HABEAS CORPUS - Trancamento Do Inquérito Com Prescrição

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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA VARA

____ CRIMINAL DA COMARCA DE XXXXXXX.

INQUÉRITO POLICIAL: 000/0000.


PACIENTE: XXXXXXXX

XXXXXXXXXXX, brasileiro, solteiro, advogado, inscrito


na OAB sob o nº. 00.000/O, vem, respeitosamente, à presença de Vossa
Excelência, impetrar

ORDEM DE HABEAS CORPUS COM PEDIDO DE LIMINAR PARA O


TRANCAMENTO DE INQUÉRITO POLICIAL PELA EXTINÇÃO DA
PUNIBILIDADE POR PRESCRIÇÃO

Com fundamento legal no artigo 5º, LXVIII, da


Constituição Federal e nos artigos 107, inc. IV, 115, caput do CP e artigos 647 e
648, inc. VII, do Código de Processo Penal, em XXXXXXXXXXXXXXX
brasileiro, solteiro, autônomo, devidamente inscrito no CPF: 000.000.000-00,
com endereço (endereço completo). Por estar sofrendo flagrante constrangimento
ilegal perpetrado pelo Delegado da Polícia Judiciária Civil da Delegacia de
Polícia de XXXXXXXXX, situada na rua XXXXXXXX, Bairro
XXXXXXXXXXX, que preside o I.P dos autos em epígrafe, pelos motivos a
seguir expostos:

I) DOS FATOS
O paciente está sendo investigado pela suposta prática do
crime de TENTATIVA DE HOMICÍDIO QUALIFICADO, que teria ocorrido
em desfavor de XXXXXXXXX, no dia 00/00/0000 por volta das 03h53min no
(endereço) nesta comarca.

O presente inquérito policial foi baixado pela portaria


constante nas fls. 04/05, na data de 00 de 000 de 0000.

O Boletim de Ocorrência foi acostado às fls. 02, bem como


os depoimentos das testemunhas às fls. 07/08, 16/17 e 22/23, e requisição do
Exame de Corpo de Delito juntado às fls. 09. Outrossim, foi ouvido a suposta
vítima às fls. 26/27.

Que deram base para o relatório policial no qual indiciou o


Paciente pela suposta prática do crime previsto no artigo 121, §2, inc. IV c/c
art.14, II ambos do Código Penal, conforme fls. 50/51.
Por sua vez, o MP requereu a localização e a oitiva do
paciente, conforme às fls. 53.

No dia 00 de XX de 0000 o paciente e uma testemunha


foram intimados para serem ouvidos, conforme fls. 60/61.

No dia 00 de 00 de 0000 o paciente prestou a sua


declaração acerca dos fatos acompanhado por advogado, conforme fls. 64/65.

É o bastante relatório.

II) DOS DIREITOS


a) DA PRESCRIÇÃO DA PRETENSÃO PUNITIVA
EM ABSTRATO APLICADA A SUPOSTA PRÁTICA
DO CRIME DE TENTATIVA DE HOMICÍDIO
QUALIFICADO.

Vossa Excelência, é sabido que o trancamento de


inquérito policial possui índole excepcional, somente admitido nas hipóteses
em que se denote, de plano, a ausência de justa causa, bem como a inexistência
de elementos indiciários demonstrativos da autoria e da materialidade do delito
ou, ainda a presença de alguma causa excludente de punibilidade, como é o
caso em comento.

Conforme recente julgado de nosso Egrégio Tribunal de


Justiça;

HABEAS CORPUS – ART. 50-A DA LEI N. 9.605/98 –


DENÚNCIA RECEBIDA –
ALMEJADO TRANCAMENTO DA AÇÃO PENAL –
PROPALADA A NULIDADE DO INQUÉRITO
POLICIAL E DA AÇÃO PENAL CORRELATA –
ALEGADA AUSÊNCIA DE INTIMAÇÃO E/OU
CITAÇÃO DO PACIENTE EM QUAISQUER DAS
ETAPAS PROCEDIMENTAIS – NÃO OCORRÊNCIA –
O INQUÉRITO CONSTITUI PROCEDIMENTO
INVESTIGATIVO DE ÍNDOLE FACULTATIVA E
CARIZ INQUISITIVO – CONTRADITÓRIO
INEXIGÍVEL – PACIENTE NOTIFICADO PELA
AUTORIDADE POLICIAL QUE NÃO COMPARECE
PARA PRESTAR ESCLARECIMENTOS – CITAÇÃO
PESSOAL APÓS O RECEBIMENTO DA DENÚNCIA
AINDA PENDENTE – AUSÊNCIA DE NULIDADE –
AVENTADA A INÉPCIA DA DENÚNCIA –
IMPROCEDÊNCIA – PEÇA QUE REVELA A
NARRATIVA DO FATO E SUAS CIRCUNSTÂNCIAS,
INDIVIDUALIZANDO A PARTICIPAÇÃO DOS
ACUSADOS – OBSERVÂNCIA AO ART. 41 DO CPP –
DECLINADA A AUSÊNCIA DE CRIME –
DESCABIMENTO – CONDUTA AMOLDADA, A
PRIORI, À INFRAÇÃO PENAL – NECESSIDADE DE
REVOLVIMENTO FÁTICO-PROBATÓRIO – AÇÃO
PENAL EM ESTÁGIO EMBRIONÁRIO –
PORMENORES A SEREM DESCORTINADOS
DURANTE A INSTRUÇÃO – SUSCITADA A
NULIDADE DA DECISÃO QUE RECEBEU A
DENÚNCIA – NÃO CARACTERIZAÇÃO –
DESNECESSIDADE DE EXTENSA
FUNDAMENTAÇÃO – ANÁLISE EPIDÉRMICA DA
INICIAL ACUSATÓRIA – AFIRMADA A
OCORRÊNCIA DE PRESCRIÇÃO – IMPERTINÊNCIA
– AUSENTE O TRANSCURSO DO PRAZO LEGAL A
REGER A HIPÓTESE – CONSTRANGIMENTO
ILEGAL NÃO CONFIGURADO – ORDEM
DENEGADA. 1. É consabido que o inquérito policial –
peça facultativa e de cariz inquisitivo, por excelência – não
demanda à sua regularidade a presença do investigado e,
pois, o exercício do contraditório, na medida em que se
destina, tão só, à coleta de elementos informativos acerca
da materialidade e autoria delitivas, com vistas à formação
da opinio delicti do dominus litis, inexistindo nulidade se o
investigado, devidamente notificado pela
autoridade policial, não comparecer para cientificar-se da
imputação e prestar esclarecimentos.2. Encontrando-se a
ação penal, ainda em estágio embrionário, ao aguardo do
cumprimento de carta precatória expedida para a citação
pessoal do paciente, não há falar-se em nulidade por
ausência de sua integração ao processo.3.
O trancamento da ação penal, pela angusta senda do
habeas corpus, apresenta-se como medida excepcional,
sendo factível se e quando de plano, sem um juízo de
valoração das provas, restar evidenciada a atipicidade
do fato, a absoluta ausência de indícios idôneos a
fundamentarem a acusação ou uma das causas de
extinção da punibilidade, afigurando-se infactível
quando a instância vem de demandar extenso
revolvimento fático-probatório.4. A teor da intelecção
consagrada no âmbito do Pretório Excelso, afigura-se
inexigível a motivação do ato judicial que formaliza o
recebimento da denúncia, que, nos dizeres da Corte, “não
se qualifica nem se equipara, para os fins a que se refere o
art. 93, inciso IX, da Constituição, a ato de caráter
decisório. O juízo positivo de admissibilidade da acusação
penal, ainda que desejável e conveniente a sua motivação,
não reclama, contudo, fundamentação” [STF. HC
707.977/SP. Rel. Min. Carmen Lúcia. Primeira Turma.
Publicado no DJe em 05.09.2011].5. Não há falar
em prescrição da pretensão punitiva quando não
transcorrido o lapso prescricional a reger a hipótese,
considerados os marcos interruptivos observados.

ALBERTO FERREIRA DE SOUZA, SEGUNDA


CÂMARA CRIMINAL, Julgado em 02/05/2018, publicado
no DJE 11/05/2018).
Tal entendimento é assente na jurisprudência do excelso
Supremo Tribunal Federal, bem como do Superior Tribunal de Justiça, e há
muito já se firmou no sentido de que o trancamento do inquérito policial, por
meio do habeas corpus, conquanto possível, é medida excepcional, cujo
cabimento ocorre apenas nas hipóteses excepcionais em que, prima facie, mostra-
se evidente.

“Qualquer situação em que se demandar um mínimo de


exame valorativo do conjunto fático ou probatório pelo
julgador não será passível de trancamento visto que o
habeas corpus é remédio inadequado para a análise da
prova” (HC- Rei. Celso de Mello – RT 701/401).

Diante disso, ao realizar uma análise, ainda que


perfunctória aos autos do IP em epígrafe, nota-se que na data da suposta
prática do fato criminoso no dia 14.06.2008, o Paciente tinha 18 anos, tendo
em vista que conforme documento (CNH) juntado aos autos, demonstra que
o mesmo nasceu no dia 06.04.1990, não tendo 21 anos completo na data do
cometimento do delito, ou seja, menor relativo para incidência penal.

Como é cediço, o prazo prescricional para a pretensão


punitiva do Estado é diminuído pela metade, quando o agente à época dos fatos
era menor de 21 (vinte e um) anos.

Código Penal: Art. 115 - São reduzidos de metade os


prazos de prescrição quando o criminoso era, ao tempo
do crime, menor de 21 (vinte e um) anos, ou, na data da
sentença, maior de 70 (setenta) anos.

Portanto Vossa Excelência, o crime o qual foi indiciado


TENTATIVA DE HOMICÍDIO QUALIFICADO, prescreve em tese, em 20
anos (sem contar a incidência da diminuição prevista no artigo 68 do CP).
Art. 109. A prescrição, antes de transitar em julgado a
sentença final, salvo o disposto no § 1o do art. 110 deste
Código, regula-se pelo máximo da pena privativa de
liberdade cominada ao crime, verificando-se:

I - em vinte anos, se o máximo da pena é superior a


doze;

Como na data dos fatos o paciente era menor relativo


(18 anos e dois meses), o prazo prescricional é reduzido pela metade, ou seja,
fixa-se em 10 (dez) anos a pretensão punitiva estatal, estabelecendo o marco
prescricional em 00/00/0000, improrrogável, para extinção da punibilidade,
conforme previsto no artigo 107 do CP, leiamos:

Código Penal: Art. 107 - Extingue-se a


punibilidade:

IV - Pela prescrição, decadência ou perempção;

Outrossim, no entender da Defesa, o delegado deu causa


para a demora estatal em sua pretensão punitiva, tendo em vista, que o membro
do Parquet na data 13 de novembro de 2013, requereu as referidas
diligências ainda dentro do prazo legal, conforme fls. 53. Vindo a ser
somente realizada tais diligências na data supramencionada no relatório
desse writ, reitero, no entender da Defesa, tal cota ministerial não deveria
ser realizada pela autoridade coatora devido a notória extinção da
punibilidade pela prescrição.

Cito o renomado professor e doutrinador Mirabete1 para dar


azo a tese defensiva:

1
MIRABETE, Julio Fabbrini. Processo Penal, ed. Atlas, São Paulo, 1997, pg. 86.
"Tendo o conhecimento da existência de um crime que se
apura mediante ação penal pública, a Autoridade Policial
deve instaurar o competente Inquérito Policial. O Inquérito
não deve ser instaurado, entretanto, na hipótese de fato
atípico ou no caso de estar já extinta a punibilidade , na
hipótese de ser a autoridade incompetente para a
instauração e quando não forem fornecidos os elementos
indispensáveis para se proceder às investigações".

Por fim, a Defesa requer o imediato trancamento do


inquérito policial, para que finde as diligências em andamento, pois tal
procedimento conspurca os direitos constitucionais do paciente, em especial, a
liberdade, que é o supedâneo desse requerimento, leiamos:

Código de Processo Penal: Art. 647. Dar-se-á habeas


corpus sempre que alguém sofrer ou se achar na
iminência de sofrer violência ou coação ilegal na sua
liberdade de ir e vir, salvo nos casos de punição
disciplinar.

Art. 648. A coação considerar-se-á ilegal:

(...) VII - quando extinta a punibilidade.

Vossa Excelência, restou claro a patente ilegalidade


perpetrada pela autoridade policial em desfavor do paciente André Arles, ainda
que não fora tipificada a conduta do paciente pelo órgão ministerial
(oferecimento da denúncia), além de restar necessário o exame das
circunstâncias atenuantes e agravantes durante o processo, a prescrição da
pretensão punitiva já se mostra de forma indubitável no caso em tela, tendo
em vista, que por maior que a pena seja aplicada ao paciente, estará
prescrita de qualquer modo, e isso obsta qualquer procedimento por parte
do Estado em punir o paciente.
III) MEDIDA LIMINAR EM HABEAS CORPUS

Apesar da omissão do legislador, a doutrina processual


penal, na trilha das manifestações pretorianas, tem dado acolhida à liminar no
habeas corpus, emprestando-lhe o caráter de providência cautelar.

Conforme bem nos ensina Ada Pellegrini Grinover2:

“A prisão preventiva constitui a mais característica das


cautelas penais; a sua imposição deve resultar do
reconhecimento, pelo magistrado competente, do fumus
boni juris (prova da existência do crime e indícios
suficientes de autoria – art. 312, parte fina, CPP), bem
assim do periculum in mora (garantia da ordem pública,
conveniência da instrução criminal ou para assegurar a
aplicação da lei penal – art. 312, primeira parte, CPP)”

Em assim sendo, a liminar é o meio de assegurar maior


presteza aos remédios heroicos constitucionais, evitando uma coação ilegal ou
mesmo impedindo que ela ocorra.

IV) DOS PEDIDOS

J) Que CONCEDA LIMINARMENTE A ORDEM


PARA O TRANCAMENTO DE INQUÉRITO POLICIAL PELA
EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE POR PRESCRIÇÃO, em favor do
paciente XXXXXXXXXXXXXX com essa medida estará restabelecendo a
Justiça e a Ordem Jurídica.

Nestes termos, pede deferimento.


2
Pellegrini. Ada Grinover. As Nulidades no Processo Penal; 6º Edição, Ed. RT 1997; p 289)
Local e data

ADVOGADO / inscrição OAB

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