Realismo e Naturalismo

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Literatura brasileira

Realismo e
Naturalismo
(séc. XIX)
Linha do tempo
MODERNISMO
ARCADISMO OU (1922-1945)
SETECENTISMO PÓS-MODERNISMO
QUINHENTISMO (1768-1808) (1945-dias atuais)

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BARROCO ROMANTISMO
LITERATURA
(1601-1768) (1836-1881) VOCÊ ESTÁ AQUI
CONTEMPORÂNEA
REALISMO - Romance REALISTA
- Romance NATURALISTA
(1881-início do séc. XX) - Poesia PARNASIANA
- Poesia SIMBOLISTA

Era Colonial Era Nacional


(1500-1808) De colônia a país independente
(1836-dias atuais)
(1808-1836)
Realismo
• “[ ... ] o Romantismo era a apoteose do sentimento; o Realismo é a autonomia de
caráter. É a crítica do homem. É a arte que nos pinta a nossos próprios olhos - para
nos conhecermos, para que saibamos se somos verdadeiros ou falsos, para
condenarmos o que houve de mau na sociedade.” (Eça de Queirós)

• Na segunda metade do século XIX, o contexto sociopolítico europeu mudou


profundamente. Lutas sociais, tentativas de revolução, novas ideias políticas,
científicas... O mundo agitava-se, e a literatura não podia mais, como no tempo
do Romantismo, viver de idealizações, do culto do eu e da fuga da realidade. Era
necessária uma arte mais objetiva, que atendesse ao desejo do momento: o de
analisar, compreender, criticar e transformar a realidade. Como resposta a essa
necessidade, surgiriam quase ao mesmo tempo três tendências antirromânticas
na literatura, que se entrelaçavam e se influenciavam mutuamente: o Realismo, o
Naturalismo e o Parnasianismo.
A linguagem do Realismo, do Naturalismo e do
Parnasianismo

• Motivados pelas teorias científicas e filosóficas da época, os escritores realistas se


empenharam em retratar o homem e a sociedade em conjunto. Não bastava mostrar a face
sonhadora e idealizada da vida, como haviam feito os românticos; era preciso mostrar a face
do cotidiano massacrante, do casamento por interesse, do amor adúltero, da falsidade e do
egoísmo, da impotência do ser humano comum diante dos poderosos.
• O Realismo teve início com a publicação de Madame Bovary (1857), de Gustave Flaubert; o
Naturalismo, com a publicação de Thérese Raquin ( 1867), de Émile Zola; e o Parnasianismo,
com a publicação das antologias parnasianas intituladas Parnasse Contemporain (a partir de
1866).
• Embora guardem diferenças formais e ideológicas, essas três tendências apresentam alguns
aspectos em comum: o combate ao Romantismo, o resgate do objetivismo na literatura e o
gosto pelas descrições.
O Realismo e o Naturalismo
• Embora o Realismo e o Naturalismo tenham interesses e procedimentos diferentes, ambos
têm em comum o compromisso de observar, documentar e denunciar a realidade social.
• O Realismo se empenha:
• na análise da força das instituições sobre o indivíduo;
• no retrato das relações humanas permeadas de interesses;
• na introspecção psicológica.

• Menos psicológico do que o Realismo, o Naturalismo analisa a força de fatores como


hereditariedade e meio sobre o comportamento humano.
Prosa realista
• A partir do Realismo começa a ter destaque a figura do herói problemático – o tipo
predominante na literatura, no cinema e no teatro modernos.
• Diferentemente do herói romântico – cuja ousadia, integridade e coerência estão acima da
média entre as pessoas comuns –, o herói problemático normalmente é o ser humano na
sua pequenez, cheio de fraquezas, manias e incertezas diante de um mundo no qual se
sente deslocado.

• A prosa realista tem como propósito captar o ser humano em sua totalidade, isto é, tanto
exterior quanto interiormente.

• O retrato interior das personagens, isto é, seus conflitos, pensamentos, anseios, reflexões,
desejos, etc., é chamado de introspecção psicológica.

• No Brasil, o principal representante da prosa realista é o carioca Machado de Assis. Os


romances da fase “madura” do escritor são considerados realistas, pois desmascaram os
interesses que estão por trás das relações sociais e analisam seus personagens de um
ponto de vista psicológico.
Características gerais do Realismo
• Crítica à burguesia, à família, ao
casamento, à Igreja e ao clero.
• Combate à idealização
romântica.
• Realce dos defeitos e das
imperfeições.
• Visão objetiva da realidade.
• Descritivismo; verossimilhança.
• Personagens complexos;
profundidade psicológica.
Prosa naturalista
• Apresenta o ambiente físico e social
detalhadamente, como se o narrador estivesse
munido de uma máquina fotográfica que lhe
permitisse compor e decompor os detalhes de
cada cena.

• A linguagem da prosa naturalista caracteriza-se


pela adoção de uma postura analítica e
científica diante da realidade. Por isso, faz uso
frequente da narração impessoal e de
descrições minuciosas, com muitas sugestões
visuais, olfativas, táteis e auditivas.

• No Naturalismo, homens e mulheres são vistos


por uma perspectiva biológica, em que se
destaca seu lado físico, instintivo, animal, por
vezes até degradante.
Prosa naturalista
Inclui no texto literário visões:

• Positivistas: a ciência como modelo por excelência do conhecimento humano - tudo poderia e
deveria ser explicado e organizado pelo conhecimento científico.

• Evolucionistas: conjunto de ideias e doutrinas (que dão sustentação ao positivismo) segundo


as quais o modelo da evolução (biológica, social etc.) explica as grandes transformações do
mundo.

• Darwinistas: aplicação não justificada cientificamente do conceito de seleção natural de


Darwin para compreender as relações humanas – a análise social é feita pela ótica da lei do
mais forte.

• Deterministas: princípios segundo os quais os fenômenos, inclusive sociais, estão ligados


entre si por rígidas relações de causalidade e leis universais que excluem o acaso e a liberdade
– o homem é determinado pela raça, pela história e pelo ambiente.

• Racismo científico ou biológico: crença pseudocientífica de que existem evidências que


justificam a superioridade de uma “raça” sobre a outra - os europeus acreditavam que os
brancos eram superiores, os amarelos, intermediários, e os indígenas e negros, inferiores.
O Realismo e o Naturalismo no Brasil
• A obra Memórias póstumas de Brás Cubas (1881), de Machado de Assis, tem sido
apontada como o marco inicial do Realismo no Brasil, mas, como vimos, essa nova postura
artística já vinha se esboçando desde a metade do século XIX, ainda no interior do
Romantismo.
• Entre nossos escritores realistas, destaca-se, além de Machado de Assis, Raul Pompeia.
• Em paralelo à inclinação realista, alguns autores brasileiros, influenciados pela experiência
de Zola, cultivaram o romance de tese, isto é, o romance naturalista, que procurava provar
uma teoria científica a respeito do comportamento humano.
• Apesar de o Naturalismo, em razão de seu determinismo, ser, muitas vezes, estreito e
reducionista para lidar com a complexidade dos comportamentos humanos, foi ele que,
pela primeira vez, pôs em primeiro plano o pobre, o excluído, o negro e o mulato
discriminados, o indivíduo vitimado por doenças físicas e mentais.
O Realismo no Brasil
• O Realismo apontava para a representação fidedigna da realidade.
• Enquanto os românticos tinham como temas preferidos a idealização da mulher, do amor e do
herói e a exaltação da natureza, os realistas, ao contrário, retrataram a mulher adúltera, o
amor corrompido, o egoísmo, o fracasso social, o cenário urbano e as condições
miseráveis da vida na época.
• As obras do realismo preocuparam-se em tecer críticas às contradições sociais da
moralidade burguesa.
• Prevaleceu a prosa, principalmente o romance e o conto. A linguagem era culta, objetiva e
descritiva, buscando retratar os fatos de maneira precisa, pormenorizada.
• Os acontecimentos da interioridade do sujeito também eram descritos, tendo a abordagem
psicológica como característica, detalhando valores e pensamentos das personagens.
• Era recorrente também o uso da ironia, principalmente para expor as hipocrisias morais da
época.
O Naturalismo no Brasil
O Naturalismo foi, portanto, caracterizado
por [trechos de O cortiço, de Aluísio
Azevedo]:
• Comparações entre homens e animais
(zoomorfismo). Exemplo: “daquele
lameiro, e multiplicar-se como larvas no
esterco”.
• Destaque a aspectos fisiológicos que
nos igualam aos animais: o cheiro, o
hálito, o suor etc. Exemplo: “os seus
gemidos eram arrotos de ovo choco”.
• Foco em comportamentos movidos pelo
instinto. Exemplo: “Não era a inteligência
nem a razão o que lhe apontava o perigo,
mas o instinto, o faro sutil e desconfiado
de toda a fêmea pelas outras, quando
sente o seu ninho exposto.”
Machado de Assis (1839-1908)
• Nasceu no Rio de Janeiro. Mestiço, de origem humilde -
filho de um mulato carioca, pintor de paredes, e de uma
imigrante açoriana -, apesar de ter frequentado apenas a
escola primária e ter sido obrigado a trabalhar desde a
infância, alcançou alta posição como funcionário
público e gozou de prestígio social numa época em que o
Brasil ainda era uma monarquia escravocrata.
• De sua extensa e variada obra sobressai o Machado de
Assis contista e romancista, preocupado não só com a
expressão e com a técnica de composição, mas também
com a articulação dos temas, com a análise do caráter e
do comportamento humano.
• https://www.youtube.com/watch?v=9_cQ3Nc-U2A
Machado de Assis (1839-1908)
• Podemos identificar em sua produção dois grupos
de obras. Ao primeiro grupo pertencem
Ressurreição, Helena, A mão e a luva, Iaiá Garcia,
que apresentam características mais gerais do
romance do século XIX.
• Memórias póstumas de Brás Cubas marca o início
de uma segunda etapa. A partir dessa obra,
Machado se revela um gênio na análise psicológica
de personagens, tornando-se o mais extraordinário
contista da língua portuguesa. Nesse grupo estão
também os romances Quincas Borba, Dom
Casmurro, Esaú e Jacó e Memorial de Aires.
• Escreveu cerca de 200 contos, entre os quais
destacam-se "O alienista", "Missa do galo", "A
cartomante", “Teoria do medalhão“. Perspicaz na
análise da alma humana, Machado criou uma obra
extremamente inovadora, que permanece atual.
Machado de Assis (1839-1908)
• Foi a partir do final dos anos 1870 que Machado de Assis passou a escrever a prosa realista
que lhe rendeu seu lugar de excelência. Suas obras retratam sobretudo cenas cotidianas
da capital carioca em linguagem simples e ao mesmo tempo elaborada.
• Muitas vezes lançando mão do recurso da ironia sutil, as ficções realistas de Machado de
Assis revelam os estigmas da sociedade brasileira: escravocrata, autoritária e envolta no
ranço do colonialismo.
• Os enredos de seus romances e contos são banais, cenas costumeiras da vida carioca da
época. A genialidade de Machado não reside no que é contado, mas no modo como é
contado. Uma de suas principais características é o domínio do foco narrativo, bem
exemplificado no romance Dom Casmurro (1899). Escrito em primeira pessoa, o leitor
acompanha as palavras do narrador-personagem, Bentinho, que relata as situações a partir
de sua percepção, amargada pelo ciúme doentio e pela suspeita de adultério.
• O Realismo machadiano considera que o retrato da realidade não é feito apenas de fatos,
mas do modo particular como as pessoas vivenciam e compreendem esses fatos.
Machado de Assis (1839-1908)
• O narrador também costuma dirigir-se ao leitor – em Dom Casmurro, Memórias póstumas... e
diversos contos, como “Cantiga de Esponsais”. Esse recurso aproxima o leitor da narrativa,
como se fosse um diálogo, uma conversa. Veja exemplos:
• “Imagine a leitora que está em 1813, na igreja do Carmo, ouvindo uma daquelas boas festas
antigas, que eram todo o recreio público e toda a arte musical.” (Abertura do conto “Cantiga de
Esponsais”)

• “Mas o livro é enfadonho, cheira a sepulcro, traz certa contracção cadavérica; vício grave, e
aliás ínfimo, porque o maior defeito deste livro és tu, leitor. Tu tens pressa de envelhecer, e o
livro anda devagar; tu amas a narração direita e nutrida, o estilo regular e fluente, e este livro e o
meu estilo são como os ébrios, guinam à direita e à esquerda, andam e param, resmungam,
urram, gargalham, ameaçam o céu, escorregam e caem...” (Memórias Póstumas de Brás Cubas,
cap. 71)

• O trecho acima, em que Brás Cubas descreve o seu estilo de narrar, revela ainda outro traço da
obra machadiana: a digressão. O fio condutor da narrativa é cortado por memórias, introdução
de novos assuntos e ocorrências casuais, o que aproxima o texto do fluxo do pensamento. No
exemplo, Brás Cubas interrompe a história e passa a falar sobre o que pensa, sobre a maneira
como ele mesmo narra.
Memórias póstumas de Brás Cubas (1881)
• O personagem principal é Brás Cubas, que decide escrever sua
autobiografia. O problema é que ele está morto. Livre da opinião
alheia, o falecido sente-se à vontade para contar episódios nada
positivos de sua trajetória.
• Então, temos outra questão: se alguém se propõe a escrever a
própria história, é porque entende que sua vida foi exemplar.
Mas não é o que acontece com Brás Cubas, que termina o livro
reconhecendo a inutilidade de sua existência. “Não tive filhos,
não transmiti a nenhuma criatura o legado da nossa miséria."
• Logo, o pessimismo de Brás Cubas não leva ao desespero, como
acontece no Romantismo. Ele é transformado em ironia – outra
marca da linguagem machadiana.
• “Ao verme que primeiro roeu as frias carnes do meu cadáver
dedico como saudosa lembrança estas memórias póstumas.”
Quincas Borba (1891)
• O personagem principal é Rubião, que recebe a herança de um
amigo filósofo, Quincas Borba. Para ficar com a herança, no
entanto, ele tem que cumprir uma condição: cuidar do cão do
falecido, também chamado Quincas Borba. Então, Rubião
deixa a vida pacata no interior e vai para a alta sociedade do Rio
de Janeiro, onde se torna uma presa fácil para o casal de
“alpinistas sociais” Cristiano e Sofia Palha. Rubião termina sem
nada, comprovando a tese do sistema filosófico criado por
Quincas Borba, o Humanitismo, segundo o qual a vida é um
campo de batalha onde só os mais fortes sobrevivem.
• Na verdade, o Humanitismo é uma sátira ao modo como o
darwinismo foi interpretado pelos intelectuais brasileiros. Na
teoria criada por Darwin, os indivíduos mais “fortes” são
aqueles com capacidade de adaptação ao meio. Mas, no
campo social, essa teoria serviu, equivocadamente, para
justificar a opressão das classes dominantes sobre as outras.
Dom Casmurro (1900)
• Enredo tipicamente romântico: uma história de adultério. Mas a
história é contada em primeira pessoa. Então, em lugar de um
narrador onisciente, que tudo observa e sabe, temos um narrador que
relata os fatos de um ponto de vista muito pessoal. Por isso não
podemos ter certeza da traição de Capitu, o que acaba frustrando as
expectativas do leitor tradicional, que não aceita a incerteza.
• Machado ironiza a tradição: o narrador-personagem (Bentinho) tenta
dar um tom de verossimilhança e tenta parecer objetivo, mas assume
suas fraquezas e deixa transparecer sua parcialidade.
• “Abane a cabeça, leitor; faça todos os gestos de incredulidade.
Chegue a deitar fora este livro, se o tédio já não o obrigou a isso antes;
tudo é possível.”
• Nessa passagem, observamos duas outras características
machadianas marcantes: o diálogo com o leitor e a metalinguagem
(o texto falando do próprio texto). O narrador parece zombar do leitor,
ansioso pela continuidade da história.
Aluísio Azevedo (1857-1913)
• Principal expressão da prosa naturalista no Brasil, o
escritor nasceu em São Luís do Maranhão e, em 1881,
ano de publicação de O mulato, transferiu-se
definitivamente para o Rio de Janeiro, onde trabalhou
como cartunista e jornalista, ao mesmo tempo que
escrevia seus romances.
• Com a publicação de O mulato, alcançou certa
popularidade, o que lhe permitiu viver exclusivamente da
literatura.
• O ponto alto nos escritos de Aluísio Azevedo,
principalmente em suas obras de maturidade, O cortiço
(1890) e Casa de pensão (1894), é a maneira como são
retratados ambientes, paisagens e cenas coletivas.
Aluísio Azevedo (1857-1913)
• Trazer as regras do romance naturalista europeu para o Brasil acarretou uma série de
problemas, já que a ciência da época considerava “verdades”, por exemplo, a superioridade
racial dos brancos sobre os negros e o caráter insalubre do clima tropical.

• Um ambiente insalubre como um cortiço ou uma favela, segundo esse raciocínio,


determinaria comportamentos individuais e coletivos também insalubres e anormais.

• O clima tropical, marcado pelo calor excessivo, também era prejudicial ao desenvolvimento
civilizado do ser humano. Nesse sentido, podemos ver uma espécie de inversão da
concepção da natureza brasileira: se, no período romântico, a natureza era enaltecida pela
sua exuberância sem igual, no romance naturalista ela é vista como um obstáculo ao
progresso do país.

• Assim, o romance naturalista vai abordar, de maneira bastante rígida e mecânica, os efeitos
que o meio, o clima, a raça e o sexo produzem sobre a saúde, a vida mental e o
comportamento dos indivíduos. Como, por exemplo, vivem e agem pessoas que moram em
um cortiço carioca, sob o forte calor tropical?
O cortiço (1890)
• O cenário do romance é um típico cortiço carioca da
época.
• Baseado nos princípios naturalistas, o livro mostra como a
influência do meio e a força dos instintos determinam o
comportamento dos personagens, como o português
Jerônimo. Afetado pelo “calor”, o personagem vai se
“abrasileirando”, tornando-se, inclusive, um tanto
indisposto para o trabalho.
• Na verdade, isso reforça uma ideia corrente entre os
intelectuais do período – a de que o clima tropical contribui
para a indolência. Vale lembrar que, hoje, essa é uma teoria
ultrapassada. Mas, voltando ao personagem, Jerônimo
abandona de vez a vida regrada que tinha quando se depara
com Rita Baiana dançando em um “pagode”. Então, é
dominado por um forte desejo sexual.
O cortiço (1890)
• O eixo central do romance é a história de enriquecimento do português João Romão no Rio de
Janeiro: ele começa como empregado de um vendeiro, depois proprietário de sua venda, de um
cortiço (onde passa a alugar casinhas) e de uma pedreira. Para alcançar seus objetivos de
ascensão social, não mede esforços.

• Torna-se amante de Bertoleza, uma negra escrava, a quem se junta, prometendo a ela comprar
sua carta de alforria (na verdade, não tinha intenção nenhuma de gastar dinheiro com isso).

• Paralelamente à história de João Romão, o autor narra uma série de acontecimentos no


cortiço, apresentando-nos diversas personagens. Pode-se considerar que o principal deles é o
próprio cortiço, cujo crescimento é descrito valendo-se de imagens biológicas, animalizantes:

• “E naquela terra encharcada e fumegante, naquela umidade quente e lodosa, começou a


minhocar, a esfervilhar, a crescer, um mundo, uma coisa viva, uma geração, que parecia brotar
espontânea, ali mesmo, daquele lameiro, e multiplicar-se como larvas no esterco.”
O cortiço (1890)
• Em contraponto à ascensão econômica de João Romão, temos a história de Jerônimo, outro
português que tenta ganhar a vida no Brasil. Casado com Piedade, Jerônimo trabalha na
pedreira de Romão; é um trabalhador exemplar e totalmente dedicado à mulher e à filha
pequena. Até que um dia ele vem a conhecer a mulata Rita Baiana, por quem se apaixona
perdidamente.

• De certa maneira, Rita Baiana representa na vida de Jerônimo o fascínio que a natureza
brasileira exerce sobre o europeu:

• “Naquela mulata estava o grande mistério, a síntese das impressões que ele recebeu chegando
aqui: ela era a luz ardente do meio-dia; ela era o calor vermelho das sestas da fazenda; era o
aroma quente dos trevos e das baunilhas, que o atordoara nas matas brasileiras; era a palmeira
virgem e esquiva que não se torce a nenhuma outra planta; era o veneno e o açúcar gostoso...”

• Envolvendo-se com Rita, Jerônimo vai se abrasileirando, torna-se “preguiçoso, amigo das
extravagâncias e dos abusos”; perde, enfim, o bom-senso e o caráter superior do europeu, em
um processo de progressiva decadência.
Realismo (prosa) Características

• oposição ao Romantismo
 Período: séc. XIX (1881-1893)
• retrato fidedigno da realidade
 Tem início na França com Madame Bovary,
• caráter descritivo
de Gustave Flaubert, publicado em 1857.
• análise de traços da personalidade e da
 No Brasil, o Realismo surge em 1881, com a psique das personagens, com exibição
publicação de Memórias póstumas de Brás de falhas de caráter, derrotas pessoais
Cubas, de Machado de Assis. e comportamentos duvidosos
 Machado é o principal representante da • tom crítico sobre as instituições e a
nossa prosa realista: seus romances da fase sociedade, sobretudo a elite
“madura” são considerados realistas, pois • valorização de conhecimentos
desmascaram os interesses por trás das científicos, propostos em teorias como
relações sociais e analisam os personagens o Darwinismo, Positivismo,
de um ponto de vista psicológico. Evolucionismo
• denúncia social
 A produção literária desse movimento
preocupou-se em captar o real e, por isso,
era objetiva e repleta de descrições.  Principais autores: Machado de Assis e
Raul Pompeia
Naturalismo (prosa)
Características
 Período: séc. XIX (1881)
• romances como instrumento de análise
 Produção literária: romances da sociedade brasileira, e não apenas
 Surge em 1867, na França, com a como entretenimento para a classe
publicação da obra Thérèse Raquin, de média (como fizeram os autores
Émile Zola. No Brasil, o marco inicial foi a românticos)
publicação do romance O mulato (1881), • linguagem coloquial
• observação da realidade
de Aluísio Azevedo.
• evolucionismo, cientificismo e
 Está intimamente relacionado com o positivismo
Realismo, pois a descrição e a percepção • descrição de ambientes e personagens
da realidade também são características • problemas humanos e sociais
marcantes. No entanto, é definido como • radicalização do realismo
uma radicalização do Realismo. • visão mecanicista do homem
 As personagens dos romances naturalistas
 Principais autores: Aluísio Azevedo,
costumam ter características patológicas,
Raul Pompeia, Adolfo Caminha, Inglês
são desequilibradas, mórbidas e doentias. de Sousa

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