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História - Rio de Contas

Rio de Contas surgiu no século XVII como um povoado minerador de ouro chamado Creoulos e se desenvolveu ao longo dos séculos como um importante centro de mineração e parada no Caminho Real. Sua configuração urbana data de 1745 quando recebeu status de vila planejada. Atualmente é um município baiano conhecido por seu artesanato e agricultura.

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História - Rio de Contas

Rio de Contas surgiu no século XVII como um povoado minerador de ouro chamado Creoulos e se desenvolveu ao longo dos séculos como um importante centro de mineração e parada no Caminho Real. Sua configuração urbana data de 1745 quando recebeu status de vila planejada. Atualmente é um município baiano conhecido por seu artesanato e agricultura.

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RIO DE CONTAS1 Rio de Contas surgiu como centro de minerao de ouro e era parada obrigatria no Caminho Real2.

Sua configurao urbana se deu originalmente atravs da Proviso de 02 de outubro de 1745, que recomendava tanto a localizao do stio como a implantao das edificaes, o que faz de Rio de Contas uma das raras cidades novas coloniais (AZEVEDO, 1980) (Figura 1).

Figura 1: Vista panormica de Rio de Contas

LOCALIZAO, SITUAO E AMBINCIA O municpio de Rio de Contas est situado no Estado da Bahia (Figura 2), no Centro Sul Baiano, ao sul da regio da Chapada Diamantina e distante 736 km de Salvador, a capital do estado. Situa-se na vertente oriental da Serra das Almas e compreende reas baixas, recobertas de caatinga e chapadas elevadas com vegetao do tipo gerais, onde o clima ameno. Numa destas chapadas, margem esquerda do Rio Brumado, localiza-se a sede municipal (AZEVEDO, 1980).

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Texto baseado em documentos cedidos pelo Arquivo Pblico Municipal de Rio de Contas.

Os caminhos reais eram as vias oficiais de comunicao por onde circulavam pessoas e mercadorias, especialmente ouro e diamantes, controlados pela Coroa para que se pudesse extrair o mximo de tributos para o tesouro real. Denominados de Estrada Real, e de propriedade da Coroa, se tornaram livres com o fim da era da minerao (NEVES, 2007).

Figura 2: Mapa do Estado da Bahia, em destaque o municpio de Rio de Contas Fonte: IBGE, 2007.

Rio de Contas surgiu como um centro de minerao de ouro e logo se transformou em Capital Regional. Com o esgotamento de suas jazidas, desenvolveram-se o artesanato e a agricultura baseada no caf, cana-deacar, cereais e tubrculos. O municpio mede 1.052,30 km 2 e compreende trs distritos: Rio de Contas (sede), Arapiranga e Marcolino Moura, com uma populao total de 13.007 habitantes (IBGE, 2010).

CRONOLOGIA Com base em documentos como a Coleo das Leis do Imprio do Brasil (1849), a Corografia Braslica, ou Relao Histrico-Geografica do Reino do Brasil - Tomo II (1818) e livros de relatos de viajantes como Travels in Brazil in the year 1817 1820 (SPIX; MARTIUS, 1824) apresenta-se um breve histrico da regio de Rio de Contas, pontuando os eventos mais relevantes de sua histria. Rio de Contas a cidade mais antiga da regio do Centro Sul Baiano e, segundo Neves (2007), esta regio comeou a ser ocupada em meados do sculo XVII por escravos foragidos de embarcaes naufragadas no litoral da Bahia que subiam o Rio de Contas e se instalavam margem esquerda do Rio das Contas Pequeno, atual Rio Brumado, ao sul da Chapada Diamantina. ltima dcada do sculo XVII Pouso dos Creoulos Na ltima dcada do sculo XVII, surgiu nesta regio um pequeno povoado situado no Planalto da Serra das Almas, margem do Rio das Contas Pequeno, chamado de Creoulos. Este povoado servia de ponto de pouso para os viajantes vindos de Gois e norte de Minas Gerais em direo Salvador e na rota que ligava o Vale do So Francisco ao Caminho da Costa 3 (NEVES, 2007) (Figura 3). Segundo Neves (2007), uma ampla rede viria j cortava o interior da Bahia em meados do sculo XVIII. Os caminhos de Ouro Fino ou do Ouro Boa Pinta, a Estrada Real, a estrada das Boiadas (em grande parte se confundindo com a Estrada Real), o Caminho da Costa, eram, sem dvida, os mais importantes e os que estruturavam tal rede, a qual comportava diversos outros.

Caminho que ligava a cidade de Cachoeira no Recncavo Baiano cidade de Ilhus (BA).

Figura 3: Caminhos do Serto Fonte: NEVES, 2007.

1710 Descoberta do Ouro Em 1710 bandeirantes paulistas descobriram veies e cascalhos aurferos na regio. Prximo s lavras do bandeirante paulista Sebastio Raposo surgiu a povoao de Mato Grosso, onde os jesutas construram a Igreja de Santo Antnio (REVISTA TRIMESTRAL, 1863). 1715 Capela Nossa Senhora do Livramento Os mesmos bandeirantes paulistas fundaram uma povoao rio abaixo onde foi construda a Capela Nossa Senhora do Livramento (REVISTA TRIMESTRAL, 1863). 1718 Sede da Primeira Freguesia do Serto de Cima Por alvar de 11 de abril de 1718, Mato Grosso foi transformada na sede da primeira Freguesia do Serto de Cima (COLEO DAS LEIS, 1849). 1720 Relatrio de Miguel Pereira da Costa Viagem do Mestre dos Engenheiros de Campo Miguel Pereira da Costa, partindo de Cachoeira com destino a Rio de Contas. Em relatrio enviado ao vice-rei Vasco Fernandes Cesar, Miguel Pereira da Costa descreve no s as distncias entre os povoados e aglomeraes, mas tambm todas as adversidades e peculiaridades do percurso de 105 lguas que durou 21 dias (Figura 4).
[...] do ribeiro se vai ao Mato Grosso, ultima marcha desta jornada por ser alli a rancharia maior dos mineiros daquelles distritos, onde todos tm na sua casa de palha, e aqui aportam todos os vivandeiros com seus combois[...]. este stio do Mato Grosso a primeira parte onde se ajuntou gente naquelles districtos, no principio de seus descobrimentos, e assim ficou sendo alli o maior concurso, ou uma como povoao daquelles homens em que se estabeleceram; e deste stio destacavam alguns a fazer os seus descobrimentos e experincias, que, tendo-lhes conta, decampavam delle para a tal paragem descoberta, e nela formavam sua nova rancharia; ficando, porm naquelle acantonamento do Mato Grosso a maior parte delles, que ainda se conserva e uma feira continua dos viveres que cada comboi leva. (REVISTA TRIMESTRAL, 1863)

Segundo Neves (2007), esse pioneiro documento sobre o Alto Serto da Bahia, equivale a uma carta de Pero Vaz de Caminha, com a vantagem de narrar no incio do sculo XVIII, um territrio j parcialmente ocupado por colonizadores e com a toponmia ainda preservada em grande parte.

Figura 4: Caminho percorrido por Miguel Pereira da Costa em 1720 Fonte: NEVES, 2007.

1724 - Vila de Nossa Senhora do Livramento de Minas do Rio de Contas Com o objetivo de evitar a evaso do quinto 4 e controlar as desordens o 4o vice-rei do Brasil, D. Vasco Fernandes Csar de Menezes, o Conde de Sabugosa, encarregou o sertanista baiano Pedro Barbosa Leal de fundar vilas em Jacobina e Rio de Contas. Foi criada, ento, a Vila de Nossa Senhora do Livramento de Minas do Rio de Contas, atual cidade do Livramento de Nossa Senhora.
Rio de Contas, Villa considervel e famoza; na estrada da Capital para Goyz, creada por El-rei D. Joam Quinto no anno de mil setecentos e vintequatro em razo do aumento, que tomava com as mineraes de oiro, que uns Paulistas alli tinham descuberto em setecentos e dezoito. Esta numa plancie lavada dares salutiferos junto da margem esquerda do Rio Brumado. As cazas sam quazi geralmente trreas, e de adobe, ou pau a pique sem regularidade, e branqueadas com tabatinga. A Igreja Parroquial he de invocao do Santissimo Sacramento. Tem Juiz de Fra, e aula regia de Latim [...]. (COROGRAFIA BRAZILICA, 1817)

1726 Casas de Fundio A Proviso do Comando Ultramarino, de 13 de maio de 1726, determinou que se estabelecessem Casas de Fundio nas duas vilas, Jacobina e Rio de Contas (COLEO DAS LEIS, 1849). A criao da Casa de Fundio5 introduziu em Rio de Contas a tcnica da joalheria, que gerou, por sua vez, uma metalurgia artesanal que foi base da economia local at 1965 (AZEVEDO, 1980). 1745 Transferncia da vila Por causa das febres que assolavam a populao na poca das cheias, a Proviso de D. Joo V ao Conde de Galveas, de 2 outubro de 1745, autorizou a transferncia da vila para o atual stio, passando a denominar-se Vila Nova de Nossa Senhora do Livramento e Minas de Rio de Contas, enquanto que a
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Desde o sculo XVII, existia uma legislao que estipulava o pagamento de 20 % (1/5) do ouro descoberto e explorado. Com a descoberta do ouro o primeiro problema foi o de saber de que modo esse imposto - o quinto - deveria ser cobrado: utilizaram-se, basicamente, trs formas: a capitao, o sistema de fintas e as Casas de Fundio.
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Neste regime de cobrana os mineradores eram obrigados a enviar o ouro em p para ser fundido e transformado em barras com o selo real nas Casas de Fundio, onde o ouro era automaticamente quietado.

antiga vila ficou conhecida como Vila Velha. Esta Proviso recomendava que o stio escolhido devesse ser saudvel e prximo a algum arraial j estabelecido (Creoulos) e:
[...] que se faa delinear por linhas retas reas para as casas com seus quintais [...] as quais pelo exterior sero todas no mesmo perfil, e ainda que no interior os far cada um dos moradores sua eleio, de sorte que em todo o tempo se conserve a mesma formosura [...].(COLEO DAS LEIS, 1849).

Este novo stio era rico em ouro de aluvio o que provocou o seu rpido crescimento. 1746 Santssimo Sacramento das Minas de Rio de Contas A mesma Proviso transferiu de Mato Grosso para a nova vila, instalada em 28 de julho de 1746, a sede da Freguesia que passou a se designar de Santssimo Sacramento das Minas de Rio de Contas (COLEO DAS LEIS, 1849). 1799 Declnio poca em que comeou a declinar a produo de suas lavras, mas mesmo decaindo a extrao de ouro, Rio de Contas continuava uma parada obrigatria nos caminhos reais6, que partindo de Cachoeira levava a Gois e ao Mato Grosso e por onde passavam as romarias que demandavam a Bom Jesus da Lapa na Bahia (AZEVEDO, 1980). 1800 - Desenvolvimento Urbano A sociedade da minerao na Bahia foi puramente urbana. Rio de Contas ganhou cadeira rgia de gramtica latina em 1799 e tenda de qumica e gabinete mineralgico em 1817. Em 1818, Spix e Martius observaram que a populao de Rio de Contas pela educao e riqueza, se distingue dos outros habitantes do interior da Bahia (AZEVEDO, 1980). 1833 Comarca
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Caminho do Ouro Fino ligava Salvador a Jacobina (1720); Estrada Real ligava Jacobina a Rio de Contas; Caminho de Tacambira ligava Rio de Contas a Minas Novas; Caminho do So Francisco ligava a foz do Verde Grande at a confluncia do Paramirim; Caminho do Paramirim, subia o rio at o Alto Serto da Bahia; Caminho da Bahia do Alto Serto para o Recncavo da Bahia de Todos os Santos (NEVES, 2007).

Em 1833, quando a Bahia foi dividida em 13 comarcas, criou-se entre elas a do Rio de Contas, que ento foi desvinculada da comarca de Jacobina.
A comarca de Jacobina, [...] natural pela sua extenso que venha a ser repartida em duas, quando a multiplicao dos povoadores tiver multiplicado as Povoaes, ficando a Villa de Rio de Contas cabea da comarca futura. (COROGRAFIA BRAZILICA, 1817)

1844 Emigrao da populao A estagnao de Rio de Contas comeou em 1800 e agravou-se em 1844 com a emigrao de grande parte da populao para as minas de diamante recm descobertas em Mucug e Lenis, sendo que esta ltima passa a ter a influncia que Rio de Contas exerceu durante um sculo sobre a regio (AZEVEDO, 1980). 1879 -1880 - Expedio pelo rio So Francisco e pela Chapada Diamantina Expedio realizada pelo engenheiro Theodoro Fernandes Sampaio pelo rio So Francisco e a Chapada Diamantina realizados na Comisso Hidrulica do Imprio:
[...] Como quase todos os lugares que tiveram origem na minerao, a Vila do Rio de Contas cresceu irregularmente, desenvolveu-se e prosperou com o progresso das lavras aurferas do leito do Brumado, e por fim estacionou ou descaiu com o esgotamento das minas. Todavia, alguma coisa lhe ficou da prosperidade de outrora. As suas construes de pedra e seus edifcios pblicos revelam ainda que esse lugar teve um nascimento rico e promissor, que o futuro alis no confirmou. A vila no tinha mais que uns trezentos prdios e sua populao no atingisse 2 mil almas. (SANTANA, 2002)

1885 A Cidade Pela Resoluo Provincial no 2544, de 28 de agosto de 1885, a vila foi elevada a categoria de cidade. O municpio primitivo estendia-se ao limite do estado de Minas Gerais, compreendendo a Serra Geral, quase toda a Chapada Diamantina e Bacia do Rio de Contas, grande extenso da Bacia do Paraguau e parte da Bacia do So Francisco (AZEVEDO, 1980).

1932 e 1939 - Corrida do Ouro Em 1932, com a descoberta de novas lavras, ocorre uma nova corrida do ouro. Rio de Contas sai da estagnao em que se encontrava, com a volta e permanncia da populao e a circulao de capital. Este foi um curto perodo que durou at 1939. Final da dcada de 1970 a 1980 - A cidade Histrica Rio de Contas foi inscrita no Livro Arqueolgico, Etnogrfico e Paisagstico, no dia 8 de abril de 1980, sob inscrio de nmero 076 (0891-T-73). O tombamento inclui o centro histrico da cidade que mede 18,91 ha, e compreende 287 edificaes, das quais 18 constam do Inventrio de Proteo do Acervo Cultural da Bahia. Estas edificaes foram inventariadas entre 1978 e 1980 (AZEVEDO, 1980). 1977 a 1983 - Construo da Barragem Engo Luis Vieira As obras de construo da barragem na cidade de Brumado vizinha cidade de Rio de Contas, construda no perodo de 1977 a 1983 foi o principal posto de trabalho da populao de Rio de Contas no perodo. Com capacidade de 105.000 m3 foi construda para o abastecimento da regio (SUASSUNA,1999). 1986 Conservao do stio histrico Por iniciativa do IPHAN e participao dos moradores, as fachadas do centro histrico foram limpas e pintadas. 1989 Obras de conservao do stio histrico Parceria entre IPHAN, a Prefeitura Municipal de Rio de Contas e os moradores, realizaram novas aes de conservao (limpeza e pintura das fachadas e reparos no calamento das ruas). 2003 Prmio especial conservao do patrimnio Guia Brasil A cidade de Rio de Contas foi reconhecida pela conservao do seu patrimnio arquitetnico, sendo destaque nacional juntamente com a Casa de Cora Coralina, em Gois (GO) e o Parque de Vila Velha, em Ponta Grossa (PR).

Esta breve cronologia da cidade de Rio de Contas procura traar um panorama histrico da cidade valendo ressaltar aqui algumas impresses de outros viajantes como Aguiar (1888), que descreve algumas peculiaridades da cidade:
[...] no geral [a cidade] possui casas cmodas, slidas e asseadas, alm de excelentes sobrados [...] ruas planas, largas, compridas e paralelas, desembocando em duas bonitas praas. O comrcio insignificante est reduzido a umas quatro lojas e tantas casas de molhados [...] a feira bastante acanhada. A populao, avaliada em mais de 60.000 almas, acha-se dividida por seis parquias [...] felizmente o que tem mais escolas. A indstria da cidade consiste no trabalho proficiente de todos os metais [...] As melhores bridas conhecidas so as que l se fabricam [...] as mais finas obras de ouro e prata, os mais delicados lavores [...] so de rara perfeio. Rio de Contas nadou em ouro, todas as contas eram pagas e cobradas em oitavas [...]. (AGUIAR, 1888)

1.3.1.3 Anlise Formal e Tipolgica O stio histrico est implantado em um declive suave, delimitado pelos riachos Sacavm e Gamb e pelo rio Brumado, expandindo-se ao longo deste em direo Sudoeste, onde situa-se a Igreja de Nossa Senhora Santana (Igreja de Pedra) e uma das trs entradas da cidade. A configurao espacial do stio histrico apresenta um traado regular, formado por ruas (variando de 8 a 12 metros de largura) e quatro praas amplas, configurando um tecido urbano quadrangular (Figura 5).

Figura 5: Stio histrico de Rio de Contas

O conjunto arquitetnico tombado formado por 287 edificaes, onde prevalecem as de um pavimento, sendo que apenas dez delas possuem dois pavimentos. As edificaes ocupam toda a largura do lote e esto alinhadas pela rua, datam na sua maioria da segunda metade do sculo XVIII e incio do XIX. Apenas sete edificaes, reconstrudas no sculo XX, apresentam recuo frontal em relao ao lote como pode ser visto na Figura 6.

Figura 6: Edificao reconstruda no sculo XX

Os tipos arquitetnicos do stio histrico so em sua maioria compostas por edificaes de uso residencial, de programa muito simples (cozinha, alcova, vestbulo e sala) sem diviso dos cmodos de servio e ptio murado. Desenvolvida em um pavimento, com planta normalmente quadrada ou retangular, recoberta de telhas de barro em duas guas, terminando em beiral simples (Figura 7).

Figura 7: Plantas tpica de edificaes residenciais

A fachada principal possui porta central, normalmente ladeada de janelas, onde os vos possuem cercaduras em madeira e vergas em arcos abatidos ou em alguns casos vergas retas como pode ser visto na Figura 8.

Figura 8: Elevao frontal tpica de edificaes residenciais

A edificao construda com paredes autoportantes (alvenaria de adobe) que suportam a cobertura. Verifica-se que esta tcnica construtiva de tradio popular, pois encontram-se nas reas de expanso da cidade (Sudeste) construes atuais com estas mesmas configuraes (Figura 9).

Figura 9: Edificao atual, seguindo tradio construtiva popular

Outros tipos arquitetnicos mais elaborados tambm compem o conjunto arquitetnico, so edificaes que pertenciam a pessoas mais abastadas, geralmente comerciantes de metais e pedras preciosas (fornecedores7 e capangueiros8) (Figura 10).

Figura 10: Casa de capangueiro

Nestes casos, incorporavam-se ao programa arquitetnico: o depsito, a loja ou o escritrio. Construdas em um ou dois pavimentos estas edificaes possuem fachadas emolduradas por cunhais e cornija, normalmente apresentam frisos e elementos decorativos (baixos relevos) em estuque como florais e formas geomtricas que lembram a decorao surgida, mais tarde, em Parati (AZEVEDO, 1980) (Figura 11). A cobertura em duas guas ou em quatro guas, no caso de alguns sobrados, termina
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A minerao em Rio de Contas se fazia pelo regime de meia-praa. Neste regime o garimpeiro recorria ao fornecedor (comerciante) que lhe financiava equipamentos e provises em troca de metade da produo do garimpo.
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Indivduo que vive da compra de ouro ou diamantes e carbonados, feita diretamente aos garimpeiros.

normalmente sobre cimalha, mas h casos de terminao em beira-saveira. Na maioria dos casos as janelas possuem caixilharia em guilhotina e, nas janelas do pavimento superior dos sobrados encontram-se sacadas de plpito e gradil de ferro e, em alguns casos, gradil entalado, em madeira recortada.

Figura 11: Detalhes de baixo relevo em motivos geomtricos

Desta categoria de edificaes de uso residencial e misto (residencial e comercial), treze edifcios esto inscritos no Livro de Tombo Arqueolgico, Etnogrfico e Paisagstico: a casa de Ablio Csar Borges, as casas nmero 6, 57 e 138 na Rua Baro de Macabas, o sobrado da atual Prefeitura Municipal e a casa do atual Correios no largo do Rosrio, as casas nmero 12 e 40 na Rua Baro de Rio Branco, a casa nmero 82 na Rua Silva Jardim, os sobrados nmero 3 e 4 e a casa nmero 90 da Rua 15 de Novembro e a casa de nmero 37 na Praa Senador Tanajura, como podem ser vistos nas Figuras 12 a 15.

Figura 12: Edificaes tombadas: Casas da Rua Baro de Macabas, (a) no 57, (b) no 6 e (c) no 138

Figura 13: Edificaes tombadas: (a) casa da Rua Silva Jardim, no 82, (b) casa na Praa Senador Tanajura no 37, (c) casa da Rua Baro de Rio Branco no 12 e (d) casa de Ablio Cesar Borges.

Figura 14: Edificaes tombadas: Sobrados da Rua 15 de Novembro, (a) no3, (b) no 4 e a casa (c) no 90.

Figura 15: Edificaes tombadas: (a) Casa na Rua Baro de Rio Branco no 40, (b) Sobrado da atual Prefeitura Municipal de Rio de Contas e (c) casa do atual Arquivo Pblico Municipal de Rio de Contas

Destacam-se ainda no conjunto arquitetnico do stio histrico de Rio de Contas, trs edificaes de arquitetura civil de uso pblico como a Casa de Cmara e Cadeia, o Mercado Pblico Municipal e o Teatro So Carlos.
A Casa de Cmara e Cadeia (atual Frum Baro de Macabas), monumento tombado pelo SPHAN sob nmero 330 do Livro de Histria, em 31 de julho de 1959, segue o modelo construtivo de Casa de Cmara e Cadeia do sculo XVIII e um exemplar que se mantm com o seu aspecto primitivo, guardando todas as suas caractersticas (BARRETO, 1949). Tambm tem seu espao organizado em forma retangular, desenvolvido em dois pavimentos, recoberto com telhado de quatro guas com terminao em cimalha. Sua fachada principal emoldurada por cunhais e cornija e possui uma portada central, ladeada por janelas guarnecidas por grades. No pavimento superior, as janelas possuem balaustres em madeira. Todos os vos de portas e janelas possuem vergas abauladas e cercaduras, sendo as do pavimento trreo em cantaria e as do pavimento superior em madeira. O sistema construtivo constitudo por estrutura de paredes autoportantes (alvenaria de pedra), onde algumas paredes internas do segundo pavimento so em adobe (AZEVEDO, 1980). Admite-se que esta construo tenha sido edificada em conseqncia da criao da Comarca de Rio de Contas em 1833, e seu aspecto atual pode ser visto na Figura 16.

Figura 16: Casa de Cmara e Cadeia, atual Frum Baro de Macabas

O Mercado Pblico Municipal (Figura 17) uma edificao construda em 1927, de planta quadrada, constituda por uma caixa murria em alvenaria de pedra, vazada por arcos plenos em tijolos e pilares internos de seo circular que sustentam uma cobertura constituda por trs telhados paralelos em duas guas (AZEVEDO, 1980). Este edifcio est implantado em uma esquina na Praa das Bandeiras com a Rua Comendador Souza, e possui as fachadas principais emolduradas por cunhais e cornija onde uma platibanda esconde o perfil do telhado. Estas duas fachadas possuem aberturas em arco pleno, que servem de acesso ao interior do edifcio. Este edifcio tambm foi tombado pelo SPHAN em 1980 e atualmente abriga a Biblioteca Pblica Municipal de Rio de Contas.

Figura 17: Mercado Pblico Municipal, atual Biblioteca Pblica Municipal

O Teatro So Carlos, foi construdo em 1892 (AZEVEDO,1980) e possui planta em forma retangular, com cerca de 6 metros de largura. Possui cobertura em duas guas e sua fachada emoldurada por cunhais e cornija, apresentando uma porta central e duas janelas altas com vergas retas e bandeiras falsas em arco pleno. Sobre a cornija h um friso decorado com motivos florais e uma platibanda em forma de fronto curvo, onde est gravado o nome do teatro. Seu interior simples, formado por platia, dois camarins e pequena galeria. O piso da platia plano e o do palco curiosamente inclinado (Figura 18).

Figura 18: Edifcios tombados: Teatro So Carlos

Fechando a relao de bens tombados pelo SPHAN, os edifcios de uso religioso so a Igreja Matriz do Santssimo Sacramento e a Igreja Nossa Senhora Santana. A Igreja Matriz do Santssimo Sacramento (Figura 19), construda no final do sculo XVIII , segundo avaliao registrada no IPAC-BA em 1978, o melhor exemplar conservado de arquitetura religiosa em todo o serto baiano. Foi construda em paredes autoportantes (alvenaria de pedra) e tribunas entaipadas e h vestgios de alicerces e pedras de amarrao que denotam que o edifcio no foi concludo, pois teria sido projetado como uma igreja de corredores laterais, superpostos por galerias e tribunais (AZEVEDO, 1980). Sua fachada composta por portada central de cantaria, em arco pleno, ladeada por duas portas menores e janelas no nvel superior, todas com cercadura em pedra e vergas em arcos abatidos. A capela-mor possui

forro em abboda de madeira com pintura e o altar-mor e os altares laterais so em talha dourada.

Figura 19: Edifcios tombados: Igreja Matriz do Santssimo Sacramento

A Igreja Nossa Senhora de Santana (Figura 20), construda por volta de 1779 possui estrutura em paredes autoportantes (alvenaria de pedra) e arcos em cantaria. A planta organizada em forma retangular: a nave central, a capela-mor e sacristias so as nicas cobertas, as naves laterais e base das torres no possuem cobertura. tambm um edifcio inacabado, e os vestgios de pedras de amarrao nos muros do corpo central indicam que as naves laterais deveriam ser recobertas por galerias. A fachada do edifcio apresenta fronto em sua parte superior (nico elemento rebocado do edifcio), trs janelas, uma portada principal ladeada por duas portas menores, todas com cercaduras em pedra e vergas em arco-pleno. Tombada pelo SPHAN em 1958, trata-se de uma igreja rarssima com trs naves e capela-mor, que se comunica com as sacristias laterais. Segundo

Azevedo (1980), dentre as igrejas mineiras do sculo XVIII apenas trs9 apresentam esta configurao.

Figura 20: Edifcios tombados: Igreja Nossa Senhora de Santana

Dentro do Municpio de Rio de Contas, destaca-se ainda a Igreja de Santo Antnio (Figura 21). Situada a 18 km do stio histrico (ao Norte), no povoado de Mato Grosso, esta igreja foi construda no incio da colonizao da regio, na dcada de 1710, poca em que foi criada a primeira Freguesia do Alto Serto Baiano, chamada Santo Antnio do Mato Grosso. Trata-se de um edificao descaracterizada, que sofreu muitas mutilaes e inseres de elementos inadequados (AZEVEDO, 1980), como contrafortes para estruturar a fachada frontal construda em 1950 e recuada 6,20 metros em relao fachada original que desabou na dcada de 1940. A planta configura-se em T, com nave e capela-mor e sacristia. Este edifcio no est inscrito nos livros de tombo, mas est presente no imaginrio dos moradores locais. A histria popular narra a construo deste edifcio como sendo o pagamento de uma promessa feita a Santo Antnio por um milagre alcanado (SILVA, 2008).
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A Matriz da Conceio de Sabar, a Matriz de Mariana e a Capela do Rosrio de Santa Rita Duro.

Figura 21: Edifcios: Igreja de Santo Antonio do Mato Grosso

Alm do valor histrico, o municpio de Rio de Contas tambm entra no roteiro turstico dito de aventura, comum em toda Chapada Diamantina, o que atrai para a regio um razovel fluxo de turistas em busca de atraes como cachoeiras (destaque para o Poo das Andorinhas, cachoeira do Fraga e Ponte do Coronel), escaladas ao Pico do Barbado (2.088 m), ao Pico do Itobira (1.970 m) e ao Pico das Almas (1.958 m), caminhadas por trilhas e caminhos como o trecho da Estrada Real que liga Rio de Contas a Livramento bem como a prtica de esportes nuticos ao longo dos 18 km de extenso navegvel da Barragem do Rio Brumado. No entanto, so as festas populares10 que trazem mais recursos para a economia local, o que refora a importncia de seu patrimnio (natural, material e imaterial) como fator de desenvolvimento social e econmico do municpio.

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Os reisados, as festas juninas (Santo Antnio, So Joo e So Pedro) e a semana de Corpus Christi.

REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS AGUIAR, D. V. Descries Prticas da Provncia da Bahia: uma declarao de todas as distncias intermedirias das cidades, vilas e povoaes. Braslia: Livraria Ctedra, 1979. AZEVEDO, P. O. D. et al. Inventrio de Proteo do Acervo Cultural da Bahia Monumentos e Stios da Serra Geral e Diamantina. Salvador: SPHAN, 1980. IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica - Informaes Estatsticas: 2008 COROGRAFIA BRAZILICA ou relao Histrico-Geografica do Reino do Brasil, tomo II, p. 130. Rio de Janeiro: Impresso Rgia, 1817. COLEO DAS LEIS do Imprio do Brasil - Tomo X, Parte I. Rio de Janeiro: Typographia Nacional, 1849. NEVES, E. F. Caminhos do Serto: Ocupao territorial, Sistema Virio e Intercmbios Coloniais dos Sertes da Bahia. Salvador: Arcdia, 2007. SUASSUNA, J. As principais represas pblicas do nordeste brasileiro. Recife, 1999. Disponvel em: <www.brumado.ba.gov.br>. Acesso em: 15 dez. 2009. Rio de Contas BA. 2007. Disponvel em: <http://www.ibge.gov.br/cidadesat/topwindow.htm?1>. Acesso em: 09 fev.

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