Aula 19 - Teoria Aditiva Dos Números
Aula 19 - Teoria Aditiva Dos Números
Aula 19 - Teoria Aditiva Dos Números
A + B = {a + b; a ∈ A e b ∈ B}
A − B = {a − b; a ∈ A e b ∈ B}
Estimando |A + A|
Se A = {2i−1 , 1 ≤ i ≤ n}, pela unicidade da base 2, temos |A + A| = n2 + n, e isso é
o melhor que conseguimos. E quanto ao limitante inferior? De fato, temos 2|A| − 1 ≤
|A + A| ≤ |A|(|A|+1)
2 .
Teorema 1. Se |A| = n então |A+A| ≥ 2n−1, com igualdade se, e somente se, A consiste
em n termos consecutivos de uma progressão aritmética.
a1 + a1 < a1 + a2 < . . . < a1 + ai < a2 + ai < . . . < an + ai < an + ai+1 < . . . < an + an
Teorema 2. Todo subconjunto com mais de ⌈n/2⌉ elementos de [n] = {1, 2, . . . , n} não é
livre de somas.
Demonstração: Seja A um subconjunto de [n] com mais de ⌈n/2⌉. Como é difı́cil controlar
A + A, pois vários de seus elementos podem ser maiores do que n, considere no seu lugar
o conjunto X = (A − A) ∩ Z∗+ , de modo que queremos provar que X ∩ A 6= ∅. Sendo
A = {a1 , a2 , . . . , ak }, com a1 < a2 < . . . < ak , note que 0 < a2 −a1 < a3 −a1 < . . . < ak −a1 ,
de modo que |X| ≥ |A| − 1. Mas isso quer dizer que |A ∩ X| = |A| + |X| − |A ∪ X| ≥
2|A| − 1 − n > 0, e acabou.
A seguir, um resultado que já foi explorado, mas que vale a pena ser repetido.
Teorema 3. Todo conjunto finito B tem um subconjunto livre de somas com pelo menos
|B|/3 elementos.
Demonstração: A grande ideia é jogar algo sem muito estrutura (como nosso conjunto
B) para algo mais estruturado, no caso o conjunto Z/(p), p primo grande. Se p = 3k + 2,
o conjunto C = {k + 1, k + 2, . . . , 2k + 1} ⊂ Z∗ /(p) é livre de somas e tem k + 1 elementos,
k+1
uma fração 2k+1 > 31 .
Quando comparamos duas estruturas, a ideia que vem é tentar cruzá-las, com contagem
dupla, por exemplo. Z∗ /(p) tem boa estrutura, e a contagem ajuda a encontrar alguém,
mesmo que não haja estrutura em B. O que usamos? O “gira-gira”. Multiplique todos os
elementos de B por x, 1 ≤ x < p, e reduza módulo p. Nenhum b ∈ B é 0 módulo p, então
aparecem todos os resı́duos módulo p em bZ∗ /(p), ou seja, C aparece em todo bZ∗ /(p). Mas,
definindo Dx = xB (mod p), sendo |C| > 13 |Z∗ /(p)|, a probabilidade de algum elemendo
de D pertencer a C é maior do que 13 , e portanto o valor esperado de elementos de Dx em
C é maior do que |B|/3. Então existe um Dt com mais de |B|/3 elementos de C, e esse é
o subconjunto A que queremos. De fato, se a1 , a2 , a3 ∈ A são tais que a1 + a2 = a3 então
ta1 + ta2 ≡ ta3 (mod p), com ta1 , ta2 , ta3 ∈ C, absurdo. Logo A é livre de somas.
Teorema de Cauchy-Davenport
E quanto a Z/(p), o conjunto dos números tomados módulo p primo? O seguinte teorema
nos dá uma ideia:
2
POT 2012 - Combinatória - Nı́vel 3 - Aula 19 - Prof. Carlos Shine
Note que Bx∗ são os caras de B que fazem com que x pertença a (A + 2B) \ (A + B), e
Bx são. . . os outros caras. O conjunto Bx é a transformada de Davenport.
Agora, veja que 0 ∈ / Bx∗ 6= ∅ e 0 ∈ Bx ⊂ B. Agora, é claro que A + Bx ⊂ A + B e
∗
{x} − Bx ⊂ A + B, de modo que
(A + Bx ) ∪ ({x} − Bx∗ ) ⊂ A + B.
ou seja, conseguimos um exemplo com |Bx | < |B| menor ainda, o que é absurdo.
A igualdade ocorre em uma das seguintes situações:
• |A| = 1 ou |B| = 1;
3
POT 2012 - Combinatória - Nı́vel 3 - Aula 19 - Prof. Carlos Shine
Problemas
1. (O problema de Waring) Seja k um inteiro positivo e
Ak = {nk , n ∈ Z+ }
as potências k-ésimas. Definindo
tAk = Ak + Ak + · · · + Ak ,
| {z }
t vezes
5. Sejam n+1 inteiros 0 = a0 < a1 < . . . < an = 2n−1. Encontre a menor cardinalidade
que o conjunto {ai + aj : 0 ≤ i ≤ j ≤ n} pode ter.
6. (OBM) Dizemos que um conjunto A ⊂ N satisfaz a propriedade P (n) se A tem n
elementos e A + A = {x + y tal que x ∈ A e y ∈ A} tem n(n+1) 2 elementos. Dado
A ⊂ N finito definimos diâmetro de A como sendo a diferença entre o maior e o menor
elemento de A. Seja f (n) o menor diâmetro que o conjunto A satisfazendo P (n) pode
2
ter. Mostre que n4 ≤ f (n) < n3 para todo n ≥ 2.
(Se o seu tempo de prova não estiver esgotado, tente melhorar esta estimativa. Por
exemplo, tente mostrar que f (p) < 2p2 , para todo número primo p.)
4
POT 2012 - Combinatória - Nı́vel 3 - Aula 19 - Prof. Carlos Shine
Bibliografia
1. T. Tao, Lecture Notes 1 for 254A. Disponı́vel em
http://www.math.cmu.edu/~af1p/Teaching/AdditiveCombinatorics/Tao.pdf
2. Ø. J. Rødseth, Sumsets mod p. Disponı́vel em
http://www.folk.uib.no/nmaoy/papers/sumsetsR.pdf
3. N. Alon, J. H. Spencer, P. Erdős, The Probabilistic Method, John Wiley & Sons 1992.
Respostas, Dicas e Soluções
j k
3 k
1. É só considerar 2k 2 − 1, que é menor do que 3k : como as únicas potências
k-ésimas menores
j k que 3k são 2k e 1, devemosj usar ka maiorjquantidade possı́vel de
k 3 k k
3 k
k
3 k
2 s, que é 2 − 1, e cobrir o resto, que é 2 −1− − 1 2k = 2k − 1,
j 2 k 2
j k
k k
com 1s. Com isso, precisamos de pelo menos 23 − 1 + 2k − 1 = 23 + 2k − 2
potências.
5
POT 2012 - Combinatória - Nı́vel 3 - Aula 19 - Prof. Carlos Shine
2. Translade A e B de modo que max A = min B = 0. Note que A só tem números não
positivos e B só tem números não negativos, e que A ∪ B ⊂ A + B, pois 0 ∈ A e
0 ∈ B. Logo |A + B| ≥ |A ∪ B| = |A| + |B| − 1.
3. A resposta é n = 835. Para ver isso, considere o exemplo com os 834 números de 166
a 999. O menor valor de a + 2b + 3c é 168 + 2 · 167 + 3 · 166 = 1000.
Agora, considere 835 números entre os mais de 834 escolhidos, e sejam eles m = a1 <
a2 < . . . < a835 = M . Temos M ≥ m + 834, de modo que −3m ≥ 3 · 834 − 3M , e
M − 3m ≥ 3 · 834 − 2M ≥ 3 · 834 − 3 · 999 = 504. A ideia é comparar M − 3m com
ai + 2aj , 1 < i, j < 835. Fixe k = M − 3m e considere a equação x + 2y = k. Há pelo
menos k/3 − 1 ≥ 167 soluções disjuntas para essa equação: (k − 2i, i), 1 ≤ i ≤ 167
(note que sempre temos x > y, então não há perigo de ocorrer repetições). Então
para que não ocorra a + 2b = M − 3m devemos ter b = m ou um dos números a, b não
está entre os escolhidos. Isso elimina pelo menos 167 − 1 = 166 números, sobrando
no máximo 999 − 166 = 833, e aı́ obtemos uma contradição, de modo que existem a, b
com a + 2b = M − 3m.
|U + V | · |U + W | = |(U + V ) × (U + W )|
≥ |{(u + v, u + w) : u ∈ U, v ∈ V, w ∈ W }|
≥ |U | · |V − W |.
6
POT 2012 - Combinatória - Nı́vel 3 - Aula 19 - Prof. Carlos Shine
Note que o 2p multiplicando g(k) não foi ao acaso. A ideia era exatamente se
aproveitar do fato de que −2p < i + j − (r + s) < 2p.
7
POT 2012 - Combinatória - Nı́vel 3 - Aula 19 - Prof. Carlos Shine
Portanto i = r e s = j ou i = s e r = j.
Novamente, k 2 mod p não foi escolhido ao acaso: usamos o fato de que i − r =
s − j e a fatoração da diferença de quadrados.
8. Suponha por absurdo que exista uma partição sem a propriedade do enunciado. Po-
demos supor, sem perda de generalidade, que A é um conjunto com menos elementos,
e também podemos supor que 1 ∈ A, pois basta multiplicar todos os números por
a−1 , para algum a ∈ A. Seja k o número tal que 1, 2, . . . , k ∈ A e k + 1 ∈ B. Seja
c ∈ C, i com 1 ≤ i ≤ k. Se c ± i ∈ B, (i, c ± i, c) ∈ A × B × C, então c ± i ∈/ B. Se
c + i ∈ C e c − (k + 1 − i) ∈ A, (c − k − 1 + i, k + 1, c + i) ∈ A × B × C também.
Seja c1 = min C. Então c1 − (k + 1 − i) ∈ A e, portanto, c1 + i ∈ A, ou seja, A
contém {1, 2, . . . , k} ∪ {c1 − 1, c1 − 2, . . . , c1 − k} ∪ {c1 + 1, c1 + 2, . . . , c1 + k}. Essa
ideia também vale se tomarmos o próximo elemento de C, e assim por diante. Logo
temos |A| > |C|, o que é uma contradição, e o problema acabou.
9. Vamos supor, sem perda de generalidade, 1 = t1 < t2 < . . . < t100 . Quando dois
conjuntos Ai e Aj têm interseção? Quando xi + ti = xj + tj ⇐⇒ tj = xi − xj + ti .
Ou seja, devemos nos preocupar com A − A.
Agora, vamos construir um exemplo indutivamente. Já escolhemos t1 = 1. Suponha
que já escolhemos t1 , . . . , tk . Para escolher tk+1 , cada valor de ti , 1 ≤ i ≤ k, proı́be
101
2 = 101·100
2 números (as escolhas de xi > xj ) além, é claro, dos k valores anteriores.
Então há k · 101 · 50 + k ≤ 99 · (50 · 101 + 1) < 1000000 números proibidos, e sempre
sobra pelo menos um para escolher.
10. Indução sobre n. Não há o que se provar para n = 1 e o problema é imediato se
n = 2. Suponha então que n > 1, e seja an o maior dos números ai e m = max M .
Caso s − an ∈ M e m > s − an (ou seja, s − an não é o máximo), então para algum
i, 1 ≤ i ≤ n − 1, s − ai e s − ai − an estão ambos fora de M : são n − 1 pares
(s − ai , s − ai − an ), nenhum desses números é igual a s − an , que é um elemento de
M , e sobram n − 2 outros elementos em M . Aı́, aplicamos a hipótese de indução para
os n − 2 números tirando ai e an e os n − 3 elementos de M tirando m e s − an , que
são ambos maiores do que s − ai − an , e terminamos pulando em s − ai e s.
No outro caso, aplicamos a hipótese de indução para os ai ’s tirando an e M \ {m}.
Note que agora ou s − an ∈/ M ou s − an = m, então podemos fazer isso. Fazemos
8
POT 2012 - Combinatória - Nı́vel 3 - Aula 19 - Prof. Carlos Shine
Para provar esse lema, note que as k diferenças formam várias progressões aritméticas
disjuntas; escolha para V os termos de ordem par das PAs (ou seja, se a PA é
a, a + r, a + 2r escolhemos a + r), e temos pelo menos k/3 elementos. Para ver por que
dá certo, basta deslocar um termo de cada termo da diferença na PA correspondente.
Aı́ temos
|A − A| − |A + A| ≤ |A − A| ≤ |(A \ V ) − (A \ V )| + |(A \ V ) − V | + |V − (A \ V )|
≤ 2|V |(n − |V |) + (n − |V |)2 = n2 − |V |2 ≤ n2 − (k/3)2 ,
9
POT 2012 - Combinatória - Nı́vel 3 - Aula 19 - Prof. Carlos Shine
n2 − t 4/5 2 n2 − t
S≤ 4/5
· (Cn ) + t − 4/5
= (n2 − t)(Cn4/5 + 1) + t
Cn − 1 Cn − 1
n4 n4
Por Cauchy-Schwartz, S · s ≥ n4 ⇐⇒ s ≥ S ≥ (n2 −t)(Cn4/5 +1)+t
.
Então, sendo x = n2 − t,
n4
|A − A| − |A + A| ≤ n2 − x −
xCn4/5 + n2
10