O documento discute três hipóteses comuns para explicar a indisciplina escolar e argumenta que elas não são totalmente válidas. A indisciplina pode ser melhor compreendida como uma resposta à ação pedagógica e uma oportunidade para transformar as relações na sala de aula, em vez de culpabilizar os alunos.
O documento discute três hipóteses comuns para explicar a indisciplina escolar e argumenta que elas não são totalmente válidas. A indisciplina pode ser melhor compreendida como uma resposta à ação pedagógica e uma oportunidade para transformar as relações na sala de aula, em vez de culpabilizar os alunos.
O documento discute três hipóteses comuns para explicar a indisciplina escolar e argumenta que elas não são totalmente válidas. A indisciplina pode ser melhor compreendida como uma resposta à ação pedagógica e uma oportunidade para transformar as relações na sala de aula, em vez de culpabilizar os alunos.
O documento discute três hipóteses comuns para explicar a indisciplina escolar e argumenta que elas não são totalmente válidas. A indisciplina pode ser melhor compreendida como uma resposta à ação pedagógica e uma oportunidade para transformar as relações na sala de aula, em vez de culpabilizar os alunos.
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INDISCIPLINA
O aluno-problema tomado, em geral, como
aquele que padece de certos supostos "distrbios psico/pedaggicos"; distrbios estes que podem ser de natureza cognitiva (os tais "distrbios de aprendizagem") ou de natureza comportamental, e nessa ltima categoria enquadra-se um grande conjunto de aes que chamamos usualmente de "indisciplinadas".
INDISCIPLINA= ALUNO-PROBLEMA A indisciplina e o baixo aproveitamento dos alunos seriam como duas faces de uma mesma moeda, representando os dois grandes males da escola contempornea, geradores do fracasso escolar, e os dois principais obstculos para o trabalho docente.
algo estranho e contraditrio para os profissionais da rea educacional explicar o sucesso escolar como produto da ao pedaggica, e o fracasso escolar como produto de outras instncias que no a escola e a sala de aula?
Se entendermos o fracasso escolar como efeito de algum problema individual e anterior do aluno, no estaremos nos isentando, em certa medida, da responsabilidade sobre nossa ao profissional? E mesmo se assim o fosse, o que estaramos fazendo ns para alterar esse quadro cumulativo? Se o aluno aprende, porque o professor ensina; se ele no aprende, porque no quer ou porque apresenta algum tipo de distrbio, de carncia, de falta de pr-requisito. O que fazer, ento?
Repensar nossos posicionamentos, rever algumas supostas verdades que, em vez de nos auxiliar, acabam sendo armadilhas que apenas justificam o fracasso escolar, mas no conseguem alterar os rumos e os efeitos do nosso trabalho cotidiano.
Uma primeira hiptese de explicao da indisciplina seria a de que "o aluno de hoje em dia menos respeitador do que o aluno de antes, e que, na verdade, a escola atual teria se tornado muito permissiva, em comparao ao rigor e qualidade daquela educao de antigamente
A PRIMEIRA HIPTESE EXPLICATIVA: O ALUNO "DESRESPEITADOR"
Saudosismo exacerbado. Lembranas romanceada da escola, mas a escola era para poucos. A escola era elitista antes dos anos 70. Excluso, pois, um processo que j estava l, nessa escola de antigamente, hoje to idealizada. Muitas escolas eram escolas militares ou religiosas, que atendiam uma parcela muito reduzida da populao. Atravs dos exames de admisso uma parcela da populao era privilegiada.
OBSERVAES SOBRE A 1 HIPTESE As escolas do passado eram fundamentalmente militarizadas no seu funcionamento cotidiano.
Ex: as filas, o ptio, o uniforme, os cnticos, e particularmente a relao de medo e coao que tnhamos com as figuras escolares (que descuidadamente nomeamos hoje como "de respeito"), revelavam um esprito fortemente hierarquizado/hierarquizante da poca, desenhando os contornos das relaes institucionais.
Escolas que funcionavam a base da ameaa e do castigo.
Uma relao de respeito condio necessria (embora no suficiente) para o trabalho pedaggico. No entanto, podemos respeitar algum por tem-lo ou podemos respeitar algum por admir-lo. Mas, convenhamos, h uma grande diferena entre esses dois tipos de "respeito". O primeiro funda-se nas noes de hierarquia e superioridade, o segundo, nas de assimetria e diferena. E h uma incongruncia estrutural entre elas! Antes o respeito do aluno, inspirado nos moldes militares, era fruto de uma espcie de submisso e obedincia cegas a um "superior" na hierarquia escolar.
Hoje, o respeito ao professor no mais pode advir do medo da punio - assim como nos quartis - mas da autoridade inerente ao papel do "profissional" docente.
Trata-se, assim, de uma transformao histrica radical do lugar social das prticas escolares.
A punio, a represlia, a submisso e o medo ainda parecem habitar silenciosamente as salas de aula, s que agora, por exemplo, por meio da avaliao. No verdade que muitas vezes alguns professores chegam a ameaar seus alunos com a promessa de provas difceis, notas baixas etc?
No ser isso tambm outra estratgia dissimulada de excluso? O que dizer, ento, das expulses ou das "transferncias"? Recusa desse novo sujeito histrico a prticas fortemente arraigadas no cotidiano escolar;
Tentativa de apropriao da escola de outra maneira, mais aberta, mais fluida, mais democrtica.
Necessidade legtima de transformaes no interior das relaes escolares e, em particular, na relao professor-aluno.
INDISCIPLINA: OUTRAS LEITURAS As crianas de hoje em dia no tm limites, no reconhecem a autoridade, no respeitam as regras, e a responsabilidade por isso dos pais, que teriam se tornado muito permissivos". Quase todos parecem concordar com essa hiptese do "dficit moral" como explicativa da indisciplina.
A SEGUNDA HIPTESE EXPLICATIVA: O ALUNO "SEM LIMITES"
Cenrio de contradies...
Alunos indisciplinados fora da sala de aula, num jogo coletivo, por exemplo, veremos o quanto as regras so muito bem conhecidas pelas crianas e adolescentes. No nada estranho a um jovem de hoje em dia a vivncia de uma situao qualquer de acordo com regras muito bem estabelecidas, rgidas na maioria das vezes.
Um bom exemplo disso se encontra quando, num jogo ou brincadeira infantil, algum no cumpre aquilo que foi acordado previamente entre os participantes!!!
A inquietao e a curiosidade infantis ou do jovem, que antes eram simplesmente reprimidas, apagadas do cotidiano escolar, podem hoje ser encaradas como excelentes ingredientes para o trabalho de sala de aula. S depende do manejo delas...
Criana mal-educada em casa" converte-se automaticamente em "aluno indisciplinado na escola?
Nem sempre isso verdadeiro!
No possvel generalizar esse diagnstico para justificar os diferentes casos de indisciplina com os quais deparamos.
Os mesmos alunos indisciplinados com alguns professores podem ser bastante colaboradores com outros.
Esse tipo de enfrentamento do trabalho pedaggico desaconselhvel por trs razes, pelo menos:
* em primeiro lugar, trata-se de um desperdcio da qualificao e do talento especfico do professor, porque ele no se profissionalizou para ser uma espcie de pai "postio". * em segundo lugar, trata-se de um desvio de funo, porque ele no foi contratado para exercer tarefas parentais, e dele no se espera isso. * em terceiro, trata-se de uma quebra do "contrato" pedaggico, porque o seu trabalho deixa de ser realizado PARA SER PROFESSOR, PRECISO ANTES SER UM POUCO PAI. A indisciplina parece ser uma resposta clara ao abandono ou habilidade das funes docentes em sala de aula.
Talvez se possa entender a indisciplina como energia desperdiada, sem um alvo preciso ao qual se fixar, e como uma resposta, portanto, ao que se oferta ao aluno. Enfim, a indisciplina do aluno pode ser compreendida como uma espcie de termmetro da prpria relao do professor com seu campo de trabalho, seu papel e suas funes.
INDISCIPLINA: OUTRAS LEITURAS Para os alunos, a sala de aula no to atrativa quanto os outros meios de comunicao, e particularmente o apelo da televiso. Por isso, a falta de interesse e a apatia em relao escola. A sada, ento, seria ela se modernizar com o uso, por exemplo, de recursos didticos mais atraentes e assuntos mais atuais".
A TERCEIRA HIPTESE EXPLICATIVA: O ALUNO "DESINTERESSADO
Escola no um meio de comunicao.
Enquanto a mdia (os diversos meios de comunicao como a televiso, o rdio, o jornal, o prprio computador atualmente etc.) tm como funo primordial a difuso da informao, a escola deve ter como objetivo principal a reapropriao do conhecimento acumulado em certos campos do saber - aquilo que constitui as diversas disciplinas de um currculo.
REFLEXES IMPORTANTES A inteligncia humana no , sob hiptese alguma, um depsito de informaes, mas um centro processador delas. No apenas "ingerimos" informaes, mas as "digerimos", e isso o que nos torna diferentes uns dos outros... Alguns tm uma capacidade de digesto muito maior do que outros, e essa capacidade se aprende e se potencializa principalmente no meio escolar.
Para o aluno conhecer, descobrir, se apropriar... Ele precisa ter as mesmas caractersticas do comportamento indisciplinado:
Imaginao Inquietude As trs grandes hipteses explicativas da questo disciplinar, no se sustentam por completo, por trs razes, pelo menos:
UMA LEITURA PEDAGGICA DA INDISCIPLINA ESCOLAR
* A primeira que elas esto apoiadas em algumas evidncias equivocadas e em alguns pseudo- conceitos (como a viso romanceada da educao de antigamente, a moralizao deficitria por parte dos pais, alm da ideia do conhecimento escolar como algo ultrapassado e desestimulante);
* A segunda razo que, de uma forma ou de outra, elas acabam isolando a indisciplina como um problema individual e anterior do aluno, quando, ao contrrio, a ato indisciplinado revela algo sobre as relaes institucionais-escolares nos dias atuais; * A terceira razo deve-se ao fato de que as trs hipteses esquivam-se de levar em considerao a sala de aula, a relao professor-aluno e as questes estritamente pedaggicas. Elas esboam razes para a indisciplina, mas no apontam caminhos concretos para sua superao ou administrao.
Indisciplina um evento escolar que estaria sinalizando, a quem interessar, que algo, do ponto de vista pedaggico, e mais especificamente da sala de aula, no est se desdobrando de acordo com as expectativas dos envolvidos.
O que fazer, ento? A dimenso dos contedos refere-se a "o qu se ensina", a dimenso dos mtodos ao "como se ensina", e a dimenso tica ao "para que se ensina": aquilo que delimita o valor humano e social da ao escolar, porque sempre inserido em uma relao concreta.
Essa uma distino importante porque os grandes problemas que enfrentamos hoje evocam, na maioria das vezes, este "para qu escola?". Acreditamos, portanto, que grande parte dos nossos dilemas de todo dia exija um encaminhamento de natureza essencialmente ticos, e no metodolgica, curricular ou burocrtica. O aluno indisciplinado est incessantemente nos chamando a ateno. essa a pergunta que ele est fazendo o tempo todo: para qu escola? Qual a relevncia e o sentido do estudo, do conhecimento? No qu isso me transforma? E qual meu ganho, de fato, com isso?
PARA QU ESCOLA? Todas essas indagaes so inadiveis hoje em dia porque se o professores, na qualidade de profissionais privilegiados da educao, tiverem clareza quanto a seu papel e ao valor do seu trabalho, eles conseguiro ter um outro tipo de leitura sobre o cotidiano da sala de aula, sobre os problemas que se apresentam e as estratgias possveis para o seu enfrentamento.
* Compreenso do aluno-problema como um porta- voz das rel aes estabelecidas em sal a de aul a.
O aluno-problema no necessariamente portador de um "di strbi o" i ndivi dual, mesmo porque o mesmo aluno "defi citri o" com certo professor pode ser bastante produtivo com outro.
O suposto obstcul o que ele apresenta revela um problema comum, sempre da relao. Vamos i nvestig-lo, i nterpretando- o como um si nal dos acontecimentos de sala de aula. Escuta: ei s uma prti ca i ntransfervel !
CINCO REGRAS TICAS DO TRABALHO DOCENTE Des-idealizao do perfil de aluno.
Ou seja, abandonemos a imagem do aluno ideal, de como ele deveria ser, quais hbitos deveria ter, e conjuguemos nosso material humano concreto, os recursos humanos disponveis
Fidelidade ao contrato pedaggico. O objeto de nosso trabalho apenas um: o conhecimento. imprescindvel que tenhamos clareza de nossa tarefa em sala de aula para que o aluno possa ter clareza tambm da dele. A visibilidade do aluno quanto ao seu papel diretamente proporcional do professor quanto ao seu. A ao do aluno , de certa forma, espelho da ao do professor. Portanto, se h fracasso, o fracasso de todos; e o mesmo com relao ao sucesso escolar.
Experimentao de novas estratgias de trabalho. O ofcio do professor um campo privilegiado de aprendizagem, de investigao de novas possibilidades de atuao profissional .
Sala de aula laboratrio pedaggico.
Precisamos reinventar os mtodos, precisamos reinventar os contedos em certa medida, precisamos reinventar nossa relao com eles... Competncia e o prazer: so os valores bsicos que devem presidir nossa ao em sala de aula. Quando podemos (ou conseguimos) exercer esse ofcio extraordinrio que a docncia com competncia e prazer - e, por extenso, com generosidade -, isso se traduz tambm na maneira com que o aluno exercita o seu lugar. A i ndi scipl ina e a escol a atual. Jl i o Groppa Aqui no Rev. Fac. Educ. vol . 24 n. 2 So Paul o Jul y/Dec. 1998 Di spon vel em Sci elo: http: //dx. doi. org/10.1590/S0102- 25551998000200011 BIBLIOGRAFIA