O documento aborda a história do negro no Brasil, destacando a vinda forçada de africanos através do tráfico transatlântico, que trouxe cerca de 4 milhões de escravizados para o país. A narrativa enfatiza a resistência dos escravizados, suas contribuições culturais e as leis que culminaram na abolição da escravidão em 1888. Além disso, menciona a formação de quilombos como uma forma de resistência e afirmação da identidade negra.
O documento aborda a história do negro no Brasil, destacando a vinda forçada de africanos através do tráfico transatlântico, que trouxe cerca de 4 milhões de escravizados para o país. A narrativa enfatiza a resistência dos escravizados, suas contribuições culturais e as leis que culminaram na abolição da escravidão em 1888. Além disso, menciona a formação de quilombos como uma forma de resistência e afirmação da identidade negra.
O documento aborda a história do negro no Brasil, destacando a vinda forçada de africanos através do tráfico transatlântico, que trouxe cerca de 4 milhões de escravizados para o país. A narrativa enfatiza a resistência dos escravizados, suas contribuições culturais e as leis que culminaram na abolição da escravidão em 1888. Além disso, menciona a formação de quilombos como uma forma de resistência e afirmação da identidade negra.
O documento aborda a história do negro no Brasil, destacando a vinda forçada de africanos através do tráfico transatlântico, que trouxe cerca de 4 milhões de escravizados para o país. A narrativa enfatiza a resistência dos escravizados, suas contribuições culturais e as leis que culminaram na abolição da escravidão em 1888. Além disso, menciona a formação de quilombos como uma forma de resistência e afirmação da identidade negra.
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A HISTÓRIA DO NEGRO NO
BRASIL Professor Antonio Marques COMO ESSA HISTÓRIA COMEÇOU?
A história da África não começou com à escravidão, logo
a história do negro se limita a escravidão, mas o ponto de partida da vinda de contigentes de africanos para o Brasil se deu neste contexto. TRÁFICO A partir do século XVI o tráfico de africanos para o Brasil tornou-se um negócio altamente lucrativo para comerciantes dos dois lados do Atlântico. Primeiramente, o tráfico era realizado por comerciantes portugueses, que foram sendo substituídos por brasileiros até que, no século XVIII, O tráfico transatlântico de escravizados mobilizava um grande número de pessoas e de capital. Para se ter uma idéia aproximada, calcula-se que cerca de 11 milhões de africanos foram trazidos à força para as Américas na condição de escravizados entre os séculos XVI e XIX.
Este número não inclui aqueles que morreram durante
os violentos processos de apresamento e de embarque na África nem aqueles que não sobreviveriam à travessia do Atlântico. Destes, mais de um terço ou cerca de 4 milhões foram trazidos para o Brasil. Os africanos eram capturados nas planícies africanas e levados até o litoral. Lá chegando, ficavam acondicionados em galpões durante semanas à espera de um navio negreiro. Este era também chamado de tumbeiro, dado o elevado número de mortes ocorridas durante a travessia do Atlântico. Quando o navio negreiro aportava, eram embarcados no porão em grupos de 300 a 500 indivíduos, em uma viagem que poderia durar de 30 a 50 dias. Para que coubessem mais pessoas, os suprimentos eram diminuídos. Desembarcados no Brasil, nos portos de Recife, Salvador, Rio de Janeiro e São Vicente, os africanos escravizados eram distribuídos para as diferentes localidades para realizar todo tipo de trabalho. Começaram trabalhando no litoral, no corte do pau-brasil e, posteriormente, no trabalho nos engenhos de cana-de- açúcar. Depois, foram levados para o interior do território e regiões longínquas para trabalhar na mineração, na criação de gado, no cultivo de cacau, nas charqueadas, na exploração das “drogas do sertão”. Trabalhavam também no serviço doméstico, nas construções públicas de todos os tipos e no comércio de gêneros alimentícios. DEVE SER RESSALTADO QUE, AO SEREM LEVADOS A DESEMPENHAR DIFERENTES FUNÇÕES, OS AFRICANOS NÃO CHEGAVAM DESTITUÍDOS DE SUA BAGAGEM CULTURAL. É FUNDAMENTAL SUBLINHAR QUE OS POVOS AFRICANOS TIVERAM UM PAPEL ATIVO NA COLONIZAÇÃO E POVOAMENTO DO BRASIL, QUE FORAM REALIZADOS POR ELES E SEUS DESCENDENTES, JUNTAMENTE COM A POPULAÇÃO INDÍGENA ESCRAVIZADA.
VÁRIAS DAS TÉCNICAS DE CULTIVO, DE CRIAÇÃO DE GADO, E DE
MINERAÇÃO DO FERRO FORAM ENSINADAS PELOS AFRICANOS AOS PORTUGUESES, ALÉM DA EVIDENTE INFLUÊNCIA LINGÜÍSTICA E RELIGIOSA, O QUE NOS PERMITE DIZER QUE O AFRICANO TAMBÉM FOI UM ELEMENTO CIVILIZADOR DO BRASIL. PESSOAS, NÃO COISAS NO BRASIL, A CONDIÇÃO JURÍDICA DOS ESCRAVIZADOS SEGUIA A MESMA NORMA DO DIREITO ROMANO, A DE “COISA”. E TAMBÉM COMO O DIREITO ROMANO, A ESCRAVIDÃO SEGUIA O VENTRE, O QUE SIGNIFICAVA DIZER QUE TODO O FILHO DE ESCRAVA NASCIA ESCRAVO. Por serem juridicamente “coisas”, os homens e mulheres escravizados podiam ser doados, vendidos, trocados, legados nos testamentos de seus senhores e partilhados, como quaisquer outros bens. Na condição de “coisa” eles não podiam possuir e legar bens, constituir poupança, nem testemunhar em processos judiciais. A coisificação jurídica do escravizado fazia parte de uma estratégia de dominação que buscava desumanizar os escravizados e que ao mesmo tempo em que os destituíam de todos os direitos criava uma ideologia de subalternidade, segundo a qual eles seriam incapazes de refletir e contestar a própria condição. A coisificação jurídica do escravizado fazia parte de uma estratégia de dominação que buscava desumanizar os escravizados e que ao mesmo tempo em que os destituíam de todos os direitos criava uma ideologia de subalternidade, segundo a qual eles seriam incapazes de refletir e contestar a própria condição. É NECESSÁRIO RESSALTAR QUE A COISIFICAÇÃO DO ESCRAVO ERA UMA IDEOLOGIA SENHORIAL, NÃO REFLETIA A VISÃO DE HOMENS E MULHERES ESCRAVIZADOS. ESTES NUNCA PERDERAM A SUA HUMANIDADE: AMARAM, BUSCARAM CONSTITUIR SUAS FAMÍLIAS, VALORIZARAM OS LAÇOS DE PARENTESCO E DE AMIZADE, CULTUARAM SEUS DEUSES, LUTARAM POR MELHORES CONDIÇÕES DE VIDA E NÃO SE CONFORMARAM COM A ESCRAVIDÃO. Prova de que os homens e mulheres escravizados não se conformavam com a escravidão era a necessidade do uso da violência física como forma de manter a dominação. Qualquer ato de desobediência dos escravizados era respondido com o castigo físico exemplar, através do qual o senhor pretendia reafirmar o seu poder, marcando no corpo do escravizado a sua submissão. Ainda que muito importante para a manutenção da escravidão, o castigo físico não era a única medida de manutenção da política de domínio senhorial. Por estar disseminada por toda a sociedade - pessoas de todas as classes sociais possuíam escravos - a escravidão contava com um universo de relações que se encarregava de vigiar os escravizados, buscando controlar suas atividades e seus movimentos. MUITOS ESCRAVOS DE GANHO FORAM TREINADOS EM OFÍCIOS ESPECIALIZADOS, COMO CARPINTEIROS, MARCENEIROS E PEDREIROS, O QUE FAZIA COM QUE SEU PREÇO SE VALORIZASSE MUITO DIANTE DA ESCASSEZ DE MÃO DE OBRA PARA ESTES SERVIÇOS. ESCRAVOS COZINHEIROS ERAM MUITO VALORIZADOS NO SÉCULO XIX PARA O SERVIÇO EM HOTÉIS EM SALVADOR. POR ISSO É NECESSARIO RESSALTAR A FIGURA DA TIA NÁSTACIA QUE EVOCA ESSA SUB ALTERNIDADE PÓS ABOLIÇÃO Apesar da violência física a que eram submetidos como forma de se conformar à escravidão, os homens e mulheres escravizados frequentemente se rebelavam. Em geral, todos possuíam algum ato de rebeldia no currículo e o escravizado aparentemente passivo de hoje, poderia estar juntando dinheiro para conseguir se libertar pela vias legais, ou estar apenas esperando uma boa oportunidade para fugir ou se rebelar. Nem a vigilância a que eram submetidos, nem os castigos físicos, eram suficientes para garantir a obediência e submissão dos escravizados. Com alguma freqüência, os castigos considerados excessivos podiam resultar na morte do feitor, do senhor ou de seus familiares. Nas suas lutas cotidianas, os escravizados criaram espaços de negociação com o senhor que, se por um lado não acabava com a escravidão, por outro lado trazia melhores condições de vida e maiores O FIM DO TRÁFICO TRANSATLÂNTICO DE ESCRAVOS A Inglaterra, em pleno curso de sua revolução industrial, tinha interesse de estabelecer igualdade de condições de produção entre várias regiões coloniais e ampliar o mercado consumidor de seus produtos. Vastos foram os acordos feitos com a Inglaterra, anteriores à lei que aboliu definitivamente o tráfico de escravos para o Brasil, em 1850, e recorrente a desobediência brasileira a esses acordos. A LEI ANTI-TRÁFICO DE 1831 E O BILL ABERDEEN Após 1822, em troca do reconhecimento da independência política, o Brasil se comprometeu a abolir o tráfico em 1830. Em 1831, foi promulgada uma lei nesse sentido, que se tornou letra morta ou uma lei “para inglês ver”, como foi dito na época. Frente a mais uma lei descumprida (a Lei anti-tráfico de 1831), em 1845, a Inglaterra promulgou o Bill Aberdeen, uma lei que autorizava a captura de navios brasileiros pela marinha britânica e o julgamento da tripulação do navio por tribunais militares britânicos. A LEI ANTI-TRÁFICO DE 1850 LEI EUSÉBIO DE QUEIRÓS Em 1850, o Brasil promulgava uma nova lei anti-tráfico, na qual o tráfico era equiparado à pirataria, os traficantes ficavam sujeitos à pena de prisão e ao pagamento da reexportação de africanos, além de serem julgados por um tribunal especial: a auditoria da marinha brasileira. Ao mesmo tempo, os compradores de escravos não eram considerados culpados pelo crime de contrabando. Além disso, como um complemento à lei anti-tráfico de 1850, o governo promulgou a Lei de Terras, buscando dificultar o acesso do imigrante à terra para que, desse modo, viesse a substituir o braço escravo. Datam desta época os primeiros incentivos à imigração, através da formação de colônias de imigrantes. LEI DO VENTRE LIVRE - 1871
Uma das precursoras da Lei Áurea, a norma determinou
que, de 28 de setembro de 1871 em diante, as mulheres escravizadas dariam à luz apenas bebês livres. De acordo com a lei, não nasceria mais nenhum escravizado em solo brasileiro. Os bebês, na realidade, não seriam livres de verdade. Grosso modo, a Lei do Ventre Livre estabeleceu que os filhos permaneceriam junto da mãe escravizada, vivendo no cativeiro, até os 8 anos de idade. Dos 8 aos 21 anos, continuariam na propriedade do senhor ou, se ele não os quisesse mais, ficariam sob a tutela do Estado. O poder público, contudo, não se preparou para cuidar das crianças que completassem 8 anos. Elas, então, permaneceram nas fazendas, trabalhando como se fossem escravizadas. Na prática, a liberdade prevista na Lei do Ventre Livre só viria mesmo na idade adulta, aos 21 anos.
O trabalho que os filhos das escravizadas prestariam ao
longo dos anos gratuitamente ao fazendeiro serviria de compensação pelos gastos com a criação (teto, comida, roupa etc.) e também de indenização pela perda compulsória da “propriedade”. LEI SARAIVA-COTEGIPE OU LEI DOS SEXAGENÁRIOS - 1885
Determinava que os escravizados com 60 anos ou mais
deveriam ser livres. Essa lei foi aprovada no gabinete do Barão de Cotegipe e foi um esforço dos escravagistas para conter a força do movimento abolicionista no Brasil. A lei era conservadora e estipulava restrições aos negros libertos. O dispositivo, no entanto, não conseguiu enfraquecer o abolicionismo, LEI ÁUREA – LEI Nº 3.353 DE 13 DE MAIO DE 1888 Declara extincta a escravidão no Brasil
A Princesa Imperial Regente, em nome de Sua Majestade o
Imperador, o Senhor D. Pedro II, faz saber a todos os súditos do Império que a Assembleia Geral decretou e ela sancionou a lei seguinte:
Art. 1°: É declarada extinta desde a data desta lei a
escravidão no Brasil. Art. 2°: Revogam-se as disposições em contrário. Manda, portanto, a todas as autoridades, a quem o conhecimento e execução da referida Lei pertencer, que a cumpram, e façam cumprir e guardar tão inteiramente como nela se contém. O secretário de Estado dos Negócios da Agricultura, Comércio e Obras Públicas e interino dos Negócios Estrangeiros, Bacharel Rodrigo Augusto da Silva, do Conselho de Sua Majestade o Imperador, o faça imprimir, publicar e correr. Dada no Palácio do Rio de Janeiro, em 13 de maio de 1888, 67º da Independência e do Império.
Princesa Imperial Regente.
Rodrigo Augusto da Silva RESISTÊNCIA NEGRA NO BRASIL Onde quer que tenha existido escravidão, houve resistência escrava. No Brasil os escravizados resistiram ao sistema escravista durante os quase quatro séculos em que a escravidão existiu entre nós. O que era feito das mais variadas e criativas formas: fazendo “corpo mole” na realização das tarefas, através de sabotagens, roubos, sarcasmos, suicídios, abortos, fugas e formação de quilombos, combates armados Atualmente, os estudiosos do protesto negro têm pensado o conceito de resistência escrava de forma bem mais elástica. Para eles, a resistência escrava não deve ser vista apenas pela ótica econômica - de afronta à propriedade - mas também pelo desenvolvimento de uma cultura afro-brasileira que se contrapunha à cultura branca imposta aos escravizados. Os espaços de manutenção e recriação das culturas negras foram também utilizados como forma de contestação à sociedade escravista e pós- escravista. Daí podermos chamar este outro aspecto da resistência negra de resistência cultura Perdigão Malheiro, importante jurista do século XIX, entendia a fuga como parte inerente ao sistema escravista. Há uma concordância geral entre os estudiosos da escravidão com a opinião de Malheiro, de que a fuga foi um aspecto típico do escravismo. Onde quer que tenha existido escravidão, foram comuns as fugas, os anúncios nos jornais buscando fugitivos e também a figura do capitão-do-mato. Após a fuga, o escravizado podia tentar se esconder nas matas, onde frequentemente formavam quilombos, ou ainda tentar se misturar na densa população africana e afro-descendente que habitavam os núcleos urbanos, tentando se passar por livre ou por liberto A fuga representou um modo significativo no processo de resistência ao cativeiro e de auto-afirmação da condição humana do escravizado em oposição ao sistema escravista. Em primeiro plano provocava um abalo do ponto de vista econômico, tanto de posse quanto de produção, por vários motivos: porque o escravizado deixava de trabalhar enquanto estava fugido, deixando, portanto, de gerar lucro para o seu senhor; também por não haver garantia de que o escravizado fosse ser apreendido. FORMAÇÃO DE QUILOMBOS Até o ano de 2009, o Governo Brasileiro, através do Programa Brasil Quilombola certificou 1.342 comunidades como comunidades quilombolas. Veremos a seguir o que foram os quilombos como forma de resistência à escravidão e o que hoje significam as comunidades de remanescentes de quilombos Os quilombos ou mocambos existiram desde a época colonial até os últimos anos do sistema escravista e, assim como as fugas, foram comuns em todos os lugares em que existiu escravidão. Seus moradores eram chamados de quilombolas, calhambolas, ou mocambeiros, e frequentemente agiam em parceria com outros setores sociais como libertos, índios, criminosos e desertores das forças armadas. OS QUILOMBOS OU COMUNIDADES DE FUGITIVOS EXISTIRAM EM DIFERENTES ÁREAS ESCRAVISTAS DAS AMÉRICAS. NA COLÔMBIA ERAM CHAMADOS DE “PALENQUES”, NA VENEZUELA DE “CUMBES”, NOS EUA E CARIBE INGLÊS DE “MAROONS”, ENQUANTO NO BRASIL ERAM CHAMDOS DE QUILOMBOS OU MOCAMBOS. A ORIGEM DO TERMO NO BRASIL REMETE AO IDIOMA BANTU ONDE QUILOMBO/MOCAMBO SIGNIFICAVA ACAMPAMENTO. "A PALAVRA QUILOMBO ORIGINA-SE DO TERMO KILOMBO, PRESENTE NO IDIOMA DOS POVOS BANTU (JAGAS), ORIGINÁRIOS DE ANGOLA, E SIGNIFICA LOCAL DE POUSO OU ACAMPAMENTO. OS POVOS DA ÁFRICA OCIDENTAL ERAM, SEMI-NÔMADES, E OS LOCAIS DE ACAMPAMENTO ERAM UTILIZADOS PARA REPOUSO EM LONGAS VIAGENS OU BASE PARA INFILTRAÇÃO NOS TERRITORIOS A formação de quilombos pressupõe um tipo específico de fuga, a fuga rompimento, cujo objetivo maior era a liberdade. Essa não era uma alternativa fácil a ser seguida, pois significava viver sendo perseguido não apenas como um escravo fugido, mas como criminoso. O quilombo mais estudado e mais famoso da história brasileira foi o Quilombo dos Palmares. QUILOMBO DOS PALMARES
Palmares foi um quilombo formado no século XVII, na Serra
da Barriga, região entre os estados de Alagoas e Pernambuco. Localizado numa área de difícil acesso, os aquilombados conseguiram formar um Estado com estrutura política, militar, econômica e sociocultural, que tinha por modelo a organização social de antigos reinos africanos. Calcula-se que Palmares chegou a possuir uma população de 30 mil pessoas. Depois de Palmares, qualquer pequeno grupo de escravizados fugitivos que fosse encontrado nas matas, passou a ser considerado quilombo e, como tal, precisava ser destruído. Dessa forma, a definição de quilombo pós- Palmares passava a ser a seguinte:
“...toda habitação de negros fugidos que passem de cinco, em
parte desprovida, ainda que não tenham ranchos levantados nem se achem pilões neles”
(Resposta do rei de Portugal à consulta do Conselho Ultramarinho, datada de 2
de dezembro de 1740) É claro que esta definição de quilombo visava acabar com este tipo de resistência escrava ainda no nascedouro, evitando que a união de escravizados fugidos viesse a constituir um quilombo das proporções de Palmares, que ameaçou a ordem escravista na colônia. Foi também após Palmares que foi criado o posto de capitão-do-mato, que comandava uma força específica para a captura de escravizados fugidos. O QUILOMBO DE PALMARES FOI O QUE MAIS TEMPO DUROU; O QUE OCUPOU MAIOR ÁREA TERRITORIAL E O QUE MAIOR TRABALHO DEU ÀS AUTORIDADES PARA SER EXTERMINADO – DO SEU SURGIMENTO ATÉ A SUA COMPLETA DESTRUIÇÃO, FORAM 65 ANOS EM CONSTANTES E SANGRENTAS LUTAS. LÁ, SE ABRIGARAM ESCRAVIZADOS FUGIDOS, DESERTORES E PESSOAS LIVRES, ESPALHADOS EM DIVERSOS NÚCLEOS QUE CONSTITUÍAM, JUNTOS, O QUILOMBO DE PALMARES. É claro que esta definição de quilombo visava acabar com este tipo de resistência escrava ainda no nascedouro, evitando que a união de escravizados fugidos viesse a constituir um quilombo das proporções de Palmares, que ameaçou a ordem escravista na colônia. Foi também após Palmares que foi criado o posto de capitão-do-mato, que comandava uma força específica para a captura de escravizados fugidos. QUILOMBO DO CATUCÁ Localizado nas matas próximas às regiões urbanas de Recife e Olinda, o quilombo do Catucá se formou provavelmente entre os anos de 1817 e 1818. Foi descoberto pelas tropas imperiais que ali ficaram em razão da repressão à Revolução Pernambucana. O primeiro registro de atividade naquelas matas foi dado em novembro de 1818, quando foram identificados onze negros vivendo na região. Segundo o relato das tropas, eles já haviam atacado a população local algumas vezes e chegado a matar uma pessoa. O número de negros no quilombo aumenta a partir de 1820 e 1821. Isso porque, após as notícias vindas da Europa de uma revolução que pretendia uma reforma política no Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves, o país entrou em polvorosa e a província de Pernambuco, já conhecida por suas tensões políticas, voltou a se tornar um ambiente dividido. Os proprietários de escravos acharam uma boa estratégia armar seus cativos e outros diversos membros da população não-branca, o que facilitou as fugas para quilombos. O fato de os negros estarem armados só piorou a situação já preocupante para as elites, e o novo governador da junta pernambucana eleito em novembro de 1821, Gervásio Pires, tornou esse problema pauta de algumas reuniões de governo. Em fevereiro do ano seguinte, é publicada uma portaria cujo objetivo é a extinção do quilombo, autorizando o Capitão-mor da vila de Igarassu a armar qualquer um que se dispusesse a combater o ajuntamento de negros fugidos. A portaria também anunciava multa aos proprietários dos escravos que fossem encontrados. Alguns registram contam que em uma perseguição ao chefe dos malungos, o Mestre Malunguinho teria sido ferido e quase morto, mas, conseguindo escapar, se escondeu na mata e foi curado por índios com ervas. Durante o tempo que ficou entre eles Malunguinho teria aprendido o poder da cura pelas ervas que, sem sombra de dúvidas, era extremamente importante para a sobrevivência nas matas. Alguns registram contam que em uma perseguição ao chefe dos malungos, o Mestre Malunguinho teria sido ferido e quase morto, mas, conseguindo escapar, se escondeu na mata e foi curado por índios com ervas. Durante o tempo que ficou entre eles Malunguinho teria aprendido o poder da cura pelas ervas que, sem sombra de dúvidas, era extremamente importante para a sobrevivência nas matas. QUILOMBOS HOJE: RESSIGNIFICAÇÃO DO TERMO
Depois de 1888, as comunidades negras deram outro sentido ao
termo “Quilombo”, não sendo mais utilizado como forma de luta e resistência ao cativeiro, mas sim como morada e sobrevivência da família negra em pequenas comunidades, onde seus valores culturais eram preservados. Algumas comunidades quilombolas tiveram origem nos quilombos de escravos, outras surgiram depois mesmo da abolição, em geral através da posse de terras devolutas, da compra ou recebimento de doação de um pedaço de terra por ex-escravos Muitas dessas comunidades têm enfrentado litígios com fazendeiros que se dizem proprietários dessas terras ou ainda disputas envolvendo seus limites.
Tais comunidades receberam diferentes nomeações:
remanescentes de quilombos, quilombos, mocambos, terra de preto, comunidades negras rurais, ou ainda comunidades de terreiro. A discussão sobre essas comunidades veio à tona quando da elaboração da Constituição de 1988, exatos cem anos após a abolição. A ressignificação do termo causou algumas confusões entre o que era o quilombo escravo e as comunidades quilombolas atuais. Buscando esclarecer o que era “comunidade remanescente de quilombo”, a Associação Brasileira de Antropologia elaborou um parecer em 1994. Contemporaneamente, portanto, o termo não se refere a resíduos ou resquícios arqueológicos de ocupação temporal ou de comprovação biológica. Também não se trata de grupos isolados ou de uma população estritamente homogênea. Da mesma forma nem sempre foram constituídos a partir de movimentos insurrecionais ou rebelados, mas, sobretudo, consistem em grupos que desenvolveram práticas de resistência na manutenção e reprodução de seus modos de vida característicos num determinado lugar. (Silva, 2007, p.73) o que define uma comunidade quilombola é a autoclassificação. Já as relações dessas comunidades com as terras ocupadas são permeadas por questões culturais e históricas, o que as diferencia dos movimentos pela reforma agrária, onde a relação com a terra é sobretudo econômica.
As comunidades quilombolas atuais são detentoras de uma
genuína cultura afro-brasileira, marcadas pela resistência, vivência comunitária e manutenção das tradições. "HÁ UMA PROXIMIDADE CULTURAL GERAL ENTRE POPULAÇÕES QUILOMBOLAS E POPULAÇÕES INDÍGENAS. OS DOIS GRUPOS VIVEM DE MANEIRA SIMPLES E INTEGRADOS À NATUREZA, TIRANDO A MAIOR PARTE DE SEU SUSTENTO DA TERRA. NO ENTANTO, COM O AVANÇO DA URBANIZAÇÃO, DO AGRONEGÓCIO E DO EXTRATIVISMO NÃO SUSTENTÁVEL, O MODO DE VIDA DESSAS COMUNIDADES E A SUA PRESERVAÇÃO CORREM PERIGO.
"É NECESSÁRIO RESPEITO E MAIORES
AÇÕES DE PRESERVAÇÃO DESSAS COMUNIDADES PARA QUE O SEU PATRIMÔNIO CULTURAL NÃO SE PERCA." 13 DE MAIO NÃO É DIA DE NEGRO ! BOA SEMANA! ANTONIO.LIMA@GRUPOUNIBRA.COM