(2)teorico

Fazer download em pdf ou txt
Fazer download em pdf ou txt
Você está na página 1de 22

Geopolítica Geral e

do Brasil
Material Teórico
O mundo bipolar e a Guerra Fria

Responsável pelo Conteúdo:


Prof. Ms. Flávio Silva

Revisão Textual:
a
Prof . Esp. Kelciane da Rocha Campos
O mundo bipolar e a Guerra Fria

• Uma rivalidade histórica


• O mundo bipolar
• A Guerra Fria

··Nesta unidade, analisaremos a trajetória geopolítica ocorrida após a


Segunda Guerra Mundial, o mundo bipolar e a Guerra Fria, que por quase
cinco décadas promoveu a propagação de ideologias antagônicas.

Esta unidade de Geopolítica tem o objetivo de destacar as diferenças ideológicas das


duas grandes superpotências que influenciaram, nas esferas política, militar e econômica,
seus respectivos aliados, durante quase cinco décadas, envolvendo os processos de criação,
ascensão e queda dessa bipolaridade.
É importante que você leia todo o material teórico com atenção e assista às videoaulas, para
que possa construir conhecimentos acerca do tema.
Ao final, as referências bibliográficas poderão ser utilizadas, caso queira, para que você se
aprofunde no assunto.
Lembre-se também de que esta disciplina faz parte da grade curricular do seu curso; portanto,
é importante ao seu processo de formação.

5
Unidade: O mundo bipolar e a Guerra Fria

Contextualização

Entre 1945 e 1989, existiu entre os Estados Unidos (capitalista) e a União das Repúblicas
Socialistas Soviéticas (socialista) um conflito permanente, que não chegou, contudo, a se
transformar em um confronto armado direto. Foi provocado pelas ideologias entre os dois
países e recebeu a denominação de Guerra Fria. Alcançou maior repercussão na Europa,
sobretudo da Alemanha, onde foi construído um de seus maiores símbolos: o Muro de Berlim.
Construído em 1961 pelo governo da Alemanha Oriental, tinha como objetivo conter o
grande fluxo migratório de Berlim Oriental para Berlim Ocidental, que experimentava certa
prosperidade econômica, tendo durado até o ano de 1989, quando a República Democrática
Alemã (Oriental), por pressão popular, foi obrigada a abrir as fronteiras de Berlim Oriental, o
que provocou uma migração em massa de seus habitantes para Berlim Ocidental e também a
derrubada do Muro de Berlim em 9 de novembro de 1989.
A grande reflexão que se pode aprofundar nessa questão é: por qual motivo isso aconteceu?
Que situações na história soviética levaram ao caos e ao próprio fim de sua ideologia?
O Muro de Berlim é a própria divisão da alusão de duas ideologias, de dois mundos: o
capitalista e o socialista. Durante sua história, cidadãos alemães tentaram transpassá-lo do
lado oriental para o ocidental, tal como acontecia em diversas outras situações - por exemplo,
em jogos olímpicos, era comum ser solicitado asilo político por algum atleta de país socialista.
O contexto da Guerra Fria pode denotar os reflexos do comportamento geopolítico entre
nações, até mesmo quando não é considerada a ideologia, já que, em muitos casos, as
divergências geopolíticas ocorrem, até mesmo, em nações com similaridade ideológica.

6
Uma rivalidade histórica

Para que entendamos a rivalidade entre os EUA (Estados Unidos da América) e a ex-URSS
(União das Repúblicas Socialistas Soviéticas), deveremos compreender que a competição entre
estes dois grandes impérios teve abrangência mundial, e por questões, inclusive, históricas.

Brzezinski1 utiliza-se dos conceitos de Mackinder, no que tange às sucessões das potências
navais e terrestres, em seu pensamento:

Embora o conflito envolvesse novos participantes, ele era ainda


o legado do velho, quase tradicional e certamente geopolítico,
choque entre uma potência oceânica e uma potência continental.
Os Estados Unidos, nesse sentido, são os sucessores da Grã-
Bretanha (e, anteriormente, da Espanha e Holanda) e a União
Soviética, da Alemanha nazista (e, anteriormente, do Império
Alemão e da França napoleônica). Os Estados Unidos projetam
seu poder através da exploração das rotas oceânicas acessíveis, de
modo a estabelecer enclaves transoceânicos de influência política
e econômica. Um poder terrestre busca a dominação continental
como um ponto de partida para desafiar a hegemonia do intruso
transoceânico. (BRZEZINSKI, s.d., p.20.)

Quando estudamos mais a fundo o conflito entre os Estados Unidos e a União Soviética,
passamos e entender que não se tratava de uma luta geopolítica simplesmente pelo domínio
territorial, mas sim de dois sistemas ideológicos que, por sua vez, eram dotados de relações
políticas, econômicas e militares, originadas a partir de um respectivo centro de poder e
irradiadas a vários países.

Suas ideologias eram, pelos Estados Unidos, o capitalismo, e pela União Soviética, o
socialismo. No meio acadêmico, essa situação é conhecida como “Ordem Mundial Bipolar” e
durou desde, praticamente, o final da Segunda Guerra Mundial, até o final da década de 1980.

O mundo bipolar

O confronto entre os Estados Unidos e a União Soviética é conhecido como “Guerra


Fria”, pois não se tratou de um confronto militar direto, mas sim de uma guerra ideológica
que envolveu diversos atores (países), que, por sua vez, envolveram-se ideologicamente e/ou
militarmente. Essa situação não foi passageira, já que perdurou por quase meio século.

1 Zbigniew Brzezinski: cientista político, tendo ocupado durante a administração do Presidente dos EUA Jimmy Carter (1977-1981) posições
como Assessor de Segurança Nacional e diretor do Conselho de Segurança Nacional.

7
Unidade: O mundo bipolar e a Guerra Fria

A URSS – União das Repúblicas Socialistas Soviéticas


A União Soviética pode ser identificada como uma região terrestre que se estendeu desde
o rio Elba, na Europa Central, até o Rio Amur, no Extremo Oriente, com pontos que também
abrangiam desde o mediterrâneo aos mares gelados ao Norte.
Figura 1 - URSS - União das Repúblicas Socialistas Soviéticas2

Fonte: monolitonimbus.com.br

Foi constituída pelo povo russo, em sua maioria, e controlava, de forma direta, outros
Estados localizados na Europa Oriental, além da Mongólia e do Afeganistão. Outros Estados,
sem uma continuidade territorial, também sofriam forte influência e controle, como Cuba,
Angola, Etiópia, Vietnã e Iêmen do Sul.
O Estado Russo, ao longo da história, sempre demonstrou uma tendência de expansão,
sendo que, após a Segunda Guerra Mundial, a determinação da União Soviética em se expandir
colidiu frontalmente com os interesses norte-americanos e seu poderio marítimo.
O bloco socialista iniciou-se com a Revolução Russa, por Vladimir Lênin, no ano de 1917. Em
1922, houve a anexação de vários territórios, passando então a existir a União das Repúblicas
Socialistas Soviéticas. O socialismo passou a ser um antagonismo ao capitalismo, até então dominante
no mundo da época, que, por consequência, reagiu a essa, então, nova ideologia.

Os EUA – Estados Unidos da América


Nos séculos anteriores, os EUA realizaram uma expansão de seu território pela América do
Norte e, por que não dizer, de forma semelhante à dos Russos na Europa e na Ásia, através
da Marcha para Oeste, que expandiu as fronteiras norte-americanas até a região do Oceano
Pacífico. Com a política do Big Stick e a doutrina do Destino Manifesto, os americanos,
então, expandiram-se pela América Central, Filipinas, Havaí e Caribe.

2 Fonte: http://www.monolitonimbus.com.br/wp-content/uploads/2013/11/mapaURSS.jpg. (Adaptado). Acesso em: 03 nov. 2014.

8
O Big Stick era uma ideologia, e a expressão, traduzida para o português, significa
“grande porrete”.
O termo é originário da região da África Ocidental e tem como conotação um
provérbio que dizia: “Fale com suavidade e carregue um grande porrete; assim
irás longe”. Era a política externa do Presidente norte-americano Roosevelt
Você sabia?
(1901-1909), que sempre procurava manter um clima de cordialidade em suas
negociações. No entanto, evidenciava ser possível usar a força, a fim de conseguir
realizar seus objetivos e se sobrepor a seus opositores.

Diferentemente dos soviéticos, os norte-americanos se interligaram com outras nações


através de questões econômicas, políticas ou militares, já que, geograficamente, seus
principais aliados estão separados fisicamente por oceanos, como ocorre com a Europa
Ocidental, Coreia do Sul e Japão, e também com os países tidos como “clientes”, como
Israel, Egito, Paquistão, Filipinas e Tailândia.

Figura 2 - EUA - Estados Unidos da América3

Fonte: geografia.seed.pr.gov.br

A doutrina do “Destino Manifesto” pregava a ideia de que os EUA deveriam comandar


o mundo através da expansão geopolítica, por serem eleitos por Deus e, portanto,
representantes da expressão da vontade divina.
Essa ideia de domínio, naturalmente, estava alinhada também em relação à América
Latina, já que, fisicamente, está localizada no mesmo continente e não teria qualquer
capacidade de dominar outros povos.
Essa propaganda política pregava o ideal norte-americano de superioridade e progresso,
objetivando aos outros países que adotassem a ideologia americana e abandonassem seus
próprios ideais.

3 Fonte:http://www.geografia.seed.pr.gov.br/modules/galeria/uploads/5/182densidadedemografiacaeua.jpg. (Adaptado). Acesso em: 04 nov. 2014.

9
Unidade: O mundo bipolar e a Guerra Fria

A Ideologia Capitalista x Socialista


Quando se remete ao estudo da bipolaridade entre EUA e URSS, não há como se evitar
uma de suas principais disputas: a ideologia econômica.

A economia de mercado, assim, depende da lei da oferta e da


procura e de uma sociedade de classes bem diferenciadas: os que
vivem dos lucros, isto é, do capital, e os que vivem do seu trabalho,
ou seja, dos salários. A economia planificada, por sua vez, abole o
mercado de capitais (isto é, compra e venda de ações) e o mercado
de trabalho (ou seja, a oferta e a procura de emprego, a liberdade
do trabalhador de trocar de serviço por conta própria ou a liberdade
das empresas demitirem). (VESENTINI, 1995, p. 11.)

No caso dos EUA, a economia de mercado, definida como capitalismo, tinha como premissa
as decisões descentralizadas por parte do meio empresarial, já que cada empresa define, de
acordo com suas necessidades ou objetivos, quanto será investido e/ou produzido, com que
quantidade de mão de obra, etc.
No caso da URSS, a economia era planificada, conhecida como socialismo, na qual, ao
contrário do capitalismo, as decisões são centralizadas pelo Estado, detentor do poder, através
de planos, tanto dos meios de produção, quanto em relação aos preços a serem praticados.
Como já foi dito, tratavam-se de duas ideologias, que, por consequência, são dotadas de
fatos positivos e negativos. Vejamos alguns pontos.
Na ideologia capitalista, através da economia de mercado ou da própria propriedade
privada, todos têm a possibilidade de “subir na vida”, ser um profissional liberal ou empresário.
A classe empresarial e os investidores têm a liberdade das decisões sobre o que, como e onde
produzir, e os trabalhadores, que também são consumidores, a liberdade de escolha, quer
seja em relação ao seu trabalho, quer seja em relação ao que irão consumir. Um ponto, no
entanto, que há de ser considerado, é que todos os aspectos citados não são uniformes, ou
seja, não são todas as pessoas ou, ainda, todos os países que têm as mesmas facilidades ou
oportunidades, e o lucro oriundo das empresas é destinado a uma minoria.
Já a ideologia socialista tinha como premissa a propriedade coletiva ou social, uma base
salarial nivelada, fortalecendo a ideia do interesse coletivo frente ao interesse particular, que
deveria ser mantido pela atuação do Estado através da economia planificada. Tal situação, no
entanto, levou à adoção de estatísticas que não condiziam com a realidade, tanto na indústria,
como na região rural dos campos de cultivo. A prosperidade social, que supostamente atingia
a todos, não considerava uma classe dominante minoritária, dotada de regalias. Os interesses
coletivos não eram manifestados de maneira clara, já que qualquer tipo de assembleia, por
exemplo, era duramente reprimido.
A bipolaridade entre EUA e URSS, no período da Guerra Fria, fez com que houvesse
várias formas de abordagem, a fim de se identificar e se permitir análises específicas a
partir de um parâmetro - no caso, o desenvolvimento. Tal situação levou à “divisão” entre
Primeiro Mundo, que eram os países capitalistas alinhados com os EUA; Segundo Mundo,
composto pelos países socialistas alinhados com a URSS; e Terceiro Mundo, tido como os
países “não alinhados”.

10
Planos de Ajuda Econômica
Com o fim da Segunda Guerra, muitos países, destruídos, necessitavam de ajuda financeira
a fim de se reconstruírem. Nesse cenário, os EUA, através de seu secretário de Estado, George
Marshall, elaboraram e colocaram em execução, em 1947, um plano de ajuda econômica,
a fim de que os países capitalistas pudessem ser reconstruídos. Esse plano de empréstimos
financeiros denominou-se Plano Marshall, que, por sua vez, no contexto da Guerra Fria,
fortaleceu a hegemonia dos EUA.

Os principais objetivos do Plano Marshall eram: a reconstrução dos países capitalistas


que haviam sido destruídos durante a Segunda Guerra; a reorganização e a recuperação das
economias dos países capitalistas e, consequentemente, o aumento de seu vínculo com os
EUA; e a contenção do avanço do socialismo presente no Leste Europeu.

O Plano Marshall possibilitou nas décadas de 1950 e de 1960, com total êxito, a recuperação
das economias de grande parte dos países beneficiados, e aos EUA promoveu o aumento de
suas exportações para a Europa Ocidental.

Em contrapartida, a URSS também elaborou um plano econômico em 1949, o Comecon


(Conselho de Ajuda Econômica Mútua), tendo como objetivo o desenvolvimento das economias
dos países do bloco socialista, através de uma integração planificada e por meio da divisão
socialista do trabalho. Nesse contexto, cada país membro se especializou em um segmento
específico da economia, a partir da análise de seus recursos naturais e tecnologia. Tal situação
fazia com que esses países fossem dependentes da economia soviética, impedindo-os de se
desenvolverem unilateralmente.

Figura 3 - Mundo bipolar4

4 Fonte:http://3.bp.blogspot.com/RzyPIPhjMt8/TmgnDvGUipI/AAAAAAAACgo/JvU1_jcHsqs/s1600/350px-Communist_countries.PNG. Acesso em: 04 nov. 2014.

11
Unidade: O mundo bipolar e a Guerra Fria

A Guerra Fria

O conceito de Guerra Fria, para alguns autores, se dá como um prolongamento da Segunda


Guerra Mundial, no entanto sem os conflitos militares diretos entre os EUA e a URSS.

Essa “guerra”, por assim dizer, foi travada no campo político-militar, econômico, diplomático,
cultural e, principalmente, ideológico.

Se por um lado, os EUA se autodenominavam guardiões do mundo livre e democrático


e definiam a URSS como sendo dotada de uma sociedade autoritária e fechada, por outro,
a URSS se autodefinia como a guardiã dos ideais igualitários e socialistas e do progresso
da humanidade, com a missão de combater o imperialismo capitalista liderado pelos EUA,
representantes do atraso.

Apesar de não ter havido um combate direto, a Guerra Fria propiciou um cenário do
domínio internacional, como ocorreu com a Europa Ocidental em relação aos EUA ou com a
Europa Oriental em relação à URSS. No que diz respeito ao dito Terceiro Mundo, as disputas
pelas regiões eram intensas.

Uma dessas disputas ocorreu entre 1961 e 1975 no Vietnã, com a luta dos soldados norte-
americanos contra guerrilheiros vietnamitas que possuíam armamentos soviéticos modernos na
época, ou, ainda, em relação ao Afeganistão, entre 1980 a 1989, em que soldados soviéticos
combateram guerrilheiros afegãos com poderosos armamentos norte-americanos.

A Coreia também foi palco de um conflito armado entre os anos de 1951 e 1953. Com
a Revolução Maoista, que ocorreu na China, a Coreia sofreu pressões para adotar o sistema
socialista em todo seu território; no entanto, houve resistência por parte da região sul da
Coreia, tendo havido apoio militar dos EUA, que possibilitou sua resistência durante uma
guerra que durou por dois anos e terminou, em 1953, com a divisão da Coreia no paralelo
38. Resultado: a Coreia do Norte, socialista, ficou sob influência soviética, e a Coreia do Sul,
capitalista, sob influência norte-americana.

A América Latina também foi alvo da Guerra Fria, com o fortalecimento das ditaduras.
Em 1950, os EUA implementaram a Doutrina de Segurança Nacional, a fim de combater
o que definiam como “perigo vermelho” (alusão à URSS), dentro e fora do território norte-
americano. Outro programa implementado foi a Aliança para o Progresso, no qual se buscava
a melhoria dos índices socioeconômicos regionais.

A URSS, por sua vez, deu subsídios à Revolução Cubana com a ascensão e manutenção
do governo de Fidel Castro. Tal situação permitiu que grupos tidos como de esquerda,
simpatizantes ao comunismo, aparecessem em diversos pontos da América Latina, até mesmo
como guerrilhas. Em contrapartida, forças conservadoras de direita, nos anos entre 1960 e
1970, promoveram a ascensão de sucessivos golpes militares e suas respectivas ditaduras.

12
Alianças Militares - Otan / Nato x Pacto de Varsóvia
Durante a Guerra Fria, foram constituídas duas grandes alianças militares, que foram
as principais durante as décadas: a OTAN (NATO em inglês), Organização do Tratado do
Atlântico Norte, criada em 1949, tendo os EUA como líder, e o Pacto de Varsóvia, também
conhecido como Tratado de Varsóvia, criado em 1955, tendo a URSS à frente.

Com a criação da OTAN5 , os EUA consolidaram sua hegemonia sobre a Europa Ocidental.
A aliança do Atlântico Norte tinha como objetivo a “defesa das instituições do mundo livre” e
dos países membros contra a expansão do bloco socialista.

Já o Pacto de Varsóvia6 tinha por objetivo a ajuda militar mútua, no caso de haver agressão, e a
colaboração política, consolidando, assim, a hegemonia da União Soviética sobre a Europa Oriental.

O Pacto de Varsóvia foi extinto em 1991 com o fim da URSS. Já a OTAN, com o fim da URSS
e do Pacto de Varsóvia, e portanto da ameaça comunista, passou a ter um novo papel no cenário
mundial, a partir de uma proposta norte-americana com apoio da Inglaterra, na defesa do capitalismo
e de seus países membros, em relação a questões de tensão no Oriente Médio, radicalismo islâmico,
narcotráfico e instabilidades políticas e militares no Leste Europeu.

Em paralelo à formação militar, a Guerra Fria também intensificou outras disputas, como a
disputa espacial, com a criação da NASA pelos EUA em 1958 e da Lunik pela URSS, que foi
a pioneira na corrida espacial.

O primeiro satélite artificial colocado em órbita foi o Sputinik I, em 1957, pelos


soviéticos. Em 1959, o Sputinik II levou ao espaço a cadela Laika, o primeiro ser vivo
a sair da Terra. E o primeiro homem a viajar no espaço foi o soviético Yuri Gagárin,
em 1961, na nave Vostok I.
Em julho de 1969, o norte-americano Neil Armstrong, comandante da nave Apollo 11,
tornou-se o primeiro homem a pisar na Lua.

Outra disputa que se consolidou com a Guerra Fria foi a corrida armamentista, com o
ingresso do mundo na era nuclear, por meio da construção de ogivas nucleares. Outros tipos
de armamento também se consolidaram durante esse período, como agentes químicos e
biológicos, além de mísseis teleguiados de alta velocidade, com capacidade de sobrepor o
limite continental. Na década de 1970, cientistas estimavam que apenas 10% do armamento
em poder das superpotências (como eram conhecidos os EUA e a URSS) seriam capazes de
extinguir toda a vida na Terra.
Com o fim da URSS em 1991, os armamentos nucleares pertencentes aos soviéticos foram
divididos, além da Rússia, com países como a Ucrânia, Casaquistão e Bielo-Rússia, e devido à
grande crise econômica que se instalou nos antigos países socialistas, surgiu um novo risco: a
venda de armamentos nucleares a países do terceiro mundo.

5 Os países que participaram da fundação da OTAN em 1949 foram: EUA; Alemanha Ocidental; Grã-Bretanha; Canadá; Dinamarca;
Portugal; Espanha; Turquia; Grécia; Holanda; Itália; Luxemburgo; Islândia; Noruega; França; e Bélgica; este último, local da sede.
6 Os países que participaram da criação do Pacto de Varsóvia foram: URSS; Países do Leste Europeu (exceto a Iugoslávia); Albânia, que se
retirou posteriormente; e teve sua sede em Varsóvia, na Polônia.

13
Unidade: O mundo bipolar e a Guerra Fria

A Guerra Fria chega ao fim


Em 1985, Konstantin Tchernenko, então líder da URSS, após governar por 11 meses, veio a
falecer. Posteriormente, soube-se que apesar da saúde frágil, ele havia sido indicado pelo Partido
Comunista a fim de que se conseguisse adiar por algum tempo a questão sucessória, já que havia dois
grupos em disputa, os quais deveriam chegar a um acordo. Um dos grupos era composto pelos
herdeiros políticos de Brejnev (anterior a Tchernenko), que não queriam saber de qualquer tipo de
reforma. O outro grupo, ao qual pertencia Mikhail Sergueievitch Gorbachev, era composto pela ala
mais jovem do partido e tinha como pretensão levar adiante as mudanças políticas e econômicas no
país, tendo sido o vencedor à sucessão da liderança soviética.

Figura 4 - Raissa Gorbachev e Mikhail Gorbachev Mikhail Gorbatchev, como foi conhecido, assumiu a
Secretaria geral do Partido Comunista Soviético em março de
1985, aos 54 anos, tendo demonstrado sempre uma habilidade
diplomática incomum, e quando assumiu o poder já era bem
conhecido pelos meios políticos do Ocidente.
Em agosto de 1985, Gorbachev determinou a suspensão
dos testes nucleares subterrâneos, declarando o que se pode
definir como sendo uma moratória nuclear unilateral, tendo sido
motivo de desconfiança pelos mais céticos, já que entenderam
que poderia ser uma estratégia de marketing soviético.
No 27º Congresso do Partido Comunista, ocorrido
em fevereiro de 1986, expôs um audacioso programa de
reformas políticas e econômicas. Gorbachev queria acabar
com a corrida armamentista e promover o estabelecimento
de um projeto de colaboração entre as nações. Em paralelo,
na esfera econômica, tinha como meta a revitalização dos
setores de produção, que se encontravam estagnados desde
Fonte: Wikimedia Commons a época de Leonid Brejnev7 .

Gorbachev implementou as reformas definidas como Glasnost (transparência, em russo), que


consistia em uma nova relação entre o poder e a sociedade, a fim de que os problemas fossem
discutidos abertamente pela população; e Perestroika (reconstrução, em russo), que englobava a
reformulação da economia soviética. Gorbachev se mostrava defensor do estatismo socialista e do
igualitarismo econômico, afirmando, no entanto, que seria bem-vinda a iniciativa empreendedora
de cada cidadão, ou seja, o Estado não deveria agir como um obstáculo para o progresso individual.
Eram propostas tidas como muito avançadas dentro da própria União Soviética.

Em abril de 1986, houve vazamento na usina nuclear de Chernobyl, na Ucrânia, em que


foi liberada nuvem radiativa que contaminou diversas regiões da URSS e da Europa. A Suécia,
tendo detectado o aumento dos níveis de radiação, indagou por informações ao governo
soviético, que em um primeiro momento se mostrou relutante em se manifestar. No entanto,
de forma surpreendente, o governo de Moscou admitiu a responsabilidade pelo acidente e
passou a tratar do assunto com uma abertura sem precedentes.
7 Leonid Brejnev (1906-1982) foi Secretário geral do PCUS (Partido Comunista da União Soviética) e presidente da URSS.

14
Outro fato que demonstrou a mudança de comportamento do governo soviético foi a
libertação do físico Andrei Sakharov em dezembro de 1986, confinado por quase sete anos
por ordem de Brejnev, em decorrência de sua luta pelos direitos humanos e por suas críticas
à invasão do Afeganistão.
Em maio de 1988, o presidente dos EUA, Ronald Reagan, visitou Moscou, demonstrando
uma nova etapa no relacionamento EUA X URSS, que já demonstravam a evolução de
importantes acordos sobre desarmamento.
A economia do país não ia bem, já que funcionários públicos procuravam fortuna fácil no
mercado negro, tirando mercadorias de circulação para revendê-las a preços mais altos.
Em maio de 1989, Gorbachev visita Pequim. Esse fato promoveu o movimento dos jovens
pela democratização da China, resultando no massacre da Praça da Paz Celestial.

O Fim da URSS
Em outubro de 1989, na Alemanha Oriental, Gorbachev advertiu o líder alemão comunista
Erich Honecker que a URSS não toleraria uma repressão violenta ao movimento pela
democracia naquele país. A visita de Gorbachev à capital do país fortaleceu o movimento
popular alemão, que resultaria, em novembro de 1989, na queda do Muro de Berlim, a qual
representou o fim do socialismo na Alemanha Oriental, tida como a nação mais rica, próspera
e politicamente fechada da Europa Oriental. Em um curto período de tempo, o processo se
alastrou por todos os países do bloco socialista.
Um dos episódios mais violentos ocorreu na Romênia, em dezembro de 1989, quando
mais de 10 mil pessoas morreram, pela atuação da Securitate8 , na luta pelo fim da ditadura
do presidente Ceausescu. Tal situação se tornou insustentável, tendo o Exército romeno se
voltado contra o governo, e após um julgamento sumário, executou Ceausescu e sua mulher
Elena, em dezembro de 1989.
Em paralelo aos acontecimentos na Europa Oriental, deixava de existir também o Pacto de Varsóvia.
Ao final de 1989, Gorbatchev reuniu-se com o presidente norte-americano George H. W.
Bush9 na ilha de Malta, em um encontro que é entendido por historiadores como sendo o que
se convencionou chamar de Nova Ordem Mundial, marcada pela existência de apenas uma
única superpotência, já que o bloco socialista estava em ruínas.
O último Congresso do Partido Comunista Soviético foi realizado em 1990. Nesse
congresso, o recém-eleito presidente da Rússia, Bóris Ieltsin10 , rompeu definitivamente com
o comunismo. Além disso, o Partido Comunista determinou o fim da política conciliatória de
Gorbachev, mostrando claramente que suas divergências haviam se aprofundado.
No dia 8 de dezembro de 1991, Bóris Ieltsin proclamou a independência da Rússia e
a formação da Comunidade dos Estados Independentes, integrada pela Bielo-Rússia e pela
Ucrânia. As demais repúblicas, exceto as bálticas (Letônia, Estônia e Lituânia), foram ratificando
a decisão e levando ao fim a URSS.
8 Securitate era a polícia política do ditador Nicolae Ceausescu (1918-1989) da Romênia.
9 George Herbert Walker Bush (1924-) foi o 41º Presidente dos Estados Unidos (1989–1993)
10 Boris Nikolayevich Yeltsin (1931-2007) foi presidente da Federação Russa entre 1991 e 1997.

15
Unidade: O mundo bipolar e a Guerra Fria

Gorbachev renunciou no dia 25 de dezembro de 1991, após 6 anos e 9 meses à frente do


governo, já que não concordava com a forma como se estabeleceu o fim da URSS, tendo sido
o responsável pela condução a uma nova ordem mundial global.
Com o fim do militarismo e da política da Guerra Fria, o jogo geopolítico deixou de estar
diretamente relacionado ao poderio nuclear, tendo o fator econômico passado para o primeiro
plano, desencadeando a formação de blocos supranacionais.

A queda da Cortina de Ferro, o fim da Guerra Fria e a retirada das tropas soviéticas
do Afeganistão valeram a Mikhail Gorbachev o prêmio Nobel da Paz em 1990,
Você sabia? mesmo ano em que se tornou presidente executivo com poderes especiais.

Figura 5 - Comunidade dos Estados Independentes

16
Material Complementar

Para ampliar e aprofundar seus conhecimentos sobre Geopolítica, leia o texto A geopolítica
do poder terrestre revisitada, de Leonel Itaussu Almeida Mello. O texto em questão procura
analisar criticamente os conceitos que formam o arcabouço da teoria do poder terrestre,
além de enfocar, à luz dessa teoria, a vitória da potência insular americana sobre a potência
continental soviética no âmbito do sistema bipolar da Guerra Fria e de relacionar a geopolítica
de Mackinder no contexto do pós Guerra Fria, ou seja, da nova ordem mundial emergente.

Sites:
MELLO, Leonel Itaussu Almeida. A geopolítica do poder terrestre revisitada. Lua Nova,
São Paulo, n. 34, dez. 1994. Disponível em
http://ref.scielo.org/fbkwg5
Acesso em 15 jan. 2015.

17
Unidade: O mundo bipolar e a Guerra Fria

Referências

ANDRADE, Manuel Correia. Geopolítica do Brasil. Campinas: Papirus, 2001.

COSTA, Wanderley Messias da. Geografia política e Geopolítica.Discursos sobre o


território e o poder. São Paulo: Hucitec / Edusp, 1992.

DOMINGUES, Edson Paulo. Dimensão regional e setorial da integração brasileira na


área de livre comércio das Américas. Tese-Doutorado. São Paulo: FEA / USP, 2002.

GALEANO, Eduardo. As veias abertas da América Latina. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1979.

MACKINDER, Haldford John. The geographical pivot of History. In: Democratic ideals
and reality (with additional papers). New York: The Norton Library, 1962, p. 243.

MAGNOLI, Demétrio (Org). História das guerras. 3. ed. São Paulo: Contexto, 2006.

MELLO, Leonel Itassu Almeida. Quem tem medo da Geopolítica? São Paulo: Hucitec /
Edusp, 1999.

MORAES, Marcos Antonio. FRANCO, Paulo Sérgio Silva. Geografia Econômica: Brasil de
colônia a colônia. Campinas: Editora Átomo, 2010.

SANTOS, Milton. SOUZA, Maria Adélia. SILVEIRA, Maria Laura (Org). Território,
globalização e fragmentação. São Paulo: Hucitec / ANPUR, 1998.

VESENTINI, José William. A nova ordem mundial. São Paulo: Ática, 1995.

VESENTINI, José William. A nova ordem, imperialismo e geopolítica global. Campinas:


Papirus, 2003.

18
Anotações

19

Você também pode gostar