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FAAP_2020_Aula_TEORIAS DETERMINISTAS

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1.

2 Abordagens
deterministas do século
XIX: história universal e
raça
Além das mudanças econômicas, sociais e
tecnológicas resultantes da Primeira
Revolução Industrial, o início do século XIX
viu consolidar-se uma transformação que vinha
ocorrendo nos modelos de pensamento:
O método científico (observação, coleta
sistemática de dados, identificação de
variáveis, experiência, quantificação,
classificação, busca de regula-ridades,
extração de relações de causa e efeito, leis),
elaborado pela Física (XVII) e adotado pela
Filosofia Moderna/Iluminista (XVIII), se
tornará a base das ciências humanas nascentes.
ANTROPOLOGIA

O nascimento da Antropologia
(décadas de 1850 e 1860) deu-se
no contexto
- da expansão da produção fabril
- da expansão da empresa colonial
ANTROPOLOGIA
Os impérios coloniais expandiram-se sob a
liderança inquestionável da Grã-Bretanha.
Era um mundo de
- intercâmbio intenso (ferrovias, navegação
a vapor, telegrafia, telefonia)
- exploração interna (do operariado urbano)
e global (colonialismo)
- internacionalização cultural
- imperialismo econômico, político e
ANTROPOLOGIA
Convinha aos setores produtivos e ao
Estado entender, sobretudo, as
possibili-dades de abertura de novos
mercados consumidores nas áreas
coloniais. Entretanto, tais áreas
caracterizavam-se por uma diversidade
geográfica e cultural muito ampla. O
interesse por compreender todas essas
ANTROPOLOGIA
O século XIX também viu surgir uma ciência
internacionalizada, com a figura do
pesqui-sador global, cujo protótipo foi
Charles Darwin no campo da Biologia.
O antropólogo foi igualmente um tipo de
pesquisador global, que dependia da coleta
detalhada de dados sobre os diferentes
modos de vida presentes nos vários cantos
do planeta!
ANTROPOLOGIA
A pergunta que fundou a
antropologia refletia, portanto,
direcionamentos e interesses de
muitos setores daquela sociedade
(século XIX):
- “Como explicar cientificamente a
diversidade cultural humana?”
ANTROPOLOGIA
No século XIX, as explicações consideradas
científicas buscavam
- no clima (de modo geral no meio
geográfico)
- na raça
- na história (mas numa concepção de
história determinista, típica do século
XIX)
os fatores determinantes para explicar o
Além de reducionistas e fatalistas, as teorias

deterministas buscavam prioritariamente na natureza e

não nos fatores históricos (p. ex., na dominação e

exploração coloniais, na reserva de tecnologia dos

países mais desenvolvidos etc) as explicações e causas

para o atraso econômico, a pobreza e todos os demais

problemas sociais.

Foram teorias claramente eurocêntricas

(etnocêntricas) e serviram aos interesses dos países

do capitalismo central.
ANTROPOLOGIA

Clima – Determinismo Geográfico


Raça – Determinismo
Racial/Polige-nismo
História – Determinismo
Histórico
ANTROPOLOGIA
Determinismo Geográfico. Seus teóricos
afirmavam que o meio natural (clima, relevo,
altitude, solo, vegetação, distribuição de
rios, definição das estações do ano,
proximidade/distância da linha do Equador,
localização no Hemisfério Norte ou Sul etc)
determinava o desenvolvimento
civilizacional. Pensamento característico:
“O calor torna os habitantes dos trópicos
ANTROPOLOGIA
Determinismo Histórico ou Evolucionismo
Cultural Entre seus teóricos predominavam:
- a crença na unidade biológica e psíquica da
humanidade (monogenismo)
- o interesse pelas origens das instituições
sociais (família, religião e direito)
- a teoria do progresso unilinear (uma
história única e progressiva para toda a
humanidade, dividida em etapas – selvageria,
barbárie, civilização – e cujo desenvolvimento
seria guiado pela “Lei da História”).
Evolucionismo cultural ou
unilinear
Escala evolutiva
Unidade biológica e psíquica da humanidade - Monogenismo

História universal e fixa (Lei da história)


Lewis Henry Morgan, EUA, 1877
INDUSTRIALIZAÇÃO

Civilização
Barbári Escrita
e Modo de vida urbano
Selvageria Agricultura Comércio internacional
Criação de animais Poder centralizado
Extrativismo
Cerâmica Industrialização (fase final)
Caça
Tecelagem Monoteísmo
Pesca
Metalurgia (fase final) Monogamia
Coleta
Fogo, pedra, madeira, osso
ANTROPOLOGIA
Determinismo Racial
Seus teóricos pregavam a existência de
várias origens biológicas para a
humanidade (hipótese poligenista) e,
portanto, de várias raças (= espécies).
Condenavam a miscigenação entre raças
(mestiçagem). Acreditavam na degeneração
do mestiço.
Determinismo Racial
Antropólogos poligenistas acreditavam ter
encontrado a prova científica da degeneração do
mestiço na mula, um animal estéril, tendo
surgido desta crença o termo mulato. Para eles,
o mulato era um ser híbrido e, portanto,
portador de deficiências.
A mula é, de fato, o resultado híbrido do
cruzamento entre animais de espécies biológicas
diferentes, a égua (Equus caballus) e o
asno/jumento (Equus asinus), mas seres humanos
ANTROPOLOGIA
Determinismo Racial
Segundo o poligenismo ou determinismo racial,
povos formados por raças consideradas
inferiores ou com alto índice de mestiçagem
não apresentariam as mesmas condições
intelectuais e morais para se desenvolver
quando comparados aos povos considerados de
raça pura e superior (branca caucasiana).
ANTROPOLOGIA

Quanto à explicação científica sobre a


diversidade cultural humana, a
antropologia nasceu dividida em termos
teóricos.
A pergunta “Como explicar cientificamente
a diversidade cultural humana?” não
recebeu, portanto, uma única resposta!
Resposta evolucionista monogenista
(Evolucionismo Cultural ou Unilinear):
“todos os povos se desenvolvem no sentido do
progresso e da civilização, só que em ritmos
diferentes, o que gera uma diversidade cultural
observável. A racionalidade humana é universal,
gera a Lei da história e guia o desenvolvimento
civilizacional. Existe, assim, uma unidade
biológica e psíquica na humanidade sendo todos
os homens seres racionais (monogenismo); a
diversidade cultural é passageira e todos os
povos tendem para um desfecho histórico comum.”
ANTROPOLOGIA
Resposta poligenista (racismo científico
ou determinismo racial): “diferentes raças
têm desenvolvimentos sociais e
civilizacionais distintos, havendo as
superiores e as inferiores, o que é
determinado pela natureza; existe uma
hierarquia natural das raças; não há
unidade biológica na humanidade”.
POLIGENISMO
Denominação também utilizada para o
Determinismo Racial. O poligenismo baseou-se
na ideia de que a humanidade teve várias
origens biológicas (poli = muitas; genismo =
origem, criação) e estava separada em raças
com capacidades civilizacionais, habilidades
intelectuais e tendências morais distintas,
sendo que estas e outras diferenças nunca
desapareceriam por serem inatas.
1. Para a teoria poligenista, as raças
eram espécies biológicas diferentes e
existiria uma ordem natural que as
hierarquizava em superiores e
inferiores.

2. Segundo os poligenistas, a
miscigenação levaria à perda das
qualidades das raças formadoras e,
consequentemente, à degene-ração física,
moral, intelectual e civili-zacional.
3. Para o poligenismo, diferenças
físicas externas corresponderiam a
habilidades, tendências morais,
propensões civilizacio-nais e formas de
comportamento distintas.

Assim, cada raça teria características


morais, intelectuais e civilizacionais
próprias, que se expressariam na cor da
pele, no tipo do cabelo e no formato dos
4. Para o poligenismo, o indivíduo
era o resultado final das
características de seu grupo
racial, não possuindo livre-
arbítrio (capacidade autônoma para
fazer escolhas e tomar decisões).
Alguns
Alguns cientistas
cientistas estrangeiros,
estrangeiros, no no
século
século XIX,
XIX, opinaram
opinaram sobre
sobre aa
miscigenação
miscigenação no no Brasil:
Brasil:
a.
a. Conde
Conde de
de Gobineau:
Gobineau: foi
foi
representante
representante do do governo
governo francês
francês no
no
Brasil;
Brasil; viveu
viveu no no Rio
Rio dede Janeiro;
Janeiro;
era
era contra
contra aa miscigenação
miscigenação ee dizia
dizia
que
que aa população
população brasileira
brasileira se se
extinguiria
extinguiria em em 200
200 anos
anos por
por causa
causa
do
do grande
grande número
número de de mestiços,
mestiços,
considerados
considerados porpor ele
ele estéreis;
estéreis;
b.
b. Agassiz:
Agassiz:
“...
“... qualquer
qualquer um
um que
que duvide
duvide dos
dos males
males da
da
mistura
mistura de
de raças
raças ee incline-se,
incline-se, por
por mal
mal
entendida
entendida filantropia,
filantropia, aa botar
botar abaixo
abaixo
todas
todas as
as barreiras
barreiras que
que as
as separam
separam que
que
venha
venha ao
ao Brasil.
Brasil. Não
Não poderá
poderá negar
negar aa
deterioração
deterioração decorrente
decorrente da
da amálgama
amálgama das
das
raças
raças (...)
(...) que
que vai
vai apagando
apagando rapidamente
rapidamente
as
as melhores
melhores qualidades
qualidades do
do branco,
branco, do
do negro
negro
ee do
do índio,
índio, deixando
deixando um
um tipo
tipo indefinido,
indefinido,
híbrido,
híbrido, deficiente
deficiente em
em energia
energia física
física ee
mental” (Agassiz, 1868).
Cientistas brasileiros também adotaram
as teses do determinismo racial:
a. Raimundo Nina Rodrigues: médico
baiano que, no final do século XIX,
propôs que as leis deveriam ser
elaboradas por médicos e não por
legisladores, pois somente os médicos
teriam condições de conhecer as reais
tendências morais das raças; também
propõe que deveria existir um conjunto
de leis para os brancos e outro para os
negros; acreditava que a igualdade
jurídica era uma ilusão;
b. Renato Kehl: médico carioca que
propôs, em 1921, uma lei de
A primeira lei de esterilização do mundo
foi a norte-americana, que entrou em vigor
em 1908. Muitos índios, negros e mestiços
foram esterilizados nos EUA, principalmente
nos Estados do Sul. Foram também
esterilizados brancos imigrantes
provenientes de regiões como o leste
europeu, o sul da Itália etc. Eram áreas
que, segundo noções vigentes, não estavam
desenvolvidas (industrializadas) por causa
da inferioridade racial (mestiçagem) de sua
Já que, para os antropólogos
poligenistas, diferenças físicas
externas correspondiam a habilidades,
capacidades, tendências morais e
propensões civilizacionais das raças,
foram desenvolvidos métodos
quantitativos de medição que,
pretensamente, conseguiriam detectar
índices de pureza racial, mestiçagem e
degeneração (superioridade ou
Escala usada para
determinar a cor dos
olhos.

Fotograma do
documentá-rio Homo
sapiens 1900, de Peter
Cohen.
Fotograma do documentário Homo sapiens 1900, de Peter
Cohen
Escala usada para
determinar a cor dos
cabelos.

Fotograma do documentário
Homo sapiens 1900, de Peter
Cohen.
Capacete frenológico
Mapa
frenológico

Cranioplagiômet
ro
Discóbol
o

Na Alemanha nazista, o ideal estético de beleza voltou-se para a


antiguidade clássica. Os nazistas acreditavam que na Grécia antiga não
existia mestiçagem, ou seja, mistura entre raças. Pensavam que o povo grego
era constituído por uma raça pura e que por isso as proporções estéticas
presentes em sua estatuária eram tão perfeitas. A estatuária greco-romana
passou a representar, durante o período nazista, o modelo de proporções
corporais e superioridade racial a ser seguido. A civilização grega também
A redenção de Can, Modesto
Brocos y Gómez, 1895
Esta obra foi apresentada no
I Congresso Internacional
das Raças, realizado em
Paris, em 1911, para ilustrar a
teoria do branqueamento
defendida por João Batista
Lacerda, antropólogo cario-
ca. Como a mestiçagem
passou a ser considerada
inevitável, vários teóricos
brasileiros começaram a
propor que a mistura deveria
se dar sempre no sentido de
branquear a cor das pessoas.
No quadro, temos uma
senhora negra e sua filha
mulata casada com um
homem branco. A criança foi
representada como sendo
branca e a avó, agradecendo
a Deus por isso.
A teoria do branqueamento continua a
expressar intolerância em relação à
diferença, pois propor “branquear” uma
população é considerar uma cor de pele
mais desejável do que outra(s) e
estabelecer hierarquização entre seres
humanos.
Como a própria ideia de uma teoria do
branqueamento deixa entrever, o branco
não é apenas uma cor, mas é considerado
uma qualidade social. A valorização social
da cor branca influenciou no Brasil,
inclusive, políticas públicas (políticas de
imigração).
Contrariamente à ideia da falência civilizacional do
país por causa do clima e da mestiçagem, pregava-se a
“solução científica” do branqueamento. Nas últimas
décadas do Império, iniciou-se uma política de
incentivo à imigração europeia baseada neste
argumento teórico!
Segundo tais opiniões, o Brasil do futuro seria uma
“nação branca”...
O próprio movimento abolicionista
nunca foi revolucionário: a libertação foi
gradual, conservadora e atendeu aos
interesses da camada de proprietários de
escravos.
1. Lei do Ventre Livre, 1871; obrigatoriamente a criança
permaneceria sob os cuidados da mãe até os 8 anos; se o senhor
optasse por utilizar os serviços do menor dos 8 aos 21 anos, o
Estado o indenizava em 600 mil réis (!);

2. Lei dos Sexagenários, 1885; o escravo deveria ser libertado ao


atingir 60 anos, entretanto a média de sobrevivência variava entre
10 e 15 anos após o início do cativeiro; era raro um escravo chegar
aos 35 anos de idade;

3. Lei Áurea, 1888 (o Brasil foi a última nação das Américas a


abolir a escravidão).
A escravidão em dados

1. Em cerca de 350 anos de escravidão, foram trazidos para o Brasil


por volta de 3,6 milhões de escravos.
2. 1/3 da população africana deixou o continente rumo às Américas.
3. Nos inventários, os cativos apareciam, ao lado dos animais, como
“bens semoventes”, distintos dos “bens móveis” e “bens imóveis”.
4. Em 1851, a cidade do Rio de Janeiro tinha a maior concentração
urbana de escravos do mundo ocidental desde o fim do Império
Romano - 110 mil em 266 mil pessoas, o que era considerado uma
ameaça.
O Determinismo Racial no Brasil
1. Repercutiu rapidamente a ideia de que o país estava destinado ao
atraso civilizacional por causa do clima e da mestiçagem.
2. Houve grande influência da Eugenia (ciência da “boa geração”);
nosso país foi o primeiro da América Latina a institucionalizá-la;
em 1917 surgiu a Sociedade Brasileira de Eugenia (SBE).
3. Em 1921, o médico carioca Renato Kehl propôs uma lei de
esterilização para os mestiços.
4. No século XIX, apareceram várias propostas de leis de restrição à
entrada de certos tipos de estrangeiros no país (orientais e
africanos).
Mudanças
O Modernismo (literatura, pintura) exaltou e valorizou a
formação da cultura e do povo brasileiros a partir de suas
diversas origens geográficas e raízes étnicas.
Nos anos 1930, os processos nascentes de urbanização,
industrialização e modernização do país geraram novos
parâmetros internos de análise e, durante o Governo
Vargas, a imagem do Brasil como um país atrasado,
principalmente por causa da mestiçagem, passa a ser
revisada.
GOVERNO GETÚLIO VARGAS

Internamente, as manifestações culturais herdadas dos negros


tinham sido discriminadas como sinais de atraso civilizacional.
Vargas promoveu uma visão estatal oficial que transformou
essas manifestações em símbolos de identidade nacional (vide
no texto “Nem preto nem branco muito pelo contrário” as
manifestações que foram descriminalizadas e as que
receberam incentivos governamentais). Isto não significou que
tais manifestações deixaram totalmente de sofrer preconceito
ou ser alvo da repressão policial na nossa sociedade.
Ainda na década de 1930, Gilberto Freyre publica o livro Casa-
grande & Senzala (1933) e defende que, no Brasil, os negros
exerceram o papel de co-civilizadores junto com o português.
Também segundo Freyre, as relações raciais aqui tinham sido
mais harmoniosas do que em qualquer outra sociedade onde
existiu escravidão (tese do “equilíbrio de contrários”). Freyre
também sustentou que em pleno século XIX já tinha ocorrido
uma ascensão social e econômica de negros e mestiços no Brasil,
já que filhos ilegítimos (e, em casos mais raros, legítimos) de
fazendeiros brancos com negras ou mulatas receberam herança
do pai e enriqueceram.
Após a Segunda Guerra Mundial e os horrores do Holocausto,
intelectuais europeus e americanos uniram-se na tentativa de
inaugurar um debate mais humanista e menos biologizante sobre a
questão da raça. Entre outras ações, houve o financiamento (UNESCO)
de um programa de pesquisa sobre relações raciais no Brasil. A partir
principalmente da ideia propagada por Freyre do “equilíbrio de
contrários”, pensou-se que o modelo brasileiro poderia servir de
inspiração para o combate ao racismo em outras nações. Parte destas
pesquisas, no entanto, revelou a falsidade deste mito: ao invés de
“harmonia racial”, destacavam-se as marcas da discriminação velada.
A inexistência de conflitos nas ruas do Brasil não era exatamente um
índice de ausência de problemas raciais.
O sociólogo Oracy Nogueira elaborou, nos anos 1950, dois conceitos
para analisar as diferenças entre o modelo de relações raciais que se
desenvolveu no Brasil e o que se desenvolveu nos contextos de
colonização inglesa (EUA e África do Sul, por exemplo). Denominou
de preconceito de origem aquele que leva em conta o sangue (os
antepassados) de uma pessoa. Neste caso vale a “one drop rule”:
“uma gota de sangue africano” seria suficiente para classificar um
indivíduo como sendo negro. Nos EUA não houve categorias
intermediárias como a de mulato - ou se era branco ou se era negro
- e existiu, também, um sistema jurídico segregacionista (a
segregação espacial era legalizada, por exemplo).
Oracy Nogueira denominou de preconceito de marca o tipo de
racismo encontrado no Brasil: um preconceito velado, indefinido, que
não está regulamentado por um sistema jurídico, não produz
segregação espacial e depende da situação social, econômica e
cultural do discriminado e do discriminador. Uma mesma pessoa
pode ser discriminada em um momento de sua vida e não o ser (ou
ser menos) depois de ascender socialmente. Aqui, as pessoas
“embranquecem” ou “empretecem” conforme sua situação
econômica. Isto pode ser chamado de “raça social”. (Vide no texto
“Nem preto nem branco” a pesquisa PNAD realizada pelo IBGE, em
1976, sobre a cor do brasileiro; analise autodenominações como
“queimada de praia”, “puxa para branca”, “moreninha”, “morenão”).
Outro sociólogo, Florestan Fernandes, analisou o modelo de relações
raciais existente no Brasil a partir do contraponto público/privado:
sustentou que em nosso país existe um “código de decoro” orientando os
comportamentos no mundo público, de modo que as pessoas tendem a
não declarar nem evidenciar suas opiniões e ações racistas quando se
encontram entre estranhos (não produzindo, assim, conflitos nas ruas); já
no ambiente doméstico ou entre amigos, não veem problemas em fazer
comentários maliciosos ou contar piadas irônicas que subestimem negros
ou mulatos. Mas há sempre situações em que esse preconceito velado
vem à tona no mundo público: negros barrados em casas noturnas,
jogadores de futebol, atrizes e atores humilhados por sua cor, argumentos
favoráveis ao branqueamento da população, comentários sobre uma
pretensa sexualidade diferenciada dos negros...
No Brasil convivem duas realidades absolutamente diversas:
de um lado, a aceitação oficial de que somos um país
amplamente mestiçado quanto a nossas crenças e costumes
(assimilação cultural); de outro, o fato (quase nunca
consciente) de sermos uma sociedade legalmente igualitária,
mas profundamente hierarquizada, marcada por privilégios
paternalistas, pelo clientelismo, onde vigora a regra do “cada
macaco no seu galho”, ou “a cada um o seu lugar”... Portanto,
igualdade formal em meio à desigualdade real...

Juntos, porém separados...

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