Trypanosoma evansi EM EQUINOS - REVISÃO BIBLIOGRÁFICA - 9090
Trypanosoma evansi EM EQUINOS - REVISÃO BIBLIOGRÁFICA - 9090
Trypanosoma evansi EM EQUINOS - REVISÃO BIBLIOGRÁFICA - 9090
Aline Moraes dos Anjos1, Carolina Toniazzo Quaresma1, Patrícia Marchionatti Camargo1,
Rodrigo Bastos2, Luciana Dalla Rosa3
1 INTRODUÇÃO
O Trypanosoma evansi é um hemoprotozoário que causa a doença, popularmente
conhecida como “mal das cadeiras” ou “surra” em equinos. A distribuição geográfica é ampla,
sendo encontrada em todas as áreas tropicais e subtropicais do mundo (DESQUESNES et al.,
2013a). No Brasil, esta doença tem sido relatada em várias regiões, principalmente em áreas
do Pantanal Mato-Grossense, onde ela é endêmica (SILVA et al., 2002). Este protozoário
pode acometer diversas espécies de mamíferos, como os equinos, cães, gatos, bovinos,
caprinos, ovinos e animais silvestres, sua transmissão se dá de forma mecânica, de um animal
para outro, através da picada de insetos hematófagos, por morcegos hematófagos ou, ainda,
pode ser transmitida através de agulhas contaminadas (RODRIGUES, 2005).
Clinicamente, a infecção é caracterizada pela rápida perda de peso, vários graus de
anemia, febre intermitente, edema dos membros posteriores, fraqueza progressiva e distúrbios
locomotores. Na espécie equina, os sinais clínicos podem ser mais graves e levam, muitas
vezes, ao óbito. Consequentemente, a enfermidade produzida por este parasito possui grande
importância devido aos altos prejuízos econômicos, principalmente quando afeta animais de
alto valor zootécnico, além, de prejuízos aos sistemas pecuários extensivos que dependem do
cavalo para o seu manejo, além de comprometerem também animais de pista ou competição
(CONRADO et al., 2005; RIBEIRO, 2016).
Este trabalho tem como principal objetivo explanar sobre a doença causada pelo
hemoprotozoário T. evansi, na espécie equina, denotando as principais características do
protozoário e da doença, assim como seu curso clínico no animal acometido, além de formas
de diagnóstico e tratamento da doença.
1
Discentes do curso de Medicina Veterinária, da Universidade de Cruz Alta - Unicruz, Cruz Alta, Brasil. E-mail:
alinedanjos@hotmail.com, carolinaquaresma98@gmail.com, patimarchionatti@hotmail.com.
2
Docente da Universidade de Cruz Alta. - Unicruz, Cruz Alta, Brasil. E-mail: rbastos@unicruz.edu.br
3
Docente da Universidade Federal do Rio Grande do Sul – UFRGS, Porto Alegre, Brasil. E-mail:
luciana.rosa@ufrgs.br
1
PRÓ-REITORIA DE PÓS- GRADUAÇÃO, PESQUISA E EXTENSÃO
FONE: (55) 3321.1606 I 3321.1545 | EMAIL: pesquisa@unicruz.edu.br ; extensao@unicruz.edu.br
Campus Universitário Dr. Ulysses Guimarães - Rodovia Municipal Jacob Della Méa, km 5.6 –
Parada Benito. CRUZ ALTA/RS - CEP- 98005-972 I UNICRUZ.EDU.BR
2 METODOLOGIA
O trabalho apresenta-se em forma de uma revisão bibliográfica, sendo assim, na
pesquisa utilizou-se de materiais já elaborados para a realização do mesmo, constituindo-se de
livros e artigos científicos. Além disso, a pesquisa classifica-se como qualitativa bibliográfica,
uma vez que, não há relevância quanto à estimação de valores numéricos, todavia, busca
investigar e ressaltar estudos a respeito de fatos e situações (GERHARDT; SILVEIRA, 2009).
3 RESULTADOS E DISCUSSÕES
O T. evansi é um protozoário flagelado, caracterizado morfologicamente por possuir
núcleo bem visível, grânulos no citoplasma e flagelo emergindo paralelo ao corpo e correndo
ao longo da sua membrana ondulante (RODRIGUES et al., 2005).
O ciclo de vida do T. evansi consiste da transmissão mecânica do protozoário de um
hospedeiro infectado para outro não infectado. Os principais vetores são a mosca hematófaga
Stomoxys calcitrans, tabanídeos e morcegos hematófagos (HOARE, 1972; LOSOS, 1980). Os
tripanossomas permanecem na probóscide e a transmissão depende diretamente da sobrevida
destes no aparelho bucal dos insetos. Além das formas clássicas de transmissão, os carnívoros
podem também se infectar com a carne de animais acometidos recentemente mortos, agulhas
contaminadas reutilizadas ou através de ferimentos ocasionados por brigas (BAZZOLI et al.,
2002). Os tripanossomas sobrevivem e multiplicam-se nos fluidos extracelulares de seus
hospedeiros, especialmente no sangue, onde se dividem assexuadamente por fissão binária
(BRUN et al, 1998).
A patogenia do T. evansi consiste em várias etapas, sendo iniciada no local da picada,
invadindo corrente sanguínea e linfática, levando a picos de febre e induzindo uma resposta
inflamatória (CONNOR, 2004). Ocorre também a liberação de toxinas (fosfolipases), pelo
protozoário. Estas toxinas hidrolisam a membrana dos eritrócitos, levando ao estresse
oxidativo e consequente lise das hemácias, reduzindo também a produção de células pela
medula óssea (SILVA et al., 2002).
Os sinais clínicos exibidos são muito variáveis, dependendo do hospedeiro, virulência
da cepa e situação epidemiológica. Estas características fazem da tripanossomose não apenas
uma doença multiespécie, mas também uma doença polimórfica (DESQUESNES et al.,
2013b). Em equinos, os sinais clínicos mais característicos são: edema e a paralisia
progressiva dos membros inferiores, além disso, caracteriza-se por rápido emagrecimento,
letargia e anemia. A anemia pode ocorrer pelo sequestro esplênico de eritrócitos, devido à
2
PRÓ-REITORIA DE PÓS- GRADUAÇÃO, PESQUISA E EXTENSÃO
FONE: (55) 3321.1606 I 3321.1545 | EMAIL: pesquisa@unicruz.edu.br ; extensao@unicruz.edu.br
Campus Universitário Dr. Ulysses Guimarães - Rodovia Municipal Jacob Della Méa, km 5.6 –
Parada Benito. CRUZ ALTA/RS - CEP- 98005-972 I UNICRUZ.EDU.BR
ligação de proteínas de superfície na membrana da hemácia, ou ainda pelo estresse oxidativo
causado pela liberação das toxinas pelo protozoário, danificando a membrana das células
vermelhas e consequentemente resultando na hemólise das mesmas e assim a redução na
contagem destas células (SILVA et al., 2010), já os sinais neurológicos ocorrem porque o
protozoário invade o sistema nervoso central, resultando em uma lesão progressiva. Os
mesmos rompem a barreira hematoencefálica, causando edema vasogênico (aumento de água
e outros constituintes do plasma do encéfalo) e pequenas hemorragias, o que ocorre,
geralmente nos estágios finais da infecção. Além disso, quando os protozoários se encontram
no líquido cefalorraquidiano, induzem uma inflamação nos nervos espinhais resultando na
apresentação dos sinais clínicos neurológicos (RODRIGUES, 2006).
A evolução clínica pode ser aguda, com a morte do animal em poucos dias, ou ainda,
pode apresentar-se de forma crônica, assim o animal apresentará o quadro clínico da doença
durante meses, sinais neurológicos (CONRADO et al., 2005; SILVA et al., 2010).
Para realização do diagnóstico de T. evansi deve-se ter base nos dados
epidemiológicos, sinais clínicos, hematológicos, patológicos e, principalmente, na presença do
parasita em esfregaço sanguíneo, na sorologia positiva para T. evansi através do ensaio de
imunoabsorção enzimática (ELISA) e detecção do parasita no encéfalo através da técnica de
imunohistoquímica (IHQ).
O tratamento e controle de doenças vetoriais é dividido em: controle de patógenos e
controle de vetores (DESQUESNES et al., 2013a). No caso das tripanossomíases, o controle
consiste na utilização dos fármacos tripanocidas: diminazene, quinapirimina, suramine,
homidium e isometamiduim. A escolha da droga está relacionada com a espécie acometida e
quimisensibilidade da cepa. Atualmente, o mais utilizado é o aceturato de diminazeno, o qual
apresenta melhor efetividade no tratamento de equinos. A dose indicada é de 7mg/kg, também
é recomendado a administração de vitamina b12 e antipirina, principalmente nos casos mais
graves (RODRIGUES, 2006; SILVA et al., 2002). Este elimina os tripanossomas da corrente
sanguínea algumas horas após sua administração, no entanto, este princípio ativo, não
apresenta a eficácia curativa em um alguns casos, ocorrendo reincidência da parasitemia após
o término do período residual do fármaco (em média de sete dias). Esta reincidência está
relacionada com a passagem dos tripanossomas pela barreira hematoencefálica e
consequentemente ao cérebro, local de refúgio do T. evansi durante o período residual do
fármaco (LONSDALE-ECCLES; GRAB, 2002), sendo necessária a reaplicação do
quimioterápico.
3
PRÓ-REITORIA DE PÓS- GRADUAÇÃO, PESQUISA E EXTENSÃO
FONE: (55) 3321.1606 I 3321.1545 | EMAIL: pesquisa@unicruz.edu.br ; extensao@unicruz.edu.br
Campus Universitário Dr. Ulysses Guimarães - Rodovia Municipal Jacob Della Méa, km 5.6 –
Parada Benito. CRUZ ALTA/RS - CEP- 98005-972 I UNICRUZ.EDU.BR
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS OU CONCLUSÃO
Em virtude dos fatos mencionados pode-se constatar que a doença causada pelo T.
evansi acomete inúmeras espécies, porém é mais preocupante, por ser fatal, apenas em uma
das espécies, no equino.
Assim, ressalta-se a importância do conhecimento sobre a enfermidade, como a sua
epidemiologia, sinais clínicos apresentados pelos animais acometidos, além dos exames
laboratoriais adequados para a realização do diagnóstico, a fim de identificar o animal que
está infectado e iniciar o tratamento propício, a fim de promover o bem-estar do animal.
REFERÊNCIAS
BAZZOLI, R. S.; MARQUES, L. C.; MACHADO, R. Z.; AQUINO, L. P. C.; ALESSE, A. C.; CAMACHO, A.
A. Transmissão oral de Trypanosoma evansi em cães. ARS Veterinária, v. 18, n. 2, p. 148-152, 2002.
BRUN, R.; HECKER, H.; LUN, Z. R. Trypanosoma evansi and T. equiperdum: distribution, biology, treatment
phylogenetic relationship (a review). Veterinary Parasitology, v. 79, p. 95107, 1998.
CONNOR, R. J.; VAN DEN BOOSCHE, P. African animal trypanosomoses. In: COETZER, J. A. W.; TUSTIN,
R. C. Infectious diseases of livestock. 2nd ed. South Africa: Oxford University Press, 2004. v. 1. cap. 12, p. 251-
296.
CONRADO, A. C.; LOPES, S. T. A.; OLIVEIRA, L. S. S.; MONTEIRO, S. G.; VARGAS, D. L. B. V.; BUENO,
A. Infecção natural por Trypanosoma evansi em cavalos na região central do Estado do Rio Grande do Sul.
Ciência Rural, v. 35, n. 4, p. 928-931, 2005.
DESQUESNES, M.; HOLZMULLER, P.; LAI, D.; DARGANTES, A.; LUN, Z.; JITTAPLAPONG, S.
Trypanosoma evansi and Surra: A Review and Perspectives on Origin, History, Distribution, Taxonomy,
Morphology, Hosts, and Pathogenic Effects. BioMed Research International, v. 2013, 194176, 2013a.a
DESQUESNES, M.; ALAN DARGANTES, A.; LAI, D.; LUN, Z.; HOLZMULLER, P.; JITTAPALAPONG, S.
Trypanosoma evansi and Surra: A Review and Perspectives on Transmission, Epidemiology and Control, Impact,
and Zoonotic Aspects. BioMed Research International, v. 2013, 321237, 2013b.
GERHARDT, T. E.; SILVEIRA, D. T. (Org.) Métodos de pesquisa. SEAD/UFRGS. Porto Alegre: Ed. UFRGS,
2009. Disponível em < http://www.ufrgs.br/cursopgdr/downloadsSerie/derad005.pdf>
HOARE, C. A. The Trypanosomes of mammals: a zoological monograph. Oxford: Blackwell, 1972. 749p.
LONSDALE-ECCLES, J. D.; GRAB, D. J. Trypanosome hydrolases and the blood brain barrier. Trends
Parasitology, v. 18, p. 17-19, 2002.
LOSOS, G. J. Diseases caused by Trypanosoma evansi. A review. Veterinary Research Communications, v. 4, p.
165-81, 1980.
RIBEIRO, Cristina. Amplificação, clonagem, expressão e purificação da enzima adenosina deaminase (ADA) de
Trypanosoma evansi. Dissertação. Universidade doestado de Santa Catarina – UDESC. Lages, 2016. 96f.
RODRIGUES, A. Infecção Natural por Trypanosoma evansi em Equinos. Universidade Federal de Santa Maria;
Centro de Ciências Rurais; Programa de Pós-graduação em Medicina Veterinária – Dissertação de Mestrado,
2006.
RODRIGUES, A.; FIGHERA, R. A.; SOUZA, T. M.; SCHILD, A. L.; SOARES, M. P.; MILANO, J.; BARROS,
C. S. L. Outbreaks of trypanosomiasis in horses by Trypanosoma evansi in the state of Rio Grande do Sul, Brazil:
epidemiological, clinical, hematological, and pathological aspects. Pesquisa Veterinária Brasileira, v. 25, n. 4, p.
239-249, 2005.
SILVA, A. S.; ANDRADE NETO, O. A. S.; COSTA, M. M.; WOLKMER, P.; MAZZANTTI, C. M.;
SANTURIO, J. M.; LOPES, S. T. A.; MONTEIRO, S. G.. Tripanossomose em equinos na região sul do Brasil -
Acta Scientiae Veterinariae, v. 38, n. 2, p. 113-120, 2010.
SILVA, R. A. M. S.; SEIDL, A.; RAMIREZ, L.; DAVILA, A. M. R. Trypanosoma evansi e Trypanosoma vivax –
Biologia, Diagnóstico e Controle. Embrapa, 2002. Online.
4
PRÓ-REITORIA DE PÓS- GRADUAÇÃO, PESQUISA E EXTENSÃO
FONE: (55) 3321.1606 I 3321.1545 | EMAIL: pesquisa@unicruz.edu.br ; extensao@unicruz.edu.br
Campus Universitário Dr. Ulysses Guimarães - Rodovia Municipal Jacob Della Méa, km 5.6 –
Parada Benito. CRUZ ALTA/RS - CEP- 98005-972 I UNICRUZ.EDU.BR