AULA 1

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HOMILÉTICA

AULA 1

Prof.ª Lidiane Ribeiro de Souza


CONVERSA INICIAL

Nesta disciplina, abordaremos de forma prática a arte de preparar e


apresentar sermões bíblicos. A ementa aborda um estudo sobre a arte de:

 preparar e desenvolver sermões religiosos;


 ensinar sobre a forma cristã de abordar diferentes elementos da
comunicação verbal;
 estudar as estruturas de um sermão religioso;
 abordar também os diferentes tipos de sermões;
 analisar de forma prática os diferentes erros praticados pelos
comunicadores, tendo em vista, evitar erros de fala, postura e fala prolixa,
entre outros.

Propomos, assim, um estudo sistemático a respeito da arte homilética


para um contexto moderno, com abordagem cristã e teológica, de forma
interessante, atual e prática, tanto para um público cristão como não cristão.
Estudaremos sobre:

 o que é homilética e sua importância;


 o preparo espiritual, intelectual e o papel do Espírito Santo na pregação;
 os diferentes tipos de sermões;
 o sermão e o esboço;
 os elementos do esboço e cada etapa da pregação;
 a comunicação verbal e não verbal;
 a linguagem, postura, gestos, voz, contato visual, entre outros.

Ao final, o objetivo geral é que o aluno seja capaz de preparar e apresentar


sermões bíblicos em diversos formatos, podendo optar pelo tipo de formato que
melhor responda ao seu contexto e objetivo.
De maneira mais específica, nesta aula, propomos definir o que é a
homilética e sua relevância, distinguindo o papel do pregador na elaboração e
entrega do sermão, bem como o papel indispensável do Espírito Santo, e
também a necessidade e importância do preparo espiritual e intelectual do
pregador relevante.
Espero que possamos percorrer juntos e de maneira prazerosa esta
jornada encantadora pelo mundo da arte e ciência da pregação bíblica.

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Embora a homilética seja ao mesmo tempo uma arte e uma ciência,
vamos trabalhar de maneira a tornar prático os conceitos e técnicas propostas
nesta disciplina, usando vários exemplos e dicas que possam ser facilmente
aplicadas à sua realidade e ministério como comunicadores (as) do evangelho.
Sugiro que além dos textos e vídeos aqui apresentados, vocês também
fiquem atentos à leitura do livro base, especialmente os capítulos 2, sobre
oratória e 3 sobre homilética, que irão complementar e ampliar vários conceitos
e técnicas apresentados aqui. Dessa forma, vocês terão um melhor
aproveitamento da disciplina.

TEMA 1 – O QUE É HOMILÉTICA?

Atualmente, a palavra homilética é definida como “a arte de pregar


sermões religiosos”, como é definida pelo Dicionário Aurélio. Este vocábulo vem
do grego homilia, que significa conversação. Com o passar do tempo, adquiriu o
significado de discurso religioso (Morais, 2005).
Vejamos ainda outras definições clássicas que podem ajudar:

 “A homilética é a ciência da qual a arte é a pregação e cujo produto é o


sermão” (Blackwood, 1981, p. 21);
 “Homilética é a ciência que ensina os princípios fundamentais do discurso
em público, aplicados a proclamação e ensino da verdade divina em
reuniões regulares congregadas para o culto divino” (Hoppin citado por
Blackwood, 1981, p. 10);
 “A ciência que trata da análise, classificação, preparação, composição e
entrega de sermões” (Benton, 1962, p. 706);
 “É a arte de compor e entregar sermões” (Champlin; Bentes, 1991, p.
154).

Homilética, portanto, é a arte de preparar e apresentar uma mensagem


religiosa. Também pode ser definida como a ciência e arte que se ocupa com a
pregação bíblica. Dessa forma, quando a pregação passar por técnicas de
comunicação para que seja facilitada, damos o nome de homilética.
Para Morais (2015. p. 17), “pregar é a mais árdua e gloriosa tarefa
reservadas ao ser humano”, portanto, não podemos negar o papel do Espírito
Santo, que nos orienta e inspira para que possamos apresentar a mensagem

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com eficácia, mas a técnica nos ajuda a comunicar a mensagem com mais
clareza e objetividade.
Recomendo que vocês leiam as páginas 142 até 144 do livro base, onde
é feita uma apresentação mais detalhada do conceito e origem da homilética.

TEMA 2 – A IMPORTÂNCIA DA HOMILÉTICA

“Pregar é a tarefa principal da igreja, [...] por esta razão, é impossível o


cumprimento de tão elevada missão sem o devido preparo” (Morais, 2015. p. 18).
Nossa mente funciona com ordem, portanto, precisamos receber informações de
forma organizada se quisermos compreender e reter as informações.
O sermão deve ser elaborado de tal forma que os ouvintes possam
compreender, sem dificuldade, o ponto principal da mensagem e seus demais
aspectos. O objetivo de uma mensagem é causar impacto imediato sobre os
ouvintes.
Para produzir esse impacto, o sermão deve ser isento de ambiguidades e
não conter material alheio ao tema principal. Suas ideias devem indicar
continuidade de pensamento, e o discurso todo deve dirigir-se para um alvo ou
clímax definido.
Em outras palavras, o sermão deve ser elaborado de tal forma que os
ouvintes possam compreender, sem dificuldade, o ponto principal da mensagem
e também os seus outros vários aspectos. Sendo assim:

 Um bom sermão precisa ter lógica, começo, meio e fim;


 A estrutura é importante também para que o pregador seja coerente e
preciso, pois a falta de ordem leva à repetição e ao cansaço;
 É importante também para auxiliar os ouvintes a compreenderem a
mensagem, aceitá-la e a reterem na memória as verdades anunciadas.

Todas as partes de um sermão devem estar dispostas de forma ordenada.


Isso requer talento, treino e imaginação construtiva. Pense na estrutura de um
edifício, em uma peça musical (que tem começo, meio e fim), um filme ou um
livro. É este o motivo de uma estrutura homilética: preocupar-se com um bom
planejamento e execução na comunicação bíblica.

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TEMA 3 – O ESPÍRITO SANTO E O MINISTÉRIO DA PREGAÇÃO

Uma pregação eficaz não é composta apenas de um bom preparo


intelectual e de um esboço bem elaborado. É preciso ter a unção de Deus e a
atuação do Espírito Santo. É ele o inspirador da Bíblia; é ele quem fala ao
coração dos ouvintes e faz com que ocorra o milagre de transformar as palavras
humanas em Palavras de Deus.
O Espírito Santo é aquele que suplica por nós, que traz santidade e
discernimento. O Espírito Santo é essencial ao ministério. Sem ele, nosso ofício
não passa de palavras.
A pregação relevante há de considerar os efeitos na vida dos fiéis em
termos de salvação e edificação.
O pregador precisa cumprir seu papel de evangelista, levando as boas
novas de salvação aos perdidos sem Cristo; precisa ser um profeta, combatendo
o erro e apresentando a palavra do Senhor; e precisa ser um pastor, aplicando
o bálsamo do conforto divino aos que sofrem e precisam de alívio, mas isso —
só é possível mediante a ação do Espírito Santo. Já
“Quando ele vier, convencerá o mundo do pecado, da justiça e do juízo”
(João, 16: 8). O grande apóstolo Paulo, um dos maiores pregadores de todos os
tempos, também estava plenamente ciente dessa verdade.
Já I Coríntios (2: 4-5) cita que “minha mensagem e minha pregação não
consistiram de palavras persuasivas de sabedoria, mas consistiram de
demonstração do poder do Espírito, para que a fé que vocês têm não se
baseasse na sabedoria humana, mas no poder de Deus.”
Portanto, precisamos sempre nos lembrar de que devemos fazer o nosso
melhor no preparo e usar todas boas técnicas na nossa disposição, mas jamais
achar que isso é suficiente sem a ação sobrenatural do Espírito Santo de Deus.

TEMA 4 – A PREPARAÇÃO ESPIRITUAL DO PREGADOR

A pregação é mais do que uma palestra. O pregador está transmitindo


uma mensagem espiritual. Para pregar uma mensagem espiritual, ele depende
de manter íntima comunhão com Deus.
Para o pleno êxito na entrega da mensagem, o pregador deve ter a
mensagem no coração e falar usando ele. Para isso, deve levar em consideração
os seguintes aspectos:

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 Humildade e dependência de Deus: o pregador deve reconhecer que por
mais preparado que esteja e capacitado que seja, é um mero instrumento
da graça e bondade de Deus e é Ele que opera por meio da mensagem
gerando vida e transformação.
 Vida de comunhão com Deus e estudo da Palavra: esta deve ser uma
dinâmica constante na vida do pregador. Não apenas quando for pregar,
independentemente de ter ou não uma agenda de pregação, ele deve
estar constantemente estudando e meditando na palavra e cultivando
uma disciplina de devocional diário.
 Oração: o hábito de ouvir e falar com Deus, apresentar diante dele nossas
súplicas, agradecimentos e louvores. A oração tem sido o segredo do
êxito na preparação e entrega de uma boa mensagem. É a oração que dá
vida e poder à mensagem.

Parafraseando o Santo Inácio de Loyola, podemos dizer que o pregador


deve estudar e preparar a mensagem como se tudo dependesse dele; buscar
força e poder na oração como se tudo dependesse de Deus.
Spurgeon, pastor batista inglês, disse certa vez que não há nada que
possa substituir a oração na vida do pregador, nem a cultura recebida, nem as
vastas bibliotecas.

 Vida de santidade: viver em santidade significar uma vida separada da


prática do pecado. A santidade é o segredo da unção e o resultado de
uma vida de oração, meditação na palavra e serviço ao Reino de Deus.
 Exemplo: por fim, se empenhe para viver o que prega. Este é um dos
grandes pilares da autoridade espiritual. “Sejam, pois, praticantes da
palavra, e não apenas ouvintes, enganando-vos a vós mesmos” (Tiago 1:
22).

Infelizmente, esta é uma área de grande tentação, especialmente para


líderes e pregadores. Muitos acabam se acostumando ao “mundo da religião” e
a viver uma vida de aparente piedade e devoção sem, contudo, buscarem aplicar
sinceramente a verdade que ensinam em suas próprias vidas e realidades
cotidianas, praticando assim o pecado da hipocrisia, como alguns fariseus do
tempo de Jesus.
Portanto, cuide da vida e preparo espiritual tanto quanto das demais áreas
do preparo, para que sua mensagem não seja apenas um discurso, quem sabe

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até bem elabora e apresentado, que até pode impressionar os ouvintes, mas ser
reprovado por Deus por falta de integridade e verdade prática.
A mensagem poderá até ter impacto na vida das pessoas, por ser a
verdade de Deus, mas o pregador certamente não agradará a Deus se seu
coração não for sincero e suas motivações alinhadas ao caráter de Deus.

TEMA 5 – O PREPARO INTELECTUAL E LEITURA DE SUA CULTURA

Falamos acima sobre o preparo espiritual, mas vale ressaltar também a


importância do preparo intelectual e acadêmico. Um bom pregador deve estar
sempre estudando, lendo, se atualizando e bem-informado do contexto histórico
e cultural em que vive.
Morais (2007, p. 22-23) relata a seguinte história:

Um estudante, na reta final de seu curso, cansado de tantas pesquisas,


disse a um colega que seu maior desejo era ver o dia da formatura
chegar para poder fechar os livros. O colega, menos ingênuo,
respondeu que o bom profissional tem, a partir da formatura, maior
obrigação de abrir os livros.

Isso faz todo sentido. O período de preparo não termina ao fim do curso
teológico. Eu diria que este é só o começo. Devemos pensar em uma formação
continuada. Especialmente nos dias que vivemos, em que as transformações
são rápidas e constantes, precisamos estar sempre atualizados.
Como disse Salomão, “o coração do sábio adquire o conhecimento, e os
seus ouvidos procuram o saber” (Provérbios 18: 15). Portanto, além do espiritual,
o pregador também deve se preparar intelectualmente e culturalmente.
Outras ciências além do estudo teológico também podem ser de grande
ajuda, como a antropologia, filosofia, sociologia, psicologia, comunicação,
história, entre outras. Tudo que puder contribuir para que possamos fazer uma
boa leitura do contexto e cultura para a qual comunicamos é importante.
Portanto, continue estudando e se atualizando sempre. Faça outros
cursos, seja um leitor assíduo e disciplinado e pratique a interdisciplinaridade.

NA PRÁTICA

Santo Inácio de Loyola foi um sacerdote católico do século XVI, fundador


da ordem jesuíta, que dizia ora et labora. Na prática, gosto de pensar como ele:

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“ore como se tudo dependesse de Deus e trabalhe como se tudo dependesse de
si” (Loyola citado por Todescatto, 2018).
Faça bom uso das técnicas e ferramentas disponíveis, como oratória,
homilética, retórica, exegese e outras. Tenha uma vida de intimidade com o
Espírito Santo de Deus. Procure encher-se dele, como Efésios (5: 18)
recomenda: “e não vos embriagueis com vinho, em que há contenda, mas
enchei-vos do espírito.”
Portanto, labore: prepare-se, estude, ore, dedique-se, enfim, assuma a
sua responsabilidade e faça a sua parte — e no que você não pode fazer, confie
que Deus fará!

FINALIZANDO

Para finalizar esta aula, vamos recapitular o que aprendemos até aqui.
Sabemos que pregar a palavra de Deus é um grande privilégio, mas também um
grande desafio. Portanto, precisamos fazer uso de todas as ferramentas
possíveis, e a homilética é uma delas.
Ela nos ajuda a organizar as ideias e argumentos, estruturar de maneira
lógica e clara a mensagem, daí sua importância. Mas apenas a técnica não é
suficiente. Precisamos também depender do Espírito Santo e compreender seu
papel fundamental no ministério da pregação.
Contudo, precisamos estar cientes que ele fará a sua função, mas cabe a
nós fazermos a nossa parte com excelência. E isso exige preparo. Preparo
espiritual, com oração, estudo da palavra, vida de comunhão com Deus e
santidade, entre outros. E não devemos esquecer também o preparo intelectual,
como disciplina acadêmica, crescimento pessoal e atualização constante.
Por fim, vale mencionar a importante orientação de Keller (2017, p. 233):
“quando, em vez de simplesmente dar informações ou mostrar o que sabem,
eles (os pregadores) elevam Cristo e mostram às pessoas o seu amor, aí então
se alinham ao Espírito e podem esperar que ele acompanhe a mensagem
proclamada”.
Assim como o Espírito Santo, a pregação bíblica deve ser cristocêntrica,
apontar e glorificar a Cristo. Levando em consideração estas verdades,
certamente seremos um instrumento precioso e pronto para ser usado para a
glória de Deus na proclamação do evangelho do Reino.

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REFERÊNCIAS

BATISTA, A. Como preparar sermões. Rio de Janeiro: CPAD, 2006.

BLACKWOOD, A. W. A preparação de sermões. Rio de Janeiro: JUERP, 1981.

BRAGA, J. Como preparar mensagens bíblicas. São Paulo: Vida, 2000

CHAMPLIN, R. N.; BENTES, J. M. Enciclopédia de Bíblia, Teologia e


Filosofia. São Paulo: Candeia, 1991. v. II.

EDITORA INTERSABERES (ORG.). Fundamentos sobre a comunicação


religiosa. Curitiba: Intersaberes, 2016.

LLOYD-JONES, M. Pregação & pregadores. São Paulo: Fiel, 1984.

MORAES, J. Homilética: da pesquisa ao púlpito. 1. ed. São Paulo: Vida, 2005.

STOTT, J. Eu creio na pregação. São Paulo: Vida, 2003.

TODESCATTO, G. Determinados a ser santos. Disponível em:


<https://apostoladoracao.wixsite.com/paroquiadecolares/single-
post/2018/04/13/ora-et-labora---ore-como-se-tudo-dependesse-de-deus-e-
trabalhe-como-se-tudo-dependesse-de-si>. Acesso em: 2 out. 2018.

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