6771814bad0b1
6771814bad0b1
6771814bad0b1
1
www.estetus.com.br
A psico-oncologia
SUMÁRIO
2
www.estetus.com.br
A psico-oncologia
Câncer
Dentre todas as patologias conhecidas, o câncer é a que possui maior impacto psicológico na
população, devido, sobretudo, à percepção da incurabilidade da doença, assim como a morte lenta
e dolorosa ocasionada pela mesma (SHERMAN 1999).
“Câncer é o termo geral freqüentemente usado para indicar qualquer dos vários tipos de
neoplasias malignas, a maioria invadindo os tecidos circundantes, podendo enviar metástases a
vários pontos ou tendendo a recorrer após tentativa de remoção ou a causar a morte do paciente,
a menos que seja adeqüadamente tratado” (SHERMAN, 1979 p. 212).
Este conceito define com exatidão a maneira como o câncer era encarado há mais de 20
anos, onde as possibilidades terapêuticas eram infinitamente mais restritas que atualmente. Porém,
apesar dos avanços no tratamento oncológico, muitas destas idéias de fatalidade e irreversibilidade
ainda vigoram na cultura mundial, gerando sentimentos diversos no indivíduo que recebe o
diagnóstico de câncer, como medo, ansiedade, negação, raiva, insegurança, dentre outros.
“Câncer é o nome dado a um conjunto de mais de 100 doenças que têm em comum o
crescimento desordenado (maligno) de células que invadem os tecidos e órgãos, podendo espalhar-
se (metástase) para outras regiões do corpo. Dividindo-se rapidamente, estas células tendem a ser
muito agressivas e incontroláveis, determinando a formação de tumores
(acúmulo de células cancerosas) ou neoplasias malignas.” (INCA 2005)
Fonte: www.gettyimages.com
No entanto, a Oncologia ainda é uma área da Medicina cercada de muitos mitos e
preconceitos. Trabalhando diariamente na guerra contra o câncer, os profissionais médicos da
3
www.estetus.com.br
A psico-oncologia
especialidade enfrentam pressões emocionais diversas, permeadas pelas inúmeras dúvidas dos
pacientes e seus familiares, envoltas em um manto de insegurança, desinformação, medo e
preconceito.
Segundo dados do INCA (2000), o câncer é considerado a 2ª causa de morte por doença no
Brasil, sendo responsável por quase 11% do total de óbitos em 1994, ou pouco mais de 95.000,
ficando atrás apenas das doenças do aparelho circulatório.
• Cirurgia;
• Quimioterapia;
• Radioterapia;
• Transplante de Medula Óssea.
• Hormonioterapia e Imunoterapia.
4
www.estetus.com.br
A psico-oncologia
5
www.estetus.com.br
A psico-oncologia
Fonte: www.gettyimages.com
Pode ocorrer também prisão do ventre, perda auditiva, formigamento das extremidades,
entre outros sintomas menos freqüentes.
Fonte: www.gettyimages.com
É importante ressaltar que esses efeitos colaterais dependem das drogas utilizadas, do
tempo de aplicação e da agressividade de cada tumor, não podendo ser generalizado para todos os
casos.
6
www.estetus.com.br
A psico-oncologia
RADIOTERAPIA
A radioterapia é um outro método de tratamento do câncer bastante utilizado pela Medicina
Oncológica. O tratamento consiste em cdestruir as células cancerosas através da radiação. Segundo
o Instituto Nacional do Câncer (INCA, 1993), “uma dose pré-calculada de radiação é aplicada, em
um determinado tempo, a um volume de tecido que engloba o tumor, buscando eliminar todas as
células tumorais, com o menor dano possível às células normais que estão ao redor.”
O objetivo principal da
radioterapia é causar a
tumorais.
A resposta dos tecidos às radiações depende de diversos fatores, tais como a sensibilidade
do tumor à radiação, sua localização e oxigenação, assim como a qualidade e a quantidade da
radiação e o tempo total em que ela é administrada. Para que o efeito biológico atinja maior número
de células neoplásicas e a tolerância dos tecidos normais seja respeitada, a dose total de radiação a
ser administrada é habitualmente fracionada em doses diárias iguais, quando se usa a terapia
externa. (INCA 2008)
A Radioterapia também causa efeitos colaterais, que normalmente são bem tolerados,
desde que sejam respeitados os princípios de dose total de tratamento e a aplicação fracionada.
Esses efeitos podem ser classificados em imediatos e tardios:
Imediatos: Os efeitos imediatos são observados nos tecidos que apresentam maior
capacidade proliferativa, como as gônadas, a epiderme, as mucosas dos tratos digestivo, urinário e
genital, e a medula óssea. Eles ocorrem somente se estes tecidos estiverem incluídos no campo de
irradiação e podem ser potencializados pela administração simultânea de quimioterápicos.
Manifestam-se clinicamente por anovulação ou azoospermia, epitelites, mucosites e
mielodepressão (leucopenia e plaquetopenia) e devem ser tratados sintomaticamente, pois
geralmente são bem tolerados e reversíveis.
7
www.estetus.com.br
A psico-oncologia
Fonte: www.gettyimages.com
Tardios: Os efeitos tardios são raros e ocorrem quando as doses de tolerância dos tecidos
normais são ultrapassadas. Os efeitos tardios manifestam-se por atrofias e fibroses. As alterações
de caráter genético e o desenvolvimento de outros tumores malignos são raramente observados.
Todos os tecidos podem ser afetados, em graus variados, pelas radiações. Normalmente, os
efeitos se relacionam com a dose total absorvida e com o fracionamento utilizado. A cirurgia e a
quimioterapia podem contribuir para o agravamento destes efeitos.
CIRURGIA ONCOLÓGICA
A cirurgia é um dos principais tratamentos para o câncer. Alguns tipos de tumores podem
ser tratados apenas com a cirurgia; outros necessitam de cirurgia mais radioterapia e/ou
quimioterapia. (Steck, 2008).
Fonte: www.gettyimages.com
A fase moderna das cirurgias para o tratamento de tumores começou nos Estados Unidos,
8
www.estetus.com.br
A psico-oncologia
no início o século XIX. Ao longo destes quase dois séculos, a cirurgia conseguiu aumentar ainda mais
o seu prestígio como recurso terapêutico devido ao desenvolvimento de técnicas operatórias cada
vez mais precisas e seguras.
A cirurgia para tratamento do câncer, ou seja, a cirurgia oncológica, tem como principal
objetivo a remoção de todas as células malignas que estão presentes. Assim, faz-se necessário a
retirada de uma parte dos tecidos que estão ao redor do tumor. Pode-se citar como exemplo a esse
procedimento a cirurgia para câncer de mama, onde muitas vezes retira-se a maior parte do seio
acometido pela doença, a fim de que a doença não se espalhe. (Hospital Ortopédico de Goiânia,
2008) Com esta abordagem agressiva torna-se possível eliminar por completo o tumor, aumentando
as chances de cura da paciente. Muitas vezes, a perda parcial ou mesmo completa da função de um
órgão é o preço a ser pago pelo sucesso da cirurgia.
Fonte: www.gettyimages.com
HORMONIOTERAPIA E IMUNOTERAPIA
9
www.estetus.com.br
A psico-oncologia
“A medula óssea é um tecido líquido que ocupa o interior dos ossos, sendo conhecida
popularmente por 'tutano'. Na medula óssea são produzidos os componentes do sangue: as
hemácias (glóbulos vermelhos), os leucócitos (glóbulos brancos) e as plaquetas. Pelas hemácias, o
oxigênio é transportado dos pulmões para as células de todo o nosso organismo e o gás carbônico
é levado destas para os pulmões, a fim de ser expirado. Os leucócitos são os agentes mais
importantes do sistema de defesa do nosso organismo, inclusive nos defende das infecções. As
plaquetas compõem o sistema de coagulação do sangue”(INCA 2008)
Fonte: www.gettyimages.com
Formada por um conjunto de células jovens em suspensão, a medula distribui-se no interior
dos ossos, concentrando-se em algumas áreas do esqueleto, como nos ossos da bacia e da coluna
vertebral.
10
www.estetus.com.br
A psico-oncologia
O TMO (transplante de medula óssea) é uma forma de tratamento que se utiliza de altas
doses de quimioterapia, combinada ou não à radioterapia, com o objetivo de eliminar as células
malignas do organismo. Em conseqüência, a medula óssea é destruída e é necessária a sua
substituição. A recuperação da capacidade da medula óssea de produzir sangue normalmente é
determinada por células sangüíneas jovens de uma medula não tratada com medicamentos
quimioterápicos.
Etapas do TMO
Fonte: www.gettyimages.com
✓ Coleta
Quando o paciente vai ser o próprio doador, a medula óssea é coletada antes de iniciar a
quimioterapia, devendo ser armazenada e congelada para posterior infusão.
11
www.estetus.com.br
A psico-oncologia
Quando o doador será uma outra pessoa, a coleta do doador só acontece após o paciente
ter encerrado a quimioterapia, bem próximo ao momento do recebimento da medula, não havendo
necessidade de congelamento.
✓ Condicionamento
✓ Infusão
O psicólogo que atenderá pacientes portadores de uma doença como o câncer, precisa ter muito
claro as formas de tratamento, as chances de cura, os efeitos colaterais, etc. O impacto do
diagnóstico de câncer pode causar reações emocionais das mais variadas possíveis, dependendo de
como o paciente se relaciona com a doença, suas experiências anteriores, a parte do corpo que está
sendo atingida, das informações que recebeu sobre a doença.
Por isso, é praticamente impossível antecipar uma reação ao diagnóstico. Assim, não há
possibilidade de estabelecer uma forma de atuação psicológica rígida e estruturada nesses casos,
12
www.estetus.com.br
A psico-oncologia
Fonte: www.gettyimages.com
PSICO-ONCOLOGIA
13
www.estetus.com.br
A psico-oncologia
14
www.estetus.com.br
A psico-oncologia
Fonte: www.gettyimages.com
A não filtragem e conseqüente eliminação das substancias tóxicas do corpo leva a um quadro
patológico denominado uremia. Este estado pode levar o indivíduo à extrema debilidade física e
consequentemente à morte, constituindo assim a Insuficiência Renal Crônica.
Fonte: www.gettyimages.com
A IRC pode ser conceituada como uma “síndroma provocada por uma grande variedade de
nefropatias, as quais devido à evolução progressiva, determinam de modo gradativo e quase sempe
inexorável uma redução global das múltiplas funções renais, isto é, glomrulares, tubulares e
15
www.estetus.com.br
A psico-oncologia
✓ Tratamento
16
www.estetus.com.br
A psico-oncologia
complicado sistema de tubos até a máquina e depois retornar ao seu corpo. Qualquer problema no
sangue ou na máquina aciona o sistema de alarme, que assinalam as emergências. Uma simples
desconexão dos tubos durante o processo de filtragem pode resultar em morte. Essas emergências
são assistidas por todos os pacientes que estão na sala de hemodiálise, fazendo com que o clima de
tensão e angústia prevaleça no ambiente. Tudo isso gera no paciente uma grande apreensão e
sentimentos ambíguos em relação à máquina, pois ela é aquela que dá a vida, mas também a que
tira a vida.
Fonte: www.gettyimages.com
17
www.estetus.com.br
A psico-oncologia
escolares, doméstica.
O psicólogo deverá atuar com o intuito de minimizar o impacto da doença no paciente e na
sua família e muitas vezes tentando garantir a direção do tratamento junto com a equipe
multidisciplinar.
De maneira geral, os principais objetivos do psicólogo no trabalho com pacientes renais em
hemodiálise deve se concentrar nos seguintes pontos:
AIDS
18
www.estetus.com.br
A psico-oncologia
✓ O Estigma da AIDS
Fonte: www.gettyimages.com
19
www.estetus.com.br
A psico-oncologia
✓ Sintomas
Os sintomas da AIDS são classificados em 4 grupos, de acordo com a fase em que a doença
se encontra:
GRUPO I Infecção Aguda ou Doença Aguda
Surgimento de gânglios, faringite, adenomegalia, convulsões e urticárias.
Infecção Assintomática
GRUPO II
O indivíduo tem o teste de HIV positivo, mas não apresenta sintomas.
Distúrbios de comportamentos,
20
www.estetus.com.br
A psico-oncologia
Entrar em contato com um diagnóstico de HIV positivo significa deparar-se com uma ameaça
de morte, levando a implicações médicas, psicológicas e sociais significativas, impondo esforços
adaptativos relevantes às pessoas soropositivas.
Muito além do sofrimento físico, a AIDS impõe uma vivência de intensas perdas. Perde-se a
identidade corporal, social, o trabalho, a autonomia e privacidade e ainda, as relações afetivas.
O diagnóstico interrompe de forma abrupta todo o projeto de vida do indivíduo, gerando
sentimentos e sensações de raiva, medo, angústia, revolta e desespero.
No hospital geral, encontram-se pacientes portadores do HIV em estado de agressividade,
defendendo-se constantemente das repressões que possivelmente podem ser submetidos. Esses
pacientes apresentam uma característica bastante peculiar que é a dificuldade no relacionamento
com a equipe. Muitas vezes essa dificuldade é gerada pela própria equipe, que não tem o preparo
suficiente para lidar com os sentimentos e angústias do paciente. Não se pode negar que o
preconceito pessoal interfere sobremaneira no relacionamento entre o profissional e o paciente.
Assim, o psicólogo tem uma tarefa bastante importante no atendimento aos pacientes portadores
de HIV e também à equipe que o assiste.
O paciente soropositivo, ao ser admitido na enfermaria, pode apresentar comportamentos
bastante variáveis. Muitas vezes sentem vergonha frente ao profissional que o entrevista, relata
somente aspectos negativos, omite dados importantes, não colabora com as respostas ou até
mesmo nega a doença.
Geralmente o paciente descobre a doença na própria enfermaria, podendo ter uma reação
explosiva, de completa negação ou jurar que cometerá um suicídio.
21
www.estetus.com.br
A psico-oncologia
Fonte: www.gettyimages.com
22
www.estetus.com.br
A psico-oncologia
movimentar-se, externalizar suas preocupações e discutir suas angústias, evitando assim que ele
entre em um quadro de depressão mais grave.
Um comportamento observado nesses pacientes é a sensação de onipotência. Alguns
pacientes negam a realidade, de forma onipotente, arrogante, com desprezo e indiferença em
relação à doença e ao tratamento. Pode-se encarar esse comportamento como um mecanismo de
defesa utilizado pelo paciente, a fim de evitar o reconhecimento de sua própria impotência.
O portador de AIDS é uma pessoa que exige muita dedicação e compreensão, não só pelo
risco iminente que ocorre, mas também pela necessidade de conscientização do seu problema, com
fins de diminuir a transmissão do vírus. É preciso lembrar que o paciente soropositivo é uma pessoa
que merece ser respeitada e tratada com dignidade.
A comunicação em Oncologia é um tema que tem sido muito discutido no meio científico
conforme aumentam os avanços tecnológicos dentro dessa especialidade. Uma das questões mais
debatidas refere-se à comunicação do diagnóstico de câncer. No que diz respeito à posição dos
médicos em relação a isso, ou de informar ao paciente o fracasso terapêutico, observa -se muitas
vezes, posições antagônicas. Há aqueles que defendem a idéia de nunca dar o diagnóstico ao
paciente e outros a de sempre informar o paciente sobre sua doença.
“No Brasil, diferentemente dos Estados Unidos e da Europa, existe muita dificuldade em se
contar para o paciente que ele tem câncer”, afirma YAMAGUCHI (2002 p. 31).
A maior parte da comunidade médica dos Estados Unidos afirma que os pacientes têm o
direito de conhecer a verdade sobre sua doença (GIRGIS e SANSON – FISHER 1995). Entretanto,
alguns médicos defendem a idéia de que o paciente tem realmente o direito de saber seu
diagnóstico, desde que seja respeitado seu desejo de querer ou não saber determinados detalhes
sobre a doença e tratamento (SCHOFIELD e cols. 2001).
Essa segunda idéia leva em consideração o fato de que cada paciente tem recursos
psicológicos próprios e bastante peculiares para enfrentar a situação, fazendo-se necessários planos
de comunicação individualizados para cada paciente oncológico, sem generalizações ou posturas
radicais.
No entanto, receber um diagnóstico de câncer não é uma situação fácil para nenhum
23
www.estetus.com.br
A psico-oncologia
indivíduo, porém o significado atribuído à doença pode variar de paciente para paciente,
dependendo de uma série de fatores. Segundo GARCIA e cols.
(1996), os principais fatores que devem ser levados em consideração dizem respeito,
ao momento de vida em que o paciente recebe o diagnóstico e as influências significativas de
experiências passadas (sejam elas positivas ou negativas) com familiares ou pessoas próximas
portadores de câncer.
Além disso, enfatizam a importância de se considerar os preconceitos culturais que
ainda persistem ao se falar em câncer, pois “a palavra câncer para muitos ainda ‘significa morte’
e tem um impacto no comportamento natural dos envolvidos” (GARCIA e cols. 1996 p. 126).
É importante pensar também na maneira como os meios de comunicação transmitem as
informações sobre a doença, interferindo inevitavelmente na forma como o paciente enfrentará a
situação. Dessa forma, pode-se supor que a comunicação entre o médico e seu paciente também
estará baseada nos fatores acima citados, o que irá influenciar significativamente na forma como o
oncologista irá expor ao doente a descoberta do câncer, ou o fracasso da terapêutica oncológica.
Como bem afirma CARVALHO (1996 p. 50): “Quando a escolha for dar a notícia de que o paciente é
portador de uma doença que ameaça sua vida ou de que a doença está fora de controle, isso deve
ser feito de forma que a esperança não seja totalmente suprimida. Uma notícia dessa importância
nem sempre pode ser dada de uma única vez. Freqüentemente, serão necessários alguns encontros
para que seja possível a elaboração da informação”.
De qualquer maneira, a questão mais importante não é contar ou omitir o diagnóstico, mas
em como dar a informação. Se as informações são omitidas, como se pode justificar a necessidade
de tratamentos agressivos para o câncer se o que foi dito ao paciente é que sua doença não é
importante? Como esperar certa adesão por parte do doente se o mesmo não estiver bem
informado para colaborar com o tratamento? VARELLA (2004 p. 116) afirma que “esconder o
diagnóstico dificulta sobremaneira o acompanhamento dos doentes com câncer, porque no futuro
seremos forçados a mentir muitas vezes na tentativa de manter coerência com a versão inicial”.
Porém, ao mesmo tempo em que pesquisas sobre o assunto são realizadas, há uma dificuldade geral
em estabelecer condutas e aplicar na prática clínica diária os novos conhecimentos adquiridos.
Como bem afirmam GIRGIS e SANSON- FISHER (1995), a maioria dos estudos e pesquisas realizadas
sobre comunicação em Oncologia mostram que existem deficiências importantes e totalmente
comuns quando é necessário comunicar uma notícia ruim.
24
www.estetus.com.br
A psico-oncologia
Além dos próprios pacientes e seus familiares, os médicos oncologistas também podem ser
incluídos neste rol de mitos e fantasias que inevitavelmente surgem quando se trata de câncer, pois
também estão suscetíveis à doença assim como qualquer paciente a quem presta assistência.
Entretanto, existe um fator que o diferencia do doente: o fato de ser um especialista no
assunto e conhecer profundamente os meios necessários para tratar a doença.
Muitos dos oncologistas sentem dificuldade em dar o diagnóstico ao paciente, pois estará
lidando com seu próprio sofrimento, sua vulnerabilidade perante a vida, sua suscetibilidade a ter
um câncer também e a impotência perante o outro (seu paciente) e perante a morte.
Fonte: www.gettyimages.com
KOVÁCS (1996) diz que “o diagnóstico de uma doença com prognóstico reservado traz à
tona a fragilidade do ser humano e o contato com a sua finitude, lembrando a morte mais próxima
(p. 17). O diagnóstico das doenças consideradas ‘terminais’, como o câncer e a AIDS, trazem em si a
idéia de uma morte enquanto perda ou diminuição das funções.
A maioria dos médicos utiliza mecanismos de defesa psicológicos para lidar com essa
situação. Esses mecanismos são muito parecidos com aqueles preconizados por Kübler-Ross (1969)
ao descrever os principais mecanismos de defesa utilizados para elaborar o recebimento do
diagnóstico da doença e suas perdas. São eles: choque, negação, raiva, barganha, depressão e por
25
www.estetus.com.br
A psico-oncologia
fim, aceitação. Para o médico oncologista, lidar com a sensação de impotência surgida quando
percebe que o tratamento oncológico cessou, é realmente muito difícil. Muitos profissionais
utilizam o mecanismo de defesa mais comum entre os médicos, a sensação de onipotência. Isso
ocorre porque sentem uma necessidade inconsciente de compensar a sensação de impotência
frente a doença terminal. Outro recurso psicológico utilizado é evitar encontrar com o doente,
demonstrando frieza diante de seu sofrimento do outro, para não entrar em contato com a própria
morte e o próprio sofrimento.
Fonte: www.gettyimages.com
26
www.estetus.com.br
A psico-oncologia
27
www.estetus.com.br
A psico-oncologia
Além de lidar com suas próprias crenças em relação à doença, sejam elas de cunho religioso,
cultural ou social, os médicos precisam aprender a conviver também com as expectativas, crenças
e esperanças do paciente que o procura, como afirma SHERMAN (1999 p. 598): “uma variável crítica
que influencia a evolução do paciente com câncer é a atitude do médico que o trata, especialmente
do médico que o atende pela primeira vez”.
Os sentimentos negativos despertados no médico oncologista ao dar o diagnóstico de câncer
a um paciente podem ser observados desde que essa especialidade da Medicina passou a ser mais
pesquisada e desenvolvida. Esses sentimentos acentuam-se quando o paciente já está em
tratamento oncológico, ou seja, têm um vínculo emocional estabelecido com o médico, e que apesar
da intensidade e agressividade da terapêutica, o paciente evolui mal, passando de paciente em
tratamento oncológico a paciente fora de possibilidades terapêuticas.
Aqui caminha-se para o campo da transferência e contra transferência que ocorre em toda
relação humana, fenômeno tão estudado pelos pensadores da Psicologia, considerados a chave do
processo psicoterapêutico. A transferência é tudo aquilo que o paciente projeta no seu médico e,
contratransferência é tudo aquilo que o médico projeta no seu paciente. Cabe ressaltar ainda que
a transferência que ocorre na relação médico paciente no nível institucional permeia a pessoa do
médico, a instituição e a medicina.
ABDO (1988) descreveu o diálogo entre médico e paciente, em um trabalho publicado na
década de 80, onde apresenta aspectos psicodinâmicos envolvidos na abordagem do paciente fora
de possibilidades terapêuticas, enfocando as emoções que emergem do psiquismo do doente e do
médico. Discute também as angústias que norteiam a vivência de morte e que precisam ser
conhecidas pelo médico que assiste a esse paciente e sua família.
A autora a firma que “preparar alguém para morrer é uma façanha. Consiste em preparar a
nossa própria morte, porque, colocando-nos no lugar do moribundo, tentando adivinhar suas
angústias, identificamo-nos com ele, mortais que somos” (ABDO 1988 p. 130).
VARELLA (2004 p. 116) também discorre sobre o assunto quando coloca que “lidar de perto com a
perspectiva da morte alheia nos remete à constatação de nossa própria fragilidade”.
Cabe aqui ressaltar um assunto bastante discutido na comunidade científica atual: o papel
do médico como curador da doença. Muitos deles ainda mantém a postura de cuidar do doente até
o momento em que podem oferecer um tratamento curativo para sua patologia. A partir do
momento em que mais nada pode-se fazer pelo doente em termos de cura, o médico sente-se
28
www.estetus.com.br
A psico-oncologia
totalmente impotente perante a doença e a vida e acaba de distanciando do doente, pois não
consegue lidar com sua própria frustração e sentimento de inutilidade. SHERMAN (1999 p. 599)
afirma que “Alguns médicos sentem-se desconfortáveis ao terem de tratar pacientes ‘incuráveis’,
para os quais pouco há o que oferecer. Podem estar ainda sob o domínio do conceito de que o único
conceito de cuidado médico é curar”.
Pode-se notar que dar a notícia do fracasso terapêutico envolve não só os aspectos
psicológicos do doente, mas também do médico que o assiste. Assim, percebe-se o grau de
complexidade envolvido na comunicação em Oncologia. O paciente sofre muito com o diagnóstico
de câncer, porém o médico, que é porta voz dessa “sentença de morte”, acaba recebendo grande
parte dessa carga de sentimentos e emoções surgidas.
A todo o momento, precisam dar respostas aos doentes, que encontram-se desesperados
pela cura, com raiva da doença, muitas vezes desapontados com o tratamento, decepcionados com
o sistema de saúde, e em alguns casos, incapazes de enfrentar a realidade da doença.
A família também encontra-se confusa, com medo, insegura, duvidando e exigindo respostas
certas do médico, que está constantemente se questionando e tentando lidar com seus próprios
medos e dúvidas também, ansioso pela cura e deparando-se com seus limites profissionais, sua
impotência frente a terminalidade da doença e fracasso terapêutico.
Por isso, a comunicação em Oncologia deve ser cada vez mais estudada, compreendida em
seus aspectos psicodinâmicos e, sobretudo, pode ser aprendida, com o objetivo de diminuir o
estresse do profissional e da equipe, além de causar um efeito bastante positivo sobre o doente e
sua família.
Partindo do pressuposto de que a comunicação em Oncologia pode ser aprendida, é
importante mencionar um estudo canadense publicado por GARG e cols (1997) que mostra o
resultado de um programa realizado com estudantes de Medicina, onde os mesmos receberam
treinamento para a comunicação de más notícias. Tal treinamento consistiu em vídeos instrutivos,
períodos de discussão sobre os temas, exercícios em grupos e técnicas de encenação. O conteúdo
do curso foi baseado em 6 pontos principais. Esses principais pontos do protocolo são bastante
parecidos em sua prática com o protocolo intitulado SPIKES (BAILE e cols. 2000), descrito
posteriormente.
O objetivo principal de GARG e cols (1997) foi ensinar e treinar os estudantes de Medicina
para a comunicação de más notícias aos pacientes e seus familiares de maneira empática e
29
www.estetus.com.br
A psico-oncologia
competente. Os resultados mostram que os estudantes obtiveram bastante proveito com o curso:
47% deles tinham alguma idéia sobre como abordar os assuntos que envolviam notícias
desagradáveis. Esse números subiu para 75% após o curso. Apenas 39% deles sentiam-se
competentes para dar más notícias enquanto que, após o curso, 69% relataram habilidades
suficientes para a comunicação.
BAILE e cols. (2000) publicaram o resultado de uma pesquisa realizada durante o Encontro
Anual da Sociedade Americana de Oncologia Clínica (ASCO) em 1998, onde aplicaram um protocolo
sobre comunicação de más notícias em Oncologia. O protocolo nomeado SPIKES tem como objetivo
principal capacitar o oncologista a aplicar na sua prática clínica, os quatro mais importantes aspectos
de uma consulta que enfoque a informação de um mau prognóstico: reunir as informações que o
paciente já possui, transmitir as novas informações necessárias, oferecer o suporte ao paciente e
convidá-lo a colaborar com o tratamento paliativo, formulando uma estratégia terapêutica e
traçando planos futuros.
Este protocolo SPIKES (BAILE e cols. 2000) é um bom exemplo da aplicação dessas técnicas;
cada letra significa, na língua inglesa, uma etapa a ser cumprida:
SETTING UP
Essa etapa refere-se ao local onde a notícia vai ser dada, incluindo a privacidade do
atendimento, se outra pessoa da família será informada também, além do que é importante que o
paciente sinta-se acolhido no ambiente, tenha uma boa relação com seu médico e que este tenha
disponibilidade de tempo para essa situação, de preferência sem interrupções.
PERCEPTION
30
www.estetus.com.br
A psico-oncologia
INVITATION
Após essas primeiras fases, passa-se então a fazer um convite (Invitation) para que ele
mesmo possa falar sobre a doença e, a partir disso, perceber que o tratamento não está resultando
em melhoras significativas. Alguns exemplos de perguntas exploratórias podem ser citados:” Como
você está? Como tem se sentido ultimamente? Sentiu alguma melhora? Como acha que o
tratamento deveria responder? O que acha que está acontecendo?”. Esses questionamentos
possibilitam que o paciente vá percebendo seu próprio corpo e chegar ao ponto final da
comunicação.
KNOWLEDGE
A quarta fase (Knowledge) dá ênfase à certeza do que o doente conseguiu absorver daquilo
que foi dito, o que sabe da doença e checar se a informação transmitida foi realmente
compreendida.
EMOTIONS
STRATEGY/SUMMARY
Essa fase propõe uma estratégia e programa-se o tratamento paliativo, pensando sempre na
qualidade de vida do doente e bem estar do mesmo.
Um exemplo do que poderia ser considerado ideal para a quinta fase pode ser percebido na
citação a seguir, que descreve um pequeno diálogo entre o médico e o paciente:
“Doutor: Lamento em dizer que o raio X mostrou que a quimioterapia não surtiu efeito
(pausa). Infelizmente o tumor aumentou consideravelmente.
31
www.estetus.com.br
A psico-oncologia
Doutor: (coloca sua cadeira mais perto, oferece ao paciente uma conversa e aguarda). Eu sei
que isso não é o que você queria ouvir. Eu desejava que as notícias fossem melhores também”
(BAILE e cols. 2000 p. 306).
Relativamente, pouco tem sido discutido sobre a percepção dos pacientes acer ca do que
lhes foi contado sobre sua doença e de que maneira eles respondem e enfrentam essas notícias. No
caso do câncer avançado, há evidências de que muitos pacientes têm expectativas irreais sobre o
tratamento, incluindo a falsa crença de que seu câncer é curável.
Uma delas se refere à questão de contar ou não contar ao paciente o seu diagnóstico de
câncer. Como já foi citado por GIRGIS e SANSON – FISHER (1995), a maioria dos médicos dos Estados
Unidos afirma que os pacientes têm o direito de saber a verdade sobre sua doença. Alguns médicos
porém, defendem a idéia de que o paciente tem o direito de saber, mas que seu desejo de conhecer
certos detalhes seja sempre respeitado.
No entanto, como já foi dito, é importante que posições radicais não sejam tomadas e que
generalizações sejam evitadas. Essa maleabilidade necessária para a boa comunicação em
Oncologia deve-se ao fato de que o câncer ainda é considerado uma doença fatal, incurável,
carregada de mitos e preconceitos dos tempos em que essa especialidade ainda não possuía os
recursos terapêuticos advindos do avanço tecnológico da Medicina.
Esses dogmas culturais permeiam não só o imaginário da população leiga, mas também
fazem parte dos mitos e fantasias enraizadas na mente de cada profissional que assiste ao doente
com câncer. Como bem afirmou GARCIA e cols. (1996 p. 126), “a palavra câncer para muitos ainda
‘significa morte’ e tem um impacto no comportamento natural dos envolvidos”.
Naturalmente que, dentre esses envolvidos está o médico oncologista, e sua forma de lidar
com essas situações geradoras de angústia irá influenciar profundamente na maneira de se
relacionar com o paciente. Como conseqüência dessa relação influenciada pelos aspectos
psicológicos do médico, estabelecer-se-á um nível de comunicação, que pode ser boa ou ruim.
Voltando ao tema da comunicação do diagnóstico, o mais importante não é comunicar ou
deixar de comunicar tal diagnóstico, mas em como essa notícia será transmitida. Logo, faz-se
necessário uma reflexão sobre a preparação psicológica do porta voz dessa notícia.
32
www.estetus.com.br
A psico-oncologia
Cabe aqui questionar então: Até que ponto esses médicos têm a sensibilidade para perceber
o momento certo de contar o diagnóstico e o que deve ser dito? Esses médicos têm o treinamento
necessário para lidar com essas questões tão delicadas? E é sempre importante saber que na maioria
das vezes, existe uma forte relação tranferencial que está muito relacionada ao sucesso do
tratamento e assim, o medico, ao dar uma má notícia ao paciente, pode ir da polaridade “herói”
para a polaridade de “bandido”.
É necessário perceber que os aspectos psicológicos do oncologista, bem como sua própria
estrutura de personalidade e mecanismos de defesa são refletidos na relação que estabelece com
o paciente.
Assim como o paciente utiliza mecanismos de defesa psicológicos peculiares para enfrentar
a situação, o oncologista também lança mão de recursos internos próprios para conviver
diariamente com a doença, o sofrimento humano, a terminalidade e demais situações angustiantes.
PITTA (1994) descreve esses mecanismos, conforme visto anteriormente (fragmentação da
relação médico-paciente, despersonalização e negação da importância do indivíduo,
distanciamento e negação de sentimentos, tentativa de eliminar decisões e redução das
responsabilidades.
Alguns desses mecanismos realmente podem ser prejudiciais tanto para o paciente quanto
para a relação que este estabelece com seu médico. Mas, cabe então questionar: o que fazer para
que esses mecanismos de defesa não sejam utilizados de forma negativa pelos profissionais que
lidam constantemente com a doença e a morte? A resposta a esse questionamento não é tão difícil,
se se partir do princípio de que o ser humano é totalmente dinâmico e peculiar em sua essência.
E justamente por ter essas características é que está a todo momento mudando, agindo e
atuando sobre seu ambiente, para criar as condições necessárias para seu pleno desenvolvimento,
interagindo de diferentes formas com diferentes indivíduos e constantemente se auto conhecendo.
Mencionou-se também que cada paciente tem seus mecanismos psicológicos próprios para
lidar com o diagnóstico de câncer e seu tratamento, porém é necessário que o profissional que
assiste a esse paciente tenha certas habilidades para manejar essas situações complicadas.
É certo que a formação médica já é demasiadamente desgastante e que os médicos não têm
as habilidades técnicas para lidar com aspectos psicológicos como o profissional da Psicologia os
possui.
No entanto, os oncologistas precisam de certo conhecimento para perceberem , ao menos,
33
www.estetus.com.br
A psico-oncologia
34
www.estetus.com.br
A psico-oncologia
angústias, medo e ansiedade tanto no paciente, quanto nos familiares e na equipe que o assiste.
Tudo isso se dá pelo fato da sociedade tratar a morte como um problema que deve ser enfrentado.
Há alguns séculos atrás, os homens lidavam com a morte de maneira bastante natural. A morte
acontecia nos campos de batalha, na casa dos doentes graves, presenciada pelos familiares e amigos
que lá estavam, ou seja, havia a oportunidade de um contato com aquele que estava morrendo. A
morte não era um acontecimento estranho. Fazia parte da vida.
Fonte: www.gettyimages.com
Falar sobre a morte constitui permanente desafio para o homem desde as mais remotas
civilizações. A Medicina, mais do que qualquer outra ciência, coloca diretamente a problemática da
morte diante do profissional. O médico responde a esse desafio muitas vezes com ansiedade, medo
e até como ameaça à sua própria vida.
Hoje, pode-se perceber um comportamento completamente diferente em relação à morte.
Evita-se falar sobre o assunto e evitando falar, faz-se todo o possível para que essa situação não
aconteça. Lança-se mão de todos os recursos técnicos possíveis para manter vivo um paciente,
mesmo quando isso já não faz mais sentido. A morte não acontece na casa do doente, mas nos
hospitais, de forma impessoal, distante do aconchego familiar e conforto emocional. A morte passa
longe das vistas dos familiares, o paciente morre sozinho, no leito de um hospital, muitas vezes sem
que tenha dito ou feito o que tinha vontade nos “momentos finais”. Um corpo morto é algo que
causa grande incômodo, pois traz à consciência a idéia da própria finitude. O homem ocidental não
está preparado para sua temporalidade e finitude. Sua cultura se baseia na aposta da multiplicidade
e no desejo de maiores conquistas, poderes e satisfações. E, ainda, parecendo ignorar a relação
entre Ser e Tempo, traçando suas metas e valores como se fosse viver para sempre.
Atualmente, o termo “paciente terminal” pode ser substituído pelo termo “fora de
possibilidades terapêuticas”, uma vez que a terminalidade de um paciente não pode ser
35
www.estetus.com.br
A psico-oncologia
Fonte: www.gettyimages.com
Dependendo da gravidade do seu estado clínico o paciente sofre profundas agressões
psicológicas causadas pelo definhamento corpóreo gerado pela doença. Sofre inúmeras limitações,
fica dependente de aparelhos para respirar, se alimentar, não faz nada sozinho, depende da equipe
médica para tudo. O paciente perde sua identidade, suas vontades, seus desejos são abandonados
e ele passa a “viver” em função da doença, da vontade da equipe e da família. Muitas vezes não
conseguem falar, por causa dos aparelhos utilizados para respirar, abrindo mão de toda e qualquer
possibilidade de manifestar seus pensamentos e desejos.
Um paciente fora de possibilidades terapêuticas é um ser humano em pleno sofrimento,
diante do que já foi exposto sobre seu estado físico e emocional.
Em alguns casos, o paciente tem suas funções orgânicas preservadas até certo ponto,
conseguindo assim “levar uma vida normal”, porém a sombra do medo da morte o acompanhará
sempre, até que esta realmente se faça presente.
36
www.estetus.com.br
A psico-oncologia
Lidar com a questão da morte é muito difícil tanto para o paciente quanto para seus
familiares e também para a equipe que está assistindo ao doente. Kübler- Ross foi pioneira nos
estudos sobre a morte e o processo de morrer. Ela identificou a existência de padrões de fantasias,
comportamentos, ansiedades e defesas que auxiliam o profissional de saúde a perceber os
mecanismos utilizados pelos pacientes, diante a ameaça de morte. Ela os agrupou em cinco estágios,
pelos quais esses pacientes passam desde que o mau prognóstico é firmado.
✓ Negação
✓ Raiva
✓ Negociação
✓ Depressão
✓ Aceitação
Esses mecanismos de defesa não podem ser padronizados a todos os pacientes, pois em
vários casos, a seqüência pode não ser essa, os estágios podem se misturar podendo alguns
pacientes passar por certas fases e por outras não.
NEGAÇÃO
O primeiro mecanismo de defesa utilizado pelos pacientes quando recebem a notícia sobre
sua doença ou mau prognóstico é a negação. Nessa fase, o paciente recusa o contato como fato que
poderia causar turbulências e muito sofrimento emocional, ou seja, o fato é tratado como se não
existisse ou não fizesse parte de sua vida. Muitas vezes esse mecanismo é necessário para que não
haja uma completa desestruturação mental. O termo negação implica em um conjunto de
mecanismos mentais, estudados profundamente pela Psicanálise. Para o psicólogo que atua em
hospitais, é importante identificar esse mecanismo e auxiliar os outros profissionais a lidarem com
esse paciente.
RAIVA
Esse mecanismo é utilizado quando o paciente não pode mais negar sua situação ou até
37
www.estetus.com.br
A psico-oncologia
mesmo quando o impacto sentido foi tão grande que a negação se tornou impossível, passando o
paciente a sentir ódio e raiva, demonstrando inconformismo através de condutas agressivas. Pode
recusar os procedimentos médicos e acabar tornando-se um grande problema para a equipe de
cuidadores e também para a família.
NEGOCIAÇÃO
Nessa fase o paciente aceita a realidade, de certa forma, mas tenta efetuar “barganhas”,
acordos, negociações que lhe possibilitem manter uma visão real dos
fatos ou então para aproveitar o tempo que lhe resta. É o momento de fazer promessas a
entidades religiosas, mudanças de vida a fim de conseguir o adiamento da morte ou a cura da
doença. Pode-se perceber que nessa etapa, ocorrem processos criativos: as pessoas reavaliam suas
vidas, preparam-se para uma reconciliação com o mundo, fazem as pazes com a família,
conseguindo o tempo necessário para realizarem algo que desejaram muito.
DEPRESSÃO
Esse é o estágio onde o paciente elabora lutos, mostrando-se introspectivo, retraído, triste,
com muito sofrimento, evitando o contato com pessoas que não compreendem seu momento.
Porém, necessita de muita companhia e atenção. É importante diferenciar esse estágio da fase de
raiva, onde o paciente apresenta depressão persecutória, mas mostra-se rancoroso e triste, porém
38
www.estetus.com.br
A psico-oncologia
não elabora lutos nem trabalha as perdas com o objetivo de aceitar a realidade.
ACEITAÇÃO
39
www.estetus.com.br
A psico-oncologia
em cada situação.
Fonte: www.gettyimages.com
Conversar com um paciente fora de possibilidades terapêuticas não envolve sempre falar
sobre a morte. Quem dá a direção para a entrevista é o próprio doente, que escolherá os assuntos
no momento em que se sentir capaz e preparado. O profissional deverá ficar junto, ouvir,
compreender. O doente, mesmo que silencioso, sente falta do contato com o profissional, mesmo
que não verbalize isso. É importante reconhecer por qual das fases citadas anteriormente o paciente
está passando, pois isso ajuda muito no contato com o doente. Deve-se respeitar o estágio da
negação, mas o profissional deve estar junto para que o paciente possa abandonar essa defesa,
sabendo que existe alguém próximo que o auxiliará no enfrentamento da realidade, tornando seu
sofrimento mais suportável.
Muitas vezes o médico encontra-se obcecado em falar toda a verdade para o paciente, sem
que este seja avaliado em suas condições naquele momento. Quando o profissional faz um bom
vínculo com o paciente, este lhe dará as dicas de que quer saber mais sobre seu estado e de que
forma prefere saber a verdade. De maneira geral, o paciente deve ser informado daquilo que quer
saber no momento em que ele preferir. Não se deve eleger o momento mais adequado para o
40
www.estetus.com.br
A psico-oncologia
profissional ou sua família. É sempre necessário esperar que o doente manifeste sua vontade de
saber a verdade. No entanto, é imprescindível que não minta para o doente, pois ele perceberá,
consciente ou inconscientemente, e a relação poderá se comprometer.
Muitas vezes, o impacto do mau prognóstico e futura morte de um paciente é tão grande e
intenso para o profissional que, mesmo inconscientemente, acaba por abandoná-lo. Os doentes
percebem essa ausência e, além de se sentirem rejeitados, sofrem muito pela frustração que
causaram nos outros. A equipe busca intervenções muitas vezes desnecessárias, na tentativa de
evitar uma morte que ela mesma sabe que é inevitável. Essas intervenções podem gerar sofrimento
ao doente, além de não terem utilidade. Obviamente, sempre há de se usar todos os procedimentos
médicos necessários, mas é importante se questionar sobre o real resultado da intervenção: se irá
promover uma melhora na qualidade de vida do paciente ou aliviar a angústia da equipe ou da
família.
O profissional de saúde mental deve acolher essa angústia da equipe, ao mesmo tempo em
que proporciona condições para que o paciente em estado avançado de sua doença possa ter a
melhor qualidade de vida possível naquele momento.
A família do paciente geralmente está despreparada para lidar com a morte e o morrer de
um ente querido. Normalmente esperam que o médico e a instituição de saúde cuidem do doente
e promovam a cura. Dessa forma, os familiares criam uma idealização em relação ao medido e o
hospital, que pode ser desfeita nesses casos. As conseqüências são as mais variadas e o mais comum
é que os familiares projetem toda sua impotência, desespero e sentimento de culpa nos
profissionais, que são responsabilizados e agredidos. Não se pode esquecer também que, muitas
vezes, o próprio profissional estimulou essa idealização, evitando conversar abertamente sobre o
prognóstico do paciente ou se negando a abordar de forma verdadeira as reais limitações da
medicina.
O familiar passa pelos mesmos estágios descritos por Kübler-Ross. A negação poderá fazer
41
www.estetus.com.br
A psico-oncologia
com que ele não tome as providências necessárias, levando-o posteriormente a sentimentos de
culpa. A raiva pode ser projetada na equipe de saúde, ou no próprio paciente, que é maltratado
como se fosse o responsável por sua doença.
Não é raro a família do paciente cindir, se desagregar, gerando inimizades e acusações entre
seus membros. Nesses momentos, o profissional de saúde mental e a equipe de saúde devem
trabalhar com a família, poupando o paciente e facilitando uma reconciliação.
É importante estar bastante atento, pois o profissional estará lidando com sentimentos
basicamente relacionados a culpa, que invadem os participantes da família. Esses sentimentos
podem ter sido decorridos de fatos anteriores, ou seja, de fantasias conscientes e inconscientes,
relacionados à ambivalência amor – ódio. Todas as pessoas apresentam esse sentimento
contraditório em relação aos familiares, e se o indivíduo não souber lidar com eles adequadamente,
o sentimento de culpa será predominante. Nesse caso, a ajuda do profissional de saúde mental será
fundamental.
A instituição de saúde não está preparada para lidar com os pacientes “fora de possibilidades
terapêuticas”. Muitas vezes o paciente é abandonado pela equipe e em casos que envolvem culpas,
onipotência da equipe ou ganhos financeiros, prolonga-se desnecessariamente a vida do doente.
Claro que os procedimentos médicos devem ser feitos conforme a necessidade de cuidados
do doente, mas situações invasivas que em nada irão ajudar no tratamento ou melhoria da
42
www.estetus.com.br
A psico-oncologia
43
www.estetus.com.br
A psico-oncologia
44
www.estetus.com.br
A psico-oncologia
REFERÊNCIAS
45
www.estetus.com.br
A psico-oncologia
46
www.estetus.com.br
A psico-oncologia
KAPLAN, H. I., SADOCK, B. J. e GREBB, J. A. Compêndio de Psiquiatria. 7. ed. Porto Alegre: Artes
Médicas, 1997.
LAUTERT, L. (1997). O desgaste profissional: uma revisão da literatura e implicações para a
enfermeira. Rev. Gaúcha Enfermagem, 18(2): 83-93.
LECLAINCHE X. É preciso humanizar o hospital. Rev Paul Hosp 1962 maio; 10(5):7-10.
LEPARGNEUR, H. Princípios de autonomia. Em C de A. Urbin (Org.), Bioética clínica. Rio de Janeiro:
Revinter, 2003.
LIPOWSKI, Z. J. Delirium in older adults. Advances in Psychosomatic Méd, 19, p. 1-16.
MARTINS, M. C. F. Humanização das relações assistenciais de saúde: a formação do profissional de
saúde. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2001.
MEDEIROS, Giane Amanda. Por uma ética na saúde: algumas reflexões sobre a ética e o ser ético na
atuação do psicólogo. Psicologia Ciência e Profissão, 22 (1), 30-37, 2002.
NOGUEIRA-MARTINS, L. A. Os beneficiários da interconsulta psiquiátrica. Boletim de Psiquiatria, 28
(1), p. 22-23. (1995).
NOGUEIRA-MARTINS, L. A., BOTEGA, N. J. Interconsulta psiquiátrica no Brasil: desenvolvimentos
recentes. Revista ABP- APAL, 20 (3), p. 105-111, 1998. Os beneficiários da interconsulta psiquiátrica.
Boletim de Psiquiatria, 28 (1), p. 22-23. (1995).
OLIVEIRA, F. P. T. SANTOS, G. S., SILVA, L. S. A Percepção do paciente sobre sua permanência na
unidade de terapia intensiva. Rev Nursing. 2003, 60 (6), p. 37-42.
OLIVEIRA, Maria de Fátima & CAMÕES, Cristina. A ética na avaliação psicológica: uma perspectiva
psicofilosófica. Disponível em:
<http://www.psicologia.com.pt/artigos/ver_artigo_licenciatura.php?codigo=TL0003&a rea=d1>.
Acesso em: 25 maio 2008.
PAIVA, Luiz Miller de, SILVA, Alina M. A. De Paiva Nogueira da. 3. ed., rev., aum e atual. Medicina
psicossomática. São Paulo: Artes Médicas, 1994. 874p.
PESSINI, L. & BERTACHINI, L. Humanização e Cuidados Paliativos. São Paulo: Loyola, 2004.
PESSINI, L. (2002). Humanização da dor e sofrimento humano no contexto hospitalar. Bioética,
Brasília, Conselho Federal de Medicina, 10(2). Disponível em:
<http://www. cfm.org.br>. Acesso em 25 maio 2008.
PIVA, Jefferson Pedro & CARVALHO, Paulo R. Antonacci. Considerações Éticas nos Cuidados médicos
do paciente terminal. Bioética: Revista do Conselho Federal de Medicina. Brasília, DF, 1 (2), 129-138,
47
www.estetus.com.br
A psico-oncologia
1993.
PROCESSO Consulta nº 1.401/02-Conselho Federal de Medicina (30/02), de 21 de junho de 2002.
ROMANO, W. B Princípios para a prática da psicologia clínica em hospitais. São Paulo: Casa do
Psicólogo, 1999.
Sebastiani, R. W. & Chiattone, H. B. C. Curso de introdução em psicologia hospital. São Paulo:
Nêmeton, 1991.
SEBASTIANI, R. W. Histórico e Evolução da Psicologia da Saúde numa Perspectiva Latino-americana.
In: ANGERAMI-CAMON, V.A. (editor) Psicologia da Saúde: um novo significado para a prática clínica.
São Paulo: PioneiraThomson Learning, 2000. p. 201-222.
SEBASTIANI, R. W. Psicologia da Saúde no Brasil: 50 Anos de História. 2003. Disponível em
<http:www.nemeton.com.br>. Acesso em: 17 mar. 2008.
SEGRE, Marco. Definição de bioética e sua relação com a ética, deontologia e diceologia. Em:
COHEN, Cláudio & SEGRE, Marco. Bioética. 3. ed. São Paulo: EDUSP, 2002, s.p. Disponível em:
<http://www.ufpel.tche.br/medicina/bioetica/cap2.pdf>. Acesso em 25 maio 2008.
SILVA, R. C. A formação em Psicologia para o trabalho na saúde pública. In CAMPOS, F. C. B. (org).
Psicologia da Saúde: repensando práticas. São Paulo: Hucitec, 1992.
SIMONETTI, A. Manual de psicologia hospitalar: o mapa da doença. São Paulo: C asa do Psicólogo,
2004.
SPINK, M. J. P. Psicologia da saúde: a estruturação de um novo campo de saber. In CAMPOS, F. C. B.
(Org.) Psicologia e saúde: repensando práticas. São Paulo: Hucitec, 1992, p. 11-23.
SPINK, M.J. , Psicologia da Saúde: A Estruturação de um Novo Campo de Saber. In: CAMPOS, F.C.B.
(Org.) Psicologia e Saúde - Repensando Práticas. São Paulo: Hucitec, 1992.
STRAUB R. O. Psicologia da Saúde (R. C. Costa, Trad.). Porto Alegre: Artmed, 2005. (Trabalho original
publicado em 2002).
TORRES, Wilma da Costa. A bioética e a psicologia da saúde: reflexões sobre questões de vida e
morte. Psicologia: Reflexão e Crítica, 16(3), 475-482, 2003.
VOLICH, R. M. Psicossomática. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2000.
YAMAMOTO, O. H. O psicólogo em hospitais de Natal: uma caracterização preliminar. Psicologia
Reflexão e Crítica, v. 11, p. 345-362, 1998. Disponível em:<http://www.scielo.br/scielo.php>. Acesso
em: 17 mar. 2008.
48
www.estetus.com.br
A psico-oncologia
49
www.estetus.com.br