AULA 01
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Aula 01
Prezado(a) estudante,
Seja bem-vindo(a) ao tema Ética. Nele faremos um percurso introdutório por algumas das questões
que inquietam a humanidade desde que se têm notícias históricas. Os seres humanos, sendo
plurais, pensam, projetam e sentem de modos diferentes. Como lidar com a diferença de percepção
e de projetos sobre o mundo? Como lidar com as diferentes decisões que tomamos e as ações que
realizamos? A partir de que critérios julgá-las?
A partir dessas questões, percorreremos um breve histórico da Ética como campo de saber, com
suas principais teorias e questões, buscando compreender como a história de nossos pensamentos
foi criando diretrizes para avaliar nossas condutas e como nossas sociedades foram criando valores.
Temas como moralidade, eticidade, legalidade, legitimidade, as relações entre direitos, deveres e
responsabilidade social serão abordados para que possamos entender alguns dispositivos por meio
dos quais os valores determinam nossas relações com as ações e como nossas atitudes são
recriadoras de valores.
Ao final deste tema, esperamos que você seja capaz de compreender os conceitos básicos da Ética,
o campo de atuação da Ética aplicada ao mundo do trabalho, visualizar possibilidades de aplicação
de conceitos nas relações interpessoais e nos trabalhos em equipe, através do conhecimento básico
de noções que esta disciplina possa oferecer sobre nossas atitudes cotidianas e entendendo
apontamentos da deontologia profissional.
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A Ética e a Moral
Uma muito utilizada no cotidiano é “Ética”. Muitas vezes, ouvimos dizer que alguém “faltou com a
ética” ou, ainda, que hoje vemos uma “falta de ética na política”.
Antes de entendermos o que essa palavra significa no Ocidente, temos de lembrar que ela se refere
aos seres humanos em suas relações com outros seres humanos e com o restante dos componentes
do mundo. Humanos estes que são diferentes entre si, que pensam de modo distinto, têm projetos
de mundo diferentes e, sobretudo, agem de maneiras diferenciadas e que, a princípio, são livres
para agir como desejarem.
O que faz com que consideremos algumas ações boas e outras más? O que faz com que alguns
comportamentos sejam tidos como corretos e outros como incorretos, justos ou injustos?
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Em cada sociedade existem práticas que são julgadas como aprováveis moralmente e outras que
não o são. E o que possibilita esses julgamentos são os valores morais, que mostram aquilo que é
moralmente importante para uma sociedade e são construídos historicamente para constituir um
balizamento da ação. Essa regulação tem como um de seus objetivos principais evitar as mais
diversas formas de violência (CHAUI, 2012, p. 382).
É nesse cenário que podemos entender o que se denomina moral, que é exatamente o conjunto de
valores que cada sociedade constitui para determinar o que é correto, permitido, bom para seus
membros, assim como também determina o que seja o incorreto, errado, proibido, ruim para a sua
comunidade.
O que a ética historicamente tem feito é refletir sobre a moral de cada sociedade, o que faz com que
ela seja entendida como uma filosofia moral, ou seja, um conjunto de reflexões sistemáticas sobre o
que em uma determinada sociedade se constitui como valores racionalmente aceitáveis e como
essa constituição se dá.
Dessa maneira, podemos dizer que, enquanto a moral estabelece os valores que orientam as
condutas humanas em uma determinada sociedade, a ética é o conjunto de reflexões que subsidiam
e avaliam essa moral, permitindo, inclusive, que modificações na moralidade de uma determinada
sociedade aconteçam.
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Os antigos gregos utilizavam vários termos para pensar suas experiências com os valores. Uma
delas é a palavra êthos, que significa costume, e outra é éthos, que significa caráter, índole ou
temperamento (CHAUI, 2012, p. 386). Essas duas palavras, que estavam relacionadas não apenas
por sua semelhança de escrita e pronúncia, se vinculavam também com os modos como os seres
humanos se relacionavam com as experiências sobre as quais podemos atribuir valores morais.
Todas as sociedades que conhecemos estabelecem parâmetros para avaliar as condutas humanas,
estabelecendo valores para tal avaliação. Ao mesmo tempo, um conjunto de reflexões, ideias e
discussões sobre como avaliar se estabeleceram. E, nesse cenário, surge o que chamaremos de
Ética.
No mundo antigo, os valores morais eram completamente ligados com os modos de organização
das primeiras cidades. E é na antiga Grécia dos séculos VI e V AEC que os primeiros filósofos
ocidentais começaram a se preocupar com a relação entre os valores morais, critérios de avaliação
e as normas das condutas. Filósofos como Sócrates, Platão e Aristóteles se destacaram na
investigação dos fundamentos dos valores éticos. A relação com a cidade era um fator fundamental
para a definição dos valores, assim como a relação que cada indivíduo estabelecia consigo mesmo
na percepção do que deveria orientar a conduta. Os antigos romanos prosseguiram na investigação
da constituição dos valores morais, aprofundando algumas das noções elaboradas pelos antigos
gregos.
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ATENÇÃO
Alguns autores têm tentado sistematizar o contexto geral das reflexões éticas da Antiguidade
em torno de três noções:
o racionalismo: é no amparo da razão que encontramos motivos para viver uma vida em
conformidade com a moralidade;
b. o naturalismo: agir em harmonia com a natureza é um dos caminhos para uma vida
moralmente boa; e
c. articulação entre ética e política: na relação com a cidade/comunidade encontramos as
motivações para agir moralmente, de maneira que os valores que se utilizam para guiar a
conduta pessoal são também utilizados para guiar a conduta de toda a cidade,
politicamente (CHAUI, 2012, p. 390).
No contexto da Idade Média, é a relação com a fé e, mais especificamente, com o cristianismo que
orienta as reflexões sobre a construção dos valores morais.
Você lembra que na Antiguidade o marco da investigação ética era uma relação com o exterior, com
a cidade? Isso se modifica com o registro do cristianismo, quando a fé, isso que vivemos em nosso
interior, entra em jogo. Com isso, há uma interiorização dos critérios morais, que passam a ser
vivenciados em função da relação íntima que as pessoas estabelecem com Deus (MILOVIC, 2004, p.
40-41).
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A liberdade, que era uma ideia secundária no mundo antigo, adquire centralidade na era medieval,
na medida em que a noção de livre arbítrio – essa capacidade que os seres humanos têm de tomar
suas próprias decisões em situações nas quais haja diversas possibilidades de agir – afirma-se como
uma ideia central para o cristianismo. E, porque somos capazes de tomar nossas próprias decisões,
é que podemos agir correta ou incorretamente segundo as normas morais vigentes e sermos
responsáveis por tais ações.
É ainda na Idade Média que, através da difusão do cristianismo, a noção de dever se estabelece
como uma ideia ética importante. Temos a obrigação moral, ou o dever, de seguir os desígnios
divinos, isto é, devemos reconhecer o que fora determinado por Deus e cumprir obrigatoriamente,
de modo que a desobediência às ordens divinas reveladas pelo cristianismo é imoral (CHAUI, 2012,
p. 391). E, aqui, vale não apenas o que fazemos de fato, mas o que temos a intenção ou o desejo de
fazer, de modo que, diferente do que se passava na Antiguidade, não importa apenas nossas ações
concretas, mas também aquilo que se passa em nossas mentes e desejos (CHAUI, 2012, p. 392).
Autores como Santo Agostinho e Santo Tomás de Aquino se sobressaíram nas pesquisas sobre a
moralidade, desde a perspectiva cristã.
Os homens e mulheres passam a ocupar um lugar privilegiado na percepção do que seja o mundo e
que relações podemos estabelecer com ele. E os humanos não serão tidos como centro em função
de sua dimensão espiritual, como na Idade Média. Noções como a Natureza Humana passam a ser
os balizadores dos critérios morais. Os seres humanos, pela primeira vez na história, são vistos com
uma natureza ou pacífica ou agressiva e, em função desta, os valores devem ser pensados, o que faz
nascer uma Ética Antropocêntrica (VÁZQUEZ, 1970, p. 247).
Uma das novidades que a modernidade traz para a reflexão ética sobre a moral é seu desligamento
da política, sobretudo a partir da obra de Nicolau Maquiavel, na obra O príncipe. Nela, o autor pensa
a possibilidade de uma política que tenha a governabilidade como elemento fundamental,
adquirindo um caráter autônomo em relação à moral, embora mantenha com esta uma relação
sempre tensa (ARANHA, 2000, p. 74-77).
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As perspectivas éticas contemporâneas sobre a moral serão vistas mais adiante e, de modo geral,
tentam responder aos anseios gerados na modernidade sobre um modo racional de fundamentar os
valores ligados com a ação humana.
SAIBA MAIS
Para outra abordagem histórica da ética, acesso no acervo da disciplina ou clique aqui.
Encontraremos uma abordagem mais centrada em alguns outros autores importantes da
história da filosofia.
como e porque julgamos que uma ação é moralmente errada ou correta? E que critérios
devem orientar esse julgamento?
(BORGES; DALL’AGNOL; DUTRA, 2003, p. 7).
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Dessa maneira, para a Filosofia, há uma nítida distinção entre a ética e a moral, sendo que a primeira
se conforma como uma reflexão sobre a segunda e suas condições.
Entretanto, no cotidiano, muitas vezes encontramos a noção de ética expressa como agir
corretamente, dessa maneira haveria uma espécie de equiparação entre ética e moral, uma vez que,
para a Filosofia, o que dita o que é agir corretamente é exatamente o valor moral.
É apenas por utilizar as palavras “ética” e “moral” como sinônimas que podemos dizer que alguém é
antiético, para nos referirmos a essa pessoa que agiu contrariamente aos valores ou normas morais
de nossa sociedade. Nesse contexto, encontramos também as palavras “imoral” e “antiético” como
sinônimas ou equivalentes.
VÍDEO
Veja, por exemplo, o curta metragem Ética, do crítico de cinema e cineasta Paulo Villaça, e
observe a maneira como a palavra ética é utilizada e de que maneira os valores são
interpretados.
No cotidiano, pensamos que alguém é uma “pessoa ética” quando age em conformidade com os
valores morais, quando toma a decisão correta diante de uma situação na qual ela poderia agir
contrariamente aos valores vigentes.
Entretanto, para os fins de nosso curso, entenderemos a ética ao mesmo tempo como reflexão
racional sobre a moral e como o conjunto de valores que orientam nossa conduta.
Moralidade
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Você já deve ter visto em animações uma famosa e cômica imagem de uma pessoa que quando tem
de tomar uma decisão aparecem, aos dois lados de sua cabeça, uma representação de um anjinho e
outra de um demônio que tentam dissuadir a pessoa, cada qual com seus motivos que normalmente
apontam para situações opostas com relação à atitude a ser tomada.
Um exemplo seria: Uma pessoa tem várias dívidas com bancos. E esta pessoa recebe um prêmio de
um sorteio que lhe concede uma quantia com a qual ela poderia saldar todas as dívidas. Entretanto,
essa pessoa está também a muito tempo sem viajar e muito cansada. E surgem então as
possibilidades de que ou ela utilize o dinheiro para quitar suas dívidas ou, então, para descansar em
uma viagem.
É importante para definir o cenário de discussão da moralidade – como sendo o contexto no qual se
constituem e atuam os valores morais – que os seres humanos são diversos entre si e que as
diversas sociedades estabelecem valores diferentes para avaliar situações similares. Em uma
determinada sociedade, por exemplo, se julga correto utilizar a pena de morte, em outras não. Em
determinados conjuntos sociais a monogamia não apenas é moralmente correta, mas é a única
forma correta de arranjo matrimonial e, em outros, a poligamia ocupa esse lugar de correção junto
aos casamentos.
Outro elemento importante é o fato de que os seres humanos são, no Ocidente, considerados livres
para tomarem suas decisões e, em função delas, devem se responsabilizar pelos atos decorrentes
da escolha tomada. Aqui, a moralidade só faz sentido quando há mais de uma alternativa
igualmente plausível para uma determinada ação e, também, os sujeitos sejam livres para escolher.
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É exatamente a capacidade humana de julgar, de deliberar sobre o que deve fazer diante de um
leque de alternativas que torna necessária a moral. E as sociedades decidem através de
movimentos históricos padrões de avaliação para que cada alternativa tenha um peso diferente
para a regulação das relações dos seres humanos entre si e com o mundo.
Isso faz com que o que os valores de certo, errado, correto, incorreto, justo, injusto, bem e mal
sejam relativos aos contextos estabelecidos em cada sociedade. Tomando nosso exemplo, algumas
sociedades julgariam correto e justo saldar as dívidas e deixar para depois a viagem e o descanso,
ao passo que outras sociedades considerariam o bem estar do sujeito preferencial, de modo que a
pessoa poderia viajar, descansar e depois, recuperada e descansada, trabalhar para pagar as
dívidas.
Esse cenário tende a ficar mais tenso no mundo ocidental em função do fenômeno chamado de
globalização, no qual não apenas a economia passa a funcionar em uma escala mundial, com
interligações em todo o mundo, mas também os sistemas culturais e, portanto, as dinâmicas de
valoração.
É também importante notar que, apesar da ligação com os contextos vinculados com a organização
de cada sociedade, há algumas instâncias morais que são presentes em todas as sociedades
conhecidas. Por exemplo, a necessidade de critérios justos para avaliar a ação. Embora cada
sociedade possa ter conteúdos diferentes para julgar o que seja a justiça, seus conteúdos
intrínsecos, todas as sociedades possuem a noção de que a justiça é um valor necessário para a
convivência entre os seres humanos.
Esses elementos presentes em todas as sociedades são chamados de universais, oscilam entre a
ética e a política e são fundamentos daquilo que hoje chamamos de direitos humanos, que são os
direitos básicos de toda e qualquer pessoa que consideremos humana, em qualquer lugar do
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Critérios de Valoração
Nas práticas cotidianas, os seres humanos, organizados em suas comunidades, visualizam
possibilidades de que algumas atitudes sejam interessantes para o coletivo e outras sejam
desinteressantes.
Em nossas sociedades os critérios de atribuição de valor estão conectados com diversos processos
que são políticos, religiosos, jurídicos e científicos, além de estarem vinculados com os hábitos que
o mundo coletivo construiu historicamente.
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Embora as sociedades não tenham apenas uma religião e muitos membros destas não tenham
religião alguma, as visões de mundo religiosas influenciam de modo forte as maneiras como
avaliamos moralmente as condutas humanas. As imagens de sacralidade da vida, de transcendência
dos valores, de imortalidade da alma – que gerariam responsabilidades futuras, para além da morte,
sobre as ações que praticarmos em vida – além das ideias de bondade, normalmente atribuídas à
instância divina na maioria das religiões. Nesse cenário, todas as ações humanas que, de alguma
maneira, firam esses princípios são avaliadas como moralmente incorretas.
Muito embora não se possa fazer uma vinculação direta entre as religiões e a esfera moral
pública, já que a crença nas religiões é algo da esfera privada, a história encarregou-se de tornar
difícil a separação entre a moral e os valores religiosos.
Por isso, grande parte dos critérios de valoração das condutas humanas tem um rastro religioso,
para o qual devemos ter bastante atenção, uma vez que é uma esfera bastante subjetiva e que tem
seus alicerces em uma dimensão que não pode ser, ela mesma, avaliada com critérios objetivos.
SAIBA MAIS
Sobre a problemática relação entre moral e religião, clique aqui e veja a posição do
primatólogo Franz de Waal na entrevista para a Folha de S. Paulo.
Apesar de nem todas as normas morais serem traduzidas em códigos e leis, uma parte importante
das leis tem fundamentos morais. As normas jurídicas de uma sociedade definem o que é permitido
e proibido nas múltiplas relações entre as pessoas entre elas mesmas e com as instituições, com o
objetivo de organizar o espaço público de relações. É bastante raro que as normas legais ou
jurídicas permitam aquilo que a moralidade de uma sociedade condene. Dessa maneira, podemos
observar normalmente que uma ação humana é avaliada moralmente como má quando fere uma
norma jurídica, de modo que a observância ao estatuto legal de uma determinada sociedade seja
um dos critérios de valoração moral.
A ciência aparece como um campo de descrição do mundo e, muitas vezes, serve como parâmetro
também de como ele deveria funcionar. Um exemplo disso se mostra na abordagem ecológica da
Biologia. A conservação do planeta, seus ecossistemas, suas diversas formas de vida está descrita
por essa subdivisão das ciências biológicas, mas também mostra um conjunto de normativas acerca
de como deveríamos agir para que o mundo da vida não se desequilibre ainda mais. Nesse exemplo,
poderíamos dizer que uma ação humana que degrade o mundo seria também uma ação imoral, de
modo que o conhecimento científico aí produzido seja, também, um critério de valoração.
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Sujeito Moral
Definir o sujeito moral implica em entender que os seres humanos não agem moralmente em todo o
momento e que a necessidade de pensar o que torna uma pessoa um agente moral passa por
entender as características de tal sujeito.
Segundo Marilena Chaui (2012, p. 384), o sujeito moral precisa cumprir as seguintes condições:
Ser consciente de si mesmo e das outras pessoas, tendo a capacidade de refletir sobre suas
próprias práticas e reconhecendo que as outras pessoas são também sujeitos morais.
O sujeito moral é, portanto, alguém que age sabendo o que faz e sabendo as consequências de
suas ações sobre outras pessoas. Alguém incapaz de juízos de valor não pode ser um sujeito
moral, pois não é capaz de avaliar o que faz e nem o impacto que suas condutas têm sobre
outras pessoas.
Ser portador de vontade, isto é, capaz de dominar e orientar seus desejos, tendências,
sentimentos em consonância com os valores e regras morais reconhecidas pela sociedade na
qual o sujeito moral esteja inserido.
Para ser um sujeito moral, alguém deve ter a possibilidade de determinar como lida com seus
afetos, com seus desejos. Deve ser alguém capaz de equilibrar suas vontades e o interesse de
manutenção da coletividade, sendo capaz de tomar decisões entre as diversas alternativas que
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a vida lhe apresenta, quando essas decisões lhe parecem igualmente interessantes e alguma
delas pode ferir ou se atritar com os interesses de outras pessoas.
Ser responsável por suas ações, avaliando seus impactos e assumindo suas consequências
sobre si e sobre as outras pessoas.
Alguém só pode ser um sujeito moral se for capaz de responsabilizar-se por suas ações e os
efeitos delas, de modo que seja capaz de responder por tudo o que tiver decidido no âmbito de
sua vontade e consciência, assumindo o ônus dos malefícios que causar em função de suas
condutas.
Ser livre para agir, não sendo forçado a fazer qualquer coisa.
A liberdade talvez seja a principal característica de um sujeito moral. Dificilmente alguém seria
considerado imoral por ter sido forçado a realizar algo que não queria fazer. No entanto, a
liberdade não é apenas a possibilidade de escolher o que fazer, mas também de determinar a si
mesmo as regras de conduta.
Vista assim, essa abordagem da liberdade a aproxima da autonomia, isto é, da capacidade de dar a si
mesmo as normas através das quais se determina o nosso modo de ser e de agir no mundo.
Se, ao responder, você conseguir identificar que você é consciente de si e das outras pessoas,
senhor de sua própria vontade, responsável pelos atos e pelas consequências que dele advierem e
não é nunca constrangido a fazer algo que não queira; então, você é um sujeito ético.
Obviamente, somos constrangidos a fazer coisas que nem sempre queremos. Uma vez que vivemos
em sociedade, somos às vezes obrigados a fazer algumas coisas que, mesmo que contrariem nossas
vontades individuais, seriam realizadas com o objetivo de promover o bem coletivo. Todas essas
ações que são realizadas porque somos obrigados(as) a fazer estão fora do escopo da moral e,
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portanto, não as realizamos como agentes ou sujeitos morais, mas por mera obrigação. O agente
moral só age como tal na medida em que o faz no meio de um processo decisório, onde haja
escolhas a serem feitas.
SAIBA MAIS
Para acompanhar com mais demora essa discussão, leia o texto “Sujeito, Autonomia e Moral”
de Marconi Pequeno, acesso no acervo da disciplina ou clique aqui, no qual encontraremos
aprofundamentos sobre a problemática do sujeito moral em sua relação com a autonomia e
os princípios da moralidade.
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