Dissertacao 24.02.2011 Gisele G. Guttschow
Dissertacao 24.02.2011 Gisele G. Guttschow
Dissertacao 24.02.2011 Gisele G. Guttschow
CURITIBA
2011
GISELE GUTSTEIN GÜTTSCHOW
CURITIBA
2011
UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ
SISTEMA DE BIBLIOTECAS
BIBLIOTECA CENTRAL – COORDENAÇÃO DE PROCESSOS TÉCNICOS
Dedico ao meu amado marido
Eduardo que me auxiliou de todas as maneiras possíveis.
AGRADECIMENTOS
This study has the objective of comprehending the plan of educational action
denominated Campanha Nacional de Erradicação do Analfabetismo – CNEA
(National Campaign for the Eradication of Illiteracy), as well as the selection and
implementation in Joinville of this plan of educational action linked to the Ministry of
Education and Culture, which period of duration corresponds to the years of 1958-
1963.This campaign was born from the group of measures idealized during the
Juscelino Kubitschek’s presidency, and it extended to the next governments, of Janio
Quadros and João Goulart. The studies and researches that permeated the
constitution of the CNEA , were in the charge of the Instituto Nacional de Estudos
Pedagógicos - INEP(National Institute of Pedagogical Studies) , from the Centro
Brasileiro de Pesquisas Educacionais (CBPE) (Brazilian Center of Educational
Researches) and the Centros Regionais de Pesquisas Educacionais (CRPEs)
(Regional Centers of Educational Researches), organs linked to the INEP.
The CNEA was implanted in several Brazilian cities, named “cobaias”, scattered
through all the regions of the country. This research intended to comprehend the
implementation of the CNEA in the state of Santa Catarina, emphasizing the
specificities of the city of Joinville.
The sources utilized for this research were the printings of “A Notícia” newspaper;
reports from the schools and the municipal school inspectorate; the federal,
intrastate and municipal laws and decrees; articles from the Revista Brasileira de
Estudos Pedagógicos (Brazilian Magazine of Pedagogical Studies); the 1954
monograph by João Roberto Moreira, entitled A educação em Santa Catarina:
Sinopse apreciativa sobre a administração, as origens e a difusão de sistema
estadual de ensino (The education in Santa Catarina: Appreciative synopsis about
the administration, the origins and the diffusion of the state’s system of education);
the books Educação e desenvolvimento em Santa Catarina (Education and
development in Santa Catarina) and Um esquema para a educação em Santa
Catarina (A scheme to the education in Santa Catarina; the report about the CNEA,
elaborated by the coordinator of the national campaign, João Roberto Moreira, as
well as bibliographies pertinent to the study’s object.
The first chapter addresses the constitution of the CNEA at federal level and the
intellectual participation in its creation. The second chapter exposes the difficulties
found in the implementation of the campaign in Santa Catarina. Finally, the last
chapter comprehends the reasons who led to the selection of Joinville to the
implementation of the CNEA in the city, as well as the specificities of this
implementation.
Key words: History of Education, National Campaign for the Eradication of Illiteracy,
Santa Catarina. Joinville.
LISTA DE SIGLAS
INTRODUÇÃO ......................................................................................... 10
1 CONSTITUIÇÃO DA CAMPANHA NACIONAL DE ERRADICAÇÃO
DO ANALFABETISMO – CNEA 1958-1963 ........................................... 29
1.1 DESENVOLVIMENTO E EDUCAÇÃO (1958 A 1963) ............................. 31
1.1.1 Pressupostos para a criação da CNEA .................................................... 39
1.2 PROPOSIÇÕES DE INTELECTUAIS PARA A CNEA ............................. 46
1.3 O PROJETO CNEA CONSOLIDADO ...................................................... 51
2 PROCESSO DE CONSOLIDAÇÃO DA CNEA NO ESTADO DE
SANTA CATARINA ................................................................................. 60
2.1 PANORAMA POLÍTICO DE SANTA CATARINA PARA O 61
DESENVOLVIMENTO DA CNEA ............................................................
2.2 CONDIÇÕES EDUCACIONAIS DO ESTADO CATARINENSE PARA O 69
RECEBIMENTO DA CNEA ......................................................................
2.3 A EFETIVAÇÃO DA CNEA NO ESTADO CATARINENSE ..................... 75
3 ESCOLHA DE JOINVILLE COMO “COBAIA” DA CNEA E O
PROCESSO DE IMPLEMETAÇÃO DA CAMPANHA ............................. 83
3.1 ASPECTOS EDUCACIONAIS DE JOINVILLE ........................................ 87
3.2 ASPECTOS POLÍTICOS NA EDUCAÇÃO JOINVILLENSE .................... 94
3.3 IMPLEMENTAÇÃO DA CNEA EM JOINVILLE ........................................ 98
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS ..................................................................... 115
5 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ........................................................ 118
6 OBRAS CONSULTADAS ........................................................................ 125
7 ANEXOS .................................................................................................. 132
10
INTRODUÇÃO
1
Esse fragmento tem como base matéria do jornal A Notícia, do dia 17 de fevereiro de 1960,
com o título: Joinville será “cobaia” da erradicação do analfabetismo.
11
2
Realizadas as justificativas e objetivos pessoais dessa dissertação, opto, a partir desse
momento, por utilizar escrita através da terceira pessoa singular.
3
A CNEA foi criada no ano de 1958 baseada num programa experimental de combate ao
analfabetismo do MEC e foi extinta em 1963 (PAIVA, 1985).
12
4
O INEP foi criado pelo então ministro Gustavo Capanema, em 1937, sendo que “O INEP se
denomina atualmente Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira, tendo
recebido essa última denominação em homenagem ao educador, falecido em 1971, por ocasião das
comemorações do seu centenário de nascimento” (MENDONÇA, 2005, p. 3).
13
5
Nas bibliografias encontradas há muitas divergências sobre os primeiros municípios
pesquisados pelos Centros de Pesquisas Educacionais que deram base para a construção do projeto
da Campanha Nacional de Erradicação do Analfabetismo. Dentre esses estudos a tese de Ferreira
(2006) oferece claras e detalhadas explicações sobre os planos realizados em cada município.
14
Porém, o que vale salientar é que a educação, nos anos de 1950, ganhou
importância como um campo de estudos e pesquisa científica associado aos
conceitos e métodos das Ciências Sociais (SCHEIBE; DAROS; DANIEL, 2006).
Através dessa orientação, foram utilizados conhecimentos científicos para
proposição de soluções aos problemas do setor educacional (MENDONÇA, 2006).
Essa ideia está presente nas mensagens presidenciais de Juscelino Kubitschek, em
1956, quando enfatizou que a educação e seus problemas deviam ser pesquisados
através do INEP e seus órgãos, a fim de verificar a realidade da educação nas
diversas regiões brasileiras. Essas pesquisas, realizadas nos anos de 1950 e 1960,
6
Juscelino Kubitschek junto com sua equipe construiu um plano governamental chamado
Plano de Metas composto de 30 metas, incluindo ainda a meta síntese relativa à construção de
Brasília. Estas metas foram divididas em cinco setores assim distribuídos: 1 a 5: energia; 6 a 12:
transportes; 13 a 18: alimentação; 19 a 29: indústria de base; e 30: educação (BENEVIDES, 1976). A
educação, que abarcava somente uma meta voltava-se apenas à formação e capacitação de
profissionais ligados aos outros quatro setores de investimentos do Plano de Metas (LAFER, 1973).
16
7
A RBEP, publicação do INEP, foi fundada em 1944 durante a coordenação de Manoel
Bergstrom Lourenço Filho e é lançada até o momento com periodicidade quadrimestral. Seus artigos
são resultados de pesquisas e estudos que visam cooperar com o desenvolvimento do setor da
educação bem como oferecer dados às políticas educacionais. A escolha de determinados artigos
dessa revista enquanto fonte utilizada para elaborar essa dissertação deve-se à pertinência do
conteúdo quanto aos desdobramentos e quesitos que envolveram a construção e trajetória da CNEA.
A RBEP on line encontra-se disponível em: <http://rbep.inep.gov.br/index.php/RBEP>. Acesso em: 15
jul. 2010.
8
Moreira, natural de Mafra, SC, cursou o ensino primário em Joinville, no Grupo Escolar
Conselheiro Mafra. Foi diretor nessa mesma escola nos anos de 1934 e 1935. Em seguida estudou
humanidades clássicas em São Leopoldo, RS. Formou-se em Pedagogia pela Universidade Católica
do Rio de Janeiro, tendo feito diversos cursos de extensão no Brasil, EUA e França. Especializado
em Sociologia e Psicologia da Educação na Universidade de São Paulo (USP), foi professor
concursado de Português e Literatura na Escola de Professores de Ponta Grossa, PR, além de
professor de Psicologia, Pedagogia e Didática no Instituto de Educação do Estado de Santa Catarina,
onde também foi diretor até 1943. Nesse momento iniciou a sua aproximação com Fernando
Azevedo. Em 1947 foi aprovado em concurso do INEP para comandar a Seção de Documentação e
Intercâmbio daquela instituição. Dirigiu, em 1951, o Colégio de Cataguases, em Minas Gerais, além
de coordenar e ser vice-diretor do Colégio Nova Friburgo, da Fundação Getúlio Vargas (FGV), no Rio
de Janeiro, entre 1952 e 1953. No INEP conheceu Anísio Teixeira, por quem foi designado como
coordenador da Campanha de Inquéritos e Levantamentos do Ensino Médio e Elementar (CILEME),
tendo ainda auxiliado no planejamento do CBPE, até sua designação pelo então Ministro da
Educação Clóvis Salgado, a partir de 1957, para dirigir a CNEA.Crê-se que foi devido à articulação e
influência política adquirida ao longo de sua carreira em diferentes cidades do Brasil, como
coordenador e diretor de colégios e ações do INEP, somado à formação acadêmica, que João
Roberto Moreira foi escolhido como coordenador CNEA (DANIEL, 2003). Parte do acervo de João
Roberto Moreira encontra-se disponível no Programa de Estudos e Documentação Educação e
Sociedade (PROEDES) da UFRJ (Disponível em: <http://www.proedes.fe.ufrj.br/arquivo/joao.htm>.
Acesso em 15/07/2010). Vários artigos e livros de Moreira encontram-se no INEP.
17
9
Cobaia era o termo utilizado para designar o município escolhido pelo governo federal para
sediar o programa experimental de combate à erradicação do analfabetismo no Brasil. No Estado de
Santa Catarina, dois municípios foram selecionados: Tubarão e Joinville.
19
[...] é boa. Dos dezoito e meio milhões de brasileiros que, em 1950, sabiam
ler e escrever, apenas ¼ tinha curso primário completo, ou seja, cerca de
10% da população total, ao passo que, dos 720 mil catarinenses que
sabiam ler e escrever, mais de 1/3 tinha curso primário completo, ou seja,
cerca de 17% da população total do Estado. (MOREIRA, 1954, p. 93).
10
Anísio Spínola Teixeira, educador, dirigiu o INEP durante o período de 1952 a 1964 e criou o
CBPE. Foi um Intelectual que teve participação ativa nos debates educacionais nas décadas de 1950
e 1960 (XAVIER, 1999).
11
O Seminário Sócio-Econômico foi realizado pela Federação das Indústrias do Estado de
Santa Catarina (FIESC) no ano de 1959 e parte de 1960. Nesse seminário elencou-se 20 metas que
deveriam ser postas em prática pelo candidato que ganhasse o pleito de governador do Estado de
Santa Catarina (SANTOS, 1970).
20
lei [que por sua vez] está intimamente ligada a determinadas formas de
concepção da escola, concepções estas que são produzidas no interior [...]
do Estado, mas apropriadas, de maneiras as mais diversas pelos diferentes
sujeitos ligados à produção e à realização da legislação. (FARIA FILHO,
1998, p. 115).
Essa legislação foi tratada como uma fonte inter-relacionada com as demais
fontes eleitas nessa dissertação, com o intuito de perceber se o que foi prescrito
formalmente em lei realmente foi implementado em Joinville.
O jornal foi também uma fonte utilizada para compreender a execução da
CNEA em Joinville. Aliás, conforme mencionado anteriormente, o trecho que
motivou as indagações desta pesquisa pertence a uma matéria do jornal A Notícia,
de 17 de fevereiro de 1960. Entende-se que uma
12
O jornal A Notícia, fundado em 24 de fevereiro de 1923, encontra-se atualmente em
circulação na cidade de Joinville e região. O jornal mantém, na sua unidade, um acervo de jornais
diários, que se inicia no ano de sua fundação, porém não cobre todas as publicações, pois parte do
acervo se perdeu num incêndio nos anos de 1980.
22
Senhor Prefeito,
Com alegria e imenso prazer venho em nome das crianças, agradecer. Na
sua bondade, tão gentil deu mais uma escola ao Brasil. Aqui recebemos
com dedicação, a nossa tão preciosa formação. Por isso a Deus damos
louvor. E profunda gratidão ao senhor.
13
Relatório da Inspetoria Escolar Municipal do ano letivo de 1957.
24
14
Destaca-se a diretora do Plano Piloto da CNEA em Joinville, Maria Amim Ghanem, falecida
em 15 de setembro de 1984. Sua irmã, Matilde Amim Ghanem, possui um arquivo pessoal sobre a
trajetória dessa diretora. Essas informações foram fornecidas à pesquisadora desse estudo conforme
será disposto no capítulo três. Destacam-se ainda as entrevistas contidas no Arquivo Histórico de
Joinville dos dois prefeitos, também falecidos, Baltasar Buschle e Helmuth Ernesto Fallgatter,
envolvidos na efetivação da campanha. Nessas entrevistas, consta a visão educacional de ambos e
seus feitos nesse setor.
15
Entrevista com uma das diretoras da CNEA em Joinville sra. Clotilde Macedo Machado.
25
16
Definiu-se este material como relatório por conta da mestranda Gisele Gutstein Guttschow,
pois Moreira o chamou como a “... primeira notícia sistematizada da experiência educacional,
constituída pelo projeto Piloto de Erradicação do Analfabetismo” (MOREIRA, 1960, p. 4).
27
17
Foram eleitas estas obras como fontes, pois o autor Silvio Coelho dos Santos faz um parecer
sobre o sistema educacional catarinense através de dados colhidos enquanto foi o coordenador do
Centro de Estudos e Pesquisas Educacionais – CEPE, de Santa Catarina (1963 a 1970).
28
Como foi possível perceber, a matéria relata sobre os benefícios que seriam
obtidos com a implementação da CNEA em Joinville, destacando-se os ganhos
relativos às inovações pedagógicas e à abertura de vagas para os estudantes
mediante a construção de 20 novos estabelecimentos de ensino.
A criação da CNEA, através da Portaria nº 5-A de 9 de janeiro de 195818
(Anexo 1), encontrava-se vinculada à realidade dos anos de 1950, período em que
houve significativos avanços no setor da ciência e da tecnologia. Já no campo
político, esse tempo foi marcado pelos embates entre capitalistas e socialistas na
chamada Guerra Fria, bem como por transformações ocorridas no âmbito cultural e
social19.
Contudo, vale ressaltar que a CNEA não foi a primeira medida voltada à
educação que o governo implantou nessa época. Após o fim da Segunda Guerra
Mundial20 destacaram-se mobilizações referentes à educação, como por exemplo
18
Publicada no Diário Oficial de 22 de janeiro de 1958.
19
Para saber mais consulte Feitosa (2009).
20
Nesse estudo optou-se por investigar apenas as iniciativas educacionais realizadas após a
Segunda Guerra Mundial até 1963, por serem mais relevantes em relação às configurações do
contexto estudado. Não é objetivo dessa dissertação fazer um levantamento histórico de todas as
medidas educacionais de cada período brasileiro ou de cada chefe do executivo.
30
21
Essa pesquisa não abrange discussões sobre as diversas concepções do ideário nacional-
desenvolvimentismo referentes ao período 1946-1964. Para obter informações sobre esse assunto,
consulte Cruz (2010), Gonçalves e Gonçalves (2008).
32
educação galgou seu espaço e atenção no decorrer do mandato de JK. Não como
propulsora do desenvolvimento nacional, mas como ferramenta para o crescimento
econômico do país. Para isso, sua função primeira deveria se voltar para a formação
técnica dos brasileiros, para suprir as necessidades de profissionais capacitados,
vinculados aos outros setores de investimento do Plano de Metas.
Porém, para atingir a 30ª meta houve vários problemas. Dentre esses, um
dos empecilhos para o desenvolvimento econômico do Brasil, relatado por Horácio
Lafer, na época ministro das Relações Exteriores, foi o analfabetismo (XAVIER,
1999).
Em Joinville, o jornal A Notícia tratou essa questão em matéria cujo título
permite dimensionar o tamanho do problema: “Trinta Milhões de Analfabetos
Vegetando no Brasil: A desgraça do Brasil tem seu alicerce no analfabetismo” (A
Notícia, 23 jan. 1958). Conforme Moreira (1960, p. 21) o analfabetismo é para o ser
humano um fator que “dificulta o seu bem estar social, por privá-lo de um
instrumento de informações e de orientação”. Segundo este autor, a questão do
analfabetismo sempre era relembrada, e ganhava destaque nos debates
educacionais e políticos, quando urgiam no país propostas que representassem
mudanças políticas e sociais.
Como já salientado anteriormente, os anos de 1950 foram um período de
transformações permeado pelo ideário do nacional-desenvolvimentismo que primava
pela ascensão econômica do Brasil. Assim, entre as principais dificuldades que se
interpunham ao desenvolvimento do Brasil estava o analfabetismo, que só poderia
ser sanado se entendido na relação entre educação e desenvolvimento.
Dessa forma,
Essa visão de JK sobre a educação indica sua representação como algo que
deriva do crescimento econômico e não precedente a ele. E dessa forma foi
apropriada no Plano de Metas de Juscelino, como formação de pessoal capacitado
para diversos setores da indústria brasileira. Observa-se que problemas
educacionais estavam na pauta do plano do governo federal, mas dentro da ótica
que só poderiam ser solucionados se antes fossem resolvidos os entraves da
industrialização e da economia brasileira.
Dentro dos padrões do nacional-desenvolvimentismo defendido naquele
contexto, o financiamento encontrado para tal proposição foi proveniente do capital
externo.
22
Segundo Cunha (2002, p. 138), “[...] a ajuda dos países desenvolvidos aos países periféricos
tinha como alvo, no plano político, a conservação da democracia, a rejeição de idéias que pudessem
desestabilizar os ideais do mundo ocidental, ou seja, tinha como meta afastar o ‘perigo’ do
comunismo”.
23
Não é pretendido nessa dissertação afirmar que a interferência da UNESCO no Brasil foi
aceita de forma unânime. Porém, nos documentos consultados, ela foi compreendida, naquele
contexto, como auxílio estrangeiro.
35
era desejável pelo governo e pelos setores que o apoiavam, dotada de aspectos
positivos e denominada como ajuda externa.
A UNESCO, órgão ligado à Organização das Nações Unidas (ONU),
surgidas, as duas, durante o mundo pós Segunda Guerra Mundial, traçava o rumo
na direção de “[...] ampliar as bases da educação no mundo e levar os benefícios da
ciência a todos os países” (XAVIER, 1999, p. 87). Desde sua fundação em 1945
este órgão
Assim, este órgão encontrou, no Brasil, terreno propício para efetivar seus
planos, principalmente, no governo JK, e transformou-se em “máquina de fabrico de
respeito e submissão” (CHARTIER, 1998, p. 22). As proposições da UNESCO em
termos de planejamento para o desenvolvimento econômico de um país, foram
36
24
Para saber mais consultar SOUZA (1999).
37
25
Foi criado na IX Conferência Geral da UNESCO em Nova Delhi em 1956. Os países que
compunham como membros desse projeto foram a Argentina, Brasil, Colômbia, Costa Rica, Chile,
Guatelama, Haiti, México, Nicarágua, Peru, República Dominicana e Uruguai. (SOUZA, 1999).
26
Conforme esclarece Xavier (1999), a criação do CBPE está associada ao ideário do nacional
desenvolvimentismo e à “[...] busca da racionalidade na administração pública – inclusive criando
órgãos paralelos de assessoria técnica com o intuito de obter diagnósticos precisos da situação” (p.
53). Ou seja, o desenvolvimento do CBPE está intimamente ligado a diagnosticar, com os seus
profissionais, a educação no país.
38
27
Cabe observar que Governos anteriores também se preocuparam com o desenvolvimento do
país, tendo em vista particularidades e objetivos voltados ao crescimento econômico e industrial do
país, no entanto tais enfoques não foram objeto da presente pesquisa. Destaca-se, por exemplo o
governo de Getúlio Vargas. Para isso ver Suzigan (1988).
28
Azanha (1995) faz uma citação do livro Planejamento Educacional do Brasil, do autor R.
Moreira.
40
29
Conforme Moreira (1960), municípios representativos seriam aqueles que exerciam influência
nas regiões, rurais ou urbanas, de seu entorno.
44
30
Manoel Bergstrom Lourenço Filho formou-se em 1929 como bacharel em Ciências Jurídicas
e Sociais e, nesse mesmo ano foi designado para a Academia Paulista de Letras (APL). Em 1934, foi
eleito presidente da ABE.
47
31
Nas considerações de Moreira (1960), profissionais de outras áreas, como, por exemplo,
arquitetos, encarregados de fazer projetos de escolas adequados às diferentes regiões brasileiras,
também foram contratados nesta ocasião para viabilizar as campanhas educacionais do governo
federal.
48
Na criação da nova cultura brasileira, que surge agora para dar expressão
consciente às tendências históricas de formação da nacionalidade, dentro
do quadro mais amplo de renascimento e de renovação universal na
marcha das civilizações humanas, torna-se de alta relevância o papel
influente da educação como função construtiva e propulsora do processo de
desenvolvimento em curso na comunidade brasileira. [...] Considerando,
pois, objetivamente, sob o ponto de vista histórico, um sistema educacional
deve ser encarado como meio de transmissão por gerações sucessivas, de
consolidação e de aperfeiçoamento de uma cultura, e não como fonte de
criação e de surgimento da mesma. No caso específico da comunidade
brasileira, a reforma do seu sistema educacional impõem-se como uma
decorrência da atual fase de desenvolvimento que a mesma atravessa.
(ANDRADE, 1958, p. 46-47 [sic]).
32
A única informação obtida sobre ele, até o momento, é que era professor da Escola Naval.
50
21), “[...] o analfabetismo tem causas sociais e econômicas que devem ser
convenientemente conhecidas, para que, compreendendo esse fenômeno na inter-
relação e no contexto de suas causas e condições, seja ele controlado e dominado”.
Assim, foram realizados estudos que visaram contribuir para que as metas
do governo federal fossem atingidas, os quais acabaram por culminar na criação da
CNEA.
Entre os diversos estudos realizados na época, compete ainda citar os
iniciados em Leopoldina, estudos que, de acordo com Salgado, “[...] servirão de
base para um planejamento em escala nacional, de uma campanha para varrer o
analfabetismo” (1958, p. 55), ou seja, a CNEA. Cumpre observar que, a cada ano
do período de 1958-1963, a CNEA galgou novos centros-pilotos, e chegou a atuar
em 34 núcleos espalhados por todo o país (PAIVA, 1985).
Foi com esta constatação que João Roberto Moreira foi designado, em 1957,
pelo então ministro Clóvis Salgado, durante o governo JK, para coordenar a CNEA.
E foi com essas palavras que ele finalizou a seção de apresentação do primeiro
relatório33 sobre a campanha, intitulado Uma experiência de educação: o projeto
piloto de erradicação do analfabetismo, do Ministério de Educação e Cultura. O
autor enfatizou, nas três páginas desse documento, os agradecimentos a todos que
estiveram envolvidos com a realização da CNEA, que já no ano de 1960 passou a
ser implementada em quinze municípios brasileiros.
33
Optou-se, nesta dissertação, por tratar o referido documento como relatório. Cumpre
observar que Moreira (1960) o chamou como a “[...] primeira notícia sistematizada da experiência
educacional, constituída pelo projeto piloto de erradicação do analfabetismo” (p. 4).
52
34
Observa-se que João Roberto Moreira fez um extenso agradecimento aos arquitetos, devido
aos projetos de prédios escolares de baixo custo. Os projetos eram desenvolvidos visando as
características locais e regionais, como, por exemplo, o clima, e as necessidades locais.
53
condições meteorológicas que incidiram naquele local, o que ocasionou “[...] grandes
prejuízos à sede do Município e suas áreas vizinhas” (MOREIRA, 1960, p. 12).
Também contribuíram para sustentar o projeto da CNEA dados obtidos pela
equipe de Oracy Nogueira35, sendo que os mais utilizados foram os estudos feitos
em áreas urbanas brasileiras, como, por exemplo, o de Itapetininga, município
localizado no Estado de São Paulo. Essas informações forneceram “[...] os meios
para apurar as possíveis diferenças no processo de socialização operante no Brasil,
em face das diferenças de estrutura, de economia e cultura das sociedades locais”
(MOREIRA, 1960, p. 18). A importância da contribuição de Nogueira ficou registrada
nos agradecimentos de Moreira, na seção de apresentação do relatório sobre a
campanha:
35
Oracy Nogueira foi ex-professor de Darcy Ribeiro, então Diretor da Divisão de Estudos e
Pesquisas Sociais do CBPE. Junto com João Roberto Moreira, Ribeiro convidou Nogueira para atuar
no CBPE, onde projetou e dirigiu o Projeto de Instituição de uma área-laboratório para pesquisas
referentes à educação. Trabalho que foi compilado por Moreira para a elaboração do projeto da
CNEA (FERREIRA, 2006, p. 168-169).
36
Andrew Pearse, cientista social britânico, desenvolveu, com Josildete Gomes o trabalho
intitulado Estudo sobre uma escola primária e suas relações com seu bairro e vizinhança,
dentro da área temática do CBPE, os processos de urbanização e industrialização e a educação
escolarizada (FERREIRA, 2008).
37
Josildete Gomes foi a antropóloga responsável por um dos trabalhos da temática “educação
em pequenas comunidades do CBPE”, intitulado A educação nos estudos de comunidades no
Brasil (1956) (FERREIRA, 2008).
38
Aparecida Joly Gouveia, falecida em 1998, foi pesquisadora do CBPE e dos Centros
Regionais. Como fruto do seu trabalho nesses centros, redigiu o texto Milhares de normalistas,
milhões de analfabetos (1961) (BARRETO, 1998).
54
Por falta de uma opinião nacional a respeito dos fins e meios da escola
elementar, elaborar ou, como dizem os norte-americanos, construir o
currículo dessa escola, tem sido entre nós a coisa mais fácil e rotineira.
Para tal não se tem requerido sequer que um educador seja responsável, e
muito menos que especialistas em educação elementar sejam chamados. É
39
Pelo CBPE foram realizadas 12 monografias resultantes das pesquisas empreendidas em 12
municípios. Essas foram condensandas em uma coleção especial cujo título é Sociedade e
Educação. O volume 8 dessa coleção refere-se ao estudo realizado em Joinville (SC), cujo título é o
próprio nome da cidade. Até o momento da pesquisa esse material não foi localizado.
40
Em princípio, dois educadores de cada município “cobaia” foram enviados para Leopoldina.
Na sequência, foi pretendido que esse número aumentasse gradativamente, para que a campanha
conseguisse envolver o maior número de profissionais.
41
Survey é um método de pesquisa quantitativo, normalmente realizado através de guias,
entrevistas e/ou questionários.
56
O autor aponta que o currículo da escola primária foi elaborado por uma
retórica legitimadora, do início do século XX, e enfatiza que a escola elementar foi
pensada na “[...] habilidade de responder perguntas” (MOREIRA, 1956, p. 49). E
argumenta que nos cursos universitários oferecidos na época, nos artigos
publicados em revistas especializadas e nos livros relativos à educação diz-se
“[...]que o objetivo primordial da educação é promover o desenvolvimento harmônico
e integral das crianças” (MOREIRA, 1956, p. 49). Além disso, verifica que a
configuração da escola, bem como os conteúdos dispostos em seu currículo, foram
definidos sem a devida análise de especialistas e de instituições qualificadas para tal
função. Simplesmente o currículo era repetido ano a ano, pois os conteúdos das
disciplinas escolares, ou seja, o que deve ser ensinado, já estava prescrito. Com
efeito, Moreira (1956) apontou a discrepância sobre a teoria e a prática, ou seja,
entre o que se diz e o que se faz na educação.
Dessa forma, analisar os currículos não deveria ser mera formalidade, mas
fator de necessária pesquisa e estudo. Pois, ao deparar-se com o ensino dos
municípios escolhidos para a implementação da CNEA, Moreira enfatizou que os
currículos
42
Os governadores mencionados foram Irineu Bornhausen (1951-1956) e Jorge Lacerda (31 de
janeiro de 1956- – 16 de junho de 1958). Porém Lacerda faleceu em acidente aéreo (em 16 de junho
de 1958), assumindo o vice Heriberto Hülse (16 de junho de 1958 – 31 de janeiro de 1961).
43
O intelectual Alcides de Abreu, que ocupou o quadro de funcionários da Federação das
Indústrias do Estado de Santa Catarina (FIESC), é tido como o criador do PLAMEG. Durante o
mandato de Celso Ramos, Abreu ocupou o cargo de diretor do Gabinete do Planejamento (AGUIAR,
2008).
61
44
Nereu Ramos fundou o Partido Liberal de Santa Catarina (PLC) em 1927, o qual foi fechado
durante o Estado Novo. Em 1934 Ramos foi deputado na Assembléia Nacional Constituinte e nas
eleições indiretas foi eleito governador do Estado catarinense.
45
Conforme Carreirão (1990), os demais partidos que se formaram no período da
redemocratização e tiveram atuação em Santa Catarina foram: União Democrática Nacional (UDN),
Partido de Representação Popular (PRP), Partido Comunista do Brasil (PCB), Partido Social
Progressista (PSP), Partido Democrata Cristão (PDC) e Partido Libertador (PL).
62
46
Carreirão (1990) também observa que “a principal estratégia de crescimento partidário [do
PTB] a partir das alianças com o PSD ao final do período (1960), porém, não parece ter sido a de
obter cargos no governo do Estado [...], mas sim a de lançar candidatos a prefeito em coligação com
o PSD, em troca do apoio eleitoral nos pleitos ao governo estadual” (p. 48).
63
47
Iniciais de Saúde, Alimentação, Transporte e Energia.
64
48
A FIESC foi fundada em 25 de maio de 1950.
49
A CNI foi fundada em 12 de agosto de 1938.
50
A CEPAL foi fundada após a Segunda Guerra Mundial (1939-1945) pela ONU, em 1948.
51
Para saber mais consulte Gonçalves e Gonçalves (2008).
65
52
Houve três etapas para a consubstanciação do Seminário: a primeira, denominada como
Reuniões Informais; a segunda, intitulada como Reuniões Regionais; e, por último, a etapa 3 foi o
Seminário Sócio-Econômico em si (SANTA CATARINA, 1961, p. 181). Para um conhecimento mais
abrangente sobre a execução do Seminário ver Schmitz (1985).
66
53
Celso Ramos foi presidente da FIESC durante cinco mandatos consecutivos.
67
II - O MEIO
Investimentos de infra-estrutura
5. Energia 4.650 465,0 744,0 930,0 1.116,0 1.395,0
6. Rodovias 4.950 495,0 792,0 990,0 1.188,0 1.485,0
7. Obras e Arte 600 60,0 96,0 120,0 144,0 180,0
Agricultura e Pecuária
8. Armazém e ensilagem 260 26,0 41,6 52,0 62,4 78,0
9. Experimentação, fomento e
aparelhamento agro-pecuário 820 82,0 131,2 164,0 196,8 246,0
10. Abastecimento 250 25,0 40,0 50,0 60,0 75,0
Indústria
11. Participação em
empreendimentos pioneiros 1.000 100,0 160,0 200,0 240,0 300,0
Crédito
12. Banco do Estado 300 150,0 30,0 30,0 40,0 50,0
68
(%)
ÁREAS DE INVESTIMENTOS PREVISÃO DE GASTOS
Rodovias 28,3
Energia 26,6
empreitada; e, a segunda, pelo fato de ter reunido, durante seus anos de trabalho, a
documentação necessária para a elaboração de tal monografia.
No referido estudo, inicialmente o autor levantou o histórico do final do
Império e início da República, sobre as condições do ensino, da escola e do papel
do professor frente à educação do Estado catarinense. Na continuidade, Moreira
expõe as dificuldades de comunicação e interação entre os estabelecimentos
localizados em diferentes regiões, sobretudo entre o litoral e o planalto, cujos
problemas eram de caráter geográfico e também a falta de estradas.
A inviabilidade das vias de comunicação agravava sobremaneira o problema
do ensino, pois o empecilho consistia em “[...] criar um sistema educacional e não o
de renovar ou continuar ou expandir algo já estabelecido” (MOREIRA, 1954, p. 14).
A interação entre o próprio litoral, entre o planalto e entre litoral e planalto era muito
difícil, dificuldade que influenciava também uma ação educacional unificada em todo
o território catarinense. Para ele,
primeiras letras. Estava-se numa época em que se tinha por certo que o saber ler e
escrever era o ‘abre-te-sésamo’ de todo o progresso individual e coletivo”
(MOREIRA, 1954, p. 18).
E o problema educacional tornava-se acentuado pela insuficiência de
profissionais qualificados para o cargo do magistério. O autor exemplifica que “em
1940, 2/3 do professorado primário não tinha formação pedagógica especializada
para a função” (MOREIRA, 1954, p. 69).
Mesmo com os inúmeros percalços da educação em Santa Catarina,
segundo o recenseamento de 1950, somente três Estados –de São Paulo (59,35%),
o Distrito Federal (79,89%) e o Rio Grande do Sul (58,61%) – apresentavam índices
melhores que os de Santa Catarina (56,63%) em relação à população com 5 anos
ou mais de idade que sabiam ler e escrever. Dessa forma, comparado aos demais
estados brasileiros, o quadro educacional catarinense era bom. No entanto, Moreira
também enfatizou:
54
O Gabinete de Planejamento do PLAMEG foi composto pelo Secretário Executivo
engenheiro Annes Gualberto, pelo Secretário de Estado Sem Pasta Paulo Costa Ramos e pelo
Assistente de Gabinete Hoyêdo de Gouvêa Lins (SANTA CATARINA, 1964, p. 1).
73
55
Na capital as pessoas indicadas para dirigir o programa de combate ao analfabetismo foram
as professoras Elza Rigen e Guiomar Rodrigues Maia (A NOTÍCIA, 20 set. 1961).
76
só partirá para uma nova atitude o governo que entender [...] a educação
um investimento prioritário. Os povos que algum dia desejarem firmar-se
pelo desenvolvimento, aprenderam, mais cedo ou mais tarde, que antes de
tudo deveriam investir em educação. [...] Em Santa Catarina [...] temos,
para cada pessoa economicamente ativa, uma outra a manter e a educar.
[...] tudo nos ensina, que, ou damos oportunidades crescentes à população
escolar, ou não teremos, no prazo mínimo necessário, a mão de obra
especializada, nem os técnicos, nem os profissionais liberais de que
precisamos com urgência (SANTA CATARINA, 1965, p. 31 e 32).
80
[...] 2000 salas de aula já foram construídas nesses últimos quatro anos;
porque dezenas de estabelecimentos de ensino médio foram criados;
porque se processaram os convênios de gratuidade com os
estabelecimentos particulares de ensino e porque já se tenham realizado,
em 4 anos, cerca de 20 cursos de treinamento e aperfeiçoamento do
magistério, como atendimento de quase 5.000 professores (SANTA
CATARINA, 1965, p.32).
57
Apolinário Ternes é historiador e jornalista, trabalhou durante a escrita do livro História do
Jornal A Notícia no próprio jornal.
82
PSD. Por isso, então, um jornal com tendências do PSD, denuncia e reforça em
suas matérias as deficiências no setor educacional nos governos que antecederam o
mandato de Celso Ramos e reiteram o esforço do governador atual em saná-las.
O objetivo desse capítulo foi analisar a implementação da CNEA no Estado
de Santa Catarina e o envolvimento do setor político nessa questão, bem como
compreender a situação educacional no Estado nos anos de 1950 e 1960.
Percebeu-se que a eleição de Celso Ramos ao cargo de governador do
Estado catarinense foi articulada desde sua presidência no comando da FIESC e
que o Documento Básico foi base para o plano de governo desse político.
Mostrou-se o teor das matérias do jornal A Notícia inclinadas a enaltecer as
ações no setor educacional dos governos filiados ao partido do PSD e remeter os
empecilhos da educação aos governos anteriores filiados a UDN.
83
Em sua origem, a área onde hoje se localiza Joinville fazia parte do dote da
Princesa Francisca Carolina58 pelo seu casamento com François Ferdinad Phillipe,
príncipe da cidade de Joinville na França.
Príncipe e princesa acordaram com a Sociedade Colonizadora de Hamburgo
que parte do dote seria concedido a esta empresa para promover a colonização das
terras na então província de Santa Catarina. Foi assim fundada, em 1851, a Colônia
Dona Francisca com a vinda dos primeiros imigrantes alemães, suíços e
noruegueses, e se depararam com a pouca infraestrutura do local59.
Com o passar dos anos a Colônia Dona Francisca se transformou em
Joinville60 e, de uma economia de subsistência, passou a angariar lucros com o
comércio de erva-mate e da madeira, o que propiciou “o acúmulo de capital inicial
para os futuros empreendimentos industriais” (COSTA, 2000, p. 108).
A cidade apresentava nos anos de 1920 a soma de quarenta e três
estabelecimentos industriais, no ano de 1938, segundo Coelho (2000), já eram
trezentas e quarenta e nove indústrias, nos mais diversos ramos de atividade.
Durante o mandato do prefeito Baltasar Buschle (1958-1961) ele relatou que
Joinville era a cidade das sirenes. Então, toda a manhã, às seis horas, todo
o meio-dia, entendeu, a sirene, todas às seis horas da tarde, conforme os
horários nós ouvíamos as sirenes na cidade. As sirenes das indústrias
(BUSCHLE, Baltasar. Entrevista concedida a Dunia Anjos de Freitas no dia
09/05/1996, Arquivo Histórico de Joinville).
Com o passar dos anos Joinville se transformou num dos principais pólos
industriais do Estado, ficando conhecida como Manchester Catarinense61 (SANTOS,
2005).
Com o crescimento das indústrias e de suas atividades, desde a chegada
dos imigrantes alemães, houve entre os habitantes joinvillenses certa preocupação,
58
Filha do imperador D. Pedro I, irmã de D. Pedro II.
59
As propagandas divulgadas pela empresa Colonizadora de Hamburgo para chamar os
imigrantes foram enganosas. O imigrante chegava na colônia sem a estrutura, como casas, estradas
e jardins, anunciada nas propagandas (GUEDES, 2000).
60
Em 1869 surge a primeira Câmara Municipal que mudou o nome da colônia para Joinville a
fim de homenagear o príncipe da França.
61
Referência a cidade da Inglaterra que leva o mesmo nome.
84
dentre outras coisas, com a educação (COSTA, 2005). Tanto que, por parte dos
imigrantes ocorreu a abertura de escolas alemãs para educar seus filhos62.
Silva comenta que
Mas percebeu-se que o cuidado com a educação não foi somente dos
imigrantes e seus descendentes. O Estado de Santa Catarina e o governo federal
não estavam alheios a esta questão. Tanto que
62
O ensino do alemão nas escolas de origem aconteceu livremente na cidade até o início da
campanha de nacionalização do ensino que ocorreu no final dos anos 30 e início doas anos de 1940.
Para saber mais ver Monteiro (1983).
63
Grupo Escolar Conselheiro Mafra instalado pelo professor Orestes Guimarães (1907). Em
seguida outros grupos foram instalados na capital do Estado catarinense, Florianópolis, e nos
municípios de Blumenau e Itajaí.
64
Nesse momento Moreira estava com vinte anos.
85
Dessa forma, Joinville se tornou no início do Século XX, cidade dos jovens
catarinenses que objetivavam estudar além das primeiras letras. O autor também
comenta que desde o princípio de formação das vilas e posteriores cidades do
Estado catarinense havia muitos analfabetos, mas que nas cidades originárias da
cultura alemã, em destaque Joinville65, esse número era mínimo.
Moreira (1954, p. 18) explica que esta condição se deu em função das
propícias condições econômicas e de fertilidade do solo desses municípios, o que
levou a população com uma condição econômica crescente a investir na educação
de suas crianças e jovens. Mas, por serem cidades prósperas, houve um conjunto
de migrações e imigrações para essas localidades, o que consequentemente, trouxe
para seu interior a chaga do analfabetismo. Nas palavras do autor “com exceção dos
alemães e italianos, todas as demais correntes migratórias, quer brasileiras, quer
européias, apresentavam alto índice de analfabetismo”.
Porém Silva enfatiza que nos anos iniciais da Colônia Dona Francisca
No ano de 1862 havia na então colônia três escolas públicas, ainda assim,
“havia pedidos dos colonos para construção de novas escolas, mas a direção da
Colônia não responde a esses anseios dos moradores” (SILVA, 2003, p.61). Do ano
de 1867 até o ano de 1907 as reivindicações educacionais da população da Colônia
Dona Francisca giravam em torno de construção de novos estabelecimentos de
ensino.
Essas informações induzem a reflexão sobre a análise de Moreira sobre a
questão do analfabetismo nas cidades de origem alemãs e italianas. Será que o
analfabetismo não estava presente nessas localidades? Já que por um período a
solicitação dos colonos na construção de escolas foi incisiva. O que leva a crer que
alguns ficaram sem instrução pela falta desses estabelecimentos. Uma hipótese
para as considerações de Moreira sobre o pequeno número de analfabetos para as
cidades de origem alemã e italiana é que sua análise tenha sida baseada na
65
Outras cidades elencadas pelo autor são Blumenau e Jaraguá do Sul.
86
66
Foi político filiado a UDN. Tornou-se inimigo político de Getúlio Vargas e Juscelino.
Primeiro governador do estado da Guanabara (1960 - 65). Foi cassado pelo Regime Militar em 1968.
Morreu em 1977.
87
habitantes, sendo que trinta e cinco mil habitavam o perímetro urbano e quinze mil
as zonas suburbanas e rural.
Pensando nos quesitos propostos por Moreira (1960) para uma cidade ser
escolhida como sede da CNEA, Joinville se enquadrava nesse item: cidade de
números de habitantes entre cinco e cinqüenta mil pessoas, com influência no
perímetro rural e nas demais cidades em seu entorno; com destaque no setor
econômico e industrial, com mais de quinhentos estabelecimentos industriais e cerca
de mil comerciais. Verifica-se que a questão do crescimento econômico da cidade é
anunciada nas bibliografias consultadas e nos documentos oficiais, uma hipótese
para tal fato é que havia a tentativa de evidenciar a representação de uma cidade
próspera para angariar mais investimentos a nível federal e estadual.
Em relação à questão educacional, esta foi posta em três anexos. O primeiro
trata do Colégio Bom Jesus67, o segundo da Faculdade de Engenharia de Joinville68
e o terceiro sobre a situação escolar do município. Este último foi discriminado em
sete itens:
Esse item contribui com a explicação sobre a intensa migração que veio
sofrendo Joinville ao longo dos anos por se destacar como pólo industrial do Estado.
Em 1940 a população do município joinvillense era em torno de 30.040 pessoas
enquanto nos anos de 1960 o número populacional estava em torno de 70.687
(PREFEITURA MUNICIPAL DE JOINVILLE, 2002, p. 23). O que implicava numa
revisão do orçamento do município, que pelo que parece, não conseguia mais
atender às necessidades da população da cidade naquele momento. Por outro lado,
67
Deutsche Schule ou Escola Alemã, fundada em 1866, foi a instituição que antecedeu o
Colégio Bom Jesus. A Escola Alemã foi incorporada pelo Instituo Bom Jesus, que era um
educandário, em 1938 em função da campanha de nacionalização do ensino, com a direção de Ana
Maria Harger. Em 1942, o Instituto passa a ser chamado de Colégio Bom Jesus funcionando com
curso secundário completo, ginásio (quatro anos de duração) e com o curso científico e clássico (os
dois com três anos de duração) TERNES (1986).
68
Fundada pelo governo do Estado de Santa Catarina em 09 de outubro de 1956. Foi uma
iniciativa de trazer o ensino superior a uma cidade, considerada pólo industrial do Estado, sem ser a
capital do mesmo. www.joinville.udesc.br/portal/instituicao. Acesso 11/10/2010.
89
cada escola será visitada por uma ou duas inspetoras. Elas iriam fazer a
avaliação do desempenho da professora, e aquela professora que não
desse o resultado que se esperava, quer dizer do cumprimento da missão
dela, como professora, com essa depois, eu iria discutir o assunto
particularmente, e para ver até onde ela tinha vocação ou não tinha.Agora
no fim do ano, eu vou cobrar duramente, pelos resultados das aprovações.
E elas entenderam bem o recado, e realmente, as escolas ficaram mais
motivadas” (BUSCHLE, Baltasar. Entrevista concedida a Dunia Anjos de
Freitas no dia 09/05/1996, Arquivo Histórico de Joinville).
69
Hoje Colégio Santos Anjos.
70
Em relação a matrícula final, os relatórios pesquisados não especificam se esses alunos
foram os que passaram na prova final ou se são os alunos que permaneceram matriculados até o
final do ano letivo.
93
71
Não encontrou-se explicação para essa denominação: Sr. Secretário Sem Pasta.
94
72
Sendo que nesse último a senhora Mariam Amim Ghanem era a diretora e Clotilde Macedo
Machado uma das professoras.
95
o Sr. Prefeito [...] deu por inaugurado, dia 9, domingo, o prédio localizado na
Estrada Blumenau onde, sob a direção da devotada e zelosa professora,
Da. Gertrudes Taubner, funcionará a Escola Municipal “Padre Carlos”.
Quando fazia sua campanha eleitoral o sr. Helmut Fallgatter assumiu com
a população o compromisso de construir no Município pelo menos dez
novas escolas. Esse compromisso está sendo fielmente resgatado. [...] no
momento cinco novas casas escolares estão sendo construídas, [...] Com
estas teremos então 7 escolas novas, pois já no primeiro ano de sua
gestão o prefeito Helmut Fallgatter construiu duas, a de Jarivatuba e a de
Dedo Grosso (A NOTÍCIA, 03 de agosto de 1962).
73
Bacharel em Direito, colaborou com o Movimento Cívico contra o analfabetismo e a partir de
1960 junto ao prefeito de Joinville Baltasar Buschle lançou no município a CNEC. A princípio o ex-
prefeito junto com João Roberto Moreira inaugura no colégio Conselheiro Mafra no período noturno
essa ação educacional. De início a escola deveria levar o nome de Moreira, que pediu que o nome
concedido fosse de seu pai José Elias Moreira, hoje atual Colégio Cenecista José Elias Moreira
<www.eliasmoreira.com.br/elias/index.php?link=11>. Acesso em 11/10/2010.
100
Firmou-se assim, através da lei estadual nº 762 (Anexo 5), acordo entre a prefeitura
do município e o Ministério da Educação e Cultura sobre a realização do Plano
Piloto de Erradicação do Analfabetismo em Joinville
Nessa lei, o Governo do Estado de Santa Catarina propõe cinco itens:
74
Formou-se em medicina e cursou sociologia política.
102
Este anúncio, é provável, foi publicado mais de uma vez, como por exemplo,
em 24 de março de 1960, contudo, sobre os domicílios sorteados esses não foram
divulgados pelo jornal. Algumas hipóteses são levantadas para explicar tal fato: o de
não causar demasiada atenção e euforia nas pessoas dos domicílios escolhidos o
75
Formou-se em sociologia e fez mestrado na linha de antropologia e sociologia. É casada com
Ely Bonini Garcia, os dois moram em Belo Horizonte – MG.
76
Segundo a RBEP (v. 35, n81 mês jan. mar. ano 1961, p.118), as pesquisas feitas no setor
sócio-econômico-cultural foram condensadas numa coleção especial da série Sociedade e Educação
publicada pelo CBPE chamada O Brasil Provinciano. Os dados de Joinville foram escritos no volume
número oito pelo autor Ely Bonini Garcia. Procurou-se, sem êxito, esse material nas bibliotecas do
INEP,UFRJ, UFSC, UDESC e na Biblioteca Nacional. Contatou-se os autores, contudo os mesmos
não o encontraram.
103
77
A sra. Clotilde Macedo Machado não permitiu que se gravasse a entrevista. Na realidade ela
informou que não daria uma entrevista e sim uma conversa, pois outrora dera uma entrevista a um
jornal da cidade de Joinville e eles, segundo ela, distorceram suas palavras. Desse modo foi anotado
suas considerações e depois de digitadas e lidas pela sra. Clotilde, ela autorizou por escrito a
utilização dessas nessa dissertação e em futuros trabalhos. Sra. Clotilde nasceu em Joinville no dia
03 de junho de 1927, não se casou, foi professora por quarenta e um anos. Formou-se na primeira
turma, doze alunas no total, de magistrandas de 1948 no Colégio São Vicente de Paula, atual Colégio
Santos Anjos. Em 1943 começou a lecionar no colégio Ruy Barbosa, no qual Maria Amin Ghanem era
diretora. Sra.Clotilde contou que aprendeu a ministrar aulas com a sra. Maria, que era uma pessoa
muito ordeira e disciplinada, lembra que o colégio Ruy Barbosa era conhecido pela limpeza e higiene
impecáveis.
106
Segundo ela, um dos aspectos que mais lhe chamou atenção na visita aos
estabelecimentos de ensino foi o silêncio na hora do recreio. As crianças não
brincavam, não corriam eram tristes e sujas. Questionaram essa situação com a
diretora Regina e receberam como resposta que as crianças tinham falta de carinho
e afeto e que iam para a escola apenas para a merenda. Essa situação não foi posta
no documentário, pelo contrário, as crianças filmadas estão uniformizadas e limpas,
as meninas com fitas nos cabelos. Enquanto estão a caminho da escola ou quando
estão nela estão felizes e animadas.
Depois de algumas semanas as ex-diretoras da CNEA foram transferidas
para uma casa que tinha uma escola perto. Nessa escola, segundo sra. Clotilde,
estudavam apenas as meninas abastadas da cidade de Leopoldina, não era
permitida a entrada de crianças negras no local. Relata que nessa escola as
meninas estavam bem vestidas e limpas, brincavam na hora do recreio e que eram
bem diferentes das demais crianças que conhecera nos outros estabelecimentos de
ensino.
Revela que quando voltaram para Joinville, sem nenhum conhecimento
efetivo da CNEA, nem ao menos conheceram o diretor da campanha o sr. João
Roberto Moreira, não foram recepcionadas por nenhuma autoridade local e nem
foram notícia nos jornais da cidade. Regressaram sabendo que as aulas de
alfabetização deveriam se dirigir aos analfabetos principalmente adultos.
Após o período em Leopoldina, as diretoras elaboraram o plano de trabalho
para a Erradicação do Analfabetismo no município joinvillense, conforme seus
conhecimentos sobre a situação educacional do município.
Sendo este o seguinte:
motivos esse projeto arquitetônico viável não foi realizado em Joinville? Quais foram
os aspectos que impediram que o mesmo fosse desenvolvido? Esses
questionamentos podem ser transformados em parâmetros para outra pesquisa.
Em 19 de janeiro de 1962 uma matéria retoma o desenrolar da CNEA em
Joinville. Inicialmente, repete os cinco itens apontados na lei nº 762 de 1961, na qual
estabelecem as indicações que o Governo do Estado de Santa Catarina confere à
CNEA em Joinville. E, por fim enumera os tópicos da ata da reunião de instalação do
centro piloto de Joinville descrita acima. Esta mesma ata vai ser repetida na íntegra
em matéria do jornal no dia 03 de fevereiro de 1962 cujo título foi Mais Escolas e
Grupos Escolares para Joinville. Porém, a matéria somente trata da construção
do Grupo Escolar Floresta, e sugere através do plano de trabalho, a construção de
escolas, contudo não identifica número e a quantidade de salas de aula a serem
realizadas.
É interessante ressaltar um detalhe da ata e dessa matéria, referente a um
questionário enviado do Rio de Janeiro pelo Ministério da Educação e Cultura para
setenta e nove pessoas de Joinville, a fim de conhecer o nível de bem estar da
população, contudo a matéria do jornal não apresenta nomes dos interrogados, nem
outras informações acerca desses.
O documento no qual consta os nomes dos que responderam às questões
estabelecidas, juntamente com a ata da reunião de instalação da CNEA em Joinville,
estão no arquivo pessoal da Sra. Matilde Amin Ghanem, que guarda um acervo de
documentos de sua irmã Maria Amin já falecida, uma das diretoras da campanha na
época.
Dentre os encarregados de responder ao questionário estiveram o prefeito
em exercício o sr. Helmut Fallgatter, o bispo diocesano Dom Gregório Warmelling, o
pastor luterano cujo nome não consta, juíza do trabalho e a inspetora escolar que
pertencem à família Ghanen, dentistas, advogados, médicos, jornalistas, vários
professores, industriais, técnicos, comerciantes e por último operários. Os nomes
dos setenta e nove estão datilografados, mas à mão no final do documento, alguém
escreveu o nome de um médico, do delegado de ensino do período, do inspetor de
São Bento e uma diretora de Jaraguá. Por que houve o aumento de mais quatro
questionários para pessoas de cargo elevado?
Ao entregar a lista para a ex-coordenadora da campanha em Joinville, sra.
Clotilde Madeco Machado, a mesma identificou em ordem cada nome da lista,
110
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Não que com isso, foi dito, que as produções referentes ao período não
foram de grande ajuda, pelo contrário, elas forneceram orientação para o encontro
do rol de fontes que se elegeu nesta pesquisa.
Mas há que se salientar que o período delimitado nessa pesquisa necessita
de maiores investigações e produções, principalmente no que tange às ações
educacionais, direcionadas aqui nas campanhas de combate ao analfabetismo.
Estudos mais aprofundados sobre o CBPE, principalmente das suas
regionais, poderiam mensurar as especificações de influência desses centros e seus
estudos nos locais em que se encontravam.
Foi verificado que os anos de 1950 e 1960 se revelam como um período do
nacional desenvolvimentismo, estudado principalmente no setor industrial e
econômico do país. Há poucos estudos nos demais campos de pesquisa, como por
exemplo o social, cultural e educacional. É um hiato na história da educação do
Brasil, que se abre para várias possibilidades de estudo e pesquisa.
Em relação às campanhas do período, elas são citadas e resumidas em
vários trabalhos acadêmicos, mas foi sentido a falta de estudos específicos sobre
elas.
No início da pesquisa dessa dissertação os pressupostos que foram
aparecendo, como por exemplo, olhares díspares dos políticos e dos intelectuais
sobre uma campanha de erradicação do analfabetismo, a função da educação no
ideário nacional-desenvolvimentista e no acerto final na proposta da CNEA, fazia
crer que essas proposições estavam desconectadas, contudo, o estudo foi
descortinando uma rede de influências políticas e sociais de interesses diversos mas
conectados para a constituição de uma campanha educacional de cunho federal.
No Estado de Santa Catarina, o estudo revelou um contexto de intensa
influência política e sua articulação no setor educacional e como a força de um
partido político e seus representantes trazem para suas zonas de interesse ações
educativas do governo federal.
Na reflexão sobre a imprensa local, foi percebida a rede de interesses
evidenciados em suas matérias, a construção de uma representação da educação
catarinense com chefes do executivo ligados a partidos políticos adversários.
Dependendo do partido no exercício do cargo de governador a educação foi
enaltecida ou desmerecida.
117
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123
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Autêntica, 2007.
6 OBRAS CONSULTADAS
Novas escolas federais para Santa Catarina. A Notìcia, Joinville, 05 de mai. 1959.
Mais escolas e grupos escolares para Joinville. A Notícia, Joinville, 03 de fev. 1962.
Governador Celso Ramos estará em Joinville dia 30. A Notícia, Joinville, 26 de ago.
1962.
Governador Celso Ramos: “Os momentos mais felizes do meu mandato, eu os sinto
quando estou entre os professores catarinenses”. A Notícia, Joinville, 09 de abr.
1963.
7 ANEXOS
ANEXO 1
ANEXO 2
Senado Federal
Subsecretaria de Informações
DECRETA:
Art. 7º Este decreto entrará em vigor na data de sua publicação, ficando revogadas as
disposições em contrário.
JUSCELINO KUBITSCHEK
Clovis Salgado
136
ANEXO 3
Senado Federal
Subsecretaria de Informações
DECRETA:
Art. 12 - A rede escolar pública de todo o país destinará o máximo de espaço de suas
instalações para o funcionamento dos cursos noturnos instalados pela Mobilização e
iguais facilidades serão asseguradas por todos os órgãos públicos, na medida das
disponibilidades.
JÂNIO QUADROS
Sylvio Heck
Odylio Denys
Clemente Mariani
Clovis Pestana
Romero Costa
Brígido Tinoco
Castro Neves
Cattete Pinheiro
139
João Agripino
140
ANEXO 4
Senado Federal
Subsecretaria de Informações
DECRETAM:
Art. 14. A rede escolar pública de todos o País, inclusive do Ensino Superior,
destinará o máximo de espaço de suas instalações para o funcionamento dos
143
Art. 17. Serão instituídos o Registro Mérito, medalhas e menções especiais, com o
fim de agraciar todos os quantos se distinguirem por trabalhos excepcionais às
atividades da Mobilização Nacional Contra o Analfabetismo.
Art. 20. Este decreto entrará em vigor na data da sua publicação, revogadas as
disposições em contrário, inclusive o Decreto nº 51.222, de 22 de julho de 1961.
JOÃO GOULART
Tancredo Neves
Ângelo Nolasco
Armando Monteiro
Clovis M. Travassos
Ulysses Guimarães
144
Virgílio Távora
Souto Maior
145
ANEXO 5
Procedência: Governamental
Natureza: PL 330/61
DA. 731 de 19/10/61
Fonte: ALESC/Div. Documentação
I
O Governo do Estado de Santa Catarina, permitirá:
a) - a experimentação de novos métodos de trabalho e ensino nas
escolas municipais do município de Joinville, escolhido pelo Ministério da Educação
e Cultura, como capaz de servir de base à aplicação do Plano Piloto da Região Sul
do País;
b) - a utilização dos prédios escolares pertencentes ao município,
para os fins educacionais da Campanha;
c) - a instalação de novas escolas em prédios próprios ou em caráter
de emergência, no mencionado município, a fim de escolarizar toda a população de
7 a 11 anos que ainda não é atendida pelo sistema escolar existente;
d) - a instalação de classes de emergência para atender, quer nas
escolas já existentes, quer em outros locais apropriados, a população de 12 a 14
anos, que não teve oportunidade de ensino;
146
II
A Campanha Nacional de Erradicação do Analfabetismo, de acordo
com o Plano já mencionado no preâmbulo deste Acordo e nos termos do decreto nº
47.251, de 17 de novembro de 1959, se responsabilizará por toda e qualquer
despesa relativa à benfeitorias e melhorias de instalações e à aquisição de material,
consideradas necessárias à experiência e ao bom êxito dos trabalhos.
III
A Campanha Nacional de Erradicação do Analfabetismo se
responsabilizará, igualmente, pelos ônus relativos à gratificação de pessoal por
serviços extraordinários, a trabalhos realizados por técnicos contratados para fim em
vista, bem como pelos gastos com aperfeiçoamento do pessoal em exercícios nas
escolas municipais de Joinville.
IV
O Governo do Estado de Santa Catarina ouvirá sempre, no decurso
do prazo do presente acordo, a Campanha Nacional de Erradicação do
Analfabetismo, para a admissão de novos professores para aquele município.
V
Para o efeito dos benefícios locais da execução do presente Acordo,
é entendido que o Governo do Estado de Santa Catarina fará cumprir fielmente o
disposto no art. 169 da Constituição da República, no que diz respeito à obrigação
de o município aplicar, pelo menos, 20% (vinte por cento) da renda resultante dos
impostos municipais na manutenção e desenvolvimento do Ensino.
VI
Caberá à Campanha Nacional da Erradicação do Analfabetismo a
responsabilidade de orientação e direção do sistema escolar de Joinville, para o fim
de ordenação das matrículas e promoções e do melhor aproveitamento didático, não
ficando os alunos sujeitos ao regime de promoção das escolas do Estado de Santa
Catarina, embora para a obtenção de certificado, a Secretaria de Educação e
Cultura possa fazer submetê-los a exames de conclusão do curso primário.
VII
Os casos omissos serão resolvidos de comum acordo, pela
Secretaria de Educação e Cultura do Estado de Santa Catarina e pelo Coordenador
da Campanha Nacional de Erradicação do Analfabetismo.
VIII
Anualmente a Coordenação da Campanha Nacional de Erradicação
do Analfabetismo apresentará à Secretaria de Educação e Cultura do Estado de
Santa Catarina, exposição escrita, circunstada, das experiências feitas e dos
resultados alcançados, em outros municípios.
IX
O presente Acordo terá a duração de um ano, a contar da data de
sua assinatura, podendo ser renovado, se assim o solicitar a Campanha Nacional de
Erradicação do Analfabetismo e concordar o Governo do Estado de Santa Catarina.
X
Nos exercícios subsequentes ao de 1961, as despesas da
Campanha Nacional de Erradicação do Analfabetismo no município de Joinville,
correrão por conta das dotações orçamentárias do Ministério de Educação e Cultura,
147
ANEXO 6
DECRETA:
Art. 1º Ficam extintas, no Ministério da Educação e Cultura, a Mobilização Nacional
Contra o Analfabetismo, a Campanha de Educação de Adolescentes e Adultos, a
Campanha Nacional de Educação Rural, a Campanha de Erradicação do
Analfabetismo, vinculadas ao Departamento Nacional de Educação, a Campanha de
Construções e Equipamentos Escolares e a Campanha de Aperfeiçoamento do
Magistério Primário e Normal, vinculadas ao Instituto Nacional de Estudos
Pedagógicos.
JOÃO GOULART