na sua
caracterização colonialista, a escolaridade ajuda a desenvolver relações colonizadas por
colonos entre indivíduos e entre grupos na sociedade. Formaliza essas relações, dando-
lhes uma lógica que torna razoável o irracional.
Após a emancipação em 1893, por exemplo, a opressão contínua dos negros nos Estados
Unidos poderia ser racionalizada pelo Booker T. Washington porque os negros não eram
tão educados quanto os brancos. Ele acreditava que os negros não deveriam ser
considerados iguais ao se tornar igualmente educados.
Paulo Freire considera a situação colonial como a cultura do silêncio26. O elemento
colonial na escolaridade é a tentativa de silenciar, racionalizar o irracional e ganhar
aceitação de estruturas opressivas. Essa colonização não exige o imperialismo (a forma
como o definimos), uma vez que uma classe pode colonizar os outros, os homens podem
colonizar as mulheres, os brancos podem colonizar negros, e assim por diante, tudo dentro
de uma nação imperial27. Mas o imperialismo requer colonização. Uma nação ou um
povo não escolherá ser economicamente explorado ou dominado culturalmente. Eles
devem ser colonizados para aceitar esse papel. Uma vez colonizados, sua identidade recai
nas instituições da metrópole, mas essas instituições nunca as aceitam tão plenamente
quanto os colonizados da metropole.28
O colonialismo dentro das nações pode dar origem a movimentos subnacionais com
características nacionalistas. Os negros, os mexico-americanos, os porto-riquenhos e os
nativos americanos estão todos envolvidos em tais movimentos nos Estados Unidos.
Pág 20
Eles são obviamente análogos aos movimentos de independência nacional em seu desejo
de derrubar subjugação colonial. A libertação das mulheres, em sua forma pura, enfatiza
o nacionalismo das mulheres: independência completa (inclusive sexual) dos homens. A
luta de libertação é muitas vezes tão psicológica quanto política. A "independência" do
domínio colonial, na definição comum, significa o direito de eleger ou escolher líderes
nacionais, ou uma reordenação do controle político. Na definição mais profunda, essa
escolha política superficial representa a ponta do iceberg da independência. A libertação
do domínio colonial requer uma remodelação da humanidade e da auto-estima; uma
redefinição do que significa ser independente. Quando as pessoas são colonizadas, elas
são dependentes e nem sabem como se comportar em condições liberadas. A
descolonização ou a libertação exigem lutas pessoais e sociais que vão muito além de
abaixar uma bandeira e criar outra.
A Abordagem do Estudo
É impossível provar que a escolaridade contribui para a condição colonizada dos
indivíduos ou que a escolaridade é parte integrante do imperialismo europeu. Essas
proposições são baseadas em uma interpretação de dados históricos. Apresentamos essa
interpretação em uma série de estudos de caso, mostrando em cada uma como a evidência
favorece nossa análise e não outras.
Os estudos de caso podem ser divididos em três categorias gerais. Em primeiro. Nós
lidamos com a escolarização sob colonização direta, britânicos na Índia e britânicos e
franceses na África Ocidental (capítulo 3). Embora o caso africano não possa ser chamado
estritamente de colonialismo direto até os anos 1870 e 80, nós o agrupamos junto com o
caso da Índia porque eventualmente a África Ocidental estava sujeita ao mesmo tipo de
políticas européias (britânicas) que estavam sendo usadas na Índia. Na segunda,
apresentamos dois exemplos de crescimento da escolaridade em países latino-americanos
sedimentados na Europa - dependências econômicas da Espanha e de Portugal até que as
revoluções burguesas os amarrassem à Inglaterra e aos Estados Unidos. Esses são
exemplos de países politicamente independentes cuja classe dominante no período
capitalista pré-1930 escolheu servir como intermediários entre os países industrializados
e a matéria-prima produtora de escravos-trabalhadores das plantações.
Pág 21
No terceiro, tratamos o colonialismo interno nos Estados Unidos e o novo "imperialismo
do desenvolvimento" que emergiu da hegemonia pós-Segunda Guerra Mundial dos
Estados Unidos. A seção dos Estados Unidos está dividida em três partes: o capítulo 5
apresenta uma breve análise das principais reformas na educação americana e seus
problemas atuais; O capítulo 6 descreve a história da educação para negros nos Estados
Unidos; e o capítulo 7 trata da extensão da colonização interna dos EUA ao Terceiro
Mundo, particularmente depois de 1945.
As análises desses vários casos mostram um padrão distinto e conclusivo: no período
mercantil do imperialismo europeu (150 a cerca de 1780), a escolaridade formal, tanto no
país como no exterior, foi restrita quase que inteiramente a crianças dos ricos. Foi
consumado por uma aristocracia cujos filhos não precisavam para manter posições de
poder e riqueza, e foi investido por uma classe mercante para permitir que seus filhos se
tornassem profissionais e burocratas. Escolher para os pobres - quando existia em tudo -
geralmente era treinamento religioso para conversão ou manutenção moral. Mas mesmo
em seu período, a escolaridade formal em alguns lugares ajudou os europeus a colonizar
os nativos. No Brasil, os jesuítas formaram comunidades com escolas para transformar
índios nômades em trabalho de plantação; No Peru, outro grupo de jesuítas ajudou a
nobreza Inca a se tornar intermediária entre o Vice-Reitor espanhol e os ex-súditos
incaicos: a nobreza educada foi encarregada de atribuir mão de obra indígena às minas e
plantações espanholas e cobrar impostos. Da mesma forma, na Índia, a British East India
Company criou colégios muçulmanos para provocar a cooperação da elite muçulmana.
As faculdades foram usadas para desenvolver normas de elite leais a valores europeus.
Além dessas importantes exceções, no entanto, a escolaridade formal não foi usada para
incorporar as pessoas na estrutura econômica até o capitalismo começar a dominar a
economia. Como a organização capitalista criou a necessidade de um novo tipo de
sociedade na Europa (particularmente a Inglaterra) - uma sociedade organizada em torno
de fábricas, turnos, estruturas salariais e trabalho organizado por outros - a escolaridade
serviu para preservar o tecido moral desta sociedade e para socialize as crianças nela.
Pág 22
Assim, à medida que a organização feudal quebrou na Europa e, mais tarde, na América
Latina, era necessária uma instituição para manter as coisas em condições novas e
disruptivas. Missionários e Igreja Católica primeiro forneceram educação para os pobres,
e depois foram auxiliados pelo estado.29
Tanto os Estados Unidos quanto a América Latina foram colonizados por europeus, e
esses europeus formaram uma sociedade paralela e militarmente dominante ao lado de
povos indígenas. Quando a independência política veio, foram os colonos europeus que
determinaram a nova relação com a Europa. O padrão de desenvolvimento escolar era
paralelo a essa relação. Os EUA se esforçando para a autarquia rapidamente criaram
estresses na sociedade tradicional que a escolaridade ajudou a resolver (pelo menos
temporariamente).
Na América Latina, os estresses estruturais vieram mais tarde porque os colonos europeus
optaram por continuar as relações de dependência com a Europa, especialmente com uma
poderosa Grã-Bretanha. A Índia, é claro, nunca teve essa escolha, pois seus europeus
eram agentes da Coroa e administraram a Índia para a Inglaterra. Escolas desenvolvidas
na linha com necessidades britânicas. No período capitalista (depois de 1800), isso
significava que a escola para que os índios preenchessem as estruturas burocráticas
britânicas necessárias para controlar a economia e o comércio indianos e promover a
cultura britânica. Na África Ocidental, depois de cerca de cinquenta anos de
experimentação capitalista de livre comércio, a ocupação direta da Grã-Bretanha e da
França significou escolaridade para incorporação aos papéis africanos determinados pelas
relações econômicas com as duas metrópoles. 30
Interessante o suficiente, a escolaridade formal se expandiu nas colônias e em alguns
países da América Latina sem industrialização. Mas, assim como nas sociedades
industrializadas, a escolaridade serviu como uma ferramenta para controlar as mudanças
sociais em um momento de estresse causado por importantes mudanças econômicas. Nas
colônias, a industrialização foi impedida de ocorrer por industriais da metrópoles que
mantiveram a fabricação em casa, mas a escolaridade forneceu as diretrizes morais e
sociais para os nativos que tentaram se tornar europeus (os administradores eram o
modelo principal).
Nos Estados Unidos e nos países da América Latina onde a industrialização ocorreu, a
escolaridade ajudou a resolver a crise institucional causada pelo desenvolvimento do
sistema fabril.31 A educação em massa como socializador da classe trabalhadora em
resposta à crise gerada pelo capitalismo em a metrópole e como socializador de nativos
para trazê-los para estruturas sociais que tiveram suas origens na metrópole eram uma e
a mesma solução para o problema de desenvolver e manter estruturas de classe em face
de importantes mudanças econômicas e sociais.
Pág 23
A solução ocorreu simultaneamente devido ao crescimento da escolaridade nas
metrópoles industrializadoras e à disseminação das instituições metropolitanas ao longo
do Império.
Após a Segunda Guerra Mundial, quando os Estados Unidos obtiveram hegemonia no
mundo capitalista, os modelos utilizados nos Estados Unidos para controlar a mudança
social e atribuir vários grupos, seus papéis econômicos em uma economia em rápido
crescimento começaram a se espalhar para o Terceiro Mundo. A escolaridade
desempenhou um papel fundamental no sistema internacional do pós-guerra, tal como
tinha sido fundamental para socializar os trabalhadores imigrantes no Nordeste e para
atribuir negros ao trabalho agrícola e aos empregos das fábricas não qualificadas no Sul.
As reformas impulsionadas pelas agências de assistência dos EUA para enfrentar a
ameaça de agitação social no Terceiro Mundo nos anos 60 e 70 são as mesmas reformas
que foram usadas para enfrentar a ameaça de uma mudança social radical nos Estados
Unidos em torno da virada do século. Ambos enfatizam a responsabilidade individual
pelo sucesso e pelo fracasso, e não pelas injustiças da organização do sistema econômico.
Ambos culpam as insuficiências das escolas em suas ineficiências em relação ao
gerenciamento de estudantes para as realidades do mercado de trabalho. Tais reformas se
dirigem para a "ideologia da eficiência" que caracterizou o desenvolvimento capitalista
dos EUA nos últimos cem anos.
Nossa análise histórica, portanto, não apenas enfatiza o passado, mas também o presente.
Não apenas relaciona o papel da escolaridade com os africanos e os asiáticos nas
estruturas coloniais européias, mas também a forma como a escolaridade foi chamada a
colonizar pessoas nos Estados Unidos e como esses métodos e experiências foram e são
exportados de volta para um Terceiro agora "independente Mundo. A escolarização como
instituição de colonização, controle social e produção de habilidades hierárquicas não se
limitava, de modo algum, aos impérios formais do século XIX e início do século XX.
Pelo contrário, quanto mais complexa for a divisão do trabalho nos Estados Unidos e no
Terceiro Mundo, mais sofisticada se torna a colonização interna e externa através da
escolaridade.
Pág 24
Um propósito importante do livro é mostrar como a escolaridade mudou para atender às
mudanças das necessidades das classes capitalistas dominantes e como tais necessidades
afetaram diferentes grupos nas sociedades dos EUA e do Terceiro Mundo.
O uso da escolaridade para promover e manter estruturas de classe no desenvolvimento
capitalista, seja nas colônias ou na metrô, não foi o resultado da "conspiração". Não
afirmamos que certos homens mulheres conspiraram para organizar escolas para
colonizar meninos e meninas. Pelo contrário, a teoria afirma que os poderosos grupos
econômicos e sociais que atuam em seu próprio interesse pessoal conseguiram, através
da legislação e influência, utilizar a escolaridade para promover seus próprios fins.
Ocorreram importantes conflitos na estrutura de poder em tempos de mudanças
econômicas e sociais, e a escolaridade muitas vezes mudou com o resultado desses
conflitos para atender às necessidades daqueles que prevaleceram. Mas esses conflitos
eram em grande parte entre os próprios grupos poderosos, não entre a massa de pessoas
e os que governavam. Em condições imperiais, as lutas estavam centradas em vários
interesses coloniais: por exemplo, manufaturas domésticas versus comerciantes. Uma vez
que as colônias ganharam independência, surgiram conflitos entre os interesses
econômicos da metrópole de pelo menos parte da elite do país dependente.
Nas nações industrializadas, as lutas pelo poder político e econômico também moldam o
design e a função da escolaridade. Esta não é uma conspiração dos poderosos contra os
fracos. São as instituições e modos de vida de apoio ricos que mantêm sua posição de
riqueza e poder no próprio país e no mundo. Obviamente, eles não vão ajudar os pobres
do mundo a assumir o controle do recurso do mundo para seu próprio uso, ao estudar
como uma instituição colonial e imperial é eminentemente razoável, uma vez que
entendemos quem a influencia e quem controla os fundos públicos que o apoiam.
A escola é inerentemente colonizadora e imperialista ou pode servir para o
desenvolvimento liberado, adultos criativos? A resposta não é óbvia e depende dos
objetivos da sociedade e sua estrutura econômica e social. Nós argumentamos que, até
agora, a escolaridade formal ajudou alguns a controlar de forma mais eficaz a vida de
muitos, em vez de muitos, para entender e controlar a natureza do progresso e mudanças
nas suas próprias vidas.
Pag 25
No capítulo 8, revisamos as evidências e discutimos as implicações da nossa análise para
a ação: devemos derrubar a escola? As reformas escolares podem funcionar? Podemos
obter o controle das escolas? A análise histórica ajuda a resolver algumas dessas questões.
O colonialismo torna-se uma descrição da relação entre as pessoas e não as nações.
Portanto, usamos o termo descrevendo a forma como um indivíduo se comporta em
direção a outro (a subjugação de um indivíduo de outro). Uma vez que as realidades
humanas geralmente ocorrem no contexto de instituições (criadas e geridas por pessoas),
essas relações são moldadas e mediadas através de estruturas institucionais. As
instituições "coloniais" têm hierarquias claramente definidas: a instituição define o papel
de cada pessoa em uma estrutura autoritária e existe uma grande disparidade entre o
controle que vários indivíduos têm sobre sua estrutura e operação. Tais instituições são a
família, a fábrica, a escola, o hospital, etc. As instituições coloniais também podem ser
de toda a sociedade: A
Capítulo 2
Educação para o Desenvolvimento ou Dominação? Um quadro teórico
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Interpretar o papel da educação na mudança societária requer uma teoria do
desenvolvimento. Os cientistas e educadores sociais ocidentais geralmente assumem, por
exemplo, que a disseminação das formas capitalistas - aumenta o bem-estar de todos. Eles
assumem ainda que, uma vez que o capitalismo é a organização mais "eficiente" para
aumentar o bem-estar geral, a expansão capitalista promove o desenvolvimento. A
organização precapitalista, ou "tradicional", inibe o desenvolvimento e as formas
capitalistas o estimulam.
Esta filosofia subjacente também implica que o intercâmbio de bens sob livre comércio e
livre circulação de capital e trabalho contribuem para o intercâmbio de ideias e, portanto,
para a paz internacional. Os obstáculos a este intercâmbio, tais como tarifas, leis de
imigração e controles sobre investimentos estrangeiros, são definidos como obstáculos à
cooperação e compreensão internacionais.
Pág 32
A visão capitalista do desenvolvimento considera o capitalismo como a antítese do
imperialismo: a probabilidade de um povo dominar outro é reduzida pelo livre comércio
e livre capital e fluxos de trabalho. Para eliminar as relações imperiais e coloniais, todos
os obstáculos à livre circulação devem ser removidos. Onde a educação contribui para a
formação de uma sociedade capitalista e "moderna", contribui para a destruição das
relações imperiais e eliminação de ameaças futuras de dominação imperial de um povo
por outro. Aqueles educados para serem homens e mulheres racionais, competitivos e
orientados para o mercado estão muito empenhados em aumentar o seu bem-estar
material no âmbito das regras do mercado para recorrer à dominação pela conquista física.
A educação é uma força para o racionalismo e o progresso nesta interpretação da mudança
societária e das relações internacionais. Incorporar indivíduos e vários grupos em
estruturas capitalistas é, por si só, uma função positiva do sistema educacional.
Mas há teorias concorrentes do crescimento capitalista que argumentam que o capitalismo
evolui para o monopólio e o imperialismo - que o imperialismo é uma extensão das formas
capitalistas - e que discutir relações iguais entre grandes potências industriais capitalistas
e produções primárias é ingênuo. Se as relações entre as nações envolvidas no comércio
tendem a ser imperialistas mesmo no quadro capitalista, os esforços educacionais que
contribuem para o crescimento das formas capitalistas devem ser analisados dentro de um
contexto imperialista. Incorporar grupos em estruturas capitalistas para explorá-los é
diferente de usar a educação para treinar exploradores ou revolucionários. Obviamente, a
educação pode ser usada para manter as relações imperiais entre as nações ou para quebrá-
las. As teorias que consideram o capitalismo como imperialista negam que contribuir para
a eficiência capitalista promova a paz e o progresso.
Assim, o exame das relações entre as nações capitalistas e o efeito de tais relações sobre
o comportamento de indivíduos e grupos desenha uma literatura diversa e muitas vezes
conflitante. Antes de seguir entendendo a evolução da discussão intelectual que trata do
imperialismo e do colonialismo. É através dessa discussão que podemos descobrir as
fontes de diferenças entre nossa análise e concepção de escolaridade como
"desenvolvimento".
Pág 33
O principal trabalho no imperialismo e no colonialismo, portanto, fornece um quadro
necessário para os estudos de caso que se seguem.
Este capítulo começa com uma revisão dos dois pontos de vista mais importantes do
capitalismo e do imperialismo - Schumpeter e Lenin - e suas implicações para a análise
da função de escolaridade em uma sociedade. Argumentamos que a teoria de Lenin e suas
recentes modificações - com todas as suas deficiências - são muito mais úteis para a
compreensão das relações internacionais no sistema capitalista mundial do que o
inexistente ideal capitalista de Schumpeter. Analisar a disseminação da escolaridade
ocidental através da teoria imperialista do "desenvolvimento", portanto, faz mais sentido
do que usar um modelo derivado de noções capitalistas ocidentais de melhorar o bem-
estar social.
As primeiras teorias do imperialismo deram origem a suas observações: teorias da
dependência e do colonialismo. Lenin descreveu as fontes e os efeitos do imperialismo
nos países industrializados. Ele estava especialmente preocupado em analisar as raízes do
domínio do país industrial da Ásia e da África e as causas da Primeira Guerra Mundial.
Escritores de países dominados estão agora escrevendo sobre o imperialismo do ponto de
vista deles. As escolas (no contexto imperial) são uma das muitas instituições que
produziram as condições de dependência e as relações psicológicas do colonialismo.
Revisamos esses escritos para fornecer uma estrutura para entender o papel da educação
formal na produção ou manutenção de relacionamentos "coloniais" tanto nas nações
"subdesenvolvidas" quanto nas próprias sociedades industriais.
Essas teorias de dependência e colonialismo completam o quadro para nossa análise. Eles
carregam a contra-visão de Lênin do desenvolvimento capitalista no âmbito de relacionar
as instituições dentro dos países com as relações internacionais e com o indivíduo no
contexto das relações internacionais e ao indivíduo no contexto do sistema internacional.
No capítulo posterior, aplicamos essas teorias à educação em diferentes períodos
históricos e diferentes tipos de condições imperiais.
Teorias do imperialismo
O domínio de um povo por outro ocorreu ao longo da história. Essa dominação foi
exercida para seus próprios fins por um poderoso grupo ou classe em uma sociedade
particular.
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O objetivo da aula era geralmente estender os membros dos “sujeitos” que trabalhariam
para isso. Assim, a dominação econômica e política não ocorreu e não ocorre em termos
de uma sociedade inteira dominando outra, mas de um grupo de pessoas capazes de
estender seu poder a outras sociedades.
Antes da revolução industrial, os impérios eram baseados na escravidão e / ou na extração
de tributos dos camponeses que trabalhavam na terra. Os impérios escravos foram
projetados para manter o suprimento de escravos para uma classe dominante e
exploradora. Os impérios camponeses - como a China e a Índia - duraram muito mais que
os impérios escravistas e alcançaram altos níveis de cultura e inovação. Todas as grandes
descobertas que, de acordo com Francis Bacon, mudaram a cara da imprensa mundial, da
pólvora e do imã - foram inventadas pelos chineses e trazidas para a Europa pelos árabes.
O império camponês estendeu a quantidade de terra pagando tributo à classe dominante
do estado dominante. Esse tributo ajudou a construir e manter uma burocracia
centralizada que consumia em escala generosa, mas também investia em obras públicas.
Embora mercadores e artesãos florescessem nos impérios camponeses, a manufatura e o
comércio de bens escassos eram monopólios estatais, de modo que o excedente dessas
atividades se acumulava na burocracia centralizada.
Esses impérios - escravos e camponeses - tinham uma lógica singular e simples: a
acumulação de riqueza pela classe dominante, seja pelos grandes proprietários de terra ou
pelas burocracias estatais. Quanto maior o número de pessoas sob o domínio do grupo
dominante (isso incluía seus próprios súditos), maior o número de escravos disponíveis
ou o maior número de terras que poderiam ser tributadas para tributo, ou ambos (Roma e
Grécia, por exemplo eram impérios escravos e camponeses). Embora houvesse uma
“cultura” de guerra e conquista, na qual guerreiros lutavam por “glória”, um importante
elemento de glória também incluía riqueza tangível. De fato, os exércitos mercenários de
muitos dos primeiros impérios viviam da pilhagem da conquista. Ao longo da história, é
difícil separar o impulso “puro” da conquista do espólio que o acompanhava.
No entanto, Schumpeter enfatiza a conquista pela conquista em seu imperialismo:
Schumpeter viu em muitas sociedades antigas a ascensão da classe guerreira, cuja própria
existência dependia de guerras contínuas. Ele definiu o imperialismo como a “disposição
sem objeto por parte do Estado para uma expansão forçada ilimitada”. Foram os antigos
estados guerreiros que mais se ajustaram ao imperialismo de Schumpeter. Isso foi
chamado de "imperialismo do povo" porque em uma nação guerreira a comunidade social
é uma comunidade guerreira.
A teoria do imperialismo de Schumpeter, portanto, repousa sobre
Pág 36
Scumpeter encontra a explicação fundamental do imperialismo, não no domínio
econômico, mas nas forças psicológicas que sobraram das estruturas sociais e econômicas
do passado. O imperialismo é equiparado com a guerra e a conquista direta. Com base
nessa teoria, Schumperer tenta mostrar que o capitalismo é antimperializado - que as
relações de produção associadas ao capitalismo são uma força que contraria a tendência
de dominar os outros pela conquista (essa é a sua definição de imperialismo). Ele
argumenta que o capitalismo gerou sentimento antiguerra e antiimperalista em grande
escala pela primeira vez na história. Quanto a uma guerra para adquirir território,
assumindo o livre comércio, a expansão forçada é inútil, porque mercados e matérias-
primas estão abertos a todos em igualdade de condições. Assim, Schumpeter explica o
imperialismo britânico do século XIX - que foi empreendido em grande parte como
política de guerra - e comércio - como remanescente do comportamento humano passado.
Da mesma forma, a I Guerra Mundial foi, tendências que sobraram do passado sombrio.
Se a teoria de Schumpeter está correta, o que isso implica para o papel da educação nas
colônias e em casa desde o século XVIII até agora? Uma vez que a disseminação da
escolaridade certamente não fazia parte da necessidade psicológica de conquista física
(embora não esteja claro se Schumpeter aceitaria versões sublimadas de conquista nas
mesmas definições de escolaridade imperialista, especialmente pelos missionários, tinha
e tem muitas das características da necessidade do homem de conquistar), havia e não há
relação entre a escolaridade nas colônias e o imperialismo. Para o contrário, em
Schumpeter, para levar suas agressões a uma competição saudável, o shooling
desempenha um papel central na neutralização das tendências guerreiras do passado. Essa
visão coincide com a teoria ocidental do capitalismo do desenvolvimento: que o
capitalismo foi e continua a ser uma força para o nacionalismo e o antiimperialismo. À
medida que as pessoas abraçam as relações de produção associadas ao capitalismo, é
menos provável que tentem dominar.
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Outros menos propensos a fazer guerra e se concentrarão em fazer renda mais pessoal e
nacional através do intercâmbio de bens e capital.
Para Schumpeter, o imperialismo por comércio e investimento é uma impossibilidade.
Portanto, é uma impossibilidade que a escolarização de não-europeus em escolas que
ensinam normas e valores capitalistas europeus possa fazer parte de uma estrutura
imperialista. Desde que “o capitalismo é por natureza
O antiimperialismo ”, por exemplo, todas as instituições associadas à expansão do
capitalismo - as escolas européias devem ser antimperialistas. Podemos começar a
entender os elementos essenciais dos conceitos ocidentais de desenvolvimento
econômico e social: o livre comércio e a disseminação de instituições capitalistas são
antiimperialistas. Eles combatem os elementos guerreiros na precapitalização do homem.
Quanto mais tempo estiver o capitalismo, mais antimperialista se tornará uma nação.
Quanto mais antiimperialista é uma nação. É menos provável tentar dominar os outros.
Não apenas o livre comércio e as relações capitalistas na produção levam à mais alta taxa
de crescimento possível, mas níveis mais altos de comportamento ético são alcançados (o
imperialismo). A extensão lógica da teoria de Schumpeter é, portanto, que o capitalismo
é uma força civilizadora proveniente de uma civilização que rejeita a guerra e a
dominação como meio de resolver disputas e distribuir poder econômico e político.
O conceito de capitalismo de Schumpeter é um capitalismo laissez faire, de livre
concorrência e de livre comércio. Mesmo assim, ele descreveu-o como um mecanismo
benéfico que poderia atuar de forma didática, no mundo real o capitalismo era um sistema
de exploração, baseado em disparidades de riqueza e poder, que, embora tenha
possibilitado um grande desenvolvimento das forças produtivas, não o fez em resposta
direta às necessidades sociais e, inevitavelmente, foi acompanhado por aspectos
socialmente disruptivos.
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isso para o "irracional" da conquista que sobrou do passado, é igualmente lógico
argumentar que as guerras mundiais foram o resultado do desenvolvimento capitalista
desigual entre as potências européias. Ele considerou, além disso, que o crescimento do
monopólio é o resultado da proteção, e é a intervenção do Estado no fornecimento de
proteção tarifária que cria monopólios. Se se permitir o desenvolvimento de monopólios,
existe maior probabilidade de conflito entre as nações, uma vez que os monopólios se
identificam com a proteção nacional, Schumpeter não acreditava que os monopólios
tenderiam a se expandir para países estrangeiros. E ele enfatizou que as tarifas de
proteção.
Tudo isso se resume à visão de que o que está errado com o capitalismo é derivado de
elementos não capitalistas na sociedade. É claro que muitas forças tradicionais
influenciam o capitalismo, mas é difícil separar essas forças do próprio capitalismo. Se a
agressividade e a necessidade de fazer melhor do que a próxima pessoa criam um
empreendedor de sucesso, por que esse empreendedor não deveria tentar convencer o
Estado a intervir a seu favor? Enquanto a Grã-Bretanha pudesse produzir mais barato que
qualquer outra pessoa e tivesse um grande império colonial (em que a Grã-Bretanha
tivesse preferências executáveis), ela poderia se entregar ao livre comércio. Mesmo com
o livre comércio, a concentração na indústria britânica aumentou acentuadamente na
década de 1920. A indústria de outros países do capitalismo estava bem protegida e a
concentração começou mais cedo. Sem proteção, entretanto, a industrialização fora da
Grã-Bretanha teria sido muito mais lenta. Como podemos chamar a Inglaterra de mais
capitalista do que a França ou a Alemanha na segunda para promover o desenvolvimento
de sua própria instituição capitalista?
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Talvez a intervenção mais importante do estado, além das tarifas, fosse na educação - na
preparação de uma força de trabalho socializada - uma intervenção, como tarifas, apoiada
pela burguesia. É difícil argumentar que a obtenção de subsídios estatais, diretos ou
indiretos, não faz parte do próprio capitalismo, mas Schumpeter tenta mostrar que o
Estado atua separadamente da burguesia, e que o imperialismo é uma função de elementos
que não são apenas fora do capitalismo, mas forçados a isso contra os interesses dos
próprios capitalistas. O cerne da diferença entre a visão de Schumpeter e os marxistas do
imperialismo “reside em saber se o imperialismo é um desenvolvimento inevitável do
capitalismo ou algo imposto a ele, e contrário à sua verdadeira natureza, por líderes
políticos e interesses especiais capazes de evocar impulsos atávicos encontrados em toda
a sociedade ”
A análise de Schumpeter foi em grande parte uma reação ao trabalho de Lênin sobre o
imperialismo que foi escrito dois anos antes. Lenin argumentou que o imperialismo é uma
fase necessária do capitalismo. Ele mostrou como, no final do século XIX e início do
século XX, a indústria se concentrou cada vez mais em grandes oligopólios, controlando
uma alta fração da produção industrial nos países capitalistas. Por sua vez, a produção
industrial ficou sob o controle de uma instituição financeira altamente concentrada, e essa
“oligarquia” financeira determina quais investimentos devem ser feitos ou não, quais
firmas sobreviverão e quais não, e assim por diante.
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Matéria prima. Outros países que protegem sua indústria atrás dos muros tarifários se
desenvolveram em países do capitalismo independente. Dois níveis de monopólios se
desenvolveram: em um nível, a monopolização da produção nos países capitalistas; no
segundo nível, alguns países ricos ocupam uma posição monopolista na produção de bens
manufaturados. Nestes países avançados, uma “enorme superfluidade de capital” se
acumulou ”.
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petróleo. (36) Além disso, durante as décadas de 1940 e 1950, os Estados Unidos
obtiveram quase o monopólio do comércio e dos investimentos estrangeiros na América
Latina e substituíram os japoneses, britânicos, franceses e holandeses como a potência
estrangeira dominante na Ásia. Quando John F. Kennedy se tornou presidente em 1961,
os Estados Unidos dominaram uma grande fração do mundo.
No período da hegemonia norte-americana, vários países da América Latina e a Índia
continuaram tentando industrializar-se por meio de proteção tarifária e cotas de
importação. Mais uma vez, essa não era uma característica nova das relações imperiais,
uma vez que os Estados Unidos, o Canadá e outros países haviam se desenvolvido dessa
mesma maneira durante o ápice do Império Britânico. Mas a proteção pós-Segunda
Guerra Mundial acelerou o investimento estrangeiro direto na fabricação pelos países
avançados. No final da década de 1950, o investimento estrangeiro dos EUA na indústria
era maior do que no petróleo e, em meados dos anos 60, era quase tão grande quanto o
investimento na extração local de matérias-primas. Grande parte desse investimento em
manufatura foi na Europa e no Canadá, mas mesmo na América Latina, o investimento
estrangeiro dos EUA em 1968 foi de 33% em manufatura. (37). Enquanto apenas uma
pequena porcentagem do capital total na maioria dos países é detida por estrangeiros,
certos setores são completamente dominados pelo investimento estrangeiro e pela
tecnologia.
A tentativa de industrializar no Terceiro Mundo, então, tem o efeito de transferir novos
investimentos estrangeiros da exploração de minerais e agricultura de plantação para a
manufatura. Ao mesmo tempo, tanto para fortalecer o relacionamento Centro-Periferia,
como para organizar empresas em todo o mundo, as empresas multinacionais tornaram-
se uma forma de organização dominante dos monopólios dos países avançados.
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A última tentativa dos países avançados, particularmente dos Estados Unidos, de resolver
a "crise educacional" (39) é a introdução da tecnologia educacional. O objetivo declarado
da televisão educativa, rádio e instruções computadorizadas é substituir formas
relativamente “baratas” de instruções (TV, rádio, computadores) por “caras” como
professores capacitados (limitados no fornecimento) para que as crianças de todo o
mundo possam escolaridade formal sem perda e até aumento de qualidade. (40)
Implícito na disseminação da educação formal é uma crença fundamental na capacidade
do capitalismo de fornecer a todos o trabalho através do mercado, e na habilidade da
escola de transformar seres humanos tradicionais e improdutivos em elementos
produtivos no desenvolvimento capitalista. Nenhuma dessas premissas parece se
sustentar empiricamente. O fracasso do desenvolvimento capitalista, particularmente nos
países periféricos, de permitir que todos participem do crescimento econômico,
especialmente em face do aumento da escolaridade média e das expectativas resultantes,
cria importantes contrações nos países.
Imperialismo e dependência
A tentativa latino-americana pós-1929 de industrializar deu origem à teoria da
"dependência". Dependência é o anverso do imperialismo: as nações imperialistas - as
nações "metrópoles" ou "centrais" na terminologia de Frank e Galtung (41) - dominam e
exploram as áreas periféricas do mundo, mas as nações da periferia são exploradas e
dependentes. A teoria da dependência cria uma estrutura para analisar as mudanças
econômicas, políticas e sociais nos países dependentes. Embora essa teoria seja derivada
da teoria do imperialismo de Lênin, não se trata de descrever e prever os efeitos do
imperialismo nos países da metrópole - como Lenine -, mas nos países da periferia.
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Na maior parte, essas economias dependem de poucas exportações de matérias-primas
para a maior parte da moeda estrangeira que financia sua industrialização. Mudanças nos
preços dessas exportações são responsáveis por importantes flutuações econômicas na
periferia, até mesmo crise econômica.
Consequentemente, a teoria da dependência argumenta que a melhoria permanente e de
longo prazo da condição humana na situação dependente - limita-se em grande parte ao
grupo dominante no país da periferia. Este não é o resultado de obstáculos deixados por
uma sociedade feudal ou tradicional, mas o resultado de relações sociais, políticas e
econômicas predominantes no sistema capitalista internacional: uma estrutura social
estratificada, as instituições políticas necessárias para manter essa estrutura social e uma
sistema econômico que produz bens para satisfazer um pequeno grupo de renda alta e
média e é capaz de empregar apenas uma pequena fração da força de trabalho em seus
setores dinâmicos.
A teoria diz que essa estrutura cria uma "alienação cultural" na América Latina, que se
manifesta na necessidade de copiar tudo nas metrópoles desenvolvidas. Valores e normas
de desejo são tirados da metrópole, não da experiência local. "Essa alienação foi a chave
para a existência continuada e situação subdesenvolvida." (46) A dependência cultural,
que inclui a dependência de tecnologia, conceitos e formas, limita severamente a
possibilidade de surgirem novas formas de desenvolvimento institucional. O que Dos
Santos chama de "situação condicional": "Uma situação condicional determina os limites
e as possibilidades da ação e do comportamento humano. Diante dela, existem apenas
duas possibilidades: (a) escolher entre as alternativas distintas dentro da situação. b) ...
alterar esta situação condicional, a fim de permitir outras possibilidades de ação. " (47)
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Se a situação de dependência é aquela que configura uma situação interna a uma
com a qual ela está estruturalmente vinculada, não é possível romper (a situação)
isolando o país de influências externas, pois isso simplesmente provocaria o caos
em uma estrutura interna que é essencialmente dependente. A única solução para
quebrá-lo seria, então, mudar essas estruturas internas, o que leva
necessariamente, ao mesmo tempo, a um confronto com a estrutura internacional.
(48)
Pode haver também uma contradição inerente entre a função de um sistema educacional
visto pelos educadores metropolitanos e sua função na sociedade dependente. A teoria do
desenvolvimento neoclássico considera a escolaridade como um processo "libertador",
no qual a criança é transformada de indivíduo "tradicional" para "moderno". Essa
transição deve permitir que a criança seja criativa e funcional. A escolarização também
deve permitir que a pós-graduação contribua para a economia, a política e a sociedade.
Mas na teoria da dependência, a transformação que ocorre na escola não pode ser
libertadora, uma vez que uma pessoa é simplesmente mudada de um papel em um sistema
dependente para um papel diferente no mesmo sistema. Enquanto este último pode ser
mais economicamente satisfatório, ainda deixa o indivíduo em uma situação condicional,
dominada pela cultura, tecnologia e bens da metrópole através do grupo dominante na
periferia.
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A graduação não pode contribuir para a sociedade para o seu pleno potencial, uma vez
que a sociedade dependente é limitada em sua capacidade de fornecer trabalho para todos.
Grande parte da força de trabalho não é capaz de entrar no setor "dinâmico", que é
dominado pela tecnologia metrópole, que usa muito capital, mas pouco trabalho. As
"ineficiências" do sistema escolar, relacionadas à estrutura social e econômica, não são,
de forma alguma, ineficiências, mas derivados diretos da situação dependente.
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A única escolha que resta ao colonial é aceitar o papel de colonizador ou retornar à
metrópole.
... aceitar a realidade de ser colonizador significa concordar em ser uma
pessoa não-legítima, isto é, um usurpador. Para ter certeza, um usurpador
reivindica seu lugar e, se necessário, o defenderá por todos os meios à sua
disposição. ... Ele se esforça para falsificar a história, reescreve as leis,
extingue as memórias - qualquer coisa para transformar sua usurpação em
legitimidade ... quanto mais os usurpados são oprimidos, mais o usurpador
triunfa. (57)
Há dois pontos muito importantes aqui: primeiro, o colonizador precisa da pobreza e
degradação do colonizado para justificar seu próprio lugar na sociedade. Afinal, onde ele
estaria se não fosse pelo colonizado? Ele também não seria capaz de fazer
economicamente, já que o sistema colonial explora o colonizado para o lucro do
colonizador. Ele também perderia muito de sua importância se fosse simplesmente um
entre muitos de sua própria espécie. Em segundo lugar, a situação colonial fabrica
colonialistas, assim como fabrica os colonizados. Não é apenas a predisposição para se
tornar um colonizador ou colonizado que produz esses papéis (o argumento de Mannoni),
mas a própria situação colonial. O colonial vem com poder para o contexto colonial: ele
tem o poder econômico e militar da metrópole por trás dele. O colonizado não tem poder.
Se tentar lutar, ele é fisicamente conquistado. O colonizado não está livre para escolher
entre ser colonizado ou não. O colonizador pode impor sua usurpação com grande
punição. O colonizado se ajusta a essa situação desenvolvendo as características com as
quais o colonizador o caracteriza. O colonizado é visto como preguiçoso, cruel,
desonesto, incivilizado e assim por diante. Muitos desses traços são incompatíveis entre
si, mas isso não incomoda o colonizador, porque traços gerais são projetados para destruir
qualquer cultura ou história que o colonizado traz para o relacionamento. "Na base de
toda a construção, finalmente se encontra um motivo comum: as necessidades
econômicas e básicas do colonizador, que ele substitui pela lógica, e que moldam e
explicam cada uma das características que ele atribui ao colonizado." (58)
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Eventualmente, o colonizado aceita essa caricatura. Todas as instituições da sociedade
são moldadas pelo colonizador para ajustar sua visão do colonizado. Uma vez que o
colonizado é forçado a funcionar dentro dessas instituições, ele começa a aceitar a
concepção do colonizador dele. Se o colonizado resiste a essa imagem, ele é punido; se
ele for agressivo, se recusar a trabalhar como um animal ou ser um objeto, a lei do
colonizador é usada para considerá-lo culpado. Segundo Memmi, a adesão à caricatura é
parte integrante da colonização e não sua causa.
Para que o colonizador seja um mestre completo, não é suficiente que ele
seja assim de fato, mas ele também deve acreditar em sua legitimidade.
Para que essa legitimidade seja completa, basta que o colonizado seja um
escravo, ele também deve aceitar seu papel. A ligação entre colonizador e
colonizado é, portanto, destrutiva e criativa. Destrói e recria os dois
parceiros da colonização em colonizador e colonizado. Um é desfigurado
em um opressor, um ser parcialmente antipatriótico e traiçoeiro,
preocupando-se apenas com seus privilégios e sua defesa; o outro em uma
criatura oprimida, cujo desenvolvimento é quebrado e que compromete
sua derrota. (59)
A relação entre a análise de Memmi e a teoria da dependência é óbvia: a relação colonial
determina o padrão de desenvolvimento ou não-desenvolvimento em um país colonizado.
Por um lado, o colonialista está mais ligado à metrópole do que o país colonial em que
ele reside. Ele não está interessado em desenvolver a colônia à imagem do país de origem
porque isso destruiria a estrutura social que garante seus privilégios. O colonizado, por
sua vez, é removido da participação no desenvolvimento de seu próprio país. A
legitimação do papel do colonialista requer a destruição do sentido colonizado da cultura
e da história, de modo que o colonizado é removido de toda responsabilidade social e
cultural. Ele lida apenas com o presente, não com o passado ou futuro. O presente com o
qual ele é forçado a lidar são aquelas instituições que o colonizador traz para o país
colonizado. Os colonizados, portanto, experimentam uma dupla alienação: a primeira
alienação vem de ter sua própria cultura destruída no processo de legitimar a usurpação
do colonizador; a segunda alienação vem do
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natureza seletiva dos elementos da cultura metropolitana com a qual ele é
confrontado. O maquinário, os livros, os filmes, os currículos e a força de
trabalho exportada para as colônias refletem as necessidades específicas
experimentadas pelos segmentos da sociedade metropolitana presentes no
cenário local. Como tal, eles oferecem uma imagem distorcida da cultura
metropolitana. (60)
Segundo Fanon, esta fraca classe média nacional é a "linha de transmissão entre o
nacional e um capitalismo ... que hoje coloca a máscara neocolonialista". (64) Mas esse
papel não é o mesmo que a burguesia desempenhou em seus primeiros estágios na Europa,
o da descoberta e da invenção. Antes, a burguesia nacional imita o atual estágio das elites
européias sem passar pelo estágio mais criativo do desenvolvimento capitalista.
Mais importante, a burguesia nacional mantém a estrutura institucional colonial: a
economia da ex-colônia não está integrada à da nação como um todo. Ainda é organizado
para completar as economias dos diferentes países-mãe. Isso, claro, é a essência da teoria
da dependência. Na economia dependente, a maior parte da população permanece fora
dos setores dinâmicos da economia. Mas é a cultura da burguesia nacional menos
conhecedora das forças em seu meio e, como o regime colonial anterior, alienada da
cultura nacional que é o meio para a libertação. Fanos argumenta que o retorno à cultura
primitiva faz parte da síndrome colonizadora. O colonizador convence os colonizados de
que sua cultura é bárbara e bestial.65
Sob o domínio colonial, a cultura nacional é uma cultura contestada cuja destruição é
buscada de maneira sistemática. Após um longo período de colonização, constantemente
sob ataque, tudo o que resta da cultura antiga são suas formas mais rígidas; porque não
foi permitido desenvolvê-lo de forma alguma, é completamente inadequado ao presente
e é extremamente conservador. Com o surgimento de uma nova cultura nacional na luta
contra o colonialismo, é sua imagem do colonialista que se torna defensor do estilo nativo.
Essa é a imagem deles da cultura colonizada: o colonizador é um criador da cultura
colonizada como o próprio colonizado.
Pág 65
Fanon mostra que o único caminho para uma nova cultura nacional é através de uma luta
nacional pela libertação da dominação.
Nos termos de Fanon, a libertação formal - a entrega do governo a uma burguesia nacional
pelo poder metropolitano - não cria uma cultura nacional. Fanon argumenta que a
ausência de luta, ou mesmo de participação, pelas massas colonizadas impede a
possibilidade de formar formas culturais liberadas. os colonizados retêm suas práticas
tradicionais, que são o produto da colonização, e a burguesia nacional adota a cultura da
metrópole. Nessa situação, "desenvolvimento" ocorre apenas dentro das restrições da
cultura metrópole. Esta é uma continuação do modelo colonial. Para Fanon, não há como
voltar atrás; sua solução não é nem a forma rígida do que resta da cultura pré-colonial
nem a cultura "desenvolvida" da metrópole. Através da luta pela libertação, uma nova
cultura revolucionária, que é o produto de ambas as culturas rejeitadas, emergirá.
Fanon extrai sua observação principalmente do cenário africano, mas eles se aplicam
diretamente à América Latina no século XIX e, de forma alterada, hoje. Para Fanon, assim
como para Memmmi, há apenas um caminho para sair da situação colonial (e
neocolonial): revolta. Na análise de Memmi, a revolta é necessária para acabar com a
colonização de sua fonte - o colonizador - e seu resultado:
Pág 66
a mentalidade dependente produzida no colonizado. Mas Memmi não descreve o que tal
liberação implica além da necessidade de uma mudança radical na estrutura política e
econômica das colônias. Ele sugere que a liberação (descolonização) requer vários passos
seqüenciais, passando pela independência nacional. Fanon insiste que tal revolução deve
ser violenta. A relação colonial é violenta; deve, portanto, acabar em violência. O
compromisso de independência sob a burguesia nacional deve ser combatido:
Pág 69
Ele também mostra as contradições que a Colônia Canalizadora pode gerar: uma vez que
a ideologia americana da educação (e na maior parte da ideologia ocidental da educação)
"assume o direito ... de um indivíduo de moldar a realidade em termos diferentes daqueles
em que é Como apresentado, os efeitos de longo prazo da escola é criar uma consciência
entre muitos estudantes e professores que estimula a necessidade de descolonização e
reconstrução. " (77) Na sociedade piramidal, no entanto, este direito é distribuído apenas
para aqueles que são menos propensos a querer mudar a estrutura piramidal.
O trabalho de Raskin nos traz um círculo completo: o imperialismo é derivado das
decisões e necessidades de um punhado de pessoas nas economias avançadas; isso resulta
em uma colonização dos países mais fracos militares e daquelas pessoas que, no período
pré-colonial, não estão condicionadas a viver em um mundo de ameaças e
contracorrentes; a colonização cria os colonizados, que estão algemados às cadeias de
dependência e degradação; mas as instituições dos países altamente desenvolvidos, que
são orientadas para a colonização de outros, devem, por sua própria natureza, também
colonizar as pessoas no próprio país desenvolvido. Assim, o imperialismo coloniza todos,
menos aqueles que tomam as decisões no centro da metrópole. A natureza da relação
colonial varia de situação para situação, mas também tem traços universais: a
desumanização de homens e mulheres para encaixá-los na estrutura colonial; a
incorporação de toda a cultura e história na visão de cultura e história do colonialista; e o
desenvolvimento de instituições que servem ao colonizador, não ao colonizado. A
aceitação da situação colonial pelos colonizados é crucial para o empreendimento
colonial. No estado piramidal moderno e na relação imperial moderna, a escolarização
desempenha um papel importante na obtenção dessa aceitação. Mas se a escolaridade e
outras formas de persuasão moral (incluindo a mídia) não são suficientes, a força ainda é
uma opção muito real para o colonizador.
O papel da escolarização no colonialismo
Ao mesmo tempo, as escolas são fornecidas para muito poucos entre os colonizados. Não
há um aumento geral da escolarização no sentido da Europa, e as formas anteriores de
educação são denegridas por causa de sua associação com a cultura colonizada. Foster
ressalta que a África logo percebeu onde estava o poder e, em sua condição colonizada,
queria apenas a formação acadêmica européia, embora essa educação tivesse pouco a ver
com sua própria realidade. Foi a única saída para a pobreza e ausência de cultura que a
situação colonial lhe atribuiu. & (No entanto, indo para as escolas acadêmicas europeias
cria uma dualidade permanente no colonizado. Memmi argumenta que o dualismo
lingüístico provoca uma catástrofe cultural no colonizado que nunca é completamente
superada.
A posse de duas línguas não é meramente uma questão de ter duas
ferramentas, mas na verdade significa participação em dois domínios
psíquicos e culturais. Aqui, os dois mundos simbolizados e transmitidos
pelas duas línguas estão em conflito; eles são aqueles do colonizador e
colonizados. (80)
A alta porcentagem de nações que escolheram dizer em estreitas relações com o antigo
país colonial após a independência formal atesta o sucesso da educação colonial em
"assimilar" o colonizador instruído no sistema cultural e econômico mundial dominado
pelos países desenvolvidos.
Pág 71
Como Clignet declara: "'Assimilação' torna-se a estrutura ideológica dentro da qual o
colonizador enfatiza a universalidade de sua própria cultura e reduz a aspiração de
mobilidade ascendente experimentada pelo colonizado em termos individuais e não em
termos coletivos". (81)
A mudança nas ex-colônias de uma economia baseada em matérias-primas para a mesma
industrialização (na América Latina nas décadas de 1920 e 1930 e na Ásia nos anos 50 e
60) aumentou a demanda por mão de obra qualificada e, portanto, pela escolarização. A
essa altura, as colônias eram formalmente independentes e, portanto, a escolarização
deveria ser muito mais orientada para a cultura nacional e para o desenvolvimento
nacional. No entanto, as escolas permaneciam no modelo europeu ou norte-americano,
muitas vezes ensinando ou enfatizando a língua colonial e usando um currículo. em
grande parte retirados dos antigos países coloniais. Os livros de história foram mudados,
e os primórdios da cultura nacional baseavam-se amplamente em sua interpretação pela
burguesia nacional, e assim o sistema escolar estava (e ainda) disponível principalmente
àqueles que entraram em contato com valores e normas européias ou norte-americanas.
A análise de Raskin da escolaridade como uma colônia de canalização é válida para a
situação de independência pós-formal em um país não industrializado, como é para os
Estados Unidos. A principal diferença é que as crianças não estão sendo canalizadas para
uma estrutura de autoridade na qual as decisões estão sendo tomadas por um grupo de
cidadãos, mas em uma que se estende ao centro do império. A escola em um país não
industrializado ensina as crianças a responder a padrões, qualificações e registros que são
definidos em outros países, bem como por outros grupos nesse país em particular. Mesmo
após a independência, por exemplo, ex-escolas secundárias coloniais britânicas enviam
seus exames para serem classificados na Grã-Bretanha. As "melhores" universidades
estão no exterior, e as melhores oportunidades também estão no exterior para aqueles que
têm sucesso na escola. Muitas vezes o professor é um estrangeiro, implicitamente
exaltando as virtudes do país de origem. Assim, a lealdade da professora à autoridade,
mas a autoridade, pode não ser nacional, ou, na melhor das hipóteses, é uma combinação
de culturas.
Em um país dependente, a colônia canalizadora afasta a criança de sua cultura e
necessidades econômicas e sociais de seu povo.
Pág 72
Esse processo, reconhecido por Memmi como parte da situação colonial, continua após a
independência formal, desde que a hierarquia local seja enganchada em uma hierarquia
que se estenda ao centro da metrópole. Raskin se concentra no papel da escolaridade na
prevenção do indivíduo de alcançar a autodefinição:
Uma vez que o aluno aceita a esteira escolar, o profilismo e a lesão informal da estrutura
piramidal, ele geralmente descobre que, para sobreviver, ele deve se tornar um mestre na
estratégia de fingir ou internalizar totalmente a visão da colônia canalizadora de onde ele
vai se encaixar. realidade. (82)
No país não industrializado, a escola é uma instituição que não apenas mantém o
indivíduo de autodefinição, mas impede que toda a sociedade se defina. As escolas são
uma extensão da estrutura metrópole, assim como a economia, a política e a estrutura
social. As escolas são uma extensão da estrutura da metrópole. Enquanto a burguesia
nacional em seu papel colonial dominar a estrutura piramidal doméstica, podemos esperar
que a escola impeça a libertação em dois níveis: a libertação da definição de cultura e
desenvolvimento pelas nações imperialistas de alta renda e a liberação do poder
doméstico. estrutura piramidal.
A análise de Raskin também nos leva à contradição primária do aumento da escolaridade
nas sociedades dependentes: as escolas são organizadas para que as crianças se
comprometam a ensinar as crianças a questionar. Quando o questionamento não pode ser
controlado, a estrutura piramidal e o sistema internacional também estão sob escrutínio.
Instituições coloniais podem aumentar exigir maiores recompensas para permanecer nas
funções atribuídas a eles. Quando o sistema não pode suborná-los suficientemente, eles
começam a atacá-lo. O aumento da marginalidade nos países periféricos pode representar
uma ameaça importante à estrutura pós-colonial.
Capítulo 7
Educação e ideologia da eficiência: Neocolonialismo dos Estados Unidos desde 1945
A Primeira Guerra Mundial marcou o começo do fim do Império Britânico e do
colonialismo direto e de livre comércio. A guerra estimulou a industrialização de
substituição de importações protegida por tarifas na Índia e, até certo ponto, nos grandes
países da América Latina. Os Estados Unidos aumentaram sua porcentagem de comércio
com o Terceiro Mundo, especialmente a América Latina, e começaram a substituir a Grã-
Bretanha como parceira comercial e investidora estrangeira da América Latina e Ásia. O
declínio da Grã-Bretanha foi marcado pelo retorno à proteção em 1932 e, em 1946
(Breton Woods), foram os Estados Unidos que se tornaram os principais defensores do
livre comércio mundial.1
A crise do sistema capitalista mundial na década de 1930 esticou seriamente as bases dos
acordos comerciais entre os produtores de bens primários e as economias industrializadas.
De 1929 a 1933, os mercados de exportação primária entraram em colapso e, com esse
colapso, a moeda estrangeira para importação de bens de consumo desapareceu.
Pág 306
A África e a Ásia ocupadas sofreram menos que os países latino-americanos mais
desenvolvidos (Argentina, Chile, Brasil e México), em parte porque uma fração menor
da população nos países de agricultura de subsistência estava no setor monetário. Como
a queda na demanda por importações foi maior nos Estados Unidos, países como Chile,
Peru e América Central, que tinham uma alta fração de seu comércio com os Estados
Unidos, perderam praticamente todas as suas receitas de exportação entre 1929 e 1933.
A crise também mudou os Estados Unidos. A singular dedicação à iniciativa privada
como base para a expansão econômica foi abandonada em 1932, e um novo sistema de
capitalismo, que vinha tomando forma desde a virada do século2 e se baseava na
intervenção e no apoio do Estado, tornou-se a forma dominante. A Segunda Guerra
Mundial transformou os Estados Unidos em uma economia controlada na qual o governo
e o capital privado trabalharam juntos. No pós-guerra, a política externa norte-americana
foi construída sobre uma ideologia da empresa privada apoiada pelo Estado3.
A conquista japonesa interrompeu o domínio colonial na Ásia, colocando em movimento
guerras nacionalistas de independência e revoluções na China, Indochina, Indonésia e
Malásia. A Índia e as Filipinas tiveram governo independente dois anos depois da guerra.
A guerra desempenhou um papel diferente na América Latina: por causa de sua
importância estratégica militar e uma fonte de matérias-primas, os Estados Unidos uniram
com sucesso as economias latino-americanas ao esforço de produção de guerra dos EUA.
Enquanto muitas indústrias nascentes tiveram dificuldades durante a guerra devido à
escassez de oferta, a produção orientada para a guerra floresceu4.
A guerra não só destruiu algumas relações coloniais e ajudou a construir outras, mas
também mudou a natureza da luta imperial que vinha ocorrendo desde o final do século
XIX. Os países da Europa Ocidental - anteriormente protagonistas dos conflitos entre as
forças capitalistas em expansão - foram fisicamente e economicamente destruídos pela
guerra. A União Soviética e os Estados Unidos surgiram como as novas potências
mundiais. A luta deslocada para um conflito entre o estado de U.S. (e militar) - apoiou
grandes corporações multinacionais privadas e a burocracia da União Soviética5.
Pág 307
Com sua tremenda base econômica, os Estados Unidos se tornaram o principal porta-
estandarte do capitalismo em todo o mundo, e decidiram romper os impérios britânico e
francês, apoiando movimentos anticoloniais de independência em suas colônias. Onde
esses movimentos de independência eram comunistas, no entanto, os Estados Unidos
usaram assistência militar e paramilitar para estabelecer e apoiar governos orientados para
os EUA, independentes dos antigos governantes coloniais.
A estrutura capitalista que os Estados Unidos impõem é muito mais "esclarecida" do que
a relação colonial entre a Grã-Bretanha e a França com as nações não-industriais.
Enquanto os ingleses e franceses buscavam vantagens comerciais diretas, os Estados
Unidos buscavam a estabilidade a longo prazo de burocracias estatais independentes,
“capitalistas”, que promovessem o crescimento econômico. Estabilidade e ordem através
de governos democráticos criariam vantagens de longo prazo para a empresa privada dos
EUA sem o custo moral e pecuniário de administrar colônias estrangeiras. Além disso,
em contraste com as políticas imperiais britânicas e francesas, os Estados Unidos não se
vêem como mantendo um império. A auto-imagem corporativa dos EUA é ajudar outros
países a se ajudarem: como os Estados Unidos são o exemplo mais bem-sucedido de
crescimento econômico nacional do mundo (apesar de contratempos ocasionais) -
argumentam essas empresas - a melhor estratégia para outros países aumentarem a
produção para imitar o modelo dos Estados Unidos. O futuro ideal neste modelo é uma
economia de bens de consumo do tipo dos EUA com altos níveis de consumo de material
per capita7.
Mas a Grã-Bretanha antes de 1914, o poder dos Estados Unidos após a Segunda Guerra
Mundial, permeia toda a economia e toda cultura. Nações que tentam romper com o
sistema econômico dominado pelos EUA sentem esse poder mais diretamente8. A
corporação norte-americana e a ajuda externa tentam “pacificamente” promover o tipo de
desenvolvimento que consideram melhor para os povos do mundo, mas manter o
funcionamento do império requer uma intervenção militar encoberta e aberta. Uma
grande parte da “ajuda” estrangeira é a militar, para operações da Agência Central de
Inteligência (escondida em outras despesas do governo), ou para treinamento e
equipamento da polícia9.
Pág 308
Ajuda externa
Essa mistura de humanitarismo e motivos de lucro, que estimularam a invenção do norte
na educação do sul por meio século após a Guerra Civil, também levou à concessão de
ajuda dos EUA para o desenvolvimento econômico e social a países estrangeiros quase
um século depois. Havia um sentimento geral de que os países ricos dos Estados Unidos
deviam dedicar alguns de seus recursos, privados e públicos, para ajudar as pessoas
pobres a alcançar padrões de vida mais altos.
Mas, mais importante, o crescimento econômico foi e continua a ser visto pela operação
de negócios dos EUA no exterior como a chave para a expansão de seus lucros e para a
“estabilidade” política. No final do século XIX, a ameaça a essa estabilidade era a revolta
populista, um movimento que atacava os grandes negócios e os laços entre grandes
corporações e funcionários públicos. As filantropias do norte e seus aliados, progressistas
aristocratas do sul, aplacaram a classe populista branca populista à custa dos negros. Na
Europa, no final da Segunda Guerra Mundial, a ameaça veio de comunistas na França,
Itália e Grécia, que pretendiam - pelo menos aos olhos dos políticos americanos - aliar
esses países à União Soviética contra os “interesses” dos EUA.
No entanto, desde a década de 1950 até o presente, os movimentos de guerrilha foram
interrompidos e, em alguns casos, derrubados, os EUA apoiaram governos favoráveis à
livre operação das empresas dos EUA nos países. No Sul, na Europa e em países de baixa
renda em todo o mundo, o crescimento econômico deveria cortar o apoio a esses
movimentos, eliminando a pobreza e a injustiça social. Com o aumento do consumo per
capita, o apoio às instituições capitalistas (como a propriedade privada, a livre iniciativa,
o livre comércio e o tratamento igual para o investimento estrangeiro) também deveria
aumentar.
Como a nação capitalista mais poderosa depois da guerra, os Estados Unidos tentaram
construir um novo sistema internacional que daria aos Estados Unidos acesso aos recursos
necessários para aumentar seu próprio consumo e fornecer os mercados e oportunidades
de investimento para as empresas privadas americanas que operam. no exterior. Este
sistema depende de cada país “independente”, em uma situação política que permite ao
capital americano mover-se livremente. Em condições ideais, o crescimento econômico,
as eleições democráticas e o sistema de livre empresa coexistem, produzindo uma réplica
do desenvolvimento dos EUA em pequena escala.
Pág 309
O governo dos EUA se sente forte o suficiente para manter esse sistema que enviou suas
tropas ao exterior continuamente desde 1945 para intervir em uma variedade de pequenos
e grandes conflitos. Quase 100.000 americanos morreram lutando na Ásia nos últimos
vinte e cinco anos, um valor igual a cerca de 40% das perdas americanas na Segunda
Guerra Mundial. Além da intervenção diretiva, a maior parte da assistência estrangeira
dos EUA foi para equipamento militar, treinamento militar e treinamento policial em
qualquer país que enfrente até mesmo a menor ameaça de conflito político interno.
Juntamente com a enorme presença militar dos EUA, o papel de manutenção da
estabilidade da ajuda externa para o desenvolvimento econômico tem sido provavelmente
pequeno. No entanto, faz parte de um esforço para promover o desenvolvimento
capitalista sem recorrer ao confronto militar. A assistência não tem sido particularmente
grande, nem há evidências de que ela até contribua para o crescimento econômico de
longo prazo, mas é grande o suficiente para ser usada como uma ferramenta eficaz de
alavancagem nas políticas econômicas e sociais dos países de baixa renda10.
Os Estados Unidos usam a assistência para a educação agora, pois os ingleses e franceses
usaram a assistência no século XIX (e no presente) para expandir a educação que é
complementar à manutenção da ordem no “império” e que subsidia a expansão do
empreendimento capitalista. , particularmente (para assistência dos EUA) corporações
multinacionais baseadas nos EUA e institutos financeiros11. Com a hegemonia dos EUA,
a expansão e as reformas da escolarização formal tornam-se meios de promover os
conceitos norte-americanos de uma sociedade “eficiente” e “democrática” 12.
Com a ajuda dos EUA, os países de baixa renda concentram-se em tornar suas economias
e sociedades mais “modernas”: em conjunto com as agências de assistência dos EUA,
eles definem “desenvolvimento” em termos de recursos de manejo e países industriais
(incluindo tecnologia). A gestão é, por sua vez, definida em termos da alocação desses
recursos escassos para fins competitivos. Uma vez que um dos principais objetivos da
política de desenvolvimento dos EUA é preservar ou melhorar as estruturas capitalistas
no Terceiro Mundo - estruturas institucionais que se encaixam em um sistema
internacional de comércio e investimento - a solução de eficiência para o
desenvolvimento
Pág 310
Isso implica que o crescimento sustentado e o progresso seguiriam se os sistemas
capitalistas imperfeitos funcionassem melhor e se disponibilizassem mais recursos
(incluindo técnicas). Completamente excluída dessa análise está a possibilidade de que a
estrutura econômica e social nacional e internacional defendida pelos Estados Unidos e
outras sociedades capitalistas seja ela própria responsável pela falta de recursos ou pelas
“ineficiências” observadas nos sistemas econômico e educacional.
As origens da política de educação dos EUA no Terceiro Mundo
A assistência à educação pela Agência para o Desenvolvimento Internacional (AID), o
Banco Mundial e outras agências, incluindo fundações privadas e sociedades
missionárias13, é ostensivamente projetada para promover o crescimento econômico,
mas o contexto de doações educacionais, bem como assessoria técnica que acompanha
eles, coloca certas condições no processo de desenvolvimento14. O objetivo é construir
instituições que complementem uma organização capitalista de produção - uma
organização econômica que canalize uma alta porcentagem do incremento da produção
para mãos de relativamente poucas pessoas e que aceite e até requeira investimentos
estrangeiros - e uma política que sirva a esse tipo de organização. estrutura hierárquica e
interesses militares dos EUA.
O uso da educação para alcançar tanto este objetivo como o propósito humanitário da
assistência externa tem uma grande semelhança com os esforços anteriores no sul. De
fato, as origens da política educacional norte-americana no Terceiro Mundo hoje podem
ser atribuídas ao trabalho missionário no Sul e no exterior e às políticas e métodos de
filantropia na virada do século.
Como os atuais programas de assistência ao desenvolvimento, os esforços do Conselho
de Educação do Sul, da Junta Geral de Educação de Rockefeller e de outros que trabalham
no Sul eram uma mistura de humanitarismo e promoção de um desenvolvimento
econômico consistente com as necessidades dos capitalistas que integravam os conselhos.
. A educação era vista como uma variável-chave em termos das metas humanitárias e de
crescimento econômico das filantropias. Ao longo do século XIX, os industriais
progressistas sentiram que a escola preparava as pessoas para a participação na boa vida
proporcionada pela sociedade capitalista.
Pág 311
Teoricamente, dar educação às pessoas pobres levou a empregos, renda e estabilidade
social. Ao mesmo tempo, é claro, uma força de trabalho escolar e renda mais alta no Sul
aumentariam tanto os mercados de bens industriais do norte quanto as oportunidades de
investimento.
Mas, como vimos, o crescimento da escolaridade estimulado com sucesso pelas
filantropias dificilmente alcançou os pobres - particularmente os negros pobres. Isso se
deveu à própria estrutura das filantropias: os conselhos de administração que
determinavam suas políticas incluíam os progressistas do sul da classe dos proprietários
de terras, que aconselhavam os conselhos em termos de seus interesses de classe. Na
virada do século, isso significava apaziguar o populista branco às custas dos negros, para
que a velha aristocracia mantivesse o controle dos fundos estatais. O significativo deste
conselho foi que era aceitável para os nortistas que controlavam os conselhos, apesar de
suas claras implicações para a educação negra. O capitalista do norte escolheu lidar com
a classe no Sul que eles sentiam mais próxima culturalmente e economicamente, e
escolheu seguir uma estratégia que obviamente tinha poucos benefícios a curto prazo para
o grupo mais pobre e oprimido da sociedade sulista - tudo isso para manter estabilidade
política na região e um crescimento econômico favorável ao capital do norte e aos seus
intermediários do sul.
Cinquenta anos depois, os Estados Unidos seguem a mesma estratégia de parcelar sua
assistência externa, privada e pública. O grupo cujo conselho e cooperação é mais
favorecido em países estrangeiros é o burguês progressista - como no Sul, geralmente
nascido da aristocracia proprietária de terras. São essas burguesias que estão mais
sintonizadas com o processo de desenvolvimento que os Estados Unidos desejam que
outros países sigam. Novamente, como no Sul, o grupo doméstico é geralmente mais
conservador do que os empresários americanos ou burocratas do governo que vêm para
ajudar nas discussões, os Estados Unidos costumam ser aconselhados por seus
intermediários a ir devagar para evitar conflitos locais sempre presentes.
Assim, o padrão de crescimento que emerge do apoio norte-americano às burguesias
locais é distribuído de forma extremamente desigual e é frequentemente acompanhado
por ditaduras cruéis. Enquanto as condições existentes em cada sociedade são
responsabilidade direta daqueles que controlam a
Pág 312
Sociedade, agências dos EUA escolhem lidar com esses intermediários em particular, em
vez de representantes que argumentam que o investimento privado estrangeiro e as
estratégias e metas de desenvolvimento dos EUA são inconsistentes com o bem-estar de
seu pessoal.
Paralelamente a esse pano de fundo da estratégia geral de desenvolvimento econômico
por meio da educação, a estratégia detalhada da educação internacional tem suas origens
nos esforços missionários na China, no Japão e no Oriente Próximo.
As instituições que foram formadas eram os Estados Unidos, construídas com dinheiro
americano, com professores americanos, usando programas, métodos e padrões
americanos. Apenas os estudantes eram estrangeiros, e os melhores deles foram
selecionados para treinamento adicional nos Estados Unidos. Foi esse fluxo inicial de
estudantes estrangeiros selecionados para faculdades americanas, geralmente
presbiteriana, batista ou metodista, que estabeleceu um padrão que ainda domina grande
parte do nosso pensamento sobre estudantes estrangeiros15.
As missões norte-americanas do final do século XIX e início do século XX operavam no
mesmo contexto de suas missões irmãs britânicas na mesma época16. Os Estados Unidos
expandiram suas fronteiras com base nas conquistas indígenas e na Guerra Mexicana. O
Destino Manifesto foi intensificado pelas teorias “objetivas” da supremacia racial
branca17.
As missões da Universidade de Yale, na província de Hunan, na China, eram típicas das
instituições americanas descritas por Bowles. Hunan tornou-se conhecido para uma
ampla audiência nos Estados Unidos quando uma empresa ferroviária americana
conseguiu uma concessão para construir uma ferrovia de Hankow para Cantão de uma
equipe de pesquisa enviada para Hunan pela ferrovia, viu grande potencial comercial na
província, especialmente no carvão depósitos lá. Ele recomendou:
Em primeiro lugar, os chineses devem ser encorajados a frequentar as faculdades
ocidentais. Em segundo lugar, as escolas poderiam ser estabelecidas em Hunan, o que
“varreria as incrustações que dificultam o progresso”. E, finalmente, as faculdades nos
Estados Unidos devem treinar os alunos no idioma chinês e nos costumes mercantis. Tal
sistema “nos daria controle sobre o comércio exterior na China, que os métodos atuais
nunca poderiam fazer”.
Pág 313
Armados com o espírito de converter os chineses de suas "máximas e antigas tradições"
e ajudar a abrir Hunan à influência e controle do Ocidente, a jovem Elis juntou-se à
corrida para Hunan. Eles fundaram uma escola, Yali, em Changsha. O currículo foi
ensinado em grande parte em inglês e se concentrou no desmame dos estudantes da
cultura chinesa para a anglo-saxônica. Os graduados de Yali encontraram emprego em
missionários cristãos ou em casas de negócios dedicadas ao comércio exterior. Com a
liderança de Sun Yat-sen, ele próprio educado no Havaí, os chineses com formação
ocidental, como os de Yali, organizaram uma sociedade reformista que atraía a maioria
de seus recrutas das escolas missionárias. Eles tentaram transformar a China em valores
e instituições européias.
As missões americanas tiveram essa forte influência onde quer que fossem estabelecidas.
Eles educaram os líderes políticos pró-ocidentais e as classes profissionais. Importante na
formação do sistema de ensino superior, eles continuaram a sua existência, mesmo em
face do nacionalismo. “No extremo exemplo da China comunista, a própria virulência da
expressão oficial antiocidental continua a ser um tributo à eficácia da influência
americana estabelecida através da educação” 19.
Os missionários americanos levaram a herança da Reconstrução a desafiar a ordem
estabelecida por meio de suas escolas. Em 1865, o norte dos EUA pretendia acabar com
o poder político e econômico dos proprietários de terras do sul que tentaram se separar da
União. Na década de 1890, a expansão dos EUA chegou às Filipinas e ao Caribe e os
missionários operaram consistentemente com a necessidade de formar grupos aliados ao
capitalismo americano. Como na Reconstrução, o principal resultado da atividade
missionária foi a criação de uma elite que forneceu liderança para a próxima geração. A
diferença entre as operações do Sul e as estrangeiras, no entanto, foi a falta de apoio
político e econômico dos negros no sul depois de 1877, em contraste com as relações
contínuas e estreitas com as elites treinadas por missionários na Ásia e no Oriente
Próximo. A diferença entre o fracasso do poder negro no Sul e o sucesso das burguesias
locais apoiadas pelos EUA nas Filipinas e no Oriente Próximo reflete a importância de
apoiar a escolarização com poder econômico e político para superar o controle da
aristocracia fundiária. Somente a escolaridade nunca foi suficiente para alcançar a
mobilidade social.
Pág 314
Durante a Segunda Guerra Mundial, o esforço de educação internacional dos EUA estava
necessariamente concentrado no Hemisfério Ocidental. Ao mesmo tempo, a urgência da
guerra combinada com o movimento geral em direção à expansão do governo para
anunciar uma nova era na ajuda externa. O setor público não se baseou apenas na
experiência das filantropias, mas também em seu pessoal. Sob a direção de Nelson
Rockefeller, o Escritório de Assuntos Interamericanos foi modificado com a formulação
e execução de “programas nos campos comercial e econômico que, pelo uso efetivo de
instalações governamentais e privadas, em áreas como artes e ciências, educação e viajar,
a rádio, a imprensa e o cinema, promoverão a defesa nacional e fortalecerão os laços entre
as nações do hemisfério ocidental ”. 20
O Escritório foi uma conseqüência da Carta do Rio, que foi projetada para contrabalançar
a influência alemã na América Latina. Sob a ameaça de que vários países da América
Latina permanecessem neutros ou pró-alemães, os Estados Unidos se mobilizaram para
garantir o controle dos recursos no Hemisfério Ocidental. Embora a maior parte do
esforço do Escritório fosse coordenar a produção de material de guerra e seu transporte,
ele também estava envolvido em influenciar o desenvolvimento de longo prazo da região.
Na Primeira Conferência de Comissões do Desenvolvimento Interamericano, em maio de
1944, foram feitas recomendações para governos e empresas no desenvolvimento dos
recursos do hemisfério. A conferência foi informada de que “com a força e a vitalidade
da iniciativa privada por trás de seu trabalho, a conferência pode fornecer uma liderança
ousada e vigorosa na direção de planos, pensamentos e esperanças para as oportunidades
e possibilidades quase ilimitadas de progresso econômico nos anos A conferência fez um
conjunto de recomendações que apoiavam a igualdade de tratamento dos investimentos
estrangeiros e domésticos no hemisfério, o incentivo à iniciativa privada no
desenvolvimento de recursos do hemisfério, a ajuda mútua para a exploração de petróleo
e o desenvolvimento da hidroeletricidade, a afirmação de livre comércio, através da
redução das barreiras comerciais e preferências e controles de inflação.22
Pág 315
(...) Com a pressão do não-escolar para uma educação mais primária e a pressão dos
industriais para uma mão-de-obra mais técnica e qualificada, muitos países descobriram
que não podiam atender a ambas as demandas. Em segundo lugar, os investidores
estrangeiros - que estavam mudando cada vez mais para a fabricação em países
subdesenvolvidos - foram particularmente influentes em pressionar por uma educação
técnica ampliada para atender às suas necessidades de mão-de-obra. Terceiro, os
formuladores de política externa dos EUA foram gradualmente convencidos pelos
estudiosos americanos de que o investimento em educação era um insumo necessário ao
crescimento econômico.24 Todas essas razões contribuíram para gastar mais em
educação para o crescimento econômico e estabilidade política necessária ao
desenvolvimento capitalista. O apoio à orientação norte-americana continuou devido ao
aumento do número de estudantes estrangeiros nos Estados Unidos e ao aumento do
envolvimento de universidades norte-americanas no exterior, enquanto a participação em
níveis mais baixos de escolaridade foi uma resposta a novas demandas.25
U.S. U.S.
Renda Renda a México Brasil
Ano Familiar Individual Ano Individual Ano Individual
1950 .375 - 1950 .50 1960 .52 (1)
1955 .366 - 1958 .53 .50 (2)
1960 .369 .338 1963 .55 1970 .64 (1)
1965 .360 .341 1968 .58 .57 (2)
1970 .355 .356
a
Apenas salários e vencimentos.
Fontes: Família e renda individual dos EUA: Peter Henle, “Explorando a Distribuição do
Rendimento Recebido”, Monthly Labour Review 95, no.2 (December 1972): 16-27.
Henle aponta que a principal razão pela qual a distribuição da renda familiar se torna mais
igual enquanto a renda individual está tendendo à desigualdade é provavelmente que um
número maior de famílias em 1970 do que em 1960 ou em 1950 tenha dois ou mais
membros trabalhando. Além disso, os pagamentos por transferências federais são mais
extensos. Assim, um indivíduo que pode aparecer como um trabalhador de baixa renda
pode pertencer a uma família que é de renda média.
México: 1950-63: David Barkin, “Acesso à educação superior e beneficente que reportam
no México”. Revista del Centro de Estudos Educativos, n. 3 (1971): 47-74. 1968: David
Barkin, "O Albatroz do México: a Economia dos EUA", (Documento apresentado à
Conferência da Universidade do Texas sobre Relações Econômicas México-EUA, abril
de 1973).
Brasil: Albert Fishlow, “Distribuição de renda em tamanho brasileiro” (Universidade da
Califórnia em Barkeley, 1972). Mimeografado. (2) Carlos Langoni, “Distribuição do
desenvolvimento econômico do Brasil”, Estudos Econômicos (São Paulo) 2, no.5 (1972).
De fato, apesar de uma taxa de crescimento médio de 2,2% per capita na América Latina
entre 1950 e 1968, o desemprego aumentou de 5,6 para 11,1% da força de trabalho entre
1950 e 1965, e a taxa de participação da população na força de trabalho caiu de 34,8 a
34,6 por cento (ver tabela 16).
A situação geral do emprego na América Latina como um todo é de desequilíbrio
entre a população na massa e as estruturas econômicas do hemisfério. O rápido
crescimento da população na região, sua rápida urbanização e a alta taxa de
crescimento da força de trabalho fazem parte de uma situação socioeconômica
complexa que pode ser sumariamente descrita como um emprego -
particularmente em áreas urbanas - mas também por extenso subemprego e baixa
taxa de participação31.
Pág 319
Tabela 16
População, força de trabalho e emprego
Na América Latina, 1950-65
PROEDES
01 CO2 AC 1950 Embaixada dos EUA "Acordo Básico de Cooperação Tecnca Bilingue
(Herschell V. Johnson) e entre o Brasil e os Estados Unidos da (Portugués/Inglés) Xerox
Ministério das Relações América" Complementa acordos
Exteriores Brasil (Raul existentes entre os dois governos.
F ernandes) incentivando (19/1250)
) 01 004 AC 1°53 Governo do Brasil e dos "Acordo sobre serviços tecnicos especiais 2 exemplares Renovação
EUA entre o Governo dos EUA e o Governo dos do Acordo.
Estados Unidos do Brasil' Em
conformidade com o acordo básico. de
190250, estabelece "As condições para a
prestação de serviços técnicos" especiais
(30.05/53)
01 009 AC 1961 MEC 8 USOM43 "Elementar)/ Education" "Ajuste" ao acordo Xerox da 1'. p
de 22 de junho de 1956 (18/C6/61 apresentam informações
Analysrs of the USOM educabon program ilegíveis (4 exemplares).
(inglês) Artigo de jornal.
01 011 AC 1966 MEC 8 USOWB "Elementary Eduaction" Acordo para Xerox. (3 exemplares)
criação de um "Centro Experimental de
Programa Piloto de Educação Elementar
na Escola Normal de Belo Horizonte"
(22A)6/55)
01 012 AC 1969 Brasil & USAIO *ND - Empréstimo n° 512 2018" "Acordo Xerox do Diário Oficial de
de Empréstimo" destinado ao ensino 16/12/69 (2 exemplares)
secundário (16/12/99). AID - programs
fina).
' 02 013 AC 1971 Brasil & USAID "Loan Agreement Between the Federativa Xerox (3 exemptares)
Republic of Brazil and the USA for
Fundamental and Secondary Education**
Acordo de empréstimo destinado ao ensino
fundamental e ao ensino médio (17X)6/71)
La 02 016 AC 1974 MEC (DEF/DEM) Education. Administration and Planning" Xerox. AC acompanhado
SUBIN e USAID Objetrra desenvolver melhores métodos de de três anexos datados de
planejamento. elevar a eliaênce 28,C6/74, 18/12/74 e
administrativa do MEC e das Secretarias 06.0275. (2 exemplares)
estaduais de Educação, visando a melhona
do ensino de 1° e 2° graus (07/03/74)
02 017 AC s/d Estado de Gotas e "Ailence for Progress L oan Agreement Xerox em inglês
USA ID amprovment of education In the state of
Goiás)" Empréstimo ao Estado de Goiás
para o ensino elementar e
proflsslonalizante
019 AT 1956 Estados Unidos do Atas das seis primeiras reuniões do As atas são precedidas
Brasil - Coordenação do escrrtôno do representante do Governo por urna carta de Apolóruo
programa de cooperação Brasileiro Junto a Administração de Sales. Representante do
técnica (ponto IV) Cooperação Internacional (120456) Governo Brasileiro
C6 022 CV 1964 MEC / Estado de Minas "Elementaiy Education** (30/06/64). Xerox (3exemplares)
Gerais / USAI°
023 CV 1964 MEC/USAID "Elernentary Education" Visa assegurar a Xerox de diflui leitura. Em
continuidade da "Assistência técnica - anexo, termo aditivo de
consulttiva da USAID" aos **centros 30/12/66 (3 exemplares)
regionais' doINEP (2505/64).
C6 026 CV 19E6 MEC (DESrUSAID) 'Seconclary and Industrial Edixation" Xerox acompanhado de
Assistencta aos conselhos e secretarias de termo aditivo - 18/a/69 (2
educação (31A33/65). exemplares).
027 CV 1915 MEC 1 USAID "Secondary and Industrial Education" Xerox (2 exemplares)
Objetiva a onentação e assessocamento á
educação secundaria além do fornecimento
de material e treinamento nos EUA
(31iO3.166)
C6 029 CV 1967 MEC - DES /USAID - Convênio de assessoria ao planeamento Xerox. Em anexo. o
do ensino superior'. Otnetiva promover regulamento do Convênio
assessoria á Diretoria do Ensino Superior
(0905/67)
033 CV 1968 MEC - DES I USAID "Secondary Education Planning and Xerox (2 exemplares)
Consuftant Services" Trata da vigência
das atividades da EPEM (17/01)68).
05 031 CV 1969 MEC (DES)NSAID "Secondary Education Planning and Xerox. há partes ilegiveis
Consuftant Services" Continuação do (2 exemplares - 69.70 e
convênio acima (de 17/01/69). estendendo- 71).
o a outros estados (17/1069)
032 CV 1989 MEC (DES)/USAID "Secondary Education Planning and Xerox Remete aos
Consuttant Services. Dá proseguimento ao convénios de 31C0/65 e a
projeto. "de assistência técnica a prorrogação deste de
conselhos e secretarias estaduais de 17/01/68 (3 exemplares)
educação". assim corno destina recursos
para EPEM (17/01/69)
06 033 CV 1989 MEC (DES) / USAID "Elementary Education Planning" Prevê Xerox (2 exemplares)
assistência técnica a E ATEP (Equipe de
Assistência Técnica ao Ensino Primário).
06131/69 - Correspondências e Portaria
sobre a extinção
•
06 034 CV 1970 MEC USAID "Secondary Education Planning and Xerox.
Consuttant Services" Apresenta "ai:nein/os
a longo prazo para a educação secundária
e para viabiliza-tis. determina o aumento
da equipe do EPEM (para 3:1 membros) e
sua estruturação permanente (1305/70)
06 036 CV 1971 MEC (DES)/USAID "Planejamento Educacional - Ensino Xerox: Seguem 3 termos
Fundamental. MEC - DEFI SU8IN". aditivos em anexo (2
Assegura recursos da SUBIN para o MEC exemplares).
(16/:3/71)
037 CV 1972 SUBIN. MEC /USAID "Convênio Setorial n° 3 SUBIN /MEC e Xerox. seguem, em anexo.
outras entidades" Convênio que engloba 7 termos aditivos: ver AC
vários projetos de educação (2003/72). - 18. dei703/72. (2
Termo adite o, e correspondência. exemplares)
06 038 CV 1972 SUBIN. MEC /USAID "Education Sector Loan Program- Xerox (2 exemplares)
Premem" Dota o Premem de recusas
financeiros para a implementação de um
programa de educação em ambito nacional
(12,01/72). Saldo do contra valor; -
Prestação de conta. - Manual técnico do
Acordo 512 - L061
e
07 041 CR 1%7 CONTAP Oficio interno do CONTAP dirigido ao Xerox. documento de OU
secretáno geral desse órgão (31 /0967)
07 042 CR 1966 USAID - (Stuart N (...) Cada dirigida ao Ministro Tarso Outra Xerox; Documento de
DOA) visando o acerto da prorrogação do Mijei' legibilidade.
'Convênio de Planejamento do Ensino Documento em inglês e
Superior o qual expira em 3306/63 urna -tradução não oficial'
(200668) para o português
• 07 043 CR 1959 Ministério da Fazenda Carta destinada ao Presidente do Banco Xerox; ver também CR 43
(António Delfim Ne go) Central solicitando-lhe a transferência de
Noili 2 000.0O0.00 para o estado de Goiás.
relativa a contrapartida de convênio com a
USAI() (1502/68).
07 044 CR /966 COCAP (Cícero de Cana do Coordenador da COCAP ao Xerox. Em anexo. "Carta
Oliveira Saltes) representante do Governo do Estado de convénio" (xerox) relativa
Goiás remetendo documento referente a ao mencionado
concessão de emprestimo da USAID empréstimo. Ver também
(a CR 42
03 048 DE 1961 Poder executivo "Dá nova redação ao Decreto n° 45.660 (...) Xerox
e da outras providencias" (07/0451)
06 C62 OE 1969 Poder Executivo • Dispõe sobre as atividades de cooperação Xerox (2 exemplares)
técnica internacional e da outras
providências" (21110/69)
14 C62 PA 1965 Câmara de Planejamento Ambos os pareceres tratam de apreciação 1') Trata-se xerox de dificil
do Conselho Federal de sobre "Convénio com a USAID para o leitura Acompanham-nas
Educação Planejamento do Ensino Superior - por isso. reproduções dos
(30,06/65) textos realizadas pelo
PROEDES; 2) Os
pareceres são introduzidos
por um "aviso** de 3006456
• 15 034 PR 19% 'MEG & Instrtute of I nter. "Improvement of Secondary educatiori" Xerox. em inglês (2
American Affairs" Projeto para a modernização do curriculo exemplares) - cópia
da educação secundária (230955). datilografada (inglés e
portugués)
5 15 C65 PR 1%6 Governo Brasileiro e a "Elementary Education - Constitui-se numa Xerox; em inglês
USOM primeira fase de programa destinado ao
ensino primaria e que prevê a ida de
professores brasileiros para os EUA. afim
de obterem treinamento (335556)
15 087 PR 1957 Brasil e ICA "E lementary Education- Objetra o Xerox em inglês
(International treinamento de 1030 professores. o
Cooperation desenvolvimento e publicação de materiais
Administration) para o ensino elementar e normal etc
(0840157)
15 0e1 PR 1958 MEC/USOM "Elementary Education Project (PA BAE E)" Xerox. em inglês
Previsões e planos financeiro para o ano
fiscal de 1958 (21 a 25/1158).
15 094 PR 1963 INEP (MEC)/USAID "Elementary Education (Survey)" Projeto Xerox, em inglês. (2
de assistência que inclue o pedido de exemptares) - Noticias de
equipamento publicações técnicas e o jornal.
envio de quatro especialistas para o Brasil
(08/10/63) - Aprender a ouvir e ouvir para
aprender (Publicação do PABAEE). BH,
1960
15 095 PR 1970 Brasil e OSNI) "Elementary Education Technical Support" Xerox, em inglês. (2
Projeto de avaliação do programa de exemplares).
Assistência técnica ao ensino elementar
(12105/70).
16 097 PU 1946 Venâncio Filho, Francisco "Contribuição Norte Americana à Educação Xerox
no Brast Revista artigo da " Revista
Brasileira de Estudos Pedagógicos", n° 25
vol IX. nov./dei 1946
16 102 PU 1965 Sérgio Guerra Duarte 'A presença americana na Educação Xerox
Nacional' Revista "Cadernos Brasileiros",
n° 46
16 103 PU 1974 Dulce Helena Alvares "Levantamento das pesquisas sobre Xerox
Pessoa Ramos assuntos brasileiros fedas em
Universidades Americanas (1960/1970r
Revista. Artigo incluído em 'Revista de
História°. vol. XLIX. n°99, juVset 1974
16 105 PU s/d Chrrstopher Mitchell 'MD and PoIrtics in Latin America" Xerox
Revista Artigo incluído na "Latin American
Research Revieér.
18 110 PU 1962 "Cartilha para o progresso" Cartilha Xpfrpx. Falta urna pagina,
material de divulgação da Aliança para o uma "advertência"
Progresso (2503/62). - Documentos da
Aliança para o Progresso (16008/195i )
20 115 PU 1968 Marcio Moreira Alves "Beabá dos MEC - USAID Livro. 2 exemplares (Xerox)
Apanhado geral sobre os acordos MEC -
USAID
20 116 PU 1969 MEC - EPEM Diretoria "Subsidio para o estudo do ginásio 2 exemplares
do Ensino Secundário polivalente". Livro Coletãnea de artigos
sobre o ensino secundário (maio de 1969).
20 117 PU 19EG Secretaria de Educação "I seminário dos ginásios onentados para o
e Cultura trabalho". Livro. Introdução geral ao terna e
apresentação do trabalho dos grupos
componentes do serninano
22 120 PU 1975 Faculdade de Filosofia. 'A Natureza. Fonte de Recursos" Livro 3 exemplares
Ciências e Letras de Rio Publicação didática sobre recursos
Claro. Apoio naturais e noções de ecologia
DEFPREMENNEC
22 122 PU s/d Lincoln Gordon 'O progresso pela aliança" Lwro Xerox
Digressão do embaixador dos EUA no
Brasil sobre a aliança para o progresso
23 124 PU 1965 Jornal do Brasil "Suplicy acha que convênio MEC - USAI D
vai reformar a Universidade Brasileira"
Jornal. Entrevista do Ministro da Educação
(20,07/55)
23 129 PU 1967 O Globo "Aragão defende o acordo MEC - USAID` Xerox. de dificil leitura
Jornal. Declarações do Reitor da UF RJ
(09,05167).
132 PU 1967 O Globo "Suplicy dá seu apoio ao novo acordo MEC- Xerox, de dificil leitura.
USAID -. Jornal. Declarações do Ministro
da Educação (06.05)67)
À‘
23 137 PU 1967 Correto da Manha "Aragáo ataca defendendo MEC - USAID". Xerox
Jornal Declarações do Reitor da UFRJ
(09•05/67)
23 136 PU 1967 O Globo "Assinado o novo acordo para o Xerox de difícil leitura
aperfeiçoamento do ensino Jornal. Sobre
o novo acordo para o ensino superior
(10.05/67)
23 1967
143 PU Jornal do Brasil °Estudantes analisam Educação- Jornal Xerox
Sobre a análise, por parte dos estudantes
dos acordos MEC - USAID (07/05/67).
24 143 PU 1967 Jornal do Brasil "Regime Integrar. Jornal. Editorial Xerox; de dificil leitura
(26.06167)
24 144 PU 1967 Correto da Manhã "CFE Parecer do MEC - USAID volta Xerox
Câmara Superior". Jornal. Sobre as
discussões no CFE. sobre o acordo MEC -
USAID (07/06/67).
24 145 PU 1967 Jornal do Brasil -Conselho de Educação quer que Câmara Xerox
do ensino raça exame do acordo MEC
USAID Jornal Sobre a apresentação do
acordo MEC - USAID pelo Conselho
Federal de Educação (07/0667)
24 147 PU 1967 O Globo **As sugestões epidémicas" Jornal Sobre Xerox. de difícil leitura
os Acordos MEC - USAID (2306/67)
24 148 PU 1967 O Globo "Instalada a comissão do acordo MEC - Xerox: de difícil leitura.
USAID" Jornal Sobre o ato de instalação
da comissão (13(6/67).
24 149 PU 1967 O Jornal "Estudante alvela um colega no Recife por Xerox de difícil leitura.
discordar da realização de uma passeata"
Jornal Sobre valéncia em mobilização
estudantil (1305/67).
24 151 PU 1967 Jornal do Brasil "Grupo Brasileiro inicia trabalhos do MEC - Xerox
USAID" Jornal Sobre o grupo permanente
de "planeiamento para a execução do
acordo MEC - USAID (13A35/67)
Ir
24 152 PU 1967 O Metropolitano "Imperialismo, MEC - USAID. ensino Xerox
Teses da U M E " Jornal Edição especial
do Órgão Oficial da União Metropolitana e
dos estudantes (junho de 1967).
24 155 PU 1968 Jornal do Brasil -Fim do acordo MEC - USAID foi decidido
pelos americanos" Jornal Depoimento do
Diretor da USAID no Brasil (03O7/68)
24 156 PU 1968 Jornal do Brasil 'MEC anuncia novo acordo com USAID
para ensino superior Jornal. Sobre novo
acordo a ser realizado (02/07/63)
•
24 157 PU 1968 Jornal do Brasil **O acordo da discórdia" Jornal
Observações sobre o acordo de 1964,
revisto e ampliado em 1967 e comcernenle
ao ensino universitário (0207165)
26 1E8 TE 1975 Linda Gane] Andrade PRE NEM - Uma experiência de novação
administrativa no setor educacional (1975)
M
26 170 TE 1965 Arrninda Fana Salomão O acordo MEC-USAID e a Reforma
Rangel Lima Universitária (Dissertação de Mestrado-
março/1965)