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Bianca Sanchez

Acordei. Na noite anterior eu havia dormido muito


tarde e quase que minha mãe me vê com a luz do quarto
acesa, mas por sorte consegui me virar e esconder o celular
a tempo, embora tive o azar de dormir. Agora estou aqui
com sono enquanto olho para o teto monótono do meu
quarto, e entre os poucos pensamentos que eu tenho, eu
acabo percebendo que uma luz ecoa da minha janela, com
a intensidade da manhã, aquele momento em que a luz
está clara, porém acinzentada. Pensei que talvez eu teria
acordado cedo, mesmo indo dormir tarde, mas percebi que
o céu estava apenas nublado mesmo, e o horário do meu
celular que dizia que agora eram duas da tarde comprovava
isso. Logo me levantei, vesti minha roupa de sempre, que
se baseava em uma camisa preta com a estampa de um
coração branco no centro, em referência à um rpg, uma
calça acinzentada e obviamente rasgada e minhas
chuchinhas que sempre deixo no meu braço. Quando me
olhei no espelho após me vestir, percebi que eu estava
bonita e parei para me admirar um pouco, decidi até
mesmo tirar uma foto, mas por algum motivo parece que a
foto de celular te deixa bem mais feia. Após essa sessão de
fotos que não deu certo fui escovar os dentes, prender meu
cabelo e ver se minha mãe tinha feito o café da manhã, ou
o almoço. Com leveza fechei a porta do meu quarto e
passei pelo corredor da minha casa que levava até a
escada, desci e não tinha nada na mesa, decidi ver se ela
havia mandado mensagem no whutzep, e sim, ela mandou.
Na mensagem, minha mãe dizia que havia ido no mercado,
mas isso foi às nove e meia! Será que alguma coisa
aconteceu? Provável que seja só o trânsito. Nessa hora
pensei:
-Espera, se minha mãe não está aqui, então a casa é toda
minha!
Eu fiquei feliz num primeiro instante, mas não tinha
muita coisa que eu podia fazer, já que nem meus amigos eu
podia chamar por causa dessa quarentena.
Então lá estava eu aconchegada no sofá, e eu estava
de bom humor porque eu não havia ouvido nenhum barulho
vindo da rua para atrapalhar minha série, e depois de um
tempo assistindo, decidi pegar meu celular que estava no
braço do sofá para ver as postagens no instagreen, foi
quando percebi que algo estava errado, primeiro que meus
amigos não haviam me mandado nenhuma mensagem, e
olha que eles me enchem bastante o saco pela rede social,
e em segundo, todos os posts se resumiam a “o que está
acontecendo” e em um dos posts tinha um vídeo que
quando fui assistir, acabei redirecionada para uma página
falando que o conteúdo foi tirado do ar por violar as regras
do app.
Ao rolar cada vez mais e entrar até mesmo em outras
redes sociais tive certeza, algo estava acontecendo do lado
de fora, todo mundo estava dizendo “não vou sair de casa”,
“que medo”, “isso com certeza não é real”, “Gente não se
preocupem é FAKE”, e tinha um último comentário
parecendo que era para mim dizendo “Olhe para a janela”.
Decidi olhar, levantei-me do sofá, eu estava com medo e
minha casa parecia mais fria que o normal, quando cheguei
perto da janela, abri as cortinas que impediam a luz de
chegar na sala e vi... caos?! Estava tudo uma confusão,
mas diferente do caos que as pessoas tendem a imaginar
de várias pessoas gritando, aquele não havia ninguém,
eram apenas carros incendiados, casas destruídas e vidros
queimados, além de uma fumaça tão espessa no céu que
parecia ser nuvens, e parecia tanto que no meu quarto eu
achei que eram nuvens, me virei para dentro de casa, algo
parecia diferente, o cômodo parecia mais escuro, mesmo
com a janela aberta, e ao olhar novamente para o meu
celular percebi que todos aqueles posts eram das nove e
quarenta para trás.
-Espera! minha mãe! -Disse eu em um grito.
Em meio a tudo que eu tinha acabado de ver e
pensado, aquilo era o que mais me preocupava, depois de
ver o horário, lembrei que minha mãe saíra dez minutos
antes dos últimos posts. Então naquela hora, mesmo com
medo, mesmo sentindo minha barriga embrulhar, mesmo
sabendo da quarentena, eu resolvi sair, eu precisava de
explicações! Eu precisava ver se minha mãe estava bem...
Naquela hora eu estava pensando "Que se dane", e
também "Que merda está acontecendo aqui!", e com esses
pensamentos que eu vestia meu tênis branco para poder
sair de casa, terminei de amarrar o último cadarço, respirei
fundo e abri a porta.
Quando passei pela porta, já comecei a inalar aquela
fumaça que me rodeava, e não se passaram nem trinta
segundos, eu entrei de novo em casa, subi as escadas e
peguei uma máscara que eu tinha, como ela possuía um
filtro então provavelmente iria dar pro gasto. Voltei para o
lado de fora e agora sim pronta, com frio na barriga, mas
pronta! Decidi rodear o quarteirão á procura de uma alma
sequer, olhava as casas destruídas, as ruas cheias de
buraco (embora os buracos já estivessem ali antes), papéis
em branco por todo lado, portas arreganhadas, mas
novamente ninguém.
Estava cansada, quando saí de casa eram duas e
quarenta, mas eu já estava a cerca de uma hora aqui fora,
meu celular já dizia que eram três e quarenta, eu estava
sentindo o vento esfriar de pouco em pouco, mas como eu
estava caminhando, não sentia muito frio, minhas pernas
começaram a tremer de pouco em pouco, e se o mercado
que minha mãe foi não ficasse tão longe, eu saía desses
quarteirões que andei e ia até ela, mas no momento, eu
duvidava até mesmo se conseguiria voltar para casa com
as pernas bambas do jeito que estavam, e enquanto eu me
perdia nesse medo e insegurança, acabei vendo um homem
mais a diante, era um homem até que grande comparado
comigo, ele devia estar entre um e setenta ou um e oitenta,
ele estava vestindo um terno preto, tinha uma barba feita,
e seu cabelo era curto com um topete, parecia um homem
de negócios embora ele não parecesse tão velho. Decidi me
aproximar e aumentando minha voz de pouquinho em
pouquinho fui me aproximando. Ele estava agachado
quando falei:
-Licença...
-Ahn? -Ele fez uma espécie de grunhido enquanto de costas
para mim.
-Licença, você sabe o que está acontecendo, onde está
todo mundo? -Eu dizia começando a relaxar um pouco.
-Não tenha medo. -Disse ele ainda de costas para mim.
-Mas... eu não estou com medo do sen...
Naquela hora eu travei, o tempo parecia mais lento,
quando ele virou seu rosto para minha direção, eu não sei
porque, mas meu coração acelerou, senti um impulso dizendo
"CORRA!!", eu percebi que estava em uma situação de vida ou
morte, quando ele virou seu rosto e eu vi seu olhar, percebi...
“ele é perigoso!”. Lentamente fui movendo-me para trás,
enquanto ele fixamente olhava para mim, igual um predador
olha sua presa, quando virei e comecei a correr, ele veio tão
rápido quanto, na tentativa de não me deixar escapar, e
minhas pernas que tremiam mais que tudo, agora tinham força
para correr uma maratona, olha, eu nem sabia que eu podia
correr tão rápido, acho que isso é o que chamam de
adrenalina, pensei.
Enquanto eu corria no meio daquelas ruas em caos, eu
gritava por ajuda, e ninguém vinha me ajudar, eu estava
desesperada, e quando olhava para trás ele se aproximava
cada vez mais, pensei que morreria, então vi um beco adiante.
Quando virei naquele beco, ele dava para outra rua,
entretanto, numa das paredes desse beco tinha uma porta,
torci para que estivesse aberta, e estava! Não pensei duas
vezes em entrar pela porta, apertei a tranca e fiquei na espera,
ouvi então os passos daquele homem passando pelo beco e
chegando ao outro lado. Quando ouvi que ele havia passado
por mim, me apoiei na parede do lado da porta e fui deslizando
de pouco em pouco minhas costas até que estivesse sentada
no chão, quando sentei, silenciosamente comecei a chorar,
não sabia se era por causa da minha mãe, ou por causa do
medo que eu estava daquele cara, ou por eu não saber o que
estava acontecendo. Quando as lágrimas já não saiam,
olhei ao meu redor, eu estava em um quartinho parecendo um
quarto de despejos, ele estava cheio de tralhas, vi também, na
parede oposta a que eu estava, uma outra porta, que
provavelmente levaria ao lado interno do edifício em que
entrei, e eu queria sair logo daquele quartinho, ele fedia a
poeira, então quando fui levantar-me acabei caindo, por causa
de toda a adrenalina do momento passado, eu não tinha mais
forças para andar, minhas pernas estavam paralisadas.
Naquele momento, me senti fraca, impotente, apavorada e
sozinha, sem esperanças e sem saber o que era aquele caos
que ocorria dentro e fora de mim. Não tinha ninguém com
quem eu pudesse falar? Não tinha ninguém com a qual eu
poderia gritar meus desabafos ou sofrer junto? E é quando o
bolso da minha calça começa a vibrar, "Meu celular!" pensei.
Será que algum amigo meu ou familiar havia me mandado
mensagem? Não, era só um desconhecido, normalmente eu
iria ignorar a mensagem, mas dadas as circunstâncias... Fui
ver, era uma mensagem do instagreen, fui ver de quem era o
perfil, era de um menino que deveria ter mais ou menos treze
anos igual á mim, o nome dele era ArthuGai_Atirador, quando
li pensei se realmente valia a pena conversar com alguém que
tinha aquele nome, mas não é como se eu tivesse outra opção,
ele tinha cabelos pretos e era tão pálido quanto eu, então
depois de ver as fotos dele entrei no chat que ele me chamou.
-Oi Bianca. -Dizia a mensagem que ele mandou.
Pensei, ok ele iniciou a conversa de um jeito normal,
vou fazer a mesma coisa...
- Man SOCORRO, q q ta aconteceno!!!
Certo, não saiu tão normal quanto eu esperava, mas
achei que tinha passado uma boa mensagem, então ele me
respondeu...
-kk
Como assim ele me manda kk, sério, será que é só
aqui que tem essas coisas acontecendo? Eu acabei de pedir
ajuda e ele manda só kk!
-Não se preocupe, vou te ajudar, sei de tudo que está
acontecendo.
-Sério então me explica pq eu tô louca aqui!!
-Ok, assiste esse vídeo.
Ele me enviou um vídeo e quando abrí fiquei branca,
mais branca do que o normal, o vídeo era de um carro
batendo em outro, os dois explodindo e de repente de um
dos carros sai uma mulher, sem arranhado nenhum, e
começa a correr pra cima de quem estava filmando, de
uma maneira bem mais rápida do que qualquer humano
correria.
-Q merda é essa!!
Perguntei para ele, e em resposta ele mandou...
-É isso que está acontecendo Sanchez.
-Como assim e espera, como você sabe meu sobrenome??
Saber meu primeiro nome até td bem, já que está nas
minhas informações, mas meu sobrenome... Quem é vc??
-Não sai daí!
-Espera que?!?
-Tem alguém ai por perto! Só fica onde está!
-Como vc sabe onde eu estou? Ah acabei de ver, meu gps
está ligado, mas mesmo assim...
-É o seguinte está vendo essa porta que leva para a parte
interna deste edifício
-Espera como você sabe tanta coisa do lugar onde eu
estou?
-Ok você está vendo a porta. Faz o seguinte, atravesse a
porta suba dois lances de escada e entre na terceira porta a
direita.
-Mas e se alguém me ver??
-Acho que você ainda não entendeu né, não tem essa de
alguém, não tem ninguém aí, pelo menos não que se possa
chamar de gente, agora eu tenho de ir.
-Mas como assim, me explica!
Ok, ele não estava mais visualizando minhas
mensagens, eu fiquei confusa, mas senti que devia fazer o
que ele disse, levantei-me ou melhor, fiquei no chão,
porque minhas pernas ainda não haviam voltado ao normal.
Ali estava eu então, ainda paralisada, num quarto escuro
cheirando a mofo e poeira, que bom que eu havia pego a
minha máscara de filtrar ar, pensei eu, mas mesmo com a
máscara achei que seria bom abrir a porta do meu lado
para entrar um pouco de ar, foi difícil alcançar a maçaneta
sem poder levantar e ao abrir, ví pela fresta, que já estava
escuro! Como? Que horas são, eu nem reparei nas horas
que meu celular mostrou quando fui olhar as mensagens
daquele Arthur... Espera cinco e vinte? Como está tão
escuro sendo que ainda é cinco e vinte!
Depois de ficar cerca de uns dez minutos ouvindo
música, minhas pernas voltaram ao normal, mas eu devo
ter ficado pelo menos uma meia hora sentada aqui, pensei
para comigo mesma. Decidi levantar-me e comecei a ir até
o local que o Arthur havia me indicado, primeiro fiquei de
frente com a porta que daria para o interior do edifício,
depois pensei em voz alta:
-Espera, não tem nenhum edifício perto de onde eu moro,
será que eu corri pra tão longe assim?!
Percebi que não adiantava eu pensar muito nisso
agora, então dei uma respirada funda igual eu havia feito
antes de sair de casa e abri a porta. Quando abri vi que não
era um edifício empresarial igual eu havia pensado, e sim
que era um prédio de apartamentos, e na boa, é muito
estranho ter um prédio desses com tão fácil acesso, mas ok
né. A base do prédio que era aonde eu me encontrava,
tinha duas grandes janelas na suposta entrada, mas eu não
conseguia ver nada do lado de fora, porque estava muito
escuro mesmo sendo cinco e meia, além disso tinha uma
escada do meu lado direito e do meu lado esquerdo, dois
elevadores, o ambiente alí no prédio era bem gelado, isso
por causa dos ar-condicionados. Depois de avaliar o prédio
pensei em ir pelos elevadores, mas pensei melhor e decidi
ir pelas escadas igual na mensagem. Após eu subir dois
lances de escadas, peguei meu celular de novo para ver
qual era a porta que eu tinha de entrar, porque tinha batido
um branco, nessa hora vi que eu estava sem nada de
internet, então não daria para eu me comunicar com
ninguém, não que desse muito antes... Peguei meu celular
e li em voz alta para não esquecer.
-Terceira porta a direita... Achei, está no meio do corredor.
Quando eu disse isso comecei a ouvir passos no andar
onde eu estava, e eu posso afirmar com toda certeza que
não eram os meus, já que eu estava parada. Foi quando eu
vi uma sombra no final do corredor, pensei por um
momento em pedir ajuda, mas no mesmo segundo lembrei
do cara me perseguindo, da mulher saindo do carro em
chamas e da mensagem daquele garoto falando que não
havia ninguém onde eu estava, que pudesse ser chamado
de gente. Na hora eu saí correndo enquanto tentava não
fazer barulho, e fechei a porta no meio do corredor bem
devagarzinho, antes que aquele vulto pudesse me ver, e ali
enquanto eu olhava com medo pra porta, eu pensei:
-Espero que essa merda não seja um apocalipse, mas acho
que é impossível, não é como se isso aqui fosse um filme ou
um livro! -Acabei falando livro em voz alta.
Calma, pensei. Aquela suposta coisa ali fora não deve
ter ouvido, eu acho... "Que droga" disse bem baixinho...
"Não posso nem me aprofundar em um pensamento que já
começo a pensar alto, e se eu tivesse sido pega?! Ah foco,
não adianta eu reclamar de algo que já fiz". E logo após
pensar isso eu me viro e... Espera o que?!? Que raios é
isso?!

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