O Poder Político e o Estado

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O Poder Político e o Estado

O ESTADO

Jamais alguém viu o Estado. Quem poderia, no entanto, negar que ele é uma realidade? O lugar que ocupa
na nossa vida quotidiana é de tal ordem que ele não poderia ser daí retirado sem que, do mesmo lance,
ficassem comprometidas as nossas possibilidades de viver,
Georges Burdeau, O Estado

Questões orientadoras:
- O que é o Estado?
- Qual a legitimidade do Estado?
- O Estado existiu sempre com a mesma forma?
- Têm todos os Estados Modernos a mesma forma?
Estado - Associação política que estabelece soberania e jurisdição sobre territórios definidos por
fronteiras, exercendo autoridade através de um conjunto de instituições permanentes.

Embora existam diversas definições de Estado, todas elas contam com uma caracterização a partir de três
elementos:
i) Território
ii) População
iii) Aparelho do Poder.

Estes três elementos mantêm relações entre si, não sendo uma mera soma das partes. As partes interagem
constantemente. Desse modo, o Estado é uma sociedade integrada, caracterizada por uma interação
permanente entre a base social (população) e o aparelho do Estado (Direção e corpo do Estado).

Direção do Estado:
- Chefe de Estado
- Parlamento
- Governo

Corpo do Estado:
- Orgãos administrativos
- Tribunais
- Aparelho Militar
Direção do
Partidos
Estado

Comunicação Social
Corpo do
Associações
Estado

Base do
Estado

A FORMAÇÃO DO ESTADO

Não existem certezas acerca da formação dos primeiros Estados. Existem várias teorias explicativas acerca
do desenvolvimento desta forma de organização social com apoio de vários antropólogos, sociólogos e politicólogos.

De qualquer modo, podemos pensar o surgir do Estado de uma forma endógena. O homem vive, por
natureza (e como muitos outros seres) de forma gregária. Os vínculos de parentesco e residência, por exemplo, dão
origem a pequenas formas de organização, as chamadas sociedades primárias. Porém, os interesses de uma dada
sociedade primária colidem facilmente com os interesses de outra pequena sociedade primária, originando conflitos.

A necessidade de superar os conflitos e manter a paz levaram o homem a desenvolver formas de sociedade
mais complexas, que colocam o interesse geral acima dos interesses particulares dos grupos sociais primários. É
precisamente a essa forma de organização que chamamos de sociedade política ou Estado.
A QUESTÃO DA LEGITIMIDADE DO ESTADO

O homem nasceu livre e em toda a parte vive aprisionado. (…) Que é que pode torná-la [esta modificação]
legitima? (…)

Sobre as primeiras sociedades

A mais antiga de todas as sociedades e a única natural é a da família. Pelo menos, os filhos permanecem
ligados ao pai enquanto precisam dele para se conservar. Logo que esta necessidade cessa, o elo natural dissolve-se.
(…) Se continuam unidos, já não é natural, mas voluntariamente que o fazem, e a própria família apenas se mantém
por convenção. (…)

A família é portanto, se o quisermos, o primeiro modelo das sociedades políticas; o chefe é a imagem do pai,
o povo é a imagem dos filhos, e porque todos nasceram iguais e livres, só alienam a sua liberdade para benefício
próprio. (…)

Do facto de ser sempre preciso voltar a uma primeira convenção

“Encontrar uma forma de associação que defenda e proteja com toda a força comum a pessoa e os bens de
cada associado e pela qual cada um, unindo-se a todos, não obedeça, contudo, senão a si mesmo e permaneça tão
livre como antes.” É este o problema fundamental de que o contrato social dá a solução. (…)

Se, portanto, afastarmos do pacto social o que não é da sua essência, veremos que ele se reduz aos seguintes
termos: “Cada um de nós põe em comum a sua presença e todo o seu poder sobre a suprema direção da vontade
geral; e recebemos coletivamente cada membro como parte indivisível do todo.”

Imediatamente, em vez da pessoa particular de cada contraente, este ato de associação produz um corpo
moral e coletivo composto por tantos membros quanto os votos da assembleia, e esse corpo recebe deste mesmo ato
a sua unidade, o seu eu comum, a sua vida e a sua vontade. (…)

(…) O que o homem perde pelo contrato social é a sua liberdade natural e um direito ilimitado a tudo o que o
tenta e que pode alcançar; o que ganha é a liberdade civil e a propriedade de tudo o que possui.(…)

(…) só a vontade geral pode dirigir as forças do Estado de acordo com a finalidade da sua instituição, que é o
bem comum: pois, se foi a oposição dos interesses particulares que tornou necessário estabelecer as sociedades, foi
a concordância desses mesmos interesses que tornou isso possível. É o que nesses diferentes interesses há de comum
que forma os laços sociais, e, se não houvesse qualquer ponto comum sobre o qual todos os interesses estivessem de
acordo, não seria possível a nenhuma sociedade existir. Pois é unicamente na base desse interesse comum que a
sociedade deve ser governada.

Jean-Jacques Rousseau, O Contrato Social

Atividades

1. Defina Estado.
2. Apresente uma explicação para a formação do Estado.
3. Descreva o Estado de Natureza.
4. Parece-lhe que alguma vez existiu um Estado de Natureza?
5. Qual a legitimidade do Estado?
6. O que é o pacto ou contrato social?
CONFIGURAÇÕES DO ESTADO AO LONGO DA HISTÓRIA

• As tribos nómadas que vagueavam de terra em terra sem nunca se fixar eram, muitas vezes, povos
organizados e dotados de liderança. No entanto, uma vez que não tinham um território fixo sobre o qual
tivessem o domínio, não podem ser considerados Estados.

• Impérios da Antiguidade Pré – Clássica

Estados orientais – Abrange os impérios assírio, babilónico e egípcio e o reino de Israel, após fixação na
Palestina. Tinham grande ou média expansão territorial. O Poder estava centralizado nas mãos de um único
homem todo-poderoso – rei, faraó ou imperador. São Teocracias, isto é, o governo é feito por Deus (no Egipto
o próprio faraó é deus; em Israel é Deus que governa o Povo, sendo o rei um executante da Sua vontade).
Têm um exército e administração poderosos e o regime é, geralmente, totalitário. Não há quaisquer
garantias do indivíduo face ao Poder.

Antiguidade Clássica

• Polis Grega

Forma de Estado existente na antiguidade clássica, especialmente entre o século VI a. C. e o século III a.C.,
na zona do Peloponeso.

Características principais:

- Reduzida expressão territorial (as polis são pequenas ou médias cidades- Estado);

- Modelo democrático - o modelo de Atenas, no qual o indivíduo reconhece direitos próprios ao indivíduo:
liberdade política, direito de constituir família, direito à propriedade privada, etc. O Povo autogoverna-se
através de uma assembleia em que todos podem participar; os tribunais são constituídos por pessoas tiradas
à sorte, a administração pública é pequena e pouco eficiente.

Nota: Coexistiram com modelos de Estado totalitários.

• República e Império Romanos

Também no quadro da antiguidade clássica, mas na península itálica, Roma fundou uma civilização e um
novo tipo de Estado, entre os séculos II a. C e IV d. C.

Características principais:

- Pequena dimensão territorial inicialmente, mas com grande expansão até se transformar num império
(quase toda a Europa Ocidental e quase todo o Norte de África).
- Evolui da monarquia à república senatorial (quase sempre aristocrática, poucas vezes democrática) e depois
para uma monarquia absoluta.

- Vasta e eficiente administração pública, quer central quer local (o município foi uma criação do Estado
Romano).

- Criação do Direito.

• Organização Política Medieval

Entre os Séculos V d. C. e XV.

Principais características:

- Descentralização política através dos territórios feudais, combatida a partir do século XIII com o movimento
da centralização do poder real.

- Predomínio da forma de governo monárquica, inspirada pela doutrina da origem divina do Poder (omnis
potestas a Deo).

- A partir da Magna Carta (1215) aumenta a lista dos direitos e garantias individuais perante a Coroa.
Começam os primeiros parlamentos, em que aparece representado, para além da Nobreza e do Clero, o
Povo, através dos “homens bons dos Concelhos”.

• Estado Moderno

O Estado Moderno surge em meados do século XV e afirma-se na Europa dos séculos XVI a XVIII. Teve por
base o desenvolvimento da economia mercantil e a libertação das sociedades do domínio da Igreja. A forma
de governo mais usual é a monarquia aristocrática.

O Estado Moderno evoca a ideia de Poder eficaz e organizado. Um Poder fixado em instituições, que garante
a segurança contra perigos internos e externos.

Vemos nas sociedades políticas primitivas a autoridade política como uma forma de Poder semelhante à
autoridade parental. Outras vezes, o Poder secular resulta de uma extensão do Poder religioso. Mais tarde,
no feudalismo, o Poder é fortemente personalizado, concentrando-se na pessoa que governava. Na
sociedade política moderna, o Poder está institucionalizado. Não é o chefe de família ou o sacerdote ou o rei
quem conduz o Povo, mas o Estado, uma instituição despersonalizada.

O nascimento da burguesia, uma classe média urbana, ligada ao comércio interno e ao comércio
internacional marítimo, data desta altura.

O Estado Moderno é uma instituição social dotada de um Poder racional separado da pessoa dos governantes
e consentido pelos governados.

O conjunto dos governantes e governados constitui a população do Estado, que vive num determinado
território, segundo reras de conduta definidas pelos órgãos do Poder e salvaguardada pelas autoridades
públicas.

A existência do Estado pressupõe, portanto, a organização política de um povo que controla soberanamente
um território com o principal objetivo de assegurar o bem-estar social da coletividade. Por isso se diz que os
elementos do Estado são a população, o território e o aparelho do Poder.

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