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A intertextualidade

Conceito

A intertextualidade é “um
fenômeno constitutivo da produção
do sentido e pode-se dar entre textos
expressos por diferentes linguagens”

(Silva, 2002).
Intertextualidade

Ou seja,todo texto é o resultado de


outros textos.
É uma interação entre textos, um
diálogo entre eles. Quando se diz algo
num texto, é dito em resposta a outro
algo que já foi dito em outros textos.
Dessa forma, um texto é sempre
oriundo de outros textos orais ou
escritos.
A intertextualidade ocorre em diversas áreas
do conhecimento. Eis algumas delas:

Literatura: por exemplo, entre Casimiro de


Abreu e Oswald de Andrade nas obras
intituladas “Meus oito anos”.
A de Casimiro foi escrita no século XIX e a
de Oswald no século XX.
Meus oito anos Meus oito anos
Oh! Que saudade que Oh! Que saudade que
tenho Da aurora da
minha vida, Da minha tenho Da aurora da
infância querida Que os minha vida, Da minha
anos não trazem mais infância querida Que os
Que amor, que sonhos, anos não trazem mais
que flores Naquelas
tardes fagueiras À Naquele quintal de terra
sombra das bananeiras Da rua São Antônio
Debaixo dos laranjais! Debaixo da bananeira
Sem laranjais!

Casimiro de Abreu Oswald de Andrade

segundo texto cita o primeiro, estabelecendo


uma relação intertextual.
Pintura: o quadro do pintor barroco italiano Caravaggio e a
fotografia da americana Cindy Sherman, na qual quem
posa é ela mesma. O quadro do italiano foi pintado no final
do século XVI, já o trabalho fotográfico de Sherman foi
produzido quase quatrocentos anos depois.
Pintura: Na foto, ela recria o mesmo ambiente e a mesma
atmosfera sensual da pintura, reunindo um conjunto de
elementos: a coroa de flores na cabeça, o contraste entre
claro e o escuro, a sensualidade do ombro nu etc. A foto de
Sherman é uma recriação do quadro de Caravaggio.
Publicidade: Um dos
anúncios da Bom Bril em
que o ator se veste e se
posiciona como se fosse a
Mona Lisa de Da Vinci e
cujo enunciado-slogan é
“Mon Bijou deixa sua
roupa uma perfeita obra-
prima”
Esse enunciado sugere ao
leitor que o produto
anunciado deixa a roupa
bem macia e perfumada,
ou seja, uma verdadeira
obra-prima (se referindo
ao quadro de Leonardo Da
Vinci).
Intertextualidade
Classificação
Clichê:
é o enunciado que se transformou em
uma unidade lingüística estereotipada
por ser muito proferido pelas pessoas.
Num jornal sobre esportes foi criada
uma charge com o enunciado:
“Por trás de todo grande time há um
grande treinador”.
Que remete a outro enunciado famoso
“Por trás de todo grande homem há
uma grande mulher”. O enunciado do
jornal, na época, pretendia elogiar a
conduta do treinador pelo fato do time
Fonte: jornal O Dia – 04/2003
Vasco ter conquistado o campeonato.
Proverbial: é um enunciado popular que expressa de
forma sucinta uma mensagem. O título de uma
reportagem sobre funcionários e ações trabalhistas:
“Depois do suor, o desamparo” que remete ao
provérbio “Depois da tempestade vem a bonança”.
Sendo que ao contrário desse (depois dos fatos
negativos vem o positivo), o título da reportagem sugere
que depois de todo esforço(suor), os funcionários não
obtiveram o que almejavam: o reconhecimento. Foram
vítimas do desemprego “desamparo”.
Palavrão: é o enunciado que
apresenta uma palavra grosseira
ou obscena. Em uma matéria
do Segundo Caderno do jornal O
Dia, cuja característica é o
humor, foi intitulada de
Cuba se Fidel. No mesmo,
observa-se a alusão a um
palavrão, num jogo de palavras
entre este e o nome do presidente
de Cuba, Fidel Castro.
Bíblico: quando o enunciado menciona uma
passagem da Bíblia. O título de uma reportagem
sobre o turismo na Ilha Grande, no RJ:
“A fé move turistas nas trilhas da Ilha Grande”.
Uma referência explícita a uma frase conhecida do
evangelho: ”A Fé move montanhas”.
montanhas
Literário:
Quando o enunciado se
refere a verso(s), a
passagem (ns) ou a título (s)
de obra.
Uma matéria da revista Isto
é intitulada: “E o vento
levou” sobre produtos de
cabelo é o título de uma obra
de Margaret Mitchell. A
matéria mostrava como os
produtos mencionados
deixam os cabelos leves e
soltos.
Literário:
Exemplo de verso: A famosa frase “
Infinito enquanto dure” do poema
“Soneto da Fidelidade”
Fidelidade de Vinícius
de Moraes faz alusão ao
pensamento de Sofocleto:
”Amor eterno é o que dura
enquanto existe”.
O autor francês Henri de Régnier,
também “bebeu na mesma fonte” e
produziu o seguinte intertexto:
“O amor é eterno enquanto dura”.
Musical: quando a letra de uma música se
reporta a outra letra já existente.

Num trecho do rap Sem saúde de


Gabriel O Pensador,
Pensador o compositor diz: “... me
cansei de lero-lero / dá licença mas eu vou
sair do sério...”, mencionando um
trecho da música “Saúde” de Rita Lee .
Em 1982, Caetano Veloso compôs “Dom de Iludir”, estabelecendo
uma imaginária correlação dialogal com o poema de Noel Rosa e
Vadico. Observe que a composição de Caetano mantém um diálogo
explícito com o poema-canção composto quase 50 anos antes.
Para que mentir? Dom de Iludir
Para que mentir
tu ainda não tens Não me venha
Esse dom de saber iludir? falar na malícia
Pra quê? Pra que mentir, de toda mulher
Se não há necessidade Cada um sabe a dor e a delícia
De me trair? de ser o que é.
Pra que mentir Não me olhe como se a polícia
Se tu ainda não tens andasse atrás de mim.
A malícia de toda mulher? Cale a boca, e não cale na boca
Pra que mentir, se eu sei notícia ruim.
Que gostas de outro Você sabe explicar
Que te diz que não te quer? Você sabe entender, tudo bem.
Pra que mentir tanto assim Você está, você é, você faz.
Se tu sabes que eu sei Você quer, você tem.
Que tu não gostas de mim? Você diz a verdade, a verdade
Se tu sabes que eu te quero
Apesar de ser traído é seu dom de iludir.
elo teu ódio sincero Como pode querer que a mulher
Ou por teu amor fingido? vá viver sem mentir.

Fonte: Unesp (Universidade Paulista Júlio Mesquita Filho)


A intertextualidade é uma das estratégias utilizadas para a
construção de um texto. Dentre a intertextualidade explícita,
temos vários gêneros, como:

 epígrafe,
 citação,
 referência,
 alusão,
 paráfrase,
 paródia,
 tradução
Epígrafe

( do grego epi = em posição superior + graphé =


escrita).

Constitui uma escrita introdutória de outra.


A Canção de Exílio,
Exílio de Gonçalves Dias, apresenta
versos introdutórios de uma obra de Goethe.
Epígrafe
.
” Kennst du das Land, wo Minha terra tem palmeiras
die Citronen blühn, Onde canta o Sabiá;
Im dunkeln Laub die Gold- As aves, que aqui gorjeiam,
Orangen glühn, Não gorjeiam como lá.
Kennst du es woh? ­Dahin, Nosso céu tem mais
dahin! estrelas,
Möcht'ich... Ziehn." (Vide Nossas várzeas têm mais
abaixo a flores,
tradução)"Conheces o país Nossos bosques têm mais
onde florescem as vida,
laranjeiras? Ardem na Nossas vidas mais amores.
escura fronde os frutos de Em cismar, sozinho à noite,
ouro... Conhecê-lo? Mais prazer encontro eu lá;
Para lá , para lá quisera eu ir!" Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá...”
Gonçalves Dias
Goethe

A epígrafe e o poema mantêm um diálogo, pois os


dois têm características românticas, pertencem ao
gênero lírico e possuem caráter nacionalista.
Citação
É uma transcrição de texto alheio, marcada por aspas.
A música Cinema Novo,
Novo de Caetano Veloso, faz várias
citações:

O filme quis dizer Eu sou o samba¹


A voz do morro rasgou a tela do cinema
E começaram a se configurar
Visões das coisas grandes pequenas
Que nos formaram e estão a nos formar
Todos e muitos: Deus e o Diabo, Vidas Secas, os Fuzis,
Os Cafajestes, o Padre e a Moça, a Grande Feira, o Desafio
Outras conversas, outras conversas sobre os jeitos do Brasil.

Na citação sobre o samba, Caetano Veloso diz que o Cinema


Novo quer representar o Brasil, como fez o samba da época de
Carmen Miranda.
Citação

Título:
“Nós imprimimos Van Gogh e Gabriel Zellmeister
com a mesma qualidade"

Agência:Giovanni/FCB
Cliente:gráfica Pancrom
Referência e Alusão

 Machado de Assis é mestre nesse


tipo de intertextualidade. Ele foi um
escritor que visualizou o valor desse
artifício no romance bem antes do
Modernismo. No romance Dom
Casmurro, ele cita Otelo,
personagem de Shakespeare,
Shakespeare para
que o leitor analise o drama de
Bentinho
Referência e Alusão

 Anúncio criado para homenagear os 450 anos de São Paulo. A


peça alude ao famoso”Monumento às
Bandeiras”(Brecheret),conhecido
Bandeiras como “empurra-empurra”. A
assinatura do anúncio é criativa:
"Espreme-espreme. O empurra-empurra com um toque de
limão".
Paráfrase

A paráfrase é a reprodução do texto


de outrem com as palavras do autor.
Ela não confunde com o plágio porque
seu autor explicita a intenção, deixa
claro a fonte. Exemplo de paráfrase é o
poema Oração, de Jorge de Lima:
Lima
Oração
"- Ave Maria cheia de graças..."
A tarde era tão bela, a vida era tão pura,
as mãos de minha mãe eram tão doces,
havia, lá no azul, um crepúsculo de ouro... lá longe...
"- Cheia de graça, o Senhor é convosco, bendita!"
Bendita!
Os outros meninos, minha irmã, meus irmãos
menores,
meus brinquedos, a casaria branca de
minha terra, a burrinha do vigário
pastando
junto à capela... lá longe...
Ave cheia de graça
- ..."bendita sois entre as mulheres, bendito é o
fruto do vosso ventre..."
E as mãos do sono sobre os meus olhos,
e as mãos de minha mãe sobre o meu sonho,
e as estampas de meu catecismo
para o meu sonho de ave!
E isto tudo tão longe... tão longe...

O autor retoma explicitamente a oração Ave Maria e mantém-se fiel a ele,


justapõe a figura de Maria à da sua mãe, refere-se à hora do Angelus.
Paródia

 A paródia é uma forma de apropriação que, em


lugar de endossar o modelo retomado, rompe
com ele, sutil ou abertamente.
Paródia

 Ela acontece no famoso poema de Carlos Drummond de


Andrade “No Meio do Caminho”, que faz uma paródia
do soneto “Nel Mezzo del Camin”, de Olavo Bilac que,
por sua vez, remete ao primeiro verso da Divina
Comédia, de Dante Alighere: "Nel mezzo del camin de
nostra vita".
Além do título, Drummond imitou o esquema retórico do
soneto de Bilac, ou seja, em vez de parodiar o
significado, promoveu uma paródia na forma:
empenhou-se na imitação irônica da estrutura,
reproduzindo apenas o quiasmo (repetição invertida) do
texto.
Nel Mezzo del Camin
No Meio do Caminho
Cheguei. Chegaste. Vinhas fatigada
No meio do caminho tinha uma pedra
E triste, e triste e fatigado eu vinha.
tinha uma pedra no meio do caminho
Tinhas a alma de sonhos povoada,
tinha uma pedra
E a alma de sonhos povoada eu tinha...
no meio do caminho tinha uma pedra
E paramos de súbito na estrada
Nunca me esquecerei desse
Da vida: longos anos, presa à minha
acontecimento
A tua mão, a vista deslumbrada
na vida de minhas retinas tão
Tive da luz que teu olhar continha.
fatigadas.
Nunca me esquecerei que no meio do
Hoje, segues de novo... Na partida
caminho
Nem o pranto os teus olhos umedece,
tinha uma pedra
Nem te comove a dor da despedida.
tinha uma pedra no meio do caminho
no meio do caminho tinha uma pedra.
E eu, solitário, volto a face, e tremo,
Vendo o teu vulto que desaparece
Drummond
Na extrema curva do caminho extremo
Bilac
Paródia

 Vocês se recordam da campanha criada pela Carillo


Pastore para a Sukita, em que a modelo Michelly Machri
dava fora no "tio" que não conseguia esconder suas
segundas intenções? Pois bem, a W/Brasil se aproveitou
da situação e contratou os dois atores. Eles estrelaram a
“A vingança do Tiozão. O cliente era o elegante
automóvel Classe A, da Mercedez.
Paródia

agência Cole & Weber/Red Cell


Cliente: Zoológico de regon(USA).
Ano:2003
Paródia

Agência:AlmapBBDO
cliente:ração Cesar, da Effem
Campanha:Semelhanças
Ano:2001

Título:"Ele pode ter a sua cara, mas não precisa ter a mesma comida."
Tradução

 A tradução de um texto literário implica


recriação, por isso ela está no campo da
intertextualidade. Veja um poema de Edgar A.
Poe traduzido por dois escritores da língua
portuguesa:
O poema é o mesmo, todos partiram do texto
original em inglês, mas as traduções são bem
diferentes, embora a essência dele continue nos
dois textos traduzidos por Fernando Pessoa e
Machado de Assis.
Tradução
Once upon a midnight Numa meia-noite Em certo dia, à hora, à
dreary, while i pondered agreste, quando eu lia, hora
lento e triste, Da meia-noite que
weak ande weary Vagos curiosos tomos apavora,
Over many a quaint and de ciências ancestrais, Eu caindo de sono e
curious volume of E já quase adormecia, exausto de fadiga,
forgot- ouvi o que parecia Ao pé de muita lauda
tem lore, while i O som de alguém que antiga,
modded, neraly batia levemente a meus De uma velha doutrina,
napping, suddenly umbrais agora morta
there came a tapping, uma visita eu me disse, Ia pensando, quando
As of some one gently está batendo a meus ouvi à porta
rapping, rapping at may umbrais Do meu quarto um soar
chamber door E só isto, e nada mais. devagarinho
Only this and nothing E disse estas palavras
more. (Tradução de tais:
Fernando Pessoa) ŒÉ alguém quje me
(Edgar A. Poe) bate à porta de
mansinho:
Há de ser isso e nada
mais.
(Tradução de
Machado de Assis)
Bibliografia
 Barros, Diana Luz Pessoa de; Fiorin, José Luiz (organizadores).
Dialogismo, Polifonia, Intertextualidade. lª edição, São Paulo, Edusp,
1994.

 Paulino, Graça; Walty, Ivete; Cury, Maria Zilda Cury.


Intertextualidades:
Teoria e Prática, 1ª edição, Belo Horizonte-MG, Editora Lê, 1995.

 KOCH, I. A interação pela linguagem. São Paulo: Contexto, 1997.

 SILVA, Maurício da. Repensando a leitura na escola: um mosaico.


Niterói: EdUFF, 2002.

 ALMEIDA, Fernando Afonso de. Desvios e efeitos na produção de


enunciados. In Boletim da ABRALIM. Fortaleza: Imprensa Universitária,
2001.

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