O Que Me Dizem Os Seus Olhos

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O QUE ME DIZEM OS SEUS OLHOS

Copyright© 2024 – Fernanda Santana


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Direitos reservados à autora dessa obra.
Nenhuma parte dessa obra pode ser reproduzida ou transmitida por
qualquer forma e/ou qualquer meios (eletrônico ou mecânico, incluindo
fotocópia e gravação) ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados
sem permissão escrita da autora.

Esta é uma obra de ficção. Qualquer semelhança com nomes, datas e


acontecimentos reais é mera coincidência.

Design de capa: Bruna Silva


Diagramação: Giulia Rebouças | Gialui Design
Ilustração: Little Pink Design | Rosa Aguiar
Revisão: Deborah A. A. Ratton
Sumário

Nota da autora
Sinopse
Dedicatória
Ilustração
Prólogo
Capítulo 01
Capítulo 02
Capítulo 03
Capítulo 04
Capítulo 05
Capítulo 06
Capítulo 07
Capítulo 08
Capítulo 09
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27
Capítulo 28
Capítulo 29
Capítulo 30
Capítulo 31
Capítulo 32
Capítulo 33
Capítulo 34
Capítulo 35
Capítulo 36
Capítulo 37
Capítulo 38
Epílogo
Agradecimentos
Sobre a autora
Redes sociais
Nota da autora

Olá, querido leitor.


Se você chegou até aqui, obrigada. Mesmo! Significa muito para
mim que você acredite e confie no meu trabalho.
Antes de começarmos a leitura, quero deixar um alerta para alguns
pontos sensíveis.
Nosso mocinho sofreu um acidente que deixou cicatrizes de
queimaduras por todo o seu corpo, então se esse for um assunto sensível
para você, leia com bastante cuidado.
Além disso, menciono abuso sexual, narrado sem muitos detalhes,
mas já deixo o alerta também.
Mas saibam que todos os temas que me proponho escrever, são
feitos com bastante responsabilidade e da forma mais sensível que consigo.
Lembrando que é uma leitura para maiores de 18 anos, por conter
cenas de sexo explícitas.
No mais, desejo uma excelente leitura e espero que se apaixonem
por Hunter e Sarah, assim como eu!
Um beijo,
Fê Santana
Sinopse

Hunter Crawford tinha tudo: fama, sucesso e uma carreira


consolidada no futebol americano.
O quarterback mais promissor da história dos Los Angeles Bulls
tinha tudo aos seus pés, até um acidente lhe tirar tudo.
Três anos se passaram e o ex-jogador vive isolado do mundo, longe
dos holofotes e fazendo de tudo para se manter invisível.
Mas a chegada do casamento de sua única irmã faz com que Hunter
precise buscar forças de onde não tem para enfrentar seu maior pesadelo: os
olhares de pena e julgamentos da sociedade diante de quem ele se tornou.
Conhecendo na clínica que ele passou a frequentar, Sarah Corbett, a
psicóloga doze anos mais nova que ele rejeitou, se oferece para acompanhá-
lo no casamento e fingir um relacionamento com o antigo astro do futebol.
Para sustentar a mentira, eles precisarão se conhecer melhor e toda
essa proximidade traz à tona um desejo até então adormecido no jogador.
E quando uma bomba cai no colo desses dois, Hunter precisará
escolher entre enfrentar seu maior pesadelo ou abrir mão da única que o
enxergou por trás de suas cicatrizes.
Todos temos os nossos demônios,
Mas não deixem que eles te dominem.
Nunca.
Nós somos maiores do que isso.
Prólogo – Hunter – Três anos antes

O BIPE DOS APARELHOS parece um som distante, até se aproximar aos


poucos e finalmente estar perto, muito perto.
Meus olhos pesam, mas consigo abri-los devagar, sentindo-os arder
ao se depararem com a iluminação forte diante de mim.
Pisco repetidas vezes e encaro tudo ao meu redor, tentando assimilar
o que está acontecendo aqui.
Mas que porra…
Minha mente é uma bagunça, e então um turbilhão de imagens
recentes me atinge, como uma enxurrada sobre mim…
O churrasco entre amigos do time na casa do Lockwood, o wide
receiver dos Bulls, o som alto, as gargalhadas, o sol escaldante e de repente
uma explosão.
Fogo saindo da churrasqueira, vindo diretamente sobre mim.
Gritos, fumaça, desespero e dor.
Dor pra caralho.
Tudo é muito nebuloso e eu tento me mexer, mas não consigo. A
sensação é de que meu corpo está pesando uma tonelada.
Baixo os olhos e paraliso vendo o que está diante de mim.
Praticamente todo o meu corpo está envolto em bandagens,
curativos e, na parte exposta, há uma vermelhidão que até então não existia
ali.
De repente um pavor me toma, uma sensação de impotência
absurda, e eu sinto minha garganta se fechar.
Não foi pouca coisa.
Eu não estaria preso em uma cama de hospital, cheio de ataduras, se
o acidente fosse algo simples.
Caralho…
Será que é grave? Será que vai comprometer a minha carreira? Eu
não faço ideia do que está acontecendo.
Meu coração se acelera tanto no peito, que o som do bipe se agita e
chama a atenção da equipe médica.
— Sr. Crawford? — Uma enfermeira aparece em meu campo de
visão. — Consegue me ouvir?
Tento balançar a cabeça, mas o movimento me causa uma fisgada
forte e eu faço uma careta de dor.
— O senhor se lembra do que aconteceu?
Umedeço os lábios devagar e faço um esforço descomunal para
emitir algumas palavras, mas a garganta está seca demais.
É difícil até falar alguma coisa agora.
— Acidente… — Engulo a saliva e tento mais uma vez. —
Churrasqueira…
— Isso — ela concorda, enquanto confere algo no monitor e mexe
em alguns fios em meu braço. — Você sofreu queimaduras graves e ficou
alguns dias desacordado. Daqui a pouco o médico responsável virá
conversar com você e explicar sobre a sua recuperação.
Meneio a cabeça de leve, pensando no que está por vir.
Porra…
Bem no meio da temporada…
Espero que a recuperação seja tranquila, que as queimaduras não
sejam tão graves…
Fecho os olhos por um instante e sinto um nó na garganta, tentando
organizar os pensamentos, mas está tudo confuso demais.
Sinto uma fisgada na cabeça e tento me mexer, o que só me causa
ainda mais dor.
Porra.
Que não seja nada de mais.
Caralho, que não seja nada de mais.
Capítulo 1 - Hunter

ENQUANTO CREEPING DEATH quase estoura meus tímpanos de tão


alto que toca nos fones de ouvido, eu corro cada vez mais rápido na esteira,
sentindo a endorfina percorrer meu corpo. Metallica sempre vai ser o
combustível para a minha dose diária de corrida.
Depois da sequência de treino matinal, eu sempre corro na esteira
por longos minutos, até estar ensopado de tanto suor.
Ao atingir minha meta de quilômetros, desacelero os passos até
finalmente parar, desligando o aparelho e pegando a garrafa de água para
beber quase meio litro de uma vez só.
Seco a boca com o dorso da mão e tiro a camisa do corpo enquanto
saio da academia e subo até o andar de cima da minha casa, indo para
minha suíte tomar um bom banho gelado.
Enfio a cabeça debaixo da ducha fria e aproveito para lavar os
cabelos, desembaraçando-os enquanto passo o condicionador. Fico um
momento de olhos fechados, a água escorrendo pelo corpo enquanto respiro
várias vezes, sentindo-me relaxar.
Fecho o chuveiro e puxo a toalha, abrindo a porta do boxe para me
secar. Esfrego bastante o tecido nos cabelos para tirar o máximo de umidade
e sigo para o closet, ainda secando os fios. Busco uma roupa para vestir e
termino de me arrumar.
Desço para o térreo e encontro meu gato no sofá, onde faço um
carinho nele antes de seguir para a cozinha e tomar o café da manhã. Estou
preparando ovos com bacon na frigideira quando ouço o interfone tocar.
Desligo a chama do fogão e atendo, vendo o porteiro do condomínio
avisar que é minha irmã pedindo para entrar. Autorizo e sigo para a porta
principal, cruzando os braços ao esperá-la.
Em poucos minutos, o Kia azul para à minha porta e Natalie desce
dele com um sorriso no rosto.
Quando ela chega perto de mim, ergue os óculos escuros e se inclina
para beijar meu rosto, onde retribuo o cumprimento.
— Bom dia, irmãozinho!
Reviro os olhos para ela e aceno para que entre, fechando a porta
atrás de nós dois.
— Bom dia. Já tomou seu café? — pergunto, indicando para que me
siga até a cozinha.
— Já comi mais cedo, mas aceito uma xícara.
Assinto, seguindo para a cafeteira que está cheia desde cedo, e
sirvo-nos de duas xícaras, colocando os ovos no prato para comer enquanto
nos sentamos à ilha.
Vejo que Natalie cruza os braços sobre o mármore e olha para tudo
ao redor, antes de se voltar para mim e beber um gole de café.
Continuo comendo e o silêncio se instaura por aqui; ouço apenas o
tique-taque do relógio de parede.
— Você não veio aqui só para me ver comendo, suponho. —
Arqueio a sobrancelha, vendo que ela ficou calada demais.
A forma como aperta a caneca nas mãos, brincando de um jeito
ansioso, me diz que não vem coisa boa por aí.
— Eu estou indo para o shopping daqui a pouco encontrar a Julie e
decidi passar aqui antes.
Estreito os olhos para ela e empurro o prato vazio para o lado,
servindo mais café em nossas xícaras.
— E veio aqui sem motivo mesmo? — insisto e a vejo bufar.
— Bem, eu… — começa a falar e para. Meu coração se acelera um
pouco, temendo o que está por vir. — Meu casamento está chegando…
Neste momento, ela brinca com o anel de noivado no dedo, girando-
o devagar.
— E você sabe que eu quero muito que você vá…
Faço uma careta, esfregando as mãos pela barba.
Há alguns anos, Natalie se envolveu com um advogado conceituado
aqui de Los Angeles e se apaixonou perdidamente pelo cara. Kevin é legal,
sei que a faz feliz e eu faço gosto do casamento.
O problema é a cerimônia…
Um lugar lotado de pessoas, principalmente familiares, amigos, e só
de pensar nisso já sinto um calafrio.
Eu já imagino os olhares curiosos sobre mim, os comentários
maldosos…
Ah, puta que pariu.
Tudo o que eu fiz nos últimos anos foi fugir das pessoas. As únicas
com as quais eu tenho um mínimo contato são minha mãe, Natalie e Luke,
meu melhor amigo. No âmbito profissional, procuro ser o mais sucinto
também, deixando apenas meu advogado para lidar com todas as minhas
questões.
Fora isso…
Eu fujo de qualquer contato com a sociedade.
— Natalie…
Corro as mãos pelos cabelos e ela abre um sorriso fraco.
— Eu sei que é difícil para você. Eu nem consigo imaginar como
deve ser…
Nesse momento ela estica a mão e toca a minha sobre a mesa,
fazendo pequenos círculos com os dedos e, quando sem querer encosta em
uma cicatriz, eu recuo.
Seus olhos então assumem um pesar que eu odeio.
Aquele que eu simplesmente odeio.
E isso me faz afastar da bancada, cruzando os braços.
— Mas eu só vou me casar uma vez — argumenta, girando a xícara
vazia nas mãos. — É importante para mim…
A sua voz sincera me quebra ao meio.
Ah, porra.
Caralho.
Esfrego a barba nervoso e corro as mãos pelos cabelos mais uma
vez, sentindo um aperto no peito.
— Eu não consigo… — confesso e ela assente, comprimindo os
lábios devagar.
— Eu sei que não. Mas você não consegue sozinho…
Estreito os olhos para ela, que umedece os lábios devagar.
— Sabe que já passou da hora de buscar ajuda, Hunter.
Ah, não.
Esse papo de novo não.
Levanto-me em um movimento e me viro para buscar um copo de
água gelada para mim.
— Já passou de três anos e você precisa de ajuda. Não pode viver
trancado o tempo inteiro nesta casa…
— Eu estou bem assim — rebato, bebendo um longo gole de água.
— Você pensa que está, Hunter. Mas não está. Essa não é a sua vida.
— Claro que não é! — brado, soltando uma risada amarga. — A
minha vida era o futebol, Natalie! A minha vida era a minha carreira nos
Bulls, porra! Só que ela não vai voltar!
A minha voz sai alta demais e eu a vejo ter um sobressalto.
Meu sangue ferve como todas as vezes que tocam nesse assunto.
Porra!
Por que não me deixam em paz?
— Mas isso não significa que você precisa deixar de viver, Hunter!
Você não tem nem quarenta anos e parece que desistiu de viver…
Suas palavras baixam um tom e eu esfrego a barba mais uma vez.
— Eu ainda estou aqui — corto-a. — Não é a vida que eu pedi, mas
ainda estou aqui. Não dá para se contentar com isso?
Ela solta um suspiro longo.
— Eu sinto falta de quem você era…
Sua voz pesarosa me golpeia forte.
— Aquele Hunter não vai voltar, Natalie. Ele foi embora no dia em
que aquela churrasqueira explodiu em cima de mim! Porra, já era para ter
entendido isso!
Ela me encara antes de balançar a cabeça devagar.
— Ainda faltam alguns meses até o casamento chegar e eu não vou
perder as esperanças, Hunter. Não quando meu sonho é que meu único
irmão esteja comigo no dia mais importante da minha vida.
Minha garganta se fecha e eu não digo nada, apenas a vejo me
encarar com os olhos marejados.
— Pensa com carinho, estou te pedindo… — Ainda em silêncio,
vejo uma lágrima solitária lhe escorrer. — Sei que é difícil para você, mas
só vou me casar uma vez, Hunter… Eu quero você comigo.
Engulo em seco, imóvel, desviando o olhar do dela.
— Sabe que a equipe médica te encaminhou para um terapeuta,
assim como o clube…
Suspiro alto, odiando isso.
Tentaram me fazer falar com um psicólogo desde que tudo
aconteceu, mas não fui nem fodendo.
Não quero ninguém me dizendo o que fazer, ninguém que finja que
me entende, que finge que se importa…
Porque, caralho, as pessoas não entendem.
Elas podem achar que entendem, mas não entendem.
Só eu sei a merda que a minha vida virou nesses últimos anos.
— Posso te ajudar a encontrar um profissional bom, que pode te
ajudar…
Encaro o teto, odiando que sua voz suplicante esteja me fazendo
considerar essa merda.
Eu não quero fazer isso nem a pau.
Nem fodendo.
Mas o fato de ser importante para ela está mexendo comigo.
— Só pensa com carinho, tá?
Sua voz agora é mais calma e abaixo os olhos para encará-la.
— Não precisa responder agora, só considere isso por mim…
Encaro-a firme antes de assentir devagar.
Não concordando em fazer, apenas em pensar no assunto.
— Obrigada — ela diz, inclinando-se para beijar meu rosto de leve.
— Eu não aceitei ainda — resmungo e ela ri baixinho.
— Sei que não, mas seu coração ainda não morreu aí dentro, que eu
sei.
Ela pisca, apontando para meu peito, e eu balanço a cabeça devagar.
— Agora preciso ir, Julie já deve estar me esperando.
Eu a acompanho até a porta e aceno para ela quando entra no carro e
some pelo condomínio, deixando-me sozinho.
Volto para casa e me jogo no sofá, soltando um suspiro ao pegar o
controle remoto e ligar a TV. Logo T-Bag se senta ao meu lado e se encosta
em minha perna para se lamber, então estico a mão para lhe fazer um
carinho.
Enquanto passa o noticiário local na tela à minha frente, não presto
atenção alguma.
Minha mente só consegue pensar em Natalie e em tudo o que ela me
disse hoje.
Não sei se sou capaz de enfrentar a merda de um terapeuta. Só de
pensar nisso, já sinto um calafrio.
Mas saber que vou falhar com minha irmã se não for ao seu
casamento e magoá-la profundamente me deixa inquieto também.
Porra, que inferno.
Eu realmente não sei o que fazer.
Capítulo 2 - Sarah

— ENTÃO VOCÊ ENTENDE que isso não é sobre você, certo? —


indago, olhando nos olhos de Lisa Jones, e a garota engole em seco,
desviando o contato visual.
— Mas…
— Você não pode se machucar evitando que as pessoas ao seu redor
se magoem, precisa pensar primeiro em você. Isso não é um ato de
egoísmo, entende?
Ela me encara agora e parece realmente refletir sobre a minha fala.
É difícil impor limites, principalmente quando se trata de família,
mas não dá para simplesmente aceitar tudo o que lhe fazem por medo de
magoar alguém. Não quando ninguém pensa em nosso bem-estar.
Se não pensarmos em nós mesmos em primeiro lugar, ninguém mais
vai fazê-lo.
— Pense nisso pelos próximos dias e nos vemos semana que vem —
aviso e ela assente, pegando sua bolsa para se levantar.
— Obrigada, Sarah.
Aceno para ela e, logo que estou sozinha, solto um suspiro.
Finalmente meu expediente acabou.
Lisa foi minha última paciente do dia e, mesmo que eu ame o que
faço, sempre termino o dia esgotada mentalmente.
Junto minhas coisas e apago a luz do consultório, trancando a porta
ao sair. No corredor, despeço-me de Judith, a recepcionista da clínica, e
pego o elevador para descer.
Estou chegando ao carro, quando sinto o celular vibrar dentro da
bolsa.
— Amiga, já saiu da clínica? — Claire pergunta logo que atendo a
ligação.
— Estou entrando no carro neste momento, por quê?
— Passa no mercado e compra algumas coisinhas que estão
faltando para o jantar?
A vantagem de dividir o apartamento com a melhor amiga que sabe
cozinhar bem é essa. Eu nunca preciso me aventurar na cozinha, fico apenas
com a parte de lavar louça, que, mesmo sendo chata, é bem mais fácil.
Além das sobremesas, que eu amo fazer.
— Passo, sim. Do que precisa?
— Vou te mandar a listinha por mensagem.
— Combinado!
Encerro a ligação e jogo o celular na bolsa, pegando as chaves para
ligar o carro e sair do estacionamento.
Ligo o som baixinho e faço o trajeto tranquilo até o mercado do meu
bairro. Los Angeles é bem movimentada durante a noite, por isso eu sempre
procuro caminhos alternativos que fujam das vias expressas.
Não demora muito e estou chegando ao meu destino. Confiro a lista
que Claire me mandou e compro o que falta para o jantar, aproveito o
embalo para levar uma garrafa de vinho e duas barras de chocolate.
Acho que merecemos um pouco de álcool e açúcar depois de um dia
tão puxado no trabalho.
Sigo para casa e, logo que chego ao prédio, estaciono e salto do
veículo com a sacola de compras. Subo pelo elevador e chego ao nosso
apartamento, de apenas cinquenta metros quadrados, em um bairro
tranquilo da cidade.
O ideal para duas amigas que dividem um lar.
— Cheguei — anuncio, jogando as chaves no aparador e sentindo
um cheiro bom da cozinha.
— O cheiro está bom… — elogio e Claire sorri, mexendo em uma
panela que, ao me aproximar, percebo que é de molho de tomate.
— Chegou bem na hora!
— Trouxe um vinho pra gente. — Retiro a garrafa da sacola e ela
abre um enorme sorriso. — E chocolates!
Mostro tudo o que eu trouxe e ela bate palmas de empolgação.
— Você é a melhor amiga do mundo!
— Eu vou só tomar um banho e volto para te ajudar.
A morena assente e eu sigo pelo corredor em direção ao meu quarto.
Retiro os sapatos e chuto-os para o canto do cômodo, abrindo o guarda-
roupa para pegar uma camiseta larga e calça de moletom, minha roupa
favorita para ficar em casa.
Sigo para o banheiro e tomo um banho bem quentinho, vestindo-me
ao sair.
Quando retorno, encontro Claire já montando a lasanha na cozinha.
— Como foi o seu dia hoje? — indago, colocando-me ao lado dela
para ajudá-la no que consigo, o que não quer dizer que seja muita coisa.
— Bom… Mas bastante cansativo. — Ela suspira e eu balanço a
cabeça.
— Nem me fale… É por isso que eu preciso de um vinho.
Pego a garrafa e abro-a, servindo-nos de uma taça.
Assim como eu, Claire se formou em Psicologia, mas ela não quis
seguir a área clínica. Seu foco sempre foi o ramo empresarial e há dois anos
ela trabalha em uma empresa de porte grande aqui de Los Angeles, na
gestão de pessoas.
Conheci minha amiga na faculdade e nos tornamos inseparáveis.
Logo que conseguimos nosso primeiro emprego, tratamos de sair da casa de
nossos pais para conseguir nossa tão sonhada independência. E essa foi a
melhor decisão que tomamos.
— E na clínica, puxado também?
Assinto e faço um resumo do dia de hoje, contando para ela sem
muitos detalhes como foram meus atendimentos. Ela também me conta de
sua rotina na empresa. Quando menos esperamos, nosso jantar fica pronto e
desfrutamos da refeição.
Ao terminarmos, lavo toda a louça e seguimos para a sala onde nos
sentamos no sofá para assistir a um seriado enquanto comemos chocolate.
— Vai ter jogo dos Bulls no sábado, não quer ir comigo? — convida
e eu faço uma careta para ela.
— Amiga, quando você vai aprender que eu não gosto de futebol?
Claire faz uma expressão exagerada de ofensa, como todas as vezes
que surge esse assunto.
— Isso é tão ultrajante!
— Cada um com seus hobbies. — Dou de ombros. — Futebol não é
o meu.
— Você poderia pelo menos ir pelos homens gostosos — diz e eu
solto uma risada. — Sempre tem espécimes deliciosos de ambos os times
para apreciar.
Ela suspira, colocando um tablete de chocolate na boca, e eu rio
mais.
— São tantos assim?
— Claro que tem umas porqueiras, mas tem uns que, meu Deus…
São um verdadeiro colírio.
Balanço a cabeça rindo.
— Uma pena que o último quarterback saiu… Ele sim, era um puta
gostoso.
— Ele foi para outro time? — pergunto, pois, ainda que não entenda
nada do esporte, sei que é um assunto de que ela gosta bastante.
— Não, na verdade ele se aposentou.
— Ah, então devia ter ficado velho, né?
— Que nada. Ele parou no auge dos trinta e cinco.
— Sério?
Ela acena devagar.
— Parece que ele sofreu um acidente e ficou meses fora de campo.
Quando se recuperou, pelo visto não quis mais voltar.
— Nossa, que merda…
— Nem me fale. Crawford era um dos melhores jogadores do time e
eu tenho saudade da época em que o via no campo.
— Além de limpar as vistas, né? — completo e ela ri.
— Mas é claro! O homem era um monumento e ainda jogava feito
um verdadeiro touro… — Um suspiro. — Uma pena que tudo tenha
acontecido.
— E será que ele está bem? Digo, mentalmente?
— Não sei, amiga… Pouco se sabe sobre ele. Sumiu da mídia. Acho
que se esqueceram dele.
Fico pensativa sobre isso.
Nem consigo imaginar como deve ser ter sua carreira interrompida
por um acidente, principalmente se a pessoa amar o que faz.
Não conheço esse cara, não faço ideia de qual é a sua história, mas
me compadeço.
— Espero que ele esteja bem — digo, mordendo um pedaço do
chocolate.
— É… Eu também. Um jogador tão bom não merecia ter se
aposentado tão cedo assim.
— Talvez ele esteja fazendo outra coisa de que goste…
— É, pode ser. — Dá de ombros. — Mas enfim, não vai ver mesmo
o jogo comigo?
— Você chamou a amiga errada — brinco e ela ri.
— Está bem… Vou ver se a Louise quer ir comigo. Depois não
reclame que passo mais tempo com ela do que com você.
— Eu nunca reclamo disso! — retruco e ela ri.
— Ninguém pode falar que não tentei…
— Vamos seguir pelo seriado então, que é o melhor que fazemos.
Aponto para a tela e ela ri.
E então passamos o resto da nossa noite, rindo e nos lembrando de
um caso ou outro.
Nessas horas eu só consigo pensar no quanto sou grata por tê-la
conhecido e em como minha vida se tornou muito mais leve por aqui.
Capítulo 3 - Hunter

O CELULAR VIBRA NO SOFÁ e eu apenas giro a cabeça para ver o


nome de Luke surgindo na tela.
— E aí? — atendo sua ligação e ouço alguns ruídos do outro lado.
— Hunter? Está em casa? — a voz do meu amigo é um tanto alta
ao telefone.
Reviro os olhos diante de sua pergunta.
— Onde mais eu estaria?
— Não vai sair, né? Estou na cidade, estou pensando em dar uma
passada aí.
— Tô de boa, pode vir.
— Combinado.
Luke desliga o telefone e eu olho para meu gato, que está se
lambendo ao meu lado, ignorando toda a existência do mundo.
Volto a atenção para a TV à minha frente, onde estou maratonando
um seriado de investigação criminal. Nem vejo o tempo passar, até que o
interfone toca e o porteiro anuncia a chegada do meu amigo.
Não demora e uma Ferrari vermelha está estacionada à minha porta.
Pouco chamativa, graças a Deus.
Cruzo os braços e então um figurão de terno, perfeitamente
alinhado, surge à minha frente.
— Hunter Crawford — ele me cumprimenta, abrindo um largo
sorriso.
— Luke Davenport — devolvo o cumprimento, mas claro, sem o
sorriso.
— Senti saudade, filho da puta. — Ele me dá um abraço rápido,
dando tapinhas nas minhas costas, e eu aceno devagar.
Ainda que eu goste de viver no meu mundo, sinto falta desse cara.
Luke esteve ao meu lado da minha ascensão à queda, literalmente.
E sou mesmo grato por isso.
— O que te traz em LA? — indago, dando espaço para que ele entre
em minha casa.
— Tenho um evento aqui amanhã e tinha algumas reuniões
importantes hoje. Vou aproveitar para passar um tempo com a minha
família, já faz um tempo que não venho a Los Angeles — explica. — E,
claro, ver meu melhor amigo.
O moreno dá uma piscadinha para mim.
Somos completamente diferentes, como podem ver.
Bom, pelo menos hoje.
No passado, já fomos mais parecidos.
— Tem cerveja aqui? — ele pergunta, seguindo até a cozinha para
abrir a minha geladeira.
— Sabe que não deixo faltar.
Ele localiza duas long necks e seus olhos brilham ao me entregar
uma garrafa.
— É sempre tão bom te visitar.
— Interesseiro — reclamo e ele ri.
Abro a garrafa e bato na sua antes de dar um gole direto no gargalo.
Aceno com a cabeça e ele me segue até o sofá, onde se joga no estofado,
afrouxando a gravata.
— O que me conta de novo, Crawford? — pergunta antes de dar um
gole na cerveja. — O que tem feito de bom?
Dou de ombros e brinco com a garrafa nas minhas mãos.
— O de sempre. Malho, trabalho, vejo filmes, leio algum livro…
— Não tem saído? — Arqueia a sobrancelha e eu nego. — Porra,
Hunter, mais de três anos sem comer ninguém?
— Eu tô bem assim, sabe disso.
E então é sua vez de revirar os olhos para mim.
— Ah, sério? O cara mais pegador de Los Angeles se fecha em um
celibato de três anos e quer vir me falar que está bem? Conta isso para
outro.
Esfrego a barba, impaciente.
— Para com essa merda, Luke. Não quero entrar nesse assunto de
novo.
A verdade é que estou de saco cheio.
Toda vez que surge uma oportunidade, alguém vem me encher a
porra do saco com isso.
Luke me encara por um momento antes de acenar, soltando um
suspiro. Ele sabe que não tem chance comigo.
— Eu só acho um desperdício…
— E eu acho que deveria cuidar da sua vida.
— Mais? — diz, soltando uma risada. — O que mais tenho feito é
cuidar da minha vida, trabalhar feito burro e ainda assim encontro tempo
para pegar alguém.
— E por que não está com ninguém a uma hora dessas para
aproveitar sua estada em Los Angeles? — provoco-o e ele ri.
— Vou ter tempo para isso. Hoje a noite é toda do meu amigo.
Ele pisca para mim e eu balanço a cabeça, abrindo um sorriso de
lado.
— Como estão as coisas no trabalho? Já inaugurou o novo hotel de
Washington? — desvio o assunto e vejo seus olhos brilharem.
Luke e eu somos amigos de infância, nós morávamos no mesmo
bairro quando crianças, estudamos na mesma escola até a adolescência e
sempre fomos inseparáveis. Mesmo seguindo carreiras profissionais tão
diferentes, nossa amizade nunca acabou. Enquanto fui para o futebol,
Davenport herdou a rede hoteleira de seu pai e hoje comanda um império
em todos os Estados Unidos.
— Cara, ainda não… Estamos nos ajustes finais, mas a inauguração
está prevista para daqui a um mês.
E então narra com detalhes todo o processo que está enfrentando, as
intermináveis reuniões, o quanto está dando duro. Ouvir seu relato só me
faz sentir um orgulho tremendo dele.
Se há alguém merecedor de todo esse sucesso, é ninguém menos
que Luke Davenport.
— E por aqui? Ainda tendo sucesso no mercado de ações?
— Cara, eu fiquei mesmo bom nisso — respondo, assentindo.
— Você é bom em tudo o que se propõe a fazer, Hunter — diz e eu
faço uma careta.
Não sou muito bom em receber elogios.
Na verdade, perdi todo o jeito com isso.
Desde que sofri um acidente e precisei deixar a carreira no futebol
de forma precoce, sabia que precisava de um plano B para seguir a minha
vida. Como nunca fui um cara de gastar muito, acabei juntando uma boa
grana ao longo dos anos. Quando precisei me reinventar, mergulhei de
cabeça no mercado de ações e tenho multiplicado minha renda
gloriosamente.
Conto a ele meus últimos investimentos e meu amigo ouve tudo
com atenção, deixando comentários positivos ao final. Ainda que não
concordasse no princípio, ele foi o meu maior apoiador quando decidi
mudar os rumos da minha vida profissional e isso valeu tudo para mim.
Nos próximos minutos, jogamos conversa fora, falando um pouco
sobre tudo e nos atualizando dos últimos meses. Ainda que conversemos
por telefone ou mensagens periodicamente, não é a mesma coisa. Não é
sempre que Luke está na cidade, por isso, sempre que está por aqui, faz
questão de vir colocar a conversa em dia.
— O casamento de Natalie está chegando — comento, decidindo
entrar nesse assunto.
Preciso de sua opinião sobre tudo isso.
Preciso conversar com alguém que me entende e que, mesmo que
adore pegar no meu pé, não me julga.
— Porra, é mesmo, né?
— Sim, é daqui a alguns meses…
Baixo o olhar no instante em que meu gato aparece na sala. Logo
que o interfone tocou, ele correu pela casa e se escondeu em algum canto.
— T-Bag. — Meu amigo estica a mão para cumprimentar o gato,
que o encara desconfiado. — Até hoje você não se acostumou comigo?
Porra, hein? — resmunga e eu rio baixo.
— Ele não é de ver muitos humanos… — explico.
— Até seu gato é antissocial. Puta que pariu.
Mas, mesmo receoso, o bichano aceita os carinhos de Luke e logo
está todo à vontade com ele.
— Mas voltando ao casamento — diz, soltando o gato e voltando a
me encarar. — Me lembra quando estiver chegando? Não posso perder de
jeito nenhum.
— Você vai mesmo?
— Lógico que sim! Sua família também é minha. Sabe que não
perderia por nada.
E saber disso me traz um pouco de alívio.
— Mas não vou prometer que não vá levar nenhuma gostosa comigo
— solta e eu reviro os olhos.
Típico de Luke Davenport.
— Sabe que pode levar quem você quiser.
Ele assente e então me encara, franzindo o cenho para mim.
— Você vai, né? — pergunta e eu engulo em seco, desviando o
olhar. — Porra, Hunter, é o casamento da sua irmã.
— Eu sei, caralho.
Corro a mão pelos cabelos, bufando, e então apoio os cotovelos nos
joelhos.
— Você não pode faltar — repreende e eu balanço a cabeça.
— Eu sei, tá? Mas não é tão fácil assim. Toda aquela gente, a
família inteira, todo mundo me olhando…
Só de pensar nisso, já sinto um arrepio na espinha.
Desde que tudo aconteceu, não frequentei mais nenhum lugar cheio,
evitei eventos de família, de antigos amigos, recusei vários convites nos
últimos anos.
Eu só não consigo.
Sei o que todos vão pensar ao me olhar, principalmente pelas
minhas tatuagens.
Não quero essa porra.
— E o que você vai fazer?
— Não sei — confesso, soltando o ar dos pulmões.
Encaro meu amigo de lado, está concentrado em mim.
— Natalie veio aqui há alguns dias e me sugeriu mais uma vez a tal
da terapia.
Faço uma careta, mas Luke se mantém sério.
— Sabe que não dá para fugir muito disso, não é?
Engulo em seco, baixando o olhar.
— Acho que você deveria fazer — diz com cuidado e eu o encaro
de lado. — Pelo menos tentar. Se não der certo, não vão poder dizer que
você não tentou.
Fico ainda em silêncio, pensando em tudo o que ele diz e que pode
mesmo estar certo, mas…
— Pela Natalie, não vale a pena tentar?
Esfrego a mão na barba, sentindo o coração se acelerar.
Porra, ele está certo.
Odeio admitir, mas está.
Se eu nem mesmo tentar, Natalie ficará profundamente magoada
comigo e ela não merece isso.
— Não sei se vai dar certo — assumo.
— Mas não dá para saber se não tentar, não né? — afirma e eu
assinto devagar.
Que merda…
Pensar em me abrir com um desconhecido chega a me causar
náusea.
Porra…
— Eu já fiz terapia, lembra? — sua voz é calma e eu ergo os olhos
para ele.
Tinha me esquecido disso.
— Estava em plena adolescência quando meus pais se separaram e
foi uma merda. Guarda compartilhada é um inferno, ainda mais quando os
dois nitidamente se odeiam. — Dá de ombros. — Foi uma fase foda da
minha vida e eles me colocaram na terapia porque fiquei rebelde demais. —
Ele revira os olhos agora. — Eu odiei no início, mas depois compreendi que
realmente precisava. Me ajudou muito, Hunter. Hoje não faço mais por falta
de tempo, minha vida é um caos, mas acredite, se eu pudesse, voltaria a
fazer. Não é o fim do mundo, é só uma pessoa te ajudando a enxergar a vida
de uma forma diferente, quando não conseguimos sozinhos.
Continuo em silêncio, absorvendo suas palavras, quando ele aperta
meu ombro devagar.
— Pensa com carinho, acho que vai te fazer bem. Passou da hora de
enfrentar seus demônios, não dá para ficar fugindo deles para sempre.
— É a opção mais fácil — rebato e ele ri baixo.
— Mais fácil é. Mas nem sempre o melhor.
Balanço a cabeça devagar.
— Se não quiser fazer, eu vou entender. Sabe que sempre vou te
apoiar, não importa qual decisão for. Mas, como seu melhor amigo, gostaria
que pelo menos considerasse. Isso me deixaria feliz.
Olho para ele e assinto, sentindo um nó se formar em minha
garganta.
Ele sabe o quanto essas palavras mexeram comigo.
Se eu estava à beira de cogitar, ouvir isso de Luke me deu o
empurrão que faltava.
— Vou tentar — digo por fim e ele me abre um largo sorriso.
— Isso me deixa orgulhoso pra caralho.
Seus olhos marejam e eu reviro os meus, quebrando o clima,
tentando disfarçar o quanto estou mexido.
— Você está emocionado demais.
— E daí? Eu sempre fui o sensível dessa relação. — Dá de ombros.
— Vamos pedir uma pizza para comemorar?
Luke saca o celular do bolso e começa a digitar, procurando, pelo
aplicativo, a pizzaria mais próxima.
— Não vai mesmo encarar uma noitada na doce LA? — provoco e
ele me fuzila com o olhar.
— Noitadas eu tenho em qualquer lugar, Hunter. Algumas horas
com você eu só tenho aqui.
— De fato, é muito emocionado…
Recebo um soco no braço e solto uma risada.
— Fica aí se fazendo de durão, mas sabe que não vive sem mim —
ele se gaba e eu finjo indiferença, mas sabe que não passa de uma
brincadeira.
Porque ele não poderia estar mais certo.
Não sei o que seria de mim se não o tivesse comigo.
Talvez não conseguisse sair do poço quando cheguei lá no fundo.
Sem ele e minha família, eu estaria fodido.
Ainda mais do que estou agora.
Capítulo 4 - Hunter

SARAH CORBETT.
Releio o nome no cartão em minha mão inúmeras vezes, enquanto
crio coragem para ligar.
Desde que falei com Natalie sobre aceitar sua ajuda, minha irmã
ficou visivelmente emocionada e se propôs a encontrar alguém com boas
referências, mas que não tivesse qualquer ligação com o time.
Não quero um terapeuta da equipe técnica, nem alguém envolvido
com meu passado.
Não preciso de ninguém me lembrando o tempo inteiro tudo o que
eu perdi. Por isso, quanto mais distante eu conseguir ficar desse universo,
melhor.
Agora, já faz um dia que Natalie deixou o cartão da terapeuta
comigo e eu ainda não consegui entrar em contato.
Uma parte de mim quer fazer isso por ela, mas a outra, a maior,
simplesmente se recusa a enfrentar.
Inferno.
Por que mexer no que está dando certo?
Esfrego as mãos pelos cabelos e solto o coque, deixando os fios
caírem na altura dos ombros.
Respiro fundo e corro a mão pela barba, vendo T-Bag me encarar
com sua expressão imparcial.
— Eu preciso fazer isso, né? Não posso ficar adiando mais —
murmuro para o meu gato, mas sei que estou dizendo a mim mesmo.
Não dá para ficar postergando isso.
A cada dia que passa, o casamento de Natalie fica ainda mais
próximo, e com ele, a lembrança do que me aguarda daqui a alguns meses.
Pessoas…
Família…
Olhares curiosos.
Merda.
Decido acabar com isso, então desbloqueio a tela do celular e digito
o número do cartão, sentindo meu coração se acelerar a cada toque.
— Life Clinic, em que posso te ajudar?
Só esse nome me faz revirar os olhos.
Porra, mas que clichê.
— Gostaria de marcar um horário com… — Paro e viro o cartão em
minhas mãos. — Sarah Corbett.
— Ah, claro. Eu me chamo Judith e vou agendar para você. Tem
preferência de horário? — a voz feminina do outro lado da linha é bastante
solícita.
— Só me tira uma dúvida antes… — Desde que li o nome no cartão,
não paro de pensar em como ela é. E, mesmo que Natalie tenha me dado
referências, preciso saber onde estou pisando. — Quantos anos ela tem?
— Como é? — Judith parece surpresa com a minha pergunta.
— Há quanto tempo ela se formou? Sabe me dizer?
— Ah, entendo. Sarah é uma excelente profissional, concluiu o
mestrado recente em Psicologia e tem pouco menos de trinta anos…
Faço uma careta.
Nem.
A.
Pau.
Uma garota que acabou de se formar querendo me dizer o que
fazer?
Sem chance.
— Pode deixar, então. Vou procurar outra pessoa…
— Se sente confortável com alguém com mais experiência? —
indaga.
— Acho que sim.
— Temos Dr. Roger Dawson, que atende aqui na clínica. Ele tem
mais de vinte anos de experiência no mercado.
Quando Judith começa a me falar das especialidades do psicólogo e
sua carreira, eu já solto um suspiro de alívio.
Bem melhor.
— Pode ver um horário, por favor. De preferência, o primeiro ou
último do dia.
— Tenho na segunda-feira às cinco da tarde, pode ser?
Penso que faltam apenas quatro dias e acho ótimo.
Assim tenho tempo para preparar meu espírito para essa porra.
— Pode, sim.
— Certo, me informe seu nome completo para que eu confirme o
agendamento.
— Hunter Jacob Crawford — digo, já sentindo um amargo no peito.
Que ninguém me reconheça.
Por Deus.
Que ninguém saiba quem eu sou.
Minha irmã me garantiu que a clínica tem sigilo por ética
profissional e jamais revelaria dados de pacientes, ela mesma se incumbiu
de buscar essas referências. Mas, ainda assim, não deixo de sentir um frio
na barriga pelo que me aguarda.
Principalmente por não fazer ideia de como isso é.
— Certo. Está marcado, Sr. Crawford. Caso tenha interesse de
continuar com as sessões, pretende se encontrar em qual periodicidade?
— Da forma que acabar mais rápido — respondo direto.
Se ir lá todos os dias fizer essa porra acabar logo, eu prefiro. Ficar
estendendo sofrimento só vai me deixar maluco.
— Temos a opção de duas sessões por semana, seria interessante
para o senhor?
— Pode ser. Tanto faz.
— Certo. Vou deixar tudo aqui ajustado e, logo que passar pela
primeira sessão, acertamos as próximas.
— Obrigado.
— Disponha, Sr. Crawford. Até segunda!
Desligo o telefone e solto um suspiro alto.
Não estou nem acreditando que marquei mesmo essa merda, mas já
está feito.
Agora é torcer para que não seja tão ruim assim. Pelo menos o cara
é mais velho, e não a menina lá que mal saiu das fraldas.
Ainda com o celular em mãos, abro a conversa com meu amigo para
mandar uma mensagem.
EU:
Marquei a sessão para segunda-feira. Só
não sei o que esperar de tudo isso.

Travo a tela e me levanto do sofá, seguindo até a cozinha para beber


um copo de água.
De lá, sinto o celular vibrar anunciando sua resposta.
LUKE:
Se não gostar, é só não voltar. Simples.
Mas pelo menos você tentou.

Se há uma coisa que me fez realmente cogitar, foi exatamente isso.


Ninguém pode falar que eu não tentei.
Ninguém vai ter nada para jogar na minha cara depois.
EU:
Valeu, cara. Te conto se for uma merda.
LUKE:
Vai me contar de qualquer jeito, sendo
bom ou ruim. Estou com você nessa,
Hunter. Lembra disso.

Ele sabe o quanto significa para mim, o quanto sua presença em


minha vida é importante pra caralho.
EU:
Obrigado.

Encerro a conversa e volto para a sala, procurando algo para assistir.


Agora é esperar pela segunda-feira.
E torcer para que não seja tão ruim assim.

Sarah
— Se sente confortável com alguém com mais experiência? —
Judith pergunta e eu sinto um nó na garganta.
Não é raro de acontecer, eu já deveria ter me acostumado a isso,
mas, ainda assim, não deixa de me afetar.
Ser nova nessa área é péssimo.
Principalmente quando preciso atender adultos.
Com crianças e adolescentes é muito mais fácil conseguir
atendimentos, e até mesmo a confiança deles. Mas alguns adultos mais
velhos que eu costumam torcer a nariz quando veem a minha idade.
E essa é uma injustiça tremenda.
Eu estudei pra caramba, fui destaque na faculdade e segui para meu
mestrado. Tenho muito orgulho da minha carreira acadêmica e, ainda que
não tenha anos de experiência profissional, sou boa no que faço.
As pessoas só precisam confiar em mim.
Quando desliga o telefone, Judith me encara com aqueles olhos de
pesar.
— Ele não quis ser atendido por mim?
Ela nega e eu engulo em seco, tentando disfarçar o quanto isso me
chateia.
— Que pena… Mas ele está nas mãos do Dr. Dawson, então tenho
certeza de que vai se dar muito bem.
Pego minha bolsa para sair e Judith me chama.
— Sarah… Não leve para o lado pessoal, ok? Vou te contar algo
sobre ele que talvez te deixe menos triste…
Estreito os olhos para ela.
— Ele não me disse nada ao telefone, mas reconheci o nome logo
que ouvi. É o antigo quarterback dos Bulls que sofreu um acidente e se
afastou do futebol…
Ouvir Judith falando me faz lembrar de Claire me contando sobre
isso outro dia.
Então ele finalmente decidiu procurar ajuda?
Que bom.
Fico feliz por ele.
Mas ainda assim não consigo evitar o quanto me sinto mal por não
ter confiado em mim.
Porque, se ligou procurando por mim, provavelmente recebeu
recomendação minha e ainda assim não quis…
Inevitável que me chateie.
— Ele sumiu da mídia há mais de três anos — completa e eu volto o
olhar para ela. — Deve ser difícil voltar a encontrar alguém, por isso deve
ter escolhido…
— Está tudo bem, Judith — interrompo-o. — Ele tem o direito de
escolher quem quiser. O importante é que tenha procurado ajuda, não é?
Fico mesmo feliz por ele.
A recepcionista me olha desconfiada antes de assentir.
— Não se preocupe, ok? Agora preciso ir, porque tenho um
compromisso… — minto. — Nos vemos amanhã.
Despeço-me dela e saio da clínica, descendo do elevador direto para
o meu carro.
Tento evitar os pensamentos, distrair a mente, mas é inevitável.
Odeio quando duvidam do meu potencial.
— Sarah? Está tudo bem? — Claire me pergunta logo que passo
pelo apartamento.
Tiro os calçados e jogo a bolsa no aparador, indo até o sofá, onde ela
se senta ao meu lado.
— Não é nada — digo e ela estreita os olhos para mim.
— Sério, amiga? Quase dez anos juntas e você ainda quer me
enganar? Sou psicóloga também, esqueceu?
Solto uma risadinha.
— Eu estava saindo da clínica hoje e vi que Judith recebeu uma
ligação de um paciente interessado em agendar uma consulta comigo.
— E isso não é bom?
Sinalizo para que ela me espere continuar.
— Eu sei lá por que perguntou a minha idade ou há quanto tempo
me formei… Enfim, ele me achou nova demais e preferiu marcar com o Dr.
Dawson.
— Ah, amiga…
— Está tudo bem, sabe? As pessoas têm o direito de fazer terapia
com quem elas quiserem. O que me entristece é ele ter desistido sem ao
menos me conhecer. Se ligou para lá com o meu nome em mãos, é porque
tinha recebido alguma referência minha.
— Nossa, amiga. Que merda. Que filho da puta!
— Ah, e você o conhece.
Ela se vira para me encarar agora.
— Conheço? Como assim?
— Ele é o tal quarterback que você comentou que se aposentou mais
cedo…
— O CRAWFORD? — grita e eu solto uma risada. — Hunter
Crawford? Mentira!
— O próprio. Pelo visto ele tomou a iniciativa de fazer terapia e isso
é ótimo.
— Mas perdeu a chance de se consultar com a melhor psicóloga de
LA… — diz toda orgulhosa e eu faço uma careta.
— Eu não sou a melhor, Claire.
— Para mim, é. Eu também seria, mas não sou da área clínica,
então…
— Vamos nos focar no bem do tratamento dele, isso que importa —
digo mais para mim mesma.
Claire me analisa por um instante antes de assentir.
— O azar é dele, amiga. Não leva para o coração, ok? Você é uma
psicóloga incrível, com pacientes que adoram seu trabalho. Veja quantos
elogios recebe! Não deixe esse mal-amado te abalar…
— Agora ele é mal-amado? — brinco. — Porque até outro dia era
um puta gostoso…
— Mas ele é — responde enfática. — Um mal-amado, mas
terrivelmente gostoso.
Solto uma risada.
— Vai passar, tá? Não se preocupe. — Aperto sua mão com carinho.
— Vou tomar um banho agora e fazer um brownie de chocolate para
relaxar.
Os olhos da minha amiga até brilham.
— Eu amo que seu hobby seja confeitaria. Você me faz tão feliz! —
Ela abre um sorriso largo e eu rio.
— Espertinha!
Levanto-me do sofá em um pulo e sigo até meu quarto.
Trato de afastar os pensamentos o tempo todo, que é o melhor que
eu faço.
Preciso superar.
Eu ia adorar tê-lo como paciente e ajudá-lo nesse processo, mas…
O que eu posso fazer?
Não é a primeira vez que acontece, nem será a última.
Até ter uma bagagem maior no meu currículo, situações como essa
sempre irão acontecer. Principalmente por eu ser mulher.
Solto um suspiro.
Prefiro acreditar que não era mesmo para ser.
Me deixa menos triste pensar assim.
Capítulo 5 - Hunter

RESPIRO BEM FUNDO de pé, de frente para o espelho, fechando o


moletom preto e colocando o capuz.
Olho para o relógio e vejo que não falta muito para o horário
marcado, então já preciso sair de casa.
Desço os degraus e sigo até a garagem, pegando o capacete preto e
montando na minha moto, onde abro o portão, e sigo pelo condomínio até a
saída.
Piloto pelas ruas de Los Angeles sentindo uma adrenalina diferente
se apossar do meu corpo e, quanto mais próximo fico da clínica, mais o
coração se acelera dentro do peito.
Os últimos dias não foram fáceis, fiquei bastante ansioso por não
saber o que me aguarda, mas preciso enfrentar isso logo.
Ao chegar ao endereço indicado, estaciono a moto e salto dela,
tirando o capacete e prendendo na corrente junto ao retrovisor.
Vestindo o capuz, coloco as mãos nos bolsos do moletom e sigo de
cabeça baixa pelo prédio comercial, subindo o elevador até o andar da
clínica. Pelo caminho, tenho a sorte de não ser reconhecido, mas claro, não
ergo a cabeça em momento algum. Fico torcendo mentalmente para que lá
isso também não aconteça.
Atravesso as portas da recepção e vejo um casal sentado na cadeira
de espera, entretido com seus celulares. Sigo até a mesa e, ao chegar, ergo
os olhos devagar para me identificar.
— Boa tarde, Judith — cumprimento a moça ao reconhecer o nome
no crachá.
— Boa tarde. Sr. Crawford? — diz com a voz baixa e eu assinto,
engolindo em seco.
Vejo que ela me analisa por um instante, mas rapidamente desvia o
olhar ao notar meu desconforto.
— Pode me fornecer seu documento, por favor?
Confirmo, pegando a carteira no bolso e entregando o documento a
ela. Vejo que repara nas tatuagens em minhas mãos, mas não diz nada.
Começo a balançar as pernas ansioso e, durante todo o tempo, olho para
baixo, quase suando em expectativa.
Não posso ser reconhecido.
Preciso sair ileso.
— Assine aqui, por favor.
Ela me entrega um formulário e eu faço uma assinatura rápida ao
final da folha.
— Prontinho. — Devolve meu documento. — Só aguardar ali no
canto, que ele vai te chamar pelo nome.
— Obrigado.
Afasto-me dela e sigo até a última cadeira, no final do corredor.
Apoio os cotovelos nos joelhos e abaixo a cabeça, sentindo-me bastante
desconfortável por aqui.
A sensação de estar em um lugar público assim, depois de tanto
tempo, é bastante assombrosa.
Mas, para a minha sorte, essa tortura não demora muito.
— Hunter…
Ergo os olhos em um pedido silencioso para que ele não termine a
frase e parece entender, porque apenas sinaliza com a cabeça para mim.
Levanto-me e passo por ele, vendo-o fechar a porta atrás de nós
dois.
Ainda em silêncio, Dr. Dawson aponta para que eu me sente no sofá
e eu me acomodo, descendo o capuz para mostrar o rosto.
Olho por um longo momento ao meu redor, observando cada detalhe
de sua sala.
As paredes claras, os móveis de mesmo tom, perfeitamente
arrumados. A estante de livros de psicologia, um frigobar.
É bem diferente do que imaginei.
Ainda é estranho estar aqui, mas não tão ruim.
— Então, Hunter — a voz do terapeuta me chama e eu volto a
atenção a ele.
Roger Dawson parece estar na casa dos cinquenta anos, tem
semblante sereno e usa roupa social.
Sinto-me melhor por estar diante dele, do que da tal garota recém-
formada.
— No que posso te ajudar hoje?
Encaro-o, pensando no que dizer.
Por onde começar?
Eu não sei como fazer, nunca estive aqui…
Não sei se quero falar tudo.
Inferno.
Corro a mão pela barba inquieto e meus joelhos balançam em um
ritmo constante. Tento organizar os pensamentos, mas a voz não sai de jeito
nenhum.
Porra.
Não vai dar certo.
— Quer me contar o motivo de estar aqui hoje? — pergunta devagar
e eu o fito em silêncio.
Acho que posso começar contando sobre a minha irmã.
Deve ser mais fácil.
— Minha irmã vai se casar — digo e ele não desvia o olhar de mim.
— É mesmo? E quando será?
— Daqui a alguns meses — respondo, esfregando a barba mais uma
vez. — Ela… Ela quer muito que eu vá.
Percebo-o acenar devagar, atento a cada movimento meu.
— E você não quer ir? — arrisca um palpite e eu engulo em seco.
— Kevin é um cara legal, ele cuida bem dela. O problema é o
casamento. A porra da cerimônia e… — Então paro, fazendo uma careta.
— Desculpa.
Já comecei xingando.
Mas, para a minha surpresa, ele não me repreende, apenas acena
para que eu continue.
— A cerimônia te preocupa?
— É… Gente demais. Familiares, conhecidos… — minha voz falha
e eu odeio a vulnerabilidade que vem dela. — Eu não presencio um
ambiente assim desde o acidente.
— Quer me contar sobre o acidente? — indaga e eu abaixo os olhos,
sentindo aquela dor no peito me invadir.
Lembranças da explosão, do fogo, do desespero.
Aperto os olhos e praguejo baixinho.
— Isso não vai dar certo — murmuro, mas acho que ele consegue
me ouvir.
— O quê?
Ergo os olhos e encontro o terapeuta me analisando.
— Isso. — Aponto para ele. — Como você poderia me ajudar?
Vejo que fica calado me observando, deixando-me continuar.
— Sério. Como vir aqui te contar sobre o que aconteceu comigo vai
mudar alguma coisa? Já está feito, perdi o que eu tinha de melhor na minha
vida e nada do que você disser vai mudar isso.
Meu coração se agita dentro do peito, mas o terapeuta se mantém
tranquilo me encarando.
Ele cruza os braços devagar e sua serenidade me irrita.
— Tem razão — diz, por fim, e eu arqueio a sobrancelha.
Não esperava por isso.
— Nada do que eu disser aqui vai mudar o que aconteceu com você,
independentemente do que tenha sido. Mas eu posso te ajudar a mudar a
forma como você enxerga o futuro e o que pode fazer diante disso. Seu
passado já foi, Hunter. Mas o modo como você viverá seus próximos anos é
uma escolha sua.
Solto uma bufada.
Lá vêm esses papinhos motivacionais do caralho.
Isso funciona com alguém, será?
— Não é tão simples — rebato.
— E eu não disse em momento algum que seria. Se fosse fácil, você
não estaria aqui agora.
Desvio o seu olhar e corro as mãos pelos cabelos.
— Há quanto tempo seu acidente aconteceu?
— Três anos — respondo e o vejo assentir.
— E é a primeira vez que procura esse tipo de ajuda? — indaga e eu
aceno devagar. — Sua irmã deve ser alguém muito importante para você, já
que está aqui por causa dela.
Balanço a cabeça mais uma vez.
Tocar no nome dela me traz um aperto no peito.
Seu olhar perdido quando foi me procurar.
A forma como ficou esperançosa quando propôs a terapia…
Porra, ela não merece isso.
Não mesmo.
— Tenho falhado muito com ela — confesso. — Tenho falhado com
todos, na verdade. — Dou de ombros. — Não queria magoá-la mais uma
vez.
Ele apenas balança a cabeça e agora se inclina para mais perto de
mim.
— Você já deu o primeiro passo, Hunter. Mesmo que não queira
estar aqui, já foi uma vitória ter procurado ajuda.
Engulo em seco, assentindo devagar.
Não sei onde isso vai dar, mas pelo menos estou tentando.
— Quer voltar na quinta-feira? — questiona, depois de mais um
momento em silêncio.
Encaro-o e dou de ombros, assentindo mais uma vez.
Não foi bem o que eu esperava, mas pelo menos não foi tão ruim.
Acho que aguento mais uma dose, afinal.
— Prefere o último horário, não é? — indaga e eu confirmo. — Ok,
vou pedir a Judith para agendar.
Balanço a cabeça e corro a mão pela barba, ansioso.
— Pode não falar meu sobrenome quando me chamar? — peço me
lembrando de mais cedo. — Não quero ser reconhecido por aqui.
— Claro, pode ficar tranquilo quanto a isso.
Aceno e me levanto, cobrindo-me com o capuz, vendo-o se despedir
de mim.
— Então até quinta-feira.
Deixo sua sala e saio pelo corredor, aliviado por ver que está quase
tudo vazio aqui fora.
— Tchau, Judith!
Ouço uma voz feminina e, logo que chamo o elevador, a dona dela
se põe ao meu lado.
Ainda de cabeça baixa, coloco as mãos nos bolsos do moletom e
fico ansioso por estar aqui parado, com a garota ao meu lado.
Não faço ideia de quem ela seja, eu nem mesmo a vi, mas o cheiro
dela é doce, suave e macio.
Aperto os olhos com força, e contenho a curiosidade de ver de quem
ela é.
Se a dona se parece com o aroma que exala dela.
A porta do elevador se abre e quando entramos nele, para o meu
azar, não está vazio.
Mentalmente, imploro aos céus que ninguém note a minha presença,
que eu continue invisível aqui no meu cantinho.
E, quando finalmente chegamos ao térreo, solto o ar dos pulmões ao
saltar do elevador e caminhar apressado até a minha moto.
Deu certo.
Consegui sair de casa e voltar sem ser reconhecido.
Porra, que alívio.
Quando pego as ruas da cidade, sinto o vento cortar meu corpo e
aquele cheiro de perfume doce me invade de novo.
Fazendo-me suspirar sozinho.
Capítulo 6 - Sarah

ATRAVESSO O PORTÃO PRINCIPAL da casa dos meus pais e já


consigo ouvir o som da gargalhada dos meus sobrinhos.
O dia hoje amanheceu com um sol bem bonito, por isso minha
família aproveitou e marcou um de nossos almoços tradicionais. Não é algo
raro de acontecer, mas nos últimos meses, com toda correria da minha vida
e de Josh, tem ficado cada vez mais difícil.
— Sarah! — Minha mãe vem até mim e me abraça bem forte. —
Você sempre tão linda!
Joanne Corbett toca meus cabelos com uma veneração tão grande,
que meu coração fica quentinho. Impossível evitar que meu rosto core um
pouco.
— Olha só quem fala!
Dou um beijo em seu rosto e vejo Josh vir em minha direção, com
óculos escuros no rosto e os cabelos loiros balançando a cada passo que ele
dá.
— Veja se não é minha irmã favorita — brinca, puxando-me para
um abraço.
— Fala isso porque sou a única que você tem.
— Ainda que eu tivesse mais quinze, você ainda seria minha
favorita.
Ele dá uma piscadinha para mim.
— Deus que me livre, ter mais quinze filhos. — A careta que a
minha mãe faz tira uma risada de nós dois.
— Como estão as coisas no hospital? — pergunto a ele, que enlaça
meu ombro enquanto caminhamos até meu pai, que está pilotando a
churrasqueira agora.
Na piscina está Jessica, minha cunhada, junto com Mia e Noah,
meus sobrinhos, brincando animados. Eu apenas aceno de longe para eles,
que estão no meio de uma farra.
— Uma loucura — responde dramático e eu rio. — Mas boas
demais. Eu nasci para aquele caos, não tem jeito.
Meu irmão mais velho é médico e se especializou em Ortopedia e
Traumatologia, então vive uma rotina puxada no hospital. Mas é nítido o
quanto ele ama o que faz e o sucesso de sua carreira não é vão.
— Você é foda, Josh. — Cutuco-o pela costela. — LA tem muita
sorte de ter você.
— Assim como você. — Recebo um beijo na bochecha agora. — E
como está na clínica? Tudo certo?
— Graças a Deus. Aos poucos minha agenda vai se enchendo.
Sou muito grata pela profissão que escolhi e, mesmo com todos os
desafios, tenho conquistado a cada dia a confiança de um novo paciente,
isso me deixa muito feliz.
Claro que ainda me deparo com algumas situações como a do tal
quarterback, mas faz parte. Eu fiquei triste por uns dias, mas já passou.
Esbarrei com ele essa semana na clínica e vi que é muito fechado, quase
não vi seu rosto, pois só olha para o chão e vive encapuzado. Senti um
aperto no peito por vê-lo assim. Não deve ser fácil viver na pele dele, e
saber que é tão fechado, tão introvertido, fez com que eu esquecesse a
mágoa de outrora. Desejo do fundo do meu coração que ele fique bem e se
reencontre, e Dr. Dawson é um excelente terapeuta, tenho certeza de que o
ajudará nisso.
— Daqui a uns meses não vão é nem achar vaga mais com você —
ele conclui confiante. — Sarah Corbett vai ser tão requisitada que terá fila
de espera.
Eu solto uma risada, junto com ele.
— Deus te ouça, Josh.
— Ele já ouviu.
Mais uma piscadinha charmosa do meu irmão.
Eu consigo entender exatamente por que Jessica se apaixonou por
ele. O homem sabe ser irresistível.
— O que vocês tanto estão rindo? — meu pai pergunta logo que nos
aproximamos dele.
— Josh como sempre — respondo e puxo meu velho para um
abraço apertado.
Não importa quanto tempo eu passe sem vê-lo, sempre sentirei
saudade dos abraços gostosos dele.
— Você está linda, princesa — elogia e beija a minha bochecha.
— Eu quero é saber que dia vou ter um cunhado — Josh solta e eu
belisco seu braço. — Ai, caralho!
— Josh… — meu pai o repreende, e ele faz uma careta.
— Precisava me beliscar, criatura?
— Então para de me cobrar um namorado, idiota! — Fecho a cara
para ele.
— Eu só pego no seu pé, Sah. Faço isso desde que você nasceu. —
Ele bagunça meus cabelos agora. — Não precisa me agredir.
— Preciso, sim, porque você é chato demais! Um dia eu trago
alguém, e se eu não trouxer também, tudo bem. Não preciso de homem para
ser feliz na vida.
— Nisso eu concordo. — Meu pai aponta para mim.
— Viu?
Enlaço Sr. Robert Corbett pelo pescoço e dou um beijo estalado em
seu rosto.
— É por isso que eu sempre vou amar mais o papai — provoco-o e
ele revira os olhos para mim.
— Óbvio que você vai amar mais o papai. Ele sempre fez as suas
vontades.
— Ih… Começou… Vou voltar para a churrasqueira, que é o melhor
que eu faço.
Solto uma risada e vejo o quanto sinto falta disso.
De ter todo mundo aqui reunido assim, sempre.
A tarde passa de uma forma gostosa demais. Com brincadeiras,
gargalhadas e, como sempre, Josh pegando no meu pé. Ele é o típico irmão
que adora implicar, mas quando eu preciso é o primeiro a colocar o mundo
no chão para me ajudar.
Tenho muita sorte de ter cada um deles. Toda a minha família.
Quando penso que meus sobrinhos se cansaram, eles vêm correndo
até mim.
— Tia Sarah, pode fazer cookies de chocolate? — Mia pede com o
olhar mais pidão e seu irmão acompanha, abrindo-me um sorriso gostoso.
— Os cookies da tia Sarah são tãaaaao gostosos. — Noah suspira e
não tem um que não ri.
— Será que a vovó tem todos os ingredientes para fazer?
Olho para a minha mãe, que dá uma piscadinha para mim.
— E eu por acaso deixo faltar algo nesses armários que vai nos
render algum de seus doces perfeitos?
— Eba!!
Eu balanço a cabeça rindo enquanto sigo para a cozinha a fim de
preparar a massa dos biscoitos. Jessica e as crianças me ajudam no preparo,
enquanto minha mãe nos assiste com um sorriso orgulhoso no rosto. Sei o
quanto ela ama esses momentos, o quanto adora ver a família reunida. E
nem mesmo a julgo, eu amo estar aqui.
Passo o resto do dia assando cookies, logo o que era almoço vira
jantar e, quando menos percebemos, estamos pedindo pizza para comer.
É sempre uma festa quando os Corbetts se reúnem e eu queria que
isso acontecesse com ainda mais frequência, mas a rotina de Josh dificulta
um pouco o processo.
Mas ainda assim valorizo demais estar aqui, com todos eles.
Quando enfim terminamos, organizamos tudo e seguimos até a porta
para nos despedirmos.
— Eu nem vi o dia passar — digo logo que recebo um abraço de
minha mãe.
— É sempre muito gostoso ter vocês aqui. Precisamos fazer isso
mais vezes.
— Precisamos mesmo. Se a agenda do Josh deixar…
Meu irmão escuta e vem beliscar a minha costela.
— Eu faço o que eu posso, ok? Não é fácil dividir meu tempo entre
vocês, o trabalho, meus filhos e o casamento.
— Você faz o seu melhor, filho. Sabemos disso.
Josh sorri e puxa nós duas em um abraço conjunto, que logo é
seguido de um ataque de cócegas.
— Seu ridículo!
Eu me desvencilho dele entre gargalhadas, pulando e saindo
correndo de perto.
— É para te fazer sorrir um pouco nessa vida — justifica.
— Ah, claro. Como se eu fosse infeliz, né?
— Não disse isso. Mas é visível o quanto eu te faço mais feliz —
completa e eu reviro os olhos para ele.
— Podem se passar trinta anos, eu sempre vou amar ver vocês
juntos assim. — Mamãe suspira e eu aperto a orelha de Josh, fazendo-lhe
praguejar até ser repreendido pela sua esposa.
E é essa a dinâmica dos Corbetts.
Uma loucura, como podem ver.
Mas uma loucura gostosa demais.
Estou indo para casa ainda entre gargalhadas e pensando na sorte
que eu tenho de ter nascido nessa família.
Eles são mesmo incríveis.
Capítulo 7 - Hunter

— NATALIE FICOU FELIZ de saber que comecei a vir às sessões —


falo a Roger, que me analisa atento.
— É mesmo? — indaga e eu confirmo.
— Ela tem muita esperança de que eu consiga ir ao casamento… Só
não sei se vou de fato conseguir… Será que vou?
Encaro o homem à minha frente, esperando algum tipo de
confirmação.
Engraçado como é só a terceira sessão e, além de não me parecer tão
repugnante estar aqui, surgiu uma necessidade estranha dentro de mim.
É como se ouvir da boca dele tornasse mais real, mais palpável essa
possibilidade.
— Isso só depende de você, Hunter — diz, tranquilo. — O que mais
te preocupa na cerimônia?
Esfrego a mão na barba, ganhando tempo para falar.
— Tudo?
Solto uma risada sem humor.
— Pessoas… Muitas pessoas num mesmo lugar — só de falar, já
sinto um calafrio. — E, pior ainda, conhecidos.
— Por que as pessoas te amedrontam assim? O que imagina que
elas fariam a você?
Faço uma careta e me jogo no sofá, encostando-me no estofado.
— Está vendo isto aqui?
Ergo a manga da camisa e mostro a ponta das tatuagens no braço.
Ergo a calça e mostro um pedaço da perna também coberto por elas e, por
fim, o pescoço.
— Eu não tinha isso antes do acidente. Sei que vão olhar. Sei que
vão falar. E, pior, ficar com pena.
— Será mesmo? Talvez elas nem mesmo se importem. Já parou para
pensar nisso?
Estreito os olhos para ele.
Duvido que passe batido.
— Você não pode dar às pessoas um poder maior do que elas têm.
Principalmente em se tratando de você.
Faz sentido.
Mas não é tão simples assim.
— Tenho certeza de que vão pensar, ou vão falar alguma coisa. Eu
conheço…
— Mas vai fazer alguma diferença na sua vida? — rebate. — O que
elas pensam ou falam de você vai mudar a sua realidade?
Nego, em silêncio.
— Então por que se importar com elas?
Sua fala é um tapa na minha cara e eu penso em argumentar contra,
mas simplesmente não encontro palavras.
— Repito: você não pode dar às pessoas um poder maior do que elas
têm. E essas pessoas de que você está falando não têm poder nenhum sobre
a sua vida. Elas não vão mudar a sua realidade, Hunter, então o mal que
causam não pode atingir você.
Olho para ele mal piscando e engulo em seco.
Cacete, eu não sabia que ia sair de casa hoje para levar tanto tapa na
cara assim.
Fico em silêncio e Roger continua me analisando, encarando-me
dentro dos olhos.
— Ainda que… — começo a falar e paro, umedecendo os lábios
devagar. — Que eu não dê ouvidos a elas, me assusta estar perto de
tantas…
Só de pensar nisso, já sinto um calafrio.
— Já faz mais de três anos que não tenho contato com tanta gente
assim. Eu quase não saio de casa, e me limito a ver minha mãe, irmã e
amigo. Acho que me desacostumei a estar em ambientes assim, não sei se
me sentiria confortável.
Roger assente devagar.
— Isso é compreensível. E não precisa ser a pessoa mais sociável
durante o evento. Se for desconfortável para você, fique no canto,
mantenha-se afastado de quem não te faz bem. Aposto que Natalie não vai
se importar se você não fizer um show na pista de dança. Ela só quer a sua
presença lá, no dia mais feliz da vida dela.
Porra.
Como esse cara sabe tanto assim das coisas?
E pior, como pode esfregar tanta coisa na minha cara que eu não
conseguia ver?
Suas falas me levam a pensar.
— Eu não preciso, né?
— Claro que não. Você não é obrigado a fazer nada que não queira,
Hunter, nem mesmo a ir ao casamento. Mas, se tem o desejo de ir e teme
pelo que pode enfrentar, crie artifícios para que fique mais confortável para
você.
Balanço a cabeça, esfregando a barba ansioso.
Como pode falar tanta coisa que eu nunca pensei antes?
— Não pode convidar um amigo para ir com você? Talvez te deixe
mais tranquilo ir com alguém de confiança e que te dê um suporte, caso
precise.
— Tem o Luke, e ele vai, por sinal.
— Então já temos um ponto de partida.
— Mas ele mencionou que irá levar alguma companhia. — Faço
uma careta ao lembrar. — Fora que… Você não conhece o meu amigo, ele
tem espírito de político, mesmo não sendo um. Se eu quiser fugir dos
holofotes, tenho que manter distância de Davenport.
— Se conversar com ele, não se conteria por você?
— Não acho que vai funcionar… Aquele ali é um ímã de pessoas.
Sai fazendo amizade até com os garçons da festa.
Incrível a facilidade que Luke tem de se aproximar das pessoas, de
conviver com elas. Já falei com ele mais de uma vez que, caso se
candidatasse, certamente seria eleito.
O cara arrancaria mil votos por onde passasse.
— Não tem outra pessoa que poderia te ajudar?
Tento puxar na memória, mas não vem ninguém.
Eu me afastei de muita gente depois do acidente.
Na verdade, de quase todo mundo.
Os amigos do time, meus antigos contatos.
Tudo.
Perdi contratos, parcerias, e paguei até algumas multas por isso. Mas
pouco me importei. Não tinha a mínima condição de prosseguir com isso e
continuo não tendo hoje.
Ainda que eu sinta falta pra caralho da vida que eu levava.
Porra, como sinto.
Tanto que chega a doer.
Mas não é mais a minha realidade, então preciso me afastar de tudo
que me remeta a ela.
— Não precisa decidir isso agora — diz, ao ver que fiquei calado
demais. — Você ainda tem um tempo para pensar nisso e ver se é uma boa
opção. Se não der certo, pensaremos em outra alternativa. O importante é
encontrar algo que funcione para você.
Balanço a cabeça.
Consigo ver uma luz no fim do túnel.
— Está certo.
— Nos vemos semana que vem? — indaga e eu confirmo,
levantando-me de pronto e acenando para ele.
Cubro o rosto com o capuz e saio de sua sala, olhando para baixo
como de costume.
Estou quase chegando ao elevador quando sinto aquele cheiro
familiar me invadir.
Eu sei que é da mesma garota, mesmo não fazendo ideia de quem
ela seja.
Só sei que é bom.
É como se inspirá-lo trouxesse um alívio aqui dentro.
Não sei bem explicar.
Quando a porta se abre, adentramos juntos e agradeço mentalmente
por estarmos sozinhos.
Lado a lado, cruzo os braços e batuco o pé devagar, vendo o
elevador descer aos poucos pelo prédio comercial.
Noto o espelho à nossa frente e travo uma batalha interna sobre
olhar ou não para ela.
Mas não consigo resistir muito.
A curiosidade é maior.
Como se estivesse em câmera lenta, ergo os olhos devagar e vejo-a
através do espelho.
Para a minha sorte, está distraída, logo não está olhando para mim.
E isso me dá chance para observá-la melhor.
Parece bem jovem, talvez uns vinte e cinco anos.
O rosto é lindo e delicado, como de um anjo.
Os cabelos loiros e lisos descem até a altura da cintura, fazendo
pequenas ondas nas pontas.
Não consigo reparar em seus olhos, mas imagino que sejam claros,
como sua pele. Penso que combinariam com ela.
Ainda que esteja vestida em roupas formais, me transmite uma
postura doce, bem condizente com seu perfume.
Será ela uma paciente que vem direto do trabalho, ou trabalha por
aqui?
A porta do elevador se abre e eu aceno para que vá na frente.
E quando ela o faz, seu cheiro mais uma vez me invade, fazendo-me
fechar os olhos por um instante.
Nossa…
É mesmo muito bom.
Balanço a cabeça e sigo o caminho até o estacionamento, onde
monto na minha moto.
Pelo retrovisor, vejo que ela entra em um carro pequeno e logo dá
partida, sumindo de vista.
Ainda estou pensando em seu aroma, e em alguns de seus detalhes
quando faço o trajeto para casa.
Estou atravessando a porta principal, quando sinto meu celular
vibrar no bolso e vejo o nome que surge.
Grace Crawford.
— Oi, mãe — atendo a ligação, indo direto para a cozinha, beber
um copo de água.
— Oi, filho… Te atrapalho? — pergunta com cuidado.
— Não, não. Acabei de chegar em casa.
— Ah, ótimo. Liguei só para saber como você está.
A sua voz serena traz um acalento aqui.
Na verdade esta tarde está sendo uma sucessão de coisas curiosas
que me trazem um pouco de paz.
A sessão com Roger.
O cheiro da garota.
E ouvir a voz da minha mãe.
— Estou bem — digo, sincero.
É assim que me sinto mesmo.
— Natalie me contou sobre a terapia.
Balanço a cabeça.
É claro que ela contaria.
— Comecei semana passada — explico.
— E está gostando?
Faço um retrospecto das últimas sessões e vejo que têm ficado
melhor a cada vez.
— Não diria que estou amando, mas não é tão ruim. — Dou de
ombros. — Tem ficado mais fácil a cada sessão.
— Que bom, Hunter. Não sabe o quanto fico feliz de ouvir isso. Vai
te fazer bem, você vai ver.
— É… Espero que sim.
Termino de beber minha água e me sento na cadeira à bancada da
cozinha.
— E como estão as coisas por aí?
— Ah, tudo bem, graças a Deus. Uma correria com os preparativos
do casamento…
— Nem imagino.
— Natalie te contou que já mudou a cor da decoração três vezes?
Minha mãe suspira do outro lado e eu balanço a cabeça.
— Não, mas não me surpreendo nem um pouco.
— Por Deus, sua irmã está me deixando maluca!
E então eu perco a noção do tempo ouvindo as lamúrias da minha
mãe sobre o quanto tem sido exaustivo e divertido, ao mesmo tempo,
organizar o casamento de Natalie.
E ouvi-la me faz um bem danado, traz aquela sensação de lar.
Uma sensação boa, que há muito eu não sentia.
Capítulo 8 - Sarah

ENCERRO O ÚLTIMO ATENDIMENTO e junto minhas coisas,


preparando-me para fechar mais um dia de trabalho.
Estalo o pescoço pelo cansaço e penso que preciso de um banho
quente, uma taça de vinho e uma massagem nos pés para relaxar.
Uma pena que eu não tenha ninguém para esse último tópico, já que
Claire é uma negação nisso. Minha amiga até tem boa vontade, mas não
tem o menor talento para isso e eu acabo ficando ainda com mais dores,
então prefiro evitar a fadiga.
Só o banho quente e a taça de vinho já me farão um bom trabalho.
Apago as luzes da sala e saio do consultório, acenando para Judith
antes de seguir para o elevador.
E ali, parado, de jaqueta preta e capuz, de frente para a porta, está
ele.
Hunter Crawford.
O cara que curiosamente tem saído junto comigo nos dias em que
tem suas sessões aqui na clínica.
Eu ainda não pude ver seu rosto, mas apenas sua presença já me
intimida, principalmente porque me sinto minúscula ao seu lado.
Hunter é gigante, pelo menos perto de mim.
Alto, de ombros largos e vestido de preto da cabeça aos pés, com
um perfume masculino marcante e delicioso.
Sua presença é um tanto intrigante e, ainda que não tenhamos
trocado uma palavra, gosto da sensação de tê-lo por perto por alguns
minutos.
É estranho, eu sei.
Mas é assim que me sinto.
O elevador se abre e nós dois passamos pela porta. Ainda que haja
outras pessoas dentro dele, não consigo deixar de sentir a sua presença.
O seu cheiro é tão imponente, que eu fecho os olhos por um instante
para absorvê-lo, esquecendo-me de todo o resto por um momento.
Estamos quase chegando ao térreo, quando olho na direção do seu
reflexo e o pego me fitando.
Hunter baixa o olhar no mesmo momento, como se tivesse sido
pego cometendo um crime e eu sinto meu coração dar um salto aqui dentro.
Porque, por uma fração de segundos, eu o vi.
Vi seus olhos curiosos sobre mim e pareciam um pouco sombrios.
Bom, pelo menos foi essa a impressão que tive, mas infelizmente
não pude perceber muito.
O elevador se abre e todos descemos dele. Caminho devagar até o
estacionamento, sentindo sua presença marcante atrás de mim.
É estranho e ao mesmo tempo reconfortante saber que ele vem logo
atrás.
Bizarro, eu diria.
Sigo até meu carro e, de canto de olho, vejo-o ir até a sua moto
também preta, assim como a cor do capacete. Pelo pouco que conheci do
ex-jogador, já vi que ele não curte muito cores, já que está sempre de preto.
Abaixo os olhos para procurar minhas chaves na bolsa quando vejo
uma imagem que me paralisa.
— Mas não é possível…
Cutuco o pneu traseiro esquerdo com o pé e vejo que está bem
vazio.
Caramba, mas que azar!
Pego meu celular, pensando a quem pedir ajuda e só consigo me
lembrar da voz de Josh no meu ouvido dizendo sempre que eu deveria
aprender a trocar pneu.
Eu nunca vou contar a ele o ocorrido, senão vai jogar na minha cara
para o resto da vida.
Nessas horas eu sempre ligo para o meu pai pedindo socorro, mas
adivinha?
Ele não está na cidade.
Meus pais viajaram essa semana para um momento a sós e logo isso
me acontece…
Penso nas minhas opções e ligar para Josh definitivamente não é
uma delas.
Olho para os lados e tento puxar na memória alguma borracharia
aqui por perto. Não me lembro de nenhuma, então penso em procurar no
Google para ver se eu tenho alguma luz.
Um posto de gasolina, uma oficina, qualquer coisa que possa me
ajudar agora.
Estou navegando pela página principal até sentir um cheiro familiar
se aproximar de mim.
— Precisa de ajuda?
A voz rouca e grossa me faz arrepiar até o último pelo da nuca.
Engulo em seco e me viro em câmera lenta para ver quem está atrás
de mim.
Hunter…
Ainda de capuz, com as mãos dentro dos bolsos do casaco, ele
divide o olhar entre mim e o pneu vazio do meu carro.
— Acho… Acho que o pneu furou. — Raspo a garganta,
recuperando a voz.
Mas nossa.
Ouvir a voz dele, tê-lo tão perto…
Uau.
Hunter coça a barba antes de se aproximar do carro e se abaixar para
ver melhor, o movimento evidencia ainda mais as costas largas.
Meu Deus, esse homem é um monstro.
No bom sentido, claro.
— Você tem estepe? — pergunta e eu pisco os olhos, perplexa.
Será que…
Ele vai me ajudar?
— Te-tenho — minha voz falha mais uma vez e eu me odeio muito
agora.
Pego as chaves e abro o porta-malas, erguendo a capa para mostrar o
pneu reserva.
— Macaco e chave de roda? — pergunta e eu procuro pelo
bagageiro até encontrar.
Posso não saber trocar um pneu, mas pelo menos não ando
desprevenida.
Hunter assente, vejo-o dar um passo para trás e abrir o zíper da
jaqueta preta.
Neste momento eu paro de respirar, ao pensar no que está disposto a
fazer.
Ele vai mesmo me ajudar?
E, pior, tirar o casaco para isso?
Prendo a respiração quando o vejo retirar a peça e estendo a mão
para pegar, oferecendo-me para segurá-la.
Hunter me entrega e, neste momento, não consigo deixar de reparar
nas tatuagens fechando os dois braços, inclusive o pescoço. A camiseta
grafite é bem justa, marcando o peitoral extremamente definido.
E o rosto dele…
Ainda que olhe para baixo, consigo ver o quanto é bonito.
Bonito não, ele é lindo.
O cabelo está preso em um coque e alguns fios ondulados soltam
dele, em um tom acobreado. A barba enche todo o rosto e, na orelha, uma
argola prateada, assim como a pequena que está no nariz.
De todas as versões que eu imaginei Hunter Crawford, nenhuma se
parece com essa.
Nossa…
Dou um passo para trás ao vê-lo se abaixar diante do carro para
afrouxar os parafusos antes de erguer um pouco o veículo com o macaco.
Durante todo o tempo, Hunter não diz nada. Apenas trabalha em
silêncio com algo que parece tão simples para ele, mas que está salvando a
minha vida agora.
Eu fico aqui, de pé, totalmente desconcertada, mas não resisto a
tocar o tecido macio em minha pele.
É ridículo, eu sei.
Mas até a jaqueta desse homem tem um aspecto bom.
Quando Hunter termina de trocar o pneu, vejo-o descer o macaco e
apertar os parafusos com a chave de roda, fazendo uma última conferência
antes de se voltar para mim.
— Pneu trocado — anuncia e eu abro um sorriso tímido.
— Obrigada! Nossa, você me salvou…
Suspiro, entregando-lhe seu casaco quando ele termina de guardar
tudo no bagageiro e fecha a porta dele.
— Lembra de passar numa borracharia o quanto antes, não dá para
ficar rodando muito com o estepe, ele é só um paliativo.
— Claro, pode deixar.
Abraço o meu corpo, intimidada por sua presença, vendo-o tão alto
diante de mim.
E aqui, agora, consigo ver melhor seus olhos.
São lindos…
Acinzentados como nunca vi igual.
Têm uma névoa triste, transmite uma mensagem tão intensa que eu
chego a engolir em seco.
Ele parece perceber, pois desvia no mesmo momento.
— A propósito, sou a Sarah.
Estendo a mão a ele, que a encara por um momento antes de
finalmente apertar.
E a sua mão parece que vai engolir a minha, de tão grande.
E quente.
Macia.
Além de totalmente tatuada.
— Hunter.
A voz grossa me arrepia mais uma vez e, ao soltar a minha mão,
sinto uma sensação de vazio.
É intrigante o quanto sua presença parece preencher tudo.
— Certo. Obrigada, Hunter. Mesmo. Fico te devendo uma.
Ele nega de pronto.
— Não foi nada.
Então apenas acena devagar e vira as costas, vestindo o casaco e
seguindo até a sua motocicleta.
Eu demoro uma fração de segundo para reagir e entrar no carro,
dando partida no veículo.
Pelo retrovisor, consigo ver que Hunter só arranca a moto quando
saio do estacionamento, mas, logo que alcanço a via expressa, eu o perco de
vista.
No trajeto até em casa, não consigo parar de pensar em sua voz, em
seu cheiro, seus olhos tristes e sua mão macia…
Caramba…
Não estava preparada para tanto assim.
Não estava mesmo.
Quando chego a meu apartamento, encontro Claire na cozinha, de
frente para a geladeira.
— Podemos pedir pizza hoje? Não estou a fim de cozinhar — diz,
ao notar minha presença.
— Amiga, ele falou comigo.
Claire estreita os olhos para mim.
— Ele, quem?
— Hunter — solto e ela ainda me encara sem entender. — Hunter
Crawford — completo.
E então seus olhos arregalam e o queixo dela cai.
— COMO É QUE É?
Balanço a cabeça rindo.
— Eu sempre o via pela clínica quando estava saindo, né? Mas,
além de nunca falar comigo, ele nem mesmo erguia a cabeça.
— E o que mudou agora?
Seus olhos brilham de curiosidade.
— Meu pneu furou. — Bufo. — Você sabe que eu sempre ligo para
o meu pai me salvar, né? Pois Sr. Robert não está na cidade, e eu jamais
daria esse gostinho para Josh, nunca ligaria para ele. Então comecei a
procurar por borracharias próximas no Google, quando ele se materializou
atrás de mim.
— Não brinca…
— Perguntou se eu tinha o estepe e, quando eu mostrei a ele, tirou a
jaqueta, começando a trocar, simples assim.
— ELE, O QUÊ? TIROU A ROUPA PARA VOCÊ?
— Amiga, menos! Bem menos! — Solto uma risada e a cara
incrédula de Claire só me faz rir mais. — Não foi isso. Acho que tirou o
casaco para não sujar, ou não sentir calor, sei lá.
— Caramba, Sarah! Isso… Uau. Você falou com o Crawford, você
conversou com nada menos que uma lenda do futebol!
— Não foi bem uma conversa. — Faço uma careta. — Foram
apenas algumas frases trocadas e todas envolvendo pneu.
— Mas isso é mais do que o restante da população americana! Estou
chocada…
Ela cai sentada na cadeira e eu rio, buscando um copo de água para
beber em frente a dela.
— Uma pergunta: Ele tinha muitas tatuagens?
Desde o ocorrido na clínica, eu não pesquisei nada sobre Hunter na
internet, ainda que tenha tido curiosidade. Não quis formar nenhuma
opinião sem conhecê-lo de verdade, então não sei absolutamente nada sobre
ele.
— Eu acho que não… Pelo menos nunca vi, por quê?
— Quando ele tirou a jaqueta, vi que os dois braços são fechados
em tatuagens, assim como o pescoço. Não vi o resto do corpo dele, mas a
impressão que eu tive é de que elas estão por toda parte.
— Nossa… Com toda certeza ele não tinha tantas assim. Será por
causa das cicatrizes?
— É uma possibilidade, né? Não sei… E você tinha razão, ele é
mesmo gostoso.
— Eu disse! — solta, abrindo um largo sorriso. — E aposto que
deve estar ainda mais.
Ela solta um suspiro.
— Acho que vou lá na clínica te buscar um dia como quem não quer
nada…
— Não faça isso — corto-a. — Hunter pediu muita discrição lá na
clínica e ele salvou a minha pele hoje. Não vou cometer essa traição.
Claire estreita os olhos para mim e abre um sorriso malicioso em
seguida.
— Sabe que agora eu estou shippando vocês dois?
— É o quê? — Afasto a cadeira e me levanto de pronto. — Você só
pode estar ficando maluca!
Levo o copo para a pia e ouço a risada dela atrás de mim.
— Ah, amiga… Você é a única que consegue se aproximar dele
depois desse tempo todo. Se ele se ofereceu pra trocar seu pneu, é porque
repara em você. Caso contrário, teria simplesmente ido para casa.
Ergo uma sobrancelha para ela e balanço a cabeça.
É bem verdade que não paro de pensar no motivo de Hunter ter me
ajudado, mas não acho que tenha nada a ver com isso.
— Não viaja, Claire.
— Eu acho que você deveria fazer algo para agradecer. Devolver a
gentileza — sugere, aproximando-se de mim.
— Tipo o quê? — Cruzo os braços, curiosa.
— Por que não o chama para sair?
Solto uma gargalhada alta.
— Você bateu a cabeça, só pode.
— Não estou falando de um encontro romântico, Sah — explica. —
Estou dizendo tomar um café, como amigos mesmo. Ele deve ser muito
sozinho, quem sabe isso não dá uma alegria a ele.
Pondero por um momento.
Não parece mesmo uma má ideia, ainda mais que tenho extrema
curiosidade sobre ele.
— Mas será que ele vai aceitar? Duvido muito.
— Se não quiser, azar o dele. — Dá de ombros. — Não é como se
você estivesse levando um fora de um gostoso. É só um café.
— Não sei, não… Ele mal fala comigo.
— Mas hoje falou, não é? Bom, se surgir uma oportunidade você
chama. Acho que pode ser uma boa ideia.
— Vou pensar.
Claire acena e então eu sigo para o meu quarto, para ter a minha
dose de banho quente relaxante.
O vinho pode vir mais tarde junto com a pizza que ela sugeriu.
Acho que vai ser uma boa pedida depois de um dia tão…
Diferente.
Inusitado.
De tudo o que eu pensei para hoje, certamente não imaginava ter
esse mínimo contato com Hunter.
E mesmo que eu tente negar, fiquei com uma vontade absurda de
ficar um pouco mais com ele.
Ter um pouco mais do que eu vi hoje.
A ideia de Claire não para de martelar a minha mente.
Será…
Será que eu consigo?
Capítulo 9 - Sarah

OBSERVO O MOMENTO em que Hunter sai da sala de Dr. Dawson e


aproveito a deixa para seguir até o elevador e aguardá-lo na porta.
O cheiro do perfume masculino me alcança e sua presença
imponente me causa um arrepio. É incrível que só o fato de ele estar perto
de mim me afete tanto.
Ainda mais hoje.
Não paro de pensar no que Claire disse, sobre convidá-lo para um
café, algo despretensioso entre amigos. Eu nunca me imaginaria tomando
uma atitude dessas, justamente por ser quem é. Mas minha amiga não
estava errada, se Hunter não estivesse reparando em mim ele simplesmente
teria ido embora. Não teria vindo ao meu socorro. E isso é algo que tem me
atormentado muito.
Principalmente porque estou muito curiosa sobre ele.
Intrigada ao extremo.
Saber que uma estrela do futebol se fechou ao ponto de só andar de
cabeça baixa feito uma sombra pelas ruas mexeu muito comigo.
Deixa meu peito apertado ver Hunter assim.
E seus olhos…
Há algo por trás deles que me deixou um tanto inquieta.
É como se seus olhos me dissessem algo que seus lábios jamais me
diriam.
Encontrei uma vulnerabilidade neles que mexeu comigo.
A porta do elevador se abre e Hunter sinaliza para que eu passe em
sua frente. Para o meu azar, já há uma pessoa lá dentro.
Noto que ele se encolhe no canto, fitando o chão, com as mãos no
bolso do moletom preto, o seu fiel companheiro de todas as sessões.
Percebo que parece querer se esconder do mundo, e isso me traz aquele
aperto costumeiro.
Eu nem o conheço bem, mas sei que não merece viver assim.
Na verdade, ninguém merece uma vida assim.
Quando o elevador apita avisando da chegada ao térreo, passo na
frente dele, mas logo desacelero os passos, chamando sua atenção quando
alcançamos a calçada.
— Hunter? — chamo baixinho e ele ergue a cabeça de leve em
minha direção.
Ainda com as mãos nos bolsos do casaco ele me segue até próximo
ao meu carro, onde não há ninguém próximo daqui.
— Aquele dia… — Aponto para o pneu e Hunter acompanha meu
olhar. — Para você pode parecer pouco, mas me ajudou muito. Muito
mesmo. E não tinha obrigação nenhuma, já que nem me conhecia…
Vejo-o dar de ombros e me encarar firme. E daqui, mesmo com todo
o capuz e o corpo encolhido, vejo seus olhos.
Aqueles olhos cinzentos tão lindos e tão tristes, na mesma
proporção.
Hunter ainda me encara como se não tivesse feito nada por mim,
mas a real é que fez muita coisa. E saber que para ele foi o mínimo me diz
ainda mais sobre sua índole.
— Queria uma forma de te compensar… — começo e meu coração
se agita no peito.
Não é a primeira vez que eu chamo um cara para sair, ainda que seja
algo informal, mas nunca foi desse jeito.
Nunca foi Hunter Crawford.
Por isso estou tão nervosa.
— Não sei… Talvez sairmos para tomar um café… Conversar…
Como amigos — proponho, com o coração quase saltando da boca.
O olhar de Hunter se torna assustado e, antes que eu possa reagir, ele
dá as costas para mim, andando apressado até a sua moto.
Eu fico parada, incrédula e com uma dor diferente aqui dentro.
É…
Pelo visto não foi mesmo uma boa ideia.
Cabisbaixa, entro no carro e dou partida, vendo que Hunter já sumiu
do caminho.
Solto um suspiro.
Não pensei que uma rejeição pudesse machucar tanto.
Mas olhe só.
Eu mal o conheço e já fui rejeitada duas vezes pela mesma pessoa.
Que ironia, não?
Que ironia de bosta.

Hunter

Piloto pelas ruas de Los Angeles sentindo o coração disparado


dentro do peito.
Quando Sarah me fez um convite despretensioso para um café, eu
simplesmente pirei.
Pessoas.
Lugar movimentado.
Onde eu possa ser reconhecido.
Porra, não.
Simplesmente não.
Acelero a moto e a adrenalina toma conta do meu corpo enquanto
sigo cada vez mais rápido até a minha casa.
E é só quando estou seguro, dentro da minha sala, que consigo
respirar mais devagar.
Pego o celular, discando o número de Luke, que, para a minha sorte,
não demora a atender.
— Hunter? — atende com a voz curiosa.
E eu nem mesmo julgo, já que não sou muito de ligar.
— Está muito ocupado?
A esta altura, já estou andando em círculos pela casa, ignorando até
a existência do meu gato.
— Não, não. Pode falar. Está precisando de mim?
— Estou… — Puxo o ar dos pulmões com força, pensando em
como começo a contar isso para ele sem que surte. — Mas, por favor, não
surta.
Ouço sua risada abafada.
— Você está me assustando, Crawford…
— Uma garota me chamou para sair e eu simplesmente virei as
costas — solto, sentindo mais uma vez meu coração se agitar.
— COMO É QUE É?
— Eu te pedi para não surtar.
— Ah, mesmo? Me soltando uma bomba dessas?
Reviro os olhos e esfrego a mão na barba, seguindo até a cozinha.
— Sério, Luke…
— Que garota é essa? Onde você a conheceu? Pode começar a me
contar isso?
Bebo um gole de água enquanto ganho tempo.
— Ela trabalha na clínica que estou frequentando… Se não tiver
duas pessoas com o mesmo nome, deve ser a tal psicóloga que me
indicaram e que acabei trocando.
— Psicóloga? Uau…
Ele solta um assobio.
— E como ela chegou a te pedir para sair? Vocês conversaram?
Viro o resto de água e volto para a sala, sentando-me no braço do
sofá.
— Eu a ajudei a trocar o pneu outro dia…
Conto a ele sobre o ocorrido e que, mesmo que eu não tenha feito
nada de mais, parece ter sido um grande gesto para ela.
— Caramba… E então ela te chamou para sair por isso?
— Não foi bem sair… Disse que queria me agradecer, me chamar
para tomar um café e conversar, como amigos.
— E isso é ruim?
Balanço as pernas, ansioso, ainda sentado.
— Só de pensar em estar em um lugar público, com pessoas
entrando e saindo, correndo o risco de ser reconhecido… Eu entrei em
pânico, Luke, eu só queria sair dali. Então virei as costas, montei na moto e
vim para casa correndo.
— E deixou a garota lá sem resposta?
Ouvir isso dele me faz fazer uma careta.
— Isso é ruim, né?
— Porra, é horrível. Não se faz uma coisa dessas, Hunter.
Sinto um nó na garganta.
Ah, que inferno…
— Eu sei, cara… Eu só… entrei em pânico real. Não esperava que
ela iria fazer isso.
Esfrego a mão na barba mais uma vez.
Sinto como se tivesse me tornado adolescente de novo, mas parece
que perdi o jeito com as mulheres. Três anos sem contato nenhum deve ter
afetado seriamente minha capacidade com elas.
— Ela é gata?
Solto uma bufada.
— É sério que está preocupado com isso?
— Só me responde, Crawford.
Então a imagem da garota me vem e, junto dela, o seu cheiro
gostoso.
É o melhor que já senti.
— Ela é linda… — baixo o tom de voz. — Parece um anjo. E é tão
doce…
Ouço uma risadinha do outro lado.
— Você vai consertar isso, Hunter. Você vai lá reverter essa merda.
Nem que eu tenha que sair de Nova York e ir para Los Angeles para te
empurrar, mas você vai consertar essa porra.
Aperto os olhos com força pensando nas minhas possibilidades.
— Não posso sair com ela, Luke.
— E por que não?
— As pessoas me conhecem. Eu não posso viver de novo aquele
inferno com os paparazzi. Não agora que me livrei deles.
Foi difícil cair no esquecimento, ainda mais com tanta curiosidade
em torno do meu acidente. Foram meses isolado dentro de casa, fugindo
deles igual ao Diabo da cruz, até finalmente cederem e se esquecerem de
mim.
Não posso colocar tudo a perder.
— E desde quando você precisa ir a um local público? Porra,
Hunter. Você tem dinheiro para fechar a cidade inteira para sair com ela.
Ergo uma sobrancelha, ainda que ele não possa me ver.
— Como é?
— Reserva um restaurante inteiro para vocês, pede a ajuda do seu
advogado para intermediar tudo e ter todo o sigilo. Dinheiro você tem e
dinheiro compra tudo. Arma um esquema e faz acontecer. Leva a garota
para algum lugar.
Fico pensativo por um momento, vendo que não é mesmo uma má
ideia.
Eu posso chamar meu advogado, Brian, para acertar tudo sobre isso.
O cara está tendo pouco trabalho ultimamente, mas no começo salvou
minha pele de várias enrascadas. Ele sabe como as coisas funcionam para
mim.
— Eu só não te ofereço um dos meus hotéis porque, você sabe, eu
tenho agenda cheia para o resto do ano. Cancelar com meus hóspedes para
te ajudar prejudica o meu negócio.
— Não esquenta, cara. Você já me ajudou demais. Acho que pode
dar certo.
— Mas é claro que pode — rebate. — Que dia eu te dei uma ideia
ruim?
— Várias vezes? — solto, rindo baixo. — Se lembra quando…
— Isso não vem ao caso — me corta, e eu rio de novo, balançando a
cabeça.
Luke é meu melhor amigo, mas de fato, em nossa juventude, esse
cara me colocou em muita furada.
Mas também salvou minha pele inúmeras vezes, então…
— Será que ela vai aceitar o convite? — pergunto, mais para mim
mesmo.
— Depende do tamanho do seu esforço em consertar a cagada.
Coço a cabeça nervoso.
— Acho que eu perdi o jeito para isso…
— Perdeu nada. “Quem já foi rei um dia, nunca perde a
majestade”. Você só precisa de uma oportunidade. Esquematiza tudo
primeiro e já aborda a garota. Já vai com o trunfo na mão para não perder
a chance.
Pego mais alguns conselhos com Luke e encerro a ligação decidido
a fazer dar certo.
Eu bem entrei em pânico quando Sarah me convidou, mas não por
sair com ela.
Mas sim com o que um simples café pode trazer para a minha vida.
É complicado demais.
Mas se eu posso proporcionar um outro tipo de programa que seja
seguro para nós dois…
Pode dar certo.
Nunca senti necessidade nenhuma de estar com alguém em todo
esse tempo.
Ninguém despertou meu interesse antes.
Mas ela…
Tem algo nela que me intriga e quero muito saber o que é.
Acho que posso fazer isso acontecer.
Capítulo 10 - Sarah

— VOCÊ AINDA NÃO o viu de novo na clínica? — Claire pergunta antes


de dar um gole em sua Coca-Cola e eu nego devagar.
— Ainda não é o dia de sua sessão — respondo, sentindo um alívio
afinal.
Ainda não superei o fato de Hunter ter me virado as costas sem nem
dizer um “não quero” para o meu convite. Não pensei que a rejeição dele
fosse mexer tanto comigo, ainda mais por não ter nenhum vínculo com ele,
por isso estou achando ótimo não o ver por esses dias.
— Ai, amiga… Boa sorte.
Faço uma careta quando termino de comer meu sanduíche.
— Não se preocupe comigo, Claire. Eu vou agir naturalmente como
se nunca o tivesse conhecido. Hunter vai continuar sendo anônimo em
minha vida, como era antes de ter me oferecido ajuda.
Minha amiga me analisa antes de assentir.
— Está certo. Quem perdeu foi ele.
— Isso é verdade.
Sinto um pesar lá no fundo por isso.
Não só por ele ter recusado o meu convite. Mas por saber que
perdeu uma chance de começar a se abrir um pouco com alguém, de sair
daquele mundinho dele.
Uma pena que tenha se fechado de novo.
Mas paciência.
Não vou obrigar um homem de quase quarenta anos de idade a fazer
algo que não queira.
Termino meu almoço com ela e, quando saímos, damos uma volta
no shopping antes de voltar ao trabalho. Não é sempre que conseguimos
almoçar juntas, mas, quando é possível conciliar as agendas, aproveitamos e
passeamos também.
Quando retorno para a clínica, minha primeira paciente da tarde já
está me aguardando na recepção.
Sinalizo para ela e começo mais um turno de trabalho.
Mais algumas horas fazendo aquilo que mais amo.

Despeço-me de Judith e vejo a sala de espera praticamente vazia


quando deixo a clínica, descendo pelo elevador. Estalo o pescoço e solto um
suspiro ao descer os andares pelo prédio comercial, já sentindo o peso do
cansaço.
Hoje, além dos atendimentos, precisei finalizar alguns relatórios e
preencher formulários de meus pacientes, o que sempre me deixa esgotada.
Lidar com papelada nunca foi a minha parte favorita do trabalho.
Salto do elevador e sigo até o estacionamento, abrindo a bolsa para
pegar minhas chaves até ver uma imagem que me paralisa.
Eu estaco no lugar ao reconhecer quem está encostado na lataria do
meu carro.
Hunter…
Vestido de preto da cabeça aos pés, um joelho dobrado ao encostar o
pé no pneu e as mãos dentro dos bolsos do casaco. Noto que hoje não usa
capuz, apenas um boné escuro cobrindo a cabeça.
Como pode alguém ser tão lindo estando sempre tão coberto?
Sinto um frio na barriga e meus pés ganham vida, caminhando
devagar até ele, que, quando nota minha presença, ergue de leve os olhos
para me procurar.
E mais uma vez sou alcançada por aquela intensidade no olhar.
— Sarah…
Meu nome saindo de sua voz é tão sexy que chega a arrepiar os
pelinhos da minha nuca.
— Oi… — é tudo o que eu consigo dizer ao me aproximar mais
dele.
Minha barriga está gelada, o coração está acelerado, só por tê-lo
aqui tão perto.
Os olhos de Hunter não se desviam dos meus e sinto um aperto no
peito.
O que ele está fazendo aqui?
Por que veio em um dia em que não tem terapia?
— Posso falar com você um pouquinho, ou está com muita pressa?
— a voz rouca e grossa chega a afetar meu raciocínio.
— Não, não. Pode falar.
Hunter assente, esfregando a barba devagar, e neste momento reparo
mais em sua mão, que também é toda tatuada, inclusive os dedos.
— Quero te pedir desculpas por aquele dia — a voz é baixa, calma e
agita ainda mais meu peito. — Eu fui pego desprevenido e não reagi tão
bem.
— Não precisa se explicar, Hunter. Está tudo bem — trato de
tranquilizá-lo. — Você tem o direito de não querer e…
— Mas eu quero — interrompe e eu engulo em seco, piscando os
olhos devagar.
Ele…
Ele quer?
Ai, meu Deus.
Meu coração, que já estava acelerado, atinge uma velocidade insana
agora.
— Eu não fiquei apavorado por sair com você — diz com cuidado.
— Mas por estar em um local público, cheio de gente e…
Ah…
Nossa.
Agora faz todo o sentido.
E constatar isso tira um peso de dentro de mim.
Vejo-o coçar a barba em um gesto ansioso, mais uma vez.
— Posso te fazer uma contraproposta? — sugere e eu sinto meu ar
falhar.
— Cla-claro…
Hunter desce o pé do meu carro e guarda as mãos nos bolsos, dando
um passo em minha direção.
— Você me convidou para um café e eu não me sinto confortável
nesse tipo de ambiente. Então pensei… — Hunter para e umedece os lábios
tão devagar, que causa um rebuliço dentro de mim.
Que gesto sexy…
— Posso te levar para um lugar em que eu me sinta melhor? Que
seja seguro para nós dois?
Meu coração por pouco não voa pela boca quando eu aceno devagar.
Quero.
Claro que eu quero.
Ainda mais com ele me olhando desse jeito.
— E onde seria? — pergunto com um fio de voz.
Mas ele mais uma vez umedece os lábios, surgindo um esboço de
sorriso de lado.
Puta que pariu.
Esse homem é charmoso sem fazer um pingo de esforço.
— Se importa se eu não te contar?
Arqueio a sobrancelha para ele, desconfiada.
— Estragaria a surpresa. — Dá de ombros. — E pode confiar em
mim, eu não vou te fazer mal.
Suas palavras são tão firmes, que não deixam um vislumbre de
dúvida.
Ainda mais com esse olhar.
Não sei o que há nos olhos dele, mas eles me dizem que eu posso
confiar. Que existe um lado do Hunter que merece esse voto, ainda que eu
não o conheça tão bem.
Pode parecer loucura, mas sinto isso.
— Pode pesquisar meus antecedentes criminais se quiser —
acrescenta. — Sou ficha limpa.
Isso me tira uma risada baixa.
— Acho que não vou precisar fazer isso.
E novamente recebo aquele esboço de meio sorriso.
— Posso te buscar no sábado à noite? — propõe e sinto mais uma
vez aquele frio na barriga.
— A que horas devo ficar pronta?
O sorriso de lado de Hunter é a coisa mais linda que eu já vi.
— Às seis está bom?
— Claro, pode ser.
— Certo. Pode anotar meu telefone para me passar o seu endereço?
Assinto, sentindo os dedos tremerem ao pegar o celular na bolsa e
estender a ele.
Quando me devolve, eu ainda estou incrédula ao ver o seu nome
gravado na agenda.
Hunter Crawford.
O astro do futebol.
Puta merda.
Puta merda.
Isso está mesmo acontecendo?
— Me mande uma mensagem para gravar seu número, ok? — pede
e eu confirmo. — Certo, então… até sábado, Sarah.
Hunter acena para mim e se afasta, indo em direção a sua moto, e eu
fico parada, congelada no lugar, ainda sem acreditar em tudo o que está
acontecendo.
Então eu não fui rejeitada por ele?
Ele quer mesmo sair comigo?
E, mais ainda, vou ter um encontro de verdade?
Não só um café informal entre amigos?
Caramba, são tantas perguntas que meu cérebro beira o colapso.
Preciso ir para casa e contar tudo isso para Claire.
Entro no carro e pego as ruas da cidade, ainda atônita, ainda
processando tudo o que acabou de acontecer.
Caramba.
Eu tenho um encontro.
Com ninguém menos que Hunter Crawford.
Meu Deus, eu vou ter um infarto.
Quando chego ao prédio, subo o elevador depressa e, logo que
destranco a porta, vejo Claire saindo da cozinha.
— Sarah? Está tudo bem?
— Ele me chamou para sair — solto de uma vez e ela arregala os
olhos para mim.
— Não brinca!
— Ele me chamou para sair. CLAIRE, ELE ME CHAMOU PARA
SAIR. Meu Deus, eu vou ter um piripaque — solto e minha amiga me puxa
para a cozinha, buscando um copo de água para mim.
— Calma, respira. Me conta isso direito.
Bebo um longo gole de água e me sento à mesa, de frente para ela.
— Eu saí da clínica e ele estava parado ao lado do meu carro me
esperando.
— Mas ele não tinha sessão?
— Não, hoje ele não tem! Foi lá só para isso — solto e ela dá
gritinhos de empolgação.
— Ai, amiga! Eu já estou shippando taaaanto! — Ela solta um longo
suspiro. — Mas e aí, o que ele disse?
— Me pediu desculpas pela forma como saiu, disse que ficou
apavorado por ter que ir a um lugar público comigo.
— Ah… Que fofo.
— Então perguntou se poderia me levar para um lugar onde ele se
sentisse bem e fosse seguro para nós dois.
Os olhos de Claire brilham agora.
— Ai, meu Deus… E onde é?
— Não sei! Ele disse que se me contar estraga a surpresa.
— PUTA QUE PARIU, SARAH MARIE CORBETT.
Eu solto uma risada de sua reação, mas nem a julgo.
Eu também estou sem acreditar.
— Disse que vem me buscar no sábado às seis. E me passou o
telefone dele para que eu mandasse o endereço.
Pego o celular, mostrando a ela o contato salvo e a foto de perfil.
— Porra, Sarah. Não acredito! É mesmo ele! Caramba, amiga! Você
tem um encontro com uma lenda do futebol!
— Eu sei! — disparo, tão atônita quanto ela. — Não acha que eu
também estou surtando? Amiga, eu não consigo nem respirar direito! —
desato e ela solta uma risada.
— Nós vamos viver agora ou só esperar por sábado? — pergunta,
suspirando.
— Eu não faço ideia de como vou sobreviver nesses dias —
confesso e ela ri.
— Precisamos fazer compras! Ir ao shopping! — Ela bate palmas de
empolgação. — Um evento como esse merece uma roupa nova.
— Com toda certeza!
— E lingerie também.
Ela pisca para mim e meu rosto cora imediatamente.
— Ai, meu Deus… Não me deixa pensar demais, não, amiga. Senão
eu vou entrar em colapso.
Claire solta uma risada gostosa.
— Vamos providenciar tudo, não se preocupe! E você já mandou
mensagem para ele?
— Não, ainda não. Você acha que eu já devo?
— Esperar para que, criatura? Não precisa ficar se fazendo de
difícil, não. O homem foi atrás de você, pediu desculpas e te chamou para
sair. Mais interessado que isso, impossível.
Meu sorriso se abre ao encarar a foto dele na tela do celular.
— Vou mandar.
— Ande logo!
Respiro fundo antes de digitar para ele, pensando em começar com
algo simples.
EU:
Oi! Aqui é Sarah, salve o meu número ;)

— Só isso? — Claire pergunta ao esticar o pescoço para ver a tela


do meu celular.
— O que mais queria que eu dissesse?
— Sei lá… Talvez o chamar de gostoso?
Reviro os olhos para ela.
— Óbvio que eu não faria isso.
Meu celular vibra na mesa e ela solta um gritinho.
— Ai, que susto!
— O que ele respondeu? — pergunta, ignorando minha reação.
HUNTER:
Oi, Sarah. Número salvo por aqui.
Sábado eu te chamo para combinarmos
certinho, ok?

— Bem formais vocês dois, né? — ela reclama. — Nem um


beijinho, um “oi, gostosa”.
— Claire! — repreendo-a, balançando a cabeça, e ela ri.
— Ouse mais um pouco, tá? Mostre que está interessada também…
Mordo a pontinha do lábio antes de digitar a resposta.
EU:
Combinado. Mal posso esperar por
sábado…

— Nossa, bem melhor! — diz, ao ver a mensagem.


Quando o celular vibra de novo, eu o pego de pronto.
HUNTER:
Obrigado por confiar em mim. Te
garanto que será inesquecível…

— Ai, meu Deus! Isso, América! É isso que a gente quer!


Claire se levanta da mesa, dando um soquinho no ar, e eu caio na
risada.
Ela tem o dom de fazer tudo ficar mais leve.
E, mesmo que eu esteja rindo da minha amiga, meu coração não me
dá trégua.
Eu não estava mentindo.
Não sei como vou sobreviver até sábado…
Que Deus tenha piedade de mim.
Capítulo 11 - Hunter

CORRO AS MÃOS PELOS CABELOS, terminando de ajeitá-los e


pensando se não é melhor prendê-los, mas logo desisto.
Sarah sempre me viu de coque, então acho que é um bom momento
para fazer algo diferente. Borrifo perfume pelo corpo, prendo o relógio no
pulso e visto o casaco preto, dando um passo para trás diante do espelho.
Nada mal. ​
Até pareço um cara acostumado a isso, mas a verdade é que estou
nervoso pra caralho.
Já faz mais de três anos que não sei o que é estar com uma
companhia diferente a não ser minha família e Luke, principalmente uma
mulher.
Não sei como vai ser essa noite, mas quero ir com calma. Sarah me
convidou a princípio para uma conversa entre amigos e quero começar a
partir disso. Não sei nada de sua vida a não ser que é psicóloga e trabalha na
clínica, então quero conhecê-la melhor, saber mais sobre ela e hoje é a
oportunidade perfeita para isso.
Desço as escadas de casa e sigo até a garagem, entrando em meu
Porsche para pegar as ruas de LA.
Digito o endereço de Sarah no GPS e, enquanto dirijo até a sua casa,
coloco Metallica para tocar no último volume.
Com apenas uma das mãos eu dirijo e, com a outra, batuco os dedos
na minha coxa, ao som da música.
O trajeto não é tão longo, mas para mim, dura uma eternidade, até
chegar à porta do prédio residencial onde ela mora. Olho através do vidro
escuro do carro e penso que não há a menor chance de descer daqui, já que
não quero correr o risco de ser reconhecido.
Pego o celular e envio uma mensagem a avisando de que já cheguei
e ela me confirma que está descendo. Neste momento, meu coração se
acelera um pouco mais em adrenalina pelo que está por vir.
Porra, que dê tudo certo.
Que ela goste do que planejei e, mais ainda, que eu não estrague
tudo.
Conversei muito com Luke sobre a ideia que tive e ele me deu total
apoio. Com a ajuda de Brian, preparei tudo para que eu tivesse um
momento tranquilo com ela, com privacidade.
Espero mesmo que ela goste do que eu preparei para hoje.
Quando ouço uma batidinha no vidro, destravo a maçaneta e a vejo
entrar, com um lindo sorriso no rosto.
— Oi, Hunter.
Aquele aroma tão característico dela me atinge forte e eu fecho os
olhos por um instante para inspirá-lo.
Nossa…
É muito bom.
Muito, muito bom.
— Oi…
Observo-a pousar a bolsinha no colo e puxar o cinto de segurança;
neste momento, aproveito para reparar no quanto está linda.
Sarah usa um vestido curto azul-marinho e suas coxas à mostra são
uma verdadeira perdição. Os cabelos loiros estão soltos e se balançam à
medida que ela se movimenta.
Ela é simplesmente perfeita…
— Não vai me contar para onde estamos indo? — pergunta logo que
arranco o veículo.
— Ainda não.
Abro um sorriso de lado e a vejo me olhar curiosa.
— Você é tão misterioso…
Balanço a cabeça e sigo pelo caminho até o litoral da cidade, para a
praia mais reservada que eu escolhi e perfeita para o que precisamos.
Quando Sarah reconhece o trajeto, vejo-a me olhar com o semblante
iluminado.
— Vamos ficar na praia?
— Mais ou menos.
Ao chegar à última praia, que está completamente vazia, desligo o
carro e salto do veículo, dando a volta para abrir a porta para ela.
— Pronta?
Sarah assente e eu a conduzo pelo caminho de madeira trilhado até a
margem, quando a imagem de um imponente iate nos surge, atracado à
beira do mar.
— Hunter…
Sarah para, parecendo deslumbrada com o que vê.
— É… É um iate? — indaga embasbacada e eu sorrio de lado.
— É, sim. Vamos lá?
Estendo a mão a ela e a ajudo a subir pela escada de acesso,
sentindo o iate balançar a cada vez que avançamos um degrau.
Quando adentramos a embarcação, Sarah olha tudo ao nosso redor
maravilhada e eu a conduzo até o convés, onde temos uma boa visão do
mar.
A lua cheia colaborou para esta noite, dando um charme incrível.
— Nossa… É lindo… — sussurra e eu respiro aliviado.
Porra, eu acertei.
Depois de um fora daqueles, eu precisava dar uma dentro.
Enquanto Sarah está entretida, admirando a paisagem ao nosso
redor, eu faço sinal para o capitão, que está na cabine de comando, para que
ele comece o nosso pequeno passeio.
Quando o iate começa a se afastar da margem, o olhar de Sarah se
volta para mim, ela parece genuinamente surpresa.
— Nós vamos para o alto mar?
— Não diria tão alto, mas o suficiente para que tenha uma vista
agradável.
Indico-lhe a proa, onde uma mesa posta nos aguarda. Afasto a
cadeira para que ela se sente e logo me acomodo à sua frente.
— A ideia de te levar para um lugar movimentado me causou
angústia, como te disse — confesso, sentindo um aperto no peito. — Mas,
conversando com meu amigo, ele me sugeriu fechar um restaurante para
nós dois.
Noto seu semblante se enrubescer e os olhos se arregalarem de leve.
— Mas ainda não era o que eu queria — completo. — Achei um
tanto impessoal te levar a um restaurante, por isso tive a ideia do iate…
— Nossa, é incrível, é… — Ela suspira, soltando uma risadinha. —
Desculpe, devo estar parecendo boba, né?
— Claro que não. — Cruzo os braços sobre a mesa e a encaro firme,
dentro de seus olhos. — Fico feliz que tenha gostado.
— Gostado não é bem a palavra…
Neste instante, o garçom que contratei surge trazendo uma garrafa
de vinho que o sommelier escolheu para esta noite.
— Gosta de vinho? — pergunto a ela.
— Eu amo!
Sinalizo para ele, que serve a taça dela primeiro, depois a minha.
Ergo-a e toco na sua devagar, antes de degustar a bebida, sentindo um
enorme prazer por estar aqui.
Com ela.
No meio do mar.
Sob a luz da lua.
— Me conte mais sobre você — peço, ao pousar a taça na mesa. —
É psicóloga lá na clínica, certo?
Ela balança a cabeça, bebendo mais um pouco do vinho.
— Sou… E por acaso sou a mesma psicóloga que você não quis —
diz, baixinho, e eu tenho um aperto no peito.
Ah, claro…
Claro que eu fiz isso.
Duas bolas fora com a mesma pessoa.
Coço a cabeça, desconcertado.
— Desculpa, é que…
— Não se preocupe — interrompe-me. — Eu entendo seus motivos.
Mesmo. Fiquei um pouco chateada no dia, mas já passou.
Dá de ombros.
— É difícil pra caralho estar com pessoas que não são do meu
convívio — digo, baixando o olhar, e brinco com uma pétala de flor que cai
do arranjo sobre a mesa. — Eu nem sei como eu consegui estar aqui, sendo
sincero…
Ergo os olhos novamente e a pego me encarando, com um sorriso
terno.
— Não se preocupe, Hunter. Sério mesmo. Fico feliz de ter tomado
a iniciativa de procurar ajuda depois de tanto tempo.
E então meu peito se aperta.
Por pensar no que ela sabe sobre mim.
É claro que sabe, a porra inteira do país sabe.
E então as imagens das manchetes me assombram e eu fecho os
olhos por um instante, puxando o ar para os pulmões.
— Você leu, né? — indago, abrindo um sorriso amarelo.
— Li, o quê?
— As matérias… Sobre mim…
— Não, não li — interrompe-me e eu arqueio uma sobrancelha para
ela.
— Não?
— Eu nem sabia quem você era até algumas semanas atrás —
confessa, parecendo constrangida. — Eu não acompanho futebol, tudo que
eu soube foi por minha amiga que mora comigo, que inclusive é sua fã. Mas
só sei por alto que o acidente te afastou do campo, só isso… Quando você
começou a frequentar a clínica, eu não quis pesquisar sobre, para não
prejudicar minhas impressões sobre você…
Nossa…
Recosto-me na cadeira e fico processando suas palavras.
Ela não sabia sobre mim.
Nunca pesquisou sobre o meu nome.
Caralho…
Ela não sabe o alívio que isso me dá.
Quando o garçom chega com nossa entrada, começamos a beliscar e
Sarah elogia muito o prato, deixando-me orgulhoso. Escolhi o melhor bufê
de Los Angeles para encomendar esse jantar. Em uma empresa com que eu
já tinha o costume de trabalhar antes, então pedi toda a discrição para esse
momento.
— Por que decidiu começar logo agora? — ela pergunta, enquanto
beliscamos os petiscos.
— Minha irmã vai se casar em menos de dois meses — explico. —
Não será uma cerimônia muito intimista. — Faço uma careta e ela sorri
com empatia. — Mesmo sendo no Havaí, sei que vai muita gente e…
pessoas me assustam. — Encolho os ombros devagar. — Não convivo com
praticamente ninguém desde que tudo aconteceu e, só de pensar nos olhares
de curiosidade sobre mim, eu já fico apavorado. E, pior do que isso, os de
pena. Não suporto que me olhem por pena.
— E você pretende ir ao casamento? — pergunta com cuidado,
bebendo mais um pouco da bebida tinta.
— Acho… Acho que sim. Não sei. É importante para Natalie. Ela
quer muito que eu vá. E eu também quero estar presente nesse dia, mas
ainda é um pouco difícil tudo isso…
— Então por isso você procurou ajuda.
Assinto devagar.
— Minha irmã me convenceu a pelo menos tentar. E, por ela, acho
que vale a pena.
— Com toda certeza vale.
— Dr. Dawson me aconselhou a levar alguém comigo, ele acha que
vou ficar mais confortável se tiver companhia.
Sarah me analisa por um tempo antes de assentir.
— E você não acha isso?
— Acho… O problema é encontrar alguém para ir comigo. —
Espeto uma azeitona e trago à boca. — Meu único amigo que restou é o
Luke e ele nunca vai sozinho. — Faço uma careta ao me lembrar. — Além
do mais, ele é extremamente sociável. O oposto de mim. Então tudo o que
eu não quero é ser motivo de atenção nesse casamento e, estando com ele,
se torna impossível.
Ela assente, bebendo um vinho devagar.
Ficamos por um momento em silêncio e, por incrível que pareça,
não é desconfortável. Pelo contrário, é bom estar com ela.
É reconfortante.
— Mas me fale mais de você — peço. — O que mais faz além do
trabalho?
— Hummmm… — Ela para e eu sirvo mais um pouco de vinho em
sua taça. — Gosto de assistir a seriados com a Claire, ficar com minha
família e fazer sobremesas.
— Sobremesas? — pergunto e seu semblante se ilumina.
— Sim! É meu hobby preferido.
— Interessante… E qual a sua favorita?
— Uma só é impossível escolher. — Solta uma risadinha. — Mas
gosto das de chocolate. Tudo que tem chocolate é perfeito.
— Vou concordar com isso. Posso pedir para servir o jantar? Depois
podemos sentar ali na beirada para continuar o vinho.
— Claro!
Sinalizo para o garçom, que não demora a trazer o prato que escolhi
junto ao chef. E, pelo sorriso de Sarah ao experimentar, sei que mais uma
vez acertei no pedido.
Saber disso me deixa aliviado pra caramba.
Jantamos com tranquilidade e, antes de seguirmos para a sobremesa,
eu a convido para nos sentarmos na borda do iate, onde temos uma visão
ampla da imensidão do mar à nossa frente.
— Aqui é tão lindo — murmura enquanto olha ao longe. — E tão
calmo…
— Sair um pouco da agitação da cidade faz bem às vezes.
— Verdade…
Ficamos um momento apenas encarando o oceano ao longe, até que
eu a vejo estremecer de leve.
— Está com frio?
— Um pouco…
No mesmo instante, tiro o casaco do corpo e me aproximo dela, para
cobri-la, vendo-a me encarar por tempo demais.
Essa proximidade…
Esse cheiro…
Não vou negar que mexem comigo.
— Obrigada, Hunter.
Balanço a cabeça e coloco uma mecha de cabelo atrás da orelha. O
movimento chama a sua atenção.
— Você tem em todo o corpo? — pergunta, apontando para as
tatuagens em meu pescoço.
Pelos botões abertos da camisa, revelo uma parte do meu peito, que
é igualmente tatuado.
— Tenho… Só não tatuei a cabeça, porque de resto…
Os olhos azuis de Sarah assumem um tom curioso.
— Tudo mesmo?
Balanço a cabeça veemente.
— Absolutamente tudo.
Sei o que ela deve estar se perguntando e a resposta é sim. Elas se
estendem até a minha virilha e minha bunda…
— Uau…
— Não tem nenhuma? — pergunto e ela nega.
— Eu tenho medo de agulhas — responde, fazendo uma careta, que
eu acho uma gracinha.
— Jura?
Sarah assente devagar.
— Eu já sofro tomando injeções, imagine uma tatuagem…
Solto uma risada baixa.
— Mas é um tipo bem diferente de agulha.
— Ah, mas mesmo assim… — Ela suspira, estremecendo o corpo.
Assinto, encarando o céu estrelado sobre nós dois.
A visão é linda, parece que todo o Universo conspirou a favor deste
momento…
— Sabe… — começa a falar e eu volto o olhar para ela.
Estamos muito próximos, daqui consigo sentir seu cheiro gostoso e
o calor que emana dela, ainda que eu não tenha me encostado.
— Fico feliz que tenha me convidado para hoje — diz com aquela
voz doce. — Eu ainda não estou acreditando que estou aqui. — Aponta para
tudo ao redor. — Com você.
Solto uma risada baixa.
— Nem eu. Considerando que há anos não sei o que é sair para me
divertir…
E isso ganha a sua atenção.
— Jura? Não costuma sair mesmo? Nem para algo informal?
Nego de pronto.
— Nunca tive essa vontade… — Paro e umedeço os lábios devagar.
— Até agora.
Noto seu semblante enrubescer e ela abre um sorriso lindo, fazendo
surgir uma covinha na bochecha.
Porra, ela é tão linda…
Sarah balança a cabeça devagar e encara o oceano por um longo
momento antes de voltar a atenção para mim.
— Se conseguisse companhia para o casamento da sua irmã, você
iria? — a voz suave atinge o meu peito.
Encaro-a dentro dos olhos antes de assentir.
— Creio que sim.
Sarah acena devagar.
— Posso… — Ela para e cora, desviando o olhar do meu. — Posso
ir com você?
Meu coração erra uma batida e eu pisco os olhos devagar.
Como é?
— Sério?
— Bom… Eu ainda não conheço o Havaí — diz, sorrindo cúmplice.
— E você precisa de uma companhia…
— Caralho…
— Se não achar uma boa ideia…
— Não, claro que não — corto-a. — Seria perfeito…
Sarah me abre um sorriso largo agora, cheio de orgulho.
— Então pode dizer à sua irmã que você vai comigo.
E, neste momento, faço uma careta ao me lembrar do que tudo
acarretará.
Eu levando uma garota desconhecida perante toda a minha família.
— O que foi? — pergunta, ao me ver pensativo.
— Se eu for com você… — Coço a barba, um pouco inquieto. —
Uma mulher… Vão achar que…
Sarah estreita os olhos para mim até finalmente perceber.
— Ah…
— Minha família vive falando que eu preciso voltar a ser quem eu
era. A sair mais, encontrar alguém. Eu odeio isso na verdade, porque aquele
Hunter do passado não vai voltar. Mas essa cobrança é um porre…
— Se você for comigo, teoricamente, vão pensar que estamos
juntos?
Balanço a cabeça assentindo.
Ainda mais minha mãe, a miss casamenteira.
— E o fato de você ir acompanhado vai fazer com que parem de
pegar no seu pé, certo? Já que é isso que eles querem para você?
Aceno, estreitando os olhos para Sarah.
Aonde ela quer chegar?
— Não me importo de fingir que estamos juntos — solta, dando de
ombros.
— Como é?
— Você vai ter uma companhia para o casamento, então conseguirá
se manter camuflado entre os convidados. E, de quebra, despista a sua
família para que parem de te atormentar. Não te parece ideal?
Coço a barba mais uma vez, um pouco incrédulo.
É isso mesmo que ela está sugerindo?
— E por que você faria isso por mim? — pergunto, mas percebo que
fui um pouco ríspido. — Digo, só eu sairia beneficiado nesse acordo. Então
por que me ajudaria?
Sarah então me encara tão firme que eu sinto meu corpo estremecer.
— Você é um cara legal, Hunter — diz, sem nem mesmo piscar. —
Naquele dia, você poderia simplesmente ter ido embora, mas não. Arriscou
sua pele, podendo ser reconhecido, só para me ajudar com o meu carro. E
você não fazia ideia de quem eu era.
— Fazia, sim — solto e ela sorri.
— Você não me conhecia como agora — justifica. — Mas ainda
assim me ajudou. Por que eu não poderia fazer o mesmo por você?
Ainda não consigo acreditar, quando ela me pede mais um pouco do
vinho e eu sirvo sua taça.
— Além do mais, vou ganhar uma viagem para o Havaí… Se isso
não é uma boa recompensa, não sei mais o que é.
A piscadinha que ela me dá tira uma risada de nós dois.
— Tem certeza?
— Tenho, sim — garante. — Fico feliz por fazer algo por você e te
recompensar por tudo isso. — Ela aponta para o nosso redor. — Caramba,
Hunter, você alugou um iate inteiro só para me levar para jantar. Tem noção
disso?
Balanço a cabeça, rindo.
— Para mim, não é nada…
— Eu sei. Por isso disse que você é um cara legal.
Sarah me encara muito firme, como se enxergasse por trás dos meus
olhos.
Como se enxergasse a minha alma.
— Obrigado, Sarah.
Ela acena, sorrindo de leve.
— Podemos ficar mais um pouquinho aqui? Curtindo essa vista? —
Encara o horizonte novamente. — Não quero que isso acabe…
— Podemos ficar o tempo que quiser. O iate é meu por todo o fim
de semana.
Vejo seus olhos faiscarem, mas ela não diz mais nada.
Apenas se encosta na barra lateral, fitando o oceano diante de nós
dois.
E aqui, parado, tão próximo a ela, eu aproveito este instante.
Sem pressa para nada.
Apenas um momento bom ao lado dela.
Um momento bom não…
Um inesquecível.
Exatamente como eu disse que seria.
Capítulo 12- Sarah

LIGO A CAFETEIRA e, logo que o cheiro da cafeína alcança a cozinha,


eu sorrio sozinha.
A noite de ontem foi incrível…
Nunca imaginei que um encontro em que nem mesmo acontecesse
um beijo me deixaria nas nuvens, mas cá estamos.
Hunter é simplesmente perfeito…
E eu sei que nem conheci metade do que ele é de verdade, pois pude
perceber que estava um tanto nervoso comigo. E não é para menos,
considerando que desde o acidente ele não sai com ninguém. E, pela pessoa
fechada que se tornou, eu me sinto extremamente honrada por ter me
escolhido.
Abro a geladeira e busco fatias de pão e pasta de amendoim para
comer, quando a voz de Claire me tira do transe.
— Eu fiquei te esperando ontem, sua danada, mas não consegui
ficar acordada!
Dou um pulo e o movimento me faz bater a cabeça na geladeira,
praguejando.
— Merda, Claire, que susto! — reclamo, esfregando a mão no couro
cabeludo.
— A que horas você chegou ontem?
— Bom dia, amiga! Tudo bem?
Ela revira os olhos para mim.
— Bom dia, Sarah. — Mostra a língua e eu rio baixo. — Sanduíche
de pasta de amendoim em plena manhã de domingo? Me dá aqui que vou
fazer ovos e bacon!
— Eu te amo, sabia?
Abro um largo sorriso e ela me empurra para o lado, buscando os
ingredientes.
— Estou esperando a senhorita…
Rio, debruçando-me na bancada ao lado do fogão, enquanto a vejo
trabalhar.
— Eu cheguei pouco mais de uma hora da manhã… — Suspiro e ela
abre um sorriso.
— Ah, sua danadinha! E como foi? Para onde ele te levou? Rolaram
uns amassos? Você o tirou da seca? — dispara a perguntar, tirando-me uma
risada.
— Calma, apressadinha! Respira!
Ela me mostra a língua de novo, fazendo-me rir mais.
— Ele me levou para uma praia afastada e tinha um iate nos
esperando.
Neste momento, a espátula de silicone cai das mãos de Claire.
— É O QUÊ? UM IATE? — sua voz perplexa me faz gargalhar.
— É, amiga… Eu tive a mesma reação que você. Ele me disse que
não quis fechar um restaurante para nós dois, porque achou muito
impessoal. Então, alugou um iate e contratou um bufê para servir o nosso
jantar lá.
Claire ainda me encara de boca aberta, piscando os olhos devagar.
— Amiga, me fala que você deixou esse homem te comer, pelo
amor de Deus!
Jogo a cabeça para trás e gargalho alto.
— Claire, a gente nem se beijou…
Neste momento, ela desliga o fogo e serve os ovos mexidos com
bacon em nossos pratos.
— Sério?
Assinto, levando tudo para a mesa e aproveitando para pegar o café,
que já está pronto.
— Ele estava muito nervoso com a minha presença, eu pude
perceber — explico, dando um gole no café. — É a primeira vez que sai
com alguém desde o acidente. Então eu fui com calma, amiga. Conversei
muito com ele, tentei o deixar, ao máximo, confortável comigo, para que se
soltasse aos poucos. E acho que deu certo, porque passamos a noite toda
conversando, admirando o mar, tomando um vinho, foi incrível…
Solto um suspiro e ela sorri.
— Você era mesmo a pessoa certa para sair com ele.
— Por quê? — indago, arqueando a sobrancelha para ela.
— Que outra mulher teria saído com uma lenda do futebol, para um
iate, apenas os dois e não se atiraria para cima dele?
— Tenho certeza de que, se eu fizesse isso, ele ia recuar, se
fechando de novo…
— Este é o ponto! — conclui, espetando uma fatia de bacon. — Só
você não faria isso.
Ela dá uma piscadinha para mim.
— Eu nem senti que fez falta, sabia? Claro que não ia recusar,
porque ele é um gostoso e terrivelmente cheiroso, mas… foi uma noite tão
perfeita que não faltou nada.
— E como ele está? Deu nem para tirar uma casquinha?
Balanço a cabeça, rindo baixo, antes de comer mais um pouco.
— Eu reparei que ele só se veste de preto, da cabeça aos pés. Isso
tanto na clínica, quanto ontem. Parece que não gosta de nenhuma outra cor.
— Será pelo luto do que ele perdeu?
— Não sei… Pode ser. De toda forma, ainda estava um gato. A
camisa de botão estava um pouco aberta, pude ver que também tem
tatuagens no peito e então perguntei se ele tinha muitas, e adivinha? Me
disse que tem absolutamente no corpo todo, exceto a cabeça.
Claire ergue uma sobrancelha.
— Será que tem tipo em tudo? Até na bunda?
— Pela resposta que me deu, acho que sim…
— Caramba… — Ela balança a cabeça, comendo devagar. — Acho
que nunca peguei um cara tão tatuadão assim. Me conta depois como é?
— Você nem sabe…
— Por favor, dona Sarah… O cara aluga um iate só para te levar
para jantar? Eu já tinha achado fofo ele te procurar para pedir desculpas e
agora faz tudo isso? Questão de tempo até cair de boca em você.
Eu engasgo com o café quente e a xingo, ela ri debochada de mim.
Minha amiga não vale nada.
E é por isso que eu a amo tanto.
— Ah…
Lembro-me do ponto-ápice da minha loucura da noite anterior e
peço aos céus para que eu não esteja cometendo um erro.
— Tem mais uma coisa — solto e ela fixa o olhar em mim. — Mês
que vem, eu acho, é casamento da irmã dele… Foi o motivo de ele entrar
para a terapia. E eu me ofereci para ser sua acompanhante.
Claire me olha desconfiada.
— Será que é uma boa ideia? Não é algo muito sério para vocês?
— Podemos ir como amigos, não? Isso é normal…
Ela estreita os olhos para mim.
— Por que eu estou com a sensação de que você está me
escondendo alguma coisa?
Termino de comer e sirvo-me de um pouco mais de café, ganhando
tempo para soltar a bomba.
— Ok, o casamento vai ser no Havaí, então eu vou viajar com ele e
fingir que sou sua namorada para a família Crawford, satisfeita?
Agora é a sua vez de engasgar com o café.
— VOCÊ VAI O QUÊ? Sarah, você ficou maluca?
Bebo meu café calmamente até terminar.
— Vou ajudar um cara legal a ir ao dia mais feliz da vida da irmã —
justifico.
— No Havaí?
— Sim.
Ela solta um assobio.
— Admiro sua coragem de viajar com um desconhecido, mas ok…
— Hunter não é um desconhecido. Toda a América o conhece.
Ela bufa.
— Até semanas atrás, você nem sabia o nome dele, mas tudo bem. E
o lance da namorada? Que maluquice é essa?
Explico a ela sobre a nossa conversa de ontem e como chegamos a
isso. A todo momento, Claire me olha desconfiada, o que me faz sentir um
aperto no peito.
Será que eu cometi mesmo uma tremenda loucura?
— Tem certeza de que isso vai funcionar?
— Bom… Vamos pelo menos tentar, né? Mal acho que não vai
fazer…
Dou de ombros e ela me analisa por um longo momento.
— Ainda acho isso de uma bizarrice sem tamanho, mas ok, confio
em você. Espero que saiba onde está se metendo.
Pego sua mão e aperto firme, balançando a cabeça.
Não posso dizer que sei aonde isso vai dar, mas prefiro confiar na
minha intuição de que vai dar certo.
Algo em Hunter me diz que posso confiar nele.
E espero mesmo que não seja um erro.

Hunter

— Hunter? — a voz de Natalie do outro lado me faz ter uma


agitação no peito.
Eu mal processei a noite de ontem, tudo o que aconteceu, e aqui
estou, ligando para ela a fim de dar a notícia.
A noite ontem foi inexplicável…
Nunca passei um tempo de qualidade assim com uma garota, mesmo
em todos os encontros que já tive na vida. Tudo sempre se resumia em
pegação e, ainda que houvesse muitos papos legais, nunca foi desse jeito.
Eu perdi a noção do tempo enquanto conversava com ela e, embora
estivesse um tanto nervoso, fui me soltando aos poucos.
Sarah foi incrível e tenho certeza de que quero vê-la mais vezes, não
só pelo casamento, mas porque gostei de sua companhia.
Hoje, fui acordado com uma ligação de Luke pedindo todos os
detalhes do nosso encontro e fiquei surpreso por ele não ter achado nossa
ideia do casamento uma maluquice. Pelo contrário, deu total apoio e
prometeu manter segredo.
Agora, estou aqui, prestes a soltar a bomba em minha irmã, torcendo
para que ela compre essa ideia e acredite nisso.
— Natalie, Oi… Está em casa? — pergunto, sentando-me no sofá.
Neste momento, T-Bag pula no meu colo e eu lhe faço um carinho.
— Estou aqui na casa da mãe… Eu e Kevin viemos almoçar.
Sinto um aperto no peito ao me lembrar de que hoje é domingo. Dia
em que sempre almoçávamos todos juntos, mas já faz um bom tempo que
eu não sei o que é isso. Ainda que mantenha contato com minha família,
frequentar os eventos é algo que passei a evitar.
— Ah, sim… Liguei para te falar que… — Esfrego a mão na barba,
inquieto. — Acho que vou conseguir ir ao casamento.
Um silêncio ensurdecedor do outro lado.
— Natalie?
— É… É sério, Hunter?
— Eu andei conversando com Dr. Dawson e ele me falou muita
coisa para me ajudar. Além do mais… — Paro e puxo o ar para os pulmões.
— Eu conheci alguém… Posso levá-la comigo?
Meu coração se agita dentro do peito enquanto espero sua resposta.
— Você fala… Uma mulher? Tipo, alguém com que esteja saindo?
— É… Se não se importar, claro.
— Não, claro que não — ela me corta. — É só… Uau… Isso é
muita informação.
Eu solto uma risadinha.
— Acho que vou ficar mais confortável se ela for comigo.
— Claro, fique à vontade. Eu a conheço?
Balanço a cabeça ao me lembrar do cartão que ela me deu da
terapeuta e que eu gentilmente recusei.
Que ironia do destino, né?
— É aquela psicóloga que você tinha me indicado.
— A Sarah? Jura?
— É… Eu esbarrei com ela na clínica todos esses dias e acabamos
nos aproximando…
A vantagem de não precisar mentir nessa parte é essa, faz com que
eu consiga contar sem gaguejar.
— Nossa… Que ótimo então que você não quis ser atendido por ela.
Isso me tira uma risada baixa.
— Isso é verdade.
— Eu posso contar para a mãe? — pergunta, com o tom de voz
animado.
— Pode, sim, eu já iria falar mesmo.
— Ok. Porque eu não vou conseguir segurar uma informação
dessas…
Converso mais um pouco com ela e logo ouço vozes a chamando do
outro lado.
— Bem, preciso desligar agora. Obrigada por isso, Hunter,
significa muito para mim.
— Não precisa, Natalie…
— E estou muito feliz por você, mesmo. Você merece isso.
— Obrigado.
Encerramos a ligação e eu solto um suspiro, olhando um tempo para
o teto branco.
Caramba…
Ainda é surreal pensar no que estou prestes a fazer, é como se nada
disso fosse verdade.
Mas, ao mesmo tempo, vou adorar ter mais da companhia de Sarah.
Na verdade, estou mesmo ansioso para isso.
Capítulo 13 - Hunter

QUANDO O NOME DA MINHA MÃE surge na tela do celular, eu


balanço a cabeça, rindo sozinho.
Estava mesmo demorando…
Mas até que dona Grace conseguiu se controlar bem, esperando por
um dia para me ligar e saber de tudo. Sei que foi um esforço tremendo para
ela.
— Oi, mãe — atendo a sua ligação enquanto começo a diminuir o
ritmo na esteira.
— Hunter? Como está, meu filho?
Desacelero o passo até desligar o aparelho e bebo um gole de água.
— Tudo bem por aqui. E por aí?
— Natalie me deu uma notícia maravilhosa ontem, então é claro
que as coisas estão ótimas!
Seco o suor da testa com a toalha e me jogo no banco da academia,
bebendo mais um pouco de água.
— Natalie me poupou então?
— Mas ela não me deu todos os detalhes! — rebate. — Me conte
mais sobre isso, Hunter. Você está mesmo namorando?
Ouço seu suspiro do outro lado e isso me causa um aperto no peito.
Odeio mentir para ela.
Mas odeio mais ainda tanta cobrança em cima de mim.
— É… Acho que sim.
— Acha?
Rio baixo.
— Estamos começando ainda, mãe. Não quero colocar muita
pressão.
— Ah, certo, certo. Mas é sério, né?
Balanço a cabeça, correndo a mão pelos cabelos.
Ela não desiste mesmo.
— O fato de eu não querer sair com mais ninguém é considerado
sério?
— Ah, nossa, sim! Já me permite sonhar! Eu fico tão feliz por você,
Hunter. Não sabe o quanto eu pedi a Deus por este momento…
Ah, lá…
Não disse?
— Certo, Sra. Crawford, agora você pode sair do meu pé.
Ela solta uma risadinha do outro lado.
— Mas você bem podia trazê-la para um jantar…
Lá vem.
— Mãe, qual a parte do “não quero colocar pressão” a senhora não
entendeu?
— Mas, Hunter, vamos conhecê-la só no dia do casamento? Lá mal
vamos ter tempo de dar atenção a ela com toda a cerimônia.
Faço uma careta e esfrego a mão na barba.
Estava bom demais para ser verdade.
— Mãe…
— Quero que ela tenha a oportunidade de nos conhecer também,
sem toda aquela loucura do casamento. Coitadinha, pode se sentir
deslocada por estar em um ambiente cheio de desconhecidos.
Eita, porra.
Ela não está errada, mas isso foge bastante do combinado.
Levar Sarah para o casamento é uma coisa.
Agora, para um jantar intimista com minha família?
Esfrego a barba, nervoso.
— Eu vou olhar com a Sarah — solto e ela vibra do outro lado. —
Mas não prometo nada, ok? Se ela achar muito precoce, não vou insistir.
— Mas, Hunter… O que é um simples jantar diante de um
casamento no Havaí?
Meu coração se acelera aqui dentro sabendo que ela tem razão.
Ô inferno…
— Eu sei, mas mesmo assim. Eu sempre vou respeitar a vontade
dela.
— Está certo… E não sabe o orgulho que eu sinto de te ouvir
dizendo isso. Espero muito que ela aceite o convite.
Conversamos mais um tempo e logo desligo o telefone, com a
mente uma loucura depois disso.
Caralho, o ruim de mentir é isso.
Parece um poço sem fundo.
Quanto mais cava, mais merda surge.
Ainda bem que hoje é dia de terapia e vou poder ver a Sarah
pessoalmente para fazer o convite.
Cara, que loucura.
Em que loucura eu fui me meter.

Sarah

Sair da clínica nos dias de terapia de Hunter se tornou um dos meus


melhores momentos da semana.
Ainda mais hoje.
Que é o primeiro dia depois daquela noite maravilhosa de sábado.
Não vou negar que estou muito ansiosa para vê-lo de novo,
principalmente porque não conversamos desde que ele me deixou em casa
no sábado.
Meu dedo coçou de vontade de lhe mandar mensagem para saber
como estava, se estava pensando tanto naquele jantar quanto eu, mas me
contive.
Não quero assustá-lo.
Hunter tem se soltado aos poucos comigo e eu não quero atropelar
isso.
Quando o vulto preto me espera ao lado do elevador, eu abro um
sorriso.
Eu sei que ele está me esperando.
Principalmente porque ignora o elevador quando chega ao nosso
andar.
E constatar isso me faz sorrir ainda mais.
— Oi… — murmuro quando paro ao lado dele e aquele cheiro
gostoso masculino me atinge.
Nunca conheci um homem tão cheiroso quanto ele.
— Oi… — a voz grossa e rouca é tão potente, mesmo que baixa,
que me arrepia inteira.
A porta do elevador se abre e passamos por ela, vendo que há outras
pessoas por ali. Eu me coloco ao lado dele, sentindo o seu casaco preto
roçar a minha pele.
Não vou negar que a proximidade dele me faz tão bem…
Ao descermos, sigo até o estacionamento e ele me acompanha, até
estarmos finalmente sozinhos ao lado do meu carro.
Quando estamos seguros, Hunter abaixa o capuz e me revela aqueles
olhos cinzentos que sempre me dizem tanto.
Mas hoje noto um misto de insegurança por trás deles.
E a forma com que ele troca o peso de uma perna para a outra
confirma seu receio.
— Como foi a sessão hoje? — pergunto, puxando um papo ao ver
que está um pouco desconfortável comigo. — Tudo bem?
Ele assente de pronto.
— Foi estranho no começo, mas já estou me acostumando.
— É assim mesmo.
Sorrio para ele.
É totalmente normal que o paciente se sinta assim até que
finalmente tenha confiança no profissional e se abra por inteiro com ele.
— Eu… queria te perguntar uma coisa — diz e eu o encaro curiosa.
— Claro, pode falar.
— Eu liguei para minha irmã e contei sobre o casamento, dizendo
que iria acompanhado — solta e eu prendo a respiração por um segundo.
Não digo nada, apenas o olhando firme, esperando que continue.
— Ela ficou muito feliz com a notícia, ainda mais em saber que não
vou sozinho.
Ele me encara tímido agora, colocando as mãos no bolso do casaco.
— E hoje minha mãe me ligou querendo saber mais detalhes…
Hunter coça a barba daquele jeito que faz, quando está nervoso.
— Enfim, ela acha estranho te conhecer só no dia do casamento e
gostaria que fosse jantar na casa dela antes disso — solta, sem rodeios, e eu
demoro uma fração de segundo para processar.
Uau…
Um jantar para conhecer a família de Hunter como sua namorada é
muita coisa.
Muita, muita coisa.
— Se você não quiser ir, não tem problema — trata de explicar. —
Eu disse a ela que jamais desrespeitaria sua vontade.
E a sinceridade em seus olhos me quebra ao meio.
Sei que ele não faria isso mesmo.
E a forma honesta com que Hunter tem me tratado desde o começo é
que tem mexido tanto comigo.
— Eu vou — digo sem pensar demais.
E, neste momento, seu semblante se ilumina um pouco, um misto de
surpresa passa em seu olhar.
— Tem certeza? Não quero que se sinta pressionada…
— O que é um jantar diante de uma viagem para o Havaí? — Dou
de ombros. — Não se preocupe, eu sei ser uma boa atriz, fiz algumas aulas
de teatro na época da faculdade.
Pisco para ele, que me abre um sorriso de lado, um tanto incrédulo,
e bem fofo.
Olha só se Sr. Hunter Crawford, tatuado do pescoço aos pés, não
sabe ser fofo quando quer.
— Certo. Eu vou marcar com ela e te aviso, ok?
— Pode ficar tranquilo. Vai dar tudo certo.
Ele balança a cabeça e agora tira a mão do casaco para guardar uma
mecha de cabelo meu que escapou da orelha.
E esse mínimo toque dele me tira um arrepio.
— Eu ainda não sei como vou te agradecer…
— Por entrar nessa com você? — pergunto e ele assente. —
Querido, eu estou indo para o Havaí. — Solto um suspiro. — Tem motivo
melhor do que esse?
Hunter sorri de lado, assentindo.
— E falando em Havaí… Podemos prolongar nossa estada por mais
alguns dias para que você aproveite mais a praia. Acha que consegue
organizar sua agenda aqui na clínica?
E imediatamente meu coração dispara aqui dentro.
Ele vai me permitir ficar mais alguns dias naquele paraíso?
— E não se preocupe com nada, toda a viagem é por minha conta.
— Hunter…
— É o mínimo que posso fazer para te retribuir.
Encaro-o e vejo que a determinação de seus olhos não vai me deixar
alternativa.
— Está certo… Eu vou ver com a Judith e remanejo meus pacientes
para outros dias.
E seu sorriso se abre um pouco mais.
— Certo, então está combinado.
Assinto, e ficamos um momento apenas nos encarando, quando ele
dá um passo em minha direção e beija a minha testa com carinho.
— Tchau, Sarah.
Ainda estou sentindo seu calor em minha pele quando ele se afasta e
me deixa aqui sozinha, completamente atônita por um mísero beijo na testa.
Caramba…
Que loucura é essa?
Capítulo 14 - Sarah

— ESTÁ TUDO BEM mesmo, Sarah? — Hunter me pergunta logo que


estaciona seu carro em frente à uma casa bastante bonita, em um
condomínio fechado de um bairro tranquilo de Los Angeles. — Podemos ir
embora se não quiser… Eu invento uma desculpa qualquer, digo que você
teve um mal-estar.
— Ei… — Desafivelo o cinto de segurança e toco seu braço com
carinho. — Está tudo bem. Não se preocupe, é só um jantar.
Consigo notar insegurança em seus olhos, mas ele só assente,
engolindo em seco.
Hunter salta do carro e eu faço o mesmo, alcançando-o e vendo que
mesmo aqui, sem ninguém ao nosso redor, ele anda de cabeça baixa.
Percebi que só anda assim, o tempo inteiro, como se precisasse se
esconder de todo o mundo e isso faz com que eu sinta um aperto no peito.
Ele não merece viver assim…
Caminhando lado a lado, seguimos pela lateral da casa até
alcançarmos uma área iluminada ao fundo.
O imenso jardim e a área verde bem-cuidada enchem meus olhos.
Nossa…
É lindo.
Noto-o andar um pouco desconfortável ao meu lado, então
instintivamente minha mão desce e encontra a sua, quando ele retesa por
um momento antes de entrelaçar nossos dedos. Com a outra mão, equilibro
a travessa de sobremesa que eu trouxe, mas vale o esforço. Porque o calor
de Hunter contra o meu é algo… inexplicável.
Dou um aperto de leve em uma forma silenciosa de dizer que vai
ficar tudo bem, que essa nossa loucura vai dar certo.
E consigo perceber seu corpo ficar um pouco menos rígido ao meu
lado.
Não combinamos nada previamente sobre a atuação de hoje. Se nos
tocaríamos, se trocaríamos alguma carícia, mas me pareceu certo oferecer
esse contato a ele.
E pela forma como caminha, respirando um pouco mais leve,
percebo que fiz a escolha certa.
— Hunter… — Uma mulher loira de cabelos curtos e sorriso
amável vem até nós.
E, quando seus olhos caem em nossas mãos unidas, seu sorriso se
alarga instantaneamente.
Hunter me solta para receber um abraço rápido dela e noto seu
desconforto com o contato.
— Oi, mãe… Essa é a Sarah.
Ele aponta para mim e o semblante dela se ilumina.
— Mas como você é linda! — exclama, puxando-me para um
abraço bem mais caloroso do que o que deu no filho. — Muito prazer, eu
sou a Grace.
— O prazer é todo meu — respondo, estendendo a travessa em
minhas mãos. — Trouxe torta de pêssego, espero que goste.
E então ela olha de Hunter para mim.
— Logo a minha torta preferida? Hunter, essa garota é um achado!
— Grace suspira e eu solto uma risadinha. — Vem, deixa eu te apresentar o
resto da família.
Por resto da família, Grace quer dizer Natalie e seu noivo, Kevin,
que são igualmente simpáticos comigo. É curioso encontrar os olhos da
mesma cor em sua irmã, mas, ao contrário dos de Hunter, os dela têm muito
mais vida, muito mais energia.
Percebo que o tempo todo as mulheres da família de Hunter me
analisam com curiosidade e com surpresa no olhar. Acho que nenhuma
delas esperava vê-lo acompanhado de alguém assim.
— Você toma um vinho, Sarah? — Grace oferece logo que me sento
à mesa com eles, ao lado de Hunter.
— Claro, eu adoro!
Ela sorri e pega uma garrafa, entregando a Hunter para abrir.
Meu namorado fake gira o saca-rolha na mão e o movimento que
faz para abrir é quase hipnotizante, ainda mais que eu não tiro os olhos dele.
Hunter mais uma vez se veste de preto, mas abotoou a camisa na
altura dos cotovelos, revelando as tatuagens, que também percebi serem
todas em preto.
Será que ele não usa nenhum tipo de cor?
Tipo, nunca?
— Então, Sarah, você é psicóloga na clínica que Hunter frequenta,
né? — é Natalie quem pergunta logo que nos servimos de uma taça de
vinho.
Em pouco tempo, Grace surge com uma tábua de petiscos para
beliscarmos enquanto aproveitamos este momento.
— Isso. Foi lá que nos conhecemos — explico.
A vantagem de não precisarmos inventar como nos conhecemos é
essa, flui muito naturalmente.
— Mas não faz muito tempo que Hunter começou a terapia —
Grace pondera. — Vocês se aproximaram rápido assim?
— Mãe…
— Não estou criticando, filho — ela diz, com o olhar terno. — Só
curiosidade de mãe.
Percebo-o ficar tenso ao meu lado e trato de conduzir a situação.
— Hunter escolheu o último horário para as sessões, e acabou
coincidindo com o meu de saída da clínica…
Neste momento, seguro sua mão por cima da mesa, em um toque
suave, e ele não recusa, apenas acaricia meus dedos devagar.
— Foi logo na primeira semana — minto apenas nessa parte — que,
ao sair, notei meu pneu furado e Hunter veio oferecer ajuda. Eu achei muito
fofo, já que nunca tínhamos nos falado antes.
Olho para ele, que apenas dá de ombros, olhando para sua taça, um
tanto sem graça por estar sendo o centro das atenções agora.
— E então eu quis retribuir a gentileza, convidando-o para sair.
— E ele aceitou? — Grace pergunta surpresa e Hunter a fuzila com
o olhar.
— Claro que sim! — prefiro omitir a parte de que Hunter saiu
correndo, porque sinto que é algo que ele não gostaria de compartilhar. —
Então começamos a sair e… cá estamos.
Concluo, bebendo mais um pouco de vinho e noto que todos olham
para ele, esperando por alguma reação.
— Sarah é a pessoa mais doce que já conheci — a voz rouca me
arrepia inteira. — Senti que poderia confiar nela.
E a firmeza que encontro em sua voz diz que isso não é só uma
encenação.
Sinto que ele realmente pensa assim.
E isso me aquece o peito.
— Ai, eu nem acredito… — O sorriso de Grace é imenso e Natalie
compartilha do mesmo.
— Mas vamos parar de falar de nós dois. — Aperto de leve a mão
de Hunter contra a minha. — Como estão os preparativos para o
casamento? Fiquei sabendo que será no Havaí… Achei incrível!
Os olhos de Natalie brilham agora.
— Esse sempre foi o meu sonho! — Ela suspira, olhando para o
noivo agora. — Kevin não mediu esforços para realizá-lo.
Neste momento, ele olha para ela e dá um beijo em sua testa, cheio
de carinho.
— Você merece, amor.
A troca de olhares deles é apaixonada e eu fico pensando se algum
dia vou viver algo assim.
Se vou encontrar alguém que me olhe com tanta devoção.
— Eu imagino que deve ficar lindo…
— Vai mesmo, mas até lá Natalie vai me deixar doidinha. — Grace
suspira cansada.
— Não é para tanto, mãe!
— Ah, não? Quantas vezes você já mexeu na decoração da festa?
A careta que Natalie faz é impagável e eu solto uma risada.
E então o assunto entra em flores, bolo de casamento, música e
dança dos noivos.
— Eu ainda precisei entrar em uma aula de dança, acredita? —
Kevin me conta, rindo, e eu o acompanho.
— Não brinca! Jura?
— Mas é claro que precisava, você é péssimo dançarino, amor —
Natalie se defende e eu balanço a cabeça, sorrindo.
Principalmente ao vê-lo fazer uma careta.
Noto até que Hunter ri baixo também.
— Você ri, né? Quero ver quando chegar a sua vez!
E nessa hora Hunter balança a cabeça, ainda rindo baixo.
— Mas é nunca que eu faço uma coisa dessas… — reclama e Grace
interfere.
— Precisa ter a dança do casal, Hunter! Todo casamento tem.
— Mas Hunter não é como todo mundo — defendo-o, ele me
responde com um carinho na mão.
E a minha resposta parece agradar minha sogra fake, que me abre
um sorriso cúmplice.
— Você realmente o conhece bem…
Engulo em seco, sentindo um incômodo aqui dentro, e agradeço
mentalmente quando Kevin muda de assunto perguntando sobre trabalho.
Então seguimos uma noite tranquila, jantamos e, durante todo o
tempo, percebo Hunter ao meu lado. Ainda que a situação o incomode um
pouco, ele parece relaxar em minha companhia.
E, na hora da sobremesa, todos elogiam o meu prato.
Inclusive Hunter.
— Nossa… Isso é perfeito — murmura, ao dar uma colherada.
Seu elogio causa um rebuliço aqui dentro de mim.
— Você fala como se não conhecesse as sobremesas de sua
namorada — a mãe diz e eu sinto a barriga gelar.
Encaro Hunter, que mantém o semblante inexpressivo.
— Mas, toda vez que eu experimento, é como se fosse a primeira —
diz, levando mais uma colher à boca.
E sua fala tão despretensiosa causa um estrago dentro de mim.
Ah, Hunter…
Até a irmã dele suspira ao ouvi-lo falar assim.
Ainda estou sorrindo, quando termino a sobremesa e continuamos a
conversar, até Hunter me chamar para ir embora.
— Volte mais vezes, Sarah. Eu adorei te ter aqui. — Grace me puxa
em um abraço gostoso que sei que diz muita coisa.
— Obrigada pelo jantar maravilhoso, Grace. Foi tudo perfeito.
Ela ainda está sorrindo quando Natalie vem se despedir de mim.
— Te vejo no casamento — murmura e eu assinto, recebendo seu
abraço. — E obrigada por cuidar dele por mim.
Sinto um nó na garganta ao assentir, sentindo-me péssima por
mentir.
Espero que elas não me odeiem quando terminarmos esse namoro
fake.
Eu não sei quando será, porque ainda não conversamos sobre isso,
mas imagino que seja logo após o casamento. Pensaremos em algo quando
chegar a hora.
Aceno para elas e, logo que entramos no carro de Hunter, ouço-o
soltar um suspiro.
— Até que não foi tão ruim…
— Eu acho que fomos excelentes atores! — concluo, afivelando o
cinto de segurança e ajeitando meu vestido.
— Eles te adoraram — diz, logo que pega as ruas da cidade.
— Eu também… Eles foram incríveis comigo. Você só tem os três?
— pergunto com cuidado e ele acena.
Hunter desvia os olhos da estrada para mim por um segundo.
— Meu pai nos abandonou quando eu ainda era criança — diz e eu
sinto um aperto no peito.
Nossa…
Nem imagino como deve ser.
Ainda mais para mim, que cresci como a princesinha do meu pai.
Não imagino uma vida sem ele.
— Eu sinto muito, Hunter.
Ele balança a cabeça em negativa.
— Já faz muito tempo. Eu quase não me lembro dele mais.
Observo-o dirigir e penso no que mais Hunter guarda dentro de si. A
cada dia em que conheço mais a seu respeito, fico mais intrigada, mais
curiosa por ele…
Quanto mais eu sei dele, mais quero saber…
Mais quero conhecer…
Peço autorização para ligar o som de seu carro a fim de quebrar um
pouco do silêncio que se formou por aqui.
— O que será que você escuta, Sr. Crawford? — brinco e ele ri
baixo.
Quando um rock pancadaria começa a tocar nos alto-falantes, eu
arregalo os olhos e o vejo soltar uma risadinha.
— Meu Deus do céu! O que é isso?
— Não conhece Judas Priest? — pergunta, como se fosse uma coisa
óbvia.
— Não! — exclamo e ele ri mais. — Como você ouve isso e não
fica surdo?
Hunter só balança a cabeça, divertindo-se com isso, e aumenta o
som do carro, fazendo-me olhar ainda mais incrédula para ele.
— Como você dirige desse jeito? — eu quase grito para ser ouvida
através da música.
— Dirigindo. — Dá de ombros. — Nada de mais.
Eu ainda estou chocada e Hunter só me olha divertido.
Balanço a cabeça e desisto de tentar entender como um ser humano
pode gostar de tamanha barulheira.
Mas, se eu pensar bem, combina com ele, com os cabelos mais
longos, tantas tatuagens e piercings…
Me estranharia se gostasse de um country.
— Você ouve o quê? — pergunta logo que chegamos ao meu prédio
e ele abaixa o volume do som.
— Taylor Swift, Katy Perry… — começo e ele solta uma risadinha.
— O que foi?
— Nada, só que é muito previsível.
Reviro os olhos para ele.
— Para você também, todo tatuadão aí. É claro que tinha que ouvir
essas músicas em que ninguém entende o que estão cantando…
— Mas é claro que eu entendo — rebate e eu estreito os olhos para
ele.
— Duvido.
E é a vez dele de revirar os olhos, fazendo-me rir.
— Bom… Obrigada pela noite, Hunter. — Solto o cinto de
segurança e me aproximo um pouquinho dele. — Não foi nenhum
sacrifício, sua família foi incrível.
Percebo que ele me encara firme, mal piscando, e seu olhar se
suaviza.
Hunter ainda está em silêncio quando eu me inclino para beijar seu
rosto, sentindo o calor da sua pele contra os lábios.
— Boa noite, Hunter — murmuro ao me afastar.
— Boa noite, Sarah.
Ele ainda parece meio atordoado quando me despeço e salto do
veículo, entrando no prédio.
Ainda estou sorrindo quando entro no apartamento e sinto meu
celular vibrar na bolsa.
HUNTER:
Obrigado pela companhia hoje, Sarah.
Significou muito para mim. Prometo te
recompensar por isso. Tenha bons
sonhos.

Meu sorriso se alarga ao terminar de ler suas palavras.


Ah, Hunter…
Definitivamente eu terei os melhores sonhos hoje.
Capítulo 15 - Hunter

— ENTÃO QUER DIZER que você arranjou uma companhia para o


casamento? — Roger me pergunta e eu assinto, apoiando os cotovelos nos
joelhos para encará-lo.
— É uma amiga.
É estranho me referir a Sarah dessa maneira, mas acho que é a
melhor definição no momento, já que eu jamais contaria a ele do nosso
trato. Não só por temer seu julgamento, mas também por não querer
prejudicar Sarah de alguma forma, já que são colegas de trabalho.
O terapeuta estreita os olhos para mim.
— Uma amiga? — indaga e eu confirmo. — Mas até outro dia você
me disse que só tinha o Luke como amigo.
Coço a barba, pensando como explicar a Sarah para ele.
— É recente… Saindo de uma de nossas sessões eu esbarrei com
uma funcionária que eu sempre via por aqui.
— Uma funcionária?
— É… A Sarah — revelo e seu semblante se torna surpreso.
— Eu reparei que saímos nos mesmos horários da clínica, então eu
acabo encontrando-a pelos corredores.
— E foi por isso que se aproximou dela?
— Não exatamente. Em um desses dias eu a vi um pouco perdida no
estacionamento por encontrar o pneu do carro furado e eu me ofereci para
trocar.
— Interessante… E como se sentiu com tudo isso?
Relaxo o corpo e encosto no sofá, ganhando tempo para processar e
voltar à mente até aquele dia.
— Um pouco estranho, não vou negar. Mas ela é uma pessoa muito
fácil de lidar, então não me deixou intimidado.
Roger acena, absorvendo cada uma de minhas palavras.
— E a partir desse dia vocês se tornaram amigos?
— Ela me chamou para tomar um café em agradecimento no dia
seguinte, mas eu entrei em pânico e saí correndo — confesso, sentindo-me
um pouco constrangido por isso.
Sei que já me redimi com ela, mas não deixa de ser vergonhoso
lembrar.
— Aposto que pensar no ambiente movimentado te deixou
desconfortável — sugere.
— Muito! Minha mente virou uma confusão, mas me senti mal por
ter agido daquela forma. Então, chegando em casa, liguei para Luke e
contei tudo a ele, que me aconselhou a levá-la para um lugar onde não
corresse o risco de ser visto, tipo fechar um restaurante só para nós dois.
— É mesmo uma ótima saída. Foi isso que você fez?
Balanço a cabeça e um meio sorriso me surge ao me lembrar
daquela noite incrível.
— Eu aluguei um iate por um final de semana e contratei um bufê
para servir o nosso jantar.
E mais uma vez, Dawson parece surpreendido.
— É a primeira vez que você sai com uma mulher desde o ocorrido?
— pergunta e eu aceno devagar. — E como foi?
Coço a barba mais uma vez.
— Eu fiquei um bocado tenso — explico. — Mas ela foi muito
gentil comigo, o tempo todo. Não forçou uma proximidade que eu não
queria, conversamos como dois amigos mesmo, sem pressão.
Os olhos dele me demonstram satisfação.
— É um passo e tanto, não?
— Nem me fale…
— E como surgiu o convite do casamento?
— Ela me perguntou o motivo de eu ter decidido começar a terapia
depois de tantos anos. Eu contei a ela sobre o casamento e que ainda não
sabia como iria, pois você tinha me sugerido levar alguma companhia. E,
depois de conversarmos a noite toda, ela se ofereceu para ir comigo.
— É mesmo? E como você reagiu a isso?
— Eu fiquei um pouco surpreso, pois não esperava mesmo por isso.
Mas depois senti um alívio por saber que ela estará comigo. Nós nos
conhecemos há pouco tempo, mas é curioso pensar no quanto me sinto
confortável ao lado dela.
— Isso é bom. Sarah é uma ótima pessoa.
— Ela é… E o melhor de tudo, não me conheceu antes do acidente.
— Isso é algo que ainda te incomoda, né?
Balanço a cabeça de pronto.
— Odeio que as pessoas olhem para mim e enxerguem o antigo
Hunter; pior ainda, que desejem que ele volte. Por mais que eu melhore de
alguma forma, Roger, aquele Hunter não vai voltar. E saber que nunca virá
uma comparação da parte dela me dá uma sensação muito boa de conforto.
Ele me analisa por um momento.
— Isso é bom. Aos poucos você ir se soltando, experimentando
coisas novas, mas sempre respeitando seus limites. Nunca perca isso em
mente, Hunter, o seu bem-estar vem acima de tudo.
Encaro-o e assinto, sabendo que não terei problemas quanto a isso.
Durante todo esse tempo, Sarah se mostrou bastante compreensiva e
respeitosa comigo.
Isso só faz com que eu confie mais nela.
Na verdade, não vejo a hora de estar com ela de novo.

Seguir Sarah até seu carro já virou nossa tradição de todos os dias
em que tenho terapia.
Ainda que não tenhamos combinado nada e que troquemos poucas
palavras pelo caminho, acompanhá-la já se tornou algo automático para
mim.
— Como foi a sessão hoje? — pergunta, logo que estamos sozinhos
ao lado do veículo.
— Foi boa. Tem ficado melhor a cada vez.
Ela me abre um sorriso orgulhoso.
Aquele sorriso que é o mais lindo.
— Isso é muito bom. Fico feliz por você.
Assinto, tirando a mão do bolso para coçar a barba devagar.
— Sarah, você… — Paro e formulo uma melhor forma de fazer esse
convite. — Tem algum compromisso no final de semana?
Seu rosto se enrubesce no mesmo instante e noto um sorriso tímido
lhe surgir.
— Não tenho, por quê? Precisará de meus serviços de atriz? —
brinca e eu solto uma risada baixa.
— Não… Eu pensei se gostaria de jantar comigo.
Ela sorri um pouco mais agora, colocando uma mecha de cabelo
loiro atrás da orelha.
— Será um de seus jantares misteriosos?
Balanço a cabeça confirmando e ela solta uma risadinha.
— Não vai me contar de novo para onde vamos?
Nego.
— Posso te surpreender mais uma vez?
Sarah me lança um olhar curioso antes de concordar.
— É difícil ser uma mulher curiosa quando o assunto é sair com
você.
Rio baixo.
— Prometo que vai gostar.
— Ah, mas disso eu não tenho dúvidas. Se o primeiro, em que a
gente mal se conhecia, já foi perfeito. A que horas o Sr. Mistério me busca?
Acho graça da forma com que me chama e até um tanto fofo.
— Pode ser às seis?
— Claro. Estarei pronta.
Balanço a cabeça e me aproximo dela apenas para beijar sua testa,
sentindo sua pele se estremecer de leve pelo contato.
— Até sábado.
Aceno e dou uns passos para me afastar, até me lembrar.
— Ah… Sarah?
Viro-me e ela me encara, esperando que eu continue.
— Você não tem medo de helicóptero, né?
A garota arregala os olhos, o que me faz abrir um sorriso de lado.
— Hunter, você…
— Tem, ou não tem?
— Acho que não…
— Ótimo.
Dou uma piscada para ela.
— Até sábado.
Ela ainda está em choque quando eu sigo até a minha moto e visto o
capacete ao montar.
E é só quando ela finalmente sai do estacionamento que eu pego as
ruas de Los Angeles, indo de volta para casa.
Pelo caminho, não deixo de pensar no que tenho em mente para o
final de semana.
Dessa vez, será ainda mais inesquecível.
Capítulo 16 - Sarah

HUNTER ME LEVA até uma pista e só quando eu vejo o helicóptero nos


esperando é que a minha ficha cai da veracidade de suas palavras.
Ele não estava mesmo brincando.
Primeiro um iate…
Agora um helicóptero…
Aonde esse homem vai parar desse jeito?
Da próxima não duvido que alugue um foguete da NASA.
Com sua ajuda, subo no helicóptero e aquele calor que vem de sua
mão me alcança mais uma vez.
Aquele que eu passei a adorar.
— Tudo pronto? — o comandante nos pergunta depois de se
apresentar e nos acomodarmos na aeronave.
Quando Hunter dá o ok, as hélices começam a girar e o veículo
deixa a pista, ganhando altitude.
Olhando pela janela, eu vejo Los Angeles ficar cada vez menor e um
frio na barriga me atinge ao imaginar para onde estamos indo.
Não deve ser muito longe, já que me disse que voltaríamos para casa
hoje mesmo, mas ainda assim…
Estou me roendo de curiosidade.
Ao meu lado, Hunter se mantém sereno, sorrindo a cada gritinho
meu de euforia.
Nunca andei de helicóptero, é a primeira vez e a sensação boa de
adrenalina por estar sobrevoando a cidade é inexplicável. Principalmente
quando segue caminho em direção ao mar.
O sol está perto de se pôr e eu não sei se foi essa a intenção de
Hunter ao marcar o horário do nosso encontro, mas imagino como deve ser
lindo assistir a esse momento daqui de cima.
Quando uma ilha surge em nosso campo de visão, Hunter aponta
para ela e logo o helicóptero começa a descer, preparando-se para pousar.
Eu ainda estou anestesiada, quando a aeronave toca o chão e eu
percebo que Hunter me trouxe para uma ilha.
Uma ilha.
Ah, Hunter…
O que eu faço com você?
Aceito sua mão para descer e logo pisamos na areia, vendo o que
está ao nosso redor.
Um enorme casarão de vidro no meio da ilha com iluminação de
tochas de fogo por toda a praia, dando um aspecto incrível.
— É uma espécie de restaurante? — indago e ele nega.
— Essa ilha é propriedade privada, então aquela é a casa do dono.
Isso me surpreende ainda mais.
— E você o conhece?
Hunter dá de ombros.
— Tenho meus contatos.
Uma coisa é fato.
Hunter Crawford vive em um mundo totalmente diferente do meu.
Porque não é possível…
— Uau… — é tudo o que eu consigo dizer enquanto caminhamos
pela areia, ladeando o mar.
Agradeço por não ter escolhido usar saltos esta noite, pois seria uma
péssima combinação.
Quando chegamos a uma pedra alta, Hunter me ajuda a subir e nos
sentamos lado a lado.
— Logo vai começar.
Ele aponta ao longe e eu percebo que minha teoria não estava
mesmo errada.
O pôr do sol…
Realmente.
Assistir de cima do helicóptero seria incrível, mas nada se compara
a ver aqui, sentada numa pedra ao lado de Hunter, de frente para o mar.
Em uma ilha privativa.
Só nós dois…
Caramba.
A sensação que eu tenho é de que isso não é real.
Em poucos minutos o espetáculo começa e eu mal pisco ao assisti-
lo.
— É lindo… — murmuro ao final e ele assente.
Mesmo estando sentado, Hunter parece um gigante ao meu lado.
E, mesmo com toda a sua altura, não me sinto intimidada quando
estou com ele.
— Eu sempre gostei do mar — a voz rouca me atinge, daquele jeito
que me faz sentir um friozinho gostoso na barriga. — Quando eu ainda
jogava, gostava de tirar alguns minutos da semana apenas para ficar sozinho
olhando para o mar, me trazia um pouco de paz em meio a minha rotina
agitada.
Meu coração erra uma batida ao ouvi-lo falar um pouco de seu
passado.
Até um tempo atrás, aposto que isso seria algo impossível.
— Ele tem esse poder mesmo — digo me virando para olhá-lo e,
ainda que esteja escurecendo, consigo enxergar toda a intensidade de seus
olhos. — É uma calmaria, né? O som das ondas, o cheiro do mar…
— É mesmo muito bom.
Ficamos por um momento em silêncio apenas admirando a
paisagem diante de nós. Diferente do nosso primeiro encontro, em que
estávamos afastados da praia, aqui o movimento constante das ondas se
quebrando é hipnotizante.
— Quer caminhar um pouco pela praia antes de pararmos para
jantar? — sugere e eu assinto.
— Claro, vou adorar.
Hunter me ajuda a descer e, quando piso na areia, decido tirar as
sandálias dos pés, vendo-o fazer o mesmo com seus sapatos, que carrega
nas mãos junto dos meus.
— A sensação da areia macia nos pés também é muito boa… —
murmuro quando começamos a caminhar.
Algumas ondas vêm e molham nossos pés, deixando o momento
ainda mais mágico.
— Preciso concordar com isso.
E, olhando para baixo, vejo que seus pés também são totalmente
tatuados.
Meu cérebro vira uma engrenagem e eu não resisto a perguntar.
— Você sempre teve tatuagens?
— Não. Comecei a primeira um ano depois do acidente.
— E nesse pouco tempo você fez tantas assim? — questiono,
surpresa.
Hunter apenas balança a cabeça.
— Eu encontrei um tatuador muito bom que fazia atendimento a
domicílio. Ele praticamente vivia na minha casa, mas eu só sosseguei
quando cobri todo o corpo.
Fico dividida entre perguntar mais e me conter, já que não sei até
onde é o seu limite.
Mas Hunter não parece desconfortável ao meu lado, nem mesmo
tem o corpo rígido, como em nosso primeiro encontro.
— E teve algum motivo para isso? — pergunto com cuidado.
Para minha surpresa, ele não demora a responder.
— O acidente me deixou diversas cicatrizes no corpo — diz baixo.
— Eu tive queimaduras graves pelo peito, braços, pernas… Foram algumas
cirurgias de enxerto e reconstrução, e, quando esse período de recuperação
passou, minha pele já não era mais a mesma.
Fico em silêncio, sem saber o que dizer, apenas sentindo um nó na
garganta.
“Sinto muito” não é o suficiente para dizer agora.
— Ainda que não tenha atingido meu rosto, eu me olhava no
espelho e não me reconhecia — confessa. — Era doloroso demais encarar
aquelas cicatrizes todos os dias, principalmente porque elas eram uma
constante lembrança do que eu perdi.
Nesse momento, pego sua mão livre e uno nossos dedos,
acariciando-o de leve, uma forma de transmitir meu apoio sem palavras.
— Então eu usava roupas pretas e longas o tempo todo, inclusive
luvas no calor, só para não precisar ver todas elas.
— Ah, Hunter…
Meu coração fica pequeno ao ouvir seu relato.
— Até um dia em que Luke chegou a minha casa e me viu todo
encapuzado em pleno verão. Ele disse que eu ia acabar morrendo por causa
disso e foi então que me deu a ideia das tatuagens.
Eu nem conheço esse Luke, mas já tenho uma imensa gratidão por
Hunter tê-lo em sua vida.
— Ele me ajudou a encontrar um tatuador bom e que fosse discreto;
meu advogado elaborou um contrato de confidencialidade e então
começamos.
— E você se sente melhor agora? Com todas elas?
— Ainda vejo um Hunter completamente diferente no espelho, mas
já me acostumei com ele. Pelo menos eu não as vejo mais, não sem muito
esforço, e passei a me olhar de uma forma mais superficial, ignorando os
detalhes, foi a forma que minha mente encontrou de lidar com isso sem
surtar.
Ainda que sinta um aperto no peito por tudo o que Hunter enfrentou,
meu coração se enche de orgulho pelo tamanho da força dele.
Eu nem imagino como deve ter sido difícil para ele.
— Eu sei que nada que eu disser vai fazer jus ao que você passou,
Hunter. Mas quero que saiba que estar aqui comigo hoje, se abrindo um
pouco, é motivo de muito orgulho. Obrigada por confiar em mim.
Hunter aperta minha mão de leve e eu sinto a gratidão em seu gesto.
— E foi por causa delas que eu decidi me aposentar mais cedo do
futebol — explica e eu sinto meu coração se agitar ao ouvi-lo falar assim.
— Depois de tantos meses afastado pela recuperação, se eu voltasse,
sempre teria alguém olhando, perguntando, querendo saber como eu estava.
E eu não queria lidar com isso, Sarah, era demais para mim.
Acaricio sua mão em um gesto de conforto e Hunter não diz mais
nada, mas percebo-o mais tranquilo comigo, ainda que tenha tocado em um
assunto tão delicado para ele.
Então seguimos o nosso trajeto em silêncio, apenas ouvindo o som
das ondas se quebrando ao mar.
Sinto como se Hunter caminhasse mais leve ao meu lado por ter se
aberto um pouco e dividido parte do que viveu comigo.
Sei que não é nada em relação ao que ele enfrentou, mas ainda
assim…
Nós perdemos a noção do tempo enquanto caminhamos e logo ele
nos conduz de volta ao lugar em que nosso jantar nos espera.
E mais uma vez ele me surpreende com uma mesa linda à beira-mar,
ornamentada com flores brancas e velas. O jantar delicioso é servido por
um chef de cozinha famoso de Los Angeles, de que eu já tinha ouvido falar,
mas nunca tinha experimentado seus pratos. A refeição toda é feita de
maneira leve, tranquila e percebo até mais alguns sorrisos vindos de Hunter.
É nítido o quanto ele está mais solto comigo, mais à vontade, e isso
só me faz sorrir mais.
Ele merece desconstruir esse muro que elevou ao redor de si.
Ele merece um toque de leveza à sua alma.
Ao terminarmos o jantar, Hunter olha para o relógio antes de me
encarar.
— Já quer ir embora ou quer ficar mais um pouco para ver a lua?
Meu sorriso se amplia.
— Eu vou adorar ficar mais um pouco com você.
Logo ele se coloca de pé e me oferece a mão, que eu aceito, e sigo
ao seu lado. Percebo que pega uma manta com algum funcionário do
casarão e leva até a beira do mar comigo.
— Acho que aqui a água não vem — diz ao estender a manta sobre
a areia.
Com sua ajuda, sento-me ao seu lado, ajeitando o vestido ao me
acomodar.
— Eu não vou me cansar de me dizer o quanto aqui é lindo… —
Suspiro, olhando para o céu.
Acima de nós, a escuridão é iluminada pela lua, que está ainda mais
visível daqui, rodeada de estrelas brilhantes.
É lindo…
Bem diferente da visão que temos da cidade.
É como se estivéssemos em outro lugar do planeta.
— Fico feliz que gostou, Sarah — Hunter diz, pegando uma mecha
de meu cabelo para guardar atrás da orelha. — Preparei tudo com muito
carinho, porque gosto da sua companhia… Gosto de estar aqui com você.
Eu deixo de respirar por um segundo ao senti-lo tão perto de mim, o
coração quase salta pela boca.
— Você me deu os melhores jantares que já tive na minha vida —
declaro, vendo um sorriso de canto despontar em seus lábios. — E esse
sorriso aí, finalmente, chegou aos seus olhos.
Ele me encara um tanto intrigado.
— Como é?
— Eu observo você, Hunter, e seus olhos são sempre muito
expressivos. Quando te conheci, eram um tanto tristes, nublados. Agora
estão um pouco mais leves, acompanhando seu sorriso.
E nesse momento ele sorri um pouco mais.
— Deveria sorrir mais — afirmo, sentindo minha respiração pesar.
— Você fica lindo assim.
Hunter estreita os olhos, umedecendo os lábios devagar.
— Eu não sou lindo…
— Ah, você é. Se você se enxergasse através dos meus olhos, veria
que é o homem mais lindo que eu já conheci.
E aquela imensidão cinzenta me encara de um jeito tão firme, que eu
estremeço.
Hunter umedece os lábios mais uma vez, tocando meu rosto de leve
agora. E a carícia que seus dedos fazem em minha pele me arrepia inteira.
— Linda… — Ele para, aproximando-se um pouco mais.
E agora, tão perto dele, consigo ouvir a sua respiração forte.
Consigo sentir o hálito quente em minha pele.
— Linda é você, Sarah.
Fecho os olhos ao senti-lo se aproximar mais de mim, aceitando o
que quer que ele queira me oferecer.
Meu coração ainda está agitado dentro do peito quando sinto seus
lábios firmes pressionarem os meus, que tremem pelo contato.
Nossa…
É quente…
É macio…
Hunter não se move e eu nem me atrevo, apenas sentindo o calor
deste contato, apenas sentindo a intensidade que vem daqui.
E quando ele começa a se mover, a língua percorrendo meus lábios
com cuidado pedindo passagem, eu nem mesmo preciso pensar para ceder.
Abro a boca e recebo Hunter, com toda a sua potência e calor.
Com toda a sua delicadeza.
Ainda acariciando meu rosto, Hunter me beija como se eu fosse uma
porcelana delicada, prestes a quebrar, e não ouso interrompê-lo.
Na verdade, eu adoro isso.
Sinto que preciso disso mais do que do ar para respirar agora.
Minha mão sobe e toca o seu peito devagar, e, mesmo por cima da
camisa, consigo sentir seu coração bater forte contra a minha palma.
O som das ondas quebrando devagar ao nosso redor parece
contribuir para este momento.
É perfeito…
É intenso…
É delicioso.
Hunter me beija sem pressa, como se estivesse me degustando e o
vai e vem gostoso que sua língua faz me deixa à beira de enlouquecer.
Eu nunca beijei alguém assim.
Nunca foi desse jeito.
Tão intenso, tão cheio de sensações que nem mesmo sou capaz de
descrever.
— Sarah… — a voz rouca resvala a minha boca antes de me tomar
mais uma vez, de uma forma um pouco mais sedenta agora.
Ainda puxo sua camisa com a mão firme e com a outra subo até os
seus cabelos, perdendo-me em seus fios macios. Tomo o cuidado de não
tocar onde ele não se sinta desconfortável e Hunter parece apreciar isso,
porque simplesmente não para de me beijar.
E quando sua mão desce à minha cintura e me aperta forte,
puxando-me para mais perto dele, eu solto um gemido involuntário.
É tão bom…
Hunter está ofegante quando se afasta gentilmente e eu posso dizer o
mesmo sobre mim.
Colo minha testa à dele e permaneço de olhos fechados, não só
recuperando o fôlego, mas processando esse beijo.
Nossa…
Nunca senti tanto assim em um único beijo.
— Eu… — ele começa a falar e eu abro os olhos, encontrando
aquela intensidade me encarando. — Eu não sei ainda se estou pronto para
um relacionamento…
Ergo o dedo e coloco sobre os seus lábios, calando-o.
— Mas não precisa ser um — afirmo e ele me olha curioso. —
Temos um namoro para fingir, certo?
Ele acena devagar.
— Podemos aproveitar a brecha para nos curtir um pouquinho. Sem
pensar demais… Depois que o casamento passar, vemos no que tudo isso
vai dar.
— E isso é bom para você? — ele indaga, certificando-se.
— Está brincando? Eu estou amando sair com você, Hunter —
declaro e ele sorri de lado. — E também não sei se quero um
relacionamento agora. Não precisamos de rótulos, podemos só aproveitar a
nossa companhia.
— Até o casamento — confere e eu aceno.
— Depois que ele passar, pensamos no que fazer. Mas não vamos
nos preocupar agora. Não precisamos disso.
— Está certo — responde e eu abro um sorriso. — A propósito,
também estou amando sair com você.
Neste momento não resisto e toco o seu rosto, vendo-o relaxar sobre
o meu contato.
— Além de adorar a sua companhia, você tem se superado nos
jantares, Sr. Mistério — brinco e ele sorri. — Um iate, agora uma ilha
privativa… Qual será a próxima? Um jantar em Paris?
Os olhos de Hunter brilham.
— Até que você me deu uma ótima ideia…
Arregalo os olhos e ele ri baixo.
— Hunter?!
— Não me subestime, Sarah…
É tudo o que ele diz antes de me beijar de novo, daquele jeito que
me preenche inteira.
Daquele jeito que me diz que, mesmo que não tenhamos um rótulo,
que estejamos indo devagar, sem direção alguma…
Sei que estou indo exatamente para o lugar onde quero estar.
Em todo o mundo.
Capítulo 17 - Sarah

— HELICÓPTERO? Ilha privativa? — Claire me olha perplexa e eu rio.


— Gente, mas o iate não foi suficiente?
— Amiga, eu sinto que ele vai aprontar uma outra dessas na nossa
próxima saída, viu?
— Caramba…
Ela solta um assobio, pegando uma almofada para trazer ao colo.
— Nunca saí com um homem tão rico assim, então acho surreal isso
tudo que você está me dizendo.
— E eu então? Eu fico pensando se não é um sonho… — Suspiro.
Não só por tudo o que Hunter faz, mas por quem ele é.
Sua gentileza, seu carinho e seus beijos…
Caramba.
Agora que eu experimentei daqueles lábios gostosos, sei que não
vou me contentar só com isso.
Eu quero mais de Hunter.
O quanto mais ele me permitir ter.
— E sabe o que eu acho mais incrível? A sua humildade. Você não
imagina nunca que ele tem todo esse dinheiro. Faz sentido pela carreira que
teve, mas Hunter não se gaba disso em momento nenhum.
Claire me olha sorrindo.
— A senhorita já está toda mexidinha por ele, né?
Tento argumentar, mas desisto e ela ri mais.
— Se eu estou achando o máximo você sair com uma lenda do
futebol? Nem imagine! Eu não vejo a hora de você trazê-lo aqui e eu poder
pedir um autógrafo. — Ela solta um suspiro dramático. — Mas… Com toda
a carga dele, só posso te pedir que tome cuidado para não se machucar.
Engulo em seco, assentindo.
É fato que tenho gostado cada dia mais do Hunter e, por não saber
de toda a sua história, tenho corrido esse risco. Ele pode a qualquer
momento se fechar de novo e sei que, se esse dia chegar, é inevitável que eu
me machuque.
Mas, ainda assim, quero arriscar.
Porque estar na companhia dele tem sido a melhor recompensa.
— Eu vou. Não se preocupe. — Aperto a sua mão com carinho. —
Tenho ido devagar com ele, sem pressioná-lo demais, respeitando o seu
espaço e isso faz com que confie mais em mim. Sei que, se um dia Hunter
me magoar, não será de propósito, ele é um ser humano incrível.
Claire me analisa antes de assentir.
— Está certo… Eu estou mesmo feliz por você. Só me preocupo.
— Eu sei. — Puxo-a para um abraço apertado. — E obrigada por
isso.
Beijo o rosto dela, que me abre um sorriso.
— Agora voltando a sonhar… O que será que ele vai aprontar da
próxima?
— Não faço ideia! Eu perguntei brincando se me levaria para jantar
em Paris e ele disse que eu não posso subestimá-lo.
Claire me encara atônita e seu queixo cai.
— Puta merda… Pior que eu não duvido nada de ele fazer uma
coisa dessas.
— Nem eu!
Balanço a cabeça rindo.
Hunter é maluco.
Logo eu procuro por um seriado para assistir com Claire e mal vejo
a noite passar, até receber uma mensagem dele.
SR. MISTÉRIO:
Seu passaporte está em dia?

— Puta que pariu.


Solto um gritinho e Claire se assusta.
— O que foi, Sarah?
— Amiga, ele não estava brincando…
Mostro para ela a mensagem e a sua reação é a mesma da minha.
— Ele vai te levar para a Europa? É SÉRIO ISSO?
Solto uma risada, pensando que limite é algo que Hunter
desconhece, pelo visto.
EU:
Em dia está, por quê? Pretende me tirar
do país?

— Cara, eu devo estar vivendo em uma realidade paralela, só


pode… — Claire suspira ao meu lado, fazendo-me rir mais.
SR. MISTÉRIO:
Só por uma noite, pode ser? Eu te
devolvo no outro dia.

Mordo o cantinho da boca, pensando que isso é uma loucura.


Uma tremenda loucura.
Mas só de pensar no que ele deve estar preparando…
E em como é sempre tão cuidadoso comigo, tão respeitoso…
— E aí? — Olho para Claire, que solta uma bufada.
— É lógico que você vai, eu te conheço. Está doidinha para ir!
— Mas é loucura, né? Tipo, sair do país por uma noite…
— Mas você entrou num helicóptero com ele sem nem saber para
onde iria, então a nível de senso sabemos que você não tem muito.
Atiro uma almofada nela, que gargalha.
— Eu disse mentira?
— Ai… Quando eu terei uma oportunidade dessas de novo? E é o
Hunter…
Solto um suspiro.
Se sair do país por uma noite já é um sonho, estar com ele então…
— Vai, Sarah! Anda! Você já topou viajar com o homem para o
Havaí, que tecnicamente não é dentro dos Estados Unidos.
Ela dá de ombros.
— É mesmo, né?
— E eu sei que você está morta de vontade de ir, então anda logo!
Balanço a cabeça rindo.
— Então eu vou — anuncio e ela bate palmas empolgada.
EU:
Você é impossível, sabia? Mas eu topo
essa loucura! Para quando seria?

Não demora e sua resposta chega.


SR. MISTÉRIO:
No próximo final de semana. Chegando
perto eu te confirmo o horário em que
vou te buscar e o tipo de roupa que
precisará levar.

Pensar nisso me faz sentir um frio na barriga…


Ai, meu Deus.
Isso vai mesmo acontecer?
Solto um gritinho de euforia e Claire ri ao meu lado.
EU:
Combinado, Sr. Mistério. Vou morrer de
curiosidade até lá, mas ok…
SR. MISTÉRIO:
Vai valer a pena, eu prometo.

E eu nem mesmo duvido disso.


Vindo de Hunter, não posso esperar nada menos do que uma noite
inesquecível.

Hunter

— Você vai levar a menina para jantar na Grécia? — Luke solta


um assobio do outro lado da linha.
Estou preparando um macarrão com queijo para o meu jantar,
enquanto converso com ele pelo viva-voz.
— É muita loucura?
— Eu acho foda pra caralho! Se eu tivesse algum hotel por lá,
certeza que te emprestaria a melhor suíte.
— Eu sei, não esquenta. Já pedi para Brian providenciar o jatinho e
reservar um hotel em Santorini, bem onde quero ficar.
— Caralho… Quem diria, hein, Crawford? Até outro dia você nem
de casa saía, agora está indo para um final de semana na Grécia.
Coço a barba de leve.
— Não fale assim, porque, se eu pensar demais, posso desistir.
— Mas não vai de jeito nenhum! — corta-me. — Isso é um elogio,
cara. Não tem ideia do quanto eu estou orgulhoso de você.
Desligo o fogo e me sirvo do macarrão, um tanto incomodado com
seu elogio.
— Ela merece algo especial, sabe? E não me custa muito caro… Eu
vivi por anos gastando o mínimo.
— Seu dinheiro já triplica sozinho, Hunter. Está na hora mesmo de
gastar um pouco dele.
Eu rio baixo, levando tudo até a ilha para começar a comer.
— Ela é uma garota legal, Luke. Só de respeitar o meu espaço e não
se interessar pelo que eu tenho ou pelo que eu já fui um dia, me vale tudo.
— Eu posso imaginar… Por favor, não a perca tão fácil. Você ainda
tem o mundo todo para mostrar a ela.
E agora eu rio, dando uma garfada no macarrão.
— Considerando que pretendo vê-la mais vezes e que fora dos
Estados Unidos o risco de ser reconhecido é menor, acho válido.
Consigo ouvir a risada de Luke.
— Você elevou muito o nível da garota, nunca mais ela vai querer
sair com qualquer um…
Pensar em Sarah saindo com outro cara me traz um gosto muito
amargo à garganta, tão amargo que esse macarrão desce péssimo agora.
Eu sei que não tenho direito algum sobre ela, mas mesmo assim…
— Bom, preciso desligar. Tenho um jantar para ir agora. Vai me
atualizando sobre essa viagem, ok?
— Está certo. E obrigado, Luke. Por sempre apoiar minhas loucuras.
— É para isso que servem os irmãos. Boa noite!
Despeço-me dele e encerro a ligação, voltando a comer calmamente
sozinho.
É bem louco pensar no que estou prestes a fazer, mas não poderia
estar mais perto do que quero.
Ficar um tempo com Sarah longe de todo o mundo me parece uma
ideia incrível.
Mal posso esperar.
Capítulo 18 - Hunter

SEGURO A MÃO DE SARAH para ajudá-la a subir no jato contratado


para nos levar ao nosso destino. Percebo em seu semblante um
deslumbramento que me faz sorrir orgulhoso.
Proporcionar essas coisas para ela me deixa bastante feliz.
Tornou-se uma das minhas coisas favoritas, nos últimos tempos,
sendo franco.
— Ai, meu Deus… Isso é mesmo real? — Ela suspira ao se
acomodar ao meu lado e eu rio baixo.
— É, sim… Em algumas horas chegaremos ao nosso destino.
Algumas, eu estou sendo bem modesto, porque dá quase doze horas
de voo. Mas eu nem mesmo me importo, porque estar aqui com ela já vale
todo o sacrifício.
— Vamos chegar lá a que horas mesmo? — indaga ao se sentar ao
meu lado e nos aconchegarmos para começar a viagem.
— Por volta de dezenove horas — falo e ela solta um assobio.
Ainda é bem cedo, quase sete horas da manhã, mas sei que vai valer
a pena.
— Que loucura… — murmura e eu rio.
— Vai valer a pena — garanto-lhe. — Mas se te deixar mais
confortável saber para onde estamos indo, eu posso te contar. Não me
importo em estragar a surpresa.
Mas Sarah me encara com um sorriso travesso.
— Eu confio em você, Hunter. Mesmo que esteja morrendo de
curiosidade, prefiro esperar. Sei que está preparando algo incrível para hoje.
E estou mesmo.
— Obrigado, Sarah. Tenho certeza de que não vai se arrepender.
Beijo sua testa com carinho e logo começam os procedimentos para
decolagem. Brian passou as instruções para a equipe tripulante não contar o
destino, então o comandante conversa conosco, mas não diz para onde
estamos indo.
Quando a aeronave atinge a altitude máxima da viagem, eu tiro o
cinto de segurança e abro os braços para que Sarah se acomode em meu
peito, então a ouço suspirar.
— Se quiser tirar um cochilo — murmuro, acariciando seus cabelos.
— Temos tempo e eu sei que você acordou bem cedo.
Sarah sorri, fechando os olhos e se aninhando em mim.
Aqui, parado, fico vendo-a relaxar e pensando na sorte que tenho de
tê-la conhecido.
Sarah foi uma grata surpresa em minha vida e espero que, mesmo
depois de toda essa brincadeira de namoro de mentira, ainda possamos ser
bons amigos.
De uma forma ou de outra, quero tê-la sempre comigo.

Quando a aeronave toca o chão, Sarah ergue o pescoço, tentando


entender onde estamos. Mas, como já é noite e estamos dentro de um
aeroporto, não é possível enxergar muita coisa.
— Já chegamos? Ou é só uma escala? — pergunta, com um brilho
no olhar.
— Chegamos — respondo e seu sorriso se torna gigante. — Mas…
— Faço uma pausa dramática e busco uma venda que deixei guardada ao
meu lado. — Vou precisar te vendar.
Ergo o tecido preto e ela me olha curiosa.
— Mas quanto suspense, Sr. Mistério…
Eu rio de ouvi-la me chamar assim.
— É só mais um pouquinho, confia em mim?
Acaricio seu rosto e lhe dou um selinho.
— Você sabe que eu confio — diz sem pestanejar.
Ah, ela que não sabe o quanto isso significa para mim…
— Então, me permite?
Estendo a venda e ela assente, então cubro seus olhos, conferindo se
não está enxergando alguma coisa.
Com tudo certo, eu me levanto e conduzo-a pela mão para fora da
aeronave, onde um carro alugado nos espera, o motorista nos levará ao local
combinado.
Enquanto as ruas de Santorini ganham vida ao meu redor, meu
coração começa a se acelerar em expectativa pelo que está por vir.
Será que ela vai gostar?
Imagina fazê-la viajar por tantas horas para que ela não goste?
Balanço a cabeça, reprimindo-me.
Não posso nem pensar numa coisa dessas.
Quando o carro estaciona diante do hotel, eu sinto um frio na
barriga.
— Chegamos — anuncio, beijando sua testa.
— Já posso ver?
— Ainda não.
Salto do carro e dou a mão a ela, ajudando-a a descer.
O motorista desce com nossa bagagem e nos acompanha até a
recepção, onde pego as instruções para o nosso jantar.
Com todo cuidado para que Sarah não caia, eu a conduzo pelas
escadas até o último andar, onde teremos o nosso momento sozinhos ao ar
livre.
Quando a mesa perfeitamente posta nos surge, diante da visão do
mar, eu sinto um orgulho no peito por ter ficado incrível.
Porra…
Este lugar à noite é mesmo lindo.
Levo Sarah até o parapeito e toco seu rosto com carinho.
— Preparada? — pergunto e ela balança a cabeça devagar.
— Me mostre o que você planejou para mim, Hunter.
Com cuidado, coloco-a de frente para o mar e retiro sua venda,
vendo-a piscar os olhos devagar antes de abri-los.
Sarah encara todo o ambiente ao nosso redor, completamente
fascinada, sem dizer uma única palavra.
Acompanho seu olhar e sei exatamente o que ela está vendo.
Ainda que sob a luz da lua, conseguimos ver o azul do mar e a
imensidão do oceano à nossa frente. As ondas se quebrando a margem, o
som que ecoa delas…
É indescritível.
As diversas construções brancas sobre a montanha na ilha são um
charme a parte, todas iluminadas, de frente para o mar.
São vários hotéis e restaurantes construídos aqui. Em alguns
conseguimos ver piscinas, em outros, mesas de jantar, flores, velas…
É uma atmosfera simplesmente incrível.
Diferente de tudo o que eu já vi.
É lindo…
E como estamos no ponto mais alto, temos uma visão ainda mais
ampla da paisagem ao nosso redor.
As escadarias brancas, algumas árvores com flores coloridas, a
iluminação quente que desponta a cada construção. A ilha de Santorini
parece ter sido construída a dedo sobre a rocha, compondo uma paisagem
incrível.
Eu nunca vi nada igual.
— Hunter… — Ela suspira, encarando tudo antes de se virar para
mim. — Estamos… É aqui mesmo que estamos?
Solto uma risada baixa.
— Estamos na ilha de Santorini, na Grécia — digo, tocando seus
cabelos com carinho e jogando-os para trás.
— Meu Deus, Hunter. — Ela ainda parece em choque, olhando tudo
debaixo de nós. — Grécia? Isso… Uau…
— Pensei que Paris pudesse ser muito clichê — explico. — E
sempre tive vontade de conhecer esta ilha, então pensei… Por que não?
Os olhos de Sarah brilham de um jeito tão lindo, que me leva a crer
que fiz a coisa certa.
Esse sorriso dela, esse brilho no olhar…
Faz todo meu esforço valer a pena.
— Devo deduzir que gostou? — indago e ela me abre um sorriso
lindo, corando as bochechas de leve.
— Se eu gostei? Você me trouxe para jantar na Grécia! Na Grécia,
Hunter! — dispara e eu rio.
— Foi muita loucura, né?
— Foi, sim — concorda, rindo baixo. — Mas a melhor loucura da
minha vida…
Ela se aconchega em meu peito e eu a envolvo com os braços,
beijando seus cabelos com carinho.
— Estou feliz por estar aqui com você — digo a ela, sendo mais
uma vez tomado por aquela sensação boa como todas as vezes que está
comigo. — Agora vamos jantar? Aposto que está com fome.
— Muita!
Sinalizo para o garçom ao longe enquanto puxo a cadeira para Sarah
se sentar de frente para mim.
Daqui temos a vista perfeita de toda a ilha, dando um visual incrível
para esta noite.
Pelas fotos eu já sabia que era lindo, mas nada se compara a vir
pessoalmente…
É inexplicável.
— Posso te confessar que é a primeira vez que saio da América? —
indaga logo que somos servidos de um vinho típico da Grécia.
Degusto a bebida e sorrio ao aprovar o sabor.
— É mesmo?
Ela assente, beliscando a entrada que nos foi servida.
— Assim como andar de iate, de helicóptero… Você está me
proporcionando muitas primeiras vezes, Sr. Mistério.
Rio baixo desse apelido, mas gosto do efeito que causa em mim.
— Eu posso ter tido alguma dessas experiências antes, mas nada se
compara a vivê-las com você.
Sua face se enrubesce mais e eu acho isso bem fofo nela.
Nosso jantar é seguido de forma tranquila, Sarah me conta um
pouco sobre sua família e as viagens que já fez com eles, até mesmo alguns
relatos de infância. Percebo que é um ambiente bem animado, que se
encontram com frequência e que ela teve uma ótima estrutura familiar.
Não me espanta, já que é uma mulher extremamente doce e gentil.
Seus pais devem ser pessoas maravilhosas, por sinal.
Eu não me lembro de quando tive uma conversa tão leve com
alguém, de me sentir tão à vontade, como sinto quanto estou com ela.
É como se uma parte daquele Hunter seguro voltasse à tona quando
ela está comigo.
E, ainda que isso me assuste um pouco, gosto dessa minha versão.
Gosto de quem eu sou quando estou ao seu lado.
Nós perdemos a noção do tempo e só percebo que já está tarde
quando o pessoal do hotel avisa que precisa fechar a cobertura.
Pegando a mão de Sarah, conduzo-a pelas escadas até o andar onde
está o nosso quarto.
Para sua privacidade, pedi a Brian que reservasse uma suíte com
dois quartos, para que ela possa dormir à vontade esta noite. Amanhã bem
cedo viajaremos de volta para Los Angeles, como prometido.
Uma pena que não possamos ficar mais para curtir o lugar, sei que a
Grécia tem pontos incríveis, mas esse não era o intuito hoje. Eu só queria
proporcionar a ela mais uma de nossas noites inesquecíveis.
Tiro a chave do bolso para abrir a porta e, ao acender a luz, a visão
me congela.
A imensa e luxuosa suíte não tem dois quartos, como pedi.
Com dois ambientes, ela possui uma sala espaçosa, com uma
varanda que dá vista para o mar e uma porta ao lado que nos leva ao quarto
com uma enorme cama de casal.
Apenas uma cama de casal.
Ah, que merda…
Só tem uma cama.
Isso tudo me pega de surpresa, porque não quero que ela pense que
quis me aproveitar da situação. E, mais ainda, não sei como seria dormir
com ela.
Nunca me despi perto de ninguém, nunca mostrei grande parte do
meu corpo…
Eu vivo em uma confusão mental desde que Sarah entrou em minha
vida. A vontade de ser o Hunter antigo e tê-la por inteiro para mim e o
receio de me abrir por completo com a primeira pessoa depois de tudo…
Ah, caralho…
— Sarah… — Viro-me para ela, com o semblante franzido, mas a
sua expressão é curiosamente tranquila. — Me desculpe por isso. Eu pedi
para reservar a suíte com dois quartos separados, deve ter ocorrido um erro.
Vou ligar para a recepção e…
— Espera, Hunter. — Ela toca o meu braço devagar, impedindo-me.
— Já está tarde, não vamos criar um problema agora.
— Mas…
— Eu sei que você foi todo cuidadoso ao pensar no meu bem-estar,
e te agradeço muito. Mas aconteceu, então não se preocupe com isso, ok?
Sei que não foi sua culpa.
Engulo em seco, ainda receoso, e ela beija meus lábios com carinho.
— Essa noite já foi perfeita em diversos níveis, Hunter. Não vamos
nos preocupar agora.
— Posso dormir no sofá — sugiro e ela nega.
— Depois a gente vê isso. Quero tomar um banho agora.
— Claro…
Eu a ajudo a pegar sua bagagem e, antes que ela vá ao banheiro, se
aproxima de mim, erguendo os cabelos com as mãos.
— Pode me ajudar com o vestido? — pergunta com a voz doce.
Mas eu já sinto um frio na barriga só por pensar…
— Claro.
Sarah se vira de costas para mim e me revela a nuca descoberta.
Com todo o cuidado, alcanço o zíper e desço pelas suas costas
lentamente, sentindo sua pele quente arder contra a minha.
Caralho…
Essa proximidade…
Esse cheiro.
O calor que emana dela.
Tocar sua pele macia, ainda que de resvalo, faz com que meu
coração se acelere e meu pau dê sinal de vida dentro das calças.
Porra…
Aquela vontade de tê-la por inteiro volta com tudo, me deixando um
tanto agitado por aqui.
— Prontinho.
Pigarreio e dou um passo para trás, vendo Sarah me agradecer,
segurando o vestido no peito para ir ao banheiro.
Bufo, coçando a barba e sentindo uma sensação de adrenalina
diferente nas veias logo quando ouço o barulho do chuveiro sendo ligado.
Cacete…
Não vai ser uma noite fácil tendo Sarah comigo neste quarto,
sentindo seu cheiro, seu calor…
Quanto mais penso, mais duro eu fico e não sei se isso é uma coisa
boa.
Já faz tanto tempo que…
Porra, eu quero muito.
Quero mesmo.
Mais do que a minha racionalidade permite querer.
Mas não sei se ela quer, não sei como ela me vê…
Levanto-me da cama e abro a minha mala, separando a roupa,
enquanto espero por Sarah.
O tempo parece demorar uma eternidade e, quando ouço o barulho
da porta se abrindo e ergo os olhos, a visão que eu tenho me faz engolir em
seco.
Caralho…
Com os cabelos presos em um coque, vestindo um roupão branco do
hotel, vem Sarah, exalando seu perfume e com uma boa parte das pernas
descobertas.
Ah, porra…
Essa mulher quer me matar, só pode.
Se eu estava à beira do precipício, vê-la desse jeito é o empurrão
que me faltava.
Aceno e passo por ela, entrando no chuveiro também. A água quente
que cai pelo meu corpo não acalma o coração.
Muito menos o meu pau.
Porque agora não paro de imaginá-la por baixo daquele roupão.
A pele quente, macia…
Cheirosa…
Deve ser pelo tempo que não transo com ninguém, ou por ser
simplesmente a Sarah, a mulher mais sexy e gostosa que já conheci, mas o
fato é que estou ficando maluco.
Desde o nosso último jantar, quando nos beijamos pela primeira vez
e as coisas ficaram mais quentes entre nós dois, eu não canso de pensar
nisso.
Em como seria tocá-la, senti-la, beijar todo o seu corpo.
Ê, caralho…
Termino o banho e desligo a ducha, puxando a toalha para me secar.
Penso em me vestir, mas então vejo um roupão sobre a bancada e decido
seguir a mesma ideia de Sarah.
Corro a mão pelo espelho, desembaçando o vapor e a imagem que
me surge já não é tão assustadora.
Se fosse outra mulher, certeza que eu não me sentiria assim. Mas
Sarah nunca me olhou diferente, nunca sentiu pena de mim e eu já a peguei
diversas vezes me encarando, reparando em meu corpo.
Sarah faz com que eu tenha uma coragem que eu nunca tive antes,
porque com ela é diferente.
Eu sinto que posso me abrir com ela, que posso ser eu mesmo.
Corro as mãos pelos cabelos soltos, ajeitando os fios, pensando no
que me espera lá fora.
É inevitável que eu esteja um pouco nervoso, mas também estou
sedento pra caralho.
Saio do banheiro e encontro Sarah sentada na cama, distraída
mexendo no celular.
Mas as pernas cruzadas, mostrando ainda mais de suas coxas é que
me tiram o juízo.
Se eu precisava de um incentivo, de qualquer sinal…
Se eu tinha dúvidas do que eu quero, todas elas foram por água
abaixo agora.
Porque eu quero tanto essa mulher, tanto que chega a doer cada
célula do meu corpo.
E é movido por esse desejo que vou até ela.
— Hunter…
Sua voz morre quando eu avanço sobre ela, beijando-a de um jeito
tão afoito, tão sedento, que chego a derrubá-la na cama.
Sarah ri de minha brusquidão, mas logo corresponde ao meu
desespero, puxando meus cabelos e me trazendo para mais perto dela,
fundindo-me, engolindo-me com seu calor.
— Porra… — murmuro ao descer pelo seu pescoço e mordiscar ali,
sentindo aquele cheiro doce me invadir.
Deixo o desejo me guiar e decido não pensar demais. Foco minha
mente só no aqui, agora.
Com essa mulher deliciosa debaixo de mim.
— Esse seu cheiro… — rosno, cravando os dentes nela, e a vejo
arfar.
— Hunter…
Corro a língua por toda a sua pele até alcançar o seu ouvido.
— Ainda quer curtir este momento sem pensar demais? —
proponho, sentindo meu coração esmurrar o peito.
Eu sei o que quero.
Porra, eu a quero.
Quero pra caralho.
E se ela não me parar agora…
— Eu quero, Hunter. Eu quero tudo.
Afasto-me só para ver o desejo refletido em seus olhos e avançar
sobre ela.
Porra, deliciosa.
Minha boca desce até o seu decote e o movimento faz o roupão se
abrir de leve, revelando um seio seu.
Ah, caralho…
Eu me descontrolo sobre ela, o desejo latente correndo em cada
célula do meu corpo, sedento por ela.
Não resisto e corro a língua por seu mamilo, chupando e sugando,
ouvindo-a gemer alto.
— Isso…
Ergo-me apenas o bastante para abrir mais o roupão e revelar o par
de seios mais gostosos que já vi.
Redondos, pesados, de bicos rosados e com algumas pintinhas pelo
caminho.
Ah, mas que porra…
Caio de boca neles, chupando, lambendo e esfregando a barba por
cada um, arranhando a sua pele. E, a cada movimento meu, Sarah geme
mais, se desespera mais contra mim.
Uma onda de calor me toma de um jeito que eu chego a transpirar
dentro deste roupão, louco para tirar e me afundar dentro dela, mas vou com
calma.
Quero provar esta mulher sem pressa alguma.
— Ai, Hunter… — choraminga e eu não alivio, mamando gostoso
em cada um deles.
Deliciosa demais.
Minha boca não desgruda dela, quando desço a mão pelo seu corpo
e encontro o nó do roupão, onde desamarro com cuidado.
E, ainda que eu não possa vê-la, percorro toda a sua pele com a
minha mão, sentindo-a se arrepiar com meu toque. Meus dedos correm toda
a extensão de sua perna, brincando com a virilha, sem avançar.
E essa tortura gostosa, o movimento lento e calculado, parece a
enlouquecer.
Sarah geme descontrolada e eu paro de chupá-la apenas para erguer
os olhos para ela e encontrar seu rostinho corado, inebriado de prazer.
— Está gostoso? — indago, sugando a pontinha do mamilo.
— Ai, nossa… Muito…
Sorrio em sua pele, descendo a boca em seu corpo, até encontrar a
boceta lisinha, fazendo-me salivar.
Puta que pariu.
Corro o nariz por sua carne, inspirando seu aroma, que é tão doce
quanto ela.
— Como será que eu vou encontrar sua boceta, Sarah? — murmuro,
raspando a barba em seu sexo.
— Oh… — ela responde em um gemido.
Abro seus lábios e corro um dedo devagar por eles, vendo-a gemer
alto.
— Porra… Molhadinha assim para mim?
Fricciono os dedos com mais força agora e ela se contorce em
minha mão, rebolando desesperada, fazendo-me sorrir.
Não resisto e lambo devagar, minha língua percorrendo toda a sua
extensão e provando seu sabor.
— Deliciosa… Caralho, Sarah.
Minha língua faz um vai e vem devagar pela sua carne, vendo Sarah
se esfregar cada vez mais em mim, desesperada.
Mas eu rio.
Porque não tenho pressa alguma.
Não quando finalmente tenho sua boceta gostosa em minha boca.
Quero desfrutar de tudo o que vem dela com bastante calma, já que
temos toda a noite para isso.
Mordo a pontinha do clitóris e continuo lambendo-a, chupando,
correndo a língua devagar.
Eu me deleito de Sarah.
Eu me farto de sua boceta gostosa.
Seu cheiro doce, seu gosto delicioso.
Porra.
— Ai, Hunter…
Quando Sarah agarra meus cabelos com força, se esfregando em
mim, eu sei que está à beira de gozar.
Continho chupando-a com tudo que há de mim, afundando o rosto
em sua carne e lambendo com tudo, sugando, mordendo e devorando sua
boceta até a primeira onda de tremores a invadir.
— Ai, caralho — ela geme alto, gozando, tremendo, se
convulsionando abaixo de mim, e eu não paro até sugar a última gota dela.
Ao acabar, ergo-me e lambo os lábios, vendo-a me encarar com um
sorriso safado no rosto.
Aquela carinha de que teve um orgasmo delicioso.
Eu ainda estou absorvendo seu gosto quando ela se senta na cama e
toca o meu roupão.
E esse movimento faz com que minha respiração pese.
— Tudo bem se eu te vir? — pergunta com cuidado.
Consigo ver o desejo em seus olhos, mas também vejo sua
preocupação, seu zelo comigo.
E isso faz com que eu quebre todos os meus receios com ela.
Então assinto, olhando fixo em seus olhos.
— Tem alguma parte que não posso tocar em você? — indaga e eu
sinto mais um frio na barriga.
— Só não olhe demais para as tatuagens — peço e ela assente
devagar.
Não quero que ela veja o que está por trás de todas elas.
Ainda não me sinto pronto para isso.
Quando a mão de Sarah toca o nó do meu roupão, ela deixa a peça
escorregar pelo meu corpo e noto um semblante de surpresa passar por ela.
Este que é seguido de um fascínio.
Uma admiração.
Nossa…
— Caramba, Hunter — murmura me comendo com os olhos,
devagar. —Você é lindo…
Ainda que repare em meu corpo, ela não se demora nos detalhes,
não se fixa em nenhuma cicatriz por trás das tatuagens, o que só me faz
ficar ainda mais duro por ela.
É uma onda de alívio com excitação.
Meu pau vira um porrete e isso parece chamar sua atenção.
Os olhos descem em direção ao meu cacete e ela lambe os lábios
devagar.
— Que pau de respeito, hein? — solta e eu gargalho.
Incrível como consegue aliviar a tensão, parecendo saber
exatamente do que eu preciso.
Todo o receio de antes, toda a hesitação…
Vão embora e trazem aquele Hunter de volta.
— São vinte e dois centímetros, baby — digo, masturbando-me, e
seus olhos brilham.
— Vinte e dois? — indaga, lambendo os lábios devagar.
— Mas não se preocupe, eu não vou machucar você. Pelo
contrário…
Seus olhos faíscam e ela não resiste a tocar o meu cacete,
arrancando-me um gemido.
— E ainda tem um piercing… — conclui e eu gemo mais ao senti-la
apertando meu membro em suas mãos.
— Quer experimentar? — ofereço, sentindo a boca salivar e ela
apenas assente, ainda me olhando com aquela carinha de safada.
Em um pulo, eu me levanto da cama e o roupão cai ao chão.
Fico completamente nu à sua frente, prestes a avançar, quando me
lembro de um detalhe.
O burro aqui não trouxe preservativo.
Ah, caralho.
Faço uma careta e ela franze o cenho para mim.
— O que foi?
— Não trouxe camisinha — respondo, puto comigo mesmo.
— E você achou que eu ia querer usar uma tendo isso aí?
Aponta para o metal na cabeça do meu pau.
Estreito os olhos para ela.
— Se confiar em mim, eu tomo pílula e nunca…
Solto um rosnado e a calo, avançando sobre ela e derrubando-a de
volta na cama.
O movimento brusco tira-lhe uma risada, que engulo com um beijo
afoito, enquanto minha mão desce pelo seu corpo, até encontrar a sua
virilha.
Sei que sua boceta está sensível pelo orgasmo, então quando meu
piercing toca seu clitóris, ela geme alto, gostando da sensação.
E seus gemidos só me deixam maluco de tesão por ela, doido por
mais.
— Ai, Hunter… — grunhe e eu continuo torturando-a, esfregando o
metal gelado nela, que se contorce por mim.
— Gostoso, né?
— Muito — responde, manhosa. — Mas, por favor…
Rio de seu desespero ao me agarrar, e ela me puxa para mais perto,
doida para me dar.
— Já quer que eu te coma, baby?
A resposta é um gemido, eu posiciono meu pau e meto dentro dela,
sentindo seu calor me abraçar.
Ca-ra-lho…
Eu sei do meu tamanho, sei do estrago que causo, por isso vou
devagar, mas me contendo pra cacete, porque essa mulher é gostosa demais.
Tão quente e apertadinha.
Chega a ser um absurdo.
Uma gota de suor escorre pelas minhas costas quando chego ao
fundo e toco o seu rosto, para me certificar de que não a machuquei.
— Tudo bem aí? — indago e ela me abre um sorriso travesso.
— Vem me comer, Hunter.
Ah, safada.
Solto um rosnado ao tirar meu pau inteiro e meter fundo nela de
uma só vez, arrancando gemidos de nós dois.
Puta que pariu.
Meu calor contra o dela.
Essa conexão…
Certeza que eu nunca senti, nem de longe, nada assim.
— Boceta gostosa demais, Sarah. Puta que pariu — rosno, metendo
mais forte agora, vendo-a gemer a cada estocada minha.
— Porra, Hunter… — a voz safada é a minha perdição.
E eu só aumento o ritmo, macetando sem dó.
Mantenho uma das mãos firme em sua cintura e a outra sobe até o
seu pescoço, onde a prendo, fixando seu olhar no meu enquanto esfolo sua
boceta com meu pau.
A carinha de satisfação dela, o olhar de desejo, o sorriso safado só
me incentivam a continuar.
Meto tão forte nela que a cama bate na parede, o barulho ecoando
por todo o cômodo, e penso que todos devem estar nos ouvindo, mas estou
pouco me fodendo.
Na verdade, estou fodendo, sim.
Fodendo pra caralho essa gostosa à minha frente.
Quando saio de dentro dela, Sarah franze o cenho e eu apenas viro o
seu corpo em um movimento, colocando-a de costas para mim.
— Abre essa bunda pra mim — peço e ela o faz, escancarando as
pernas e me dando uma visão deliciosa.
Porra…
Embolo seus cabelos em minhas mãos, que já se soltaram pelo
atrito, e a faço me olhar de lado enquanto eu maceto sua boceta por trás.
Sarah afunda o rosto no travesseiro, gemendo e emitindo uns sons
desconexos que deveriam ser crime, de tão gostosos de ouvir.
— Isso, Hunter…
— Gosta assim? — pergunto, dando um tranco em seus cabelos e
ela acena, gemendo enquanto eu meto bruto demais.
— Esse piercing… — murmura e eu rio, sabendo o que ela está
sentindo.
O contraste do metal gelado ao calor de nossos corpos deve ser uma
coisa do caralho mesmo.
Quando ela desce a mão para tocar a boceta enquanto eu continuo
fodendo, acelero meu ritmo, ajudando-a para o que está buscando.
Deliciosa.
— Já quer gozar, baby?
Continuo metendo bruto nela, que fricciona os dedos cada vez mais
rápidos em seu clitóris.
— Hunter, eu…
— Então goza comigo, que eu vou esporrar em você.
A sua resposta é um gemido alto quando a primeira onda de
tremores a atinge, levando-me junto ao abismo.
— Caralho!
Gozo junto com ela, sentindo meu corpo inteiro tremer ao encher
sua boceta de porra.
Puta que pariu.
Saio de dentro dela e caio deitado ao seu lado, ofegante, cansado,
suado, e terrivelmente saciado.
Definitivamente, eu nunca senti nada assim.
— Caramba… — ela murmura e eu me viro de lado, sorrindo ao vê-
la recobrar a respiração, ainda mais relaxada do que eu.
Os cabelos loiros espalhados pelo travesseiro, o rostinho corado e o
corpo suado.
Deliciosa.
— Gostou do piercing? — pergunto e ela ri baixo.
— Nossa… Sem palavras.
Rio pela forma como suspira.
— Eu te machuquei?
Franzo o cenho, correndo os olhos pelo seu corpo, mas ela nega.
— Você é realmente enorme, mas sabe usar seu instrumento.
— Instrumento? — indago, caindo na risada.
E ela não resiste, juntando-se a mim.
— Você entendeu…
Balanço a cabeça, assentindo, gostando dessa química gostosa entre
nós.
Nada de momento constrangedor pós-sexo, nada de clima
esquisito…
Só aquela sensação de ser certo pra caralho estar aqui com ela.
— Obrigada por confiar em mim — sussurra e eu fixo meu olhar no
dela.
Inclino-me para beijar seus lábios devagar, correndo a língua por
cada canto dela, tomando para mim todo o seu calor.
— Você me deu a melhor noite da minha vida, Sarah — murmuro,
beijando-a mais uma vez.
Por um momento, eu apenas saboreio seus lábios, com calma,
mostrando a ela o quanto é não só deliciosa, mas especial para mim.
Especial para caralho.
Espero que ela tenha noção disso.
— Acho que podemos dormir — sugiro, correndo os dedos pelo
braço dela. — Amanhã acordamos bem cedo para ir.
— Ainda quer dormir no sofá? — provoca e eu nego de pronto.
— Só se você não me quiser aqui…
— O quê? Um homem de quase dois metros de altura, todo tatuado,
com um pau de vinte e dois centímetros que ainda tem um piercing? Está
me zoando, né?
Solto uma risada alta.
— Dizendo assim, quase me sinto um objeto sexual — brinco e ela
sorri.
— Se esse objeto me der orgasmos incríveis…
— Serei seu objeto com todo prazer.
Pisco para ela, que sorri.
— Vem.
Abro os braços para que se acomode em meu peito e, logo que ela se
aconchega, eu beijo seus cabelos com carinho.
— Durma bem, baby.
Ela se aninha mais, sorrindo em minha pele.
— Boa noite, Hunter.
Estico a mão e apago as luzes do quarto, sendo levado para uma das
melhores noites de sono.
De toda a minha vida.
Capítulo 19 - Sarah

— SARAH…
Ouço uma voz ao longe, mas ainda não consigo identificar se é real.
Está tão gostoso aqui, tão bom…
— Baby… Acorda.
A voz grossa é mais forte agora e eu consigo sentir o toque nos
cabelos, fazendo-me despertar.
Abro os olhos devagar e tenho a visão mais linda do mundo.
Hunter sentado na cama, os lençóis embolados na cintura, e o
peitoral nu à mostra.
O corpo todo tatuado, desde o pescoço, braços, peito…
Ele é lindo.
Parece uma obra de arte esculpida pelo artista mais talentoso do
mundo.
Os cabelos ondulados caem sobre os ombros e o sorriso que ele me
abre faz meu coração errar uma batida.
— Oi… — procuro a minha voz e ele ri mais.
— Bom dia… Dormiu bem?
Suspiro alto e ele solta uma risadinha.
— Eu sei, eu também dormi assim. Se não fosse pelo nosso voo,
passaria a manhã inteira aqui na cama com você.
— Que horas são? — pergunto, sentando-me e esfregando os olhos
devagar.
O movimento faz o lençol escorregar pelo meu corpo, revelando
meus seios nus. Automaticamente o olhar de Hunter desce até eles, e sua
língua corre devagar pelos lábios.
— Seis e meia. Nosso voo sai em uma hora — explica e eu assinto,
espreguiçando-me.
— Dá tempo de um banho então, né?
— Claro. O café da manhã já chegou, inclusive.
Ele aponta para a mesa no outro cômodo e eu assinto.
— Não vou demorar.
Afasto os lençóis e me coloco de pé, completamente nua, e a forma
como Hunter me devora com os olhos me faz sorrir orgulhosa.
Sei que não vou resistir a transar com ele de novo, mas preciso
realmente de um banho revigorante primeiro.
Sigo até o chuveiro, onde tomo um banho relaxante e pego outro
roupão do hotel, sorrindo ao me ver no espelho.
Não me lembro de quando me senti tão completa, tão saciada
assim…
Hunter me deu uma noite inesquecível quando me trouxe para a
Grécia, mas o que rolou depois…
Nunca terei palavras o suficiente para descrever.
Seu cuidado comigo, a forma como me proporcionou prazer e o
quanto venerou o meu corpo.
Nunca senti nada igual e quero muito repetir.
Preciso ter mais desse homem.
Sinto que das próximas vezes será ainda melhor, com ele cada vez
mais solto comigo.
Saio do banheiro e o encontro sentado à mesa de café, esperando-me
apenas de cueca.
Uma boxer preta que não faz nenhum esforço para esconder o pau
enorme que abriga lá dentro.
Que, por sinal, faz maravilhas.
Com aquele piercing então…
E falando no acessório, notei que ele também tem nos mamilos,
além dos que tem na orelha e nariz.
Não tem jeito.
Hunter Crawford, de fato, é o homem mais gostoso que já vi.
— Eu acho que vou desmaiar nesse voo de volta — brinco,
sentando-me ao seu lado e aceitando a xícara de café que ele me oferece.
— Pode dormir à vontade, eu sou todo seu.
Aponta para si, sorrindo, e eu sinto aquele quentinho no peito.
Hunter não deve ter ideia do quanto é atencioso, carinhoso e gentil.
Além de delicioso e bom de cama.
Bom, não.
O cara tem uma pegada surreal de tão boa.
— Vou me lembrar disso.
Pisco para ele e tomamos o café tranquilamente, mas o tempo todo
ele me encara daquele jeito que eu o encaro.
Daquele que diz que está louco para me comer de novo.
E eu seria maluca se negasse isso.
Porque, só de lembrar da nossa noite de ontem e do que esse homem
é capaz de fazer comigo, eu já fico toda molhada.
Ao terminar de comer, levanto-me e me sento no colo dele,
encaixando minhas pernas ao redor das suas.
— Estamos com o tempo muito contado ou ainda temos alguns
minutinhos? — pergunto, correndo os dedos pela sua barba devagar.
Os olhos de Hunter faíscam quando suas mãos descem até a minha
cintura, dando um apertão.
— O voo é nosso, baby. Não tem problema se nos atrasarmos um
pouquinho…
Ah, como eu amo que ele me chame assim.
É sexy.
E carinhoso.
Tudo ao mesmo tempo.
Desço a mão e desfaço o nó do meu roupão, revelando os seios, que
eu percebi serem a sua perdição.
Hunter rosna antes de segurar os dois em suas mãos, apertando e
esfregando os mamilos.
— Ai, Hunter… — minha voz sai seca ao senti-lo me esfregar ali,
gostoso demais.
— Seus peitos são gostosos pra caralho — murmura, umedecendo
os lábios antes de correr a língua devagar por eles.
Fecho os olhos, jogando a cabeça para trás, e sinto as costas baterem
na mesa atrás de nós, enquanto Hunter me percorre com sua língua quente,
saboreando-me daquele jeito só dele.
— Você inteira é gostosa — diz, cravando os dentes em um mamilo
e sugando devagar. — Mas esses peitos…
Então ele me abocanha, enfiando o máximo que consegue na boca, e
eu gemo alto ao senti-lo se deliciar em mim.
Sempre senti muito prazer nos seios, mas a forma como Hunter me
chupa é diferente…
Quase me faz gozar só assim.
Eu começo a rebolar nele, sentindo sua ereção debaixo da cueca,
enquanto continua mamando e devorando meus peitos.
Uma onda de calor me apossa e esse roupão se torna quente demais,
então termino de arrancá-lo do corpo, enquanto Hunter não para de me
chupar.
Enfio a mão em seus cabelos, sentindo os fios macios, guiando-o de
um peito a outro, que amassa em suas mãos.
— Hunter… — suplico, vendo-o esfregar a barba em minha pele,
trazendo aquela ardência gostosa. — Se continuar assim, eu vou gozar…
E então ele para, olhando-me safado.
— Vai não, baby. Vai gozar no meu pau.
Meus olhos brilham e eu desço a mão até sua cueca, tocando o cós e
descendo apenas o suficiente para libertar seu membro.
O pau duro pulsa em minha mão, eu percorro todo o caminho das
veias grossas, da cabeça à base, vendo Hunter gemer à minha frente.
— Esse seu pau deve ser uma delícia de chupar — digo, mordendo
o lábio devagar. — Mas agora… — Hunter fixa o olhar em mim, atento aos
meus movimentos. — Agora eu só preciso sentar em você.
Ergo o quadril e Hunter me ajuda a guiar a ereção para minha
entrada, onde eu desço devagar, engolindo-o.
Gememos juntos quando chego ao fundo e sou toda preenchida por
ele.
Por sua grossura, sua potência, seu calor.
Giro o quadril, rebolando de leve, e Hunter geme alto.
— Puta que pariu, Sarah.
— Está gostoso? — pergunto, me lembrando de como fez comigo
ontem à noite.
Eu ainda não avanço, apenas rebolo nele, sentindo-o por inteiro
dentro de mim.
— Porra, baby… Me cavalga, vai… Quica gostoso no meu pau.
Este homem falando assim comigo deveria ser proibido.
Agarro as laterais da cadeira e tomo impulso para subir e descer,
enquanto jogo a cabeça para trás.
Hunter me ajuda, abraçando minha cintura e ditando o nosso ritmo,
que é gostoso demais.
Eu monto nele, subo e desço, rebolando, e a cada acelerada meus
peitos pulam pelo atrito, o que deixa tudo gostoso demais.
Hunter me olha com tanta devoção, com tanto tesão que só me
encoraja a acelerar, indo cada vez mais rápido em busca do nosso prazer.
— Porra… Que delícia ver você assim… Toda gostosa montando
em mim.
Uma das mãos agarra meu peito agora e eu sigo firme, batendo o
quadril contra o dele, sentindo as pernas sofrerem pelo atrito, mas não paro.
Está gostoso demais para parar isto aqui.
— Hunter…
Quando ele desce a mão e toca meu clitóris, eu gemo mais.
— Olha pra mim, baby — pede e eu o faço, encarando seus olhos
cinzentos. — Goza olhando pra mim.
Meu olhar se fixa ao dele enquanto esfrega minha boceta, levando
meu corpo cada vez mais forte contra o dele.
— Hunter! — eu grito, jogando a cabeça para trás e gozando forte
demais.
Daquele jeito que só acontece com ele.
Hunter agarra minha cintura com as duas mãos e impulsiona o
quadril para cima, me fodendo até gozar também, gemendo ao se derramar
em mim.
— Cacete…
Desabo o corpo contra o dele, sentindo o seu suor se unir ao meu.
Minha respiração ainda está pesada, o coração acelerado…
Nossa…
É insano ter esse homem dentro de mim.
— Eu preciso mesmo sair daqui? — resmungo e ele ri, beijando
meu ombro com carinho.
— Eu adoraria ficar, mas você precisa trabalhar amanhã, esqueceu?
Eu me afasto, fazendo um biquinho, e ele ri.
— A vida adulta é tão ruim — reclamo e Hunter ri mais.
— Ah, mas não é mesmo… Se você não fosse adulta, não poderia
foder gostoso assim comigo.
O safado umedece os lábios devagar, jogando aquele charme.
— Você tem um ponto.
— É claro que eu tenho.
Ele afasta meus cabelos agora e beija a minha testa.
— Eu não me oporia a te comer de novo, mas… — Para e belisca
meu mamilo. — Temos que ir mesmo.
Assinto, criando coragem para me levantar.
Quando finalmente o faço, sinto seu sêmen escorrer pela minha
virilha.
Hunter acompanha meu olhar e seu sorriso satisfeito me abraça.
— Pode ir se limpar, a não ser que queira viajar com o cheiro da
minha porra em você.
Esse homem não pode falar essas coisas, juro…
— Isso não é uma ideia ruim.
— Mas eu não disse que era.
Pisca para mim, dando um tapa na minha bunda quando passo por
ele, que me tira uma risada.
Vou até a minha mala pegar minhas coisas, quando paro e olho para
ele.
— Hunter… — chamo e ele ergue os olhos para mim. — Vamos
repetir, não é?
O sorriso que me abre é gigante agora.
Daqueles que aquecem meu peito.
— Acha mesmo que eu vou saber viver sem isso agora?
Balanço a cabeça, sorrindo, e volto a atenção para a mala.
Não sei o que nos aguarda pela frente, mas não quero pensar nisso.
Porque o hoje é muito mais atrativo agora.
Capítulo 20 - Sarah

— ELA CHEGOU! — Claire grita logo que eu abro a porta do


apartamento e dou um pulo de susto, colocando a mão no peito.
— Você ainda vai me matar, juro! — reclamo e ela me ignora,
puxando-me para um abraço forte.
— Eu estava aqui contando as horas para você chegar! — Suspira.
— Eu quero TODOS os detalhes, Sarah! Absolutamente todos!
Ela bate palmas de empolgação e eu rio.
— Me deixa só pegar um copo de água.
Largo a mala de rodinhas e minha bolsa no canto do apartamento.
Tiro os tênis, chutando para o lado e agradecendo mentalmente ao colocar
os pés direto no chão.
A viagem foi simplesmente perfeita, mas nada como voltar para
casa depois de tantas horas em um avião.
Pego um copo de água na cozinha, dou um longo gole e o completo,
voltando para a sala, onde Claire me espera, com uma almofada no colo e
um sorriso empolgado no rosto.
— E então? Como foi a Grécia?
Jogo-me no sofá ao lado dela, colocando meu copo na mesinha de
centro.
Logo que cheguei ao destino, que soube onde estava, mandei uma
mensagem contando e ela ficou bastante eufórica com isso. Prometi lhe dar
mais detalhes quando chegasse em casa.
E cá estamos.
— Eu não pude ver muito de Santorini, né? Porque só ficamos uma
noite. Mas, amiga… Foi incrível. — Solto um suspiro. — Hunter reservou
um hotel no ponto mais alto da ilha, onde tivemos uma visão panorâmica do
lugar e assim… As fotos não fazem jus àquela perfeição.
Seu sorriso se torna gigante.
— Eu só não tenho inveja porque é você, minha melhor amiga. E
merece tudo o que Hunter está fazendo por você.
Eu sorrio, pegando sua mão na minha.
— Nossa… O jantar foi maravilhoso. Nós passamos a noite inteira
conversando, comendo comida boa, bebendo vinho, a gente só percebeu
que estava tarde porque o pessoal do hotel nos convidou gentilmente a ir
para o quarto.
Solto uma risada e ela me acompanha.
— E, Claire… Hunter é tão incrível. A cada dia que eu conheço
mais dele, meu carinho aumenta, sabe? Ele é um ser humano maravilhoso,
de um coração lindo. E a gente criou uma conexão muito boa, nem parece
que há doze anos de diferença entre nós dois…
E essa parte me surpreende muito.
Quando Hunter me disse que tem trinta e oito anos, fiquei realmente
sem acreditar, não só porque o físico não aparenta, mas porque não senti
essa diferença entre nós dois.
Talvez, para outras pessoas, isso fosse um empecilho, mas aqui não
é. Hunter nem mesmo me olhou diferente quando soube que eu tenho
apenas vinte e seis.
— E depois do jantar? — Seus olhos brilham ao perguntar.
— Daí fomos para o quarto que ele reservou para nós dois. Seria
uma suíte com dois dormitórios separados, para termos privacidade, mas
acho que o pessoal do hotel errou.
— Não brinca…
— Quando Hunter abriu a porta, demos de cara com uma cama só.
Uma enorme cama de casal.
— Ai, meu Deus!
— Tadinho, ficou todo sem graça, queria reclamar e eu tratei de
tranquilizá-lo. Eu vi que realmente se esforçou para me deixar confortável,
sem cruzar um limite, mas não foi culpa dele. E não vou te dizer que não foi
proveitoso…
Pisco para ela e seu queixo cai.
— Puta merda, Sarah. Rolou então?
Balanço a cabeça devagar, ela solta um gritinho de euforia, pulando
sentada no sofá, e eu gargalho.
— Caramba, minha melhor amiga transou com uma lenda do
futebol! — exclama empolgada e eu só rio mais. — E aí, ele tem pegada?
Como é? O pau dele é grande?
Claire desata a perguntar e eu até me engasgo de tanto rir.
— Ele é enorme, amiga. Me disse que tem vinte e dois centímetros.
— VINTE E DOIS?
— E tem um piercing bem na ponta.
— Ah, você está de sacanagem com a minha cara!
Balanço a cabeça, rindo.
— Não estou!
— Porra, eu aqui na seca e você me esfrega um pau gigante com
piercing?
Jogo a cabeça para trás rindo.
— São duas bolinhas de metal, sabe? Uma em cada lado, que fazem
maravilhas lá dentro…
Suspiro ao me lembrar não só da noite perfeita de ontem, como da
manhã de hoje, em que transamos na mesa de café.
E, claro, a rapidinha no banheiro do avião…
Mas é nunca que eu ia perder uma chance dessas.
— Eu estou toda assada — confesso. — Por que, né? O homem é
gigante. Mas, ainda assim, não me machucou. Percebi que, mesmo tendo
uma pegada mais bruta, ele fazia de forma que não pegasse pesado demais.
— E ainda tem pegada bruta? — reclama, fazendo-me rir mais uma
vez.
— Digamos que gosta de apertar o pescoço…
— CHEGA! — ela grita, tapando os ouvidos. — Não quero mais
ouvir!
— Foi você quem pediu — disparo, em gargalhadas.
Mas, mesmo que ela esteja fingindo indignação, sei que está
adorando saber tudo.
— Ai, amiga… Estou tão feliz por você. Se tem alguém que merece
esse chá bem-dado de pica é você!
— Claire!
Atiro a almofada nela, que ri.
— Brincadeiras à parte… Hunter parece um cara legal e eu estou
mesmo feliz de te ver sorrindo tanto assim por causa dele.
Meu rosto cora e eu abaixo o olhar, brincando com uma mecha de
cabelo.
É bem verdade que minha vida tem se tornado muito mais alegre
desde que ele chegou aqui.
— Agora vou tomar um banho e dormir, acho que eu mereço, né?
— Com toda certeza. Não está com fome? — pergunta e eu nego.
— Hunter me empanturrou de comer no avião, só como amanhã
mesmo…
O sorriso dela se abre mais.
— Adoro que ele cuida tão bem de você.
Balanço a cabeça assentindo e levo minhas coisas até meu quarto,
quando sinto o celular vibrar.
— Oi, Josh — atendo rapidamente.
— Ah, minha irmã ainda é viva? — indaga e eu reviro os olhos,
mesmo que não possa me ver.
— Claro que eu sou… Vivíssima.
Sento-me na cama e começo a balançar as pernas.
— Como estão as coisas por aí?
— Tudo bem, graças a Deus. Estou saindo do hospital agora, passei
o dia inteiro de plantão.
— Então só um banho quente e cama, né?
— Com toda certeza. Sarah, me conta aqui… Está saindo com
alguém?
Sua pergunta faz meu coração se acelerar.
De onde ele descobriu?
— Como assim?
— A mãe reclamou que você já não vai lá há alguns finais de
semana e esse então, você ficou off-line por muitas horas.
Faço uma careta.
Eu esqueço que minha família é daquelas que percebem qualquer
coisa fora de lugar.
— Josh, é complicado…
Como contar sobre Hunter se não posso contar sobre Hunter?
Não só porque as coisas são indefinidas entre nós, mas por não
poder contar quem ele é.
— Se não quiser me contar quem é, não tem problema. Só me fala
se é isso mesmo, para que eu não fique preocupado com você.
E isso me faz sentir uma pontadinha de culpa.
Com toda minha empolgação com Hunter, acabei deixando-os um
pouco de lado, confesso.
Preciso consertar isso.
— Eu conheci um cara muito legal, sim — começo a falar,
balançando as pernas em sequência. — Estamos saindo, nos conhecendo
primeiro… Eu não sei bem aonde vai dar, por isso não falei nada ainda.
— Sabe que sua felicidade é sempre prioridade para mim, não é?
— Sei…
Abro um sorriso sozinha.
— E, se ele pisar na bola com você, não vai ser o primeiro cara que
eu vou socar por sua causa.
Solto uma risada.
— Eu sei bem disso.
Na época da escola, eu tive uma paixonite, mas o infeliz me trocou
para ficar com uma amiga da época. Eu fiquei muito mal e Josh, como um
bom irmão mais velho, foi lá no final da aula e deu um soco na cara dele.
Depois disso, abraçou meus ombros e me levou para casa,
comprando um milk-shake para mim no caminho.
Naquele dia, eu entendi que, mesmo com toda implicância de irmão,
ele sempre estaria ali para me defender do que fosse preciso.
— E não some, não… Você sabe como a mãe é toda carente com
relação a nós dois.
— É… Eu sei, sim. Inclusive, em breve eu vou passar uns dias no
Havaí — solto de uma vez.
Esconder que vou passar uma noite fora de casa é fácil, agora
esconder que vou passar alguns dias é complicado. Além disso, minha
família merece saber para onde estou indo.
— No Havaí? — Ouço o seu assobio. — Você vai com ele?
— É casamento da irmã dele…
— Hummm… E é seguro? Tipo, Havaí é longe pra caralho, viajar
com ele não é perigoso?
Ah, se ele soubesse onde eu estava ontem…
— Não é, não se preocupe. Ele é um cara legal. A Claire o conhece,
se isso te deixa mais tranquilo.
— Ah, então a Claire pode saber quem ele é e eu não?
— Josh… Tem uma diferença enorme entre conhecer a melhor
amiga e conhecer o irmão.
Isso porque Hunter não conhece Claire de fato, só o que eu conto
para ele mesmo. Além da minha família. Ele sabe como todos são, só nunca
os viu ainda.
— Está certo… Você já é adulta e sabe o que está fazendo. Só tome
cuidado, ok?
— Pode deixar.
— E usa filtro solar, porque a senhorita no sol vira um pimentão.
Solto uma risada.
— Eu bem sei disso.
— Certo… Então, nos falamos depois, ok? Vai me dando notícias
sobre a viagem.
— Combinado. Bom descanso, Josh.
Despeço-me e encerro a ligação, indo direto para o banheiro, tomar
um banho bem quente.
Quando saio, visto um pijama e pego o celular para programar o
despertador de amanhã, quando vejo a mensagem de Hunter.
SR. MISTÉRIO:
Obrigado pelo final de semana incrível,
baby. Tenha uma ótima noite de sono.

Um friozinho gostoso na barriga me invade agora.


Como ser imune a esse homem me chamando assim?
Sério…
Eu ainda estou sorrindo quando digito sua resposta, agradecendo por
ser sempre tão incrível comigo.
Não me lembro de ter tido um final de semana tão perfeito e pensar
nisso só me faz imaginar o que me aguarda daqui a uns dias…
Se uma noite na Grécia já foi assim…
Imagina alguns dias no Havaí.
Certeza de que será um verdadeiro paraíso.
Capítulo 21 - Hunter

— TODAS AS VEZES que entro em um carro com você, minha mente


cria mil teorias sobre o nosso destino — Sarah revela, sentada no banco do
carona enquanto eu a levo para mais uma de nossas noites juntos.
Abro um sorriso, olhando-a de lado.
— E em alguma delas você acertou?
O biquinho que ela faz ao negar chega a ser fofo.
— Que bom que eu sou bom em te fazer surpresas.
Pisco para ela, que abre um sorriso lindo.
— Você é ótimo! Um pouco maluco, mas ótimo.
Solto uma risada baixa.
— Uma loucura de vez em quando cai bem.
— Ah, com certeza!
— Mas hoje não vou te levar para fora de Los Angeles — revelo e
ela estreita os olhos para mim.
— Não?
Nego devagar e vejo seu semblante assumir um tom curioso.
— E o Sr. Mistério ataca novamente — brinca e eu balanço a cabeça
rindo.
— Quer ouvir uma música enquanto isso? — ofereço e ela nega.
— Aquelas barulheiras malucas que você escuta? Mas nem morta!
Eu balanço a cabeça rindo.
— Pode conectar seu bluetooth — sugiro e ela me lança um sorriso
travesso.
— Vai deixar seu carro tocar Taylor Swift?
— Para você ver o que eu não faço por você.
Dou de ombros e ela solta uma risadinha.
Mas de canto de olho vejo sua bochecha corar daquele jeito lindo.
— Não se importa mesmo?
— Vá em frente.
Aponto para o display e explico a ela como faz a conexão, em pouco
tempo uma música pop ganha os alto-falantes do carro.
Sarah começa a cantar de forma tão empolgada, que não me deixa
dúvida de que fiz a coisa certa. O sorriso em seu rosto agora não tem preço.
Deixo-a se divertir, cantando e balançando no banco carona até
chegar ao condomínio onde moro. Percebo-a observar tudo ao redor, atenta,
até eu abrir o portão da garagem e estacionar o carro.
Abaixo o volume do som e me viro para olhá-la.
— Quer conhecer a minha casa?
Seus olhos brilham ao assentir.
Salto do carro e dou a volta depressa. Encontro-a já abrindo a porta
e a ajudo a descer do veículo.
Durante todo o tempo, Sarah encara tudo maravilhada, captando
cada detalhe do que vê por aqui.
Encosto o dedo no painel e, logo que faz a leitura da minha digital, a
porta se abre, acendendo as luzes da minha sala.
— Nossa… É lindo, Hunter…
Noto uma admiração sincera em sua voz e isso me faz abaixar o
olhar, coçando de leve a barba.
— Gosto daqui — declaro. — É onde me sinto em paz.
Deixo que Sarah percorra todo o ambiente e logo a conduzo até a
larga cozinha, que ela também parece adorar.
— É tudo tão claro, dá mesmo uma sensação de paz por aqui.
— Esperava tudo preto? — brinco e ela volta o olhar para mim,
contendo um sorriso.
— Não vou negar que esperava um pouco mais de escuridão…
Solto uma risada baixa.
— Deixa o preto só para as minhas roupas mesmo, cores claras em
casa dão uma sensação de conforto — explico. — Você só não vai ver nada
colorido por aí…
— Nada mesmo? — indaga e eu nego. — Nem mesmo uma cueca?
Solto uma risada.
— E as pretas não são as melhores?
Ela faz uma careta.
— Você tem um ponto.
Dou de ombros.
— Vem, vou te mostrar o resto da casa.
Conduzo Sarah por todo o andar de baixo, apresentando os móveis,
até subir para o segundo andar. Já em cima, mostro todos os ambientes,
deixando meu quarto para o final.
— E aqui é a minha suíte.
Abro a porta revelando o largo cômodo e o olhar de Sarah recai
sobre a cama.
— Você tem um gato?
T-Bag ergue a orelha no mesmo instante em sinal de alerta, parando
de se lamber.
— Nunca te contei? — pergunto e ela nega. — Desculpe, deve ter
me passado despercebido… T-Bag é meu companheiro há alguns anos.
— T-Bag? Por que tenho a sensação de que conheço esse nome?
Vejo-a tentar puxar da memória e decido facilitar.
— Do seriado Prison Break?
Os olhos dela brilham ao reconhecer.
— Mentira! Você colocou mesmo o nome do seu gato de T-Bag! —
dispara rindo e eu a acompanho.
— Fala que ele não era o personagem mais icônico da série?
— Com toda certeza! — responde, ainda em risadas. — Caramba,
que criativo.
— Pensei que seria mais original que Cupcake.
— Cupcake?
— É o nome que a Natalie queria que eu colocasse.
— Nossa, Cupcake não combina mesmo com você.
— Eu disse! — destaco o óbvio.
— Eu posso ir até ele? Não morde?
— Pode tentar… Ele é meio antissocial, pode ser que se afaste de
você.
Sarah caminha devagar até o meu gato e estica a mão para ele, que
cheira os dedos dela antes de aceitar um carinho.
— Mas que safado…
— Ele gostou de mim! — exclama, empolgada.
Mas a euforia de sua voz assusta o bichano, que dá um pulo da
cama, correndo até o meu closet.
— Daqui a pouco ele volta, não se preocupe — digo ao ver que seu
semblante murchou.
— Tudo bem. Já foi um bom começo.
— Com toda certeza. Ele ainda se esconde do Luke até hoje quando
ele chega aqui.
— Olha só… Estou me sentindo privilegiada.
Sorrio, puxando-a pela cintura e beijando a sua boca, daquele jeito
que eu amo.
— Seria estranho se eu dissesse que senti saudade? — murmuro em
seus lábios, antes de descer pelo pescoço, correndo a língua devagar pela
sua pele.
Percebo que Sarah perde o raciocínio enquanto eu a beijo devagar,
percorrendo toda a sua pele, sentindo-a se arrepiar contra mim.
Eu adoro isso nela.
O quanto se desmancha em meus toques.
— Eu… — Ela para, finalmente recobrando o fôlego. — Eu
também senti…
Mordo o seu lábio inferior e o sugo devagar, vendo-a soltar um
gemido.
Isso me tira um sorriso orgulhoso.
Jogo seus cabelos para trás e beijo seu queixo antes de me afastar.
— Vamos descer para tomar um vinho? — proponho e beijo seus
lábios mais uma vez, sentindo-a estremecer em meus braços.
Ah, se eu não descer agora, sei que vou jogar esta mulher na cama e
acabar com ela.
— Tudo… Tudo bem — gagueja e eu sorrio.
Pego-a pela mão e a levo de volta ao andar de baixo, seguindo até a
cozinha.
— Lá fora é muito grande? — pergunta, enquanto eu pego as taças e
a garrafa de vinho.
— Um pouco… Tem um jardim, minha academia e uma piscina.
— Piscina? — seus olhos brilham de curiosidade.
— Quer conhecer?
— Quero!
Abro a garrafa de vinho com o saca-rolhas e entrego as taças para
ela, que me ajuda a carregar até a parte externa da minha casa.
Acendo as luzes da lateral da piscina e o ambiente assume uma
iluminação baixa muito bonita, harmonizando com o céu noturno estrelado.
— Nossa, Hunter… Que lindo! — Suspira ao meu lado e eu sorrio
por isso.
Não sei bem o motivo, mas saber que ela gostou da minha casa, do
meu lar, do canto que é o meu refúgio, significa muito para mim.
Conduzo-a até algumas cadeiras de frente para a piscina e pouso a
garrafa na mesinha ao lado, logo depois de servir nossas taças.
— Senta aqui.
Aponto para meu colo e ela assente, ajeitando-se de lado em minhas
pernas. A camisa branca que usa hoje tem alguns botões abertos, bem
convidativos, e notei que vestiu uma calça jeans bem justa ao corpo,
realçando a sua bunda.
Sarah Corbett não precisa de muito para ser tão gostosa.
— Não se sente só morando sozinho nesta casa tão grande? —
pergunta com cuidado enquanto eu acaricio sua coxa.
— Não — respondo, tranquilo. — Gosto da minha privacidade.
Sempre gostei, na verdade. Mesmo antes de tudo acontecer. Era para cá que
eu vinha ter um pouco de paz depois de um dia tão estressante.
Sarah assente, bebendo o vinho devagar.
— E ainda tenho o T-Bag — brinco, tremendo as sobrancelhas, e ela
ri baixo.
— Ah, claro… Um gato preto com o nome de um personagem
lunático.
— Icônico — corrijo-a, e ela ri mais.
— Que bom que você tem um lar onde esteja em paz, muita gente
não tem isso. Mesmo com todo dinheiro do mundo.
— Isso é verdade. E eu tenho mesmo um lar.
Ela me abre um sorriso, antes de me dar um selinho.
— Fico feliz mesmo por isso.
Encaro-a por um momento, vendo o quanto é linda, quando o vento
balança seus cabelos e decido guardar uma mecha sua, no mesmo momento
em que ela ergue a mão para beber mais vinho.
Nossas mãos se chocam e o movimento agita sua taça, que acaba
derramando um pouco de bebida em sua blusa branca.
Ah, merda…
— Perdão, Sarah — peço, vendo a pequena mancha se formar ali.
— Eu ia ajeitar seu cabelo e o timing foi ruim…
— Quem disse que foi ruim? — indaga me lançando um sorriso
travesso.
E, quando eu percebo sua intenção, minha garganta seca.
Sarah pousa a taça na mesinha ao lado e abre os botões da camisa,
um a um, lançando-me um falso olhar inocente.
— Preciso tirar para lavar, não é?
A imagem desta mulher apenas de sutiã no meu colo me faz perder
o juízo.
— Porra, Sarah… — rosno antes de descer o nariz até o seu colo,
correndo por toda a sua pele.
O cheiro dela é sempre delicioso, sempre vai me tirar o juízo.
Abandono a taça de vinho e mergulho as mãos em seus cabelos,
puxando-a para mais perto de mim enquanto lambo cada cantinho de sua
pele descoberta. Desço os dedos até o fecho do sutiã e liberto a peça,
revelando os seios deliciosos.
Eu não resisto a me fartar em cada um deles.
— E eu querendo ser cavalheiro para te levar para jantar primeiro —
falo entre lambidas e ela ri.
— Vamos ter fome depois, então será o momento perfeito.
A piscadinha que ela me dá me faz morder seu mamilo, sugando-o
de leve e fazendo-a gemer e rebolar em meu colo.
Meu pau fica ainda mais duro a cada rebolada dela e eu a aperto
forte contra mim, chupando e esfregando a barba por sua pele, que se
arrepia pelo contato.
— Hunter…
Olho para a piscina atrás de nós e tenho uma ideia.
— Quer nadar um pouco? — pergunto, apertando um mamilo em
minha mão, e seus olhos faíscam.
— Agora?
— A piscina é aquecida — declaro e ela umedece os lábios devagar.
— Então vamos!
Com um pulo, ela salta do meu colo e eu rio de sua pressa.
Mas observá-la tirar a roupa devagar e ficar completamente nua
diante de mim faz com que eu me livre depressa das minhas e pegue a sua
mão para pularmos juntos na água.
E, logo que emergimos dela, eu a puxo pelo pescoço, colando minha
boca na sua.
Agarrado aos seus cabelos, eu a beijo com sede, com fervor,
percorrendo com a língua cada cantinho dela, enquanto se esfrega contra
mim, implorando por alívio.
— Hunter…
Sarah nem me dá tempo de reagir, quando circula meu quadril com
uma perna e me dá um ângulo perfeito para meter nela.
Eu nem preciso de esforço para enfiar o meu pau, penetrando até o
fundo.
Ah, caralho…
O gemido que ela solta quando a preencho inteira, a forma como se
entrega, me deixa maluco.
Ainda sem soltar sua boca, puxando seus cabelos, eu começo a
comer sua boceta, o movimento ritmado balançando a água ao nosso redor.
A temperatura perfeita da água, o meu corpo junto ao dela, essa
mulher gemendo a cada estocada…
Porra, isso é uma delícia.
Se continuar assim, não vou demorar a gozar.
Saio de dentro dela e a vejo me olhar confusa, quando a empurro até
a borda da piscina, pressionando-a de costas para mim, apertando-a contra
os azulejos.
— Empina essa bunda, baby — peço e ela imediatamente o faz.
Abro-a com as duas mãos e meto meu pau nela, vendo-a gemer alto
ao me sentir por inteiro.
— Hunter… Esse pau… — choraminga e eu sorrio, cravando os
dentes em seu pescoço.
Puxo seus cabelos de lado e a faço me olhar, beijando-a enquanto
meto duro nela, forte, prensando-a contra o azulejo cada vez mais.
— Oh…
Quando rebola em meu pau toda safada, eu dou mais um tranco em
seus cabelos, estapeando sua bunda dentro da água.
— Você é gostosa demais, Sarah. Porra…
Estoco cada vez mais forte, mais bruto, fodendo sua boceta gostosa
contra a parede da piscina.
Porra, que delícia.
Foder esta mulher se tornou a minha nova coisa favorita do mundo.
Caralho.
Estapeio sua bunda mais uma vez e escorrego minha mão por ela,
encontrando a abertura de seu ânus.
— Oh… — ela geme ainda mais quando brinco por ali com o
dedão.
— Já deu esse cu, baby? — indago, mordendo seu pescoço enquanto
não paro de meter.
Introduzo ainda mais o dedo nela e Sarah geme mais alto, me
incentivando a fazer um vai e vem gostoso dentro dela.
— Hum? — insisto, ainda dedilhando-a por trás, e ela geme mais.
— Na-não…
Sorrio em sua pele antes de cravar os dentes nela mais uma vez.
— Adorei saber que vou ser o primeiro a te comer aqui.
Meto mais um pouco nela, que encosta a cabeça no azulejo,
recebendo de bom grado tudo que eu lhe dou.
— Hunter… — geme desejosa e eu não paro.
Meu pau esfola a sua boceta enquanto meu dedo entra e sai cada vez
mais rápido de seu cuzinho, Sarah geme descontrolada contra mim.
— Já quer gozar, Sarah? — indago, metendo mais fundo nela agora.
Com a outra mão, solto seus cabelos e desço até o clitóris, tocando-a
ali e esfregando sua pele para lhe dar mais prazer.
— Isso, Hunter… Isso… Assim…
Ela rebola contra mim, se esfregando, desesperada, e, quando sinto
que está perto de vir, mordo sua orelha, sussurrando baixinho.
— Goza comigo, baby.
Tiro meu pau inteiro e meto fundo nela de uma vez só sentindo seu
corpo todo tremer contra o meu.
— Hunter! — grita, gozando, estremecendo toda, e seu corpo pende
para a frente no momento em que eu esporro nela.
— Porra…
Meu peito cola em suas costas e ainda não saio de dentro dela até
que nossas respirações se regularizem.
Quando estamos mais calmos, saio devagar e a viro de frente para
mim, tocando seus cabelos e beijando seus lábios com carinho.
— Você sabe que, se comer o meu cu, seu pau vai me rasgar inteira,
né? — diz, ainda ofegante, e eu gargalho.
— É nisso que está pensando agora? — indago e ela me acompanha
na risada.
— Só estou constatando um fato.
— Relaxa, baby… — Toco seu queixo, percorrendo sua pele com os
dedos em uma carícia leve, e lhe dou um selinho carinhoso. — Eu não vou
machucar você, sabe disso.
Eu a abraço pela cintura, puxando-a para mais perto de mim, para
lhe dar um beijo gostoso.
— Eu nunca transei na piscina — confessa ao final.
— Jura? — indago e ela assente. — Estou amando te dar primeiras
experiências assim.
Tomo seus lábios em um beijo lento, quente, quase me deixando
duro de novo.
— Eu também nunca tinha feito isso — confesso, subindo até a sua
orelha, onde mordisco de leve.
— Oh…
Sinto seu corpo tremer e sorrio em sua pele, beijando o ombro
desnudo.
— Vou sair para pegar toalha pra gente, tá? Me espera aqui.
Dou mais um selinho antes de agarrar a borda da piscina e erguer o
corpo, espalhando água para todo lado.
Jogo os cabelos para trás e noto Sarah me encarar com fascínio,
andando nu, todo molhado, em direção à academia para pegar toalhas
limpas no armário.
Quando volto, estico a mão para ajudá-la a sair da água e a cubro
com a toalha, antes de começar a me secar.
Atravesso a piscina e cato nossas roupas, conduzindo-a para dentro
de casa. Subo rapidamente ao andar de cima e visto uma cueca, pegando
uma camisa minha para Sarah vestir.
Ao retornar, encontro-a de pé na minha sala, esfregando a toalha nos
cabelos.
— Aqui, vai ficar um pouco grande, mas está limpa.
Sarah aceita minha camisa e a veste, batendo um pouco abaixo dos
joelhos.
— Você é mesmo enorme — brinca e eu balanço a cabeça, rindo.
— Já está com fome?
— Um pouco…
— Vem.
Levo-a até a cozinha, onde começo a picar alguns queijos para ela
comer.
— Eu comprei uma lasanha — explico. — Já está pré-assada, é só
aquecer.
Ligo o forno e coloco o tabuleiro, enquanto pego outro vinho para
bebermos.
— Não vai demorar, ok? — Sento-me à sua frente e ela assente.
— Não se preocupe, estou bem.
— Ansiosa para a viagem? — pergunto e seu semblante se torna
empolgado.
O casamento de Natalie já é semana que vem e eu já acertei tudo
para a ida de Sarah comigo. Inclusive a nossa estada mais prolongada,
como prometido.
— Muito! É um misto de nervosismo por estar diante de tantos
conhecidos seus, mais a empolgação por finalmente conhecer o Havaí…
Ainda mais com você.
Abro um sorriso e pego a sua mão, beijando com carinho.
— Duvido você estar mais nervosa que eu — confesso.
— Como está se sentindo com tudo isso, Hunter? Sabe que estou
muito orgulhosa de você e feliz por viajar ao seu lado. Mas, caso seja
demais e queira recuar, eu ainda vou te apoiar.
E é por uma dessas que eu gosto tanto dela.
Entrelaço nossos dedos sobre a mesa.
— Eu ainda não sei qual será minha reação ao chegar na cerimônia e
ver todo mundo olhando para mim. Mas você e Luke estarão lá comigo,
então acho que vai ficar tudo bem.
— Vai, sim… Eu acredito em você.
Beijo sua mão mais uma vez.
— Vou focar em Natalie e tentar tirar todo o resto da mente.
— Faça isso — encoraja-me. — Sei que vai se sair muito bem.
— Eu espero mesmo.
Sarah sorri e bebe mais um pouco do vinho.
E vê-la sentada diante de mim, vestindo uma camisa minha, os
cabelos úmidos e um pouco bagunçados, o semblante relaxado…
Não é só sexy, mas me traz mais uma vez aquela sensação de paz
que só vem dela.
— Ah… Contei para a minha família sobre a viagem — diz e eu
sinto um aperto no peito.
— É mesmo? — indago e ela assente.
— Não contei sobre você, não se preocupe — diz e eu sinto um
alívio momentâneo.
Mas por que eu me sinto assim?
É Sarah, é claro que ela não faria uma coisa dessas.
— Só falei que estou saindo com um cara legal e que vou
acompanhá-lo em um casamento — comenta, tranquila.
— E eles não quiseram saber quem é?
— Com certeza, mas consegui desviar. Garanti a eles que Claire te
conhece e sabe que você é uma boa pessoa, isso os deixou mais tranquilos.
— E Claire nunca me viu… — brinco, sorrindo de lado.
— Claro que te viu. Eu te conheci por causa dela, esqueceu?
Rio baixo.
— Está certo.
— Não podia viajar sem contar para eles, sabe? São alguns dias
fora…
— Claro, você está certa. É mais seguro assim.
Sarah assente e conversamos mais um pouco antes que a lasanha
fique pronta e eu nos sirva.
Comemos sentados na bancada da ilha, pouco vestidos, bebendo um
vinho, conversando sobre a viagem e trocando risadas.
E, juro, não me lembro de quando me senti tão leve assim na vida.
Na verdade, não me lembro de quando me senti tão vivo.
Capítulo 22 - Sarah

— EU NÃO ACREDITO que estamos mesmo no Havaí!


Vejo as ruas da ilha de Oahu passarem através da janela do carro e
fico simplesmente impactada com o lugar.
Caramba.
A energia do local já me contagia e eu não consigo parar de sorrir.
Olho para Hunter ao meu lado, que também não esconde um sorriso ao me
ver tão deslumbrada.
Para ele pode ser algo comum em sua vida, mas para mim…
Nossa…
Desde que o conheci, visitei mais lugares que quase toda a minha
vida.
— Ai, meu Deus!
Solto um suspiro ao ver o motorista estacionando em frente a um
luxuoso hotel na ilha.
— Chegamos — Hunter anuncia e eu abro a porta do carro depressa,
descendo e admirando todo o cenário ao meu redor.
Caramba.
Vejo que ele escolheu um hotel de frente para a praia, o que dá uma
vista incrível.
Solto gritinhos de felicidade e ele ri baixo, balançando a cabeça.
Tenho vontade de agarrá-lo e beijá-lo aqui mesmo em
agradecimento, mas sei que não posso. Hunter toma todo um cuidado para
não ser reconhecido em lugares como esses.
Prova disso é que usa boné preto com os cabelos presos, óculos
escuros, camiseta preta, bermuda escura, e sapatos de mesma cor.
O perfeito oposto de mim, que uso um vestido florido e sandálias
coloridas nos pés, bem em clima havaiano.
Minha mala está cheia de roupas coloridas, e aposto que as do meu
namorado fake, apenas de peças pretas.
— Vamos?
Ele me chama e no momento um funcionário do hotel surge para
pegar nossas bagagens. Ele nos conduz até o nosso quarto, dispensando
passar pela recepção. Pelo que Hunter me contou, esse hotel é da rede de
Luke, seu melhor amigo, e este fechou o lugar apenas para os convidados
do casamento de Natalie.
Pelo elevador, seguimos até o último andar, em uma suíte
extremamente luxuosa.
— Uau… — sussurro ao adentrarmos o ambiente.
A porta da varanda está aberta e daqui temos uma visão incrível de
toda a ilha de Oahu.
— Hunter! Aqui é lindo…
O quarto é imenso, com uma cama king-size cercada de duas
mesinhas de cabeceira. Um sofá enorme também compõe o ambiente, com
uma TV que deve ter o triplo do tamanho da minha. Toda a decoração é de
tons claros, bem leves, dando um aspecto muito aconchegante.
E o cenário paradisíaco lá fora só compõe para que fique ainda mais
perfeito.
Noto que estamos sozinhos e ele circula minha cintura, afundando o
nariz em meu pescoço, inspirando forte. Seu movimento me faz estremecer.
— Você já reparou que todos os nossos encontros são aquáticos? —
pergunto e ele se afasta, erguendo a sobrancelha.
— Como é?
— Claro que eu não estou reclamando, porque tudo é perfeito…
Mas o senhor bem gosta de me levar para uma praia, um mar…
Viro-me para ficar de frente para ele e o vejo sorrir de lado.
— Não tinha percebido o padrão. É que o mar me faz bem e eu
gosto de te levar para os meus lugares favoritos.
Subo a mão e toco seus cabelos, puxando o elástico e soltando os
fios.
Este homem é lindo de qualquer jeito, mas os cabelos caindo sobre
os ombros lhe dão um charme e tanto.
— Pode continuar me levando para a praia, eu não me importo nem
um pouco com isso.
Fico na ponta dos pés para beijá-lo e ele se abaixa para facilitar,
colando sua boca na minha daquele jeito que eu amo.
Seus lábios grossos e quentes reivindicam o meu, me tomando como
sua posse. E mesmo que não seja um beijo tão indecente, ele me deixa de
pernas bambas, como todas as vezes que me toca.
A mão pesada aperta forte a minha cintura enquanto sua boca
percorre meus lábios, pescoço, ombro…
— Baby, você está com fome? — indaga ao se afastar, correndo a
língua pelos lábios.
Eu ainda estou ofegante quando ele corre os dedos pelo meu rosto,
me tocando com carinho.
— Um pouquinho…
— Vou pedir o serviço de quarto, ok? Ou você quer sair para comer
em algum lugar?
Noto um pouco de hesitação em seu olhar, mas ele trata de disfarçar,
preocupado comigo. Hunter não pode simplesmente sair por aí, indo a
qualquer lugar, porque, caso seja reconhecido, todo seu esforço de anos
cairá por terra. E mais tarde teremos o jantar de ensaio do casamento, então
é melhor evitarmos o risco.
— Na verdade, a viagem me deixou um pouco cansada, acho que
podemos comer aqui mesmo — falo e noto seu semblante se suavizar. —
Além do mais… Com uma vista dessas, nem precisamos de muito.
Aponto para o oceano ao nosso redor e ele balança a cabeça de
pronto.
— Perfeito, vou pegar o menu.
Hunter volta com o cardápio em uma das mãos e com a outra dentro
do bolso da bermuda, revelando o largo relógio prateado.
Como podem coisas tão pequenas assim ficarem tão sexys quando o
assunto é ele?
— O que você vai querer?
Estico a cabeça para olhar o cardápio em suas mãos e decido por um
sanduíche.
— Acho que vou de cheeseburguer hoje.
— Com batata frita e milk-shake? — sugere e meus olhos brilham.
— Perfeito!
Hunter assente e segue até o telefone do quarto, fazendo o nosso
pedido, e daqui consigo ouvir que fez o mesmo para ele.
Quando retorna, chamo-o para se sentar ao meu lado na confortável
poltrona da sacada, onde não resisto a colocar os pés em seu colo. Hunter
aceita de bom grado e começa a acariciar minha perna despretensiosamente.
As mãos fazem um zigue-zague gostoso em minha pele, arrepiando-
me inteira.
— O jantar de hoje é aqui no hotel mesmo?
— Não, é em Lanikai Beach, a mesma praia onde será a cerimônia
amanhã.
— Ah…
— Natalie reservou um restaurante intimista para fazermos um
jantar, só para a família e padrinhos.
— E você está bem com isso?
— Acho que sim. Vai ser realmente um ensaio para o dia de
amanhã…
O olhar de Hunter vaga pelo horizonte e percebo que fica um bom
momento apenas admirando a paisagem à sua frente. Neste instante,
percebo que o mar realmente faz bem para ele, dando sentido a todos os
nossos passeios.
Ele não poderia me levar a algum lugar em que sentisse um mínimo
de desconforto.
— Luke também vem, né?
Tiro Hunter de seu devaneio e ele me olha, acenando de leve.
— Disse que ia tentar chegar hoje, mas, se não conseguir, só amanhã
mesmo.
— Estou curiosa para conhecê-lo — revelo.
— Todo mundo adora o Luke, provável que você goste mais dele do
que de mim.
— Ah, duvido muito.
Hunter me olha de lado, travesso.
— Será?
Dobro a perna e arrasto o quadril para me aproximar dele, onde
mordo sua orelha de leve.
— Ele não deve ser tão cheiroso, tão gostoso, tão bom em surpresas
e nem… — Paro, vendo-o se arrepiar de leve. — Tão bom com a língua.
Os olhos dele brilham ao se afastar para me beijar, mas a campainha
do quarto toca anunciando a chegada do nosso lanche.
— Ah, caralho… — resmunga e eu solto uma risada.
Pulo para a mesa ao nosso lado no momento em que Hunter chega
com a bandeja nas mãos, colocando-a entre nós dois.
— O cheiro está muito bom… — elogio, pegando uma batatinha
para comer.
— Se algo aqui não estiver bom, preciso reportar ao Luke.
— Ah, mas eu duvido que não esteja.
Dou uma mordida no hambúrguer, soltando um gemido de
satisfação.
— Nossa, delicioso!
Hunter concorda, experimentando também.
— Faz um tempo que eu não como um, sabia? — ele revela.
— Sério? Nossa, eu sou apaixonada!
— Quando eu jogava, comia muito raramente, porque a minha dieta
era toda equilibrada, então acabei perdendo o costume.
Meu coração erra uma batida como todas as vezes que Hunter fala
dessa época de sua vida. Principalmente por ser um assunto delicado, mas
que ele a cada dia se sente mais à vontade em falar comigo.
— Nem mesmo agora, que pode comer o que quiser? — indago e
ele nega.
— Acho que é a força do hábito… Por muitos anos tive uma
alimentação balanceada, não dá para simplesmente jogar tudo para o alto
assim.
Assinto, bebendo um gole do milk-shake, que também está divino.
— Não tem vontade de praticar outro esporte? — pergunto com
cuidado. — Ainda que sozinho?
Sei que, desde que se aposentou precocemente, passou a trabalhar
com investimentos, mas para um atleta deve ser difícil se desligar
totalmente dos esportes assim.
— Eu amo futebol, Sarah — diz antes de mastigar uma batatinha. —
Ou pelo menos amava, não sei. Já tentei golfe, boxe… Mas nada ganha o
meu interesse.
Absorvo suas palavras, pensando em todas as possibilidades.
— Acho que ainda ama — digo e ele volta o olhar para mim. — Se
o futebol fez parte da sua vida por tantos anos, não é algo que se apague
facilmente.
Hunter assente em silêncio.
— Sinto falta de jogar — revela, trazendo-me um aperto no peito.
— Eu nem imagino como deve ser difícil…
— É uma merda. Mas agora já passei da idade também, então já era.
Não dá para simplesmente recomeçar, nem se eu quisesse isso.
Engulo em seco, pensando no quanto deve ser doloroso para ele.
— Nem mesmo um treino? — sugiro com cuidado.
— Não é a mesma coisa.
— Imagino que não.
Hunter volta a comer seu hambúrguer, mas percebo que sua mente
vai longe.
Pelo que vejo em seus olhos, há muito mais por trás deles do que me
diz agora.
— Quando tudo aconteceu… — começa e para, puxando o milk-
shake pelo canudo. — O dono dos Bulls me procurou para me fazer uma
oferta. Bom, não diretamente a mim, mas através de meu advogado.
— Uma oferta?
Isso é algo que me é bastante curioso.
— Ele queria que eu fizesse parte da comissão técnica do time —
explica e eu solto um assobio.
Nossa…
Isso seria ótimo para ele.
Uma forma de manter o futebol em sua vida, ainda que tenha se
aposentado dos campos.
— E o que você achou disso?
— Uma péssima ideia — rebate. — Sem chance de isso acontecer.
Era humilhante demais para mim.
Assinto, engolindo em seco.
Mas o que sai de sua boca mais uma vez não condiz com o que me
dizem seus olhos.
— E depois de tanto tempo, você ainda pensa assim?
Vejo-o hesitar por um momento.
— Não sei… Não vou negar que às vezes penso nisso, mas, ao
mesmo tempo que a ideia vem, ela vai embora. Já se passaram mais de três
anos, a oferta nem deve estar de pé mais.
— Será que não?
— Além do mais, não estou pronto ainda para voltar à mídia, à
sociedade. Não quero todo o holofote de volta sobre mim.
— Eu entendo, Hunter. Entendo mesmo. Mas você ainda é novo.
Tem só trinta e oito anos, pode não estar pronto agora. Mas se daqui a, sei
lá, cinco anos, você estiver, ainda terá idade para isso.
Ele me encara por um momento antes de assentir.
— Veja o quanto você evoluiu nos últimos meses, está fazendo
coisas que nem imaginou serem possíveis de fazer de novo. Como estar
aqui no casamento da sua irmã. — Ergo a mão e encontro a dele,
acariciando devagar. — Dê tempo ao tempo. Quem sabe esse dia chegue.
Hunter não diz nada, mas sei que plantei a sementinha da dúvida
nele.
No fundo, sei que é algo que deseja, ainda que acredite não ser
capaz disso.
Pois, enquanto eu estiver por perto, darei todo apoio e mostrarei a
ele que é merecedor de cada segunda chance que a vida lhe deu.

— Mas quase que eu não chego a tempo da melhor parte — uma


voz masculina surge atrás de nós.
Sentado à ponta da mesa, Hunter está ao meu lado, um tanto calado,
ainda que o lugar esteja com pouquíssimas pessoas. Apenas os pais e
irmãos dos noivos e padrinhos. Noto que ninguém olha diretamente para ele
e me pergunto se tem o dedo de Natalie nisso.
— Achou que eu ia perder, Crawford?
Ergo os olhos para ver quem aperta o ombro de Hunter e encontro
um moreno alto, com um sorriso imenso no rosto. Pelo traje social que
veste, imagino que seja Luke, seu melhor amigo.
— Com licença, me desculpem o atraso. Acabei de chegar à ilha.
Ele então cumprimenta a todos, apertando mãos, beijando rostos e
fazendo alguns comentários brincalhões, principalmente com a mãe e irmã
de Hunter, o que me faz ter ainda mais certeza.
É de Luke Davenport que estamos falando.
Ele então puxa a cadeira ao lado de Hunter, mas, logo antes de se
sentar, me encara curioso.
— Não vai me apresentar sua namorada, Crawford?
Hunter me olha como se quisesse avisar o furacão que é o seu amigo
e eu apenas aceno de leve.
— Sarah, esse é o Luke.
— Seu melhor amigo — ele completa. — O cara que deveria
receber grandes premiações por te aturar.
Hunter bufa e eu solto uma risadinha.
— Muito prazer, Luke.
Levanto-me e estendo a mão para ele, que me puxa em um abraço
rápido.
— O prazer é meu, Sarah. Finalmente conheci a garota que fez meu
amigo desbravar os sete mares.
— Ah, mas que piada ruim, Luke — Hunter reclama e eu rio baixo.
— Você já deve ter se acostumado com o mau humor dele, né? —
finge cochichar comigo antes de se sentar ao lado de seu amigo.
Logo os garçons chegam e começam a nos servir o jantar.
Quando chegamos, repassamos a cerimônia de amanhã e como tudo
será feito. Natalie e Kevin aproveitaram para fazer um discurso e agradecer
aos envolvidos, principalmente a Hunter. A noite toda ela lançou um olhar
grato ao irmão por estar aqui, e também a mim.
Percebo que, nitidamente, ter olhos expressivos é algo de família.
— Como foram de viagem? — Luke pergunta logo que dá um gole
em sua taça de vinho. — Foram bem instalados? Colocaram vocês no
quarto certo?
— Foi tudo certo, sim, obrigado.
— O hambúrguer de vocês é maravilhoso — aproveito para elogiar.
— Logo que chegamos, decidimos comer um pouco com aquela vista
maravilhosa do hotel.
Luke abre um sorriso satisfeito.
— Isso é ótimo. Passei todas as instruções para minha equipe,
principalmente quanto à discrição.
— Te agradeço muito — Hunter diz, antes de começar a comer.
— Sua primeira vez no Havaí, Sarah? — ele agora pergunta para
mim.
Enquanto os outros convidados estão entretidos em suas conversas,
aproveitamos para puxar um assunto apenas nós três.
— É, sim! Estou encantada! Como vamos ficar mais uns dias, sei
que Hunter vai me levar para conhecer mais lugares e estou mesmo muito
empolgada!
Neste momento, Hunter abaixa a mão por baixo da mesa e toca a
minha coxa, em uma carícia gostosa.
— Tem muito lugar lindo para vocês conhecerem — ele concorda.
— Tenho certeza de que vai embora daqui querendo voltar mais vezes.
— Nossa, seria um sonho…
— Podem vir sempre que quiserem, Hunter sabe que tem passe livre
em meus hotéis.
— É uma das maiores vantagens de ser seu amigo — Hunter diz
com voz serena e Luke se finge de ofendido.
— Interesseiro do caralho.
Sua voz sai um pouco mais alta e todos olham para nós, fazendo-me
soltar uma risadinha ao ver o quanto ele ficou sem graça.
— Boca aberta — Hunter repreende e eu rio mais.
Já tinha ouvido falar bastante de Luke, mas não sabia que eles eram
assim, tão brincalhões um com o outro.
O jantar percorre de uma forma muito agradável e Luke não para de
falar um instante sequer. Percebo que, assim como eu, se esforça para que
Hunter não fique desconfortável, por isso assume as rédeas da conversa, até
mesmo desviando o assunto quando alguém olha na direção de Hunter.
— Já querem dormir, ou topam beber algo no bar? — Luke convida,
logo que entramos no carro que nos levará de volta ao hotel.
Percebo hesitação em Hunter, mas ainda não diz nada.
— Ah, vamos lá, cara! Estamos no Havaí, amanhã é casamento da
sua irmã caçula. Por que dormir cedo hoje?
Meu namorado fake balança a cabeça e me encara, perguntando-me
em silêncio.
— Eu topo — respondo e ele assente por fim.
— Essa é das minhas!
Pelo caminho, Luke também não para de falar. Desta vez, vai me
contando sobre a ilha, o seu desenvolvimento e contando história de alguns
lugares daqui.
Fico me perguntando como são amigos sendo tão diferentes, já que
Hunter é praticamente mudo perto dele.
Ao chegarmos, Luke nos conduz até o bar do hotel, que já está
fechado a esta hora. Mas, logo que nota a sua presença, o funcionário o
reabre, nos servindo. Eu peço um drinque, enquanto os rapazes brindam
com garrafas de cerveja.
— Esse é seu único hotel no Havaí? — pergunto a Luke, que
confirma depois de dar um gole na bebida gelada.
— Gostaria de ter mais, mas é um pouco longe para que eu consiga
administrar tudo.
— Sua rede tem muitos hotéis? — pergunto, curiosa.
— Luke é dono do país inteiro — Hunter brinca e o amigo dá um
soco fraco no braço dele.
— Até parece… Tenho crescido ao longo dos anos, mas hoje temos
mais de cem hotéis espalhados por todo país.
— Cem?
Caramba.
— Cento e doze para ser mais exato — corrige-se e eu solto um
assobio.
— Uau…
— Até você se aposentar, chega aos quinhentos. — Hunter ergue a
garrafa antes de beber um gole.
Luke faz uma careta.
— Não sei se quero ir tão longe. A cada novo hotel aberto, é uma
nova responsabilidade e mais uma agenda cheia para lidar…
Hunter já me contou que o amigo não para um minuto, sempre
viajando pelo país a trabalho.
— Nem imagino como deve ser.
— Não é fácil, mas eu gosto do que faço. Quero levar o legado do
meu pai adiante.
— Sabe que, de onde estiver, ele está orgulhoso pra caralho de você,
não é? — Hunter diz e seu amigo sorri agradecido. — E eu também, se isso
vale de alguma coisa.
— Claro que vale.
— Ah… Que bonitinhos vocês. — Suspiro, e os dois soltam uma
risada. — Como se conheceram?
— Nós morávamos no mesmo bairro quando crianças, mas nos
conhecemos na escola — é Hunter quem começa.
— Sério? É só isso que vai contar? Não vai dizer a ela que você
salvou a minha vida?
— Como assim? — pergunto curiosa.
Hunter olha de mim para ele e faz uma careta, coçando a barba, um
pouco desconcertado.
— Eu bati em um garoto que estava zombando do Luke.
— Calma… Vamos contextualizar a coisa toda.
Neste momento, o moreno estala o pescoço e puxa a manga da
camisa para cima, em uma forma de se preparar.
— Eu era um moleque bem feio — diz e eu fico surpresa.
A minha reação tira uma risada dele e Hunter finge
descontentamento.
— Eu sei, sou um gostoso hoje, mas eu era um magrelo, assim como
Hunter.
— Você era mais feio que eu.
— De fato — Luke concorda. — Eu usava óculos e aparelho, o que
não ajudava muito. E, para piorar, minha mãe fazia uns penteados
horrorosos em mim.
Hunter balança a cabeça rindo, parecendo se lembrar.
— Era mesmo um pavor.
— Odeio minhas fotos de infância. — Ele faz uma careta. — Mas
continuando, os garotos maiores adoravam pegar no meu pé por isso. Não
mexiam com Hunter porque desde pequeno ele era gigante.
— A minha altura compensava a magreza — Hunter explica.
— Pois então, já eu não tinha nada que compensasse. E não sabia
me defender dos grandalhões.
— Tadinho…
Sinto um aperto no peito por ouvir isso.
Atendo algumas crianças e adolescentes que sofrem bullying na
escola e sei bem como alguns alunos podem ser bastante cruéis.
— Um dia me prenderam dentro do meu armário da escola e
levaram a chave embora.
— Nossa…
— E eu estava indo para casa, quando escutei uma voz vinda dos
armários, pedindo socorro — Hunter continua a história. — Com um clipe
de metal, consegui destrancar e encontrei o Luke encolhido lá dentro,
tremendo e chorando.
— Eu não estava chorando — defende-se e Hunter fuzila-o com o
olhar.
— Você só tinha sete anos, Luke, não tinha problema estar
chorando.
E, neste momento, aquele Hunter gentil ganha vida, meu coração se
aquece.
— Enfim, tirei Luke de lá, e pedi que me contasse quem fez aquilo
com ele.
— Óbvio que eu não queria contar, porque morria de medo de que
descontassem em mim depois.
— Mas eu prometi que te protegeria — Hunter afirma e ele
concorda. — Então Luke me contou quem foram os garotos e eu só
consegui encontrar um no final da aula. Dei um soco no nariz dele, e
mandei-o ficar longe de Luke, senão eu quebraria todos os dentes dele e de
seus amigos.
Solto um assobio.
— Com sete anos? Que valentão.
Hunter abre um sorriso de lado.
— Eu não tinha força para quebrar os dentes de ninguém, mas
queria dar o recado e mostrar que não estava brincando.
— E funcionou?
— Com toda certeza. A escola inteira ficou com medo de Hunter e
eu me senti o garoto mais sortudo por ter um amigo legal que fazia medo
nas pessoas.
— Eu quase me arrependi disso, porque ganhei um tagarela no meu
ouvido — Hunter resmunga e Luke ri alto.
— Nem você acredita nisso, brother.
Hunter dá de ombros, bebendo mais da cerveja.
— Então eu assumi para mim a missão de protegê-lo e cá estamos,
mais de trinta anos depois…
Abro um sorriso ao ver os dois com um semblante relaxado.
— Isso… Isso é lindo, Hunter.
Ele me encara daquele jeito firme agora, que parece me perfurar.
— Eu não me importo de acabar com o mundo se for preciso para
proteger quem está ao meu lado, Sarah.
Suas palavras são tão fortes, que me causam um arrepio.
E agora, sabendo de tudo isso, consigo entender por que Luke não
saiu do lado de Hunter, nunca o abandonou em todos esses anos.
Quando ele era só um garotinho, tremendo de medo, Hunter
estendeu a mão e mostrou que tinha alguém ali por ele.
E uma amizade que surgiu de uma forma tão pura seguiu por
décadas.
Saber disso só me faz admirar ainda mais o homem que conheci há
tão pouco tempo.
Que caixinha de surpresas é você, Hunter Crawford.
Capítulo 23 - Hunter

TERMINO DE ABOTOAR minha camisa e visto o paletó, ajeitando-o de


frente para o espelho.
Estou nervoso pra caralho, não vou negar.
Não só por tudo o que me aguarda hoje, mas por ser o casamento de
Natalie…
Minha irmãzinha.
Lembro-me de quando a peguei no colo pela primeira vez e aqueles
olhos cinzentos me encararam curiosos. Naquele dia eu prometi que
cuidaria dela para sempre e que não deixaria que ninguém lhe fizesse mal.
Ela era tão pequena, tão pura…
O bebê mais lindo que eu já vi.
E agora, algumas décadas depois, finalmente vai se casar, com o
amor da vida dela.
Eu estou feliz pra caralho, mesmo. Se há alguém que merece isso, é
Natalie.
Prendo o relógio no pulso, ajeitando os cabelos mais uma vez no
coque alto que fiz. Borrifo perfume e dou um passo para trás, gostando da
imagem que vejo.
É bem diferente do Hunter a que estou acostumado, mas
curiosamente não me causa um estranhamento.
Ainda que eu esteja nervoso com a cerimônia em si, minha
vestimenta não me causa nenhum desconforto.
Ouço uma batidinha à porta e estico o pescoço para ver Sarah
surgindo por ela.
E, nossa…
Pisco devagar ao ver a imagem que surge diante de mim.
Sei que minha irmã emprestou a cabeleireira e maquiadora para ela,
por isso sumiu por algumas horas e agora volta assim, deslumbrante…
— Você… — Paro, ao ver que ela me abre um enorme sorriso. —
Está linda — elogio, pensando que essas palavras não são suficientes.
Usando um vestido azul-claro de alças finas e sandálias baixas nos
pés, parte de seus cabelos loiros está presa e a maquiagem só evidencia o
quanto ela é linda.
Caramba.
— Você também está um gato. — Aponta para mim e dá um passo
em minha direção.
Sarah toca meu peito por cima do paletó e sei que consegue sentir
meu coração batendo forte.
— E esse tom de cinza ficou lindo em você — elogia. — Combina
com seus olhos.
Sorrio, sem jeito, coçando a barba devagar.
— Pensei que fosse vestir preto — diz, e em seu olhar consigo ver o
quanto adorou a mudança. — É a primeira vez que não te vejo usando essa
cor.
— Eu queria mesmo, mas Luke me convenceu de que não seria uma
boa ideia.
— Eu mal conheci o Luke e já adoro esse cara, sabia?
Solta uma risadinha e eu abro um meio sorriso.
— Ele queria que eu usasse um tom mais claro, mas não acho que
me sentiria confortável, então chegamos a esse meio-termo.
A camisa debaixo do terno é branca, mas as duas peças são de um
tom de cinza, abaixo do grafite.
— Ficou perfeito — elogia mais uma vez, inclinando-se para beijar
meus lábios de leve.
— Preciso ficar à altura da minha acompanhante.
Pisco para ela, que cora de leve.
— Você viu Natalie? — pergunto, dando uma última conferida no
espelho.
— Vi, sim… Ela está perfeita, como uma princesa.
Assinto, e um nó se forma em minha garganta.
— É… Acho que chegou a hora, né? — Confiro o relógio no pulso.
— Vamos casar a minha irmã.
Sarah sorri, enlaçando meu braço, quando seguimos para o carro
que nos espera rumo ao casamento.

A parte de Lanikai Beach reservada para a cerimônia está toda


decorada, os convidados aos poucos vão chegando e ocupando os seus
assentos.
De frente para o mar, um arco de flores brancas compõe o altar, e lá
na frente consigo ver Kevin com um enorme sorriso no rosto.
Ele é mesmo um cara de muita sorte por ter Natalie em sua vida.
— Você até que ficou bonitão — a voz de Luke surge ao meu lado e
eu rio.
Viro-me e encontro-o vestindo um terno marrom-claro,
perfeitamente alinhado.
— Você também não está nada mal.
Luke bufa.
— Eu sei que fiquei incrível neste Ralph Lauren.
Reviro os olhos e Sarah dá uma risadinha ao nosso lado.
Percebo que ela adorou a dinâmica da nossa amizade, o que me
deixa bem aliviado. Saber que esses dois se deram bem significa muito para
mim.
Quando o carro alugado para trazer Natalie chega, sinto meu
coração dar um salto aqui dentro.
E, com a ajuda da organizadora da cerimônia, minha irmã desce do
veículo. Eu perco a fala.
Nossa…
O vestido branco é justo ao corpo e seu cabelo está preso por uma
tiara com detalhes de flores.
Ela está perfeita…
Como se me sentisse, Natalie me procura pelo local até seus olhos
encontrarem os meus e um sorriso imenso de gratidão lhe toma.
Ela acena para mim e eu sei o que diz.
Está feliz por eu estar aqui.
Está feliz por eu ter conseguido.
E, caralho, se eu não sinto um bolo na garganta por vê-la ali tão
linda, como uma verdadeira princesa, olhando para mim.
Quando ela recebe o buquê, vejo-a caminhar com cuidado em
direção à entrada do tapete, quando os músicos começam a tocar.
E uma última olhada dela para mim faz com que eu aja sem muito
pensar.
Sinalizo para que me espere e caminho até ela, sentindo meu
coração disparado no peito.
É o seu casamento, o momento mais feliz da sua vida, e ela vai
sozinha ao altar?
Não posso permitir isso.
— Posso te acompanhar?
Ofereço meu braço a ela e seus olhos marejam no mesmo instante.
— Hunter…
— Não vou te deixar ir sozinha no dia mais importante da sua vida.
— Encaro-a firme. — Mas, quando te deixar, eu vou voltar para os fundos,
ok? Me desculpe não ficar no altar com você…
— É perfeito assim, Hunter. Obrigada.
Natalie pisca entre lágrimas e sua mão trêmula toca meu braço. Eu
respiro fundo antes de me virar para a frente e começar a caminhar ao seu
lado.
Percebo várias pessoas me observando, mas não olho para nenhuma
delas. Fixo a atenção em Kevin no altar; está visivelmente emocionado por
ver minha irmã indo até ele e isso vale o esforço.
Ainda ao som da marcha, ele nos encontra próximo ao arco de flores
e eu puxo Natalie em um abraço; minha irmã me agarra forte, agradecendo-
me mais uma vez por estar aqui.
— Seja muito feliz, irmã.
Beijo seu rosto com carinho e uma lágrima lhe escorre.
Logo cumprimento Kevin com um abraço de tapinhas nas costas.
— Cuide bem dela, ok?
O noivo balança a cabeça confirmando e eu assinto, abaixando o
olhar para sair de lado. Mas antes que eu saia por completo, minha mãe me
puxa para um abraço e, em sua voz, vejo o quanto está emocionada.
— Eu te amo muito, filho, e estou muito orgulhosa de você.
Suas palavras são sinceras e eu aceno, beijando sua testa.
— Também te amo, mãe.
Afasto-me dela, vendo-a retomar seu lugar próximo aos noivos, e
ando até Sarah e Luke, que me aguardam com um enorme sorriso no rosto.
— Estou muito orgulhosa de você.
Abaixo-me para ouvir Sarah dizer ao meu ouvido, logo que me
enlaça o braço.
Balanço a cabeça, apertando-a de leve, e olho para Luke, que apenas
pisca para mim, daquele jeito dele. Que diz que sempre estará comigo, não
importa onde seja.
Ainda de braço dado com ela, volto a atenção para a cerimônia,
sentindo meu coração um pouco mais em paz. Ainda me incomoda toda
essa exposição, mas sei de todos os cuidados que Natalie tomou para que
não vazasse nenhuma imagem do casamento. Todos os convidados e equipe
profissional assinaram um termo de responsabilidade e sigilo, tendo
inclusive que deixar os aparelhos celulares na entrada. Os únicos
autorizados a gerar imagens do casamento são os fotógrafos oficiais, que
também assinaram documentos para que só os noivos tivessem acesso a
elas.
Ver o esforço de Natalie e tudo o que fez por mim significa muito.
Durante toda a cerimônia, eu não olho para ninguém; dessa forma,
se alguém olha para mim, eu não percebo.
Fora que ter Luke e Sarah ao meu lado faz toda a diferença.
Quando os noivos recitam os votos, eu fico emocionado com as
palavras de Natalie e só consigo pensar no quanto ela merece toda essa
felicidade.
Que bom que aceitei sua oferta de ajuda e consegui estar aqui hoje.
Eu jamais me perdoaria se faltasse a um dia tão importante quanto
este.
Ao final da cerimônia, eles deixam o altar e recebem vários
cumprimentos dos convidados. O salão onde será servido o jantar fica aqui
ao lado e, antes de chegarmos lá, Sarah diminui o passo, apertando meu
braço de leve.
— Como você está?
— Estou bem — respondo sincero. — Não estou olhando para
ninguém, então não sei se estão reparando em mim, e feliz por Natalie. Ela
merece muito tudo isso.
— Ninguém está olhando para você, Crawford — a voz de Luke me
alcança e eu o encaro. — Estou igual a um radar vigiando todo mundo ao
nosso redor, e acho que Natalie deve ter feito a lição de casa, porque é como
se você nem estivesse aqui.
— Sério? — indago, virando-me para Sarah, que assente sorrindo.
— Estão todos preocupados com os noivos e a roupa das madrinhas
— brinca. — Ninguém ficou olhando para o nosso lado.
— E mesmo na sua entrada — Luke completa. — Não vi nenhum
olhar diferente para você, só de emoção mesmo. As pessoas ficam emotivas
em casamentos. — Dá de ombros. — É como nos filmes, que sonham com
finais felizes e todas aquelas baboseiras.
— Luke! — Sarah o repreende e eu rio baixo.
— O que foi? Eu não disse nenhuma mentira!
— Não são baboseiras — ela defende. — As pessoas têm direito de
sonhar com um casamento feliz.
Meu amigo revira os olhos, correndo a mão pelos cabelos.
— Será que já podemos beber?
Ele passa na nossa frente, indo para o salão, e eu solto uma risada.
— Ele tem aversão a casamentos? — Sarah pergunta quando a
conduzo logo atrás.
— Diz que não tem tempo para isso. Que a vida dele é agitada
demais e que as pessoas superestimam casamentos.
Percebo-a ficar pensativa por um momento.
— Os pais dele se separaram quando ele ainda era adolescente, e
não era um casamento saudável — falo baixinho.
— Ah…
— E, como meu pai também nos abandonou quando éramos
crianças, ele viveu cercado de péssimas referências.
— Nossa… Mas não dá para generalizar. Existem inúmeros
casamentos felizes.
— Eu sei disso, mas ele não pensa assim.
— Então ele vai sempre ser sozinho?
— Se tem uma coisa que não existe na vida do Luke é estar sozinho
— explico. — Um milagre ele não ter trazido nenhuma acompanhante hoje.
Sarah então balança a cabeça, segurando um riso.
— Por que será que isso não me surpreende?
Dou de ombros.
— Luke sendo Luke. Mesmo com toda a agenda cheia, ele vive
rodeado de mulheres.
Quando chegamos ao salão, meu amigo já está com uma taça de
vinho nas mãos e sinaliza para o garçom nos servir.
— Já acabou o assunto ruim? — ele pergunta a Sarah, que solta uma
risada.
— Você está em um casamento, Luke. Não dá para fugir do assunto.
— Dá se você focar nas bebidas, comidas e nas mulheres gostosas.
Ele faz uma rápida inspeção pelo local.
— Será que tem alguma madrinha solteira, Crawford?
— Não sei nem o nome de nenhuma, que dirá se é solteira.
Ele fecha a cara para mim.
— Péssimo amigo você, Hunter.
Então ele balança a cabeça e some pelo salão, deixando-nos
sozinhos.
— Aonde ele vai?
— Procurar saber se tem alguma solteira por aí.
— Está falando sério? — pergunta, rindo, antes de bebericar a taça
de vinho.
— Você não o conhece… Ele não vai sossegar, mas não vai terminar
essa noite sozinho.
— Acho que não deve ser difícil, porque ele é bem bonitão.
Franzo o cenho para ela, que ri.
— Ele é bonitão, Hunter, você é uma delícia.
Ela se inclina para falar ao meu ouvido e eu umedeço os lábios
devagar.
— É seguro te beijar aqui? — pergunta, olhando tudo ao nosso
redor.
— Considerando que para todos você é minha namorada e que não
tem risco de sermos filmados, então sim.
Sarah sorri antes de me enlaçar pelo pescoço e eu abraço sua
cintura, colando minha boca na sua.
O beijo não se prolonga demais, mas não deixa de ser intenso.
— Não tem ideia do quanto estou feliz por estar aqui com você —
Sarah diz ao final, dando-me mais um selinho.
— Eu também… — Toco seu rosto com carinho. — Obrigado por
topar me ajudar. Desde o começo, você viu algo em mim que nem mesmo
eu sei o que é.
— Seus olhos — diz, e eu franzo o cenho devagar.
— Como é?
— Seus olhos são muito expressivos, Hunter. Desde aquele dia em
que você trocou o pneu para mim, eu vi muito neles. Sou boa observadora e
seus olhos sempre me dizem muito além do que sai de sua boca.
Sorrio, um pouco constrangido.
— Meus olhos, é? — indago e ela assente devagar.
— Vamos ver se você é boa nisso… O que meus olhos te dizem
agora?
Encaro-a firme e ela me abre um sorriso, inclinando-se para beijar
minha boca.
— Que você quer me beijar agora… — Seus lábios se aprofundam
aos meus, a língua percorrendo a minha devagar. — Mas que precisa se
segurar um pouco, porque sua vontade é outra e você ainda não pode sair
desta festa.
Solto um assobio, seguido de uma risada.
— Você é mesmo boa nisso.
— Eu disse. — Dá uma piscadinha. — Sou ótima observadora,
Hunter.
Eu a abraço pela cintura e logo vejo um garçom surgir, pegando uma
taça de espumante para nós dois e alguns aperitivos. Luke volta tempo
depois, logo após conversar com quase todos os convidados.
A noite cai e a festa segue de forma tranquila, comemos, bebemos e
nos divertimos à nossa maneira. Ainda que não vá para a pista de dança, eu
me divirto ao ver alguns bêbados fazendo vexame lá e, pelo tanto que Sarah
sorri, sei que está gostando tanto quanto eu.
— Vou ao banheiro rapidinho, tá? — avisa e eu aceno, vendo-a
sumir pelos convidados.
— Essa garota é um achado, Hunter — Luke diz logo que estamos
sozinhos. — Você não pode perdê-la.
Coço a barba ao me lembrar de nosso combinado.
Fingiríamos o relacionamento até o casamento e aproveitaríamos
disso até aqui.
Mas e quando voltarmos para Los Angeles? Será que Sarah não vai
querer mais me ver?
Só de pensar nisso, sinto um aperto no peito.
Não estou preparado para isso.
Ainda que não queira um relacionamento tão sério, não quero perder
o que temos.
Acho que, quando chegarmos lá, vou levá-la a minha casa para
conversarmos um pouco sobre isso e vermos o que podemos fazer.
Até lá, não vou me preocupar.
Quero curtir esses dias no Havaí e aproveitar da melhor forma a sua
companhia.
— Vou me esforçar para que isso não aconteça — digo a ele,
sincero.
Logo passa mais um garçom, pegamos outra taça de espumante e
conversamos sobre aleatoriedades. Neste momento, começo a ficar
preocupado com a demora de Sarah e penso se está tudo bem com ela.
Será que ela passou mal?
Antes que eu decida ir até ela, o vestido azul ganha meu campo de
visão e faz meu peito relaxar. Mas, quando ela se aproxima de mim e ergue
os olhos, percebo que há algo errado.
— Sarah? — indago, ao vê-la visivelmente abalada. — Está tudo
bem?
Ela acena devagar, mas não acredito nem um pouco nisso.
— Aconteceu alguma coisa? — pergunto e ela nega.
Mas, quando abraça o corpo para se cobrir, eu vejo uma marca em
seu braço, que faz o sangue nas minhas veias correr mais quente.
— Quem fez isso com você? — pergunto ríspido demais e ela se
assusta.
— Hunter…
— Quem fez isso com você, Sarah?
Meu queixo treme de raiva e eu sinto a mão de Luke em meu
ombro, mas me esquivo.
— Não foi nada, Hunter.
— O caralho que não foi! Você saiu daqui há poucos minutos sem
essa marca, Sarah.
Meu corpo inteiro treme, o ódio dentro de mim, e quando eu toco
seu braço com cuidado vejo marcas avermelhadas de dedos em sua pele
branquinha.
— Quem foi que encostou em você? Eu não vou sossegar até que
me fale. Nem que eu tenha que interrogar todo mundo que está neste lugar.
Encaro-a tão firme que ela parece entender a veracidade de minhas
palavras, então decide ceder.
— Eu estava saindo do banheiro e um cara me abordou… — Ela faz
uma pausa e eu já sinto meu coração voar pela boca. — Tentou me agarrar,
mas como estava bêbado o reflexo estava ruim e eu consegui sair.
— Mas que porra! — Fecho o punho. — Quem é esse maldito?
Sarah olha pelo salão até apontar para um imbecil de camisa azul
encostado na parede, parece bem bêbado mesmo.
O ódio me toma enquanto caminho entre as pessoas em direção a
ele, que mal nota minha presença até ver meu punho voar na sua cara.
— Que é isso…
Ele cambaleia e cai para trás, onde eu o acerto de novo.
— Hunter… — a voz de Luke surge atrás de mim, mas não me
movo.
Um burburinho se forma ao meu redor e estou pouco me fodendo
para isso.
— Encosta o dedo na minha mulher de novo para ver se eu não te
mato! — ranjo, chutando-o; ele resmunga, xingando-me de maluco e o
escambau.
— Hunter, para!
Luke me dá um tranco de uma vez e me coloca de frente para ele.
— Você já deu o seu recado, agora chega. Não estraga o casamento
da sua irmã!
Olho para o cara caído no chão, seu o nariz sangrando, e penso que
é muito pouco, a minha vontade é de voar na goela dele de novo.
Mas Luke fica falando várias vezes na minha cabeça para que eu
pare, até que um pouco de razão me toma.
Principalmente quando vejo Natalie me encarando de longe, com o
cenho franzido de preocupação.
Merda…
Eu estraguei o casamento dela.
Esfrego a mão pela barba e vou até ela para pedir desculpas.
— Natalie, desculpa estragar sua festa, mas…
— Você não estragou nada, Hunter, quem estragou foi ele — diz
apontando para o infeliz. — Acho que a Sarah precisa de você agora, vá
ficar com ela.
Procuro-a pelo salão e a encontro encolhida, ao lado de minha mãe.
Aceno e me despeço de minha irmã. Sigo até Sarah, puxando-a nos
braços.
— Você está bem? — pergunta em meu peito.
— Eu estou se você estiver. — Beijo seus cabelos com carinho.
— Podemos ir para o hotel?
— Claro, baby.
Aceno para minha mãe e para Luke ao longe, despedindo-me deles,
e levo Sarah até o carro que nos espera para levar de volta ao hotel.
Pelo caminho, ela fica em silêncio ao meu lado, ainda que abraçada
a mim.
Não sei, mas tenho a sensação de que isso a afetou bem mais do que
eu imagino.
Quando chegamos ao quarto do hotel, Sarah pede licença para ir
tomar banho e eu aproveito para me despir, tomando uma água para me
acalmar um pouco.
Porra, que inferno.
Estava tudo indo bem, mas tinha que ter um infeliz para estragar
tudo.
O som da porta do banheiro se abrindo chama a minha atenção e eu
ergo os olhos para ver Sarah com o semblante mais calmo, mas ainda triste.
— Você está bem mesmo, baby? — pergunto, tocando seu queixo
para que ela me olhe.
— Estou… É só…
Ela solta um suspiro e para.
— Foi a maneira como agi? Desculpa, mas não consegui me conter
por alguém ter te machucado.
— Não, Hunter. Você sempre foi perfeito comigo.
Ela abre um pequeno sorriso agora.
— Eu só me sinto impotente quando isso acontece — a sua voz
baixa rasga o meu peito.
— Já aconteceu outra vez?
Meu coração se acelera e Sarah demora um minuto inteiro para
assentir devagar e baixar o olhar.
— Quando eu era adolescente, aconteceu uma coisa que… — Ela
para, voltando a me encarar agora. — Hunter, eu nunca contei isso a
ninguém, além do meu psicólogo. Nem mesmo para a Claire…
— Pode confiar em mim.
Pego sua mão e entrelaço nossos dedos, vendo-a assentir.
— Eu devia ter uns doze ou treze anos, não me lembro bem — diz
pausadamente. — Tinha um amigo do meu pai que frequentava muito a
nossa casa, eles eram muito próximos.
Engulo em seco, não gostando nem um pouco do rumo dessa
história.
— A casa dos meus pais sempre teve piscina, então no verão nós a
enchíamos e gostávamos de brincar lá aos finais de semana. Eu e Josh. Em
um desses sábados, meu pai o convidou…
Ah, porra.
Isso não é nada bom.
Uma lágrima lhe escorre e eu a seco com carinho, dando a ela o
tempo que precisa para falar.
— Eu precisei ir para o banheiro dentro de casa, enquanto estavam
todos no quintal. E, quando saí, ele estava lá na porta. Pensei que estava
esperando para entrar, mas na verdade estava esperando por mim…
Sinto um nó na garganta e meu coração parece voar pela boca.
Ah, caralho.
Não me diga que esse cara encostou nela.
Não me diga que…
— Eu ia seguir pelo corredor, quando ele me puxou pelo braço e me
apertou na parede, mandando ficar calada. Eu entrei em pânico, Hunter,
queria gritar, morder a mão dele, mas o choque foi tanto que fiquei
paralisada. E então ele começou a me tocar por cima do biquíni. — Mais
lágrimas lhe descem agora, e eu continuo segurando a sua mão, firme, ainda
que por dentro eu esteja com náusea. — Quando sua mão entrou dentro da
minha calcinha, eu comecei a chorar e, por sorte, Josh entrou em casa para
pegar algo na cozinha. Eu aproveitei o susto que ele teve para sair correndo
e me trancar em meu quarto. Só saí de lá quando ele foi embora e só
conseguia pensar no que teria me acontecido se Josh não tivesse chegado.
Abro os braços e a envolvo, para que chore em meu peito.
Que merda.
Que merda do caralho.
Ela era só uma garotinha…
Quase uma criança.
Que caralho.
— Ele… Ele ainda é amigo do seu pai? — pergunto com cuidado.
Sarah se afasta de leve para negar.
— Pouco depois daquilo, ele conseguiu uma vaga de emprego na
Flórida e eu nunca mais o vi.
Solto um suspiro de alívio.
— Mas ele ainda é vivo, então?
— Não sei, acho que sim… Eu não me lembro nem do nome dele
mais, Hunter. Fiz de tudo para apagar da minha memória, por isso não
contei a ninguém. Mas hoje ver aquele cara me abordar do mesmo jeito
saindo do banheiro disparou esse gatilho em mim e me fez lembrar de
tudo…
Tomo-a mais uma vez em meus braços e beijo seus cabelos com
carinho.
— Está tudo bem agora, baby. Eu estou aqui com você.
Digo a ela várias vezes até que seu choro se acalme.
— Eu sinto muito pelo que você passou — digo, olhando em seus
olhos agora e tocando seu rosto com carinho. — Mulher nenhuma merece
passar por isso, principalmente uma criança. E você enfrentou isso sozinha
todos esses anos, mesmo sem precisar. Sabe o quanto é forte por isso, né?
Ela assente devagar.
— Estou aqui com você enquanto me permitir, Sarah. Eu vou cuidar
de você, nunca se esqueça disso.
Sarah abre um sorriso devagar.
— Me sinto melhor por finalmente contar para alguém próximo —
revela. — Obrigada por estar comigo, Hunter.
— Nunca se esqueça do quanto é forte, está bem? E seu segredo está
seguro comigo.
— Eu sei… Posso deitar um pouquinho com você agora?
— Claro.
Deito-me na cama e abro os braços para que ela se aninhe em mim.
E quando o faz, eu beijo seus cabelos, acariciando-os por um longo
momento em silêncio.
Minha mente não relaxa por um minuto.
Não consigo parar de pensar no que a Sarah criança vivenciou com
esse verme e no quanto esse cara de hoje trouxe uma lembrança ruim para
ela.
Caralho, que bando de filhos da puta.
Que filhos da puta dos infernos.
Ainda que eu não possa fazer nada sobre o seu passado, de uma
coisa eu tenho certeza.
Eu nunca mais vou permitir que alguém encoste um dedo nela.
Capítulo 24 - Sarah

ACORDAR E VER HUNTER me encarando cheio de carinho é uma


visão que se tornou uma das minhas favoritas da vida.
— Bom dia, baby… — murmura, tocando meus cabelos.
E ouvi-lo me chamar assim também.
— Bom dia, Hunter.
— Conseguiu dormir bem? — pergunta com cuidado e eu assinto.
— Bastante. Obrigada por ficar comigo.
Ele balança a cabeça e pega minha mão, dando um beijo delicado no
dorso.
— O café da manhã já chegou. — Ele aponta para a mesa ao longe.
— Já está com fome?
— Não muita, mas acho que consigo comer um pouquinho.
Ele confirma e nos levantamos em direção à farta mesa de café.
— Isso é para você.
Hunter me entrega um buquê de delicadas flores brancas com um
envelope, que me deixa um tanto curiosa.
— Para mim?
Abro o envelope e sorrio do pequeno bilhete.
“Sarah,
Espero que essas flores alegrem um pouco a sua estada.
Não pude ficar mais para me despedir de você, mas sei que está
sendo bem cuidada pelo meu irmão.
Foi um prazer conhecer você.
Um abraço, Luke.”
— Ah, meu Deus… Que fofo! — exclamo e Hunter me olha
sorrindo.
— Luke sabe ser meigo quando quer — zomba e eu rio.
— Foi muito gentil da parte dele. Agradeça a seu amigo por mim.
— Pode deixar. Ele me ligou hoje bem cedo para avisar que
precisava voltar para casa, mas estava preocupado com você depois de
ontem.
Abro um sorriso fraco.
— Será que as pessoas estão comentando?
— Não sei. — Ele dá de ombros. — Mas deixe que falem. Você não
teve culpa de nada, Sarah. O cara que foi um escroto. Descobrimos que era
o acompanhante de uma das amigas de Natalie.
Assinto, tocando as flores com carinho.
— Quer um pouco de café? — oferece e eu aceito, vendo-o nos
servir de duas xícaras.
Bebo a bebida quente e passo geleia na torrada para comer.
— Quer dar um passeio hoje, ou ficar quietinha aqui? — pergunta e
eu penso por um instante.
Olho pela janela, vejo o céu azul lá fora e o sol tão lindo.
É um desperdício que eu fique aqui no quarto, perdendo um tempo
neste paraíso por causa de um cara qualquer.
— Podemos curtir preguiça agora de manhã e passear à tarde? —
sugiro e ele assente de pronto.
— Como preferir. Eu te prometi uns dias de passeio no Havaí e
vamos fazer exatamente o que você quiser.
Sinto meu coração quentinho só por ele ser assim.
Sempre tão preocupado comigo, tão gentil…
— Você é incrível, sabia?
Hunter faz uma carinha fofa como sempre que fica desconcertado
quando recebe um elogio.
— Não mais do que você.
Ele se inclina sobre a mesa para me dar um selinho e logo
começamos a comer o nosso café de forma tranquila e relaxada.
Dormir uma noite de sono em seus braços fez toda diferença e
perceber o carinho dele e de seu amigo e família comigo, mais ainda.
Não vou deixar que ninguém estrague uma viagem que tem tudo
para ser inesquecível.

— Esta praia é deserta? — pergunto, ao ver que não há mais


ninguém por aqui.
Como combinado, depois de curtir um pouco a manhã no hotel, nos
despedimos de Natalie e Kevin para a lua de mel deles, assim como da mãe
de Hunter. Em seguida, ele me trouxe para uma das praias lindas da ilha de
Oahu.
— Não vem quase ninguém aqui e eu me certifiquei de que
estaríamos sozinhos.
De mãos dadas, caminhando à beira da água, encaro Hunter, que me
abre um sorriso travesso.
— Jura?
— Ter contatos faz toda diferença, Sarah.
Ele pisca para mim.
— E dinheiro também — completo.
Não adianta nada ter contatos e não ser rico o bastante para bancar
esses luxos e confortos.
— É, também.
Dá de ombros.
Percebo que não é de ficar se gabando da fortuna que tem, o que só
me faz aumentar meu carinho e admiração por ele.
— Então estamos completamente sozinhos? — indago e ele assente.
— Mesmo?
Hunter ri baixo.
— Mesmo. Não queria atrapalhar a nossa privacidade.
Abro um sorriso, pensando em como Hunter pensa em
absolutamente tudo.
Sei que não seria fácil para ele sair em público comigo, por isso
tratou de ajeitar tudo para que pudesse me levar para passear sem correr
nenhum risco.
— Podemos sentar ali?
Aponto para uma palmeira que faz uma sombra generosa e Hunter
concorda.
Ao chegar, tiro uma canga da minha bolsa e a estendo na areia, para
que possamos nos sentar com conforto.
Mas, antes, tiro o vestido e fico apenas de biquíni, acomodando-me
sobre ela. Hunter faz o mesmo, tirando a camiseta preta e ficando apenas de
calção escuro.
— E cá estou eu em mais uma praia com Hunter Crawford — brinco
e ele solta uma risada.
— Vou melhorar meu repertório, prometo.
— Não precisa — corto-o. — Eu adoro os lugares a que você me
leva… — Pauso e suspiro. — Olha essa paz…
A areia branquinha, o mar azul cristalino, o som das ondas se
quebrando à margem…
Não tem como cansar de uma coisa dessas.
— Melhor ainda que tudo isso — ele aponta para o cenário ao nosso
redor — é estar aqui com você.
Sinto-o tocar meu pescoço e acariciar minha pele antes de me puxar
para mais perto dele e colar nossos lábios.
O beijo de Hunter a princípio é suave, gostoso, um dançar de
línguas, uma mistura de sabores…
É delicioso, leve, e ao mesmo tempo potente.
Daqueles que me deixam completamente bamba sem fazer muito
esforço.
Minhas mãos sobem pela sua nuca e se embrenham em seus cabelos
macios, eu não paro de beijá-lo, de senti-lo, de tomá-lo para mim.
— Sarah…
Meu nome sai de seus lábios de um jeito tão sexy quando ele os roça
aos meus que me arrepio inteira.
— Se eu te contar o que estou pensando… — murmura, descendo
até o meu pescoço, onde deixa um rastro de mordidas.
Olho para todos os lados e vejo que realmente não há ninguém.
Estamos absolutamente sozinhos aqui.
Será…
— Não aguenta chegar ao hotel? — provoco, descendo uma das
mãos até o seu calção, onde o toco por cima do tecido e já o sinto
completamente duro.
— Porra, fala pra mim que eu posso te comer agora.
A voz grossa e rouca arrepia meu corpo inteiro.
Sem pensar demais, enfio a mão dentro da sua bermuda e liberto o
seu membro, que pulsa em meus dedos.
— Deixa eu só fazer uma coisa antes…
Afasto-me dele e fico de quatro, inclinando meu corpo para abaixar
a cabeça e correr a língua por toda a sua extensão.
— Caralho… — ele grunhe e eu enfio o máximo que consigo na
boca, engasgando ao final.
Hunter é enorme e seria humanamente impossível engoli-lo inteiro,
mas dou o meu melhor, levando-o ao máximo que posso. Ele agarra meus
cabelos e projeta o quadril para a frente, fodendo minha boca e me fazendo
engasgar de novo.
— Porra, Sarah…
— Que pau gostoso de chupar, Hunter — declaro, lambendo a
cabecinha agora e sugando devagar.
O metal gelado do piercing causa um efeito muito gostoso na minha
língua, o que só me incentiva a continuar, mamando com gosto em seu
cacete.
Chupo-o, sugando a glande novamente e o sinto me puxar pelos
cabelos, tirando-o de minha boca.
— Porra, se continuar vou gozar na sua boca, mas eu preciso te
comer.
Rio de seu desespero e apenas me viro de costas para ele,
empinando a bunda.
— Então vem — chamo, afastando a calcinha para o lado, e, com as
mãos agarrando a canga, viro a cabeça para encará-lo.
— Ah, caralho…
Hunter se ajoelha e agarra o meu quadril, metendo de uma só vez.
Solto um gemido alto ao senti-lo ir até o fundo, preenchendo-me
inteira.
— Porra, que gostosa.
Empino mais a bunda e rebolo contra ele, que desfere um tapa em
mim, deixando uma ardência gostosa na pele.
— Ai, Hunter — gemo ao senti-lo estocar cada vez mais rápido,
chocando seu quadril contra o meu em um ritmo insano.
E não sei se é pelo cenário paradisíaco ou se pela adrenalina de
estarmos em um local aberto, mas tudo fica ainda mais excitante, uma
sensação gostosa demais de sentir.
Ainda agarrado à minha bunda, Hunter sobe a mão até minhas
costas e desamarra o nó do biquíni, descendo a mão para apertar meu seio,
fazendo-me gemer mais.
É tão gostoso, é tão…
Rebolo empurrando o corpo para trás e me chocando contra ele
enquanto Hunter me come de um jeito descontrolado, de quatro, nessa praia
paradisíaca.
A mão que segura minha bunda me solta agora e agarra meus
cabelos, puxando forte, e logo Hunter ergue meu corpo, colocando-me de
joelhos junto com ele.
— Gostou de foder de frente para esse mar, baby? — pergunta,
mordendo a minha orelha, e sou incapaz de responder.
Seu pau entrando e saindo de mim em um ritmo frenético, uma das
mãos puxando meu cabelo e a outra apertando o meu seio descoberto…
Porra, que é isso, Hunter…
Que delícia.
Ele continua metendo e, quando sua mão solta meus cabelos para
entrar na minha calcinha e tocar o meu clitóris, eu perco o raciocínio.
— Isso… Hunter…
Deito a cabeça em seu peito, enquanto ele faz um vai e vem
frenético em minha boceta e fala várias obscenidades ao meu ouvido.
Ai, cacete.
Eu não vou durar assim.
— Eu vou gozar, eu vou…
Quando Hunter belisca meu mamilo, eu desabo, gozando de um
jeito que chega a ser absurdo.
Ele continua estocando até gozar também, apertando-me ao se
derramar dentro de mim.
— Porra… — a voz grossa me faz apenas sorrir fraco, e, quando ele
me ajuda a me vestir de novo, eu desabo na canga.
Hunter ri, vestindo-se para deitar ao meu lado.
— Já transou na praia antes, Sarah? — indaga e eu nego.
— Nem eu…
Olho para ele, que me encara divertido.
— Acha que só você tem primeiras vezes inesquecíveis?
Rio baixo e o sinto me envolver com seus braços quentes.
— Obrigado por vir comigo para o Havaí, Sarah — diz, sincero, me
encarando firme dentro dos olhos. — Eu nunca vou me esquecer desses
dias.
Ergo a mão e toco seu rosto, correndo os dedos pela sua barba cheia.
— Obrigada pela viagem incrível, Hunter. Nunca terei palavras para
descrever.
Ele sorri, inclinando-se para me dar um selinho.
— Ainda temos alguns dias nesse paraíso, mas já me sinto grato a
você. Por tudo.
Seus olhos me encaram com tanta firmeza agora, que eu engulo em
seco.
— Com seu jeito meigo e doce… Você se aproximou aos poucos,
respeitando meu espaço e enxergou um Hunter que eu nem mesmo
reconhecia.
Abro um enorme sorriso, ainda tocando-o com carinho.
— Eu nunca vou me esquecer de tudo o que fez por mim — diz. —
Não sei o que o futuro nos reserva, mas preciso que saiba que você sempre
terá um lugar especial aqui dentro.
Hunter aponta para o peito e eu sinto meu coração falhar.
— Eu nunca… Nunca vou me esquecer de você, Sarah.
Engulo em seco, sentindo a garganta se fechar em um nó diante da
veracidade de suas palavras.
— Nem eu… — sussurro, vendo-o abrir um sorriso de leve. —
Nunca vou te agradecer o bastante por ter se oferecido para trocar o meu
pneu, se não fosse pela sua gentileza, nada disso teria acontecido.
Ele acena, sorrindo um pouco mais.
— E tudo o que você me proporcionou… Os jantares, os passeios,
as conversas… Vou carregar tudo para sempre no meu coração, Hunter.
Tenha certeza disso.
E então ele me cala, beijando-me daquele jeito só dele.
Daquele jeito que me diz muito mais do que suas palavras.
Que confirma tudo o que ele disse.
Que não importa o que aconteça, tudo que nós vivemos juntos…
Será levado no coração, por toda a vida.
Capítulo 25 - Hunter

— AH, NEM ACREDITO que vamos voltar para casa… — Sarah suspira,
jogando-se na cama, ao lado da mala aberta.
Hoje acordamos cedo, tomamos café da manhã e começamos a
organizar nossas coisas para voltar para casa. O jato alugado parte em
algumas horas e iremos direto para Los Angeles.
Como prometido, ficamos mais alguns dias na ilha depois do
casamento e conseguimos fazer passeios incríveis. Sobrevoamos o Parque
Nacional do Vulcão de helicóptero, conhecemos o museu de Pearl Harbor e
fizemos passeios aquáticos, nos quais vimos tartarugas marinhas, baleias e
golfinhos. Sarah ficou deslumbrada com tudo e, a cada sorriso dela, eu tive
a certeza de que valeu todo o meu esforço para fazer isso dar certo.
Ela merece momentos assim e eu farei de tudo para proporcioná-los.
— Eu posso ficar mais se quiser. — Dou de ombros, enquanto
organizo a minha mala e ela solta um resmungo.
— Preciso atender meus pacientes… A vida adulta me chama.
O beicinho que faz me tira uma risada e eu não resisto a ir até ela,
dar um beijo em sua boca gostosa.
— Pelo menos valeu a pena, né? — murmuro, correndo os dedos
pelo seu rosto.
— Com toda certeza valeu.
Mais um beijo e somos interrompidos pelo meu celular vibrando no
bolso.
— É meu advogado, preciso atender.
— Claro, fique à vontade.
Vejo que o celular de Sarah toca também e ela atende à ligação,
enquanto eu sigo até a varanda do hotel para atender ao meu.
— Brian.
— Hunter, más notícias.
Sinto um aperto no peito e penso no que pode ser.
Porra, sua voz não é nada boa, nada mesmo.
— O que foi? Algum problema com o avião?
— Não, pior… — Ele para e ouço sua respiração ao fundo. —
Alguém tirou fotos suas com Sarah na viagem e espalhou em toda a
internet.
— COMO É QUE É?
— Acabaram de vazar e meu celular não para de tocar. Estou
tentando descobrir quem fez isso e entrando em contato com os sites para
derrubar, mas precisava te avisar.
Caio sentado na cadeira da varanda, sentindo meu corpo inteiro
tremer.
Porra!
Como isso foi acontecer?
— Nós cuidamos de tudo, Brian.
— Eu sei! Também estou tão incrédulo quanto você. Mas vamos
resolver isso, ok? Pedi para enviarem reforços para a sua segurança até o
aeroporto e qualquer coisa vai me falando.
— Caralho…
Esfrego a barba nervoso.
Isso não pode estar acontecendo.
— Tem como antecipar esse voo? Se eu ficar aqui mais tempo,
podem me encontrar no hotel e a coisa feder ainda mais.
— Eu vou providenciar isso e te ligo quando conseguir.
— Obrigado.
Jogo o telefone na mesa e bufo, coçando a barba ainda mais.
Inferno!
— Hunter?
Olho para trás e vejo Sarah me encarando com os olhos arregalados.
— Já ficou sabendo? — pergunto nervoso e ela assente.
Caralho.
Para ter chegado ao ouvido da Sarah, é porque todo mundo viu essa
porra.
Puta que pariu.
Levanto-me de pronto e ando até ela, que está com o semblante
assustado.
— Está por toda parte.
Ela ergue o celular para mim e eu nego.
Não quero ver essa porra.
— É de algum passeio que fizemos?
Ela assente, mordendo o lábio devagar.
— Tiraram fotos de nós dois de mãos dadas, nos beijando…
Ah, caralho…
Bufo mais uma vez, sentindo meu corpo inteiro tremer.
Que porra!
— O pior são as legendas tendenciosas… Hunter, eu não sou isso
que estão dizendo.
E então, quando uma lágrima lhe escorre, eu entendo a gravidade do
ocorrido.
Não basta terem divulgado fotos minhas depois do acidente,
mostrando-me depois de anos a fio tentando manter o anonimato.
Colocaram a Sarah no meio, a pessoa mais doce que existe…
— Eu não sei o que estão dizendo, mas não acredite nisso, ok? —
Puxo seu queixo e a faço olhar para mim. — A mídia é uma filha da puta do
caralho, por isso eu odeio essa porra. Por isso eu sumi por tantos anos. Não
dê ouvidos a eles, Sarah! Eles só sabem falar merda.
Sarah assente, mas seus olhos não estão tranquilos, então eu a puxo
em um abraço.
— Eu vou resolver isso, ok? Brian já está mexendo tudo para
derrubar esses sites, nós vamos cuidar disso.
Eu ainda estou com ela nos braços quando ouço meu celular vibrar
na mesa. Solto-a para atender e vejo o nome de Brian surgir na tela.
— Conseguiu?
— O carro já está chegando aí para te buscar. Assim que chegarem
ao aeroporto, já vão decolar.
— Certo, obrigado.
Desligo e volto a atenção a ela.
— Vamos fechar a mala e descer, conseguimos adiantar o voo.
Sarah assente e disparamos até a bagagem, organizando tudo.
— Você tem algum disfarce? — pergunto a ela.
— Só os óculos escuros.
Fuço a minha mala e entrego um boné para ela.
— Coloca esse boné e um casaco fechado, se tiver.
Ela assente e eu puxo o moletom para vestir, cobrindo-me com o
capuz. Não sei o que nos aguarda lá fora, então é melhor prevenir.
Com tudo pronto, viro-me para ela antes de sair.
— Vai dar tudo certo, ok? Pode confiar em mim.
Sarah assente e eu sigo em sua frente, cobrindo-a enquanto vem
logo atrás. Pelos corredores não vemos nenhuma movimentação, então
conseguimos seguir até o andar de baixo.
Mas, quando atravessamos a porta da recepção, uma enxurrada de
repórteres, fotógrafos e paparazzi surgem, fazendo várias perguntas ao
mesmo tempo.
— Hunter Crawford? Como é estar de volta depois de tantos anos?
E agora namorando? Ela é sua psicóloga, como dizem ser? Há quanto
tempo estão tendo um caso?
Os flashes disparados em minha direção, as milhares de perguntas
me trazem um sufocamento, uma falta de ar.
Estico a mão para trás e encontro a de Sarah, puxando-a depressa
desse tumulto e levando até o carro reservado para nós.
Nos acomodamos no banco traseiro enquanto o motorista guarda
nossas bagagens e eu sinto as mãos tremerem, o corpo inteiro suar e uma
falta de ar incessante.
— Hunter? — mal consigo ouvir a voz de Sarah. — Você está bem?
Nego, abaixando a cabeça, tentando fazer um exercício de
respiração que aprendi para esses momentos, mas não parece funcionar
muito bem.
Tudo o que consigo pensar é nos flashes, nas perguntas, nos
repórteres, em tudo de que eu fugi por todos esses anos.
Fecho os olhos, puxo o ar para os pulmões bem fundo e sinto o peito
doer quando o veículo é arrancado e as ruas vão ganhando vida ao nosso
redor.
— Há algo que eu possa fazer para te ajudar? — ela pergunta e eu
nego, ainda olhando para baixo.
Minhas mãos formigam e eu sei que precisava erguer a cabeça para
respirar, mas simplesmente não consigo.
Eu não quero lidar com o mundo lá fora.
Não quero ser visto.
Não quero ser reconhecido.
— O senhor pode abaixar a temperatura do ar-condicionado, por
favor? — ouço-a pedir ao motorista, que acata no mesmo momento.
E a temperatura mais fria ajuda um pouco, mas não é suficiente.
Sua mão toca meu ombro e acaricia de leve, seu toque me trazendo
um pouco de conforto em meio ao caos.
— Consegue erguer um pouco a cabeça? — pergunta e eu nego. —
Não há ninguém do lado de fora, Hunter, só os carros passando.
Meu peito ainda dói para caralho quando eu arrisco olhar para ela de
lado, vendo que tem o cenho franzido.
— Pode confiar em mim, respira um pouquinho.
Sua voz doce me acalma um pouco, então, com muito custo, ergo a
cabeça, mas sem abaixar o capuz. O simples fato de erguer o tronco faz com
que eu respire mais fácil e meu corpo reage melhor aos tremores.
— Vai ficar tudo bem — ela diz, acariciando meu braço devagar. —
Estamos juntos nessa.
Sinto um nó na garganta por pensar que a arrastei a esse inferno
comigo. Que por minha causa sua foto está estampada em todos os sites,
dizendo coisas absurdas ao seu respeito.
Mas que porra.
Que caralho.
Ela não merece isso.
Quando por fim chegamos ao aeroporto, a equipe de segurança nos
aguarda no estacionamento e faz uma contenda para passarmos para a área
de embarque, porque os malditos também nos acharam aqui.
Protejo Sarah dentro do meu casaco para atravessarmos todo esse
tumulto e mais uma vez sou atingido por aquela onda de tremores que eu
odeio.
Quando finalmente estamos seguros no avião, peço para fecharem
todas as janelas e tiro o capuz, conseguindo respirar.
— Você está bem? — Sarah pergunta ao meu lado.
— Eu vou ficar — é tudo o que consigo dizer antes de beber um
pouco de água.
Meu coração ainda está disparado.
Minhas mãos ainda tremem.
E meu corpo inteiro parece entrar em combustão.
Os flashes, os malditos flashes, as perguntas sem noção…
Porra.
Tudo volta como um turbilhão em cima de mim.
Fecho os olhos e respiro fundo algumas vezes, tentando me acalmar
até conseguir estar razoavelmente melhor.
— E você? — pergunto a ela, que balança a cabeça para mim.
— Está tudo bem, Hunter — diz, mas não acredito nem um pouco
nisso.
Porém, não tenho forças agora para questionar, então apenas aceno,
fechando os olhos por um momento.
Bem não estamos, tenho certeza disso.
Mas pelo menos estamos seguros e voltando para casa, o que já vale
muita coisa.
Fico pensando no que nos aguarda quando chegarmos a Los
Angeles. Toda a mídia nos esperando no aeroporto, a perseguição a todos os
meus passos e os de Sarah.
Lá as coisas serão muito piores que no Havaí, muito mesmo.
E essa imagem me vem tão vívida, tão forte, que me desestrutura.
Tiro o cinto de segurança e corro até o banheiro, ajoelhando-me de
frente para o vaso sanitário para vomitar.
Coloco tudo para fora e cambaleio até a pia, onde lavo o rosto,
agradecendo por não ter nenhum espelho por aqui.
Não estou a fim de lidar nem comigo mesmo.
Um pouco mais calmo, volto para o assento e encontro Sarah me
olhando preocupada.
— Você está bem mesmo?
— Eu vou ficar, não se preocupe — digo e seu semblante não se
suaviza.
— Hunter…
— Preciso ir para casa, ficar sozinho… Lá eu vou ficar melhor.
Sarah balança a cabeça em silêncio, eu encosto a minha no assento e
fecho os olhos, tentando acalmar os pensamentos.
Minhas mãos ainda estão trêmulas, mas pelo menos consigo respirar
melhor, o que torna a viagem um pouco mais suportável.
Porém, são cinco horas e meia aqui.
Que parecem demorar cinquenta para passar.
Inferno.
Desse jeito eu vou ficar maluco.
Depois de uma longa e desconfortável viagem, onde conversei o
mínimo de palavras com Sarah, finalmente chegamos.
Visto o capuz mais uma vez e a coloco atrás de mim, quando somos
rodeados pelos seguranças e novamente abordados pelos jornalistas, só que
desta vez em número muito maior.
Com toda dificuldade, conseguimos entrar no veículo e sair do
lugar. Mais uma vez aquela ânsia de vômito me toma, mas me concentro ao
máximo para me segurar e não sujar o carro.
Percebo Sarah visivelmente preocupada ao meu lado e me sinto
péssimo em não lhe dar tanta atenção, não quando estou fazendo todo meu
esforço para respirar, sem entrar em parafuso.
Quando finalmente chegamos ao seu prédio, aqui não temos
ninguém nos vigiando, o que me faz respirar um pouco mais tranquilo.
— Você vai direto para casa? — ela me pergunta e eu assinto. —
Certo. Me avisa quando chegar lá, tudo bem?
Balanço a cabeça querendo dizer mais a ela, querendo conversar,
mas simplesmente não tenho forças para isso.
— Fica bem, Hunter. Qualquer coisa, me liga.
Sarah aperta a minha mão de leve e sai do carro, pegando sua
bagagem com o motorista.
Atrás de nós, o carro com a segurança nos espera e, logo que ela
adentra o prédio, seguimos até o condomínio onde eu moro.
E só quando estou trancado, dentro da minha casa, com tudo
fechado, é que consigo respirar um pouco melhor.
Caio sentado no chão vendo T-Bag vir em minha direção,
esfregando-se em minha perna.
Encosto a cabeça na parede, fechando os olhos e respirando fundo
tentando entender toda essa merda.
Pensando em como uma viagem que estava sendo incrível virou
todo esse inferno.
E, pior, levando junto a pessoa que se tornou tão especial para mim.
Ter a mídia de volta em minha vida doeu pra caralho.
Mas doeu ainda mais ver Sarah sendo arrastada para isso.
Quando finalmente estou respirando melhor, sozinho, longe de tudo
isso e em segurança em minha casa, pego o telefone para ligar para ela.
— Hunter? — ela atende logo no primeiro toque.
— Sarah…
— Como você está? — pergunta e eu decido ser sincero.
— Respirando melhor, mas meu corpo está pesado e a cabeça,
começando a doer.
Sinto uma fisgada forte.
Pelo visto uma crise de enxaqueca me aguarda daqui a pouco.
— Tenta comer alguma coisa e tomar um analgésico antes de deitar
para descansar.
Balanço a cabeça, pensando que comer é algo que dificilmente eu
vou conseguir agora.
— Sarah, eu… — começo a falar e paro, coçando a barba ansioso.
— Não sei se consigo lidar com tudo isso agora. Preciso de um tempo
sozinho, longe de tudo…
Dói no fundo do meu peito dizer isso agora, mas não há outro jeito.
Ainda que eu adore a sua companhia e vá sentir falta pra caralho disso, não
dá.
Não com tudo desabando em cima de mim.
— Eu entendo, Hunter… — sua voz tem uma nota triste e isso rasga
meu coração. — Se preocupe em ficar bem agora.
— Brian está cuidando de tudo e vai entrar em contato com você.
Caso precise de qualquer coisa, ele está a sua disposição, ok? Você não
estará sozinha.
— Claro, eu te agradeço muito.
Um longo silêncio na linha e a ouço soltar um suspiro.
— Fica bem, Hunter… Caso precise de mim, sabe onde me
encontrar.
— Você também.
Desligo o telefone com o coração batendo forte no peito e, desta
vez, não é do jeito bom.
É do jeito pior que existe.
Eu fui do Céu ao Inferno em poucas horas.
Eu conheci um lado bom da vida até ser sugado de novo para a
escuridão.
Aquela que costumava ser minha companheira.
E que, pelo visto, nunca sairá de perto de mim.
Capítulo 26 - Sarah

ENCERRO O ÚLTIMO ATENDIMENTO do dia e fecho o laptop,


soltando um suspiro.
Foi difícil me manter firme no trabalho, já que na vida pessoal meu
mundo está desabando, mas me mantive firme. Na verdade, trabalhar me
trouxe um pouco de distração para a mente diante de todo esse caos.
Logo que cheguei ontem em casa, Claire me esperava e eu corri para
os seus braços, chorando tudo o que não chorei perto de Hunter.
Eu ainda não sei expressar o que estou sentindo agora.
É um misto de…
Tudo.
Ontem tive um vislumbre de como era a vida de Hunter e por que
ele quis se afastar de tudo. Eu passei a entendê-lo perfeitamente, afinal.
A mídia é maldosa, é cruel…
Pouco se importaram com os motivos de Hunter, apenas mandaram
toda a sua privacidade para o ralo quando divulgaram suas fotos, mostrando
boa parte das tatuagens.
As especulações a respeito delas me entristeceram bastante.
Ninguém sabe ou quer saber o que Hunter enfrentou ou como se sentiu
diante disso, apenas têm curiosidade para saber o que cobre com todas elas.
Se sua pele ficou deformada, se ele se machucou muito…
O ser humano é movido a curiosidade e, nessas horas, pouco se
importa se isso é algo que toca na ferida de alguém.
Ainda bem que Hunter não viu nada disso e espero que continue
assim. Se ele ler todos os comentários das redes sociais, é possível que seu
progresso dos últimos meses caia por terra.
E pensar que ainda falaram de mim…
Essa parte também me machucou muito, mesmo sabendo que ele
não teve culpa alguma.
Mas ser chamada de interesseira, de oportunista e antiética, sendo
que nem meu paciente Hunter é, mexeu demais comigo. Frases do tipo “O
que será que ele viu nela?” ou “Quanto ele está pagando por isso?” e até
mesmo “Gastando todo o dinheiro dele no Havaí” estão por toda parte e não
consigo tirar da cabeça.
Mesmo sabendo que é mentira, que eles não me conhecem e nem
mesmo ao Hunter.
Mas ainda assim…
Ver todo o país te julgando sem nem ao menos te conhecer é
sufocante.
Como Hunter disse, hoje, logo pela manhã, seu advogado entrou em
contato comigo. Ele me assegurou de que está cuidando de tudo e que está à
minha disposição. Percebi que Hunter lhe deu a tarefa de me dar todo o
suporte que ele próprio não consegue me dar agora, o que me faz sentir
ainda mais um aperto no peito. Mesmo que seu mundo esteja desabando,
ele não deixa de cuidar de mim.
Levanto-me da cama e sigo até a cozinha para beber um copo de
água. Aproveito para pegar o celular e conferir minha caixa de mensagens.
É outra que não para de apitar desde que deixei o Havaí ontem.
O dia inteiro chegam mensagens para mim, de familiares e amigos,
ou apenas curiosos. Alguns preocupados comigo, outros só querendo saber
detalhes da minha vida para alimentar fofocas alheias.
E, na boa, que inferno isso.
Agora eu consigo entender de fato por que Hunter quis se manter
invisível por todos esses anos e nem imagino como deve ser horrível a vida
de uma celebridade que, a cada bocejo que dá, tem uma fila de paparazzi
vigiando.
Pelo bem da minha sanidade mental, Claire me deu a ideia de fazer
os atendimentos on-line por esses dias, até que a poeira abaixe. Pedi a
Judith ajuda para entrar em contato com meus pacientes e, por sorte, todos
foram compreensivos e aceitaram, assim consegui trabalhar sem sair de
casa.
Busco uma maçã na fruteira para comer e me sento na bancada para
picar em alguns pedaços.
E além de toda essa bagunça em que nos envolvemos, a perseguição
da mídia e tantas palavras ruins, ainda tem a pior parte…
Perder Hunter.
Não sei por quanto tempo, se é temporário ou para sempre.
Mas saber que não vou vê-lo mais, nem trocar mensagens, ou ouvir
sua voz, tem rasgado o meu coração. São pouco mais de vinte e quatro
horas sem nenhum contato com ele e já sinto uma dor absurda.
Eu me acostumei a tê-lo por perto, a apreciar sua companhia…
Do homem doce, gentil e engraçado que ele é.
Que coloca sempre meu bem-estar acima de tudo, que se preocupa
comigo, que cuida de mim…
Sinto um nó na garganta, uma lágrima me escorre ao pensar nele e
em tudo o que vivemos nos últimos tempos.
Em todos os encontros perfeitos, seus beijos, seus toques, seu
carinho…
Solto um suspiro ao pensar no quanto está doendo não o ter mais
aqui, mas entendo que ele precisa de um tempo sozinho para processar tudo
isso.
Entendo mesmo.
Principalmente ao vê-lo tão afetado com tudo que estava
acontecendo. Mais um pouco e eu o levaria direto para o hospital, de tão
preocupada que eu estava com ele.
Não imagino como deve ser difícil para ele e só consigo torcer para
que fique bem de verdade.
Enquanto isso, vou tentando sobreviver, reunindo os caquinhos do
meu coração.
Porque a verdade é que ele tomou um espaço muito grande aqui
dentro…
Ouço a porta se abrindo e vem Claire em minha direção, chegando
do trabalho.
— Oi, amiga. Como você está?
Dou de ombros, mordendo um pedaço de maçã.
— Sobrevivendo.
Ela se aproxima e beija o topo dos meus cabelos.
— Deu tudo certo nos atendimentos em casa?
— Deu, sim. Obrigada pela ajuda.
Ela nega, pegando um copo de água para beber.
— Sair de casa não seria uma boa opção, imagino que a clínica
esteja movimentada de curiosos.
— Judith me disse que tem alguns jornalistas na porta esperando
pela aparição de um de nós dois.
— Nossa, mas que povo infernal, hein? — reclama, antes de se
sentar de frente para mim. — Hunter também não deve ter ido, né?
— Com toda certeza, não. Falei para Judith oferecer a ele a consulta
on-line e espero muito que ele aceite. Hunter não pode ficar sem terapia,
Claire. Não agora que ele estava indo tão bem…
E isso é uma das coisas que me entristece tanto.
Ver o quanto Hunter estava indo bem e que agora pode colocar todo
seu progresso por terra.
Esfrego os olhos, deixando a maçã de lado.
— Não está fácil, né?
— Não… — respondo, sentindo um nó na garganta. — É sobre
tudo, sabe? O que falaram do Hunter, o que falaram de mim, a forma como
ele reagiu a tudo… Amiga, ele chegou a vomitar dentro do avião de tão
nervoso que ficou.
— Tadinho, Sarah…
— Pois é. E ainda não posso estar com ele agora, não posso abraçá-
lo nem dizer que vai ficar tudo bem, porque não sei se vai ficar.
Solto um suspiro, sentindo meu peito doer.
— E sinto falta dele… — confesso, fungando baixinho. — Sinto
tanta falta dele… Pode ser só um dia longe, mas não é só isso. É que eu não
sei quanto tempo vai durar… E se eu nunca mais o vir de novo?
E, só de pensar nessa possibilidade, dói ainda mais e não consigo
conter uma lágrima.
— Sarah… Você se apaixonou, não foi?
Ergo os olhos para ela, que me encara com empatia no olhar.
Nunca parei para pensar nisso, em nomear um sentimento, já que
combinamos que não colocaríamos um rótulo.
Mas não tem como ser diferente disso.
Não quando tudo o que meu coração precisa hoje é dele.
Apenas dele.
Quebrado, por inteiro, apenas os pedaços…
Não importa.
Eu o quero de qualquer jeito.
Apenas balanço a cabeça para ela devagar, sentindo mais uma
lágrima rolar.
Claire não diz mais nada, apenas se levanta para me abraçar,
envolvendo-me em seu abraço quente, dando todo o suporte de que preciso.
E aqui, com ela, mais uma vez me permito desabar.

Já estou me preparando para dormir, quando ouço meu telefone


tocar e vejo o nome de Josh surgir na tela.
Desde que cheguei, os únicos a que eu tenho respondido mensagens
e dado alguma atenção são meus pais, meu irmão e Claire. O resto tenho
ignorado com louvor, porque não sou obrigada. Minha mente está
extremamente cansada para lidar com tudo isso.
— Oi, Josh — atendo sua ligação, sentando-me na cama e puxando
um lençol para me cobrir.
— Oi, Sarah… Como você está?
— Na mesma.
Brinco com a ponta da fronha do travesseiro, enrolando-a no dedo.
— Teve alguma notícia dele?
— Ainda não…
Desde que a bomba explodiu, meu irmão ficou bastante surpreso por
Hunter ser o cara com quem eu estava saindo, mas, como sempre, não me
julgou. Em Josh eu sempre vou receber acolhimento e carinho.
— Será que ele está bem?
— Não sei, Josh… Eu espero muito que sim.
Ouço-o suspirar do outro lado.
— Porra, que merda, hein?
— É… Que merda.
Não tem outra forma de definir isso.
— Como foi o trabalho hoje? Conseguiu fazer os atendimentos de
casa?
— Consegui, sim, graças a Deus. Todos concordaram e deu tudo
certo.
— Isso é ótimo.
Ficamos por um momento em silêncio, apenas ouvindo a respiração
do outro ao telefone.
— Sabe que, para qualquer coisa que precisar, estarei aqui, não é?
— Eu sei… Vocês todos têm sido maravilhosos comigo. Eu só
preciso ficar um pouco sozinha agora, mas prometo que logo vou ver vocês.
— Tome o tempo que precisar, só não se esqueça de que eu te amo,
tá? E que eu faço de tudo por você.
— Eu sei, Josh. Você me salvou mais vezes do que pode imaginar.
Eu também amo você.
— Boa noite, maninha.
— Boa noite.
Encerro a ligação e fico olhando para o celular, tentada a mandar
uma mensagem para Hunter.
Desejar boa noite, saber como ele está…
Mas não quero pressioná-lo, então prefiro deixar como está.
Apago as luzes do quarto e abraço o travesseiro ao me deitar,
sentindo mais uma vez aquela dor me invadir.
Ah…
Que saudade, Hunter.
Que saudade imensa de você.
Capítulo 27 - Hunter

DEIXO A PORTA DESTRANCADA para que Luke entre sem que eu


precise abri-la e ele não demora muito a passar por ela.
— Hunter? — chama e eu ergo o braço do sofá, sinalizando para
que venha em minha direção.
E, quando ergo os olhos para ele, está me encarando com o cenho
franzido.
— Como você está?
Apenas dou de ombros e ele se senta ao meu lado.
— Não muito diferente do que eu já estive um dia.
— Brian conseguiu alguma coisa? — pergunta, ajeitando-se no sofá
e abrindo os primeiros botões da camisa social.
— Conseguiu tirar dos principais jornais, mas sabemos que não é
suficiente. A merda já foi feita. Caiu na internet, já era, milhares de pessoas
já tiveram acesso às imagens e vão distribuindo em todos os cantos.
Solto uma bufada, esfregando a mão na barba, nervoso.
— Mas pelo menos ele descobriu quem foi — digo e ele me encara
curioso. — Foi aquele filho da puta que mexeu com a Sarah no casamento.
— Não brinca…
— Parece que ele se doeu pela surra que levou e me dedurou para os
jornais.
— Mas que pau no cu!
— Natalie entregou a Brian o termo que ele assinou de sigilo e
vamos ver o que conseguimos fazer. Eu posso processá-lo, mas ele também
pode prestar queixa de agressão e aí pode ser que role um acordo.
Sinceramente, deixei isso nas mãos do advogado. O que ele decidir está
feito, estou sem forças para lidar com muita coisa agora.
— Cara, que merda… E os paparazzi não estão te dando sossego,
né? Vi alguns rodeando os portões do condomínio quando cheguei.
— Uma hora eles se cansam. Foi assim da primeira vez, vai ser
assim de novo.
— E até lá você fica preso em casa?
— E existe outro jeito, Luke?
Encaro-o firme e ele acena devagar.
— Mas que inferno, hein?
Balanço a cabeça assentindo.
Não tem o que fazer.
Paciência.
— E Sarah? ​Teve alguma notícia dela?
— Somente através de Brian. Eu o deixei incumbido de cuidar de
tudo para ela e me dar notícias, para que eu fique mais tranquilo. Sei que
está fazendo seus atendimentos de casa, até que os jornalistas se esqueçam
dela. Já faz uns dias desde que a deixei em casa e não nos falamos mais
depois daquela ligação. Para saber se ela está bem e se precisa de alguma
coisa, tenho tido o auxílio de Brian, mas infelizmente não consigo oferecer
mais a ela. Não quando eu estou arruinado por dentro.
Está doendo pra caralho ficar longe dela, mas sei que é o mais
seguro para ela agora. Eu já ferrei com a vida da garota uma vez, não
preciso ferrar de novo.
— Vocês não vão mais se ver? — pergunta preocupado.
— Não sei, Luke… Pelo menos, não agora. Fui eu que levei esse
inferno todo para a vida da Sarah, não quero piorar as coisas. É mais seguro
que fique longe de mim. A mídia vai se esquecer dela mais rápido.
Luke me encara pensativo antes de assentir.
— Porra, que merda! Vocês estavam se dando tão bem, você fez
tanto progresso nesses últimos meses. Saindo de casa, se divertindo… Que
bando de filhos da puta, pau no cu do caralho!
Luke desata a xingar e eu só sorrio fraco, balançando a cabeça.
Não há o que fazer.
Essa é a merda que virou a minha vida.
— Acho que eu deveria sumir — falo e meu amigo arregala os olhos
para mim.
— É o quê?
— Sério, Luke… Eu vou fazer o que aqui em Los Angeles, se eu
não tenho paz? Foi aqui que eu nasci, aqui que consolidei a minha carreira.
Por todo canto que eu vou, vão se lembrar de mim. Cansei dessa merda.
— E pretende fazer o quê? Mudar daqui? Você vai ser reconhecido
em qualquer lugar deste país. Sabe que sua carreira foi marcante no futebol.
— Mas não preciso ficar no país…
Dou de ombros e Luke franze o cenho para mim.
— Está mesmo considerando deixar os Estados Unidos?
— Que outra escolha eu tenho, Luke? — Abro os braços em
rendição. — Estou cansado de viver desse jeito. Pela primeira vez depois de
três anos, eu tive alguma alegria na vida e vem essa merda e me tira tudo. E,
pior, atinge a pessoa mais especial que já conheci.
Sinto um gosto amargo na garganta, uma dor no peito que nunca vi
igual.
O que mais me machuca em toda essa história é ter prejudicado
Sarah.
Ela não merece isso.
— Porra, tem que haver um jeito…
Ele corre as mãos pelos cabelos, ansioso, mas eu nego.
— Não tem, Luke. — Solto um suspiro. — Eu só estou mesmo
cansado. Devo ter vindo ao mundo para ficar sozinho.
— Não fale uma coisa dessas…
— Então me dê uma explicação para a minha vida ser essa sucessão
de desgraças, sério mesmo.
— Sua vida não é só desgraças. Você está vivo, Crawford. Poderia
ter morrido naquela explosão da churrasqueira, mas está aqui, respirando,
vivendo bem.
— Às vezes eu sinto que preferia ter morrido… — solto e ele fecha
a cara para mim.
— Cala essa boca, seu filho da puta! Repete isso de novo, para ver
se eu não quebro a sua cara!
Jogo a cabeça no sofá e encaro o teto de casa, pensando no inferno
que tudo se tornou nos últimos dias.
E, de tanto pensar, minha cabeça dói.
Tenho vivido isso todos os dias.
— Vou pegar uma cerveja, estamos precisando.
Luke se levanta e vai até a cozinha, no instante em que T-Bag
aparece e sobe no sofá, sentando-se ao meu lado para se lamber.
— Não se preocupe, tá? Se eu for embora mesmo, te levo comigo —
murmuro para o gato, que solta um miado. — Não vou te deixar para trás.
Quando meu amigo volta, me entrega uma garrafa de cerveja, e eu
dou um longo gole nela.
— Se você decidir ir embora, vai contar para Sarah? — pergunta e
eu sinto um golpe no peito.
— Não sei…
— Porra, você não vai fazer isso! Não vai se mudar do país sem
contar para ela!
— Eu não sei, tá legal? Para de me pressionar, caralho! — exaspero-
me, levantando-me de pronto. — Eu não sei o que fazer da minha vida, não
sei se fico nesta porra de cidade, se me mudo para o outro lado do planeta,
ou se pulo de uma ponte de uma vez e acabo com esse inferno. EU NÃO
SEI, LUKE! EU NÃO SEI DE PORRA NENHUMA!
Bebo mais um gole da cerveja, correndo as mãos nervoso pelo
cabelo, descendo até a barba. Meu corpo inteiro treme e eu luto com a
vontade de chorar.
Faz tempos que não faço isso, não vou fazer agora.
— Desculpa — pede, com a voz calma, e eu abaixo o olhar para ele.
— Eu nem imagino como deve ser uma merda estar na sua pele agora, e
você não precisa de ninguém para te atrapalhar mais ainda. É que eu fico
preocupado com você, é meu melhor amigo, a pessoa que me estendeu a
mão nos meus momentos mais de merda. Me dói também te ver assim.
Balanço a cabeça assentindo, enquanto bebo mais um pouco, até que
me acalmo.
Com a respiração mais tranquila, volto a me sentar no sofá e
ficamos os dois sentados, fitando o nada por um momento.
— Eu te apoiei uma vez e vou te apoiar de novo. Se quiser sair do
país, eu te ajudo nessa — diz e eu aceno de leve. — Só quero que pense
mais um pouco antes de tomar uma decisão assim. Como você disse, você
nasceu aqui, sua família está aqui e a garota que você ama também. Pensa
se vale a pena deixar tudo para trás.
Sinto uma coisa diferente no coração quando ele fala sobre Sarah.
— Eu não…
— Ah, você ama, sim — interrompe-me. — Só está com a mente
confusa demais para perceber. Mas acredite em mim, você daria o mundo
por aquela mulher. Não desista dela assim tão fácil, não desista de vocês.
Olho para ele e engulo em seco, sendo incapaz de responder.
De fato minha mente está confusa para caralho. A minha vida se
tornou essa bagunça infernal e eu realmente não sei o que fazer.
Olhando por essa perspectiva, percebo que não tenho coragem de ir
para tão longe dela assim. Porque, por mais que eu não a esteja vendo esses
dias, sei que está bem, segura e a alguns quilômetros de mim.
Minha garganta se fecha ao pensar nela e em tudo o que vivemos
nos últimos meses. Sua voz doce, seu jeito meigo, e toda aquela alegria que
ela irradia. A minha dose de paz e de calmaria em meio a todo o caos da
minha vida.
Porra, que falta ela me faz…
Além de toda essa merda, ainda tenho que lidar com a dor de não a
ter comigo sempre. De não conversar, nem trocar mensagens, ou ouvi-la me
chamando de Sr. Mistério…
— Sinto falta dela — confesso, depois de um longo momento em
silêncio.
— Eu sei… As coisas ainda estão muito recentes, Hunter, e acho
que deve mesmo tomar esse tempo. Mas não o prolongue muito, para que
não seja tarde demais.
Esfrego a barba, nervoso, assentindo de leve.
Ele está certo, sei que está.
Mas não há muito o que fazer agora.
Preciso mesmo esperar.
E torcer para que, quando tudo isso passar, ela ainda me queira por
perto.
Capítulo 28 - Sarah

O INTERFONE TOCA e eu sinto um sobressalto, por estar sozinha.


Com o coração acelerado, deixo minhas coisas e sigo até ele para
atender.
— Pois não?
— Entrega para Sarah Corbett — anuncia.
— Entrega? Mas eu não estou esperando nada…
— São flores, a senhora pode buscar?
Meu coração dá um salto por pensar no que pode ser.
Será…
Será que são dele?
— Ah, claro. Vou descer.
Calço os chinelos e pego minha chave para descer pelo elevador.
Quando vejo a portaria principal, solto um suspiro de alívio por ver que não
há mais ninguém além do entregador.
— Aqui.
Ele me entrega um enorme buquê, uma caixa de chocolates e um
envelope.
— Obrigada!
Pego tudo um pouco sem jeito de suas mãos e subo depressa ao meu
apartamento, curiosa pelo teor do envelope. Mas não leio antes de cheirar as
flores e inspirar esse aroma tão puro e gostoso.
Corro os dedos por elas e sorrio ao pensar no cuidado na escolha. O
arranjo é enorme e tem diversas flores, de várias cores.
É tão lindo…
Tão vivo…
Puxo a cadeira para me sentar e pego o envelope para ler,
reconhecendo a caligrafia.

“Oi, baby…
Espero que tenha gostado das flores. Procurei o arranjo mais
colorido e vivo, porque pensei que combinava com você.
É a minha forma de te pedir desculpas por ter tornado a sua vida
essa bagunça.
Parece que todo meu esforço para te proteger, proteger a nós
dois, não foi o bastante. E eu sinto muito por isso. Sinto muito
por ter falhado com você.
As coisas por aqui não estão nada legais e eu estou tentando
sobreviver até que se esqueçam de mim de novo, mas não tem
sido fácil.
E o mais difícil em tudo isso é ficar longe de você, mas é o
melhor por agora. Pelo seu bem, e eu espero muito que me
entenda.
Eu sinto muito, Sarah.
Sinto muito mesmo por ter te arrastado a esse inferno que é a
minha vida.
Você não merece isso, baby.
É a pessoa mais incrível que eu já conheci.
Espero muito que esteja bem e te prometo que estou fazendo o
meu melhor para que a sua vida volte aos eixos.
Do jeito que você merece.

Com amor,
Hunter”

Seco uma lágrima ao terminar de ler a carta e não resisto a ler mais
uma vez, emocionando-me ainda mais.
Ah, Hunter…
Que falta você me faz.
Que falta absurda você faz em minha vida.
Cheiro mais uma vez o aroma das flores e fecho os olhos, sentindo-o
entrar em mim, como se adentrasse o meu coração.
Devolvo a carta ao envelope e pego a caixa de chocolates, sorrindo
ao notar de que ele se lembrou de quais eram os meus favoritos.
Ah, Hunter…
Me diz…
Como não amar você?
Que mesmo distante, enfrentando algo tão difícil, pensa em mim. Se
preocupa com os detalhes.
Você é mesmo incrível.
Pego um chocolate e trago à boca, fechando os olhos ao sentir o
sabor em minha língua.
É quase como se eu o sentisse aqui comigo, vendo seu sorriso,
vendo-o coçar a barba daquele jeito fofo.
Pego o telefone e penso se deveria ligar para ele, mas não sei se é o
que Hunter quer agora, já que não me ligou ainda nesses últimos dias. Então
decido enviar uma mensagem de agradecimento.
EU:
Obrigada pelas flores, pelos chocolates
e pela carta. Seu gesto tocou muito o
meu coração, Hunter. Obrigada por isso.

Envio e fico olhando para a tela, pensando se ele vai demorar a


responder, mas por sorte, a resposta vem rápida.
SR. MISTÉRIO:
Sabe que não precisa me agradecer…
Mas fico muito feliz que gostou.

Aproveito a deixa para conversar um pouco com ele e, quem sabe,


matar um pouquinho dessa saudade.
EU:
E não precisa se desculpar. Nada disso é
culpa sua, Hunter. Você é tão vítima
quanto eu.
SR. MISTÉRIO:
Ainda assim, me sinto responsável por
tudo isso…
EU:
Se isso te deixa mais tranquilo, eu
perdoo você. De todo meu coração, eu
te desculpo, Hunter, e não guardo nada
nele que não sejam coisas boas vindas
de você.

Ele demora um pouco mais a me responder agora.


SR. MISTÉRIO:
Obrigado, Sarah. Significa muito para
mim.

Sorrio sozinha ao imaginá-lo suspirando de alívio. Hunter é muito


preocupado com isso e sei que esperava muito que eu aceitasse suas
desculpas, por isso fiz isso apenas por ele. Porque, de fato, não há o que
perdoar aqui.
EU:
Como você está?
SR. MISTÉRIO:
Vivendo… Tenho tido dias
difíceis.
EU:
Eu entendo… Por aqui também está
uma situação delicada, mas você acabou
de alegrar o meu dia. Obrigada por isso.
SR. MISTÉRIO:
Isso me traz um conforto para o
coração. Fica bem, Sarah.
EU:
Você também, Hunter. Logo tudo isso
vai acabar.
Ele não diz mais nada e eu fico aqui, parada, olhando para as flores
à minha frente.
E, mais uma vez, inspiro o aroma delas, absorvendo tudo o que
trazem de bom para mim.
Estou entretida com o buquê quando ouço o som da porta se
abrindo.
— Meu Deus. Que coisa linda, amiga! — Claire suspira ao ver o
enorme arranjo diante de mim.
— São de Hunter — comento e ela abre um sorriso.
— Mesmo? E como ele está? Falou com ele?
— Mandei mensagem, me disse que está conseguindo viver. Ele
estava preocupado, se sentindo culpado pelo ocorrido, por isso me mandou
as flores.
— Ah, ele é tão fofo…
— Ele é. Aceitei suas desculpas só para que ele ficasse bem consigo
mesmo e agora vou torcer para que esse povo se esqueça do ocorrido e o
deixe viver em paz.
Solto um suspiro.
— Ele precisa tanto disso, Claire… Não é justo o que está
acontecendo com ele.
— Eu sei… Mas é por pouco tempo, tá? Logo vocês estarão juntos
de novo, você vai ver.
Engulo em seco, assentindo de leve, querendo acreditar em suas
palavras.
Mas ter Hunter tão distante de mim não me faz ter tantas esperanças
assim…
— Vamos fazer uma sobremesa? — oferece e eu estreito os olhos
para ela. — Bom, você faz e eu observo — brinca, piscando para mim. —
Vamos, Sarah, um docinho sempre te faz bem…
— Hunter já me deu chocolates.
Aponto para a caixinha à nossa frente.
— Mas é diferente de fazer. Você sabe que fazer sobremesa te relaxa
naturalmente. Além do mais…
Ela para, coçando o queixo devagar.
— Você tem o endereço do Hunter, não é?
— Tenho, sim.
— Pois então, por que não faz aquele bolo de chocolate perfeito e
manda um pedaço para ele em agradecimento pelas flores?
Encaro Claire, que me abre um enorme sorriso.
— Eu sou um gênio, não sou?
— Mas será que ele vai receber? A casa dele está sendo vigiada…
— Eu levo para você! Só mande uma mensagem avisando. Vamos,
vai ser incrível!
Claire bate palmas de empolgação, e começa a abrir os armários,
procurando pelos ingredientes, e eu logo me animo.
Não é que é mesmo uma boa ideia?

Hunter

A campainha toca e eu me levanto do sofá para abrir, encontrando a


pequena caixinha com um laço sobre o tapete de entrada.
Há pouco, Sarah me avisou que pediria para sua amiga me trazer
uma coisa, para que eu liberasse a sua entrada, mas que eu não precisava
me preocupar, que ela não me veria.
E assim o fez.
Fecho a porta de casa e sigo até a cozinha, curioso pelo que tenho
aqui.
E, quando abro, um cheiro de chocolate preenche o ambiente.
É uma embalagem térmica e sobre ela, um bilhetinho vindo dela.
“Hunter,
Acabei de fazer esse bolo de chocolate e pensei em te enviar um
pedaço.
Espero que adoce um pouco o seu dia e que, quem sabe, te tire um
sorriso.
Com amor,
Sarah”
De fato, estou com um sorriso discreto nos lábios ao terminar seu
bilhete.
Abro a gaveta e pego uma colher, abrindo a embalagem e pegando
um pedaço do bolo. Quando trago aos lábios, inevitável sorrir um pouco
mais.
Isso é incrível.
É a perfeição dos deuses.
A massa macia derrete na boca e a cobertura de chocolate é
excepcional.
Sarah é mesmo incrível com suas sobremesas.
Eu quase como todo o pedaço, quando me lembro de mandar
mensagem para ela agradecendo.
EU:
O bolo está perfeito, como sempre.
Obrigado, Sarah. De fato, você
conseguiu me tirar um sorriso.

Não resisto em comer mais uma colherada.


SARAH:
Nossa, isso me deixa tão feliz! Fiz com
todo carinho para você.
EU:
Eu sei disso, consigo sentir.
Obrigado.

Termino de comer todo o bolo com uma sensação boa dentro de


mim.
Sarah não deve ter noção da dimensão desse seu gesto.
Mas eu sei.
E vou levar comigo para sempre.
Capítulo 29 - Sarah

— O DIA ESTÁ LINDO HOJE, não é? — minha mãe comenta ao meu


lado enquanto estamos deitadas na espreguiçadeira, curtindo uma tarde de
sol na beirada da piscina.
Hoje vim para passar o fim de semana todo com meus pais, que
ficaram muito contentes. Eles precisavam disso e eu também.
Já são pouco mais de duas semanas desde o ocorrido, e mesmo que
a dor ainda esteja presente, é um pouco mais branda, mais suportável.
Estou morrendo de saudades de Hunter, mas temos trocado algumas
mensagens ao longo dos dias. Nada se compara ao que era antes, mas pelo
menos sei que ele está bem na medida do que consegue e que aceitou meu
conselho de continuar fazendo suas sessões em casa, de forma remota. Ele
já foi longe demais com o tratamento, não é certo que o abandone a esta
altura. Não agora, que o que mais precisa é de um apoio profissional.
A mídia não tem falado muito dele mais, embora nossas fotos ainda
estejam rolando por aí. Acho que estão começando a se esquecer e espero
que em breve Hunter se sinta confortável para sair de casa mais uma vez.
— Está… — Suspiro, cobrindo a cabeça com o antebraço.
Estar aqui, de biquíni, na beirada da piscina me faz lembrar da
minha viagem com Hunter e dos passeios incríveis que fizemos no Havaí.
E, só de pensar, sinto um aperto no peito.
É incrível como a todo tempo, não importa o que eu faça, ele sempre
está em meus pensamentos.
Meu Deus, que saudade…
— Seu pai vai fazer churrasco mais tarde — ela diz, abrindo um
sorriso. — Ele está todo empolgado com sua visita. Quando puder, faça isso
mais vezes, ficamos muito felizes.
Sinto um aperto no peito por pensar que tenho falhado com eles
nesse quesito. Meus pais não são eternos e, em meio a toda correria da vida
adulta, acabo não priorizando esses momentos com eles, preciso corrigir
isso.
Prova disso é a felicidade por eu passar dois dias aqui com eles.
Hoje pela manhã, quando cheguei, já fizeram a maior festa. Almoçamos
juntos e agora à tarde vim para a piscina com minha mãe, curtir essa tarde
linda. Pelo que fiquei sabendo, mais tarde Josh também vem com a família
para completar a casa cheia.
— E como está Claire? Aquela danadinha sumiu… Diga para ela vir
na próxima com você!
— Pode deixar, mãe. Ela também está trabalhando muito, assim
como eu. Mas está ótima! Do mesmo jeito agitado de sempre.
— Ela é uma menina maravilhosa.
— Ela é…
Só eu sei o quanto seu apoio tem sido excepcional para mim nesse
momento da minha vida.
Minha mãe continua conversando comigo, contando de suas amigas,
de sua rotina, até que eu decido me levantar para ir ao banheiro. Pego meu
vestido e visto por cima do biquíni, entrando em casa. Logo que saio do
banheiro, sigo para a cozinha a fim de beber um copo de água, quando ouço
o som de vozes masculinas e algumas risadas.
— Ah, Sarah… Olha só quem está na cidade e veio nos fazer uma
visita — meu pai anuncia. — Ainda nem acredito que ele está aqui!
Coloco o copo sobre a pia e me viro para ver de quem ele está
falando, até sentir o meu coração voar pela boca.
Ah, não…
Não.
Não.
Não.
Passaram mais de dez anos e ele está um tanto diferente, mas eu o
reconheceria em qualquer lugar.
— Oi, Sarah.
Sua voz me embrulha o estômago e a forma como ele me olha me
faz sentir um calafrio.
— Você se lembra do Jeffrey, não é? — meu pai diz, franzindo o
cenho ao me ver sem reação.
Eu abro a boca, mas não sai nada, então apenas passo por eles
apressada e subo até meu quarto, trancando-me lá dentro.
Por Deus, não.
Ele não pode estar aqui.
Não depois de tantos anos.
Não agora.
Por Deus, não.
Meu coração parece voar pela boca, de tão disparado que está, e eu
tento puxar o ar para os pulmões, mas ele vem com muita dificuldade.
Eu preciso sair daqui.
Não posso ficar mais um segundo nesta casa sabendo que ele está
aqui.
Tento pensar em maneiras de sair daqui sem ser notada, mas vejo
que é uma missão impossível. Ainda mais que deixei os dois falando
sozinhos; é bem provável que, se meu pai me vir de novo, me peça
explicações as quais eu não sei se quero dar.
Eu achei que nunca mais ia vê-lo de novo…
Que ia rever.
Caramba.
Martelo a mente pensando no que fazer. Posso ligar para Josh e
pedir para me buscar, mas não vou conseguir pedir com urgência sem que
ele saiba do que se trata.
E se…
Minha barriga gela ao me lembrar que Hunter é o único que sabe do
ocorrido e que pode me ajudar.
Mas ele nem está saindo de casa…
Bom, talvez me mande um carro, não sei.
Preciso tentar.
Preciso sair daqui.
Sigo até a mesinha do meu quarto onde deixei meu celular
carregando e o tiro da tomada, ligando para Hunter com os dedos trêmulos.
O telefone toca, toca, e eu sinto meu coração se agitar aqui dentro.
Será que não vou conseguir?
Que ele não quer me atender?
— Sarah? — sua voz calma é como um sopro na alma. — Desculpa
a demora, eu estava saindo do banho…
— Hunter, eu preciso sair daqui — digo me segurando para não
chorar.
— De onde? Onde você está?
Percebo barulhos ao fundo e sua voz fica imediatamente em alerta.
— Na casa dos meus pais. Estou trancada no meu quarto. Hunter…
— Paro e respiro fundo. — Ele está aqui…
E tudo o que eu ouço é um rosnado do outro lado da linha.

Hunter

— Me manda sua localização por mensagem, estou indo agora te


buscar.
Encerro a ligação, já pegando a primeira roupa que vejo pela frente
para me vestir. Calço meus chinelos, pego a carteira e as chaves, voando
escadas abaixo.
Eu não acredito que aquele maldito está na casa dela de novo,
depois de todo esse tempo.
O pai dela teve coragem de levar esse monstro para lá?
Tudo bem que ele não sabe da história, mas ainda assim…
Porra.
Ouvir o desespero na voz de Sarah me destruiu e uma raiva tomou
cada célula do meu corpo.
Foda-se se vão me ver na rua, foda-se se vão me perseguir.
Eu só preciso tirá-la de lá e deixá-la em segurança.
Todo o resto deixa de ser importante diante disso.
Tiro meu carro da garagem e acelero pelo condomínio, pegando as
ruas de Los Angeles com agilidade. Pego alguns atalhos, fugindo de vias
expressas, tentando chegar o mais rápido que consigo até o endereço que
Sarah me passou.
E, cerca de vinte minutos depois, paro em frente a uma bonita casa.
Salto do veículo e sigo até a porta principal, tocando a campainha. Meu
corpo todo se agita em expectativa, ansioso para tirar Sarah daqui, até um
senhor de meia-idade surgir à minha frente.
Noto que ele me encara surpreso, piscando devagar, parecendo ter
visto uma miragem.
E, na boa, eu não estou com tempo para isso agora.
— Sr. Corbett? — pergunto e ele pisca os olhos mais uma vez,
libertando-se do transe.
— É… Sim, sou eu mesmo.
— Muito prazer, Hunter Crawford, sou o namorado de Sarah. —
Estendo a mão para ele, que ainda está perplexo por me ver parado aqui.
— Eu…
— Posso entrar? Ela me ligou para uma emergência feminina, e eu
preciso ajudá-la. Lamento que o senhor esteja me conhecendo assim, mas é
mesmo um caso de necessidade.
Ele então parece finalmente entender e balança a cabeça, dando
passagem para mim.
— Onde é o quarto dela? — pergunto, passando por ele e olhando
tudo ao redor.
Perto de mim, o pai de Sarah parece muito pequeno e a minha
presença parece intimidá-lo.
— No andar de cima, terceira porta do corredor. Mas…
Ignoro-o e sigo depressa, subindo as escadas até a porta indicada por
ele.
— Sarah? — Dou uma batidinha na porta. — Sou eu, baby. — Olho
para os dois lados, vendo que estou sozinho. — Não tem mais ninguém
aqui, só eu…
Quando a porta se abre e um par de olhos assustados me alcança, eu
disparo até ela, tomando-a nos braços.
Sarah se agarra a mim e percebo seu corpo tremer, ela começa a
chorar.
— Está tudo bem, meu amor… Eu estou aqui — murmuro, beijando
seus cabelos, enquanto a acaricio.
— Hunter… — Ela para, se afastando devagar. — Me leva daqui,
por favor — suplica e meu coração se parte.
Estou num nível de agitação absurdo, dividido entre querer quebrar
a cara do sujeito e acolher Sarah, que está profundamente triste e assustada.
E, hoje, eu escolho acolhê-la.
— Vamos, eu vou te tirar daqui.
Ela aponta para a mochila no canto do quarto e eu a pego, tomando-
a pela mão até seguir para fora.
— Vou te levar atrás de mim, ok? Ele não vai te ver — garanto-lhe,
e ela balança a cabeça aliviada.
Nessas horas eu agradeço aos meus quase dois metros de altura para
ajudar a protegê-la.
Sem soltar a sua mão, sigo pelas escadas até ver três pessoas nos
esperando na sala.
O pai de Sarah, uma mulher muito parecida com ela que deduzo ser
sua mãe e um outro infeliz que imagino ser o maldito.
Neste momento, meu punho se fecha e eu me seguro muito para não
voar em cima dele.
— Sarah? Está tudo bem, filha? — A mãe dela vem até nós.
— Hunter vai me levar para casa — ela diz, atrás da fortaleza que eu
construí ao redor dela.
— Mas o que aconteceu? Você estava tão bem e…
— Mãe, por favor. Eu preciso ir. Depois eu explico, tá?
Percebo olhares desconfiados em minha direção, mas não me
intimido. Pelo contrário, enfrento qualquer um agora pela segurança dela.
— Vamos, baby? — pergunto baixinho, descendo o olhar para ela,
que acena devagar.
Sem nenhuma explicação, passo por eles e conduzo Sarah até a
saída. Quando ela está segura e acomodada em meu carro, eu a vejo
desabar.
Sarah abraça seu corpo, chorando de soluçar, e essa imagem
estilhaça o meu coração.
— Quer que eu te leve para a sua casa, ou para a minha? — ofereço,
fazendo um carinho em sua coxa.
— Se importa de me levar para a sua casa?
— De forma alguma — respondo, arrancando o veículo. — Onde
você se sentir mais segura.
Pelo caminho, divido meu olhar de Sarah para o trânsito e chego a
colocar Taylor Swift para tocar baixinho, como uma forma de agradá-la. E
parece funcionar, porque, quando chegamos em casa, ela está um pouco
mais calma.
Pego sua mochila e abro a sua porta, oferecendo a mão para
conduzi-la até a minha casa, onde solta um suspiro ao entrar.
— Obrigada, Hunter — diz com a voz fraca. — E me desculpe ter te
atrapalhado. Você era a única pessoa que sabia e…
— Ei, está tudo bem — interrompo-a, puxando para beijar sua testa.
— Está segura aqui comigo. Pode ficar o tempo que precisar.
Ela assente, abrindo um sorriso fraco, e eu não resisto a tomá-la nos
braços mais uma vez, oferecendo um pouco de conforto.
— Está com fome? — pergunto e ela nega. — Não quer nada?
— Quero tomar um banho, se não for te incomodar.
— Claro que não, baby. Vem comigo.
Pego Sarah pela mão e levo até a minha suíte, mostrando onde ficam
meus produtos e entregando toalhas limpas.
— Fique à vontade, ok? Estarei lá embaixo te esperando.
Sarah assente devagar.
— Obrigada.
Deixo-a sozinha e desço as escadas, soltando um suspiro ao pensar
no que fazer.
O cara está na cidade, não sei se a passeio ou se para ficar.
Mas não posso permitir que ela o encontre de novo, nem que seja
por acaso.
Porém, também não posso fazer nada que Sarah não permita.
Esfrego a mão na barba, nervoso, sentindo uma fisgada na cabeça ao
pensar demais.
Eu preciso pensar em alguma coisa, preciso.
Coço a barba mais uma vez, pensando que por ora preciso deixar
esse assunto de lado.
Hoje, minha prioridade é Sarah.
É cuidar dela e não permitir que nada lhe aconteça.
É garantir que ela fique bem.
Amanhã…
Bom, amanhã é um novo dia e eu vejo como posso lidar com isso.
Mas não vou permitir que esse cara cruze o seu caminho.
Nunca mais.
Capítulo 30 - Sarah

DEPOIS DE UM BANHO quente relaxante, onde chorei bastante debaixo


do chuveiro, me sinto mais leve agora.
Sinto-me renovada.
Estar aqui com Hunter me deixa um tanto segura, depois de tudo.
É como se, com ele, eu tivesse a certeza de que nada de mal vai me
acontecer.
Desço os degraus da escada de Hunter e encontro seu gato sozinho
no sofá, se lambendo. Quando este nota a minha presença, ergue a cabeça
por um instante.
— Ei, T-Bag…
Acaricio a cabeça do gatinho, que não se opõe ao meu contato, o
que me deixa bastante feliz. Seu pelo é muito macio e sedoso e eu passaria
o dia inteiro fazendo-lhe um cafuné, se não preferisse passar meu tempo
com seu dono.
Deixo o gato no sofá e sigo até a cozinha, procurando por Hunter, e
o encontro despejando uma espécie de doce em uma vasilha.
— Oi…
Anuncio minha chegada e ele ergue os olhos para me encarar,
sorrindo de leve.
— Oi, baby.
— O que está aprontando aí? — pergunto ao sentir um cheiro de
chocolate em todo o ambiente.
— Fiz brigadeiro para a gente, já comeu?
Puxo na minha memória se conheço esse doce, então nego devagar.
— É uma sobremesa brasileira muito gostosa. Quando eu ainda era
adolescente, minha mãe tinha uma amiga que era brasileira e nos ensinou a
fazer.
Curiosa, sigo até ele ao ver um creme de chocolate esfriando na
vasilha.
— Nunca ouvi falar…
— É basicamente leite condensado e chocolate em pó. — Dá de
ombros. — Muito simples de fazer, mas é gostoso.
— O cheiro está muito bom… — elogio.
— O certo é se servir em formato de bolinhas com granulado, mas
eu não tinha isso em casa, então… — Ele dá de ombros. — Sei que a rainha
da sobremesa aqui é você, mas pensei em te fazer um agrado.
Hunter toca meu rosto e afasta os cabelos, acariciando minha pele
devagar.
— Se sente um pouco melhor? — pergunta e eu assinto.
— Você faz com que eu me sinta mais segura… Obrigada, Hunter.
Ele nega devagar.
— Hoje vou cuidar de você, ok? Quando esse brigadeiro esfriar,
você vai comer essa iguaria brasileira e vai se esquecer de tudo de ruim.
Abro um sorriso, amando o seu cuidado comigo.
Amando sua preocupação em me fazer feliz.
— Eu aposto que sim.
— Não está com fome mesmo? — indaga e eu nego.
— Ainda não… Mas prometo que mais tarde eu como com você,
tudo bem?
— Perfeito. E, a propósito, se quiser ficar aqui esta noite… Tem
espaço para você nesta casa.
Meu sorriso se abre.
— Obrigada, Hunter. Não vou mesmo recusar esta oferta. Como te
disse, me sinto mais segura estando aqui com você.
Ele assente, e logo meu celular toca em meu bolso.
— Você não deveria atender?
— Eu não sei o que dizer a eles sem contar a verdade — respondo,
sentindo um aperto no peito.
— Diga que sentiu algum mal-estar, ou que apenas estava morrendo
de saudades de mim — brinca e eu rio baixo.
— Vou pensar em alguma desculpa. Só vou mandar uma mensagem
para minha mãe avisando que está tudo bem.
Digito rapidamente para ela e mando uma selfie minha sorrindo,
como uma forma de tranquilizá-los. Parece resolver, já que sua resposta
chega de imediato com palavras de alívio.
— Pronto, resolvido por enquanto.
Volto a atenção a ele.
— E você, como está?
— Estou bem. — Ele dá de ombros. — Já enfrentei algo semelhante
uma vez, então meio que já estou acostumado com isso.
Procuro algo em seus olhos e, mesmo que encontre um pouco de
cansaço, sinto que está sendo sincero. Aquele desespero que vi nele, o
semblante perdido do dia em que as fotos vazaram não está mais presente
aqui.
Isso me deixa bem mais tranquila.
— Senti sua falta — confesso, sentindo meu coração se acelerar.
Não sei se é recíproco, mas preciso dizer a ele como me sinto.
— Porra, nem me fale — solta e meu coração erra uma batida. —
Odeio o que fizeram com a gente.
Balanço a cabeça, sentindo um nó na garganta.
Eu também…
Principalmente com Hunter, que estava se saindo tão bem.
— É, eu também…
Hunter então se aproxima de mim e toca meus cabelos.
— Vem, vou te mostrar uma coisa.
Aceito sua mão e sigo-o pela casa; ele me leva até o sótão, na parte
mais alta da construção. Uma janela de madeira está aberta e é dela que
entra a iluminação para o cômodo.
Hunter me guia até ela, ajudando-me a me sentar ao seu lado, com
os pés quase batendo no telhado da casa.
— Gosto de vir para cá quando quero pensar sobre a vida — sua voz
rouca é bem suave agora. — Ou apenas ficar sozinho.
O sol está se pondo, então Hunter capta exatamente o momento
certo para isso. Aqui, parados, vemos esse espetáculo à parte, com uma
visão linda que temos daqui de cima.
Abaixo de nós, seu quintal com a área da piscina, e aquela
iluminação acolhedora, me fazendo lembrar do dia que curtimos aquela
água…
A lembrança faz meu rosto corar instantaneamente e eu trato de
olhar além de sua propriedade.
Eu já havia reparado que seu condomínio tem uma vasta área verde,
mas daqui consigo ter uma visão ainda mais bonita do lugar.
As árvores, as estrelas, o sol dando lugar à lua…
— É lindo aqui — murmuro, sentindo uma brisa tocar meus cabelos.
— E muito calmo também.
— Quando quero fugir um pouco do mundo e ir à praia não é uma
opção, gosto de vir aqui. Sinto que consigo colocar os pensamentos no
lugar.
Em silêncio, ficamos um longo tempo encarando a paisagem à nossa
frente e aquela sensação boa de paz me invade, como todas as vezes que
estou com ele.
— Obrigada, Hunter. — Viro-me para ele, que acompanha meu
olhar. — Por me trazer até aqui, me acolher em sua casa e, principalmente,
ter me oferecido ajuda quando mais precisei. Não imagino como deve ter
sido difícil para você sair de casa depois de tanto tempo…
— Eu estava tão ansioso para te encontrar, que nem pensei em mais
nada. Tudo deixou de ser relevante, sabe? Desde que você estivesse segura,
o resto seria apenas resto.
Abro um sorriso, balançando a cabeça devagar.
Espero que um dia ele se enxergue como eu o enxergo, que seja
gentil consigo mesmo e entenda o quanto é maravilhoso.
Encosto a cabeça em seu ombro, fitando o horizonte, e ele me
acolhe com seus braços firmes, inundando-me com seu calor.
Aqui, de cima, de fato consigo entender que nada mais importa.
E, mais ainda, consigo entender o que eu quero.
E eu o quero mais do que tudo.
O quero por inteiro.
Então, quando Hunter se sentir pronto, eu estarei aqui.
Esperando por ele.
— Então é hora de experimentar seus dotes culinários — brinco,
quando ele me estende uma colher recheada do tal brigadeiro.
Depois de ficarmos um tempo lá na janela do sótão, apenas
deixando a paz entrar no coração e eu ficar mais tranquila, descemos para
pedir o jantar. Hunter tem cumprido sua missão de me mimar, por isso
pediu pizza do meu sabor favorito e, depois de comermos alguns pedaços,
chegou a hora da tão esperada sobremesa.
— Eu acho que não tem como ficar ruim, já que é leite condensado
e chocolate, mas vamos ver… — diz, servindo-se também.
Levo a colherada à boca e experimento o doce, sentindo o sabor
delicioso na língua.
Nossa.
É muito bom.
Mas não digo de imediato, apenas vejo Hunter me encarando com
curiosidade.
— E aí?
— Hummm… Vou precisar de mais um pouco para ter certeza.
Abro um sorrisinho cúmplice e Hunter ri, servindo-me de mais um
pouco.
— Isto aqui… — Paro, provando mais do doce. — É um paraíso —
digo, ao final e ele solta um suspiro.
— Porra, você me mata de susto.
Solto uma risada.
— Ficou com medo de eu não gostar, né? Mas está muito bom,
Hunter. Está perfeito!
Ele abre um sorriso lindo agora.
— Eu sabia que ia te agradar — diz, todo orgulhoso.
E aqui, nesta sobremesa, eu consigo sentir todo seu carinho por
mim, todo seu cuidado…
— É muito bom… — elogio mais uma vez e ele me encara
orgulhoso.
— Eu consegui te distrair um pouquinho? — indaga e eu faço que
sim, sentindo meu peito se aquecer. — Que bom, baby. Estava preocupado
com você.
E meu coração dá um salto aqui dentro, como todas as vezes que ele
me chama assim.
Tenho vontade de perguntar sobre nós, de saber como estamos, se
vamos voltar a nos ver…
Mas não quero quebrar o encanto.
Este momento está tão gostoso com ele, eu senti tanta saudade…
Que quero apenas aproveitar e deixar todas as perguntas para
depois.
Não quero estragar o momento.
— Tudo bem para você mesmo se eu ficar aqui? — pergunto, já
sabendo que é bem tarde.
— Você pode ficar o tempo que precisar, Sarah, não tem ideia do
quanto estou feliz por te ter aqui.
Abro um sorriso e desço a mão até encontrar a sua, onde ele
entrelaça nossos dedos devagar.
— Obrigada por estar aqui — digo, encarando seus olhos cinzentos.
— Eu não vou a lugar nenhum, baby. Estarei onde você quiser estar.
E essas palavras colam todos os pedacinhos do meu coração e me
fazem amar ainda mais este homem.
Mais do que pensei que fosse possível.
Capítulo 31

ACORDO BEM ANTES de Sarah e fico um tempo apenas olhando-a


dormir tranquila aqui ao meu lado. Os cabelos loiros estão espalhados por
todo meu travesseiro e seu semblante sereno me traz paz.
Ontem, depois de jantarmos e comermos brigadeiro, ficamos a noite
toda conversando no sofá, apenas matando a saudade das últimas duas
semanas sem nos vermos. E foi como se o tempo não tivesse passado. A
falta que eu senti dessa mulher é inexplicável e vê-la tão à vontade comigo,
tão tranquila depois de um dia tão agitado, encheu meu coração.
Na hora de dormir, ela perguntou se podia ficar comigo e eu a
trouxe para o meu quarto. Não rolou nada entre nós porque quero conversar
antes, quero esclarecer tudo e abrir meu coração para ela. E é por isso que
não preguei os olhos essa noite. Minha mente trabalhou incansavelmente
pensando nas formas de fazermos isso dar certo e em como resolver a
situação com o “amigo” de seu pai.
Tive algumas ideias e espero que ela goste do que tenho em mente.
Mas enquanto ela não acorda, fico aqui, parado, admirando a
perfeição que é essa mulher.
Perco a noção do tempo, quando a vejo se mexer na cama,
resmungando alguma coisa antes de finalmente abrir os olhos e me encarar
com aquele par de olhos azuis mais doces de todo o mundo.
— Bom dia, baby — murmuro, erguendo a mão para tocar seu rosto
com carinho.
— Bom dia, Hunter…
Um sorriso se abre logo que ela boceja e eu rio baixo de como é
fofa.
— Dormiu bem? — pergunto e ela sorri mais.
— Nossa… E como! A última vez que dormi tão bem assim, ainda
estávamos no Havaí.
Abro um sorriso ao me lembrar daqueles dias que foram mesmo
inesquecíveis.
— E você, dormiu bem?
— Mais ou menos — confesso e ela me olha curiosa.
— Jura? Mas por quê? Eu ronquei? — dispara e eu solto uma risada.
— Não, baby, você dorme como um anjo… É minha mente que não
parou de trabalhar um segundo diante de tudo que tem acontecido.
— Ah…
Noto seu semblante um pouco preocupado e eu trato de tranquilizá-
la.
— Mas não é uma coisa ruim, ok? Não se preocupe.
Sarah ainda me olha pensativa e eu coço a barba, ansioso, diante do
que está por vir. É melhor que eu abra logo o meu coração para ela e veja se
está na mesma sintonia que eu.
— Sarah, eu… — Paro e me sento, vendo-a fazer a mesma coisa,
ficando de frente para mim. — Você sabe que eu fiquei três anos preso
nesta casa, sem ter contato com ninguém além de minha família, Luke e
meu advogado…
Ela assente, me encarando com atenção.
— E então você surgiu — falo e ela abre um sorriso. — Mesmo
antes de trocar seu pneu, eu já te via na clínica. Fui atraído pelo seu
perfume, que foi o mais doce que já senti na vida e isso me fez ficar
intrigado por você. Então todos os dias, quando saíamos da clínica, eu
gostava de me manter por perto, para sentir seu cheiro e porque,
curiosamente, você me trazia uma sensação boa de paz, mesmo que nunca
tenha me dito uma palavra sequer.
Seus olhos brilham agora.
— E quando tive coragem de olhar para você através do reflexo do
espelho do elevador, eu vi o quanto era linda… Linda como um anjo. Eu
gostava de estar perto de você, até que o destino nos deu aquele
empurrãozinho com o pneu furado.
Solto uma risadinha e ela me acompanha.
— E conhecer você mais de perto, passar mais tempo ao seu lado,
foi trazendo um pouco de vida para mim, sabe? Eu ficava pensando em
artifícios para sair com você, para te ver, te proporcionar experiências
agradáveis… Coisas que eu nunca tinha cogitado até então. Eu não ia nem
ao mercado fazer minhas próprias compras e me vi viajando com você.
Seus olhos brilham ainda mais e vejo o quanto está emocionada.
— E a viagem ao Havaí… Não preciso nem falar nada, né? — Ela
nega, sorrindo. — Se não fosse por você, talvez eu não tivesse ido para o
casamento da minha irmã e perdido a chance de ter levado Natalie ao altar.
Entende a grandiosidade de tudo isso?
Uma lágrima solitária lhe escorre agora, e eu a seco com carinho.
— E depois que tudo aquilo aconteceu… — Paro e respiro fundo.
— Eu entrei em pânico porque acionou diversos gatilhos em mim, desde o
acidente — confesso. — Eu tinha acabado de receber alta do hospital,
estava com um corpo irreconhecível, lidando com a notícia de que talvez
nunca mais voltaria aos campos e tinha uma chuva de repórteres ao meu
redor, como urubus em torno da carniça, querendo noticiar o que sobrou de
Hunter Crawford.
Lembrar disso é doloroso pra caralho, porra, é como se eu tivesse
sido transportado para aquela época de novo.
— E então, quando fomos descobertos, eu tive uma crise forte,
porque tudo veio de novo à tona, entende? Foi doloroso demais… — Paro,
sentindo as mãos tremerem e Sarah me acolhe, entrelaçando nossos dedos.
— E, além de tudo isso, tinha você. A pessoa mais incrível que eu já
conheci estava lá, no meio de toda essa loucura, com seu nome sendo dito
das piores formas. Eu me senti um lixo, porque você não merecia isso… Eu
posso lidar com a ira da mídia contra mim, baby, mas não com você.
Seguro firme a sua mão e a acaricio de leve.
— E, somado a tudo isso, veio a dor da saudade… — Encaro seus
olhos fixos agora, para que ela veja através deles o quanto estou sendo
verdadeiro. — Que dias de merda esses longe de você — confesso e ela
assente, mordendo o lábio, contendo uma lágrima. — Mas eu queria que a
mídia se esquecesse de você logo, pelo seu bem, então eu teria que lidar
com essa dor de não te ver de novo. E, porra, Sarah, doeu pra caralho.
— Eu sei… — a voz doce é bem baixa agora. — Doeu em mim
também.
Engulo o nó disposto a me abrir cem por cento com ela.
— Eu me senti cansado, esgotado, vivendo tudo isso ao mesmo
tempo e até cogitei ir embora daqui… — falo e seus olhos se arregalam de
leve. — Mas conversando com Luke entendi que não conseguiria. Não iria
para muito longe de você. Porque, por mais que não tivesse te vendo, eu
sabia que você estava em algum lugar desta cidade, segura e a poucos
quilômetros de mim. Então veio sua ligação…
Nesta hora noto seu semblante corar um pouco.
— Sarah, saber que você estava com medo e que aquele maldito
estava na mesma casa que você virou uma chave dentro de mim. Eu fiquei
louco. Eu pouco me importei se alguém fosse me ver, se fossem tirar mil
fotografias minhas, só precisava te tirar dali e te colocar em segurança.
Você não tem ideia do quão maluco eu fiquei. Larguei tudo e largaria tudo
de novo para te socorrer.
Agora ela me abre um sorriso lindo, cheio de gratidão.
— Você não sabe o quanto fiquei aliviada de saber que você poderia
me ajudar…
— E você poderia ter ligado para qualquer pessoa. Para o seu irmão,
para a polícia, Claire, sei lá. Mas ligou para mim. Você confiou em mim,
baby, e isso bastou para que eu mandasse o mundo todo se foder e fosse até
você.
Ela ainda está sorrindo quando mais uma lágrima lhe escorre agora.
— E foi aí que eu percebi que você é maior do que tudo isso. Maior
que os meus receios, as minhas inseguranças, maior do que qualquer mídia,
maior do que tudo. O que eu sinto por você é maior do que qualquer desafio
com que eu possa lidar. Eu já tinha uma desconfiança, mas foi ali que eu
tive a certeza de que eu amo você.
O sorriso de Sarah se torna gigante e mais lágrimas descem
desenfreadas.
— Não sou um cara perfeito, você sabe. Eu lido com meus próprios
demônios todos os dias e, ainda que esteja melhor, posso ter algumas
recaídas, como naquela viagem — assumo, baixando um pouco o olhar. —
Mas, se você me aceitar, se estiver disposta a tentar, eu quero fazer isso dar
certo. Porque, baby, eu experimentei uma vida sem você e não quero isso de
novo nunca mais.
Nesta hora, ela se atira ao meu pescoço e me agarra tão forte, que eu
solto uma risada de seu rompante.
— Eu te amo tanto, Hunter, tanto — murmura, ainda agarrada ao
meu pescoço, e, pelos seus tremores, consigo sentir que está chorando. —
Eu morri um pouquinho todos esses dias longe de você e só consegui ter a
certeza do quanto eu te quero. — Ela se vira agora para me encarar. —
Todos os dias da minha vida.
— Ah, baby…
Não resisto a puxar seu pescoço e trazê-la para mais perto de mim,
beijando-a com tudo que há de mim.
Matando todas essas semanas de saudade.
— Porra, que saudade — murmuro, mas não dou a ela tempo de
resposta, pois ataco seus lábios mais uma vez.
Sarah monta em meu colo, suas mãos embrenhadas em meus
cabelos, as minhas apertando forte sua cintura, e não nos soltamos um
minuto, até que nos falte o ar.
Estamos ofegantes, quando ela me pede autorização para tocar a
barra da minha camisa e atirá-la longe, deixando-me exposto para ela.
— Eu olho para você, Hunter, e só consigo enxergar o homem
incrível que é… Lindo por dentro e por fora. De um coração gigante,
alguém tão gentil…
Ela me olha com tanta adoração que sinto um nó na garganta.
Pego sua mão e trago ao meu coração, que está disparado por ela. E
ao senti-lo, Sarah me abre um lindo sorriso.
Com o coração ainda acelerado, pego sua mão e guio por todas as
minhas cicatrizes, mostrando a ela onde o fogo me queimou, deixando que
conheça toda a minha vulnerabilidade, todas as minhas partes.
Sarah me encara apaixonada enquanto corre os dedos por todas elas,
com tanto carinho, que meu coração se enche ainda mais de amor por ela,
se é possível.
Eu nunca pensei que fosse me abrir tanto assim com alguém, deixar
que conhecesse todas as minhas cicatrizes, mas é Sarah, com ela é diferente.
— Isto aqui, Hunter, é a prova do quanto você é forte — diz, e eu
engulo em seco. — Do quanto lutou pela sua vida e conseguiu vencer,
estando aqui agora, diante de mim, respirando. Que bom que lutou, amor,
senão eu jamais teria te conhecido… Eu jamais teria a chance de amar você.
Uma única lágrima me escorre e eu não resisto a derrubá-la na
cama, montando sobre ela e tomando sua boca em um beijo intenso demais.
Forte, bruto, intenso e carregado de sentimentos.
— Eu te amo tanto, baby — murmuro, em sua pele, descendo até o
seu pescoço, onde a mordo daquele jeito que ela adora. — Eu te amo
demais…
Toco a barra da camisola e a retiro, deixando-a apenas de calcinha
para mim, onde lambo os lábios devagar.
— A saudade que eu senti de tocar você — digo, olhando para ela,
enquanto minha mão passeia por todo o seu corpo.
Desde o seio, quadril e chegando à calcinha…
Os olhos de Sarah faíscam e eu me inclino sobre ela, fazendo o
mesmo caminho com a boca, correndo a língua por toda sua pele, adorando-
a, venerando-a, até chegar à virilha.
— Hunter… — murmura, puxando-me pelos cabelos, e eu rio em
sua pele.
Ergo-me apenas para descer sua calcinha e deixá-la completamente
nua à minha frente, entregue, ansiosa por mim.
Afasto suas pernas com as mãos e inspiro seu aroma antes de correr
a língua pela sua boceta, que já está toda molhada, prontinha para mim.
— Hummmm… — Inspiro seu aroma, lambendo-a mais uma vez.
— Que saudade de comer essa boceta, baby.
Caio de boca nela, chupando, sugando toda a sua pele e Sarah geme
desesperada, rebolando e se esfregando em minha cara, puxando-me pelos
cabelos. Como se eu fosse sair daqui, Sarah me agarra firme, mantendo-me
preso aqui, e o desespero com que me puxa me faz sorrir em sua pele.
Deliciosa.
Eu amo o quanto a desespero assim e o quanto ela se entrega a mim,
sem ressalvas.
Sarah se abre por inteiro para mim, de corpo e alma.
E eu amo isso nela.
Continuo chupando-a, correndo a língua por toda a extensão e,
quando eu mordo a pontinha do clitóris, ela solta um gritinho safado.
— Ai, Hunter… Você é tão bom…
Rio em sua pele, mas não alivio, pelo contrário, continuo
devorando-a, fodendo sua boceta com a língua. Quando seus gemidos se
tornam mais desconexos, eu meto dois dedos dentro dela, fazendo um vai e
vem ritmado enquanto não paro de chupar.
— Isso, Hunter… Isso…
Sarah agarra meus cabelos, puxando os fios com força, afundando
meu rosto ainda mais em sua boceta, e eu não paro de fodê-la até que seu
orgasmo chegue, estremecendo todo o seu corpo.
— Hunter! — ela grita ao erguer o quadril e eu continuo chupando,
tomando até a última gota, até que relaxe por completo.
Então me ergo apenas para encará-la, lambendo os lábios devagar.
— Senti falta do seu gosto, sabia?
Corro os dedos pelos meus lábios, chupando ao final.
Sarah ainda está ofegante quando desço a cueca e seus olhos
brilham ao me ver nu.
— Eu também senti falta do seu pau, vem cá.
Abro um sorriso safado ao circular sua cintura, posicionando meu
pau em sua entrada e metendo pouco a pouco, até chegar ao fundo.
— Caralho… — gemo ao sentir seu calor me invadir.
Porra, que saudade eu estava de me enterrar tão fundo nela.
Sarah é gostosa demais, puta que pariu.
Fico parado por um longo tempo, apenas sentindo seu calor, e ela
começa a se mexer debaixo de mim.
— Hunter… — chama e eu sorrio malicioso. — Para de me olhar
assim e vem me comer.
Solto uma risada ao tirar o meu pau quase todo e meter fundo nela,
de uma só vez.
— Assim? — pergunto, estocando-a mais uma vez.
E mais outra.
E outra.
— A-hã… — ela responde, com a voz manhosa, seu corpo fazendo
um vai e vem gostoso a cada metida minha.
Deliciosa.
Sem tirar os olhos dela, continuo metendo, acelerando o ritmo cada
vez mais, enquanto meu pau esfola sua boceta gulosa.
Porra, isso é gostoso demais.
— Fica de quatro para mim? — peço, saindo de dentro dela.
E quando Sarah se posiciona, empinando bem a bunda, eu não
resisto a dar um tapa nela, deixando a marca de meus dedos em sua pele
branquinha.
— Inferno de bunda gostosa — solto um grunhido ao agarrar seu
quadril e meter até o fundo.
— Ai, Hunter…
Vejo-a agarrar os lençóis enquanto abre mais as pernas para mim,
deixando um ângulo incrível para essa foda.
Ainda segurando-a com uma das mãos, puxo seus cabelos com a
outra e ergo seu tronco de leve para mim, dando um tranco a cada estocada.
— Cacete, Hunter… Você é gostoso demais.
Eu rio, ainda metendo nela, comendo sua boceta deliciosa por trás
enquanto gememos os dois, inebriados de prazer.
Essa mulher me enlouquece e eu sei que causo o mesmo efeito nela.
Ainda segurando a sua bunda, corro os dedos por sua pele até
encontrar seu ânus, sorrindo ao vê-lo diante de mim. Chupo o dedo
indicador e começo a introduzi-lo nela, que só geme mais alto a cada vez
que ele entra mais.
— Hunter…
— Você gosta disso, não é? — indago, fodendo-a ali devagar com o
dedo.
— Hunter…
Rio, ainda metendo nela.
Meu pau não para de foder a sua boceta, minha mão ainda puxa seu
cabelo enquanto dedo o seu cu, vendo minha mulher se desesperar diante de
mim.
— Estou te preparando para comer esse seu cu gostoso — digo,
enfiando um pouco mais…
— Ai…
— Vai me dar esse cuzinho, baby? — peço, chocando meu quadril
forte contra o seu.
— Eu dou… — diz, entre gemidos. — Eu dou o que você quiser,
amor. Só não para de me comer assim…
— Ah, sua safada!
Dou um tranco em seus cabelos e aumento o ritmo das duas
estocadas, vendo-a se desesperar e rebolar contra mim.
— Hunter, eu…
— Goza, baby. Goza, que eu vou te encher de porra.
E não precisa de muito para ir ao abismo, levando-me logo após, e
eu gemo alto junto com ela.
— Porra…
Solto o seu corpo, saindo de dentro dela, e desabo na cama ao seu
lado.
— É impressão minha ou a saudade deixou que ficasse mais
gostoso? — pergunta, ofegante, e eu sorrio para ela.
— Quer ficar mais duas semanas sem transar para ficar gostoso
assim? — brinco e ela fecha a cara para mim.
— Deus me livre! Ficou maluco?
Ela me escala, subindo em cima de mim, e eu solto uma risada.
— Agora que eu te tenho, Sr. Crawford, não te largo nunca mais…
Toco seu rosto e a faço olhar em meus olhos.
— Não vou te largar mais, baby. Nunca mais…
Sarah sorri e me cala com um beijo.
Com aquele que sela toda a nossa promessa.
É daqui para a eternidade, nada menos do que isso.
Capítulo 32 - Hunter

DE BRAÇOS CRUZADOS, encostado à lataria do meu carro, observo a


entrada do estacionamento do hospital, enquanto espero Josh Cobertt
encerrar seu plantão.
Ontem, depois de passar um dia inteiro com Sarah, curtindo,
namorando e aproveitando minha mulher, tivemos aquela conversa sobre o
tal infeliz. Ela confessou que também sente medo de continuar em Los
Angeles sabendo que esse cara está à solta, principalmente porque não
sabemos quanto tempo ele ficará por aqui.
Foi então que dei a ideia de procurar seu irmão e contar o ocorrido,
para que, com sua ajuda, possamos passar um recado para o maldito. Por
mais que não tenhamos como provar nada a seu respeito, precisamos tirá-lo
da cidade, nem que para isso eu perca meu réu primário e dê uma surra no
filho da puta.
Sarah me pediu para que eu mesmo contasse a Josh, porque ela não
conseguiria falar sobre, não sem se sentir profundamente constrangida. E
garanti que faria isso por ela, só precisava de seu aval.
E cá estou, vestido com um moletom grafite, boné preto na cabeça e
óculos escuros, esperando por ele.
Depois de observar várias fotos do sujeito e ver o quanto ele é
parecido com Sarah, sei que não vai ser difícil reconhecê-lo.
E quando um loiro alto, vestido de branco, vem em direção ao
estacionamento com uma maleta nas mãos, eu sinto o coração se agitar aqui
dentro.
Sigo em sua direção e o abordo antes que entre em seu carro.
— Josh? — chamo e ele me encara confuso.
— Eu conheço você?
Tiro os óculos escuros e coloco na gola da jaqueta, estendendo a
mão a ele.
— Hunter Crawford, muito prazer.
O irmão de Sarah me encara como se eu fosse uma miragem.
— Caralho… É você mesmo?
Balanço a cabeça, abrindo um sorriso amistoso.
— Porra, eu sou muito seu fã! Eu assistia a todos os jogos desde
que… — ele se empolga e então para, raspando a garganta. — Desculpe.
— Não tem problema, já estou acostumado com isso. — Dou uma
risadinha. — Posso conversar um pouco com você? É sobre Sarah, é
importante.
Encaro-o firme e balança a cabeça de pronto.
— Claro, tem uma lanchonete aqui no estacionamento do hospital.
Me deixa só guardar minhas coisas aqui.
Assinto, vendo-o abrir o carro para guardar sua maleta e logo ele
indica para que eu o acompanhe até a lanchonete.
Por sorte, está um tanto vazia, já que só há uma mesa ocupada.
Eu me sento à última e o vejo buscar dois cafés para a gente.
— Obrigado.
Ele acena, enquanto tomamos um primeiro gole.
— E então? O que quer falar comigo?
— Você já deve saber que estou namorando a sua irmã, certo?
Josh ergue uma sobrancelha.
— Sei que rolou um caso e que teve toda aquela loucura da mídia,
mas não sabia que estava tão sério assim.
— Pois é, nos acertamos ontem e queremos fazer dar certo —
explico. — Vamos aprender a lidar com toda a imprensa, mas não é sobre
isso que vim falar com você.
— Certo…
— Deve estar sabendo que busquei Sarah na casa de seus pais há
dois dias.
Ele balança a cabeça, bebendo mais do café.
— Sei, e ninguém entendeu nada até agora.
— Pois é disso que vim falar, e, Josh, preciso que guarde segredo
sobre isso. Eu preciso da sua ajuda, e Sarah me autorizou a conversar sobre
esse assunto somente com você.
— Você está me assustando…
Respiro fundo, coçando a barba e pensando na melhor forma de
começar esse assunto, que é uma merda.
— Tinha um amigo na casa do seu pai, não tinha?
— Amigo? — Ele parece puxar na memória. — Ah, o Jeffrey… Um
velho amigo de pai, por quê? O que tem ele?
Meu coração se agita ainda mais aqui dentro.
Ah, que merda falar de uma coisa dessas.
Ainda mais sendo de Sarah.
— Quando estávamos no Havaí, Sarah me contou que ele
costumava frequentar a casa de vocês no passado, certo? — indago e ele
confirma. — Então, parece que em uma das idas dele lá, em um dia em que
vocês estavam na piscina, ela precisou ir ao banheiro em casa… — Eu paro,
sentindo as mãos tremerem ao segurar o copo de café. — Parece que esse
cara a seguiu e ficou esperando que ela saísse.
O rosto de Josh assume um tom avermelhado agora, quando ele
entende o rumo da conversa.
— Ele a segurou pelo braço, tapou a sua boca e a tocou por cima do
biquíni.
— Ah, puta que pariu, ele não fez isso!
Josh se exalta e se levanta da cadeira, correndo as mãos pelos
cabelos, transtornado.
Eu sei, fiquei assim também quando soube de tudo.
— Ele enfiou a mão dentro da calcinha dela e só não fez algo pior,
porque nesse momento você entrou na cozinha para pegar alguma coisa e
ela aproveitou o susto do cara para sair correndo e se trancar no quarto.
Josh me encara com o cenho franzido e então cai sentado à minha
frente.
— Porra, eu me lembro disso… Me lembro de ela ter inventado uma
desculpa para passar o dia todo trancada lá dentro. Caralho, Hunter… Ela
só devia ter uns doze anos…
O semblante dele é doloroso quando eu assinto.
É um misto de raiva, revolta, tristeza e dor.
É tudo ao mesmo tempo.
— E então ele voltou agora… — Josh constata com os olhos
marejados e eu confirmo.
— Por isso ela entrou em pânico e me ligou para buscá-la.
— Caralho…
Balanço a cabeça assentindo.
Caralho mesmo.
— Esse cara ainda está aqui? Preciso fazer alguma coisa, preciso…
— É por isso que eu vim te procurar, para pensarmos juntos no que
fazer. Não dá para denunciá-lo agora, porque não temos provas nenhumas
do que ele fez à sua irmã.
— Porra!
Josh soca a mesa e fica transtornado.
— Você consegue descobrir com o seu pai onde esse cara está?
Porque talvez possamos ir até ele, dar um recado, sei lá. Eu não me importo
de perder meu réu primário esfolando a cara desse maldito, Josh, desde que
fique longe da Sarah.
Ele saca o celular do bolso, concordando.
— Vou descobrir isso agora.
Enquanto ele disca para o pai, eu sinto meu corpo tremer de
nervoso, pensando no que podemos fazer para calar esse sujeito.
— Pai? — Josh começa a conversar e eu fico atento a ele. — Tudo
bem com o senhor?
Coço a barba ansioso, sem nem tirar os olhos de Josh.
— Graças a Deus, também… Escuta, estava vendo um jogo aqui na
TV do hospital e me lembrei do Jeffrey.
Só de ouvir esse nome, meu estômago embrulha e meu punho se
fecha.
— Ele ainda está na cidade? — Uma pausa e eu sinto o meu coração
se agitar ainda mais. — Ah, então não veio para ficar muito tempo? Sei…
Hospedado então… Ele te falou o hotel?
Caramba, que o pai de Sarah saiba…
Que ele…
— Ah, é só por curiosidade mesmo. A-hã… Palais Los Angeles —
Josh fala, olhando para mim, e meu sorriso se amplia.
O Universo pode ser um filho da puta quando quer, mas às vezes…
Às vezes ele manda bem pra caralho.
Ainda estou sorrindo quando tiro o celular do bolso.
Chegou a minha hora de fazer uma certa ligação…

— Porra, estou nervoso pra caralho — Josh diz, andando de um lado


para o outro no quarto de hotel. — Será que ele vai demorar muito?
— Não sei… Mas temos a vantagem de pegá-lo desprevenido.
E como temos.
Quando Josh descobriu o nome do hotel, uma luz se acendeu sobre
mim ao constatar que o maldito estava hospedado em um dos hotéis do meu
melhor amigo.
Porra, Luke, se eu já te amava antes, agora então…
Conseguimos a chave reserva de seu quarto e tivemos acesso para
esperá-lo aqui dentro e abordá-lo.
Corremos o risco de que ele processe o hotel por isso?
Com toda certeza, mas pagarei feliz aos advogados de Luke e ele
mesmo me garantiu que sua equipe jurídica está à nossa disposição.
Que Sarah me perdoe por ter contado a ele parte de sua história, sem
muitos detalhes, mas eu precisava de urgência no caso e rapidamente ele se
prontificou em nos ajudar.
Porra, nem acredito.
Josh ainda está andando em círculos quando ouvimos o som da
maçaneta sendo aberta e eu me junto ao lado dele, formando aquele
paredão.
— Mas que porra é essa? — o tal de Jeffrey se assusta ao nos ver. —
Quem deixou vocês entrarem aqui?
— Senta aqui, Jeffrey, precisamos ter uma conversinha.
— Josh? — finalmente ele o reconhece. — O que aconteceu?
Josh não diz nada, apenas aponta para a cama com a cabeça e o cara
obedece, olhando-nos desconfiado.
Seu olhar vai de meu cunhado para mim, que parece me reconhecer
também.
— Você não é o…
— Quero saber o que você está fazendo aqui depois de tanto tempo
— Josh o corta, e ele franze o cenho.
— Vim de férias. Não posso visitar meus antigos amigos?
Sua expressão confusa só me embrulha o estômago.
Ah, tenha dó…
— Jeffrey, eu vou direto ao ponto. Você tem meia hora para sair de
Los Angeles, para não voltar nunca mais — Josh diz firme.
— O quê? — Ele se levanta de pronto. — Ficou maluco, Josh? Eu
não vou fazer isso.
— Ah, você vai, sim. Sabe por quê? — Josh está espumando de
raiva e, ainda que eu esteja louco para socar esse infeliz, deixo-o conduzir a
situação. — Por que você abusou da minha irmã, seu maldito! — ele grita e
o cara nos olha sem entender.
— O quê? Não sei do que está falando…
— Não se faça de desentendido — corto-o e ele olha para mim. —
Você sabe que tocou em Sarah quando ela ainda era uma criança, em uma
de suas visitinhas de amigos.
O homem olha de Josh para mim, sem entender, até, pela sua
expressão, parecer se lembrar.
— Eu não fiz nada — defende-se.
— Não fez o caralho! — Josh se exalta, puxando-o pela camisa. —
Você tocou na minha irmã, seu pedófilo, filho da puta!
E então o punho de Josh voa no infeliz, que cambaleia para trás.
— Não tem como vocês provarem isso… Já faz muito tempo.
— Ah, não tem? Jura? — a voz de Josh é de puro deboche.
E quando ele tira um pen-drive do bolso, o desespero nos olhos de
Jeffrey é palpável.
— Às vezes você se esquece que a casa dos meus pais tem câmeras
por toda parte. — Ele rodopia o pequeno aparelho nas mãos. — E que na
época eu fiz questão de gravar uma cópia e guardar comigo. Só que não
precisei fazer nada, porque pouco depois você se mudou e agora… Agora
que você voltou, eu tenho como acabar com você.
— Você está mentindo… — diz, mas é nítido o quanto está
preocupado. — Senão, por que não ir até a polícia?
— Porque meu pai não sabe! — rebate. — Sarah nunca contou a
ninguém, apenas a mim e ao Hunter e isso mataria o meu velho do coração.
Se eu te denunciasse, todo mundo saberia disso, e geraria ainda mais mal-
estar para minha irmã.
O homem engole em seco.
— Some daqui, Jeffrey, ou não vai me restar outra alternativa. E
você sabe bem como pedófilos de merda como você são tratados dentro da
cadeia.
O infeliz olha para mim e eu praticamente o mato com os olhos, até
ele finalmente assentir.
— Ótimo. Vamos te esperar ali do lado de fora. Eu quero você
sumindo deste lugar agora.
Ele balança a cabeça e estamos prestes a sair, quando meu punho
voa na sua cara.
— Mas que porra…
— Isso é pela minha namorada.
Soco-o de novo, e ele cai ao chão. Encho-o de chutes, até Josh me
puxar pelo braço.
— Já está bom, cara, ele já entendeu.
— Mexe com qualquer mulher de novo, filho da puta,
principalmente com a minha. Eu tenho dinheiro suficiente para pagar
alguém para acabar com você, sem que te sobre um pedaço sequer.
O homem arregala os olhos para mim, quando cuspo na cara dele e
saio de dentro do quarto, sentindo a adrenalina correr em minhas veias.
— Porra!
Encosto a cabeça na parede, respirando fundo, tentando me acalmar,
e Josh fica em silêncio ao meu lado.
De canto de olho, acompanhamos o momento em que Jeffrey deixa
o quarto com suas malas e nos encara, descendo pelo elevador. Nós o
seguimos, vendo-o fazer check-out e sair do hotel, pegando um táxi.
Quando finalmente estamos sozinhos, eu solto um suspiro.
— Porra, deu certo… Acha que ele vai voltar? — indago, olhando
para ele.
— Vai não, aquilo é um cuzão medroso. Nunca mais vai aparecer
aqui.
— E qual é a do pen-drive? Você tinha mesmo essa filmagem?
— Isto aqui?
Josh tira o aparelho do bolso e eu assinto.
— Ah, não… É o pen-drive que eu levo para o hospital para ouvir
música. O bluetooth de lá está com problema.
Encaro-o surpreso, quando ele solta uma risada.
— Sou bom em blefar, Crawford. — Ele dá um tapinha em meu
ombro. — Você saberia disso se um dia jogasse pôquer comigo.
Josh dá uma piscadinha e eu caio na risada.
— Porra, mas que filho da mãe!
Ele solta uma risada junto comigo e seguimos pelo estacionamento
até nossos carros.
No trajeto, não deixamos de brincar um com o outro e eu percebo
que já gostei demais desse cara.
Sinto que nos daremos muito bem.
— Bom, eu vou para casa agora — diz, ao parar diante de seu carro.
— Estou morto depois de um plantão.
— Está certo, vou lá ver como Sarah está e contar para ela.
Ele concorda de pronto.
— E, obrigado, Hunter — diz olhando em meus olhos. — Por me
deixar ajudar e por cuidar de Sarah por nós. Ela tem muita sorte de ter você.
Engulo o nó na garganta pelas suas palavras e só consigo assentir,
vendo-o entrar no veículo e dar a partida.
E, quando estou sozinho, sinto o ar descer mais leve aos pulmões.
Porra, nós conseguimos.
Nós conseguimos.
Capítulo 33 - Sarah

— AI, MEU DEUS! Nem acredito que este dia chegou… Como eu estou?
Meu cabelo está bonito? — Claire dispara e eu gargalho.
— Amiga, não precisa de tudo isso… Hunter é apenas o meu
namorado.
— Ele não é apenas o seu namorado, Sarah. Ele é uma lenda viva
do futebol, o maior quarterback da história dos Los Angeles Bulls.
Ela para e suspira, fazendo um gesto dramático.
— Ai, meu Deus!
Ela se abana e eu solto uma risada ao ouvir o interfone tocar.
— Acho que é ele.
— Jesus, eu vou ter uma dor de barriga.
Eu ainda estou rindo quando atendo ao interfone e libero sua
entrada.
— Calma, amiga. Respira. Você não vai querer que eu te leve para o
hospital logo hoje, não é?
Claire assente, fazendo vários exercícios de respiração.
Eu acho graça de toda a situação, porque não enxergo Hunter assim.
Claro que eu sei de sua sólida carreira e o quanto ele foi importante para a
NFL, mas ainda assim…
Para mim, ele sempre será o meu Hunter, aquele homem que coloca
Taylor Swift para tocar quando estou triste e até faz uma sobremesa
brasileira para mim. Aquele que faz cafuné para eu dormir e que fica todo
bobinho quando lhe faço um carinho.
Sorrio sozinha ao me lembrar do quanto ele foi incrível comigo em
meu momento de maior desespero e como lidou com toda a situação com
maestria. Hunter, com a ajuda de meu irmão, resolveu aquele problema e
me deram a tranquilidade de viver em paz por Los Angeles.
Eu nunca vou esquecer o que esses dois fizeram por mim.
E, depois de enfrentar algumas pessoas cara a cara nos últimos dias,
Hunter perdeu um pouco dos receios, tem ficado mais tranquilo com isso.
Tanto é que anunciou que viria me visitar aqui, com Claire em casa. Ele
sabe o quanto minha amiga é sua fã e disse que não se importa de falar de
futebol com ela.
Eu não tenho palavras para descrever o quanto fiquei feliz em ouvir
isso.
Sigo até a porta principal e logo vejo Hunter saltar do elevador,
absurdamente lindo.
Vestindo uma gola polo cinza, calças jeans e tênis pretos nos pés, ele
está impecável. Os cabelos estão perfeitamente presos em um coque alto e,
quando me vê, abre aquele sorriso lindo.
Aquele sorriso que amolece todo o meu coração.
— Oi, baby — cumprimenta-me, e eu me inclino para beijar seus
lábios de leve. — Trouxe para você.
Quando Hunter me estende um lindo buquê de flores coloridas, meu
sorriso se torna gigante.
— Ai, meu Deus… São lindas, Hunter!
Pego as flores de sua mão e me jogo nele, sendo envolvida por seus
braços fortes.
— Obrigada, amor — sussurro e ele beija meus cabelos com
carinho.
Ao se afastar, indico para que me acompanhe e, logo que entramos,
vemos Claire nos esperando ao lado do sofá.
— Oi, Claire, muito prazer. Trouxe um vinho, espero que goste.
Hunter mostra a garrafa em suas mãos e minha amiga abre a boca,
balançando a mão depressa, totalmente sem reação.
— Amor, dá um tempo para ela processar a sua presença — falo
baixinho e ele abre um sorriso gigante.
— Ai, meu Deus — a voz dela sai um sussurro e eu rio.
— Não se preocupe, temos toda a noite.
Ele dá de ombros e eu rio, buscando um jarro para colocar suas
flores. Quando volto, Claire ainda olha para Hunter, perplexa.
Eu sabia que ela era fã dele, mas não tanto assim.
— Amiga, respira. O Hunter é de verdade, olha. — Toco o braço
dele, apertando-o de leve. — Não vai te morder.
Claire abana as mãos, apreensiva.
— Meu Deus… Tem… Uma lenda do futebol na minha casa. — Ela
para, fechando os olhos e respirando fundo. — Jesus, eu não sei fingir
costume.
Então Hunter gargalha, e eu não resisto a acompanhá-lo.
Claire demora uns minutos para se recompor e então tentar olhar
para ele sem surtar.
— Certo… Eu acho que consigo fazer isso. — Minha amiga respira
fundo mais uma vez. — Muito prazer, Hunter.
Ela estende a mão para ele, que aperta com carinho.
— Ai, meu Deus… Ele apertou a minha mão — diz, olhando para
mim, e eu dou uma risadinha.
— Ele é gente boa, você vai gostar dele.
Claire balança a cabeça e então aceita o vinho que Hunter oferece.
— Eu juro que nunca vou jogar esse rótulo fora.
Eu solto uma risada, porque sei que Claire vai fazer exatamente isso.
Sigo até a cozinha e pego um copo de água para, ela que aceita,
dando longos goles.
— Obrigada, amiga.
— Mais calma? — pergunto e ela olha para Hunter, balançando a
cabeça.
— Claire fez uma massa maravilhosa, sabia que ela é excelente
cozinheira? — puxo assunto, levando Hunter para o sofá, e minha amiga se
acomoda na poltrona à nossa frente.
— É mesmo? Então vocês duas se completam, já que você é ótima
na sobremesa.
— Sim! Nós costumamos falar isso mesmo. Claire arrasa nos pratos
salgados.
Pisco para ela, que está hiperventilando, a coitadinha.
— Você também é psicóloga, certo? — Hunter pergunta a ela, que
assente devagar.
— Eu conheci a Sarah na faculdade — diz, com a voz um pouco
mais firme. — Gosto de dizer que foi amor à primeira vista.
Jogo um beijo para ela, que sorri para mim.
— Eu imagino que sim… Não tem como não se apaixonar pela
Sarah.
Então ele toca a minha coxa, acariciando-me devagar.
— Mas não quis ir para a área clínica? — ele insiste no assunto,
pensando que este é um caminho mais confortável para ela.
E com toda certeza é, porque minha amiga vai relaxando aos
poucos.
— Ah, não… Sempre me vi trabalhando em empresas, na gestão de
pessoas, contribuindo para um ambiente de trabalho mais saudável.
— Isso é muito importante — ele aponta. — Lembro que tínhamos
um psicólogo no time. Os caras sempre reclamavam dessa parte, mas hoje
vejo que era bom para a equipe.
Ouvir Hunter falar de seu passado com tanta tranquilidade me deixa
com o coração tão quentinho.
— Com toda certeza é importante.
— Então você é torcedora dos Bulls? — pergunta e Claire assente
frenética, os olhos brilhando.
— Não perco um jogo sequer! Meu pai sempre me levou ao estádio
quando eu era criança, então cresci naquele ambiente, sendo apaixonada por
futebol.
— Isso é incrível. Aposto que deve ter alguma camisa do time por
aí?
— Claro! — O semblante dela se ilumina. — Camisa, boné,
faixas…
— Quer que eu autografe alguma?
Neste momento, até eu me viro para encarar Hunter e me espanto
com o quanto ele está confortável com esse assunto.
— Ai, meu Deus. Você faria isso?
— Com prazer!
Claire solta um gritinho de empolgação e dispara até o seu quarto.
Aproveito a deixa e toco o braço dele com carinho.
— Está tudo bem mesmo, Hunter?
— Você não faz ideia do quanto está me fazendo bem encontrar com
alguém que gostava tanto do meu trabalho — confessa. — É algo de que eu
também sinto falta, não só de estar no campo jogando, mas também do
carinho dos fãs…
Neste momento, Claire volta com uma camiseta azul e uma caneta
preta nas mãos.
— Pode escrever onde você quiser.
Ela estende o tecido para Hunter e percebo-o encarar a camisa por
um momento, parecendo nostálgico.
— Era o meu número… — Aponta para o dezoito estampado no
verso da camisa.
— Você era o melhor QB que os Bulls já tiveram — Claire elogia e
ele ergue os olhos para ela.
Aqui, em seus olhos, consigo ver toda a sua gratidão.
Hunter acena, abrindo a tampa da caneta e apoiando em sua coxa
para escrever. Estico o pescoço para ver os dizeres na camisa.
“Para Claire,
Obrigado pela força.
Com carinho,
H. Crawford, 18”
Hunter tampa a caneta e estende para ela, junto com a camiseta
autografada. Eu fico aqui toda bobinha, morrendo de orgulho dos dois.
— Ai, meu Deus. Eu vou emoldurar isto no meu quarto. — Ela
suspira, abraçando o tecido. — Obrigada, Hunter. Mesmo!
Ele dá de ombros, sorrindo.
— É a primeira vez que faço isso em mais de três anos — comenta.
— É bom retomar antigos hábitos.
— Eu vou tirar uma foto e guardar para o momento em que puder
postar nas redes sociais. — Ela suspira e não tem um que não ri.
— Quer tirar uma foto comigo? — Hunter oferece e a menina
arregala os olhos para ele.
— Deus, se isso for um teste, eu ainda não me sinto pronta para
morrer!
E então eu gargalho.
— Vai lá, eu vou tirar para vocês.
Pego o celular e Hunter se levanta, ficando ao lado de Claire. Cada
um pega uma manga da camisa, que estendem à frente, formando o
sobrenome e o número de Hunter.
Tiro várias fotos e sinto tanto orgulho dele, tanto que não cabe em
meu peito.
— Obrigada, Hunter. — Claire olha para ele, fascinada. — Eu posso
te dar um abraço?
— Claro.
Quando Hunter a envolve com seus braços tatuados, minha amiga
me encara incrédula, e eu sei que, neste momento, está dando um de seus
famosos gritinhos internos.
— Uma foto, um abraço e um autógrafo de Hunter Crawford. — Ela
suspira, ao se afastar. — É, eu zerei mesmo a vida.
— E o vinho. — Aponto para a garrafa e ela assente depressa.
— A garrafa vai ficar na minha estante, ao lado do porta-retratos
com a foto e a moldura da camisa — diz, dramática.
Hunter acha graça disso, mas em seus olhos consigo ver o tamanho
da gratidão que está sentindo.
— Chupa, América, o maior QB é namorado da minha melhor
amiga!
Ela abraça a camisa e sai pelo corredor, para guardar. Eu rio de sua
espontaneidade.
— Ela é muito divertida — ele comenta ao ficarmos sozinhos.
— Ela é! Doidinha, mas tem um coração enorme. É minha melhor
companhia.
Hunter sorri, abraçando-me pela cintura.
— Fico feliz que vocês tenham uma à outra.
Ele se inclina para me dar um selinho e, neste momento, Claire
ressurge.
— Eu ainda estou tentando fingir costume — comenta e eu solto
uma risada.
— Com o tempo você se acostuma — Hunter diz. — Ainda vai me
ver muito daqui para a frente…
Claire abana a mão mais uma vez, tirando-nos uma risada.
— Isso tudo me deixou com fome — ela diz. — Vocês já jantam?
— Com toda certeza — responde Hunter.
— Ótimo. Vou só colocar para aquecer e já volto.
Hunter leva o vinho para manter a temperatura na geladeira e noto o
tempo todo que Claire, ainda que esteja surtando com sua presença, está
começando a se acostumar.
Mas as encaradas incrédulas que ela me dá sempre me tiram uma
risada.
Com a ajuda de Hunter, montamos a mesa e logo começamos a
experimentar dos dotes culinários de Claire.
— Nossa, está uma delícia — ele elogia, comendo mais uma
garfada. — Você manda muito bem, Claire.
— Queria ressaltar que uma lenda do futebol está comendo a minha
humilde carbonara e elogiando. — Ela para e solta um suspiro. — Mas sei
que estou soando repetitiva hoje, então obrigada, Hunter. Fico feliz que
gostou.
Eu solto uma risadinha ao comer de seu prato, que está mesmo
perfeito.
— Você arrasa, amiga, como sempre.
Pisco para ela, e logo comemos de forma tranquila, Claire se
soltando cada vez mais em sua presença.
— Eu só queria ter visto a cara do seu pai quando viu o Hunter na
frente dele — ela comenta, sorrindo.
— Ele ficou me encarando como se eu fosse um fantasma — Hunter
diz, divertido. — Josh também não ficou para trás.
— Espere quando marcarmos um jantar lá — digo a ele. — Vai ser a
versão de Claire piorada, porque são dois sendo seus fãs.
Hunter ri, mastigando devagar.
— Vai ser bom encontrar pessoas que apreciam meu trabalho.
Desço a mão pela mesa e toco a sua coxa, apertando devagar.
Estou tão, mas tão, orgulhosa dele…
Ao terminarmos o jantar, trago a sobremesa italiana cuja receita
aprendi recentemente, um Tiramisù. Recebo elogios dos dois, mas ver o
sorriso de satisfação de Hunter ao provar mais um prato meu sempre enche
meu peito.
Eu amo agradar esse homem.
Posso passar a vida inteira fazendo sobremesas para ele, que jamais
vou me cansar.
Depois de passarmos uma boa noite conversando, nos divertindo,
Claire se recolhe e eu chamo Hunter para ver um filme comigo no sofá.
— Dorme comigo hoje? — pergunto, aninhada ao seu peito. —
Minha cama não é tão grande quanto a sua, mas acho que cabemos nós
dois…
— Eu só saio daqui se você não me quiser mais, baby…
Quando ele beija meus cabelos, eu sinto uma paz tão boa, um
momento tão gostoso que não resisto em registrá-lo.
Estico a mão para pegar o celular e abro a câmera frontal, indicando
a Hunter que olhe para a selfie. Mas ele me surpreende abaixando-se para
beijar o meu rosto e eu registro este momento cheio de carinho.
É uma foto simples, mas tão cheia de significados…
Eu tenho poucas fotos com Hunter, a maioria é da viagem no Havaí,
mas nenhuma é tão gostosa quanto essa.
Principalmente porque aqui, além de nos sentirmos mais livres,
estamos completamente apaixonados.
Poderíamos estar antes, mas não tínhamos a ciência de agora.
— Não preciso postar, eu só quero guardar este momento para
sempre — murmuro, fechando a câmera.
— Baby, pode me mandar essa foto?
— Claro.
Envio para ele e, quando seu celular apita, vejo-o começar a digitar
no celular, demorando-se um pouco mais.
— O que está fazendo?
— Calma, que você já vai ver.
Fico aqui, parada, encarando-o, enquanto ele mexe concentrado no
celular, digitando algumas coisas até finalmente bloquear a tela, sorrindo.
— Digita o meu nome no Instagram.
Estreito os olhos para ele, desconfiada.
Mas Hunter desativou o perfil dele há anos…
Será que…
Abro a rede social para digitar seu nome e um perfil verificado me
surge, fazendo meu coração errar uma batida.
Clico nele e tenho a imagem de um perfil ativo com quase dois
milhões de seguidores.
— Hunter…
— Se as pessoas querem falar de mim, melhor dar motivos a elas,
não?
Ainda estou incrédula quando clico na última foto postada, que é
exatamente essa que eu acabei de tirar.
Corro os dedos pela fotografia, até me emocionar com a legenda.
“Algumas pessoas surgem na nossa vida para nos salvar de nós
mesmos. Eu te amo, baby.”

— Hunter…
Pisco entre lágrimas e ele me abre um largo sorriso.
— Que o mundo saiba que eu te amo, baby, e que sou totalmente
maluco por você.
Solto o celular, atirando-me em seus braços e agarrando seu pescoço
com força, tirando-lhe uma risada.
Ah, Hunter…
Estou tão feliz e orgulhosa de você.
Não só pela postagem, mas por ter reativado uma parte de sua vida
que ficou enterrada por tantos anos…
Isso significa tanto.
— Que sorte a minha amar você, Hunter — sussurro, beijando seu
pescoço.
É…
Que sorte a minha, meu amor.
Capítulo 34 - Hunter

— AS ANTIGAS MARCAS começaram a entrar em contato para


revermos os contratos e algumas novas também estão muito interessadas
em trabalhar com você — Hugh Dixon, meu antigo agente, me fala, com os
olhos brilhando. — Eu nem acredito que isso está acontecendo, Crawford.
Balanço a cabeça, sorrindo de lado.
Nem eu…
Hugh ficou extremamente empolgado quando liguei para ele a fim
de marcar uma reunião, avisando que queria recontratá-lo. Ele foi um dos
que mais apoiou minha decisão na época, sempre me incentivando a fazer o
que eu julgasse melhor para mim. Quando dispensei seus serviços, ele
compreendeu, e me disse que não era um adeus, e sim um até logo. Era
questão de tempo até voltarmos aos nossos trabalhos.
Eu não tinha essa fé, mas ele tinha.
E cá estamos.
— Mas vamos com calma — peço a ele. — Estou retomando aos
poucos, não quero me sentir pressionado a criar milhares de conteúdos para
as minhas redes sociais.
Desde que postei minha foto com Sarah, há alguns dias, meu
Instagram não tem me dado sossego.
Foram milhares de curtidas em poucas horas e uma chuva de
comentários. E o que mais me surpreendeu é que em sua maioria foram
mensagens de apoio e carinho. Muitos sentiram minha falta, não só de me
ver em campo, mas de ter notícias minhas, de saber como eu estava. É claro
que encontrei algumas mensagens maldosas pelo caminho, mas essas não
tiveram nenhum destaque em relação às demais.
Os tabloides repostaram a notícia do meu relacionamento e tudo
tomou uma proporção gigante. Eu ultrapassei a marca de dois milhões de
seguidores e não para de chegar gente por aqui. O perfil da Sarah, que é
privado, vive lotado de solicitações de amizade e ela está simplesmente
encantada com tudo isso. Principalmente por ver tantos comentários na
minha postagem enaltecendo o quanto ela é linda.
E não estão mesmo errados.
Sarah é perfeita.
Desde então, meu engajamento foi lá nas alturas e as marcas
começaram a entrar em contato com meu agente buscando contratos de
patrocínio e publicidade. Ainda que eu ache isso incrível, preciso ir com
calma.
Não me sinto pronto para voltar à dinâmica que eu mantinha antes
do acidente e, mesmo que a terapia me ajude pra caramba, sei que preciso
conduzir a situação da maneira mais sensata possível. De forma a ficar o
mais confortável que consigo com tudo isso.
E sei que dará certo.
Com Sarah ao meu lado, tendo os melhores profissionais
trabalhando comigo e o apoio da minha família e de Luke, sei que vou
conseguir.
Jamais voltarei à vida que eu tinha, mas tenho conseguido resgatar o
máximo que posso do antigo Hunter. E isso tem me deixado bastante feliz.
Com orientação de Brian, gravei um vídeo agradecendo o carinho de
todos e dizendo que eu estava bem, que voltaria a interagir com meus
seguidores aos poucos. Fui bem sincero com eles, pedi paciência nesse
processo e, mais uma vez, fui surpreendido com milhares de curtidas além
de comentários de apoio.
Todo aquele medo que eu tinha de as pessoas me olharem diferente,
de me julgarem, tem ido por água abaixo, porque tenho recebido inúmeras
mensagens positivas, o que tem me feito um enorme bem. Meu terapeuta
também tem sido crucial nesse processo e está bastante orgulhoso de mim.
Não preciso nem dizer o quanto me sinto aliviado por isso.
Sair na rua com tranquilidade ainda é um tanto inviável para mim,
mas tenho conseguido pequenas coisas ao dia, ainda que eu ande disfarçado
por aí.
— Não se preocupe — Hugh diz, puxando-me de volta à realidade.
— Vou priorizar as marcas que nós já trabalhamos e com que você já está
familiarizado. Aos poucos vamos vendo as novas propostas. Tudo no seu
tempo. Inclusive, quando quiser considerar sobre o time, eles ainda estão
interessados em seu trabalho.
Encaro-o sentindo meu coração dar um salto aqui dentro.
É um passo e tanto, não sei se estou pronto agora.
Mas tenho mais confiança de que um dia vou estar.
E isso já é uma enorme vitória para mim.
— Te aviso quando me sentir pronto para isso — aviso e ele assente.
Repassamos algumas questões e ao final me sinto vitorioso por dar
esse passo. Não há como voltar ao que era antes, mas existem outros meios
de deixar o futebol voltar para a minha vida e isso faz um bem enorme para
mim.
— Assim que eu tiver retorno sobre os contratos, te passo para
assinarmos tudo — Hugh diz, ao se levantar junto comigo.
— Certo.
— Estou feliz por voltarmos a trabalhar juntos, Hunter — diz,
sincero. — E mais feliz ainda por você ter vencido essa barreira.
— Obrigado, Hugh. Eu ainda amo o que eu fazia, sinto falta disso
na minha vida.
— Eu sei. Aos poucos, tudo vai se ajeitando.
— Vai, sim.
Aperto sua mão e coloco o boné de volta na cabeça, saindo de sua
sala e deixando o prédio comercial no centro de Los Angeles. Desço pelo
elevador e, ao chegar à calçada, Henry, meu antigo motorista, me espera à
porta.
Entro no meu carro e cumprimento-o, tirando o boné e correndo a
mão pelos fios antes de pegar o celular para ligar para Sarah.
— Oi, amor — sua voz doce me faz sorrir.
— Já está liberada, baby? Acabei de sair da reunião com Hugh.
— Sim, você já está vindo?
— Chego em alguns minutos.
Despeço-me dela e jogo a cabeça no assento, enquanto vejo as ruas
de LA passarem por nós. Como eu tinha essa reunião ao final do dia,
combinei de buscar Sarah no trabalho e levá-la para casa, para que ela se
arrumasse a fim de irmos à casa de seus pais.
Hoje é o dia em que vou conhecer oficialmente sua família. Josh
conseguiu uma folga em sua agenda de plantões e fizeram esse jantar
acontecer. Sarah está radiante, não para de falar um minuto sobre isso e eu
fico feliz de conhecer mais esse lado dela.
Espero que gostem de mim, do Hunter, namorado dela, e não apenas
do Crawford, antigo jogador dos Bulls.
De Josh eu já sei que ganhei a confiança, porque, desde o dia em
que nos juntamos para dar jeito naquele cara, ambos percebemos que
sempre poderemos contar um com o outro quando o assunto é proteger
Sarah.
Quando Henry para à porta do prédio de Sarah, ela reconhece o
carro e vem em nossa direção, onde abre a porta e se junta a mim no banco
traseiro.
— Oi, Henry! — ela cumprimenta o motorista antes de se virar para
mim.
— Oi, baby.
Toco seu queixo antes de puxá-la para um beijo delicado nela, que
está sorrindo ao final.
— Como foi a reunião? Tudo certo? — indaga, afivelando o cinto
de segurança.
— Foi bastante proveitosa.
Sarah não tira os olhos de mim enquanto relato tudo o que foi
conversado com Hugh, sobre marcas, contratos e até mesmo sobre o retorno
ao time.
— Nossa, Hunter, isso é incrível. Estou tão feliz e orgulhosa de
você!
Ela pega a minha mão e entrelaça nossos dedos.
— Pedi a ele que fôssemos pegando aos poucos, afinal não vou
voltar do nada a ser uma pessoa cem por cento ativa nas redes sociais.
Ainda não me sinto confortável para isso.
— Claro, você está certo. Vá no seu tempo. Só de ter dado esse
passo, amor, é uma grande vitória. Não tem ideia do quanto me deixa
orgulhosa.
Ela se inclina e me dá um selinho gostoso.
— Recebo várias mensagens pedindo mais fotos nossas — explico.
— A senhorita também está famosa — brinco e ela ri.
— É o preço por namorar alguém tão gostoso — diz e eu rio baixo.
— Ansiosa por mais tarde? — indago e seus olhos brilham.
— Muito!
Seguimos o trajeto até a sua casa e deixo Henry nos esperando,
enquanto subimos para que Sarah se arrume. Encontro Claire em casa e,
ainda que ela já esteja um pouco mais acostumada com minha presença, dá
um pequeno surto de alegria ao me ver.
É engraçado e fofo ao mesmo tempo.
Eu tinha me desacostumado com essa reação que causo nas pessoas
e, agora, ter acesso a isso de novo me faz muito bem. Faz com que eu me
lembre do quanto era querido por essas pessoas, o quanto meu trabalho era
admirado por elas. Faz bem à minha alma.
Quando Sarah está pronta, eu solto um assobio ao vê-la tão linda, e
sua bochecha cora.
Ela usa um vestido leve cor-de-rosa, com uma vibe colorida tão
suave e gostosa, que é impossível não me apaixonar um pouco mais por ela.
Na verdade, ela trouxe cores à minha vida, depois de tantos anos na
escuridão.
Pego-a pela mão e descemos mais uma vez, adentrando o carro e
seguindo até a casa de seus pais.
Ao chegarmos, dispenso Henry e Sarah toca a campainha, tendo
Robert abrindo a porta em seguida.
— Oi, pai. — Ela o puxa em um abraço fraterno.
— Como você está linda, Sarah — ele a elogia, Sarah abre um lindo
sorriso.
— Tenho sido feliz. — E então ela se vira para mim. — Pai… Não
pude te apresentar formalmente aquele dia, mas esse é o Hunter, meu
namorado.
E então o senhor olha para mim, ainda com um semblante
engraçado, mas, pelo menos, não me parece tão surpreso.
— Muito prazer, Sr. Corbett.
Estendo a mão a ele, que recebe meu aperto, erguendo os olhos para
me olhar melhor.
— Seja bem-vindo, filho.
Ele dá passagem para que entremos e eu sinto uma coisa boa no
peito pelo seu gesto.
— Obrigado.
O pai de Sarah nos conduz até os fundos, onde sua família está
reunida. A primeira a vir em nossa direção é a Joanne.
— Ah, que saudade, minha filha.
Puxa Sarah em um abraço e consigo ver o quanto sua família é
carinhosa e amorosa.
— Oi, mãe. Também senti saudade de casa. — E então ela me pega
pela mão. — Este aqui é o Hunter, meu namorado.
— Muito prazer, Sra. Corbett.
Estendo a mão a ela, que aceita, olhando-me maravilhada.
— Mas como é bonito, hein? Bem mais que nas fotos. — Suspira e
eu rio baixo. — Mas me chame de Joanne. Venham, estão todos esperando
vocês.
E logo sou apresentado aos sobrinhos de Sarah, sua cunhada e seu
irmão. Josh finge que não nos conhecíamos ainda, para não gerar suspeitas,
e faz várias brincadeiras comigo.
— É verdade que você jogava futebol? — Noah, o sobrinho de
Sarah, me pergunta com um brilho lindo no olhar.
— Sim… Eu já me aposentei, estou velho para isso agora — digo,
tirando um sorriso de todos. — Mas eu era quarterback dos Los Angeles
Bulls.
O menino sorri, balançando a cabeça frenético.
— O vovô e o papai me levam no jogo sempre que dá! A gente torce
para os Bulls também!
Neste momento, ergo os olhos para os dois e vejo o quanto estão se
segurando para não me encher de perguntas. Ao contrário de Claire, eles
reagiram naturalmente à minha presença, mas consigo sentir a energia de
excitação por eu estar aqui.
— Jura? — pergunto ao menino, que balança a cabeça frenético. —
Vou tentar conseguir uma camiseta para você com autógrafo de todo o time,
o que acha? — sugiro e ele arregala os olhos para mim.
— É mesmo?
Balanço a cabeça afirmando.
Isso é mole de conseguir, com um piscar sei que Hugh providencia.
— Eu posso contar na escola que agora tenho um tio jogador? — diz
tão entusiasmado, que meu peito se aquece.
Porra…
— Claro que sim!
Bagunço seus cabelos, e ele olha para todos muito empolgado.
— Legal!
— Inclusive… Posso conseguir entradas no camarote nos próximos
jogos — digo, olhando para Josh e Robert.
— Porra, Sah, agora eu amei seu namorado. — Josh suspira,
fazendo-me rir.
— Nunca fui tão a favor de um namoro como esse — Robert
completa e eu caio na risada.
— Bando de interesseiros! — Sarah os repreende, mas sei que
também está se divertindo.
— Mas vamos seguir, que temos um churrasco nos esperando —
meu sogro diz e eu travo no lugar.
Sinto um arrepio na espinha e olho para Sarah, que capta na mesma
hora o meu olhar. Minhas mãos começam a tremer e minha namorada
compreende, acariciando-me devagar, dando todo aquele apoio que é só
dela.
— Pai, por que mexer com churrasqueira agora? Vai dar trabalho.
— Que é isso, filha… Num minuto eu acendo e…
— Mas queria todos sentados conversando, jantando, e churrasco
sempre demanda que alguém fique vigiando — argumenta e o pai a olha
confuso.
Sei que ele não fez de maldade, mas, só de imaginar uma
churrasqueira sendo acesa, já sinto um calafrio.
Por mais que eu esteja muito bem, ainda não estou cem por cento
curado… Algumas coisas ainda vão levar tempo por aqui.
— Vamos fazer a carne no forno, Robert — Joanne propõe.
— É, pai, vamos ficar só de boa bebendo uma cerveja — Josh
completa. — Inclusive… Estou pensando em jogarmos umas partidas de
pôquer e vou precisar da atenção do senhor.
Robert então cede, assentindo de leve, e eu solto um suspiro.
— Obrigado — sussurro no ouvido de Sarah, beijando seus cabelos
de leve.
Ela apenas aperta minha mão e pisca para mim.
— Você bebe uma cerveja, né, Hunter? — Josh pega algumas
garrafas de long neck e me oferece.
— Claro!
Brindo com ele e dou um gole.
— Porra, tem um fenômeno do futebol na minha casa bebendo
cerveja comigo! — dispara e eu jogo a cabeça para trás, rindo. — Eu
precisava falar isso! Porra, estou leve agora!
— Gente, o Hunter é uma pessoa normal, tá? — Sarah intervém. —
Não precisam tratá-lo como uma celebridade.
— Mas ele é uma celebridade, cunhada — Jessica diz, suspirando.
Percebi que ela também está tentando se manter normal ao meu
lado.
— Mas aqui não sou — digo, sincero. — Sou só o namorado da
Sarah.
Pego sua mão e beijo.
— Um dia a gente se acostuma, cara — Josh diz. — Até lá, tenha
paciência.
Balanço a cabeça sorrindo.
— Terei toda paciência do mundo. Falando nisso… Quem quer uma
foto comigo?
— Eu! — todos respondem juntos e eu solto uma risada.
Já adorei essa família.

— Seu pai desconfiou de alguma coisa? — pergunto a Josh logo que


estamos sozinhos.
O jantar foi bastante agradável, conversamos de tudo um pouco,
jogamos algumas partidas de pôquer, mas o assunto maior foi o futebol. Eu
sei que sou a novidade por aqui, então respondi a todas as perguntas de todo
mundo, e, mesmo que estejam bastante curiosos sobre mim, não foram
desrespeitosos nem me deixaram desconfortável. Tiramos fotos, dei alguns
autógrafos em itens esportivos e prometi levá-los a alguns jogos de
camarote.
Durante toda a noite, Sarah me olhou com um semblante
apaixonado e orgulhoso e isso só me deixou ainda mais à vontade com
todos eles. Agora, deixamos minha namorada fazendo cookies com os
sobrinhos na cozinha, com a ajuda das outras garotas. Robert precisou ir ao
banheiro e eu fiquei aqui com Josh, sozinho.
— Sobre o Jeffrey? — pergunta e eu assinto. — Ele achou meio
esquisito, mas o cara foi esperto e falou com meu pai que teve uma
emergência no trabalho, tendo que voltar antes do prazo.
— Ah… — Solto um suspiro. — Que bom que ele não falou de
você.
— Ele não é nem doido. Eu pago alguém para matar esse cara se
fizer algo à minha família, Hunter — diz, enfático.
Aperto seu ombro devagar.
— Faço questão de mandar uma coroa de flores para o funeral dele.
Josh balança a cabeça sorrindo.
— Fico feliz por Sarah ter conhecido você. — Ele me encara agora.
— E nem digo pelo futebol, mas por ser você. Ela merecia alguém que
quebraria o mundo por causa dela.
— E eu quebro mesmo.
— Eu sei disso. — Ele pisca para mim. — Eu amo demais a minha
irmã, Hunter, e espero que nunca machuque o coração dela.
— Não vou — respondo, firme. — Tem a minha palavra de que eu
sempre vou cuidar dela. Sarah me salvou de mim mesmo, Josh. Devo minha
vida a ela.
Ele sorri orgulhoso.
— Fico feliz por você também. Você merecia alguém incrível como
ela — afirma, sorrindo. — O país sentiu sua falta, cara. Que bom que está
de volta.
Sinto um bolo na garganta e logo Sarah aparece à porta da cozinha,
com um avental amarrado e uma carinha feliz.
— Quem quer cookies? — anuncia e nós seguimos até eles.
E ao entrar naquela casa e ver toda sua família reunida, fazendo
festa, assoprando cookies quentinhos enquanto rola um cheiro delicioso de
chocolate no ar, eu tenho a absoluta certeza:
Encontrei o lugar certo para ficar.
Capítulo 35 – Sarah – Um mês depois

— VOCÊ SEMPRE TÃO MISTERIOSO — murmuro e ouço Hunter rir


ao meu lado.
— Não posso perder o costume. Foi assim que conquistei você.
Sinto-o erguer a minha mão e levá-la aos lábios para dar um beijo
delicado.
E esse seu gesto tão gostoso, aquece o meu peito.
— Mas hoje é mais perto, prometo.
— Não vamos sair de Los Angeles? — indago.
Como sempre, estou vendada em seu carro, sendo levada para não
sei onde, mas sentindo o coração acelerado em expectativa.
Hunter sempre me surpreende.
Não importa aonde nos leve, ele sempre prepara algo incrível para
nós dois.
— Dessa vez não — responde e eu fico ainda mais curiosa pelo que
está por vir.
— Hummmm… Vamos demorar muito?
— Não, baby. Já estamos quase chegando.
Assinto, recostando-me no assento e pensando em como minha vida
deu um giro gigantesco nos últimos meses.
Não só a minha, como a de Hunter.
Aos poucos, ele voltou a fechar alguns contratos com as marcas e
tem postado um pouco de sua rotina de treinos em casa. Embora o preto
seja sempre muito presente em seu dia a dia, algumas cores têm ganhado
espaço, como azul-marinho, tons de grafite e até mesmo verde-musgo.
Nuances vibrantes nunca serão a cara do meu namorado, mas ver um pouco
de cor em suas escolhas me deixa feliz para caramba.
Sinto como se ele não precisasse mais se esconder de si mesmo,
nem viver no completo anonimato.
Ele ainda sai pouco de casa e, quando o faz, toma bastante cuidado
para não ser reconhecido, mas ainda assim não é nenhum evento
traumático. Passamos a frequentar bem mais a casa de nossos familiares,
participando de almoços e de momentos descontraídos. É lindo ver Hunter
se soltando com eles, se divertindo e podendo ser ele mesmo.
É lindo vê-lo sorrindo.
Minha família, assim como Claire, já está mais acostumada com sua
presença e achando o máximo ter um astro do futebol em nosso meio.
E ainda que o endeusem, eu só consigo olhar para ele e enxergar o
meu Hunter. O cara mais gentil e carinhoso que já conheci.
— Chegamos — ele anuncia e eu fico parada, esperando que abra a
porta para mim e me ajude a descer do carro.
— Ainda não posso ver? — pergunto, aceitando a sua mão.
— Só mais um pouquinho.
De mãos dadas, seguimos um caminho silencioso e eu fico buscando
por algum tipo de som, mas não encontro nenhum, o que só aumenta a
minha ansiedade.
Onde será que estamos?
Quando finalmente paramos, ouço Hunter conversando alguma
coisa com alguém até tocar a faixa que cobre meus olhos.
— Pode abrir, baby.
Como se estivéssemos em câmera lenta, meus olhos são descobertos
e eu encaro o ambiente ao nosso redor, piscando devagar até reconhecer.
Isso…
É…
Um estádio?
— Esse é o estádio dos Bulls — diz e eu sinto um nó na garganta.
— Hoje está fechado, mas eu consegui autorização para te trazer aqui.
As luzes acesas iluminam o vasto gramado e eu olho para o alto,
vendo a arquibancada acima de nós. O céu noturno deixa o lugar muito
charmoso e aconchegante.
Nossa…
— É lindo…
Ele assente, sorrindo de lado.
Hunter então pega minha mão e começamos a caminhar devagar
pelo gramado. Aos poucos, ele me apresenta cada cantinho daqui, as
cabines, os camarotes, os bancos dos jogadores… Hunter me mostra todo o
espaço e em sua voz consigo sentir o quanto está feliz por estar aqui.
— Você não tem ideia de como este lugar me traz paz — diz,
apontando para tudo ao seu redor. — Esse cheiro…
Ele fecha os olhos, inspirando o aroma do gramado e de todo o
lugar.
— Me dá uma nostalgia boa pra caralho.
Encaro-o orgulhosa demais, mal contendo um sorriso.
— Não se sente mal por estar aqui? — pergunto e ele nega.
— Se fosse há um tempo, eu nem pisaria por aqui. Mas hoje…
Hunter então para, fechando os olhos novamente e erguendo a
cabeça, como se absorvesse toda energia boa que vem daqui.
— Porra, que saudade — diz, como se só ele ouvisse. — Que falta
eu senti de estar aqui.
Deixo-o viver este momento sozinho e, depois de um longo instante,
ele reabre os olhos para mim, encarando-me cheio de intensidade.
— É a primeira vez que você vem aqui depois de tudo? — pergunto
e ele confirma.
— Esperei pelo momento em que me sentisse pronto e não queria
fazer isso sem você.
E então eu sinto meu coração errar uma batida.
— Não tem ideia do quanto estou feliz por você, amor.
Ele sorri ainda mais.
— Queria te trazer para conhecer o meu segundo lugar favorito do
mundo.
— Segundo?
— Sim… — Hunter se vira de frente para mim e toca o meu rosto
com carinho. — O primeiro é você.
Ah, Hunter…
Fico na ponta dos pés para beijar a sua boca e ele corresponde,
abraçando-me pela cintura.
— Eu, você, esse estádio e um beijo gostoso desses… Tem como
melhorar? — brinca ao final e eu sorrio.
— Não sei… Me diz você.
Pisco para ele, que ri.
— Vou fingir que não percebi sua indireta, porque eu não te trouxe
aqui por esse motivo — diz e eu solto uma risadinha.
— Ah, é? E por que então?
Estou mesmo curiosa para saber se há algo mais por trás desse
passeio misterioso.
— Baby, eu andei pensando muito nos últimos dias… Minha mente
não para de pensar, na verdade — diz e eu fico atenta ao que ele tem a dizer.
— Você sabe o quanto eu morro de saudade do futebol, do quanto eu amo o
que eu fazia…
— Eu sei…
— Então, Hugh me disse que a diretoria do time ainda tem interesse
em mim — diz e eu sinto meu coração disparar. — Eu não me vejo mais
jogando, mas não quero passar minha vida toda longe de tudo isso. — Ele
gesticula para o ambiente ao nosso redor. — Então estou mesmo
considerando a proposta de fazer parte da comissão técnica dos Bulls.
Pisco os olhos devagar, mal conseguindo disfarçar o espanto.
É mesmo verdade isso?
— Hunter… Isso é maravilhoso! — exclamo e ele sorri.
— Conversei muito com Dr. Dawson e ele acredita que eu esteja
pronto para isso. Mas também queria saber de você… O que acha, baby?
Meu coração bate tão forte agora, que eu acho que ele é capaz de me
ouvir.
— O que eu acho? — indago e ele assente, sorrindo. — Eu acho que
essa é só a melhor notícia de todo o século! — disparo e ele ri.
— Estou muito empolgado, mas ao mesmo tempo nervoso com tudo
isso. Você acha mesmo que eu vou conseguir?
Pego suas mãos agora e o faço olhar para mim.
— Amor, você já venceu tanta coisa… Olha onde está agora! Aos
pouquinhos, tem retomado sua vida. Voltou às redes sociais, tem recebido
carinho dos seus fãs, retomou contratos de parcerias… E tudo no seu
tempo, sem se pressionar, nem atropelar nada. Então, se seu coração te
pediu para voltar, é porque você se sente pronto para isso. E eu não acho
que vai conseguir, tenho certeza, porque você é incrível em tudo o que faz.
Hunter me encara com um sorriso tão lindo, que eu fico ainda mais
apaixonada por ele.
— Obrigado por isso, Sarah. Não tem ideia do quanto seu apoio é
importante para mim.
Inclino-me para puxá-lo em mais um beijo.
— Eu sempre vou te apoiar, Hunter, sempre estarei vibrando por
cada conquista sua.
Ele sorri ainda mais, enlaçando-me pela cintura e se perdendo em
meus lábios.
— Eu te amo tanto, tanto… — murmura entre beijos e eu sinto meu
corpo amolecer em seus braços.
— E eu estou morta de orgulho de você.
Sei que estou soando repetitiva, mas não dá para ser indiferente a
isso. Não se morro de orgulho todos os dias do meu namorado.
— Você não só vai conseguir, como vai contribuir, e muito, para o
time. Vão fazer uma temporada incrível, vencendo até o Super Bowl —
digo, enfática, e ele estreita os olhos para mim.
— E você sabe o que é Super Bowl? — zomba e dou um tapa em
seu ombro.
— Não é aquele evento que tem vários shows famosos? — brinco e
ele balança a cabeça rindo.
— Sarah, Sarah… Se você namora uma antiga lenda do futebol,
precisa aprender pelo menos o básico.
Sorrio, envolvendo seu pescoço com os braços.
— Tenho tempo para aprender. Afinal, tenho o melhor técnico do
mundo comigo.
Pisco para ele, que me dá um selinho.
— Amanhã vou pedir ao Hugh para marcar reunião com a diretoria
do time — decide.
— E eu tenho certeza de que dará tudo certo. Estarei de dedinhos
cruzados por você.
Mostro o gesto com a mão e ele beija a ponta do meu peito.
— Nossa rotina vai mudar um pouco — explica. — Além de
acompanhar os treinos dos jogadores, também precisarei viajar em épocas
de jogos.
Ele franze o cenho para mim, mas ainda consigo ver em seus olhos
o quanto almeja isso. O quanto precisa disso para voltar a viver.
— Vamos dar um jeito, amor, não se preocupe — afirmo. — Você
sempre vai voltar para mim, não é?
Hunter me abraça forte pela cintura, afundando o rosto em meu
pescoço.
— Não importa para quão longe eu for, baby. Eu sempre voltarei
para casa, por você.
E, se meu coração fosse imune a Hunter Crawford, ele se derreteria
por inteiro agora.
— Então está perfeito para mim.
Ainda abraçada a ele, descanso a cabeça em seu peito, sendo
inundada por todo seu calor.
— Eu te amo, Hunter — sussurro e, mesmo em baixa voz, sei que
pode me ouvir. — Eu sempre serei sua parceira, sua cúmplice, sua melhor
amiga. Onde seu coração estiver, eu também vou estar.
Hunter não diz nada, apenas beija minha pele com carinho e
continua aninhado a mim.
Seu corpo contra o meu.
Seu coração batendo forte de encontro ao meu.
Eu perco a noção do tempo enquanto estamos aqui, juntos, no meio
do gramado, iluminados pelos refletores e pela luz da lua.
E, neste momento, meu peito se inunda não só de amor, mas de
gratidão.
Não só por estar aqui com ele, mas por vê-lo finalmente voltar a
fazer o que mais ama.
Ah, Hunter…
Você merece o mundo e eu sempre morrerei de orgulho de você.
Capítulo 36 - Hunter

— CRAWFORD, não tem ideia do quanto eu esperei por esse momento!


— Oliver Peterson, o dono dos Los Angeles Bulls, me saúda logo que
adentro sua sala.
Aperto sua mão e correspondo ao sorriso.
— Também estou feliz por estar aqui de novo, Sr. Peterson.
Logo que Hugh marcou uma reunião com ele, o senhor à minha
frente ficou muito empolgado com a notícia. Mas, antes de acertarmos os
detalhes do contrato e enfrentar toda a burocracia, pediu que eu viesse
conversar com ele a sós.
— Como você está, filho?
Oliver aponta para a poltrona à frente de sua mesa e eu me
acomodo, deixando uma sensação diferente me invadir.
Eu já estive no prédio da administração do time inúmeras vezes, no
centro de treinamento… Mas agora é diferente. É um misto de nostalgia e
expectativa pelo que está por vir.
— Me recuperando — digo, sincero. — Foram muitas mudanças em
tão pouco tempo e precisei me reencontrar. Mas agora estou conseguindo
encontrar meu caminho.
Oliver me encara atentamente, antes de assentir.
— Eu não tive oportunidade de conversar com você pessoalmente
quando tudo aconteceu e entendo quando precisou se afastar, pois nem
imagino como deve ter sido difícil.
Engulo em seco, assentindo.
Quando acordei do coma, não quis ver absolutamente ninguém do
time durante aquele período de recuperação, por isso usei Hugh e Brian
para resolverem tudo por mim. Eu me afastei por completo, porque não
conseguia lidar com tudo isso.
— Então, Hunter, preciso te dizer que sinto muito — diz, sincero. —
Você não só era o nosso melhor quarterback, como um ser humano incrível.
E ver um cara como você, que sempre foi apaixonado pelo futebol, se
afastar do esporte de maneira tão brusca doeu em mim também. Sabe que
eu trato meus jogadores como se fossem filhos.
Balanço a cabeça, sentindo um nó na garganta.
De fato, Oliver sempre valorizou seus jogadores e fez o seu melhor
por nós. Eu cresci absurdamente no futebol desde que cheguei ao time e
devo muito da minha carreira a ele.
— Sinto muito que a vida não tenha sido generosa com você, filho.
E te ver aqui, tão bem, me dá uma tranquilidade e tanto para o meu coração.
— Obrigado, Sr. Peterson. Houve um tempo em que era doloroso
demais para mim pensar no futebol, mas tenho melhorado um pouco a cada
dia. Com ajuda profissional, tenho tido grandes evoluções.
— Consigo perceber. Vi que voltou às redes sociais, retomou alguns
contratos e está até namorando.
Ele cruza os braços sobre a mesa, abrindo um largo sorriso.
— Pois é… — Coço a barba, sorrindo de lado. — Uma boa parte da
minha evolução eu devo à Sarah, ela é uma pessoa incrível.
— Eu posso imaginar. E já sou grato a ela só por você estar aqui
hoje sentado à minha frente.
Balanço a cabeça, ainda sorrindo.
— Mas então, vamos ao que interessa? — Ele esfrega as mãos. —
Eu te chamei aqui para demonstrar meu apreço pelo seu trabalho e o quanto
significa para mim tê-lo de volta ao time. Podemos ter uma reunião em
seguida com seu agente e com o nosso jurídico, mas queria ter esse
primeiro contato pessoalmente com você.
— Claro.
Meu coração se agita aqui dentro em expectativa pelo que está por
vir.
— Você se lembra de David Brown, certo? O nosso Quarterbacks
Coach?
— Com certeza. Sr. Brown foi meu mentor por muitos anos.
O treinador de quarterbacks dos Bulls sempre foi um homem
brilhante. Inteligente, estratégico e muito focado, ele teve uma carreira
impecável na FNL antes de se aposentar e entrar para a comissão técnica
dos Bulls. Aprendi muito com ele e sei o peso de sua bagagem.
— Pois então… Ele tem me cobrado uma aposentadoria, porque está
se sentindo cansado demais. Eu o tenho segurado há meses, porque não
quero perder alguém tão forte na equipe, não sem ter alguém à sua altura
em vista.
E então ele me encara firme, fazendo-me engolir em seco.
Porra…
Será?
— Você foi um exímio quarterback, Crawford, centrado, dedicado e
trazendo excelentes resultados para a equipe. Quero que considere minha
proposta de assumir o cargo de Brown — Oliver fala e eu percebo que mal
estou respirando. — Se você aceitar, passaremos por um período de
adaptação, em que ele te colocará a par de toda a rotina de trabalho, te dará
todo o treinamento até que se sinta seguro em assumir a posição.
Porra…
Minhas mãos começam a tremer e eu preciso secar o suor na calça
jeans.
— Seria uma honra, Sr. Peterson — digo, firme, e seu semblante se
ilumina. — Se o senhor confia em meu potencial para tal, farei o meu
melhor para o time, como sempre fiz, e honrarei a camisa dos Bulls.
O sorriso que Oliver abre faz meu coração bater ainda mais rápido
aqui dentro.
— Vou encaminhar ao jurídico para combinar com seu agente sobre
todas as questões do contrato — afirma e eu concordo de pronto. — Nem
acredito que finalmente vou dizer isso, mas… Seja bem-vindo de volta,
Crawford!
Oliver se levanta e me estende a mão, eu faço o mesmo e aperto
forte. Na sequência ele me abraça e eu aceito de pronto, emocionado
demais para recusar qualquer coisa.
Porra, é o meu sonho.
O futebol está voltando para a minha vida…
Caralho!
— Obrigado pela oportunidade, Sr. Peterson. Sei o tamanho da
minha responsabilidade e não medirei esforços para desempenhar minha
função da melhor forma possível.
— Disso não tenho dúvidas.
Ele ainda está sorrindo quando dá um tapinha em meu ombro.
— Los Angeles Bulls sempre foi a sua casa, filho. Só estávamos
esperando que estivesse pronto para voltar.
Suas palavras são tão fortes que atingem a minha alma.
Porra.
Nem acredito!
Depois de viver tantos anos afundado na escuridão, finalmente
chegou a minha luz no fim do túnel.

Quando Sarah passa pela porta da minha casa, eu estendo a ela o


enorme buqu ê de flores.
— Oi, baby.
O sorriso da minha namorada se torna gigante quando ela toma as
flores das minhas mãos, encostando o nariz para inspirar o aroma que vem
delas.
— Meu Deus, Hunter… São lindas!
Vivas e coloridas, assim como ela.
Sarah é a dose de cor da minha vida.
Depois de vê-la namorar as flores por um tempo, eu a ajudo a
colocá-las em um vaso de água e então ela vem em minha direção para me
beijar.
— Eu amei! Obrigada, amor. Você me mima muito, sabia? —
brinca, dando-me um selinho.
— Mas essa é exatamente a minha função.
Aperto sua cintura e a beijo mais uma vez.
— Vai me contar como foi hoje? — pede e eu rio baixo.
Sarah estava tão nervosa quanto eu pela reunião de hoje, mas
prometi a ela que só contaria quando chegasse a minha casa. Pedi a Henry
que a buscasse em casa e a trouxesse até aqui.
— Vou! Eu só precisava te agradecer antes por ser tão perfeita —
digo, correndo os dedos pelos seus cabelos e vejo seu rosto corar de leve.
— Não sou perfeita, Hunter…
— Ah, mas é sim. Você é simplesmente perfeita para mim.
O sorriso dela se abre e eu a beijo de novo.
— Sabe com quem você está falando agora, baby?
Estufo o peito e ela me olha curiosa.
— Com o homem mais lindo do mundo? — sugere e eu solto uma
risada.
— Sabe que isso é mentira.
— Se para você eu sou perfeita, para mim você é a oitava maravilha
do mundo, não me tente, Hunter Crawford — diz, firme, e eu balanço a
cabeça rindo.
— Acho justo.
— E então… Além de absurdamente lindo e gostoso, o que mais
você é?
Respiro fundo e tomo suas duas mãos, distribuindo beijos em cada
uma.
— O novo treinador de quarterbacks dos Los Angeles Bulls.
— NÃO BRINCA! — o grito que Sarah dá antes de pular em meu
colo me tira uma gargalhada.
Sua euforia é contagiante e eu a giro pela sala, rindo, enquanto ela
não para de gritar e comemorar em meu colo. T-Bag se assusta com nosso
rompante e sai correndo pelo corredor, o que me faz rir mais ainda.
— Meu Deus, amor, isso é maravilhoso! — exclama, emocionada,
quando desce de meus braços.
Seu sorriso é tão lindo e eu não resisto a beijá-la, secando uma
lágrima que rola pela sua face.
— Hugh vai começar as negociações com eles, para acertarmos
todos os detalhes do contrato, mas o cargo já é meu. Eu estou tão feliz,
baby, você não tem ideia do quanto!
— E eu estou tão orgulhosa de você. Merece tanto, Hunter!
Tomo sua boca em mais um beijo, e acaricio seu rosto ao final.
— Eu te amo, sabia? Nada disso seria possível sem você.
O sorriso dela se torna ainda mais bonito.
— Obrigada por ter me escolhido, Hunter. Eu amo dividir tudo isso
com você.
Ainda acaricio sua pele quando distribuo vários beijos pelo seu
queixo, boca, e até o pescoço.
— Você foi a melhor coisa que me aconteceu na vida, Sarah — digo
e a vejo estremecer. — Nem em todos os meus sonhos eu me imaginei
sendo merecedor de alguém como você.
— Ah, Hunter…
Os olhos dela marejam e eu a tomo em meus braços, beijando seus
cabelos com carinho.
— Espero que saiba, baby, de todo coração… Não há nada no
mundo que eu não faça por você. Absolutamente nada.
Sarah se aninha mais em meu peito e me beija antes de se afastar de
leve para me olhar.
— Até mesmo me levar a um show da Taylor Swift?
Estreito os olhos para ela antes de assentir, bufando.
— Mas você quer abusar mesmo, né? — brinco e ela ri. — Eu faço
tudo por você, baby… Tudo.
Olho dentro de seus olhos, para que entenda que não estou mesmo
brincando.
— E sim, até mesmo te levar a um show da Taylor Swift.
O sorriso dela é tão grande agora, mas tão grande, que não me
restam mesmo dúvidas.
Eu sou capaz de fazer qualquer coisa por esse sorriso.
Qualquer coisa mesmo.
Capítulo 37 – Hunter – Seis meses depois

— SARAH? — Adentro minha suíte e não a vejo, então sigo até o


banheiro, onde ouço o barulho do chuveiro ligado.
E a visão da minha mulher nua, completamente molhada, me deixa
imediatamente de pau duro.
Ela é uma delícia.
Arranco minhas roupas e abro a porta do boxe, vendo-a me sorrir
safada ao notar minha ereção.
— Temos alguns minutos antes de sairmos, não temos? — pergunto
ao me masturbar devagar.
Sarah desce os olhos para o meu pau e umedece os lábios devagar.
— Ah, temos, sim…
Sorrio antes de avançar sobre ela e tomar sua boca em um beijo
debaixo do chuveiro, enquanto a água quente cai sobre nós dois.
Deliciosa.
Minhas mãos descem pelo seu corpo, tocando seus peitos e
beliscando os mamilos, arrancando-lhe um gemido.
— Você gosta, né?
Solto sua boca e desço até o pescoço, chupando e mordendo sua
pele devagar.
— Hunter… — diz, manhosa. — Não posso sair de casa com um
chupão no pescoço — reclama e eu rio em sua pele.
— Quem disse que não?
Sugo sua pele mais uma vez, cravando os dentes com mais força
agora, e minha mulher geme mais.
Ela finge protestar, mas sei que está ainda mais sedenta do que eu.
Principalmente quando sua mão desce e toca minha ereção, esfregando-me
devagar.
— Hunter…
Continuo chupando seu pescoço até descer a boca e abocanhar um
seio seu, arrancando-lhe um gemido mais alto.
Empurro para trás seu corpo, que bate contra o azulejo do banheiro,
e estico a mão para apertar seu pescoço de leve enquanto não paro de
mamar em seus peitos gostosos.
Deliciosa demais.
— Está doida para me dar, não é? — pergunto, vendo que ela
esfrega sua virilha cada vez mais em meu pau.
— Por favor… — suplica, desejosa, e eu rio baixo.
Afasto-me devagar apenas para posicionar meu pau em sua entrada
e Sarah geme alto quando meto até o fundo.
— Esse piercing sempre me deixa maluca — diz quando estoco
forte e eu abro um sorriso safado.
— É a sua boceta que não deixa de ser deliciosa.
Ainda agarrando o seu pescoço, meto bruto nela, rápido, parando
apenas para desacelerar um pouco.
E esse ritmo gostoso, ora rápido, ora devagar, é uma coisa de doido.
Eu nunca vou me cansar desta mulher.
Do seu corpo delicioso.
Dos seus gemidos safados.
Espalmo sua bunda e ela geme mais quando meto bruto nela.
— Gostosa demais, Sarah, porra…
Em um movimento, giro o seu corpo, colocando-a de costas para
mim, e ela apoia as mãos na parede fria.
Eu nem preciso pedir quando empina a bunda para mim, chamando-
me, e eu não resisto a desferir mais um tapa em sua pele branquinha.
— Hunter… Vem logo me comer.
A safada rebola o rabo, eu sorrio antes de agarrar seu quadril e
meter fundo, esfolando sua boceta.
Gemo junto com ela ao sentir meu pau entrando e saindo cada vez
mais rápido de sua boceta, que está completamente molhada para mim,
deslizando gostoso demais.
Enfio um dedo em sua boca e ela chupa devagar, quando começo a
dedar seu cu.
Sarah geme ainda mais alto e rebola contra mim, desesperada.
Ela adora que eu faça isso, essa safada.
Enfio dois dedos agora, acompanhando o ritmo de meu pau em sua
boceta e a vejo me olhar de lado, com o desejo estampado nos olhos, aquela
carinha de safada de que está amando ser fodida dentro deste banheiro.
— Hunter… — Ela para, e umedece os lábios devagar. — Vem me
comer aqui, vem.
A safada rodeia o ânus com os dedos e eu fico ainda mais duro
dentro dela, porra.
— Quer me dar esse cuzinho, baby? — pergunto e ela assente,
mordendo o lábio devagar.
Mas eu não atendo de imediato, continuo comendo sua boceta, um
pouco mais devagar agora, lambuzando todo o meu pau com sua excitação.
Quando finalmente tiro, agarro bem a sua bunda, abrindo-a para
começar a penetrá-la, vendo seu corpo se enrijecer um pouco a cada
arremetida.
— Relaxa, baby — peço, como todas as vezes que a como por trás.
— Relaxa e me deixa te comer gostoso.
O gemido de Sarah fica cada vez mais alto e, quando eu finalmente
chego ao fundo, sinto uma gota de suor percorrer minhas costas.
— Porra!
Tiro o pau inteiro para meter dentro dela de novo, vendo-a gemer
como uma louca a cada arremetida minha.
— Caralho, Hunter… Porra… — ela xinga, rebolando, esfregando-
se em mim, engolindo meu pau com o cuzinho apertado.
— Gostosa pra porra, Sarah — solto um grunhido, metendo mais
forte agora, esfolando seu cu.
A sensação que eu tenho é de que estou rasgando minha mulher
inteira, mas não paro, porque ela só geme faminta, louca por mais,
rebolando e empurrando o quadril de encontro ao meu.
Ainda segurando sua bunda, desço a mão até seu clitóris, onde
começo a esfregar sua carne, lambuzando-me com sua excitação.
— Isso, Hunter… Assim… — pede, e eu não paro, esfregando seu
sexo cada vez mais, vendo seus gemidos se tornarem cada vez mais altos.
Meu quadril se choca rápido contra o seu, meu pau fodendo gostoso
o seu cu enquanto meus dedos fazem um estrago em sua boceta.
— Porra, Hunter! Porra, simmmm…
O desespero dela é delicioso e eu agarro o seu ombro, apertando
forte enquanto não paro de comer esta mulher que só geme em desespero.
— Eu vou gozar, eu vou gozar — anuncia e eu não paro, enfiando
dois dedos nela agora até senti-la tremer por inteiro contra mim.
— Hunter! — Sarah grita, gozando gostoso demais.
Continuo metendo no cu dela até sentir o orgasmo me atingir, mas
tiro o pau depressa e esporro em sua bunda, lambuzando-a toda.
— Ah, caralho…
Os jatos quentes atingem a sua pele e estou completamente suado
quando dou um passo para trás.
— Cacete, Hunter. Como eu vou sair de casa agora? — pergunta,
ofegante e eu rio.
— Desculpa se não resisto a você.
Aproximo-me dela para tocar o seu queixo e trazê-la para um beijo
gostoso, sentindo-a relaxar em meus braços.
— Vem. Vou te ajudar no banho.
Sarah sorri e eu ensaboo seu corpo com carinho, vendo o quanto ela
é linda assim, toda relaxada depois de um sexo gostoso.
Demoramos mais tempo do que o normal neste banho, mas quando
saímos estamos rindo e brincando um com o outro.
— Só você mesmo para acalmar um pouco a minha ansiedade — ela
diz e eu solto uma risada.
— Viu? Depois você reclama de mim. Não fiz nada além de uma
boa caridade.
Sarah gargalha ao atirar a toalha em mim, eu a pego no ar, rindo
junto com ela.
— Cara de pau!
Busco no closet uma camisa branca gola polo e calça jeans para
vestir, enquanto vejo Sarah entrar em um short jeans, camiseta preta de
bordados brilhosos e tênis coloridos.
Ela está extremamente eufórica, porque finalmente vou levá-la ao
show de sua cantora favorita. Eu lhe prometi há alguns meses e, quando
Taylor Swift anunciou um show em Los Angeles, sabia que não poderia
deixá-la de fora.
Sarah ficou bastante empolgada quando cheguei em casa com os
ingressos e não parou de me beijar. Naquela noite recebi uma bela
recompensa e, ainda que eu ame transar com ela, não foi só isso que me
motivou. Mas sim ver o seu sorriso, a sua alegria.
Eu sempre farei de tudo por ela.
E, agora, estamos nos aprontando para a tão aguardada turnê.
Com a ajuda de Hugh, consegui entradas para o camarote, onde
minha namorada terá uma visão privilegiada do show, e sem tanto tumulto.
— Estou pronto — anuncio, ao fechar o relógio no pulso e borrifar
perfume.
— Estou terminando de me maquiar, aguenta aí — diz, da
penteadeira do quarto.
— Eu aguento, sim.
Sento-me ao seu lado e fico olhando-a se arrumar, apenas admirando
o quanto ela é perfeita.
— Você é linda, sabia?
Sarah me olha de lado e joga um beijo para mim.
Observo-a passar sombras coloridas nas pálpebras, com todo
cuidado, destacando ainda mais seus olhos azuis. Os cílios são alongados
agora e logo seus lábios são pintados de rosa, em um tom lindo.
Vejo-a ajeitar os cabelos e conferir seu visual no espelho várias
vezes antes de se virar para mim.
— E então?
— Perfeita — respondo e ela abre um sorriso.
— Então vamos!
Coloco-me de pé e pego sua mão, conduzindo-a pela casa até
seguirmos para a entrada principal, onde Henry nos espera para nos levar
até o SoFI Stadium.
Pelo caminho, Sarah não para de falar o quanto está empolgada para
esta noite. Pelo que me contou, ela nunca foi a um show da cantora, embora
sempre tenha tido vontade para tal. Então saber que estou realizando um
sonho seu deixa tudo ainda mais especial.
— Você já jogou aqui? — Sarah me pergunta logo que chegamos ao
nosso destino.
— Já… É um excelente estádio, você vai se surpreender pelo
tamanho.
Os olhos dela brilham ainda mais.
— Ai, meu Deus. Estou tão empolgada!
A entrada para chegarmos ao camarote é reservada, mas, ainda
assim, encontramos alguns paparazzi pelo caminho. Não me incomodo
pelos milhares de flashes em nossa direção e seguro a mão de Sarah bem
forte, enquanto a guio pelo corredor. À nossa frente, alguns famosos
também seguem o mesmo caminho, indo até a tenda VIP que é instalada em
uma parte privilegiada do show. Já estamos com as pulseiras quando
conseguimos chegar ao local e, alcançando a ponta, vejo alguns fãs da
plateia acenando para nós.
Outros famosos também estão aqui, como cantores, atores e até
mesmo jogadores. Sarah está completamente eufórica e me pede ajuda para
pedir algumas fotos com eles, eu rapidamente me prontifico. Nem vemos o
tempo passar enquanto esperamos pelo show e acabamos fazendo amizade
com um casal que também está ansioso.
Bom, Sarah faz amizade e eu a acompanho, porque sua energia
irradia todo o lugar.
E ela nem sabe o que a espera hoje…
Quando as luzes se apagam e começa uma movimentação no
enorme palco do SoFI Stadium, Sarah se anima ao meu lado, puxando-me
para a borda da tenda.
— Ai, meu Deus, vai começar!
Fico atento ao espetáculo e logo o telão se ilumina, quando a voz da
cantora surge detrás do palco, fazendo todo o estádio gritar. Algumas
dançarinas surgem pelo caminho com uns enormes tecidos coloridos e
olhando de lado, vejo que Sarah nem mesmo pisca, atenta a cada um dos
movimentos.
Quando os dançarinos se juntam ao centro da pista e os tecidos se
misturam, revelando a cantora ao centro de um pilar, o estádio inteiro vai
aos gritos, juntamente com minha namorada, que pula de empolgação à
minha frente, cantando, vibrando e gesticulando junto com a música.
Ainda que não seja o estilo musical que aprecio, preciso dar os
devidos créditos a Taylor. O show é realmente um espetáculo à parte. Os
efeitos, o telão, os dançarinos, a performance da cantora.
Sarah fica extasiada durante todo o show e vê-la tão feliz e realizada
enche meu peito. Fico atento a cada música que começa, prestando atenção
na letra e me lembrando da melodia que Natalie fez questão que eu gravasse
para pegar o momento perfeito do show.
Quando contei à minha irmã que traria Sarah, ela me deu uma ideia
maravilhosa e me ajudou a organizar tudo para que desse certo.
Agora estou totalmente atento para que saia tudo perfeito, como
minha mulher merece.
Meu coração dispara ao reconhecer a melodia de Love Story,
sabendo que finalmente chegou a minha hora.
Sarah está absorta na música, cantando, e eu dou um passo para trás,
ganhando o espaço que preciso para fazer o que pretendo. Enfio a mão no
bolso e tiro a caixinha, respirando aliviado ao perceber que ela não está
prestando atenção em mim.
Ao meu lado, percebo um casal notar a minha intenção e a garota
aponta para o namorado, completamente empolgada pelo que está por vir.
Acho que ela, assim como todo fã, sabe que momento é esse.
Quando chega à parte que memorizei, cutuco Sarah e a faço olhar
para mim.
— He knelt to the ground and pulled out a ring [1]— Taylor canta
enquanto eu me coloco de joelhos para ela, estendendo a caixinha para
Sarah.
Ela cobre a boca com as mãos e me olha incrédula, tirando-me um
sorriso.
— And said: Marry me, Juliet, you'll never have to be alone.[2]
Sarah parece estar em estado de choque e eu apenas gesticulo com
os lábios, para que só ela me entenda.
— Casa comigo, baby?
Uma lágrima lhe escorre quando ela assente devagar, sorrindo,
eufórica, completamente atônita com tudo isso.
Deslizo o anel em seu dedo e me levanto, tomando-a em meus
lábios e selando essa promessa.
— Eu te amo, Sarah.
Ela agarra meu pescoço e me abraça tão forte, que consigo sentir seu
coração.
— Eu te amo tanto, Hunter, tanto… Obrigada pelo dia mais feliz da
minha vida.
Ao nosso lado, várias pessoas gritam, aplaudem e continuam
cantando a música, mas estou alheio a tudo isso.
Só consigo pensar nela.
Na mulher que chegou de mansinho para mudar todo o meu mundo.
Aquela que trouxe de volta luz à minha vida…
Aquela por quem eu faria tudo, tudo mesmo.
Aquela por quem eu daria a vida.
Ah, Sarah…
Obrigado por me enxergar muito além do que eu merecia.
Obrigado por enxergar o verdadeiro Hunter atrás de toda casca que
existia.
Obrigado por ter fé em mim.
Aqui, com Sarah em meus braços, seu coração disparado contra o
meu, eu tenho a mais absoluta certeza.
Eu vou com ela, por onde for.
Ela é meu destino, a minha melhor parte.
Ela é a minha vida.
Capítulo 38 – Sarah – Alguns meses depois

OLHO PARA O RELÓGIO DE PAREDE e vejo que falta pouco para


Hunter chegar em casa. Já não o vejo há dois dias porque viajou com o
time, mas parece que se passaram duas semanas.
Eu morro de saudade dele nos dias em que fica fora, mas mais do
que isso, sinto um extremo orgulho.
Os Bulls estão voando.
Estão fazendo uma ótima temporada e é lindo de ver todo o
empenho e dedicação de Hunter no trabalho. Em casa, em seus momentos
de folga, ele está sempre estudando os adversários, analisando todas as
características antes de instruir os jogadores e montar as estratégias de jogo.
É nítido o quanto ele está mais feliz desde que assumiu seu cargo na
comissão técnica do time.
O brilho no olhar, o sorriso nos lábios, o semblante tranquilo…
Nossa.
Nem parece o mesmo Hunter que eu conheci há pouco mais de um
ano, aquele que se ofereceu para trocar o meu pneu.
O antigo Hunter vivia escondido nas sombras, procurando ser o
tempo todo invisível.
E o de hoje…
Ah, o de hoje, me mata de orgulho.
Ele ainda não gosta de ser o centro das atenções na mídia, mas
aprendeu a administrar tudo isso. Seu foco é o futebol e levar o melhor para
o time. O resto é apenas consequência e levar tudo como segundo plano, fez
toda a diferença por aqui.
Termino de temperar os bifes e reservo, esperando ele chegar para
grelhá-los na frigideira. O purê de batatas e a salada também estão prontos,
só esperando meu noivo para o nosso jantar.
Meu noivo…
Pensar nisso me faz sorrir.
Olho para o delicado anel de diamante em meu dedo e me
teletransporto para o dia do show da Taylor, onde Hunter me pegou
totalmente desprevenida me pedindo em casamento no meio da música
Love Story. Eu fiquei em completo choque e ver aquele homem de joelhos
diante de mim fez com que eu me sentisse a mulher mais amada do mundo.
Fez com que aquela noite fosse perfeita e inesquecível.
Depois desse dia, fizemos um jantar unindo as duas famílias e
também convidamos Claire e Luke, juntando as pessoas mais especiais de
nossa vida. Foi um momento muito gostoso e ali eu consegui perceber ainda
mais o quanto somos sortudos.
Naquela mesma noite, Hunter me convidou para morar com ele, mas
sem marcar uma data, porque sabia de meu relacionamento com Claire e o
quanto eu amava morar com minha amiga. Eu fiquei realmente dividida
entre realizar meu sonho de vir morar com ele e deixar minha parceira de
tantos anos.
Mas o destino tratou de agir e em um mês, Claire recebeu uma
proposta de emprego irrecusável em Palm Springs, a pouco mais de cento e
cinquenta quilômetros daqui. Ela sentiu muito por deixar Los Angeles, mas
era uma oportunidade ímpar para a sua carreira. E, logo que ela se mudou
para assumir seu cargo, entregamos o apartamento, então vim morar com
Hunter.
Hoje faz três meses que estamos morando juntos e parece que
estamos vivendo um sonho. Eu não pensei que fosse possível amar mais o
meu noivo, mas pude entender o quanto estava enganada. Isso só me prova
que tomei a decisão certa ao escolher passar toda a minha vida com ele.
Desde que me mudei, Hunter começou a me ensinar algumas coisas
na cozinha e mesmo que eu não seja boa, tento me esforçar para fazer
algum agrado a ele, como hoje. Fazer a salada fresca foi fácil, porque só
cortei e piquei os vegetais, o bife vai ficar por conta do Hunter e o purê eu
também aprendi com ele. É um cardápio simples, mas eu fiz com muito
carinho e sei que ele adora.
E, claro, a sobremesa.
Para hoje fiz um caprichado Cheesecake com mirtilo que descobri
que meu noivo ama. Sei que logo ele vai chegar cansado de viagem, por
isso pensei em agradá-lo um pouquinho.
Decido ir até a sala para esperá-lo e encontro T-Bag todo espaçoso,
dormindo no canto do sofá. Sento-me ao meu lado tomando cuidado para
não o acordar e ligo a TV, para passar algum canal até Hunter chegar.
Por sorte, ele não demora muito e, logo que ouço a maçaneta sendo
aberta, eu me levanto de pronto.
E vê-lo ali de pé, vestindo uma calça jeans, com camisetas e boné
dos Los Angeles Bulls, me arranca um enorme sorriso.
Hunter deixa a mala de lado e abre os braços para mim em um
convite silencioso.
Disparo até ele e me choco contra seu corpo, ouvindo-o gargalhar ao
me abraçar.
— Oi, baby… Senti saudade.
Ele beija meus cabelos e eu me afundo mais em seu peito,
inspirando seu cheiro tão gostoso.
— Eu estava contando os minutos para você voltar — digo ao me
afastar para olhá-lo.
Hunter sorri mais e toma meu rosto em suas mãos, beijando-me
daquele jeito que eu amo.
É assim todas as vezes que ele viaja para algum jogo do time e volta
para casa.
— Está com fome? Adiantei o nosso jantar, estava só te esperando
para grelhar os bifes.
— Me espera tomar um banho antes?
— Claro.
Hunter me dá um selinho gostoso antes de puxar sua mala e seguir
para o andar de cima. Mas não sem antes mexer com T-Bag que acordou
com sua chegada. O gatinho é apaixonado pelo dono, mas eu também tenho
conquistado o bichano um pouco mais a cada dia, desde que me mudei para
cá.
Fico passando o tempo na TV até Hunter voltar, ainda mais
cheiroso, com os cabelos presos em um coque, vestindo regata branca e
calça de moletom grafite.
— Como foi o jogo? — pergunto a ele, logo que seguimos para a
cozinha.
Vejo-o beber um copo de água antes de se virar para mim.
— Foi bem disputado, ganhamos por muito pouco, mas já consegui
identificar algumas falhas do time para trabalhar em cima disso.
Sei que os Bulls venceram fora de casa, porque eu assisti ao jogo.
Pois é…
Tenho assistido aos jogos desde que ele assumiu seu cargo no time.
E, embora eu não consiga entender absolutamente nada do esporte, sei o
quanto é importante para ele e fico toda orgulhosa quando alguma câmera o
flagra no banco.
— Eu imagino. Mas tenho certeza de que você vai fazer um
excelente trabalho.
Pisco para ele, que sorri.
Hunter começa a mexer nos armários quando para, voltando-se para
mim.
— O que foi?
— Estou pensando numa coisa…
Sigo até ele e vejo seu semblante concentrado.
— Vem comigo.
Aceito sua mão e ele me guia para fora de casa, para um cômodo
externo, um depósito onde guarda algumas ferramentas e coisas de pouco
uso.
Quando Hunter começa a revirar tudo e puxa um plástico preto
revelando uma churrasqueira empoeirada, eu sinto meu coração se agitar no
peito.
— E se grelharmos os bifes nela? Só precisamos comprar o carvão.
Olho para ele, incrédula, piscando os olhos devagar.
— Hunter…
— Acho que chegou a hora, Sarah. — Ele se vira para mim, me
encarando firme. — Já faz um tempo que venho pensando nisso, e Roger
tem me incentivado a tentar.
Vejo-o correr a mão pelo metal espantando a poeira e noto que não
há nenhum tremor em seus dedos, não há hesitação.
E, nossa…
Ele nunca vai parar de me surpreender.
Não é só sobre um churrasco, é sobre vencer seu maior trauma. É
sobre encarar algo que ele temia tanto, que lhe marcou de uma forma tão
dolorosa.
Sei que a churrasqueira do acidente era a gás e teve um vazamento
no cano, o que causou a explosão repentina. Mas desde então Hunter ficou
traumatizado com o equipamento e se negou a utilizá-lo.
Até agora.
— Se você se sente pronto, amor. Eu estou aqui para te apoiar.
Pego sua mão e entrelaço nossos dedos, vendo-o me olhar de lado e
assentir.
— Nada como um churrasco, não é mesmo?
Ele pisca para mim, sorrindo.
Então eu o ajudo a tirar a churrasqueira do depósito e levar para a
área externa da casa, perto da piscina. Enquanto ele faz a limpeza, pego seu
carro e vou ao mercado mais próximo para buscar o carvão e aproveito para
pegar algumas cervejas de sua marca favorita.
Hunter não é muito de beber durante a semana, mas sei que hoje é
uma exceção.
Hoje é um dia memorável.
Quando volto para casa, a churrasqueira está impecável e vê-lo
pegando o carvão para acendê-la, enche o meu coração de uma maneira
absurda.
— Tome cuidado — peço logo que ele risca o fósforo.
Quando o fogo crepita lá dentro, ele dá um passo para trás, me
olhando orgulhoso.
— Caramba… Quase cinco anos que eu não sei o que é isso.
Aponta para o fogo e o cheiro do carvão sendo queimado.
Eu não consigo nem dizer o quanto estou orgulhosa dele agora.
Vendo-o tão relaxado de frente para o maior fantasma dos seus
últimos anos.
— Vou pegar os bifes.
Sigo para a cozinha e, quando volto, entrego a ele junto com as
cervejas. Eu nem gosto muito da bebida, mas brindo uma com ele, porque,
nossa, hoje merece.
Hunter grelha os bifes de forma tranquila, enquanto me conta com
detalhes como foi a viagem, o jogo e o andamento de tudo no time.
E essa cena eu quero guardar no meu coração para sempre.
Porque, como disse, não é só sobre um churrasco.
É sobre a superação de uma vida.
É sobre Hunter ter finalmente encontrado a sua paz, depois de anos
escondido, andando nas sombras, sozinho.
É sobre ter chegado ao final do trajeto, onde ele nem mesmo
imaginou que encontraria seu caminho.
E eu não posso estar mais feliz por ele.
Abraço-o por trás e encosto-me em suas costas, sorrindo ao fechar
os olhos.
Hunter cobre as minhas mãos com as suas, envolvendo-me com seu
calor.
Aqui, envolvidos nesse abraço, dizemos um ao outro em silêncio, o
quanto nos amamos.
E o quanto estaremos ao lado do outro, para sempre.
Nos momentos tristes ou felizes.
Estaremos juntos.
Por todo o sempre.
Epílogo – Sarah – Alguns anos depois

O ESTRONDO DO TROVÃO ecoa por todo o quarto e eu me viro para


encontrar Hunter me encarando, em meio ao escuro. O filete de luz que sai
da fresta da janela ilumina o cômodo a cada raio que cruza o céu lá fora.
— Será que as crianças estão bem? — Hunter pergunta e eu consigo
ver seu semblante franzido.
— Acho que sim… Ou eles já teriam aparecido aqui.
Hunter ainda está pensativo quando mais um estrondo nos alcança.
— Vou lá conferir.
Meu marido se levanta da cama e busca um short para vestir por
cima da cueca, antes de deixar o quarto e a luz do corredor iluminar o
cômodo. Busco o meu robe e me cubro, já sabendo que não vamos mais
dormir sozinhos esta noite.
E isso me faz sorrir sozinha.
Hunter e eu estamos juntos há mais de oito anos e não demoramos a
construir nossa família. Temos dois filhos lindos que são tudo o que eu mais
amo no mundo, junto com o pai deles. Os garotos são enlouquecidos pelo
pai e Hunter é extremamente protetor com ambos.
É lindo de ver o amor deles, enche meu peito de tal maneira, que
não sei explicar.
Logo a porta do quarto se abre mais e revela um homem enorme
todo tatuado, segurando a mão de dois garotinhos.
— Não conseguiram dormir? — pergunto a eles, dando um tapinha
no colchão.
— O papai achou melhor virmos ficar com vocês — Dylan diz,
abrindo um sorriso preguiçoso.
Olho para Hunter, que apenas dá de ombros e eu entendo
perfeitamente o que está rolando aqui.
Tantos anos juntos e eu ainda consigo decifrar tudo o que seus olhos
me dizem.
É mais por ele do que pelos meninos.
— Então vem, que tem muito espaço para vocês.
Ajeito os travesseiros e acomodamos os meninos entre nós dois.
Aqui, olhando para os meus três homens favoritos do mundo, só consigo
sentir gratidão.
O estrondo ecoa mais uma vez e Eric, o caçula, se encolhe na cama.
Troco olhares com Hunter e entendo o seu ponto. Por mais que
Dylan não tenha medo, é Eric quem se assusta e às vezes tem vergonha de
pedir ajuda por ser o mais novo.
A percepção do meu marido sobre esses meninos é indiscutível.
Estico a mão e acaricio os cabelos do meu menino, que parece mais
relaxado ao meu toque.
— Mamãe, o T-Bag e a Cupcake não estão com medo? — Eric
pergunta.
Pois é…
T-Bag continua firme nesta família e, logo que nos casamos,
convenci Hunter a adotar uma companheira para ele. E foi assim que
Cupcake, nossa gatinha branca, chegou ao nosso lar. Eles são inseparáveis e
nossos meninos são apaixonados pelos dois.
— Acho que não… Mas deixamos a porta aberta, caso eles queiram
entrar.
Ele assente parecendo satisfeito, e eu continuo fazendo carinho.
— Nós podíamos brincar de alguma coisa — Dylan sugere.
— Adivinhe o jogador? — Hunter solta e eu protesto.
— Ah, não! Vocês vão aproveitar que eu sei pouco de futebol para
ficar rindo de mim — solto e ouço a risada dos três.
Ainda que eu esteja há tantos anos com Hunter e assista a vários
jogos dos Bulls, não gravo tantos detalhes quanto os meninos. Pelo menos
não de outros times, jogadores e carreiras de NFL.
— Mas é legal, mamãe — Eric intervém.
— Não pode ser um jogo de adivinhação que não envolva só o
futebol? — sugiro, mas eles não me olham satisfeitos.
Eu realmente pari duas cópias do meu marido.
Porque eles são totalmente apaixonados pelo esporte, assim como o
pai. E, por mais que eu finja descontentamento, meu coração só sabe ser
grato por eles. Meus meninos, com seis e quatro anos de idade, são nosso
bem mais precioso.
— Você pode ser a juíza — Dylan propõe e eu rio.
— Tudo isso para vocês brincarem sobre futebol?
Cutuco a cintura deles, fazendo cócegas, e Hunter se une a nós,
então nossas gargalhadas se juntam, ecoando todo o ambiente.
Quando as risadas cessam, os meninos se ajeitam na cama para
começar a brincadeira.
— Cinco prêmios de Jogador Mais Valioso — Hunter solta e os
meninos erguem as mãos juntos para responder.
— Peyton Manning — dizem em coro.
— Essa até eu sabia — digo.
— Viu? Alguma coisa você sabe — Hunter brinca e eu rio baixo.
— Mas essa foi fácil…
— Em qual time ele jogou por último, mãe? — Dylan pergunta e eu
preciso me esforçar para lembrar.
Ah, lasqueira…
Eu já ouvi várias vezes esse nome aqui em casa, mas o time…
Hummmm…
Eric então se inclina ao meu ouvido, cobrindo com as mãos para
cochichar.
— Os Broncos.
Abro um sorriso e Dylan protesta.
— Ah, assim não vale!
— A mamãe não sabe, Dy. A gente precisa ajudar — meu caçula
argumenta.
E vê-los tão lindinhos, juntos, me deixa toda babona.
Às vezes eu nem acredito que Hunter e eu fizemos duas crianças tão
lindas, educadas e inteligentes. Eles são perfeitos.
— Denver Broncos — declaro e ganho aplausos; brinco fazendo
uma mesura.
— Agora uma mais difícil. — Hunter me lança um olhar desafiador.
— Mas é sério isso? Tiraram a noite para me tentar?
Os três soltam uma risadinha e vejo Dylan cochichar ao ouvido do
pai.
— Essa é muito boa!
Meu primogênito então se vira para mim, orgulhoso.
— Quem venceu o primeiro Super Bowl?
— Ah, mas vocês estão de gozação comigo! — protesto, tirando
uma risada dos três. — Impossível eu saber essa.
— O jogo foi aqui em Los Angeles, baby — Hunter diz e eu reviro
os olhos para ele.
— Ah, nossa… Isso foi de muita ajuda!
Os meninos soltam uma risadinha.
— Vocês sabem essa? — indago. — Até você, Eric?
Meu caçulinha balança a cabeça assentindo.
— Green Bay Packers, mãe — responde, orgulhoso.
— Derrotaram os Chiefs em janeiro de 1967 — Dylan completa.
— Ah, tenham dó… Em 1967 nem seu avô devia ser nascido!
Bufo e eles caem na risada.
Mas percebo que, com toda essa brincadeira, a tempestade lá fora
perdeu importância e Eric nem mesmo percebe mais o barulho dos trovões.
Olho para Hunter, que me encara orgulhoso, e entendo totalmente seu
objetivo.
— Próxima — Hunter declara. — Maior quarterback da história da
NFL.
— Essa é fácil. — Ergo a mão. — Hunter Crawford, dos Los
Angeles Bulls — digo orgulhosa e ele me abre um sorriso.
— Sabe que não…
— Não me contrarie, Sr. Crawford — retruco, e ele balança a cabeça
rindo.
— Quando eu crescer, quero ser jogador igual ao papai. — Dylan
suspira.
— Eu também — Eric completa.
Olho para Hunter, que está sorrindo daquele jeito único.
Daquele jeito que atinge seus olhos.
— Bom, vocês têm o melhor treinador em casa — declaro. — E o
melhor gene também.
Pisco para ele.
Hunter não diz nada, mas seus olhos me dizem tudo.
O quanto seu coração transborda não só por dividir sua maior paixão
com nossos filhos, mas por se espelharem nele para seguir o seu legado.
— Se é o que querem, o papai vai amar ajudar vocês — Hunter
finalmente diz, para a alegria dos meninos.
E então somos inundados por gritos animados, euforia e dois
meninos falantes totalmente empolgados.
Olho para esses três, que são donos de todo meu coração, e só
consigo me sentir grata.
— Amo vocês — digo a Hunter com um sussurrar de lábios, e ele
me sorri.
Aquele sorriso que me diz o quanto esse amor é recíproco.
É forte.
É intenso.
Um amor que transcende a vida.
Agradecimentos

É com muito amor e orgulho no peito que encerro mais uma


história.
Mais uma a que me dediquei, pela qual abdiquei de muita coisa e
me esforcei para entregar o melhor para vocês.
Preciso agradecer a vocês, em primeiro lugar, por sempre estarem
comigo. Sempre surtarem com meus lançamentos e serem meus maiores
incentivadores.
Eu amo muito vocês!
Aproveito também para agradecer às minhas betas e parceiras em
mais um projeto: Jordana, Luana, Aline e Sophia. Vocês são incríveis!
Dessa vez também contei com a ajuda da Deia, que fez leitura sensível da
obra, me dando todo suporte. Vocês arrasam sempre.
Minhas amigas autoras que nunca soltam a minha mão e estão
sempre ao meu lado, em todos os projetos. Nas vitórias, nos momentos mais
difíceis, e nos surtos diários. Mi Passos, Ju Policarpo, Lucy Foster, Gisa,
Nat Dias, Liz Stein, Sara Fidelis e Sil Zafia. Eu amo vocês!
A turma dos bastidores que trabalha comigo com a maior paciência
e empenho do mundo: Vah, Lari, Deh, Rosinha, Bruna, Lule, May, Lau e
todas as parceiras e influencers que fazem um trabalho impecável. Vocês
são excepcionais.
Só tenho gratidão a todos que, mais uma vez, acreditaram no meu
trabalho e tiraram um tempinho do seu tempo para ler essa obra.
Todo meu carinho por vocês.
E, claro, ao meu maior incentivador e amor da minha vida: Jamais
iria tão longe sem você. Te amo!
Sobre a autora

FERNANDA SANTANA mora em Timóteo, Minas Gerais, com seu


esposo e três filhos felinos.
Formada em Ciências Contábeis, atualmente é sócia de um
escritório de contabilidade e, por mais que ame o que faz, sua paixão
sempre foi a literatura.
Leitora compulsiva desde a adolescência, sempre teve facilidade na
escrita e capacidade de tirar lágrimas das pessoas com suas palavras.
É fã de carteirinha de Nicholas Sparks e o tem como principal
inspirador na sua escrita.
Mesmo sendo amante de um romance fofo e clichê, também adora
livros de terror e suspense. A adrenalina do medo é algo que a fascina.
É autora de outras obras de romance, sempre cercada de drama e
histórias que levam os leitores a muitas reflexões.
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Instagram: @autora.fernandasantana
Facebook: @autorafernandasantana
Tiktok: @autora.fernandasantana
E-mail: autora.fernandasantana@gmail.com

Conheça meu trabalho:


https://www.amazon.com.br/Fernanda-Santana/e/B08F2Z9NR4

[1]
Tradução: Ele se ajoelhou e puxou um anel
Tradução: E disse: Case-se comigo, Julieta, você nunca terá que ficar
[2]

sozinha.

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