Resumo patologia
Resumo patologia
Resumo patologia
Hipertrofia
É um aumento do tamanho das células.
Pode acarretar o crescimento do tamanho do órgão.
Esse fenômeno adaptativo ocorre em resposta a uma maior demanda funcional do órgão cujas células
não são capazes de se replicar.
Observação: Quaisquer que sejam os mecanismos da hipertrofia, haverá um limite, que, quando
ultrapassado, pode levar a mudanças degenerativas nas células e perda de função.
Hiperplasia
Significa aumento no número de células
Haverá hiperplasia toda vez que a célula que sofre o estímulo de desenvolvimento for capaz de se
replicar.
A hiperplasia pode ser um fenômeno fisiológico, como no do epitélio endometrial do útero que acontece a
cada novo ciclo menstrual.
De modo geral, a hiperplasia decorre de uma resposta a estímulos de crescimento que podem ser
hormonais, ou fatores quimiotáticos produzidos de modo fisiológico ou patológico.
Atrofia
É a redução no tamanho da célula em consequência da perda de material intracelular.
Quando um órgão se encontra afetado por um número significativo de células, ele sofre uma diminuição
global, tornando-se atrófico.
As causas da atrofia incluem redução da carga de trabalho (por exemplo, um músculo imobilizado
durante a fixação de uma fratura óssea), perda de inervação (como ocorre nos pacientes com lesões
medulares), diminuição da irrigação sanguínea, desnutrição energético-proteica, perda do estímulo
hormonal (tal qual acontece com os ovários após a menopausa) e envelhecimento (como a atrofia senil
observada no encéfalo de indivíduos idosos).
Metaplasia
Realiza-se quando um tipo de célula adulta é substituído por outro.
Em geral, esse fenômeno é reversível.
Tal adaptação ocorre porque as células sensíveis a um estresse são substituídas por outro
tipo mais resistente através de uma reprogramação genética das células-mães.
O termo necrose se refere à morte celular resultante da ação degenerativa de enzimas sobre as células
lesadas de maneira irreversível.
Existem diversos padrões de necrose tecidual que são específicos para determinados órgãos e certas
patologias:
Calcificação: se caracteriza pelo depósito anormal de sais de cálcio, com pequenas quantidades de
ferro, magnésio e outros minerais. Quando ela ocorre em tecidos mortos ou que estão morrendo, é
denominada calcificação distrófica.
Inflamação: é uma resposta protetora do hospedeiro cuja intenção é exterminar a causa inicial da lesão
celular, bem como as células necróticas resultantes da lesão original.
Embora o objetivo da inflamação seja protetor, uma reação exacerbada pode provocar um dano
considerável, como ocorre nas doenças autoimunes; esse dano acontece porque os mesmos mecanismos
responsáveis pela eliminação de agentes prejudiciais geram lesões nos tecidos normais.
As células e a molécula responsáveis pela defesa do organismo hospedeiro circulam normalmente no
sangue periférico e durante a reação inflamatória devem ser levadas ao sítio de dano tissular.
-Inflamação aguda: é uma resposta rápida a um agente lesivo, micróbios e outras substâncias estranhas
que estão preparadas para liberar leucócitos e proteínas plasmáticas nos sítios de lesão. Seus principais
componentes são as alterações vasculares e os fenômenos celulares.
Inicialmente, ocorre uma alteração no calibre vascular que dá lugar a um aumento do fluxo sanguíneo
(vasodilatação), ocasiona mudanças estruturais que ampliam a permeabilidade vascular e a liberação de
proteínas plasmáticas provenientes da circulação..
A seguir, há a migração dos leucócitos que são recrutados e ativados por substâncias liberadas no foco de
lesão tissular. Os principais leucócitos da inflamação aguda são os neutrófilos.
Algumas vezes, a inflamação aguda progride para uma inflamação crônica ou mesmo uma lesão
irreversível do tecido inflamado, que dará lugar a um tecido cicatricial fibroso.
-Inflamação crônica: é uma inflamação de duração prolongada (de semanas até anos) cuja reação
inflamatória, lesão tissular e cicatrização sucedem-se simultaneamente.
Em contraste com a inflamação aguda, não ocorrem alterações vasculares de infiltrado de
polimorfonucleares (leucócitos), mas infiltrado de células mononucleares como macrófagos, linfócitos e
células plasmáticas.
Pode ser derivada de uma inflamação aguda, mas ocorre também em virtude de uma exposição
prolongada a agentes potencialmente tóxicos.
OBS: Tecidos lábeis: tecidos que se dividem continuamente, podem se regenerar facilmente.
Tecidos estáveis: células se encontram paradas e têm uma atividade replicativa mínima em seu
estado normal,
podem se replicar em resposta a uma lesão tecidual.
Tecidos permanentes: as células destes tecidos não se replicam ao longo de toda a vida adulta.
A cicatrização:
- A reparação começa nas 24 horas seguintes à lesão.
- Entre o terceiro e o quinto dia, aparece um tipo de tecido especializado, característico da cicatrização, que
é denominado tecido de granulação.
- O tecido de granulação acumula, de modo progressivo, matriz de tecido conjuntivo, o que leva à formação
de uma cicatriz.
- Em alguns casos, a produção excessiva de matriz extracelular pode causar cicatrizes excessivamente
volumosas, conhecidas como queloides. Em outras circunstâncias, a estimulação persistente da síntese e
colágeno das enfermidades inflamatórias crônicas leva a uma fibrose do tecido com perda de função.
Importante: Diversas afecções podem dificultar ou alterar o processo de cicatrização. As principais são as
infecções que impedem a adequada cicatrização; pacientes portadores de Diabetes mellitus que
apresentam dificuldade para cicatrização; além disso, a cicatrização depende de tipo, volume e localização
da lesão.
- A obstrução linfática ainda é causa de edema comum nos casos de neoplasias que comprimem e
obstruem a drenagem linfática. Situações menos comuns como a retenção primária renal de sódio e o
aumento da permeabilidade vascular também podem ser causas de edemas.
Hiperemia e Congestão: os termos hiperemia e congestão indicam aumento local do volume de
sangue em um determinado tecido.
Trombose: desregulação causada por um dos três pilares da tríade de Virchow: lesão endotelial, estase
ou turbulências no fluxo sanguíneo e transtornos dos fatores de coagulação que causem
hipercoagulabilidade.
- Ocorre quando há formação de um coágulo sanguíneo em uma ou mais veias.
- Esse coágulo bloqueia o fluxo de sangue e causa inchaço e dor na região.
- O problema maior é quando um coágulo se desprende e se movimenta na corrente sanguínea, em um
processo chamado de embolia.
- Um êmbolo é uma massa intravascular sólida, líquida ou gasosa transportada pelo sangue a um local
distante da sua origem. A principal complicação da embolia é a obstrução vascular total ou parcial, levando
a isquemias dos tecidos acometidos.
Êmbolo
Trombo
Choque hemodinâmico: é a consequência comum de diversas situações clínicas, que podem ser
fatais em casos extremos porque o choque causa hipoperfusão sistêmica, alteração da perfusão tissular e
hipóxia.
Existem três categorias de choque hemodinâmico: cardiogênico, hipovolêmico e distributivo.
Choque cardiogênico: é resultante de uma falha na bomba cardíaca.
- Pode ser devido a um dano miocárdico (como no infarto agudo), arritmias ventriculares ou obstrução ao
fluxo
sanguíneo (como na tromboembolia pulmonar).
Choque hipovolêmico: consequência da perda de sangue, que pode ser devido à hemorragia, perda de
líquidos em grandes queimados e traumatismos.
Choque distributivo: o tônus vascular se torna insuficiente para manter a pressão mínima a fim de
perfundir órgãos e tecidos.
- A principal patologia que causa o choque distributivo é a sepse, na qual os mediadores inflamatórios
presentes em altas concentrações no sangue levam a uma vasodilatação significativa das principais artérias
que promovem hipotensão e hipóxia tecidual periférica.
Neoplasias
A dificuldade em compreender e tratar o câncer deriva do fato de as células cancerosas apresentarem
um defeito de crescimento complexo, que envolve múltiplas vias metabólicas, intercomunicadas entre si.
Por isso o câncer possui elevada letalidade.
Serão descritos os aspectos gerais das neoplasias benignas e malignas, as bases moleculares das
transformações neoplásicas e a resposta do organismo hospedeiro a uma
neoplasia em desenvolvimento.
Definição: neoplasia significa, literalmente, crescimento novo. Willis (1952) definiu
neoplasia como uma massa anormal de tecido cujo crescimento é excessivo e
descoordenado comparado aos tecidos normais adjacentes e que persiste mesmo
depois da interrupção do estímulo que induziu à proliferação inicial.
As células cancerosas são policlonais, apresentando múltiplas linhagens genéticas distintas que foram
adquirindo mutações genéticas diferentes ao longo do tempo de desenvolvimento da neoplasia.
- Os tumores benignos são neoplasias que demonstram crescimento desordenado, embora não
possuam a capacidade de desenvolverem metástases a distância. Em relação à nomenclatura, essas
neoplasias recebem o sufixo OMA associado ao tipo celular que deu origem ao tumor.
- Os tumores malignos são também chamados de câncer e, além de terem crescimento desordenado,
podem desenvolver metástases a distância através da circulação de células neoplásicas nos vasos
sanguíneos. A nomenclatura desses tumores depende do tipo histológico.
- São quatro características microscópicas básicas que auxiliam na diferenciação entre células benignas e
malignas. São elas: diferenciação e anaplasia, velocidade de crescimento tumoral, invasão local e presença
de metástases a distância.
Diferenciação e anaplasia
Se referem às células parenquimatosas que formam o tecido
tumoral. A diferenciação das células faz referência ao grau em
que se assemelha às células que lhes deram origem.
As neoplasias benignas são formadas por células bem
diferenciadas que se assemelham às células que lhe deram
origem.
Nas neoplasias malignas as células podem ser bem diferenciadas, mas são completamente primitivas
e indiferenciadas, a tal ponto que impedem a identificação da célula que lhe deu origem.
Observação: É importante diferenciar anaplasia de displasia. Displasia é um termo dado para a perda da
uniformidade das células individuais e de sua arquitetura habitual. Contudo, displasia não é neoplasia, já
que não há proliferação celular. Mais do que isso, nem sempre as displasias estão relacionadas ou são
lesões precursoras de neoplasias.
Velocidade de crescimento
A maioria dos tumores benignos cresce lentamente, enquanto grande parte dos tumores malignos
cresce muito mais rápido.
Nos tumores malignos, a velocidade de crescimento se correlaciona com o grau de diferenciação.
Invasão local
Uma neoplasia benigna se mantém localizada em seu lugar de origem. Não tem a capacidade de infiltrar,
invadir e produzir metástases a distância.
Os cânceres se desenvolvem por infiltração, invasão, destruição e
penetração do tecido que os circundam. Além do mais, os tumores
malignos não costumam revelar uma cápsula fibrosa exuberante e, por
isso, tanta importância é dada às margens cirúrgicas da neoplasia.
Microscopicamente, as células malignas penetram na borda da lesão e
infiltram estruturas adjacentes como finas patas de um caranguejo. Daí a
nomenclatura câncer (caranguejo em latim).
Metástases
Metástase significa implantes secundários não contínuos
ao tumor primário, ou seja, presença de doença a
distância.
Essa é uma característica exclusiva das neoplasias
malignas.
Quanto mais anaplásica a neoplasia primária, maior a
probabilidade de que se desenvolvam metástases. O
tamanho do tumor primário indica pouca ou nenhuma
relação com o risco de desenvolvimento de metástases.
A disseminação da doença a distância impossibilita a
cura.
Ocorrem por três vias principais de disseminação: contiguidade dentro das cavidades corporais,
disseminação linfática e disseminação hematogênica. Cada neoplasia primária tem uma característica
própria de disseminação.
Fatores de risco
Fatores ambientais e comportamentais são responsáveis por cerca de 20% dos casos, enquanto os
fatores genéticos hereditários são responsáveis por não mais que 10% dos casos de câncer.
Agentes infecciosos foram identificados também como precursores no desenvolvimento de neoplasias.
Em oposição, as neoplasias malignas do sistema nervoso central são causadas por alterações genéticas
na quase totalidade dos eventos.
Variáveis geográficas e ambientais: apesar de todo o desenvolvimento da biologia molecular
tumoral, alguns fatores ambientais provocam mutações somáticas.
- Hábitos alimentares: algumas características alimentares foram implicadas na causalidade de câncer.
Recentemente alimentos embutidos foram relacionados a um risco elevado de desenvolvimento de
neoplasia do tubo digestivo, bem como as carnes vermelhas frescas, ainda que estas últimas em menor
grau de importância.
- Tabagismo: ele tem relação com vários tipos de câncer (pulmão, cavidade oral, laringe, faringe, esôfago,
estômago, pâncreas, fígado, rim, bexiga, colo do útero e leucemias). O principal câncer associado ao
tabagismo é o de pulmão.
- Etilismo: estudos mostram que o etanol, em quaisquer quantidades, pode causar o desenvolvimento de
câncer de boca, faringe, laringe, esôfago, estômago, fígado, intestino (cólon e reto) e mama (pré e pós-
menopausa). O etanol tem efeito cancerígeno sobre as células e, quando chega ao intestino, pode
funcionar como solvente, facilitando a entrada de outras substâncias carcinogênicas nas células.
- Hábitos sexuais: certas características de comportamento sexual aumentam a chance de exposição
aos vírus carcinogênicos sexualmente transmissíveis.
• HPV está relacionado ao câncer do colo do útero, da vagina, da vulva, do pênis, do canal anal e da
hipofaringe;
• Vírus da imunodeficiência humana (do inglês, HIV), associado a outros tipos de vírus, como o
citomegalovírus e os herpes-vírus I e II, pode desencadear o aparecimento de sarcoma de Kaposi, câncer de
língua e de reto, respectivamente, em pacientes portadores de imunodeficiência decorrente à infecção pelo
vírus;
• Vírus HTLV-I está associado a leucemias e ao linfoma de linfócitos T;
• Vírus das hepatites B e C estão relacionados ao câncer de fígado, embora apenas o vírus B possa ser
transmitido por meio de relações sexuais.
- Exposição solar: a exposição solar excessiva é o principal fator de risco para o câncer de pele.
- Radiações ionizantes: radiações de certos comprimentos de onda, chamadas de radiações ionizantes,
têm energia suficiente para danificar o DNA das células e causar câncer. O risco de desenvolvimento de um
câncer é significantemente maior quando a exposição à radiação aconteceu na infância.
- Medicamentos: um pequeno número de medicamentos tem o potencial de induzir o aparecimento do
câncer. Dentre eles, o principal grupo é constituído por aqueles utilizados para tratar o câncer. Embora em
curto prazo os benefícios superem os riscos, é preciso ficar atento aos possíveis malefícios em longo prazo.
Outros grupos de medicamentos que podem aumentar o risco de câncer são aqueles à base de hormônios
e os imunossupressores.
- Idade: em geral, a frequência de câncer aumenta com a idade. A mortalidade pela doença é maior na
faixa etária dos 55 aos 75 anos de idade, diminuindo consideravelmente após. Esse fenômeno pode ser
explicado pelo fato de as mutações somáticas se acumularem ao longo da vida.
- Genética: apesar de ser responsável por não mais que 10% dos casos de neoplasias malignas, as
mutações genéticas hereditárias são bem conhecidas e estabelecidas.
Diagnóstico do câncer:
O diagnóstico do câncer é feito por meio do exame anatomopatológico do espécime recolhido junto ao
tumor.
A imuno-histoquímica é um teste realizado com anticorpos específicos para reagir com a amostra
tumoral, servindo como base para a determinação da expressão de certas proteínas na superfície
tumoral. Por meio dele, conseguimos classificar o sítio primário do tumor quando a biópsia é coletada na
metástase e não há nenhum sinal ou sintoma que aponte a origem do tumor.
Nos tumores hematológicos, a citometria de fluxo é um teste importante para a determinação específica
das células tumorais e classificação dos tumores, que será fundamental para estabelecimento do
tratamento e do prognóstico da doença.
Alguns tumores liberam proteínas que podem ser detectadas no sangue periférico, essas substâncias são
conhecidas como marcadores tumorais. O único marcador tumoral que serve para o diagnóstico da
neoplasia (sem a necessidade de realização de biópsia da lesão) é a alfafetoproteína no
hepatocarcinoma.
Outros marcadores são importantes para a classificação do prognóstico da doença e auxiliam inclusive na
definição do melhor tratamento para a neoplasia. O principal exemplo nessa categoria é o antígeno
prostático específico (PSA). Por meio da dosagem do PSA sérico, é possível estimar o prognóstico do
câncer de próstata e eleger o tratamento mais adequado para o paciente.
A determinação do perfil molecular dos tumores mediante testes de sequenciamento do DNA permite
conhecer a expressão de segmentos específicos do genoma que possam evidenciar mutações
fundamentais para o tratamento do câncer.
Estagiamento do câncer:
Após o diagnóstico de câncer, procede-se com o estagiamento tumoral. Afinal, o estágio da doença é o
principal fator prognóstico para todas as neoplasias e serve também para orientar o tratamento.
O estagiamento pode ser realizado por meio de exames de imagem ou durante procedimentos
cirúrgicos.
Patologia do sistema cardiovascular
O sistema cardiovascular é composto de coração, artérias, veias e linfáticos.
Vasos sanguíneos
A patologia vascular produz enfermidade por meio de dois mecanismos principais: estenose ou
obstrução da luz dos vasos, que pode ocorrer de modo progressivo (aterosclerose) ou súbito (trombose
ou embolismo); debilidade das paredes vasculares, que podem predispor dilatação ou ruptura do vaso.
Relembrando:
As artérias são responsáveis por receber e transportar o sangue oriundo das
câmaras cardíacas e precisam resistir aos pulsos de intensas pressões sanguíneas.
Por esse motivo, elas apresentam uma camada muscular que as tornam mais
espessas e resistentes que as veias.
A camada interna das artérias, que fica em contato com o sangue, é denominada
íntima. A íntima é composta de uma única camada de células endoteliais que ficam
em contato contínuo com o fluxo sanguíneo.
Foram descobertas e atribuídas funções às células endoteliais. Uma importante e
complexa liberação de substâncias regulatórias fundamentais para todos os tecidos do corpo humano
respondem a diferentes agressões.
A segunda camada da parede arterial é a média ou muscular. A espessura dessa camada varia ao longo
do sistema vascular, sendo maior nas artérias próximas do coração e menor nas arteríolas e nos capilares
periféricos.
Anomalias congênitas
Em geral, as anomalias vasculares são detectadas ao acaso por exame solicitado por outro motivo ou
durante um procedimento cirúrgico.
Aneurisma:
Trata-se de uma dilatação anormal e focal de um vaso sanguíneo.
Quando se rompem, podem produzir hemorragia intracraniana potencialmente fatal.
Falso aneurisma: ocorre abertura na parede
vascular, gerando hematoma. Também chamado de
aneurisma pulsátil.
Aneurisma verdadeiro: ocorre quando afeta as três
camadas da parede vascular. Pode ser aterosclerótico,
sifilítico ou congênito.
Aterosclerose:
Se caracteriza por lesões da camada íntima das artérias denominadas
ateromas (também conhecidas como placas de ateromas ou placas
ateromatosas) que se desenvolvem e ocupam a luz vascular.
Uma placa ateromatosa consiste em uma lesão sobrelevada internamente,
preenchida por um conteúdo lipídico amarelo e pastoso, recoberto por uma
capa fibrosa firme.
Além de obstruir o fluxo sanguíneo, as placas ateromatosas debilitam a
camada média subjacente e podem se romper, produzindo uma trombose potencialmente catastrófica
no vaso.
Fatores de risco: os fatores de risco principais são listados e divididos em constitucionais e modificáveis. A
seguir, serão citados os fatores de risco constitucionais:
- Idade: a idade tem uma influência importante, uma vez que as lesões das placas ateromatosas crescem
progressivamente, até ficarem clinicamente evidentes.
- Sexo: as mulheres no menacme (período em que a mulher se encontra em idade fértil) estão
relativamente protegidas contra a aterosclerose e suas consequências comparadas aos homens da mesma
idade. Após a menopausa, a incidência de enfermidades ateroscleróticas aumenta e fica relativamente igual
à dos homens de mesma idade.
- Genética: a predisposição familiar à aterosclerose e às doenças cardiovasculares é bem estabelecida.
Tanto indivíduos de grupos familiares com alto risco de hipertensão ou diabetes quanto aqueles de grupos
familiares com deficiências no metabolismo das lipoproteínas apresentam risco elevado para aterosclerose.
Fatores de risco modificáveis:
- Dislipidemia: a dislipidemia, especialmente a hipercolesterolemia, é o principal fator de risco modificável
para a doença ateromatosa.
- Hipertensão: a HAS é outro fator de risco maior para a aterosclerose. São importantes tanto os níveis
pressóricos sistólicos quanto os diastólicos. A hipertensão pode elevar o risco de evento cardiovascular ao
redor de 60% comparado com indivíduos normotensos.
- Tabagismo: o consumo do tabaco é um fator de risco bem estabelecido para aterosclerose. A principal
causa é a instabilidade na placa de ateroma provocada pelo tabaco e pelo alto risco de rompimento da
placa com o consumo de cigarros.
- Diabetes Mellitus: o Diabetes mellitus induz a dislipidemias e a uma síndrome metabólica que provoca
um efeito pró-inflamatório, aumentando significativamente o risco de doença ateromatosa.
- Aumento da proteína C reativa (PCR): a inflamação está presente em todos os estágios de evolução
da doença aterosclerótica, mas intimamente relacionada com instabilidade e rotura da placa de ateroma.
Alguns estudos recentes demonstraram que níveis séricos elevados de PCR estão associados a um risco
maior de eventos cardiovasculares.
- Outros fatores de risco menores: estudos prospectivos populacionais apontam que a obesidade, o
estresse e o sedentarismo são responsáveis por aumentos discretos no risco de desenvolvimento de
aterosclerose.
Patogenia da aterosclerose: resposta inflamatória crônica da parede arterial em resposta a uma lesão
endotelial causada pelo acúmulo de lipoproteínas.
1. A doença começa com uma lesão endotelial inicial provocada por alterações decorrentes dos fatores de
risco principais citados, que levam à disfunção das células endoteliais, ao aumento da permeabilidade
dos vasos, à adesão de leucócitos e à trombose.
2. A lesão endotelial crônica promove um acúmulo de lipoproteínas na parede do vaso. A adesão de
monócitos ao endotélio lesado recoberto por lipoproteínas acumuladas conduz à transformação dos
macrófagos em células espumosas.
3. A liberação de fatores ativadores de plaquetas, macrófagos e fibroblastos transforma a parede do vaso
lesado por meio da produção de uma camada muscular lisa e uma matriz extracelular que vai
aumentando o diâmetro da placa de ateroma e, consequentemente, diminuindo a luz do vaso sanguíneo.
4. A camada doente de células endoteliais que recobre a placa é frágil e pode sofrer erosão facilmente. Isso
expõe substâncias trombogênicas do interior da placa à corrente sanguínea, levando a uma trombose,
que pode ocluir totalmente a parede do vaso, previamente estreitada pela presença da placa de
ateroma.
Hipertensão
A hipotensão pode provocar a perfusão inadequada de órgãos e, em último caso, lesão tecidual. Por
outro lado, a hipertensão pode causar lesões vasculares como a aterosclerose, gerando eventos
isquêmicos ou hemorrágicos.
A detecção da hipertensão arterial se faz nas fases mais avançadas, uma vez que ela geralmente não
apresenta sintomas.
De maneira simplificada, a tonicidade dos vasos sanguíneos e hormônios produzidos pelos rins e
suprarrenais regulam a tensão arterial.
Diagnóstico de Hipertensão: PA> 140 mmHg (sistólica) 90 mmHg (diastólica), ou seja, PA> 14 por 9.
Diagnóstico de hipotensão: PA< 90 mmHg (sistólica) 60 mmHg (diastólica), ou seja, PA< 9 por 6.
Patogênese: 90 a 95% dos casos de hipertensão são idiopáticos e compatíveis com uma sobrevida
extensa, sem que ocorra qualquer complicação cardiovascular. A maior parte da hipertensão de causa
definida ocorre em consequência a patologias renais (como as glomerulonefrites agudas, a doença renal
crônica ou a doença renal policística) ou, em menor frequência, a uma estenose da artéria renal. Outras
raras vezes a hipertensão é secundária a patologias suprarrenais como o hiperaldosteronismo primário, a
síndrome de Cushing e o feocromocitoma.
Observação: além de acelerar a aterosclerose, as mudanças degenerativas relacionadas à hipertensão
podem potencializar tanto a dissecção aórtica como a hemorragia cerebrovascular.
Aneurismas e dissecções
Um aneurisma é uma dilatação anormal e localizada de
um vazo sanguíneo. Quando ele afeta as três camadas da
parede arterial é chamado de aneurisma verdadeiro. Em
contraposição, um falso aneurisma é uma abertura na
parede vascular que dá lugar a um hematoma
extravascular, que se comunica livremente como espaço
intravascular.
As causas mais importantes dos aneurismas são a aterosclerose e a degeneração cística da camada
muscular média da artéria. Outras situações menos frequentes são os traumatismos (aneurismas
congênitos), as infecções (aneurisma sifilítico) e as vasculites.
Os aneurismas ateroscleróticos se produzem com maior frequência na aorta abdominal.
Uma dissecção arterial se produz quando o sangue entra na parede da artéria, como um hematoma
que vai dissecando as camadas do vaso. As dissecções são quase sempre relacionadas a aneurismas.
A dissecção aórtica é um feito catastrófico pelo qual o sangue separa os planos laminares da média
para formar um
canal preenchido por sangue dentro da parede do vaso. A hipertensão arterial é o principal fator de risco
para a
dissecção aórtica.
Camadas
78ox da parede
arterial
Fluxo
78ox sanguíneo
O sintoma clássico da dissecção da aorta é a dor torácica intensa e transfixante de início súbito. O
diagnóstico diferencial elementar, pela apresentação da doença, é o infarto agudo do miocárdio.
Vasculites
É a inflamação dos vasos sanguíneos.
Dependendo do leito vascular afetado (por exemplo,
sistema nervoso central, próximo ao coração ou no
intestino delgado), as manifestações podem ser
diversas. Existem também sintomas gerais como
febre, mialgias, artralgias e mal-estar geral.
Elas conseguem, teoricamente, acometer todo e
qualquer vaso sanguíneo, embora se observe uma
predileção por conjuntos vasculares específicos em
cada tipo de vasculite.
Vasculites não infecciosas: os principais mecanismos que iniciam as vasculites não infecciosas são
depósitos de imunocomplexos, liberação de anticorpos citoplasmáticos antineutrófilos (em inglês, Anca) e
anticorpos anticélulas endoteliais.
Vasculite infecciosa: as arterites localizadas em um único ramo vascular são decorrentes da invasão
local por agentes infecciosos, geralmente bactérias ou fungos, em particular das espécies Aspergillus e
Mucor. A invasão vascular pode ser parte de uma infecção tissular mais geral como pneumonia e
abcessos adjacentes.
Observação: as infecções vasculares podem debilitar as paredes arteriais e dar lugar a aneurismas
micóticos ou ainda induzir a trombose e a infarto. Um exemplo clássico desse fenômeno ocorre na
meningite bacteriana, e nela a vasculite causada pela bactéria pode provocar trombose e infarto.
Patologias das veias
As veias varicosas e as tromboflebites representam 90% das patologias associadas com as
veias.
Veias varicosas (ou varizes): são veias tortuosas anormalmente dilatadas produzidas
por um aumento prolongado da pressão intraluminal e perda do tônus da parede do vaso.
As veias superficiais das partes superior e inferior da perna são as mais afetadas.
Dilatação varicosa: faz com que as valvas venosas fiquem incompetentes, dando lugar a
estase, congestão, edema e trombose.
Varizes esofágicas: são decorrentes da obstrução da veia porta que produz uma
hipertensão portal, aumentando o fluxo de sangue nas veias da união gastroesofágica.
Elas são comumente observadas em pacientes portadores de cirrose hepática. A
rotura de varizes esofágicas pode provocar hemorragia do trato digestivo superior
potencialmente fatal.
Hemorroidas: dilatação e inflamação das veias ao redor do ânus e reto. Esta dilatação é provocada
pela congestão pélvica prolongada complicada pela força realizada ao defecar e também pela gravidez.
As hemorroidas são incômodas e podem ser fonte de sangramento ou trombose. A trombose dessas
pequenas veias provoca a dor, que ocorre em alguns casos de hemorroidas.
Tromboflebite: inflamação de uma veia superficial que geram formação de
trombo. Os principais fatores de risco para a trombose venosa profunda (TVP) são
insuficiência cardíaca congestiva, neoplasias, gravidez, obesidade e repouso prolongado (especialmente
em pós-operatórios).
Patologia dos linfáticos: a linfangite é uma inflamação aguda produzida
geralmente por infecção. Os linfáticos afetados ficam dilatados e repletos de um
exsudato de neutrófilos e monócitos, que pode se estender através da parede do
linfático, causando celulite e abcessos focais. Clinicamente, a linfangite é
assinalada por cordões subcutâneos vermelhos e dolorosos com um aumento
doloroso do tamanho das adenopatias que os drenam.
Cardiopatias congênitas
Observação: as malformações mais comuns são as comunicações interventriculares (CIV), responsáveis por
cerca de 42% dos casos e as comunicações interatriais (CIA), encarregadas por aproximadamente uma a
cada dez ocorrências.
São malformações do coração ou dos grandes vasos que estão presentes no momento do nascimento.
As CIV são a principal causa de ligação da circulação cardíaca esquerda com a direita. Em decorrência
das malformações, ocorre um afluxo sanguíneo maior na circulação arterial pulmonar, podendo
ocasionar sintomas como dispneia e derrames pleurais.
A principal patologia que representa as cardiopatias congênitas cianóticas é a tetralogia de Fallot, e nela
ocorre:
• comunicação interventricular;
• obstrução do trato de saída do ventrículo direito (estenose pulmonar);
• aorta sobreposta ao defeito septal ventricular; • hipertrofia ventricular direita.
- Nesta patologia, a cianose é decorrente da comunicação entre câmaras direitas e esquerdas, fazendo com
que o sangue venoso retorne à circulação periférica sem ser oxigenado na circulação pulmonar.
Existem também cardiopatias congênitas obstrutivas que dificultam o fluxo sanguíneo através do
coração. A principal patologia desta categoria é:
- Coartação da aorta: estreitamento da saída da aorta observado com frequência em indivíduos
portadores de síndrome de Turner. Tal doença apresenta como principal sintoma dor claudicante dos
membros superiores, pulso débil e diferenças de pressão arterial entre os membros superiores e inferiores.
Cardiopatia isquêmica
É decorrente da isquemia do miocárdio, caracterizada por um desbalanço entre o aporte e a necessidade
de oxigênio na musculatura do coração.
A grande maioria dos casos é consequência de baixo fluxo sanguíneo provocado pela trombose de uma
placa de ateroma, mas existem eventos raros decorrentes de outras situações como anemias graves e
intoxicação por monóxido de carbono.
A isquemia do miocárdio provoca dor localizada na região precordial, que pode irradiar para o membro
superior e para a região submandibular.
No espectro da isquemia cardíaca, o paciente pode apresentar somente um quadro repetitivo de dor
precordial: em decorrência do esforço (angina pectoris), que se relaciona com uma obstrução parcial da
artéria coronária pela placa de ateroma; um infarto do miocárdio agudo, quando a obstrução coronariana
é completa; cardiopatia isquêmica crônica, que é uma insuficiência cardíaca decorrente de um evento
agudo inicial ou morte súbita decorrente de uma isquemia miocárdica extensa, que compromete áreas
responsáveis pelo controle do ritmo cardíaco, levando a arritmias fatais.
O infarto do miocárdio agudo (IAM), popularmente conhecido como
ataque cardíaco, é a necrose do músculo cardíaco devido à isquemia.
Uma zona infartada se manifesta macroscopicamente como uma zona
pálida, amarelada. Microscopicamente, ela apresenta uma necrose de
coagulação.
Observação: o infarto pode acometer as camadas mais superficiais do
miocárdio (infartos subendocárdicos) ou se aprofundar por todo o
miocárdio (infarto transmural).
A disfunção contrátil é uma alteração da função de bombeamento oriunda da necrose das fibras
musculares isquemiadas. Em casos de infartos grandes, a disfunção pode ser significativa, causando um
choque cardiogênico, que ocasionará morte em aproximadamente 70% das ocorrências.
Outra complicação potencialmente severa é o desenvolvimento de arritmias em decorrência da lesão
isquêmica de feixes responsáveis pelo controle ou pela condução do ritmo cardíaco. Nos casos mais
graves, tais arritmias podem ocasionar a morte súbita do paciente.
O aneurisma da parede ventricular é uma complicação tardia decorrente de infartos profundos no
miocárdio, levando ao surgimento de um tecido cicatricial fibroso delgado e altamente suscetível à
formação de trombos murais, arritmias e insuficiência cardíaca.
Cardiopatia valvular
As valvulopatias são caracterizadas por estenose, insuficiência
ou ambas.
A estenose é a impossibilidade de uma válvula abrir-se
completamente. Isto provoca desde obstrução ao fluxo
sanguíneo de graus variáveis até refluxo anterógrado do
sangue. Geralmente, a estenose valvar decorre de um
processo crônico produzido por alterações nos folhetos
valvares
A insuficiência ocorre pela impossibilidade de uma válvula
fechar-se inteiramente, o que permite o refluxo sanguíneo. A
insuficiência deriva de uma destruição do folheto valvar.
O fluxo sanguíneo anormal através das válvulas cardíacas produz um ruído típico conhecido como sopro.
Valvulopatia reumática
A febre reumática é uma enfermidade inflamatória sistêmica autoimune aguda que aparece várias
semanas depois de um episódio de faringite por estreptococos B-hemolíticos do grupo A.
As deformidades valvulares crônicas são as consequências mais importantes da cardiopatia reumática e
se caracterizam por cicatrização difusa e densa das válvulas, que produzem disfunção valvar. A mais
frequente é a estenose mitral.
Clinicamente, a febre reumática ocorre entre duas e três semanas após a faringite aguda e se caracteriza
por uma poliartrite aguda assimétrica migratória acompanhada de febre. Os sintomas da valvulopatia
reumática dependem das válvulas afetadas, embora os achados mais comuns sejam sopros, hipertrofia
e dilatação cardíaca.
Endocardite infecciosa
É uma infecção grave que precisa de diagnóstico e intervenção
rápidos. É assinalada por uma invasão microbiana das válvulas
cardíacas ou do endocárdio mural, dando lugar a vegetações
bacterianas friáveis. Estas vegetações podem ganhar a corrente
sanguínea, levando à formação de êmbolos sépticos para
diversos órgãos do corpo.
A maioria dos casos é decorrente da infecção pelo estreptococo
viridans, um grupo relativamente banal da flora oral normal,
embora o germe mais virulento na prática clínica seja o
estafilococo aureus.
A principal situação que predispõe à endocardite infecciosa é a presença da bactéria no sangue. A porta
de entrada pode ser a cavidade oral.
Pacientes com dispositivos de infusão de medicamentos (cateteres de longa permanência) ou aqueles
que fazem uso de substâncias injetáveis também apresentam risco elevado de desenvolvimento de
endocardite infecciosa.
Clinicamente, a febre é o sinal mais constante da endocardite infecciosa. Outro sinal clínico característico
é o surgimento repentino de um sopro cardíaco.
Miocardiopatias
Termo que se aplica às enfermidades intrínsecas do músculo cardíaco. Tais patologias podem ser
consequência de alterações prévias ou idiopáticas.
A miocardiopatia dilatada é responsável por cerca de
90% dos casos de miocardiopatia e produz uma disfunção
sistólica. No Brasil, uma de suas causas frequentes é a
infecção pelo Trypanosoma cruzi, responsável pela doença
de Chagas. Outros motivos são a exposição a tóxicos (por
exemplo, álcool) e defeitos genéticos das proteínas
citoesqueléticas.
A miocardiopatia hipertrófica cria uma disfunção
diastólica ou de relaxamento. A imensa maioria dos
eventos se deve a mutações autossômicas dominantes dos
genes que codificam o aparato contrátil, em particular a
cadeia pesada da β-miosina.
A miocardiopatia restritiva dá lugar a um miocárdio rígido, sendo geralmente resultante de
patologias de depósito como a amiloidose e a hemocromatose. Existem ainda alguns casos decorrentes
de fibrose intersticial (produzida pela radiação) ou cicatrizes endomiocárdicas.
Patologias do pericárdio
As principais patologias do pericárdio são a pericardite e o derrame pericárdico.
A pericardite primária é infrequente pois a maioria das situações são decorrentes de inflamações
produzidas por infecções virais (ou, em menor proporção, bacterianas ou fúngicas) ou doenças
inflamatórias (por exemplo, lúpus eritematoso sistêmico).
A uremia é um transtorno metabólico sistêmico mais frequentemente associado à pericardite. Neoplasias
que acometem o pericárdio também podem provocar pericardites e derrames pericárdicos difíceis de
tratar.
Geralmente as pericardites se resolvem de modo espontâneo ou com o tratamento adequado da causa
de base, embora elas possam produzir complicações hemodinâmicas imediatas se houver um volume
significativo de derrame pericárdico ou até progredirem para um processo fibrosante crônico.
Patologias do aparelho
respiratório
As doenças do aparelho respiratório são classificadas de duas formas: agudas ou crônicas.
Atelectasia
Refere-se à expansão incompleta ou ao colapso dos pulmões ou de parte dele.
Pode ser aguda ou crônica em adultos.
Sua etiologia tem frequente associação a tampões de exsudato brônquico
viscoso, tumores endobrônquicos, granulomas ou corpos estranhos, além de
compressões pulmonares por líquido ou ar na pleura e deficiência de
surfactante.
Após a obstrução súbita de um brônquio, o ar que estava presente nos
alvéolos periféricos é absorvido pelo sangue circulante, causando a não
aeração e a retração pulmonar em pouco tempo, levando o pulmão a
contrair-se e entrar em colapso completo.
No quadro inicial da atelectasia, o sangue do indivíduo perfunde o pulmão
não aerado, causando hipoxemia arterial. Se as hipóxias tecidual e capilar
resultarem em transudação de líquido e edema pulmonar, os espaços
alveolares ficarão cheios de secreções e células, o que evitaria um colapso
atelectásico pulmonar completo
Doenças intersticiais
Há muitas formas de doenças intersticiais, inclusive com sintomas distintos. Vejamos exemplos.
Pneumoconioses:
Pneumopatias relacionadas à inalação de poeiras no ambiente de trabalho, ou seja,
é um conjunto de doenças que causa repercussões pulmonares.
As pneumoconioses podem ser divididas, didaticamente, em dois grandes grupos:
fibrogênicas e não fibrogênicas. Esta classificação se dá pelo potencial da poeira
(estímulo) em produzir uma reação tecidual.
Fisiopatologicamente, tal grupo de doenças acontece a partir de um estímulo de
poeira não orgânica, sais inorgânicos e/ou fumos metálicos que causam fibrose
pulmonar ou não. É importante para o diagnóstico da doença que fique evidenciado
a qual tipo de substância o indivíduo foi exposto.
Observação: Quando conhecida a fonte de estímulo que levou à doença, a pneumoconiose recebe
denominações mais específicas: siderose (causada pelo ferro), baritose (causada pelo bário), estanose
(causada pelo estanho) etc.
- Pneumoconioses não fibrogênicas:
Também conhecidas como pneumoconioses simples, caracterizam-se por lesão de tipo macular com
deposição intersticial de partículas e discreto grau de desarranjo estrutural, com ausência de proliferação
fibroblástica e de fibrose.
As partículas que possuem a tendência de se depositar nas vias aéreas distais desencadeiam uma
reação do sistema imune, que as reconhece como corpo estranho. Esta resposta em cadeia inicia-se com
o macrófago alveolar pulmonar, que é fundamental para o início e a perpetuação da lesão e da fibrose
pulmonar.
Silicose
Epidemiologicamente trata-se da doença ocupacional mais comum do mundo.
Esta doença está associada aos profissionais que manejam vidro, devido à densa e grande presença de
sílica nos produtos manuseados por eles.
Morfologicamente, os nódulos silicóticos, causados pelo depósito de sílica nas vias respiratórias, se
caracterizam por serem minúsculos, apesar de palpáveis, bem delimitados e com uma coloração que
varia do pálido até o enegrecido.
Sarcoidose
A sarcoidose é uma doença relativamente comum, que está no conjunto de afecções
histopatologicamente caracterizadas por granulomas, sem participação de agentes infecciosos. Estes
granulomas são classificados como não caseosos e podem acometer praticamente qualquer tecido.
Morfologicamente, a sarcoidose apresenta uma organomegalia, que consiste no aumento de fígado,
baço e linfonodos, sem outras características macroscópicas aparentes.
Os linfonodos são quase sempre afetados na sarcoidose, sendo mais comum as regiões hilar e
mediastínica. Porém, vale ressaltar que entre 25 e 33% dos casos também afetam as amígdalas.
Os pulmões também são um sítio comum de acometimento na sarcoidose. Neles,
ocorre a presença de granulomas difusos e espalhados.
O baço e o fígado são microscopicamente afetados em uma média de até 75% dos
casos de sarcoidose. Apesar desse alto índice de acometimento, somente em 18%
dos casos pode ocorrer esplenomegalia nos indivíduos portadores da doença e a
hepatomegalia é ainda menos frequente.
Além desses órgãos, a sarcoidose afeta a pele e os olhos. A sarcoidose cutânea
pode ocorrer em cerca de 33 a 50% dos pacientes, manifestando-se na forma de
nódulos subcutâneos isolados, placas eritematosas descamativas e lesões nas
membranas mucosas. Já os olhos são afetados em cerca de 20 a 50% das
situações, com ocorrência de irite (inflamação da íris), iridociclite (inflamação que surge na parte anterior
dos olhos; inclui a íris e o corpo ciliar) ou a retinite coroide.
O diagnóstico clínico da sarcoidose se dá de modo majoritário por suas manifestações sistêmicas,
principalmente referentes ao sistema respiratório. Portanto, muitos utilizam-se dos testes de função
pulmonar. Nas fases iniciais da sarcoidose, os volumes pulmonares em geral estão normais. Com a
progressão da doença, a sarcoidose produz alterações gasosas importantes, na relação ventilação-
perfusão.
A sarcoidose pode ter uma manifestação aguda, que é completamente atípica em relação a outras
enfermidades. Considera-se como tal quando o início dos sinais e dos sintomas ocorre em até dois anos.
Com isso, pode-se afirmar que no quadro agudo da sarcoidose existem períodos de relevante
sintomatologia, intercalados com absoluta ausência de sintomas.
Já na sarcoidose crônica, há a necessidade de medicamentos por um período maior do que dois anos,
sendo sua principal diferença quanto ao quadro agudizado.
Para ambos os casos, a terapêutica clínica adotada é feita através de corticoides, preferencialmente com
o uso de prednisona. Porém, devido ao longo tempo de terapia para a sarcoidose, foi estabelecido um
novo grupo denominado sarcoidose refratária, que ocorre por causa da falta de adesão do indivíduo ao
tratamento e/ou da presença de doença fibrótica, hipertensão pulmonar, hidrocefalia e resistência ao
corticosteroide. Neste último caso, a terapêutica adotada é o uso de imunoterapia (infliximab,
adalimumab e etanercept).
Hipertensão Pulmonar
Caracteriza-se como tal quando o valor se encontra maior ou igual a 25 mmHg (o valor normal da
pressão média da artéria pulmonar - PAPm -, em repouso, é de 14 ± 3 mmHg).
Sabe-se que a hipertensão pulmonar pode ser classificada através de um agrupamento de pacientes que
apresentem semelhanças anatomopatológicas, do perfil hemodinâmico e de manejo terapêutico em
cinco diferentes grupos:
1. HAP;
2. hipertensão pulmonar causada por doenças do coração
esquerdo;
3. hipertensão pulmonar causada por doença pulmonar e/ou
hipóxia;
4. hipertensão pulmonar tromboembólica crônica;
5. hipertensão pulmonar com mecanismos multifatoriais não
esclarecidos.
Morfologicamente, a HAP causa lesões vasculares em toda a árvore arterial, que inclui: artérias elásticas
principais, ateromas similares aos encontrados na aterosclerose sistêmica; artérias musculares de
tamanho médio, proliferação das células miointimais e das células musculares lisas, que produzem o
espessamento da íntima.
• Hipertensão arterial pulmonar (HAP)
Trata-se de um conjunto de características clínicas que acometem predominantemente o compartimento
pré-capilar, com presença de pressão arterial pulmonar ≤ a 15 mmHg, quando ausente de doença
pulmonar ou tromboembólica crônica.
• Hipertensão arterial pulmonar idiopática
É assim definida por se tratar de um caso esporádico, sem qualquer tipo de antecedente, seja ele familiar,
seja de fatores de risco.
• Hipertensão arterial pulmonar hereditária
Também é conhecida como hipertensão arterial pulmonar familiar, que se trata de uma doença de caráter
genético e hereditário, seja por herança familiar, seja por mutações genéticas (mesmo quando ausentes
antecedentes familiares). Sabe-se que neste tipo de hipertensão arterial pulmonar estão associadas
alterações nos genes bone morphogenetic protein receptor type 2 (BMPR-2), ALK1, endoglina, Smad9, CAV
1 e KCNK3.
• Hipertensão induzida por drogas e outras toxinas
Associada ao uso dos inibidores do apetite (aminorex) ou da fenfluramina, dasatinib utilizado no tratamento
da leucemia mieloide crônica. É importante ressaltar ao indivíduo exposto a esse tipo de medicações a
possibilidade de adquirir hipertensão pulmonar e seus sintomas clínicos para que seja tratado o quanto
antes possível.
• Hipertensão relacionada a doenças sistêmicas
A HAP pode estar vinculada a doenças do tecido conectivo, por exemplo, a esclerose sistêmica, o lúpus
eritematoso sistêmico, e dentre suas complicações crônicas está a hipertensão arterial pulmonar. Com isso,
é de suma importância que indivíduos diagnosticados com essa doença façam o rastreamento adequado
de suas complicações para que o tratamento inicie o mais rápido possível, de forma a diminuir a
mortalidade em decorrência das consequências graves.
• Hipertensão porto-pulmonar
Este tipo de hipertensão arterial pulmonar tem relação com a presença de pressão aumentada no sistema
portal, independentemente do estado de gravidade da doença hepática de base. A doença pode afetar
principalmente indivíduos que foram submetidos a transplante hepático, já que o diagnóstico precoce
melhora o desfecho clínico destes pacientes.
• Hipertensão arterial pulmonar vinculada à doença cardíaca congênita
Com o avanço das intervenções e terapêuticas aplicadas para o tratamento das doenças cardíacas
congênitas, aumentou o número de pacientes que chegam à idade adulta e podem desenvolver HAP.
• Esquistossomose
É uma doença infecciosa que, entre suas complicações crônicas graves tem a HAP, devido a seu quadro de
acometimento hepatoesplênico. Apesar de possuir grandes semelhanças com outras formas de HAP, o
diagnóstico distinto de tratamento prévio ou análise prévia de esquistossomose é o principal diferencial para
o diagnóstico correto da doença.
• Hipertensão pulmonar provocada por doenças do coração esquerdo
Esta doença caracteriza-se por elevação da pressão arterial pulmonar em decorrência a alterações valvar
e/ou ventricular esquerda. Tal aumento causa, consequentemente, crescimento retrógrado da pressão do
átrio esquerdo e, por fim, da pressão na circulação pulmonar.
• Hipertensão associada à infecção por HIV
Pacientes contaminados com HIV compõem um grupo com risco elevado para o desenvolvimento da
hipertensão arterial pulmonar.
• Hipertensão pulmonar causada por doença pulmonar e/ou hipóxia
Neste tipo de HAP, existe relação direta com uma enfermidade prévia no sistema respiratório, como DPOC,
doença intersticial pulmonar, doenças respiratórias relacionadas ao sono, hipoventilação alveolar, exposição
crônica a altas altitudes, fibrose cística, bronquiectasias crônicas e fibrose-enfisema.
• Hipertensão pulmonar tromboembólica crônica
Pode acometer indivíduos que sofreram com tromboembolismo pulmonar (TEP) agudo, fator este que
predispõe o desenvolvimento do tromboembolismo pulmonar crônico hipertensivo. Seu tratamento é
cirúrgico, através da realização de uma tromboendarterectomia; considerado na maioria das vezes um
tratamento curativo neste grupo de doença.
• Hipertensão pulmonar com mecanismos multifatoriais ou não esclarecidos
Está incluída no grupo doenças que geram, entre outras consequências clínicas, hipertensão arterial
pulmonar, entre elas: sarcoidose, doenças hematológicas, mediastinite fibrosante, histiocitose de células de
Langerhans etc.
Doenças pulmonares de origem vascular
Hemorragia pulmonar:
As síndromes pulmonares hemorrágicas são designadas como: hemorragia
pulmonar, hemorragia alveolar (HA), hemorragia intraparenquimatosa pulmonar,
hemorragia microvascular difusa do pulmão, entre outras. Entretanto, são termos
que designam, amplamente, sangramentos que se originam na microvasculatura
pulmonar, seja em arteríolas, capilares e vênulas, que muitas vezes envolvem a
membrana alvéolo pulmonar.
Do ponto de vista de diagnóstico e tratamento, pode-se dividir as hemorragias
alveolares difusas em dois grandes grupos:
• Associadas à capilarite pulmonar: granulomatose de Wegener, poliangeíte microscópica, síndrome
antifosfolípide, crioglobulinemia mista, glomerulonefrites, indução por drogas e redução aguda em
transplante de órgãos.
• Relacionadas à capilarite: correlatadas a quadros de hemossiderose pulmonar idiopática, lúpus
eritematoso sistêmico, síndrome de Goodpasture, lesão alveolar difusa, estenose mitral, doenças veno-
oclusivas e hemangiomatose.
Seus sinais e sintomas expressam-se através de dispneia, tosse, hipoxemia, aumento do gradiente
alvéolo-arterial, hemoptise, febre, dor torácica, anemia e infiltrado alvéolo-intersticial em imagem
radiológica.
Derrame pleural:
Trata-se de uma doença que ocorre no acúmulo anormal de líquido na
cavidade pleural, que é o espaço virtual entre as pleuras visceral e parietal,
que deslizam uma sobre a outra e são separadas por uma fina película de
líquido.
A formação do derrame pleural envolve um ou mais mecanismos capazes
de aumentar ou de diminuir a saída de líquido no espaço pleural. Tais
dispositivos podem ser:
• aumento da pressão hidrostática, na microcirculação sistêmica;
• diminuição da pressão oncótica, plasmática;
• aumento da permeabilidade capilar, pleural;
• diminuição da pressão no espaço pleural.
Entretanto, o líquido acumulado no derrame pleural pode ser classificado como transudato ou exsudato.
Esta diferenciação é muito importante durante o diagnóstico, pois os seus agentes causadores são
diferentes, o que altera a terapêutica. Para realizá-la, a proposta mais adequada é a de Light, ilustrada do
quadro a seguir:
As principais causas que acarretam a presença de transudato no derrame pleural são os quadros de:
insuficiência cardíaca congestiva, embolia pulmonar, atelectasias, hipoalbuminemia, diálise peritoneal,
cirrose hepática, síndrome nefrótica, glomerulonefrites e neoplasias.
Já os exsudatos pleurais serão encontrados principalmente nos quadros de: neoplasias (metastáticas e
mesotelioma), doenças infecciosas (infecção bacteriana, tuberculose, infecções por fungos, parasitas e
vírus), tromboembolia pulmonar, doenças cardíacas (após cirurgia de revascularização do miocárdio,
doenças do pericárdio, cirurgia de aneurisma da aorta), doenças gastrintestinais (pancreatite, perfuração
de esôfago, abscesso subfrênico/intra-hepático/esplênico), colagenoses e outras condições infecciosas
(artrite reumatoide, lúpus eritematoso sistêmico) e drogas (metotrexato, interleucina 2, amiodarona).
Para o diagnóstico do derrame pleural, utilizam-se:
- técnicas de exame físico (inspeção, palpação, percussão e ausculta);
- raios X;
- toracocentese (retirada do líquido com anestesia local, com o uso de seringa);
- tomografia computadorizada;
- ultrassonografia.
Patologias do tubo digestivo
O sistema gastrointestinal tem a função de gerenciar as funções do organismo. Seguem as patologias do
tubo digestivo.
HDA varicosa
As varizes esofágicas são dilatações das veias localizadas nos plexos submucoso e periesofágico nas
porções média e distal do esôfago, próximas do estômago. Geralmente seu aparecimento é secundário à
hipertensão porta ou hipertensão portal (HP), condição na qual o fluxo pelo sistema porta intra-hepático
fica comprometido e o sangue venoso, que deveria retornar diretamente para o coração, reflui para as
vias hepáticas e é liberado no fígado através da veia porta; trata-se de uma síndrome caracterizada pelo
aumento da pressão venosa em níveis acima dos fisiológicos. Disfunções que impedem o fluxo podem
ser ocasionadas por doenças que levam à hipertensão porta e consequentemente ao desenvolvimento
das varizes esofágicas.
Comumente associada à hepatite alcoólica, a esquistossomose hepática, menos frequente, é a sua
segunda maior causa; também trombose da veia hepática (síndrome de Budd-Chiari), trombose da veia
porta e compressão da veia porta por tumores são causas das varizes do esôfago.
Embora os fatores que levam à ruptura das varizes não estejam bem definidos, há diversos mecanismos
que podem provocar hemorragias: primeiramente citamos o ingurgitamento dos vasos e sua
proximidade à mucosa da superfície do esôfago, que estão sujeitos a traumas e rupturas por alimentos
ásperos e sólidos; a condição fisiológica das paredes das varizes de espessura delgada as tornam frágeis
e suscetíveis a rupturas; o aumento súbito da pressão venosa hidrostática associada ao vômito e aos
seus esforços; erosão péptica ou ulcerações da mucosa por refluxo do conteúdo gástrico, pois as varizes
alteram a atividade do esfíncter gastroesofágico; em cirróticos, trombocitopenia e hipoprotrombinemia,
que alteram a hemostasia e contribuem para os sangramentos mais graves, entre outros fatores.
Contudo, as hemorragias decorrentes da ruptura das varizes esofágicas deverão ser tratadas como
emergência médica e submetidas a uma série de intervenções com métodos medicamentosos como
escleroterapia por injeção endoscópica de agentes trombolíticos, drogas vasoativas, cirúrgicos, colocação
de balão endoscópico tamponado ou ligação elástica endoscópica. A dieta deverá ser restituída o mais
precocemente possível, 24 horas após a estabilização do sangramento.
Lacerações
Síndrome de Mallory-Weiss é representada por lacerações lineares e longitudinais, de
até 4 cm de extensão (em média 1,5 cm) e 2 a 3 mm de largura, na maioria das
vezes restritas à mucosa da junção esofagogástrica, as quais raramente se aprofundam até a
submucosa.
Em cerca de 75% dos casos, a lesão limita-se à região cárdica do estômago; nos restantes, atinge a
junção esofagogástrica ou apenas o esôfago. A lesão é mais comum no gênero masculino (75%) e ocorre
em qualquer idade.
Embora mais frequente em alcoólatras, após uso de ácido acetilsalicílico ou em
pacientes com hérnia de hiato, a doença surge também após vômitos ou esforços
de qualquer natureza. A lesão foi descrita após traumatismo abdominal, tosse,
defecação, gastroscopia, levantamento de peso e reanimação cardíaca.
Normalmente, o relaxamento reflexo da musculatura gastroesofágica precede a
onda contrátil antiperistáltica associada ao vômito. Especula-se que este
relaxamento fracasse durante o vômito prolongado, fazendo com que conteúdos
do refluxo gástrico recubram a abertura gástrica e levem a parede esofágica a se esticar e a se romper.
Na maioria dos casos, a síndrome acha-se associada a outras lesões também causadoras de hemorragia
digestiva, como esofagites, varizes esofágicas, lesões agudas da mucosa gastroduodenal, gastrites e
úlcera péptica. Embora para muitos o álcool seja o elemento iniciador da síndrome, outros admitem que
as lesões possam desencadear crises de vômitos, as quais seriam responsáveis pelas lacerações.
A manifestação mais importante é a hematêmese (85% dos pacientes), nos casos
clássicos precedida de vômitos ou esforços (afecção é causa de 10 a 15% das
HDAs).
Em 80% dos eventos, as lacerações não requerem intervenção cirúrgica, a
cicatrização e a cura tendem a serem rápidas e completas entre 48 e 72h.
Doença diverticular do cólon
Por definição, diverticulose, de etiologia idiopática, em geral, é a
existência de bolsas, cuja formação é externa à mucosa e submucosa
colônica através da camada muscular do cólon, denominados
divertículos colônicos, em que a disposição das artérias nutrientes no
cólon, com o aumento da pressão intraluminal no cólon sigmoide,
contribui para a ocorrência dos divertículos colônicos.
A diverticulose é uma doença adquirida, comum entre homens e
mulheres, principalmente entre as pessoas idosas acima de 60 anos, e rara entre aquelas abaixo dos 30
anos de idade. Acredita-se que tenha como principal fator etiológico hábitos dietéticos relacionados à
diminuição da ingestão de fibras (legumes, verduras, frutas e grãos) na dieta e ao refinamento da dieta
industrializada.
Como consequência de uma herniação da mucosa do intestino grosso por entre as
fibras musculares da parede intestinal, a diverticulose pode ter um caráter benigno
de evolução e ser totalmente assintomática.
Entretanto, uma pequena parcela dos pacientes portadores de diverticulose pode
expressar sinais e sintomas agressivos, sobretudo dor e/ou desconforto abdominal,
distensão e mudança no hábito intestinal, passando a apresentar a doença
diverticular, que, para confirmação do diagnóstico e identificação das
complicações, pacientes sintomáticos devem ser investigados, sendo submetidos a exames laboratoriais,
exames radiológicos e exame endoscópico (colonoscopia).
A grande maioria dos pacientes com doença diverticular necessita de tratamento clínico baseado
principalmente na correção dos hábitos alimentares e eventualmente no uso de analgésicos para alívio
das dores.
Várias complicações podem advir da doença diverticular, destacando-se a
hemorragia digestiva e a diverticulite, que ocorre em 10 a 25% dos indivíduos
com diverticulose. Ela consiste na presença de inflamação e de infecção de
divertículos colônicos, e pode evoluir para diverticulite não complicada, que,
apresenta peridiverticulite ou flegmão; já a diverticulite complicada resulta em
obstrução intestinal, formação de abscesso, fístula, perfuração com peritonite e
estenose com obstrução colônica.
Enterocolites
É a inflamação do intestino delgado; quando acompanhada de inflamação do cólon, denomina-se
enterocolite. As enterocolites se dividem em: enterocolites infecciosas, enterocolites bacterianas,
enterocolites virais e enterocolite necrosante.
Clinicamente, as enterocolites manifestam-se com diarreia e em geral induzem resposta inflamatória na
mucosa intestinal similar para diferentes agentes etiológicos, razão pela qual a inflamação é muitas vezes
inespecífica.
A enterocolite infecciosa pode se apresentar com uma ampla série de sintomas,
incluindo diarreia, dor abdominal, urgência, desconforto perianal, incontinência e
hemorragia. As infecções bacterianas, tal como a Escherichia coli enterotoxigênica, são
frequentemente responsáveis, mas os patógenos mais comuns variam conforme
idade, nutrição e estado imunológico do hospedeiro, assim como influências
ambientais.
Hemorroidas:
Hemorroidas – varizes anais –, também referida como doença hemorroidária (DH), é a dilatação de vasos
submucosos de parede fina que se projetam abaixo da mucosa anal ou retal, pressão venosa
persistentemente elevada no plexo hemorroidário, uma estrutura venosa normal que se localiza nas
regiões anorretais submucosas.
A DH pode ser categorizada de acordo com a localização anatômica em
internas, que se originam do plexo hemorroidário, cuja dilatação das veias,
situadas de 1,5 a 2 cm acima do esfíncter anal, são recobertas pela mucosa
intestinal e classificadas em graus de acordo com o prolapso do canal anal e
com sangramento; hemorroidas externas são dilatações de veias externas
ao ânus, formadas no plexo hemorroidário inferior, situadas abaixo do
esfíncter anal, sendo recobertas por pele modificada do canal anal e
classificadas em agudas (trombo hemorroidário) ou crônicas (plicomas), e
mistas, aquelas formadas nas extensões internas do canal anal e da região
externa ao ânus, logo os dois plexos estão envolvidos.
A tradicional classificação das hemorroidas internas de acordo com o sangramento e o prolapso do canal
anal são divisões em quatro graus:
Primeiro grau: ocorre apenas o sangramento anal sem prolapso (tecido
hemorroidário não se exterioriza).
Segundo grau: sangramento e prolapso apenas durante o esforço
evacuatório, porém com retorno espontâneo ao interior do canal anal.
Terceiro grau: sangramento e prolapso, requerendo redução manual.
Quarto grau: sangramento e prolapso irredutível, tecido hemorroidário
permanece constantemente prolapsado.
Além de se formarem em consequência do aumento da pressão
venosa no plexo hemorroidário, há influências predisponentes para a
doença; as mais comuns são esforço na defecação por causa da constipação intestinal, estase venosa na
gravidez e inflamações locais.
Entre as características clínicas presentes na DH estão o sangramento retal como um dos principais
sintomas relatados pelos portadores da doença, sendo pouco volumoso e intermitente; dor e/ou
desconforto anal e/ou tenesmo anal, prolapso do mamilo hemorroidário, geralmente aumento crônico do
esforço evacuatório, sensação de esvaziamento incompleto do reto pós-evacuação, presença de muco,
prurido local, irritações e/ou dermatites perianais, entre outros.
Suas complicações mais frequentes são tromboses com ou sem sinais de flebite, estrangulamentos,
hemorragias graves – podem levar a anemias, embora não muito frequentes –, ulcerações com infecção
secundária e abscessos. É comum a associação da DH com outras doenças anais mais incidentes, como
as papilites, as criptites, as fissuras, as fístulas, os prolapsos e os pólipos inflamatórios, porém doenças
mais raras podem estar associadas, como os condilomas anais acuminados, as DSTs anorretais, a
doença de Crohn, os tumores etc.
Isquemia mesentérica:
Ocorre quando a perfusão dos principais órgãos irrigados pela circulação mesentérica (artéria celíaca,
artéria mesentérica superior, artéria mesentérica inferior e ramos colaterais), incluindo intestino delgado,
intestino grosso, estômago, fígado, vesícula biliar e pâncreas, é insuficiente para supri-los em suas
necessidades metabólicas.
Esta insuficiência pode ocorrer por diferentes mecanismos, por exemplo, obstruções arteriais, venosas e
da microcirculação, ou mesmo na ausência de obstrução vascular, quando existe um transtorno
expressivo da perfusão tecidual, como nos casos de insuficiência cardíaca, choque, desidratação e
hipotensão arterial. As lesões intestinais, por sua vez, são consequentes à falta de suprimento sanguíneo
(isquemia) e, também, da reperfusão.
As causas importantes de obstrução arterial incluem aterosclerose grave (geralmente proeminente na
origem das veias mesentéricas), aneurisma aórtico, estado hipercoagulável, uso de contraceptivos orais e
embolização de vegetações cardíacas ou ateromas aórticos. A hipoperfusão intestinal ainda pode estar
associada a falência cardíaca, choque, desidratação ou drogas vasoconstritoras.
A isquemia mesentérica pode ter consequências clínicas graves, causando necrose intestinal com
repercussão sistêmica intensa, acompanhada de sepse, choque, ocorrendo o óbito ou evoluindo com
síndrome do intestino curto. Portanto, o diagnóstico e o tratamento da doença deve ser realizado em
caráter de urgência.
O tratamento é obtido com o restabelecimento do fluxo sanguíneo, seja por meio de tratamento clínico,
cirúrgico, endovascular, seja pela combinação deles.
As síndromes isquêmicas mesentéricas são classificadas de acordo com vários aspectos: quanto à
obstrução do fluxo – oclusivas x não oclusivas, quanto à apresentação da sintomatologia – aguda x
crônica e quanto à sua origem vascular – arterial x venoso.
A isquemia mesentérica aguda é caracterizada por alterações súbitas do fluxo sanguíneo ao intestino
que são provocadas pela obstrução da artéria mesentérica superior. O infarto é causado por embolia
arterial, trombose arterial aguda ou trombose venosa mesentérica. A revascularização do intestino deve ser
realizada até 6 a 8 horas após o início dos sintomas, quando a isquemia é reversível, a fim de evitar a
progressão para a necrose intestinal.
A isquemia mesentérica crônica é uma entidade rara. Ela se apresenta com sintomas inespecíficos, por
exemplo, dor pós-prandial abdominal, medo de comer, perda de peso e diarreia. Pacientes sintomáticos
não tratados podem evoluir para desnutrição grave e morte devido a complicações sépticas da isquemia
mesentérica. Sua causa mais comum é a aterosclerose, embora possa haver outros motivos como displasia
fibromuscular, trauma, dissecção mesentérica, aneurisma, poliarterite nodosa, e doença de Takayasu.
Cirrose hepática
Fígado Cirrose
É uma inflamação crônica do fígado caracterizada pela formação de normal
nódulos e tecido fibrótico, que dificultam o trabalho do fígado.
É o estágio final comum de uma grande variedade de doenças de
causas diversas, sobretudo alcoolismo, hepatites virais (sendo hepatite
B e C as mais comuns), e autoimunes, além de processos de natureza
metabólica e vascular.
A cirrose, como estágio final da doença hepática crônica, é definida por três características morfológicas
principais: fibrose em ponte dos septos, nódulos parenquimatosos e desorganização da arquitetura de
todo o fígado.
Sua origem depende da inter-relação de três elementos fundamentais; necrose hepatocelular,
proliferação de componentes do tecido conjuntivo (fibrose e neoformação de vasos) e regeneração
hepatocitária.
Quando sintomáticos, apresentam manifestações clínicas inespecíficas: anorexia, perda de peso,
fraqueza, e, na doença avançada, sinais e sintomas de insuficiência hepática.
A perda da função hepática afeta o organismo de diversas maneiras, sendo problemas comuns ou
complicações causadas pela cirrose: edema e ascite, sangramentos, icterícia, prurido, toxinas no sangue
ou cérebro, sensibilidade às medicações, hipertensão portal, varizes de esôfago e problemas em outros
órgãos, por exemplo, insuficiência renal.
Hipertensão Portal
Aumento da resistência ao fluxo sanguíneo portal.
Pode desenvolver-se em uma variedade de circunstâncias, que se dividem em causas pré-hepáticas,
intra-hepáticas e pós-hepáticas. As principais condições pré-hepáticas consistem em trombose
obstrutiva, estreitamento da veia porta antes da ramificação no interior do fígado ou esplenomegalia
maciça com aumento do fluxo sanguíneo venoso esplênico.
Na esplenomegalia ocorre o aumento significativo do baço, causando uma
sensação de desconforto no quadrante superior esquerdo e, através da
pressão no estômago, provoca desconforto depois da alimentação, além
de aumentar o risco de rompimento do órgão após trauma. Pode ter
manifestações consequentes ao hiperesplenismo, como leucopenia,
trombocitopenia e anemia, e ser responsável por queixas relacionadas à
anemia e aos sangramentos.
Na esplenomegalia congestiva há a obstrução crônica do fluxo de saída
venosa, gerando uma forma de dilatação esplênica. A cirrose é a principal causa da esplenomegalia
congestiva.
Diferentemente de outros órgãos do sistema hemolinfopoiético, a abordagem do baço por biópsia para a
confirmação da doença é difícil pelos riscos de ruptura e hemorragia. Desta forma, em esplenomegalias
sem causa conhecida, quase sempre é necessária a esplenectomia para o diagnóstico definitivo da
patologia.
Ascite
É o acúmulo de líquido (transudato ou exsudato seroso) na cavidade
peritoneal, cuja principal função é a proteção da cavidade abdominal,
lubrificando a região e reduzindo o atrito entre os órgãos, permitindo
melhor mobilidade durante o processo da digestão.
O aspecto e a composição do líquido variam de acordo com o motivo,
podendo se apresentar com aparência leitosa, quando há ruptura ou
obstrução do ducto torácico e a ascite passa a ser denominada quilosa.
O composto líquido seroso possui menos de 3g/dl de proteína, em grande parte albumina e uma parte de
soro, que varia entre 1,1 g/dl. Ainda há um percentual de solutos, como sódio, potássio e glicose, cuja
concentração é semelhante à do sangue.
Na maioria das vezes, cerca de 80 a 90% dos casos de ascite são secundários à cirrose hepática, sendo
que aproximadamente 50% dos pacientes com cirrose compensada desenvolvem ascite em um período
de dez anos, quando observados.
É de extrema importância o diagnóstico precoce da ascite, uma vez que, além das formas benignas da
doença, que possuem bons prognósticos, existem aquelas que, no entanto,
expressam patologias agressivas com alto potencial de letalidade, mas quando
descobertas no início indicam chances de cura.
A ascite em estágios iniciais não exibe sintomas, é diagnosticada apenas por
exames de imagem, principalmente a ecografia, que é realizada em pacientes
cirróticos; por isso, além da história clínica e do exame físico, a análise do líquido
ascítico é o melhor método para definição diagnóstica.
Entre os tratamentos para a ascite estão a abstinência do álcool (em casos de
cirrose hepática), uma vez que tal prática diminui os danos ao fígado, podendo
reduzir a hipertensão portal; restrição de sódio e água, sendo este último nos casos de hiponatremia
severa; tratamento com diuréticos, quando a ascite for secundária à hipertensão portal; e paracentese
abdominal, procedimento médico que consiste na introdução de uma agulha no abdome para a extração
do líquido ascítico.
Icterícia
Icterícia é definida como coloração amarelada da pele, das mucosas e
dos fluídos corporais, devido ao aumento dos níveis plasmáticos de
bilirrubina no organismo (hiperbilirrubinemia).
Os níveis de bilirrubina necessários para desenvolver icterícia variam de
acordo com a cor da pele de cada indivíduo; em pessoas claras ela é
clinicamente detectada quando a concentração sérica de bilirrubina total
gira em torno de 2,5 mg/dL a 3 mg/dL, uma vez que o valor normal varia
de 0,3 a 1,0 mg/dL. No período neonatal mudam os níveis de bilirrubina
para diagnóstico de icterícia, que é um dos problemas mais frequentes
desta fase; a hiperbilirrubinemia é definida como a concentração sérica
de bilirrubina indireta (BI) – maior que 1,3 a 1,5 mg/dL, ou de bilirrubina direta (BD) – superior a 1,5 mg/dL,
desde que ela represente mais do que 10% do valor de bilirrubina total (BT).
A excreção da bilirrubina é manifestação clínica de inúmeras doenças hepáticas e
não hepáticas, podendo ser o primeiro ou o único sintoma de hepatopatias. Devido a
tais fatores, é de suma importância que o paciente seja examinado em ambiente
com luz natural, uma vez que ela favorece o procedimento que deve ser realizado
com destreza, principalmente nos locais onde a icterícia é frequentemente
evidenciada, como conjuntiva ocular, esclera, pele, língua e outras regiões que
possuem elastina, devido à grande afinidade da bilirrubina e capacidade do
pigmento biliar se alojar nos tecidos. Ainda, alguns fluidos como urina, lágrima, suor,
sêmen e leite podem apresentar coloração amarela em estágios avançados por
causa do acúmulo de bilirrubina conjugada, que refluem para a corrente sanguínea
por obstrução mecânica das vias biliares, resultando na sua incapacidade de chegar
ao intestino para ser excretada.
Colestase
O termo colestase foi introduzido por Popper e Schaffner e significa estagnação de bile no fígado.
Tal interrupção pode ser consequência da obstrução extra-hepática ou intra-hepática de canais biliares
ou ducto hepático comum, bloqueios da secreção de bile pelos hepatócitos, por atresia, cálculos ou
tumores.
Trata-se da principal manifestação da doença hepatobiliar, no recém-nascido (RN), especialmente nos
prematuros. A predisposição à colestase (hipercoleremia fisiológica) é maior, tendo como causa a
imaturidade hepática.
Os pacientes diagnosticados com colestase apresentam icterícia, prurido, xantomas cutâneos (acúmulo
de colesterol nas dobras e áreas de atrito da pele), má absorção intestinal com deficiências nutricionais
das vitaminas lipossolúveis A, D ou K, colúria (urina escura e com cor referida como sendo parecida com
café, vinho-do-porto ou Coca-Cola, apresentando espuma amarela), hipocolia (fezes claras por conta da
ausência ou baixa excreção de bilirrubina) ou acolia (fezes esbranquiçadas por conta da ausência ou
baixa excreção de bilirrubina) fecal ; este último geralmente em atresia biliar extra-hepática.
A definição diagnóstica é através de exames laboratoriais, exames de imagem, e muitas vezes biópsia
hepática; é um procedimento invasivo que não constitui o método padrão para o diagnóstico
pré-operatório de uma doença hepática, principalmente quando realizado em crianças.
Complicações da insuficiência hepática
As insuficiências hepáticas podem trazer diversas complicações, teremos a seguir alguns exemplos.
Hepatite A:
- O vírus da hepatite A (VHA) ocasiona uma infecção causada por um vírus RNA classificado como sendo da
família Picornavírus.
- É transmitida por via fecal-oral.
- Atinge mais frequentemente crianças e adolescentes.
- Os indivíduos afetados por esta infecção apresentam sintomas inespecíficos, como fadiga e perda do
apetite, e frequentemente desenvolvem icterícia.
- O tratamento mais eficaz para prevenir a infecção é a vacina contra o VHA.
Hepatite B:
- O vírus da hepatite B (VHB) é o único vírus de DNA reconhecido como causador de hepatite aguda na
espécie humana, podendo ocasionar também hepatite crônica não progressiva e doença crônica
progressiva, terminando em cirrose, hepatite fulminante com necrose hepática maciça e um estado de
portador assintomático. A doença hepática crônica induzida pelo VHB é um precursor importante para o
desenvolvimento de carcinoma hepatocelular.
- Os principais mecanismos envolvidos na transmissão do VHB estão relacionados à exposição percutânea
de sangue e seus derivados, transmissão perinatal (vertical) e transmissão sexual. Outros mecanismos de
transmissão seriam em ambientes fechados onde ocorram respingos, nas paredes, através de sangue
contaminado pelo VHB, como em unidades de hemodiálise.
- Aproximadamente 70% dos indivíduos com VHB não apresentam sintomas ou eles são leves e não
desenvolvem icterícia. Os demais 30% têm sintomas como anorexia, febre, icterícia e dor no quadrante
superior direito.
- A VHB pode ser prevenida pela vacinação.
Hepatite C:
- O vírus da hepatite C (VHC) é hoje a principal causa de hepatite crônica no mundo todo. Suas altas taxas
de prevalência estão diretamente relacionadas com os chamados grupos de riscos: hemofílicos; pacientes
hemodialisados; receptores de múltiplas transfusões de sangue; recém-nascidos de mães portadoras;
toxicômanos.
- O VHC cursa de forma assintomática (70 a 80%), fazendo com que estes casos sejam raramente
diagnosticados. Aqueles que apresentam sintomas (20 a 30%) o fazem com intensidade menor do que nas
demais formas de hepatites. Sintomas como náuseas, vômitos, mal-estar, fadiga, febre e icterícia podem
marcar a hepatite C.
- Apesar das múltiplas tentativas, ainda não há vacina contra a hepatite C, tampouco uma profilaxia eficaz
pós-exposição. A redução da infecção (e das doenças a ela relacionadas) requer a implementação de
atividades de prevenção primárias e secundárias. As primárias, para reduzir a incidência da infecção; as
secundárias, para diminuir o risco de hepatopatia e de outras doenças entre os portadores do VHC.
Hepatite D:
- O vírus da hepatite D (VHD), considerado um mutante de viroides vegetais, depende do envoltório do VHB
para sua replicação e expressão.
- Sua transmissão é via parenteral, percutânea, sexual e perinatal.
- O VHD é detectável no sangue e no fígado imediatamente antes e nos primeiros dias de doença
sintomática aguda.
- O tratamento da infecção por VHD é limitado aos agentes antivirais.
Hepatite E:
- O vírus da hepatite E (VHE) é uma infecção de transmissão entérica, pela água, que ocorre primariamente
em adultos jovens até meia-idade; infecção esporádica e doença manifestada são raras em crianças.
- Um aspecto característico da infecção por VHE é a alta taxa de mortalidade entre gestantes, chegando a
20%.
- Na maioria dos casos, a doença é autolimitada; ele não está associado à doença hepática crônica ou
viremia persistente.
- Antes do início da doença clínica, o VHE pode ser detectado por PCR nas fezes e no soro.
- O período de transmissibilidade ocorre duas semanas antes do início dos sintomas até o fim da segunda
semana da doença.
Hepatopatia alcoólica
A hepatite alcoólica, isto é, doença Hepática Alcoólica
(DHA), ou ainda esteato-hepatite alcoólica, é a hepatopatia
induzida pelo consumo abusivo de álcool (etanol), que leva
à degeneração do fígado.
Além da DHA, o alcoolismo crônico pode apresentar
padrões de doenças hepáticas em um amplo espectro,
como esteatose, cirrose hepática descompensada e
carcinoma hepatocelular. As doenças alcoólicas estão
entre as mais importantes no mundo, uma vez que o álcool pode afetar os mais diversos órgãos e
sistemas, lesionando-os.
A hepatopatia alcoólica é provocada por uso abusivo e prolongado de etanol, não necessariamente
dependência, e é associada a outros fatores predisponentes, genéticos e ambientais (nutrição, VHB e
VHC etc.).
O etanol é absorvido rapidamente pelo trato gastrointestinal e
distribuído nos tecidos, menos de 10% são eliminados pelos
pulmões e rins, todo o restante é oxidado no fígado, tornando-se
assim o órgão mais afetado.
Na hepatite alcoólica umas manifestações podem ser discretas
enquanto outras muito graves, como a insuficiência hepática. O
quadro clínico da doença apresenta sintomas como anorexia,
perda de peso, dor, desconforto abdominal, aumento das enzimas
hepáticas e, em alguns casos, febre, tremores, colestase,
leucocitose etc., assim designando a afecção como hepatite aguda alcoólica; isso ocorre porque suas
características resultam das lesões do álcool no organismo transformado em ácidos nocivos às células
hepáticas.
O diagnóstico da doença deve se basear em anamnese, exame físico, exames por imagens, exames
histológicos e abstinência alcoólica, que pode resolver o caso para alguns pacientes, enquanto para
outros não impede a progressão para cirrose.
Trata-se de uma doença grave que pode levar o paciente ao coma e ao óbito. Seu tratamento pode ser
subdividido em específico e não específico. A abstenção total de bebidas alcoólicas pode diminuir a
insuficiência hepática, melhorar o prognóstico e as lesões histológicas, reduzir a pressão portal e a
progressão para a cirrose, contudo só é efetiva através do tratamento da dependência etílica, da
correção da desnutrição, dos distúrbios hidroeletrolíticos e metabólicos, das deficiências vitamínicas e de
ácido fólico; o repouso é uma medida que pode contribuir de modo geral nas formas descompensadas da
DHA, como ascite, icterícia ou encefalopatia. Embora não tenha sido demonstrado como terapêutica
eficaz, ainda há o tratamento dos sintomas com o uso de analgésicos, se necessário.
Hepatopatias metabólicas
Estudaremos a seguir os tipos mais comuns de hepatopatias metabólicas.
Hemocromatose:
Hemocromatose é o excesso de ferro no organismo.
A hemocromatose (também conhecida como hemocromatose primária ou hereditária) é um distúrbio
hereditário homozigoto recessivo causado por absorção excessiva de ferro, resultando em
armazenamento excessivo deste elemento, com dano estrutural e funcional, no fígado, no pâncreas, no
coração, nas articulações, nas gônadas e em outros órgãos.
O gene responsável pela hemocromatose é o HFE, que codifica uma molécula similar à MHC classe I, a
qual regula a absorção do ferro da dieta. Defeito no gene HFE resulta em perda da regulação e, portanto,
em absorção excessiva de ferro.
O início da doença é insidioso, com sintomas inespecíficos, que incluem astenia, letargia, fadiga,
artralgias, perda da libido ou impotência sexual entre os homens e amenorreia entre as mulheres. A
hepatomegalia está presente em cerca de 95% dos pacientes sintomáticos e geralmente precede o
desenvolvimento de sintomas ou alterações dos testes de função hepática.
Com o decorrer do tempo, outros sintomas e sinais aparecem, tais como: dor
abdominal, Diabetes mellitus, anormalidades endócrinas, manifestações cardíacas,
hiperpigmentação cutânea (pigmentação da pele desigual), artropatia
hemocromatótica, sinais de insuficiência hepática, crônica e predisposição a
infecções.
A hemocromatose pode ser diagnosticada muito antes da ocorrência de dano tissular irreversível. A
pesquisa envolve a demonstração de níveis muito elevados de ferro sérico e ferritina, exclusão de causas
secundárias de sobrecarga de ferro e biopsia hepática se indicada, sendo que a triagem dos familiares é
de suma importância. Atualmente, a maioria dos pacientes com hemocromatose é diagnosticada no
estágio subclínico, pré-cirrótico, devido a medidas de rotina do ferro sérico (como parte de outras
avaliações diagnósticas).
O tratamento deve ser instituído o mais precocemente possível, pois em fases em que ainda não há
lesões irreversíveis de órgãos a expectativa de vida é normal. O tratamento tem como base a realização
de sangrias. A frequência delas vai depender da gravidade do caso e da tolerância do paciente ao
procedimento. Preconiza-se a realização de sangrias de 350-450 ml (retirada de 200-250 mg de ferro),
uma a duas vezes por semana, com o objetivo de atingir valores de ferritina <50 μg/L e de saturação de
transferrina <30%.
O tempo para se atingir tais valores pode ser longo, demorando de dois a três anos. Após alcançar estes
valores, as sangrias devem ser espaçadas para uma sessão a cada dois ou três meses, mantendo-se os
valores de ferritina <100μg/L e de saturação de transferrina <50%.
Quanto mais precoce o início do tratamento, melhor, pois pode prevenir lesões nos órgãos e melhorar a
sobrevida. Algumas lesões, uma vez estabelecidas, não podem ser revertidas, embora sua progressão
possa ser diminuída. Incluem-se, neste caso, a cirrose, o hipogonadismo, a artrite destrutiva e o diabetes
insulinodependente.
Hepatopatias congênitas
Destacaremos a seguir os tipos mais comuns de hepatopatias congênitas.
Colelitíase
Colelitíase é o termo usado para denominar os cálculos da vesícula, sendo
a doença mais prevalente do trato biliar.
Existem dois tipos principais de cálculos da vesícula, os cálculos de
colesterol, contendo mais de 50% de colesterol cristalino monoidratado e
os cálculos pigmentares, compostos predominantemente de sais de cálcio
de bilirrubina.
Os cálculos podem ser pequenos como um grão de areia e
grandes como uma bola de golfe. Na vesícula podem se
desenvolver apenas um grande cálculo, centenas de cálculos
pequenos, ou qualquer combinação deles.
Os fatores de risco mais comumente associados ao
desenvolvimento de cálculos da vesícula são: idade acima de 60
anos, sexo feminino, elementos ambientais, distúrbios adquiridos,
fatores hereditários, obesidade, gestações, perda rápida de peso, Diabetes mellitus, dieta rica em gordura
e colesterol e pobre em fibras.
Na minoria dos casos, os cálculos podem obstruir o fluxo normal de bile se eles se alojarem em qualquer
dos ductos que levam a bile do fígado ao duodeno. Isto inclui os ductos hepáticos, que trazem a bile do
fígado; o ducto cístico, que conduz bile à vesícula e pelo qual ela se esvazia; e o ducto biliar comum (ou
colédoco), que transporta a bile ao duodeno. Se qualquer destes ductos persistirem bloqueados por um
período significante de tempo, pode ocorrer a infecção das estruturas do sistema biliar; o que talvez seja
grave e até mesmo fatal. Sinais de alarme de problemas séricos são febre, icterícia e dor persistente.
Clinicamente, a maioria dos pacientes com colelitíase é assintomática. A
principal manifestação é a cólica biliar, em consequência, sobretudo de
obstrução das vias biliares por cálculo impactado; colecistite associada
também contribui para a dor.
Muitos pacientes queixam-se de dor no hipocôndrio direito e
intolerância a alimentos gordurosos. A ultrassonografia é o método de
escolha para seu diagnóstico, pois detecta virtualmente todos os
cálculos maiores que 3 mm de diâmetro.
Colecistite
A colecistite calculosa aguda é uma inflamação aguda da vesícula biliar,
precipitada em 90% das vezes por obstrução do colo ou do ducto cístico.
Esta é a complicação primária dos cálculos biliares e o motivo mais comum
para colecistectomia de emergência. A colecistite sem cálculos, chamada
de colecistite acalculosa, pode ocorrer em pacientes com doenças graves
e representa aproximadamente 10% dos pacientes com colecistite.
Além de obstrução por cálculo impactado e contaminação secundária por
bactérias (por exemplo, Escherichia coli, enterococos e alguns anaeróbios),
a ação de fosfolipases do epitélio gera lisolecitina, a qual altera a camada
de muco protetora da mucosa e expõe o epitélio à ação de sais biliares.
Liberação de prostaglandinas também contribui para a inflamação.
Em 10% dos pacientes, colecistite aguda não é acompanhada por litíase.
Nestes casos, a inflamação parece ser precipitada por isquemia. As
principais condições associadas são traumatismos graves, cirurgias, parto, queimaduras, doenças
sistêmicas (por exemplo, Diabetes mellitus, câncer), transfusões sanguíneas múltiplas, septicemia,
obstrução da vesícula biliar não calculosa (carcinoma, fibrose, anomalia congênita) e artrites.
O paciente não costuma mostrar sintomas prévios de uma doença da vesícula biliar, até que
experimenta dor repentina e agudíssima na parte superior do abdome, podendo surgir febre de origem
desconhecida, leucocitose e hiperamilasemia (hiperamilasemia), sem dor ou sensibilidade no hipocôndrio
direito.
A colecistite crônica pode ser uma sequela de surtos repetidos de colecistites agudas leve à severa, mas,
em muitos casos, se desenvolve na ausência aparente de ataques antecedentes. Uma vez que está
associada à colelitíase em mais de 90% dos casos, as populações de pacientes são as mesmas
observadas para os cálculos de vesícula.
Os sintomas da colecistite calculosa crônica são semelhantes aos da forma aguda e variam desde cólica
biliar até uma dor indolente no quadrante superior direito e desconforto epigástrico.
A colecistite crônica não apresenta as manifestações notáveis das formas agudas e geralmente é
caracterizada por ataques recorrentes de dor estáveis ou em cólica no epigástrio ou no quadrante
superior direito. Náusea, vômitos e intolerância a alimentos
gordurosos são acompanhantes frequentes.
O diagnóstico de colecistite aguda e crônica é importante pelas
seguintes complicações: superinfecções bacterianas com
colangite ou sepse, perfuração da vesícula biliar e formação local
de abscesso, ruptura da vesícula com peritonite difusa, fístula
entérica biliar (colecistérica), com drenagem de bile nos órgãos
adjacentes, entrada de ar e bactérias na árvore biliar e possível
obstrução intestinal induzida por cálculo (íleo), agravamento de
condições médicas preexistentes, com descompensação cardíaca, pulmonar, renal ou hepática e
vesícula em porcelana com maior risco de câncer.
Pancreatites
Pancreatites são as inflamações que atingem o pâncreas.
Pancreatite aguda:
A pancreatite aguda é uma lesão reversível do parênquima pancreático
associada à inflamação. As doenças dos tratos biliares e o alcoolismo são
responsáveis por aproximadamente 80% dos casos da doença. Os
cálculos estão presentes entre 35 a 60% dos eventos de pancreatite
aguda, e cerca de 5% dos pacientes com cálculos biliares desenvolvem
pancreatite.
Trata-se de uma doença desencadeada pela ativação anômala de enzimas pancreáticas e liberação de
uma série de mediadores inflamatórios, cuja etiologia corresponde, em cerca de 80% das situações, à
doença biliar litiásica ou à ingestão do álcool.
A magnitude das lesões pancreáticas, geralmente, correlaciona-se com a gravidade da doença, podendo
classificá-la em branda ou grave. Na forma branda, que inclui a grande maioria dos casos, as
manifestações cursam com mínima repercussão sistêmica, que melhora com a reposição de líquidos e
eletrólitos. Por outro lado, na forma grave, além das complicações locais, há falência de órgãos e
sistemas distantes, o que, via de regra, não responde às medidas iniciais e pode ter duração de semanas
ou meses.
A pancreatite aguda geralmente começa com dor no abdome superior e pode durar por poucos dias. A
dor se acentua e se torna constante – só no abdome – ou se irradia
para as costas e outras áreas. Ela pode ser súbita e intensa ou
começar como uma dor fraca, que se torna pior durante a ingestão do
alimento. Outros sintomas relacionados são: abdome distendido e
sensível, náuseas, vômitos, febre, pulso rápido; nos casos graves
podem causar desidratação e queda da pressão sanguínea.
A dor abdominal é a principal manifestação da pancreatite aguda.
Caracteristicamente, a dor é constante e intensa, sendo muitas vezes
referida na parte superior das costas, e ocasionalmente está associada a uma dor no ombro esquerdo.
Sua gravidade pode variar de leve e desconfortável à grave e incapacitante.
As consequências e complicações da pancreatite aguda são: hipertensão arterial, choque, dano alveolar
difuso (Sara), coagulação intravascular disseminada, insuficiência renal aguda, abscesso pancreático,
pseudocisto e obstrução duodenal e do colédoco (icterícia).
As bases do tratamento são o suporte clínico e a suspensão da ingesta oral, já que ainda não há
tratamento específico para a pancreatite. O suporte clínico consiste em manutenção da perfusão tecidual
através de reposição volêmica vigorosa e manutenção da saturação de oxigenação, analgesia e suporte
nutricional.
Pancreatite crônica:
A pancreatite crônica é definida como uma inflamação do pâncreas com destruição irreversível do
parênquima exócrino, presença de fibrose, e, na fase tardia, destruição do parênquima endócrino. De
acordo com a extensão das lesões, pode ser classificada como discreta, moderada ou grave.
Habitualmente, evolui com quadro doloroso abdominal e insuficiência pancreática, acompanhada ou não
de crises repetidas de pancreatite aguda.
A maioria das pessoas com pancreatite crônica tem dor abdominal, algumas delas não apresentam
sintomas. A dor pode tornar-se pior ao beber ou comer, espalhando-se para as costas ou tornando-se
constante e incapacitante. Em certos casos, a dor abdominal desaparece com a progressão da doença,
provavelmente porque o pâncreas não está mais produzindo enzimas digestivas.
A doença pode se desenvolver totalmente silenciosa, até que a insuficiência pancreática e o Diabetes
mellitus sejam notados; este último devido à destruição das ilhotas de Langherans. Em outros casos,
ataques recorrentes de icterícia ou esporádicos ataques de ingestão podem sugerir doenças
pancreáticas.
Embora comum, o alcoolismo não é a única causa da pancreatite crônica. As principais causas são:
alcoolismo, ducto pancreático estreitado ou bloqueado em virtude de traumatismo ou formação de
pseudocisto, causas hereditárias e idiopáticas.
O objetivo do tratamento do paciente é o alívio da dor para que ela não interfira nas atividades laborais e
na vida familiar. Como regra geral, o controle deve seguir abordagem sequencial e escalonada,
começando com a eliminação de fatores exógenos tóxicos como álcool, seguidos pela suplementação de
enzimas pancreáticas e uso criterioso de analgésicos. A abstinência do consumo de álcool é
imprescindível, especialmente quando este é o pilar da causa da doença, uma vez que a manutenção de
sua ingestão excessiva exacerba o dano pancreático e aumenta a mortalidade.
Pacientes com sintomas persistentes após essa abordagem inicial podem ser candidatos a tratamentos
mais invasivos. Estima-se que até 50% deles desenvolvam sintomas progressivos ou intratáveis
clinicamente e que se tornem, portanto, candidatos ao tratamento cirúrgico A principal indicação
cirúrgica é a dor abdominal intratável. A opção pelo tratamento cirúrgico também é indicada nas
complicações da pancreatite crônica, tais como pseudocistos, fístulas pancreáticas, estenoses,
comprometimento de órgãos adjacentes ou suspeita de neoplasia.
Síndrome Nefrótica
A síndrome nefrótica refere-se a um complexo de sinais clínicos, que incluem:
• Proteinúria massiva, com perda diária de proteínas, em torno de 3,5 gramas ou mais em adultos;
• Hipoalbuminemia com concentrações de albumina plasmática inferiores a
3g/dL;
• Edema generalizado, sendo esta a manifestação clínica mais comum;
• Hiperlipidemia e lipidúria (presença de gordura na urina);
• Os quadros de azotemia (elevação nos níveis dos compostos de nitrogênio no
sangue, por exemplo, ureia, ácido úrico, creatinina e proteínas), hematúria e
hipertensão, no início, raramente são encontradas no indivíduo.
A proteinúria nefrótica é resultado da perda da seletividade proteica da barreira de filtração do capilar
glomerular devido ao dano estrutural (inflamação, deposição de imunocomplexos ou proteínas
paraneoplásicas, apoptose/necrose da célula epitelial, associada ao uso de drogas), e à perda da
integridade de um ou mais constituintes da permeabilidade da parede do capilar glomerular.
Proteinúria, hipoalbuminemia, com exacerbação do edema, hiperlipidemia e excessiva reabsorção
tubular de proteínas, com liberação de enzimas lisossomais, fatores de crescimento, citocinas
pró-inflamação e lesão tubulointersticial renal precipitam a perda do receptivo néfron.
Contudo, a causa da síndrome do nefrótico varia segundo a faixa de idade do indivíduo que foi
acometido, por exemplo, em crianças de 1 a 7 anos de idade, geralmente, ela está associada a uma
lesão primária renal (síndrome nefrótica primária) e, em adultos, as manifestações clínicas renais
ocorrem devido a enfermidades sistêmicas (síndrome nefrótica secundária).
Entre as doenças que predispõem o aparecimento da síndrome estão:
• Doença por câmbios mínimos (ECM): que é frequentemente relacionada às crianças. A manifestação
da ECM é dada através de proteinúria, um borrado na região dos pedicelos glomerulares e ausência de
depósitos de anticorpos.
• Glomeruloesclerose focal e segmentária (GSFS): que pode ter origem primária (quando a lesão
ocorre nos podócitos por um mecanismo ainda desconhecido) ou secundária (consequência clínica, por
exemplo, de uma glomerulonefrite anterior), quando os glomérulos se apresentam com uma obliteração
focal nas luzes dos capilares, com presença de depósitos hialinos e perda dos pedicelos nos podócitos.
• Nefropatia membranosa (NM): produzida por uma resposta imunomediada contra um antígeno renal
desconhecido. Com isso, gera-se a presença de depósitos granulares subepiteliais de anticorpos com
engrossamento de membrana e perda dos pedicelos dos podócitos, com discreta inflamação.
Nas fases iniciais da síndrome nefrótica, as principais complicações estão relacionadas a infecções,
trombose venosa ou arterial e insuficiência renal aguda (IRA). Tais complicações, geralmente, ocorrem
em indivíduos que não respondem ou não realizam a terapêutica indicada para sua doença.
Síndrome Nefrítica
é um complexo conjunto de sinais e sintomas que, inicialmente, produz um quadro agudizado com as
características de:
1) Hematúria, em que as hemácias apresentam-se dismórficas e cilíndricas;
2) Oliguria (baixa produção de urina) e azotemia;
3) Hipertensão;
4) Proteinúria e edema, porém não tão intensos quanto na síndrome nefrótica.
Esta patologia é caracterizada por lesões que causam a proliferação de células dentro do glomérulo,
acompanhadas de infiltrado leucocitário. Tal reação inflamatória lesiona as paredes capilares, o que
permite a passagem das hemácias para a urina.
A síndrome nefrítica, diferentemente da nefrótica, pode ser causada por uma infecção. Esta infecção
pode causar:
• Glomerulonefrite pós-infecciosa (pós-estreptocócica) aguda: nela, um dos transtornos
glomerulares que ocorre com mais frequência está ligado ao depósito de imunocomplexos nos glomérulos,
que dão lugar a uma proliferação difusa das células glomerulares residentes e à infiltração frequente por
leucócitos, especialmente os neutrófilos.
• Nefropatia IgA: geralmente afeta crianças e adultos jovens, com episódios de hematúria intensa, que
acontece entre um a dois dias depois de uma infecção inespecífica das vias respiratórias altas. Tem como
característica o depósito de IgA no mesângio.
• Nefrite hereditária: refere-se a um grupo de doenças glomerulares hereditárias que resultam em
mutações. Manifesta-se com hematúria e proteinúria lentamente progressivas, que acabam por deteriorar
a função renal. Os glomérulos parecem normais mesmo quando em fase tardia da doença.
Observação: ao tentarmos diferenciar a síndrome nefrótica da síndrome nefrítica, é essencial nos
lembrarmos que: na primeira existe uma grande e importante perda de proteínas diariamente, enquanto na
segunda tal perda de proteínas quase não ocorre, sendo a principal característica a hematúria.
Pielonefrite
Pielonefrite é uma doença inflamatória infecciosa causada por bactérias que atingem o parênquima renal
e o bacinete (a porção do rim dilatada em forma de funil), sendo caracterizada pela necrose de
supuração. Considera-se uma pielonefrite não complicada se a infecção for causada por um patógeno,
típico em pacientes imunodeprimidos, sem malformação do trato urinário ou distúrbio renal.
Trata-se de uma importante infecção do trato urinário (ITU). A ITU pode afetar o trato inferior, causando
cistites, prostatites, uretrites ou o trato superior, ocasionando pielonefrites, ou o aparecimento de ambos.
Sua patogenia se dá, principalmente, por bacilos entéricos Gram-negativos, muito frequentemente a
Escherichia coli. Outros microrganismos relevantes são do gênero Proteus, Klebsiella, Enterobacter e
Pseudomonas. Os estafilococos e Streptococcus faecalis também podem causar pielonefrites, mas não
são tão frequentes.
Tais microrganismos alcançam os rins através da corrente sanguínea e
por via de infecção ascendente (da infecção do trato urinário inferior
até atingir os rins).
A morfologia na pielonefrite pode afetar um ou ambos os rins, que
terão ou não o seu tamanho alterado. Possui alguns abcessos
delimitados e amarelados de forma macroscópica na superfície renal.
Na sua condição histológica, tem necrose supurativa dentro do
parênquima renal, além de grandes massas de neutrófilos
intratubulares que se estendem até os tubos coletores.
Litíase urinária
A litíase, também conhecida como cálculo, pode ser de vários tipos, porém o mais
comum trata-se dos cálculos de cálcio, que são compostos de oxalato de cálcio, e com
menor frequência, fosfato de cálcio. Há também os cálculos de ácido úrico, estruvita
(fosfato de amônio magnesiano) e cistina. Vale ressaltar que o indivíduo com litíase
urinária pode ser acometido por um cálculo misto.
A litíase urinária é uma doença frequente, que acomete mais homens do que mulheres –
em uma proporção de 2:1 – e pode estar localizada na região de rins, ureter, bexiga e
uretra.
Diversos são os fatores que levam à formação dos cálculos, como ambientais,
climáticos, geográficos, tipo de ocupação, dieta com alto teor de proteínas e sal e baixa
ingestão de água. Além disso, deve-se levar em conta os aspectos genéticos envolvidos,
de modo que, em algumas famílias, encontramos muitos indivíduos acometidos por esta doença.
O dispositivo de ação para os cálculos é complexo e multifatorial. Seu mecanismo fisiopatogênico pode
ter origem em infecções urinárias, anormalidades anatômicas e causas idiopáticas, além de pH urinário,
volume de urina e dieta.
Suas manifestações clínicas são bem singulares, sendo a principal característica a cólica renal, na qual o
indivíduo apresenta uma dor de caráter intenso, do tipo cólica, de início súbito e que se localiza na região
lombar e irradia para o flanco e órgãos genitais.
Os cálculos de cálcio estão associados a alterações bioquímicas como:
• Hipercalciúria, com ou sem hipercalcemia;
• Hiperoxalúria, associada à doença inflamatória intestinal e/ou má absorção intestinal ou hiperoxalúria
primária;
• Hipocitratúria, pois o citrato é um importante inibidor da formação de cálculos de oxalato e fosfato de
cálcio;
• pH urinário persistentemente alcalino, que está associado com a formação de cálculos de fosfato de
cálcio;
• Baixo volume urinário, que aumenta a concentração dos fatores litogênicos.
Outros tipos de cálculo e suas predisposições são descritas a seguir:
• Ácido úrico: ocorre, geralmente, devido a uma urina ácida (pH urinário
<5,5), bem como situações de hiperprodução e excreção de ácido úrico;
• Estruvita: forma-se em pacientes com infecção urinária crônica por
microrganismos produtores de uréase (por exemplo, Proteus e Klebsiella);
• Cistina: desenvolve-se em pacientes com cistinúria (doença autossômica
recessiva caracterizada por inabilidade no manuseio dos aminoácidos
dibásicos).
Os exames a serem utilizados para o diagnóstico da litíase são: exame de urina, raio x de abdome,
ultrassonografia, tomografia computadorizada de abdome e pelve sem contraste e urocultura (para
sintomas de ITU).
Rim policístico
Conhecida como uma das nefropatias hereditárias monogênicas mais comuns que
afetam os humanos, trata-se da autosomal dominant polycystic kidney disease
(ADPKD).
Os cistos formados, geralmente, são simples (com paredes finais e regulares e
conteúdo líquido), considerados benignos e não necessitam de acompanhamento
clínico. Eles podem ser observados em rins normais, solitários ou múltiplos e
bilaterais.
Suas principais características são o progressivo crescimento e o desenvolvimento
de cistos renais, que acabam por acometer o bom funcionamento do órgão.
Para que seja caracterizado como um cisto benigno, ele precisa apresentar no exame de
ultrassonografia:
• massa anecoica, arredondada e bem demarcada;
• paredes lisas e finas;
• reforço posterior, indicando boa transmissão através do cisto.
Já os critérios altamente sugestivos de cistos malignos são:
• paredes espessas e irregulares;
• septo espesso ou com realce no interior da massa;
• realce da massa após a injeção de contraste;
• massa multiocular.
Para uma melhor caracterização dos cistos renais, propõe-se o uso da classificação de
Bosniak, utilizada em tomografias computadorizadas:
Para o diagnóstico da doença, é necessário saber o histórico familiar do indivíduo, pois para aqueles que
têm uma história positiva para a doença, diagnostica-se a doença policística quando:
• entre 15 e 39 anos: três ou mais cistos uni ou bilaterais;
• entre 40 e 59 anos: dois ou mais cistos em cada rim;
• igual ou superior a 60 anos: quatro ou mais cistos em cada rim.
Em pacientes sem história familiar de doença renal policística, considera-se:
• presença de 10 ou mais cistos em cada rim, especialmente em caso de cistos extra-renais.
Cistite
A cistite é uma inflamação superficial da mucosa vesical causada por infecção decorrente de uma
penetração bacteriana. Trata-se de uma entre as ITU, que são comuns em mulheres com o aparelho
urinário normal.
A cistite é causada pela bactéria E. coli, em cerca de 75 a 90% das vezes, mas também pode ocorrer
infecções por S. saprophyticus, que é um microrganismo comensal da pele, sendo o segundo tipo mais
comum de infecção. Outros microrganismos geralmente menos
envolvidos incluem Klebsiella, Proteus e Enterococcus.
Os sintomas que um indivíduo acometido por esta infecção
apresentam são diversos, desde disúria, polaciúria, urgência, dor
suprapúbica, hematúria e mau cheiro na urina. A atividade sexual
está fortemente relacionada do surgimento de ITU. Mulheres que
informam relacionamento sexual no último mês possuem seis
vezes mais chance de desenvolver tal tipo de infecção. Mulheres
jovens que utilizam espermicidas apresentam cinco vezes mais
possibilidade de ter cistite.
Para o diagnóstico, pede-se a realização do exame de urina, que muitas vezes evidencia mais de dez
leucócitos por campo de grande aumento ou oito piócitos por milímetro cúbico de urina. Porém, faz-se de
extrema importância a urocultura para a determinação do microrganismo presente no processo de
infecção.
O tratamento empregado na cistite é baseado em uma boa hidratação do indivíduo e em orientações
quanto ao esvaziamento adequado da bexiga, além do uso de analgésicos para aliviar os sintomas de
dor e irritação. Para o tratamento da infecção, utiliza-se como via de regra a antibioticoterapia, seja com
uma dose única oral, seja com duração de três a sete dias.
Patologias genitais
O propósito do sistema genital é a reprodução.
Impalpáveis
• intra-abdominal: localizado entre o polo inferior do rim e o anel inguinal interno;
• atrófico: redução significativa do tamanho;
• ausente:
— evanescente: com atrofia total, sem vestígios do testículo, na presença de vasos espermáticos
terminando em fundo cego, sugerindo uma torção do cordão espermático durante a vida intrauterina;
— agenesia: quando não se identificam vestígios de testículo ou vasos espermáticos, podendo ocorrer
disgenesia gonadal.
Deve-se atentar para os casos de testículo criptorquídico, pois o risco de que se origine um câncer
testicular é de três a cinco vezes maior.
Hiperplasia da próstata
A hiperplasia benigna da próstata (HBP) ou hiperplasia prostática benigna (HPB) é uma condição
caracterizada pelo aumento benigno da próstata, que normalmente acomete indivíduos com mais de 40
anos.
Observação: só é classificada como hiperplasia da próstata uma doença benigna. Quando denominada
maligna, trata-se de neoplasia.
Esta afecção caracteriza-se pela hiperplasia das células do estroma e
do epitélio da glândula prostática, o que resulta em aumento
volumétrico do órgão e na possibilidade de interferência no fluxo
normal de urina causada pela compressão da uretra prostática e pelo
relaxamento inadequado do colo vesical.
O quadro clínico da doença é variável, podendo apresentar sinais e sintomas intermitentes ou
progressivos. Classificam-se as manifestações clínicas em três grupos:
• Sintomas de armazenamento: aumento da frequência urinária (polaciúria), noctúria, urgência/
incontinência urinária e enurese noturna;
• Sintomas de esvaziamento: jato fraco de urina, bífido ou intermitente, hesitação do urinar, esforço
miccional e gotejamento terminal;
• Sintomas pós-miccionais: tenesmo vesical (sensação de esvaziamento incompleto) e gotejamento
pós-miccional.
Para o diagnóstico, utilizam-se o exame clínico e a coleta da sintomatologia
do indivíduo, além de exame digital da próstata (EDP)/toque retal, exame
qualitativo de urina, PSA total e sérico, função renal (creatinina/taxa de
filtração glomerular) e ecografia das vias urinárias.
Sua morfologia resulta no aumento do tamanho, com peso de mais de 300 g
em casos graves. A superfície contém muitos nódulos, bastante delimitados
e que se sobressaem. Eles podem estar presentes em toda a próstata ou
somente na região interna dela.
Vaginoses
Vaginose é toda e qualquer infecção causada por um microrganismo que invade e se prolifera na região
da vulva e/ou vagina.
O corrimento vaginal é uma das preocupações mais frequentes entre as mulheres, principalmente, nas
que estão em idade reprodutiva. Entretanto, a secreção vaginal é uma resposta fisiológica do organismo
feminino. Quando não se tem um processo patológico envolvido, tal secreção apresenta-se com uma cor
clara ou branca, composta de líquidos cervicais, podendo variar na quantidade e no aspecto,
dependendo do período do ciclo menstrual.
As infecções são, geralmente, causadas por fungos, bactérias anaeróbicas, tricomonas e até mesmo pelo
aumento exacerbado da flora normal de lactobacilos.
Para o diagnóstico das vaginoses, é necessário avaliar sinais e sintomas da paciente, por exemplo,
ardência na região genital, duração, cor, odor e história sexual. Através destes dados pode-se
estabelecer a possível causa da infecção e o tratamento. Vale lembrar que se a paciente estiver com
vaginose e mantiver relacionamento sexual constante com um parceiro fixo, ele também deverá ser
medicado.
Adenomiose uterina
Trata-se da invasão benigna do miométrio, que produz um
útero difusamente aumentado, que microscopicamente mostra
glândulas endometriais, estroma não neoplásico rodeado por
miométrio hipertrófico e hiperplásico.
Nesta afecção é caracterizada pela presença de tecido
glandular ectópico no seio do miométrio, no qual o sinal
macroscópico mais evidente é o aumento do útero.
Várias teorias tentam explicar o mecanismo fisiopatológico da
doença, entretanto a mais adotada no meio acadêmico é
acerca da presença de um miométrio alterado que pode
ocorrer durante os processos de regeneração, cicatrização e
reepitelização, que predispõe o próprio miométrio ou por uma interface endométrio-miométrio lesada. A
presença de glândulas e estroma ectópico intramiometrial gera um processo inflamatório, levando à
hipertrofia e à hiperplasia do miométrio. Histologicamente, o endométrio basal e os nódulos
adenomióticos são muito semelhantes.
Constituem-se como formas de risco para a doença fatores menstruais e reprodutivos, como parto
cesariana, antecedentes de cirurgia uterina e interrupção da gravidez por curetagem, principalmente em
episódios repetidos.
Endometriose
A endometriose é caracterizada pela presença de tecido funcional semelhante ao endométrio localizado
fora da cavidade uterina, geralmente no peritônio pélvico, nos ovários e no septo retovaginal e, de modo
mais raro, no pericárdio, na pleura e no sistema nervoso central.
Sua etiopatogenia se dá pela combinação de fatores genéticos, hormonais
e imunológicos. Verifica-se que nos quadros de endometriose há presença
do refluxo de tecido endometrial através das trompas de falópio durante a
menstruação, com subsequente implantação e crescimento no peritônio e
ovário. Outro fator importante é o genético.
A endometriose pode ser classificada de acordo com o tipo histológico dos
implantes, com a localização anatômica da doença (peritônio, ovário ou
septo retovaginal), ou pela extensão da doença sobre vários órgãos
pélvicos. A classificação mais utilizada atualmente é por meio da
graduação da endometriose: mínima, leve, moderada ou grave (pela
extensão da doença no peritônio e ovários), bem como pela presença de
aderências tubo-ovarianas e bloqueio do fundo de saco de Douglas.
Ovários policísticos
A síndrome do ovário policístico (SOP), também denominada Síndrome de Stein-Leventhal, é a doença
de maior incidência em mulheres em fase reprodutiva.
Trata-se de uma enfermidade causada pelo desequilíbrio dos hormônios, possui origem multifatorial. Ela
pode alterar o ciclo menstrual, causar problemas de pele e ocasionar pequenos cistos nos ovários, que,
por fim, geram dificuldades para engravidar etc.
Sua fisiopatologia envolve o descontrole da esteroidogênese ovariana por um defeito intrínseco nas
células da teca, redução da sensibilidade à insulina (devido a um defeito pós-receptor nas vias de
sinalização da insulina), excesso de estresse oxidativo, além de fatores genéticos e ambientais.
Para seu diagnóstico, a mulher está em idade reprodutiva e
baseia-se nos sinais e sintomas que apresenta. Eles podem ser
desde distúrbio menstrual caracterizado por intervalos maiores que
35 dias até amenorreia secundária por vários anos, associada ao
hirsutismo.
Para a confirmação diagnóstica, utiliza-se, de forma primordial, a
ultrassonografia pélvica. De acordo com o Consenso de Rotterdam,
os critérios ultrassonográficos para o diagnóstico de SOP incluem a
presença de 12 ou mais folículos medindo entre 2 e 9 mm de
diâmetro e/ou volume ovariano maior de 10 cm3 . A presença de
pelo menos um ovário com tais características é suficiente para o
diagnóstico da doença. Entretanto, é recomendado que o exame seja realizado entre o 3º e 5º dias em
mulheres que apresentam o ciclo menstrual em amenorreia.
A paciente que procurar o diagnóstico de SOP deve estar atenta ao seu período menstrual, pois ele pode
influenciar no diagnóstico da doença.
Entretanto, esta definição diagnóstica não se aplica caso no
exame anterior haja a evidência de um folículo ou corpo lúteo
maior que 10 mm (se houver, o exame deve ser repetido no
próximo ciclo), ou se a paciente estiver em uso contínuo do
contraceptivo hormonal oral, pois isso modifica a morfologia
ovariana, que acarreta a diminuição do tamanho do ovário.
Indica-se a ultrassonografia transvaginal para melhor elucidação
e também para pacientes obesas.
Glossário:
Sistema portal: o sistema portal é constituído por uma rede de veias que drenam sangue de grande
parte do sistema digestivo para o fígado.