Eça e o Impressionismo
Eça e o Impressionismo
Eça e o Impressionismo
Resumo: O objetivo dessa pesquisa é investigar características de artes visuais como, cores,
volumes, sombras, presentes em obras literárias. A interseção texto-imagem já aparece em
estudos de Goethe, Kandinsky, Rimbaud, vindo a culminar na poesia concretista, na visual,
grafitismo urbano, até o advento das redes sociais como veículo de divulgação poética. O
método hermenêutico busca correspondências de descrições e apresentações textuais
sugestivas das escolas visuais. Se antes, para uma descrição, apropriaram-se de paisagens,
agora uma imagem por si, ou um meme, pode ser o texto. Para pesquisa, diversos textos são
comparados a outras manifestações artísticas ao longo dos séculos XIX e XX em diante.
Resultados já encontrados em Eça de Queiroz e pintores impressionistas, destacando tanto
elementos do texto quanto da obra plástica que se cruzam, no tocante ao uso de cores e
demais elementos visuais, explicando minuciosamente parágrafos e telas específicas que
reproduzem os semelhantes efeitos. Com foco para autores Eça de Queirós, Leminski, e
novos autores das redes sociais, deslocamo-nos do bucolismo harmonioso impressionista,
para os assombros da revolta urbana e virtual, enfim, de ambiente de luz para sombras do
caos urbano e para a virtualidade que à realidade esmaga. Esta apresentação traz resultados
práticos, lançando luzes sobre a estrita comunicabilidade entre diversas formas do fazer
artístico.
Palavras-chave: Literatura; pintura; Arte Visual.
Abstract: The objective of this research is to investigate characteristics of visual arts, such as
colors, volumes, shadows, which may be found in literary works. The text-image intersection
already appears in studies by Goethe, Kandinsky, Rimbaud, culminating in concrete poetry, in
visual, urban graffiti, until the advent of social networks as a vehicle for poetic dissemination.
The hermeneutic method seeks correspondences of suggestive textual descriptions and
presentations of visual schools. In the XVIII Century, for the purpose of description, authors
appropriated a rural landscape. Nowadays, an image is used in itself, or even a meme, can
substitute for the text. For this reason, in this research, several texts are compared to other
artistic manifestations throughout the 19th and 20th centuries onwards. Results were already
found in Eça de Queiroz and Impressionist painters, highlighting both elements of the text
and of the plastic work that intermingle in the appeal for colors and other visual elements,
minutely explaining specific paragraphs and canvases that reproduce similar effects. With a
focus on author's Eça de Queiroz, Leminski, and new authors in social networks, we move
from the impressionist harmonious bucolicism, to the hauntings of urban and virtual revolt, in
short, from an environment of light to shadows of urban chaos and to the virtuality with
which reality crushes. This presentation brings practical results, shedding light on the strict
communicability between different forms of artistic making.
1 Pós-graduação UFF e UERJ; Docente de Língua Inglesa e Literatura Comparada Universidade Santa Úrsula e Colégio Pedro II – RJ.
Objetivo
Metodologia
Este artigo é um recorte de uma pesquisa maior, que serve de fundamentos para um
livro da autora. A pesquisa, iniciada em 1984, tem caráter contínuo e aqui será apresentada
uma pequena abordagem histórica. Diversos autores têm sido relidos e comparados a outras
manifestações artísticas em variados períodos históricos. Não apenas na relação
texto-imagem, como também, nas relações interdisciplinares do texto com outras expressões
artísticas como a dança, a música, o cinema e outras, as pesquisas literárias recentes têm por
foco uma relação interdisciplinar com o contexto artístico. No tocante a aspectos visuais,
desde a antiguidade é possível encontrar textos elaborados com requintes de distribuição
visual a fim de criar efeitos de disposição espacial além da linearidade da expressão
linguística.
Este é o caso, por exemplo, do poema “O Ovo” de Símias de Rodes, datado de 300
A.C., escrito em forma esférica artístico-literária, podendo ser considerado o primeiro poema
visual registrado. De modo semelhante, música e poesia caminharam lado a lado desde a
cultura grega antiga, quando a expressão poética era desenvolvida com o propósito de ser
apresentada, cantada e acompanhada por instrumentos. E a musicalidade manteve-se nas
cantigas de trovadores medievais. Somente após o século XVI, o texto escrito e impresso
José Maria Eça de Queiroz, escritor português, viveu entre 1845 e 1900, período
correspondente à Segunda Revolução Industrial e à Belle Epòque. Neste período, Paris é tida
como o glamour entre as cidades e o provincianismo é rejeitado. Por outro lado, a vida urbana
vai, cada vez mais, revelando-se conflitante entre a necessidade de uma aparência de
opulência entremeada de vícios morais, sociais, éticos e desvios velados. Estes “desvios”,
aliás, constituem o eixo central da escrita crítica e realista de Eça.
Eça de Queiroz, no contexto literário, logo emerge com sua obra de Realismo
implacável, instigante, aguçado e forte na ironia e descrição acurada que só se sacia no
universo das “verdades reveladas”. Crítico ardoroso de sua sociedade, o autor encanta e
assombra com a maestria peculiar aos poucos na precisão de seus temas e na desenvoltura
com que os desenvolve com sua linguagem. A obra dele é acima de tudo, uma denúncia.
Cabe-lhe o título de ícone mais expressivo do Realismo na Literatura Portuguesa. Eça de
Queiroz é um retratista fiel da sociedade portuguesa. Pode-se afirmar que Eça é o produto de
seu tempo. Porém suas obras de fase mais tardia passam a configurar um maior subjetivismo
e apelo a descrições de caráter sensorial.
Nas artes, dentro deste contexto histórico, em 1874, uma “Revolução” eclode no
cenário artístico, no coração de Paris, “símbolo da civilização” na época: Um grupo de jovens
pintores rompe com as regras clássicas de pintura vigentes, rompe com o realismo e a técnica
acadêmica (assim como Baudelaire também rompe na Literatura). Monet pinta “ Nascer do
Sol” e em abril de 1874, uma exposição reúne artistas “excluídos” pela elite acadêmica.
Vinte e sete artistas entre os quais Monet, Renoir, Sisley, Manet, Pissarro, Degas e Cézanne,
inauguram a primeira exposição Impressionista - deixando marcas profundas na sociedade,
que a princípio ria e ridicularizava a exposição, considerada um escândalo sem precedentes.
Surge o Impressionismo no período em que, por um lado, a vida acadêmica clássica
acusa sinais de cansaço. A pintura técnica se revela restrita e, consequentemente,
insatisfatória. Por outro lado, economicamente, o capitalismo organizado e racionalizado
dentro de um pensamento então positivista conduz ao império do desejo, à necessidade de
substituir tudo, até objetos de uso diário, por coisas novas, num crescente estímulo ao público
Exemplo 3:
Nos trechos destaca-se uma crítica à arte clássica com sua rigidez dos traços
acadêmicos, por intermédio dessa diluição de repetição atribuída à real natureza. Ao contrário
dos críticos que se opuseram ao impressionismo, julgando os quadros como feios, a natureza
não tem contornos rígidos acadêmicos, não tem feiura, não tem repetição de formas. O
parágrafo de Eça, em releitura, descreve, justamente, a avaliação impressionista sobre a arte e
a crítica: “ duas folhas de hera na verdura não se assemelham”
Conforme já destacado no início deste artigo, o abandono dos contornos rígidos e
nítidos é marca do Impressionismo, ao buscar uma ênfase no instante, no transitório, no
movimento das formas sob o efeito da luz, os artistas convertem a ótica para a liberdade
impressionista, evitando o cansaço dos artistas diante da academia clássica. A expressão
Exemplo 4:
Com a expansão da imagem pela fotografia, cinema, televisão, o ritmo antes bucólico
e plácido cede ante ao acelerado passar das imagens pela tela tecnológica. O movimento é
veloz, mais rápido até nas imagens do que no tempo da leitura. A linguagem não verbal
recebe grande reforço nos meios de comunicação de massa. Destaca-se o que se vê de
concreto, formas que brincam ao mesmo tempo que exploram com a imagética: a palavra
vira a forma dos objetos, letras que se movimentam. Sim, o verbal vira suporte para se
Referências