Dimensoes Da Nao Aprendizagem 02
Dimensoes Da Nao Aprendizagem 02
Dimensoes Da Nao Aprendizagem 02
a dimensão do ensino
Inmagine.
são culpados, ou, os únicos responsáveis pelo
próprio desempenho escolar, alguns educadores
costumam afirmar que pouco ou quase nada po-
dem fazer para a superação do fracasso escolar,
pois se consideram despreparados e desmotiva-
dos. Supõe-se que cabe aos especialistas (psicó-
logos, neurologistas, fonoaudiólogos, psicopedagogos etc.) resolver o problema do
aluno, que após a mágica solução estaria pronto para aprender novamente.
A superação do fracasso escolar passa efetivamente pela educação inclusiva,
por uma pedagogia que acolha as diferenças, resguardando o comum sem desres-
peitar a singularidade. A esse desafio referem-se muitas indagações dos educadores
que se encontram perdidos em torno de como atender a diversidade. Questionam,
por exemplo: “Diversificar é o mesmo que individualizar o ensino?”, “Seríamos
realistas ao projetarmos uma escola capaz de assumir a diversidade em sua totali-
dade, trabalhando e atendendo individualmente as necessidades dos alunos?”
Para Sacristan (2002), atender a diversidade envolve, necessariamente, uma
ação de equilíbrio entre a comunhão de objetivos e a contemplação possível da
individualidade. Pressupõe da escola e de seus educadores uma predisposição à
flexibilidade da ação pedagógica, à convivência com as incertezas, à visão multi-
dimensional dos processos envolvidos na aprendizagem.
A educação para a diversidade é um desafio para o qual a escola não foi
originalmente preparada. Ao contrário, para atender aos apelos do mundo do tra-
Condição da prática
pedagógica para a diversidade
Explicações para o fracasso escolar são encontradas, muitas vezes, no cam-
po das relações sociais, por exemplo, no modo como os professores veem seus
alunos e os compreendem. A relação professor-aluno não é algo objetivo, pois é
marcada por expectativas e representações de um em relação ao outro. O aluno
que não aprende frustra as expectativas do professor e a si mesmo. Do mesmo
modo, o professor que age com indiferença ou intimida seus alunos, também aca-
ba por frustrá-los.
Esse fenômeno é denominado profecia autorrealizadora e se refere à postu-
ra dos professores de depositar nos alunos baixas expectativas quanto ao desem-
penho escolar. O ato de estar contribuindo para a formação dos indivíduos é algo
altamente gratificante ao professor. Quando esse profissional percebe que suas
aulas não encaminham seus alunos à aprendizagem, sente-se fracassado e desmo-
tivado e a profecia se realiza encorajada pela ação docente e pela escola.
De forma a evitar a ideia de fracasso ou frustração pessoal, alguns professores
tornam-se adeptos da ideia de que certos alunos são “menos” capazes de aprender.
Para corroborar com essa ideia existem algumas teorias explicativas das diferenças
de desempenho escolar entre os alunos de um mesmo contexto sociocultural, como
as neurológicas, psicológicas, antropológicas etc. Tais teorias acabam validando a
justificativa de que o problema do êxito e aprendizagem escolar se dá por conta
somente do aluno.
A profecia autorrealizadora é uma consequência do modo como a sociedade
é hierarquizada e de como seus valores são difundidos. O aluno em sua relação
com a escola é guiado por esses valores e, influenciado por eles, acaba por ter de
corresponder com o esperado para a obtenção de êxito em seus estudos. Por isso,
de forma equivocada, pode acabar assumindo o papel de fracassado, ou de “aluno
problema”, ainda que esse rótulo não lhe caiba.
É comum os professores indicarem os supostos defeitos de seus alunos em
uma reunião de conselho ou, ainda, aos seus colegas de profissão, fato que contri-
bui com a manutenção da profecia. Quem nunca ouviu professores comentarem
entre si: “Cuidado com aquele aluno que senta no fundo, ele não quer saber de
aprender!”. Ou então: “Fulano é comportado em sala de aula, mas não vai muito
longe. Tem muita dificuldade em aprender!”. Essas ideias preconcebidas sobre
os alunos tendem a se solidificar e se perpetuar ao longo dos anos em que eles
permanecem na escola, fazendo com que aquele que sempre foi mal visto tenha
poucas oportunidades de desenvolvimento. Por outro lado, o aluno que sempre
recebeu elogios dificilmente deixará de recebê-los, ainda que assuma uma postura
diferente e que, por algum motivo, perca a vontade de aprender.
É fundamental que os educadores reflitam sobre suas profecias de modo a
despir-se de ideias preconceituosas que mobilizem o aluno para o fracasso. Isso é
possível por meio de atitudes de encorajamento da autoestima, do reconhecimento
e da legitimação da aprendizagem do aluno.
Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A.,
30 mais informações www.iesde.com.br
Fracasso escolar: a dimensão do ensino
Digital Juice.
O professor pode utilizar es-
tratégias metodológicas diver-
sificadas, porém essa diversi-
ficação deve estar amparada
em uma concepção pedagógi-
ca que reconheça no aluno a
construção da aprendizagem.
Ter como princípio básico que
os alunos não aprendem so-
mente com o professor. Desse modo, é necessário desenvolver estratégias de
aprendizagem cooperativa como recurso fundamental ao desenvolvimento
pessoal e cognitivo dos alunos. Entende-se por aprendizagem cooperativa o
processo educacional em que os alunos interagem de maneira solidária, atuan-
do como parceiros entre si e entre o professor com a finalidade de aprender.
Possibilitar aos alunos a realização de atividades que possuam diferentes
graus de complexidade e que permitam diferentes possibilidades de exe-
cução. Por exemplo, pode-se propor várias formas de abordar um mesmo
conteúdo de ensino; ou abordar diferentes conteúdos em uma mesma ati-
vidade de modo que a articulação entre os conhecimentos seja efetivada.
Ter como princípio que os alunos possuem interesses diversos, de for-
ma a lhes garantir a possibilidade de escolher qual a melhor maneira de
realizar as atividades propostas. Essa forma de organização permite o
acolhimento das diferenças individuais e o autoconhecimento dos alunos
enquanto aprendizes.
Fornecer oportunidades para que os alunos pratiquem e apliquem o que
aprenderam.
Utilizar recursos materiais diversificados de modo a possibilitar diferen-
tes atividades e abordagens de um mesmo tema ou assunto.
Diversificar as formas de agrupamento em sala de aula. As situações hete-
rogêneas são enriquecedoras. É importante assegurar que aqueles alunos
que possuem maiores dificuldades em relação a determinadas tarefas pos-
sam se integrar a grupos que correspondam melhor às suas necessidades.
Realizar avaliação coerente com o princípio de uma educação para a
diversidade, avaliação que deve se adaptar aos diferentes estilos, capa-
cidades e possibilidades de expressão dos alunos. O processo avaliativo
deve ser contínuo e formativo.
Organizar o espaço da sala de aula de modo a permitir a integração, a
convivência, facilitando a autonomia e a mobilidade dos alunos. Aqueles
Homogeneizar ou diferenciar?
Destacamos abaixo alguns aspectos para a compreensão e superação da
dicotomia homogeneização versus diferenciação, no âmbito da educação escolar.
É importante que o currículo da escola seja favorável às diferenças. Quan-
to à sua elaboração, o que será ensinado ou validado deve considerar a
distinção entre aquilo que essencialmente deve fazer parte do currículo
comum, abrindo-se para a flexibilização das ações e dos conteúdos de
ensino. O currículo escolar, tal como se encontra organizado – segmenta-
do em conteúdos, horas-aula e disciplinas inflexíveis – não favorece uma
aprendizagem por outras vias.
Embora o professor acredite na diversidade, inevitavelmente terá de tra-
balhar suas próprias expectativas quanto aos avanços da aprendizagem
de seus alunos. Deve ter em mente que essas expectativas não podem
ser tão baixas a ponto de empobrecer a aprendizagem dos que atingem
facilmente os objetivos. Por isso, deverá desenvolver a aprendizagem
tanto daqueles que estão além, quanto aquém dos objetivos previamente
planejados pelo docente de forma que todos estejam incluídos nesse pro-
cesso e tenham consciência disso.
A diversificação depende muito das condições materiais e dos recursos pe-
dagógicos indispensáveis à estimulação e motivação para a aprendizagem.
Comstock Complete.
A capacidade de ensinar e de aprender,
atributo fundamental dos seres humanos, torna
possível que os indivíduos se beneficiem com o
ensino, particularmente daquele que ocorre na
escola, tendo em vista que é uma das principais
vias para o intercâmbio de ideias, cultura e va-
lores entre os seres.
Esse processo de aprendizagem é essencial ao desenvolvimento psicológico
do homem, cabendo à escola não apenas a transmissão de um corpo de infor-
mações, mas da utilização de ferramentas, técnicas e operações intelectuais que
facilitam as interações sociais. Quando buscamos entender o motivo pelo qual a
aprendizagem muitas vezes não ocorre, a prática do ensino exige que considere-
mos as circunstâncias de aprendizagem dos alunos.
De acordo com as ideias de Vygotsky, a educação (que inclui o processo
ensino-aprendizagem) destina-se a desenvolver a personalidade, criando condi-
ções para a descoberta e manifestação dos potenciais criativos dos alunos. Ainda,
segundo a concepção citada, o processo de ensino deve se colocar de forma pros-
pectiva em relação à aprendizagem, pois ensinar é uma ação intencional e delibe-
rada e não deve, portanto, furtar-se em impulsionar o desenvolvimento. Deve aliar
a competência técnico-pedagógica ao compromisso político com a transformação
da realidade social.
A educação pressupõe o conhecimento do aluno no seu aspecto concreto,
porém não deve se limitar ao conhecimento do que ele é, mas do que pode vir a
Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A.,
34 mais informações www.iesde.com.br
Fracasso escolar: a dimensão do ensino
1. Entendendo que diversificar o ensino não é a mesma coisa que individualizá-lo, discuta com seu
grupo e responda:
a) De que modo a prática pedagógica pode se realizar, respeitando e potencializando as diferen-
tes características e necessidades dos alunos?
b) De acordo com a perspectiva de Vygotsky, de que modo a ação educativa pode visar à supe-
ração do fracasso escolar?
A história de Ricardo
Ricardo é um garoto de 9 anos que, embora leve uma
Inmagine.
vida simples, nunca lhe faltou sustento. Mora numa fave-
la próxima à escola em que estuda. O seu sustento vem
do trabalho de seu pai como pedreiro e de sua mãe como
empregada doméstica. Na escola, Ricardo não consegue
obter êxitos, especialmente por conta de sua dificuldade
com a escrita e por isso já foi reprovado.
Assim como outros alunos que apresentam dificul-
dades, Ricardo recebe tratamento diferenciado na sala de
aula: é praticamente ignorado enquanto outras crianças usufruem da atenção da professora que
sempre os questiona se estão com dúvida ou dificuldade.
Ricardo fica disperso na aula. Segundo sua professora, ele não conseguirá acompanhar o
ensino, pois já está bastante atrasado em relação aos demais.
A coordenadora pedagógica da escola acredita que o fracasso de Ricardo é consequência da
falta de cultura dos pais que são praticamente analfabetos. Eles reconhecem que seu filho está
desinteressando quanto à escola, mas não sabem explicar por que isso ocorre. A mãe suspeita que
o menino seja preguiçoso e que a escola deveria lhe exigir mais.
Para Ricardo, o cotidiano da escola é uma desagradável rotina. Não vê motivação nas tarefas
e se sente incapaz de aprender, já que frustra constantemente as expectativas dos pais e da escola.
Ricardo representa um exemplo bastante comum de fracasso escolar. Muito embora não apre-
sente antecedentes traumáticos ou problemas cognitivos, não consegue satisfazer as exigências
do ensino.
Tendo em vista o que você estudou sobre a questão do fracasso escolar, discuta com seu grupo
o caso de Ricardo procurando responder a questão:
Que relação pode-se estabelecer entre a profecia autorrealizadora e a problemática vivenciada
por Ricardo?
Nenhum a Menos – Direção de Zang Yimou. Com Wei Minzhi, Zhang Huike, Tiam Zhend e Gao
Enman – China, 1998.
O filme se passa na antiga China comunista de Mao Tsé-Tung, numa paupérrima escola rural
chinesa. Lá, uma garota de 13 anos recebe a incumbência de substituir o professor titular da escola,
licenciado por um mês. Ela não dispõe de um livro sequer; pode gastar no máximo um giz por dia e,
ainda por cima, deve morar na sala de aula junto com seus 28 alunos. Por falta de móveis adequados,
as carteiras ganham a função de camas. A menina tem como principal obrigação evitar a evasão es-
tudantil, um problema crônico no país. A trama se inicia quando um aluno abandona os estudos e vai
para a cidade grande em busca de emprego. A pequena mestre não tem dúvida: segue no encalço do
fujão.
O filme nos ajuda a refletir sobre o fracasso escolar em sua relação com o contexto sociocultu-
ral, as influências e o sistema escolar desse contexto.
Para aqueles que desejam se aprofundar a respeito do tema desta aula, recomenda-se o livro
de Maria Helena Souza Patto, intitulado A Produção do Fracasso Escolar: história de submissão e
rebeldia, da editora T. A. Queiroz, de 1996.
1.
a) A prática pedagógica deve ser diferenciada, com a utilização de recursos e metodologias
diversificados de modo a valorizar a participação e cooperação dos alunos respeitando suas
diferentes necessidades.
b) A ação educativa deve valorizar no aluno aquilo que ele está prestes a desenvolver, portanto,
deve ser prospectiva. Além disso, deve promover a interação social e valorizar o conheci-
mento que esse aluno já conquistou por meio de suas experiências anteriores, dentro de seu
contexto sociocultural.
2. Ao longo de sua vida escolar, o jovem Ricardo demonstrou alguns indícios de que possui algu-
mas dificuldades que, no entanto, não foram devidamente levadas em consideração pelos seus
pais ou pelos seus professores. Do contrário, as dificuldades de aprendizagem de Ricardo foram
interpretadas como sinal da falta de interesse do jovem pela escola. Nesse caso, cumpre-se o
que estamos chamando de profecia autorrealizadora, aquela que faz com que o aluno acredite
no seu próprio fracasso.