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AO JUÍZO DA ____ VARA DE FAZENDA PÚBLICA DO DISTRITO FEDERAL E TERRITÓRIOS

Maria Joaquina , 4º Sargento QBMG 01, e-mail xxxx@gmail.com, inscrito no CPF sob o nº
yyyyyyyyyy, portadora do RG AAAAAAA CBM/DF, residente e domiciliada no —--------------, CEP
6666666666, cidade de Brasília/DF, vem, por seus procuradores, inscritos na OAB/DF, com
fundamento no artigo 1º, da Lei 12.016/2009, impetrar

MANDADO DE SEGURANÇA COM PEDIDO DE LIMINAR

Contra ato da Ilustríssima Senhora COMANDANTE GERAL DO CORPO DE BOMBEIROS


MILITAR DO DISTRITO FEDERAL, a qual apresenta endereço profissional sito ao QCG –
xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx e em face do DISTRITO FEDERAL, pessoa jurídica de direito
público, CNPJ YYYYYYYYYYYYYYYY com sede no Palácio do Buriti, Praça do Buriti,
Brasília/DF, CEP 70.075-900 pelos motivos de fato e de direito a seguir expostos:

I – DA COMPETÊNCIA DA VARA DA FAZENDA PÚBLICA

Conforme a legislação vigente, cite-se a Lei nº 11.697/2008, alterada pela Lei nº


13.850/2019, a qual dispõe sobre a organização judiciária do Distrito Federal e Territórios, em
seu artigo 26, inciso I e III, observa-se que cabe ao juízo da Vara da Fazenda Pública do Distrito
Federal processar e julgar o presente feito.

II – DA TEMPESTIVIDADE

Preliminarmente, salienta-se que o presente mandado é tempestivo, em razão de o prazo


para impetração deste estar amoldado ao que preceitua o artigo 23 da Lei n. 12.016/2009, ou
seja, decorridos até 120 (cento e vinte) dias, contados a partir da ciência, pelo interessado, do
ato impugnado. No presente caso, como ocorre mês a mês a repetição do ato praticado pela
autoridade coatora, o prazo decadencial renova-se a cada pagamento ou antecipação da
Gratificação Natalina.

III - DO CABIMENTO

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É cabível mandado de segurança com fulcro no artigo 5º, LIXIX da Carta Magna e artigo
1º e seguintes da Lei nº 12.016/09 sempre que houver ato administrativo que se queira anular
em virtude de ser violador de direito líquido e certo.

O caso em apreço se amolda ao cabimento do mandamus. Em apertada síntese, tem-se


a supressão da incidência dos auxílios moradia e alimentação nas gratificações de natal ano a
ano, em cada mês remuneratório, fora dos moldes legais.

Ressalte-se que a súmula 625 do Supremo Tribunal Federal assim dispõe:

Controvérsia sobre matéria de direito não impede concessão de mandado de


segurança.

DJ de 09/10/2003, p. 1; DJ de 10/10/2003, p. 1; DJ de 13/10/2003, p. 1.

Do que pode se extrair que ainda que haja a controvérsia há que se decidir de modo a
não trazer prejuízo decisório para o remédio constitucional ora subscrito.

IV – DA GRATUIDADE DE JUSTIÇA

Mediante a juntada da documentação anexada, constante da ficha financeira de 2023,


juntamente com a declaração de pobreza jurídica, resta comprovado os escassos vencimentos
líquidos da impetrante.

Cumpre informar que a impetrante se encontra em situação financeira desfavorável,


possuindo parcelas de empréstimos junto ao banco pagador, o que pode ser atestado pela ficha
financeira de 2022, de modo que o valor líquido mensal que remanesce a título de remuneração
tem girado em torno de R$ XXXXXX reais utilizados totalmente para garantir o mínimo
existencial dela e de sua família.

Assere-se que o valor tem custeado também despesas com saúde que a pandemia
trouxe com sua filha adolescente, sua dependente, sendo que a menor impúbere encontra-se em
acompanhamento psiquiátrico inclusive de modo a promover uma melhora em seu quadro de
saúde, sem contar as sessões de psicopedagogia que realiza também em clínica de
acompanhamento particular conforme documentação anexa.

Ressalte-se que tais rendimentos destinam-se à renda familiar, bem como aos cuidados
com a sua mãe, sua dependente, que inclusive mora com a impetrante, sendo que os cuidados
de consultas, exames, manutenção da casa de sua genitora (uma edícula dentro do mesmo lote)
restam todos às suas expensas.

A hipossuficiência econômica é a condição que ocorre quando uma pessoa – física ou


jurídica – manifesta incapacidade financeira para custear as despesas relacionadas ao acesso à

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justiça. Isso significa que essa pessoa não consegue pagar taxas e custas da tramitação do
processo, sem prejudicar seu sustento básico.

Ainda, a hipossuficiência jurídica não deve ser confundida com a inexistência absoluta
de vencimentos ou até mesmo de miserabilidade, pois a “pobreza” jurídica refere-se a
prejudicialidade do pagamento de despesas processuais face ao mínimo existencial que deve
ser assegurado ao impetrante.

A assistência judiciária gratuita é assegurada pelo art. 5º, LXXIV, da CF/88, que exige
como requisito simples afirmação da parte de que não tem condições de suportar o pagamento
das despesas processuais.

A presunção da declaração de hipossuficiência goza de presunção juris tantum, somente


sendo desconstituída por prova contrária, senão vejamos o que determina o §3º, do art. 99, do
CPC: "presume-se verdadeira a alegação de insuficiência deduzida exclusivamente por pessoa
natural".

Não basta provar que a parte possua renda, mas que essa renda possa ser disposta sem
prejuízo do sustento próprio e da família da impetrante.

Trazemos o entendimento do nobre Desembargador Sebastião Barbosa Farias, em voto


proferido nos autos do TJ-MT: 1011857-14.2021.8.11.0000 MT, verbis:

AGRAVO DE INSTRUMENTO – AÇÃO DE EXECUÇÃO DE TÍTULO


EXTRAJUDICIAL – INDEFERIMENTO DA GRATUIDADE DE JUSTIÇA -
JUSTIÇA GRATUITA CONCEDIDA – HIPOSSUFICIÊNCIA DEMONSTRADA -
RECURSO PROVIDO. Não há óbice a concessão da gratuidade da justiça a
agravante, diante da demonstração de sua hipossuficiência, vez que a simples
afirmação da parte sobre a impossibilidade de arcar com as custas sem prejuízo de
seu sustento e de sua família, é suficiente para a obtenção do benefício. Para o
deferimento da justiça gratuita não se exige o estado de miséria ou
indigência absoluta, mas pobreza na acepção jurídica do termo. (grifo
nosso)

(TJ-MT 10118571420218110000 MT, Relator: NILZA MARIA POSSAS DE


CARVALHO, Data de Julgamento: 21/09/2021, Primeira Câmara de Direito
Privado, Data de Publicação: 27/09/2021)

Ainda, segundo o entendimento do TJDFT, a gratuidade de justiça pode ser requerida em


qualquer tempo e fase processual, inclusive recursal.

Assim, o que se pretende infirmar é que a impetrante não teria como arcar com as
custas sem prejuízo de sua subsistência, assim reforçando-se a necessidade da gratuidade de
justiça. Próprio declaração gera a presunção relativa dessa necessidade, veja-se:

PROCESSO CIVIL. AGRAVO DE INSTRUMENTO. GRATUIDADE DE JUSTIÇA.


DESPESAS PROCESSUAIS. INSUFICIÊNCIA DE RECURSOS. COMPROVAÇÃO.
DEFERIMENTO. 1. Consoante entendimento desta Corte, a declaração da parte

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interessada de que não tem condições de arcar com as custas processuais, sem
prejuízo de seu sustento ou de sua família, gera a presunção relativa da
necessidade de gratuidade de justiça. 2. A presunção de veracidade da
necessidade de justiça gratuita pode ser afastada pelo próprio magistrado,
quando houver nos autos elementos que demonstrem a capacidade de custeio
das despesas processuais pela parte requerente, conforme art. 99, § 2º, do
Código de Processo Civil. 3. Recurso provido.

(TJ-DF 07131711620208070000 DF 0713171-16.2020.8.07.0000, Relator:


MARIO-ZAM BELMIRO, Data de Julgamento: 13/08/2020, 8ª Turma Cível, Data de
Publicação: Publicado no DJE : 01/09/2020 . Pág.: Sem Página Cadastrada.)

Dessa sorte, a impetrante não possui condições de arcar com as despesas/custas


processuais sem prejuízo de seu sustento e de sua família.

Requer, portanto, a concessão da gratuidade de justiça no presente feito, nos termos dos
artigos 98 e seguintes do Código de Processo Civil.

V – DA LIMINAR

O artigo 7º, inciso III da lei nº 12.016/09 estabelece como requisitos para concessão da
liminar o fundamento relevante do pedido e o perigo de ineficácia da medida.

O perigo da ineficácia da medida decorre do fato de que a análise do contexto fático e


jurídico demonstra que há iminente risco de prejuízo irreparável no caso dos autos, uma vez que
o art. 7º, do Decreto-Lei 2.317/86 garante o recebimento da verba entre os meses de janeiro e
novembro, conforme as hipóteses dos parágrafos do citado dispositivo.

E o fundamento relevante encontra respaldo em havendo a manutenção da decisão


ilícita, o que neste caso, violaria diretamente os direitos vindicados pela impetrante neste
mandamus, afetando direito fundamental da impetrante.

Tal não merece prosperar em um Estado Democrático de Direito, como o é a República


Federativa do Brasil.

Nessa prumada, face à iminência do resultado do ato coator, tem-se caracterizada a


urgência e o perigo da demora, para que este Juízo determine, de imediato, à impetrada, que
faça as devidas correções para que haja o pagamento escorreito da Gratificação Natalina devida
à impetrante.

Outrossim, em razão da fundamentação exposta alhures lastreada em preceitos legais e


constitucionais, evidencia-se ainda o direito pleiteado.

Assim, uma vez clarificados que sim, existem os elementos necessários, torna-se
necessária a concessão da medida liminar para que em sede de juízo de cognição sumária seja
determinado à impetrada, o pagamento da Gratificação Natalina com a inclusão do valor integral
devido a título de Auxílio Moradia e Etapa Alimentação.

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VI - DOS FATOS

A impetrante atualmente é uma praça graduada, compondo as fileiras do CBMDF desde


14/08/1975 e atualmente é quarto Sargento QBMG-1, militar da ativa, conforme demonstrado
em documentos anexos.

Em todo o período atuando como militar na corporação, qual seja, o Corpo de Bombeiros
Militar do Distrito Federal (CBMDF), a impetrante em nenhum momento em seus rendimentos
teve a percepção de sua gratificação natalina no montante a que faz juz, havendo assim
flagrante desrespeito ao enunciado no art. 9º do Decreto-Lei 2.317/1986. Tal fato é acusado nas
fichas financeiras e contracheques anexos.

Que os comprovantes de rendimentos trazidos aos autos a partir do ano de 2018


comprovam que a impetrante recebe regularmente os valores de Auxílio Moradia e Etapa de
Alimentação, em caráter permanente , conforme preconizado nas alíneas “e” e “f”, do inciso I, do
art. 2º c/c art. 1º, ambos da Lei 10.486/2002, in verbis:

Art. 2º Além da remuneração estabelecida no art. 1º desta Lei, os militares do


Distrito Federal têm os seguintes direitos pecuniários:

I - observadas as definições do art. 3º desta Lei:

[...]

e) auxílio-alimentação;

f) auxílio-moradia;

Excelência, é possível verificar que os contracheques deixam claro que, para o cálculo do
valor a pagar da Gratificação Natalina à impetrante, a impetrada não levou em consideração o
comando dos arts. 6º e §1º, do art. 7º, ambos do Decreto-Lei 2.317/2002, conforme
demonstrado a seguir:

1) Leitura do estabelecido no Caput do art. 6º, Decreto-Lei 2.317/2002

Estabelece que a gratificação de natal corresponderá a 1/12 (um doze avos) calculados
sobre a “remuneração a que o funcionário fizer jus em dezembro”, que, em síntese, traduz que o
valor integral da verba deve ser paga com base na percepção remuneratória de dezembro.

2) Texto legal do §1º, do art. 7º, do Decreto-Lei 2.317/2002:

Depreende-se, da leitura atenta ao § 1º do artigo 7º do decreto-lei em referência que


pode ocorrer de o pagamento da gratificação natalina ser efetuado antecipadamente, entre os
meses de janeiro a novembro, no valor correspondente a metade da remuneração recebida pela
impetrante no mês anterior ao pagamento da verba.

3) Orientação contida no Caput do art. 9º do Decreto-Lei 2.317/2002:

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Dispõe que, in verbis:
para efeito de pagamento da Gratificação de Natal, entende-se como remuneração o
vencimento ou o soldo e as vantagens de caráter permanente, da qual se extrai que o
valor da gratificação é a soma dos seguintes:
●​ Soldo;
●​ Adicionais e gratificações elencados no art. 1º da Lei 10.486/2002
●​ Direitos pecuniários discriminados nas alíneas “e” e “f”, do inciso I, do art. 2º, da
Lei 10.486/2002

Frise-se que o art. 3º, incisos XIII e XIV da Lei 10.486/2002 delineia, mais acuradamente,
os auxílio alimentação e o auxílio-moradia, in verbis:

Art. 3º Para os efeitos desta Lei, entende-se como:


[...]
XIII - auxílio-alimentação - direito pecuniário mensal devido ao militar para
custear gastos com alimentação, regulamentado pelo Governo do Distrito
Federal;

XIV - auxílio-moradia - direito pecuniário mensal devido ao militar, na ativa e


na inatividade, para auxiliar nas despesas com habitação para si e seus
dependentes, conforme a Tabela III do Anexo IV, regulamentado pelo Governo
do Distrito Federal; (Grifou-se)

Dessa forma é inconteste que o pagamento vem sendo realizado à margem da estrita
legalidade, conforme foi demonstrado.

VII - DO ATO ILEGAL DA AUTORIDADE COATORA

Em detrimento do que orienta a legislação que trata da remuneração referente aos


militares das forças auxiliares, a impetrada segue à margem do comando legal, suprimindo do
cômputo da remuneração, da rubrica gratificação natalina as vantagens pecuniárias recebidas
de forma permanente, quais sejam, auxílio-moradia e auxílio-alimentação.
Em razão do erro no cálculo em referência, também deixa de ser paga com base na
remuneração a que a impetrante tem direito no mês de dezembro do respectivo ano de
pagamento da verba em questão, conforme se observa nos comprovantes de rendimento em
anexo.

Em uma análise mais acurada dos contracheques supracitados resta clarificado que a
autoridade coatora têm retido, de forma indevida, dos cálculos, valores expressos de forma
literal na legislação em referência, conforme planilha em anexo que discrimina os valores pagos
e os valores efetivamente devidos.

Dessa forma, Excelência as verbas permanentemente recebidas de auxílio moradia e


etapa de alimentação para fins de pagamento da gratificação natalina não têm sido levadas em
conta no cômputo da remuneração da forma adequada e legal.

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Por outro lado, quando da ocorrência do pagamento da gratificação no mês de
novembro, ao invés de considerarem o valor da remuneração do mês de dezembro para o
pagamento integral da verba, a impetrada somente considerou a remuneração bruta do mês de
novembro, já descontadas as verbas permanentes de auxílio moradia e etapa de alimentação, o
que avoluma os prejuízos da impetrante, tendo em vista que em alguns anos pode ocorrer de
serem desconsiderados reajustes das verbas de caráter permanente auferidos pelos militares no
decorrer do ano.

Do exposto, este mandamus é justificado na negativa da impetrada em dar


cumprimento ao comando do art. 9, do Decreto-Lei nº 2.317/2002.

VIII - DO MÉRITO

1)​ DAS VERBAS DE CARÁTER PERMANENTE

Para análise do mérito, quanto à necessidade de se considerar que o auxílio-moradia e a


etapa alimentação tratam-se de vantagens de caráter permanente para os fins determinados
pelo art. 9º. do Decreto-Lei 2.317/86, é preciso buscar analogia jurisprudencial junto ao TJDFT,
que em análise ulterior decidiu se a Gratificação por Serviço Voluntário também viria a compor o
cálculo da gratificação natalina.

Assim apresenta-se o acórdão paradigma proferido no RECURSO INOMINADO


0735090-52.2016.8.07.0016, in verbis:

JUIZADOS ESPECIAIS DE FAZENDA PÚBLICA. DIREITO ADMINISTRATIVO.


POLICIAL MILITAR DO DISTRITO FEDERAL. GRATIFICAÇÃO DE SERVIÇO
VOLUNTÁRIO. CARÁTER NÃO PERMANENTE. CÁLCULOS DE GRATIFICAÇÃO
NATALINA, ADICIONAL DE FÉRIAS E AUXÍLIO FARDAMENTO. NÃO INCIDÊNCIA.
RECURSO CONHECIDO E NÃO PROVIDO. SENTENÇA MANTIDA.

Em suma, cuida-se de recurso inominado interposto pela parte autora contra a


r. sentença que julgou improcedente o pedido inicial. Foi alegado que é policial
militar e que a Lei nº. 10.486/2002 instituiu a gratificação de serviço
voluntário, que faz parte da remuneração dos militares do Distrito Federal,
devendo incidir nos cálculos de gratificação natalina, férias e
auxílio-fardamento.
Subsidiariamente, requereu o pagamento da gratificação na proporção de
1/11 (um onze avos) da soma das importâncias, nos termos do artigo 2º do
Decreto nº. 57.155/1965. O recorrido pugnou pela confirmação da sentença.

​ Veja-se, o Serviço Voluntário está previsto na Lei nº. 10.486/2002, nos seguintes termos:

Art. 1º A remuneração dos militares do Distrito Federal - Polícia Militar e Corpo de


Bombeiros Militar, compõe-se de:
I - soldo;
II - adicionais:
a) de Posto ou Graduação;

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b) de Certificação Profissional;
c) de Operações Militares;
d) de Tempo de Serviço, observado o art. 62 desta Lei;
III - gratificações:
a) de Representação;
b) de função de Natureza Especial;
c) de Serviço Voluntário. (...)
Art. 3º Para os efeitos desta Lei, entende-se como:
VIII - gratificação de Serviço Voluntário - parcela remuneratória devida ao militar
que voluntariamente, durante seu período de folga, apresentar-se para o serviço de
policiamento, prevenção de combate a incêndio e salvamento, atendimento
pré-hospitalar ou segurança pública de grandes eventos ou sinistros, com jornada
não inferior a 8 (oito) horas, na conveniência e necessidade da Administração,
conforme regulamentação a ser baixada pelo Governo do Distrito Federal.

A Gratificação de Serviço Voluntário, tratou então da excepcionalidade, ou seja, da


remuneração do serviço excepcional prestado além da jornada regular, ou seja, possui natureza
remuneratória. No entanto, não pode tal vantagem ser abarcada ao patrimônio para fins de
reflexo nos cálculos da gratificação natalina, no adicional de férias e no auxílio-fardamento, dado
o seu caráter transitório, e que não ocorre de forma hodierna, contínua.

Assim, reafirme-se a Lei nº. 10.486/02 dispõe sobre a gratificação natalina, da seguinte
forma:

Art. 2º Além da remuneração estabelecida no art. 1º desta Lei, os militares do


Distrito Federal têm os seguintes direitos pecuniários:
ll - observada a legislação específica:
d) adicional natalino.

O Decreto-Lei nº. 2.317/1986 dispôs que o pagamento da gratificação natalina aos


bombeiros militares do Distrito Federal utilizaria a seguinte base de cálculo:

Art. 9º Para efeito de pagamento da Gratificação de Natal, entende-se como


remuneração o vencimento ou o soldo e as vantagens de caráter permanente.

Depreende-se no caso em tela que, diferentemente do acórdão 1021771, que tratava do


serviço voluntário, no caso em apreço está demonstrado que as verbas são de caráter
permanente, devendo incidir nas parcelas de gratificação de natal.

O acórdão em referência julgou sobre a possibilidade ou não da inclusão do valor pago


ao recorrente a título de gratificação de serviço voluntário, como vantagem de caráter
permanente. E, ao fim entendeu-se por seu caráter provisório, como de fato o é.

Todavia no referido acórdão restou claro o reconhecimento de que, para os efeitos do


art. 9º, do Decreto-Lei nº. 2.317/1986, faz-se necessário que os direitos pecuniários que
compõem o valor da gratificação natalina, possuam caráter permanente.

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Os autos em questão tratam das verbas de auxílio-moradia e etapa alimentação, as
quais estão previstas nos incisos XIII e XIV, do art. 3º, da Lei 10.486/02, como direitos
pecuniários mensais devidos aos militares da ativa e da inatividade.

Há excepcionalidade quanto aos inativos, que só percebem em sua remuneração o


auxílio moradia.

Arremata-se assim que o auxílio-moradia e a etapa alimentação, são verbas recebidas


mensalmente, possuem caráter permanente, trato sucessivo e contínuo e das quais pode-se
auferir valor previamente estipulado, o que se subsunta ao contido no art. 9º, do Decreto-Lei nº.
2.317/1986, e por conseguinte, deve integrar o cálculo da gratificação natalina devida à
impetrante.

Ainda, ressalta-se que há jurisprudência recente deste douto tribunal no qual deu-se
provimento a recurso, de forma parcial, em razão de se tratar de militar da inatividade.

O acórdão nº 1627933 observou, com clareza, na apelação cível nº


0709954-71.2021.8.07.0018, a correta aplicação e eficácia do art. 9º do Decreto-Lei 2.317/86,
que determina que, para o cálculo da gratificação natalina, as vantagens de caráter permanente
– auxílio-moradia e etapa alimentação – devem ser consideradas como remuneração.

Há que se sopesar, Excelência, que o §1º do art. 42 da Constituição Federal, que


determina que “aplicam-se aos militares dos Estados, do Distrito Federal e dos Territórios, além
do que vier a ser fixado em lei, as disposições do art. 14, § 8º; do art. 40, § 9º; e do art. 142, §§
2º e 3º, cabendo a lei estadual específica dispor sobre as matérias do art. 142, § 3º, inciso X,
sendo as patentes dos oficiais conferidas pelos respectivos governadores” que a legislação em
referência não tem sido observada, pois as normas dispostas tratam de servidores civis, sendo
que a dos militares é o Decreto nº 2.317/86, o qual não foi observado traduzindo-se em violação
ao princípio da legalidade estrita, princípio este imposto à administração. De forma que o
objetivo do comando do art. 9º do Decreto-Lei 2.317/86 é fazer incidir todas as vantagens de
caráter permanente no cômputo da gratificação natalina.

Aplicando-se uma hermenêutica sistemática dos dispositivos balizados,o que se pode


compreender é que o auxílio-moradia e o auxílio alimentação (para os militares da atividade,
como o é o caso) das forças auxiliares do Distrito Federal reveste-se de caráter de verba
remuneratória, fazendo parte da base de cálculo da gratificação natalina. Veja-se:

DIREITO ADMINISTRATIVO E PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO DE SEGURANÇA.


SERVIDOR PÚBLICO. BOMBEIRO MILITAR DISTRITAL DA RESERVA REMUNERADA.
GRATIFICAÇÃO NATALINA. REMUNERAÇÃO. BASE DE CÁLCULO.
AUXÍLIO-MORADIA E AUXÍLIO-ALIMENTAÇÃO. NATUREZA.
AUXÍLIO-ALIMENTAÇÃO (ETAPA ALIMENTAÇÃO). VERBA DE CARÁTER
INDENIZATÓRIO E TRANSITÓRIO. GRATIFICAÇÃO ASSEGURADA APENAS AOS
MILITARES DA ATIVA. INCLUSÃO NA BASE DE CÁLCULO DA GRATIFICAÇÃO
NATALINA. INVIABILIDADE. VERBA NÃO INTEGRANTE DA REMUNERAÇÃO.
AUXÍLIO-MORADIA. VERBA DE CARÁTER PERMANENTE ASSEGURADA,
INCLUSIVE, AOS INATIVOS. VERBA QUE COMPÕE A REMUNERAÇÃO DO

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SERVIDOR. INTEGRAÇÃO À BASE DE CÁLCULO DA GRATIFICAÇÃO NATALINA.
EXPRESSA PREVISÃO LEGAL (DECRETO-LEI Nº 2.317/86, ART. 9º). SEGURANÇA.
CONCESSÃO PARCIAL. APELO PARCIALMENTE PROVIDO. 1. Segundo o regime
remuneratório dos militares do Distrito Federal - policiais militares e bombeiros
militares -, fazem jus ao pagamento da gratificação natalina, conforme o art. 8º
Decreto nº 2.317/86, em valor igual aos proventos ou pensões auferidos no mês
de dezembro, e, a seu turno, as verbas compreendidas na remuneração dos
militares são expressamente pontuadas pelo legislador especial (Lei nº 7.479/86,
arts. 1º e 54; Lei nº 10.486, arts. 1º, 20 e 21). 2. Além da remuneração assim
definida, os militares do Distrito Federal fazem jus, além de outras verbas de
natureza indenizatória, ao auxílio-alimentação e ao auxílio-moradia, sendo que,
quanto àquela parcela, não é assegurada aos servidores inativos, enquanto essa
última é assegurada, inclusive, aos militares inativos, denotando seu caráter
permanente, e, portanto, integrante da remuneração do militar, a despeito da
omissão legislativa havida ao tratar dessa questão (Lei nº 10.486/02, arts. 2º, I, “e”
e “f”, e 3º, XIII e XIV). 3. Estabelecendo o artigo 6º do Decreto-lei nº 2.317/86 -, ao
dispor sobre a gratificação de natal -, que será calculada com base de incidência
na remuneração a que o funcionário fizer jus em dezembro, por mês de efetivo
exercício, e dispondo o artigo 9º desse mesmo normativo que, para “efeito de
pagamento da Gratificação de Natal, entende-se como remuneração o
vencimento ou o soldo e as vantagens de caráter permanente”, não
remanescendo dúvida de que a remuneração compreende, pois, o vencimento
básico e as vantagens de caráter permanente, o auxílio-moradia assegurado aos
servidores militares, encerrando natureza permanente, pois assegurado inclusive
aos servidores inativos, deve ser considerada na base de cálculo da gratificação
natalina. 4. A construção segundo a qual o auxílio-moradia é verba de natureza
permanente, integrando a remuneração do militar da ativa e inativo, não é
infirmada mediante invocação do disposto nos artigos 1º e 54 da Lei nº 7.479/86
e nos artigos 1º, 20 e 21 da Lei nº 10.486, que dispõem sobre a compreensão da
remuneração dos militares do Distrito Federal, à medida em que, consoante
orientam as regras de hermenêutica, o ordenamento jurídico deve ser interpretado
de forma coerente, unitário e harmônico, não podendo um dispositivo ser
invocado para restringir o alcance de outro. 5. Ao intérprete, defronte aparente
dicotomia de dispositivos normativos, deve valer-se da hermenêutica, e manejar
a técnica da interpretação sistemática, cotejando de forma sistemática todos os
dispositivos para deles extrair o comando positivado de forma harmônica e
coerente, e assim é que, mediante interpretação sistemática dos dispositivos que
tratam da matéria, inviável que, tratando-se de verba de natureza permanente, o
auxílio-moradia destinado aos militares locais não seja tratado como verba
remuneratória, e, portanto, integrante da base de cálculo da gratificação natalina
(Lei nº 7.479/86, arts. 1º e 54; Lei nº 10.486, arts. 1º, 2º, I, “e” e “f”, 3º, XIII e XIV, 20
e 21; Decreto-lei nº 2.317/86, arts. 6º e 9º). 6. Apelação conhecida e parcialmente
provida. Unânime.

(TJ-DF 07099547120218070018 1627933, Relator: TEÓFILO CAETANO, Data de


Julgamento: 19/10/2022, 1ª Turma Cível, Data de Publicação: 28/10/2022) (grifo
nosso)

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2)​ DO MODUS OPERANDI CORRETO DO CÁLCULO

1ª PARCELA OU ANTECIPAÇÃO

Em conformidade com a norma contida no §1º, do art. 7º, a soma correta é a


seguinte:
●​ metade do: Soldo (mês anterior ao pagamento)
●​ Adicionais e gratificações do art. 1º da Lei 10.486/2002 (mês anterior ao
pagamento)
●​ Vantagens de caráter permanente, alíneas “e” e “f”, do inciso I, do art. 2º,
da Lei 10.486/2002 (mês anterior ao pagamento)

2ª PARCELA (paga em novembro)


A parcela em referência deve ser adimplida nos termos dos arts. 6º e 9º,
somando -se, da seguinte forma:
●​ Soldo (mês de dezembro do ano do pagamento)
●​ Adicionais e gratificações do art. 1º da Lei 10.486/2002 (mês de
dezembro do ano do pagamento)
●​ Vantagens de caráter permanente, alíneas “e” e “f”, do inciso I, do art. 2º,
da Lei 10.486/2002 (mês de dezembro do ano do pagamento) porém
subtraindo-se eventual adiantamento pago entre os meses janeiro e
novembro do ano do pagamento

3) DO ENTENDIMENTO E DA EVOLUÇÃO DA NORMA CASTRENSE

No Boletim Geral nº 221 de 23 de novembro de 1995 houve por bem se publicar a


portaria nº 052/95 tratando do valor de indenização de alimentação pelas mãos do então
comandante geral a época Coronel QOBM/Comb. José Rajão Filho.

É preciso lembrar, Excelência, que outrora, a etapa alimentação não havia em pecúnia,
em razão de os militares das forças auxiliares do Distrito Federal serem arranchados, vale dizer,
tinham o rancho e a alimentação era fornecida pelo Estado. Havia cozinha, refeitório e horários
destinados a efetuar essas refeições.

Pois bem, com o advento do Projeto SALVE, o qual tinha colocado os militares em
pontos distantes, em locais de BRs, em posto da barragem, dentre outros, ficou difícil o acesso
com todo esse aparato.

Observando a portaria interna, é possível notar que em algumas unidades já se recebia o


valor em pecúnia, veja-se:

Boletim Geral nº 221, de 23 Nov 95.


VALOR DE INDENIZAÇÃO DE ALIMENTAÇÃO - PORTARIA –
PORTARIA Nº 052/95 - CBMDF DE 22 DE NOVEMBRO DE 1995.

11
O COMANDANTE-GERAL DO CBMDF, no uso da competência que lhe é conferida
no artigo 9º, da Lei nº 8.255, de 20 de novembro de 1991, combinado com os
incisos II, VII, do artigo 47 do Decreto nº 16.036, do 04 Nov 94 e o Art. 3º do
Decreto nº 16.844, de 09/10/ 95 e,
Considerando que em conformidade com o que especifica a legislação em vigor,
e responsabilidade do Estado a concessão de alimentação aos bombeiros
militares dos Distrito Federal;
Considerando que aquela responsabilidade e da competência da União, conforme
estabelecido no Art. 21, inciso XIV, da Constituição Federal e, direito do bombeiro
militar, conforme a letra "g", do inciso IV, do Art. 51, do Estatuto dos Bombeiros
Militares do CBMDF, aprovado pela Lei nº 7.479, de 02 Jun 86;
Considerando que nos últimos anos ( há cerca de seis anos), a União não tem
repassado os recursos necessários ao GDF, para custear aquilo que é de sua
responsabilidade, gerando assim conseqüências funestas e desgastantes de toda
ordem, referindo-se em última instância, no próprio desempenho da tropa e,
consequentemente na MISSÃO FIM ;
Considerando que além da alimentação é também da competência da União, a
manutenção física (aquartelamentos) da Corporação, estando nela inclusas as
instalações e equipamentos de rancho (cozinhas, refeitórios, mobiliário, panelas,
fogões, cadeira, etc..);
Considerando que atualmente existe certa quantidade de bombeiros militares
envolvidos nas atividades de armazenagem, distribuição e confecção de
alimentos, onde poderia ser empregados nas atividades operacionais, com reflexo
positivos na MISSÃO FIM;
Considerando a impossibilidade do pagamento do vale-alimentação aos
bombeiros militares, em face de imposições legais;
Considerando que alguns bombeiros militares pertencentes a determinadas
OBMs, tendo em vista a natureza que executam ou mesmo a área onde atuam, já
recebem, em espécie, nos seus respectivos contracheques os valores
correspondentes a etapas ou diárias de alimentação, sendo este um anseio de
todos bombeiros militares,
RESOLVE :
Art. 1º - Estipular o valor da indenização da alimentação a vigorar no Corpo de
Bombeiros do Distrito Federal, em 8 (oito) etapas de alimentação para todos
bombeiros militares em atividade própria de bombeiro militar ou de interesse do
serviço de bombeiro militar, na forma abaixo especificada, em conformidade com
o Art. 49, da Lei nº 8.237, de 09 de setembro de 1991:
I - OFICIAIS, SUBTENENTES E SARGENTOS BM:
Valor de cada Etapa: R$ 3,65
Valor de 8 (oito) Etapas: R$ 29,20
Fator de correção das Etapas (Etapa X 10)
Valor mensal a ser recebido por cada BM (OF/ST/SGT): R$ 292,00
II - CABOS E SOLDADOS BM: Valor de cada Etapa: R$ 3,24
Valor de 8 (oito) Etapas: R$ 25,92
Fator de correção das Etapas (Etapa X 10)
Valor mensal a ser recebido por cada BM (CB E SD): R$ 259,20
Art. 2º - Esta Portaria entra em vigor na data de sua publicação, com efeitos
financeiros a partir de 1º de outubro de 1995. (grifo nosso)_

12
Brasília-DF., em 22 de novembro de 1995
JOSÉ RAJÃO FILHO - Coronel QOBM/Comb.

Em suma, o que se pretende demonstrar é que o caráter permanente da verba em


referência também encontra guarida no fato de tratar-se apenas de substituição do
arranchamento que antes havia, pelo recebimento em pecúnia, em razão das especificidades
demonstrados na portaria supracitada.

Ora, o fornecimento da alimentação dava-se de forma constante e habitual, ao militar da


ativa. Observe- se o artigo 51 , inciso IV, alínea “g” da Lei nº 7479/86:

Art 51. São direitos dos bombeiros-militares:

[...]

IV - nas condições ou limitações impostas na legislação e regulamentação


específica ou peculiar:

[...]

g) a alimentação, assim entendidas como as refeições fornecidas aos


bombeiros-militares em atividade;

Além disso anote-se que as atividades militares são de caráter permanente, ou seja, não
há direito a greve e ainda sopese a isso, o fato de poderem ser convocados a qualquer momento
conforme foi observado durante a pandemia e , mais recentemente, nas ocorrências envolvendo
manifestações da população do Distrito Federal em 08/01/2023, nas quais, em ambos os casos
foram expedidos documentos que deixavam claro que os militares mesmo de férias poderiam
ser convocados para eventual mobilização, rotinas próprias da caserna conforme
documentação anexa.

Dessa forma Excelência, não há como negar o caráter permanente da verba em questão
e sua posterior incidência na gratificação de natal.

Quanto aos termos do art. 9º, do Decreto-lei debatido, temos que o objetivo da norma ao
estabelecer que são computadas na gratificação natalina todas as vantagens pecuniárias
permanentes era justamente abranger todas as vantagens de caráter permanentes, de qualquer
natureza ou tipo, desde que permanentes.

Não há espaço para qualquer atuação do Poder Judiciário fora de sua competência
típica e originária sob fundamento da coesão do ordenamento jurídico e da inafastabilidade da
jurisdição, uma vez que: há legislação específica sobre o tema, a qual se encontra em plena
vigência e o texto não apresenta lacunas no texto do caput do art. 9º apta a ensejar a
substituição do legislador pelo magistrado.

4) CONCLUSÃO

13
Ex positis, observa-se que a remuneração, o vencimento ou o soldo e as vantagens de
caráter permanente devem ser inseridos na base de cálculo da Gratificação de Natal.

Assim dispõe o art. 3° da lei 10.486/2002 o qual referenda que o auxílio alimentação e o
auxílio moradia são verba de caráter permanente. In verbis:

Art. 3º Para os efeitos desta Lei, entende-se como:


(...) XIII – auxílio alimentação - direito pecuniário mensal devido ao militar para
custear gastos com alimentação, regulamentado pelo Governo do Distrito Federal;
XIV - auxílio-moradia - direito pecuniário mensal devido ao militar, na atividade e na
inatividade, para auxiliar nas despesas com habitação para si e seus dependentes,
conforme a Tabela III do Anexo IV, regulamentado pelo Governo do Distrito
Federal; (...). (g.n.)

No que tange à natureza jurídica do auxílio alimentação, já há entendimento de que é


vantagem permanente, revestindo -se de tal caráter Veja-se:

RECURSO INOMINADO – SERVIDOR ESTADUAL –DEINFRA – INDENIZAÇÃO


DE LICENÇA PRÊMIO NÃO GOZADA – SENTENÇA DE PARCIAL
PROCEDÊNCIA –INSURGÊNCIA DO ESTADO OBJETIVANDO O
AFASTAMENTO DO CÁLCULO DOS VALORES RECEBIDOS COMO
"AUXÍLIO ALIMENTAÇÃO" E "RET FIN ATIV. GESTÃO LEI 16465/14 ART.
4-DEINFRA/SIE" – DESCABIMENTO – VERBAS QUE SE REVESTEM DE
CARÁTER PERMANENTE E QUE INTEGRAM A BASE DE CÁLCULO –
ÚLTIMA REMUNERAÇÃO A SER CONSIDERADA – SENTENÇA MANTIDA –
RECURSO DESPROVIDO. "Apesar da natureza indenizatória e transitória do
auxílio-alimentação, quando pago em espécie e com habitualidade ao servidor, mês
a mês, enquanto na atividade, toma feição salarial e deve integrar a base de
cálculo da indenização da licença-prêmio/especial. Mister atentar para o
que foi decidido no IRDR n. 0022064-08.2013.8.24.0033/50000 e para as razões
expostas pelo eminente relator do acórdão, o Desembargador Hélio do Valle
Pereira, segundo o qual, para a apuração da indenização da licença-prêmio ou
especial deve ser considerada a remuneração recebida normalmente para um mês
de trabalho, ou seja, a integralidade dos valores que constariam no (último)
contracheque do servidor, caso estivesse laborando." (TJSC, AC/RN n.
5000329-48.2019.8.24.0023, Des. Sérgio Roberto Baasch Luz, 2ª Câmara de
Direito Público, j. em 15.09.2020). (TJSC, RECURSO CÍVEL n.
5000001-77.2020.8.24.0090, do Tribunal de Justiça de Santa Catarina, rel. Luis
Francisco Delpizzo Miranda, Primeira Turma Recursal - Florianópolis (Capital), j.
Thu May 05 00:00:00 GMT-03:00 2022).

(TJ-SC - RECURSO CÍVEL: 50000017720208240090, Relator: Luis Francisco


Delpizzo Miranda, Data de Julgamento: 05/05/2022, Primeira Turma Recursal -
Florianópolis (Capital)

Observa-se que tais verbas “tomam feição salarial, revestindo-se de caráter


permanente”.

Vide ainda:
JUIZADO ESPECIAL DA FAZENDA PÚBLICA. ADMINISTRATIVO.
CONVERSÃO DE LICENÇA-PRÊMIO EM PECÚNIA. BASE DE CÁLCULO DA

14
REMUNERAÇÃO. ABONO PERMANÊNCIA. AUXÍLIO ALIMENTAÇÃO.
AUXÍLIO TRANSPORTE. INCLUSÃO DEVIDA. DIREITO AO RECEBIMENTO
DAS DIFERENÇAS NÃO PERCEBIDAS. RECURSO CONHECIDO E IMPROVIDO.
1. Cuida-se de sentença proferida pelo 3º Juizado Especial da Fazenda Pública do
DF que julgou parcialmente procedente o pedido inicial para reconhecer que as
parcelas remuneratórias de abono de permanência, auxílio alimentação e
auxílio transporte integram a base de cálculo da conversão de licença prêmio em
pecúnia, e para condenar o Distrito Federal a pagar à parte autora R$ 8.653,36
(oito mil seiscentos e cinquenta e três reais e trinta e seis centavos), relativos à
diferença devida. Em sede recursal, o Distrito Federal insurge-se contra o
deferimento da parcela do auxílio transporte. Assevera que tal verba possui caráter
indenizatório e natureza temporária, não devendo integrar a base de cálculo.
Requer a reforma da sentença para julgar improcedentes os pedidos iniciais. 2.
Conforme entendimento do Superior Tribunal de Justiça, o abono de
permanência, o auxílio-saúde, assim como o auxílio-alimentação têm
natureza remuneratória de caráter permanente, integrando o
patrimônio do servidor, cessando apenas com a aposentação. Por
conseguinte, devem ser incluídas na base de cálculo da conversão de
licença-prêmio em pecúnia ( AgInt no AREsp 475.822/DF, Rel. Ministro
NAPOLEÃO NUNES MAIA FILHO, PRIMEIRA TURMA, julgado em 06/12/2018,
DJe 19/12/2018). ?Ainda que o auxílio-transporte tenha natureza remuneratória e,
portanto, também possa integrar a base de cálculo da conversão de licença-prêmio
em pecúnia? ( AREsp 1.592.998, Rel. Ministro MAURO CAMPBELL MARQUES,
julgado em 11/11/2019). 3. O valor da conversão deve ter como base de cálculo a
última remuneração do servidor antes da aposentação. Do que se extrai do
processo, a conversão da licença-prêmio em pecúnia não foi integrada pelas
parcelas reclamadas, pelo que a parte autora faz jus ao pagamento da diferença,
conforme consignado em sentença. 4. Recurso CONHECIDO e IMPROVIDO.
Sentença confirmada por seus próprios fundamentos. Condeno o recorrente ao
pagamento dos honorários advocatícios de sucumbência, os quais fixo em 10% (dez
por cento) do valor da condenação, nos termos do art. 55 da Lei 9.099/95. Nos
moldes do Decreto-Lei 500/69, o Distrito Federal é isento do pagamento de custas
perante a Justiça do Distrito Federal. 5. A súmula de julgamento servirá de
acórdão, consoante disposto no artigo 46 da Lei nº 9.099/95.

(TJ-DF 07397051220218070016 DF 0739705-12.2021.8.07.0016, Relator:


GISELLE ROCHA RAPOSO, Data de Julgamento: 07/03/2022, Segunda Turma
Recursal, Data de Publicação: Publicado no DJE : 16/03/2022 . Pág.: Sem Página
Cadastrada.)

Novamente o que se apresenta no acórdão supracitado é o entendimento reiterado de tais


verbas serem de caráter permanente.

Observe-se ainda:

JUIZADO ESPECIAL DA FAZENDA PÚBLICA. RECURSO INOMINADO.


DIREITO ADMINISTRATIVO. SERVIDOR PÚBLICO. CONVERSÃO DE
LICENÇA-PRÊMIO EM PECÚNIA. INCLUSÃO DE VERBA DE CARÁTER
PERMANENTE. AUXÍLIO ALIMENTAÇÃO. DEVIDA. RECURSO CONHECIDO E
NÃO PROVIDO. 1. Acórdão lavrado de acordo com a disposição inserta nos artigos
2º e 46, da Lei 9.099, de 26.09.1995 e artigo 60, §§ 1º e 2º, do Regimento Interno
das Turmas Recursais. Presentes os pressupostos específicos, conheço do recurso.
2. O réu, Serviço de Limpeza Urbana do Distrito Federal, ora recorrente, interpôs

15
recurso inominado em face da sentença proferida pelo 4º Juizado Especial da
Fazenda Pública do Distrito Federal que julgou parcialmente procedente o pedido
inicial para que o réu pague ao autor os valores a título da parcela complementar
do auxílio alimentação e auxílio alimentação, multiplicado pelo número de meses
da licença prêmio não usufruídas, no caso, 16 (dezesseis). 3. Afirma que os valores
do auxílio alimentação, nos termos da Lei Complementar 840/2011, possui
natureza indenizatória e é fruído sob as condições estabelecidas pelo legislador,
não se incorporando à remuneração do servidor. Requer a reforma da sentença. 4.
O recorrido em contrarrazões, esclarece que os valores do auxílio alimentação não
são de natureza indenizatória, mas sim vantagens de caráter indenizatório, nos
termos da Lei Complementar 840/2011. Requer a manutenção da sentença. 5.
Conforme entendimento do Superior Tribunal de Justiça, o abono de
permanência, assim como o auxílio-alimentação e o auxílio-saúde,
possuem caráter remuneratório indubitavelmente permanente, que se
incorporam ao patrimônio jurídico do servidor de forma irreversível,
vindo a cessar somente com o implemento da aposentadoria, devendo,
portanto, integrar a base de cálculo para pagamento da licença-prêmio não gozada.
( AgInt no AREsp 475822/DF, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, Primeira
Turma, DJE 19/12/2018; REsp 1576363/RS, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN,
SEGUNDA TURMA, julgado em 08/05/2018, DJe 19/11/2018, REsp 1514673/RS,
Rel. Ministra REGINA HELENA COSTA, PRIMEIRA TURMA, julgado em
07/03/2017, DJe 17/03/2017). 6. RECURSO CONHECIDO E NÃO PROVIDO.
Sentença mantida por seus próprios fundamentos. 7. O recorrente é isento de
custas. Condeno o recorrente vencido ao pagamento de honorários advocatícios
que fixo em 10% (dez por cento) da condenação, nos termos do Art. 55 da Lei
9.099/95.

(TJ-DF 07108849520218070016 DF 0710884-95.2021.8.07.0016, Relator:


ANTONIO FERNANDES DA LUZ, Data de Julgamento: 11/02/2022, Primeira
Turma Recursal, Data de Publicação: Publicado no DJE : 24/02/2022 . Pág.: Sem
Página Cadastrada.)

Postos estão os julgados colacionados dos quais é possível extrair que tais verbas, de
caráter permanente, inclusive vem compor o patrimônio jurídico do servidor, no caso em
comento, do militar, de forma irreversível, ou seja, jamais poderiam ter sido suprimidas dos
cálculos da remuneração da impetrante.

Dessarte, não merecem prosperar os argumentos aduzidos pela administração


castrense para justificar o afastamento das quantias pleiteadas.

Avalia-se que a segurança deva ser concedida.

Assim, a impetração do presente mandado de segurança encontra-se completamente ex


lege.

Pode observar que há indubitavelmente violação ao texto do caput do art. 9, do


Decreto-Lei 2.317/86 bem como agressão ao direito constitucional do impetrante, previstos: no
inciso XV, do Art. 37, § 3º, do Art. 29 e inciso VIII e caput do art. 7, todos da Constituição Federal.

IX – DOS PEDIDOS

16
Pelo exposto, requer:

1. haja deferimento do pedido liminar inaldita altera pars, determinando à impetrada que,
no pagamento da antecipação da Gratificação Natalina vincenda no mês de junho deste ano,
nos moldes do art. 6º e 9º, ambos do Decreto-Lei nº. 2.317/1986, seja incluído no valor da verba
a vantagem de caráter permanente paga a título de Auxílio Moradia, nos termos do art. 3º, inciso
XIV da Lei 10.486/2002.

2. a concessão dos benefícios da gratuidade de justiça;

3. a citação da impetrada para, querendo, manifestarem no prazo legal, apresentando os


seus esclarecimentos;

4. a notificação da autoridade coatora, para que preste suas informações no prazo legal;

5. ao final, seja confirmado o pedido liminar concedido, concedendo-se a segurança para


condenar a impetrada ao pagamento integral da Gratificação Natalina, nos moldes do art. 6º e
9º, ambos do Decreto-Lei nº. 2.317/1986, incluindo no valor da verba a vantagem de caráter
permanente paga a título de Auxílio Moradia (devida a militares na ativa, bem como quando de
sua passagem para a reserva) e do auxílio Alimentação (constante apenas enquanto a militar
estiver no serviço militar ativo, trabalhando nas unidades do CBMDF), nos termos do art. 3º,
inciso XIV da Lei 10.486/2002.

6. Que haja a concessão da segurança com efeitos ex tunc, sendo que os efeitos da
concessão da segurança serão perseguidos em ação própria a ser movida posteriormente;

7. Por fim, requer provar o alegado por todo o meio de direito admitidos em Juízo,
especialmente pela juntada de novos documentos, dentre outros. Dá-se à causa o valor de R$
2.366,07 (dois mil trezentos e sessenta e seis reais e sete centavos).

Termos em que pede deferimento.

Maria de Jesus
OAB/DF nº XXXXX

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