6_Cooperativismo_e_Inclusao_Social

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COOPERATIVISMO E INCLUSÃO SOCIAL: O CASO DOS MERCADOS

INSTITUCIONAIS NO SUL DO BRASIL

COOPERATIVISM AND SOCIAL INCLUSION: THE CASE OF INSTITUTIONAL


MARKETS IN SOUTHERN BRAZIL

COOPERATIVISMO E INCLUSIÓN SOCIAL: EL CASO DE LOS MERCADOS


INSTITUCIONALES EN EL SUR DE BRASIL

Danielle Farias da Silveira1


Flávio Sacco dos Anjos2

RESUMO

Foi no interior do Rio Grande do Sul que surgiram as primeiras cooperativas do Brasil. Não
obstante, é também nesse estado que se assiste à emergência das cooperativas empresariais,
organizações econômicas que se agigantaram, durante as décadas de 1960 e 1980, graças aos
generosos subsídios do Estado autoritário (1964-1985). A crise econômica desencadeada
durante e depois dos anos 1980 – a década perdida – abalou os fundamentos do cooperativismo
empresarial e os princípios desta doutrina econômica e social. O presente artigo se debruça
sobre uma realidade completamente distinta, qual seja, a de pequenas cooperativas de
agricultura familiar situadas no extremo meridional do Brasil cujo surgimento está
inextricavelmente ligado à implantação das políticas de segurança alimentar, mormente pelas
compras institucionais capitaneadas por entes públicos, a exemplo do Restaurante-Escola da
Universidade Federal de Pelotas. Tal sistema se mostra eficiente tanto do ponto de vista de
assegurar o atendimento da demanda como no sentido de promover a inclusão social das
famílias rurais que integram o quadro social das cooperativas. Todavia, tal processo é
interrompido por força das imposições burocráticas dos órgãos federais de controle, fato que
gera incertezas e desalento para os atores implicados nesse processo. Entrementes, resta o
reconhecimento sobre as virtudes do cooperativismo como caminho para conciliar
desenvolvimento econômico com justiça social e de incentivar a inovação, a aprendizagem e a
convergência em torno a interesses e objetivos comuns. O objetivo do artigo é fazer uma
reflexão sobre essa experiência à luz da realidade concreta. Tal aproximação se deu a partir de
metodologia qualitativa cuja ênfase foram entrevistas com roteiro semiestruturado aplicadas
junto a diversos atores sociais, especialmente de lideranças e produtores que atuam nas
cooperativas ligadas aos mercados institucionais.

Palavras-chave: Segurança alimentar. Agricultura familiar. Cooperativismo. Mercados


Institucionais.

1
Agrônoma, Mestre em Agronomia pela Universidade Federal de Pelotas (2020). ORCID: https://orcid.org/0000-
0003-0781-7091. E-mail: danisilveiraf@gmail.com
2
Agrônomo, Doutor em Sociologia pela Universidade de Córdoba, Espanha (2000), Professor Titular da
Universidade Federal de Pelotas, no Departamento de Ciências Sociais Agrárias da Faculdade de Agronomia
Eliseu Maciel. Pelotas. Rio Grande do Sul. Brasil. ORCID: https://orcid.org/0000-0002-0582-7627. E-mail:
saccodosanjos@gmail.com.
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DRd – Desenvolvimento Regional em debate (ISSNe 2237-9029)
v. 12, p. 91-109, 2022.
Cooperativismo e inclusão social: o caso dos mercados institucionais no Sul do Brasil

ABSTRACT

It was in the interior of Rio Grande do Sul that Brazil's first cooperatives emerged. However, it
was also in this state that the emergence of business cooperatives, economic organizations that
grew during the 1960s and 1980s, thanks to the generous subsidies of the authoritarian state
(1964-1985), is witnessing. The economic crisis unleashed during and after the 1980s - the lost
decade - shook the foundations of business cooperativism and the principles of this economic
and social doctrine. This article focuses on a completely different reality, namely, that of small
family farming cooperatives located in the southern tip of Brazil whose emergence is
inextricably linked to the implementation of food security policies, especially through
institutional purchases led by public entities, example of the School-Restaurant of the Federal
University of Pelotas. Such a system proves to be efficient both from the point of view of
ensuring that demand is met and of promoting the social inclusion of rural families that are part
of the cooperatives' membership. However, this process is interrupted due to the bureaucratic
impositions of the federal control bodies, a fact that generates uncertainty and discouragement
for the actors involved in this process. Meanwhile, there remains recognition of the virtues of
cooperativism as a way to reconcile economic development with social justice and to encourage
innovation, learning and convergence around common interests and goals. The aim of the article
is to reflect on this experience in the light of concrete reality. This approach was based on a
qualitative methodology whose emphasis was in depth interviews with a semi-structured script
applied to various social actors, especially leaders and producers who work in cooperatives
linked to institutional markets.

Keywords: Food security. Family farming. Cooperativism. Institutional Markets.

RESUMEN

Fue en el interior de Rio Grande do Sul que surgieron las primeras cooperativas de Brasil. Sin
embargo, es también en este estado brasileño que se asiste a la emergencia de las cooperativas
empresariales, unas estructuras económicas que se agigantaron durante las décadas de 1960 y
1980 a raíz de las generosas subvenciones del Estado autoritario (1964-1985). La crisis
económica acaecida durante y después de los años 1980- la llamada década perdida – afectó los
fundamentos del cooperativismo empresarial y los pilares elementares de esta doctrina
económica y social. El presente artículo aborda una realidad completamente distinta, cual sea,
la de pequeñas cooperativas de agricultura familiar ubicadas en el extremo meridional cuya
aparición está ligada a la implantación de políticas de seguridad alimentaria, sobre todo a través
de las compras institucionales capitaneadas por entes públicos, sobre todo de los comedores de
la Universidade Federal de Pelotas. Tal sistema se mostró eficiente tanto del punto de vista de
atender la demanda como de promover la inclusión social de las familias que integran el cuadro
social de las cooperativas. Sin embargo, tal ciclo se interrumpe a causa de las imposiciones
burocráticas de los órganos de control, hecho que causa incertidumbre y desaliento para los
actores implicados en este proceso. Todavia, resta la convicción sobre las virtudes del
cooperativismo como camino para conciliar desarrollo económico y justicia social, así como
para generar innovación, aprendizaje y convergencia en torno a intereses y objetivos comunes.
El objetivo del artículo ha sido reflexionar sobre dicha experiencia bajo la perspectiva de la
realidad concreta. Tal aproximación se dio a partir de metodología cualitativa, cuya énfasis
recae sobre entrevistas en profundidad y guión semiestructurado aplicadas junto a diversos

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actores sociales, especialmente junto a dirigentes y productores que actuan en las cooperativas
ligadas a los mercados institucionales.

Palabras-clave: Seguridad alimentaria. Agricultura familiar. Cooperativismo. Mercados


Institucionales.

Como citar este artigo: SILVEIRA, Danielle Farias da; ANJOS, Flávio Sacco dos.
Cooperativismo e inclusão social: o caso dos mercados institucionais no Sul do Brasil. DRd -
Desenvolvimento Regional em debate, v. 12, p. 91-109, 31 mar. 2022. DOI:
https://doi.org/10.24302/drd.v12.3547

Artigo recebido em: 08/02/2021


Artigo aprovado em: 10/08/2021
Artigo publicado em: 31/03/2022

1 INTRODUÇÃO

Símbolo universal da morte e do renascimento, Fênix, a célebre ave da mitologia etíope,


é seguramente uma metáfora adequada para expressar os avatares da filosofia cooperativista no
último século e meio da história da humanidade. Do marco fundamental, erguido em 1844 pelos
28 tecelões de Rochdale, aos dias atuais, há um longo caminho marcado pela alternância de
momentos contraditórios. De um lado, o entusiasmo de coletividades que encontraram, na união
de esforços e compromissos mútuos, uma solução profícua às mais diversas dificuldades e à
satisfação de suas necessidades básicas. No extremo oposto, o descrédito que surge quando a
erosão de seus princípios e as mais diversas vicissitudes (econômicas, políticas, etc.) levam à
ruína pequenas, médias e grandes cooperativas distribuídas por todo o planeta.

A cooperativa dos tecelões de Rochdale tinha por objetivo reduzir o custo de aquisição
de artigos de primeira necessidade e repassá-los aos seus associados no período que coincide
com a revolução industrial, quando a precariedade das condições de existência do proletariado
inglês era mais que evidente. Era, portanto, uma cooperativa de consumo. Passados mais de
170 anos tem-se notícia da emergência de instituições do gênero que cumprem os mais diversos
tipos de propósitos: cooperativas de produção, crédito, eletrificação, habitação, de profissionais
liberais, de prestação de serviços, etc.

A pesquisa que ensejou a realização deste artigo foi realizada no extremo sul do Brasil,
mais precisamente em municípios da chamada Serra dos Tapes, onde estabelecimentos de
agricultura familiar se dedicam à geração de produtos destinados aos chamados mercados
institucionais, incluindo o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) e o Programa
de Aquisição de alimentos (PAA)

A hipótese de que partimos, ao realizar a investigação, foi de que a criação dos mercados
institucionais acabou por criar um ambiente favorável para processos de cooperação no
contexto da agricultura familiar, tanto no sentido de promover o surgimento de pequenas
cooperativas como de fortalecer a atuação das que, à época, já existiam nessa região do país.

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Os dados que serão apresentados e debatidos fazem parte de uma pesquisa mais ampla
desenvolvida entre os anos 2018 e 2020 através da realização de um trabalho de campo que
envolveu o levantamento de dados primários junto a órgãos oficiais, bem como a realização de
entrevistas (18) em profundidade com roteiro semiestruturado junto a diversos atores sociais,
incluindo agricultores e agricultoras familiares, representantes de cooperativas, da agência
oficial de extensão rural, de empresas públicas e de organizações não-governamentais.

A produção hortifrutícola das cooperativas passa a suprir, em larga medida, a demanda


dos refeitórios das forças armadas (Marinha e Exército), das escolas públicas e da Universidade
Federal de Pelotas. Nesse sentido, vale indagar: Qual a importância destes mercados para a
atuação das cooperativas? A garantia de comercialização da produção dos cooperados através
destes programas trouxe benefícios a estas instituições? Os depoimentos de nossos
entrevistados foram organizados em categorias analíticas construídas a posteriori, as quais
serviram de base para inferir a partir das falas dos atores sociais com o intuito de encontrar
respostas a estas e a outras questões.

Este artigo está organizado, além desta introdução, em quatro seções. A primeira delas
apresenta um quadro geral sobre a questão do cooperativismo agrícola no Rio Grande do Sul.
A segunda seção reúne alguns dados sobre a situação da agricultura familiar em municípios da
Serra dos Tapes, bem como do cooperativismo dessa região gaúcha. É na terceira seção que
abordaremos o tema dos mercados institucionais e suas interfaces com a questão do
cooperativismo. A quarta e última seção traz algumas conclusões e as considerações finais deste
estudo.

2 O COOPERATIVISMO AGRÍCOLA NO RIO GRANDE DO SUL

O Rio Grande do Sul é considerado o “berço do cooperativismo brasileiro”


(TAMBARÁ, 1983, p.52) por ser a unidade da federação onde surgiram as primeiras
experiências do gênero no país. A primeira delas foi erguida no município de Nova Petrópolis
por iniciativa do padre jesuíta suíço Teodoro Amstad em 1902, eclodindo, a partir de então,
diversas iniciativas idênticas na zona de colonização germânica situada ao norte da capital
gaúcha3.

Amstad dedicou-se à criação do que à época se conhecia como caixas rurais tipo
“Raiffeisen”, que nada mais eram que cooperativas de crédito destinadas a conceder
empréstimos para famílias de colonos católicos alemães através do sistema de crédito rotativo.
Em 1940 havia cerca de 40 unidades do gênero no Rio Grande do Sul, as quais permitiram com
que seus sócios pudessem adquirir mais terras, máquinas, construir engenhos, atafonas, etc.,
numa quadra da história em que as famílias enfrentavam grandes desafios e adversidades.

A segunda experiência do gênero corresponde às cooperativas de produção fundadas


pelo Dr. Di Stefano Paternó, político e advogado italiano que desembarcou em solo gaúcho em
1911, havendo sido contratado pelo governo estadual para disseminar a filosofia cooperativista

3
Existe certa controvérsia sobre o surgimento do cooperativismo no Brasil, havendo trabalhos (PINHO, 2004;
SOUZA, 2009) que consideram que, de fato, a primeira experiência cooperativista brasileira, nos moldes
rochaleanos, teria sido a Sociedade Cooperativa Econômica dos Funcionários Públicos de Ouro Preto (MG).
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e edificar cooperativas nas colônias de origem italiana, dedicadas especialmente à produção de


vinho, banha suína, laticínios, madeira, erva-mate, etc.

O caso do vinho é emblemático sobretudo porque o setor sofria os efeitos da adulteração


que ocorria nas cidades onde tal produto era comercializado. Paternó foi responsável pela
fundação de vinícolas em Porto Alegre, Caxias do Sul, Bento Gonçalves, Garibaldi, Alfredo
Chaves e Guaporé, bem como das chamadas “leitarias sociais”. Criou, inclusive, serrarias em
Alfredo Chaves que exportavam sua produção para fora do país. A atuação de Paternó, como
destaca Tambará (1983), ocorre no período compreendido entre 1911 e 1913. Todavia, tais
projetos fracassaram em virtude de vários fatores, sobretudo da inexperiência administrativa,
da desonestidade de alguns dirigentes e das sucessivas crises econômicas.

O balanço que faz Tambará a respeito dessa primeira fase do cooperativismo no Rio
Grande do Sul é apresentado nos seguintes termos:

Assim, de 1914 a 1929 observa-se no estado um grande silêncio no que diz respeito
às atividades associativas de cunho cooperativista. Raras são as comunidades rurais
que se arrojavam a investir neste tipo de empreendimento. Este período parecia estar
destinado a curar as feridas provocadas pelo desastre dos movimentos cooperativistas
fracassados (TAMBARÁ, 1983, p.55)

Entrementes, no período subsequente (décadas de 1930 e 1940) os ideais cooperativistas


são retomados pela própria necessidade de organização dos produtores frente aos desafios que
se apresentam a partir da ascensão de Vargas ao poder e da ênfase dada à criação de um mercado
integrado em nível nacional.

O certo é que o cooperativismo sobreviveu aos mais diversos regimes políticos,


metamorfoseando-se e servindo aos mais diversos propósitos. No Sul do Brasil, durante os anos
1960 e 1970, no auge da revolução verde, o cooperativismo é visto como o braço de penetração
do capitalismo no campo (TAMBARÁ, 1983, p.56) e instrumento de afirmação do modelo
agroindustrial-exportador (MEDEIROS, 1995). No Rio Grande do Sul esse processo aparece
associado ao apogeu e decadência do “cooperativismo empresarial”, magistralmente descrito
nos estudos de Benetti (1985; 1992) e Leclerc (1988).

As cooperativas empresariais são uma das faces visíveis da consolidação do complexo


agroindustrial brasileiro, que representa a fusão do capital comercial, industrial, agrário e
financeiro. Nesse contexto, como bem ressaltou Coradini,
O cooperativismo empresarialmente desenvolvido participa do padrão de acumulação
como sócio-subordinado e com lugar definido no movimento geral de acumulação e
reprodução, a exemplo do capital privado nacional, possibilitando sua rápida
expansão e mesmo integração vertical em determinados setores (CORADINI, 1981,
p. 64)

Tais abordagens mostram que as megacooperativas gaúchas chegaram a tal condição


durante os anos dourados do binômio trigo-soja, um sistema de rotação de culturas praticado
pelos produtores agrícolas, cuja ênfase era rentabilizar o uso dos fatores de produção (terra,
capital e trabalho). Tal sistema de exploração se consolida pari passu com a extraordinária
ampliação da capacidade de armazenamento e de processamento de grãos, bem como de um
ingente processo de acumulação de capital. As estruturas cooperativas chegaram a essa

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condição graças aos generosos incentivos (fiscais e creditícios) concedidos pelo Estado durante
os anos da ditadura militar (1964-1985).

A análise de Tambará sobre esse período, visto como auge do cooperativismo


empresarial no estado do Rio Grande do Sul, não deixa dúvidas acerca do aqui se busca aqui
retratar. Segundo suas próprias palavras:

[...] a expansão do sistema cooperativista no Rio Grande do Sul é impressionante. Este


sistema está alastrando-se a todos os setores da produção e, particularmente, no setor
agrícola, observa-se que sua participação vai desde a comercialização do produto até
a produção de insumos, industrialização e comercialização de matéria-prima,
colonização, supermercados, farmácias. Isto é, a cooperativa está constituindo-se na
instituição na qual desaguam e são equacionados todos os problemas de seus
associados (TAMBARÁ, 1983, p.56-57).

Prova cabal do poderio alcançado pelas megacooperativas se reflete no caso da


Centralsul (Central Cooperativa de Produtores Rurais do RS Ltda.) que chegou ao paroxismo
de criar uma estrutura capaz de fabricar agrotóxicos (herbicidas, inseticidas, carrapaticidas)
empregados nos processos produtivos de seus associados. Trata-se de um fato surpreendente,
sobretudo se temos em mente que tal fato coincide com um período em que empresas gigantes,
fabricantes destes e de outros pesticidas, já estavam em franca atuação em nosso país.

A Centralsul foi criada em 1980 como braço econômico das Federações das
Cooperativas do Trigo do Rio Grande do Sul (Fecotrigo), uma estrutura de segundo grau do
cooperativismo gaúcho erguida em 1958. Como bem descreve Benetti em sua obra:

Essa mudança de rumo da antiga FECOTRIGO poderá significar um marco decisivo


na história do cooperativismo estadual. A centralização da comercialização, através
da reunião das cooperativas singulares, suas federações e produtores, dedicados às
mais diversas linhas de produção, assim como uma política agressiva de fabricar
insumos agropecuários e alimentos podem ser início da formação de um gigantesco
complexo agroindustrial que, como tal, disputará com mais força uma parcela do
excedente gerado pelo sistema econômico como um todo (BENETTI, 1992, p.99;
grifos nossos)

Por força do advento das tecnologias de modernização (adubos químicos, mecanização


intensiva e uso de agrotóxicos) o país vivencia um espetacular incremento na produtividade dos
cultivos e criações e, consequentemente, da produção agropecuária nacional, por meio do qual,
alcança sucessivos superávits na balança comercial impulsionados por um ingente ingresso de
divisas. Mas este surto de crescimento se interrompe bruscamente durante os anos 1970 e o
Brasil mergulha numa nova crise econômica.

Os anos 1980 entraram para a história nacional como a chamada “década perdida”
(EINLOFT, 1990). O país entra em recessão e enfrenta dificuldades no que tange ao pagamento
dos juros da dívida externa. Some-se a isso o grande déficit fiscal e a crise inflacionária. A
questão da dívida externa é o resultado da elevação das taxas imposta pelos grandes impérios
do setor liderados pelo Fundo Monetário Internacional. Além disso, o período de
redemocratização nacional se inicia na segunda metade dos anos 1980 em meio a um quadro
em que as finanças públicas se apresentavam em situação dramática após 21 anos de ditadura
militar.

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No período compreendido entre os anos 1980 e 1994 o Brasil vive as agruras do que se
veio a chamar “estagflação” (CURADO & CRUZ, 2012, p.281), qual seja, a nefasta associação
entre estagnação econômica e hiperinflação. As medidas adotadas pelo governo federal incluem
cortes radicais no volume de crédito rural e uma progressiva retirada das generosas subvenções
concedidas ao setor agrícola no período correspondente às duas décadas precedentes
(FURSTENAU, 1990, p.213).

O ciclo recessivo levou à quebra de grandes conglomerados cooperativos no país, a


exemplo da Cooperativa Agrícola de Cotia. No Rio Grande do Sul a situação não foi distinta,
tendo como exemplo mais rotundo o caso da Centralsul descrito por Benetti (1985; 1992), mas
também de outras instituições do gênero4 que vivenciam um processo de endividamento sem
precedentes.

A crise do cooperativismo empresarial e a falência das chamadas multicooperativas


(BENETTI, 1992) representam a despedida melancólica de um modelo econômico e o
fechamento de um segundo ciclo do cooperativismo no estado do Rio Grande do Sul. Tal
cenário alimenta o ceticismo e a desconfiança dos produtores e da população, em geral, acerca
das virtudes do cooperativismo como ferramenta de promoção do desenvolvimento econômico
e social.

A pesquisa a que se refere este artigo volta-se a um padrão de cooperativismo que se


mostra radicalmente antagônico ao que marcou a segunda fase do cooperativismo gaúcho aqui
descrita. As diferenças, como posteriormente analisaremos, não decorrem do reduzido tamanho
das cooperativas que fizeram parte de nosso estudo, mas das razões que ensejaram o seu
surgimento. É mister afirmar que apesar dos fatos aqui relatados, o Rio Grande do Sul, segundo
dados do último censo agropecuário (IBGE, 2017), ocupa o primeiro posto dentre todas as
unidades federativas brasileiras do ponto de vista do percentual (39%) de estabelecimentos cujo
titular era associado a algum tipo de instituição cooperativa.

Mas a face atual do cooperativismo gaúcho se mostra algo desigual dentro da geografia
desta unidade federativa. Como mostra a Figura 1, os municípios do entorno de Pelotas, que
correspondem ao recorte da pesquisa, se situam no estrato mais baixo em termos de percentual
de produtores associados a instituições cooperativas (inferior a 30%). Destoa, portanto, das
zonas setentrionais do estado onde o mesmo índice é igual ou superior a 70%. Há também que
mencionar a situação da principal cooperativa da região (Cooperativa Sul de Laticínios), a qual
atravessa, nas atuais circunstâncias, uma grave crise de insolvência que afeta a milhares de
famílias rurais a ela associadas.

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Esse é o caso da Cooperativa Tritícola Ijuí (Cotrijuí) e da Cooperativa Tritícola Santo Ângelo (Cotrisa)
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Figura 1 – Porcentual de estabelecimentos com produtor associado à cooperativa.

Fonte: IBGE (Censo Agropecuário, 2017)

3 AGRICULTURA FAMILIAR E COOPERATIVISMO NA SUL DO BRASIL

Os dados do último censo agropecuário (2017) contabilizam uma superfície agrícola


correspondente a 583 mil hectares no conjunto representado pelos municípios (Arroio do Padre,
Canguçu, Morro Redondo, Pelotas, São Lourenço do Sul e Turuçu) que conformam o universo
da pesquisa. Não obstante, 43,5% desse montante está em mãos do que se considera como
agricultura familiar. A mesma fonte (Tabela 1) informa a existência de 15.049 estabelecimentos
agropecuários nesse conjunto de localidades, sendo que 85,5% deles são de caráter familiar.

É uma região do estado historicamente marcada pelos projetos de colonização privada


e oficial levados a cabo a partir da segunda metade do século XIX, sobretudo mediante o
assentamento de colonos de origem germânica, pomerana, italiana, portuguesa, etc., na região
da Serra dos Tapes aludida anteriormente. Até meados dos anos 1970 esta forma de agricultura
viveu seu auge, contribuindo decisivamente para que Pelotas se convertesse num importante e
diversificado polo de produção agroalimentar. As indústrias fabricantes de conservas (pêssego,
figo, abacaxi) se destacavam no cenário nacional. Até essa época ainda operavam diversas
agroindústrias rurais que processavam a produção de frutas e legumes que havia no âmbito das
colônias.
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Tabela 1 – Distribuição dos estabelecimentos agrícolas dos municípios de Arroio do Padre, Canguçu, Morro
Redondo, Pelotas, São Lourenço do Sul e Turuçu – RS, de acordo com o tamanho e a natureza (familiar e não-
Familiar).

Número de estabelecimentos
Municípios Total
Familiares Não-familiares
Arroio do Padre 400 27 427
Canguçu 6.691 1.384 8.075
Morro Redondo 369 116 485
Pelotas 2.444 253 2.697
São Lourenço do Sul 3.334 516 3.850
Turuçu 333 39 372
Total 12.869 2.180 15.049
Fonte: Elaboração dos autores a partir dos dados do Censo Agropecuário (IBGE, 2017)

Todavia, durante os anos 1980 e 1990 há claros sinais de decadência desse padrão de
desenvolvimento econômico com o fechamento de diversas indústrias de médio e grande porte.
Muitas famílias abandonam a produção hortifrutícola para se dedicar à produção de tabaco sob
o regime de integração vertical com as grandes empresas multinacionais deste setor.

As dificuldades vivenciadas pela agricultura familiar no extremo meridional do país são


flagrantes, não somente diante de conhecidos handicaps desse segmento produtivo (dificuldade
de acesso ao crédito agrícola, precariedade de infraestruturas produtivas, esgotamento dos
solos, etc.), mas, especialmente, da escassez de políticas públicas capazes de criar condições
mínimas para enfrentar um quadro que leva à inviabilização de centenas de explorações
familiares.

Nessa pesquisa a mirada esteve posta sobre a realidade de pequenas unidades


cooperativas cujo surgimento e atuação não podem ser compreendidos sem aludir ao ambiente
institucional criado pelas políticas de segurança alimentar levadas a efeito pelo Estado na última
década. Nesse plano há que destacar o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), o Programa
Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) e, especialmente, as Compras Institucionais
realizadas pelo projeto Restaurante-Escola da Universidade Federal de Pelotas (RE-UFPel),
guindadas à condição de principal mercado consumidor da produção das cooperativas da
agricultura familiar.

A Tabela 2 reúne dados das cinco cooperativas ofertantes de produtos para a UFPel.
Duas delas operam no âmbito da produção orgânica (Sul Ecológica e União) e três no âmbito
da produção convencional (CafSul, Coopamb, Coopap). Todavia, todas elas atendem aos
mercados institucionais (MI), incluindo, além da UFPel, a merenda escolar no âmbito municipal
e estadual, bem como refeitórios de unidades da Marinha e Exército no extremo sul gaúcho.

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Tabela 2 – Perfil produtivo das cooperativas fornecedoras de produtos alimentares para o RE-UFPel.

Ano de Nº Cooperados
Cooperativa Sede Mercados institucional (MI) ou Privado (MP)
criação 2016 2020
Produtores MI: PNAE Municipal e Estadual;
Agrícolas do Monte 2008 Pelotas 63 77 MP: Atacado e supermercado
Bonito (Coopamb) Elaboração de minimamente processados;
Produção convencional (não-orgânica)
Apicultores e MI: PNAE Municipal e Estadual, UFPel,
Fruticultores da 2009 Pelotas 372 550 Marinha, Exército
Zona Sul (CafSul) Industrializam o pêssego (compota)
Produção convencional (não-orgânica)
Agropecuária de Arroio MI: PNAE Municipal e Estadual, PAA,
Arroio do Padre 2011 do 70 82 UFPel, Marinha, Exército.
(Coopap) Padre Produção convencional (não-orgânica)
MI: PNAE Municipal e Estadual, PAA,
UFPel, Marinha, Exército;
MP: Supermercado
Sul Ecológica 2001 Pelotas 227 110 Venda direta: Loja da Cooperativa, Cestas por
assinatura e feiras
Possui agroindústria de conservas vegetais
Produção orgânica e certificada
União dos MI: PNAE Municipal e Estadual, PAA, PAA
Agricultores CONAB, UFPel, Marinha, Exército;
2009 Canguçu 112 250 Venda direta: sede da Cooperativa e Feira
Familiares de
Canguçu (União) Agroindústria de beneficiamento de Grãos;
Produção orgânica e certificada
Fonte: Elaboração dos autores a partir de diversas fontes, incluindo a UCP Emater (2020).

Algumas delas possuem agroindústrias de conservas vegetais, destacando-se o caso da


Coopamb que elabora os semiprocessados (operações de limpeza, descasque, etc.) e da União
que beneficia grãos, em ambos os casos entregues às cozinhas demandantes destes produtos. A
CafSul possui também uma agroindústria fabricante de compotas de pêssego.

Embutidas dentro do Fome Zero, tais políticas significaram a possibilidade de conciliar


o combate à fome e à insegurança alimentar com o imperativo da inclusão social, sobretudo ao
eleger agricultores familiares e outros atores sociais (quilombolas, indígenas, assentados da
reforma agrária, etc.) como ofertantes de produtos alimentares para atender aos mais diversos
públicos (escolas, creches, presídios, hospitais, etc.).

Desse modo os chamados mercados institucionais (MI) convertem-se numa forma de


inovação social no sentido mais puro do termo, bem como num espaço de aprendizagem
extremamente fecundo para os atores sociais envolvidos. Em última instância, tem-se aqui um
espaço pequeno, mas profícuo, de reafirmação dos princípios basilares da filosofia
cooperativista. Nada mais oportuno num país marcado pela desigualdade social, pelos
desequilíbrios regionais e assimetrias entre campo e cidade.

Todavia, para os efeitos que persegue esse artigo científico, vale indagar: como se
encontram atualmente posicionadas as cooperativas que operam no âmbito dos MI? Qual a
avaliação que fazem os produtores e produtoras desde que passaram a operar tais programas?
Quais as expectativas das cooperativas em relação ao futuro? Como tais organizações se

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ajustam às dificuldades cotidianas? Oferecer respostas a estas questões é o objeto da próxima


seção.

4 COOPERATIVISMO, MERCADOS INSTITUCIONAIS E INCLUSÃO SOCIAL

A criação de cooperativas torna-se um imperativo para o funcionamento dos mercados


institucionais, não somente para que as famílias rurais se organizem para participar das
chamadas públicas, mas especialmente para planejar a própria produção, distribuir tarefas,
oferecer assistência técnica às famílias rurais e assegurar uma oferta regular e diversificada de
produtos.

Ao realizar essa pesquisa partiu-se da premissa de que o surgimento das pequenas


cooperativas e a ampliação das já existentes à época do surgimento dos mercados institucionais
não podem ser compreendidos sem aludir à influência exercida por essas políticas públicas. O
caso do Restaurante-Escola da Universidade Federal de Pelotas (RE-UFPel) é muito relevante
sobretudo em função da dimensão que adquirem as compras da agricultura familiar5 do ponto
de vista dos volumes adquiridos e dos valores investidos.

Esse processo, no âmbito da UFPel, se inicia em 2006, mas foi a partir de 2013 que tal
iniciativa ganhou um forte impulso, não somente em virtude do percentual alcançado, quando
chegou a aproximadamente 80% de participação da agricultura familiar em 2017, mas pelo
número de refeições servidas (aproximadamente 1,2 milhão ao ano) e do volume de recursos
aplicados na região de influência da UFPel.

Para efeito de ilustração acerca da dimensão desse processo, transcrevemos aqui a


relação de produtos constantes na Chamada Pública nº 001/2014 da Fundação de Apoio
Universitário (FAU) da UFPel, onde constam nada menos que 72 produtos diferentes, como
indicam os dados do Quadro 1. Trata-se de uma oferta extremamente ampla e diversificada,
incluindo tanto produtos comuns, ou da agricultura convencional, como aqueles oriundos da
produção orgânica, que exclui terminantemente o uso de agroquímicos.

Esta amplitude reflete não somente a busca de uma oferta qualificada por parte da
organização dos refeitórios comandada, até então, pela FAU, mas também de uma estratégia
que possibilitava a que as cooperativas eventualmente pudessem substituir produtos que
estivessem em falta ou que realizassem ajustes quando a oferta fosse insuficiente.

5
A legislação que instituiu os mercados institucionais apresenta alguns marcos que são fundamentais, entre os
quais, a lei 10.696 que cria, no começo do primeiro mandato do presidente Lula da Silva (2003), o Programa de
Aquisição de Alimentos (PAA). Em 2009 surge a lei nº 11.947, através da qual, surge o Programa Nacional de
Alimentação Escolar (PNAE) que obriga a que os gestores dos estados e municípios destinem ao menos 30% dos
recursos do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) para a compra de produtos da agricultura
familiar em nível local ou regional. Além disso, é preciso mencionar o Decreto nº 8.473/15, de 22 de junho de
2015, que torna obrigatória a aquisição de alimentos de agricultores familiares e de suas organizações, de
empreendedores familiares rurais e demais beneficiários, no percentual mínimo de 30% do total dos recursos
recebidos para aquisição de gêneros alimentícios.
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Cooperativismo e inclusão social: o caso dos mercados institucionais no Sul do Brasil

Quadro 1 – Relação de produtos constantes na Chamada Pública nº 001/2014 da Fundação de Apoio


Universitário (FAU) da UFPel.
Abóbora
Brócolis Feijão Pepino Repolho
japonesa Alho porró Chuchu Louro
comum Amendoim salada roxo
comum
Abóbora
Amendoim Brócolis Chuchu Feijão Maça Eva Pepino Repolho
japonesa
em casca orgânica orgânico Carioca ou Gala orgânico verde
orgânica
Batata
Abobrinha Couve-flor Feijão Repolho
doce Beterraba Manjerona Pera
italiana comum Preto orgânico
comum
Batata
Aipim Beterraba Feijão
doce Couve Melão Pêssego Rúcula
comum orgânica Orgânico
orgânica
Alface Batata Brócolis Couve Pimentão Rúcula
Goiaba Milho doce
crespa inglesa comum chinesa amarelo orgânica
Brócolis Couve Milho Pimentão Tempero
Alface lisa Bergamota Hortelã
orgânica orgânica pipoca verde verde
Tempero
Alface Bergamota Laranja Pimentão
Caqui Ervilha Morango verde
mimosa orgânica suco orgânico
orgânico
Alface Espinafre Laranja Pimentão Tomate
Berinjela Cebola Mostarda
orgânica Comum orgânica vermelho orgânico
Alface Cebola Espinafre Vagem
Beterraba Limão Nabo Rabanete
Roxa orgânica orgânico comum
Fonte: Silveira (2020).

A fala do responsável pela unidade de cooperativismo da agência oficial de extensão


rural (Emater-RS) é bastante enfática ao relatar a situação de cooperativas cujo surgimento e
ampliação no número de sócios estão diretamente atrelados ao atendimento dessa demanda.
Esse é precisamente o caso da Coopap, durante o auge das compras da UFPel:

[...] a universidade eu acho que é crucial, né? Como que vou dizer pra ti? Por ela
conseguir colocar esse processo de maneira mais científica, né, e menos, é.... não só
política né? Científica é isso, gera renda, tinha a cooperativa vinte sócios, com esse
mercado hoje ela tem cento e cinquenta sócios, então incluiu mais tantas pessoas, ela
tinha o faturamento de trinta mil reais por ano, ela tem o faturamento hoje de um
milhão por ano.

O depoimento de um dirigente de cooperativa que já existia à época da aparição dos


mercados institucionais converge para o mesmo entendimento. Trata-se da Cafsul, que se viu
favorecida por ter onde escoar a produção de compotas de pêssego de seus associados,
justamente num período em que as famílias viam-se diante de dificuldades causadas pela
interrupção na compra desse produto por parte das grandes agroindústrias de Pelotas e região.
Os programas em questão impulsionaram a edificação da agroindústria da Cafsul para processar
uma produção que enfrentava dificuldades no que tange à comercialização:

[...] aí depois surgiu essa parte da indústria dispensar os produtores, e aí começou esse
programa de PAA e PNAE, que foi que deu um grande avanço da cooperativa. E aí
quando esses produtores não tiveram onde colocar o pêssego, a cooperativa conseguia
colocar nesses programas institucionais do governo... foi que deu esse avanço, porque
isso aqui mesmo não existia nada, nos primeiros tempos a gente se reunia ali na
paróquia, aí depois que surgiu a possibilidade da gente trabalhar e adquiriu essa parte

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com 2 ha de terra, aí a gente doou pra prefeitura de Pelotas e a prefeitura colocou esse
prédio que a gente tá aqui.

Muitos estudos abordam a questão dos mercados institucionais a partir do aporte da


teoria dos campos de Pierre Bourdieu (1980). Para esse sociólogo francês o campo há que ser
compreendido como um espaço de lutas ou como uma arena marcada pela interação de agentes
que ocupam diversas posições. No caso em tela o campo é constituído por representantes das
cooperativas, dos entes públicos (UFPel, prefeituras municipais, etc.) e privados (organizações
não-governamentais) que se articulam e veem-se diante da necessidade de construir pactos.

Dentro desse espaço a Emater-RS ocupa um lugar de destaque. É um órgão responsável


por assessorar as cooperativas, planejar a produção e qualificar os processos, adequando tais
instituições para satisfazerem as devidas exigências burocráticas. Fruto dessa aproximação
surgiu a questão da intercooperação. Concretamente trata-se de um recurso, através do qual, as
cooperativas se articulam no sentido de honrar as quantidades e qualidades requeridas pelos
entes públicos. Concretamente, trata-se de trocar produtos com outras cooperativas com o fito
de assegurar uma oferta diversificada.

Uma cooperativa que dispõe de excedentes de um dado produto agrícola cede-o para
uma outra cooperativa para que não haja solução de continuidade no atendimento do que foi
acordado no processo de contratação. Tal estratégia foi crucial para satisfazer a demanda da
UFPel, cuja magnitude dos volumes adquiridos, crescia a cada nova Chamada Pública. Esse
tipo de situação subverte a máxima de que sob o capitalismo os atores econômicos agem
estritamente pela lógica da competição e dos interesses imediatos. Os dois depoimentos que
evocamos aqui são bastante eloquentes para ilustrar esse fato. A primeira fala é do representante
da cooperativa União, a segunda, de dirigente da Cooperativa Sul Ecológica:

[...] hoje só estamos na universidade e escolas estaduais pra prefeitura, também tem
um acerto dentro das cooperativas da região da gente não entrar em Pelotas, que daí
entra a Sul Ecológica, a CAFSul e a COOPAMB. [...]. Não, pra Sul [Ecológica] hoje
a gente faz algum, a gente tem uma parceria de beneficiamento de produtos pra eles e
já realizamos também a vender, de acontecer de falta algum produto pra eles e ali a
gente fazer essa parceria, ou faltar pra nós e a gente adquire deles, então tem essa
relação comercial, mais se faltar algum produto...

[...] nós tínhamos essa mediação, nós enquanto cooperativa nós não nos víamos como
concorrentes, e sim tentávamos complementar pra que a UFPel comprasse maior
número de produtos e o maior percentual de produtos da agricultura familiar, e até
mesmo porque a gente é bem realista no sentido de que uma cooperativa não consegue
atender a universidade, e no momento que a gente fazia esse consenso do que cada
um teria pra entregar, e quais os períodos, era mais, era maior a chance de não dar
problema. Ah, hoje a Cooperativa Sul Ecológica não tem alface essa semana, mas a
Cafsul tem, Coopamb tem, a Coopap tem. Então fazia todo esse trabalho e lá no final
da ponta a universidade recebia produto, e nós conseguíamos comercializar.

A garantia de compra da produção trouxe consigo desdobramentos importantes em


diversas esferas. Merece registro o incentivo à realização de pequenos investimentos no âmbito
dos estabelecimentos rurais, bem como dentro das próprias cooperativas. A fala de uma
agricultora associada à Cooperativa União exemplifica, de forma cabal, esse aspecto. Essa
renda segura ampliou os horizontes de uma jovem família de produtores:
A gente adquiriu pra trabalhar na horta um tratorzinho Tobata usado, mas que como
não se trabalha pouco, a gente investiu 2 mil reais nele e só nós fossemos comprar
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qualquer outro trator ia tá compactando a terra, e ia ser um gasto bem maior de 15-20
mil reais, foi o implemento que a gente comprou. Por enquanto, todo meu suor e do
meu companheiro, vai na construção da casa, então, com certeza essa renda que entrou
foi pra comprar algum material pra dentro da casa, a gente tá construindo a casa

Com relação às cooperativas o relato da dirigente da Cooperativa Sul Ecológica traduz,


de forma magistral, os benefícios advindos dos mercados institucionais. Tal instituição sofreu
um processo de requalificação que foi sendo posto em marcha em meio à relação construída
com a coordenação do RE-UFPel. Segundo suas próprias palavras:

[...] a gente lutou pra que as cooperativas atendessem, se adequassem, trabalhassem


desde a padronização dos alimentos, tudo, todo um trabalho de muitos anos, e um
trabalho a muitas mãos, por que nós tínhamos falhas, por que o agricultor estava
acostumado pra um outro mercado, né, ela tinha suas características e depois a gente
teve tudo que se qualificar pra entregar na UFPel, e a M. [nome da responsável pelo
RE-UFPel] aprendeu com a gente também... Nós aprendemos com ela...

O segundo desdobramento envolve a construção de estruturas de beneficiamento e de


agregação de valor à produção de seus respectivos associados, como assim destaca a dirigente
da Cooperativa Sul Ecológica em seu depoimento:

Então a cooperativa legalizou sua agroindústria e daí através da agroindustrialização,


do beneficiamento do produto... Reduz as perdas né? Então a gente tá pensando, e já
tem uma linha de produtos que são o extrato de tomate, o molho de tomate, as geleias
e conservas para que a gente consiga, através do beneficiamento do produto, escoar a
produção do agricultor.

Os dois vetores – cooperativismo e mercados institucionais – se inserem dentro de um


mesmo contexto político e socioeconômico, influenciando-se e reforçando-se reciprocamente.
Assim se manifestou outro dirigente da Cooperativa Sul Ecológica sobre esse aspecto:

Então eu defendo, assim, bastante isso, um princípio de cooperativismo e


associativismo acho que isso é, ainda é a forma dos pequenos conseguirem resistir,
caso contrário, a gente vê assim muita dificuldade, no caso das pessoas que ficaram
individuais... Hoje tão numa situação bem pior, tanto financeiramente quanto aquela
coisa do convívio.

Os produtores implicados na dinâmica dos mercados institucionais reconhecem, em


grande medida, as virtudes do associativismo, não apenas dentro desse contexto, mas como
instituição mediadora que amplia os horizontes da agricultura familiar. A manifestação de uma
jovem agricultora ilustra com muita propriedade essa afirmação. Em sua fala relata que a
comercialização da produção de mel foi a razão inicial para ingressar na Coop. Sul Ecológica.
Todavia, em virtude dessa filiação, teve ela a oportunidade de acessar o crédito fundiário e
conquistar a própria terra:

[...] aí eu conheci a cooperativa Sul Ecológica e me associei nela pra comércio do mel.
Aí me apaixonei por essa cooperativa que veio me fazer adquirir essa terra pelo crédito
fundiário, vendo que era possível produzir e uma cooperativa comercializar, só que
terminei me envolvendo cada vez com mais intensidade na cooperativa, e isso
prejudicou um pouco, digamos em termo, a minha própria família por me envolver
demais na cooperativa Sul Ecológica... Mas a origem dessa propriedade foi devido à
cooperativa Sul Ecológica.

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Os resultados alcançados pelos mercados institucionais são muito eloquentes, assim


como o reconhecimento acerca do protagonismo das cooperativas em responder aos
compromissos das Chamadas Públicas. Os recursos financeiros disponibilizados por seu
intermédio ampliaram horizontes de centenas de famílias rurais e ajudaram a formar tecido
social na área de influência da UFPel, onde antes ele era frágil ou, inclusive, inexistente.

Não obstante, o ciclo virtuoso foi interrompido em 2018, momento em que a UFPel
decide terceirizar a gestão dos quatro refeitórios articulados em torno ao projeto Restaurante-
Escola6. A pressão exercida pelo Tribunal de Contas da União fez com que a reitoria da UFPel
renunciasse ao compromisso de manter a Fundação de Apoio Universitário como gestora do
processo, assim como de seguir comprando os produtos das cooperativas da agricultura
familiar.

Através da Tabela 3 se informa o volume de recursos investidos pela UFPel nas


Chamadas Públicas que se sucederam entre os anos 2014 e 2018. Durante esse período, tal
montante permaneceu na região, gerando riqueza e sem prejuízo à qualidade e quantidade das
refeições servidas nos refeitórios.

Tabela 3 – Volume de recursos de Chamadas Públicas do RE-UFPel entre os anos 2014 e 2017.
Chamada Pública Montante (R$)
001/2014 661.266,68
001/2015 342.010,18
001/2016 890.747,92
002/2016 748.439,08
001/2017 610.060,22
Total 3.252.524,08
Fonte: Sacco dos Anjos & Caldas (2020, p.119-120).

Algumas iniciativas foram tomadas no sentido de construir um novo edital que obrigasse
as duas empresas de catering vencedoras do processo licitatório a manterem um nível mínimo
de aquisições. Não obstante, tais medidas se mostraram praticamente inócuas. Alguns
depoimentos traduziram, de forma enfática, o desalento de nossos entrevistados sobre essa
mudança. O presidente da Cooperativa União se manifestou nos seguintes termos:

[...] foi uma grande perda pra nós enquanto região, pra nós enquanto cooperativas,
essa questão de terceirização do RE-UFPel, no nosso entendimento já tinha
comentado ali contigo, que a universidade deveria de ter adotado uma outra
metodologia, talvez mantendo as compras junto da universidade e terceirizando o
serviço final, a prestação do serviço em si, que eu acho que a gente deve de ainda
continuar no diálogo, num futuro pra que isso aconteça, mas também a gente vê riscos,
teve perdas, tanto não só com a universidade, se tinha a CONAB que era uma grande
parceira, que comprava muito do PAA aqui no RS, que hoje está restrito a 4 -5 projetos
no estado com um valor muito reduzidos

A queda na qualidade das refeições servidas foi sentida pela comunidade universitária.
Como bem frisaram nossos entrevistados, a lógica das empresas de catering não é gerar
empregos, promover a inclusão social ou comprar a produção do município ou da região, mas

6
O projeto Restaurante-Escola não era apenas um dispositivo para fornecer refeições à comunidade universitária,
mas sobretudo um espaço de aprendizagem e formação para alunos de diferentes cursos e campos do
conhecimento.
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Cooperativismo e inclusão social: o caso dos mercados institucionais no Sul do Brasil

sim, gerar lucro. O resultado econômico almejado pelas empresas se dá via compra de insumos
de onde quer que sejam, desde que tenham o preço mais baixo possível. Essa, infelizmente, é
regra básica de órgãos de controle como o TCU, que não consegue ir além da esquizofrênica
armadilha do critério do preço mínimo, uma lógica que invariavelmente sacrifica a qualidade
do que se adquire em nome do preço mais acessível.

Entrementes, cabe registrar que no começo da última década, quando esse processo de
compras institucionais começava a se ampliar, reinava um mito no sentido de considerar que as
explorações familiares existentes na área de influência da UFPel não teriam capacidade de
prover os diversos refeitórios, considerando tratar-se de uma população diária estimada em 6
mil comensais.

Esse mito foi rompido, assim como qualquer suspeição sobre a capacidade das famílias
rurais de produzir com qualidade e de dar uma resposta efetiva aos requisitos constantes nas
Chamadas Públicas. O dirigente da Cafsul resumiu o sentimento de lideranças das cooperativas
acerca das virtudes dos mercados institucionais, bem como das preocupações sobre o futuro da
produção agroalimentar em nosso país:

Eu acho que isso é um programa que foi muito bem pensado, pra manter o agricultor
no campo, porque se nós não manter o agricultor no campo, existe um ditado ‘se a
colônia não planta a cidade não janta’ e é bem por aí, porque se não tivesse esse
programa pra ter uma segurança pro produtor vender, daí uns 10 anos nós vamos ter
grande dificuldade de comida pro povo porque não vai ter quem produza, porque se o
produtor não tiver um mercado certo, o produtor sabe produzir, mas ele não sai da
porteira pra fora pra vender.

A criação dos mercados institucionais foi responsável por sentar as bases para um
processo de organização das famílias rurais materializado na criação de pequenas cooperativas
que asseguravam um fornecimento regular de frutas, legumes, grãos e conservas utilizados na
elaboração de um número significativo de refeições pela Fundação da UFPel, então responsável
pela gestão dos refeitórios. Todavia, se o futuro é incerto em relação às compras institucionais,
o mesmo há que ser dito em relação às cooperativas que, nas atuais circunstâncias, veem-se
diante do esforço de encontrar alternativas para escoar a própria produção e garantir a
subsistência das famílias rurais cooperadas.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Nos seus primórdios (séc. XVIII) o cooperativismo era pensado como alternativa
econômica às vicissitudes impostas pelo capitalismo industrial. O marco da primeira instituição
do gênero (1844) foi uma cooperativa de consumo criada por 28 tecelões ingleses (27 homens
e uma mulher) que, por seu intermédio, lograram assegurar a sobrevivência das próprias
famílias através de compras coletivas de gêneros de primeira necessidade.

Guardadas as diferenças históricas e geográficas, foi também através dos mesmos


princípios que surgiram, no interior do Rio Grande do Sul as primeiras experiências de
cooperativismo no Brasil. Todavia, foi também nessa unidade federativa que vimos eclodir o
que se veio a chamar-se “multicooperativas”, também denominadas cooperativas empresariais
cujo agigantamento se deu a partir dos incentivos concedidos especialmente pelo regime

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autoritário durante as décadas de 1960 e 1980, em pleno auge da modernização conservadora


da agricultura brasileira.

A crise econômica dos anos 1980 levou ao colapso muitas das cooperativas cuja
expansão estava totalmente atrelada aos generosos subsídios fiscais e creditícios concedidos
pelo Estado. O caso da Centralsul mostra como uma instituição do gênero foi responsável por
assumir a produção de adubos químicos e inclusive de agrotóxicos empregados pelos
produtores que operavam no contexto do chamado binômio trigo-soja.

Destarte, o contexto sobre o qual nos debruçamos nesse artigo dista frontalmente dessa
realidade. Nosso olhar se voltou para o caso de pequenas cooperativas cujo surgimento está
totalmente atrelado à criação dos mercados institucionais. É através destes mercados que
operam as compras realizadas por instituições (prefeituras, Exército, Marinha, universidades,
etc.) que regularmente fornecem refeições aos seus públicos.

O caso do Restaurante-Escola da UFPel ocupou lugar de destaque não somente em


virtude das quantidades adquiridas ao longo da década, mas pelo volume de recursos que
circulou na região durante os últimos seis anos. As cooperativas já existentes à época da criação
destes mercados arregimentaram novos sócios, os produtores investiram em seus
estabelecimentos para ampliar a oferta. Tais instituições associativas aperfeiçoaram sua
capacidade de produção e de agregação de valor aos produtos.

O êxito alcançado ao longo da década não foi capaz de fazer frente aos entraves
burocráticos, às armadilhas impostas pelos órgãos de controle e à falta de compromisso da
UFPel no sentido de preservar o que havia sido conquistado. A pressão exercida pelo Tribunal
de Contas da União implodiu um modelo eficiente de aquisição de alimentos e interrompeu um
virtuoso ciclo de inclusão social, até então visto como marco de referência e fonte inspiradora
para o surgimento de experiências similares em outros pontos do país. A terceirização dos
refeitórios atende aos rigores da lei, mas nem de longe pode ser vista como próxima da
qualidade alcançada pelo regime que lhe antecedeu.

Todavia, fortes são os argumentos que obram a favor do cooperativismo como


ferramenta para ampliar os horizontes das famílias rurais, promover a inclusão social e
desencadear um processo de aprendizagem e inovação que fez com que as cooperativas
trabalhassem em conjunto sob a batuta da unidade de cooperativismo coordenada pela agência
estatal de extensão rural. Só o futuro dirá se tais instituições saberão se reinventar e ressurgirem
como fênix de um cenário que se mostra plagado de desafios e incertezas.

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