Aula 8 Indisciplina

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INDISCIPLINA

O aluno-problema tomado, em geral, como


aquele que padece de certos supostos
"distrbios psico/pedaggicos"; distrbios
estes que podem ser de natureza cognitiva (os
tais "distrbios de aprendizagem") ou de
natureza comportamental, e nessa ltima
categoria enquadra-se um grande conjunto de
aes que chamamos usualmente de
"indisciplinadas".


INDISCIPLINA= ALUNO-PROBLEMA
A indisciplina e o baixo aproveitamento dos
alunos seriam como duas faces de uma
mesma moeda, representando os dois
grandes males da escola contempornea,
geradores do fracasso escolar, e os dois
principais obstculos para o trabalho docente.


algo estranho e contraditrio para os
profissionais da rea educacional explicar o
sucesso escolar como produto da ao
pedaggica, e o fracasso escolar como
produto de outras instncias que no a escola
e a sala de aula?



Se entendermos o fracasso escolar como
efeito de algum problema individual e anterior
do aluno, no estaremos nos isentando, em
certa medida, da responsabilidade sobre
nossa ao profissional? E mesmo se assim o
fosse, o que estaramos fazendo ns para
alterar esse quadro cumulativo?
Se o aluno aprende, porque o professor ensina; se
ele no aprende, porque no quer ou porque
apresenta algum tipo de distrbio, de carncia, de
falta de pr-requisito.
O que fazer, ento?

Repensar nossos posicionamentos, rever algumas
supostas verdades que, em vez de nos auxiliar,
acabam sendo armadilhas que apenas justificam o
fracasso escolar, mas no conseguem alterar os
rumos e os efeitos do nosso trabalho cotidiano.

Uma primeira hiptese de explicao da
indisciplina seria a de que "o aluno de hoje
em dia menos respeitador do que o aluno de
antes, e que, na verdade, a escola atual teria
se tornado muito permissiva, em comparao
ao rigor e qualidade daquela educao de
antigamente

A PRIMEIRA HIPTESE EXPLICATIVA: O
ALUNO "DESRESPEITADOR"

Saudosismo exacerbado. Lembranas romanceada
da escola, mas a escola era para poucos. A escola
era elitista antes dos anos 70.
Excluso, pois, um processo que j estava l, nessa
escola de antigamente, hoje to idealizada.
Muitas escolas eram escolas militares ou
religiosas, que atendiam uma parcela muito reduzida
da populao.
Atravs dos exames de admisso uma parcela da
populao era privilegiada.



OBSERVAES SOBRE A 1 HIPTESE
As escolas do passado eram fundamentalmente
militarizadas no seu funcionamento cotidiano.

Ex: as filas, o ptio, o uniforme, os cnticos, e
particularmente a relao de medo e coao que
tnhamos com as figuras escolares (que
descuidadamente nomeamos hoje como "de
respeito"), revelavam um esprito fortemente
hierarquizado/hierarquizante da poca, desenhando
os contornos das relaes institucionais.

Escolas que funcionavam a base da ameaa e do
castigo.

Uma relao de respeito condio necessria
(embora no suficiente) para o trabalho pedaggico.
No entanto, podemos respeitar algum por tem-lo
ou podemos respeitar algum por admir-lo. Mas,
convenhamos, h uma grande diferena entre esses
dois tipos de "respeito". O primeiro funda-se nas
noes de hierarquia e superioridade, o segundo,
nas de assimetria e diferena. E h uma
incongruncia estrutural entre elas!
Antes o respeito do aluno, inspirado nos moldes
militares, era fruto de uma espcie de submisso e
obedincia cegas a um "superior" na hierarquia
escolar.

Hoje, o respeito ao professor no mais pode advir do
medo da punio - assim como nos quartis - mas da
autoridade inerente ao papel do "profissional"
docente.

Trata-se, assim, de uma transformao histrica
radical do lugar social das prticas escolares.


A punio, a represlia, a submisso e o medo ainda
parecem habitar silenciosamente as salas de aula,
s que agora, por exemplo, por meio da avaliao.
No verdade que muitas vezes alguns professores
chegam a ameaar seus alunos com a promessa de
provas difceis, notas baixas etc?

No ser isso tambm outra estratgia
dissimulada de excluso?
O que dizer, ento, das expulses ou das
"transferncias"?
Recusa desse novo sujeito histrico a prticas
fortemente arraigadas no cotidiano escolar;

Tentativa de apropriao da escola de outra
maneira, mais aberta, mais fluida, mais
democrtica.

Necessidade legtima de transformaes no interior
das relaes escolares e, em particular, na relao
professor-aluno.

INDISCIPLINA: OUTRAS LEITURAS
As crianas de hoje em dia no tm limites,
no reconhecem a autoridade, no respeitam
as regras, e a responsabilidade por isso dos
pais, que teriam se tornado muito
permissivos". Quase todos parecem concordar
com essa hiptese do "dficit moral" como
explicativa da indisciplina.


A SEGUNDA HIPTESE EXPLICATIVA: O
ALUNO "SEM LIMITES"

Cenrio de contradies...

Alunos indisciplinados fora da sala de aula, num
jogo coletivo, por exemplo, veremos o quanto as
regras so muito bem conhecidas pelas crianas e
adolescentes. No nada estranho a um jovem de
hoje em dia a vivncia de uma situao qualquer de
acordo com regras muito bem estabelecidas, rgidas
na maioria das vezes.

Um bom exemplo disso se encontra quando, num
jogo ou brincadeira infantil, algum no cumpre
aquilo que foi acordado previamente entre os
participantes!!!


A inquietao e a curiosidade infantis ou do
jovem, que antes eram simplesmente
reprimidas, apagadas do cotidiano escolar,
podem hoje ser encaradas como excelentes
ingredientes para o trabalho de sala de aula.
S depende do manejo delas...

Criana mal-educada em casa" converte-se
automaticamente em "aluno indisciplinado na escola?

Nem sempre isso verdadeiro!

No possvel generalizar esse diagnstico para
justificar os diferentes casos de indisciplina com os
quais deparamos.

Os mesmos alunos indisciplinados com alguns
professores podem ser bastante colaboradores com
outros.

Esse tipo de enfrentamento do trabalho pedaggico
desaconselhvel por trs razes, pelo menos:

* em primeiro lugar, trata-se de um desperdcio da
qualificao e do talento especfico do professor,
porque ele no se profissionalizou para ser uma
espcie de pai "postio".
* em segundo lugar, trata-se de um desvio de
funo, porque ele no foi contratado para exercer
tarefas parentais, e dele no se espera isso.
* em terceiro, trata-se de uma quebra do "contrato"
pedaggico, porque o seu trabalho deixa de ser
realizado
PARA SER PROFESSOR, PRECISO
ANTES SER UM POUCO PAI.
A indisciplina parece ser uma resposta clara ao
abandono ou habilidade das funes docentes em
sala de aula.

Talvez se possa entender a indisciplina como energia
desperdiada, sem um alvo preciso ao qual se fixar,
e como uma resposta, portanto, ao que se oferta ao
aluno. Enfim, a indisciplina do aluno pode ser
compreendida como uma espcie de termmetro da
prpria relao do professor com seu campo de
trabalho, seu papel e suas funes.

INDISCIPLINA: OUTRAS LEITURAS
Para os alunos, a sala de aula no to
atrativa quanto os outros meios de
comunicao, e particularmente o apelo da
televiso. Por isso, a falta de interesse e a
apatia em relao escola. A sada, ento,
seria ela se modernizar com o uso, por
exemplo, de recursos didticos mais atraentes
e assuntos mais atuais".



A TERCEIRA HIPTESE EXPLICATIVA: O
ALUNO "DESINTERESSADO


Escola no um meio de comunicao.

Enquanto a mdia (os diversos meios de
comunicao como a televiso, o rdio, o jornal, o
prprio computador atualmente etc.) tm como
funo primordial a difuso da informao, a escola
deve ter como objetivo principal a reapropriao do
conhecimento acumulado em certos campos do
saber - aquilo que constitui as diversas disciplinas
de um currculo.

REFLEXES IMPORTANTES
A inteligncia humana no , sob hiptese
alguma, um depsito de informaes, mas um
centro processador delas. No apenas
"ingerimos" informaes, mas as "digerimos",
e isso o que nos torna diferentes uns dos
outros...
Alguns tm uma capacidade de digesto
muito maior do que outros, e essa capacidade
se aprende e se potencializa principalmente
no meio escolar.

Para o aluno conhecer, descobrir, se
apropriar... Ele precisa ter as mesmas
caractersticas do comportamento
indisciplinado:

Imaginao
Inquietude
As trs grandes hipteses explicativas da
questo disciplinar, no se sustentam por
completo, por trs razes, pelo menos:


UMA LEITURA PEDAGGICA DA
INDISCIPLINA ESCOLAR

* A primeira que elas esto apoiadas em algumas
evidncias equivocadas e em alguns pseudo-
conceitos (como a viso romanceada da educao de
antigamente, a moralizao deficitria por parte dos
pais, alm da ideia do conhecimento escolar como
algo ultrapassado e desestimulante);


* A segunda razo que, de uma forma ou de
outra, elas acabam isolando a indisciplina
como um problema individual e anterior do
aluno, quando, ao contrrio, a ato
indisciplinado revela algo sobre as relaes
institucionais-escolares nos dias atuais;
* A terceira razo deve-se ao fato de que as
trs hipteses esquivam-se de levar em
considerao a sala de aula, a relao
professor-aluno e as questes estritamente
pedaggicas. Elas esboam razes para a
indisciplina, mas no apontam caminhos
concretos para sua superao ou
administrao.


Indisciplina um evento escolar que estaria
sinalizando, a quem interessar, que algo, do
ponto de vista pedaggico, e mais
especificamente da sala de aula, no est se
desdobrando de acordo com as expectativas
dos envolvidos.

O que fazer, ento?
A dimenso dos contedos refere-se a "o
qu se ensina", a dimenso dos mtodos
ao "como se ensina", e a dimenso tica
ao "para que se ensina": aquilo que
delimita o valor humano e social da ao
escolar, porque sempre inserido em uma
relao concreta.

Essa uma distino importante porque os grandes
problemas que enfrentamos hoje evocam, na maioria
das vezes, este "para qu escola?". Acreditamos,
portanto, que grande parte dos nossos dilemas de
todo dia exija um encaminhamento de natureza
essencialmente ticos, e no metodolgica,
curricular ou burocrtica.
O aluno indisciplinado est incessantemente
nos chamando a ateno.
essa a pergunta que ele est fazendo o
tempo todo: para qu escola?
Qual a relevncia e o sentido do estudo, do
conhecimento?
No qu isso me transforma?
E qual meu ganho, de fato, com isso?


PARA QU ESCOLA?
Todas essas indagaes so inadiveis hoje
em dia porque se o professores, na qualidade
de profissionais privilegiados da educao,
tiverem clareza quanto a seu papel e ao valor
do seu trabalho, eles conseguiro ter um
outro tipo de leitura sobre o cotidiano da sala
de aula, sobre os problemas que se
apresentam e as estratgias possveis para o
seu enfrentamento.

* Compreenso do aluno-problema como um porta- voz das
rel aes estabelecidas em sal a de aul a.

O aluno-problema no necessariamente portador de um
"di strbi o" i ndivi dual, mesmo porque o mesmo aluno
"defi citri o" com certo professor pode ser bastante produtivo
com outro.

O suposto obstcul o que ele apresenta revela um problema
comum, sempre da relao. Vamos i nvestig-lo, i nterpretando-
o como um si nal dos acontecimentos de sala de aula. Escuta:
ei s uma prti ca i ntransfervel !

CINCO REGRAS TICAS DO TRABALHO
DOCENTE
Des-idealizao do perfil de aluno.

Ou seja, abandonemos a imagem do aluno
ideal, de como ele deveria ser, quais hbitos
deveria ter, e conjuguemos nosso material
humano concreto, os recursos humanos
disponveis

Fidelidade ao contrato pedaggico.
O objeto de nosso trabalho apenas um: o
conhecimento. imprescindvel que tenhamos
clareza de nossa tarefa em sala de aula para que
o aluno possa ter clareza tambm da dele. A
visibilidade do aluno quanto ao seu papel
diretamente proporcional do professor quanto
ao seu. A ao do aluno , de certa forma,
espelho da ao do professor. Portanto, se h
fracasso, o fracasso de todos; e o mesmo com
relao ao sucesso escolar.

Experimentao de novas estratgias de trabalho.
O ofcio do professor um campo privilegiado de
aprendizagem, de investigao de novas
possibilidades de atuao profissional .

Sala de aula laboratrio pedaggico.

Precisamos reinventar os mtodos, precisamos
reinventar os contedos em certa medida,
precisamos reinventar nossa relao com eles...
Competncia e o prazer: so os valores
bsicos que devem presidir nossa ao em
sala de aula.
Quando podemos (ou conseguimos) exercer
esse ofcio extraordinrio que a docncia
com competncia e prazer - e, por extenso,
com generosidade -, isso se traduz tambm na
maneira com que o aluno exercita o seu lugar.
A i ndi scipl ina e a escol a atual. Jl i o Groppa Aqui no
Rev. Fac. Educ. vol . 24 n. 2 So Paul o Jul y/Dec. 1998
Di spon vel em Sci elo:
http: //dx. doi. org/10.1590/S0102- 25551998000200011
BIBLIOGRAFIA

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