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Ideal 2023 3º Ano Apostila 3

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ENEM 3º ANO – LÍNGUA PORTUGUESA – BIANCA VIEIRA

QUESTÃO 1

Supera

Tá de novo com essa pessoa


Não tô acreditando
Vai fazer papel de trouxa outra vez
Cê não aprende mesmo, hein
Pra você isso é amor
Mas pra ele isso não passa de um plano B
Se não pegar ninguém da lista, liga pra você
Te usa e joga fora
Para de insistir, chega de se iludir
O que cê tá passando eu já passei, e eu sobrevivi
Se ele não te quer, supera
Se ele não te quer, supera
Ele tá fazendo de tapete o seu coração
Promete pra mim que dessa vez você vai falar "não"
De mulher pra mulher, supera
De mulher pra mulher, supera
Pra você isso é amor
Mas pra ele isso não passa de um plano B
Se não pegar ninguém da lista, liga pra você
Te usa e joga fora
Para de insistir, chega de se iludir
O que cê…
(Marília Mendonça)

A canção Supera, cheia de emoção e subjetividade, apresenta uma linguagem informal, marca bastante recorrente em muitas
letras de música. É marca dessa variedade coloquial da linguagem presente na canção, o uso de
A repetição da expressão-título, que reforça a oralidade.
B ditos populares, que aproximam o sujeito lírico do receptor.
C palavras e expressões polissêmicas, que causam ambiguidade.
D formas verbais no gerúndio, bastante comuns quando se expressa sentimento.
E aférese da segunda pessoa, que imita a variante apenas do nordeste do país.

QUESTÃO 2

“Ciência não é uma escolha. É uma necessidade. Quem não enxerga isso está fadado a um obscurantismo que
condena o futuro do país.” Foi com essa frase que o premiado físico e astrônomo brasileiro Marcelo Gleiser, vencedor do
Prêmio Templeton em 2019 – uma espécie de prêmio Nobel do diálogo entre ciência e espiritualidade –, encerrou a entrevista
concedida à Agência Einstein a respeito do papel da ciência em meio à pandemia que só no Brasil já matou mais de 100 mil
pessoas.

Disponível em: <https://revistalide.com.br/noticias/saude-bem-estar/marcelo-gleiser-ciencia-nao-e-uma-escolha-e-uma-


necessidade>. Acesso em: 22/12/21.

Os sinais de pontuação podem mostrar diferentes sentidos para informações apresentadas em um texto. No excerto lido, o
trecho entre travessões
a) denota uma informação explicativa sobre o prêmio, mas secundária para o contexto.
b) faculta o emprego da segunda vírgula do período, antes de “encerrou”.
c) ironiza a validade do prêmio, considerando que combina ciência e espiritualidade.
d) restringe a importância do prêmio a um público específico e especializado.
e) converge para a percepção do paradoxo entre ciência e espiritualidade.

QUESTÃO 3
Fernando Gonsales, publicada na conta do Instagram “Depósito de Tirinhas”, em 23.04.2020.

Para obter seu efeito de humor, a tirinha explora o seguinte recurso expressivo:
a) eufemismo: o emprego de palavra ou expressão no lugar de outra palavra ou expressão considerada desagradável.
b) ambiguidade: a presença, num texto, de uma unidade linguística que pode significar coisas diferentes.
c) hipérbole: a ênfase resultante do exagero na expressão ou na comunicação de uma ideia.
d) antítese: a oposição, numa mesma expressão ou frase, de duas palavras ou de dois pensamentos de sentidos
contrários.
e) sinestesia: a aproximação, na mesma expressão, de sensações percebidas por diferentes órgãos dos sentidos

QUESTÃO 4

Descoberta da Literatura

No dia a dia do engenho,


toda a semana, durante,
cochichavam-me em segredo:
saiu um novo romance.
E da feira do domingo
me traziam conspirantes
para que os lesse e explicasse
um romance de barbante.
Sentados na roda morta
de um carro de boi, sem jante1,
ouviam o folheto guenzo2,
a seu leitor semelhante,
com as peripécias de espanto
preditos pelos feirantes.
Embora as coisas contadas
e todo o mirabolante,
em nada ou pouco variassem
nos crimes, no amor, nos lances,
e soassem como sabidos
de outros folhetos migrantes,
a tensão era tão densa,
subia tão alarmante,
que o leitor que lia aquilo
como puro alto-falante,
e, sem querer, imantara
todos ali, circunstantes,
receava que confundissem
o de perto com o distante,
o ali com o espaço mágico,
seu franzino com o gigante,
e que o acabassem tomando
pelo autor imaginante
ou tivesse que afrontar
as brabezas do brigante.
(E acabaria, não fossem
contar tudo à Casa-Grande:
na moita morta do engenho,
um filho-engenho, perante
cassacos3 do eito e de tudo,
se estava dando ao desplante
de ler letra analfabeta
de corumba4, no caçanje5
próprio dos cegos de feira,
muitas vezes meliantes.)

João Cabral de Melo Neto, A educação pela pedra

Glossário:
1. "jante": aro da roda.
2. "guenzo": magro, frágil.
3. "casacos": trabalhadores do engenho de cana-de-açúcar.
4. "corumba": pessoa de baixa condição social, andarilho.
5. "caçanje": português mal falado.

Ao ler em voz alta para os circunstantes, tal como figurado no poema, o menino leitor dá-se conta de que está, também,
a) fazendo a obra meritória de levar a cultura ao povo simples, esclarecendo-o com as luzes do conhecimento.
b) sendo usado, de maneira abusiva e, até, mal-intencionada, por aqueles que o mobilizaram para essa leitura.
c) expondo-se ao risco de ser tomado por um esnobe, vulgar e pretensioso.
d) transgredindo os limites que separam as classes sociais, o que poderia vir a ser motivo de reprovação.
e) rebaixando a alta literatura, ao reproduzi-la de maneira inepta e infantil, para um público inculto.

QUESTÃO 5

Contribui para o efeito de humor da tirinha


a) a pergunta retórica feita no primeiro quadrinho.
b) a palavra "dinheiro" empregada em sentido conotativo no segundo quadrinho.
c) o emprego de pleonasmo no terceiro quadrinho.
d) a antítese entre "poemas" e "dinheiro" no terceiro quadrinho.
e) o acréscimo do complemento nominal "ao dinheiro" no terceiro quadrinho.
QUESTÃO 6

CAPÍTULO XXXI
AS CURIOSIDADES DE CAPITU

Capitu preferia tudo ao seminário. Em vez de ficar abatida com a ameaça da larga separação, se vingasse a ideia
da Europa, mostrou-se satisfeita. E quando eu lhe contei o meu sonho imperial:
— Não, Bentinho, deixemos o Imperador sossegado, replicou; fiquemos por ora com a promessa de José Dias.
Quando é que ele disse que falaria a sua mãe?
— Não marcou dia; prometeu que ia ver; que falaria logo que pudesse, e que me pegasse com Deus.
Capitu quis que lhe repetisse as respostas todas do agregado, as alterações do gesto e até a pirueta, que apenas
lhe contara. Pedia o som das palavras. Era minuciosa e atenta; a narração e o diálogo, tudo parecia remoer consigo. Também
se pode dizer que conferia, rotulava e pregava na memória a minha exposição. Esta imagem é porventura melhor que a
outra, mas a ótima delas é nenhuma. Capitu era Capitu, isto é, uma criatura mui particular, mais mulher do que eu era
homem. Se ainda o não disse, aí fica. Se disse, fica também. Há conceitos que se devem incutir na alma do leitor, à força de
repetição.
Era também mais curiosa. As curiosidades de Capitu para um capítulo. Eram de vária espécie, explicáveis e
inexplicáveis, assim úteis como inúteis, umas graves, outras frívolas; gostava de saber tudo. No colégio onde, desde os sete
anos, aprendera a ler, escrever e contar, francês, doutrina e obras de agulha, não aprendeu, por exemplo, a fazer renda por
isso mesmo, quis que prima Justina lho ensinasse. Se não estudou latim com o Padre Cabral foi porque o padre, depois de
lhe propor gracejando, acabou dizendo que latim não era língua de meninas. Capitu confessou-me um dia que esta razão
acendeu nela o desejo de o saber. Em compensação, quis aprender inglês com um velho professor amigo do pai e parceiro
deste ao solo1, mas não foi adiante. Tio Cosme ensinou-lhe gamão.
— Ainda apanhar um capotinho2, Capitu, dizia-lhe ele.
(...)

Machado de Assis, Dom Casmurro.

Glossário:
1. "solo": tipo de jogo de cartas.
2. "capotinho": diminutivo de "capote". Em um jogo, ganhar por grande diferença de pontos.

Os atributos de Capitu, indicados no excerto, serão considerados positivos ou negativos, conforme sejam julgados,
respectivamente, do ponto de vista
a) do esclarecimento e do conservantismo.
b) do opressor e do oprimido.
c) do escravismo e do liberalismo.
d) do favor e da autonomia da pessoa.
e) do patriarcalismo e do feminismo.

QUESTÃO 7

Enfeitar-se é um ritual tão grave. A fazenda não é um mero tecido, é matéria de coisa. É a esse estofo que com meu
corpo eu dou corpo. Ah, como pode um simples pano ganhar tanta vida? Meus cabelos, hoje lavados e secados ao sol do
terraço, estão da seda mais antiga. Bonita? Nem um pouco, mas mulher. Meu segredo ignorado por todos e até pelo espelho:
mulher. Brincos? Hesito. Não. Quero a orelha apenas delicada e simples alguma coisa modestamente nua. Hesito mais:
riqueza ainda maior seria esconder com os cabelos as orelhas. Mas não resisto: descubro-as, esticando os cabelos para
trás. E fica de um feio hierático como o de uma rainha egípcia, com o pescoço alongado e as orelhas incongruentes. Rainha
egípcia? Não, sou eu, eu toda ornada como as mulheres bíblicas.

CIarice Lispector. "O ritual". In: Jornal do Brasil. 23.11.1968. Disponível em: httg://memoria.bn.br/DocReader. Adaptado.

De acordo com o texto, a gravidade do ritual de "enfeitar-se" caracteriza-se, de forma mais incisiva, por
a) reduzir a narradora a algo material.
b) realçar a beleza feminina.
c) revelar a mulher em sua essência.
d) criar uma perspectiva distante da realidade.
e) tornar a narradora uma rainha.
QUESTÃO 8

Encomenda

Desejo uma fotografia


como esta — o senhor vê? — como esta:
em que para sempre me ria
com um vestido de eterna festa.

Como tenho a testa sombria,


derrame luz na minha testa.
Deixe esta ruga, que me empresta
um certo ar de sabedoria.

Não meta fundos de floresta


nem de arbitrária fantasia...
Não... Neste espaço que ainda resta,
ponha uma cadeira vazia.

Cecília Meireles. In: Vogo Músico. São Paulo: Global, 2013

No poema, o eu lírico nomeia um "senhor" como seu interlocutor e expressa o desejo de uma fotografia que
a) manipule a luz projetada no seu rosto, de modo a fazê-Io parecer mais jovem do que realmente é.
b) imite com fidelidade, no presente, a imagem de um momento de grande alegria transcorrido no passado.
c) evoque o modo como ele próprio, eu lírico, enxerga aspectos externos e internos de si mesmo, sem idealizá-los.
d) transmita o modo debochado com que analisa sua própria imagem, tanto em momentos de alegria como de sobriedade.
e) seja capaz de distorcer a realidade objetiva, emprestando-lhe aspectos de sonho, por meio da manipulação da
cenografia.

QUESTÃO 9

A um moribundo

Não tenhas medo, não! Tranquilamente,


Como adormece a noite pelo Outono,
Fecha os teus olhos, simples, docemente,
Como, à tarde, uma pomba que tem sono...

A cabeça reclina levemente


E os braços deixa-os ir ao abandono,
Como tombam, arfando, ao sol poente,
As asas de uma pomba que tem sono...

O que há depois? Depois?... O azul dos céus?


Um outro mundo? O eterno nada? Deus?
Um abismo? Um castigo? Uma guarida?

Que importa? Que te importa, ó moribundo?


- Seja o que for, será melhor que o mundo!
Tudo será melhor do que esta vida!...
(Florbela Espanca)

A poesia é um texto poético, geralmente em verso, que faz parte do gênero literário denominado "lírico". Nesse soneto, o eu
lírico tenta persuadir o seu interlocutor. Além do uso do imperativo e da segunda pessoa, ele utiliza como recurso de
persuasão
a) os sinais de reticências que aparecem nas estrofes.
b) as perguntas que já estão respondidas antes de serem feitas.
c) a predominância no texto do eu lírico que traz a função expressiva.
d) as relações que intensificam a ideia transmitida pelos eufemismos.
e) a ocorrência de termos eruditos que dificultam o entendimento do texto.
QUESTÃO 10

Delicinhas da língua

O ano já está no finalzinho, disse. E pensei: finalzinho é quando termina o final. Comecinho, não. Comecinho é
quando começa o começo. Finalzinho é quando o final tá mais perto do final. Onde eu quero chegar com isso? Não faço
ideia. Mas sei que vou devagarinho. Enquanto quem está pertinho está mais perto, quem está longinho está menos longe.
Enquanto a tardinha é no final da tarde, a noitinha fica no começo da noite. Um minutinho dura mais do que um minuto,
talvez uns três ou quatro. Um segundinho pode durar até 30 segundos regulamentares. Devagarinho é mais devagar.
Rapidinho é mais rápido. Igualzinho é mais igual. Pouquinho é mais pouco. Agorinha não é mais agora. Agorinha já foi
agora, até que passou. "Ele chegou agorinha" significa que não chegou agora, mas há dois minutinhos. Moço é o jovem,
mocinho é o contrário do vilão. Mocinha só existe na frase "já virou mocinha", eufemismo pra um aumentativo:
menstruação.
Todo o mundo gosta do engraçado, todo o mundo odeia o engraçadinho. O bonito dá inveja, o bonitinho dá pena.
Todo o mundo quer ser bom, ninguém quer ser bonzinho. Quem está só pode estar feliz. Quem está sozinho, nunca. A voz
só se torna vozinha quando irrita. Ninguém diz: "adoro sua vozinha", mas "para de fazer vozinha". Na contramão: um
pássaro pode incomodar. Um passarinho, nunca. Chamamos de soneca um sono curto, mas de soninho um sono gostoso.
Sonequinha é um sono ao mesmo tempo curto e gostoso. "Quero estarzinho com ela", diz Raul Bopp em "Cobra Norato", e
continua: "querzinho de ficar junto".
A língua portuguesa tem uma palavra pros buraquinhos que surgem no rosto quando se ri, e essa palavra também
designa o lugar onde enterramos os mortos. Quando morrer, me enterrem numa covinha.

Gregorio Duvivier. "Delicinhas da língua; veja um breve compêndio do diminutivo no português".ln: UOL. Adaptado.

Os autores fazem uso de recursos linguísticos para a progressão textual. A frase que reproduz recurso expressivo
semelhante ao presente no trecho "E pensei: finalzinho é quando termina o final. Comecinho, não" é:
a) Sabei que, sem licença do meu mal, / já não podeis fazer meus olhos ledos (Luís de Camões).
b) De todos esses periquitinhos que tem no Brasil, tuim é capaz de ser o menor (Rubem Braga).
c) Tiros que o senhor ouviu foram de briga de homem não, Deus esteja (Guimarães Rosa).
d) O meu pai era paulista / Meu avô, pernambucano / O meu bisavô, mineiro (Chico Buarque).
e) Cobrai-me, e não queirais, Pastor divino (Gregório de Matos).

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