Prevenção Psicanálise Crianças Material 5

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Prevenção em Psicanálise de

crianças
Faculdade São Francisco de Assis
Professora: Dra. Cristina Py Mairesse
Prevenir o quê?
• Prevenção primária: possibilidade de detectar
sinais que indiquem risco para estruturação
psíquica ou para o desenvolvimento em bebês na
saúde pública.

• Prevenção secundária: prevenção da instalação


de sintomas ou atrasos maiores, pelo trabalho em
Estimulação precoce na clínica com bebês com
alguma patologia (orgânica ou psíquica) já
instalada
Prevenção - psicanálise
• Numa visão psicanalítica, a prevenção não se
confunde com a predição, devido à impossibilidade
de prevermos o futuro do bebê.

• Em termos de prevenção é necessário antecipar que


qualquer indicador relativo à uma garantia da saúde
mental e desenvolvimento normal da criança, está
submetido às vicissitudes da lógica da
imprevisibilidade dos acontecimentos histórico-
sociais e familiares por vir (Jerusalinsky, Alfredo)
Funcionamento mental e afetivo infantil:
É assim que se tem acumulado um vasto acervo conceitual produto da
clínica e, a pesquisa psicanalítica que nos permite compreender grande
parte do funcionamento mental e afetivo infantil:

- os organizadores precoces da relação com o semelhante (o sorriso, a


negativa),
- O estádio do espelho,
- o jogo do fort-Da (presença-ausência),
- O objeto transicional,
- A experiência primária de satisfação,
- A angústia de estranhamento do 8º mês,
- As relações primordiais de objeto,
- A função paterna e materna,
Funcionamento mental e afetivo infantil:
- A identificação primária,
- Os jogos de borda,
- O “manhês”,
- O papel da linguagem na constituição do sujeito,
- Os momentos pulsionais e a sexualidade infantil,
- As “teorias” sexuais infantis,
- O brincar mimético,
- O brincar das personificações,
- O papel do prazer no desenvolvimento infantil,
- A necessária expansão do imaginário na infância, entre os
conceitos mais relevantes.
Prevenção

• ... Na clínica e na
prevenção com bebês e
crianças pequenas não
basta escutar o discurso
parental, é preciso ler
como ele se precipita
enquanto marca no
bebê. É a partir de tal
leitura que poderemos
situar como tem ocorrido
sua constituição
enquanto sujeito.
(Jerusalinsky, Julieta,
2002)
Prevenção
• Podemos falar em olhar preventivo, pois
sustenta a pré-visão efetuada pela mãe, ao
interpretar as expressões corporais de seu
bebê como uma demanda que lhe é
endereçada. Além disso, ao concebermos o
corpo erógeno como resultado de uma
construção entre o sujeito e o Outro, podemos
orientar nossas intervenções visando a
sustentar o estabelecimento desse laço e
favorecer a instauração do olhar materno.
Prevenção

• O trabalho em prevenção passa, então,


necessariamente pela escuta e por um certo olhar
sobre o corpo do bebê, procurando promover espaços
de desejo e possibilidades singulares de experiências
criativas. A prevenção assim concebida opera no
sentido de acompanhar a constituição psíquica do
sujeito a partir do seu laço com o Outro, no qual se
inscreve a construção do corpo erógeno e em que o
olhar materno assume um papel fundamental.
IRDIs e PREAUT
• Há, atualmente, dois instrumentos baseados na psicanálise,
voltados à detecção de riscos e desconexões no bebê:

• Os Indicadores de Risco do Desenvolvimento Infantil (IRDIs),


voltado à detecção de riscos psíquicos e de
desenvolvimento: eles foram escolhidos e organizados de
acordo as operações formadoras fundamentais do
psiquismo da criança, tanto no que se refere à atividade de
seus pais quanto no que se refere aos modos como a
criança recebe essas operações formadoras. São elas a
Suposição do sujeito, o Estabelecimento da demanda, a
Presença/ausência e a Função paterna
O PREAUT (detecção de risco de autismo)
• Numerosos trabalhos mostram que o bebê
apresenta, desde o nascimento, um claro
interesse por elementos específicos da voz
materna, em particular pelos elementos
prosódicos. Entre as alterações de forma e
conteúdo encontradas na fala materna,
frequentes na maior parte das culturas, são
principalmente os contornos prosódicos
exagerados que atraem o bebê (FERREIRA, 1990;
LAZNIK, 2004) e organizam o que em psicanálise
PREAUT
• O projeto PREAUT (Programme de Recherche et Evaluation sur l
´autisme) teve início na França em 1998 e dele hoje participam
vários países, dentre eles o Brasil. (Crespin; Parlato-Oliveira, 2015,
p. 436)

• Foi a partir desses filmes familiares que Marie Christine Laznik


pode definir os dois sinais que identificam um bebê em risco de se
tornar autista. A partir da teoria lacaniana, das pesquisas sobre
autismo e de sua extensa prática clínica com bebês e com crianças
autistas, Marie Christine Laznik propôs a hipótese do que foi
designado, no quadro da pesquisa, como sinais PREAUT: “haveria,
no bebê com evolução autística um NÃO aparecimento da
capacidade de iniciar as trocas (com o outro familiar) de um modo
lúdico e jubilatório”. (Crespin; Parlato-Oliveira, 2015, p. 437)
PREAUT
• A hipótese, desenvolvida por Marie Christine Laznik (1996)
utilizada pelo projeto PREAUT, é que o aparecimento
desses sinais, por serem reveladores de dificuldades da
comunicação, podem predizer uma perturbação grave do
desenvolvimento. (Crespin; Parlato-Oliveira, 2015, p. 438)

• A falta da capacidade do bebê de provocar ativamente


interações com seus cuidadores primordiais (sem ser
unicamente como resposta nas protoconversações), seja
através do olhar, de vocalizações ou gestos, pode indicar a
evolução para uma síndrome autística. (Crespin; Parlato-
Oliveira, 2015, p. 438)
• Se o circuito pulsional, é revelador das trocas
entre o bebê e o Outro, em que ponto estaria o
3º tempo impedimento para um bebê que pode caminhar
para uma evolução autística? Em relação aos três
(risco) tempos do circuito pulsional, o fracasso desses
bebês em risco estaria no terceiro tempo (Crespin;
Parlato-Oliveira, 2015, p. 438)
PREAUT
• Por outro lado, no curso do primeiro ano de vida, o
bebê mostra igualmente um vivo interesse para “olhar
e ser olhado” (pulsão escópica) e para os jogos de
“comer” e “ser comido” (pulsão oral).

• Este título sugere que a pesquisa tem como proposta


avaliar se um conjunto tal de instrumentos pode ser
considerado capaz de verificar a presença de
perturbações precoces da comunicação, perturbações
que podem prever (pressagiar) um distúrbio grave do
desenvolvimento de tipo autístico.
Préaut
• A hipótese da Pesquisa Preaut (Laznik, 1998) é de que
“haveria, no bebê com risco de evolução autística [...] um não
aparecimento da capacidade de iniciar as trocas (com o outro
familiar) de um modo lúdico e jubilatório”.

• Sem privilegiar nenhuma etiologia, a hipótese da Pesquisa


PREAUT postula que deve haver, no curso dos primeiros meses
de vida, situações psicorrelacionais que antecedem a cognição
e a tornam possível. Estas situações podem ser observadas na
relação do bebê com seu outro familiar (habitualmente, seus
pais), bem antes que os marcadores cognitivos comumente
pesquisados como sinais indicativos da psicopatologia
autística (Ferreira, Severina Sílvia, Prèaut Brasil)
Questionário Préaut –
1ª parte - 4º ao 9º mês
Fonte: Préuat (2010, 2015)

Questão Respos Valor


ta
1) O bebê procura olhar para você?

a) Espontaneamente SIM 4

NÃO 0

b) Quando você fala com ele (protoconversação) SIM 1

NÃO 0

2) O bebê procura se fazer olhar por sua mãe (ou pelo substituto dela)?

a) Na ausência de qualquer solicitação da mãe, vocalizando, gesticulando ao SIM 8


mesmo tempo em que a olha intensamente.

NÃO 0

b) Quando ela fala com ele (proto-conversação) SIM 2

NÃO 0

ESCORE TOTAL
Obs: se o escore é superior a 5, não responda as questões 3 e 4.
2ª parte do questionário
QUESTÃO RESPOSTA VALOR
3) Sem qualquer estimulação de sua mãe (ou de seu substituto)

a) Ele olha para sua mãe (ou para seu substituto) SIM 1

NÃO 0
b) Ele sorri para sua mãe (ou para seu substituto) SIM 2

NÃO 0
c) O bebê procura suscitar uma troca prazerosa com sua mãe (ou SIM 4
seu substituto), por exemplo se oferecendo ou estendendo em sua
direção os dedos do seu pé ou da sua mão?

NÃO 0
QUESTÃO RESPOSTA VALOR

4) Depois de ser estimulado por sua mãe (ou pelo seu


substituto)

a) Ele olha para sua mãe (ou para seu substituto) SIM 1

NÃO 0

b) Sorri para sua mãe (ou para seu substituto) SIM 2

NÃO 0

c) O bebê procura suscitar a troca jubilatória com sua mãe SIM 4


(ou com seu substituto); por exemplo, se oferecendo ou
estendendo em sua direção os dedos do seu pé ou da sua
mão?

NÃO 0
IRDI´S (INDICADORES DE RISCO DO
DESENVOLVIMENTO INFANTIL)
Os Indicadores de Risco do Desenvolvimento Infantil
(IRDIs)

• Pesquisa realizada por equipe nacional, voltada à


detecção de riscos para o desenvolvimento de
bebês e crianças pequenas.

• Não são indicadores de patologia, como no


CID/DSM, em que sua presença levaria a pensar
Os Indicadores de Risco do
Desenvolvimento Infantil (IRDIs)
• Pelo contrário, são indicadores que devem estar
presentes para que se conclua de forma adequada a
estruturação psíquica. Sendo assim, sua ausência no
momento indicado pode significar risco para o
desenvolvimento ou estruturação psíquica da
criança.

• Podem ser utilizados junto a mães, bebês e


cuidadores em consultas pediátricas ou psicológicas,
assim como em creches, berçários ou escolinhas.
Na organização materna, certos indicadores nos
servem de alerta quanto ao risco de desorganização
da função materna, são eles:

1) Quando a mãe atende meramente as necessidades e não se


preocupa em registrar a relação de suas ações com as reações de
prazer/desprazer de seu filho.

2) Quando a mãe não coloca suas ações como formando parte de um


certo argumento vital que vai além dos enunciados meramente
descritivos das operações de alimentação, higiene, etc., inserindo elas
mesmas num campo de fantasias e significações figuradas que
tornam o traço simbólico.

3) Quando as marcas não se correlacionam com uma temporalidade que


corresponde às manifestações espontâneas, rítmicas, dos tempos
Na organização materna, certos indicadores nos servem de alerta
quanto ao risco de desorganização da função materna, são eles:

4) Quando as marcas se oferecem num espaço alheio


ao do momento maturativo, ou seja, sem adequação
ao momento da vida que a criança passa.

5) Quando o modo de apresentação das marcas é


aleatório e impessoal, impedindo que possam servir
para que a criança se reconheça neles. A mãe não
está oferecendo a possibilidade de seu filho passar
do auto-erotismo para o narcisismo secundário,
atravessando o estádio do espelho.
Na organização materna, certos indicadores nos
servem de alerta quanto ao risco de
desorganização da função materna, são eles:
6) Quando os traços emergentes da relação com o filho -
especialmente os produzidos por este - não levam a
evocar nenhuma história familiar por parte da mãe, nem
tampouco a constituir nenhum “romance” com eles. (ou
seja, a ausência de um argumento que enlace os
pequenos eventos próprios da vida do filho)

7) Quando não há – por parte dos pais – leitura de signos


significativos, para eles mesmos, de diferenciação sexual.
Na organização da função materna, estas
questões se organizam em quatro eixos:

• O eixo “suposição do sujeito” (SS) caracteriza uma


antecipação, realizada pela mãe ou cuidador, da presença
de um sujeito psíquico no bebê, que ainda não se
encontra, porém, realmente constituída. Tal constituição
depende justamente de que esse sujeito seja inicialmente
suposto ou antecipado pela mãe (ou cuidador). Essa
antecipação causa grande prazer no bebê, já que ela vem
acompanhada de uma manifestação jubilatória da mãe
sob a forma de palavras carregadas de uma musicalidade
prazerosa chamada de mamanhês (Laznik, 2000), o que
fará o bebê tentar corresponder ao que foi suposto nele.
O eixo “estabelecimento da demanda” (ED)
• compreende as primeiras reações involuntárias e reflexas que o bebê
apresenta ao nascer, tais como o choro, a agitação motora, a sucção da
própria língua, que precisam ser interpretadas pela mãe como um pedido
que a criança dirige a ela.

• Pode-se dizer que, por exemplo, quando a mãe interpreta que ao chupar a
própria língua seu bebe está lhe pedindo para lhe dar de mamar, em
verdade é a mãe mesma quem quer dar o peito a seu filho; é ela quem
demanda de seu filho que ele a deseje e inverte sua própria demanda
transformando-a em demanda do filho.

• Esse processo, totalmente inconsciente, conduz a mãe a reconhecer em


cada gesto insignificante de seu filhote um signo de demanda endereçada
a ela. Esse reconhecimento permitirá a construção de uma demanda –
O eixo “alternância presença/ausência” (PA)
• se refere às ações mínimas nas quais a presença materna vai
se tornando símbolo da satisfação substituindo a presença
do objeto real. Assim, a mãe presente evoca o objeto
ausente, como o objeto presente evoca a mãe ausente.

• A descontinuidade da satisfação tanto quanto a


descontinuidade da presença materna são fundamentais
para o surgimento das representações simbólicas que abrem
caminho para a instalação do pequeno sujeito na linguagem.

• A ausência materna marcará toda ausência humana como


um acontecimento existencial, especialmente significativo,
obrigando á criança a criar um dispositivo subjetivo para a
O eixo “alternância presença/ausência” (PA)

• Entre a demanda da criança e a experiência de


satisfação proporcionada pela mãe, espera-se que
haja um intervalo no qual poderá surgir a resposta da
criança, base para as respostas ou demandas futuras.
Por acréscimo, a descontinuidade, marcada por essa
presença/ausência, é o fundamento estrutural da
linguagem na medida em que para que exista a
palavra tem que se romper o enlace entre o “objeto
causa” e a satisfação, a palavra tem que adquirir o
poder de evocar a satisfação em ausência do objeto.
O eixo “função paterna” (FP)
• trata do registro que a criança tem
progressivamente da presença de uma ordem de
coisas que não depende da mãe embora essa ordem
possa ser transmitida por ela. Esse lugar terceiro é
facilmente atribuível ao pai já que ele se faz
presente como um “intruso” na paixão mãe-filho.
• Essa “ordem terceira” toma para a criança, e
também para a mãe, a forma de regras e normas
que introduzem a negativa. É reconhecido já de
longa data o papel estruturador do “NÃO” na vida e
no pensamento das pequenas crianças.
O eixo “função paterna” (FP)
• Entende-se que a função paterna ocupa, para a dupla mãe-
bebê, o lugar de terceira instância, orientada pela dimensão
social. Uma mãe que está submetida à função paterna leva em
conta, em sua relação com o bebê, os parâmetros que a cultura
lhe propõe para orientar essa relação, uma vez que a função
paterna é a encarregada de transmitir esses parâmetros.

• O exercício da função paterna sobre o par mãe-bebê poderá ter


como efeito uma separação simbólica entre eles e impedirá a
mãe de considerar seu filho como um “objeto” destinado
unicamente para a sua satisfação. Portanto, depende dessa
função a separação do filho como sujeito singular e sua
diferenciação em relação ao corpo e às palavras maternas.
A pesquisa
• A partir destes eixos, foram criados 31 indicadores, utilizados
em diferentes faixas etárias, de 0 a 18 meses.

• As crianças foram acompanhadas em consultas pediátricas


com pediatras capacitados e, posteirormente, aos 3 anos de
idade, foi realizado o segundo momento da pesquisa, com a
avaliação psicanalítica da criança pesquisada. Esta avaliação
visava validar os dados verificados anteriormente, ou seja, se
estes teriam ou não o poder de predizer o risco psíquico.

• Dentre os 31 indicadores, 18 deles foram considerados


significativos para avaliação de risco.
Os indicadores significativos
0 a 4 meses incompletos:

1. Quando a criança chora ou grita, a mãe sabe o que


ela quer. (SS/ED)
2. A mãe fala com a criança num estilo particularmente
dirigido a ela (manhês). (SS)
3. A criança reage ao manhês. (ED)
4. A mãe propõe algo à criança e aguarda a sua reação.
(PA)
5. Há trocas de olhares entre a criança e a mãe.(SS/PA )
4 a 8 meses incompletos:

6. A criança começa a diferenciar o dia da noite.(ED/PA )


7. A criança utiliza sinais diferentes para expressar suas diferentes
necessidades.(ED)
8. A criança solicita a mãe e faz um intervalo para aguardar sua resposta.
(ED/PA)

8 a 12 meses incompletos:

9. A mãe percebe que alguns pedidos da criança podem ser uma forma de
chamar sua atenção(ED/SS)
10. Durante os cuidados corporais a criança busca ativamente jogos e
brincadeiras amorosas com a mãe(ED)
11. Mãe e criança compartilham uma linguagem particular(SS/PA)
12. A criança estranha pessoas desconhecidas para ela. (FP)
13. A criança faz gracinhas(ED)
De 12 a 18 meses

15. A mãe alterna momentos de dedicação à criança


com outros interesses.(ED/FP)
16. A criança suporta bem as breves ausências da mãe
e reage às ausências prolongadas .(ED/FP)
17. A mãe já não se sente mais obrigada a satisfazer
tudo que a criança pede. (FP)
18. Os pais colocam pequenas regras de
comportamento para a criança. (FP)
Observação:
• A maior parte do material
foi compilado e elaborado
pela professora Mercês
Ghazzi, para fins didáticos.
Bons estudos!

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