Cerdico de Wessex
Cerdico de Wessex | |
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Cerdico em gravura de John Speed (1611) | |
Rei de Wessex | |
Reinado | 519–534 |
Antecessor(a) | Título estabelecido |
Sucessor(a) | Cínrico ou possivelmente Creoda |
Morte | 534 |
Descendência | |
Casa | Casa de Wessex |
Cerdico (em inglês antigo: Cerdic; em latim: Cerdicus; (467-534) foi o primeiro rei da Saxônia Ocidental (Wessex) de 519 até 534, além de ter sido o pai de Crioda (Creoda), Rei de Wessex. Exceto por Canuto, Hardacanuto, os dois Haroldo e Guilherme, o Conquistador, todos os soberanos da Inglaterra diziam ser descendentes de Cerdico.
Contexto
[editar | editar código-fonte]A história do período sub-romano na Britânia é parcamente referida e está sujeita importantes desacordos entre historiadores. Ao que parece, contudo, os raides do século V na Britânia por povos continentais transformaram-se em migrações. Os recém-chegados eram anglos, saxões, jutos e frísios. Capturaram territórios no leste e sul da Britânia, mas perto do fim do século V, uma vitória britânica na Batalha do Monte Badonico parou o avanço anglo-saxão por 50 anos.[1][2] Perto do ano 550, contudo, os britanos voltaram a perder terreno, e dentro de 25 anos, parece que quase todo o sul da ilha estava sob os invasores.[3]
A paz que se seguiu ao Monte Badonico é atestada parcialmente pelo monge Gildas que escreveu a Sobre a Ruína e Conquista da Britânia (De Excidio et Conquestu Britanniae) durante meados do século VI. Esse ensaio é uma polêmica contra corrupção e Gildas fornece poucos nomes e datas. Ele parece afirmar, contudo, que a paz durou do ano de seu nascimento ao tempo que escrevia.[4] A Crônica Anglo-Saxônica é a outra principal fonte que lida com esse período, em particular numa entrada ao ano 827 que registra uma lista de reis que usaram o título de bretualda (governante da Britânia). Aquela lista mostra uma lacuna no começo do século VI que corresponde à versão dos eventos de Gildas.[5]
Fontes
[editar | editar código-fonte]As duas principais fontes escritas à história inicial dos saxões ocidentais são a Crônica Anglo-Saxônica e a Lista Real Genealógica Saxã Ocidental. A crônica é um conjunto de anais compilados perto do ano 890, durante o reinado de Alfredo, o Grande da Saxônia Ocidental.[6] O material às entradas mais antigas foi reunido de anais mais antigos que não sobreviveram, bem como de materiais de sagas que podem ter sido transmitidas oralmente.[7][8] A crônica data a chegada dos futuros "saxões ocidentais" na Britânia em 495, quando Cerdico e seu filho Cínrico atracaram na costa de Cerdico (Cerdices ora). Quase 20 anais descrevem as campanhas dele e aquelas de seus descendentes aparecem intercaladas nas entradas que registram os séculos subsequentes.[9][10]
A Lista Real é uma lista de chefes da Saxônia Ocidental, incluindo o comprimento dos reinados. Sobrevive de várias formas, incluindo como prefácio ao manuscrito [B] da crônica.[b] Como a crônica, foi compilada sob Alfredo e são influenciadas pelo desejo de seus escritores usarem uma única linha de descendência para traçar a linhagem dos reis da Saxônia Ocidental de Cerdico para Geuis, o ancestral lendário epônimo dos saxões ocidentais, que é feito descendente de Odim. O resultado serviu aos propósitos políticos do escriba, mas está crivado com contradições por historiadores.[11]
As contradições podem ser vistas claramente ao calcular as datas por diferentes métodos a partir das várias fontes. O primeiro evento na história saxã ocidental, a data que pode ser reconhecida como razoavelmente certa, é o batismo de Cinegilso, que ocorreu no final da década de 630, talvez tão cedo quando 640. A crônica dá a chegada de Cerdico em 495, mas adicionando a duração dos reinados como fornecido pela lista real, o reinado de Cerdico pode ter começado em 532, uma diferença de 37 anos. Nem 495 nem 532 podem ser tratados como confiáveis, pois a última data está centrada na presunção de que a lista está correta ao apresentar os reis saxões ocidentais como tendo sucedido uns aos outros, sem reis omitidos, nem reinados conjuntos, e que a duração dos reinados tal como dado estão corretas. Nenhuma dessas presunções pode ser feita seguramente.[10]
Vida
[editar | editar código-fonte]Segundo a crônica, Cerdico aportou em Hantônia em 495 com seu filho Cínrico em 5 navios. Segundo a crônica, em 508, uma data que não deve ser considerada como confiável,[12] Cerdico e Cínrico "mataram certo rei britânico chamado Natanleodo e 5 000 homens com ele – depois do que as terras até o Forde de Cerdico foram chamadas Natanleaga".[13] O Forde de Cerdico foi associado com Charford na atual Hantônia, e Natanleaga com uma área pantanosa, Netley Marsh, próximo a cidade de Totton em Hantônia.[14][15]
Fortalecido pela chegada de mais saxões, ganhou outra vitória em 519 no Forde de Cerdico e nesse ano ele assumiu o título de rei. Ao virar-se para oeste, Cerdico parece ter sido derrotado pelos britanos em 520 na Batalha do Monte Badonico e em 527 outra luta com os britanos é registrada. Sua última obra foi a conquista da ilha de Wight em 530, talvez no interesse de aliados jutos.[16] Segundo a crônica, Cerdico morre em 534 e Cínrico sucede-lhe; acrescenta que "deram Wight aos netos, Estufo e Vitgar". Beda contradiz essa informação: segundo este, a ilha de Wight foi colonizada pelos jutos e não pelos saxões - uma versão que os vestígios arqueológicos parecem confirmar.[17][18]
Segundo a crônica, a área de atuação de Cerdico era na área norte de Southampton, mas há fortes evidências arqueológicas que havia atividade anglo-saxã na área ao redor de Dorcéstria no Tâmisa fazendo com que pareça que a origem do Reino da Saxônia Ocidental seja mais complexa que a versão dada pelas tradições sobreviventes.[19]
Ver também
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Precedido por Ninguém |
Rei da Saxônia Ocidental 519 – 534 |
Sucedido por Cínrico |
Referências
- ↑ Blair 1960, p. 13-16.
- ↑ Campbell 1991, p. 23.
- ↑ Blair 1966, p. 204.
- ↑ Stenton 1971, p. 2–7.
- ↑ Swanton 1996, p. 60–61.
- ↑ Keynes 2004, p. 41.
- ↑ Swanton 1996, p. xix.
- ↑ Yorke 1990, p. 132.
- ↑ Swanton 1996, p. 14–21.
- ↑ a b Kirby 1992, p. 50–51.
- ↑ Kirby 1992, p. 49.
- ↑ Campbell 1991, p. 26–27.
- ↑ Swanton 1996, p. 14.
- ↑ Swanton 1996, p. 135, nota 14.
- ↑ Yorke 1990, p. 4.
- ↑ EB 1998.
- ↑ Swanton 1996, p. 14-21.
- ↑ Stenton 1971, p. 22-23.
- ↑ Fletcher 1989, p. 22-23.
Bibliografia
[editar | editar código-fonte]- Blair, Peter Hunter (1960). An Introduction to Anglo-Saxon England. Cambridge: Cambridge University Press. ISBN 0-521-83085-0
- Blair, Peter Hunter (1966). Roman Britain and Early England: 55 BC – AD 871. Nova Iorque: W. W. Norton & Company. ISBN 0-393-00361-2
- Campbell, James; John, Eric; Wormald, Patrick (1991). The Anglo-Saxons. Londres: Penguin Books. ISBN 0-14-014395-5
- «Cerdic». Enciclopédia Britânica. 1998
- Fletcher, Richard (1989). Who's Who in Roman Britain and Anglo-Saxon England. Londres: Shepheard-Walwyn. ISBN 0-85683-089-5
- Keynes, Simon; Lapidge, Michael (2004). Alfred the Great: Asser's Life of King Alfred and other contemporary sources. Nova Iorque: Penguin Classics. ISBN 0-14-044409-2
- Kirby, D. P. (1992). The Earliest English Kings. Londres: Routledge. ISBN 0-415-09086-5
- Leeds, E.T. (1954). «The Growth of Wessex». Oxford: Oxford Architectural and Historical Society. Oxoniensia. LIX: 55–56
- Stenton, Frank (1971). Anglo-Saxon England (em inglês) 3a. ed. Oxford: Oxford University Press. ISBN 978-0-19-280139-5
- Swanton, Michael (1996). The Anglo-Saxon Chronicle. Nova Iorque: Routledge. ISBN 0-415-92129-5
- Yorke, Barbara (1990). Kings and Kingdoms of Early Anglo-Saxon England. Londres: Seaby. ISBN 1-85264-027-8