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A INSERÇÃO DO ASSISTENTE SOCIAL NA SAÚDE

O Serviço Social enquanto profissão surge vinculado ao agravamento das


mazelas sociais, assumindo a função de executor das ações socais destinadas
à população pauperizada, que tinham por objetivo amenizar os conflitos entre a
classe proletária e a burguesia. Sabe-se, portanto, que desde sua origem o
Serviço Social encontra-se em meio ao antagonismo dos interesses entre as
duas classes sociais fundamentais.
A partir da década de 1960 iniciou-se na categoria o movimento de
reconceituação que buscou a ruptura com a prática do Serviço Social tradicional,
e teve como resultado a definição da direção política e ideológica da profissão,
calcada no compromisso com a defesa de direitos da classe trabalhadora com
vistas à construção de uma nova ordem societária. Tais preceitos foram
incorporados ao Código de Ética Profissional em 1993.
Na mesma época em que o Serviço Social passava por este processo de
renovação e amadurecimento teórico, o Brasil encontrava-se em um momento
de grande efervescência política pelo fim da ditadura militar e concomitante a
redemocratização do país, destaca-se a

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força do movimento de reforma sanitária, que lutou pela universalização do


acesso a saúde, compreendo que este era direito de todos e um dever do estado.
O Serviço Social recebia as influencias dessa conjuntura de luta política,
contudo a preocupação central da categoria nesse momento era a disputa pela
nova direção a ser dada a profissão, por esse motivo não foi identificada uma
participação diretamente ligada ao movimento pela reforma sanitária (BRAVO;
MATOS, 2009, p. 204).
Na década de 1980 o Serviço Social aproxima-se da tradição marxista,
principalmente no âmbito da Universidade, e a atuação e intervenção
permanecem até a década de 1990 com reflexos incipientes desse
amadurecimento teórico-crítico, constatados pela desarticulação da categoria
com Movimento da Reforma Sanitária e pouca produção em relação à demanda
do Serviço Social no âmbito da Saúde (CFESS, 2010).
A luta da sociedade pela garantia de direitos teve como desfecho a
conquista da Constituição de 1988 (BRASIL, 1988), considerada um grande
avanço, pois instaura direitos sociais e inaugura a Seguridade Social no Brasil,
contemplando políticas universais, sendo composta através do tripé: Saúde, que
se caracterizou enquanto política universal, não contributiva, representada pela
criação do Sistema Único de Saúde (SUS); Previdência Social considerada uma
política restrita aos trabalhadores contribuintes; e Assistência Social, destinada
a quem dela necessitar, objetivando garantir segurança de sobrevivência e
autonomia da população.
Muitos foram os avanços no âmbito da política de saúde, a pauta das
reinvindicações do movimento sanitário foi contemplada constitucionalmente,
podem-se elencar como principais conquistas:

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- O direito universal à Saúde e o dever do Estado, acabando com a


discriminação existente entre segurado/não segurado, rural/urbano;
- As ações e Serviços de Saúde passaram a ser consideradas de
relevância pública, cabendo ao poder público sua regulamentação, fiscalização
e controle;
- Constituição do Sistema Único de Saúde integrando todos os
serviços públicos em uma rede hierarquizada, regionalizada, descentralizada e
de atendimento integral, com participação da comunidade;
- A participação do setor privado no sistema de saúde deverá ser
complementar, preferencialmente com as entidades filantrópicas, sendo vedada
a destinação de recursos públicos para subvenção às instituições com fins
lucrativos. Os contratos com entidades provadas prestadoras de serviços far-se-
ão mediante contrato de direito público, garantindo ao Estado o poder de intervir
nas entidades que não estiverem seguindo os termos contratuais;
- Proibição da comercialização de sangue e seus derivados
(TEIXEIRA, 1989, p. 5051).

Apesar da legislação referente ao SUS ter sido aprovada em 1988,


somente em1990 foi promulgada a Lei Orgânica da Saúde (Lei nº 8.080 de 1990)
que “dispõe sobre as condições para a promoção, proteção e recuperação da
saúde, a organização e o funcionamento dos serviços correspondentes e dá
outras providências” (BRASIL, 1990, p. 1).
Rompe-se, através da universalidade, o acesso privilegiado à saúde que
passa a ser compreendida enquanto direito, o que viabiliza o alcance da
igualdade. Por meio da equidade assegura-se o acesso a saúde a todo cidadão,
independentemente de qualquer classificação, social, cultural, étnica ou
religiosa. E, através da integralidade, reconhece-se a totalidade de cada
indivíduo, e prevê que a saúde seja

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tratada em todos os níveis de atenção, sem priorização da hospitalização pela


alta complexidade.
Contudo, no contexto internacional, assistia-se a retração das conquistas
sociais, devido a disseminação do neoliberalismo, que chega ao Brasil com a
implantação de medidas de corte da proteção social recentemente conquistada.
A efetivação dos avanços alçados pela Constituição Federal de 1988 é
interrompida pela implantação do ideário Neoliberal no Brasil nos anos 1990.
Neste período o Brasil enfrenta a crise da estagflação, o contexto é também de
grandes mudanças no mundo do trabalho que o torna cada vez mais precário e
flexibilizado, além do forte desemprego estrutural.
Em 1989 o Consenso de Washington impõe uma série de medidas
direcionadas aos países latino-americanos, para saírem da crise. A partir desse
momento é implantado no Brasil, através do governo de Fernando Collor de
Mello, o receituário neoliberal, associado ao discurso de modernizar o país, neste
momento, estabelece nos país medidas de disciplina fiscal, responsabiliza o
Estado pelo controle da dívida pública e a geração de superávit primário, assim
como, o socorro aos bancos e aos setores produtivos quando estes se
encontrarem em crise e privatização de empresas e serviços estatais. Todas
essas medidas determinam a intervenção do Estado para garantir o bom
funcionamento do mercado (BATISTA, 1994). A implantação da agenda
neoliberal no Brasil confronta com as garantias de direitos conquistados em
1988, portanto a implantação da agenda neoliberal se dá em detrimento da
efetivação das políticas de proteção social (BEHRING; BOSCHETI, 2008).
Como consequência da adoção do neoliberalismo, evidencia-se uma
drástica redução nos gastos sociais do país, que acarreta no desmantelamento
da proteção social através de políticas focalizadas, adoção de estratégias como
o Empreendedorismo que responsabiliza o indivíduo pela sua situação de
vulnerabilidade, desarticulação das redes

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de serviços sociais, fortalecimento do estilo patrimonialista e clientelista na


administração da política pública.
As políticas de ajuste fiscal desenvolveram-se ao longo da década de
1990. Apesar do enfraquecimento das lutas sociais, evidencia-se a força do
movimento formado majoritariamente por estudantes, que foi capaz de causar o
impeachment de Collor, em 1992.
As medidas iniciadas no governo Collor intensificam-se no governo de
Fernando Henrique Cardoso, principalmente no que se refere às privatizações.
Através do ministro Luiz
Carlos Bresser Pereira, é criado o documento intitulado “Plano Diretor da
Reforma do Estado” (COSTA, 2006), que propunha uma administração gerencial
em substituição a administração publica, pois, em sua análise, esta última era
responsável pela crise (COSTA, 2006).
Dessa forma, assistiu-se no governo de Fernando Henrique Cardoso a
transferência do controle estatal para a iniciativa privada, com a privatização de
empresas estatais e transferência da responsabilidade do Estado na área social
para a sociedade civil.
Os postulados neoliberais na área social são basicamente os seguintes:
o bem-estar social pertence ao âmbito do privado (suas fontes “naturais” são a
família, a comunidade e os serviços privados). Dessa forma, o Estado só deve
intervir quando surge à necessidade de aliviar a pobreza absoluta e de produzir
os serviços que o setor privado não pode ou não quer fazê-lo. Propondo, portanto
um Estado de beneficência pública ou assistencialista, no lugar de um Estado de
Bem-Estar Social. Os direitos sociais e a obrigação da sociedade de garanti-los
por meio da ação estatal, em como a universalidade, igualdade e gratuidade dos
serviços sociais são abolidos no ideário neoliberal (SOARES, 2001, p. 44).
No âmbito da saúde verifica-se o incentivo, por meio de diversas ações,
à ampliação da iniciativa privada na

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prestação de serviços de saúde, como: a transferência de funções do Ministério


da Saúde para agências reguladoras e organizações não estatais; o rompimento
com o princípio da universalidade, através do subfinanciamento do sistema que
prevê assistência mínima aos que não podem pagar o acesso a saúde; e a
terceirização dos serviços ambulatoriais, hospitalares e de apoio diagnóstico,
através da contratação de prestadores privados (BRAVO; MATTOS, 2004).
Agrava-se, portanto, a disputa entre o modelo de saúde privatista
neoliberal – sustentado em uma “democracia restrita, que diminui os direitos
sociais e políticos”, devido a medidas de contenção de gasto sociais, privatização
e minimização do Estado – e o modelo da Reforma Sanitária – fundamentado na
“democracia de massas, com ampla participação social” em defesa da
democratização, a universalização e do controle social (BRAVO; PEREIRA,
2007, p.198-199).
O cenário em 2002, ano da eleição do presidente Luiz Inácio Lula da
Silva, o cenário econômico do Brasil era crítico, com alto índice de inflação e
aumento da dívida externa, no campo social o país enfrentava as consequências
da adoção da agenda neoliberal. Foi lançada grande expectativa de mudança
com a eleição do presidente Lula, esperava-se que este implantasse uma nova
agenda de governo, com maior participação do Estado no desenvolvimento
econômico e social (BRAVO, 2001).
Com histórico de militância sindicalista, Lula foi o primeiro presidente
operário, era tido como ícone da classe trabalhadora, ao elegê-lo o povo
demonstrou sua ânsia por mudança, sua insatisfação com o rumo conservador
que país percorria até então, contudo, essa expectativa não foi alcançada da
maneira que se previa. O primeiro governo de Lula é marcado pela continuidade
das estratégias econômicas neoliberais, e o endossamento de estratégias
sociais focalizadas (FAGNANI, 2011).

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No que tange a saúde, também havia expectativa de fortalecimento do


projeto de Reforma Sanitária, porém o que se viu foi a continuidade da
polarização entre público e privado. Desta forma, evidencia-se a convivência da
inovação com a continuidade. Na análise de BRAVO (2001), são ressaltados
como aspectos de inovação:
[...] o retorno da concepção de Reforma Sanitária que, nos anos 90, foi
totalmente abandonada; a escolha de profissionais comprometidos com a luta
pela Reforma Sanitária para ocupar o segundo escalão do Ministério; as
alterações na estrutura organizativa do Ministério da Saúde, sendo criadas
quatro secretarias e a sua realização em dezembro de 2003; a participação do
ministro da saúde nas reuniões do Conselho Nacional de Saúde e a escolha do
representante da CUT para assumir a secretaria executiva do Conselho Nacional
de Saúde (BRAVO, 2001, p.16).
Percebe-se, a preocupação em representar o projeto da Reforma
Sanitária através de secretarias e lideranças. Contudo, o compromisso com os
princípios desse projeto não foram adotados, permanecendo evidente a lógica
da privatização. Através de isenções fiscais das empresas que contratam planos
de saúde para funcionários e das entidades filantrópicas, das propostas de
prestação de serviços por Organizações Sociais (OS) e Organizações da
Sociedade Civil Pública (OSCIPS), e gestão, pela Empresa Brasileira de
Serviços Hospitalares (EBSEH) (MOREIRA, 2013).
Segundo Ravagnani (2013) estas prestadoras de serviços surgem a partir
da implantação do Plano Diretor da Reforma do Estado, em 1995, com a
finalidade de delegar ao setor privado a execução dos serviços públicos, e deixar
para o Estado as funções de coordenar e financiar as políticas públicas. A
transferência de serviços apresenta inconstitucionalidades, segundo a autora:
No que se refere à saúde, a transferência de serviços encontra impedimento
legal na Constituição (Art. 199) e na Lei

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Orgânica da Saúde, Lei n. 8.080/90 (Art. 24), onde é permitida a participação em


caráter complementar, mediante contrato ou convênio, somente quando
esgotada a capacidade e disponibilidade de atendimento pelo SUS
(RAVAGNANI, 2013, p. 50),
Dessa forma se expressa o projeto privatista, vinculando a saúde ao
mercado e agindo de forma incoerente aos dispositivos legais constitucionais. O
princípio da universalização é trabalhado apenas no âmbito da atenção básica,
sendo os serviços de média e alta complexidade executados majoritariamente
pela iniciativa privada.
Este cenário perpetuou-se durante todo governo petista, e vem se
acentuando com adoção de medidas neoliberais, como a terceirização dos
serviços e a focalização das políticas as classes mais pobres. A grande ameaça
que permeia a saúde pública é a efetivação do SUS como espaço destinado
àqueles que não têm acesso ao sistema privado, esta segmentação contradiz
todos os princípios, que a duras penas, foram conquistados em 1988. O desafio
atual é fortalecer novamente a luta pela efetivação do Projeto de Reforma
Sanitária, recuperando os princípios e valores que constituíram o SUS.
É fundamental evidenciar a importância de o assistente social apropriar-
se das contradições que perpassam a política de saúde para que se engaje no
processo de defesa do SUS, através de sua atuação nos espaços sócio-
ocupacionais e como fomentadores do debate acerca da luta pela efetivação do
direito à saúde.

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