A História Do Negro No Brasil (1)

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A HISTÓRIA DO NEGRO NO

BRASIL
Professor Antonio Marques
COMO ESSA HISTÓRIA
COMEÇOU?

A história da África não começou com à escravidão, logo


a história do negro se limita a escravidão, mas o ponto
de partida da vinda de contigentes de africanos para o
Brasil se deu neste contexto.
TRÁFICO
A partir do século XVI o tráfico de africanos para o Brasil
tornou-se um negócio altamente lucrativo para
comerciantes dos dois lados do Atlântico.
Primeiramente, o tráfico era realizado por comerciantes
portugueses, que foram sendo substituídos por
brasileiros até que, no século XVIII,
O tráfico transatlântico de escravizados mobilizava um
grande número de pessoas e de capital. Para se ter uma
idéia aproximada, calcula-se que cerca de 11 milhões de
africanos foram trazidos à força para as Américas na
condição de escravizados entre os séculos XVI e XIX.

Este número não inclui aqueles que morreram durante


os violentos processos de apresamento e de embarque
na África nem aqueles que não sobreviveriam à travessia
do Atlântico.
Destes, mais de um terço ou cerca de 4 milhões foram
trazidos para o Brasil.
Os africanos eram capturados nas planícies africanas e
levados até o litoral.
Lá chegando, ficavam acondicionados em galpões durante
semanas à espera de um navio negreiro.
Este era também chamado de tumbeiro, dado o elevado
número de mortes ocorridas durante a travessia do
Atlântico.
Quando o navio negreiro aportava, eram embarcados no
porão em grupos de 300 a 500 indivíduos, em uma viagem
que poderia durar de 30 a 50 dias. Para que coubessem
mais pessoas, os suprimentos eram diminuídos.
Desembarcados no Brasil, nos portos de Recife, Salvador,
Rio de Janeiro e São Vicente, os africanos escravizados
eram distribuídos para as diferentes localidades para
realizar todo tipo de trabalho.
Começaram trabalhando no litoral, no corte do pau-brasil
e, posteriormente, no trabalho nos engenhos de cana-de-
açúcar. Depois, foram levados para o interior do território e
regiões longínquas para trabalhar na mineração, na criação
de gado, no cultivo de cacau, nas charqueadas, na
exploração das “drogas do sertão”.
Trabalhavam também no serviço doméstico, nas
construções públicas de todos os tipos e no comércio de
gêneros alimentícios.
DEVE SER RESSALTADO QUE, AO SEREM LEVADOS A DESEMPENHAR
DIFERENTES FUNÇÕES, OS AFRICANOS NÃO CHEGAVAM DESTITUÍDOS DE
SUA BAGAGEM CULTURAL.
É FUNDAMENTAL SUBLINHAR QUE OS POVOS AFRICANOS TIVERAM UM
PAPEL ATIVO NA COLONIZAÇÃO E POVOAMENTO DO BRASIL, QUE FORAM
REALIZADOS POR ELES E SEUS DESCENDENTES, JUNTAMENTE COM A
POPULAÇÃO INDÍGENA ESCRAVIZADA.

VÁRIAS DAS TÉCNICAS DE CULTIVO, DE CRIAÇÃO DE GADO, E DE


MINERAÇÃO DO FERRO FORAM ENSINADAS PELOS AFRICANOS AOS
PORTUGUESES, ALÉM DA EVIDENTE INFLUÊNCIA LINGÜÍSTICA E RELIGIOSA,
O QUE NOS PERMITE DIZER QUE O AFRICANO TAMBÉM FOI UM ELEMENTO
CIVILIZADOR DO BRASIL.
PESSOAS, NÃO
COISAS
NO BRASIL, A CONDIÇÃO
JURÍDICA DOS ESCRAVIZADOS
SEGUIA A MESMA NORMA DO
DIREITO ROMANO, A DE “COISA”.
E TAMBÉM COMO O DIREITO
ROMANO, A ESCRAVIDÃO SEGUIA
O VENTRE, O QUE SIGNIFICAVA
DIZER QUE TODO O FILHO DE
ESCRAVA NASCIA ESCRAVO.
Por serem juridicamente “coisas”, os homens e mulheres
escravizados podiam ser doados, vendidos, trocados,
legados nos testamentos de seus senhores e partilhados,
como quaisquer outros bens.
Na condição de “coisa” eles não podiam possuir e legar
bens, constituir poupança, nem testemunhar em processos
judiciais.
A coisificação jurídica do escravizado fazia parte de uma
estratégia de dominação que buscava desumanizar os
escravizados e que ao mesmo tempo em que os
destituíam de todos os direitos criava uma ideologia de
subalternidade, segundo a qual eles seriam incapazes de
refletir e contestar a própria condição.
A coisificação jurídica do escravizado fazia parte de uma
estratégia de dominação que buscava desumanizar os
escravizados e que ao mesmo tempo em que os
destituíam de todos os direitos criava uma ideologia de
subalternidade, segundo a qual eles seriam incapazes de
refletir e contestar a própria condição.
É NECESSÁRIO RESSALTAR QUE A COISIFICAÇÃO DO
ESCRAVO ERA UMA IDEOLOGIA SENHORIAL, NÃO REFLETIA A
VISÃO DE HOMENS E MULHERES ESCRAVIZADOS. ESTES
NUNCA PERDERAM A SUA HUMANIDADE: AMARAM,
BUSCARAM CONSTITUIR SUAS FAMÍLIAS, VALORIZARAM OS
LAÇOS DE PARENTESCO E DE AMIZADE, CULTUARAM SEUS
DEUSES, LUTARAM POR MELHORES CONDIÇÕES DE VIDA E
NÃO SE CONFORMARAM COM A ESCRAVIDÃO.
Prova de que os homens e mulheres escravizados não se
conformavam com a escravidão era a necessidade do uso
da violência física como forma de manter a dominação.
Qualquer ato de desobediência dos escravizados era
respondido com o castigo físico exemplar, através do qual
o senhor pretendia reafirmar o seu poder, marcando no
corpo do escravizado a sua submissão.
Ainda que muito importante para a manutenção da
escravidão, o castigo físico não era a única medida de
manutenção da política de domínio senhorial. Por estar
disseminada por toda a sociedade - pessoas de todas as
classes sociais possuíam escravos - a escravidão contava
com um universo de relações que se encarregava de vigiar
os escravizados, buscando controlar suas atividades e seus
movimentos.
MUITOS ESCRAVOS DE GANHO FORAM
TREINADOS EM OFÍCIOS
ESPECIALIZADOS, COMO CARPINTEIROS,
MARCENEIROS E PEDREIROS, O QUE
FAZIA COM QUE SEU PREÇO SE
VALORIZASSE MUITO DIANTE DA
ESCASSEZ DE MÃO DE OBRA PARA
ESTES SERVIÇOS. ESCRAVOS
COZINHEIROS ERAM MUITO
VALORIZADOS NO SÉCULO XIX PARA O
SERVIÇO EM HOTÉIS EM SALVADOR. POR
ISSO É NECESSARIO RESSALTAR A
FIGURA DA TIA NÁSTACIA QUE EVOCA
ESSA SUB ALTERNIDADE PÓS ABOLIÇÃO
Apesar da violência física a que eram submetidos como
forma de se conformar à escravidão, os homens e mulheres
escravizados frequentemente se rebelavam.
Em geral, todos possuíam algum ato de rebeldia no
currículo e o escravizado aparentemente passivo de hoje,
poderia estar juntando dinheiro para conseguir se libertar
pela vias legais, ou estar apenas esperando uma boa
oportunidade para fugir ou se rebelar.
Nem a vigilância a que eram submetidos, nem os castigos
físicos, eram suficientes para garantir a obediência e
submissão dos escravizados.
Com alguma freqüência, os castigos considerados
excessivos podiam resultar na morte do feitor, do senhor
ou de seus familiares.
Nas suas lutas cotidianas, os escravizados criaram espaços
de negociação com o senhor que, se por um lado não
acabava com a escravidão, por outro lado trazia melhores
condições de vida e maiores
O FIM DO TRÁFICO TRANSATLÂNTICO DE
ESCRAVOS
A Inglaterra, em pleno curso de sua revolução industrial,
tinha interesse de estabelecer igualdade de condições de
produção entre várias regiões coloniais e ampliar o mercado
consumidor de seus produtos.
Vastos foram os acordos feitos com a Inglaterra, anteriores à
lei que aboliu definitivamente o tráfico de escravos para o
Brasil, em 1850, e recorrente a desobediência brasileira a
esses acordos.
A LEI ANTI-TRÁFICO DE 1831 E O BILL ABERDEEN
Após 1822, em troca do reconhecimento da
independência política, o Brasil se comprometeu a abolir
o tráfico em 1830. Em 1831, foi promulgada uma lei nesse
sentido, que se tornou letra morta ou uma lei “para inglês
ver”, como foi dito na época.
Frente a mais uma lei descumprida (a Lei anti-tráfico de
1831), em 1845, a Inglaterra promulgou o Bill Aberdeen,
uma lei que autorizava a captura de navios brasileiros pela
marinha britânica e o julgamento da tripulação do navio
por tribunais militares britânicos.
A LEI ANTI-TRÁFICO DE 1850
LEI EUSÉBIO DE QUEIRÓS
Em 1850, o Brasil promulgava uma nova lei anti-tráfico, na
qual o tráfico era equiparado à pirataria, os traficantes
ficavam sujeitos à pena de prisão e ao pagamento da
reexportação de africanos, além de serem julgados por um
tribunal especial: a auditoria da marinha brasileira.
Ao mesmo tempo, os compradores de escravos não eram
considerados culpados pelo crime de contrabando.
Além disso, como um complemento à lei anti-tráfico de
1850, o governo promulgou a Lei de Terras, buscando
dificultar o acesso do imigrante à terra para que, desse
modo, viesse a substituir o braço escravo. Datam desta
época os primeiros incentivos à imigração, através da
formação de colônias de imigrantes.
LEI DO VENTRE LIVRE - 1871

Uma das precursoras da Lei Áurea, a norma determinou


que, de 28 de setembro de 1871 em diante, as mulheres
escravizadas dariam à luz apenas bebês livres. De acordo
com a lei, não nasceria mais nenhum escravizado em solo
brasileiro.
Os bebês, na realidade, não seriam livres de verdade.
Grosso modo, a Lei do Ventre Livre estabeleceu que os
filhos permaneceriam junto da mãe escravizada, vivendo
no cativeiro, até os 8 anos de idade. Dos 8 aos 21 anos,
continuariam na propriedade do senhor ou, se ele não os
quisesse mais, ficariam sob a tutela do Estado.
O poder público, contudo, não se preparou para cuidar das
crianças que completassem 8 anos. Elas, então,
permaneceram nas fazendas, trabalhando como se fossem
escravizadas. Na prática, a liberdade prevista na Lei do
Ventre Livre só viria mesmo na idade adulta, aos 21 anos.

O trabalho que os filhos das escravizadas prestariam ao


longo dos anos gratuitamente ao fazendeiro serviria de
compensação pelos gastos com a criação (teto, comida,
roupa etc.) e também de indenização pela perda
compulsória da “propriedade”.
LEI SARAIVA-COTEGIPE OU LEI DOS SEXAGENÁRIOS - 1885

Determinava que os escravizados com 60 anos ou mais


deveriam ser livres. Essa lei foi aprovada no gabinete do
Barão de Cotegipe e foi um esforço dos escravagistas para
conter a força do movimento abolicionista no Brasil.
A lei era conservadora e estipulava restrições aos negros
libertos. O dispositivo, no entanto, não conseguiu
enfraquecer o abolicionismo,
LEI ÁUREA – LEI Nº 3.353 DE 13 DE MAIO DE 1888
Declara extincta a escravidão no Brasil

A Princesa Imperial Regente, em nome de Sua Majestade o


Imperador, o Senhor D. Pedro II, faz saber a todos os súditos
do Império que a Assembleia Geral decretou e ela
sancionou a lei seguinte:

Art. 1°: É declarada extinta desde a data desta lei a


escravidão no Brasil.
Art. 2°: Revogam-se as disposições em contrário. Manda,
portanto, a todas as autoridades, a quem o
conhecimento e execução da referida Lei pertencer, que a
cumpram, e façam cumprir e guardar tão inteiramente
como nela se contém.
O secretário de Estado dos Negócios da Agricultura,
Comércio e Obras Públicas e interino dos Negócios
Estrangeiros, Bacharel Rodrigo Augusto da Silva, do
Conselho de Sua Majestade o Imperador, o faça imprimir,
publicar e correr.
Dada no Palácio do Rio de Janeiro, em 13 de maio de
1888, 67º da Independência e do Império.

Princesa Imperial Regente.


Rodrigo Augusto da Silva
RESISTÊNCIA NEGRA NO BRASIL
Onde quer que tenha existido escravidão,
houve resistência escrava.
No Brasil os escravizados resistiram ao
sistema escravista durante os quase quatro
séculos em que a escravidão existiu entre
nós.
O que era feito das mais variadas e criativas
formas: fazendo “corpo mole” na realização
das tarefas, através de sabotagens, roubos,
sarcasmos, suicídios, abortos, fugas e
formação de quilombos, combates armados
Atualmente, os estudiosos do protesto
negro têm pensado o conceito de
resistência escrava de forma bem mais
elástica. Para eles, a resistência escrava
não deve ser vista apenas pela ótica
econômica - de afronta à propriedade -
mas também pelo desenvolvimento de
uma cultura afro-brasileira que se
contrapunha à cultura branca imposta
aos escravizados.
Os espaços de manutenção e
recriação das culturas negras
foram também utilizados
como forma de contestação à
sociedade escravista e pós-
escravista.
Daí podermos chamar este
outro aspecto da resistência
negra de resistência cultura
Perdigão Malheiro, importante jurista do
século XIX, entendia a fuga como parte
inerente ao sistema escravista. Há uma
concordância geral entre os estudiosos da
escravidão com a opinião de Malheiro, de
que a fuga foi um aspecto típico do
escravismo. Onde quer que tenha existido
escravidão, foram comuns as fugas, os
anúncios nos jornais buscando fugitivos e
também a figura do capitão-do-mato.
Após a fuga, o escravizado podia
tentar se esconder nas matas,
onde frequentemente formavam
quilombos, ou ainda tentar se
misturar na densa população
africana e afro-descendente que
habitavam os núcleos urbanos,
tentando se passar por livre ou
por liberto
A fuga representou um modo significativo no processo de
resistência ao cativeiro e de auto-afirmação da condição
humana do escravizado em oposição ao sistema escravista.
Em primeiro plano provocava um abalo do
ponto de vista econômico, tanto de posse
quanto de produção, por vários motivos:
porque o escravizado deixava de trabalhar
enquanto estava fugido, deixando, portanto,
de gerar lucro para o seu senhor; também
por não haver garantia de que o escravizado
fosse ser apreendido.
FORMAÇÃO DE
QUILOMBOS
Até o ano de 2009, o Governo Brasileiro, através do
Programa Brasil Quilombola certificou 1.342 comunidades
como comunidades quilombolas. Veremos a seguir o que
foram os quilombos como forma de resistência à
escravidão e o que hoje significam as comunidades de
remanescentes de quilombos
Os quilombos ou mocambos existiram desde a época
colonial até os últimos anos do sistema escravista e, assim
como as fugas, foram comuns em todos os lugares em que
existiu escravidão.
Seus moradores eram chamados de quilombolas,
calhambolas, ou mocambeiros, e frequentemente agiam
em parceria com outros setores sociais como libertos,
índios, criminosos e desertores das forças armadas.
OS QUILOMBOS OU COMUNIDADES DE
FUGITIVOS EXISTIRAM EM DIFERENTES
ÁREAS ESCRAVISTAS DAS AMÉRICAS. NA
COLÔMBIA ERAM CHAMADOS DE
“PALENQUES”, NA VENEZUELA DE
“CUMBES”, NOS EUA E CARIBE INGLÊS DE
“MAROONS”, ENQUANTO NO BRASIL
ERAM CHAMDOS DE QUILOMBOS OU
MOCAMBOS.
A ORIGEM DO TERMO NO BRASIL
REMETE AO IDIOMA BANTU ONDE
QUILOMBO/MOCAMBO SIGNIFICAVA
ACAMPAMENTO.
"A PALAVRA QUILOMBO ORIGINA-SE DO
TERMO KILOMBO, PRESENTE NO IDIOMA
DOS POVOS BANTU (JAGAS),
ORIGINÁRIOS DE ANGOLA, E SIGNIFICA
LOCAL DE POUSO OU ACAMPAMENTO.
OS POVOS DA ÁFRICA OCIDENTAL ERAM,
SEMI-NÔMADES, E OS LOCAIS DE
ACAMPAMENTO ERAM UTILIZADOS
PARA REPOUSO EM LONGAS VIAGENS
OU BASE PARA INFILTRAÇÃO NOS
TERRITORIOS
A formação de quilombos pressupõe um tipo específico de
fuga, a fuga rompimento, cujo objetivo maior era a
liberdade. Essa não era uma alternativa fácil a ser seguida,
pois significava viver sendo perseguido não apenas como
um escravo fugido, mas como criminoso.
O quilombo mais estudado e mais famoso da história
brasileira foi o Quilombo dos Palmares.
QUILOMBO DOS PALMARES

Palmares foi um quilombo formado no século XVII, na Serra


da Barriga, região entre os estados de Alagoas e
Pernambuco. Localizado numa área de difícil acesso, os
aquilombados conseguiram formar um Estado com
estrutura política, militar, econômica e sociocultural, que
tinha por modelo a organização social de antigos reinos
africanos.
Calcula-se que Palmares chegou a possuir uma população
de 30 mil pessoas.
Depois de Palmares, qualquer pequeno grupo de
escravizados fugitivos que fosse encontrado nas matas,
passou a ser considerado quilombo e, como tal, precisava
ser destruído. Dessa forma, a definição de quilombo pós-
Palmares passava a ser a seguinte:

“...toda habitação de negros fugidos que passem de cinco, em


parte desprovida, ainda que não tenham ranchos levantados
nem se achem pilões neles”

(Resposta do rei de Portugal à consulta do Conselho Ultramarinho, datada de 2


de dezembro de 1740)
É claro que esta definição de quilombo visava acabar com
este tipo de resistência escrava ainda no nascedouro,
evitando que a união de escravizados fugidos viesse a
constituir um quilombo das proporções de Palmares, que
ameaçou a ordem escravista na colônia. Foi também após
Palmares que foi criado o posto de capitão-do-mato, que
comandava uma força específica para a captura de
escravizados fugidos.
O QUILOMBO DE PALMARES FOI O QUE
MAIS TEMPO DUROU; O QUE OCUPOU
MAIOR ÁREA TERRITORIAL E O QUE
MAIOR TRABALHO DEU ÀS
AUTORIDADES PARA SER EXTERMINADO
– DO SEU SURGIMENTO ATÉ A SUA
COMPLETA DESTRUIÇÃO, FORAM 65
ANOS EM CONSTANTES E SANGRENTAS
LUTAS.
LÁ, SE ABRIGARAM ESCRAVIZADOS
FUGIDOS, DESERTORES E PESSOAS
LIVRES, ESPALHADOS EM DIVERSOS
NÚCLEOS QUE CONSTITUÍAM, JUNTOS, O
QUILOMBO DE PALMARES.
É claro que esta definição de quilombo visava acabar com
este tipo de resistência escrava ainda no nascedouro,
evitando que a união de escravizados fugidos viesse a
constituir um quilombo das proporções de Palmares, que
ameaçou a ordem escravista na colônia. Foi também após
Palmares que foi criado o posto de capitão-do-mato, que
comandava uma força específica para a captura de
escravizados fugidos.
QUILOMBO DO CATUCÁ
Localizado nas matas próximas às regiões urbanas de Recife
e Olinda, o quilombo do Catucá se formou provavelmente
entre os anos de 1817 e 1818. Foi descoberto pelas tropas
imperiais que ali ficaram em razão da repressão à
Revolução Pernambucana. O primeiro registro de atividade
naquelas matas foi dado em novembro de 1818, quando
foram identificados onze negros vivendo na região. Segundo
o relato das tropas, eles já haviam atacado a população
local algumas vezes e chegado a matar uma pessoa.
O número de negros no quilombo aumenta a partir de 1820
e 1821. Isso porque, após as notícias vindas da Europa de
uma revolução que pretendia uma reforma política no
Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves, o país entrou em
polvorosa e a província de Pernambuco, já conhecida por
suas tensões políticas, voltou a se tornar um ambiente
dividido. Os proprietários de escravos acharam uma boa
estratégia armar seus cativos e outros diversos membros da
população não-branca, o que facilitou as fugas para
quilombos.
O fato de os negros estarem armados só piorou a situação já
preocupante para as elites, e o novo governador da junta
pernambucana eleito em novembro de 1821, Gervásio Pires,
tornou esse problema pauta de algumas reuniões de governo.
Em fevereiro do ano seguinte, é publicada uma portaria cujo
objetivo é a extinção do quilombo, autorizando o Capitão-mor
da vila de Igarassu a armar qualquer um que se dispusesse a
combater o ajuntamento de negros fugidos. A portaria
também anunciava multa aos proprietários dos escravos que
fossem encontrados.
Alguns registram contam que em uma perseguição ao chefe
dos malungos, o Mestre Malunguinho teria sido ferido e quase
morto, mas, conseguindo escapar, se escondeu na mata e foi
curado por índios com ervas. Durante o tempo que ficou entre
eles Malunguinho teria aprendido o poder da cura pelas ervas
que, sem sombra de dúvidas, era extremamente importante
para a sobrevivência nas matas.
Alguns registram contam que em uma perseguição ao chefe
dos malungos, o Mestre Malunguinho teria sido ferido e quase
morto, mas, conseguindo escapar, se escondeu na mata e foi
curado por índios com ervas. Durante o tempo que ficou entre
eles Malunguinho teria aprendido o poder da cura pelas ervas
que, sem sombra de dúvidas, era extremamente importante
para a sobrevivência nas matas.
QUILOMBOS HOJE: RESSIGNIFICAÇÃO DO TERMO

Depois de 1888, as comunidades negras deram outro sentido ao


termo “Quilombo”, não sendo mais utilizado como forma de luta
e resistência ao cativeiro, mas sim como morada e sobrevivência
da família negra em pequenas comunidades, onde seus valores
culturais eram preservados. Algumas comunidades quilombolas
tiveram origem nos quilombos de escravos, outras surgiram
depois mesmo da abolição, em geral através da posse de terras
devolutas, da compra ou recebimento de doação de um pedaço
de terra por ex-escravos
Muitas dessas comunidades têm enfrentado litígios com
fazendeiros que se dizem proprietários dessas terras ou ainda
disputas envolvendo seus limites.

Tais comunidades receberam diferentes nomeações:


remanescentes de quilombos, quilombos, mocambos, terra de
preto, comunidades negras rurais, ou ainda comunidades de
terreiro. A discussão sobre essas comunidades veio à tona
quando da elaboração da Constituição de 1988, exatos cem
anos após a abolição.
A ressignificação do termo causou algumas confusões entre o
que era o quilombo escravo e as comunidades quilombolas
atuais. Buscando esclarecer o que era “comunidade
remanescente de quilombo”, a Associação Brasileira de
Antropologia elaborou um parecer em 1994.
Contemporaneamente, portanto, o termo não se refere a
resíduos ou resquícios arqueológicos de ocupação temporal
ou de comprovação biológica. Também não se trata de
grupos isolados ou de uma população estritamente
homogênea. Da mesma forma nem sempre foram
constituídos a partir de movimentos insurrecionais ou
rebelados, mas, sobretudo, consistem em grupos que
desenvolveram práticas de resistência na manutenção e
reprodução de seus modos de vida característicos num
determinado lugar. (Silva, 2007, p.73)
o que define uma comunidade quilombola é a
autoclassificação. Já as relações dessas comunidades com as
terras ocupadas são permeadas por questões culturais e
históricas, o que as diferencia dos movimentos pela reforma
agrária, onde a relação com a terra é sobretudo econômica.

As comunidades quilombolas atuais são detentoras de uma


genuína cultura afro-brasileira, marcadas pela resistência,
vivência comunitária e manutenção das tradições.
"HÁ UMA PROXIMIDADE CULTURAL GERAL
ENTRE POPULAÇÕES QUILOMBOLAS E
POPULAÇÕES INDÍGENAS. OS DOIS GRUPOS
VIVEM DE MANEIRA SIMPLES E
INTEGRADOS À NATUREZA, TIRANDO A
MAIOR PARTE DE SEU SUSTENTO DA
TERRA. NO ENTANTO, COM O AVANÇO DA
URBANIZAÇÃO, DO AGRONEGÓCIO E DO
EXTRATIVISMO NÃO SUSTENTÁVEL, O
MODO DE VIDA DESSAS COMUNIDADES E A
SUA PRESERVAÇÃO CORREM PERIGO.

"É NECESSÁRIO RESPEITO E MAIORES


AÇÕES DE PRESERVAÇÃO DESSAS
COMUNIDADES PARA QUE O SEU
PATRIMÔNIO CULTURAL NÃO SE PERCA."
13 DE MAIO NÃO É DIA DE NEGRO !
BOA
SEMANA! ANTONIO.LIMA@GRUPOUNIBRA.COM

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