Artigo Comunicação e Direitos Humanos-Adriana Porto

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Comunicação Participativa e a Luta pelos Direitos Humanos

Universidade Estadual do Rio de Janeiro/ Universidade Federal do Rio de


Janeiro/Universidade Federal Fluminense / Participatory Communication Research
(PCR)-IAMCR, Rio de Janeiro, julho/2019

Pelos nossos direitos: em busca da


democratização da comunicação no Brasil

For our rights: in search for democratization of


communication in Brazil

Eula D.T.Cabral – FCRB1

Resumo:
O objetivo do artigo é mostrar a importância da democratização da comunicação no
Brasil. A partir de pesquisas bibliográfica e documental, verificou-se que: mesmo que a
concentração midiática seja realidade no país, a sociedade civil pode se organizar e lutar
para que os artigos da Constituição federal (1988) sejam respeitados e a comunicação
se torne um direito de todo(a)s.

Palavras-chave: democratização da comunicação; direito à comunicação; mídia


brasileira; concentração de mídia.

Abstract:
The purpose of this article is to show the importance of the democratization of
communication in Brazil. Based on bibliographic and documental research, it was verified
that: even if media concentration is a reality in the country, civil society can organize and
fight to ensure that the articles of the Federal Constitution (1988) are respected and
communication becomes a right for all.

Keywords: democratization of communication; right to communication; Brazilian media;


media concentration.

1 Tem Pós-Doutorado, Doutorado e Mestrado em Comunicação Social. Trabalha na Fundação Casa de


Rui Barbosa (FCRB) com pesquisas e projetos no setor de Políticas Culturais, atuando na área de EPCC,
e é professora do Mestrado em Memória e Acervos. Email: eulacabral@gmail.com

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1. Introdução
Durante o governo Lula havia uma grande expectativa da sociedade em relação à
democratização da comunicação no país. Entretanto, não foi o que se mostrou nos anos
seguintes, a despeito da realização da I Conferência Nacional de Comunicação
(Confecom), realizada em 2009. Os debates aconteceram de modo tímido e restrito, com
pouca sinalização de avanços reais e sem levar em conta as propostas aprovadas na
referida Conferência, feita com a participação de representantes de governo, empresas
e de organizações da sociedade civil não comercial.
Em 2019, 10 anos depois da Confecom, verifica-se que o governo federal vem
colocando de lado todo e qualquer debate que mostre a importância da democratização
da Comunicação e da Comunicação como direito. Diante disso, faz-se necessário
analisar a temática, uma vez que a população brasileira é consumidora midiática, pois
em todos os lares têm-se algum veículo de comunicação (como a TV aberta que atinge
todos os lares onde há energia elétrica); a atual Constituição federal (1988) mostra como
deve ser tratada a comunicação no país; existe concentração midiática (com cinco
grupos nacionais controlando a radiodifusão no Brasil), não respeitando a diversidade
cultural e de conteúdo e tentando acabar com os veículos comunitários. Além disso, a
comunicação é uma área científica e dentro das instituições de ensino e de pesquisa
existem grupos críticos que trabalham em prol da comunicação como direito de todo(a)s.

2. Justificativa e abordagem teórica


A democratização da comunicação é uma histórica bandeira de luta dos
movimentos sociais no Brasil. É uma preocupação de organizações sociais em suas
atuações diárias, leva em consideração as necessidades da reformulação de políticas
públicas, considera a diversidade de produtores capacitados e qualificados para acessar
e exercer o controle sobre os meios de grande circulação, além de implementar meios
de alcance local e comunitário (CABRAL FILHO, CABRAL, 2005).
A luta pela democratização da comunicação no Brasil é resultado de uma
iniciativa que se vincula “aos esforços para uma reestruturação da sociedade brasileira,
com o estabelecimento de garantias para o acesso a serviços públicos, ao trabalho e a

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condições de vida dignas para todos os brasileiros” (BASES..., 1994). De acordo com
Murilo César Ramos (2000, p. 93), esta luta seria oriunda da mobilização de uma
“opinião pública dotada do poder de tomar decisões e dar conseqüências a essas
decisões, a partir, por exemplo, de conselhos populares e organizações produtivas em
que predominem a propriedade cooperativa ou outras formas de autogestão”.
Trabalha-se com o conceito que é apropriado pela sociedade civil ligado ao
movimento pela democratização da comunicação no Brasil, transformando-o em
bandeira de luta e propondo elementos que a constituiriam. É o caso do slogan do
Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação (FNDC), que traduz sua forma
de atuação: “democratizar a comunicação para a democratização da sociedade”,
estabelecendo a necessidade de tornar a comunicação mais democrática como
condição prévia à democratização da sociedade, cumprindo um duplo papel de ressaltar
o papel potencializador da comunicação nas lutas específicas dos diversos movimentos
sociais e as particularidades da comunicação como temática própria, dentro de um
sistema restritivo e excludente, que inibe uma efetiva participação no seu processo de
produção (CABRAL FILHO, CABRAL, 2005).
Existem outros autores que ligam o conceito ao Direito à Comunicação. Cees
Hamelink (in MELO e SATHLER, 2005, p. 144) mostra que, desde a introdução deste
direito pela UNESCO, em 1994, “o direito a comunicar é percebido por seus
protagonistas como mais fundamental do que o direito à informação, como atualmente
disposto pelas leis internacionais”. O redimensionamento do artigo 19, a partir dos
diversos debates que se seguiram, proporcionou o surgimento da Plataforma para os
Direitos da Comunicação, um agrupamento de ONGs formado em 1996, em Londres,
que por sua vez, em 2001, fundou a Campanha CRIS, sigla que significa, em português,
Direitos à Comunicação na Sociedade da Informação.
Para Marcos Alberto Bitelli (2004, p.168), há “o interesse tão grande da sociedade
e do Estado por ela organizado diantes desses direitos (de informar e ser informado),
pois somente uma pessoa humana ‘consciente’ poderá ter satisfeito o atendimento
desse princípio fundamental”. Ou seja, a comunicação é um direito e um dever de
todo(a)s.

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3. Métodos e instrumentos de pesquisa


Para entender a importância da democratização da Comunicação no Brasil trabalha-se
com pesquisa bibliográfica, analisando autores que estudam a temática a partir dos
conceitos democratização de mídia e direito à comunicação. Além disso, leva-se em
consideração a pesquisa documental, pois são verificadas as legislações nacionais,
além das internacionais que trabalham o tema e têm o Brasil como um dos signatários.

4. Desenvolvimento
Se, por um lado, democratizar a comunicação significa recobrar o que esta
atividade tem de vital, ou seja, reivindicar a dimensão original de diálogo e
horizontalidade da comunicação, a idéia de lutar pelo direito humano à comunicação
está diretamente relacionada à mobilização tanto daqueles que buscam exercê-la mais
diretamente na prática - ativistas e jornalistas, por exemplo - como expandir esse direito
àqueles que têm competência para tanto, ou seja, à sociedade como um todo.
A mobilização em prol da democratização da comunicação no Brasil vem
demonstrando, portanto, que há muitos espaços a se conquistar por parte dos
movimentos sociais, no tocante ao envolvimento pleno e não hierárquico das pessoas e
organizações. Para John Holloway (2003, p. 50) “a existência do poder-fazer como
poder-sobre significa que a imensa maioria dos fazedores são convertidos em objetos do
fazer” e esse não é privilégio somente das relações capitalistas, mas também algo que
os movimentos sociais necessitam enfrentar e superar.
No que tange à diversidade cultural (que está dentro do parâmetro do alcance da
comunicação), além das legislações nacionais e internacionais, leva-se em consideração
autores que analisam a comunicação, a mídia e a informação. Pois, como observou
José Augusto Lindgren-Alves (2018, p.188), “no âmbito dos direitos humanos, os direitos
culturais são direitos dos indivíduos”. Não é à toa que Marcela Carvalho (2018) chama a
atenção para a importância da cultura como um direito ligado à Comunicação e dentro
da Constituição de 1988.

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Entendendo a comunicação e a cultura como direitos humanos (pois a cultura


está integrada à comunicação no capítulo 5 da Constituição federal de 1988), é possível
verificar como a concentração pode interferir na sociedade, como as pessoas poderão
reagir e exigir que haja democratização na mídia brasileira. E aí, ir mais longe. Entender
as mudanças tecnológicas e seu impacto na sociedade a partir dos estudos de Adilson
Cabral (2015) que analisa a importância da TV digital no Brasil e sua apropriação;
Laurindo Leal Filho (2006) que analisa o controle e a reação do telespectador brasileiro;
Octavio Pieranti (2011) que estuda a atuação do Estado brasileiro diante das
comunicações; dentre outros.
Como verificou Othon Jambeiro (2000, p.15), “o Estado continua com forte
presença em todos os processos regulatórios da região, mas é crescente o poder dos
conglomerados de mídia nacionais e internacionais na regulamentação, operação e
programação do setor”.
Como entender por que o Estado não atua e evita a concentração midiática,
resultando na democratização da comunicação? Como ignorar o quadro atual? Como
observou Venício Lima (2012, p.34), “a democracia brasileira será a grande vencedora
quando o debate sobre as concessões de rádio e TV conseguir romper o bloqueio da
grande mídia e alcançar a maioria da população”.

5. Conclusões
Faz-se de vital importância analisar o cenário atual, verificando como a
concentração midiática interfere no cotidiano do brasileiro e evita que a democratização
da comunicação e a diversidade cultural se tornem reais. É fato que “a opinião pública é
induzida ao convencimento de que só tem relevância social aquilo que se expõe em
telas e monitores” e “o que se manifesta à margem da grande mídia parece condenado
ao esquecimento ou a uma repercussão de baixa densidade” (MORAES, 2016, p.115). É
preciso pesquisar mais e levar à sociedade o conhecimento, pois a Comunicação é um
direito de todo(a)s e se for democratizada, todos terão voz.

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6. Referências bibliográficas
BITELLI, Marcos Alberto S. O direito da comunicação e da comunicação social. São
Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2004.

CABRAL, Eula D.T.; CABRAL FILHO, Adilson Vaz. A contribuição da apropriação


social das TICs para viabilizar uma lei de comunicação social democrática no
Brasil. In: Encontro Latino de Economia Política da Informação, Comunicação e Cultura,
2005, Salvador.
CABRAL FILHO, Adilson Vaz. Nossa TV digital: o cenário internacional da apropriação
social da digitalização da TV. Rio de Janeiro: E-papers, 2015.
BASES de um programa para a democratização da Comunicação no Brasil. FNDC.
1994. Disponível em: http://www.fndc.org.br/doc_historico/data/programa.doc. Acesso
em: 13 dez. 2004.
HOLLOWAY, John. Mudar o mundo sem mudar o poder. São Paulo, Viramundo,
2003.
JAMBEIRO, Othon. Regulando a TV: uma visão comparativa no Mercosul. Salvador:
UFBA, 2000.
LEAL FILHO, Laurindo. A TV sob controle: a resposta da sociedade ao poder da
televisão. São Paulo: Summus, 2006.
LINDGREN-ALVES, José Augusto. É preciso salvar os direitos humanos. São Paulo:
Perspectiva, 2018.
MELO, José Marques de e SATHLER, Luciano (orgs). Direitos à comunicação na
sociedade da informação. São Bernardo do Campo: Metodista, 2005.
MORAES, Dênis de. Crítica da Mídia & Hegemonia Cultural. RJ: Mauad X, Faperj,
2016.
PIERANTI, Octávio P. O Estado e as comunicações no Brasil: construção e
reconstrução da Administração Pública. Brasíla-DF: Abras/Lecotec, 2011.
RAMOS, Murilo César. Televisão a cabo no Brasil: desestatização, reprivatização e
controle público. Ciberlegenda, n. 3, 2000.

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O que dizem as cartas? Direito à Comunicação e


Direito à Alimentação nos escritos políticos dos
movimentos da movimentos da Agroecologia e
da Segurança Alimentar e Nutricional

What do the letters say? Right to Communication and Right to


Food in the political writings of the Movements of
Agroecology and Food and Security Nutrition

Juliana Dias – UFRJ1; Juliana Casemiro – UERJ²; Alexandre Brasil - UFRJ³

Resumo: A construção e fortalecimento de espaços de diálogo dos movimentos


Agroecológico e de Segurança Alimentar e Nutricional (SAN) contribuíram para a
implantação de políticas públicas intersetoriais e para o apoderamento da população
relacionado ao direito à alimentação e à soberania alimentar. O processo contínuo e
sistemático de registro de sínteses e encaminhamentos destes movimentos tem sido
realizado através cartas políticas de seus encontros. Este trabalho tem como objetivo
identificar nessas cartas produzidas por movimentos Agroecológicos e de SAN o lugar
atribuído à comunicação. Foram analisadas 6 cartas publicadas entre os anos de 2006 e
2018. Ao longo dos anos identifica-se a valorização da comunicação popular como
estratégia relevante dos movimentos aparecendo de forma recorrente nos documentos
finais dos encontros e conectando de forma sinérgica o direito à comunicação e o direito
à alimentação.

Palavras-chave: direito à comunicação; direito à alimentação; agroecologia; segurança


alimentar e nutricional.

1
Professora colaboradora do Instituto NUTES de Educação em Ciências e Saúde (UFRJ), doutora em
História das Ciências, das Técnicas e Epistemologia (HCTE/UFRJ), membro do Fórum Brasileiro de
Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional e pesquisadora do Grupo de Estudos sobre Desigualdades
na Saúde e na Educação (GEDES). julianadiasrc@gmail.com.
² Professora Adjunta no Instituto de Nutrição da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (INU/UERJ)
Doutora em Educação em Ciência e Saúde (NUTES/UFRJ). Mestre em Saúde Pública
(ENSP/FIOCRUZ), graduada em Nutrição (INU/UERJ).julianacasemiro@gmail.com
³ Professor Associado do Instituto NUTES de Educação em Ciências e Saúde (UFRJ), doutor em sociologia
e coordenador do Grupo de Estudos sobre Desigualdades na Saúde e na Educação (GEDES).
abrasil@ufrj.br.

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Abstract: The construction and strengthening of dialogue spaces of the Agroecological


and Food and Security Nutrition (SAN) movements contributed to the implantation of
intersectoral public policies and the empowerment of the population related to the right to
food and food sovereignty. The continuous and systematic process of registration of
syntheses and referrals of these movements has been carried out through political letters
of their meetings. This paper aims to identify in these letters the place attributed to
communication. Six letters published between the years 2006 and 2018 were analyzed.
Throughout the years, the valorization of the popular communication as a relevant strategy
of the movements appeared appearing in a recurring form in the final documents of the
meetings and connecting in a synergetic way the right to the communication and the right
to food.

Keywords: Right to Communication; Right to Food; agroecology; Food and Security


Nutrition.

1. Introdução
O apoderamento, uma das traduções possíveis para empowerment, é relevante
categoria para o debate sobre Direitos Humanos. O termo “empoderar”, recorrentemente,
denota o resultado do processo de repasse ou transferência de informações, ferramentas
ou outros recursos. Apoderar convoca o sentido de apropriar-se: “O poder, como direito,
não é dado nem transferido, mas conquistado” (BURITY et al, 2010. p.128). Assim, o
conhecimento é identificado como fundamental ao exercício do poder e a comunicação e
a educação estão, desta forma, intrinsecamente implicadas nos processos de
apoderamento sobre os Direitos Humanos. Constituem-se, portanto, em elementos
indispensáveis aos processos de exigibilidade relacionado ao provimento, proteção e
promoção dos direitos fundamentais.
No final da década de 1990, no bojo da construção de políticas públicas setoriais
bem como de espaços de participação democrática, os movimentos Agroecológico e da
Segurança Alimentar e Nutricional (SAN) se consolidam. Herdeiros das reflexões iniciados
nas décadas de 1960 e 1970, tais movimentos apostam nas iniciativas de sistematização
de experiências locais e dos saberes tradicionais e de povos originários que se integraram
aos esforços de acadêmicos e ativistas de áreas diversas. Estes esforços revigoram,
organizam e atualizam pautas capazes de impulsionar e revisar políticas púbicas sobre a
ótica da Soberania Alimentar, Direito Humano à Alimentação e intersetorialidade.

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A constituição da comunicação popular foi elemento fundamental para o


fortalecimento destes campos. Contudo, as disputas de narrativas e a necessidade de um
constante esforço para o desvelamento da realidade são marcas históricas uma vez que:
“ocultar ou justificar os males dos agrotóxicos sempre foram os principais estratagemas
adotados pelos que se beneficiam dessa prática mortífera para legitimá-la entre suas
vítimas. ” (PETERSEN, 2015. p.27).
Reconhecendo essa intrínseca relação entre o direito à comunicação e à
alimentação, este trabalho tem como objetivo identificar nas cartas políticas publicadas
produzidas por movimentos Agroecológicos e de SAN o lugar atribuído à comunicação.

2. Justificativa e abordagem teórica


Do ponto de vista da luta popular, a educação e a comunicação são partes
integrantes de um mesmo percurso. Paulo Freire oferece, no conjunto de sua obra, um
amplo arcabouço teórico-prático que conduz a esta construção. Para Freire (1971) a
comunicação é relação social, política e dialógica. Esse processo constrói-se com a
coparticipação dos sujeitos no ato de conhecer, implica em reciprocidade e não
transferência de saber. Segundo Lima (2011), a comunicação é a práxis da epistemologia
dialética de Freire.
Tal práxis é fundada na igualdade básica e num compromisso radical com a justiça
social. Sob essa ótica não pode haver conhecimento sem comunicação entre sujeitos
igualmente livres. Lima afirma que quando não há reconhecimento de mútua capacidade
de participação nas decisões e quando a reciprocidade é rompida entre sujeitos
igualmente livres, inexiste diálogo. “Pode ocorrer transmissão, conquista, invasão ou
manipulação (...) a comunicação é substituída pela dominação” (Idem).
“Comunicação ou Extensão”, escrito em 1968, é leitura fundamental para esta
discussão. Neste ensaio que o educador estabelece a base de se conceito de educação
como ação cultural que, enquanto ação concreta, implica em atos de denúncia da
realidade desumanizadora e anúncio da possibilidade de transcendência. Para
compreender a profundidade e amplitude dessa concepção, Barbero-Martín (2014) afirma
que o primeiro aporte inovador da América Latina à teoria da comunicação produziu-se
no e a partir do campo da educação com a pedagogia freireana. Foi uma das primeiras
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propostas culturais, capaz de interpelar a partir do continente sul americano intelectuais


de todo o mundo. Também é considerada pelo autor como a primeira teoria latino-
americana de comunicação, por levar os países latinos a se comunicarem entre si e com
o resto do mundo.

Nos anos de 1980, a reabertura democrática permite a reorganização dos


movimentos populares, a constituição de entidades de assessoria aos agricultores e a
criação de espaços de discussão e reflexão nacionais (PETERSEN e ALMEIDA, 2006,
apud Monteiro e Londres, 2017, p. 55). A primeira década dos anos 2000 marca a
utilização das cartas políticas como expressão e instrumento de comunicação dos
movimentos sociais.

Na perspectiva freireana, a carta, como instrumento que exige pensar sobre o que
alguém diz e pede resposta, constitui o exercício do diálogo por meio escrito. O ato de
escrever cartas, seus conteúdos profundamente pedagógicos e seu tom particularmente
humano, evidenciam que escrever uma carta já é um diálogo rigoroso e exercício da
autonomia (VIEIRA, 2010, p. 65).

3 Métodos e instrumentos de pesquisa


Para a realização deste trabalho foram selecionadas seis cartas: Encontro Nacional
de Agroecologia (2006, 2014, 2018); Encontro Nacional de Diálogos e Convergência:
Agroecologia, Saúde e Justiça Ambiental, Soberania Alimentar, Economia Solidária e
Feminismo (2011); e do Encontro Nacional do Fórum Brasileiro de Soberania e Segurança
Alimentar e Nutricional (FBSSAN) (2013, 2018). A questão norteadora para esta análise
foi: de que forma a comunicação aparece nas cartas políticas desses encontros?

A partir desta questão foi realizada a leitura atenta e criteriosa do material,


organizado a partir do agrupamento em duas categorias: enunciados sobre comunicação
nos documentos de agroecologia e caminhos comunicativos apontados pelas cartas de
Segurança Alimentar e Nutricional.

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4. Desenvolvimento
De 2006 a 2018, observamos que a comunicação como direito fundamental ganha
centralidade na construção dos conhecimentos agroecolóigicos e dos espaços de re-
existência dos povos alijados do direito de dizer a palavra. Ao vincular o Direito à
Comunicação com o Direito à Alimentação, outros enunciados são acrescentados às
pautas e lutas, tais como, democratização dos meios de comunicação, financiamento da
mídia alternativa, popular e comunitária, e denúncia do sistema midiático dominante,
conforme a carta-convocatória do IV ENA:
Aprofundar o debate sobre os sentidos estratégico e político da comunicação e
da cultura, no contexto de hegemonia das corporações da comunicação e de
ofensiva conservadora em relação à cultura, e afirmar a comunicação e a cultura
como direitos sem os quais a democracia é ameaçada pela impossibilidade da
multiplicidade de vozes e a agroecologia não alcança na plenitude o seu potencial
transformador.

No campo da Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional, destacamos o Encontro


Nacional de Diálogos e Convergência: Agroecologia, Saúde e Justiça Ambiental,
Soberania Alimentar, Economia Solidária e Feminismo. Nota-se a construção coletiva em
busca de diálogo entre os movimentos, redes e fóruns, a partir de suas diferentes formas
de organização, bandeiras e linguagens, gerando consensos e aberturas para superar os
desafios comuns em que “a comunicação é um direito das pessoas e dos povos” (Carta
política, 2011). Os dois últimos Encontros Nacionais do Fórum Brasileiro de Soberania e
Segurança Alimentar e Nutricional (FBSSAN), ocorridos em 2013 e 2018, evidenciam-se
a construção de caminhos comunicativos como estratégia de ação e debate, com a
criação da campanha de comunicação e mobilização “Comida é Patrimônio”, desde 2015.
5. Conclusões
No atual estágio do neoliberalismo - que estende a lógica do capital a todas as
relações sociais e a todas as esferas da vida – a visão integrada de Freire sobre
comunicação e educação é imprescindíveis para compreender e fortalecer as
mobilizações populares de povos das cidades, das águas, das florestas e dos campos.
Nas cartas políticas expressam-se as denúncias e os anúncios. Integram outras
racionalidades que emergem da América Latina, num diálogo entre seres e saberes.
Apontam para novas formas de compreensão do mundo a partir do intercâmbio dialógico

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e da disputa de sentidos da sustentabilidade na reapropriação social da natureza e da


cultura (LEFF, 2006).

São lutas forjadas pelo “direito de dizer a palavra”, de dizer os muitos mundos de
vida que habitam o Brasil. Nesse sentido, a comunicação dialógica e a Ação Cultural de
Freire podem ser identificadas nas mobilizações da sociedade civil no campo da
Agroecologia e da SAN. Esse processo que começou na década de 70 continua vivo,
pulsante e se constitui numa estratégia vital para enfrentar as desigualdades e o processo
sistemático de desinformação a respeito dos sistemas alimentares justos, equitativos e
saudáveis e sustentáveis.

6. Referencias bibliográficas
____. Carta política do II ENA. Recife (PE), 2006. Disponível em:
<https://goo.gl/BPvWC1>.
____. Carta política do III ENA. Juazeiro, Bahia, 2014. Disponível em:
<http://goo.gl/CQMbEp>. Acesso em 27 nov. 2017.
____. Carta convocatória do IV ENA, 2017. Disponível em: https://goo.gl/486YZ6.
BARBERO-MARTÍN, J. A comunicação na educação. SP: Contexto, 2014.
BURITY, V.; FRANCESCHINI, T.; VALENTE, F.; RECINE, E.; LEÃO, M.; CARVALHO,
M.F. Direito humano à alimentação adequada no contexto da segurança alimentar e
nutricional. Brasília: ABRANDH, 2010.
FREIRE, P. Extensão ou comunicação? Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1971a
FBSSAN. Carta política do VI Encontro Nacional. Porto Alegre (RS), 2013.
Disponível em: < http://goo.gl/AwFvNA >
______. Carta Política do VIII Encontro Nacional. Rio de Janeiro (RJ), 2018. Disponível
em: < https://bit.ly/2FIB9Pd>.
LEFF, E. Racionalidade ambiental: a reapropriação social da natureza. Trad.:
Luis Carlos Cabral. Rio de Janeiro: Ed. Civilização Brasileira, 2006
LIMA, A. de V. Comunicação e cultura: as ideias de Paulo Freire. 2. ed. rev.
Brasília: Ed. Universidade de Brasília: Fundação Perseu Abramo, 2011.
MONTEIRO, D.; LONDRES, F. Para que a vida nos dê flor e frutos: notas sobre a trajetória
do movimento agroecológico no Brasil. In: SAMBUICHI, R.H.R et al.,
PLANAPO e produção orgânica no Brasil: uma trajetória de luta pelo desenvolvimento
sustentável. Brasília: IPEA, 2017.
PETERSEN, P. Um novo grito contra o silêncio. In.: CARNEIRO, F.F. Dossiê ABRASCO:
um alerta sobre os impactos dos agrotóxicos na saúde. Rio de Janeiro: EPSJV; São Paulo:
Expressão Popular, 2015.

VIEIRA, A. Cartas pedagógicas, p.65-66. In: Dicionário Paulo Freire. Streck et al (orgs.).
BH: Autêntica, 2010.
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Curso de Extensão Mídia, Violência e Direitos


Humanos: um espaço de diálogo, reflexões,
aprendizado e amadurecimento

Extension Course Media, Violence and Human Rights: a


space for dialogue, reflection, learning and maturation

Pedro Barreto Pereira – Universidade Federal do Rio de Janeiro1

Resumo: O presente trabalho pretende apresentar os resultados parciais das cinco


edições do Curso de Extensão Mídia, Violência e Direitos Humanos, realizado pelo Núcleo
de Estudos de Políticas Públicas e Direitos Humanos (Nepp-DH) da UFRJ. Esta iniciativa
se propõe a ser um espaço de diálogo horizontal entre a Universidade e a sociedade, em
específico, com moradores de favelas e periferias, lideranças comunitárias e de
movimentos sociais, comunicadores populares e profissionais com atuação nesses
territórios. As aulas têm como objetivo colocar em debate as representações da violência
urbana, de gênero, étnico-racial, entre outras, e propor alternativas a elas. No decorrer
dos anos em que este curso tem sido realizado, foram feitas diversas modificações com
o intuito de se aproximar cada vez mais do horizonte almejado. O resultado até aqui tem
sido transformações, não apenas do ponto de vista profissional e acadêmico, como
também pessoal nas vidas dos organizadores, professores, palestrantes e alunos
envolvidos.
Palavras-chave: Mídia; Violência; Direitos Humanos; Educação; Extensão.

Abstract: The present work intends to present the partial results of the five editions of the
Extension Course Media, Violence and Human Rights, carried out by the Nucleus of
Studies of Public Policies and Human Rights (Nepp-DH) of UFRJ. This initiative proposes
to be a space for horizontal dialogue between the University and society, in particular, with
residents of favelas and peripheries, community leaders and social movements, popular
communicators and professionals working in these territories. The purpose of the classes

1 Doutor em Comunicação e Cultura pela Escola de Comunicação da Universidade Federal do Rio de


Janeiro (UFRJ), mestre em Comunicação e Cultura pela Escola de Comunicação da UFRJ. É jornalista do
quadro técnico-administrativo da UFRJ, desde 2008, atualmente lotado no Centro de Filosofia e Ciências
Humanas. Coordena, desde 2013, o Curso de Extensão Mídia, Violência e Direitos Humanos, realizado pelo
Núcleo de Estudos de Políticas Públicas em Direitos Humanos (Nepp-DH) da UFRJ. Atualmente realiza
Pós-Doutorado no Programa de Pós-Graduação Mídia e Cotidiano (PPGMC) da Universidade Federal
Fluminense (UFF). E-mail: ppbarreto@gmail.com.
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is to challenge the representations of urban, gender, ethnic and racial violence, among
others, and propose alternatives to them. During the years in which this course has been
carried out, several modifications have been made with the intention of approaching more
and more of the desired horizon. The result so far has been transformations, not only from
the professional and academic point of view, but also personal in the lives of the
organizers, teachers, lecturers and students involved.

Keywords: Media; Violence; Human rights; Education; Extension

1.Introdução

O curso de extensão Mídia, Violência e Direitos Humanos (MVDH) teve início em 2013.
A proposta inicial era analisar criticamente a cobertura jornalística sobre a violência urbana
no Rio de Janeiro, trocar impressões, experiências e conhecimentos com moradores de
favelas e periferias, líderes comunitários, repórteres comunitários e demais profissionais
com atuações em territórios conflagrados da cidade.
Após cinco edições realizadas, contabilizamos cerca de 1.000 solicitações de
inscrições, 300 inscritos e 180 alunos concluintes, o que representa uma média de 60%
de permanência. Para além dos números, entretanto, é importante conhecer o que dizem
aqueles que participaram deste percurso até aqui. Os depoimentos dos ex-alunos, e
muitos dos quais hoje participam da rede de pesquisadores que hoje elaboram e
organizam o curso, revelam o quão rico tem sido a experiência.
O que se pretende apresentar aqui é o resultado parcial das reflexões deste trabalho
coletivo, que se deseja democrático, horizontal e inserido no contexto de uma
Universidade pública, que tem como uma de suas atividades-fim a Extensão.

2. Justificativa e abordagem teórica

Este trabalho justifica-se pela relevância em registrar a memória das cinco edições do
Curso de Extensão Mídia, Violência e Direitos Humanos, até aqui realizadas. Deste modo,
serão recordadas as vivências em sala de aula, os processos de seleção dos alunos, de
elaboração dos temas a serem abordados, de composição das mesas, entre outras
questões pertinentes. Pretende-se que tais registros e reflexões contribuam para o debate
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acerca das representações da violência urbana, em seus recortes de classe, gênero e


étnico-racial, e promova reflexões sobre as alternativas a essas formas de representação
por meio outras tantas narrativas possíveis.
O curso teve início em 2013, quando a Política de Pacificação2 estava em vigor no
Estado do Rio de Janeiro. Nos jornais, a iniciativa era apresentada como aquela que poria
fim à violência urbana. Embora as Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) tivessem a
proposta de exercer uma polícia de proximidade, o que se constatou foi a continuidade de
práticas autoritárias, abusivas, violetas e racistas, cometidas por agentes do Estado desde
o período escravocrata (HOLLOWAY, 1997), mas que sempre foram naturalizadas pelo
discurso dominante, através da construção da representação do inimigo que deve ser
evitado, combatido e aniquilado.
No que se refere à legitimação discursiva de tais práticas, Vaz e Baiense (2011)
atestam que houve um recrudescimento deste processo após o período denominado
“redemocratização do país”. Em 1984, os autores identificam que a representação das
favelas cariocas nas páginas de O Globo caracterizava-se predominantemente pelo
“sistema de saúde precário, escolas públicas abandonadas, funcionalismo público
insatisfeito, greves” (VAZ & BAIENSE, 2011, p. 4). Já em 2010, no auge das UPPs,
consolida-se o enquadramento crime/violência quando a agenda são as favelas cariocas.
Em um universo de 90 matérias analisadas, 38% representavam as favelas como território
sitiado e 29% como fonte de violência, tornando predominante, assim, o enquadramento
violência/criminalidade.
Se a favela é o local representado como fonte da criminalidade, de acordo com o
discurso dominante, é ali onde se encontram os indivíduos enquadrados no perfil da
“sujeição criminal” (MISSE, 2008), quais sejam: negros, pobres e moradores de favelas e
periferias, contra quem é legítimo julgar e condenar previamente, antes que acometam a
sua próxima “vítima virtual” (VAZ, 2009) – aquele indivíduo inocente, não merecedor de
sofrer dano causado pelo crime e que deve ser prioritariamente protegido pelo Estado,
através das forças policiais.

2
Nome instituído oficialmente em fevereiro de 2015, através do Decreto 45.146 do governo do Estado (RIO DE
JANEIRO, 2015a). Esta política é regulamentada oficialmente em março de 2015, por meio do Decreto 45.186 (RIO
DE JANEIRO, 2015b).
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3. Métodos e instrumentos de pesquisa

O presente trabalho é um relato da experiência das cinco edições do curso, que teve
origem a partir das reflexões propostas na dissertação de Mestrado “Segurança para
quem? O discurso midiático sobre as Unidades de Polícia Pacificadora” (PEREIRA, 2012),
que se desdobraria na tese de Doutorado “Narrativas de lei e ordem: uma análise da
cobertura de O Globo sobre as UPPs” (PEREIRA, 2017). Neste relato, utilizamos o método
descritivo, além de depoimentos de ex-alunos e atuais colaboradores do curso, que
descrevem de que forma esta experiência lhes foi significativa do ponto de vista
acadêmico, profissional e pessoal.

4. Desenvolvimento

Ao longo das cinco edições, o curso passou por inúmeras mudanças de metodologia,
seleção de alunos, comunicação com o público, entre outras. Nas primeiras edições, o
formato era de aulas expositivas, mais especificamente focadas na construção do
discurso midiático sobre a violência, exibição de filmes e debates com os estudantes. Os
professores visitantes expunham elementos e pontos de vista diversos que contribuíam
para a reflexão dos temas propostos.
Contudo, ao longo das discussões com a turma, algumas questões passaram a surgir
quanto aos diferentes recortes da violência representada nos meios de comunicação.
Passou-se então realizar aulas temáticas sobre o caráter racista da violência estatal, a
violência de gênero e o encarceramento. Ademais, adotou-se o formato de mesas
temáticas, com a presença de dois ou mais palestrantes e um mediador. Pudemos
perceber que a mescla de acadêmicos com ativistas e lideranças sociais proporcionava
um debate mais rico, em que algumas questões apresentadas a partir de uma dada
perspectiva poderiam dialogar com outras exposições fundamentadas sobre bases e
princípios diversos.

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Uma preocupação constante sempre foi garantir o debate entre


professores/palestrantes e alunos, de modo a integrar as pessoas e a possibilitar o diálogo
horizontal e a reflexão mais democrática possível. Além disso, ao final de cada edição,
solicitamos que os alunos enviem3 sugestões, reclamações e demais contribuições para
a continuidade do curso nos anos posteriores.
A comunicação com os alunos que passam pelo curso é fundamental para a
consolidação do que passou-se a denominar rede de pesquisadores. Através de uma
página do curso em uma rede social, mantemos contato permanente, divulgando
iniciativas nas áreas de interesse de pesquisa, e ficamos informados da atualização
desses pesquisadores, profissionais, lideranças e ativistas em seus territórios de atuação.
Desta forma, cria-se um acúmulo de conhecimento fundamental para a construção das
futuras edições do curso. Assim, os alunos das primeiras edições passam a atuar como
coordenadores, mediadores e palestrantes das edições seguintes. Na edição de 2019, o
curso de extensão MVDH será quase que integralmente construído por pessoas que já
passaram por ele. Não apenas é possível dizer que o curso formou novos pesquisadores,
ativistas, militantes e comunicadores, como que ele só é o que é hoje por causa dessas
pessoas.

5. Conclusões

Por todo o exposto até aqui é possível tecer algumas considerações, ainda que
parciais, tendo em vista que estamos em meio a um processo que ainda não se esgotou.
Pelo contrário, está em pleno desenvolvimento e amadurecimento. Desde a avaliação dos
candidatos no processo seletivo, em que são relatadas histórias de sofrimento e
superação, até a conclusão de cada edição, passando pela organização das mesas, o
convívio com os alunos e as dificuldades inerentes à precariedade da Educação pública
neste país, o aprendizado é permanente.
Nossa conclusão hoje é a de que estamos no caminho certo, no sentido de buscar
fazer do espaço do Curso de Extensão MVDH um ambiente de troca de experiências, de

3
Sem que isso seja uma exigência para a obtenção do certificado.
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diálogo respeitoso, de reflexão e de crescimento pessoal, profissional e acadêmico. Cada


um levará dali aquilo que for capaz de processar naquele momento. Ou semeará em suas
consciências algo que poderá germinar daqui a alguns anos. Se o curso puder resultar
em encontros, amizades, autoconhecimento e novas perspectivas profissionais - como
aconteceu em inúmeras ocasiões – teremos cumprido o nosso papel. Caso contrário,
precisaremos repensar, juntos, em que ponto estamos errando, o que e onde corrigir,
mudar os rumos e seguir adiante.

6. Referências bibliográficas

HOLLOWAY, T. H. Polícia no Rio de Janeiro: representação e resistência numa cidade do


século XIX. 1. ed. Rio de Janeiro: Fundação Getúlio Vargas, 1997.

MISSE, M. Sobre a construção social do crime no Brasil: esboços de uma interpretação. In:
MISSE, M. (org.). Acusados e acusadores: estudos sobre ofensas, acusações e incriminações.Rio
de Janeiro: Editora Revan/Faperj, 2008.

PEREIRA, Pedro. Segurança para quem?: o discurso midiático sobre as Unidades de Polícia
Pacificadora. 2012. 150 f. Dissertação (Mestrado em Comunicação e Cultura) – Escola de
Comunicação, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2012.

______________. Narrativas de lei e ordem: uma análise da cobertura de O Globo sobre as


Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs). 2017. 310 f. Tese (Doutorado em Comunicação e
Cultura) – Escola de Comunicação, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2017.

VAZ, P. Vítima virtual e mídia. In: Vigilância, segurança e controle social, 2009, Curitiba.
Curitiba: PUCPR, 2009. p. 51-69. ISSN 2175-9596.

_______; BAIENSE, C. (2011). Mídia e enquadramento: as representações da favela na virada do século


XXI. Em: Encontro Nacional de História da Mídia, Guarapuava. Guarapuava: Unicentro.

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Noticias de Paz e Guerra: sobrevivências,


imaginários e resistências nas favelas do
Complexo do Alemão

News of Peace and War: survivals, imaginaries and


resistances in the favelas of Complexo do Alemão

Tatiana Da Silva Lima1

Resumo: O presente trabalho pretende pensar o campo da comunicação popular que


emerge das favelas do Complexo do Alemão, no contexto político do acontecimento
discursivo do que se constituiu chamar “pacificação de favelas”. Neste sentido, a partir
da perspectiva da Análise do Discurso aliada a etnografia de observação participante,
busca-se analisar a comunicação desenvolvida por moradores deste conjunto de
favelas. O objetivo central é compreender o funcionamento do papel do jornalismo na
construção imaginária e simbólica de mídia, mas também de territorio operada pela
dentro da comunicação popular. Parte-se do pressuposto de que ao narrar o espaço
urbano da favela, temos a produção de metodologias de sobrevivências e resistencias
frente ao estabelecimento de uma nova ordem e modos de viver nas favelas, com a
instalação das Unidades de Polícia Pacificação (UPP). Para isso, recorre-se as
experiências de comunicação Voz das Comunidades, Coletivo Papo Reto e Complexo
Alemão.

Palavras-chave: Comunicação; Análise do Discurso; Favelas Cariocas; Produção de


Sentido; Complexo do Alemão

Abstract: This paper belongs in intended to analyze the popular communication the
residents of favelas, In the political context of the discursive event of what was called
"pacification of favelas" of Complexo do Alemão. In this sense, from the perspective of
Discourse Analysis and Ethnography of participant observation, analyse communication
developed by residents of favelas that create a new form to comunitary comunication: the
comunication of survival of favelas. Our objective is to understand the role of journalism
in the imaginary and symbolic construction of urban space of media, but also of territory

1Mestre em Mídia e Cotidiano, doutoranda Programa de Pós-Graduação em Comunicação (PPGCOM) na


Universidade Federal Fluminense (UFF) e Professora Substituta de Jornalismo na Universidade Federal
Rural do Rio de Janeiro.

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operated by within the popular communication. Thus, in narrating the urban space, the
media of popular comunication of Complexo do Alemão also located and contributes to
the construction of subjects and meaning that can be found in certain environment, but,
main hypothesis, is also marked by production of methodologies to face to the
establishment of a new order and ways of living in the favelas, with the installation of the
Pacification Police Units (UPP). For this, our analyse the experiences of Voz das
Comunidades, Collective Papo Reto and Complexo Alemão.

Keywords: Comunication; Discourse Analysis; Favelas; Complexo do Alemão

1. Introdução

Se a Literatura é arte como forma de “escrivivência” – uma escrita cultivada e


germinada no cotidiano, a partir das experiências e lembranças da vida de um povo –
como define a escritora brasileira Conceição Evaristo –, a favela então pode ser
considerada uma ação de escrita de sobrevivência de um povo pobre, majoritariamente
preto, em forma de cidade. No silêncio de dizeres e na ocultação de suas histórias, os
“ninguéns” subiram paredes de tijolos e construíram casa e becos, escrevinharam sua
existência na materialidade da urbe produzindo resistência em um grito ao direito à
cidade. Sem lugar de fala em jornais e livros, borraram a arquitetura da cidade para
mostrar que existiam na “escrita de um corpo, de uma condição, de uma experiência
negra no Brasil” (EVARISTO, Conceição citado por MASSA, 2006, p. 621).

A experiência deste saber local, que porta memórias e metodologias de lutas


compartilhadas nas favelas, ou seja, essa “cultura da sobrevivência fundada numa
solidariedade, identidade e irmandade (...) que o morro criou” (FACINA, 2014, p.40), é
passada de geração em geração dentro das favelas do Rio de Janeiro. Temos assim, um
movimento duplo de fuga para sobreviver e sonhar. Para resistir e suportar violências
simbólicas e físicas que culminam na eclosão de uma nova forma de viver, estar e existir
na cidade.

A cultura da sobrevivência, portanto, a partir dos seus múltiplos deslocamentos


culturais pode ser a conexão de modos de sentir e dizer que produzem uma interação
social como gesto de fuga e captura para a disputa de sentidos atribuídos à periferia.
Principalmente, em um mundo globalizado e midiático no qual a produção do imaginário

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e a visibilidade de corpos, produzem diferença no reconhecimento de identidades e


direitos, incluindo, o direito humano mais básico: a vida.

2. Justificativa e abordagem teórica

É nesta perspectiva que acreditamos ter surgido no Rio de Janeiro dentro das
favelas do Complexo do Alemão uma nova forma de “escrivivência” de cidade, na
dimensão do imaginário, a partir da produção de uma comunicação popular feita por
moradores. Uma comunicação da sobrevivência que se propõe a ser um contraponto da
realidade de dizeres hegemônicos, porque se pauta e se pensa a partir das experiências
e metodologias de sobrevivência dos becos da memória, e não pelo que se vê como
materialidade discursiva sobre a cidade do Rio de Janeiro na Grande Mídia.

Esta comunicação de sobrevivência de favelas apresenta-se como um


acontecimento discursivo de cidade que, rompe parâmetros e medeia novos sentidos
para uma comunicação popular e comunitária produzida pelo e para o povo: com o
objetivo de “reportar o dia a dia da comunidade a partir do olhar de quem a
produz” (SANTIAGO GIANNOTTI, 2016, p.24). Mas agora, na esfera da urbe surgida
através dos dispositivos de visibilidade que produzem uma construção visual do social
(MARTÍN-BARBERO, 2008, p.22).

Neste movimento, temos essa visibilidade no campo da comunicação


participativa, recolhendo o “deslocamento da luta por representação para a reivindicação
de reconhecimento” (idem). Uma perfomatividade que emerge como categoria “de novos
modos de visibilidade social no momento em que a mediação das tecnidades passa a
ser estrutural” (idem), criando uma comunicação hiperlocal: uma territorialidade midiática
capaz de hackear lugares de dizeres da mídia hegemônica, que desliza no papel de uma
comunicação popular e comunitária que fala da realidade da favela “didentro” para os
“didentro”, mas também “didentro” para os “difora”.

3. Métodos e instrumentos de pesquisa

Com esse norte, a produção coletiva comunicação popular que emerge do


Complexo do Alemão no contexto da pacificação de favelas e de um Rio de Janeiro,
sede da Copa do Mundo (2014) e dos Jogos Olímpicos (2016), chama atenção no
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campo de disputas de representação sobre mídia e violência nas redes e nas ruas.
Desta forma, este projeto de estudo de doutorado, optou por estudar três experiências
comunicativas deste conjunto de favelas: o Voz das Comunidades, o Coletivo de Mídia
Independente Papo Reto e a página de Facebook denominada Complexo Alemão.
Experiências que surgiram e/ou se ampliaram a partir do processo de pacificação e
instalação das UPP no conjunto de favelas em meio à intervenção dos megaeventos
mundiais no Rio de Janeiro. A partir de etnografia feita por observação participante
aliada entrevistas de profundidade exploratórias das experiências, além de análise do
discurso e da produção de sentido do fluxo informacional e narrativo das experiências
citadas.

4. Desenvolvimento

Neste sentido, optamos em dividir o estudo quanto à contextualização (o espaço à


margem) e ecos da pesquisa (uma comunicação necessária). São os resultados e
análises iniciais que se tornaram já certezas no estudo, mas também que são
apresentados como um fragmento das dúvidas e percalços da pesquisa. Dentre eles,
destacam-se:

4.1 O espaço à margem: O programa das Unidades de Polícia Pacificadora


consistia em promover a ocupação militar do espaço nas favelas com a instalação de
unidades territoriais, com a “tomada” de território de grupos de varejistas de drogas nas
favelas pelo Estado, devendo a polícia controlar e vigiar esses espaços. Com suporte
dos principais veículos de mídia, especialmente os periódicos do Grupo Globo, o
discurso da pacificação ganhou força e conquistou “corações e mentes” fabricando
simbolicamente a paz pela produção de sentido de um Rio Pacificado e um Rio
Pacificador. Ao longo dez anos de pacificação, o Rio de Janeiro, foi sede de seis
megaeventos esportivos internacionais: os Jogos Panamericanos (2007), os Jogos
Mundiais Militares (2011), a Jornada Mundial da Juventude (2013), a Copa das
Confederações (2013), a Copa do Mundo de Futebol (2014), os Jogos Olímpicos e
Paraolímpicos (2016), além do maior evento religioso da Igreja Católica no mundo: a
Jornada Mundial da Juventude (2013). São quase dez anos de choque de reorganização
geográfica, política e controle social que provocaram uma disputa de espaços e de
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representações sobre a cidade, a partir do discurso do tema da segurança pública


mediante o Rio de Janeiro ser a cidade sede destes eventos internacionais.

4.2 Uma comunicação necessária: Uma produção discursiva que impôs a favela
uma representação do Rio de Janeiro para dentro e fora do país no fluxo das narrativas
jornalísticas, tornando possível a experiência de comunicação popular atingir e negociar
um lugar midiático para a distribuição de dizeres, no passado, nunca antes alcançado:
as telas dos espaços massivos da comunicação de massa hegemônicas. No entanto,
esse deslocamento também produz rupturas sobre o sentido do comunitário da
comunicação participativa, bem como a filiações a um ordenamento de sentidos políticos
e simbólicos em parte neoliberais – ainda que em defesa de uma voz e acesso a direitos
– e a própria negação de uma denominação comunitária e popular para atos
comunicacionais produzidos. Ao mesmo tempo, esse mesmo deslizamento, cria uma
caixa de ferramentas que torna possível a luta participativa que promotora de direitos e
um protagonismo de atores sociais favelados.

5. Conclusões

Trata-se de uma comunicação popular que produz uma metodologia que medeia
dizeres para lutar por direitos humanos. Uma caixa de ferramenta comunicativa para
denunciar violências, o próprio sistema de hegemonia de mídia, valorizar a cultura local,
divulgar o cotidiano da favela, criando uma nova perfomatividade de visualidades da
representação da favela e, sobretudo, do próprio acontecimento discursivo da
comunicação popular.

Os makers (construtores) da favela 2.0, os coletivos, grupos, jornais e


comunicadores populares, ora midiativistas, ora jornalistas, ora influenciadores digitais,
ora lideranças comunitárias, através do uso de redes digitais (Facebook, Twitter,
Instagram e Youtube), mobilizam e produzem ao mesmo um jornalismo de favelas, mas
também gambiarras que organizam estruturas para lutar e reivindicar novos e antigos
por anseios da favela: os direitos básicos como saneamento básico, luz, transporte,
segurança, educação. Porém, no mundo conectado por redes sociais, trata-se também

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de uma comunicação popular que garante pode garantir a própria sobrevivência da vida
– desvelando a necropolítica (MBEMBE, 2018) em curso no Rio de Janeiro.

A partir das internet, a construção deste contra públicos no espaço das favelas
passou a ser feito pelo uso das mídias e por práticas jornalísticas que ajudam a construir
públicos, questionando os debates públicos dominantes (geralmente mediados pelas
grandes empresas de jornal, rádio e televisão), de acordo com Custódio (2016). As
mídias digitais Facebook, Twitter e Youtube, passaram a ser capturada por moradores
de favelas como suporte para organização coletiva de eventos e mobilização, formando
em alguns casos experiências de comunicação popular multimídia, aqui neste estudo
denominada como comunicação hiperlocal – que desliza entre o local e o global,
carregando o território como acontecimento discursivo para disputar discursos e
sentidos, portanto, narrativas.

6. Referencias bibliográficas
FACINA, Adriana. Sobreviver e sonhar: reflexões sobre cultura e “pacificação no
Complexo do Alemão”. In.: FERNANDES, Marcia Adraina; PEDRINHA, Roberta Duboc
(Org.). Escritos transdisciplinares de criminologia, direito e processo penal: homenagem
aos mestres Vera Malaguti e Nilo Batista. Rio de Janeiro: Revan, 2014, pp. 39-47.

GIANNOTTI, Claudia Santigo. Experiências em Comunicação Popular no Rio de Janeiro


ontem e hoje – uma história de resistência nas favelas cariocas. Rio de Janeiro: Editora
NPC, 2016.

MBEMBE, Achille. Necropolítica – Biopoder, soberania, estado de exceção, política de


morte. Rio de Janeiro: N-1 Edições, 2018.

MARTIN-BAEBERO, Jesús. Novas visibilidades políticas da cidade e visualidades


narrativas da violência. In.: COUTINHO, Eduardo Granja (Org.). Comunicação e Contra-
Hegemonia. Rio de Janeiro: UFRJ, 2008, pp.11-26.

ORLANDI, Eni. Análise de Discurso: princípios & procedimentos. Campinas: Pontes,


2009.8.ed.

_____________. Cidade dos Sentidos. Campinas, SP: Pontes, 2004.

WHYTE, William Foote. Sociedade de Esquina: a estrutura social de uma área urbana
pobre e degradada. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2005.

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REPRESENTAÇÃO POLÍTICA DAS MULHERES


EM 2019
E OS DESAFIOS DA EQUIDADE DE GÊNERO1
POLITICAL REPRESENTATION OF WOMEN IN 2019
AND THE CHALLENGES OF GENDER EQUITY
Adriana Corrêa Silva Porto – FSMA 2
Marcello Riella Benites - UENF 3
Raquel Corrêa Sajonc – FEI 4

Resumo: Este artigo propõe uma reflexão sobre direitos humanos a partir dos dados
sobre mulheres empossadas em cargos eletivos na política em 2019. Após um
mapeamento do cenário constituído pelas eleições de 2018, propomos a criação de um
Índice de Participação Feminina (IPF) capaz de aferir, em números, o tamanho da
desigualdade entre os gêneros em cargos de efetivo exercício de poder. O objetivo é
fazer um diagnóstico da equidade de gênero e representatividade política na Câmara
dos Deputados, Senado Federal, Presidência da República, Governo do Estado e
Assembleia Legislativa nas 27 unidades federativas do Brasil. As informações sobre o
quantitativo de mulheres no Legislativo e no Executivo foram comparadas entre si,
criando um ranking que pode nos dar algumas pistas sobre as diferenças observadas.
Esperamos que o entendimento de como essas forças operam contribua para
desmantelá-las, a fim de que homens e mulheres tenham os mesmos direitos e
oportunidades, tal como preconiza a Declaração Universal dos Direitos Humanos.

1 Proposta de artigo apresentado em forma de resumo expandido ao eixo temático Comunicação e


Direitos Humanos, do Seminário Internacional Comunicação Participativa e a Luta pelos Direitos
Humanos, que será realizado nos dias 1 e 2 de julho, na UERJ.

2Aluna especial do PPGPS-UENF (doutorado), mestre em Tecnologias da Comunicação e Cultura pela


Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e professora do curso de Comunicação Social da
Faculdade Salesiana de Macaé. E-mail: acporto@ymail.com.

3 Mestre em Cognição e Linguagem (Linha de pesquisa: Educação, Comunicação e Novas Tecnologias da


Informação), pelo Programa de Pós-graduação em Cognição e Linguagem da Universidade Estadual do
Norte Fluminense Darcy Ribeiro (Uenf). E-mail: marcellobenites@hotmail.com

4 Mestra em Gestão da Inovação e Sustentabilidade pelo Centro Universitário da Fundação Educacional


Inaciana Pe. Sabóia de Medeiros (FEI). E-mail: raquelsajonc@gmail.com
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Palavras-chave: Mulheres; Feminismo; Política; Gênero; Brasil

Abstract: This article proposes a reflection on human rights based on the data of
womens elected as politicians in 2019. After a mapping of the scenario constituted by the
elections of 2018, we propose the creation of an Index of Feminine Participation (IPF)
capable of assessing, in numbers, the size of the inequality between the genres in
positions of effective exercise of power. The objective is to make a diagnosis of gender
equity and political representation in the Chamber of Deputies, Federal Senate,
Presidency of the Republic, State Government and Legislative Assembly in the 27
federative units of the Brazil. The information about numbers of women in the Legislative
and in the Executive was compared to each other, creating a ranking that can give us
some clues about the observed differences. We hope that the understanding of how
these forces operate contributes to dismantle them, so that men and women have the
same rights and opportunities, as advocated by the Universal Declaration of Human
Rights.

Keywords: Women; Feminism; Politics; Genre; Brazil

1. Introdução
As conquistas dos Direitos Humanos representam passo essencial para o
progresso civilizatório. Nesse sentido, o empoderamento das mulheres e a redução da
desigualdade de gênero são uma etapa decisiva no desenvolvimento de qualquer nação
do globo (ALVES, 2016). Entretanto, não podemos ignorar que, ainda hoje, critérios
como gênero, raça, orientação sexual e poder aquisitivo determinam a configuração da
vida de um contingente de cidadãos. Trata-se de pessoas que, na prática, não têm
acesso aos mesmos direitos que os demais e, com frequência, encontram obstáculos ao
pleno exercício da sua liberdade e cidadania – embora um dos princípios básicos da
Declaração Universal dos Direitos Humanos (1948) seja o seu carácter universal e
equânime para todos. Não obstante, observamos que até mesmo o país de origem
determina se o indivíduo terá acesso ou não – de forma parcial ou integral – a alguns
dos direitos humanos fundamentais, ou seja, aqueles associados à igualdade e à
dignidade do ser humano (BRITO FILHO, 2004).
No caso do Brasil, onde os preconceitos atravessam o universo feminino e se
materializam das mais diversas formas, estudar a questão de gênero com o intuito de

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propor ações para uma sociedade mais equânime, nos parece não apenas justo e
razoável, mas necessário. Desigualdade salarial, exclusão de alguns ambientes e postos
profissionais, restrição de acesso à saúde, à educação e à ascensão social são apenas
alguns dos inúmeros obstáculos enfrentados cotidianamente por mulheres no Brasil e no
mundo (SABINO; LIMA, 2015). Acreditamos que o entendimento de como essas forças
operam seja fundamental para desmantelá-las, a fim de que homens e mulheres tenham
os mesmos direitos e oportunidades.

2. Justificativa e abordagem teórica


Com a Declaração de Direitos Humanos, instituída pela Organização das Nações
Unidas (ONU) em 19485, a noção de direitos humanos adquire um significado especial
(WOLF, 2015), dando impulso ao feminismo, que definimos como “a luta das mulheres
contra a dominação, a exclusão e a discriminação do gênero feminino na
sociedade” (PORTO; SAJONC, 2017, p.6). A luta pelo direito ao voto marca o início do
movimento, que é impulsionado com a publicação da obra “O segundo sexo”, de Simone
de Beauvoir, em 1949. No livro, a autora aponta as razões históricas e culturais que
fundaram a sociedade patriarcal, relegando à mulher uma posição subalterna. É nesse
contexto que a luta por direitos humanos entra na pauta feminista, uma vez que em sua
universalidade não incluem as mulheres (CRENSHAW, 2002).
Já em meados dos anos 70, o feminismo não se funda mais na mera exigência de
igualdade entre homens e mulheres, mas no reconhecimento da impossibilidade social
de alcançar essa igualdade dentro de um sistema patriarcal (FOUGEYROLLAS-
SCHWEBEL, 2009). A partir daí, surgem conceitos de sexo e gênero no qual o primeiro
era geralmente associado à natureza e, o segundo, à cultura. Segundo tal ponto de
vista, que prevaleceu até meados da década de 80, o sexo se referia às diferenças
biológicas entre os corpos femininos e masculinos, enquanto o gênero diria respeito às
diferenças psicológicas, sociais e culturais entre homens e mulheres. (SAJONC, 2017).

5 De acordo com a historiadora Cristina Wolf (2015), a Declaração de Direitos Humanos seria resultado da comoção
causada pela divulgação das atrocidades ocorridas durante a Segunda Guerra Mundial, sobretudo contra os judeus,
grupos étnicos, religiosos e políticos enviados para campos de concentração.
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Uma das intelectuais feministas que mais abalou essa concepção, trazendo novas
perspectivas para os estudos de gênero, foi a historiadora Joan Scott (1996), que com
seu célebre artigo Gender: A Usuful Category of Historical Analysis demarcou uma
leitura pós-estruturalista a respeito do gênero, explorando seus potenciais analíticos de
desconstrução e ressignificação. Para a autora, gênero “é um elemento constitutivo de
relações sociais baseado nas diferenças percebidas entre os sexos, e é uma forma
primária de significar as relações de poder” (p. 1067), de tal forma que quando há
mudanças sociais, essas relações também se transformam.
Trata-se de uma relação de poder e dominação, que se exprime, sobretudo, por
meio da divisão sexual do trabalho, conforme pontua a socióloga francesa Danièle
Kergoat: “Essa forma de divisão social do trabalho tem dois princípios organizadores: o
da separação (existem trabalhos de homens e outros de mulheres) e o da
hierarquização (um trabalho de homem “vale” mais do que um de mulher)” (KERGOAT,
2009, p. 67). Para ela, as relações de dominação entre os gêneros se desdobram no
espaço social, público e privado, impondo às mulheres certas práticas sociais que as
deixariam em situação desfavorável para alcançar cargos de efetivo exercício de poder -
legitimados pela sociedade patriarcal como masculinos.

3. Métodos e instrumentos de pesquisa


Para entendermos o motivo de tamanha disparidade entre homens e mulheres no
exercício do poder, recorremos a uma pesquisa bibliográfica que nos guiou na proposta
de coletar e analisar os dados sobre as mulheres eleitas em 2018 e, posteriormente,
empossadas em 2019. O objetivo é fazer um diagnóstico da equidade de gênero e
representatividade política na Câmara dos Deputados, Senado Federal, Presidência da
República, Governo do Estado e Assembleia Legislativa nas 27 unidades federativas do
país.
Com a utilização de dados primários e secundários, coletamos informações sobre
o quantitativo de mulheres no Legislativo e no Executivo e os comparamos entre si,
criando um ranking que pode nos dar algumas pistas sobre os motivos das diferenças
entre elas. Neste momento, a intenção é mapear o cenário para que, a partir desses

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dados, seja possível aprofundar as reflexões sobre as razões que levaram a tal
configuração de poder tão desigual para as mulheres.
Este artigo ainda leva em conta a perspectiva dos Estudos Culturais, que
possibilitou a reorganização do pensamento científico a partir de formas populares de
expressão, resistência, contestação e alternativas à cultura dominante. Fizemos uso
desta abordagem, por acreditar que o estudo da cultura integrado aos das realidades
sociais nas quais existem e se manifestam, pode nos ajudar a refletir sobre a
centralidade das questões de gênero e sexualidade para a compreensão da própria
categoria ‘poder’ (ESCOSTEGUY, 2010). Tal abordagem metodológica nos permite
ampliar a discussão e entender também o âmbito pessoal como político, trazendo novo
entendimento sobre o modo como a articulação sexo/gênero e antagonismos de classe
estruturam a sociedade.

4. Conclusões
A pesquisa aponta que, apesar de alguns avanços, o desafio de superar a
desigualdade e a discriminação de gênero no Brasil ainda é imenso. Não há um único
responsável pela construção de tal cenário. Ao que nos parece, embora alguns fatores
sejam destacados aqui e em tantos outros estudos sobre o tema, há inúmeras nuances
nesse proceso que precisam ser descortinadas e compreendidas para um
desmantelamento efetivo dos pilares que sustentam essa anomalia social.
Até o momento, o que podemos afirmar é que, embora representem 7 milhões a
mais de votos, as mulheres ainda estão longe de ter representação proporcional nos
parlamentos e cargos no Executivo nas esferas estaduais e federais. Essa
desproporcionalidade também não pode ser atribuída apenas a dependência econômica
mantida por parte dessas mulheres com relação aos homens – pai, cônjuge, irmão, filho
ou outro. Segundo o IBGE, elas já são responsáveis pelo sustento de 37,3% das
famílias brasileiras e vem crescendo a sua participação no mercado de trabalho. Então,
o mais provável é que estejamos diante de uma conjuntura de fatores que levem a esse
quadro, na qual a cultura e a história de dominação masculina e subjugação feminina
tenham um papel bastante relevante.

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5. Referencias bibliográficas

ALVES, José Eustáquio Diniz. Desafios da equidade de gênero no século XXI. Revista
Estudos Feministas, v. 24, n. 2, mai-ago, 2016.

BEAVOUIR, Simone. O Segundo Sexo: fatos e mitos. São Paulo: Difusão Europeia do
Livro, 4 ed., 1970.

BRITO FILHO, José Cláudio Monteiro de. Direitos Humanos, cidadania, trabalho.
Belém, 2004.

CRENSHAW, Kimberlé. Documento para o encontro de especialistas em aspectos


da discriminação racial relativos ao gênero. Revista Estudos Feministas. Ano 10:
1/2002 – pp. 171 – 188.

ESCOSTEGUY, Ana Carolina. Os estudos culturais. In: HOHLFELDT, Antonio;


MARTINO, Luiz C. e FRANÇA, Vera Veiga (Org.). Teorias da Comunicação: Conceitos,
escolas e tendências. Petrópolis: Editora Vozes, 2001.

FOUGEYROLLAS-SCHWEBEL, Dominique. Trabalho doméstico. In: HIRATA, Helena, et


al. (Orgs.) Dicionário Crítico do Feminismo. São Paulo: Editora UNESP, 2009. p. 256
– 262.

KERGOAT, Danièle. Divisão sexual do trabalho e relações sociais de sexo. In: HIRATA,
Helena, et al. (Orgs.) Dicionário Crítico do Feminismo. São Paulo: Editora UNESP,
2009. p. 67 – 79.

PORTO, A. C. S; SAJONC, Raquel. Representação da mulher em Game of Thrones e a


percepção das questões de gênero. In: Anais do X Simpósio Nacional da Abciber, p.
2964 - 2980. São Paulo: USP, 14-16 dez. 2017. Disponível em: < http://
www.abciber.org.br/anais-abciber-2017.pdf >.

SABINO, Maria Jordana Costa; LIMA, Patrícia Verônica Pinheiro Sales. Igualdade de
gênero no exercício do poder. Revista Estudos Feministas. 2015, vol.23, n.3, pp.
713-734. Disponível em: <http://dx.doi.org/10.1590/0104-026X2015v23n3p713>. Acesso
em: 11 jun. 2018.

SAJONC, Raquel C. Redes e equidade de gênero: um estudo qualitativo exploratório


de duas experiências capitaneadas por mulheres executivas. Dissertação (Mestrado em
Administração). FEI: 131 p., 2017.

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Universidade Federal Fluminense / Participatory Communication Research (PCR)-
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SCOTT, Joan W. Gender a useful category of historical analysis. In: Coming to Terms:
Feminism, Theory, Politics, Edited by: Weed, Elizabeth. New York: Routledge. 1989.

WOLF, Cristina Scheibe. Pedaços de alma: emoções e gênero nos discursos da


resistência. In: Revista Estudos Feministas. Florianópolis: UFSC, set-dez 2015.

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Janeiro/Universidade Federal Fluminense, Rio de Janeiro, julho/2019

Comunicação para – e não sobre –


Desenvolvimento: um estudo de caso sobre
uso de mídias sociais por ONGs internacionais
Communication for – and not about – Development: a
multiple-case study on the use of social media by
international non-profit organisations

Bárbara Cruz – Vilnius University/IULM1

Resumo: Este artigo tem como objetivo demonstrar como mídias sociais podem
resolver falhas de comunicação entre organizações sem fins lucrativos e suas
comunidades-alvo em programas de desenvolvimento (MEFALOPOLUS, 2008). A
metodologia utilizada é estudo de casos múltiplos, explanatório e holístico (YIN, 2018)
por meio de uma triangulação envolvendo entrevistas pessoais, revisão de literatura
especializada e análise de documentação. As análises foram feitas sob a ótica dos
princípios de Comunicação e Desenvolvimento, uma abordagem que usa processos
de comunicação participativa. A pesquisa demonstra que os casos estudados utilizam
as mídias sociais de forma ultrapassada, seguindo um modelo de difusão/mecânico
ao invés do modelo participativo/orgânico. Este artigo é estruturado em cinco capítulos
– introdução, quadro teórico, metodologia, resultados e conclusão – e oferece
contribuições pertinentes para o estudo e a prática de Comunicação e
Desenvolvimento ao identificar as mídias sociais como ferramentas com potencial
considerável para a sustentabilidade de projetos de mudanças sociais.

Palavras-chave: comunicação e desenvolvimento; mídias sociais; comunicação


participativa; organizações sem fins lucrativos; aplicação de teoria

Abstract: This paper aims to demonstrate how social media can solve communication
issues between international non-profit organisations and their target communities
regarding development efforts (MEFALOPOLUS, 2008). The methodology used is an
explanatory, holistic, multiple-case study research (YIN, 2018) with a triangulation of
data from expert interviews, specialised literature review and documentation analysis
and follows the principles of Development Communication, an approach that combines
participatory communication processes. The research shows that the organisations
studied use social media in an outdated fashion, following a diffusion/mechanics model
of communication, instead of a participatory/organic. This paper is divided into five
chapters – introduction, theoretical framework, methodology, results and conclusion –
and makes relevant contributions to the study and practice of Development

1
Bárbara Cruz recently graduated in a double master’s degree in International Communication at Vilnius
University, Lithuania, and IULM, Italy, where she mainly researched Development Communication. You
can contact her at ba.cruz1@gmail.com

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Communication by identifying social media as a tool with considerable potential to
enrich sustainability in development efforts.

Keywords: development communication; participatory development; social media;


non-profit organisation; theory application

1. Introduction
Despite recent negative headlines, social media growth is accelerating with
well over one million new users signing up for the first time daily (HOOTSUITE, 2018).
This has greatly affected International Non-Profit Organisations (INPOs), the subject
of this research since, for marginalised communities and individuals, social media can
be a way to ensure their voices are heard and taken into consideration. Social media’s
first and main goal is to be a tool to facilitate communication between people in a more
horizontal manner, and, as asserted by Paolo Mefalopolus (2008), communication is
also “about listening, exploring, understanding, empowering, and building consensus
for change” (MEFALOPOLUS, 2008, p. xii, our highlight).
More frequently than not, what is truly missing from development efforts is
a participatory, two-way communication between the organisations and the
communities affected by their actions (MEFALOPOLUS, 2008). This study aims to
demonstrate how social media can fill this communication gap and contribute to the
improvement of development efforts by INPOs.
The intersection of social media and development work provides potential
for both study and action, and has been underexplored in academic and professional
settings alike. For this reason, this research provides not only an assessment of social
media current usage by non-profits, but also offers solutions and pathways to improve
practical use.

2. Theoretical Framework
For Paolo Mefalopolus (2008), participatory communication approaches,
such as Development Communication (DevCom), have “proven to significantly
enhance results and the sustainability of development initiatives” (MEFALOPOLUS,
2008, p. xxi). In this sense, the general research question of this study is: How do

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international non-profit organisations use social media to further their development
and/or humanitarian work?
Narrowing down the scope of this study, the two following questions specify
the target elements under analysis in: How are international non-profit organisations’
digital communications strategies integrated into their development work?; and How,
if so, is social media used in development communication approaches?
For this research, the three main topics of the study were categorised and
covered by authors as follows: (i) communication of non-profit organisations, by
Gregory Saxton (2012; 2014); (ii) social media by Daniel Miller (2016); and (iii)
DevCom by Paolo Mefalopulos (2008). Additional authors, researches, reports and
news articles were also used in order to contextualise, support, criticize and/or endorse
the main authors’ arguments, especially in the coding and analysis part of the research.
Regarding the first topic, it is consensus among researchers and
practitioners that INPOs communicate in a very outdated way (DAUVIN, 2009; NAH;
SAXTON, 2012; OBREGON, 2012; MEFALOPULOS, 2008). Due to a generalised lack
of resources, non-profit organisations relocate a small budget for communication
efforts and, therefore, are forced to prioritise, which usually comes down to corporate
communication and advocacy (DAUVIN, 2009). When studying communication of non-
profit organisations, most researchers focus on corporate communication and/or
advocacy. Both Saxton and Waters (2014), and Guo and Saxton (2014) studied how
non-profit organisations use social media as a public relations tool, whilst this research
focuses on engaging the community through social media to promote development
communication.
The second topic, social media, is hard to define because of its evolving,
fluid nature. However, for Miller et al (2016) the content people post is more important
than in which platform they post it. This paper analysis the scalable sociality theory
(MILLER et al, 2016), which argues that social media provides greater control on both
privacy and size of group when compared to other forms of communication media.
Regarding the third topic of this research, defining which term to use arose
as a significant start since in the field of study, development communication may also
be referred to as ‘communication for social change’, among others.

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Mefalopulos (2008) argues that “‘development communication’ [keeps] the
original two terms delineating the field’s scope” (MEFALOPULOS, 2008, p. 33). Adding
to that, Jan Servaes (2003) defines DevCom as a social process aiming at “reaching
a consensus that takes into account the interests, needs and capacities of all
concerned” (SERVAES, 2003, p. 6) and points out a gap in interpersonal
communication, which plays a fundamental role in development efforts (SERVAES,
2003, p.6). When Servaes conducted his 2003 research, computer-mediated
communication, including social media, was not as powerful as they are now. This
research aims to show how these tools can play that role of mediating and facilitating
interpersonal communication.

3. Research Methodology
The chosen method to answer the research questions was an explanatory,
holistic, multiple-case study research. The case study is explanatory because it seeks
to explain how social media is involved in the organisations’ development efforts, and
why these tools are relevant to participatory communication approaches. It is holistic
because it examines a single unit of analysis (social media efforts) inside each INPO.
It is a multiple-case study because it explores the social media efforts and strategies
from three different INPOs. (YIN, 2018) Analytically, the benefits from having more
than two cases are substantial as “most multiple-case studies are likely to be stronger
than single-case studies” (YIN, 2018, p. 24).
The cases for this research were chosen according to a replication, rather
than a sampling logic (YIN, 2018). Following Yin’s perspective and based on the
research questions and objectives, the criteria for choosing the cases were: (i) non-
profit, organisation with (ii) field operations and country offices in different nations other
than the headquarter(s) and (iii) an active presence on at least one social media
platform. In the end, three INPOs agreed to be part of the study, as long as they (the
interviewees and their respect organisations) could remain anonymous.

4. Development
Many procedures were carefully taken in order to ensure validity before,
during and after conducting the research (YIN, 2018) – especially because of the

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agreed anonymity for the INPOs studied – such as the adoption of a multiple-case
research protocol, the writing of an interview guide, the choice in methodology and the
conduction of a thorough literature review.
The use of “multiple sources of evidence” is imperative and need to
“converge in a triangulation form” (YIN, 2018). For these reasons, data was gathered
from (i) expert interviews, (ii) specialised literature, and (iii) documentation analysis.
Based on the its nature and the paper’s aims, the analysis is done mainly through
patter matching and cross-case synthesis, as they strengthen internal validity and
contribute to answering the research questions (YIN, 2018).

4.1 Coding
To analyse the expert interviews, coding is used to better understand the
emerging themes (YIN, 2018). The four most important themes were: (i)
empowerment, (ii) engagement, (iii) participation, and (iv) development
communication, each one supported by criteria, a plurality of key words and theoretical
references. Additionally, all analyses were done manually because there were limited
time and resources for translations and for qualitative data analysis software.

4.2 Main findings


This research found that: (i) empowerment was mainly present when the
interviewees were questioned about the existence of a stylebook and/or written set of
rules because choosing different terminology and using politically correct identification
marks leads to beneficiaries feeling positively represented and empowered by INPOs;
in the case of (ii) engagement, the INPOs studied mostly prioritise reach over
engagement, which is effective for brand awareness and social marketing, but does
not cover development communication’s efforts; (iii) participation came up as an issue
during interviews when talking about strategy, especially when it comes to content that
might be touchy or off-limits. If people are being left out of the conversation,
participation is difficult; and (iv) development communication as an approach for
development is still very much confined to the UN System and many INPOs perceive
it as neither available nor suitable for them.

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5. Conclusion
There are many variables that affect the results of social media use by non-
profit organisations. There is still much underexplored potential to unlock in the field.
Social media’s characteristics are mainly “participation, openness, community,
conversations, and connectedness” (OBREGON, 2012, p. 89). Development
Communication approaches likewise have most, if not all, of these characteristics.
Therefore, it makes sense for INPOs to combine the two.

6. References
GUO, C.; SAXTON, D.. Tweeting Social Change: How social media are
changing nonprofit advocacy. In: Nonprofit and Voluntary Sector Quaterly, Vol 43,
pp. 57-79, 2014.
HOOTSUITE. We Are Social. New York:Hootsuite. 2018.
MEFALOPULOS, P.. Development Communication Sourcebook:
Broadening the Boundaries of Communication. Whasington:The World Bank. 2008.
MILLS, A (org). Encyclopedia of Case Study Research. London:SAGE
Publications. 2010.
MILLER, D. (org). How the World Changed Social Media. London:UCL
PRESS. 2016.
NAH, S.; SAXTON, G.. Modeling the adoption and use of social media
by non-profit organizations. In: New Media & Society, Vol 15, Issue 2, pp. 294-313,
2013.
OBREGON, R.. Social Media and Communication for Social Change –
Towards an Equity Perspective. In: CENTRE FOR COMMUNICATION AND GLOBAL
CHANGE. Social Media in Development Cooperation. pp. 64-79, 2012.
SERVAES, J.. Communication for Development Approaches of Some
Governmental and Non-Governmental Agencies. In:_. Communication for
Development and Social Change, pp. 201-218, 2008.
YIN, R.. Case study research and applications: design and methods.
London:SAGE. 2018.

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'ARAUTOS DO MUNDO' -
UM PROJETO DE COMUNICAÇÃO PARTICIPATIVA
E UMA REDE DE COOPERAÇÃO COM GRUPOS
EXPOSTOS A SITUAÇÕES SISTEMÁTICAS E HIS-
TÓRICAS DE EXCLUSÃO
'ARAUTOS DO MUNDO' -
A PARTICIPATORY COMMUNICATION PROJECT AND A COO-
PERATIVE NETWORK IN BETWEEN GROUPS EXPOSED A
SYSTEMATIC AND HISTORICAL SITUATIONS OF EXCLUSION
- ROSA ALBA SARNO OLIVEIRA - UFRJ1
RESUMO

O 'Arautos do Mundo' é um projeto de extensão da UFRJ em educação em direitos humanos e


comunicação participativa que há 7 anos favorece o funcionamento de uma rede social de empo-
deramento composta por coletivos de usuários do Instituto de Psiquiatria da UFRJ, de mulheres,
das populações negra e indígena e equipes de comunicação comunitária, inovação cidadã e edu-
cação em direitos humanos. Esta rede vem se consolidando através da realização de entrevistas,
rodas de conversa, apresentações públicas, da produção de vídeos e eventos e da organização
de um blog. Estas parcerias fortalecem as equipes que passam a compartilhar recursos e experti-
ses. Trabalhamos com a observação participativa e a metodologia colaborativa, buscando avaliar
os impactos na formação ético-profissional dos extensionistas da ECO-UFRJ e de transformação
do imaginário social sobre as mulheres, a loucura e as populações e culturas negra e indígena.
Este objetivos têm sido alcançados, gerando competências cidadãs, pois a partir do convívio e do
trabalho em parceria, todos são convocados a reconhecer a si mesmos e aos demais como sujei-
tos de direito e a lidar com as dimensões da pluralidade, da diversidade, da alteridade e da inter-
culturalidade da existência humana.

Palavras-chave: exclusão sistemática e histórica; educação em direitos humanos; comu-


nicação participativa; empoderamento, rede social.

ABSTRACT

`Arautos do Mundo’ is an extension project of Rio de Janeiro Federal University (UFRJ)


focusing in Education in Human Rights and Participatory Communication. For seven ye-
ars, this extension project provides an empowering social network composed of groups of
user from UFRJ Psychiatric Institute, groups of women, afro-Brazilian and Native Brazilian
people, Community Communication, Innovative Citizenship and Human Rights Education
teams. This social network is consolidating itself through interviews, round talks, public
presentations, videos, events and a blog. These partnerships strengthen groups who start
to share resources and expertise. We work with Participant Observation and collaborative
methods, seeking evaluate the impacts for the ethical-professional formation of UFRJ
Communication School students and the transformation of the social imaginary about wo-
men, mentally disabled people and Afro-Brazilian and Native-Brazilian people and their

1 contato em rosaalba1971@gmail.com
cultures. These goals have been achieved, creating citizenship competencies through
partnership activities, in which the participants are called up to recognize themselves and
their peers as persons with rights and to deal with the dimensions of plurality, diversity, al-
terity and interculturality of human societies.

Keywords - historical and systematic exclusion; human rights education; participatory


communication; empowerment, social network.

1. Introdução

O 'Arautos do Mundo' é um projeto de extensão da UFRJ em educação em direitos


humanos e comunicação participativa que há 7 anos favorece o funcionamento de uma
rede social de empoderamento composta por coletivos de usuários do Instituto de Psiqui-
atria da UFRJ, de mulheres, das populações negra e indígena e equipes de comunicação
comunitária, inovação cidadã e educação em direitos humanos. Trabalhamos com a ob-
servação participativa e a metodologia colaborativa, buscando avaliar os impactos na for-
mação ético-profissional dos extensionistas da ECO-UFRJ e de transformação do imagi-
nário social sobre as mulheres, a loucura e as populações e culturas negra e indígena.

2. Justificativa e abordagem teórica

Na atualidade, entendemos como fundamental desenvolver dentro do campo da


extensão universitária, um projeto que reconhece a ação de sistemas discriminatórios his-
tóricos na vida cotidiana da população brasileira. E, assim, traz para o debate com a uni-
versidade e a sociedade em geral, a importância de não negligenciarmos os efeitos soci-
ais danosos do racismo estrutural e dos dispositivos de saber-poder que estruturam ainda
hoje as práticas psiquiátricas. As ferramentas da teoria crítica de direitos humanos e da
comunicação comunitária são de grande auxílio nesta reflexão, pois aproxima a discussão
sobre direitos humanos da realidade concreta e extremamente desigual e excludente de
alguns segmentos da população brasileira e articula o campo da comunicação com esta
realidade. Neste sentido, tomamos como pressupostos teóricos, tanto as contribuições de
autores consagrados dentro dos campos da decolonialidade, da saúde mental, da comu-
nicação comunitária e da teoria crítica dos direitos humanos, como também publicações
de representantes dos usuários e das populações negra e indígena. E todo este corpo
teórico interdisciplinar tem sido enriquecido por nossas parcerias com estes grupos que
trabalham juntamente conosco como verdadeiros protagonistas de todas as etapas do
conjunto de ações deste projeto de extensão.
3. Métodos e instrumentos de pesquisa

Elegemos a observação participativa como metodologia de pesquisa para avaliar


os impactos na formação ético-profissional dos extensionistas da ECO-UFRJ e de trans-
formação do imaginário social sobre as mulheres, a loucura e as populações e culturas
negra e indígena. A educação em direitos humanos e a comunicação participativa consti-
tuem as práticas utilizadas para favorecer a inclusão e o empoderamento de grupos histo-
ricamente excluídos, como usuários dos serviços de saúde mental e representantes das
populações negra e indígena. E ao longo do desenvolvimento deste projeto, tornou-se
necessário fortalecer cada vez mais a dinâmica colaborativa com nossos diferentes par-
ceiros, fazendo funcionar uma rede social de empoderamento composta por diferentes
projetos que trabalham com grupos expostos a situações sistemáticas e históricas de ex-
clusão, discriminação e intolerância. Dentre eles, estão grupos de suporte entre pares de
usuários do IPUB-UFRJ, de mulheres Webneguinha, das populações e das culturas negra
e indígena (KITEMBO, KILOMBU, KABULA, Roda da V, Associação Abadá de Capoeira e
lideranças independentes) e equipes de comunicação comunitária, inovação cidadã e di-
reitos humanos e artes.
Esta rede vem se consolidando através da realização de entrevistas, rodas de con-
versa e apresentações públicas, da produção de vídeos e eventos e da organização de
capacitações, de um blog e de grupos de pesquisa e debates. Definimos como objetivos a
serem alcançados, o enriquecimento da formação ético-profissional dos extensionistas, o
empoderamento dos usuários do IPUB-UFRJ e a transformação do imaginário social so-
bre a loucura e as populações e culturas negra e indígena. Para articular ensino-pesqui-
sa, participamos de 5 grupos de pesquisa na UFRJ e na UFF, recebemos em nosso proje-
to graduandos da Escola de Comunicação (ECO-UFRJ) e trazemos para dentro da uni-
versidade a potência dos saberes de nossos parceiros externos.

4. Desenvolvimento
Até a presente data, fizemos 6 apresentações públicas, sendo três delas em even-
tos científicos, como I Seminário Memórias, Território e Ocupações - rastros sensíveis EI-
COS-IP-UFRJ, o XIV Congresso da Associação de Estudos Brasileiros (BRASAS) e 12o.
Congresso Brasileiro de Saúde Coletiva. Destacamos também a apresentação em que a
equipe foi filmada no estúdio de fotografia da ECO-UFRJ para compor parte do vídeo que
apresentação dos projetos que participaram do Laboratório de Inovação Cidadã -
LABIC-2018.
Além disso, produzimos 9 curta-metragens e três teasers. Os dois primeiros curtas
foram criados como trabalho de conclusão do curso de filmes com celular ministrado pela
documentarista Regina Carmela e pesquisadora do Laboratório de Memória, Território e
Ocupação (LABMENS-EICOS IP-UFRJ), do qual participaram funcionários e usuários dos
serviços do IPUB-UFRJ que fazem parte do nossa equipe. No terceiro vídeo, contamos a
história dos “Arautos”, definidos na época como uma equipe jornalismo participativo, pois
nesta época planejamos continuar a trabalhar com o jornal impresso e fazer a nossa 11o.
publicação. E a partir do interesse e dos conhecimentos dos próprios usuários, surgiu
nosso quarto filme que foi sobre a capoeira e resultou num evento de filmagem aberta e
roda de conversa com Mestre Camisa e a Associação Abadá de Capoeira. Nossos quinto
e sexto filmes foram compilações de todos nossos curtas, visando relatar nossa trajetória
de trabalho, até então. Os três demais curtas fazem parte um projeto de vídeo-depoimen-
tos, realizado por um extensionista do projeto com os usuários do IPUB-UFRJ. Estamos
no momento na fase final de edição de nosso primeiro longa-metragem com entrevistas
que fizemos com representantes da população indígena e como resultado de nossa parti-
cipação no LABIC-2018 foram feitos teasers e um blog (https://arautosdomundo.wixsite.-
com/arautosdomundo) para divulgação online do projeto.
É possível elencar diversos outros resultados das ações de nosso projeto: uma me-
lhoria da infra-estrutura do trabalho das equipes, a integração acadêmica, a realização de
capacitações técnico-científicas entre as parcerias internas e externas a UFRJ.

5. Conclusões
Entendemos que todo o material que produzimos não seria possível sem os encon-
tros presenciais com os usuários do IPUB-UFRJ, com representantes da população negra
e de povos tradicionais, com projetos de inovação cidadã, de mulheres negras e produção
textual e de comunicação comunitária e que trabalham com capoeira.
Através da observação participante, identificamos que esses encontros fortalecem
ainda mais cada um destes grupos que passa a conhecer as estratégias e os recursos
utilizados pelos demais na (re) existência aos sistemas discriminatórios a que estão sub-
metidos em seu cotidiano. Além disso, notamos que a parceria de trabalho com estes pro-
jetos faz circular dentro da universidade a riqueza dos saberes, das ações que estes gru-
pos desenvolvem, seja em meio aos alunos do projeto, aos grupos de pesquisa de que
participamos ou mesmo entre os servidores da UFRJ que fazem parte da nossas parceri-
as internas e que prestigiam os eventos e apresentações que realizamos.
Ao longo da análise dos registro de nossas atividades, avaliamos que o mapa de
relações que tecemos dentro e fora da UFRJ nos transformou numa rede de cooperação
e de economia solidária e ampliou nossos espaços de circulação por diferentes espaços
do Rio de Janeiro. Se num primeiro momento, os usuários do IPUB ficavam praticamente
restritos a espaços e atividades dentro do campo da saúde mental, hoje faz parte do coti-
diano deles ir como integrantes de uma equipe de comunicação participativa e educação
em direitos humanos a outras unidades da UFRJ, como as salas de aula e reuniões de
pesquisa do Instituto de Psicologia e da ECO, os auditórios, estúdios de rádio e de foto-
grafia da ECO, o campinho, o teatro de Arena, a Casa da Ciência e a outros espaços ex-
ternos do campi Praia Vermelha. Além disso, foi possível receber eventos organizados pe-
los demais parceiros em espaços dentro da UFRJ, assim como participar de atividades
por eles realizadas na UERJ, na UFF, no Museu de Arte do Rio de Janeiro, no Museu do
Amanhã, no Centro Cultural da Justiça, na Casa Coletiva da Mídia Ninja, a Casa de Bota-
fogo FIRJAN e a ALERJ.
Dentre os impactos produzidos pelo nosso projeto, o que ganha destaque é o im-
pacto social, tanto na qualidade de vida de nosso público alvo quanto na formação ético-
profissional dos alunos com quem trabalhamos.
Favorecer o funcionamento de uma rede de empoderamento entre grupos histori-
camente excluídos também tem efeitos sobre os agravos a saúde mental decorrentes do
processo de discriminação e intolerância que marca o cotidiano destas pessoas. Ter
acesso a tomar decisões, a informações, recursos e a opções variadas, passar a ser per-
cebido pelos outros por suas competências e capacidade de agir, sentir-se pertencendo a
um grupo no qual a participação de cada um faz diferença e onde todos têm direitos,
aprender habilidades novas e ser encorajado a pensar criticamente sobre o que pode ser
feito e sobre as as relações de poder institucionalizadas não somente melhora a auto
imagem e auto-estima, mas tem efeitos significativos sobre a saúde mental.
Com relação aos graduandos da ECO-UFRJ que integram nossa equipe, temos
constatado o quanto as ações em parceria com integrantes de grupos historicamente ex-
cluídos tem permitido que estes futuros profissionais incluam na sua formação aspectos
fundamentais como as metodologias participativa e colaborativa, teoria crítica dos direitos
humanos, a interculturalidade, a interseccionalidade, o racismo estrutural e a importância
de se dar visibilidade e reconhecimento as situações de discriminação e intolerância que
fazem parte do cotidiano de grupos historicamente excluídos. Soma-se a isso, todo o co-
nhecimento acumulados nas trocas com os laboratórios de pesquisa que são nossos par-
ceiros.
Não podemos deixar de mencionar como o trabalho em equipe e a troca de experiênci-
as entre usuários de saúde mental e coletivos e lideranças indígenas e negras permitiu
que cada um deles aumentasse seus conhecimentos sobre a realidades dos demais e re-
fletisse sobre preconceitos que tinha. É neste sentido que situamos nosso projeto como
uma prática de comunicação participativa que gera competências cidadãs e promove uma
cultura de direitos humanos, através de experiências concretas em que todos reconhecem
a si mesmos e aos demais como sujeitos de direito e lidam com a pluralidade, diversida-
de, a alteridade e a interculturalidade que definem a existência humana.

Referências Bibliográficas
CHARBERLIN, J. , - A working definition of empowerment, Em Psychiatry Rehabilitation
Journal, vol 20, n. 4: pp. 43-46. 1997.

CUSTÓDIO, L. Panorama global da Comunicação Comunitária como ação política perifé-


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FANON, F. - Os condenados da terra, Juiz de Fora: UFJF, 2005.

FLORÉS , Joaquín H. A (re)invenção dos direitos humanos, Florianópolis: Fundação Boi-


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FOUCAULT. M. – Microfísica do Poder, RJ: editora Graal, 1979.

MARCONDES M. M. et al (org.) - Dossiê mulheres negras : retrato das condições de vida


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OLIVEIRA, R. A. S. - “A expedição estadunidense”: a máquina de empoderamento de


corpos, falas, ações, identidades dos usuários dos serviços de saúde mental, ESS-UFRJ,
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PERUZZO, Cecilia M.K. Comunicação comunitária e educação para a cidadania. Revista


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QUIJANO, Anibal - Colonialidad del poder, eurocentrismo y América Latina, v. 24, n.51,
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TUKANO, D. - Apropriação cultural, antropofagismo e outros carnavais. Disponível em


h t t p : / / r a d i o y a n d e . c o m / d e f a u l t . p h p ?
pagina=blog.php&site_id=975&pagina_id=21862&tipo=post&post_id=664, acessado em
12-04-2019
Comunicação Participativa e a Luta pelos Direitos Humanos
Universidade Estadual do Rio de Janeiro/ Universidade Federal do Rio de
Janeiro/Universidade Federal Fluminense / Participatory Communication
Research (PCR)-IAMCR, Rio de Janeiro, julho/2019

Revista Contraponto: direitos humanos e


ética

Contraponto Magazine: human rights and ethics

Ivana Barreto – Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro 1

Resumo
Na internet, no jornal, na TV e no rádio, os meios de comunicação de massa
contribuem para processo de reciclagem de estereótipos e preconceitos e, como
resultado, muitos deles se tornam duradouros. Nesse sentido, a preocupação
com a questão dos Direitos Humanos é inquestionável, bem como sua discussão
e produção de pesquisas no âmbito universitário. Desse modo, alunos do Curso
de Jornalismo da UFRRJ produziram uma revista para se opor ao conteúdo
predominante da mídia hegemônica, apresentando visões mais humanizadas
sobre o Rio de Janeiro e alguns de seus personagens. O objetivo foi realizar uma
cobertura reflexiva, contribuindo para o questionamento dos estereótipos
mencionados. A linha editorial foi baseada nos direitos humanos e na ética.
Devido à falta de patrocínio e dificuldades de impressão, o produto tornou-se
disponível na internet e está sendo divulgado em congressos. A metodologia
incluiu pesquisas sobre os temas elencados, trabalho de campo e entrevistas.
Periodicamente, foram realizadas reuniões para avaliar a produção e sua
vinculação com a linha editorial. Quanto aos resultados, há o prêmio na XXIII
Expocom Sudeste e receptividade na própria universidade. O texto proposto será
estruturado enfatizando a realização das etapas do produto, dificuldades e
aprendizado encontrados ao longo do percurso.

Palavras-chave
Direitos Humanos; ética; revista; Contraponto

1
Professora Associada do Curso de Jornalismo da UFRRJ, doutora em Literatura Brasileira (PUC-RJ),
mestre em Literatura Brasileira (UFRJ), pós-graduada em Literatura Brasileira (UERJ), bacharel em
Comunicação/Jornalismo (PUC-Rio). E-mail: ivanabarreto75@gmail.com
Abstract
On the internet, in the newspaper, on TV and on radio, the mass media
contributes to the process of recycling stereotypes and prejudices and as result
many of them become enduring. In this sense, the concern with the issue of
Human Rights is undisputed as well as its discussion and production of research
in the university level. Thus, students from the Journalism Course of UFRRJ
produced a magazine in order to oppose the prevailing content of the hegemonic
media, presenting more humanized visions about Rio de Janeiro and some of its
characters. The goal was to carry out reflective coverage, contributing to the
questioning of the stereotypes. The editorial line was based on the human rights
and ethics. Due to the lack of sponsorship and printing difficulties, the product
became available on the internet and is being also publicized in congresses. The
methodology included research on the themes listed, fieldwork and interviews.
Periodically, meetings were held to evaluate the production and its link to the
editorial line. As regards the results, there are the XXIII Expocom Sudeste Award
and receptivity in the university itself. The proposed text will be structured
emphasizing the accomplishment of the stages of the product, difficulties and the
learning encountered along the way.

Keywords
Human rights; ethics; magazine; Contraponto
Resumo Expandido

1. Introdução

Diariamente, a partir do que é lido na internet ou no jornal, a cada notícia


transmitida pelo rádio e pela TV, os meios de comunicação de massa contribuem
para o processo de reciclagem de estereótipos e preconceitos de toda natureza,
fazendo com que muitos perdurem. Nesse sentido, a preocupação com a
questão dos Direitos Humanos é inquestionável e deve começar já no ensino
fundamental. Mais importante ainda é sua discussão e, a partir desta, a produção
de pesquisas e produtos no âmbito das universidades. Importa voltar as atenções
para a natureza dos desafios dos direitos humanos, especialmente do direito à
comunicação múltipla, aprofundada. Partindo desse entendimento, um grupo de
quatro alunos da disciplina Planejamento Editorial, ministrada no 4º período do
Curso de Jornalismo da UFRRJ, produziu uma revista com a proposta de ser um
contraponto ao conteúdo excludente da mídia tradicional, apresentando visões
mais humanizadas sobre o Rio de Janeiro e alguns de seus personagens. A
capital carioca e sua sub-representação na grande mídia foi o tema eleito pelos
discentes para a revista intitulada Contraponto.

O objetivo do projeto foi realizar, sob a orientação e supervisão da docente


responsável pela disciplina, autora deste texto, coberturas reflexivas,
contribuindo para o questionamento de estereótipos e dando visibilidade aos
conflitos sociais. Importa ressaltar que a linha editorial da revista, logo definida
no seu projeto, elegeu o binômio direitos humanos e ética como norteador de
todo o conteúdo, tanto verbal quanto visual, exposto nas páginas de
Contraponto. No que diz respeito ao alcance do veículo, devido à falta de
patrocínio e dificuldade de imprimir um número mínimo para divulgação em
associações de moradores, bibliotecas públicas, escolas e universidades, a
equipe optou pela disponibilização do produto na internet. A ideia original,
importa lembrar, definida no seu planejamento editorial, era divulgar o veículo
nas suas versões física e digital. No que se refere ao valor científico, entendemos
desde o início do projeto, entendimento este que foi ampliado quando as revistas
estavam finalizadas, que representaram uma contribuição para o meio
acadêmico. Afinal, diversos tipos de conhecimento puderam ser divulgados,
como a temática específica da revista Contraponto, perpassada desde a
definição do seu público alvo e linha editorial pelas questões dos direitos
humanos e da ética. Já no tocante ao valor social, representou uma publicação
com uma clara proposta de inclusão de temas excluídos da mídia hegemónica,
ou então tratados de forma sensacionalista e superficial.

2. Justificativa e abordagem teórica

A produção da revista Contraponto foi relevante por dois motivos.


Primeiro, pela importância de proporcionar aos discentes a prática de um
jornalismo mais aprofundado, contextualizado, que não vem sendo realizado
pela mídia tradicional. Segundo, por ter inserido estudantes de um curso - que
pretende introduzir jornalistas com capacidade de reflexão no mercado de
trabalho - num processo que permitiu a vivência, embora com brevidade, da
realidade dos personagens dos textos incluídos na publicação.

No que concerne aos referenciais teóricos, foram indicados aos alunos


matriculados na disciplina autores a serem lidos por toda a turma, independente
do tema escolhido para a realização de cada revista, constituindo a bibliografia
básica, por incluir temas relacionados ao veículo revista, à reportagem, à
entrevista, apenas para citar alguns exemplos. Foram eles: Nilson Lage,
Estrutura da notícia; José Salvador Faro, Realidade, 1966-1968: tempo da
reportagem na imprensa brasileira; Cremilda Medina, Entrevista: o diálogo
possível; Marília Scalzo, Jornalismo de revista; Sérgio Vilas Boas, O estilo
magazine: o texto em revista. No que diz respeito especificamente ao grupo que
realizou a revista Contraponto, foram indicados os seguintes textos e autores:
Constituição da República Federativa do Brasil (1988); Declaração Universal dos
Direitos Humanos (DUDH); Fábio Comparato, Afirmação Histórica dos Direitos
Humanos; Eduardo Bittar, Ética, Educação, Cidadania e Direitos Humanos.
3. Métodos e instrumentos de pesquisa

De modo geral, a revisão de literatura lança mão de publicações


científicas em periódicos, livros, anais de congressos, sintetizando toda a
informação existente, tanto quanto possível. Assim, foram consultados
primeiramente autores que discorressem sobre temas relacionados à produção
de uma revista, de modo geral, e depois aqueles com contribuições referentes à
elaboração de um produto que inclui em sua linha editorial, como já dito, o
binômio direitos humanos e ética, elencados no tópico abordagem teórica.

Partimos da premissa de que existem diferentes modos de entender a


realidade, como também diversas posições metodológicas que explicitam a
construção do objeto de estudo, assim como a postura e a dinâmica que
perpassam a pesquisa. A pesquisa que deu base à produção da revista utilizou-
se das contribuições do método dialético no processo de investigação e de
análise do que era coletado no trabalho de campo, nas entrevistas. Esta opção
deveu-se ao fato dele levar o pesquisador a trabalhar sempre de forma a
considerar a contradição e o conflito. Afinal, nada se adequava melhor à proposta
da Contraponto do que investigar, voltar as atenções para as contradições e os
conflitos entre o que é publicado pela mídia hegemônica, tradicional e a proposta,
diametralmente oposta, da revista. Cumpre frisar que este método se mostrou
especialmente adequado na segunda etapa do trabalho, a pesquisa de campo,
quando o grupo de alunos pôde confrontar a realidade encontrada nas ruas com
aquela exposta na mídia tradicional. Além disso, antes de cada entrevista a ser
realizada, a docente e os discentes se reuniam para, a partir da comparação com
o material publicado na internet, nos jornais, revistas e veiculado pela TV e pelo
rádio, perceber quais questões relevantes, não levantadas até então, deveriam
ser elaboradas. Foi assim principalmente nas reportagens “Para sempre mães
de Anjo”, de Luiz Henrick Teixeira, vencedora de melhor reportagem do Prêmio
Intercom Sudeste 2016, e “Olhe nos meus olhos, sou ser humano”.

Por fim, após a elaboração de cada texto, o grupo de alunos se reunia


novamente com a docente para analisar se o texto refletia, de fato, a realidade
encontrada nas ruas. Cumpre ainda destacar que partimos da compreensão de
que reportagem e investigação são sinônimos: o repórter deve viver, na medida
do possível, das limitações temporais e daquelas impostas pelas circunstancias,
a realidade dos seus entrevistados. No caso da reportagem “Olhe nos meus
olhos, sou ser humano”, duas alunas da equipe de Contraponto, Jacqueline
Suarez e Ághata Santos, passaram boa parte da noite com moradores de rua do
bairro de Santa Cruz, na Zona Oeste do Rio. Começaram, às 22h,
acompanhando um grupo de jovens na missão de distribuir alimentos e levar
atenção a estas pessoas invisíveis para a sociedade – e para a mídia
hegemônica. A experiência continuou pela madrugada e várias situações,
principalmente a das crianças que estão pelas ruas do bairro, impactaram
Ághata e Jacqueline.

4. Desenvolvimento

4.1. Resultados
Divididos em grupos, os alunos da disciplina Planejamento Editorial –
mesmo com as dificuldades de infraestrutura que o Curso de Jornalismo da
UFRRJ enfrentou e até hoje enfrenta, conseguiram atingir de forma satisfatória
o objetivo lançado pela docente no início do período letivo: produção de revistas
voltadas às reais demandas de seus públicos leitores. Como resultado final,
foram elaboradas seis revistas com propostas alternativas, quando comparadas
com o que vem sendo realizado pela mídia tradicional. Saúde mental,
entretenimento, cultura e o segmento feminino foram alguns dos temas dos
produtos apresentados. Além da Contraponto, produzida pelos alunos Ágatha
Santos, Jaqueline Suarez, Larissa Bozi e Luis Henrick Teixeira, que conquistou
os prêmios de melhor revista e melhor reportagem no XXIII Prêmio Expocom
Sudeste 2016.

4.2. Análise
A análise do trabalho realizado na disciplina apontou para o fato de que a
universidade deve promover o exercício da reflexão não apenas nas disciplinas
teóricas, como também nas práticas. Além disso, pôde-se perceber que os
discentes ficaram mais próximos do que deve ser a prática jornalística.
O grupo de alunos da Contraponto, tanto in loco, na primeira fase
(apuração) de realização das reportagens, quanto na redação das mesmas,
pôde vivenciar uma experiencia de participantes ativos, aqui dialogando com
Traquina (2005). Segundo o autor, os jornalistas “são participantes ativos na
definição e na construção das notícias, e, por consequência, na construção da
realidade” (Traquina, 2005: p. 26).

5. Conclusões
Quando a equipe responsável pela elaboração da revista Contraponto
procurou a docente da disciplina para o primeiro encontro, a proposta do veículo
pareceu ousada, de difícil execução. Afinal, se para profissionais com
experiência em apuração e anos de mercado saber como abordar personagens
marginalizados pela sociedade não é tarefa simples, mais difícil deveria ser para
estudantes do quarto período de um curso de Jornalismo. Outro aspecto
preocupou a todos: a escolha do modo mais adequado de relatar o apurado nas
ruas, nas entrevistas. Sem esquecer da dificuldade que acompanhou todo o
processo de produção: a falta do programa específico para realizar a editoração
eletrônica de Contraponto, devido a questões burocráticas das universidades
públicas. Além do mais, o curso era recém-criado, tinha seis anos, e ainda estava
em processo de estruturação. Porém, depois dos dois primeiros meses, boas
notícias: a equipe produzindo a todo vapor, nas ruas, com olhares humanizados,
se misturando com os personagens que retratava. E o resultado surpreendeu: a
realização de um jornalismo de qualidade, da pauta à impressão. Um jornalismo
como poucas vezes vem sendo feito pela grande mídia, frequentemente incapaz
de lançar um olhar humanizado sobre a Cidade e os que nela vivem.

A partir do tema eleito para a elaboração de Contraponto e da sua linha


editorial, privilegiando a questão dos direitos humanos, da ética e da
responsabilidade social, outros trabalhos foram realizados, perpassando
especialmente o aspecto ligado aos direitos humanos. Acreditamos que ainda
há muito a ser produzido, principalmente pelo fato de, agora, o curso de
Jornalismo da UFRRJ estar com melhor infraestrutura.
6. Referências Bibliográficas

BITTAR, Eduardo. Ética, Educação, Cidadania e Direitos Humanos. Barueri,


SP: Manole, 2004.

COMPARATO, Fábio. A afirmação Histórica dos Direitos Humanos. São


Paulo: Saraiva, 2010.

Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF: Senado


Federal: Centro Gráfico, 1988. Disponível em
https://www.cmc.pr.gov.br/down/constituicao-1988-5-outubro-1988-322142-
normaatualizada-pl.pdf. Acesso em 28 de maio de 2019.

Declaração Universal dos Direitos Humanos (DUDH), 1948. Disponível em


http://www.educacao.mppr.mp.br/arquivos/File/dwnld/educacao_basica/educac
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Direitos Humanos e Políticas Públicas. Disponível em


htttp://www.dedihc.pr.gov.br/arquivos/File/2015/livro_direitoshumanosepoliticas
publicas.

FARO, José Salvador. Realidade, 1966-1968: tempo da reportagem na


imprensa brasileira. São Paulo: Editora Ulbra / AGE Editora, 1999.

MEDINA, Cremilda. Entrevista: o diálogo possível. São Paulo: Ática, 2002.

SCALZO, Marília. Jornalismo de Revista. São Paulo: Contexto, 2011.

TRAQUINA, Nelson. Teorias do Jornalismo: Porque as notícias são como


são. Florianópolis: Insular, 2 ed., 2005.

VILAS BOAS, Sérgio. O estilo magazine: o texto em revista. São Paulo:


Summus, 1996.
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Universidade Federal Fluminense / Participatory Communication Research (PCR)-
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Novas e antigas diásporas: imigrantes


senegaleses e árabe-brasileiros no sul do Brasil
New and old diasporas: Senegaleses migrants and arabic-
brazilians at the south of Brazil

Guilherme Curi1
Resumo: O presente trabalho busca descrever o debate e primeiras constatações da
pesquisa de pós-doutorado em curso sobre as mediações e as relações socioculturais e
religiosas entre a recente imigração senegalesa na região sul do Estado do Rio Grande
do Sul (iniciada na segunda década de 2000) e os árabe-brasileiros que vivem no país
desde o começo do século passado, inseridos no contexto social sul-brasileiro
contemporâneo.

Palavras-chave: migrações transnacionais, senegaleses, árabe-brasileiros,


comunicação.

Abstract: The present work seeks to describe de the debate and first findings of the
ongoing postdoctoral research about the mediations, the socio-cultural and religious
relations between the recent Senegalese immigration in the southern region of the State
of Rio Grande do Sul - that has started in the second decade of 2000) and the Arab-
Brazilians muslins that are living in the country since from the beginning of the last
century and are already part of the contemporary South-Brazilian society.

Keywords: transnational migrations, senegaleses, arabic-brazilians, communication.


1. Introdução
Este artigo integra reflexões desenvolvidas no âmbito do projeto de pesquisa
“Comunicação em rede, práticas midiáticas e narrativas migrantes”, vinculado ao grupo
de pesquisa “Comunicação em rede, identidades e cidadania”, do Departamento de
Ciências da Comunicação da Universidade Federal de Santa Maria. Desde 2017, o
grupo também atua na linha de pesquisa “Comunicação midiática e migrações

1 Pós-doutorando e professor colaborador do Programa de Pós-graduação em Comunicação da


Universidade Federal de Santa Maria (POSCOM/UFSM). Doutor em Comunicação e Cultura pela
Universidade Federal do Rio de Janeiro, mestre em Sociologia pela University College Dublin.

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transnacionais” do Migraidh/CSVM UFSM (Grupo de Pesquisa, Ensino e Extensão em


Direitos Humanos e Mobilidade Humana Internacional).
Isto posto, como ponto de partida, salienta-se que um dos principais objetivos
deste texto é observar a cultura brasileira através de suas arestas e encontros culturais
que constroem uma sociedade aparentemente plural mas que comumente discrimina
suas minorias, práticas imersas num contexto global, caracterizado por desigualdades
sociais abissais, que, em última instância, impulsionam os deslocamentos humanos
Logo, este estudo, que também faz parte da pesquisa de pós-doutorado do próprio
autor em pleno andamento, busca investigar e compreender a partir daquilo que
denominamos de novas e antigas diásporas, as mediações e as relações socioculturais
e religiosas entre os novos migrantes senegaleses, que chegaram recentemente na
região sul do Estado do Rio Grande do Sul e os integrantes da comunidade árabe-
brasileira, que já possuem raízes familiares no país desde o começo do século passado
e estão inseridos na sociedade brasileira contemporânea. O que os liga, em um
primeiro momento, são as práticas religiosas do Islã. Assim como muitos árabe-
brasileiros que aqui residem, a grande maioria dos senegaleses que chegam ao Brasil,
cerca de 95%, são muçulmanos. Desta forma, o local deste encontro ocorre
principalmente nas mesquitas muçulmanas da região sul Estado do Rio Grande do Sul,
mais especificamente, na cidade de Rio Grande, campo de pesquisa deste estudo,
ambiente de interação religiosa, trocas e negociações culturais.
Neste campo, questões identitrárias contemporâneas, de cunho transnacional e
intercultural, são colocadas ainda mais em xeque, mostrando-se assim como um rico
campo para pesquisa comunicacional e para compreensão, de forma interdisciplinar, da
realidade e desafios contemporâneos enfrentados pelos imigrantes e refugiados que
escolhem o Brasil como país de destino.
Assim, busca-se também, em um segundo momento, analisar as práticas e as
mediações socioculturais, as formas de representação e o uso das novas tecnologias da
informação e comunicação (TICs) por estes imigrantes nas distintas comunidades e de
que forma eles interagem no espaço virtual eletrônico.

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Em suma, o objetivo geral é encontrar respostas para responder qual a relação


social e cultural desta nova diáspora africana no Rio Grande do Sul com as antigas
diásporas africanas e árabes, comunidade já tradicional no Estado, a partir,
principalmente das práticas religiosas de orientação muçulmana. Com isso, busca-se
também entender como a comunidade árabe-brasileira muçulmana acolhe/recebe estes
imigrantes a partir destes encontros nas mesquitas localizadas na região sul do Estado.
Além destes dois pontos citados, procura-se investigar e apontar quais seriam os
principais problemas de ordem comunicacional e de cidadania enfrentados por estes
imigrantes. Indaga-se: o racismo e o preconceito diante das diferenças raciais e
religiosas são enfrentadas por ambas as comunidades? Eis os desafios deste trabalho.
Justificativa e abordagem teórica
Atualmente, de acordo com o novo relatório da Organização Internacional para
Migrações, calcula-se que existam 224 milhões de pessoas residindo em outros países
diferente dos seus, algo que representa 3,3 % da população mundial. Estima-se que,
caso o crescimento se mantenha, em 2050, o número de migrantes em todo o mundo
poderá chegar a 405 milhões. Logo, a reorganização nas tendências e características
dos fenômenos migratórios no mundo exigem uma reavaliação dos paradigmas para a
compreensão e análise das migrações transnacionais ou internacionais na medida em
que as novas modalidades de deslocamentos humanos não são mais caracterizadas
apenas por sua expressão numérica, mas marcadas por uma rede complexa de
significados, decorrentes de diferentes diásporas. O fenômeno migratório atual é assim
caracterizado, de acordo com Mohammed ElHajji (20012, p.34) por “laços de sentido
que se tecem e se densificam, costurando a teia simbólica global que vem cobrindo o
mundo e reformulando a sua morfologia social e humana – discursiva, imaginária e
biológica”. Dentro desta teia simbólica global, está a comunicação, concebida,
aqui, como processo de vinculação social e interação intersubjetiva. Arena fundamental
onde se negocia o status social, cultural e político das migrações. Assim, de acordo com
o Sodré (2014, p.15), na sociedade atual, “a comunicação revela-se como principal
forma organizativa”. E completa: “Acentuamos o ‘revelar-se’ porque comunicação
significa, de fato, em sua radicalidade”, ou seja, “o fazer organizativo das mediações

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imprescindíveis ao comum humano, a resolução aproximativa das diferenças pertinentes


em formas simbólicas”. Assim, como também afirma Sodré (2006, p. 14), os “desafios da
comunicação enquanto práxis social [...] é a de suscitar uma compreensão”. Em outras
palavras, um “conhecimento e ao mesmo tempo uma aplicação do que se conhece, na
medida em que os sujeitos implicados no discurso orientam-se, nas situações concretas
da vida, pelo sentido comunicativamente obtido”.
Isto posto, sabe-se que a imigração senegalesa no Brasil é recente. Apesar do
Senegal não ter conflitos internos como vários países do continente africano, ainda é um
dos países mais pobres do mundo - sendo um dos 25 países com o pior Índice de
Desenvolvimento Humano - , o que motiva muitos a saírem de seus lares em busca de
vida melhor. O Brasil, assim, tornou-se atraente para os senegaleses a partir dos anos
dois mil, quando o país passou a ter mais projeção no exterior devido a crescimento
econômico e social. A partir de 2010, o número de senegaleses aumentou e, logo após
os haitianos e venezuelanos, são hoje a terceira nacionalidade que mais entra no Brasil.
De acordo com o último relatório do Comitê Nacional para os Refugiados
(CONARE), calcula-se que cerca de 4 mil senegaleses residem hoje no Rio Grande do
Sul, sendo que em torno de 1.200 estão em Porto Alegre e 200 em Rio Grande.
Já sobre os árabe-brasileiros, assim como nos lembra, Lesser (2001), torna-se
importante frisar que a escolha do hífen é proposital pois é através do uso
aparantemente simbólico que o indivíduo não é mais tido como “meio-brasileiro” mas
representa a própria essência da brasilianedade. O hífen aqui simboliza o encontro,
estratégias discursivas utilizadas por imigrantes nas mais diversas e criativas tentativas
de se estabelecerem e pertencerem ao Brasil, de modo muito singular, onde, há mais de
um século, estão espalhados por todo o país, nos mais diferentes estratos sociais e
culturais (CURI, 2018).
Métodos, instrumentos de pesquisa e trabalho de campo.
No âmbito empírico-prático, está sendo realizado trabalhos de campo e
mapeamentos das práticas comunicacionais deste grupo na região citada. Todas as
sextas-feiras, a partir das 13h, acompanhamos os cultos na mesquita localizada no
centro da cidade de Rio Grande. A cidade gaúcha possui cerca de duzentos mil

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habitantes e está localizada no extremo sul do país, entre a Lagoa Mirim, a Lagoa do
Patos e Oceano Atlântico. É um um dos portos mais antigos do Brasil, primeira capital do
Rio Grande do Sul, com uma história populacional marcada pela chegada de diferentes
comunidades migrantes, entre elas africanos, europeus e asiáticos, além, é claro, da
presença dos povos originários, que foram duramente violentados pelos colonizadores
portugueses e espanhóis.
Assim, como abordagem metodológica, para dar conta do objetivo principal do
trabalho, é proposta uma investigação de caráter de observação-participante e
entrevistas semi-estruturadas com os migrantes senegaleses e árabe-brasileiros. Além
disso, como objetivo específico, é realizado o mapeamento e o acompanhamento do uso
das novas TICs e as produções midiáticas destes imigrantes realizadas na internet. Tal
fenômeno é denominado por alguns pesquisadores de webdiaspora. Dana Diminescu
(2012), por exemplo, refere-se à webdiáspora com base em coletivos de imigrantes que
organizam suas atividades primeiramente pela e na web; Ainda, Brignol (2012) atenta
principalmente para o uso quase que funcional da webdiáspora, observada como redes
de apoio que permitem o contato, a troca e interação entre sujeitos distantes
geograficamente, que, além de ajudar na decisão de migrar e no processo de instalação,
permite a manutenção de vínculos com o país de origem.
Conclusões parciais, primeiras impressões do campo
Por se tratar de um trabalho de pesquisa que está em pleno desenvolvimento,
optamos por apontar algumas conclusões parciais até o presente momento de escrita
desta resumo expandido. O trabalho de investigação teve início no final do ano
passado, quando foi realizamos a primeira pesquisa de campo no Primeiro Festival de
Arte e Cultura Senegalesa, entre os dias 13 e 14 de outubro, realizado no Memorial do
Rio Grande do Sul, em Porto Alegre. Lá, foram realizadas algumas entrevistas e
acompanhamento das atividades do evento, como música, dança, exposição de
pinturas, palestras, exibição de filmes, culinária e a exibição da luta tradicional Laamb,
no centro da capital. Em torno de 300 pessoas participaram do festival, que foi
transmitido pelas mídias próprias dos imigrantes senegaleses, o que suscitará também
melhores análises e descrições, em artigos posteriores. Além disso, estamos

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acompanhando, desde o começo do ano, os rituais religiosos realizados na mesquita em


Rio Grande, que são realizados todas às sextas-feiras, às 13h, no prédio situado no
centro da cidade. Uma primeira constatação é o fato dos senegaleses serem a maioria
numérica na mesquita. Outra percepção é a de que alguns integrantes da comunidade
árabe-brasileira de Rio Grande, de origem palestina, realizaram ações de acolhida aos
primeiras senegaleses que chegaram à cidade. Constatou-se também que a todo
momento, os imigrantes senegalese registram os cultos religiosos via celular e enviam
para suas redes digitais para o Senegal e outros países, em tempo real. No entanto,
com certeza muitas outras percepções e análises serão realizadas.
Referencias bibliográficas
BRIGNOL, Liliane Dutra Brignol. Diáspora latino-americana e redes sociais da internet: a
vivência de experiências transnacionais. In: COGO, Denise; ELHAJJI, Mohammed &
HUERTAS, Amparo (eds.): Diásporas, migrações, tecnologias da comunicação e
identidades transnacionais, Bellaterra: Universitat Autònoma de Barcelona, 2012.
DIMINESCU, Dana. E-Diaspora. Paris. Fondation de la Maison des Sciences de l'Homme, 2012.
Disponível em: <http://www.e-diasporas.fr/ >. Acesso em: mar. 2014.
LESSER, Jeffrey. A negociação da identidade nacional: imigrantes, minorias e a luta pela
etnicidade no Brasil. São Paulo: Ed Unesp, 2001.
SODRÉ, Muniz. Ciência do Comum. Rio de Janeiro: Vozes, 2014.
______. As estratégias sensíveis. Afeto, Mídia e Política. Petrópolis: Vozes, 2006.
* Pesquisa financiada pelo Programa Nacional de Pós-Doutorado/Capes.

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Revide Negro: A comunicação originária de


comunidades negras no Maranhão e suas
implicações como um direito humano às
Diásporas

Revide Negro: Communication originating from black


communities in Maranhão and its implications as a human
right to the Diasporas

Carmen Kemoly da Silva Santos – Universidade Federal do Rio de Janeiro 1

Resumo: Este trabalho estuda três campos ainda em processo de exploração no país:
as Diásporas Negras no Brasil, o potencial histórico do estado do Maranhão e a força
dos produtos culturais protagonizados pelas populações afro-brasileiras, prioritariamente
a partir dos elementos produtores de sentido no que concerne a texto, imagem e som.
Centramos nossas percepções nas sobrevivências culturais africanas e seus vestígios
comunicacionais no Maranhão. A partir do conceito de Terceira Diáspora (GUERREIRO,
2010), focamos nossa análise nos modos de fazer comunicação originários, ou seja, o
fazer comunicacional de povos originários que disputa a comunicação de massas.
Termo este que tem sido amadurecido, a Terceira Diáspora é o deslocamento de signos,
provocado pelo circuito de comunicação da Diáspora Negra e coloca em conexão digital
os repertórios culturais de cidades atlânticas. O momento de revide aqui referido é essa
comunicação que tem ocupado novos espaços como um direito humano. Numa primeira
etapa desta pesquisa, temos produtos comunicacionais em três campos: quilombolas,
ribeirinhos e povos de terreiro na cidade de Timon (MA). Neste segundo momento,
faremos um exercício etnográfico de produtos audiovisuais em terreiros; análise de
pontos cantados nestas casas como produtos sonoros; pesquisa documental e revisão
bibliográfica referentes aos produtos textuais.

Palavras-chave: Comunicação; Originária; Cultura; Afro-Brasileira; Diáspora

1 Mestranda no Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Cultura, Linha de Mídia e Mediações


Socioculturais, na Universidade Federal do Rio de Janeiro. Email: carmoly@hotmail.com.
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Abstract: This work studies three fields still in the process of exploration in the country:
the Black Diasporas in Brazil, the historical potential of the state of Maranhão and the
strength of the cultural products of the Afro-Brazilian populations, mainly from the
elements that produce meaning in what concerns to text, image and sound. We focus our
perceptions on African cultural survivals and their communication traces in Maranhão.
From the concept of the Third Diaspora (GUERREIRO, 2010), we focus our analysis on
the ways of making communication originating, that is, the communicational doing of
native peoples that dispute mass communication. This term has been matured, the Third
Diaspora is the displacement of signs, provoked by the communication circuit of the
Black Diaspora and puts in digital connection the cultural repertoires of Atlantic cities.
The moment of revolver referred to here is this communication that has occupied new
spaces as a human right. In a first stage of this research, we have communicational
products in three fields: quilombolas, riverine and terreiro people in the city of Timon
(MA). In this second moment, we will make an ethnographic exercise of audiovisual
products in terreiros; analysis of points sung in these houses as sound products;
documentary research and bibliographical revision referring to textual products.

Keywords: Communication; Original; Culture; Afro-Brazilian; Diaspora

1. Introdução

Este projeto visa estudar três campos ainda em processo de exploração no


país: as Diásporas Negras no Brasil, o estado do Maranhão e seu potencial histórico e a
força dos produtos culturais protagonizados pelas populações afro-brasileiras,
prioritariamente a partir dos elementos produtores de sentido no que concerne a texto,
imagem e som. Tal pesquisa terá como palco e ponto de partida a cidade de Timon, no
Maranhão, mais especificamente a partir de um território quilombola maranhense, que
envolve o Quilombo Monteiro, localizado na zona rural de Timon, bem como a memória
da formação da cidade a partir do ponto de vista de dois dos seus terreiros de matrizes
africanas mais antigos.
Centraremos nossas percepções na Terceira Diáspora, termo desenvolvido
pela pesquisadora e antropóloga Goli Guerreiro (2010), que discorre sobre o movimento
de signos negros pelo mundo virtual no momento atual, assim como focaremos nossa
análise nos modos de fazer comunicação originários, ou seja, o fazer comunicacional
que disputa a comunicação de massas.

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Até então, as pesquisas vem contemplando a cidade de Salvador, na Bahia,


dentro da Terceira Diáspora, muito pelo título de capital negra das Américas. Entretanto,
muitas vezes é esquecido que São Luís, capital do Maranhão, foi uma das mais
importantes cidades portuárias do país, e junto a Salvador e Rio de Janeiro, as que mais
receberam negros escravizados da África. Por isso a importância de deslocar essa
produção de sentido para uma área ainda pouco explorada, e fazer o cruzamento de
dados com o que já temos em outras regiões.
Trazemos o processo de reconhecimento das identidades culturais como
tarefa primordial para a conquista de direitos e reparações, colocando a disputa da mídia
como instrumento essencial nesse processo. Comunicar, também, é um direito humano,
negado às populações pretas por bastante tempo dentro das grandes mídias.

2. Justificativa e abordagem teórica

Como guetos ainda invisibilizados, mas que experimentam alternativas de


comunicação cada vez mais em ascensão na Terceira Diáspora, ou como forma de
encontrar um espaço de comunicação onde se vejam retratadas, a população negra,
maioria marginalizada, não se acomoda com as péssimas condições estruturais a que
está submetida. É importantíssimo que o campo da comunicação, seja ela popular,
comunitária, tradicional ou originária, ganhe exemplos concretos dessas populações e
saiam do anonimato ou da abstração.
Esta pesquisa pretende-se e já é coletiva, uma vez que tem início em minha
graduação - primeira etapa - com o livro: ‘TIMONEGRA – Vida e cultura em
comunidades negras na cidade de Timon’. O livro evidencia três comunidades negras: o
território quilombola Monteiro, o Povoado ribeirinho Piranhas e a comunidade de Terreiro
Santa Joana Dar’c, levantando seus modos de viver e produzir cultura, bem como seus
modos de fazer comunicação. A saber, Monteiro é a comunidade rural que minha família
paterna se origina e a casa onde moro até hoje, em Timon, foi a Tenda de Umbanda de
meu bisavô nos anos 60 e 70.
Às vésperas da independência do Brasil, o Maranhão apresentava a mais alta
porcentagem de escravos do Império: 55% da população, segundo a Coleção Negro

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Cosme (2005). No período de abril de 1988 a março de 2005, foi feito o mapeamento
das comunidades negras rurais do estado do Maranhão, totalizando 476 comunidades
em 62 municípios maranhenses.
De 1534 a 1888 foram 354 anos de escravização, e de 1888 a 2019 temos
apenas 131 anos da população negra em liberdade. Os números revelam que ainda
temos muito caminho a percorrer, direitos a conquistar e políticas de reparação a fazer.
Tudo isso se deve ao fato de que, no pós-abolição, a população negra não
teve nenhuma chance de reestruturação, pelo contrário, teve diversos direitos negados,
como o acesso à terra e ao conhecimento. Na mídia, foi-lhe reservada a estigmatização.
Na contramão desses dados, temos os territórios quilombolas e suas
reexistências, a sabedoria das religiões de matriz africana, a oralidade do povo preto, a
cosmovisão africana adotada por afro-brasileiros e a ancestralidade, que faz o elo de
todas essas riquezas. O papel da comunicação aqui, é desbravar todos esses potenciais
dos valores civilizatórios afro-brasileiros, sejam eles: circularidade, oralidade, energia
vital (axé), ludicidade, memória, ancestralidade, cooperativismo, comunitarismo,
musicalidade, corporeidade e religiosidade (EMBOABA, 2010).
É dentro disso que exploraremos a Terceira Diáspora com um viés da
Webdiáspora (Mohammed ElHajji, 2014), para se referir às plataformas digitais on de
imigrantes e culturas se conectam, através de uma memória espacial, do presente,
coletiva e narrativa. Mbembe (2013), desenvolve o conceito uma razão como declaração
de identidade, o negro falando por si mesmo, fazendo um esforço para instaurar um
arquivo de vestígios que não foram preservados, e algumas vezes destruídos. Uma
escrita vivida na fragmentação, com restos dispersos em todos os cantos do mundo, que
reatualiza sua experiência originária, a partir de seu próprio território.

3. Métodos e instrumentos de pesquisa

Será realizada pesquisa documental, a fim de coletar dados, registro de sons


e análise de conteúdo audiovisual. Essas fontes poderão ser encontradas em fotografias
de família; arquivos institucionais, de jornais e de comunicadores populares; sons ou
ruídos sociais, encontrados, por exemplo, nas festas de umbanda, com os pontos

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cantados. O nível interpretativo da análise será marcado, assim, pelo sentido da ação
social, suas formas de consciência e categorias em determinada configuração histórica.
Numa primeira etapa desta pesquisa, temos produtos comunicacionais em
três campos: quilombolas, ribeirinhos e povos de terreiro na cidade de Timon (MA). Em
todos eles, encontramos comunicadores desenvolvendo metodologias comunicacionais
e até exemplo de criação das próprias máquinas de trabalho. Neste segundo momento,
faremos um exercício etnográfico no que se refere aos produtos imagéticos feitos em
festas de terreiro em cidades do Maranhão filmadas por comunicadores populares;
análise dos pontos cantados em terreiros como produtos sonoros; além de pesquisa
documental e revisão bibliográfica referentes aos produtos textuais.

4. Desenvolvimento

A partir do desenvolvimento do conceito de povos afro-pindorâmicos (BISPO,


2015) examinaremos sua comunicação originária, ou seja, feita por povos originários
para a degustação da vida, emancipação, e a vivência de uma realidade mais de seu
próprio jeito.
A comunicação oral, presente nos pontos cantados de terreiro de matriz
africana, nas rodas de conversa e contação de histórias nos territórios quilombolas, ou
na rádio poste identificada na comunidade ribeirinha Piranhas (MA), por exemplo, nos
revelam que essa oralidade, calcada na ancestralidade e na cosmovisão africana de
viver, possui um grande potencial que, se desbravado, podem nos apontar diversos
signos e produtos para caracterizar a Terceira Diáspora no Maranhão.
É preciso destacar também que os dois terreiros mais antigos da cidade de
Timon, a Tenda da Mãe Maria do Carmo, com mais de 50 anos, existente até hoje, e o
terreiro de meu bisavô, Luis Mocó, onde se localiza minha casa e recebeu filhos de
santo do Piauí e Ceará quando em atividade, falam muito sobre a conformação da
cidade. Eles demarcam para além de um território sagrado, mas falam de pontos
históricos da cidade e de suas memórias mais antigas. Aqui, levantamos a hipótese de
que estudar a história desses terreiros e entender sua movimentação e dinâmica nos faz
chegar em outros pontos do estado do Maranhão. E mais, nos fazem acessar modos de

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fazer comunicação originários que podem nos levar a outras instâncias, transformando
nosso entendimento de imagem, forma, superfície, figura, imaginário (Mbembe, 2013).

5. Conclusões

A ligação do ser no presente com os ancestrais engloba as experiências


históricas e as mudanças vividas através das gerações. Não é uma tentativa de
reestabelecer ou voltar para um passado romântico, algo que o povo preto nem pode
dizer que teve no Brasil; mas uma tentativa de pensar, desenvolver e transmitir a cultura,
experiência, e memória ancestral para nos orientar no presente.
Fazer com que a sabedoria deste povo esteja dentro das políticas de
comunicação e localizar a existência desses saberes com poder comunicativo ao longo
do tempo histórico e afro-diáspórico no Brasil, é efetivar na prática uma comunicação
participativa que valoriza seus sujeitos e sujeitas, detentores de direitos.

6. Referencias bibliográficas

BISPO, Antônio. Colonização, Quilombos: Modos e significados. Brasília, UnB, 2015.

Coleção Negro Cosme - Vida de Negro no Maranhão: uma experiência de luta,


organização e resistência nos territórios quilombolas. Volume IV, São Luís, SMDH\
CCN-MA\PVN 2005.
ELHAJJI, Mohammed. Comunidades diaspóricas e cidadania global: o papel do
intercultural. ESFERAS - Revista Interprogramas de Pós-graduação em Comunicação
do Centro Oeste, v. 01, p. 145-151, 2014.
EMBOABA, Alexandre. Mobilizando a ancestralidade afro-brasileira para a
transformação das relações sociais e o desenvolvimento global. Ribeirão Preto.
2007

GUERREIRO, Goli. Terceira diáspora, culturas negras no mundo atlântico. Editora


Corrupio. Salvador, 2010.

MBEMBE, Achile. Crítica da Razão Negra. Lisboa: Editora Antígona, 2013

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Jornalismo investigativo e independente: uma


intersecção para a promoção da cidadania

Investigative and independent journalism: an intersection for


the citizenship promotion

Gabriela Giannini – PUCPR1

Resumo: Este resumo apresenta os resultados obtidos na pesquisa “Promoção da


cidadania no jornalismo investigativo e de dados independente”, realizada no Programa
de Iniciação Científica da Pontifícia Universidade Católica do Paraná, com o objetivo de
averiguar quais direitos relacionados à cidadania prevalecem nas reportagens do
jornalismo brasileiro independente, estabelecendo de que modo este tipo de produção
jornalística contribui para emancipar grupos socialmente marginalizados. Para este
seminário, apresenta-se o aprofundamento de sua segunda etapa, que consistiu em
entrevistas realizadas com jornalistas que exercem no dia a dia esta forma alternativa de
produção midiática. Por meio de análise de conteúdo, a pesquisa averiguou que todos os
portais estudados promovem a cidadania nas suas reportagens, assim como, todos os
jornalistas respondentes acreditam que o jornalismo independente, investigativo e de
dados promove a cidadania, conforme prevê o Código de Ética dos Jornalistas Brasileiros
(FENAJ, 2007). O resumo apresenta brevemente os dados obtidos na pesquisa e segue
com a organização do cruzamento das respostas a partir de três relações do jornalista:
com a promoção da cidadania, com a escolha das pautas e com os personagens
entrevistados.

Palavras-chave: Jornalismo independente; Cidadania; Jornalismo Investigativo;


Jornalista.

Abstract: This summary aims to present the results obtained in the research 'Citizenship's
Promotion in Investigative and Data Journalism', held in the PUC-PR's Scientific Initiation
Program, this research aims to ascertain wich rights related to prevail in the reports of
independent Brazilian journalism in order to understand if this mode of journalistic

1Graduada em Comunicação Social – Jornalismo pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR);
contato: gabrielagiannini@gmail.com.

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production contributes to emancipate socially marginalized groups. And propose the


deepening of its second stage, which consisted of interviews with journalists who exercise
this alternative form of media production on a daily basis.
By means of content analysis, the research verified that all studied portals promote
citizenship through their reports, as well as all respondent journalists believe that
independent investigative and data journalism promotes citizenship, as provided by
Brazilian Journalists Code of Ethics (FENAJ, 2007).
The summary briefly presents the data obtained in the research and follows with the
organization of the crossing of the answers from three relations of the journalist: with the
promotion of citizenship, with the choice of the guidelines and with the characters
interviewed.

Keywords: Independent Journalism; Citizenship; Investigative Journalism; Journalists.

1. Introdução
Novas formas de produção jornalística têm surgido como alternativa ao modo de
produção convencional da mídia hegemônica. Estes novos arranjos jornalísticos, que
também são denominados como independente ou alternativo por autointitulação dos
próprios jornalistas, têm crescido em contrapartida ao encolhimento de conglomerados de
comunicação (FIGARO, 2018).
Diante deste cenário, Ramos e Spinelli (2015) destacam o protagonismo do
jornalista nesta mudança, compreendendo que as alternativas são executadas por
profissionais que migraram da grande mídia em busca de um jornalismo apartidário e sem
fins lucrativos.
Esta pesquisa, desenvolvida no Programa de Iniciação Científica da Pontifícia
Universidade Católica do Paraná2, verificou, por meio de uma análise de conteúdo
qualitativa, que portais que se autoclassificam como investigativo, independente e de
dados listados no Mapa do Jornalismo Independente3 promovem a cidadania.
A pesquisa também aplicou um questionário com jornalistas, o que além de
corroborar com o resultado da análise, visto que todos os entrevistados acreditam que o

2A pesquisa contou com a orientação da professora Criselli Montipó, mestre e doutoranda em Jornalismo
pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).
3 O Mapa do Jornalismo Independente foi criado pela Agência Pública em 2016 e recebe atualização

constantemente. Disponível em: <www.apublica.org/mapa-do-jornalismo/>.


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jornalismo independente promove a cidadania, ampliou a discussão sobre a relação dos


jornalistas com a cidadania.

2. Justificativa e abordagem teórica


Ao averiguar as motivações na escolha da pauta, relacionamento com
personagens e a promoção da cidadania, é possível compreender a práxis de produção
jornalística a partir de um viés contra-hegemônico, que mesmo fora dos veículos de
massa, atinge inúmeros leitores4.
Para o desenvolvimento teórico, foram marcos, Gentilli (2005), na conceituação de
cidadania e do jornalismo enquanto ferramenta democrática para sua promoção, Ramos
e Spinelli (2005) que conceituam o jornalismo independente a partir da necessidade do
jornalista em exercer seu ofício livremente e Sequeira (2005), na identificação nas
reportagens de jornalismo investigativo.
Também foram marcos essenciais, utilizados na construção teórica-metodológica
das categorias de análise de conteúdo, Carvalho (2002), que estabelece os direitos
relacionados à cidadania, Sodré e Ferrari (1986), na classificação do tipo de reportagem
e Hunter (2013), na categorização dos dados abertos identificados.

3. Métodos e instrumentos de pesquisa


A primeira etapa da pesquisa foi a análise conteúdo dos onze portais
autoclassificados como jornalismo independentes, investigativo e de dados presentes no
Mapa do Jornalismo Independente, são eles: Agência Pública, Amazônia Real, AzMina,
Cidades para Pessoas, Marco Zero Conteúdo, Ponte, Repórter Brasil, Aos Fatos, Lupa,
Livre.Jor e Volt Data Lab.
A seleção das reportagens foi realizada a partir do conceito de semana artificial
proposta por Bauer (2008). Sequencialmente, as reportagens foram submetidas ao
método de análise de conteúdo apresentado por Herscovitz (2010), que considera o
conteúdo apresentado a partir das métricas de classificação buscando a identificação de

4Levantamento com base nas redes sociais dos portais analisados, que somam mais 1,7 milhões de
seguidores no Facebook.
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elementos típicos, exemplos representativos e discrepâncias, permitindo assim, a


comparação entre diferentes mídias, destacando tendências, critérios de noticiabilidade e
enquadramento de agendamentos.
Após esta análise, foi aplicado um questionário5 montado na plataforma Google
Forms6, que obteve respostas de nove jornalistas de portais distintos.

4. Desenvolvimento

O primeiro subtítulo refere-se à análise do conteúdo das reportagens e o segundo,


a tópicos recorrentes nas respostas concedidas pelos jornalistas entrevistados.

4.1 Reportagens analisadas

Foi constatado que as 39 reportagens analisadas apresentam algum dos três


direitos relacionados à cidadania. As personagens relacionadas às minorias sociais têm
papel protagonista no desenvolvimento da reportagem, inclusive nos suportes
multimidiáticos. Constatou-se também que quase a totalidade das reportagens (98%),
utilizou dados abertos como recurso para a construção da narrativa.

4.2 Relação do jornalista com a cidadania, a escolha das pautas e as personagens

Foi constatada nas respostas obtidas uma relação simbiótica entre o financiamento
das reportagens e o seu conteúdo. Para os respondentes, o que torna possível a
elaboração de pautas que promovem a cidadania são as formas alternativas de
financiamento que não restringem o jornalismo ao número de curtidas recebidas em uma
reportagem ou a determinados grupos comercialmente dominantes. Desta forma, o
jornalismo independente e investigativo foi colocado como necessário para a abordagem
de temas e realidades ignoradas por outros setores, inclusive midiáticos, da sociedade.

5O questionário foiaprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da PUCPR (CAAE: 69668417.3.0000.0020).


6 Disponível em: <www.goo.gl/forms/G7DL6h8r0Mx4tbYe2>.
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Notou-se a recorrência de repostas que colocam a violação de direitos humanos


relacionados a linha editorial do portal como um importante critério para a escolha das
pautas. Também foram recorrentes respostas que trouxeram a necessidade de criar um
contraponto às pautas trazidas pela mídia tradicional, demonstrando indício do
afastamento da premissa da promoção da cidadania através do jornalismo hegemônico.
Os respondentes apontaram também uma aproximação maior dos jornalistas com
as fontes no jornalismo investigativo devido, principalmente, ao maior tempo de execução
da pauta. Além disso, foi possível notar o interesse em narrativas protagonizadas por
grupos marginalizados, que, segundo os entrevistados, não encontram representatividade
na mídia hegemônica. Entretanto, as fontes oficiais também desempenham um papel de
relevância nessas reportagens, seja na recorrente utilização de dados abertos públicos ou
na procura de respostas oficiais a questões trazidas pelo corpo popular.

5. Conclusões
Todas as reportagens analisadas promovem a cidadania, assim como, todos os
entrevistados acreditam que o jornalismo independente é uma forma de promoção da
cidadania. Os respondentes do questionário corroboram com a premissa de uma maior
liberdade na escolha de pautas e relacionamento com personagens dentro do jornalismo
independente e investigativo.
A relação intrínseca observada entre a forma independente do exercício jornalístico
e a promoção da cidadania está relacionada ao financiamento do conteúdo; enquanto a
mídia hegemônica está associada a setores corporativistas, a independente encontra
formas alternativas de financiamento, como o financiamento coletivo.
É possível ampliar esta discussão dentro da pesquisa, que não observou a fonte
de rentabilidade dos portais, sendo estas alternativas elencadas pelos respondentes de
forma natural. Também é possível aprofundar o interesse do público por reportagens que
promovam a cidadania, considerando o financiamento direto desses a estes portais.

6. Referências bibliográficas

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AGÊNCIA PÚBLICA. Mapa do Jornalismo Independente. São Paulo, 2016. Disponível


em: <http://apublica.org/mapa-do-jornalismo/#_>. Último acesso: 25 maio 2019.
BAUER, Martin W. Análise de conteúdo clássica: uma revisão. In: BAUER, Martin W.;
GASKELL, George. Pesquisa qualitativa com texto, imagem e som: um manual
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Derechos MERCOSUR: El viaje de Iracema


Corina Leguizamón – Emiliano González Marassa – Instituto de Políticas Públicas en
Derechos Humanos del MERCOSUR1
Resumo:

Este trabajo presenta como la comunicación, el arte y las nuevas tecnologías son
herramientas políticas para los derechos humanos, que juntas contribuyen
estratégicamente con la transformación social, con el acceso a la información y la
sensibilización.
La ciudadanía en general, estudiantes de universidades, funcionarias y funcionarios del
sector público desde guardiacárceles hasta diplomáticos como mujeres privadas de
libertad vivieron la experiencia en realidad virtual de Iracema, una joven oriunda de Brasil
que migra a la Argentina en búsqueda de nuevas aventuras, que incluye el descubrimiento
de sus derechos, reconocidos en el MERCOSUR.
El Instituto de Políticas Públicas en Derechos Humanos del MERCOSUR (IPPDH)
incorporó las nuevas narrativas digitales a su Programa de Promoción de Derechos
Humanos con la propuesta multimedia “Derechos MERCOSUR: El viaje de Iracema”,
innovando en las formas de comunicar, informar y sensibilizar sobre los derechos
humanos.
La propuesta utiliza la tecnología y el arte en la estrategia de comunicación política para
sensibilizar e informar sobre los derechos humanos. Desde la narrativa transmedia, en un
lenguaje sencillo y didáctico da a conocer los compromisos asumidos por los Estados, que
son derechos de la población como la salud, la educación, el trabajo, el derecho a migrar.
Palavras-chave: Arial 12 – Derechos Humanos, Comunicación, Realidad Virtual, Arte,
Cultura.

Abstract:
This paper presents how communication, art and new technologies are political tools for
human rights, which together contribute strategically to social transformation, with access
to information and awareness.
Citizenship in general, university students and public employees from prison guards to

1 Corina Leguizamón e Directora de Comunicación y Cultura del Instituto de Políticas Públicas em Derechos
Humanos del MERCOSUR (IPPDH). Licenciada en Ciencias de la Comunicación con Énfasis en
Comunicación Institucional y Master en Derechos Humanos por la Universidad Alcalá de Henares.
Emiliano González Marassa es licenciado en Marketin. Actualmente, cursa la Maestría en Artes Electrónicas
por la Universidad Tres de Febrero de Buenos Aires, Argentina. Es responsable de nuevos médios del
IPPDH. Contactos: cleguizamon@ippdh.mercosur.int y egonzalezm@ippdh.mercosur.int
www.ippdh.mercosur.int

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diplomats as women deprived of liberty lived the virtual reality experience of Iracema, a
young woman from Brazil who migrates to Argentina in search of new adventures, which
includes the discovery of her rights, recognized in the MERCOSUR.

The Institute of Public Policies on human rights of the MERCOSUR[1] incorporated the
new digital narratives to its program of promotion of human rights with the multimedia
proposal "MERCOSUR rights: The journey of Iracema", innovating in the forms of
Communicate, inform and raise awareness about human rights.

The proposal uses technology and art in the strategy of political communication to sensitize
and inform issues about human rights. From the transmedia narrative, in a simple and
didactic language, it makes known the commitments made by the States, which are rights
of the population such as health, education, work, the right to migrate.

Keywords: Arial 12 – Human Raights, Communication, Virtual Reality, Art, Culture

Comunicación, arte, nuevas tecnologías y derechos humanos

La promoción de los derechos humanos no es tarea fácil, sobre todo cuando el objetivo
es contribuir estratégicamente con la transformación social. La comunicación, en este
sentido juega un rol fundamental, dinámico que debe ir más allá de la mera
instrumentalización de sus herramientas. La comunicación es un instrumento político para
los derechos humanos y no está sola para cumplir su objetivo en este ámbito, viene
acompañada de otros instrumentos como las nuevas tecnologías y el arte.

En este trabajo presentaremos la iniciativa Derechos MERCOSUR, el viaje de Iracema.


Un proyecto transmedia que, desde la comunicación incorpora el arte, la ficción, la realidad
virtual para ofrecer un público variado información, en un lenguaje práctico y sencillo,
sobre los derechos que habitantes del MERCOSUR han conquistado a lo largo de la
historia, dando cuenta además de la diversidad cultural que existe en la región.

En el trayecto de la producción del Viaje de Iracema, se pudo ver como efectivamente las
nuevas tecnologías incorporadas a una estrategia de comunicación para la promoción de

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derechos pueden producir un sinfín de experiencias en el público destinatario. Desde


identificar derechos que muchas personas, no saben con las que cuentan hasta la
posibilidad de sentirse “en libertad” estando en situación de privación de la misma.

La estrategia multimedia incluye actividades en realidad virtual, concursos,


acciones lúdicas en redes sociales y distribución de material educativo impreso para
diferentes públicos. Por esta experiencia han pasado más de 1500 personas, a través de
sus diferentes plataformas, las respuestas dan cuenta de una diversidad de llegada a partir
del contenido asistido.

En la construcción de esta iniciativa se ha tenido en cuenta la emergencia de las culturas


híbridas, donde el ámbito cultural es intervenido por una serie de procesos dinámicos2 y
transversales que vienen modificando costumbres, acciones, procesos organizativos, y en
últimas, donde el desafío para una comunicación que trabaja al servicio de los derechos
humanos es contribuir con el cambio que construya una sociedad más justa y menos
desigual.

Lo planteado en el último párrafo no puede perder de vista cómo la revolución tecnológica


atraviesa el sistema de valores, creencias y formas de constituir mentalmente una
sociedad3. Lo que se muestra es cómo la dimensión cultural, es decir, el sistema de
valores, creencias y formas de constituir mentalmente sociedades, es decisiva en la
producción y las formas de estas tecnologías clave de nuestros paradigmas.

La comunicación como derecho humano


La comunicación como derecho, entre otras cosas, facilita poner en el escenario las
representaciones de colectivos y sus intereses, necesidades y decisiones que tienen que
ver con la demanda de derechos en el barrio, la comunicad, la ciudad, el campo, el país,

2 Marco Raúl Mejía, « La tecnología, la(s) cultura(s) tecnológica(s) y la educación popular en tiempos de
globalización », Polis [Online], 7 | 2004. http://journals.openedition.org/polis/6242
3 Castel Manuel; La dimensión cultural de internet, 2002.

https://www.uoc.edu/culturaxxi/esp/articles/castells0502/castells0502.html
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la región y en función a estas, las instituciones de los Estados deben establecer


respuestas concretas relacionadas con la plena vigencia de los derechos.

Es aquí el desafío fundamental de la comunicación, generar estrategias sólidas y


desafiantes que permitan efectivamente incidir en la transformación social en una
articulación Estado – Ciudadanía – Pueblos. Y es desde donde el IPPDH desarrolla su
labor en el ámbito de la promoción de derechos incorporando el dinámico mundo de las
nuevas tecnológicas, entendiendo su impacto en la población, su uso y réditos para el
sistema del capital.

En los últimos dos años, el IPPDH incorporó la comunicación, el arte y las nuevas
tecnologías como herramientas políticas para los derechos humanos, para contribuir
estratégicamente con la transformación social, con el acceso a la información y la
sensibilización.

El proyecto: una apuesta transmedia


En su apuesta “Derechos MERCOSUR: El viaje de Iracema” desde una estrategia
multimedia que incluye actividades en realidad virtual, concursos, acciones lúdicas en
redes sociales y distribución de material educativo impreso para diferentes públicos que
está en desarrollo desde octubre de 2018, junta la tecnología y los derechos humanos
para sensibilizar nuevos públicos y sumarlos a la promoción y defensa de derechos
humanos. A través de estas distintas plataformas, el público general conocerá a Iracema,
una joven oriunda de Brasil que migra a la Argentina en búsqueda de nuevas aventuras.
En el devenir de su viaje ella conocerá sus derechos económicos, sociales y culturales,
reconocidos en la región en el ámbito del MERCOSUR.

La idea es facilitar el acceso a información en la materia con una propuesta innovadora


que colabora de manera amigable, pedagógica, inclusiva y gratuita con la promoción de
una cultura de derechos humanos. Así se pretende contribuir con la ciudadanía
mercosuriana en el conocimiento sobre sus derechos, contando con más y mejores
herramientas para defenderlos y evitar su vulneración. Actividades van en consonancia

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con los consensos de la comunidad internacional en la materia, quien entiende que la


educación en derechos humanos contribuye a la realización de los mismos, así como a la
prevención de abusos de derechos y de los conflictos violentos, a corto, mediano y largo
plazo.

La ciudadanía en general, estudiantes de universidades, funcionarias y funcionarios del


sector público desde guardia-cárceles hasta diplomáticos como mujeres privadas de
libertad vivieron la experiencia en realidad virtual de Iracema, una joven oriunda de Brasil
que migra a la Argentina en búsqueda de nuevas aventuras, que incluyen el
descubrimiento de sus derechos, reconocidos en el MERCOSUR.

Hasta ahora, más de 800 personas hicieron la experiencia y ha iniciado el recorrido por
penitenciarías provinciales de la Argentina. Cada una de las personas que vivieron la
experiencia, tocada por lo que implica la realidad virtual, en ese mundo que conecta lo
real con lo imaginario, sin perder de vista toda la información contenida en una ficción
sobre los derechos humanos. Es entonces, cuando una persona privada de libertad
reflexiona, luego de haber hecho la experiencia tomada de la mano de una amiga, en una
de las penitenciarías del Gran Buenos Aires:

“Pude conocer un poco más sobre mis derechos; y también, mirando la naturaleza desde
ese aparato, me sentí cinco minutos en libertad”

Con Derechos MERCOSUR: el viaje de Iracema se pudo plasmar cómo las nuevas
tecnologías poseen un valor en sí para el ejercicio de derechos relacionado con el acceso
a la información y la comunicación también, en el sentido que permite forjar redes, facilita
la expresión, el dar a conocer las ideas, muy ligadas a la participación y a la libertad de
expresión4. Sumado a esto, el poder que el arte tiene para la promoción, reparación de
los derechos humanos, en términos de que cada expresión artística nos trae un relato con

4ACEVEDO, Manuel (2004). «Las TIC en las políticas de cooperación al desarrollo: hacia una nueva
cooperación en la Sociedad en Red». En Cuadernos Internacionales de Tecnología para el Desarrollo
Humano, 2. En línea. Ingeniería Sin Fronteras (ISF).
http://www.mujeresenred.net/zonaTIC/IMG/pdf/02_Manuel_Acevedo.pdf
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información poderosa sobre los derechos así como una poesía, una obra de teatro tanto
asistirla como hacerla es en definitiva es la posibilidad de acceder a un derecho, el
derecho a la cultura que a su vez puede reparar violaciones de derechos humanos5.
En definitiva, con el Viaje de Iracema podemos ver que efectivamente estamos ante un
escenario multidisciplinario que bien utilizado, contribuye a cambiar vidas, facilitando el
acceso a la información, conectándonos con el arte, sensibiliza sobre realidades, nos
convoca a participar y a ejercer los derechos.

* “Derechos MERCOSUR: El viaje de Iracema” fue desarrollada integralmente por el IPPDH, entre
las actividades componentes del proyecto “Fortaleciendo Capacidades Institucionales para la
Gestión de Políticas Públicas en Derechos Humanos en el MERCOSUR”, financiado por el Fondo
para la Convergencia Estructural del MERCOSUR (FOCEM).

Bibliografía
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una nueva cooperación en la Sociedad en Red». En Cuadernos Internacionales de
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5 Sierra Leon Yolanda; Revista Derecho del Estado, ISSN 0122-9893, Nº. 32, 2014, págs. 77 100
https://dialnet.unirioja.es/servlet/articulo?codigo=4765385
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A construção da imagem pública do manifestante


brasileiro

The public image construction of the Brazilian protester

Juliana Chaves Viegas – Universidade do Estado do Rio de Janeiro1

Resumo: A pesquisa busca compreender as representações de manifestantes no Brasil


em documentários contemporâneos. São analisadas produções realizadas entre 2013 e
2018, a fim de mergulhar na recente história do Brasil e perceber como as imagens se
apresentam como fonte de investigação. Dentro deste eixo, foram escolhidos os
documentários Ressurgentes – Um Filme de Ação Direta (2014) de Dácia Ibiapina, Índio
Cidadão (2014) de Rodrigo Siqueira, DEFENSORXS (2015) do Coletivo Nigéria, O Muro
(2017) de Lula Buarque de Hollanda e os curtas Reflexo (2016), Corpos Políticos (2016)
e O real é aquilo que resiste (2018), do coletivo feminista Mulheres no Audiovisual PE
(MAPE), a fim de analisar a forma como os manifestantes vêm sendo retratados. O
intuito é compor uma análise comparativa das narrativas, das linguagens, das temáticas
e das posturas dos documentaristas assim como das pessoas retratadas. A investigação
se dá entorno do atual cenário de polarização política no Brasil.

Palavras-chave: representação; imaginário; política; documentário; manifestação.

Abstract: The project proposal seeks to understand representations of protesters in


Brazil in contemporary documentaries. Productions made between 2013 and 2018 are
analyzed in order to understand the recent history of Brazil and see how the images are
presented as a source of research. The documentaries chosen are: Ressurgentes – Um
Filme de Ação Direta (2014) by Dácia Ibiapina, Índio Cidadão (2014) by Rodrigo
Siqueira, DEFENSORXS (2015) by Coletivo Nigéria, O Muro (2017) by Lula Buarque de
Hollanda and Reflexo (2016), Corpos Políticos (2016) and O real é aquilo que resiste
(2018), by Mulheres no Audiovisual PE (MAPE) in order to analyze the way protesters
have been portrayed. A comparative analysis of the narratives, languages, themes and

1 Mestranda no Programa de Pós-Graduação em Comunicação da UERJ na linha Cultura das Mídias,


Imaginário e Cidade e bacharel em Relações Públicas pela mesma instituição (2015), membro do Grupo
de Pesquisa Narrativas Midiáticas e Experiência Urbana (NAME) e do Núcleo de Estudos do Ódio (NEO).
E-mail: <jchviegas@gmail.com>

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documentarists as well as the people portrayed will be made. The investigation is around
the current political polarization in Brazil.

Keywords: representation; imaginary; politics; documentary; protest.

1. Introdução

O manifestante brasileiro tem tomado preferências políticas de modo autônomo e seu


engajamento em ações coletivas é refletido em como o próprio se compreende enquanto
cidadão. As comunidades políticas formadas através do reconhecimento de pautas e de
valores de escolha de ação vêm reforçando identidades que afetam a noção existencial
individual, provocando uma polarização de narrativas e contranarrativas. Surgida nas
manifestações de 2013, esta disputa discursiva na sociedade brasileira atual vêm
reconfigurando e criando processos comucacionais e mobilizações de rua dos mais
variados.

As continuidades e descontinuidades das Jornadas de Junho permitem acompanhar a


formação de uma nova cultura política e rupturas de comportamento na diversidade de
atores sociais participativos atualmente. Com o intuito de olhar este processo histórico e
os novos padrões identitários criados, esta pesquisa busca pensar as representações
sobre os manifestantes em um sentido amplo, explorando as possibilidades de
construção de imaginários dentro da comunicação, bem como a própria atuação do
cidadão nas manifestações, e a desconstrução do realismo presente no cinema
documental.

Reconhecendo a importância dos documentários como fonte de pesquisa histórica, a


pesquisa visa apurar questões relativas à narrativa presente nessas produções e à
representação que os mesmos constroem dos manifestantes. Uma vez que os discursos
são muitos, além de inseridos em contextos distintos, esses dois elementos ajudam a
orientar a proposta em sua execução, determinando os ângulos para o objeto de análise.

2. Justificativa e abordagem teórica

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Documentários políticos têm uma busca pelo real propondo uma reparação para a
testemunha e para a história (STIGGER, GUTFREIND, 2016). Dessa forma, na mesma
medida em que possibilitam compreender o acontecimento político, trazem a tona o
valor de prova da imagem e o engajamento único dos cinegrafistas que o realizam.

Entendendo o documentário como um pretenso retrato da realidade, a pesquisa busca


discutir as limitações e possibilidades das interpretações simbólicas das imagens e
como suas narrativas geram diferentes perspectivas de um mesmo fato histórico. A partir
da seletividade das fontes, busca-se compreender o ethos desses grupos de
manifestantes no que tange principalmente o imaginário de afetos criado, levando em
consideração a disputa de espetáculos e suas pulsões subjetivas.

Para entender as raízes do imaginário do manifestante brasileiro como construção de


sentido e em que meios operam, suas disputas discursivas e como a democracia em
seu processo de participação é defendida por cada grupo, propõe-se, num primeiro
momento, categorizar os tipos de manifestantes a serem estudados a partir da pesquisa
realizada por Luciana Tatagiba e Andreia Galvão (2019). Pretende-se também realizar
uma análise de discurso através dos estudos de Patrick Charadeau, considerando as
falas dos manifestantes.

O desenvolvimento da pesquisa terá como base o próprio material audiovisual e utilizará


os conceitos de mediações simbólicas e teoria do imaginário de Michel Maffesoli para
pensar a construção do imaginário político em manifestações e a compreensão de
representação na cultura brasileira através dos estudos de Stuart Hall.

3. Métodos e instrumentos de pesquisa

A pesquisa busca analisar o conteúdo e a estrutura dos documentários considerando a


complexidade de elementos presentes (de sentidos, imagens, técnicas, sequência de
cenas e composição) usando diferentes orientações teóricas para saber o que
selecionar para transcrições de cenas (BAUER;GASKELL, 2003).

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O corpus selecionado permite realizar um estudos em cima de uma segunda narrativa,


esta produzida a partir do olhar dos documentaristas, e perceber no que se diferenciam
e se repetem, como são abordadas pautas comportamentais e como se deu essa
ressignificação das agendas de direitos humanos em linhas de discurso.

Inicialmente, propõe-se algumas reflexões sobre o gênero cinematográfico do


documentário a partir das perspectivas de Bill Nicholls e Francisco Elinaldo Teixeira,
visando articulá-las com o conceito de narrativa, utilizando principalmente as ideias de
Paul Ricoeur. A pesquisa será desenvolvida com ênfase no próprio material audiovisual,
tendo Manuela Penafria (2009) como referência analítica principal de imagens em
movimento. Haverá especial atenção também para as características das obras
audiovisuais a partir das atitudes dos realizadores, segundo David MacDougall.

4. Desenvolvimento

O projeto busca fazer um recorte visual e explorar as discursividades que os


documentários adquirem. Busca-se analisar a forma como vem sendo construída a
representação dos manifestantes brasileiros, através de imagens, a fim de problematizar
o papel da retratação e a polarização de opiniões que os dividem, compreendendo os
aspectos e impactos culturais, tecnológicos e sociais.

Em linhas gerais, o projeto se divide em duas propostas: realizar um diálogo com teorias
políticas e problematizar a narrativa dos documentários como mídia, buscando pensar
manifestações como uma forma de comunicação. Pretende-se estruturar como tem se
dado o debate sobre o manifestante no cenário cívico brasileiro recente pensando a
polarização para além de dois pólos, mas sim enviesada e assimétrica, como forma de
validar a realidade de enunciados e compreender o fluxo de narrativas e as
contranarrativas elaboradas.

Os principais objetivos são a compreensão do imaginário brasileiro e suas simbologias


políticas, seus mitos e narrativas, o cinema documental político brasileiro, as implicações
no repertório corporal do manifestante brasileiro, aspectos de geolocalidades, violações

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de direitos humanos e liberdade de expressão (em especiais os artigos 19 e 20) e


revisitar o histórico de movimentos sociais no Brasil.

5. Conclusões

Observar como os processos comunicativos atravessam o próprio manifestante


enquanto indivíduo pertencente a um grupo em fenômenos de massa, permite não só
alçar vôos sobre a compreensão de nós mesmos enquanto cidadãos, mas também no
entendimento do mundo que vivemos. A pesquisa se mostra como um desafio na
medida em que se debruça nestas novas narrativas emergentes da complexa mudança
social que o país atravessa.

Entendendo que os modos de ativismo e participação política recentes no país vêm


impactando as representações culturais e alterando experiências sociais, levantar o
aspecto imagético e imaginário da polarização permite questionar a produção social de
sentido, as normas discursivas e as práticas de subjetivação que vêm configurando
identidades na sociedade brasileira.

6. Referencias bibliográficas

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CULTURA PIRATA: O ATIVISMO MUSICAL DOS


VENDEDORES AMBULANTES NO RIO DE
JANEIRO

PIRATE CULTURAL: THE MUSICAL ATIVISM OF THE STREET


VENDORS IN RIO DE JANEIRO

Victor Belart - UERJ1

Resumo:

Considerando a popularização da música de rua no Rio de Janeiro nos últimos anos, o


presente trabalho investiga o papel dos vendedores ambulantes neste movimento depois
de um período de Choque de Ordem na cidade. Atuando em parceria com grupos culturais
e microeventos - que estiveram distantes do calendário oficial de entretenimento na cidade
- os coletivos de ambulantes passam a assumir novas performatividades e protagonismos.
A pesquisa considera o final do Ciclo Olímpico, a mudança no comando da Prefeitura e
diminuição do alcance das forças reguladoras como a operação “Choque de Ordem”, de
Eduardo Paes, para o maior desenvolvimento do trabalho desses grupos. Produzindo
eventos próprios, assumindo também os papéis de músicos e DJs, estes vendedores, em
meio à uma condição de trabalho precarizada, estabelecem inovadoras formas de
ativismo e empreendedorismo na cidade. Deste modo, a pesquisa compreende a força da
informalidade como fonte geradora de novas práticas de convívio, ativismo e reivindicação
do direito à cidade no Rio de Janeiro pós-Olímpico. A cartografia e observação participante
são os esforços metodológicos da pesquisa, que investiga coletivos de ambulantes no
Centro da cidade.

Palavras-chave:

microeventos; cidade Olímpica; vendedores ambulantes; música de rua

1 Mestrando com bolsa CNPq no PPGCOM-UERJ. Integrante do laboratório de Comunicação, Arte e


Cidade. Especialista em Jornalismo Cultural. Contato: belart.victor@gmail.com

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Abstract:

Considering the popularization of street music in Rio de Janeiro in recent years, the present
work investigates the role of street vendors in this movement after a period of Order Shock
in the city. Acting in partnership with cultural groups and microevents - which were far from
the official calendar of entertainment in the city - the groups of itinerants begin to assume
new performativity and protagonism. The research considers the end of the Olympic Cycle,
the change in the command of the City Hall and reduction of the reach of the regulatory
forces like the operation "Shock of Order", of Eduardo Paes, for the greater development
of the work of these groups. Producing their own events, also taking on the roles of
musicians and DJs, these sellers, in the midst of a precarious work condition, establish
innovative forms of activism and entrepreneurship in the city. In this way, the research
comprehends the force of informality as a source of new practices of social interaction,
activism and the right to the city in post-Olympic Rio de Janeiro. Mapping and participant
observation are the methodological efforts of the survey, which investigates street vendors
in the city center.

Keywords:

microevents; olympic city; street vendors; street music

1. Introdução
Durante a gestão do Prefeito Eduardo Paes, a operação Choque de Ordem2 lançou
uma guerra ao comércio ambulante da cidade, numa proposta de investir num Rio de
Janeiro tido como mais organizado e limpo para receber os Jogos Olímpicos. Grandes
shows, megaeventos e o desenvolvimento centrado no turismo faziam parte da plataforma
de gestão da Prefeitura, que chegou, por exemplo, a substituir quiosques da praia,
expulsar vendedores informais do Centro, entre outras atividades que exaltavam o
discurso de uma cidade oficial e outra que estaria à margem dela. Existiu, portanto, a
construção por parte da própria Prefeitura, de uma ideia de um Rio de Janeiro oficial e
uma cidade “pirata”, que não estaria de acordo com as normas da metrópole Olímpica.
Neste mesmo momento, um potente movimento de microeventos de rua
(HERSCHMANN; FERNANDES, 2016) se espalhou pelas ruas da Capital Fluminense

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com discurso antagônico à ideia da cidade mercadoria (FREITAS, 2017) através de festas,
shows e cortejos informais. Naturalmente, por se tratar de um fenômeno cultural que
acontece nas ruas, os vendedores ambulantes passaram a ter papel fundamental neste
processo, acompanhando grupos, coletivos e musicos em suas apresentações itinerantes
pelas ruas da cidade.
Ao final do Ciclo Olímpico, com a diminuição do dinheiro, recursos e fiscalização em
torno da produção cultural na rua, observa-se uma nova configuração onde os próprios
vendedores ambulantes, anteriormente perseguidos, passam a criar blocos de carnaval,
a serem detendores de espaços culturais e a assumir o protagonismo enquanto músicos,
DJs, entre outras estratégias de performatividade e até mesmo sobrevivência. A presente
pesquisa investiga o trabalho destes corpos precarizados, excluídos do imaginário da
Cidade Olímpica, agora atuando em aliança (BUTLER, 2018) com músicos, artistas e
foliões que estiveram excluidos de um modelo de entretenimento no Rio de Janeiro.

2. Justificativa e abordagem teórica


Ao observar trabalhos recentes, percebo que pesquisas do campo da
comunicação a respeito deste fenômeno de microeventos de rua no Rio de Janeiro, como
o trabalho de Flávia Magalhães Barroso (PPGCOM-UERJ) e Flávia Souza Dias
(PPGCOM-UFRJ), que tratam, respectivamente, do subversivo das festas de rua na
cidade e do feminismo nas neofanfarras de rua do Rio não aproximam, necessariamente,
o recorte e diálogo com o este período Olímpico em suas investigações deste movimento.
Durante a preparação para os megaeventos, o Rio de Janeiro utilizou da perspectiva da
cultura e entretenimento como trampolim para o desenvolvimento de grandes obras e
transformações no espaço da cidade, num discurso de revitalização. Neste sentido, me
interesso pelo trabalho dos vendedores ambulantes apropriando-se da Cidade Pós-
Olímpica, construindo ativismos particulares, exatamente quando a marca da Cidade
Olímpica e do Rio das reformas padronizadas se enfraquece.
Considera-se que a cultura de rua, além de performar na cidade, transforma
imaginários, movimenta receitas, altera espaços, reduz violências e socializa indivíduos.
Neste contexto, o trabalho se justifica por interessar-se em compreender as últimas

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transformações sofridas por ela, seus desafios em permanecer nesta marginalidade e a


tendências de suas próximas vivências a partir dos vendedores ambulantes.
Considerando o fim do Ciclo Olímpico como uma marca histórica na cidade, busco
compreender o aumento da informalidade como experiência vital neste momento do Rio
de Janeiro, que acaba sendo capitaniada, especialmente, pelo esforço desses
vendedores ativistas. O trabalho toma como base a região do Centro, especialmente em
praças e ruas com importante efervenscência musical, como os territórios representados
na Cartografia Musical de Rua do Centro do Rio (HERSCHMANN; FERNANDES, 2014),
compreendendo o papel dos vendedores ambulantes nestas localidades.

3. Métodos e instrumentos de pesquisa


Para além de estabelecer uma observação participante, este trabalho se aproxima
da pespectiva de Fernandes e Herschmann (2015), quando os mesmos recorrem a Latour
(2012), na compreensão na escolha da cartografia como método. Nesta linha, aproximo-
me da ideia do “homem” formiga, que atua bem próximo aos coletivos e redes, constrói
suas paisagens particulares e se perde nelas. Nesta mesma linha, embarco numa
metodologia da deriva, valorizando a empiria e compreensão das frequências do campo,
estando permanentemente mergulhado nele e construindo a pesquisa através desta
imersão.
Utilizo a primeira pessoa, por reforçar este ofício afetivo e empírico da experiência
do próprio campo, reforçando esta proximidade constante com ele, por acreditar que a
mesma amplie e acrescente bastante a este desenvolvimento da pesquisa. O objeto é
recortado a partir desta ruptura numa marca histórica com implicações sensíveis: a
transição da era Olímpica ao período regular da cidade, entendendo esta quebra simbólica
como fundamental para investigação dos objetos estudados.
Como trato, basicamente, de objetos que trabalham informalidade, não é tão
comum que sejam encontrados dados estatísticos formais a respeito de números e índices
absolutos que reafirmem algumas marcas. Por este sentido, o esforço da empiria e das
cartografias sensíveis em constante contato com o campo também é reforçado.

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4. Desenvolvimento
A partir do momento em que a cidade muda de gestão, o projeto Olímpico se esvai
e os conceitos da cidade criativa ou Olímpica vão se enfraquecendo junto do
enfraquecimento da fiscalização e formalização dos processos, o Rio de Janeiro acaba
abrindo margem para a proliferação de uma produção informal e ativista com maior
frequencia, sem que a própria Prefeitura tivesse o menor conhecimento das mesmas.
Straw (2018) ao tratar da gestão pública, por exemplo, em regimes noturnos, concebe que
a importancia econômica de tais grupos “raramente é medida com datalhes” (p.329).
Assim, podemos perceber, no Rio de Janeiro, que a partir do desconhecimento, da falta
de controle e do não interesse da gestão públicas nestes grupos, um espaço frutífero, livre
e autêntico para manifestações ativistas e auto-organizadas passa a se desenvolver. Os
ambulantes, portanto, antigamente com maior dificuldade para existir, se aproximam das
práticas que Harvey (2014) vai chamar de “reivindicar a cidade” (p.211), ocupando praças,
fazendo festas públicas, empreendendo na rua, reunindo grupos em cortejos,
apropriando-se de obras olímpicas, entre outras atividades.

5. Conclusões
Considerando o fim do Ciclo Olímpico e aumento da informalidade na cidade,
constatamos uma maior aliança (BUTLER, 2018) entre corpos que estiveram precarizados
e ausentes do calendário Olímpico da cidade e que, agora, atuam em parceria para
poderem existir num Rio de Janeiro que constrói uma nova história. Diante da menor
espetacularização, diminuição da quantidade de investimentos e obras, os coletivos
ambulantes, junto aos antigos músicos, consumidores e produtores da dita “cultura de rua”
do Rio de Janeiro (HERSCHMANN; FERNANDES, 2016), ajudam na movimentação
econômica da cidade em tempos de crise, além de apresentar alternativas ao potencial
aumento de preços e transoformação do caráter ativista de tais manifestações num
momento onde cada vez mais grandes marcas se aproximam da cultura de rua,
produzindo eventos próprios que replicam seu caráter ativista interessados em vendas.

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Assim, além dos mesmos terem inclusive ajudado a combater a ideia do medo das
ruas em tempos de invervenção militar na cidade, retomam a vida no espaço público e
estabelecem novos regimes e modos de existir no Rio de Janeiro depois das Olimpíadas.

6. Referencias bibliográficas

BUTLER, Judith.Corpos em aliança e a política das ruas. Rio de Janeiro: Civilização


Brasileira, 2018

FREITAS, Ricardo. Da cidade espetáculo à cidade mercadoria. Ecopós. vol. 20. n3.
2017.

FERNANDES, Cintia SanMartin; HERSCHMANN, Micael. Relevância da cultura de rua


no Rio de Janeiro em um contexto de valorização dos megaeventos. Interin, Curitiba, v.
21, n. 1, p. 03-21, jan/jun. 2016. ISSN: 1980-5276.

HARVEY, David. Cidades rebeldes: do direito à cidade à revolução urbana. São


Paulo: Martins, 2014.

LATOUR, Bruno. Reagregando o social: uma introdução à teoria do ator-rede.


Salvador: Edufba, 2012.

STRAW, Will. In: Urbanização da política musical: cidades e a cultura da noite. Cidades
Musicais: Comunicação, Territorialidade e política. Rio de Janeiro: FERNANDES,
Cintia SanMartin; HERSCHMANN, Micael. (org). Sulina, 2018.

VIVANT, Elza.O que é uma cidade criativa?São Paulo: SENAC, 2012

* Pesquisa financiada pelo CNPq através de bolsa de Mestrado.

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Mulheres migrantes e refugiadas LBT: ativismo


nas redes e nas ruas

Migrant women and refugees LBT: activism in the social media and
in the streets

Letícia Vieira da Silva – Núcleo de Estudos de Políticas Públicas em Direitos Humanos


(NEPP-DH/UFRJ)

Resumo: O trabalho investiga as potencialidades da comunicação de um coletivo de


migrantes e refugiadas lésbicas e bissexuais de São Paulo. Partimos do pressuposto de
que a comunicação contra-hegemônica é poderosa pois traz um olhar vindo das próprias
mulheres migrantes enquanto agentes e não como um grupo monolítico. Analiso a
atuação das mulheres nas redes sociais, seu engajamento com as pautas de política
doméstica e como inserem o debate da migração nos espaços de ativismo.

Palavras-chave: mulheres; migrantes; refugiadas; auto-organização; redes sociais.

Abstract: The work investigates the potential of a collective of migrants and refugees
lesbians and bisexuals. We start from the assumption that the counter-hegemonic
communication is powerful because it brings a look coming from own migrant women as
agents rather than as a monolithic group. Analyze the role of women in social networks,
your engagement with the domestic policy and guidelines how to insert the migration
debate in the spaces of activism.

Keywords: women; migrants; refugees; self-organization; social media.

1. Introdução
O trabalho investiga a importância da comunicação como forma de ampliar o debate
sobre migrações para a sociedade civil, a partir de estratégias elaboradas pelos próprios
refugiados. Particularmente, interesso-me pelas atividades culturais desenvolvidas pelo
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coletivo de Mulheres Imigrantes Lésbicas e Bissexuais, de São Paulo, e gostaria de


refletir sua criação, atividades desenvolvidas como rodas de conversa, atividades auto-
gestionadas e também o bloco de carnaval IRA – Imigrantes, Refugiadas e Apátridas.
2. Justificativa e abordagem teórica
A importância da pesquisa reside na abordagem que propõe um olhar para as iniciativas
d@s própri@s refugiad@s, como agentes e não como um grupo monolítico sem
agência. Será adotada uma perspectiva decolonial com o objetivo de refletir sobre
participação social, noções de poder no discurso de “acolhida” e “boas vindas” aos
imigrantes, estigmatização de população LGBTI e a potencialidade da comunicação para
quebrar esses estigmas e estereótipos sobre a figura do refugiado e do imigrante.
Apontar a importância da ocupação do espaço público como espaço da política. A
temática agrega informações para diferentes campos das ciências sociais aplicadas,
como Relações Internacionais, Antropologia, Ciência Política e Comunicação.

3. Métodos e instrumentos de pesquisa


Metodologia qualitativa através de reportagens feitas sobre o coletivo que saíram na
imprensa. Análise da plataforma virtual (página do facebook) do Coletivo e, a depender
da viabilidade, entrevista com integrantes a respeito do papel da comunicação entre os
próprios imigrantes e refugiados e também no diálogo com a sociedade brasileira e os
movimentos sociais.

4. Desenvolvimento
1. Definindo refúgio, bordas e fronteiras
2. Xenofobia, racismo e discriminação
3. Comunicação como uma estratégia política: Coletivo MILB (SP)
3.1 Histórico, atividades, desafios, logros, parcerias com movimentos.
3.2 Estratégias de comunicação (atividades e redes sociais)
4. Conclusões/ Apontamentos

5. Conclusões

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A comunicação é uma ferramenta vasta que precisa ser (re)apropriada pela sociedade
civil organizada para difusão de temas sociais, visto que no cenário político atual não há
interesse governamental de investimento em comunicação, tampouco dedicado à
agenda migratória. O diálogo entre a população precisa ser manejado pela própria
sociedade civil organizada, de forma criativa.

6. Referencias bibliográficas
CAÑAS, Tania. Unwelcome mats: a decolonial intervention challeging the refugee
welcome-narrative. Community Psychology in Global Perspective (CPGP), 2013. Volume
13, nº 1, pp. 72-86.Disponível em: http://siba-ese.unisalento.it/index.php/cpgp/article/
view/15618 Acesso em: 23/05/2019.
ELIAS, N. & SCOTSON, John. Os estabelecidos e os outsiders: sociologia das
relações de poder a partir de uma pequena comunidade. Rio de Janeiro, Jorge Zahar,
Ed. 2000.
MIGNOLO, W. Colonialidade. O lado mais escuro da modernidade. Tradução de
Marco Oliveira. Revista Brasileira de Ciências Sociais. Vol. 32 n° 94, junho/2017.
D i s p o n í v e l e m : h t t p : / / w w w. s c i e l o . b r / p d f / r b c s o c / v 3 2 n 9 4 / 0 1 0 2 - 6 9 0 9 -
rbcsoc-3294022017.pdf Acesso em: 22/05/2019.
MIGNOLO, Walter D; TLOSTANOVA, Madina V. Theorizing from the borders. Shifting
to Geo- and Body- Politics of Knowledge. European Journal of Social Theory , Volume 9,
número 2, pp. 205–221. Sage Publications: Londres, 2006.
Disponível em: https://journals.sagepub.com/doi/pdf/10.1177/1368431006063333 Acesso
em: 22/05/2019.
OLIVA, T. Minorias sexuais enquanto 'Grupo Social' e o reconhecimento do status
de refugiado no Brasil. Brasília, DF: ACNUR Brasil, 2012. (Diretório de Teses de
Doutorado e Dissertações de Mestrado do ACNUR).
SPIVAK, Gayatri Chakravorty. Pode o subalterno falar? Belo Horizonte, Editora UFMG,
2010.
SPIJKERBOER, Thomas; JANSEN, Sabine. Fleeing Homophobia: Asylum Claims
Related to Sexual Orientation and Gender Identity in the EU (September 6, 2011).
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Fleeing Homophobia: Asylum Claims Related to Sexual Orientation and Gender Identity
in the EU, Coc Nederland/Vu University Amsterdam 2011. Disponível em: https://
ssrn.com/abstract=2097783 Acesso em 12/03/2019.
WEßELS, Janna. Sexual Orientation in Refugee Status Determination. Refugee
Studies Centre. Oxford, Abril de 2011. Disponível em:
http://www.refworld.org/pdfid/4ebb93182.pdf Acesso em: 20/06/2017.

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A história não contada sobre as mulheres


cervejeiras

The untold story about women brewers

Oliveira, Cristiane – Universidade Federal do Rio de Janeiro1

Resumo:
A presente pesquisa experimenta outras estratégias de comunicação ao resgatar a
história não contada do protagonismo da mulher na invenção e produção de cerveja, a fim
de pensar direitos humanos, mais precisamente, direitos da mulher. A partir desse
histórico, somado a pesquisa bibliográfica e estudo de caso, propõe-se uma reflexão sobre
as relações de poder criadas a partir de gênero, raça e classe.

Palavras-chave: feminismo; mulheres cervejeiras; direitos humanos

Abstract: The present research tries other strategies of communication in rescuing the
untold story of the protagonism of the woman in the invention and production of beer, in
order to think human rights, more precisely, women's rights. From this historical, in addition
to bibliographical research and case study, it is proposed a reflection on the relations of
power created from gender, race and class.

Keywords: feminism; women brewers; human rights

1. Introdução

A presente pesquisa, dentre outras questões, pensa estratégias de


consolidação/reconhecimento de direitos das mulheres. Nesse sentido, tenta dar resposta
a uma inquietação: se o feminismo, em última análise, é a defesa de direitos das mulheres,

1 Mestranda, Núcleo de Políticas Públicas em Direitos Humanos – NEPP/UFRJ,


cristiane.g.oliveira@gmail.com

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por que cargas d´agua tantas mulheres são contra o feminismo? Que engrenagens tão
fortes e poderosas são essas que fazem com que mulheres defendam as próprias
algemas? Será que não há consciência da opressão sofrida? Estaríamos falhando nessa
comunicação? Se sim, onde?

A proposta inicial seria, então, refletirmos sobre as diferentes estratégias usadas


pelo movimento de mulheres para visibilizar as opressões sofridas; passando pelas
eventuais limitações da academia e a invisibilização de saberes populares nesse
processo.
O resgate histórico das mulheres cervejeiras, por sua é vez, é trazido nesse
contexto como uma proposta de estratégia de reflexão acerca das relações de poder para
além de conceitos académicos e, sim, através da recuperação de mais uma historia não
contada sobre o protagonismo da mulher no desenvolvimento de conhecimento.
Falar de cerveja e mulheres, como se pretende demonstrar, é falar do próprio
processo de construção de um modelo de sociedade capitalista patriarcal e eurocentrado;
que sobrevive até os dias atuais, emprestando novas roupagens a velhas práticas. Com
efeito, a cerveja foi inventada por mulheres e por elas era produzida até que, quando a
comercialização do excesso da produção familiar começou a se traduzir em lucro,
independência financeira e status social, logo os homens e a Igreja trataram de tomar para
si tal atividade, tendo criado leis que limitavam a produção de cerveja por mulheres, tendo
inclusive usado enquanto estretégia de eliminação de concorrência a caça e condenação
à norte de muitas dessas muheres na fogueira, sob o argumento de que eram bruxas.
Estratégia essa que é reinventada na forma de campanhas publicitárias que objetificam a
mulher e da permanencia de leis que acabam por lhes vedar acesso a esse mercado até
hoje.
Ou seja, propomos, um diálogo com as mulheres cervejeiras de outrora enquanto
estratégia para visibilizar as engrenagens do sistema patriarcal, marcado pelo controle do
corpo e da autoestima das mulheres enquanto estratégia de reserva de poder e
acumulação de capital, sobre a qual se construiu e constroi o capitalismo.

2. Justificativa e abordagem teórica

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Nos últimos anos temos experimentado um cenário de retrocessos de direitos que


atingem principalmente as mulheres e, dentre essas, as mulheres negras. Tal fato
culminou em 2016 no que ficou conhecido como Primavera das Mulheres, ano em que
elas voltaram juntas às ruas contra a cultura do estupro, genocídio das mulheres pretas e
tantos outros retrocessos. Em 2018, as mulheres protagonizaram mais uma vez a luta
contra o avanço do conservadorismo e intolerância indo às ruas contra a eleição do
candidato Jair Bolsonaro. Com a derradeira eleição de Bolsonaro, tal como se esperaba,
a cada dia novas medidas representam piora nas condições de vida das mulheres.

Nesse cenário, mais do que nunca é preciso falarmos e ouvirmos sobre as


engrenagens desse sistema racista, machista e homofóbico que nos oprime e mata; e
pensar em estratégias de resistência coletiva. Em especial, é preciso entender a porquê
muitas mulheres são contra a ampliação de seus próprios direitos.

E é exatamente nesse sentido que caminha o presente projeto.

Não por mera coincidência, então, recuperamos a história não contada do


protagonismo das mulheres em um dos setores mais lucrativos mundialmente: a produção
de cerveja. Poucas são as referências sobre o tema, de forma que a pesquisa enfrenta
um problema original e desafiante.

A seguir, esboçaremos alguns dos temas que pretendemos enfrentar através desse
resgaste histórico e suas principais referências bibliográficas.

Aqui, as mulheres cervejeiras, essas figuras que o capitalismo precisou destruir,


são colocadas no centro da cena, tal como propõe Silvia Federeci em seu livro “Calibã e
a Bruxa” (2004), sendo essa a principal fonte bibliográfica acerca desse histórico.

E seguimos a investigação acerca das engrenagens do sistema patriarcal, a partir


da igualmente histórica relação de dominação do homem sobre a mulher tendo por base
material as relações de trabalho que, por sua vez, se expressa na divisão sexual e racial
do trabalho. A esse respeito, recorremos aos estudos de WOOLSTONECRAFT.

Do referido histórico extrai-se, ainda, que a mencionada divisão de tarefas não


decorreu de uma “lei natural”, mas sim de uma construção social e cultural, imposta pelos
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homens através da força, da dominação econômica e da manipulação psicológica das


mulheres (KERGOAT, 2012).
Tais percepções foram possíveis quando se refletiu a respeito da insuficiência da
teoria marxista quanto a este particular. A partir daí, então, foi possível perceber a grande
carga de trabalho que é realizada gratuitamente pelas mulheres, um trabalho
invisibilizado, realizado não para si, mas para em beneficio de toda família, sempre em
nome da natureza feminina, do amor e do dever materno (SAFIOTI, 2013).

Atentos ainda “necessidade de pensar conjuntamente as dominações” (KERGOAT,


2012), cumpre-nos demonstrar também que a experiência acerca da divisão sexual do
trabalho é diferente entre as mulheres, a depender de sua cor, raça, orientação sexual,
identidade de gênero, classe ou se tem alguma limitação física, restando cada vez mais
precarizado à medida que se entrecruzam identidades não abarcadas pelo padrão
hegemônico (CRENSHAW, 2002, p. 173).

Em nossa sociedade, marcada pelo racismo estrutural, os processos de


socialização e, portanto, a construção social e pessoal do feminino, acabam por ser
diferentes para mulheres brancas e negras, circunstância que irá se materializar no mundo
do trabalho através da divisão racial do trabalho. Trata-se, pois, não simplesmente de citar
as diferentes identidades, mas entender a relação de poder e identidade nos diferentes
contextos, verificar como, desde o colonialismo, algumas identidades são legitimadas
enquanto outras são deslegitimadas, oprimidas pelas primeiras (RIBEIRO, 2017).

A ilustrar tal hipótese, apontou Angela Davis, “Na opinião de um historiador “as
mulheres escravas eram primeiro trabalhadoras a tempo inteiro para o seu dono e depois
apenas incidentalmente uma esposa, uma mãe, uma dona de casa”. Tendo em conta que
no século XIX a ideologia de feminilidade enfatizava os papéis de mães cuidadoras,
companheiras dóceis e donas de casas para os seus maridos, as mulheres negras eram
praticamente uma anomalia.” (DAVIS, 2016).

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3. Métodos e instrumentos de pesquisa

Inicialmente, a pesquisa sobre a genealogia da relação da mulher com a cerveja


em seus primórdios será basicamente bibliográfica, baseando-se nos poucos livros que
mencionam o assunto, dentre os quais, “Calibã e a Bruxa” (2004), de Silvia Federeci.
Diante da existência de pouca literatura sobre o tema, nos debruçaremos igualmente
sobre textos publicados na internet, artigos universitários e documentos públicos a serem
buscados em bibliotecas públicas.

Até agora visitei a Biblioteca Nacional por se tratar do repositório oficial de cópias
de toda obra já escrita. Iniciamos a pesquisa por livros que tratem da questão aqui
explorada, restando explorar jornais e revistas que referenciem esse contexto. Pretendo
visitar ainda O Real Gabinete Português de Leitura e, ainda, o Museu da Inquisição em
Belo Horizonte, Minas Gerais.

Por fim, a fim de pensar tais questões no contexto atual, pretende-se realizar um
estudo de caso sobre “os coletivos atuais de mulheres cervejeiras”, a ser desenvolvido a
partir entrevistas, análise de conteúdo, observação participante, questionários, pesquisa
documental, pesquisa bibliográfica e registros em arquivos e internet.

4. Desenvolvimento
4.1. O surgimento da cerveja e o protagonismo da mulher
4.2. A interferencia dos homens e da Igreja na produção de cerveja por mulheres
4.3. A relação da mulher e da cerveja na atualidade
4.4. As bruxas de ontem e de hoje – Visibilização do sistema patriarcal e suas estgratégias

5. Conclusões
O presente artigo não tem a pretensão de alçar respostas ou esgotar os tantos
assuntos que aqui se entrecruzaram, mas antes de tudo demonstrar tais imbricações e
promover a reflexão sobre as mesmas, tendo como pano de fundo a rica relação da mulher
com a cerveja ao longo do tempo.

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6. Referencias bibliográficas
CRENSHAW, Kimberlé. Documento para o encontro de especialistas em aspectos da
discriminação racial relativos ao gênero, 2002. Disponível em:
http://www.scielo.br/pdf/ref/v10n1/11636.pdf
DAVIS, Angela. Mulheres, raça e classe. Rio de Janeiro: Boitempo, 2016.
FEDERECI, Silvia, “Calibã e a Bruxa”, 2004.
HIRATA, Helena. Interseccionalidade e consubstancialidade das relações sociais.
Tempo Social, Revista de Sociologia da USP, V.26, n1, 2014, pp.61-73.
HIRATA, Helena… [et al.] (Orgs). Dicionário crítico do Feminismo. São Paulo: Editora
UNESP, 2009.
KERGOAT, Danièle; em DIVISÃO SEXUAL DO TRABALHO E RELAÇÕES SOCIAIS DE
SEXO, Disponível em
https://poligen.polignu.org/sites/poligen.polignu.org/files/adivisaosexualdotrabalho_0.pdf
KOLANTAI, Alexandra. A mulher trabalhadora na sociedade contemporânea, in A
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Construção das identidades culturais latino-


americanas nas narrativas da Televisión del Sur –
teleSUR
Construction of Latin American cultural identities in the
narratives of Televisión del Sur - teleSUR
Domingos Alves de Almeida – Universidade Federal Fluminense1
Resumo: O presente trabalho propõe investigar como a TV multiestatal Televisión del
Sur (teleSUR) articula suas narrativas para abordar e construir as identidades culturais
da América Latina, a partir do estudo dos programas jornalísticos de enfoque cultural, No
son tuites son histórias e Realidades, veiculados no ano de 2016. Adotamos o método
qualitativo da Análise de Discurso (AD) de orientação francesa (ORLANDI, 2010;
VERÓN, 2004). A investigação se encontra em fase de desenvolvimento e as
impressões iniciais apontam para uma abordagem horizontalizada da emissora sobre as
dinâmicas identitárias e culturais da América Latina, a partir de um processo
comunicativo sul-sul (da e para a América Latina).

Palavras-chave: Culturas; Identidades; América Latina; Televisão; Jornalismo.

Abstract: The present work proposes to investigate how television multiestatal


Television del Sur (teleSUR) articulates its narratives to approach and to construct the
cultural identities of Latin America, from the study of the journalistic programs of cultural
focus, No sonites are stories and Realities, conveyed in the year of 2016. We adopted
the qualitative method of Discourse Analysis (AD) of French orientation (ORLANDI, 2010;
VERÓN, 2004). The research is still under development and the initial impressions point
to a horizontal approach of the broadcaster on the identity and cultural dynamics of Latin
America, based on a South-South communicative process (from and to Latin America).

Keywords: Cultures; Identities; Latin America; Television; Journalism.

1. Introdução
Com o objetivo de enfrentar o poderio dos centros dominantes, a partir do campo
simbólico, foi criado em 2005, com suporte da Aliança Bolivariana para os Povos de
Nossa Américas (ALBA), e por iniciativa do então presidente venezuelano, Hugo
Chávez, um projeto de integração regional que atua diretamente no campo político e

1 Doutorando em Mídia e Cotidiano (UFF). Mestre em Integração Contemporânea da América Latina


(ICAL-UNILA). Especialista em Relações Internacionais Contemporâneas (UNILA). Graduado em
Comunicação Social/Jornalismo (UFMA).

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ideológico e na produção de bens simbólicos, que é a TV multiestatal, Televisión del Sur


(Telesur) (MORAES, 2015). Nesse aspecto, o problema central desse trabalho constitui-
se no seguinte questionamento: como as narrativas da teleSUR são articuladas para
construir e representar as identidades culturais da América Latina, através dos
programas No son tuites son histórias e Realidades?
O universo da pesquisa consta da programação jornalística da teleSUR e o
recorte trata-se de dois programas semanais da grade da TV, que abordam a temática
cultural: No son tuits son historias , que vai ao ar aos sábados e se identifica como um
programa de investigação jornalística voltado para apresentar e comentar crônicas
realizadas pelos correspondentes e colaboradores da emissora. E o programa
Realidades, que é veiculado toda quinta-feira e propõe analisar o contexto político,
econômico, social e cultural das realidades dos povos latino-americanos, tendo como
narradores os próprios protagonistas das reportagens.
Ambos programas possuem duração média de 30 minutos cada um e abordam os
mais diversos aspectos da vida social e cultural na América Latina. Apresentam
tradições culturais, hábitos e costumes de comunidades localizadas no interior dos
países latino-americanos.
O corpus da pesquisa será formado de 48 edições dos programas, No son tuits
son historias e Realidades, veiculados em 2016, sendo 24 edições de cada um. Para
tanto, serão selecionadas, a partir de visualização prévia, duas edições de cada
programa por mês, selecionando-se aquelas que apresentarem maior diversidade de
assuntos na abordagem, abrangendo o maior número de países latino-americanos nos
temas. O ano de 2016 foi escolhido para este estudo, por considerarmos tratar-se de um
momento de grande conturbação política, social, econômica e cultural na América
Latina, com o ressurgimento da direita e a ofensiva neoliberal e neoconservadora na
América Latina.

2. Justificativa e abordagem teórica


A pesquisa que propomos busca aprofundar as investigações sobre a atuação da
TeleSUR na América Latina, reconfigurando para o que concerne, especificamente, à

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cobertura sobre os aspectos culturais e identitários da região. Com a análise,


considerando que a TV se coloca como uma emissora da e para a América Latina,
procuramos entender como a narrativa da latinidade, sustentada no aspecto cultural, é
referenciada nos movimentos discursivos sul- sul (teleSUR da/para a América Latina).
Com esses enfoques, acreditamos contribuir com os estudos da mídia latino-
americana e com o fortalecimento da epistemologia regional do campo midiático,
edificada sob conceitos e análises de uma teoria social crítica na região. De outro modo,
a pesquisa se torna pertinente porque vai além de pensar o jornalismo como construtor
da realidade, mas de como ele defende, caracteriza, fundamenta e projeta as culturas e
as identidades na geopolítica latino-americana.
O conceito de cultura – ou culturas – vem sendo trabalhado por pensadores ao
longo da história humana. Taylor, Turgot, Malinowski, White, Kroeber, Geertz, Boas, são
alguns dos principais teóricos que construíram as bases do pensamento antropológico
cultural. Como isso, a definição conceitual de cultura passou por várias etapas de
formulação, entretanto, ainda não existe “um razoável acordo entre os antropólogos a
respeito do conceito” (LARRAIA, 1986, p. 27).
Larraia (1986) ressalta que a antropologia moderna tem mobilizado esforços no
sentido de reconstruir o conceito de cultura, “fragmentado por numerosas reformulações”
(LARRAIA, 1986, p. 59), com o intuito de obter uma precisão conceitual. Nesse aspecto,
tomamos os preceitos teóricos de Franz Boas (2004), antropólogo alemão, contrário à
concepção evolucionista, e que influenciou de forma significativa o conceito
contemporâneo de cultura.
Boas (2004) introduziu uma nova dimensão a esse conceito, atribuindo uma
definição pluralizada: “culturas”. Assim, para ele, culturas se apresentam “como uma
estrutura relativa pluralista, holística, integrada e historicamente condicionada para o
estudo da determinação do comportamento humano” (BOAS, 2004, p. 36). Césaire
(2011) expõe uma definição complementar a de Boas (2004), afirmando que culturas
tratam-se do “conjunto dos valores materiais e espirituais criados por uma sociedade no
decurso da sua história” (CÉSAIRE, 2011, p. 255).

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Hall (2006, p. 41) acrescenta que “todas as identidades estão localizadas no


espaço e no tempo simbólico”. E ressalta ainda que não existe uma identidade
plenamente unificada, completa, segura e coerente. Para ele, a multiplicação dos
sistemas de significação e representação cultural, nos confronta constantemente com
múltiplas e variáveis identidades, com as quais “poderíamos nos identificar ao menos
temporariamente” (HALL, 2006, p. 13).
No que concerne ao contexto latino-americano, Barbero (1997) enfatiza que o
debate sobre as identidades continua em aberto, tendo em vista o complexo e dinâmico
cenário da diversidade cultural da região. Nesse âmbito, os meios de comunicação,
desempenham função importante no processo de definição do que é ou não cultura,
influenciando as percepções e as produções sociais identitárias na América Latina.
A televisão ocupa espaço central nesse contexto, por se tratar de um
empreendimento midiático que contribui para o processo de homogeneização cultural,
reproduzindo valores e padrões de consumo dos centros econômicos, impostos como
universais. Para Shuen, (2013, p. 35), “o aparato televisivo promove a símbolos
nacionais elementos regionais escolhidos por conveniência do meio, por oportunidade,
por proximidade ou por imposição de mercado”.
Essa perspectiva de unidade cultural e cultura nacional, construída e veiculada
pela televisão, oculta o sistemático processo de apagamento de outras culturas
subalternizadas, influenciando diretamente na construção das identidades dos povos.
Conforme esclarece Barbero (2015, p. 250), “a televisão desenvolverá ao máximo a
tendência à absorção das diferenças. E falo de absorção porque é esta sua forma de
negá-las: exibindo-as livres de tudo aquilo que as impregna de conflitividade”.

3. Métodos e instrumentos de pesquisa


O presente trabalho é de cunho teórico-empírico, em que as fontes teóricas
servem de guia epistêmico para conduzir as ações empíricas. Assim, como suporte
metodológico, recorremos à pesquisa bibliográfica, pesquisa documental e a Análise de
Discurso (AD) de orientação francesa.

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Após a fase de levantamento de literatura, de coleta e sistematização dos dados


relativos às edições dos programas estudados, faremos a análise qualitativa desses
dados, com aplicação da análise discursiva. A Análise do Discurso de vertente francesa
(AD), na perspectiva de Orlandi (2010) e Verón (2004), propõe investigar as marcas
ideológicas produzidas pela linguagem e materializadas nos discursos identificados no
material levantado na pesquisa documental, portanto, será aplicada às reportagens do
corpus da pesquisa, com a finalidade de verificar as abordagens jornalísticas da teleSUR
sobre as identidades culturais da América Latina.

4. Desenvolvimento
A investigação encontra-se na etapa de investigação do estado da arte, a partir
da qual construiremos o diálogo com os dados empíricos. Os temas que estamos
investigando nesse momento da pesquisa versam sobre culturas e identidades, atuação
da mídia, principalmente a televisão, na América Latina, e os pressupostos da
perspectiva teórica da construção social da realidade.
Essa etapa é realizada em paralelo com o levantamento dos dados empíricos, em
que estamos visualizando as edições dos programas No son tuits son histórias e
Realidades, veiculados em 2016, selecionando, baixando e sistematizando as edições
que serão analisadas posteriormente.

5. Conclusões
Por está em fase inicial de desenvolvimento, considerando que iniciamos o
doutorado em março deste ano, ainda não podemos encaminhar conclusões, mesmo
que parciais, sobre a pesquisa. O que podemos apontar são projeções resultantes do
contato com o corpus empírico, e que podem ser confirmadas ou refutadas ao término
das investigações. Nesse sentido, verificamos uma abordagem horizontalizada da
emissora sobre as dinâmicas identitárias e culturais da América Latina, a partir de um
processo comunicativo sul-sul (da e para a América Latina).
O propósito de produzir uma narrativa plural da realidade latino-americana
transparece nos programas visualizados, uma vez que o conteúdo explorado tem lócus

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em diferentes países da região, evocando, inclusive, realidades ignoradas pelos meios


hegemônicos de comunicação que cobrem a América Latina.

6. Referencias bibliográficas

BARBERO J. M. Comunicación Masiva discurso y Poder. Quito: Ciespal, 2015.


. Dos meios às mediações: comunicação, cultura e hegemonia.
Tradução de Ronald Polito e Sérgio Alcides. 4 ed. Rio de Janeiro: Editora UFRJ, 1997.

BOAS, F. A formação da antropologia americana. Antologia. Organização e


introdução George W. Stocking, Jr. Trad. Rosaura Maria Cirne Lima Eichenberg. Rio de
Janeiro: Contraponto: Editora UFRJ, 2004.

CÉSAIRE, E. Cultura e colonização. In: SANCHES, M.R. (ORG.). Malhas que os


impérios tecem: textos anticoloniais, contextos pós-coloniais. Lisboa: Edições 70, 2011.

HALL, S. A identidade cultural na pós-modernidade. Trad. Tomaz Tadeu da Silva &


Guaciara Lopes Louro. Rio de Janeiro: Lamparina, 2014.

LARAIA, R. B. Cultura um conceito Antropológico. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed.


1986.

MORAES, G.S.M. Pátria Grande à vista: TeleSUR e as contradições da integração a


América Latina. 2015. 287 f. Tese (Doutorado em Comunicação e Cultura). Escola de
Comunicação, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro - RJ.

ORLANDI, E. Análise de Discurso: Princípios & Procedimentos. São Paulo: Pontes


Editores, 2010.

ROCHA, S. M. “Ele é o atraso e você a modernidade”: matrizes culturais latino-


americanas na Televisualidade brasileira, o caso da telenovela Duas Caras.
Contemporanea: comunicação e cultura. Salvador, v.15, n.02, 2017.

SHUEN, L.S. MÍDIA E CULTURA NACIONALIZADA: processos de homogeneização


cultural e a televisão brasileira e argentina. Tese (Doutorado). Programa de Pós-
graduação em Estudos Comparados Sobre as Américas da Universidade de Brasília,
Brasília, 2013.

VERÓN, E. Fragmentos de um tecido. Trad. Vanise Dresch. São Leopoldo: Editora


Unisinos, 2004.

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Mascáras de alisamento: regulação e controle


das atividades culturais de rua no Rio de Janeiro

Smoothing masks: regulation and control of street cultural


activities in Rio de Janeiro

Flávia Magalhães Barroso – Universidade do Estado do Rio de Janeiro 1

Resumo: Neste trabalho analisaremos os procesos de regulação da cultura de rua no


Rio de Janeiro. Os espaços privados são, em sua maioria, altamente submetidos à
vigilância e por isso, tendem a se ajustar de formas mais intensa às políticas de
regulação. A rua, por sua vez, é espaço difuso e fragmentado, de difícil apreensão e
controle, por onde são forjadas práticas que desafiam a estrutura vigilante da cultura. O
controle das práticas culturais de rua apresenta, nesse sentido, dificuldades específicas
vinculadas ao ethos da rua que se refere aos nomadismos. As recentes mudanças na
legislação de regulação e o enrijecimento do controle das atividades culturais destacada
pelos atores que participam da pesquisa foi o pontapé para a análise dos parâmetros
que orientam a regulação dessas práticas. Discutiremos a legislação dos eventos de rua
na cidade do Rio de Janeiro, as novas proposições e as práticas dissensuais que se
apresentam na contramão desse cenário de enrijecimento no controle das práticas
culturais de rua na cidade Para tanto, lançamos mão do método cartográfico no
levantamento das cenas culturais de rua e na análise dos desafios no processo de
legalização dos eventos e as consequentes práticas desviantes neste cenário.

Palavras-chave: Comunicação; Cultura; Festa; Cidade e Controle.

Abstract: In this work, we will analyze the processes of regulation of street culture in Rio
de Janeiro. Private spaces are, for the most part, highly subject to surveillance and
therefore tend to adjust in a more intense way to regulatory policies. The street, on the
other hand, is diffuse and fragmented space, difficult to apprehend and control, for where
practices that defy the vigilant structure of culture are forged. The control of street cultural
practices presents, in this sense, specific difficulties linked to the ethos of the street that
refers to nomadisms. The recent changes in the regulation legislation and the stiffening

1 Doutoranda em Comunicação pela UERJ. Mestre em Comunicação pela UERJ. Especialista em


Comunicação e Imagem pela PUC. Membro do Grupo de Pesquisa CAC (Cidade, Arte de Cultura). E-mail:
flavinhamagalhaes@hotmail.com

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of the control of the cultural activities highlighted by the actors that participated in the
research was the kick for the analysis of the parameters that guide the regulation of
these practices. We will discuss the legislation of the street events in the city of Rio de
Janeiro, the new propositions and the dissensual practices that are presented against
this scenario of stiffening in the control of the street cultural practices in the city. For this,
we used the cartographic method in the survey of the street cultural scenes and the
analysis of the challenges in the legalization process of the events and the consequent
deviant practices in this scenario.

Keywords: Arial Communication; Culture; Party; City and Control.

1. Introdução
A insurgência de atividades engajadas de ocupação do espaço público no Rio de
Janeiro são parte da história da cidade, onde, em correspondência às demandas de
cada época, os atores desenvolvem atividades de arte e cultura pública suscitando
debates diversos em relação à urbe. As reformas urbanas e o investimento público nos
megaeventos recentes suscitaram um intenso debate em relação à perenidade dos
benefícios dessas iniciativas e sobre a ocupação dos espaços públicos. A falta de
diálogo entre o poder público e as populações locais e os constantes posicionamentos
autoritários do governo neste processo (FERREIRA, 2010) conferiu centralidade à
questão da apropriação dos espaços da cidade, provocando os mais diversos tipos de
manifestações, dentre elas as culturais e musicais.
O aumento dos atores interessados na ocupação dos espaços público pode ser
verificado também após os protestos políticos de junho de 2013, onde uma série de
coletivos culturais pautam ações engajadas na recuperação do senso público das ruas
da cidade (MARTINS, 2015). Este é o cenário em que se montam atividades culturais
que disputam a praça pública em suas mais diversas correntes no período de 2012 e
2014. Na contramão desse forte reavivamento das atividades de rua na cidade, percebe-
se um consequente enrijecimento regulatório do Estado em relação ao ordenamento da
cidade.
Duas medidas são aprovadas: a Lei do Artista (2012) e a criação do sistema
online de autorização de eventos de rua (2015) das quais falaremos a seguir. O presente
trabalho pretende analisar o cenário atual das atividades culturais de rua após o período
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dos megaeventos e a criação dos parâmetros regulatórios que visam, em teoria, garantir
que as atividades da cultura de rua aconteçam mediante certas responsabilidades. Face
ao cenário atual de recorrentes paralisações e embargos de atividades culturais 2,
pretendemos refletir sobre a relação entre as regulações do Estado (leis), as práticas
vigilantes (ações de agentes da ordem pública) e as ações dos atores culturais mediante
a estrutura legal, verificando a aplicabilidade dessas leis no cotidiano e as
consequências para as atividades culturais de rua.

2. Metodologia

Essa análise faz parte da pesquisa sobre festas urbanas no Rio de Janeiro, onde
realizamos uma cartografia das ações culturais no centro da cidade desde 2016.
Realizamos até o presente momento o trabalho de campo e reunimos dezenove
entrevistas com produtores culturais, artistas de rua e frequentadores dessas atividades
na cidade. Durante a investigação percebemos que, apesar da garantia legal das
manifestações artísticas de rua, a aplicação dessas leis pelos agentes públicos é
atravessada por questões de diferentes ordens que avaliam, por exemplo, o impacto
econômico dessas ações em relação ao poder privado local, a qualidade e a validade do
fazer artístico, o julgamento moral, a adequação ao espaço por termos de gosto e o teor
crítico da atividade. Diante da observação de que não são apenas as leis que regulam a
atividade cultural de rua, nos questionamos, a partir do levantamento cartográfico, quais
são os demais parâmetros de regulação? E quais impactos disso para a cena artística
urbana e para a cidade?

3. Justificativa e abordagem teórica

2 Matéria do Jornal O Globo: “Prefeitura interdita parcialmente festa de rua do Rivalzinho” (2017). Matéria
do Jornal Extra: “Pedra do Sal cancela roda de samba e responsabiliza guarda municipal que nega
intervenção” (2017). Matéria do Jornal O Globo: “Bloco Tambores de Olokun é impedido pela Prefeitura
de realizar ensaio no Aterro do Flamengo” (2017). Matéria do Jornal O Dia: “Polícia Militar impede
realização do samba Pede Teresa” (2017), entre outros.

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Para entender os processos de vigilância da cultura de rua, recorremos aos


coneitos de espaços lisos e estriados. O espaço liso está aberto à produção de linhas de
fuga, é caracterizado pela pluralidade e pela multiplicidade. Ele possui a qualidade do
nomadismo e das potencialidades libertadoras. O espaço estriado é, por sua vez,
sedentário, institucionalizado, caracterizado pelos instrumentos normativos de controle.
Para Deleuze e Guattari (1997) a análise dos espaços lisos e estriados é decisiva por
não qualificar a formações dos espaços de forma binária, mas por pensar, sobretudo,
nas interpenetrações, dos alisamentos, dos estriamentos.
A partir das noções de espaço liso e estriado e dos fluxos de um ao outro,
Nogueira (2012) propõe atualizações dessas noções no contemporâneo. Para ela, o
espaço estriado está cada vez revestido de “máscaras de alisamento” ou passa por um
“aparente alisamento da superfície”, de modo que o espaço estriado seria hoje o lugar
do clean, aparentemente aberto e acessível, porém facilmente cercável, pois
necessariamente controlável e vigiado. Podemos localizar este fenômeno na assepsia
das praças, boulevards e nas reformas urbanas turísticas. A autora analisa que, em
algumas situações, o espaço estriado é superficialmente revestido por alisamentos, por
se fazer passar pela estética nômade e flexível (própria dos espaços lisos):
O alisamento não substitui cercas, mas as integra naturalmente ao tecido
na cidade. As cercas tornam-se móveis, as vezes transparentes ou
mesmo apenas simbólicas. (NOGUEIRA, 2012, p.10)

O revestimento liso de espaços estriados se refere à uma estratégia, um cálculo


realizado para a manutenção do controle e da vigilância, através de signos que remetem
à aparente mobilidade, liberdade e acessibilidade. Através da justificativa de melhor
distribuição e organização dos eventos de rua, incentivada pela ideia de modernização,
os agentes de controle passam a pré-determinar espaços públicos possíveis para
aprimorar a vigilância das atividades culturais. Ao reduzir as possibilidades de produção
das festas de ruas a locais selecionados, torna passível que outras atividades sejam
legitimamente reprimidas. Desse modo, substitui-se a represália ostensiva dos agentes
públicos, como Guarda Municipal e Polícia Militar, através de políticas que enfraquecem
o alcance das atividades no território.

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4. Desenvolvimento

A discussão sobre a ocupação do espaço por artistas de rua e pelas festas de rua
requer uma análise atenta não apenas do teor legal, mas, sobretudo, do comportamento
dessas leis no campo. Dentre as legalidades que levantamos, destacamos duas que são
citadas predominantemente pelos produtores culturais, são elas: a Lei do Artista e o
decreto de criação do Rio Mais Fácil. A Lei do artista de rua é reconhecida pelos grupos
de artistas de rua como um importante passo para a garantia do direito à ocupação dos
espaços públicos. Este reconhecimento é resultado da validação legal do direito à
atividade artística no espaço público sem autorização prévia, mediante
responsabilidades como livre circulação, limite de horário e gratuidade das
apresentações. O Rio Mais Fácil, por sua vez, trata da virtualização dos processos de
alvará da Prefeitura que concedem o direito de realização de eventos nos espaços
públicos. Através da internet os produtores culturais submetem os pedidos de
autorizações aos diversos órgãos para a realização dos eventos.
A partir do acompanhamento dos atores, das entrevistas e da participação em
eventos de rua, percebemos que a estrutura legal é ineficiente por não contemplar de
forma plena os artistas e produtores culturais. Destacamos aqui três perspectivas
relevantes para entendermos as diferentes linhas que costuram cotidianamente as
regulações das práticas culturais de rua atualmente: 1) a intensificação da centralidade
do interesse privado nas políticas públicas de cultura frente a um contexto de crise
econômica; 2) a crise de segurança e o consequente esvaziamento dos espaços
públicos altamente sustentado pela narrativa do medo e 3) os julgamentos moralizantes
das atividades artísticas públicas e privadas realizados pela sociedade civil.
Em um contexto de crise econômica, os empresários enxergam as práticas
artísticas de rua como ações altamente danosas à inciativa privada. A posição do
empresariado da Lapa, por exemplo, é de que os eventos de rua, bem como os
ambulantes, são uma concorrência desleal aos seus negócios. É comum identificar o
discurso de que os eventos públicos são altamente danosos à cidade, pois representam
transtornos à ordem pública, à segurança e ao turismo. O argumento da inciativa privada

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não se sustenta apenas pela perspectiva econômica, mas, sobretudo, pela


descaracterização da relação positiva entre as práticas públicas de cultura e a cidade.
Em alinhamento à perspectiva da iniciativa privada, sob o ponto de vista do
Estado, os eventos culturais de rua independentes são altamente contraditórios frente à
intensa circulação midiática da crise de segurança pública. Afinal, como ter presente nos
espaços públicos um ambiente festivo altamente fervilhante quando se vive um contexto
de crise na segurança? Em casos de embargos aos eventos culturais, notamos a
predominância do discurso sobre a segurança e ordem pública quando as paralisações
são justificadas, por exemplo, pelo aumento de circulação de pessoas na madrugada e
falta de contingente policial ou por causar desordem e transtornos no espaço.
Em terceiro lugar, destacamos o atravessamento moral 3. Percebemos que no jogo
da vigilância da cultura de rua está presente a validação estética em relação à atividade
artística ou cultural. Setores da opinião pública, as vizinhanças locais, os
posicionamentos pessoais dos agentes e, sobretudo, os julgamentos institucionais do
que é arte ou não participam efetivamente dos processos de proibição (FERNANDES,
HERSCHMANN E TROTA, 2015). O julgamento moral é, por vezes, acionado para
justificar a presença ou ausência de certa atividade artística no local. As territorialidades
urbanas culturais e musicais são viabilizadas ou não através de “contratos morais”
relacionados a posicionamentos conservadores de espaço público, que propõem
conservar práticas tradicionalmente exercidas no local e rechaçar novas atividades
culturais.

5. Conclusões

. O tripé composto pelo Estado, iniciativa privada e moralidade conservadora nos


apresenta uma perspectiva que escapa de posições binárias como “ação independente
versus Estado”, por demonstrar que outras questões estão em jogo. O nível de opressão

3 Moral refere-se ao conjunto de normas, princípios e valores em uma determinada sociedade. Essas
regras norteiam noções como certo e errado, bem e mal. A moral é fruto de um padrão cultural adotado
por dada comunidade ou sociedade, sendo perpetuada pela recorrência de suas práticas ao longo da
história. (Ricœur, 1990).

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aos eventos de rua está sujeito a fatores como o perfil do público, o alcance, as
vizinhanças, a presença de comércio de atividade similar, o formato da ação e a
presença ou não de narrativas engajadas. Ou seja, estão mais atreladas à
especificidade das práticas, dos locais, dos modi operandi da atividade em questão, do
que propriamente com os legalismos de fato.
Apesar do cenário que construímos acima, os mecanismos de controle não são
totais, ou seja, não abarcam a integralidade social. Na contramão deste cenário de
recrudescimento, percebemos a movimentação de uma série grupos artísticos e
culturais que desenvolvem atividades altamente engajadas de forma dispersa nas
brechas da cidade. Os processos de repressão são acompanhados pela ativação de
práticas de contramão que indicam diferentes níveis e escalas de práticas subversivas e
politicamente implicadas. Essa perspectiva é essencial por propor reflexões menos
reducionistas sobre cidade, arte e cultura que analisem os processos de censura,
repressão e exclusão na complexidade em que os mesmos se dão na vida cotidiana,
onde a vigilância não é total e nem mesmo a subjetividade é docilizada por completo.

6. Referencias bibliográficas

DELEUZE, Gilles; GUATTARI, Félix. Mil platôs vol. 4. São Paulo: Ed, v. 34, p. 47, 1997.

FERNANDES, Cíntia Sanmartin; TROTTA, Felipe Costa; HERSCHMANN, Micael M. Não


pode tocar aqui!? Territorialidades sônico-musicais cariocas produzindo tensões e
aproximações envolvendo diferentes segmentos sociais. E-Compós v. 18, n. 2, 2015.

FERREIRA, Alvaro. O projeto de revitalização da zona portuária do Rio de


Janeiro. Scripta Nova. n. 14, p. 31, 2010.

FOUCAULT, Michel. Micropolítica do poder. Rio de Janeiro: Graal, 1979.

MARTINS, Daniel Marcos. Música, identidade e ativismo: a música nos protestos de rua
no Rio de Janeiro (2013-2015). Revista Vórtex. Curitiba, v.3, n.2, 2015, p.188-207

NOGUEIRA, Maria Luísa Magalhães. Corpos políticos. In: Anais do III Seminário
Internacional Urbicentros. Salvador, v. 22. p. 34- 49. 2012

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RANCIÈRE, Jacques. A partilha do sensível. São Paulo: Editora, v. 34, 2009.

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O estupro ‘corretivo’ como didática patriarcal:


lutando contra a lesbofobia na cobertura midiática

The ‘corrective’ rape as a patriarchal didactic:


struggling against lesbofobia in the media coverage

Mylena Domingues – PUC-Rio1


Natália Kleinsorgen – UFF2

Resumo: O objetivo deste artigo é mapear algumas aparições do "estupro corretivo" nos
periódicos de internet nos últimos 10 anos, analisar como se deu a cobertura dos fatos,
e de que forma a mídia pode colaborar com a perpetuação da violência masculina sobre
mulheres. Para percorrer este trajeto, além das matérias veiculadas, utilizaremos um
marco teórico composto pela análise de discurso feminista, de Andrea Franulic;
alicerçada na teoria feminista: a heterossexualidade compulsória, de Adrienne Rich; a
importância de resgatar a linguagem das mãos dos homens, com Carol Hanisch, Janice
Raymond e Catharine MacKinnon; e as feministas Margarita Pisano e Simone de
Beauvoir, com suas contribuições acerca da masculinidade. Além disso, traremos dados
do Dossiê sobre Lesbocídio, que nos ajuda a pensar na invisibilidade das violências
cometidas contra lésbicas.

Palavras-chave: Estupro corretivo; Comunicação participativa; Lesbofobia;


Comunicação e Direitos Humanos

Abstract: The aim of this article is to map some of the occurrences of "corrective rape" in
internet journals in the last 10 years, to analyze how the facts were covered, and how the
media can contribute to perpetuate male violence against women. To go this route, in
addition to the material conveyed, we will use a theoretical framework composed by the
analysis of the feminist discourse, by Andrea Franulic; based on feminist theory:
Adrienne Rich's compulsory heterosexuality; the importance of rescuing language from
the hands of men, with Carol Hanisch, Janice Raymond and Catharine MacKinnon; and
the feminists Margarita Pisano and Simone de Beauvoir, with their contributions about
masculinity. In addition, we will bring data from the Lesbocide dossier, which helps us

1 Mestranda pelo Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais (PPGCIS) da Pontifícia


Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio). E-mail: mydomingues@gmail.com. Currículo Lattes:
http://lattes.cnpq.br/4167636662506974.

2 Mestra pelo Programa de Pós-Graduação em Mídia e Cotidiano (PPGMC) da Universidade


Federal Fluminense (UFF). E-mail: natkbb@gmail.com.

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think about the invisibility of the violence committed against lesbians.

Keywords: Corrective rape; Participatory communication; Lesbofobia; Communication


and Human Rights.

1. Introdução
Em 26 de abril de 2018, uma jovem, de 22 anos, que tentava voltar para casa, foi
abordada, agredida e estuprada por um homem, em Niterói, no estado do Rio de
Janeiro. De acordo com a reportagem veiculada sobre o caso, após ser abordada por
este homem e seus amigos, no bar onde se divertia, na Praça da Cantareira, e ter
recusado as insistentes aproximações, alegando interesse em uma mulher que estava
no local, ela foi seguida e sofreu estupro corretivo, no caminho para o terminal
rodoviário. A violência ocorreu a cerca de 500 metros de onde estavam, às 22 horas
daquela quinta-feira.

Em 2009, na cidade de Khayelitsha, África do Sul, diversas mulheres lésbicas


denunciaram terem sido arrancadas das ruas e sofrido estupro corretivo. As mulheres
sentiam medo de sair e viverem suas vidas. Todas as entrevistadas pela emissora Sky
News, à época, afirmaram que conheciam, pelo menos, uma pessoa que havia sido
estuprada porque era lésbica. Funeka Solidaat disse que foi atacada duas vezes. A
mulher contou que homens cobriram o rosto com um capuz e a estupraram.

Segundo a vítima, o que a espantou ainda mais foi a atitude da polícia. As


autoridades não teriam dado importância quando a mulher foi registrar o crime e a
humilharam, não finalizando o registro de ocorrência. Desire Dudu confessou que a
mulher que assume ser homossexual corre risco de morte. Durante a reportagem, um
homem chegou a dizer que as “lésbicas deveriam ser espancadas”. “As lésbicas não são
mencionadas na bíblia”, disse ele. Os homens que atacam as mulheres dizem que
“estão ensinando uma lição”.

Estas histórias não são exceções. Elas são muitas, ainda que mascaradas por um
viés paternalista das instituições patriarcais, que silenciam lésbicas e bissexuais em
relacionamentos lesboafetivos. Quando estas mulheres falam sobre estupro corretivo,

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esta variação do abuso sexual pouco comentada pelas grandes mídias, elas estão
falando sobre uma violência que acontece quando homens decidem que podem e
devem punir mulheres lésbicas, a fim de conformá-las à heterossexualidade, ou seja,
com o pretenso objetivo de transformá-las em mulheres heterossexuais.

2. Justificativa e abordagem teórica


Para percorrer o trajeto deste pesquisa, além das matérias veiculadas, que
analisaremos sob o viés da análise do discurso feminista de Andrea Franulic,
utilizaremos um marco teórico composto pelo debate da heterossexualidade
compulsória, de Adrienne Rich; falaremos sobre a importância de resgatar a linguagem
pelas feministas, através de Carol Hanisch, Andrea Franulic, Janice Raymond e
Catharine MacKinnon; traremos dados do Dossiê do Lesbocídio, que nos ajuda a pensar
na invisibilidade das violências cometidas contra lésbicas; e as feministas Margarita
Pisano e Simone de Beauvoir, com suas contribuições acerca da masculinidade.

Nas sociedade ancestrais e na contemporânea, mulheres têm sido submetidas a


clitoridectomias e infibulações; a cintos de castidade; à punição, inclusive com morte,
devido a adultérios e relações lesboafetivas; a negação psicanalítica do clitóris, incluindo
doutrinas psicanalíticas da frigidez e do orgasmo vaginal; de restrições quanto à
masturbação; a negação da sexualidade pós menopausa; a histerectomias
desnecessárias; a violências obstétricas; a imagens hiper sexualizadas e irreais de
lésbicas nas mídias, na literatura e na pornografia, incluindo a representação de
mulheres respondendo com prazer à violências e sadismos heterossexuais; a destruição
de arquivos que relatem experiências lésbicas; a estupros, inclusive o marital; a
agressões domésticas; a incestos pai-filha, irmão-irmã, filho-mãe; a socialização das
mulheres a fim de normalizar a “pulsão” sexual masculina como um direito humano; a
idealização do romance heterossexual na arte, na literatura, na mídia, na propaganda
etc.; ao casamento infantil; ao casamento arranjado; a prostituição; aos haréns; etc, nos
mostra Adrienne Rich (2012), tudo isso a fim de nos ensinar sobre o prazer sexual dos
homens que, de forma violenta, se sobrepõe e se “normaliza” sobre qualquer tentativa
de sexualidade feminina. É para a manutenção deste poder que homens estupram, e,
soma-se a isso, a vontade de punir lésbicas, que ousam tentar se livrar das amarras
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heteropatriarcais.

Aparentemente, o termo estupro corretivo foi utilizado pela primeira vez na África
do Sul, depois de casos como o de Eudy Simelane (que também foi assassinada no
mesmo ataque) e Zoliswa Nkonyana terem se tornado públicos. No Brasil, o termo
entrou na lei 13.718, sancionada em setembro de 2018, que criou penas específicas
para agressões já conhecidas pela população de mulheres e LGBTs, entre elas, o
chamado estupro corretivo. Embora nos meios militantes já se aborde o termo pelo
menos desde o início dos anos 2000, é comum as pessoas o desconhecerem.

O guia de terminologia de 2015 do programa das Nações Unidas que ajuda no


combate à Aids, UnAids, defende que deixemos de usar o termo estupro corretivo, já
que ele dá a impressão de que há algo que precisa ser consertado. A primeira vez que a
ONU usou o termo foi em 2011. Embora as diretrizes de 2015 defendam que utilizemos
a expressão estupro homofóbico no lugar, a realidade é que ele esconde as principais
vítimas desta violência, as mulheres lésbicas. A defesa de que nem só mulheres sofrem
este tipo de violência é mais uma forma de violentar mulheres lésbicas e mulheres em
relacionamentos lesboafetivos, uma tentativa institucional de apagar estas experiências
majoritariamente vividas por elas. Por último, um estudo global de 2013 sobre HIV/AIDS
foi quem finalmente sugeriu a utilização mundial do termo estupro lesbofóbico para esta
violência, com o objetivo de enfatizar quem são as esmagadoras vítimas deste
fenômeno social. As empresas de comunicação, no entanto, parecem não se interessar
em informar a população.

Em uma matéria chamada "Lutando contra o machismo na América Latina: a


fórmula para combater feminicídios" (fev/ 2019), a jornalista Mariela Jara traz dados
sobre o que entende como um aumento do feminicídio na América Latina, desde o início
do ano. No texto, uma das entrevistadas, Gladys Acosta, membra da Comissão de
Peritos que monitora o cumprimento da Convenção sobre a Eliminação de Todas as
Formas de Discriminação contra as Mulheres (Cedaw), expressou preocupação com a
cobertura midiática da violência masculina e o papel que ela desempenha no fomento
desta violência. Para muitos homens, educados em uma sociedade misógina, o que se
pretende “lição de moral” pode soar como um incentivo, alerta a advogada peruana.
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Ela nos diz que a notícia é transmitida como se fosse um show, sem explicar as
coisas. Enquanto imagens violentas são mostradas, e poderíamos pensar que isso
refrearia o fenômeno ao expor uma atitude tão destrutiva, o que acaba acontecendo é
que muitas pessoas veem o agressor como um herói patriarcal. No Brasil, por exemplo,
com a lei que tipifica o feminicídio e o qualifica como crime hediondo, temos visto um
aumento significativo de notícias sobre violências contra mulher, no entanto, a lógica
apresentada por Acosta se mantém. Os grandes veículos não apresentam preocupação
ou comprometimento com o conteúdo veiculado, parece só mais um programa de
entretenimento bizarro.

3. Métodos e instrumentos de pesquisa


Coletaremos matérias de jornais virtuais, publicadas nos últimos 10 anos, que
tragam a expressão “estupro corretivo” e avaliaremos de que maneira o texto pode
colaborar com a libertação de mulheres, ou, ainda, se, de alguma forma, legitima a
violência masculina, através de uma linguagem punitivista e patriarcal. Usaremos uma
análise feminista do discurso, proposta por Andrea Franulic, e revisão bibliográfica do
marco teórico para alicerçar nossas críticas.

4. Conclusões
Sabemos que a misoginia e a lesbofobia, perpetradas pelas instituições
patriarcais – Ciência, Filosofia, Religiões, Jurídico, Mídia, etc. – são as principais
responsáveis pela ausência de denúncias por parte das mulheres, o que acaba por
reproduzir a invisibilidade lésbica, já que os números oficiais nunca contam a história
das mulheres lésbicas, como bem denuncia o Dossiê sobre Lesbocídio. É preciso,
portanto, observar de perto as estratégias midiáticas de cooptação das lutas e tentar
entender o que as grandes empresas podem ganhar se apropriando da linguagem dos
movimentos sociais. A quem servem as instituições midiáticas? A quem servem as leis?
Se Simone de Beauvoir nos ensina algo em seu “Segundo Sexo”, que completa 70 anos
em 2019, é que o mundo sempre foi dos homens, e que nós sempre fomos Objeto
forjado pela masculinidade.

Da mesma forma que a casa das mulheres não é segura para mulheres, a rua
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também não o é. Especialmente para mulheres lésbicas. Seja pelo avanço dos discursos
de ódio; seja pelo medo arraigado na nossa subjetividade, com tanta violência contra
mulheres, perpetuada especialmente pelas instituições midiáticas; seja pelo perigo
iminente das ruas escuras e assédios escancarados que vivenciamos todos os dias.
Devemos levar em consideração que a heterossexualidade é a norma que multiplica a
violência doméstica, tão comum às mulheres heterossexuais; e também é a norma que
faz espaços privados serem tão nocivos às mulheres lésbicas. A heterossexualidade é a
norma, no sentido de conferir uma mínima segurança em espaços públicos às mulheres
bissexuais em relacionamentos com homens, pois conseguem mascarar sua
sexualidade desviante; e também é a norma, quando mulheres lésbicas são estupradas
por estranhos ou conhecidos em espaços domésticos, ou ermos e desocupados. A
heterossexualidade é a norma, enquanto sexualidade; e é a prisão e a linguagem que
usamos no mundo masculinista, enquanto regra máxima que dissemina e legitima a
violência contra mulheres lésbicas, seja através das instituições ou nas vidas pessoais
de homens que desejam se vingar de mulheres — das mulheres que dizem não ao poder
e à dominação patriarcal.

5. Referencias bibliográficas
Andrade, VRP. A soberania patriarcal: o sistema de justiça criminal no tratamento da
violência sexual contra a mulher. Seqüência: Estudos Jurídicos e Políticos,
Florianópolis, p. 71-102, jan. 2005. ISSN 2177-7055. Disponível em:
<https://periodicos.ufsc.br/index.php/sequencia/article/view/15185>. Acesso em: 26 maio
2019. doi:https://doi.org/10.5007/%x.

Beauvoir. S. O segundo sexo. Tradução: Sérgio Milliet. 2ª edição. Rio de Janeiro: Nova
Fronteira, 2009.

Franulic, A. (2015). Por un análisis feminista del discurso desde la diferencia sexual.
ALED 15.

Pisano, M. (2001). O triunfo da Masculinidade. Tradução: Grupo Estudos no Brejo.


Disponível em: <https://we.riseup.net/assets/375398/MARGARITA+PISANO+O +
TRIUNFO+DA+ MASCULINIDADE+tradu%C3%A7%C3%A3o+completa.pdf >. Acesso
em: 15/05/2019.
Peres, MCC; Soares, SF; Dias, MC. Dossiê sobre lesbocídio no Brasil: de 2014 até
2017. Rio de Janeiro: Livros Ilimitados, 2018.

Paá gina | 6
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Cinema NA rua: o direito à cidade entre


performatividades e ocupações
Cinema in the street: the right to the city between
performances and occupations

Tatiane Mendes– UERJ1

Resumo: A intenção do presente trabalho é pesquisar a experiência de cinema NA rua


como forma de solidariedade, ocupação da cidade e reexistência. Toma-se como
questão central a seguinte pergunta: o que ocorre quando o cinema ocupa a rua? A
partir de tal questionamento intenciono investigar as potências políticas de experiências
de cinema que ocorrem em espaços urbanos. A hipótese apresentada é a de que as
experiências de sons, imagens e afetos constroem deslocamentos dos sujeitos na urbe,
convidando-os a existirem coletivamente neste espaço e fazerem uso do direito à
cidade, reinventando-a. Há uma premissa no presente estudo: de que o cinema NA rua é
algo distinto da experiência do cinema em lugares fechados, sendo da ordem do
efêmero e tendo suas múltiplas dimensões associadas às dimensões da cidade. Assim o
cinema na rua é experiência urbana e comunicacional por excelência. Para analisá-lo,
faço uso da metodologia de cartografia, com a técnica da observação participante
pontuando diferentes experiências ao redor da cidade, que são as iniciativas Cinevila e
Cinegiro. Como resultado, encontro a ressignificação do espaço nos deslocamentos dos
sujeitos e as decorrentes performatividades, modificando, em alguma medida os fluxos
da cidade do Rio de Janeiro.

Palavras-chave: Cinema Na rua; Experiência Sensível; Cidade; Performatividade.

Abstract: The intention of the present work is to investigate the experience of cinema in
the street as a form of solidarity, occupation of the city and reexistence. The central
question is the following question: what happens when the cinema occupies the street?
From this questioning we intend to investigate the political powers of cinema experiences
that occur in urban spaces. The hypothesis presented is that the experiences of sounds,
images and affections construct displacements of the subjects in the city, inviting them to
exist collectively in this space and to make use of the right to the city, reinventing it.

1 Doutoranda em Comunicação Social pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro.Mestre em Mídia e


Cotidiano da UFF no PPGMC (Programa de Pós Graduação em Mídia e Cotidiano), membro do Laccops
(Laboratório de Investigação em Comunicação Comunitária e Publicidade Social) e do Laboratório de
Comunicação, Arte e Cidade(CAC-UERJ).Email:tatunha@gmail.com
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There is a premise in the present study: that the cinema in the street is something distinct
from the experience of cinema in closed places, being of the order of the ephemeral and
having its multiple dimensions associated to the dimensions of the city. Thus the cinema
on the street is urban and communication experience par excellence. To analyze it, I
make use of the methodology of cartography, with the technique of participant
observation punctuating different experiences around the city, which are the initiatives
Cinevila and Cinegiro. As a result, I find the resignification of space in the subjects'
displacements and the resulting performativity, modifying, to some extent, the flows of the
city of Rio de Janeiro.

Keywords: Cinema On the street; Sensitive Experience; City; Performativity.

1. Introdução
Este trabalho tem o objetivo de pensar formas de solidariedade, ocupação e resistência
a partir das experiências de CINEMA NA RUA, ações que compreendemos como
imbricações entre a cidade e o sujeito, o cinema e a cidade. Será na construção de
relações horizontais, multidimensionais, de afeto, de sons e imagens do cinema e da
cidade, emaranhados, que nos debruçamos sobre tais práticas. A pergunta central é: o
que acontece quando o cinema ocupa a Rua? A partir desta, outras indagações surgem:
que outras experiências da cidade e dos sujeitos acontecem? Tem-se como hipótese
que, ao ocupar um espaço urbano com projeções de cinema, as experiências de sons,
imagens e afetos - que constituem o cinema como o conhecemos - constroem
deslocamentos dos sujeitos na urbe, convidando-os a existirem coletivamente neste
espaço. O percurso metodológico conta com a cartografia a partir da perspectiva de
Jesús Martin-Barbero (2009) e Bruno Latour (2012), pontuando a um só tempo os
espaços existentes na cidade e identificando os atores sociais inseridos em tais
experiências. Nesse espaço, onde o cinema adentrou, ainda sob a ideia de lanterna
mágica, e posteriormente cinematógrafo, ainda nos idos do século XIX, os ares da
modernidade que derrubaram morros e cortiços, que atravessaram casas e corpos, o
cinema, em certa medida, ajudou a construir o imaginário do homem moderno, racional,
individual, eurocêntrico. Não foi por acaso que, anos mais tarde, na solidificação de um
projeto de Estado Nacional moderno nos anos 1930 e sob o jugo de Getúlio Vargas e o
recém-inaugurado Instituto Nacional de Cinema e Educação (INCE), ali estava o cinema
como política pública, projeto de construção de uma identidade brasileira, unificada no
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ideário de progresso de uma capital nacional. Na mesma cidade do Rio de Janeiro, os


grandes conglomerados econômicos do início do século XX tinham o cinema como foco,
criando espaços de cultura e entretenimento, de fluxo de pessoas e dinheiro,
estabelecendo a cidade do Rio de Janeiro como pólo cultural da modernidade. Aqui não
se tem a intenção de investigar os descaminhos pelos quais passou a indústria
cinematográfica desde 1896, ano da primeira exibição do cinematógrafo no salão de
novidades de Paris, embora o percurso do cinema na cidade atravesse cada um dos
objetos a ser investigado. A escolha vai no sentido de compreender os atravessamentos
da história do cinema na cidade do Rio de Janeiro como pano de fundo para entender
um momento específico da urbe carioca: anos depois das duas grandes crises de
exibição e produção cinematográfica (GONZAGA,1996) em um cenário contemporâneo,
quando o cenário político e econômico gerou manifestações em todo o país, as
chamadas jornadas de junho de 2013 (HARVEY,2014) e cujo contexto multifacetado
serve como marco para todas as iniciativas de cinema na rua que serão investigadas.
Todas, iniciadas apesar ou por causa dos eventos de 2013.A saber: Cine Vila e Cinegiro.
Qual seria a relação entre tais eventos políticos e tais projetos? A nós, parece que, em
um momento de polarização política, em atos que concentraram milhares de pessoas
nas ruas do país inteiro e que, via de regra, foram atravessadas por grandes projeções
em construções públicas, o cinema, para além do imaginário de unificação nacional,
alfabetização em massa, modernidade e individualismo que o gerou, passa por alguma
transformação e sai das salas de cinema indo ocupar a praça, como ponto de fuga,
experiência do efêmero, reunindo corpos em meio às narrativas de imagens, sons e
afetos. Assim são os projetos investigados. As jornadas de junho então, são o contexto
histórico-político que serve como marco para pontuar uma experiência de cinema que
não se faz em ambientes fechados, salas de cinema, cineclubes, etc., mas literalmente
no meio da rua. Será no atravessamento das jornadas, permeadas de um cotidiano
contemporâneo, onde o cinema não é mais o único elemento constituinte do imaginário
urbano, mas parte deste, que esta pesquisa se constitui. De modo específico, vemos o
cinema na rua, como proposta conceitual e política, em sua potência de gerar espaços
de encontro e reflexão, de partilha sensível, onde as narrativas da cidade se confundem

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com as narrativas da tela, podendo gerar vinculações dos sujeitos entre si e com a
cidade, na medida de construir outras formas de solidariedade e reexistência.
Caminhamos em diálogo com o ideário de Judith Butler para apontar o cinema NA rua
em sua instância política, fazendo convergirem a ideia da assembleia repentina, como
“uma forma imprevista de performatividade política que coloca a vida possível de ser
vivida” (2018, p.24) e a perspectiva da performatividade, também em Butler, como
formas corporificadas de ação” (2018, p.14). Pensando a partir das ocupações dos
espaços urbanos por corpos em aliança, Butler aponta para a construção de um corpo
político, que vai na contramão das normas com as quais se constitui a coletividade. O
corpo, para a autora e para este estudo, é uma relação que institui lugares e valores
para cada sujeito, organizando-os a partir de experiências de espaço e tempo. Dessa
forma, as manifestações públicas, que constituem deslocamentos, movimentos ou, como
observa Butler, performatividades onde os corpos se reúnem em função de uma outra
experiência de espaço urbano, oferecem outras percepções de espaço e tempo,
deslocamentos de sujeitos e sentidos, propondo outras ocupações da cidade e
possibilitando ressignificações do direito à cidade (HARVEY, 2014). Trazendo para a
presente discussão a ideia de performatividade, temos que esta apresenta-se como
movimento do corpo em relação ao outro se dá no cinema NA rua como experiência
sensível, que atravessa a um só tempo o sujeito e a cidade, fazendo-se coletiva e,
portanto, política, na medida em que promove o deslocamento dos elementos que
compõem a cidade em direção a outro existir.

2. Justificativa e abordagem teórica


A justificativa para tal projeto se dá na crítica que se faz, em consonância com Judith
Butler (2018), sobre a racionalidade de um Estado neoliberal que exige o Ethos do “EU”,
antes do “NÓS”, nas práticas sociais atravessadas pelo ideário mercadológico que :
decide quais práticas/vidas/ideias devem ser mantidas (ou não) e no que Butler define
como práticas de negligência sistêmica do estado em relação aos direitos de existência
que englobam o direito a expressões culturais, que pontuamos, no contexto específico
brasileiro atual, como ações como o Fim do Ministério da Cultura, escassez de políticas

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culturais e cerceamento/enquadramento de movimentos culturais. A ocupação de


espaços urbanos configura-se, para nós, como mecanismo de resistência frente ao
sistemático combate do Estado brasileiro e particularmente o fluminense, a produção e
organização de espaços e projetos culturais, assim como a ocupação do espaço urbano.
Será na afirmação de um direito a cidade em sua instância a um só tempo cultural,
política e sensível, que investigaremos nas instancias do cinema NA rua.

3. Métodos e instrumentos de pesquisa


A metodologia escolhida envolve o acompanhamento das atividades, o registro – visual,
sonoro, textual – de todas as ações que envolvessem cada dia de visitação. Nos
ambientes em que fosse possível realizar entrevistas informais em modo aberto com os
participantes, assim seria feito. Além disso, cada uma das visitas incluiria a tentativa de
propor atividades, de reflexão ou de produção de imagens e sons, a depender do
desenvolvimento de cada ação. É necessário lembrar que os projetos ocorrem em
espaços provisórios de exibição, o que inviabiliza processos investigativos lentos e
demorados, principalmente porque o cinema é um atravessamento, não passa pela
rotina dos participantes. Aliás, seria justamente tal característica a considerada a mais
potente. No caráter de surpresa encontra-se a espontaneidade da emoção e a
intensidade da experiência, refletida no gesto, no olhar, no movimento do participante.

4. Desenvolvimento
Se cartografar é construir mapas, imagens de espaços, seria procedente apresentar um
mapeamento preciso de estruturas fixas que pudessem dar conta do fenômeno social
abordado. Contudo, se falamos da experiência sensível, de imaginários e
experimentações de espaço tempo do sujeito atravessado pelo cinema em meio à vida,
o mero registro a análise técnica ou a descrição cronológica do fato não serão capazes
de materializar com competência os resultados. Resta-nos percorrer aos mapas
noturnos de Martin-Barbero (2009) ou Paola Berenstein (2012) sobre a cidade, em modo
errante, como ocupação fugidia, mais de alma do que de técnica. Assim, caberá
mergulhar na vivência do sujeito atravessado pela experiência. Sujeito que observa.

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Pesquisa e vivencia. Sujeito que sente. Sujeito que ocupa as praças, que cria narrativas,
seja ao sugerir palavras que vão atravessar os muros da cidade, seja para atravessar a
projeção com seu corpo.

5. Conclusões

Enquanto consideração provisória, uma vez que a presente investigação encontra-se em


curso, um observação sobressai, após o percurso empreendido e o resultados obtidos
até então: a de que o cinema, enquanto espaço urbano, cria experiências de movimento,
de sons e imagens, que chamamos performatividades, também parece bem próximo de
criar lugares políticos. Os corpos, dispostos em seus percursos cotidianos, são de
alguma forma afetados pelos sons que ouvem, pela configuração peculiar da praça, pelo
inusitado da cena. Alguns se aproximam. Curiosos, arriscam alguns minutos do seu dia
para observar. Gente que para na esquina, que espicha a cabeça para fora da janela do
carro, ou do ônibus, ou de casa. Que se espanta. Que, por vezes, atravessa a rua e vem
ver de perto. Alguns minutos mais e procura um lugar para sentar, olhos na tela. Dali
para frente, já foi contaminado, absorvido pela atmosfera fílmica, em constante
negociação com a cidade.

6. Referências bibliográficas
BUTLER,Judith. Corpos em aliança e a política das ruas:notas para uma teoria performativa de
assembleia. Tradução: Fernanda Siqueira Miguens; Rio de Janeiro:Civilização Brasileira, 2018
DIDI-HUBERMAN, Georges. Sobrevivência dos vaga-lumes. Trad. Vera Casa Nova,Márcia
Árbex. Belo Horizonte: Ed. UFMG, 2011
GONZAGA, Alice. Palácios e poeiras: 100 anos de cinemas no Rio de Janeiro. Rio de Janeiro:
Record, 1996
HARVEY, DAVID. Cidades Rebeldes: do Direito à cidade à revolução urbana. Martins Fontes,
São Paulo, 2014.
LATOUR, Bruno. Reagregando o Social.
Bauru, SP: EDUSC/ Salvador, BA:EDUFBA,2012JACQUES, Paola Berenstein. Elogio aos
errantes. Salvador: EDUFBA, 2012.
LEFEBVRE, Henri. O direito à cidade. 5. ed. Tradução de Rubens Eduardo Frias. São Paulo:
Centauro Editora, 2011
MARTÍN-BARBERO, Jesús. Ofício de Cartógrafo – Travessias latino-americanas da
comunicação na cultura. Tradução: Fidelina Gonzáles. Coleção Comunicação contemporânea 3,
São Paulo: Edições Loyola, [2014] 2004.
PALLAMIN, Vera. Arte, cultura e cidade: aspectos estético-políticos contemporâneos. São
Paulo:Annablume, 2015.
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O papel do Facebook como catalisador da


sensação de medo no Rio de Janeiro
The role of Facebook as a catalyst for fear in Rio de
Janeiro

Bianca Antunes – UERJ1

Resumo: O artigo em questão tem como objetivo discutir o papel das condições
tecnológicas do Facebook como a instantaneidade, interatividade e georreferenciamento
como fatores que aumentam a visibilidade do conteúdo postado na fan page “Onde Tem
Tiroteio” (OTT). Dessa forma, iremos refletir se, ao banalizar e tratar a violência no Rio de
Janeiro como uma experiência cotidiana, os seguidores da página não estariam
espalhando e potencializando ainda mais o medo que é visto diariamente na internet,
criando uma insegurança promovida pelas tecnologias de comunicação. Em função da
grande quantidade de informações no Facebook, foi feita feito recorte de análise das
postagens realizadas na página pelo período de 24 horas com a utilização do aplicativo
de mineração de dados, Netvizz. Através dele foi possível fazer uma correlação das três
principais condições tecnológicas com o aumento do processo de circulação do material
postado.

Palavras-chave: Violência; Medo; Facebook; Interação Social; Rio de Janeiro.

Abstract: The article in question aims to discuss the role of the technological conditions
available on Facebook as instantaneity, interactivity and georeferencing as factors that
increase the visibility of content posted on the "Where Got Shoot" (OTT) fan page. We will
reflect if, by trivializing and treating violence in Rio de Janeiro as a daily experience, the
followers of the page would not be spreading and further enhancing the fear that is seen
daily on the internet, creating an insecurity promoted by communication technologies . Due
to the large amount of information on Facebook, the analysis of the postings made on the
page for the period of 24 hours using the data mining application, Netvizz, was made.
Through it was possible to correlate the three main technological conditions with the
increase of the circulation process of the material posted.

Keywords: Violence; Fear; Facebook; Social Interaction; Rio de Janeiro.

1 Doutoranda, PPGCom UERJ, bianca_antunes@hotmail.com

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1. Introdução

Localizado na América do Sul, com população estimada de 6.520.2662 e com


grande visibilidade internacional, o Rio de Janeiro vem amargando, nos últimos anos, altos
índices de criminalidades. Depois de passar por uma intervenção federal das Forças
Armadas, no ano passado, o estado vem sofrendo com a violência diária, num processo
que vem se intensificando e que foi agravado pela saída de Sérgio Cabral, do cargo de
governador, e de José Mariano Beltrame, ex-secretário de Segurança Pública do Rio. Com
a falta de verba nos caixas do governo, a crise atingiu vários setores, entre eles, a
segurança pública, o que fez com que os índices de criminalidade retornassem aos
registrados dez anos atrás, criando no cidadão carioca uma sensação de medo e
vulnerabilidade generalizada. Se de um lado, temos um cenário de falência da segurança
pública, do outro, temos uma população que, sem poder contar com a autoridade policial
nas ruas, buscou na internet uma forma para encontrar informações para fugir da
violencia.
O artigo em questão tem como objetivo discutir se a fan page do Facebook “Onde
Tem Tiroteio” (OTT), criada por moradores do Rio de Janeiro, no Brasil, que informa os
seguidores sobre as rotas mais seguras na cidade, funciona como catalisador de notícias
sobre crime e potencializa a circulação desse conteúdo ao exibir a criminalidade. A partir
disso, podemos pensar o papel das condições tecnológicas disponíveis no Facebook
como a instantaneidade, interatividade e georreferenciamento como fatores que
aumentam a visibilidade do conteúdo postado, à medida que causam um efeito de
circulação do medo com a quase simultaneidade do acontecimento e fazem com que a
realidade da violência passe a fazer parte do dia a dia mesmo daqueles que nunca a
confrontaram diretamente enquanto experiência de um processo vivido.
Ao problematizar os efeitos e o papel da mídia no crescimento da violência,
discutimos se ela expõe e permite compartilhar o que acontece nas redes sociais de forma
quase imediata. Ao banalizar e tratar a violência no Rio de Janeiro como uma experiência
cotidiana, os seguidores da página não estariam espalhando e potencializando ainda mais

2 IBGE, 2017
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o medo que é visto diariamente na internet, criando uma insegurança promovida pelas
tecnologias de comunicação.

2. Justificativa e abordagem teórica

A partir do exposto, podemos pensar se as notícias de criminalidade publicadas no


Facebook ganham força a partir do momento em que os seguidores da OTT-RJ passam
a conviver constantemente com cenas e discursos violentos, que são publicados de forma
acelerada e constante, e acompanham a próxima tragédia. Dessa forma, a fan page
funcionaria como uma fonte de informações que iria “garantir” a proteção do cidadão
carioca, mas também apresenta a cidade do Rio no Facebook como um foco da
insegurança e um permanente desafio. No caso da OTT RJ, podemos vislumbrar se o
ciberespaço ultrapassa o ambiente virtual para o mundo físico, por meio da tecnologia de
geolocalização dos dispositivos, informações digitais se fundem com informações do
mundo físico, criando uma nova experiencia do medo.
Nesse contexto, levaremos em consideração os conceitos de Haesbaert (2004)
sobre geografía cultural e Bauman (2001) sobre medo no mundo contemporáneo.
Utilizaremos também os conceitos de Recuero (2009) sobre sites de redes socias, Latour
(1991) sobre o papel da agência dos objetos, complementando com Lemos (2009) sobre
a cultura da mobilidade.

3. Métodos e instrumentos de pesquisa

Apropriando-se do ciberespaço como fonte de pesquisa, foi realizada a etnografia


na internet (Fragoso, Recuero e Amaral, 2011; Konizets, 2002) como aporte metodológico.
Utilizando um método interpretativo e investigativo, iremos verificar se e como as
condições tecnológicas disponíveis no Facebook como a instantaneidade, interatividade
e georreferenciamento atuam como fatores que aumentam e potencializam a visibilidade
do conteúdo postado na fan page OTT RJ e o engajamento dos seguidores da página e
se isso, potencializou a circulação das notícias sobre criminalidade.

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Para isso, em função da grande quantidade de informações postadas na página


em questão, foi feita a análise das postagens publicada na fan page OTT-RJ no período
de 24 horas como recorte inicial para nos dar subsidios para pensar a estratégia num
contexto mais amplo. Para fazer o levantamento das informações, foi usado o aplicativo
de mineração de dados, Netvizz. Através dele foi possível fazer uma correlação das três
principais condições tecnológicas com o aumento do processo de circulação do material
postado.

4. Desenvolvimento

Pelos rastros digitais postados pelos seguidores da fan page, foi possível chegar
às seguintes conclusões: primeiro, as informações postadas trazem as principais notícias
de criminalidade, permitindo fazermos a identificação das ocorrências de crime num
período de tempo; segundo, foram identificadas as regiões afetadas pela violência,
realizando assim uma cobertura geográfica da criminalidade numa representação
cartográfica virtual do espaço carioca.
A partir disso, pontuamos as seguintes questões: sobre interatividade, foram
publicadas, de 17 a 18 de maio deste ano, 40 postagens em 24 horas que geraram alcance
de 7.423 curtidas, 1.153 comentários, 2.766 compartilhamentos e 9.163 reações (todos
os tipos de reação como amei, uau, haha, triste e grr). O números apurados indicaram o
forte engajamento dos seguidores da página em apenas um dia que, dessa forma,
potencializaram a circulação das noticias sobre medo.
Com relação à instantaneidade, foi possível verificar como funciona o processo de
compartilhamento do conteúdo da fan page OTT RJ. Dezenas de comentários e curtidas
foram feitas minutos após a publicação do post original, o que nos dá indícios sobre como
ocorre a disseminação online de notícias sobre criminalidade e reforça o caráter de
instantaneidade da ferramenta.
Sobre a possibilidade de inclusão nas postagens do local onde a ocorrência
ocorreu, num recurso semelhante ao georreferenciamento, a indicação da localização das
regiões afetadas pela criminalidade nas publicações do Facebook possibilitou constatar

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que a violência afetou nesse dia os maiores municipios da Baixada Fluminense como São
Gonçalo (5 postagens), Belford Roxo (4), Duque de Caxias (3), mas também bairros da
Zona Norte do Rio, como Guadalupe (2), e da Zona Sul, como o Catumbi (3). As outras
regiões são Piedade, Pavuna, Vila Kennedy, Laranjeiras, Vila Cruzeiro, Penha, Tijuca,
Acari, Anil, Manguinho, Parada de Lucas, São Carlos, Rocha Miranda e o município de
Angra dos Reis, na Costa Verde. Dessa forma, podemos verificar que a criminalidade se
apresenta de forma espraiada em todo o estado do Rio de Janeiro, atingindo vários bairros
da cidade e até na Zona Sul, área mais nobre, e por varios cidades vizinhas. Tais dados
apontam a impossibilidade de falar em áreas conflagradas, já que a criminalidade e a
percepção da violência estariam se deslocando e se espalhando por vários lugares e a
qualquer momento.

5. Conclusões

Partindo das condições tecnológicas do Facebook, as informações sobre


criminalidade postadas no aplicativo acabam gerando conteúdo de forma quase imediata
para os seguidores da fan page OTT-RJ. Dessa forma, elas potencializaram a divulgação
das postagens sobre violência, espalhando assim o medo nas redes socias, mas que
passa a ser uma ameaça efetiva no cotidiano do carioca.
A análise ensaística serviu para validar o método de levantamento dos dados e nos
deu indícios das principais informações que podem ser apuradas e conclusões que podem
ser tiradas num segundo momento na utilização de um público maior.

6. Referências bibliográficas

BAUMAN, Zigmunt. Comunidade: a busca por segurança no mundo atual. Rio de Janeiro:
Jorge Zahar Ed., 2001.

BAUMAN, Zigmunt. Confiança e medo na cidade. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2009.

FACEBOOK, fanpage Business. 102 milhões de brasileiros compartilham seus


momentos do Facebook todos os meses, 2016. Disponível em

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<https://www.facebook.com/business/news/102-milhes-de-brasileiros-compartilham-
seus-momentos-no-facebook-todos-os-meses>

FRAGOSO, Suely; RECUERO, Raquel; AMARAL, Adriana. Métodos de pesquisa para


Internet. Porto Alegre: Sulina, 2011.

HAESBAERT, Rogério. O mito da desterritorialização: do fim dos territórios à


multiterritorialidade. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil. 2004.
IBGE, site. População da cidade do Rio de Janeiro, 2017. Disponível em
<https://cidade. ibge.gov.br/brasil/rj/rio-de-janeiro/panorama>

LATOUR, Bruno. Technology is society made durable. In J. Law (editor) A Sociology of


Monsters Essays on Power, Technology and Domination, Sociological Review Monograph
N°38 pp. 103-132, 1991. Disponível em http://www.bruno-latour.fr /node/ 263

LEMOS, André. Cultura da mobilidade. Revista Famecos. Porto Alegre, n. 40, dezembro
de 2009.

O’REILLY, Tim. What is Web 2.0 – Design Patterns and Business Models for the Next
Generation of Software. O’Reilly Publishing, 2005. Disponível em: http://www. oreilly.
com/pub/a/web2/archive/what-is-web-20.html>.

PRIMO, Alex. Interação mediada por computador: a comunicação e a educação a


distância segundo uma perspectiva sistêmico-relacional. Tese de doutorado. 2003.

RECUERO, Raquel. Redes sociais na Internet. 2. ed. Porto Alegre: Sulinas, 2009.
(Coleção Cibercultura).

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A comunicação contra-hegemônica em
dispositivos móveis como espaço de luta pela
consolidação dos direitos humanos
Counter-hegemonic communication on mobile devices as a
space for the consolidation of human rights

1
Luan Matheus dos Santos Santana – Universidade Federal do Piauí

Resumo: ​Esta pesquisa, ainda em desenvolvimento ​no Mestrado do Programa de


Pós-graduação em Comunicação Social da Universidade Federal do Piauí​, tem como
objetivo ​analisar o ​papel dos meios de comunicações contra-hegemônicos na defesa e
salvaguarda dos Direitos Humanos. De modo mais específico, busca-se identificar qual a
contribuição que os dispositivos móveis e as novas Tecnologias da Informação e
Comunicação (TICs) exercem nesse cenário e ainda compreender de que forma a
atuação desses meios contribuem para a afirmação da comunicação como um direito
humano. Para o desenvolvimento deste projeto vamos aplicar a metodologia de
pesquisa híbrida, desenvolvida pelo Grupo de Pesquisa em Jornalismo On-line (GJOL),
do Programa de PósGraduação em Comunicação e Cultura Contemporâneas da
Universidade Federal da Bahia, que soma procedimentos de pesquisa qualitativa e
quantitativa. O desafio aqui é, portanto, compreender quais os formatos vigentes de
produção e divulgação dos conteúdos em dispositivos móveis, a fim massificar as
informações capazes de contribuir com a defesa dos direitos humanos e consolidação
da luta pela dignidade humana, a partir da experiência de veículos de comunicação
on-line, que atuam no campo da contra-hegemonia.

Palavras-chave: contra-hegemonia; direitos humanos; direito à comunicação;


dispositivos móveis.

1
Jornalista, graduado pela Universidade Estadual do Piauí - UESPI, pós-graduando em Marketing e
Comunicação Digital e mestrando pelo Programa de Pós-graduação em Comunicação Social da
Universidade Federal do Piauí - PPGCOM, sob orientação da Profa. Dra. ​Juliana Fernandes Teixeira​.
E-mail: luammatheus@gmail.com

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Abstract: ​This research, still under development in the Postgraduate Program in Social
Communication of the Federal University of Piauí, aims to analyze the role of the
counter-hegemonic communications media in the defense and safeguarding of Human
Rights. More specifically, it seeks to identify the contribution that mobile devices and the
new Information and Communication Technologies (ICTs) play in this scenario. This
project also seeks to understand how the actions of these media contribute to the
affirmation of communication as a human right. For the development of this project we
will apply the hybrid research methodology, developed by the Online Journalism
Research Group (GJOL), the Graduate Program in Communication and Contemporary
Culture of the Federal University of Bahia, which adds qualitative and quantitative
research procedures . The challenge here is therefore to understand the current formats
for the production and dissemination of content on mobile devices, in order to massify the
information capable of contributing to the defense of human rights and consolidating the
struggle for human dignity, based on the experience of vehicles of online communication,
which act in the field of counter-hegemony.

Keywords:​ ​counter-hegemony; human rights; right to communication; mobile devices.

1. Introdução

A pesquisa aqui apresentada nasce em meio a uma série de discussões


conjunturais acerca dos Direitos Humanos (DH) no Brasil, emergente de um cenário
político conturbado, que elevou ao cargo público mais alto do país um governo
ultraconservador, marcado por questionamentos que tentam minimizar a importância dos
DH, sobretudo das minorias e movimentos sociais e populares.
É dentro desse cenário, portanto, que buscamos analisar o ​papel dos meios de
comunicações contra-hegemônicos em dispositivos móveis, na defesa e salvaguarda
dos Direitos Humanos. Busca-se de modo mais específico identificar qual a contribuição
que esses dispositivos móveis e as novas Tecnologias da Informação e Comunicação
(TICs) exercem nesse cenário, como ferramenta capaz de possibilitar, como propõe
Joaquim Herrera Flores (2009), a abertura e a consolidação de espaços de luta pela
dignidade humana.

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O referido trabalho se propõe a investigar como a ​experiência de veículos de


comunicação on-line que atuam no campo da contra-hegemonia têm atuado no sentido
de defesa e consolidação de espaços de luta pela dignidade humana, sobretudo a partir
do uso dos dispositivos móveis em seus produtos e processos jornalísticos. Busca ainda
compreender de que forma a atuação desses meios contribuem para a afirmação da
comunicação como um direito humano.

2. Justificativa e abordagem teórica

Este trabalho será analisado a partir da concepção crítica dos DH desenvolvida


por Joaquín Herrera Flores (2009). De um lado a imprensa hegemônica absorve o tema
dos DH a partir dos tratados e normativas jurídicas e, por outro, os movimentos e grupos
sociais trazem uma concepção mais ampla e complexa dos direitos humanos, para além
do que está previsto em lei. Afinal, apesar da importância das normas jurídicas, os DH
não podem se resumir a elas.
Por esse motivo e, embora consideremos importante, este trabalho não busca
analisar o papel que os meios de comunicação hegemônicos desempenham sobre a
difusão e formação de conceitos de Direitos Humanos, mas sim, analisar o papel que
exercem os meios de comunicações contra-hegemônicos na defesa desses direitos.
Fazemos isso, partindo da hipótese de que o jornalismo contra-hegemônico, por estar
mais ligado aos movimentos e grupos sociais que lutam por direitos, possam abordar o
tema de uma forma mais ampla e crítica, como preconiza Herrera Flores (2009).
Para tanto, tomamos como parâmetro as formulações produzidas por Antonio
Gramsci (2002) acerca de hegemonia, entendendo-a como um espaço de busca do
consenso e da liderança cultural e político-ideológica de uma classe sobre outra
(MORAES, 2010). No campo da comunicação, a hegemonia se manifesta na medida em
que grandes conglomerados midiáticos concentram a maior parte dos veículos de
comunicação. Assim, os grupos que se opõem a esse projeto dominante se constituem

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como espaços contra-hegemônicos, portanto, construídos fora dos interesses dos


grupos dominantes.
A opção de analisar a comunicação em dispositivos móveis partiu de evidências
como a de que o percentual de pessoas que acessaram à Internet no Brasil através do
celular já atingiu 97% e vem aumentando. Em contrapartida, o acesso por meio de
2
microcomputador caiu para 56,6% (IBGE, 2018) . Na tentativa de contemplar a
pluralidade de questões envolvidas nesse fenômeno, será adotada nesta pesquisa a
perspectiva de Teixeira (2018) de que, para estudar o jornalismo ​em dispositivos
móveis, é preciso levar em conta duas vertentes: a produção ​com​, a partir desses
dispositivos; e a produção voltada, direcionada ​para​ esses dispositivos.

3. Métodos e instrumentos de pesquisa

Para desenvolvimento deste projeto, vamos aplicar a metodologia de pesquisa


desenvolvida pelo Grupo de Pesquisa em Jornalismo On-line (GJOL), do Programa de
Pós-Graduação em Comunicação e Cultura Contemporâneas da UFBA. Inserido em um
modelo híbrido, onde os procedimentos de pesquisa qualitativa e quantitativa são ações
complementares, vamos percorrer três etapas, sendo a primeira a revisão preliminar da
bibliografia e análise de organizações jornalísticas; a segunda, delimitação do objeto e
estudos de caso com pesquisa de campo; e por fim, a elaboração de categorias de
análise, processamento do material coletado e definição conceitual sobre as
particularidades dos objetos pesquisados. (MACHADO; PALACIOS, 2007b, p.200)

4. Desenvolvimento

2
Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio - Acesso à internet e à televisão e posse de telefone móvel
celular para uso pessoal 2017 (PNAD Continua TIC 2017)

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De modo preliminar, foi possível observar que a internet e seus dispositivos têm
ganhado importância significativa no processo de mobilização e luta pelos direitos
humanos. Da mesma maneira que os meios de comunicação contra-hegemônicos
buscam a consolidação nesses espaços, tornando-se potenciais concorrentes pela
audiência na internet, fenômeno que ganhou mais força a partir da onda de protestos de
2013, que se espalhou por todo o país.

O debate sobre o papel da Mídia Ninja na cobertura das manifestações fez


emergir as tensões entre jornalismo produzido pelos meios tradicionais e pelo
usuário ou ativista digital chamado de "midialivrista" (BENTES, 2014) por se
utilizar do aparato disponível para atuar como mídia com função pós-massiva
(LEMOS, 2010). (SILVA, 2014, p.31-32)

O desafio, portanto, é compreender quais os formatos vigentes de produção e


divulgação dos conteúdos para dispositivos móveis, a fim massificar as informações
capazes de contribuir com a defesa dos direitos humanos e consolidação da luta pela
dignidade humana.

5. Conclusões

Se a internet é, como preconiza Castells (2013), o tecido de nossas vidas,


suscetível de ser profundamente alterada por sua prática social, e conducente a toda a
uma série de resultados sociais potenciais, entendemos que é fundamental construir
ferramentas teóricas capazes de produzir subsídios para a intervenção prática desses
veículos contra-hegemônicos em desenvolvimento.
Ainda mais em um contexto político, econômico e social marcado por ideias
ultraconservadoras, que atacam diretamente os direitos e a dignidade de mulheres,
negros, LGBTs, ativistas dos movimentos sociais, populares e sindicais. Essas
ferramentas supracitadas precisam ser construídas tomando como perspectiva os
avanços sociais e tecnológicos do campo da comunicação, por isso a importância de
alinhar esse debate aos dispositivos móveis.

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6. Referências bibliográficas

CASTELLS, Manuel. ​O poder da comunicação​. Rio de Janeiro/São Paulo: Paz & Terra,
2013.

GRAMSCI, Antonio. ​Cadernos do cárcere (v. 3, 4 e 6)​. Rio de Janeiro: Civilização


Brasileira, 1999, 2001, 2002.

HERRERA FLORES, Joaquín. ​A Reinvenção dos direitos humanos ​- Florianópolis:


Fundação Boiteuxx, 2009.

SILVA, Fernando Firmino da. ​Smartphones e tablets na produção jornalística.


Ancora – Revista Latinoamericana de Jornalismo​. Programa de Pós-graduação em
Jornalismo – UFPB. Ano 1, Vol.1, N.1. João Pessoa: jul-dez/2014, p.23-40.

TEIXEIRA, Juliana Fernandes. ​Jornalismo audiovisual com e para dispositivos


móveis: um estudo das aplicações dos smartphones nos processos e produtos
jornalísticos das emissoras de televisão do Piauí. Trabalho de encerramento do
Programa Nacional de Pós-Doutorado em Comunicação da UFPI ​– Piauí, p. 42. 2018.

MORAES, de Dênis. ​Comunicação, hegemonia e contra-hegemonia: a contribuição


teórica de Gramsci.​ REVISTA DEBATES, Porto Alegre, v.4, n.1, p. 54-77. 2010.

MACHADO, Elias; PALACIOS, Marcos. Um modelo híbrido de pesquisa: a metodologia


aplicada pelo GJOL. ​In: LAGO, Cláudia; BENETTI, Marcia (orgs.). ​Metodologia de
Pesquisa em Jornalismo.​ Petrópolis: Vozes, 2007, p.199-222.

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Jornalismo de segurança pública: a formação de


um campo jornalístico especializado orientado
para os direitos humanos
Public security journalism: the constitution of a specialized
journalistic field human rights oriented

Anelise Dias – UFRGS1

Resumo: A proposta desta pesquisa é a constituição de um novo campo jornalístico


especializado em segurança pública. O objetivo é demonstrar a centralidade do
conhecimento sobre direitos humanos para a defesa da cidadania e para a promoção de
uma ética da empatia e da compaixão. Trata-se uma pesquisa bibliográfica e teórica,
que busca compreender e sistematizar conhecimentos de diferentes disciplinas
necessários para a formação desse campo jornalístico especializado, por meio da
adoção do pensamento complexo proposto por Morin.

Palavras-chave: Jornalismo; Segurança Pública; Direitos Humanos.

Abstract: This research proposal is the formation of a new journalistic field specialized in
public security, a human rights oriented new field. The objective is to demonstrate the
centrality of knowledge about human rights for the defense of citizenship and for the
promotion of an ethics of empathy and compassion. It is a bibliographical and theoretical
research that seeks to understand and systematize knowledge of different disciplines
necessary for the formation of this specialized journalist field, through the adoption of the
complex thinking proposed by Morin.

Keywords: Journalism; Public Security; Human Rights.

1Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Comunicação da UFRGS (Universidade Federal do Rio


Grande do Sul), mestre pelo mesmo Programa e bacharel em Jornalismo pela UFSM (Universidade
Federal de Santa Maria). É bolsista CAPES, com doutorado-sanduíche na John Jay College of Criminal
Justice (The City University of New York), processo nº 88881.189099/2018-01. E-mail:
anelisesdias@gmail.com.

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1.Introdução
Minha tese de doutorado defende a formação de um campo especializado que
estou denominando “jornalismo de segurança pública2 ”, orientado para os direitos
humanos. Parto do pressuposto de que a segurança pública é o direito à segurança, à
integridade e à dignidade da pessoa humana enquanto sujeito de direitos fundamentais
e universais e que ela é um bem público, de responsabilidade do Estado, que deve ser
de acesso a todos (SOARES, 2015) e que a compreensão da segurança pública deve ir
além da atenção aos incidentes criminais que ocorrem em locais públicos ou que
ganham repercussão. Os crimes contra o meio ambiente, a corrupção por entes públicos
e privados, a obtenção de vantagens indevidas, a desigualdade social e as diferentes
práticas que se interpõem à proteção e à efetivação dos direitos humanos e de
cidadania são também temas de segurança pública (BARATTA, 2004). Por ser um
campo complexo, a segurança pública não pode ser pensada fora da interseccionalidade
dos marcadores sociais da diferença, a exemplo da raça (etnia), classe e gênero, que
estão presentes tanto nos processos de vitimização quanto nos de criminalização
(CRENSHAW, 1991).
Sobre os direitos humanos, entendo-os como um conjunto de direitos e de
proteções inalienáveis pertencentes a todos os seres humanos, que devem ser
protegidos independentemente de classe, raça, gênero, orientação sexual ou qualquer
outro marcador social da diferença (FREZZO, 2015) e que, para que sejam
considerados como tais, precisam reunir três qualidades fundamentais: devem ser
naturais (inerentes aos seres humanos por seu caráter humano), iguais (devem ser os
mesmos para todos) e universais (devem ser aplicáveis em todos os lugares da mesma
forma) (HUNT, 2007).
Tomo como pressuposto, ainda, que o jornalismo especializado tem por essência
a mediação entre saberes qualificados e os públicos (TAVARES, 2012). Para pensar
esse novo campo especializado do jornalismo de segurança pública, busco demonstrar
a centralidade do conhecimento sobre direitos humanos para a defesa da cidadania e
para a promoção de uma ética da empatia e da compaixão (BLANK-LIBRA, 2018).

2O termo “jornalismo de segurança pública” foi usado primeiramente por Bedendo (2013). O autor sugere
a substituição do Jornalismo policial pelo de segurança pública, mas não desenvolve a ideia.
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Para responder a esse objetivo, dedico-me a uma pesquisa teórica, que reúne
conhecimentos de diferentes disciplinas que podem contribuir para que o jornalismo
esteja apto a cobrir com competência a segurança pública, a partir da adoção de uma
perspectiva de defesa de direitos humanos.

2. Justificativa e abordagem teórica


A relevância deste pesquisa justifica-se na medida em que, no Brasil, a segurança
pública é uma tema de preocupação central na vida em sociedade (VAZ; CARVALHO;
POMBO, 2005; ROLIM, 2006) e, por isso, é pauta diária do jornalismo brasileiro. O
jornalismo, porém, não é capaz de dar conta da totalidade de ocorrências da vida
cotidiana e, por isso, opera seleções daquilo que será reportado, a partir das condições
de produção do discurso jornalístico3, o que faz com que privilegie a cobertura de alguns
tipos de crimes e perfis sociais e outros não.
Entendo a falta de uma base comum sobre o que são segurança pública e direitos
humanos como um aspecto da formação dos jornalistas que afeta as condições de
produção desse discurso e a qualidade do debate público. O fato de os direitos
fundamentais da população carcerária serem considerados “privilégios” é ilustrativo
disso4 5. A ideia de que os direitos humanos são algo perverso não é novidade. Pelo
contrário, está presente desde que a linguagem dos direitos humanos entrou na agenda
pública brasileira, com os movimentos pelo fim da ditadura militar e com a posterior
tentativa fracassada de expansão dos direitos dos prisioneiros políticos aos prisioneiros
comuns (ADORNO, 2010; CALDEIRA, 1991).

3As condições de produção do discurso jornalismo são: a realidade (ou os aspectos manifestos dos acontecimentos);
os constrangimentos organizacionais; as narrativas jornalísticas; as rotinas que determinam o trabalho; os valores-
notícia dos jornalistas; as identidades das fontes (TRAQUINA, 2002). A essas condições de produção, acrescento o
habitus de classe do jornalista, que determina diretamente a leitura do Outro que será construída pelo jornalismo
(LAGO, 2010) e o de raça e gênero (BYFIELD, 2014), que vão definir o que e como um fato criminal será abordado.
4Esse tipo de entendimento ficou evidente na comemoração nas redes sociais da execução da vereadora carioca
Marielle Franco (PSOL). Marielle foi alvo de uma campanha difamatória póstuma por denunciar a violência policial
contra a juventude negra nas comunidades periféricas.

5 No Brasil, é parte do senso comum de alguns setores sociais o entendimento de que os direitos humanos são
“direitos de bandidos” e que quem defende esses direitos é “defensor de bandidos”. Essa percepção, segundo Cano
(2010), baseia-se na ideia de que o combate a criminalidade é uma guerra e que se colocar em defesa desses direitos
é, portanto, defender o “inimigo” e trair o restante da sociedade.
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A despeito de as campanhas por direitos humanos nunca terem defendido crime


ou criminosos nem sequer terem se restringido aos direitos dos prisioneiros, como
lembra Caldeira (1991), construiu-se um senso comum de que os direitos humanos
seriam “privilégios de bandidos”. Apesar dessa noção distorcida aparecer no discurso
social, são as pessoas de perfil historicamente marginalizado e excluído aquelas que
são as mais e mais cruelmente punidas pelo Estado por meio da Justiça Criminal e do
Sistema Penal. E isso chama atenção para o fato de que há certa aceitação social de
que existem sujeitos mais e menos merecedores de direitos, sobretudo quando se trata
de uma sociedade de hierarquia social racializada e racista, como a brasileira.
Por tudo isso, tenho defendido que um dos desafios do jornalismo que queira
tratar com competência da segurança pública, numa perspectiva orientada para os
direitos humanos, é assumir a centralidade do papel da escravidão na constituição da
sociedade brasileira e o reflexo persistente desse sistema nas nossas dinâmicas sociais
ainda hoje, como fator condicionante do acesso a direitos de diferentes ordens (SOUZA,
2018; 2019)6. Para tal, a adoção de uma leitura interseccional que considere raça,
classe, gênero, dentre outros marcadores sociais da diferença, é essencial.

3. Métodos e instrumentos de pesquisa


Trata-se uma pesquisa bibliográfica e teórica, que busca compreender e
sistematizar conhecimentos de diferentes disciplinas necessários para a formação de um
campo jornalístico especializado em segurança pública, orientado para os direitos
humanos. Busco empregar na tese o que Morin (2008; 2011) chama de pensamento
complexo por meio da articulação de conhecimentos de disciplinas diferentes, da
interrogação desses conhecimentos naquilo que eles podem contribuir para a formação

6 O Brasil recebeu, sozinho, mais de 40% dos africanos trazidos para a América para serem escravizados – cerca de
3,8 milhões de pessoas, o que faz com que, hoje, cerca de 60% da população seja autodeclarada preta ou parda
(SOUZA, 2018; 2019; STARLING; SCHWARTZ, 2018). E que, não por acaso, apesar de serem maioria numérica no
país, os pretos e pardos são a minoria em cargos representativos e de liderança, recebem menos do que os brancos e
têm menos acesso à educação formal. Por outro lado, são eles despontam nas estatísticas criminais: são 64% da
população prisional total e as principais vítimas de homicídio por estarem sujeitos à violência das facções, da polícia e
do sistema carcerário. Segundo o Fórum Brasileiro de Segurança Pública, a cada 100 vítimas de homicídio, 75 são
negras. Entre 2005 e 2015, enquanto a taxa de homicídio de não-negros caiu cerca de 12%, a de negros cresceu
quase 20%. No mesmo período, 65% das vítimas de homicídio do sexo feminino eram mulheres negras. De 2015 a
2015, 75% dos mortos por intervenção policial era homens negros (FBSP, 2017).

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do jornalista especializado em segurança pública e da manutenção de uma atitude


epistemológica de reconhecimento da incompletude e da incerteza no processo de
busca de respostas às questões de pesquisa.

4. Desenvolvimento
A tese está em fase final, na etapa de escrita, após a readequação do desenho de
pesquisa a partir das considerações do exame de qualificação e de período de estudos
no exterior.

5. Conclusões
Embora a defesa dos direitos humanos, juntamente com a promoção da cidadania,
apareça entre os valores constitutivos do ethos jornalístico, tenho percebido pouca
apropriação teórico-conceitual sobre o que são, de fato, esses direitos. Essa lacuna não
tem se demonstrado um problema específico do Jornalismo. A insuficiente discussão
sobre o que são esses direitos tem a ver com certa convicção de “autoevidência” de sua
importância, de que fala Hunt (2007), que os acompanha desde o seu surgimento. O
desafio do jornalista que queira tratar com competência dos temas que envolvem esses
direitos tem se mostrado, nessa pesquisa, como atravessado pela necessidade de
entender o que são, de fato, esses direitos, tanto em suas definições teóricas quanto em
suas aplicações práticas ao longo da histórica. A adoção de uma leitura interseccional
dos marcadores sociais da diferença aparece como essencial nesse processo e permite
concluir, previamente, que o jornalismo tem o dever de reconhecer e incorporar as
dinâmicas de raça (etnia), classe e gênero – e de outros marcadores –, se ainda quiser
cumprir sua finalidade e seu papel democrático.

6. Referencias bibliográficas
ADORNO, S. História e Desventura: O 3º Programa Nacional de Direitos Humanos.
Novos Estudos CEBRAP (Impresso), v. 3, p. 5-20, 2010.
BARATTA, A. Criminología y sistema penal. Buenos Aires: B de F, 2004.
BEDENDO, R. Segurança pública e Jornalismo: desafios conceituais e práticos no
século XXI. Florianópolis: Insular, 2013.
BLANK-LIBRA, J. Pursuing an ethic of empathy in journalism. New York: Routledge,
2018.
BYFIELD, N. Savage Portrayals: Race, media and the Central Park Jogger Story.
Philadelphia: Temple University Press, 2014.
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CALDEIRA, T. Direitos humanos ou “privilégios de bandidos”? Novos Estudos. São


Paulo, n.30, julho de 1991
CRENSHAW, K. Mapping the margins: intersectionality, identity politics, and violence
against women of color. Stanford Law Review, v. 43, n. 6, p. 1241-1299, 1991.
FÓRUM BRASILEIRO DE SEGURANÇA PÚBLICA. Um retrato da violência contra
negros e negras no Brasil. 2017. Disponível em: <http://www.forumseguranca.org.br/wp-
content/uploads/2017/11/infografico-consciencia-negra-FINAL.pdf>.
FREZZO, M. The sociology of human rights: an introduction. Malden, MA: Polity Press,
2015.
HUNT, L. A invenção dos direitos humanos. São Paulo: Companhia da Letras, 2007.
LAGO, C. Ensinamentos antropológicos: A apreensão do Outro pelo Jornalismo.
Brazilian Journalism Research, n.10, v.2, pp. 172-187, 2014.
MORIN, E. Introdução ao pensamento complexo. 5.ed. Lisboa: Instituto Piaget, 2008.
MORIN, E. O método 4: as ideias: hábitat, vida, costumes, organização. 5.ed. Porto
Alegre: Sulina, 2011.
ROLIM, M. A síndrome da rainha vermelha: policiamento e segurança pública no século
XXI. Rio de Janeiro: Zahar; Oxford: University of Oxford, Centre for Brazilian Studies,
2006.
SOARES, L. Por que tem sido tão difícil mudar as polícias?. In: KUCISNKI, B. et al. Bala
perdida: a violência policial no Brasil e os desafios para sua superação. São Paulo:
Boitempo, 2015.
SOUZA, J. A elite do atraso: da escravidão a Bolsonaro. Rio de Janeiro: Estação Brasil,
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SOUZA, J. A subcidadania brasileira: para entender o país além do jeitinho brasileiro.
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STARLING, H.; SCHWARTZ, L. Brazil: a biography. New York: Farrar, Straus e Giroux,
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TAVARES, F. O jornalismo especializado e a especialização periodística. Estudos em
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VAZ, P.; CARVALHO, C.; POMBO, M.. Risco e sofrimento evitável: a imagem da polícia
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