TCC-SUELEN PIRES DE SIQUEIRA IF (1)
TCC-SUELEN PIRES DE SIQUEIRA IF (1)
TCC-SUELEN PIRES DE SIQUEIRA IF (1)
GOIANO
CAMPUS MORRINHOS LICENCIATURA EMPEDAGOGIA
TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO
MORRINHOS-GO
2023
SUELEN PIRES DE SIQUEIRA
MORRINHOS-GO
2023
Repositório Institucional do IF Goiano - RIIF Goiano
Sistema Integrado de Bibliotecas
Com base no disposto na Lei Federal nº 9.610/98, AUTORIZO o Instituto Federal de Educação, Ciência
e Tecnologia Goiano, a disponibilizar gratuitamente o documento no Repositório Institucional do IF
Goiano (RIIF Goiano), sem ressarcimento de direitos autorais, conforme permissão assin ada abaixo,
em formato digital para fins de leitura, download e impressão, a título de divulgação da produção
técnico-científica no IF Goiano.
Ciente e de acordo:
(Assinado Eletronicamente)
Orientador(a)
(Assinado Eletronicamente)
Membro
(Assinado Eletronicamente)
Membro
AGRADECIMENTOS
Hoje, ao finalizar este trabalho de conclusão de curso, não posso deixar de expressar
minha mais profunda gratidão e reconhecimento a cada um de vocês.
Marcus Vinicius, você foi além de um simples orientador, tornou-se um amigo e um
guia ao longo desse caminho acadêmico. Sua paciência, sua sabedoria e seu comprometimento
foram fundamentais para que eu pudesse alcançar esse objetivo. Obrigada por ter me ensinado
tanto e por ter me ajudado a desenvolver habilidades tão importantes para o meu crescimento
pessoal e profissional. Sem a sua orientação, não teria sido possível concluir este trabalho.
Meus pais, não há palavras que possam descrever a importância que vocês têm em
minha vida. Obrigada por sempre me apoiarem, por me encorajarem, por me amarem
incondicionalmente e por acreditarem em mim mesmo nos momentos em que eu não acreditava.
Vocês são a minha base, a minha força, e eu sou muito grata por ter vocês ao meu lado sempre.
E a Deus, agradeço por ter me dado saúde, força, coragem e perseverança para superar
todos os obstáculos que surgiram em meu caminho. Agradeço por ter colocado pessoas
maravilhosas em minha vida, como o meu orientador e meus pais, que me ajudaram a chegar
até aqui. Agradeço por todas as bênçãos que recebi e por cada oportunidade que me foi dada.
Não poderia concluir esta dedicação sem mencionar a importância que cada um de vocês
teve na realização deste trabalho. A partir de agora, seguirei adiante sabendo que tenho o apoio
de pessoas tão especiais como vocês e isso é o maior presente que poderia receber.
Mais uma vez, agradeço do fundo do meu coração a cada um de vocês. Sei que esta é
apenas uma das muitas conquistas que alcançarei em minha vida, e é com imenso orgulho que
divido este sucesso com vocês.
Resumo
O presente estudo visa analisar as mudanças no contexto infância no Brasil antes e depois da
implementação da Lei da Criança e do Adolescente (ECA), com o objetivo de compreender a
evolução dos direitos e proteção das crianças e adolescentes no Brasil. A metodologia utilizada
se baseou em pesquisa bibliográfica e busca identificar as influências da infância permeadas
durante anos, bem como os avanços e desafios na proteção dos direitos das crianças e
adolescente. Além disso, buscou analisar os olhares para a infância até a garantia dos direitos
da infância e adolescência, ressaltando a importância da continuidade do movimento social pelo
fortalecimento da proteção desses direitos para o desenvolvimento econômico e social do
Brasil.
The present study aims to analyze the changes in the childhood context in Brazil before and
after the implementation of the Child and Adolescent Statute (ECA), in order to understand
the evolution of the rights and protection of children and adolescents in Brazil. The
methodology used was based on bibliographic research and aimed to identify the influences
of childhood over the years, as well as the advances and challenges in protecting the rights of
children and adolescents. In addition, it sought to analyze the perspectives on childhood, from
the guarantee of their rights, emphasizing the importance of the continuity of the social
movement for strengthening the protection of these rights for the economic and social
development of Brazil.
INTRODUÇÃO
A concepção de infância é um tema que tem sido discutido há décadas no Brasil. Com
a promulgação do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) em 1990, houve uma mudança
significativa na forma como a sociedade brasileira enxerga a infância e o papel que ela
desempenha na sociedade. Esta pesquisa tem como objetivo analisar as transformações na
concepção de infância no Brasil, comparando a visão pré-ECA com a pós-ECA. Serão
abordados aspectos históricos, sociais e culturais que influenciaram essa mudança, bem como
as implicações que ela trouxe para a vida das crianças brasileiras. A análise comparativa
permitirá compreender as conquistas e os desafios ainda enfrentados na promoção e proteção
dos direitos das crianças no Brasil.
O estudo da infância é um tema de grande relevância e complexidade que tem sido
abordado por diversos autores ao longo da história. René Descartes (1987), Jean-Jacques
Rousseau (1995), Karl Marx (1973) e William Corsaro (2011) são alguns dos pensadores que
contribuíram significativamente para o entendimento social da infância. As concepções desses
autores sobre a infância e sua relação com a sociedade influenciaram a forma como a infância
é vista e tratada em diferentes períodos históricos. Com o advento do Estatuto da Criança e do
Adolescente (ECA) em 1990, houve uma mudança significativa na forma como a sociedade
brasileira enxerga a infância e o papel que ela desempenha na sociedade. Nesse sentido, a
presente pesquisa busca analisar as transformações na concepção de infância no Brasil,
comparando a visão pré-ECA com a pós-ECA, a fim de compreender as conquistas e os desafios
ainda enfrentados na promoção e proteção dos direitos das crianças no país. Para tanto, a
contribuição teórica dos autores mencionados será fundamental para a construção do referencial
teórico que embasará o estudo.
Rousseau (1987) caracteriza a infância como um estado de liberdade, espontaneidade e
imaginação que contraria a lógica do "eu pensante" puramente racional. Descartes (1987)
acreditava que a queda do homem nesse estado ocorreu pela primeira vez no nascimento da
criança e nos anos de existência, e que é o fato de dar à luz um filho que faz da alma a primeira
prisão. Ele argumenta que é quase impossível que os juízos das crianças sejam tão puros ou
sólidos quanto seriam se tivessem o uso inteiro da razão desde o nascimento e não fossem
guiados por outros.
Corsaro (2011) destaca que a criança não era vista pela sociedade como um ser ativo e
participante do social, e que só após 18 anos surgiriam os cursos voltados para essa área, o que
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marcou o início dos estudos da infância. Partindo desse pressuposto, surgiu a necessidade dos
estudos sobre a história da infância no Brasil, para que houvesse uma compreensão do que é
criança e como ela se desenvolve. Assim, esclarece Corsaro.
1. DEFINIÇÕES DE INFÂNCIA
A infância é uma fase fundamental do desenvolvimento biológico de cada indivíduo,
que se inicia no nascimento e se estende até a adolescência. Durante esse período, ocorrem
diversas transformações físicas e psicológicas que moldam a personalidade e as habilidades
cognitivas do indivíduo. É na infância que são estabelecidos os alicerces do aprendizado, da
socialização e do desenvolvimento emocional. Diante da importância da infância no
desenvolvimento humano, surge a necessidade de compreender as mudanças na concepção de
infância no Brasil ao longo do tempo.
O estudo da infância teve início no período da modernidade com diferentes concepções
e percepções sobre o papel da infância na sociedade. Dentre os pensadores que contribuíram
para a definição de conceitos sobre a infância, destacam-se Descartes e Rousseau. Assim a
análise histórica permite entender que a ideia de infância é uma construção social e cultural,
influenciada por diferentes contextos históricos e culturais, bem como por fatores políticos,
econômicos e sociais que condicionam a forma como a infância é concebida e tratada na
sociedade.
Como salienta Kramer (1982), a ideia de infância não é universal e foi moldada
historicamente de acordo com as mudanças na sociedade. Antes da sociedade capitalista, a
criança tinha um papel produtivo direto, mas com a ascensão da sociedade burguesa, a partir do
século XVI, a criança passou a ser vista como alguém que precisa ser cuidada, educada e
preparada para o futuro. A sociedade capitalista, urbano-industrial, trouxe mudanças
significativas na inserção e papel social da criança na comunidade a partir do século XIX.
Enquanto na sociedade feudal, que vigorou da Idade Média até o século XV, a criança exercia
um papel produtivo direto, assim que ultrapassava o período de alta mortalidade infantil. Essa
compreensão histórica da infância é essência para analisar as mudanças ocorridas na concepção
de infância no Brasil antes e depois da implementação do Estatuto da Criança e do Adolescente
(ECA) em 1990, como será discutido neste trabalho.
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Na modernidade, a ideia de René Descartes (1987) ganha destaque por enfatizar a razão
como ferramenta essencial para compreender o mundo. Para ele, a razão humana é capaz de
fornecer um conhecimento sólido, que pode conduzir a humanidade a um futuro melhor. A visão
cartesiana influenciou diversas áreas do conhecimento e, no campo da educação, considerava a
razão como um caminho para aprimorar a humanidade. Nesse sentido, a concepção de infância
na modernidade também foi influenciada por essa visão racionalista, que via a criança como
uma mente em desenvolvimento que precisava ser moldada através da educação. Portanto,
Descartes teve um papel significativo na transformação da concepção de infância na
modernidade, onde a razão foi valorizada como um caminho para o progresso humano.
E assim ainda pensei que, como todos nós fomos crianças antes de sermos
homens, e como nos foi preciso por muito tempo sermos governados por
nossos apetites e nossos preceptores, que eram amiúde contrários uns aos
outros, e que, nem uns nem outros, nem sempre nos aconselhassem o melhor,
é quase impossível que nossos juízos sejam tão puros ou tão sólidos como
seriam se tivéssemos o uso inteiro de nossa razão desde o nascimento e se não
tivéssemos sido guiados senão por ela (DESCARTES, 1987, p. 15).
corpo, assim como acontece com seus pais. Ao contrário da visão de Descartes, que enfatiza a
importância da razão na formação do indivíduo, essa infância é marcada pela falta de
oportunidades e pelo comprometimento do desenvolvimento físico, psicológico e cognitivo.
Portanto, embora a visão de Descartes seja relevante, é preciso considerar as desigualdades
sociais que afetam a análise geral de conceito de infância. Contudo, é importante destacar que
a visão de Descartes não foi a única a influenciar a compreensão da infância ao longo da
história.
Outro importante filósofo que trouxe contribuições significativas para essa temática foi
Jean-Jacques Rousseau. De acordo com Rousseau (1987) na modernidade, a infância é vista
como um período crucial para o desenvolvimento humano, onde o indivíduo pode ser
reconhecido em sua forma mais natural. Nessa perspectiva, a infância é vista como um
momento de formação do caráter, onde a pessoa pode se tornar uma pessoa natural. Esse período
se estende desde os primeiros anos de vida até a adolescência, que se inicia aos quinze anos, de
acordo com Rousseau, logo precedendo a fase adulta. Dessa forma, a infância é vista como uma
etapa fundamental para a formação do indivíduo, onde é possível desenvolver suas habilidades
físicas, psicológicas e cognitivas para se tornar um adulto saudável.
Durante a infância, as habilidades de uma criança são naturalmente desenvolvidas. No
entanto, se uma criança é forçada a vender sua força de trabalho, ela perde sua liberdade de
escolha e não consegue desenvolver as habilidades que Rousseau considerava essenciais para
todos os seres humanos. Essa visão romântica da infância não se aplica igualmente a todas as
crianças, especialmente aquelas que vêm de famílias desfavorecidas. A infância da classe
dominante pode ser caracterizada por liberdade e oportunidades de desenvolvimento, enquanto
a infância da classe desfavorecida muitas vezes é marcada pela falta de acesso a recursos e
oportunidades, limitando assim o potencial de desenvolvimento.
Essa objeção traz à tona a ideia de que a criança, em sua essência, é um ser bom e que
é a sociedade que a corrompe. É possível relacionar essa ideia com a visão de Descartes, que
afirmava que a primeira prisão da alma é o nascimento. Dessa forma, pode-se articular com a
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ideia da infância da classe desfavorecida, que, nos primeiros anos de vida, é corrompida pela
sociedade na qual está inserida. Rousseau aborda essa questão em duas passagens importantes
de sua obra Emílio. Na primeira, ele defende que "Tudo é bom quando tudo sai da mão do autor
das coisas, e tudo degenera na mão do homem" (ROUSSEAU, 1995, p. 7), destacando a
importância das condições sociais na formação do indivíduo. Na segunda passagem, no final
do livro Emílio, Rousseau afirma que "Os homens são maus" e que as pessoas nascem boas,
mas são corrompidas pela tristeza e pela experiência constante sem provas (ROUSSEAU, 1995,
p. 392). Inspirado pelo pensamento de Rousseau, entende-se que a criança é um ser
essencialmente bom, mas que pode ser corrompido pelas condições sociais em que vive.
Em vista disso, Descartes como Rousseau possuem visões distintas sobre a infância.
Enquanto Descartes acreditava que a criança era como uma tábula rasa, sem conhecimentos
inatos e, portanto, capaz de ser moldada pela sociedade e pelos ensinamentos, Rousseau
acreditava que a criança já nasce com uma natureza pura e boa, mas é a sociedade que a
corrompe. Para Rousseau, a infância é um momento fundamental na vida de uma pessoa, pois
é nessa fase que se deve aproveitar para instruir como ser social e retratar como ser sensível. Já
para Descartes, a infância é um período em que a mente é como uma folha em branco e,
portanto, pode ser preenchida com conhecimentos e valores.
Outra diferença entre os dois pensadores é a importância dada à infância em si. Para
Descartes, a infância não era vista como um período de grande importância, pois a mente ainda
não estava completamente formada. Para ele, o período mais importante da vida era a idade
adulta, quando a mente já estava mais madura e podia ser usada de maneira mais eficaz. Já para
Rousseau, a infância era vista como um momento essencial, em que a natureza pura da criança
deveria ser preservada e protegida. Ele acreditava que a sociedade deveria se adaptar à natureza
da criança, e não o contrário.
Apesar das diferenças, há também algumas semelhanças entre as visões de Descartes e
Rousseau sobre a infância. Ambos acreditavam que a educação era fundamental para a
formação do indivíduo, embora tivessem ideias diferentes sobre como essa educação deveria
ser feita. Além disso, tanto Descartes quanto Rousseau viam a infância como um período em
que a mente estava mais aberta e receptiva ao conhecimento, o que reforçava a importância de
uma boa educação desde cedo.
Embora esses pensadores tenham levantado importantes questões sobre o conceito de
infância, contudo, é na visão de Rousseau que se encontra maior pertinência no contexto da
modernidade, onde a desigualdade social afetou profundamente a infância das classes
desfavorecidas. Por sua vez, Com Marx, vai além das reflexões filosóficas e apresenta uma
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análise crítica da realidade social e econômica que afeta diretamente as condições de vida das
crianças.
Na modernidade, a discussão sobre a infância se expandiu para incluir sua dimensão
histórica e cultural, com todas as suas subjetividades. No entanto, Karl Marx trouxe uma
perspectiva crítica ao caracterizar a infância no contexto do modelo capitalista. Segundo Marx
(1980), a família inicialmente se posiciona como uma forma de propriedade entre os seres
humanos, na qual esposas e filhos são exteriorizados como os primeiros "escravos" dos seres
humanos. Em O Capital, Marx (1973). aborda o problema do trabalho e seus efeitos no
desenvolvimento do modo de produção capitalista, incluindo a exploração da força de trabalho
feminina e infantil na classe trabalhadora. Com o advento da grande indústria e das máquinas,
o capital impulsionou a divisão do trabalho na manufatura, o que acomodou a força dos
trabalhadores, classificados como "qualificados" ou "não qualificados", com base em sua
maturidade, força e desenvolvimento.
Com base no conceito de infância, é importante destacar que, uma vez que ela se torna
objeto de estudo, está sujeita a diferentes formas de vivência, percepção do tempo, cultura e
visões de quem a estuda. Considerando o contexto brasileiro e as teorias defendidas por Marx,
é possível compreender que o processo de formação da infância é influenciado pelo capitalismo.
Em outras palavras, a infância é afetada pelas relações sociais, econômicas e culturais que
permeiam a sociedade e que são moldadas pela lógica do mercado e da produção de
mercadorias.
Boris (2006) observa que a informação disponível sobre os povos nativos no Brasil
durante a colonização é limitada. Embora alguns padres tenham descrito diferentes tipos de
nativos, enfatizando sua rebeldia ou passividade, há poucos detalhes sobre a identidade desses
grupos. É possível referir, no entanto, que os povos nativos tinham uma infância incluída em
seu modo de vida, embora essa fase não fosse valorizada.
Rousseau (1987) defende que a infância é uma fase da vida marcada pela naturalidade
e liberdade. Com base na passagem de Boris (2006), pode-se inferir que as crianças nativas
também gozavam de certo grau de liberdade, ainda que dentro dos limites estabelecidos pela
sobrevivência da comunidade. Ao fazer uma analogia com o conceito de “criança livre” das
crianças nativas e possível compreender como era essa fase da infância para eles, ao relacionar
com Corsaro (2011), onde a infância é compreendida como um período de transformação em
um membro plenamente funcional da sociedade, assim com base nas informações de Boris
(2006) as crianças nativas era um membro funcional. Tanto para as crianças nativas quanto para
as não nativas, esses processos ocorrem principalmente por meio de interações familiares e
grupais.
Vale-se do conceito de "reprodução interpretativa", por ele criado - que
expressa no termo "reprodução" a restrição das condições da estrutura social
e de reprodução social, além dos processos históricos que constituem
sociedades e culturas e afetam as crianças e infâncias como suas integrantes,
para lembrar que "as crianças não se limitam a internalizar a sociedade e a
cultura, mas contribuem ativamente para a produção e mudança culturais"
(CORSARO, 2011, p. 32)
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nativos, que viviam conforme suas tradições e necessidades, caçando e pescando, tinham um
modo pedagógico próprio para ensinar suas crianças. As crianças nativas eram livres para
aprender de forma natural e culturalmente adequada. A chegada dos portugueses e a estratégia
de catequizar as crianças e a imposição de uma cultura estrangeira pode-se ser descrita como
caóticas e traumáticas no marco da história do Brasil.
Ao adotar uma perspectiva marxista, torna-se possível entender o processo de
colonização do Brasil como uma expansão da dominação burguesa em prol da reprodução do
capital. A chegada dos portugueses e a exploração dos recursos naturais tinham como principal
motivação a acumulação de riquezas e a expansão do capitalismo. Além disso, a catequização
das crianças nativas pelos jesuítas era uma das principais ferramentas utilizadas para controlar
a população nativa e estabelecer a influência portuguesa na região brasileira.
Embora a ideologia marxista seja mais conhecida por sua análise econômica e política,
vale destacar como suas ideias podem ser aplicadas à história da infância no Brasil. De fato,
Marx argumentava que o trabalho era uma atividade fundamentalmente humana, mas que no
capitalismo, o trabalho se tornava alienado e desumanizado, resultando em exploração dos
trabalhadores e acúmulo de capital. A catequização das crianças pelos jesuítas pode ser vista
como exemplo de como o trabalho e a educação foram utilizados para controlar e explorar uma
população.
De acordo com o livro "História da Criança no Brasil" de Mary Del Priore (2011), um
fragmento dos relatos dos jesuítas do século XVI revela a disposição dos nativos em confiar
seus filhos ao ensino dos padres. Esse desejo foi percebido especialmente pelas figuras
religiosas jesuíticas, que se tornaram a principal referência cultural e moral para as tribos dos
grupos. Nesse sentido, a construção de alianças teve início pelas crianças, que foram vistas
como uma oportunidade de estabelecer uma relação produtiva entre colonizadores e nativos.
Mary Del Priore (2011) também destaca que, em um outro fragmento histórico, houve
uma "nova cristandade" que se formou a partir do trabalho dos jesuítas no Brasil no século XV.
Nessa época, os padres recebiam cartas de diversos locais relatando os progressos dos meninos
na doutrina, no entanto, havia relatos que as crianças nativas estavam repreendendo seus pais e
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denunciando aqueles que insistiam em manter seus costumes nativos. A educação oferecida
pelos jesuítas, portanto, consistia em um processo de aculturação, no qual eram introduzidas as
práticas, valores e símbolos dos colonizadores.
A evangelização dos meninos no Brasil foi uma escolha feita pelo padre Serafim Leite,
que viu na instrução não apenas um meio para transformar os costumes, mas também uma forma
de disseminar a doutrina. Os meninos recebiam uma educação que incluía leitura, escrita, piano,
canto e dança, além de aprenderem latim e a tocar flauta e violão. Essa forma de ensino diferia
daquela ministrada nas cidades e era direcionada a uma "clientela" distinta. Embora houvesse
o uso de castigos físicos, os sacerdotes evitavam aplicá-los pessoalmente e preferiam delegar
essa tarefa a alguém de fora da instituição. A doutrina era transmitida por meio de perguntas em
forma de diálogo.
Enquanto os jesuítas também estavam envolvidos no ensino no Brasil, o processo de
ensino das crianças nativas era longo e gradualmente superado pelos missionários. As crianças
eram consideradas facilmente manipuláveis devido ao seu modo de vida. Os jesuítas
perceberam que os nativos não eram capazes de acompanhar o trabalho árduo necessário para
se adequar à burguesia e, portanto, muitos missionários retornaram às suas aldeias, deixando as
missões inacabadas.
Desde a colonização, a infância não era compreendida como um período distinto na vida
da criança, mas sim como uma fase de transição para a vida adulta. A sociedade brasileira,
apesar da negligência, sempre ligou a criança à educação. A construção da infância no Brasil
foi influenciada por diversos momentos históricos, como o período Pombalino em 1760, o
período Joanino em 1808, a industrialização, o período imperial em 1822, a República Velha
em 1889 e a Segunda República em 1930. Durante esses períodos, o trabalho infantil se tornou
comum, principalmente entre as crianças de famílias pobres, o que resultou na falta de tempo
para a educação dos menores.
Anos depois, a criança foi levada para outro cenário, após tanto tempo de negligência.
Isso levou à criação do Código de Menores, que vigorou entre 1927 e 1979, durante a transição
para a nova república. Esse código estabeleceu uma estrutura de codificação para lidar com a
situação das crianças e adolescentes, que até então era tratada de forma inadequada. No entanto,
esse código foi substituído pelo Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), que é a legislação
atual no Brasil.
O período Pombalino, em 1760, foi um marco importante para a educação no Brasil,
pois foi nessa época que a criança começou a construir sua identidade por meio da instrução.
No entanto, em 1759, a expulsão dos jesuítas do país trouxe consequências negativas para a
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Após a expulsão dos jesuítas, a educação das crianças indígenas foi deixada de lado.
Contudo, com o advento do pensamento iluminista, houve uma reforma do Estado que abrangeu
diversas medidas culturais, dentre elas a reforma educacional. Esta reforma tinha como objetivo
definir o que deveria ser lido e como o ensino deveria ser ministrado, proibindo qualquer tipo
de iniciativa individual nesse sentido.
instrumento fundamental para a promoção de uma sociedade mais justa e igualitária para as
gerações futuras.
Contudo, é importante destacar que para nas entidades politicas as crianças não possuem
consciência de suas ações, o que justifica, o código dirigir a criança como delinquente.
Na década da criação do Código de Menores de 1927, o Brasil enfrentava mudanças,
incluindo a intensificação da movimentação social, a crise econômica e a transição da
industrialização. Concomitantemente, houve um aumento da inclusão da criança no mundo do
trabalho, o que resultou em uma elevação da criminalidade infantil. Diante dessa inclusão, a
compreensão sobre a infância ainda era incipiente e centrada na perspectiva adulta, tratando a
criança como uma "mini-adulto", de acordo com o historiador Marcos Chor Maio em seu livro
"Infância e Trabalho no Brasil" (2003).
Assim, a identidade do menor diante deste período é construída dialeticamente em
relação ao processo histórico da acumulação capitalista, resultando na marginalização.
De acordo com o autor, as pessoas pobres eram vistas como uma ameaça.
Por outro lado, a visão positiva sobre o Código de Menores, destacando sua importância
na proteção da infância e no conceito dado a criança após as implementações dos códigos de
menores, surgiu-se avanços necessários a questão da criança. Brito (1928) destaca a
concatenação e aperfeiçoamento de leis e regulamentos anteriormente esparsos e a defesa
enérgica da infância, sem prejudicar a vida doméstica assim refletia a preocupação da época em
assegurar os direitos da criança e do adolescente.
Diferente do código de 1927, o código de 1979 amplia para proteção, uma vez que o
Brasil estava vivenciando um período pós militar, assim sendo, é evidente que mesmo com o
Código de Menores de 1979 que refere a proteção, esse indivíduo, tem os seus direitos negados,
viviam em situação de precária, mesmo que a lei expunha que o trabalho infantil para mais de
14 anos, os filhos de famílias pobres, sem escolaridade pelas suas condições, o único caminho
eram seguir seus pais para o trabalho.
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Em virtude da roda dos excluídos, também conhecida como roda dos abandonados, era
uma prática comum no Brasil colonial. As crianças nascidas fora do casamento eram colocadas
nesta roda para serem adotadas ou levadas por pessoas interessadas, como uma forma de evitar
que essas crianças fossem para as ruas e morressem de fome. A roda dos expostos era
geralmente encontrada nas portas das igrejas e era supervisionada por uma instituição religiosa.
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As crianças eram deixadas na roda com uma etiqueta contendo informações básicas
sobre elas, como o nome, a data de nascimento e o nome dos pais. As crianças que eram levadas
dessas rodas eram criadas em famílias adotivas ou em instituições religiosas. No entanto,
algumas eram vendidas como escravas, principalmente se eram mestiças ou de cor. Muitas das
crianças que eram levadas dessas rodas foram mantidas em condições desumanas, como
trabalho infantil e violência física e emocional.
Nesse contexto da negligência em relação às crianças, mesmo após anos da existência
da roda dos excluídos, elas continuavam expostas a condições insalubres. A falta de educação
e proteção resultava em desamparo, o que levava à indisciplina infantil e à prática de furtos,
entre outros crimes. Embora houvesse normas para protegê-las em diversos textos legais, como
o Código Civil e o Código Penal, a ausência de uma legislação específica para a infância e
adolescência dificultava a garantia de seus direitos.
O Código Penal de 1830 protegia os "menores", excluindo da punição aqueles com
menos de 14 anos que cometiam crimes sem discernimento (artigos 10 e 13). Os menores eram
encaminhados para instituições correcionais e de serviço obrigatório, sem passar por
julgamentos. Segundo CASTELLANI (2001), somente em 1891, com a Lei nº 1.313, o trabalho
infantil passou a ser regulamentado a partir dos 12 anos de idade, mas essa lei não era aplicada
na prática devido à dependência do trabalho infantil nas indústrias nascentes e na agricultura.
Em 1927, foi criado o Código de Menores, que definia a criança como delinquente, em
razão do difícil período pelo qual passavam, resultando em furtos para sobrevivência. A lei
construía, portanto, uma visão equivocada de que a criança era um pequeno infrator.
Durante a ditadura militar (1964-1979), o Brasil viveu sob um regime autoritário que
restringia a liberdade de pensamento e expressão, retrocedendo no campo dos direitos sociais e
introduzindo leis institucionais que permitiam punições, expulsões e arbitrariedades. No âmbito
da infância, foram criados documentos como a Lei 4.513, que instituiu a Fundação Nacional do
Bem-Estar do Menor - FUNABEM, em 1º de dezembro de 1964, e a Secretaria Nacional de
Assistência à Criança e ao Adolescente (SENACCA), em 1974, para lidar com questões
relacionadas a crianças e adolescentes. Em 1979, foi criado o Código de Menores.
A Lei de Menores de 1979 foi uma legislação que seguiu a lógica dos regimes
totalitários e militaristas vigentes no Brasil na época em que foi promulgada. Essa legislação se
manteve coerente com os conceitos dominantes no período, que priorizavam o controle e a
repressão das individualidades em detrimento da garantia de direitos e da proteção da
humanidade. Essa lei, que tratava crianças e adolescentes como objeto de tutela, contribuiu para
a manutenção de um sistema opressivo e excludente, que violava os direitos humanos e reprimia
a liberdade de expressão e de pensamento.
Nesse sentido, na década de 1980, com a nova redemocratização, surgiram medidas
concretas, incluindo a promulgação da Constituição Cidadã em 1988, e os movimentos sociais
pela infância brasileira alcançaram vitórias decisivas em políticas públicas. A partir disso,
surgiram dois grupos de líderes políticos que promoveram conferências em torno do tema: um
grupo defendendo a preservação das leis de menores e estatutos, e outro grupo buscando
grandes mudanças nos códigos de leis, estabelecendo direitos amplos para crianças e
adolescentes (CURY, AMARAL e MÉNDEZ, 2002).
A história da criança e do adolescente no Brasil está diretamente relacionada ao contexto
histórico e político do fim da ditadura militar e do processo de redemocratização do país. Nesse
período, movimentos sociais, organizações e fundações empresariais, trabalhadores, sindicatos
e instituições de ensino católico se mobilizaram para garantir que os direitos das crianças e
adolescentes fossem contemplados na Constituição Federal. Essas iniciativas foram
fundamentais para a promoção de uma sociedade mais justa e inclusiva, que valoriza e protege
a infância e a juventude como pilares do desenvolvimento social e humano.
Vale ressaltar que o Código de Menores de 1927 e o Código de Menores de 1979 eram,
no Brasil, o único meio legal de proteção em relação à criança e ao adolescente. O Código de
Menores de 1927 adotava uma abordagem autoritária e punitiva, priorizando a reclusão e
punição de crianças e adolescentes infratores. Já o Código de Menores de 1979 adotava uma
perspectiva mais humanista e protetiva dos direitos da criança e do adolescente, surgindo assim
um novo meio legal de proteção.
Apesar da existência de meios legais para proteger a criança, ela muitas vezes ficava à
mercê do adulto, seja agindo como ele ou sendo cuidada por ele. Isso ocorria mesmo com a
existência de códigos de proteção aos menores, que, na prática, tratavam esses indivíduos como
mini adultos. Durante a ditadura militar, esse cenário se agravou com uma abordagem ainda
mais autoritária. As crianças precisaram se adaptar a esse contexto, mas com o processo de
redemocratização surgiu um cuidado especial para elas. Nesse sentido, foi criado o Estatuto da
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Criança e do Adolescente (ECA), que, na época, se mostrou eficiente. Entretanto, ao longo dos
anos, esse estatuto passou por modificações para se adequar aos novos desafios.
O ECA representou uma grande evolução em relação aos códigos de menores de 1927
e de 1979, que foram considerados insuficientes na proteção dos direitos da criança e do
adolescente. Assim, o ECA surge na transição do fim da ditadura para a redemocratização,
entrelaçando a força e a luta dos movimentos sociais que souberam organizar e influenciar a
Convenção Constitucional e chegaram a redigir com as próprias mãos o texto da Constituição
Federal. Isso criou até a possibilidade de introduzir uma legislação infantil com a ideia de
democracia plenamente participativa.
Em relação à Constituição Federal, é importante destacar que ela foi a fonte da Lei da
Criança e do Adolescente, mas o conceito de criança e sua prioridade absoluta não foram
criados nela. Esses conceitos vêm de legislações internacionais, como a Declaração dos Direitos
da Criança (1959) e a Convenção sobre os Direitos da Criança (1989), que já reconheciam a
criança sob a perspectiva dos direitos da criança. Antes da Constituição de 1988, a proteção da
infância no Brasil se baseava em disposições de amparo e assistência, sem consideração dos
direitos e deveres das crianças e adolescentes.
Não havia uma compreensão clara dos direitos da infância, e a proteção da infância era
tratada de forma menos rigorosa do que é no ECA. Não existia um marco legal que
estabelecesse claramente as responsabilidades do Estado e da sociedade em relação à proteção
da infância, e os direitos da criança e do adolescente eram vistos como subalternos em relação
aos direitos dos adultos. Isso significava que a infância era desprotegida e vulnerável, e as
crianças e adolescentes eram submetidos a diversos tipos de abuso e violações de direitos,
mesmo com os códigos de menores em vigor.
Sob a perspectiva marxista, é possível analisar que a falta de proteção adequada à
infância no Brasil antes da Constituição de 1988 está diretamente relacionada à estrutura de
poder e exploração capitalista. O modo de produção capitalista se sustenta em grande parte pela
exploração do trabalho humano, e as crianças e adolescentes são ainda mais vulneráveis a essa
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exploração. Assim, a falta de uma compreensão clara dos direitos da infância e a ausência de
um marco legal que estabelecesse as responsabilidades do Estado e da sociedade em relação à
proteção da infância refletem a falta de vontade política em proteger a infância em detrimento
dos interesses do capital. Isso levou ao cenário em que as crianças e adolescentes foram
submetidos a diversos tipos de abuso e violações de direitos, contribuindo para a manutenção
de um ciclo de exploração e desigualdade social.
Com a Constituição de 1988, as crianças e adolescentes passaram a ser considerados
cidadãos com direitos. Segundo Andrade (2018), a Constituição trouxe avanços significativos
na proteção dos direitos sociais da infância.
Nesse sentido Cury, Garrido e Marçura dando destaque na proteção integral segundo a
lei que suplementa o ECA convém focalizar na:
(1999, p 42): “dar tratamento isonômico às partes significa tratar igualmente os iguais e
desigualmente os desiguais, na exata medida de suas desigualdades” esse sentido assevera
Luciane e Osmar Veronesse:
Na visão de Liberati (2000), medidas socioeducativas são atividades que são impostas
aos adolescentes quando eles são percebidos como problema para sociedade, sem desconsiderar
seu significado pedagógico, cujo principal objetivo é reorganizar esses adolescentes para sua
reinserção social, assim, a responsabilidade imposta pelos juízes de infância e juventude aos
menores infratores. A finalidade não é punir, mas implementar os meios de reeducá-los.
O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) foi promulgado em 1990, aprovado pelo
Congresso Nacional e sancionado pelo então presidente Fernando Collor de Mello. Ele surge
como um instrumento jurídico destinado a fortalecer o que pregava a Constituição de 1988,
representando um avanço em relação às leis anteriores, como a antiga Lei de Menores. No
entanto, apesar do progresso no tratamento da infância e da adolescência, essas legislações,
incluindo o ECA, não foram capazes de resolver completamente os problemas estruturais que
afetam a proteção dos direitos da juventude no Brasil. A ação bem-sucedida com base no ECA
ainda esteve distante do que foi proclamado pelos documentos oficiais de um estado capitalista,
que muitas vezes colocou o lucro acima do bem-estar da infância e população.
O decreto é, portanto, uma tentativa ilusória de resgatar parte das dívidas sociais que o
Brasil teve durante a infância e adolescência do país, herdando o benefício das adversidades
das leis anteriores, mas que continua sendo brindado pelo agravamento da antagónica estrutura
econômica, social e cultural do capital. Deste modo, o complexo do direito surge para
regulamentar conflitos próprios dessa forma de sociabilidade. Conforme Lessa:
Assim, que a efetividade das medidas socioeducativas presentes no ECA não pode ser
alcançada por um dos principais motivos: o conteúdo da teorização conflita com o contexto
real, concreto. vale ressaltar a afirmação de Marx: “Não é a consciência que determina a vida,
mas a vida que determina a consciência” (MARX, 2007, p. 94).
Desde sua promulgação em 1990, o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) tem
se mostrado uma ferramenta efetiva no combate à violência infantil no Brasil. O ECA
estabelece medidas para garantir a proteção e os direitos das crianças e adolescentes, incluindo
a criação de órgãos como os Conselhos Tutelares, o estabelecimento de medidas
socioeducativas e a criação de programas de atendimento às vítimas de violência.
O ECA destaca a importância de considerar as especificidades e necessidades desses
indivíduos em desenvolvimento, incluindo seus direitos e deveres individuais e coletivos, bem
como o bem comum e os fins sociais a que a lei se destina. Um exemplo da importância dessas
medidas é a criação dos Conselhos Tutelares, que são formados por voluntários eleitos pela
comunidade e têm como objetivo proteger crianças e adolescentes de qualquer forma de
violência, negligência, crueldade, exploração sexual e discriminação, em cada município do
Brasil.
Embora o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) tenha sido criado para proteger
os direitos das crianças e adolescentes, sua eficácia tem sido limitada por diversos desafios. Um
desses desafios é a falta de recursos e capacitação, o que dificulta a implementação adequada
da legislação. Além disso, a falta de monitoramento e fiscalização adequados também tem
permitido que ocorram violações dos direitos das crianças e adolescentes no Brasil. Por essas
razões, foi importante a colaboração da tutela para superar os desafios e garantir a proteção dos
direitos das crianças e adolescentes.
Como resposta a essas necessidades, em 2002 o ECA passou por uma reforma
significativa que trouxe novas medidas de proteção e garantia de direitos para essa população.
Entre as principais mudanças dessa reforma, destacam-se a criminalização do trabalho
infantil e a ampliação das penas para crimes cometidos contra crianças e adolescentes, além de
medidas para garantir acesso a programas de saúde, educação e assistência social.
Levando em conta, a partir de 2010, o governo brasileiro tem se comprometido a
implementar medidas para fortalecer a proteção dos direitos das crianças e adolescentes,
incluindo aumentar os recursos para a implementação do ECA e aperfeiçoando os mecanismos
de monitoramento e fiscalização.
Diante do cenário em 2012, o ECA novamente reformado, com o objetivo de fortalecer
as medidas de proteção às crianças e adolescentes. As alterações incluíram a criação de
mecanismos para prevenir e combater a violência sexual contra crianças e adolescentes, bem
como a criação de medidas para garantir que crianças e adolescentes tenham acesso a serviços
de saúde mental. Já em 2016, foi publicada a Lei 13.431, que incluiu a possibilidade de adoção
por parte de casais homoafetivos e a ampliação dos direitos das crianças e adolescentes LGBT.
No que se refere à aplicabilidade do ECA, e tendo em vista as alterações em recurso na
legislação sobre a maioridade penal e o tratamento ideal em relação à criança e ao adolescente,
o Comitê Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente e a Secretaria Nacional do
Promoção dos Direitos da Criança e do Adolescente foram avaliados:
direitos e garantias para a criança e o adolescente, como o direito à educação, à saúde, ao lazer
e à proteção contra abuso e exploração.
O efeito do ECA foi significativo, levando a mudanças na forma como as instituições
tratam a infância. Por exemplo, o sistema de justiça passou a lidar com crianças e adolescentes
de maneira mais justa e humanizada, enquanto as instituições de acolhimento para crianças
abandonadas ou em situação de risco foram transformadas em lares temporários, com o objetivo
de garantir a integração familiar e a proteção integral.
Além disso, o ECA influenciou o conceito de infância como um todo, destacando a
importância da proteção e do cuidado dos direitos da criança. Como resultado, as políticas
públicas voltadas para a infância foram ampliadas e a sociedade passou a reconhecer que a
criança tem direitos próprios e merece proteção.
Em conclusão, a compreensão da linha do tempo dos fatos históricos relacionados à
infância, códigos e leis até a criação do ECA é fundamental para entender as mudanças
significativas na proteção da infância. O ECA estabeleceu uma série de direitos e garantias para
a criança e o adolescente, o que levou a mudanças na forma como as instituições tratam a
infância. O efeito do ECA foi significativo, influenciando o conceito de infância como um todo
e levando a políticas públicas mais amplas para a proteção da infância.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
afetaram as políticas públicas voltadas para a infância, fazendo com que as mesmas passassem
a ser mais humanizadas e integradas, buscando sempre o melhor interesse da criança e do
adolescente.
Em suma, pode-se afirmar que o ECA é um importante conquista da sociedade brasileira
no que diz respeito à proteção dos direitos das crianças e adolescentes, tendo influenciado
significativamente a concepção de infância no país e as políticas públicas voltadas para essa
população.
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